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  • INTRODUO EDUCAO A DISTNCIA

    SUMRIO

    UNIDADE 1 Fundamentos da Educao a Distncia

    1. Abordagens conceituais da EaD ........................................................................................

    2. Histria da modalidade a distncia ....................................................................................

    3. Polticas pblicas para a EaD.............................................................................................

    UNIDADE 2 Estrutura e funcionamento da EaD

    1. Planejamento e organizao de sistemas de EaD...............................................................

    2. Implementao e desenvolvimento de EaD........................................................................

    3. Tecnologias da Informao e Comunicao na EaD..........................................................

    4. Ambiente Virtual de Aprendizagem ..................................................................................

    UNIDADE 3 Sistemas de Acompanhamento em EaD

    1. Sistemas de Tutoria: teoria e

    prtica ...................................................................................

    2. O professor online .............................................................................................................

    3. Experincias de acompanhamento: o aluno virtual ............................................................

    REFERNCIAS ..................................................................................................................

  • UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA EDUCAO A DISTNCIA

    1. Abordagens conceituais da EaD

    O conceito de Educao a Distncia EaD abrange um vasto territrio de informaes:

    suas caractersticas tm mais a ver com circunstncias histricas, polticas e sociais do que com

    a prpria modalidade de ensino. Essas condies fazem com que haja um desenvolvimento

    vertiginoso das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) mediadas com transmisses

    via satlite, internet e material multimdia. Tantas variveis contriburam para diversificar

    tambm as definies sobre o que se entende por EaD.

    Selecionamos para voc alguns conceitos para compreender um pouco essa modalidade

    de ensino. Segundo Moran (1998), a EaD est fundamentada nas seguintes caractersticas:

    Educao a distncia o processo de ensino-aprendizagem mediado por

    tecnologias, no qual professores e estudantes esto separados espacial e/ou

    temporalmente.

    ensino-aprendizagem quando professores e estudantes no esto normalmente

    juntos, fisicamente, mas podem estar conectados, interligados por tecnologias,

    principalmente as telemticas, como a internet, mas, tambm, podem ser

    utilizados o correio, o rdio, a televiso, o vdeo, o CD-ROM, o telefone, o fax

    e tecnologias semelhantes.

    Na expresso ensino a distncia, a nfase dada ao papel do professor (como

    algum que ensina a distncia). Preferimos a palavra educao, que mais

    abrangente, embora nenhuma das expresses, segundo o professor, seja

    perfeitamente adequada.

    Alm do conceito de Moran (1998), existem algumas outras definies de EaD.

    Segundo Moore e Kearsley (1996, p. 206), a definio mais citada de educao a distncia a

    criada por Desmond Keegan, em 1980:

    O ensino a distncia o tipo de mtodo de instruo em que as

    condutas docentes acontecem parte das discentes, de tal maneira que

    a comunicao entre o professor e o estudante se possa realizar

    mediante textos impressos, por meios eletrnicos, mecnicos ou por

    outras tcnicas (apud NUNES, 1992).

    Na definio de Otto Peters (1973):

    Educao/Ensino a distncia (Fernunterricht) um mtodo racional de

    partilhar conhecimento, habilidades e atitudes, atravs da aplicao da

  • diviso do trabalho e de princpios organizacionais, tanto quanto pelo

    uso extensivo de meios de comunicao, especialmente para o

    propsito de reproduzir materiais tcnicos de alta qualidade, os quais

    tornam possvel instruir um grande nmero de estudantes ao mesmo

    tempo, enquanto esses materiais durarem. uma forma industrializada

    de ensinar e aprender (apud NUNES, 1992).

    Holmberg (1977), por sua vez, alega que o termo educao a distncia esconde-se sob

    vrias formas de estudo, nos vrios nveis que no esto sob a contnua e imediata superviso de

    tutores presentes com seus estudantes nas salas de leitura ou no mesmo local. A educao a

    distncia se beneficia do planejamento, da direo e instruo da organizao do ensino (apud

    NUNES, 1992).

    Conclui-se que seis (6) elementos so essenciais para uma definio clara de EaD

    (MOORE; KEARSLEY, 1996, p.206):

    separao entre estudante e professor;

    influncia de uma organizao educacional, especialmente no planejamento e na

    preparao dos materiais de aprendizado;

    uso de meios tcnicos mdia;

    providncias para comunicao em duas vias;

    possibilidade de seminrios (presenciais) ocasionais; e

    participao na forma mais industrial de educao.

    No ano de 1996, Moore e Kearsley reformularam sua definio, mencionando a

    importncia de meios de comunicao eletrnicos e a estrutura organizacional e administrativa

    especfica (MOORE; KEARSLEY, 1996, p.2):

    Educao a distncia o aprendizado planejado que normalmente

    ocorre em lugar diverso do professor e como conseqncia requer

    tcnicas especiais de planejamento de curso, tcnicas instrucionais

    especiais, mtodos especiais de comunicao, eletrnicos ou outros,

    bem como estrutura organizacional e administrativa especfica.

    O conceito elaborado por Peacok (1996), porm, define-a mais simplesmente como os

    estudantes no necessariamente devem estar fisicamente no mesmo lugar ou participar todos ao

    mesmo tempo.

    Para Aretio (1997), a educao a distncia um sistema tecnolgico de comunicao

    bidirecional, que pode ser massivo e substitui a interao pessoal na sala de aula entre professor

  • e estudante, como meio preferencial de ensino pela ao sistemtica e conjunta de diversos

    recursos didticos e o apoio de uma organizao e tutoria que propiciam uma aprendizagem

    independente e flexvel.

    Preti (1996) comenta tal definio, destacando os seguintes elementos:

    A distncia fsica professor-estudante: a presena fsica do professor ou do tutor, isto ,

    do interlocutor, da pessoa com quem o estudante vai dialogar, no necessria e

    indispensvel para que se d a aprendizagem. Ela se d de outra maneira,

    virtualmente.

    Estudo individualizado e independente: reconhece-se a capacidade do estudante de

    construir seu caminho, seu conhecimento, por ele mesmo, de se tornar autodidata, ator e

    autor de suas prticas e reflexes;

    Um processo de ensino-aprendizagem: a EaD deve oferecer suportes e estruturar um

    sistema que viabilize e incentive a autonomia dos estudantes nos processos de

    aprendizagem.

    O uso de tecnologias: os recursos tcnicos de comunicao, que hoje tm alcanado um

    avano espetacular (correio, rdio, TV, audiocassete, hipermdia interativa, Internet),

    permitem romper com as barreiras das distncias, das dificuldades de acesso educao

    e dos problemas de aprendizagem por parte dos que estudam individualmente, mas no

    isolados e sozinhos. Alm disso, as tecnologias oferecem possibilidades de estimular e

    motivar o estudante, de armazenamento e divulgao de dados e de acesso s

    informaes mais distantes com rapidez incrvel.

    A comunicao bidirecional: o estudante no mero receptor de informaes, de

    mensagens; apesar da distncia, busca-se estabelecer relaes dialogais, criativas,

    crticas e participativas.

    Segundo Tripathi (1997), educao a distncia uma experincia de ensino-

    aprendizagem planejada que usa um grande espectro de tecnologias para alcanar os estudantes

    a distncia. elaborada para encorajar a interao com os estudantes e comprovar o

    aprendizado.

    Na University of Maryland System Institute for Distance Education, define-se o termo

    educao a distncia como uma variedade de modelos educacionais que tm em comum a

    separao fsica entre os professores de alguns ou de todos os estudantes (TRIPATHI, 1997).

    Na Universidade de Idaho, a EaD definida da seguinte maneira (apud TRIPATHI,

    1997):

  • No seu nvel mais bsico, educao a distncia ocorre quando o

    professor e os estudantes esto separados por distncia fsica, e

    a tecnologia (voz, vdeo, dados e impressos), frequentemente

    associada com comunicao presencial, usada como elemento

    de ligao para suprir a distncia.

    No guia Distance Education at a Glance (apud TRIPATHI, 1997), da Engineering

    Outrech da University of Idaho, o autor selecionou trs critrios bsicos para definir Educao a

    Distncia:

    separao entre o professor e os estudantes durante a maior parte do processo

    instrucional;

    o uso de mdias instrucionais para unir professor e estudantes; e

    a viabilidade de comunicao em duas vias entre professor e estudantes.

    Landim (1997), analisando 21 definies, formuladas entre 1967 e 1994, apresenta as

    seguintes caractersticas comuns, com os percentuais de incidncia de cada uma.

    Comparando os requisitos apontados por Tripathi (1997) com as quatro caractersticas

    com maior incidncia selecionadas por Landim (1997), pode-se construir um quadro

    semelhante.

    A legislao brasileira apresenta a definio de EaD, em seu artigo 1, contemplando os

    itens propostos por Landim (1997) e Tripathi (1997).

    Educao a Distncia uma forma de ensino que

    possibilita a auto-aprendizagem, com a mediao de

    recursos didticos sistematicamente organizados,

    apresentados em diferentes suportes de informao,

    utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos

    diversos meios de comunicao (Dirio Oficial da Unio,

    Decreto 2.494, de 10 de fevereiro de 1998).

    Analisando as diferentes definies de educao a distncia, verifica-se que cada uma

    corresponde a um contexto ou a uma instituio. A validade de cada uma depende do resultado

    de seu trabalho junto aos estudantes e comunidade onde atuam (RODRIGUES, 1998).

  • 2. Histria da Modalidade a Distncia

    A Educao a Distncia (EaD), tambm chamada de Teleducao, em sua forma

    embrionria e emprica, conhecida desde o sculo XIX. Entretanto, somente nas ltimas

    dcadas passou a fazer parte das atenes pedaggicas. Surgiu da necessidade do preparo

    profissional e cultural de milhes de pessoas que, por vrios motivos, no podiam frequentar um

    estabelecimento de ensino presencial. A EaD evoluiu com as tecnologias disponveis em cada

    momento histrico, as quais influenciam o ambiente educativo e a sociedade.

    Inicialmente na Grcia, e depois em Roma, existia uma rede de comunicao que

    permitia o desenvolvimento significativo da correspondncia. As cartas comunicando

    informaes cientficas inauguraram uma nova era na arte de ensinar. Segundo Lobo Neto

    (1995), um primeiro marco da educao a distncia foi o anncio publicado na Gazeta de

    Boston, no dia 20 de maro de 1728, pelo professor de taquigrafia Cauleb Phillips: Toda

    pessoa da regio, desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa vrias lies

    semanalmente e ser perfeitamente instruda, como as pessoas que vivem em Boston.

