Introdução às anemias
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HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
INTRODUÇÃO ÀS ANEMIAS
Anemia não é uma doença, é um sinal que existe uma
doença.
O hemograma completo, que inclui índices
hematimétricos, a contagem de reticulócitos a cinética do
fero e a microscopia do esfregaço de sangue são suficientes
para o diagnóstico da grande maioria dos casos.
Hematopoiese
Somente os ossos da pelve, esterno, ossos do crânio, arcos
costais, vértebras e as epífises femorais e umerais.
A linhagem mieloide origina as hemácias, plaquetas,
granulócitos e monócitos. A linhagem linfoide gera os
linfócitos T e B.
A célula progenitora mieloide se diferencia em mais dois
tipos: um comprometido com a linhagem eritroide-
megacariocítica (hemácias e plaquetas) e outra com a
linhagem granulocítica-monocítica.
A célula progenitora linfoide se diferencia em dois tipos
celulares: linfócito T e B.
Os elementos maduros do sangue possuem uma vida
limitada, devendo ser constantemente repostos. Hemácias
(120 dias), plaquetas (7-10 dias) e granulócitos (6-8 horas).
As interleucinas e os fatores de crescimento denominados
de CSF são os principais mediadores da hematopoiese,
existindo para cada linhagem celular, interleucinas e
fatores específicos. Os dois mais conhecidos são a
eritropoietina (EPO) e GM-CSF.
A eritropoietina é o hormônio que regula a formação das
hemácias, enquanto o GM-CSF estimula a formação da
colônia de granulócitos e monócitos, produzido pelos
macrófagos, fibroblastos e células endoteliais, em resposta
à inflamação.
ERITROPOIESE
A primeira célula no interior da medula óssea identificada
como pertencente à série eritriode é o pró-eritroblasto.
Na ordem de maturação temos: pró-eritroblasto,
eritroblastos basofílico, eritroblasto policromatofílico,
eritroblasto ortocromático (hemácia nucleada), reticulócito
e hemácia.
Na condição denominada megaloblastose, o defeito na
síntese de DNA, pela carência de B12 ou folato, faz com
que haja uma assincronia de maturação núcleo-citoplasma.
Geralmente são células de tamanho maior.
FORMAÇÃO DA Hb
O heme é uma molécula formada por quatro anéis
aromáticos (protoporfirina) com um átomo de Fe no
centro.
No adulto normal, cerca de 97% da Hb circulante possui
duas cadeias alfa e beta (chamada Hb A1). Cerca de 2%
possui duas cadeias alfa e delta (chamada Hb A2) e 1% é
chamada de Hb fetal.
As anemias sideroblásticas são desordens caracterizadas
por defeitos na síntese de heme, resultando em sobra de
ferro no interior do eritroblasto. Esse ferro livre deposita-se
na mitocôndria, gerando estresse oxidativo e dano à
organela.
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
DAS ANEMIAS
O termo anemia, traduz um estado em que a concentração
de Hb se encontra abaixo dos limites normais,
frequentemente acompanhado de queda no Ht e da
contagem de hemácias no sangue.
Nas crianças de 1-2 anos, de ambos os sexos o limite
inferior de Hb sérica é de 9,5g/dl.
No geral, os sintomas do quadro anêmico provêm do
prejuízo na capacidade carreadora de O2 do sangue,
predispondo à hipóxia tecidual e estimulando o coração a
aumentar o DC de forma compensatória.
Se o paciente for um cerebropata prévio ou tiver mais de
80 anos, uma anemia moderada a grave pode induzis
sonolência, torpor e, raramente, coma.
São dois mecanismos fisiológicos que amenizam a hipóxia
tecidual decorrente da anemia: aumento do DC e
aumento do 2,3-DPG na hemácia (reduz a afinidade da
Hb pelo O2 facilitando a extração do O2 nos tecidos).
A intensidade dos sintomas anêmicos depende da rapidez
de como se instala a anemia, bem como reserva
miocárdica, coronariana, pulmonar e cerebral.
INVESTIGAÇÃO ETIOLÓGICA
A anamnese deve pesquisar algumas pistas importantes:
tempo de instalação dos sintomas (sideroblástica,
aplásica, ferropriva e megaloblástica – insidiosas;
hemorrágica e autoimune – agudas) e sintomas associados
(crises álgicas, dor óssea, febre).
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
O exame físico: queilite angular e glossite;
esplenomegalia; petéquias; deformidades ósseas.
O índice de anisocitose indica a variação de tamanho entre
as hemácias, sendo normal até 14%. Na anemia ferropriva
há um RDW aumentado, sendo útil (não definitivo) para o
diagnóstico de uma anemia ferropriva e talassemia menor.
O diferencial de leucocitose pode revelar achados
importantes para o diagnóstico, como ocorre nas formas
mais jovens da linhagem granulocítica (bastões,
metamielócitos, mielócitos) associada a eritroblastos na
periferia, um achado denominado leucoeritroblastose,
significando uma invasão medular por algum processo
patológico.
A presença de reticulocitose indica dois grupos de
anemias: hemolíticas e por hemorragia aguda. Ambas são
as únicas anemias que se originam por perda periférica de
hemácias, sem nenhum comprometimento da medula
óssea.
Pela contagem reticulocitária, classificamos as anemias em
HIPOPROLIFERATIVAS (carenciais e distúrbios
medulares) - sem reticulocitose; HIPERPROLIFERA-
TIVAS (hemolítica ou sangramento agudo) – com
reticulocitose.
A dosagem sérica de ureia e creatinina pode confirmar o
diagnóstico de insuficiência renal crônica. Anemia
geralmente está presente quando a creatinina está acima de
2,5mg/dl.
As anemias hemolíticas cursam com hiperbilirrubinemia
indireta, aumento do LDH e redução da haptoglobina.
A saturação da transferrina <15%, calculada dividindo-se o
ferro pelo TIBC e uma ferritina sérica <10ng/ml
confirmam o diagnóstico de anemia ferropriva.
O aspirado de medula óssea deve ser feito quando se
suspeita é de uma neoplasia hematológica do tipo leucemia
ou mieloma múltiplo.
Os diagnósticos de anemia aplásica, leucemia,
mielodisplasias, mieloma múltiplo e anemia sideroblástica
só são possíveis com o exame de medula óssea.
ANEMIA FERROPRIVA
METABOLISMO DO FERRO
Uma parcela menor do ferro pode ser encontrada nas
proteínas ferritina e hemossiderina, que formam os
compartimentos armazenadores de ferro.
A anemia ferropriva nunca deve ser o diagnóstico
definitivo.
A ferritina é o principal responsável pelo armazenamento
de ferro no organismo, tendo a capacidade de armazenar
grandes quantidades de ferro.
A concentração sérica de ferro é diretamente proporcional
às reservas de ferro no organismo.
A hemossiderina apesar de armazenar o ferro, é de
liberação mais lenta.
A transferrina é responsável pelo transporte de ferro no
plasma, agindo como um link entre os principais locais de
depósitos teciduais e o setor eritriode da medula óssea.
CICLO DO FERRO
O duodeno e o jejuno proximal são as regiões responsáveis
pela absorção de todo o ferro alimentar.
Existem duas formas de ferro na dieta: heme (animal) e
não-heme (vegetal). O primeiro é melhor absorvido.
A absorção do ferro não-heme é altamente influenciável
pelo pH gástrico e pela composição dos alimentos. O pH
ácido do estômago promove a conversão do Fe3+ em
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Fe2+. Além disso, a vitamina C estimula a absorção do
ferro.
O ferro absorvido não é repassado diretamente à circulação
sistêmica (transferrina), ocorrendo dependente das
necessidades orgânicas. O processo de renovação celular
da mucosa intestinal e descamação consistem num
processo eficiente na eliminação do ferro, sendo a via fecal
a principal via de eliminação corpórea.
A hepcidina, um hormônio sintetizado no fígado, possui a
capacidade de se ligar à ferroportina, inibindo o transporte
de ferro pela membrana basolateral do enterócito em
direção ao plasma.
Praticamente todo o ferro plasmático circula ligado a uma
glicoproteína (transferrina) que captura duas moléculas de
ferro.
O ferro incorporado pelas células medulares tem dois
destinos básicos: armazenado pela ferritina dentro das
próprias células; ou ser captado pelas mitocôndrias.
No baço, o ferro reciclado dentro dos macrófagos
esplênicos tem dois destinos: estocado na ferritina e
hemossiderina; e, liberado no plasma ligado à
hemossiderina.
O organismo humano não é capaz de eliminar ativamente o
ferro já estocado. Por isso, pacientes com várias
transfusões sofrem intoxicação pelo ferro, desenvolvendo
hemocromatose secundária.
Além disso, o excesso de ferro alimentar não costuma
causar nenhum dano, já que as células da mucosa captam o
ferro mas só o libera para a circulação se for necessário.
O sangramento crônico é a principal causa de anemia
ferropriva.
No caso de hemorragia aguda, mesmo quando volumosa,
se o paciente sobreviver e o sangramento for estancado, a
perda de hemácias será compensada por um aumento dos
reticulócitos.
O sangramento agudo nem sempre causa anemia ferropriva
LABORATÓRIO DE FERRO
Praticamente todo o ferro sanguíneo é transportado pela
transferrina, a qual consiste num conjunto de moléculas
com múltiplos sítios de ligação com o ferro.
O TIBC não sofre influência direta das variações do ferro
sérico. Ele representa, de forma indireta a concentração da
transferrina sérica.
A saturação da transferrina nem sempre aumenta com o
aumento do ferro sérico, pois se a massa total de
transferrina aumentar (aumento hepático), a saturação não
sofrerá variações.