    Em 1833, um anncio publicado na Sucia j se referia ao ensino por correspondncia, e

    na Inglaterra, em 1840, Isaac Pitman sintetizou os princpios da taquigrafia em cartes postais

    que trocava com seus estudantes.

    No entanto, o desenvolvimento de uma ao institucionalizada de educao a distncia

    teve incio a partir da metade do sculo XIX.

    Em 1856, em Berlim, Charles Toussaint e Gustav Langenscheidt fundaram a primeira

    escola por correspondncia destinada ao ensino de lnguas. Posteriormente, em 1873, em

    Boston, Anna Eliot Ticknor criou a Society to Encourage Study at Home. Em 1891, Thomas J.

    Foster, em Scarnton (Pennsylvania), iniciou o International Correspondence Institute com um

    curso sobre medidas de segurana no trabalho de minerao.

    Em 1891, a administrao da Universidade de Wisconsin aceitou a proposta de seus

    professores para organizar cursos por correspondncia nos servios de extenso universitria.

    Um ano depois, em 1892, o reitor da Universidade de Chicago, William R. Harper, que

    j havia experimentado a utilizao da correspondncia na formao de docentes para as escolas

    dominicais, criou uma Diviso de Ensino por Correspondncia no Departamento de Extenso

    daquela universidade.

    Por volta de 1895, em Oxford, Joseph W. Knipe, aps experincia bem-sucedida

    preparando por correspondncia duas turmas de estudantes, a primeira com seis e a segunda

  • com trinta alunos, para o Certificated Teachers Examination, iniciou os cursos de Wolsey Hall

    utilizando o mesmo mtodo de ensino.

    Em 1898, em Malmoe, na Sucia, Hans Hermod, diretor de uma escola que ministrava

    cursos de lnguas e cursos comerciais, ofereceu o primeiro curso por correspondncia, dando

    incio ao famoso Instituto Hermod.

    No final da Primeira Guerra Mundial, surgiram novas iniciativas de ensino a distncia,

    em virtude de um considervel aumento da demanda social por educao, confirmando, de certo

    modo, as palavras de William Harper, escritas em 1886:

    Chegar o dia em que o volume da instruo recebida por

    correspondncia ser maior do que o transmitido nas aulas de nossas

    academias e escolas; em que o nmero dos estudantes por

    correspondncia ultrapassar o dos presenciais.

    O aperfeioamento dos servios de correio, a agilizao dos meios de transporte e,

    sobretudo, o desenvolvimento tecnolgico aplicado ao campo da comunicao e da informao

    influram decisivamente nos destinos da educao a distncia. Em 1922, a antiga Unio

    Sovitica organizou um sistema de ensino por correspondncia que em dois anos passou a

    atender 350.000 usurios. A Frana criou, em 1939, um servio de ensino por via postal para a

    clientela de estudantes deslocados pelo xodo.

    A partir da, comeou a utilizao de um novo meio de comunicao, o rdio, que

    penetra tambm no ensino formal. O rdio alcanou muito sucesso em experincias nacionais e

    internacionais, tendo sido bastante explorado na Amrica Latina nos programas de educao a

    distncia do Brasil, Colmbia, Mxico, Venezuela, dentre outros.

    Aps as dcadas de 1960 e 1970, a educao a distncia, embora mantendo os materiais

    escritos como base, passou a incorporar articulada e integradamente o udio e o videocassete, as

    transmisses de rdio e televiso, o videotexto, o computador e, mais recentemente, a tecnologia

    de multimeios, que combina textos, sons, imagens, assim como mecanismos de gerao de

    caminhos alternativos de aprendizagem (hipertextos, diferentes linguagens) e instrumentos para

    fixao de aprendizagem com feedback imediato (programas tutoriais informatizados) etc.

    Atualmente, o ensino no presencial mobiliza os meios pedaggicos de quase todo o

    mundo, tanto em naes industrializadas quanto em pases em desenvolvimento. Novos e mais

    complexos cursos so desenvolvidos, tanto no mbito dos sistemas de ensino formal quanto nas

    reas de treinamento profissional. Podem-se ver inmeros exemplos visitando-se os sites de

    universidades.

  • Seja um desafio, uma necessidade imperiosa dos tempos modernos ou uma imposio

    de que no se pode fugir, a educao a distncia uma das solues para os tempos atuais. As

    novas tecnologias de comunicao e informao, como a televiso, o vdeo, a informtica com

    a internet ganhando espaos cada vez maiores , sem desprezar os meios tradicionais de correio,

    telefone e postos pedaggicos organizacionais, convidam, se que no exigem, a um

    aproveitamento amplo de suas possibilidades em benefcio da educao.

    De fato, em funo de fatores como o modelo de EaD seguido, os apoios polticos e

    sociais disponveis, as necessidades educativas da populao, o desenvolvimento das

    tecnologias de comunicao e informao, h grande diversidade de formas metodolgicas,

    estruturais e projetos de aplicao para essa modalidade de educao.

    A educao a distncia foi utilizada inicialmente como recurso para superao de

    deficincias educacionais, para a qualificao profissional e aperfeioamento ou atualizao de

    conhecimentos. Hoje, cada vez mais , tambm, usada em programas que complementam outras

    formas tradicionais, face a face, de interao, e vista por muitos como uma modalidade de

    ensino alternativo que pode complementar parte do sistema regular de ensino presencial. A

    Open University, por exemplo, oferece comercialmente somente cursos a distncia, sejam

    cursos regulares ou profissionalizantes. A Virtual University oferece cursos gratuitos.

    A seguir, voc vai encontrar um apanhado geral sobre o desenvolvimento histrico da

    EaD pelo mundo, com destaque para os pases que implantaram cursos nesta modalidade.

    Sucia - Registrou sua primeira experincia em 1833, com um curso de Contabilidade.

    Inglaterra - Iniciou em 1840, e, em 1843, foi criada a Phonografic Corresponding

    Society. A Open University, fundada em 1962, mantm um sistema de consultoria,

    auxiliando outras naes a fazer uma educao a distncia de qualidade.

    Alemanha - Em 1856, fundou o primeiro instituto de ensino de lnguas por

    correspondncia.

    EUA - Iniciaram em 1874, com a Illinois Weeleyan University.

    Paquisto - Em 1974, a Universidade Aberta Allma Iqbal iniciou a formao de

    docentes via EaD.

    Sri Lanka - A partir de 1980, a Universidade Aberta de Sri Lanka passou a atender

    setores importantes para o desenvolvimento do pas: profisses tecnolgicas e formao

    docente.

    Tailndia - A Universidade Aberta Sukhothiai Thommathirat tem cerca de 400.000

    estudantes em diferentes setores e modalidades.

  • Indonsia - Criada em 1984, a Universidade de Terbuka surgiu para atender a forte

    demanda de estudos superiores, e prev chegar a cinco milhes de estudantes.

    ndia - Criada em 1985, a Universidade Nacional Aberta Indira Gandhi tem objetivo de

    atender a demanda de ensino superior.

    Austrlia - um dos pases que mais investe em EaD, mas no tem nenhuma

    universidade especializada nesta modalidade. Nas universidades de Queensland, New

    England, Macquary, Murdoch e Deakin, a proporo de estudantes a distncia maior

    ou igual de estudantes presenciais.

    Mxico - Iniciou em 1972 o Programa Universidade Aberta, inserido na Universidade

    Autnoma do Mxico.

    Costa Rica - Universidade Estatal a Distncia da Costa Rica, criada em 1977.

    Venezuela - Universidade Nacional Aberta da Venezuela, criada em 1977.

    Colmbia - Universidade Estatal Aberta e a Distncia da Colmbia, criada em 1983.

    As universidades europeias a distncia tm incorporado em seu desenvolvimento

    histrico as novas tecnologias de informtica e de telecomunicao. Um exemplo disso o

    desenvolvimento da Universidade a Distncia de Hagen, que iniciou seu programa com material

    escrito em 1975. Hoje, oferece material didtico em udio e videocassetes, videotexto interativo

    e videoconferncias. Tendncias similares podem ser observadas nas Universidades Abertas da

    Inglaterra, Holanda e Espanha.

    Hoje, mais de 80 pases, nos cinco continentes, adotam a educao a distncia em todos

    os nveis de ensino, em programas formais e no formais, atendendo a milhes de estudantes. A

    educao a distncia tem sido usada para formao e aperfeioamento de professores em

    servio.

    Em consequncia dos avanos tecnolgicos, vrias ferramentas de comunicao e

    gerenciamento da informao vm sendo oferecidas para os usurios das mdias em geral. A

    maioria dessas ferramentas pode ser disponibilizada na internet. Em alguns sistemas hospedados

    na rede so encontradas ferramentas reunidas e organizadas em um nico espao virtual,

    visando oferecer ambiente interativo e adequado transmisso da informao, desenvolvimento

    e compartilhamento do conhecimento. No geral, esses recursos tecnolgicos so agrupados de

    acordo com a sua funcionalidade: comunicao e gerenciamento de informao.

    Na educao a distncia, as tecnologias de informao e comunicao so adotadas

    com o objetivo de facilitar o processo de ensino-aprendizagem e estimular a colaborao e

    interao entre os participantes de um curso, habilitando-os para enfrentar a concorrncia do

  • mercado de trabalho. As ferramentas de gerenciamento no so menos importantes, sobretudo

    porque a participao e o progresso do estudante so informaes que precisam ser recuperadas,

    para que o professor possa apoiar e motivar o aprendiz durante o processo de construo e

    compartilhamento do conhecimento.

    Nos cursos a distncia, a interatividade e a comunicao multidirecional so possveis

    devido adoo destas ferramentas, que oferecem subsdios para que os participantes dos cursos

    possam se comunicar. Possibilitam ainda a integrao desses recursos em um nico ambiente de

    aprendizagem, favorecendo a adoo e compreenso da linguagem audiovisual.

    No quadro a seguir foram organizadas e descritas as tecnologias utilizadas como

    ferramentas em EaD.

    Quadro 1 - Exemplos de ferramentas de comunicao e de informao

    Alguns Exemplos Categoria Descrio

    Correio Eletrnico

    Comunicao

    Indicado para enviar e receber arquivos anexados s mensagens, esclarecer

    dvidas, dar sugestes etc.

    Chat

    Comunicao

    Permite a comunicao de forma mais interativa e dinmica. Em cursos de

    EaD, essa ferramenta utilizada como suporte para a realizao de reunies

    e discusses sobre assuntos trabalhados no curso. Este recurso tambm

    denominado de bate-papo.