A saturação da transferrina representa o percentual de
todos os sítios da massa total de transferrina que estão
ocupados.
ETIOLOGIA
Geralmente as mulheres (devido à menstruação) e os
pacientes com sangramento crônico.
Para desenvolver o estado ferropênico, é necessário que
haja um balanço negativo do ferro corporal, até que seja
consumido todo o estoque armazenado deste metal.
Defeitos na absorção do ferro também são causas de
anemia ferropriva, tais como a gastrectomia subtotal a
Bilroth II, enteropatias que acometem o jejuno proximal e
o duodeno (doença celíaca).
Durante a gestação, é recomendada à reposição de rotina
de sulfato ferroso.
A hipermenorreia e exames de sangue com frequência,
também são capazes de causar depleção de ferro.
Infecções parasitárias como a ancilostomíase e tricuríase
provocam lesões hemorrágicas no intestino com perda
crônica de sangue.
Em homens e idosos a causa mais comum de perda
sanguínea pelo trato gastrointestinal são as hemorroidas,
seguida pela doença péptica ulcerosa e o câncer de cólon.
Todo paciente com mais de 50 anos com anemia ferropriva
deverá ser submetido a uma colonoscopia, mesmo se a
EDA mostrar doença péptica, ou hemorroida.
A anemia ferropriva é, de longe, a causa mais comum de
anemia em crianças, sendo encontradas taxas tão altas
quanto 50%.
Em prematuros e crianças com baixo peso ao nascer (PIG)
há uma menor reserva de ferro e têm uma velocidade de
crescimento maior, necessitando maior estoque de ferro
(2mg/kg/dia), dai a importância de se repor adequadamente
o ferro.
Entre 6-24 meses é o período mais propenso à anemia
ferropriva: pico de crescimento, esgotamento das reservas
de ferro, desmame sem complementação de ferro e sem
fórmulas/alimentos enriquecidos.
O uso de leite de vaca está associado à perda de sangue
oculto em cerca de 30% dos casos (gastroenterite por
alergia ao leite).
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Astenia, insônia, palpitações, cefaleia etc. Em pacientes,
previamente coronariopatas, cardiopatas, penumopatas ou
cerebrovasculopatas, a anemia pode desencadear angina
pectoris, insuficiência cardíaca, dipneia e rebaixamento do
nível de consciência.
Glossite (ardência e língua despapilada), queilite angular,
unhas quebradiças, coiloníquia (unhas em colher).
Perversão do apetite.
Em mulheres idosas, é a odinofagia pela formação de uma
membrana fibrosa na junção entre hipofaringe e o esôfago
(síndrome de Plummer-Vinson ou Paterson-Kelly).
Em crianças, a anorexia e irritabilidade são sintomas mais
comuns, podendo haver prejuízo do sistema psicomotor e
alterações comportamentais.
DIAGNÓSTICO
A confirmação diagnóstica é feita pelo laboratório do ferro
(sérico, TIBC e ferritina).
Na primeira fase a anemia leve e moderada com índices
hematimétricos normais (normocítica/normocrômica).
Num segundo momente, a anemia torna-se moderada a
grave, convertendo-se em microcítica e hipocrômica.
A anemia ferropriva cursa caracteristicamente com
trombocitose, isto é, aumento de plaquetas na periferia.
O RDW geralmente é aumentado (>14%). Uma
microcitose indica que a pode haver anemia ferropriva ou
talassemia menor.
O ferro sérico < 30mg/dl.
Dosagem de ferritina no plasma é o teste indicado para
documentar a deficiência de ferro. Níveis de ferritina
<15mg/dl são típicos de anemia ferropriva, enquanto níveis
maiores de 60mg/dl afastam a patologia.
A administração de ferro parenteral eleva a ferritina em 24
horas e a mantem elevada por 4-6 semanas, contudo só
teremos um nível de ferritina confiável cerca de um mês
após a última dose.
O TIBC reflete os sítios totais de ligação da transferrina e
varia de acordo com a concentração da transferrina sérica.
Nos casos da anemia ferropriva, o TIBC encontra-se
elevado (>360mg/dl) em função de um aumento na
produção de transferrina pelo fígado, em resposta à
carência do ferro.
Nas fases iniciais da deficiência de ferro, observa-se
apenas anisocitose. Se a anemia piora, podemos encontrar
microcitose e hipocromia.
O mielograma é o exame de maior acurácia para o
diagnóstico da anemia ferropriva, só devendo ser realizado
em casos duvidosos. A presença de qualquer ferro corável
afasta a possibilidade de anemia ferropriva declarada.
A análise do ferro medular permite a diferenciação entre a
anemia ferropriva e anemia da doença crônica.
A dosagem da proteína receptora de transferrina (TRP)
correlaciona-se com os níveis das reservas de ferro,
aumentando os níveis após depleção importante dos
depósitos de ferro. Alguns autores consideram o índice
mais fidedigno da ferropenia.
ESTÁGIOS NA DEFICIÊNCIA
DE FERRO
O processo de depleção dos depósitos de ferro ocorre antes
da anemia propriamente dita.
Há uma ausência de ferro corável na medula e uma queda
perceptível nos níveis de ferritina (<20ng/ml). O TIBC
aumenta e a saturação cai a níveis < 20%.
A anisocitose (RDW) encontra-se aumentado. Quando a
Hb cai <8mg/dl, a medula está “cheia” e com diminuição
na relação mieloide/eritroide, devido à hiperplasia na
tentativa desesperada da MO de recuperar o déficit
hematológico.
Quando leve/moderada a anemia é classificada como
HIPOPROLIFERATIVA. Quando há agravo na anemia,
passa a ocorrer uma ERITROPOIESE INEFICAZ.
TRATAMENTO
A dose recomendada para a correção da anemia ferropriva
é de 60mg de ferro elementar (300mg de sulfato ferroso), 3
a 4 vezes ao dia.
Em crianças, a dose deve ser 5mg/kg/dia de ferro
elementar, dividido em 3 tomadas.
A absorção do ferro é melhor quando administrado com
estômago vazio, de preferencia associado à vit. C.
A resposta ao tratamento deve ser observada avaliando-se a
contagem de reticulócitos.
A reposição de ferro deve durar 3-6 meses após a
normalização do Ht.
O controle pode ser feito com a ferritina sérica, que deve
chegar a valores acima de 50ng/ml.
A falha terapêutica deve ser secundária a: diagnóstico
errado, anemia multifatorial, má-adesão terapêutica,
sangramento crônico, doença celíaca.
Indica-se reposição parenteral quando houver má absorção
intestinal, intolerância, anemia refratária à terapia oral,
necessidade de reposição imediata.
A preparação mais antiga é o ferro-dextran.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
ANEMIA NAS DESORDENS SISTÊMICAS
ANEMIA NA DOENÇA
CRÔNICA
Do ponto de vista laboratorial, o que chama a atenção nesta
forma extremamente comum de anemia é o achado
paradoxal de ferro sérico baixo associado à ferritina sérica
normal ou aumentada (reserva aumentada).
A ADC é a principal causa de anemia em pacientes
internados.
Outros sinônimos: anemia inflamatória, anemia
hipoferropênica, anemia citocina-mediada.
Os estados inflamatórios e neoplásicos promovem a
liberação de várias citocinas, que, em conjunto, acabam
levando à: redução da vida das hemácias; redução da
produção renal de EPO; menor resposta dos precursores
eritroides à EPO; aprisionamento do ferro em seus locais
de depósito.
A IL-6 tem um papel essencial, pois os macrófagos
começam a liberar esta citocina, que estimula o fígado a
produzir hepcidina (reagente de fase aguda), a qual reduz a
absorção de ferro pelo intestino e aprisiona o ferro no
interior dos macrófagos e locais de depósito.
A IL-1 estimula a síntese de lactoferrina pelos
polimorfonucleares, a qual é mais ávida por ferro que a
transferrina, e não libera o ferro para a medula de forma
adequada.
Como na maioria das vezes a ADC não é grave, o quadro
clínico é marcado basicamente pelos sinais e sintomas da
doença de base.
Na maioria dos casos a ADC não cursa com hematócrito
abaixo de 25%!!!
A forma mais característica de apresentação é
normocítica-normocrômica, quase nunca o VCM <72fl.
O metabolismo do ferro: ferro sérico <50mg/dl; ferritina
sérica normal ou alta (o que caracteriza a doença); TIBC
normal ou baixo <300mg/dl; saturação ferritina baixa (10-
20%).
O TIBC encontra-se normal ou baixo pelo fato de
haver, na doença crônica, uma redução na produção da
transferrina sérica.
Nos casos incomuns de anemia grave (Ht<25%),
afastando-se a ferropenia e outras causas de anemia, o
tratamento deve ser feito com EPO recombinante,
acompanhado pela reposição do ferro parenteral.
ANEMIA DA IRC
Ocorre deficiência da produção de EPO pelo parênquima
renal.
Configura-se IRC quando há uma filtração glomerular
abaixo de 30-40ml/min ou uma creatininemia acima de 2
ou 3mg/dl.
Outros fatores incriminados na anemia são: toxinas
urêmicas que funcionam como inibidores da EPO,
alterações enzimáticas, eletrolíticas; e efeito do PTH que
inibe a EPO e promove mielofibrose.
A anemia na síndrome urêmica chega a valores e Ht 15-
30% e é tipicamente normocítica-normocrômica.
Quando a ureia se encontra muito elevada (>500mg/dl)
pode haver aumento dos reticulócitos e o esfregaços do
sangue periférico podem revelar equinócitos (hemácias
crenadas).
O tratamento é feito com EPO recombinante SC/IV,
podendo acontecer aplasia com efeito colateral.