    Frum

    Comunicao

    Mecanismo propcio ao desenvolvimento de debates, o frum organizado

    em uma estrutura de rvore em que os assuntos so dispostos

    hierarquicamente, mantendo a relao entre o tpico lanado, respostas e

    contrarrespostas.

    Lista de Discusso

    Comunicao

    Auxilia o processo de discusso por meio do direcionamento automtico das

    contribuies relativas a determinado assunto, previamente sugerido, para a

    caixa de e-mail de todos os inscritos na lista.

    Mural

    Comunicao

    Estudantes e professores podem disponibilizar mensagens que sejam

    interessantes para toda a turma. Essas mensagens, geralmente, so

    divulgao de links, convites para eventos, notcias etc.

    Portflio Gerenciamento/

    comunicao

    Tambm chamado de sala de produo, uma ferramenta que auxilia a

    disponibilizao dos trabalhos dos estudantes e a realizao de comentrios

    pelo professor e colegas da turma.

    Anotaes

    Gerenciamento/

    comunicao

    uma ferramenta de gerenciamento de notas de aulas, observaes,

    concluso de assuntos etc. Em alguns casos, este recurso possui a opo de

    configurao para compartilhamento entre todos os estudantes e

    professores, apenas professores e ainda no compartilhado. Neste ltimo

    tipo, apenas o autor da anotao poder visualiz-la. Tambm denominada

    de Dirio de Bordo.

    FAQ Gerenciamento/

    comunicao

    Tambm conhecida por Perguntas Frequentes, esta ferramenta auxilia o

    tutor professor a responder s perguntas mais frequentes. Dessa forma, h

    uma economia de tempo e o estudante pode, em vez de questionar o

  • professor, consultar a ferramenta para verificar se j no existe uma resposta

    para sua dvida disponibilizada no ambiente.

    Perfil Gerenciamento Auxilia a disponibilizao de informaes pessoais dos estudantes e

    professores do curso, tais como: e-mail, fotos, minicurrculo.

    Acompanhamento Gerenciamento A ferramenta, geralmente, apresenta informaes que auxiliam o

    acompanhamento do estudante pelo professor, assim como o

    autoacompanhamento por parte do estudante. Os relatrios gerados por esta

    ferramenta apresentam informaes relativas ao histrico de acesso ao

    ambiente de aprendizagem pelos estudantes, notas, frequncia por seo do

    ambiente visitada pelos estudantes, histrico dos artigos lidos e mensagens

    postadas para o frum e correio, participao em sesses de chat e mapas de

    interao entre os professores e estudantes.

    Avaliao

    (online)

    Gerenciamento/

    comunicao

    Esta ferramenta envolve as avaliaes que devem ser feitas pelos estudantes

    e os recursos online para que o professor corrija as avaliaes. Do mesmo

    modo, fornece informaes a respeito das notas, o registro das avaliaes

    que foram feitas pelos estudantes, tempo gasto para resposta etc.

    Fonte: Adaptado de Campos e Giraffa (1999).

    Na EaD, a informao pode ser, basicamente, transmitida por meio de uma

    conversao, utilizando ferramentas de comunicao sncrona e assncrona. Isso acontece, por

    exemplo, nas sesses de chat. Em alguns casos, acontece tambm a troca da informao de um

    usurio para uma ferramenta. Esta ferramenta recebe a informao, processa-a e emite nova

    informao para o usurio. Isso acontece muito quando, em um curso a distncia adotada

    alguma ferramenta de avaliao (online), em que a correo automtica.

    No quadro 2, as ferramentas de comunicao esto organizadas de acordo com as suas

    relaes com os conceitos de tempo e espao.

    Quadro 2 - Tempo, espao e mecanismos comunicacionais

    Tempo e Espao Sncrono Assncrono

    Mesmo Local

    Encontros presenciais face a face

    Portflio ou sala de produo

    Mural

    Anotaes

    Avaliao (online)

    Frum

    Local diferente

    (distribuda)

    Chat: salas de bate-papo,

    videoconferncia

    Listas de discusso

    Correio eletrnico

  • Fonte: Adaptado de Campos e Giraffa (1999).

    A assincronicidade no deve ser vista somente como uma forma

    de interao para os participantes que no possuem um horrio

    em comum. Mais do que simples alternativa temporal, deve

    estar alicerada num projeto pedaggico, e tambm ser

    acompanhada e incentivada, para que a comunicao no seja

    intensa no incio e fraca ou inexistente no final do curso

    (CAMPOS; GIRAFFA, 1999, p.2).

    Geralmente, as ferramentas reunidas em um ambiente de aprendizagem tm como

    principal objetivo apoiar o desenvolvimento das atividades propostas pelo professor.

    importante considerar os pr-requisitos, recomendaes e problemas identificados em relao ao

    uso de alguns dos recursos tecnolgicos citados anteriormente. Estas informaes foram

    coletadas durante a realizao de dois cursos semipresenciais, em 2002 e 2003, de Engenharia

    de Software e, posteriormente, organizados no quadro a seguir (Quadro 3). preciso ressaltar

    que alguns pr-requisitos, por serem necessrios para o uso de todas as ferramentas, no foram

    includos no quadro. So eles:

    o tutor e o professor devem conhecer a ferramenta;

    os estudantes devem ser capacitados para utilizar os recursos; e

    a interface da ferramenta deve ser amigvel.

    A seguir, apresentamos alguns requisitos pedaggicos, recomendaes e problemas

    identificados em relao s ferramentas de comunicao e de gerenciamento.

    Quadro 3: Ferramentas, pr-requisitos, recomendaes e problemas identificados

    Ferramenta Pr-requisitos Recomendaes Problemas identificados

    Chat

    necessrio haver uma

    metodologia para conduzir

    a atividade; as turmas

    devem ser pequenas no

    mximo 20 alunos.

    Realizao de debates

    sncronos, reunies privadas,

    seo de tira-dvidas e

    confraternizao dos

    participantes.

    Tempo mal administrado;

    fuga do tema proposto;

    metodologia inadequada.

    Frum

    necessrio haver uma

    metodologia para conduzir

    a atividade; os assuntos

    propostos devem ser

    relevantes e estimular a

    discusso; os debates

    Realizao de debates

    assncronos;

    exposio de ideias e

    divulgao de informaes

    diversas.

    Fuga do tema;

    tema proposto

    inadequadamente;

    baixa interao.

  • devem ser encerrados

    seguindo o cronograma de

    atividades do curso; o

    nmero de participantes

    pode ser grande.

    Lista de Discusso

    importante que as

    mensagens enviadas sejam

    objetivas; fluxo de envio de

    mensagens deve ser

    dinmico; necessrio

    haver um coordenador para

    conduzir um debate; os

    temas sugeridos devem

    estimular a discusso; as

    turmas podem ser grandes;

    os debates devem ser

    encerrados seguindo o

    cronograma de atividades

    do curso.

    Realizao de debates

    assncronos;

    exposio de ideias e

    divulgao de informaes

    diversas.

    Fuga do tema proposto

    inadequadamente;

    baixa interao.

    Correio Eletrnico importante que as

    mensagens enviadas sejam

    objetivas;

    as respostas devem ser

    dadas em um curto perodo

    de tempo.

    Indicado para a circulao de

    mensagens privadas,

    definio de cronogramas e

    transmisso de arquivos

    anexados e mensagens.

    Envio de mensagens

    extensas;

    circulao de mensagens

    fora do escopo do curso;

    arquivos anexados

    contaminados com vrus.

    FAQ

    Desenvolvimento de

    metodologia para a

    organizao das perguntas e

    respostas;

    objetividade e clareza nas

    respostas;

    atualizao peridica das

    respostas.

    Divulgao de instrues

    bsicas referentes utilizao

    das ferramentas e sobre o

    ambiente de aprendizagem;

    esclarecimento de dvidas

    sobre o contedo discutido

    no curso.

    Respostas e perguntas

    formuladas no so claras;

    inadequao na

    organizao das perguntas

    e respostas.

    Avaliao

    (online)

    Escolha de uma

    metodologia adequada para

    elaborao das avaliaes;

    mecanismos de avaliao

    dos resultados devem ser

    satisfatrios, flexveis e

    obedecer a critrios

    semnticos.

    Acompanhamento do

    aprendizado do aluno;

    realizao de avaliaes

    complementares.

    Inexistncia de mecanismo

    que garanta que foi o aluno

    que fez a avaliao (a no

    ser que se utilize a

    videoconferncia).

    Acompanhamento

    Anlise peridica dos

    dados.

    Acompanhamento da

    participao do aluno e do

    tutor.

    Algumas ferramentas de

    acompanhamento no so

    confiveis.

    Fonte: Adaptado de Campos e Giraffa (1999).

  • Diante de todas as caractersticas citadas, voc pode notar a importncia da utilizao

    das ferramentas computacionais em sistemas de EaD. Elas possibilitam maior interao entre os

    professores, os tutores e os estudantes. Entretanto, indispensvel ter conhecimento dos pr-

    requisitos que esto associados a cada recurso, bem como sobre as recomendaes e os

    problemas relacionados ao seu uso, para se ter o melhor aproveitamento possvel das

    ferramentas.

    2. As Polticas Pblicas de EaD

    O estudo das polticas pblicas uma questo contempornea, e se mostra objeto de

    investigao pertinente, tanto por parte dos sistemas poltico e econmico quanto dos sistemas

    social e educativo.

    Poltica pblica pode ser definida pelo produto de uma autoridade investida de poder

    pblico e de legitimidade governamental (MNY; THOENIG, 1989, p. 129). A poltica

    curricular a tomada de deciso sobre a seleo, organizao e avaliao de contedos de

    aprendizagem, que so a face visvel da realidade escolar, e ainda relacionada com o papel

    desempenhado por cada ator educativo na construo do projeto formativo do estudante

    (PACHECO, 2000, p.93).

    Mesmo em um pas onde as desigualdades sociais e regionais so to grandes e

    proporcionais ao imenso espao geogrfico um territrio continental que abriga tantos lugares

    que mais parecem cenrios de filmes de poca , impossvel voc, educador, no fazer parte

    do contexto de mudanas desencadeado em escala planetria. Virar as pginas do calendrio no

    significa necessariamente estar em dia com a sua poca.