A presença de saturação da transferrina (<20%) ou ferritina
<200ng/dl, a qualquer momento durante a terapia com
EPO, autoriza o início da reposição de ferro.
Há necessidade de reposição de ácido fólico devido à
hemodiálise originar anemia megaloblástica.
ANEMIA NA HEPATOPATIA
CRÔNICA
Na maioria dos casos o mecanismo é meramente
dilucional, como resposta à retenção hidrossalina
característica da hipertensão portal.
Vários mecanismos podem levar à “anemia verdadeira”,
tais como: redução da vida média das hemácias (20-30
dias) e redução da resposta medular à EPO.
A menor resposta eritropoiética a EPO pode ser explicada
pelo efeito direto do álcool, anemia megaloblástica, anemia
ferropriva por sangramento crônico e queda na produção
da EPO hepática.
Síndrome de Zieve: esplenomegalia, icterícia e
hiperlipidemia.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Anemia hemolítica com acantócitos: aumento do teor de
colesterol na membrana plasmática, sem um aumento
correspondente na lecitina.
Anemia é normocítica ou macrocítica. Pode haver
hemácias em alvo ou acantócitos.
ANEMIA DAS
ENDOCRINOPATIAS
A tireoidite de Hashimoto pode estar associada à anemia
perniciosa, uma vez que ambas são doenças autoimunes.
Neste caso, teremos os achados clássicos da anemia
megaloblástica por carência de folato.
A menor necessidade de O2 à queda dos níveis de EPO. O
efeito direto da queda de T3, reduzindo a eritropoiese
medular, também pode contribuir.
No hipertireoidismo, cerca de 10-25% dos pacientes, a
anemia é discreta, do tipo microcítica, a qual não responde
à reposição do ferro.
No hipogonadismo masculino, a falta de androgênio reduz
a produção renal de EPO, trazendo o Ht para os níveis
normais do sexo feminino.
ANEMIA DA OCUPAÇÃO
MEDULAR (MIELOFTÍSICA)
A medula apresenta múltiplos focos de granuloma caseoso
e áreas de fibrose, e o paciente desenvolvia pancitopenia
progressiva associada ao aparecimento de células jovens na
periferia (eritroblastos e granulócitos imaturos),
denominando-se de leucoeritroblastose.
As neoplasias malignas podem infiltrar a medula óssea,
principalmente quando seu estagio mais avançado de
disseminação.
É comum a pancitopenia, sendo o achado mais
característico é a leucoeritroblastose (mielócitos,
metamielócitos, bastões) em grande quantidade na vigência
de anemia e leucopenia.
Pode haver hemácias em lágrima (dacriócitos).
ANEMIA MEGALOBLÁSTICA
O bloqueio na síntese de DNA que se caracteriza por um
estado em que a divisão celular se torna lenta, havendo
uma assincronia entre o crescimento nuclear e
citoplasmático.
As células mais afetadas são aquelas que apresentam alto
turnover, tais como as da MO e do TGI.
A anemia megaloblástica é apenas um dos tipos de anemia
macrocítica, havendo então: anemia macrocítica
megaloblástica e as macrocíticas não megaloblásticas.
O termo megalobblastose refere-se a uma anormalidade
morfológica dos núcleos de seus progenitores no interior
da medula óssea.
Os megaloblastos são reconhecidos como células
defeituosas pelos macrófagos, o que chamamos de
eritropoiese ineficaz.
É causada pela carência de folato e/ou vit. B12.
BIOQUÍMICA (FOLATO/B12)
O folato da dieta é absorvido pelo duodeno e jejuno
proximal (mesmo local de absorção do ferro), circulando
pelo plasma na forma de metiltetrahidrofolato (MTHF)
sendo clivado e liberado no citoplasma na forma de THF
(forma ativa da vacina). O fígado é o maior reservatório de
folato no organismo.
Os sinais clínicos da deficiência de folato ocorrem em
cerca de 4-5 meses após o início das perdas.
A má absorção de folato pode ser consequência de um
distúrbio primário da mucosa duodeno-jejunal (d. celíaca)
ou do uso de determinados fármacos que interferem com o
processo de absorção (sulfas e anticonvulsivantes).
Seriam precisos 10-15 anos com dieta pobre em B12 para
haver sinais clínicos de deficiência, caso a absorção da
vitamina não esteja prejudicada, ou 3-6 anos se houver
prejuízo na absorção.
A etiologia mais frequente é a má absorção em vez da
pobre ingestão alimentar.
Durante a digestão gástrica, a vitamina B12 é liberada e
imediatamente se liga a uma glicoproteína (ligante R),
secretado na saliva e na mucosa gástrica.
No duodeno, o complexo B12-R é dissolvido sob ação das
proteases secretadas pelo pâncreas. Dessa forma, a
vitamina B12 é liberada, sendo então captada pelo fator
intrínseco. Este complexo (B12-FI) é resistente à digestão
e chega ao íleo distal.
O folato tem como função primordial transferir fragmentos
de 1 carbono para os aceptores (bases nitrogenadas). Os
precursores hematopoiéticos começam a ter dificuldades na
maturação do núcleo. É exatamente o que ocorre na
deficiência de ácido fólico.
O MTHF é convertido em THF (forma ativa) através da
metionina sintase, utilizando a B12 como cofator. Logo a
deficiência de B12 prejudica a produção do DNA.
Uma segunda reação da B12 (não ligada ao folato) é a
conversão de metilmalonil CoA em succinil CoA, a qual se
não ocorrer promove a síntese de ácidos graxos não
fisiológicos (neuronais), além do fato da metionina não
formada adequadamente, promove uma diminuição da
produção de fosfolipídios contendo colina (fundamental à
bainha de mielina).
ORIGEM DAS DEFICIÊNCIAS
VITAMÍNICAS
ÁCIDO FÓLICO
O alcoolismo predispõe à deficiência de folato por dois
fatores: pelo alto valor calórico o alcoolista não ingere
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
alimentos adequadamente; o álcool dificulta a absorção e
recirculação do folato através do ciclo êntero-hepático.
Nos lactentes as reservas são reduzidas ao nascimento e
rapidamente depletadas em função do crescimento
acelerado nesta fase.
B12
Acloridria gástrica não promove a separação da B12 das
proteínas alimentares.
A deficiência de FI (anemia perniciosa, gastrectomia total).
Insuficiência exócrina pancreática (pancreatite crônica)
não promove a separação de do complexo B12-ligante no
duodeno.
Hiperproliferação bacteriana competindo pelos substratos.
Ausência da mucosa intestinal (doença de Crohn, ressecção
ileal) além de vegetarianos.
A anemia perniciosa é a doença que mais causa deficiência
de B12, enquanto o alcoolismo , a gestação e má nutrição
figuram como os principais fatores associados à carência
de folato.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
DEFICIÊNCIA DE B12
No caso da carência de B12 notamos palpitações, cefaleia,
irritabilidades, fraqueza.
Sensação dolorosa na língua (glossite).
Parestesia nas extremidades (polineuropatia), siminuicao
da sensibilidade profunda, desequilíbrio, marcha atáxica,
sinal de Romberg e Babinski.
Para todo paciente que abre um quadro demencial, a
dosagem de B12 deve ser realizada na investigação
laboratorial.
Na anemia perniciosa há um desenvolvimento de
anticorpos que atacam as células do fundo e corpo gástrico,
reduzindo a produção de ácido e fator intrínseco, gerando
acloridria e anemia megaloblástica por má absorção de
B12.
Os anticorpos antiparietais estão presentes em 90% dos
pacientes enquanto os anti-FI em 60%.
A causa mais comum de deficiência de B12 é a anemia
perniciosa.
Importante lembrar da associação entre anemia perniciosa
e carcinoma gástrico. Além disso, encontra-se associada a
outras doenças autoimunes (hipotireoidismo e Graves).
DEFICIÊNCIA DE FOLATO
As manifestações clínicas são semelhantes às da anemia
por deficiência de B12.
Os achados do TGI são mais exuberantes e NÃO ocorrem
manifestações neurológicas.
LABORATÓRIO
O VCM está aumentado. Se superior a 110fl o diagnóstico
é bem provável. É comum anisocitose com elevação do
RDW.
A alteração mais característica da anemia megaloblástica é
a chamada hiperpigmentação dos neutrófilos
(plurissegmentados é achado patognomônico da anemia).
A medula geralmente é hipercelular, com uma diminuição
da relação eritroide/mieloide.
Os eritroblastos estão aumentados de volume, com
importante assincronia núcleo/citoplasma, revelando um
atraso na maturação nuclear.
Os níveis de B12 <200pg/ml e os de folato sérico <2ng/ml.
Devemos lembrar que a deficiência de B12 pode levar a
aumentos do folato no sangue: como a B12 é necessária
para a manutenção do folato no interior da célula, em sua
ausência, este se ‘desvia’ para o plasma.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
A dosagem do ácido metilmalônico e da hemocisteína são
o melhor parâmetro para o diagnóstico e diferenciação
entre as deficiências de B12 e ácido fólico.
O AMM encontra-se elevado na deficiência de B12.
A hemocisteína encontra-se elevada nas deficiências de
folato e B12.
Os níveis de LDH e BD encontram-se aumentados, pois
estamos diante de uma destruição aumentada de
precursores das células vermelhas na MO.
A anemia megaloblástica é aquela que mais eleva o LDH,
mais do que a hemólise.
Sempre que suspeitarmos de anemia megaloblástica,
devemos solicitar a dosagem de B12 (<200pg/ml) e folato
(<2ng/ml). Uma vez estabelecido o diagnóstico de anemia
por carência de B12 sua etiologia dever ser confirmada
pelo teste de Schilling e pela dosagem do anticorpo
antifator intrínseco (mais específico da doença).