    Em sntese, afirmamos que, na verdade, nada independente da ao

    social e poltica, nem mesmo a possibilidade de que exista uma

    sociedade do conhecimento. As caractersticas das polticas pblicas

    ou a ausncia delas determinaro se vamos todos entrar nessa tal

    sociedade [...] ou se as formas que atualmente adotam a produo,

    distribuio e apropriao do conhecimento vo significar um enorme

    retrocesso para o conjunto da humanidade - o que pode at resultar em

    sua conseqente autodestruio. Precisamente por isso, sugerimos

    avanar na reflexo sobre os futuros cenrios da humanidade, tendo

    presente o desejo de construir (realmente) uma sociedade do

    conhecimento, mas reforando o fato de que a possibilidade de sua

    existncia est associada necessidade de articular certas

    constituies simblicas: idias, teorias... (BLASLAVSKY;

    WERTHEIN, 2004).

  • No que diz respeito EaD, essa necessidade evidencia um aprofundamento do debate

    sobre os aspectos pedaggicos, o uso das TICs e as diretrizes polticas necessrias para

    viabilizar a modalidade como um instrumento poderoso de democratizao do conhecimento a

    quem a ele no tem acesso, dentro dos padres de qualidade e exigncia acadmicas.

    Diversos autores se dividem entre o entusiasmo, a descrena e a resistncia em relao

    EaD, mas em um ponto todos concordam: inegvel seu potencial para a incluso de parte

    considervel da populao educacional do Brasil e do mundo.

    Cada pas e cada instituio adota diretrizes e legislaes especficas para a

    utilizao da EaD. As polticas pblicas se mostram quase sempre inadequadas a essa gama de

    situaes que se multiplicam com a oferta de cursos pelo mundo a fora.

    Em geral, a nfase conferida tecnologia, em uma escala maior que aquela dada aos

    processos educativos, apontada como a causa principal do fracasso de vrias experincias aqui

    no Pas. Por isso, tanto na definio de estratgias tcnicas e pedaggicas quanto na produo de

    materiais para os cursos, de suma importncia o trabalho integrado de uma equipe

    multidisciplinar com psiclogos, pedagogos, produtores e comunicadores que priorize a

    didtica, sem nunca perder de vista as caractersticas dos estudantes. Estes dois ltimos tpicos

    esto diretamente vinculados discusso sobre polticas pblicas. Afinal, que tipo de educao

    se quer desenvolver e para quem?

    No Pas das enormes distncias e dos contrastes sociais que as tornam ainda maiores, a

    questo inevitvel. A composio do nosso pblico de estudantes se mostra bastante

    heterognea.

    Outro fator a ser considerado: as mudanas no sistema educacional s vo ocorrer se

    primeiro o professor mudar. Cursos de formao de docentes, para serem levados a cabo e a

    srio, precisam ter como base teorias pedaggicas centradas em princpios compatveis com o

    momento histrico. Currculos, programas, materiais multimdia, softwares educacionais, vdeos

    educativos, se forem modernos exclusivamente na aparncia, vo servir como diz o ditado

    apenas para enganar.

    O futuro est mais presente do que se imagina e influi nas formas de sentir, pensar e

    agir das pessoas. Cabe s universidades formar os condutores capazes de trabalhar com a

    tecnologia a partir de novas bases tericas, incorporando essas surpreendentes vises de mundo

    para atingir diretamente o sistema educacional e, a partir da, em uma reao em cadeia, toda a

    sociedade.

    Polticas pblicas superficiais que do apenas um retoque mais renovado cara da

    educao no Pas j no resolvem. De agora em diante, s uma transformao profunda pode

  • impor a implantao de polticas educacionais coerentes com as transformaes da sociedade

    como um todo (PRETTO, 2005).

    Os novos processos de aquisio e construo do conhecimento passam

    necessariamente pela utilizao das TICs no processo de ensino-aprendizagem. Mas de que

    adianta ter as tecnologias como suporte, instrumento ou material de apoio, se o processo estiver

    com as bases tericas comprometidas?

    Castro (2000, p. 32) no v outra sada a no ser uma rpida e eficiente capacidade de

    adaptao das instituies, sob pena de se fossilizarem, transformando-se em material de estudo

    para paleontlogos:

    Mudanas que se produzem em escala global esto obrigando os

    pases a adequarem suas instituies e seus modos de funcionamento

    aos novos cenrios que se configuram. [...] A universidade est diante

    de uma encruzilhada. Ou se desenvolve como uma instituio com

    valor para a sociedade, por sua tarefa de produo e reflexo acerca do

    conhecimento, ou se resigna a ficar como est. A ltima condio

    significaria morrer pouco a pouco.

    A encruzilhada esconde tambm outras armadilhas. No caso de uma reflexo rasteira,

    fica fcil cair no canto de sereia da modernizao a qualquer preo. Uma anlise do ensino

    superior no Pas revela a lgica de mercado que se impe EaD, encarada por muitos

    educadores e pesquisadores como uma das formas de consolidar a viso dos chamados

    empresrios da educao que veem os cursos como um negcio qualquer, os estudantes

    como clientes, e por a vai... Alis, muitos investimentos pblicos tm contribudo para a

    evoluo deste negcio, e vrias prticas de universidades pblicas e particulares tambm o

    reforam (PIMENTEL, 2000).

    A EaD pela complexidade e aspectos diferentes do ensino convencional se torna

    mais vulnervel a essas relaes entre Estado, sociedade e mercado: [...] Poderamos inclusive

    afirmar que muitas vezes a EaD integra um fast food educacional [...], numa confluncia de

    interesses entre grupos de empresas, governo e organismos internacionais (PIMENTEL, 2000,

    p.54). Trocando isso em midos: so cursos de embalagem tecnolgica sedutora e de

    pouqussimo contedo para consumo rpido das massas leia-se estudantes.

    A integrao que se espera do processo com certeza no esta. Belloni (2001) identifica

    a raiz do problema dentro das prprias instituies escolares nos educadores e seus mtodos ,

    como tambm nas escolhas polticas da sociedade.

    Mas estabelecer aes de alcance nacional para o planejamento e a aplicao de

    programas de integrao das TICs, por exemplo seja na educao presencial ou a distncia ,

  • torna-se principalmente uma responsabilidade de setores do governo (MARTINEZ, 2000). O

    papel das instituies o de empreender a troca de experincias e fazer parcerias para superao

    da falta de investimentos financeiros e humanos, na luta por uma educao de qualidade em

    todos os nveis. Sobre o financiamento ponto crtico para o desenvolvimento da EaD na rede

    pblica , falta uma lei especfica que atenda s peculiaridades da modalidade, porque at o

    momento apenas o ensino presencial contemplado nesse aspecto.

    A descontinuidade das aes do governo outro fator a ser levado em conta. A Rede

    Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), que disseminou a internet de forma definitiva no Pas,

    no conseguiu por decreto identificar e estimular a utilizao do sistema de rede na rea

    educacional. Dcadas atrs, outro sistema de educao bsica, com aulas via satlite, o Projeto

    SACI, tambm deixou a desejar. Depois, vieram a TV e Rdio Escola, o Programa Nacional de

    Informtica (PROINFO), Um Salto para o Futuro e o Rede Interativa Virtual de Educao

    (RIVED) todos, uns mais, outros menos, foram alvos de crticas do meio acadmico.

    Se voltarmos no tempo, aqui no Brasil, por exemplo, verificamos que a EaD ganhou

    status de Secretaria em 1995. Em dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    Nacional instituiu oficialmente a modalidade a distncia entre ns. A partir da, A EaD foi cada

    vez mais reconhecida como capaz de cumprir metas de polticas pblicas de longo alcance.

    Detalhe: onde h grande disperso geogrfica dos estudantes, sua aplicao se torna ainda mais

    indicada.

    O tempo que se conta para trs, em termos de reflexo e de experincias acumuladas; o

    agora, que exige aes imediatas com base nos erros e acertos do passado; e o futuro, balizador

    de onde queremos chegar como pessoas formadoras de uma identidade prpria em um contexto

    de globalizao, no fundo, tudo se integra nas pginas do nosso calendrio de vida.

  • UNIDADE 2 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAO A

    DISTNCIA

    1. Planejamento e Organizao de Sistemas de EaD

    Agora que voc j viu diversos conceitos sobre EaD e sua histria no Brasil e no

    mundo, pode pensar no planejamento. Um dos maiores perigos em qualquer atividade

    educacional tem duas faces: uma, a rotina sem inspirao; outra, a improvisao dispersiva e

    completamente desordenada. Como no correr esse risco? Planeje!

    Educao a Distncia uma modalidade educativa que vai alm da mera difuso de

    informaes. Pressupe objetivos definidos, uma proposta pedaggica consistente, mecanismos

    de recepo e avaliao. Tudo isso estruturado a partir das necessidades do educando.

    Construir um planejamento educacional em EaD estabelecer uma ponte entre a teoria

    e a prtica. Nada melhor do que fazer um diagnstico da realidade para selecionar e organizar os

    contedos de aprendizagem, escolher os meios e as atividades mais adequadas e definir como

    avaliar o ensino.

    importante saber pensar o planejamento e a organizao de sistemas de EaD para sua

    instituio. Um material valioso encontrado para ajudar a sua elaborao foi apresentado no ano

    de 2005, em um dos eventos de repercusso na rea, que vale a pena conferir em todas suas

    edies: o Congresso Internacional de Educao a Distncia no Ensino Superior, que foi

    realizado no Brasil, no Rio Grande do Sul. Deste congresso, destacamos o processo de

    planejamento e organizao dos sistemas de EaD da seguinte forma:

    - Articulao entre reas: comunicao e educao

    Prticas educativas em EaD demandam processos comunicativos.

    Conhecer o poder pedaggico dos meios de comunicao necessrio para que voc,

    educador, seja um bom gestor na sua instituio de EaD. Saiba assumir desafios e forme

    uma equipe que os assuma com voc.

    - Motivao

    Desafios para a equipe que voc pode vir a gerir na implantao de EaD na sua instituio:

    Habilidades no uso da tecnologia multimdia.

    Atitude crtica perante a produo social da comunicao. Voc deve ensinar a equipe a

    pensar que o computador no vai salvar a educao. O que salva a forma como todas

    as ferramentas de comunicao sero usadas dentro do ambiente educacional e o modo

  • como ser conduzido este aprendizado. O computador sozinho no d futuro a

    ningum!

    - Aprimoramento do processo comunicacional professor-aluno e aluno-aluno

    Democratizao de saberes.

    Desenvolvimento de capacidades intelectuais e afetivas.

    Comprometimento com os problemas sociais e polticos de toda a sociedade.

    - Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI)

    O PDI o elemento primordial para a implantao da EaD. ele que define a misso,

    os objetivos e princpios da instituio no que se refere a suas aes de educao a distncia.

    Sabe a velha nova de que o projeto pedaggico no s necessrio como

    fundamental? A educao a distncia EDUCAO, e, portanto, a distncia circunstancial.