A biópsia gástrica NÃO é obrigatória.
O teste de Schilling só é solicitado quando a origem da
deficiência de B12 não é esclarecida.
TRATAMENTO
Na deficiência de B12, administra-se parenteral
(1.000ug/dia/7dias) IM.
Se houver decorrência de supercrescimento bacteriano
devemos iniciar ATB.
Para a deficiência de folato, repõe-se 1-5mg/dia VO.
As principais complicações do tratamento são a
hipocalemia, retenção de sódio e a falsa melhora do
paciente após reposição de folato, que na verdade é
deficiência de B12.
A profilaxia com B12 deve ser feita com todos os
vegetarianos, RN e lactentes filhos de mães com
deficiência de B12, e pacientes com disabsorção crônica de
B12.
Em relação ao folato, todas as gestantes e em mulheres em
idade reprodutiva que façam uso de anticonvulsivantes.
Ácido folínico para os que usam o metotrexato.
MIELODISPLASIAS
Tratam-se de desordens hematológicas adquiridas
caracterizadas pela transformação mutagênica de um clone
de um progenitor hematopoiético da medula óssea, que dá
origem a células progenitoras anômalas (displásicas),
incapazes de seguirem um processo de maturação normal.
Há uma coexistência paradoxal entre uma medula normal
ou hipercelular, associada à redução da produção de
diversas linhagens hematológicas.
A displasia das células hematopoiéticas pode ser mais cedo
ou mais tarde converter-se em uma leucemia aguda
(transformação leucêmica), por segunda mutação,
culminando num quadro agudo que evolui para o óbito.
PATOGÊNESE/ETIOLOGIA/
EPIDEMIOLOGIA
Pode ser: idiopática (primária), típica de pacientes idosos;
e secundária (induzida por drogas).
O risco de mielodisplasia primária aumenta conforme a
idade do paciente, e relaciona-se ao benzeno e à radiação
ambiental.
A forma secundária possui uma chance maior de evoluir
para leucemia mieloide aguda, e guarda um pior
prognóstico.
Após transplante autólogos de medula, nos quais se utiliza
quimio e radioterapia pode obter aplasia total da medula
(acomete mais de 20% dos pacientes).
A doença se inicia quando há uma mutação nos genes que
promovem a síntese de DNA, desarranjando a maturação
das células.
As células displásicas apresentam uma capacidade
prejudicada de se transformarem em células maduras.
O setor mais comprometido é o eritroide.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Devemos suspeitar de mielodisplasia em todo paciente que
se apresentar com anemia normocítica ou macrocítica,
bicitopenia ou pancitopenia, uma vez descartada a anemia
megaloblástica por carência de B12/folato.
A leucopenia pode provocar infecções bacterianas ou
fúngicas.
A causa mais comum de óbito na mielodisplasia é a
infecção!!!!
A síndrome de Sweet (dermatose neutrofílica febril) é
outra complicação das mielodisplasias, sendo geralmente
um prenúncio de evolução para LMA.
Em comparação com as leucemias agudas primárias, o
prognóstico é muito pior, e a resposta à quimio é precária.
A LMA é a segunda causa de morte nas mielodisplasias.
A anemia ser reticuocitose é um achado praticamente
universal, sendo de grau variável. Os índices
hematimétricos são normais.
O sangue periférico pode mostrar alterações sugestivas da
doença: macroovalócitos, neutrófilos hipossegmentares e
hipogranulares, anomalia de pseudo-Pelger-Huet.
A confirmação do diagnóstico só pode ser feita com a
biópsia da medula óssea, embora não exista achado
patognomônico de mielodisplasia.
A alterações mielodisplasicas mais valorizadas são as
diseritropoiese e a localização anormal dos precursores
mieloides (ALIP), no qual os mielócitos tomam uma
posição central na medula em vez de se situarem na região
paratrabecular. A presença de um ALIP confere pior
prognóstico.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Em relação ao prognóstico, a anemia refratária
sideroblástica tem sobrevida média de 2-6 anos evoluindo
para leucemia aguda em apenas 5% dos casos.
Os pacientes com anemia refratária ou com anemia
refratária sideroblástica acabam morrendo de infecções
bacterianas em razão da neutropenia e imunodepressão,
enquanto os demais grupos morrem pela leucemia aguda.
TRATAMENTO
Baseia-se no tripé: idade, performance status e escore
IPSS.
Pacientes com performance status ruim ou pacientes de
baixo risco acima dos 6 anos devem receber somente
medidas de suporte.
Estes consistem na transfusão de hemocomponentes,
quando indicado, e no uso de quelantes (desferoxamina) de
ferro nos politransfundidos.
A terapia de baixa intensidade normalmente é
recomendada a todos os pacientes com mais de 60 anso e
bom performance status ou pacientes com menos de 60
anos e risco baixo a intermediário. Usa-se baixas doses de
azacitidina ou decitabina.
Pacientes com risco intermediário-2 e alto risco no IPSS,
com até 60 anos e bom performance status são indicados à
terapia com alta intensidade: citarabina + etoposídeo +
idarrubicina. Prepara-se a medula (aplasiando-a) para
receber o transplante de células–tronco (única chance de
cura).
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
ANEMIA SIDEROBLÁSTICA
Possui como característica a presença de depósitos de ferro
nas mitocôndrias dos eritroblastos (sideroblastos em anel)
PATOGÊNESE E
FISIOPATOLOGIA
Tem como base um distúrbio na síntese do heme, desde
que não seja a carência de ferro.
Duas consequências surgem: prejuízo à síntese de
hemoglobina, levando à hipocromia e anemia; e acúmulo
de ferro na mitocôndria.
O heme inibe a captação de ferro pelo eritroblasto, como
pouco heme é formado, o ferro continua a ser acumulado
culminando com a formação dos sideroblastos em anel
(eritropoiese ineficaz).
A redução da síntese do heme, em conjunto com a
eritropoiese ineficaz, estimula a absorção intestinal de
ferro. Após alguns anos o paciente desenvolve uma
sobrecarga de ferro.
Por isso, grande parte da morbidade das anemias
sideroblásticas vem da sobrecarga de ferro nos órgãos,
manifestando-se como hepatoesplenomegalia, lesão
hepática e cardíaca.
No tipo hereditário (cromossomo X) uma mutação na
primeira enzima protoporfirina – a ALA sintase.
No tipo adquirido idiopático, não se conhece bem onde
está o distúrbio na síntese do heme. Contudo há fortes
indícios de que mutações no DNA mitocondrial
prejudicam a ação de uma enzima que converte o íon
férrico em ferroso.
No tipo adquirido reversível, determinadas drogas ou
distúrbios de oligoelementos podem atingir direta ou
indiretamente a síntese do heme.
QUADRO CLÍNICO/ DIAGN.
As hemácias circulantes, provenientes dos sideroblastos
em anel da MO, caracterizam-se por microcitose e
hipocromia, o que reflete a produção ineficaz de Hb.
Na prática há duas populações de eritrócitos:
hipocromica/microcítica e outra macrocítica,
caracterizando o dismorfismo eritrocitário.
A anemia sideroblástica caracteriza-se por apresentar no
esfregaço do sangue periférico tanto hemácias microcíticas
quanto macrocíticas.
Como há um estímulo á absorção intestinal de ferro, ele se
acumula no organismo (hemocromatose eritropoiética).
Logo teremos ferro sérico alto (>150ug/dl), ferritina
sérica elevada (>100-200ng/dl), TIBC normal e saturação
de transferrina alta.
Devemos suspeitar de anemia sideroblástica sempre
quando houver a coexistência paradoxal de hipocromia
com aumento do ferro sérico.
Os sideroblastos em anel aparecem no aspirado de MO
(>15% de eritroblastos), e os corpúsculos de Pappenheimer
no sangue periférico.
ANEMIA SIDEROBLÁSTICA HEREDITÁRIA
A reposição de sulfato ferroso em um paciente com anemia
sideroblástica, não corrige a anemia, e acelera a
hemocromatose, com risco de óbito por arritmia ou
disfunção miocárdica.
Este tipo de anemia mais comum no homem. Nos casos
leve/moderados podem ser descobertos somente na idade
adulta, já quando existe hemossiderose, representada por
hepatoesplenomegalia ao exame físico.
Nos casos mais graves podem evoluir com as lesões
orgânicas da hemossiderose (cardiomiopatia, hepatopatia,
hiperpigmentação, DM secundário).
ANEMIA SIDEROBLÁSTICA ADQUIRIDA
IDIOPÁTICA
Há grandes indícios de que a anemia sideroblástica
adquirida seja uma desordem mielodisplásica (clone de
uma célula defeituosa – síntese do heme). Atinge adultos
de meia idade e idosos.
O hemograma mostra anemia normocítica ou levemente
macrocítica.
Existem dois subtipos: sideroblástica pura ou
verdadeiramente mielodisplásica.
ANEMIA SIDEROBLÁSTICA ADQUIRIDA
REVERSÍVEL
Causada pelo alcoolismo e desnutrição.
Drogas: isoniazida (metabolismo da piridoxina),
pirazinamida, cloranfenicol (pode inibir a eritropoiese e
levar ao surgimento dos sideroblastos).
TRATAMENTO
A princípio, existem duas preocupações: correção da
anemia e correção/prevenção da hemocromatose.
Na forma hereditária, é corrigida em 40-60% dos casos
com a reposição de piridoxina (vit. B6).
A forma adquirida idiopática não costuma responder a
nenhum tratamento. Alguns pacientes com baixa
necessidade de hemotransfusões e níveis séricos de EPO
abaixo de 200U/ml respondem à administração de EPO
recombinante.
Em relação à hemocromatose eritropoiética, o paciente
deve ser acompanhado pela ferritina sérica.
Nos casos leves (Hb>9g/dl), o método escolhido pode ser a
flebotomia repetida. Nos casos mais graves, refratários ou
anemia moderada/grave, indicamos o quelante
desferoxamina parenteral.
A esplenectomia é contraindicada nas anemias
sideroblásticas, pelo alto risco de eventos tromboembólicos
no pós-operatório.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
ANEMIA APLÁSICA
DEFINIÇÃO
A doença é marcada pela pancitopenia, associada a uma
biópsia de medula óssea com menos de 30% do espaço
medular ocupado por células hematopoiéticas.
A distribuição da doença ocorre de forma bifásica: 2ª/3ª
década de vida e nos idosos.
Baixa renda e contato com derivados da sulfonamida
constituem fatores de risco independentes.
ETIOLOGIA
A anemia aplásica pode ser classificada como hereditária
(Fanconi ou disceratose congênita) ou adquirida.
Em cerca de 50% dos casos a anemia aplásica adquirida
não possui causa conhecida. No restante, há presença de
radiação ionizante, benzeno, drogas (cloranfenicol,
quimioterápicos), vírus hepatite não-A/não-B/não-C,
reação transfusional enxerto-hospedeiro, fasciíte
eosinofílica.
A radiação ionizante age produzindo grandes quantidades
de radicais livres derivados de O2, que promovem a
desestruturação do DNA.
A principal alteração hematológica induzida pelo benzeno
é a anemia, seguida pela trombocitopenia.
As drogas podem ser classificadas como: regularmente
aplasiantes (dose-dependente – quimioterápicos) ou
ocasionalmente aplasiantes (dose-independente -
cloranfenicol).
Cerca de 5% dos casos de aplasia grave de medula podem
ser atribuídos à hepatite viral aguda, geralmente na fase
de convalescência.
PATOGÊNESE
A anemia aplásica ocorre geralmente devido a uma lesão
da célula-tronco (injúria tipo I). Outras drogas e as
infecções virais acometem progenitores mais tardios, que
já sofreram alguma maturação (injúria tipo II). Porém, em
qualquer dos tipos há a participação dos linfócitos T, com
produção de interferon-gama.
O interferon –gama é capaz de induzir apoptose nas células
progenitoras da medula óssea.
APLASIAS CONGÊNITAS
ANEMIA DE FENCONI
Caracterizada por uma instabilidade genômica, com DNA
susceptível a quebras e translocações.
Baixa estatura, manchas café-com-leite, polegares
anômalos/ausentes.
A aplasia de medula geralmente se manifesta por volta dos
7 anos de idade
O diagnóstico é dado na presença de manifestações clinicas
típicas ou por estudos de cariótipo, revelando quebra
cromossomais.
A melhor chance de cura é o transplante de células-tronco.
DISCERATOSE CONGÊNITA
Anormalidades ungueais, hiperpigmentação, leucoplasia
das mucosas e anemia aplásica.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Astenia – indisposição física, fadiga e cansaço aos
esforços.
Hemorragia – sangramento gengival, epistaxe,
menorragia, petéquias e equimoses.
Febre – secundária à neutropenia, infecções bacterianas e
fúngicas.
A presença de hepatoesplenomegalia não é esperada,
devendo sugerir outro diagnóstico (leucemia aguda).
LABORATÓRIO
A pancitopenia é a regra.
Há neutropenia é definida quando houver <1.000/mm3 e
neutropenia grave quando <500/mm3.
O encontro de blastos indica leucemia aguda, e o encontro
de granulócitos jovens e eritrobastos ou hemácias
nucleadas (leucoeritroblastose) indica anemia por
ocupação medular (mieloftise).
A confirmação do diagnóstico é dado pela biópsia da MO,
que irá revelar menos de 30% dos espaço medular
ocupado por células hematopoiéticas.
TRATAMENTO
O prognóstico da anemia aplásica não tratada é bastante
sombrio.
Os principais fatores determinantes do prognóstico são a
idade e a contagem de células hematopoiéticas.
Considera-se aplasia grave quando menos de dois dos
seguintes critérios são encontrados: reticulocitopenia
<20.000/<1%; plaquetas <20.000mm3; neutrófilos
<500mm3. Aplasia muito grave neutrófilos <200mm3
A suspensão do fator incriminado como causa da aplasia é
obrigatória.
TERAPIA DE SUPORTE
Consiste na transfusão de hemoderivados, bem como no
tratamento da síndrome da neutropenia febril.
Um estudo demonstrou que pacientes que recebem
transfusão de concentrado de hemácias 3 dias antes do
transplante de células-tronco têm sobrevida inferior aos
que recebem transfusões após o transplante, isso porque a
transfusão ativa o sistema imunológico do receptor contra
os antígenos do grupo HLA.
Na suspeita de anemia aplásica só devemos realizar
transfusão quando for estritamente necessária.
TERAPIA DEFINITIVA
O uso de transplante de células-tronco é feito nos casos de
gravidade, caso o paciente possui potencial para tal. Se o
paciente for jovem e tiver irmãos devemos realizá-lo.
Devemos primeiro “aplasiar” a medula.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Acima dos 40 anos, o transplante não está indicado devido
aos riscos maiores de complicações.
O uso de terapia imunossupressora é indicada para os
pacientes que não estão indicados ao transplante
(globulina antitimócito e ciclosporina)
APLASIA ERITROIDE ISOLADA
É uma patologia menos comum do que a anemia aplásica
propriamente dita, na qual apenas a série vermelha
apresenta-se depletada.
Cursam com anemia sem plaquetopenia ou leucopenia.
A infecção por Parvovírus B19 é uma causa importante de
anemia eritroide isolada pura transitória.
O timoma pode estar relacionado a este tipo de aplasia, por
mecanismos imunológicos.
É rara e pode ser grave, não respondendo à timectomia.
O tratamento da aplasia eritroide isolada consiste na
remoção do fator desencadeante (timoma, drogas, câncer).
Nos pacientes que não se recuperarem usamos prednisona
e nos refratários, ciclosporina.
SÍNDROME DE
SCHWACHMAN-DIAMOND
Baixa estatura, insuficiência pancreática e neutropenia.
Nos pacientes que evoluem para aplasia, a única opção
curativa é o transplante de células-tronco.
INTRODUÇÃO ÀS ANEMIAS HEMOLÍTICAS
Durante a passagem pelos cordões esplênicos, às hemácias
encontram um ambiente hostil, marcado pela hipóxia,
acidez e grande quantidade de macrófagos capazes de
reconhecer qualquer anormalidade na membrana celular.
Essa função seletiva que o baço exerce, dá-se o nome de
hemocaterese.
A hemólise é definida como destruição prematura das
hemácias na periferia, seja no espaço intravascular ou no
interior nos órgãos do sistema endotelial.
Quando a meia-vida eritrocítica chega a um valor inferior a
20 dias, instala-se a anemia. Quando a meia-vida esta
reduzida, mas ao ponto de não causar anemia, dizemos que
há hemólise compensada.
Na hemólise extravascular (mais comum), as hemácias são
destruídas no tecido reticuloendotelial (no baço pelos
macrófagos nos cordões esplênicos de Bilroth). O
revestimento da membrana eritrocítica por antígeno IgG ou
complemento C3b, permite o pronto reconhecimento pelos
receptores macrofágicos, determinando uma destruição
precoce.
Na hemólise intravascular, as hemácias são destruídas na
própria circulação e seu conteúdo é liberado no plasma.
A destruição de hemácias , ao provocar uma tendência à
anemia, estimula a liberação de EPO pelo rim,
estimulando a maturação dos eritroblastos. Típico de
anemias hiperproliferativas.
A resposta medular também pode ser observada no
mielograma: há intensa hiperplasia eritroide, característica
das anemias hemolíticas.
Mesmo na ferropriva e megaloblástica há um estímulo à
hiperplasia eritroide medular, porém ocorre uma
eritropoiese ineficaz, levando a formação de eritroblastos e
reticulócitos anômalos.
A hemácia libera o seu conteúdo, rico em Hb. A qual sofre
ação da heme-oxigenase, que libera protoporfirina e é
convertida em biliverdina e depois em bilirrubina
indireta.
Toda hemólise crônica predispões à formação de cálculos
biliares (bilirrubinato de cálcio) que são radiopacos.
Ao se observar uma criança com episódio de crise biliar
com presença de cálculos radiopacos, certamente você
estará diante de uma anemia hemolítica crônica hereditária.
Reticulocitose refere-se à produção medular aumentada de
reticulócitos. Pode ocorre pós-anemia hemorrágica.
CRISES ANÊMICAS
São exacerbações agudas de uma doença hemolítica
crônica.
Crise aplásica – é a mais comum das crises anêmicas.
Qualquer fator que iniba diretamente a eritropoiese pode
precipitar uma anemia grave e sintomática, uma vez que o
mecanismo compensatório passa a ser prejudicado. A
principal etiologia é o parvovírus B19 (tropismo pelo pró-
eritroblasto) gerando reticulopenia. Trata-se com
hemotransfusão.
Crise megaloblástica – na ausência de reposição rotineira
de ácido fólico, é possível que uma hemólise crônica
evolua com uma anemia megaloblástica.
Crise hiper-hemolítica – infecções virais que ativam o
sistema reticuloendotelial podem aumentar a atividade dos
macrófagos dos cordões esplênicos promovendo uma
exacerbação do processo de hemólise.