    Precisa de Projeto Pedaggico, com identificao das necessidades do curso, considerando os

    seguintes aspectos: definio dos objetivos a alcanar; seleo e organizao dos contedos;

    elaborao dos materiais didticos; definio do esquema operacional; sistemas de

    comunicao; infraestrutura de suporte, monitoria e tutoria; organizao das condies de

    aprendizagem, tanto por parte do professor quanto do estudante; gesto pedaggica, tecnolgica

    e administrativa; forma de avaliao da aprendizagem.

    - Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) mais Projeto Pedaggico (PP)

    Arquitetura pedaggica, topologia de suporte tecnolgico, ambiente de aprendizagem,

    gesto do ambiente de aprendizagem, vrias so as terminologias que existem por a, mas o

    importante ter um projeto pedaggico consistente: pedagogos, comunicadores,

    desenvolvedores, webdesigners e outros que se unam ao propsito. Todos vamos ganhar.

    Planejamento j!

    - Proposta para infraestrutura

    Propomos que as necessidades de infraestrutura sejam determinadas pelos objetivos

    pedaggicos e que eles possam fornecer subsdios no mapeamento tecnolgico para a criao, o

    suporte e a gesto de um curso ou programa a distncia.

  • Portanto, planejamento educacional uma atividade multidisciplinar que exige trabalho

    conjunto e integrado de administradores, educadores, pedagogos, consultores, socilogos,

    estatsticos, especialistas, e outras tantas funes quanto for necessrio. A seguir, selecionamos

    para voc um texto que trata da Gesto de Sistemas de Educao a Distncia.

    Gesto de sistemas de educao a distncia

    Cada vez mais torna-se evidente a importncia da gesto em programas educacionais.

    Quando no se d a devida ateno a este requisito, idias boas podem se perder ou resultar

    em programas pobres e ineficazes.

    No caso da educao a distncia, isso no diferente. Sistemas de EaD so complexos

    e exigem uma gesto eficiente para que os resultados educacionais possam ser alcanados.

    Uma vez definidos os objetivos educacionais, o desenho instrucional, etapas e atividades, os

    mecanismos de apoio aprendizagem, as tecnologias a serem utilizadas, a avaliao, os

    procedimentos formais acadmicos e o funcionamento do sistema como um todo, fundamental

    que se estabeleam as estratgias e mecanismos pelos quais se pode assegurar que esse sistema

    v efetivamente funcionar conforme o previsto.

    Eu quero apresentar aspectos relacionados gesto de sistemas de EaD, considerando

    a gesto como um fator-chave para assegurar a qualidade e o sucesso de programas e cursos

    nessa modalidade. Apresentam-se, primeiramente algumas caractersticas de sistemas de EaD,

    passando, em seguida, para aspectos relacionados gesto dos mesmos.

    Espera-se, com essa anlise, contribuir com o debate em torno da viabilidade e

    qualidade de sistemas de EaD, bem como oferecer alguns subsdios aos que esto envolvidos no

    planejamento ou implementao desta modalidade de ensino.

    - Sistemas de Educao a Distncia

    Um primeiro aspecto a ser colocado na discusso sobre a gesto de sistemas de EaD se

    refere natureza dos sistemas de EaD. Ao contrrio do que muitos pensam, trata-se de um

    sistema complexo, que exige da instituio que o promove no s uma infraestrutura adequada,

    mas a definio e operacionalizao de todos os processos que permitem o alcance dos

    objetivos educacionais propostos.

    Os bons sistemas de EaD so compostos por uma srie de componentes que devem

    funcionar integrados. Trata-se da formalizao de uma estrutura operacional que envolve

    desde o desenvolvimento da concepo do curso, a produo dos materiais didticos ou fontes

    de informao e a definio do sistema de avaliao, at estabelecimentos dos mecanismos

  • operacionais de distribuio de matrias, disponibilizao de servios de apoio

    aprendizagem e o estabelecimento de procedimentos acadmicos.

    Obviamente, dependendo da instituio, da abrangncia de sua rea de atuao, dos

    objetivos educacionais propostos, da natureza dos cursos oferecidos, esta estrutura pode ser

    mais ou menos complexa.

    De um modo geral, pode-se dizer que sistemas de EaD apresentam:

    1. Estrutura/mecanismos de planejamento e preparao/disponibilizao de materiais

    instrucionais (sejam eles escritos, audiovisuais ou online).

    2. Estrutura/mecanismos para a proviso de servios de apoio aprendizagem aos cursistas

    (tutoria, servios de comunicao, momentos presenciais).

    3. Servios de comunicao que possibilitam o acesso do cursista s informaes necessrias

    ao desenvolvimento de suas atividades no curso.

    4. Sistemtica de avaliao definida e operacional.

    5. Estrutura fsica, tecnolgica e de pessoal compatvel com a abrangncia da atuao da

    instituio e o tipo de desenho instrucional dos cursos oferecidos.

    6. Estrutura e mecanismos de monitoramento e avaliao do sistema.

    Vejamos o exemplo de sistemas de EaD nas Universidades Abertas, como as da

    Inglaterra e da Espanha. Estas instituies, que so na verdade universidades que funcionam a

    distncia, possuem toda uma estrutura que lhes garante o funcionamento sistemtico. Possuem

    equipes que elaboram os materiais didticos, mecanismos para que os estudantes os recebam,

    uma equipe de tutoria que atua no acompanhamento do trabalho dos estudantes, um sistema

    formalizado de avaliao, servios de comunicao, uma infraestrutura fsica, tecnolgica e de

    pessoal central e tambm organizada em centros regionais, secretarias e mecanismos

    institucionalizados para os servios acadmicos, mecanismos de monitoramento e avaliao

    dos servios prestados, enfim, constituem sistemas completos.

    Um exemplo brasileiro o Proformao, um curso em nvel mdio com a habilitao

    no Magistrio, que oferece a formao a distncia para aproximadamente 25.000 professores,

    promovido, em parceria, pelo Ministrio da Educao, os estados e municpios. O Proformao

    no desenvolvido por uma instituio, mas sim por um conjunto de atores: uma equipe

    elaborou a proposta do curso e produziu os materiais, outra equipe responsvel por todo o

    processo de implementao, incluindo a definio da estratgia de implementao e sistema

    operacional, monitoramento e avaliao, e foi estabelecida uma estrutura operacional que

    viabiliza a consecuo do curso.

  • Nessa estrutura, os cursistas tm o apoio dos tutores e das Agncias Formadoras

    (AGF). As AGF so apoiadas pelas equipes estaduais de gerenciamento e assessores tcnicos, e

    as equipes estaduais contam com o apoio da Coordenao Nacional. Foi formado, assim, um

    sistema ou uma rede de formao que permite que o curso se desenvolva e atinja seus objetivos

    educacionais.

    Assim como os sistemas apresentados, existem outros, como os que se organizam nas

    instituies chamadas duais, ou seja, universidades que oferecem cursos presenciais e tambm

    a distncia. De qualquer forma, os elementos apresentados devem estar formalizados.

    - A Gesto de Sistemas de Educao a Distncia

    Quando falamos em gesto, estamos falando da maneira como se organizam e

    gerenciam as partes que compem um sistema, com vistas ao alcance dos objetivos propostos.

    Por exemplo, quando falamos em gesto escolar, estamos falando de como a escola organiza

    sua estrutura, sua proposta pedaggica, seus servios, seu pessoal etc., para que a

    aprendizagem do estudante ocorra com qualidade, de acordo com sua proposta educacional.

    No caso da Educao a Distncia no diferente. A gesto importantssima, uma vez

    que ela que garante o perfeito funcionamento do sistema e, consequentemente, sua qualidade,

    eficincia e eficcia.

    Para fins de ilustrao, podemos separar a gesto de sistemas de EaD em dois grupos:

    a) gesto pedaggica e b) gesto de sistema.

    a) Gesto pedaggica

    Na gesto pedaggica, encontra-se o gerenciamento das etapas e atividades do curso,

    bem como do sistema de apoio aprendizagem e avaliao. preciso que as etapas e

    atividades estejam claramente definidas e que tudo seja planejado e coordenado de tal maneira

    que elas ocorram eficientemente, da maneira programada e no tempo previsto.

    Tambm preciso que, qualquer que seja o sistema de apoio aprendizagem do

    estudante previsto no sistema, este funcione eficientemente. Assim, se o sistema estabelece uma

    tutoria para o acompanhamento dos estudantes, esta deve estar claramente definida, com as

    funes e as atividades do tutor estabelecidas e todos os procedimentos para o exerccio desta

    funo formalizados. Mais do que isso, preciso estabelecer mecanismos gerenciais para o

    acompanhamento do trabalho dos tutores.

    Se o sistema estabelece um sistema de comunicao, preciso garantir que ele

    efetivamente esteja servindo ao seu objetivo: possibilitar a comunicao efetiva entre os

    participantes. Se, de um lado, temos que garantir a possibilidade real do estudante se

  • comunicar com uma instncia do sistema para obter informaes ou esclarecer dvidas, por

    outro, preciso garantir que, da parte da instituio, haja um atendimento eficiente, com

    respostas precisas e em tempo hbil.

    No Proformao, por exemplo, foi criada toda uma rede de tutores, articulados com as

    AGF, e estabelecidos plantes pedaggicos (telefnicos e presenciais) nas AGF para que este

    apoio aprendizagem pudesse ocorrer. Todos esses elementos tiveram suas funes e seus

    mecanismos de atuao definidos. Mais do que saber o que fazer, preciso que todos os

    elementos do sistema saibam "como fazer", quais os procedimentos a ser empregados no

    desenvolvimento de suas atividades.

    Para uma boa gesto pedaggica preciso ainda que o sistema de avaliao esteja

    claramente definido e seja conhecido por todos. Assim, alm de determinar qual a sistemtica

    de avaliao formativa/somativa adotada na proposta pedaggica, preciso que se definam

    indicadores e instrumentos que possibilitem o desenvolvimento desta avaliao na prtica, e

    quem sero os agentes encarregados desse processo.

    Assim, em sua gesto, todo sistema de EaD deve prever a definio, a estruturao, o

    funcionamento sistemtico de tudo aquilo que compe a proposta pedaggica desse sistema,

    bem como prever, como veremos a seguir, a preparao, o acompanhamento, o monitoramento

    e a avaliao das equipes para assegurar o bom funcionamento do mesmo.

    b) Gesto de sistema

    Na gesto de sistema, podemos situar todas as outras necessidades de gerenciamento:

    de recursos financeiros, de pessoal, de treinamentos, de produo e distribuio de materiais,

    da tecnologia empregada, dos processos acadmicos, do monitoramento e avaliao. Trata-se

    do gerenciamento de processos que so inerentes ao funcionamento eficiente do sistema.

    Normalmente, os sistemas envolvem o gerenciamento dos recursos financeiros

    disponveis (que so finitos) e a prestao de contas a entidades ou rgos associados a eles.

    Um sistema de EaD exige recursos, e estes devem ser gerenciados de modo a garantir a

    eficincia e eficcia do mesmo.

    Do mesmo modo, os sistemas envolvem um quadro de pessoal e, dependendo de sua

    estrutura, a capacitao tcnica especfica desse quadro e /ou treinamentos sistemticos. Como

    j salientamos, todos os envolvidos devem saber claramente "o que fazer" e "como fazer". Por

    outro lado, a boa gesto acompanha o trabalho dos envolvidos para identificar pontos que

    ainda no foram bem compreendidos e que devem ser reforados.

  • A gesto deve preocupar-se, ainda, com a preparao de bons materiais instrucionais e

    o funcionamento das tecnologias empregadas. Se, por exemplo, optou-se pela utilizao de

    materiais impressos, h toda uma organizao necessria para a definio de tais materiais,

    das pessoas ou equipes que trabalharo nesta elaborao, dos prazos para elaborao,

    produo e distribuio dos mesmos.

    Se, por outro lado, optou-se por tutoria online, deve-se assegurar que a rede de

    computadores esteja disponvel e em funcionamento, mantendo um sistema de manuteno

    constante.

    Alm disso, como ocorre nos sistemas de educao presencial, cursos a distncia

    geralmente demandam mecanismos especiais ligados ao registro da vida acadmica do

    estudante. Isso pode incluir desde o modo como o estudante se inscreve nos cursos oferecidos e

    o registro de sua efetiva participao at a avaliao e certificao.

    Finalmente, no podemos deixar de salientar a necessidade que todo sistema tem de

    estabelecer e operar uma sistemtica contnua de monitoramento e avaliao. Somente

    estabelecendo mecanismos para obter dados e acompanhar o funcionamento do sistema, tanto

    no que se refere ao alcance dos objetivos propostos quanto ao desenvolvimento dos processos,

    que o gestor pode buscar o aperfeioamento do sistema. Lembremos sempre que estamos

    falando de sistemas complexos, que envolvem uma srie de partes que devem funcionar

    articuladamente. No momento em que uma dessas partes apresenta problemas, o todo pode ser

    comprometido. Assim, melhor estabelecer, desde o incio, alguns mecanismos que possibilitem

    a identificao de problemas, de modo que estratgias possam ser definidas para a sua

    imediata resoluo.

    - Consideraes Finais

    Percebemos, assim, que h muitas variveis envolvidas em um sistema de EaD e que

    sua complexidade no deve ser subestimada. Necessita-se, sim, pensar em todas essas

    variveis, estabelecer mecanismos que permitam o gerenciamento das mesmas e a efetividade

    nos processos, sempre com vistas concretizao dos objetivos educacionais traados.

    Torna-se bastante claro, tambm, que no basta o desenvolvimento de uma boa

    proposta pedaggica ou a produo de bons materiais instrucionais para garantir o sucesso de

    um curso ou Programa de EaD. Embora essas condies sejam absolutamente necessrias ao

    desenvolvimento de um programa ou curso, no so suficientes para propiciar que o estudante

    possa se engajar em um processo de aprendizagem efetivo. A formalizao de estruturas,

    mecanismos e procedimentos que viabilizem tanto a gesto pedaggica quanto a gesto de

    sistema fundamental qualidade e sucesso de qualquer sistema de EaD.

  • 2. Implantao e desenvolvimento de EaD

    Muitas questes relacionadas educao a distncia devem ser cuidadosamente

    averiguadas. Algumas so institucionais, outras pedaggicas e outras individuais (estudantes e

    professores).

    Segundo Raabe (2000), Melo (2004) e Marcheti (2003), algumas das questes mais

    importantes para a implantao comeam a ser analisadas bem antes da estruturao ou

    reestruturao do projeto pedaggico do curso. Dentre elas, podem ser citadas:

    Ter claro o tipo de projeto que se deseja implantar: se um programa, curso,

    disciplina, 20% de uma disciplina, treinamento, atividade complementar etc.

    Ter claros os objetivos parciais e finais a serem alcanados.

    Conhecer a demanda do pblico: se h necessidade mercadolgica ou apenas vontade

    e iniciativa de alguns.

    Ter o pblico-alvo bem definido: para definir o pblico necessrio avaliar os

    parmetros da realidade em que a instituio se enquadra, o projeto educativo

    institucional e sua viabilidade.

    Analisada a viabilidade poltica e institucional, o prximo passo a analise das questes

    pedaggicas, que podem ser agrupadas em:

    Quantas horas de durao ter o projeto definido anteriormente?

    Desse total de horas, como ser dividida a dedicao em semanas? Por exemplo, um

    curso de 60 horas poder ter durao de seis semanas/unidades, sendo necessria a

    dedicao de 10 horas por semana dos estudantes inscritos. Dentro dessa diviso de

    carga horria, deve ser descrito, de forma coerente e concisa, o objetivo principal de

    cada unidade/semana, para que o estudante consiga ficar atento aos objetivos de

    aprendizagem propostos.

    A escolha adequada da forma de comunicao determinante na busca dos objetivos de

    uma atividade de aprendizagem. Para isso, devem ser conhecidos os recursos e as caractersticas

    especficas de cada um deles, permitindo identificar seu potencial e sua aplicao.

    As atividades de aprendizagem se tornam mais atreladas leitura do que oralidade.

    Com isso, a organizao dos textos bsicos e complementares aos cursos deve considerar a

    situao de ausncia do professor. A aplicao dos mesmos textos usados em sala de aula pode

    se tornar inadequada. Nesse particular, a elaborao de material especialmente para essa

    modalidade se torna bastante oportuna.

  • Esse material deve incorporar os diferentes estilos de aprendizagem, explicitar com

    clareza os objetivos de aprendizagem e estar amparado em uma estratgia de ensino-

    aprendizagem.

    necessria a adoo de posturas voltadas cooperao. Os recursos tecnolgicos de

    apoio ao ensino por si s no promovem mudanas, mas a forma como so utilizados que

    pode provocar. A internet possibilita a aprendizagem pela colaborao, os estudantes dos cursos

    estaro imersos em um novo ambiente mediado por uma tecnologia que possibilita o

    estabelecimento de interaes em tempo real, desenvolvendo vrias conexes internas e

    externas.

    Muitas das questes citadas derivam das caractersticas dos estudantes a distncia, cujos

    anseios e objetivos devem ser completamente diferentes dos estudantes tradicionais. Segundo

    Melo (2004) e Marcheti (2003), o papel preliminar do estudante aprender. Sob as melhores

    circunstncias, esta desafiante tarefa requer motivao, planejamento e habilidade para analisar

    e aplicar a informao que est sendo transmitida.

    Em EaD, o processo de aprendizado do estudante mais complexo pelos seguintes

    fatores, dentre outras razes:

    - Anseios e intenes:

    Os estudantes a distncia tm uma variedade de razes para fazer um curso, que vai

    desde a necessidade de obteno de um grau at a atualizao dos conhecimentos. Esses fatores

    so considerados fundamentais para o desenvolvimento de aprendizagens significativas, pois

    partem de uma necessidade real do indivduo, dentre outras: falta de tempo, distncia e custo, a

    oportunidade de fazer cursos e a possibilidade de entrar em contato com outros estudantes de

    diferentes classes sociais, culturais, econmicas e experimentais. Como consequncia, eles

    ganham no s conhecimento, mas tambm novas habilidades sociais, incluindo a habilidade de

    se comunicar e colaborar com colegas distantes, que eles podem nunca ter visto (MELO, 2004).

    - Estilos e ritmos de aprendizagem:

    Podem ser cooperativo, competitivo ou individualizado. Muitos projetos de educao a

    distncia incorporam aprendizado cooperativo, projetos colaborativos e interatividade entre

    grupos de estudantes e entre sites. Um aspecto decisivo que cada pessoa tem seu modo

    preferido de aprender, isto , seu prprio estilo de aprendizagem.

    Segundo Felder (1996), as pessoas aprendem de diferentes maneiras: vendo, ouvindo,

    interagindo, fazendo, refletindo, de forma lgica, intuitiva, memorizando, por analogias, criando

    modelos e imagens mentais. Ao se considerar que quem ensina tambm um aprendiz, pode-se

  • depreender, se baseando na mesma concepo do pargrafo anterior, que alguns educadores

    possuem preferncias diferentes em relao aos seus mtodos de ensino, o que pode acarretar

    uma dissonncia entre o mtodo de ensinar e o mtodo de aprender. Essa dicotomia pode ser

    evidenciada pelo fato de que nem tudo que ensinado pelo educador aprendido e apreendido

    pelo educando.

    Diferentes contedos possuem caractersticas prprias de abordagem, e essa

    flexibilidade deve ser utilizada a favor do processo de educao a distncia que permite que, ao

    se abordar de formas e nveis diferentes o mesmo contedo, diferentes estilos de aprendizagem

    sejam satisfeitos, transferindo maior efetividade ao processo educacional.

    - Estratgia de ensino e administrao de tempo de estudo:

    Uma das grandes dificuldades estabelecer o contedo e a sequncia que motivem o

    estudante e o levem autoaprendizagem. O ciclo de aprendizagem proposto por Kolb (1984)

    oferece um referencial para conduzir o processo educacional. O ciclo contribui tambm para

    descobrir o ritmo de estudo e a forma como administrar o tempo para que a aprendizagem

    ocorra de forma organizada e disciplinada. Essa caracterstica propicia o desenvolvimento da

    autonomia do aprendizado.

    - Suporte ao estudante:

    Uma vez que cada indivduo possui, alm da sua preferncia, ritmos de aprendizagem

    diferentes, definir e delimitar o suporte ao estudante uma das principais caractersticas de

    sucesso dessa modalidade.

    - Avaliao da aprendizagem:

    Esse um tema polmico, mas, uma vez que existe um objetivo de aprendizagem, deve

    existir um processo de mensurao que indique se o objetivo foi atingido e em que grau. A

    definio de objetivos normalmente no uma tarefa fcil, consideramos que se devem

    estabelecer os comportamentos esperados do estudante aps o ato educacional. Nesse particular,

    a classificao de objetivos educacionais proposta por Bloom (1976) se apresenta como uma

    alternativa bastante vivel.