Sequestro esplênico – é uma crise exclusiva da anemia
falciforme em crianças < 5 anos.
LABORATÓRIO
A icterícia costuma ser leve, pois a hiperbilirrubinemia
indireta nunca ultrapassa a faixa dos 5mg/dl, a não ser em
recém-nascido, que podem desenvolver kernicterus.
A história familiar de anemia crônica sugere anemia
hereditária: esferocitose, anemia falciforme, talassemia.
A DHL está quase sempre elevado na hemólise, devido à
liberação dessa enzima no interior das hemácias.
Na presença de hemólise (intra ou extravascular) as cadeias
de globina liberadas unem-se à haptoglobina; este
complexo é rapidamente clareado pelos hepatócitos ou
tornam-se indetectáveis na presença de hemólise.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Na hemólise intravascular encontramos hemoglobinemia
real (>50mg/dl), o plasma torna-se avermelhado.
Na presença de hemólise intravascular, muitas vezes a
capacidade de ligação da haptoglobina é excedida fazendo
com que a Hb seja filtrada pelos rins e reabsorvida no
túbulo proximal.
A Hb liberada no plasma, que não pôde se ligar à
haptoglobina, sofre logo oxidação, transformando-se em
metemoglobina. O heme é ligado a hemopexina.
Geralmente a anemia é normocítica e cnormocrômica. Se
houver anemia grave, verifica-se macrocitose devido à
reticulocitose e liberação excessiva de shift cells.
Há intensa policromatofilia, anisocitose e poiquilocitose.
ANEMIAS HEMOLÍTICAS HEREDITÁRIAS
TIPO I – DEFEITOS NA
MEMBRANA/CITOESQ.
De uma forma geral, defeitos genéticos das forcas verticais
levam à esferocitose, enquanto defeitos nas forças
horizontais causam eliptocitose e suas variantes.
ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA
Caracterizada por deficiência em graus variados de uma
das seguintes proteínas (espectrina, anquirina, banda 3,
proteína 4.2), sendo a mais comum a da anquirina.
A célula perde superfícies em relação ao volume, acabando
com seu formato bicôncavo e ganhando aspecto de esfera.
Estes, ao passarem pelos cordões esplênicos não
conseguem se deformar e ficam mais tempo em contato
com os macrófagos e são capturados.
A presença de anemia leve/moderada, icterícia discreta e
esplenomegalia numa criança/adulto jovem sugere o
diagnóstico.
A anemia é normocítica/hipercrômica (CHCM elevado)
com múltiplos microesferócitos no sangue periférico. A
esferocitose é a causa clássica de anemia hipercrômica.
Na presença de múltiplos microesferócitos no sangue
periférico e na ausência de um teste de Coombs direto
positivo, associados à anemia hemolítica crônica dá-se o
diagnóstico.
Na dúvida realiza-se o teste de fragilidade osmótica.
O tratamento recomendado é a esplenectomia, devendo ser
evitada antes dos 4 anos de idade, mediante o risco de
sepse fulminante (pneumococo e hemófilo). A vacina
antipneumocócica deve ser administrada antes do
procedimento.
ELIPTOCITOSE HEREDITÁRIA
Distúrbio na síntese de espectrina, dificultando as forcas
horizontais.
A maioria é assintomática, com hemólise leve, sem
anemia/esplenomegalia.
PIROPOIQUILOCITOSE HEREDITÁRIA
Distúrbio raro, com anemia hemolítica microcítica grave,
necessitando esplenectomia, e a presença de poiquilócitos
bizarros, hemácias fragmentadas.
ESTOMATOCITOSE HEREDITÁRIA
Defeito na membrana permite haver grande influxo de
sódio e água, deixando a hemácia com redução da Hb
corpuscular, palidez central (estomatócitos).
A esplenectomia deve ser evitada, pois se associa a
ocorrência de eventos tromboembólicos graves.
TIPO II – DEFEITOS
ENZIMÁTICOS
A energia do eritrócito serve para manter a Na-K-ATPase e
para regenerar seus lipídios de membrana.
A via glicolítica é responsável pelo fornecimento
energético, e a via metabólica protege o eritrócito contra
efeitos oxidativos (via formação de NADPH).
DEFICIÊNCIA DE G6PD
Herança ligada ao X, mais comum nos sexo masculino.
O mutante GdA+
apresenta meia-vida reduzida (13 dias), o
que confere às hemácias jovens proteção contra a
oxidação. Logo, hemácias mais velhas sofrerão agressão
oxidativa.
O mutante GdMed
tem uma atividade deficitária desde o
início da vida eritrocitária, afetando células jovens e
velhas, configurado uma forma mais grave.
O paciente apresenta crise hemolítica sempre que for
exposto a um estresse oxidativo, tal como uma infecção.
A desnaturação oxidativa da cadeia de globina produz
precipitados intracelulares de Hb desnaturada
(corpúsculos de Heinz).
Além da hemólise esplênica (extravascular), destaca-se a
intravascular, decorrente da ruptura da membrana,
resultado da peroxidação lipídica.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Clinicamente o paciente se apresenta com hemólise
intravascular aguda, com febre, palidez, icterícia
precipitada por uma infecção (E.coli, estreptococo e
hepatite viral).
Intensa hemoglobinúria pode lesar os túbulos renais
(necrose tubular aguda) levando à insuficiência renal aguda
oligúrica.
Nos pacientes de origem mediterrânea (GdMed
), a crise é
mais grave e pode não ser autolimitada (reticulócitos com
enzimas deficientes).
O sangue periférico apresenta “células mordidas ou
bolhosas”
O diagnóstico é feito pela dosagem da atividade da G6PD.
Não há tratamento específico, apenas transfusão e suporte,
bem como a profilaxia da infecção.
DEFICIÊNCIA DE PIRUVATO-QUINASE
Queda na produção de energia, com disfunção de
membrana (não renovação lipídica).
Células rígidas com destruição precoce pelo baço
(equinócitos).
O teste de fragilidade osmótica é negativo.
Não requer tratamento (somente folato) ou esplenectomia
para os casos mais graves.
ANEMIAS HEMOLÍTICAS ADQUIRIDAS
TIPO I – HEMÓLISE
EXTRAVASCULAR
HIPERESPLENISMO
De uma forma geral, as esplenomegalias congestivas são as
principais condições associadas ao hiperesplenismo na
prática médica. Duas causas assumem grande importância:
cirrose hepática e esquistossomose esplênica.
O baço aumenta destes pacientes aumenta seu poder de
hemocaterese, pois o sangue passa com maior morosidade
pelos cordões esplênicos.
A anemia hemolítica tende a ser leve, pois o poder de
destruição do baço congesto geralmente é contrabalançado
pelo aumento na produção de hemácias pela MO.
Mais importante que a própria anemia é a trombocitopenia
do hiperesplenismo, que armazena e sequestra carca de 1/3
das plaquetas circulantes. Um baço congesto ´´e capaz de
sequestrar um percentual muito maior, causando
plaquetopenia.
A neutropenia por sequestro esplênico pode acompanhar a
plaquetopenia em alguns casos.
Devemos identificar 4 critérios para o diagnóstico:
citopenia, hiperplasia reativa compensatória,
esplenomegalia e correção das anormalidades pós-
esplenectomia.
Nos países asiáticos, existe uma entidade comum que é a
síndrome de Banti, os quais apresentam fibrose dos
espaços porta, levando à hipertensão pré-sinusoidal.
Fibrose portal não cirrótica idiopática.
ANEMIA HEMOLÍTICA COM ACANTÓCITOS
A hepatopatia avançada aumenta o teor e lecitina na
membrana eritrocítica, gerando as famosas hemácias em
alvo (leptócito).
Quando o teor de colesterol supera o de lecitina, surge um
tipo morfológico de hemácia chamado acantócito.
O tratamento seria a esplenectomia, mas o procedimento só
está indicado para os pacientes quem possui risco cirúrgico
aceitável.
Há outra causa rara como a abetalipoproteinemia.
ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE (AHAI)
Esta é a mais importante anemia hemolítica adquirida,
tanto pela sua frequência como pelo seu potencial de
gravidade.
É ocasionada pelos autoanticorpos que reagem com
determinados antígenos da membrana plasmática que
constituem os grupos sanguíneos, como o sistema Rh.
O mecanismo envolve o fenômeno da opsonização, através
das moléculas de IgG.
O componente C3b do sistema complemento também é
capaz de opsonizar as hemácias.
Na primeira, os anticorpos são IgG, que se ligam à
superfície do eritrócito mediante temperatura corpórea. São
fracos ativadores do sistema complemento: somente
quando duas moléculas de IgG estão próximas.
Na segunda forma, os anticorpos são IgM, e reagem com
as hemácias em baixas temperaturas (crioaglutininas).
Estes são potentes ativadores do sistema complemento. A
hemólise extravascular é mediada pela ospsonização
dependente do complemento.
AHAI POR IgG (ANTICORPOS QUENTES)
Esta é a variedade de hemólise imunológica mais
encontrada na prática clínica. O principal fator de hemólise
é no baço, já que os macrófagos esplênicos são ricos em
receptores para IgG de alta afinidade (FcyRI).
Cerca de 50% dos casos são idiopáticos, podendo haver
participação de alfa-metildopa, LES, leucemia linfocítica
crônica e linfomas não-Hodgkin.
Grande parte dos pacientes se encontram em uma situação
intermediária, com anemia leve a moderada e
oligossintomática.
Uma esplenomegalia moderada ou de grande monta aponta
para um distúrbio linfoproliferativo de base (LLC,
linfoma). Na criança, os episódios geralmente seguem
quadros virais respiratórios.