  • 2. Tecnologias da Informao e Comunicao na EaD

    Em uma sociedade mundial, na qual o saber ou as competncias e os conhecimentos

    exigidos mudam rapidamente, a aprendizagem e a capacidade de aprender revelam uma

    importncia social e econmica fundamental. Um melhor acesso aprendizagem permanente

    imprescindvel para o desenvolvimento pessoal e profissional de cada indivduo. Nesta

    perspectiva, a educao a distncia se mostra como um instrumento eficaz nas demandas de

    educao permanente da sociedade atual, uma vez que pode facilitar a aprendizagem ao longo

    da vida e contribuir, ao mesmo tempo, para viabilizar a igualdade de chances de acesso

    formao, sem sacrificar a qualidade do ensino.

    Com efeito, a educao a distncia, por sua flexibilidade de tempo (horrios) e lugares

    de aprendizagem e, sobretudo, a facilidade de fornecer resposta s necessidades de formao

    profissional, pode auxiliar na insero de jovens e reinsero de adultos no mundo do trabalho.

    Para que se destine a tal fim, entretanto, se faz necessrio que a EaD seja introduzida,

    progressivamente, em diferentes tipos e graus de ensino, de forma a ser aceita pelos atores

    envolvidos no processo (professores, tutores e pblico-alvo). Neste particular, vrias estratgias

    podero ajudar os estabelecimentos de ensino quando o desafio for a implementao da EaD nas

    universidades.

    - Alguns indicadores

    Uma das estratgias consiste em adotar uma aproximao e adaptao progressiva e

    sistemtica, pela introduo de cursos e programas a distncia na graduao. Aps a avaliao

    da eficcia dos tipos de EaD ofertados, incorporar progressivamente as experincias bem-

    sucedidas. Isso no se faz sem uma apreciao crtica e sistemtica sobre a concepo dos

    contedos, do curso e dos programas a distncia. Nesse sentido, ser vital a definio de uma

    estratgia institucional prpria na matria e na adoo de um processo integrado de

    planificao: um projeto de ensino claro, no qual, a partir do envolvimento de professores de

    diferentes centros de ensino, se possam planejar os passos concretos para desenvolvimento das

    formas de ensino a distncia que sero adotadas pela instituio, de forma a serem aceitas pelos

    professores da instituio e pelo pblico visado.

    Outra estratgia consiste em avaliar os cursos j ofertados. necessrio indagar sobre a

    eficcia destes cursos junto aos atores que j participaram de experincias de EaD na instituio

    de ensino. Na mesma perspectiva, os estabelecimentos de ensino devem buscar adequar os

    cursos ao pblico a que se destinam, por meio de amplas pesquisas de mercado sobre as

    demandas da sociedade e sobre as caractersticas particulares do pblico-alvo.

  • Outra importante estratgia consiste em adotar medidas para motivar os membros do

    corpo docente a se engajarem no desenvolvimento de programas a distncia. A introduo da

    EaD ainda constitui uma inovao/desafio que pressupe um longo perodo de preparao e

    maturao dos atores envolvidos, imprescindveis ao desenvolvimento de competncias

    pedaggicas e tcnicas necessrias, bem como sedimentao de processos de sensibilizao

    sobre o real valor pedaggico da EaD.

    So medidas que se referem, portanto, exposio dos reais benefcios profissionais

    que os professores e/ou tutores podem retirar desta inovao, como perspectivas de ganhos

    salariais, acesso a novas formas (mais amplas e coletivas) de relao professor/estudante,

    elaborao de novas dinmicas de trabalho em equipe, o surgimento de novas concepes

    didticas, dentre outras. Ademais, devemos levar em conta que a concepo das unidades, dos

    cursos e dos programas a distncia pode demandar muito tempo, devido necessidade de

    superar problemas tcnicos e tambm em funo das dificuldades prprias da

    concepo/definio didtica a ser desenvolvida. Seria pertinente a adoo de medidas com o

    fim de liberar tempo aos profissionais envolvidos na efetivao de programas a distncia.

    As horas empregadas no aperfeioamento da pedagogia a ser implementada, alm das

    horas de preparao dos cursos, devem ser contabilizadas (como horas-aula) e levadas em conta

    no plano de cargos e carreira dos professores envolvidos no processo.

    Qualquer que seja o processo de ensino a ser adotado, o planejamento e a

    implementao de uma formao a distncia requerem recursos financeiros e humanos. Dessa

    forma, seria conveniente o investimento anual no desenvolvimento de projetos pedaggicos.

    Alm disso, firmar parcerias (colaborao entre instituies de diferentes tipos, cooperao

    empresas/universidades, convnios com organizaes pblicas e/ou organizaes no

    governamentais) pode ser uma soluo racional e medida eficiente na diminuio dos custos da

    formao a distncia. Esse tipo de ao poder permitir investimentos razoveis no

    desenvolvimento coerente e pertinente da EaD nas universidades. Os recursos humanos ocupam

    um lugar importante na eficcia e na qualidade dos cursos a distncia. Os diferentes papis a

    serem desempenhados (tutores, especialistas, professores e monitores) devem ser

    regulamentados, respeitando-se a formao e as titulaes dos envolvidos.

    - A estrutura de produo bsica

    De maneira mais global, seria recomendada a criao de uma estrutura de Planejamento

    e Avaliao (grupo de trabalho formado por profissionais de diferentes reas) na organizao do

    ensino a distncia, que atue na estruturao e avaliao dos programas e/ou projetos

    pedaggicos a serem implementados. No mesmo contexto, seria adequada, por exemplo, a

  • criao de um Conselho Consultivo de Ensino e Aprendizagem (equipe/grupo de trabalho

    multidisciplinar), composto por pedagogos, profissionais representantes dos diferentes centros e

    de tcnicos (especialistas em tecnologia educacional). Essa estrutura poder, dentre outras

    vantagens, organizar modelos e portflios uniformes/flexveis de avaliao (para os diferentes

    centros) e atuar na criao de projetos comuns para as diferentes reas do conhecimento

    (cincias humanas, tecnolgicas, administrativas, jurdicas), bem como promover a pesquisa em

    EaD, otimizando os recursos humanos e financeiros aplicados.

    Dever, igualmente, contribuir para a estruturao de uma linha de ao clara na criao

    de uma estratgia eficaz na socializao (com a comunidade acadmica e com a sociedade em

    geral) da imagem e da marca da EaD (linha de ao, projeto pedaggico) na instituio de

    ensino. A estrutura bsica sugerida poder tambm motivar, em longo prazo, a criao de um

    Observatrio de Ensino a Distncia, composto por pesquisadores e profissionais ligados ao

    ensino e extenso, cuja misso estaria ligada atualizao de conhecimentos em matria de

    inovaes tecnolgicas, informaes, demandas de cursos da sociedade (mundo do trabalho),

    produo de materiais didticos e de formao e apoio s novas iniciativas de EaD.

    Por fim, em funo da formao acadmica, bem como da atuao e da prtica

    profissional, os atores envolvidos na formao a distncia podero ser classificados em:

    - Coordenador pedaggico: analisa as necessidades de formao; determina os objetivos e o

    contedo dos cursos; define os mtodos (paradigmas ensino/aprendizagem), os critrios e as

    estratgias de avaliao; concebe os dispositivos de aprendizagem (individual e coletiva).

    - Autor: produz o contedo luz das orientaes pedaggicas.

    - Tcnico de produtos e multimdias educativas: examina a pertinncia da escolha da mdia;

    previne os contextos de utilizao; prev as interaes homem-mdia-mquina e define o plano

    de avaliao da tecnologia utilizada.

    - Tutor: gere as aprendizagens individuais; planeja os passos da aprendizagem, aconselha e

    orienta; ajuda a montar o percurso da formao; gere a comunicao; organiza os grupos de

    trabalho; analisa as interaes; gere os recursos mediando a utilizao e o manejo de

    equipamentos; responde s questes individuais e/ou coletivas, bem como as modera.

    Acreditamos que as instituies de ensino devem definir com clareza o papel do

    formador a distncia. O acompanhamento e a coordenao pedaggica (formada por equipe

    multidisciplinar) deve se desenvolver por meio de um trabalho colaborativo, no dispensando o

    apoio de uma equipe de pesquisadores na rea.

    De acordo com a demanda, esta estrutura poder ofertar cursos e servios, tambm, a

    outros estabelecimentos de ensino. Alm disso, seria imprescindvel o desenvolvimento de

  • pesquisa sistemtica e constante sobre que tipo de tecnologia pode favorecer a aprendizagem

    coletiva, funcionando como base de apoio para uma formao a distncia de qualidade.

    necessria, ainda, a definio da linha de ao da EaD na instituio: a inteno, a organizao e

    a implementao das aes concretas devem estar claras e acessveis, desde o incio, no

    contexto acadmico (LINARD, 1995).

    A preparao pedaggica e, mais particularmente, o desenvolvimento de competncias

    de comunicao e de colaborao dos atores envolvidos na formao a distncia tambm

    parecem indispensveis. Finalmente, a concepo de um modelo de formao a distncia deve,

    necessariamente, incluir, em sua linha de ao, investimento na pesquisa e na estruturao de

    cursos destinados ao desenvolvimento de competncias dos atores envolvidos. Neste sentido,

    cremos que os indicadores acima descritos constituem princpios fundamentais e pr-requisitos

    na implementao e

    Voc j se deu conta de como o termo rede est sendo bastante utilizado atualmente?

    Ser que sempre que o encontramos ele est relacionado ao seu verdadeiro sentido? Vamos

    discutir este conceito?

    Podemos pensar no conceito de rede levando em considerao os vrios nveis fractais

    possveis em uma rede. Em uma rede neural, um indivduo pensa com seus bilhes de neurnios

    ou, mudando de nvel fractal, podemos ter duas pessoas formando uma rede em dyad (a menor

    unidade de comunicao realizada entre duas pessoas), onde os dois ns de comunicao so as

    pessoas que formam o canal desta rede. Mudando novamente de nvel, podemos imaginar uma

    famlia, ou uma sala de aula, em que um nmero relativamente pequeno de pessoas forma uma

    rede de comunicao direta. Pensando em um nvel fractal maior, podemos considerar essa sala

    de aula parte de uma escola, sendo que agora a sala se torna apenas um n desta nova rede. Por

    meio deste raciocnio, podemos imaginar outros nveis fractais maiores: escolas municipais,

    estaduais e nacionais, cidades, estados, pases, continentes, planetas e universos (TIFFIN;

    RAJASINGHAM, 1995). No nosso curso, so vrias pessoas, grupos locais, instituies

    federais, estaduais...

    Sendo assim, em nvel social e poltico, a sociedade contempornea tem trabalhado o

    conceito de rede em vrias esferas e contextos. Atualmente, na era da informao, a economia, a

    sociedade e a cultura esto sendo estudadas como uma sociedade em rede (CASTELLS,1998).

    Muitas reas de estudo tm trabalhado esse conceito, dentre elas, a rea organizacional,

    administrativa e empresarial, onde vrios autores utilizam a terminologia de rede. Temos nesta

    rea trabalhos polmicos, como a Network Marketing, que utilizada como um recurso de

    vendas revolucionrio (POE, 1968), mas que estudos e investigaes recentes mostram que se

  • trata de novas verses da velha rede em pirmide, que de tempos em tempos acabam iludindo

    certo nmero de pessoas e explorando outras tantas.

    Mas tambm temos estudos srios na rea administrativa que veem a atividade como

    uma rede de informaes e trabalham como teamnets (LIPNACK; STAMPS, 1994), ou

    estudos que analisam as empresas em sua atual forma organizacional em formato de redes

    (SANTOS, 1999), e tambm trabalhos com nfase geogrfica nas redes urbanas e redes de

    telecomunicaes. Porm, atualmente, a rede das tecnologias de informao e da comunicao

    tem sido o carro-chefe de qualquer anlise da sociedade em rede, tendo a internet como rea de

    estudo e trabalho.

    2.1 - AS REDES FSICAS (TECNOLGICAS) E AS REDES

    SOCIAIS (DE MOVIMENTOS)

    Atualmente vem se desenhando uma nova trade nas concepes de desenvolvimento: o

    Estado, o Mercado e a Sociedade Civil (WOLFE, 1992). A professora Ilse Scherer-Warren

    (1994) relaciona as principais correntes tericas do pensamento atual, no contexto da rea de

    pesquisa dos movimentos sociais, por meio de duas tendncias principais: uma que trata a

    questo a partir de uma relao dual sociedade civil versus Estado; e outra que considera uma

    relao tripartite estado-mercado-sociedade civil.

    Para Norberto Bobbio (1999), que segue a primeira tendncia, a sociedade civil o

    campo das vrias formas de mobilizaes, associaes e organizao das foras sociais, que se

    desenvolvem margem das relaes de poder que caracterizam as instituies estatais. Dentro

    desta viso, Calhoun (1997) distingue a sociedade civil por sua capacidade de associativismo e

    autodeterminao poltica independente do Estado. Estas associaes, que podem assumir a

    forma de comunidades, movimentos ou organizaes, advindas da igreja, de partidos ou de

    grupos de mtua ajuda, tm o papel de intermediao junto instituio Estado (apud

    SCHERER-WARREN, 1994).

    A segunda tendncia, que considera a relao tripartite Estado-mercado-sociedade civil,

    aponta a sociedade civil como integrante de um terceiro setor, em contraste com o Estado e o

    Mercado. Se refere genericamente a uma ao por parte de entidades no governamentais,

    independentes tanto da burocracia estatal e sem fins lucrativos quanto dos interesses do

    mercado. A prpria noo de Organizao No Governamental (ONG) tende a ser

    compreendida como parte deste setor.

    Entretanto, Wolfe (apud SCHERER-WARREN,1994), seguindo esta tendncia

    tripartite, considera o terceiro setor como a prpria sociedade civil, que denomina tambm de

  • setor social. A noo de Wolfe de associativismo na vida cotidiana se aproxima daquela de

    Tocqueville, incluindo a mtua ajuda, aes de solidariedade comunitria e familiar, alm de

    ONGs e outros movimentos. Alm disso, segundo este autor, altrusmo/gratuidade seriam outros

    elementos constitutivos da sociedade civil.

    A sociedade civil brasileira tem destacado outra trade enquanto agente poltico na

    busca de articulao de redes de movimentos e na articulao entre organizaes populares, no

    sentido de formar um coletivo mais abrangente. Alguns agentes so oriundos do movimento

    sindical, e h ainda aqueles que realizam um trabalho de mediao junto a movimentos

    populares por meio das ONGs (SCHERER-WARREN, 1993). dentro deste quadro

    conjuntural, que conta com novos movimentos sociais, que surgiu nos anos 1980 o Movimento

    pela Democratizao da Comunicao no Brasil.

    Na dcada de 90 do sculo passado, estes movimentos se caracterizaram pelo

    fortalecimento em forma de rede, as chamadas redes de movimentos. Segundo Ilse Scherer-

    Warren, as redes de movimentos que vm se formando no Brasil apresentam algumas

    caractersticas em comum: busca de articulao de atores e movimentos sociais e culturais;

    transnacionalidade; pluralismo organizacional e ideolgico; atuao nos campos cultural e

    poltico (ibidem, p.199). Podemos ainda acrescentar a horizontalidade como caracterstica

    dessas redes de movimentos sociais no Brasil (SOUZA, 1996).

    interessante notar que as redes das quais falamos at aqui so redes sociais, formas de

    organizao humana e de articulao entre grupos e instituies. Porm, importante salientar

    que estas redes sociais esto intimamente vinculadas ao desenvolvimento de redes fsicas e de

    recursos comunicativos. O desenvolvimento das novas tecnologias e a possibilidade de criao

    de redes de comunicao, de interesses especficos, tcnicas, utilizando os mais variados

    recursos, meios e canais, fundamental para o desenvolvimento destas redes de movimentos

    sociais.

    Podemos dizer que o desenvolvimento da multimdia, as novas formas interativas de

    acesso informtica, as conferncias e redes via computao representam o mais novo territrio

    de disputa e luta na sociedade. As redes de movimentos sociais se utilizam da possibilidade que

    as redes tecnolgicas oferecem de troca horizontal de informao para fortalecer suas estratgias

    de conquista de espao na sociedade. Atualmente, muitas redes de movimentos sociais e

    culturais esto surgindo, estimuladas pelas redes informacionais e a partir de seu lcus.

    Dialogicamente, o territrio, o mar das redes eletrnicas, est encontrando novos marinheiros

    que comeam a naveg-lo. Especialistas em informtica comeam a se interessar pelas cincias

    humanas, cientistas sociais principiam a atuar em conferncias informatizadas, sindicalistas

    trocam informaes e recebem dados via satlite, e todos participam de redes de comunicao.

  • importante salientar que este fenmeno no acontece somente com as redes de movimentos

    sociais, como j falamos antes, os agentes do mercado e do setor estatal tambm esto entrando

    com fora neste novo territrio.

    Randolph (1993), analisando as atuais transformaes sociais e o surgimento de novas

    redes, observa que este processo ocorre em duas frentes: a primeira na esfera privada, onde as

    transformaes das empresas capitalistas ocidentais aglutinadas em redes estratgicas ocorrem

    sob o signo do LEAN Management, que representa um pacote de medidas de flexibilizao e

    emagrecimento particularmente da grande corporao capitalista, e que englobam uma gama

    heterognea de novas relaes entre formas de empreendimentos econmicos. A segunda

    frente acontece na esfera pblica, onde ocorrem modificaes relativas ao relacionamento entre

    Estado e sociedade, por meio da criao de redes de solidariedade, caracterizadas igualmente

    por uma grande diversidade de relaes. Essas redes ganharam visibilidade e notoriedade maior

    com a proliferao das chamadas Organizaes No Governamentais (ONGs), a partir da crise

    do Estado do Bem-Estar e da proliferao de propostas polticas neoliberais.

    Em sntese,

    tanto redes estratgicas como redes de solidariedade no apenas

    questionam a fronteira entre o quadro institucional e o sistema, mas a

    prpria consolidao de duas esferas (relativamente) separadas de

    pblico e privado. Teramos, ento, transformaes em duas

    direes: tanto horizontal, com a reformulao e mutao das

    racionalidades comunicativa e instrumental, quanto vertical com a

    redefinio de espaos privados e pblicos nas novas sociedades

    (RANDOLPH, 1993, p.4-5).

    Podemos dizer que esses questionamentos e mudanas de

    conceituao sobre pblico e privado podem ser verificados com

    nfase na disputa do chamado ciberespao (espao mundial de

    comunicao eletrnica), ou seja, o mar onde navegam os primeiros

    viajantes destas novas tecnologias a comunicao. importante

    salientar, porm, que, no bojo do projeto das super-rodovias da

    comunicao, pode-se potencializar e desenvolver o esprito e o

    embrio, j experimentado pela Internet, de convivncia num espao e

    esprito democrticos, ou podem simplesmente transform-lo num

    grande mercado de servios nas mos dos grandes cartis das

    telecomunicaes (AFONSO, 1994, p.13).

    3 - A WEB COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM

  • Para gerir cursos que tenham a preocupao de aproveitar todos os recursos de

    multimdia em favor do ensino, necessrio saber como funciona a web como ambiente de

    aprendizagem. Collis (1998), falando sobre aprendizagem colaborativa, diz que ningum uma

    ilha, que no h um projeto to simples que uma s pessoa possa realizar sozinha e que aprender

    com os outros, reformulando o conhecimento a partir da crtica do outro, importante para o

    fortalecimento das habilidades de comunicao e o raciocnio.

    A noo de aprendizagem colaborativa de que a aquisio de conhecimentos,

    habilidades ou atitudes no um processo inerentemente individual, mas resulta de interao

    grupal. Esse tipo de aprendizagem se baseia nas seguintes premissas:

    cada participante tem conhecimentos e experincias individuais para oferecer e

    compartilhar com os outros membros do grupo;

    quando trabalham juntos como um time, um membro ajuda o outro a aprender;

    para construir uma equipe, cada membro do grupo deve desempenhar um papel para

    realizar a misso do grupo; e

    o intercmbio de papis desempenhados no grupo adiciona valor ao trabalho da equipe,

    porque o estudante pode assumir um ou outro papel com o qual esteja mais

    familiarizado em uma dada situao.

    As novas tecnologias criam novas chances de reformular as relaes entre estudantes e

    professores e de rever a relao da escola com o meio social, ao diversificar os espaos de

    construo do conhecimento e revolucionar processos e metodologias de aprendizagem,

    permitindo escola um novo dilogo com os indivduos e com o mundo. Neste contexto,

    fundamental colocar o conhecimento disposio de um nmero cada vez maior de pessoas, e,

    para isso, preciso dispor de ambientes de aprendizagem em que as novas tecnologias sejam

    ferramentas instigadoras, capazes de colaborar para uma reflexo crtica e para o

    desenvolvimento da pesquisa, sendo facili