As plaquetas, eventualmente os granulócitos (neutrófilos)
também podem ser atacados pelos anticorpos. A
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
associação da AHAI por IgG com a PTI é conhecida
como síndrome de Evans.
A granulocitopenia autoimune pode compor o quadro e é
denominada de Pancitopenia Autoimune.
O diagnóstico é feito pelo Teste de Coombs Direto, o qual
identifica a presença de anticorpos ou complemento
ligados à superfície das hemácias do paciente. Positivo em
98% dos casos.
O teste de Coombs Indireto não é importante, pois avalia
a presença de anticorpos anti-hemácia no plasma do
paciente (não ligados à superfície).
O tratamento é feito com a prednisona (1-2mg/kg/dia ou
40mg/m2).
Os corticoides apresentam três efeitos: reduzem a afinidade
dos receptores FcyRI dos macrófagos esplênicos; reduzem
a afinidade dos anticorpos da membrana dos eritrócitos;
diminuem a produção de IgG.
Para os pacientes que não respondem à corticoterapia pode
ser utilizado o rituximab ou esplenectomia (reduz a
fagocitose esplênica das hemácias opsonizadas e diminui a
produção de anticorpos).
Não podemos esquecer-nos de prescrever ácido fólico para
todos pacientes que apresentam hemólise crônica.
O médico deve informar ao banco de sangue a hipótese
diagnóstica, confirmando-a pelo teste Coombs direto, se or
comprovada, a transfusão de sangue deve ser feita, mesmo
que a prova cruzada mostre aglutinação.
AHAI POR IgM (ANTICORPOS FRIOS)
São mais ativos em baixas temperaturas.
O mecanismo de hemólise é bem diferente em relação à
AHAI por IgG, a destruição das hemácias ocorre no fígado
A etiologia é variável, mas a forma predominante é a
AHAI por IgM idiopática (Doença da Crioaglutinina).
A aglutinação transitória de hemácias nos vasos da derme
dos dígitos pode provocar livedo reticularis e
acrocianose.
Na prática médica, a causa mais comum de AHAI por
anticorpos frios é a infecção por Myocplasma
pneumoniae.
O quadro clínico é mais brando e indolente, quando
comparado a AHAI por IgG.
O diagnóstico pode ser dado pelo teste de Coombs direto e
pela pesquisa dos títulos séricos de crioaglutininas.
Atualmente a droga de escolha para tratar a doença é o
rituximab.
ANTICORPO DE DANOTH-LANDSTEINER
Consiste num anticorpo IgG, porém com características de
anticorpo frio.
Sua especificidade é contra o antígeno P da membrana
eritrocitária.
O anticorpo possui notável capacidade de ativar o sistema
complemento, com formação de complexo de ataque à
membrana.
ANEMIA IMUNO-HEMOLÍTICA
FARMACOINDUZIDA
Geralmente por: alfa-metildopa, levodopa, penicilina e
quinidina.
Tipo autoimune: tem como protótipo o uso de alfa-
metildopa e levodopa. A droga altera a estrutura do
complexo antigênico Rh, tornando-o um autoantígeno.
Tipo hapteno: quando uma molécula não proteica ao se
combinar com uma proteína do organismo, forma um
complexo antigênico, passa a ser denominada hapteno.
Típico de penicilina G cristalina e quinidina.
TIPO II – HEMÓLISE
INTRAVASCULAR
O grande marco é a presença de hemoglobinúria e
hemossiderinúria (pode intoxicar o sistema tubular renal,
provocando necrose tubular aguda).
São necessários estímulos mais potentes: uma potente
hemolisina; defeito que a deixe susceptível ao
complemento; estesse oxidativo; trauma físico/químico.
As hemolisinas (anticorpos do sistema ABO e veneno da
aranha marrom) são substancias capazes de ativar o
sistema complemento ate a formação do complexo de
ataque à membrana.
Por ativar o sistema complemento, o veneno provoca
intensa hemólise intravascular. O envenenamento
manifesta-se com necrose local, seguida por um quadro de
anemia hemolítica aguda, icterícia, urina vermelho-
castanho e insuficiência renal aguda oligúrica.
Além disso a malária também se comporta com a rotura
das hemácias na fase esquizogônica.
HEMOGLOBINÚRIA PAROXÍSTICA NOTURNA
Produção de subpopulações de granulócitos, plaquetas e
hemácias hipersensíveis ao sistema complemento.
Algumas proteínas começam a se soltar da membrana das
células hematopoiéticas. Isso faz com que o sistema
complemento aja sobre as hemácias descontroladamente.
Como as plaquetas dos pacientes com HPN estão mais
propensas ao ataque pelo sistema complemento, a
vesiculação acentua-se, resultando num estado de
hipercoagulabilidade e ativação plaquetária, capa de
explicar a grande propensão aos eventos trombólicos.
A predisposição a eventos tromboembólicos pode dominar
o quadro. Eventos vaso-oclusivos ocorrem em 30-40% e
são a principal causa de óbito na HPN.
A síndrome de Budd-Chiari é o evento ais clássico. Trata-
se da trombose das veias supra-hepáticas, evoluindo com
hepatomegalia congestiva , ascite e hipertensão portal.
O paciente relata urina escura pela manha e noite.
O diagnóstico é feito pelo teste de Ham ou pelo teste da
sacarose a 5%, além da citometria de fluxo.
O tratamento de suporte envolve as hemotransfusões se
houver anemia intensa. Os corticoides não estão indicados
e a reposição de ferro deve ser empreendida em todo
paciente com depleção dos estoques de ferro.
Nos episódios trombólicos graves, deve ser feita a
heparinização.
HEMÓLISE MECÂNICA COM FRAGMENTAÇÃO
DE HEMÁCIAS
As próteses mais frequentemente associadas são as de
localização aórtica.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Um grau exagerado de anemia e uma elevação marcante da
DHL nos indica a necessidade de troca valvar cirúrgica.
Ocorre destruição de eritrócitos em consequência da lesão
dos pequenos vasos dos pés, induzida pelo impacto.
Pode haver por lesão das células endoteliais,
caracterizando uma forma microangiopática, devido à
deposição de fibrina no endotélio, o que faz com que as
hemácias passem com maior dificuldade pelos vasos, se
deformam e se fragmentam.
ANEMIA FALCIFORME
É considerada a doença hematológica hereditária mais
comum da humanidade.
A Hb possui uma tendência a se polimerizar quando não
está ligada ao oxigênio, despolimerizando-se quando
saturada.
Algumas hemácias tornam-se mais densas e perdem a
deformabilidade necessária à passagem pela
microcirculação, enquanto outras ganham uma maior
capacidade de se aderir ao endotélio.
Como resultado, teremos uma doença marcada por dois
importantes componentes: DESTRUIÇÃO PRECOCE
DAS HEMÁCIAS e OCLUSÃO AGUDA OU
CRONICA DA MICROVASCULATURA.
PATOGÊNESE
A HbS é formada por duas cadeias α e duas cadeias βs (2α2
βs). Isso ocorre pela troca do ácido glutâmico pela valina
na cadeia βs.
No paciente com anemia falciforme ou SS, os dois alelos
do gene beta são mutantes, enquanto o indivíduo com traço
falcêmico AS possui apenas um dos alelos mutantes.
Na anemia falciforme, todas as cadeias sintetizadas são do
tipo βs. Nestes pacientes não existe HbA, porém aumenta o
percentual de HbF.
No traço falcêmico, cerca de 40% das cadeias beta são do
tipo βs o que confere um predomínio de HbA, que torna os
pacientes assintomático.
POLIMERIZAÇÃO DA HbS
A polimerização da HbS é o fenômeno responsável pelo
afoiçamento das hemácias. Quando em seu estado
dessaturado, os tetrâmeros de Hb se combinam para formar
uma estrutura insolúvel de fibras alinhadas em paralelo.
Em condições de alentecimento do fluxo capilar, o
afoiçamento ocorrerá na própria microvasculatura,
determinando o evento vaso-oclusivo.
Quando se dá de forma parcial, apenas aumenta a
densidade da hemácia, reduzindo sua elasticidade e
deformabilidade. Isso contribui para o aumento da
viscosidade sanguínea na microcirculação.
No paciente com anemia falciforme há uma população
heterogênea de hemácias, sendo uma parte normal e outra
acometida pela densidade e pouca deformabilidade e uma
terceira porção, permanentemente afoiçada.
FATORES DETERM. DA POLIMERIZAÇÃO
O principal fator determinante da polimerização da HbS é
a desoxigenação.
Os órgãos mais propensos à disfunção isquêmica são
aqueles com menor PO2 intersticial como a medula renal.
Outro fatores também contribuem para o afoiçamento, tais
como: pH, CHCM, presença de outras Hb (HbF, HbA,
HbC. A acidose estimula a polimerização por reduzir a
afinidade da Hb pelo O2 (efeito Bohr).
Quanto maior a concentração de HbS na hemácia, maior é
a tendência à polimerização, pela maior probabilidade das
moléculas se ligarem. A desidratação das hemácias, por
elevar o CHCM é um importante fator desencadeante do
afoiçamento.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Na medula renal, o ambiente extremamente hiperosmolar
desidrata as hemácias, fazendo-as afoiçar e ocluir os vasos
peritubulares (inclusive nos de traço falcêmico).
Quanto maior o percentual de HbF na hemácia, menor será
a chance de polimerização da HbS, pelo simples efeito
diluidor da primeira sobre a segunda. Isso explica porque
os sinais/sintomas só surgem após os 6 meses de vida.
OBS: o percentual de HbF nas hemácias não é algo
homogêneo. A subpopulação de hemácias que contém o
menor percentual de HbF tem uma chance muito maior de
afoiçamento, correspondendo ao grupo das hemácias
permanentemente afoiçadas.
FENÔMENO VASOCLUSIVO
Este fenômeno é iniciado pela adesão das hemácias ao
endotélio vascular da microcirculação.
Com hemácias, plaquetas e leucócitos aderidos ao
endotélio, o fluxo sanguíneo é lentificado, permitindo que
o afoiçamento ocorra na própria microvasculatura
(geralmente ocorre após os capilares, no leito venoso),
levando à oclusão do vaso.
A desidratação eritrocitária reduz a negatividade da
membrana, facilitando a aproximação e iteração entre as
hemácias.
A HbS é uma hemoglobina instável, desnaturando-se após
pequenos estímulos auto-oxidativos (infecção). Ao se
desnaturar, a HbS libera pigmentos hemicromos (férricos)
que se ligam à membrana e catalisam a formação de
radicais livres, aumentando sua capacidade oxidativa.
A inflamação aguda libera mediadores (trombospondina)
que modulam a célula endotelial e ativam leucócitos,
plaquetas e o sistema de coagulação.
A modificação lipídica da membrana eritrocitária estimula
o sistema de coagulação. Além disso , a desidratação
estimula a liberação do fator de Von Willenbrand, potente
agregador plaquetário.
Há hemólise extravascular, devido à ação dos macrófagos
esplênicos, mediante perda de elasticidade e opsonização.
Uma parte das hemácias do paciente falcêmico sofre
hemólise intravascular. As alterações da membrana
eritrocitária provocadas pela polimerização da HbS e pela
desidratação celular provocam a extrusão de vesículas
contendo inibidores fisiológicos do sistema complemento,
tornando-a propensa à lise direta.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
CRISES VASOCLUSIVAS
As crises vasoclusivas se manifestam como crises álgicas,
sendo as principais: óssea, torácica, abdominal e
priapismo.
Os órgãos mais acometidos pela disfunção isquêmica
crônica são o baço, os rins e o fígado. A perda da função
esplênica (autoesplenectomia) está por tras de uma das
mais importantes manifestações: predisposição às
infecções (sepse por germes encapsulados – estreptococo).
As crises vasoclusivas começam aos 5-6 meses de idade,
como a síndrome mão-pé, configurando dor de forte
intensidade e edema de dígitos. Os fatores desencadeantes
são aqueles que de um jeito ou de outro aumentam a
adesividade/afoiçamento eritrocitário.
A crise álgica mais comum é a crise óssea, provindo da
isquemia aguda ou infarto da medula óssea, acometendo
mais os ossos longos das extremidades, coluna e arcos
costais. A inflamação óssea pode levar ao edema
periarticular de grandes articulações periféricas.
A crise abdominal é caracterizada pela dor difusa de
inicio súbito, associada à distensão e sinais de irritação
peritoneal. É atribuída à isquemia e microinfartos no
território mesentérico.
A crise hepática manifesta-se devido à oclusão dos
sinusoides hepáticos, levando a uma hepatite isquêmica
aguda.
A síndrome torácica aguda é uma complicação grave,
manifestando-se como um quadro de febre alta, taquipneia,
dor torácica, leucocitose e infiltrado pulmonar. Sua gênese
é multifatorial (infecção pulmonar na criança – S.
pneumoniae; e infarto pulmonar no adulto). Além desses
fatores, pode haver a presença de embolia gordurosa
(decorrente do infarto ósseo), tromboembolismo pulmonar
e infarto costal.
O priapismo é grave e decorre do afoiçamento das
hemácias nos sinusoides do corpo cavernoso. Consiste
numa ereção prolongada e dolorosa, podendo levar à
infertilidade.
AVE
Tanto o AVE isquêmico quanto o AVE hemorrágico são
descritos. O isquêmico é mais comum na criança e o
hemorrágico no adulto.
O AVE isquêmico manifesta-se com o início súbito de
déficit neurológico focal e eventual rebaixamento da
consciência. No tipo hemorrágico, há rigidez nucal,
cefaleia.
O mecanismo é o acometimento das artérias cerebrais de
médio calibre, mediante oclusão tromboembólica.
DISFUNÇÃO ESPLÊNICA
Em razão da obstrução dos sinusoides esplênicos, pelas
hemácias afoiçadas e pelo acúmulo de múltiplos infartos
no parênquima do órgão.
Por volta dos 2-5 anos, o baço encontra-se endurecido em
virtude da extensa fibrose, tornando-se pequeno e
impalpável na fase escolar (autoesplenectomia).
Podem ser notados, pelo esfregaço, sinais de
hipoesplenismo – corpúsculos de Howell-Jolly,
corpúsculos de Heinz, hemácias em alvo.
Microrganismos circulantes passam pela polpa branca do
baço, sendo apresentados aos linfócitos T da zona do
manto que estimulam a proliferação dos linfócitos B do
centro germinativo.
Paralelamente, o baço é o maior produtor de IgM, a
primeira classe de imunoglobulina produzida após o
contato com o agente infeccioso. Ao se ligar na superfície
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
da bactéria, o IgM ativa a via clássica do complemento,
capaz de induzir a lise direta da bactéria.
Além de contribuir com a produção de IgM e IgG, e com a
função opsonofagocítica dos macrófagos, o baço produz
alguns elementos da via alternativa do complemento.
Na maioria das vezes a infecção se manifesta apenas com
febre alta, leucocitose e bacteremia, sem um foco
infeccioso evidente. O pneumococo não é uma bactéria de
crescimento nas hemoculturas de pacientes
imunocompetentes, porém, na anemia falciforme, a
bacteremia é a regra.
A incidência de osteomielite está elevada por causa dos
múltiplos infartos ósseos, que servem como ninho de
proliferação bacteriana. O agente etiológico mais frequente
é a salmonela (via translocação intestinal).
OBS.: a sepse pneumocócica é a causa mais comum de
óbito nas crianças falcêmicas com menos de 5 anos de
idade. Penicilina V oral reduz a incidência e aumenta a
sobrevida.
ANEMIA HEMOLÍTICA E CRISES ANÊMICAS
A doença falciforme é a anemia hemolítica crônica
moderadamente severa (Hb=6-10 e Ht=18-30).
Crise de sequestro esplênico – é a mais grave das crises
anêmicas, ocorrendo por um fenômeno vasoclusivo nos
sinusoides esplênicos, dificultando a drenagem venosa do
baço, que aumenta de tamanho, provocando hipovolemia e
anemia grave. Hemotransfusão é a terapia de escolha.
Crise aplásica – é a crise mais comum, estando
relacionada ao Parvovírus B19, e gera hipoplasia eritroide.
Crise megaloblástica – o aumento da produção de
hemácias na medula, próprio de qualquer processo
hemolítico crônico, consome muito ácido fólico. Deve
fazer reposição regularmente (1mg/dia).
Crise hiper-hemolítica – é definida pela exacerbação da
anemia e da reticulocitose em virtude de um aumento na
taxa de hemólise, geralmente relacionada à infecção. O
aumento da função esplênica e o estresse oxidativo à
membrana das hemácias, imposto pelos neutrófilos
ativados são os mecanismos propostos.
DINSFUNÇÃO ORGÂNICA CRÔNICA
Existe um atraso no crescimento e desenvolvimento nas
crianças com anemia falciforme. A idade óssea também
encontra-se defasada, assim como o estirão da puberdade e
o desenvolvimento sexual.
Além dos bem conhecidos infartos ósseos que se
manifestam como crises álgicas vasoclusivas, alterações
ósseas degenerativas podem ocorrer de forma
assintomática. A hiperplasia eritroide decorrente da
hemólise crônica aumenta o espaço medular e reduz a
cortical do osso.
A osteonecrose da cabeça do fêmur é uma importante
complicação das doenças falciformes. A isquemia da
epífise femoral leva a um quadro idêntico ao da doença de
Legg-Calvé-Perthes. A criança apresenta-se com dor no
quadril de evolução insidiosa. A menor rigidez do osso
neoformado permite que o peso do corpo deforme a epífise
de tal forma que, poucos anos mais tarde, o paciente evolua
com uma osteoartrose grave de quadril.
A medula renal é um ambiente propicio ao afoiçamento,
pela relativa hipóxia e elevada osmolaridade (desidrata a
hemácia). A obstrução da microvasculatura medular renal
(vasa recta) leva à isquemia e infarto medular. Necrose de
papila.
Ocorre isostenúria, a alteração renal mais comum da
anemia falciforme, devido à perda da capacidade renal de
concentrar a urina.
A isquemia da medula renal prejudica o mecanismo de
concentração da urina (hiperosmolaridade), logo o
interstício menos concentrado, o túbulo coletor reabsorve
menos água, mesmo com o efeito máximo do ADH.
A glomerulopatia falciforme começa com uma fase de
hiperfluxo, com hipertrofia dos glomérulos e rins. A
falência renal é uma das principais causas de mortalidade
da doença.
A hemólise crônica leva à produção contínua de
bilirrubina, que é conjugada no fígado e excretada na bile,
gerando os cálculos de bilirrubinato de cálcio.
A lesão hepatocelular aguda pode ser decorrente de uma
crise vasoclusiva ou de uma hepatite viral, sendo mais
comum a hepatite A. O paciente apresenta dor abdominal,
hepatomegalia dolorosa e icterícia. A sorologia viral é
mandatória, podendo ocorrer hepatite fulminante.
A insuficiência respiratória durante uma crise torácica
aguda é a causa mais comum de óbito em pacientes com
anemia falciforme.
O coração encontra-se sobrecarregado pela anemia crônica,
geralmente dilatado e mantendo um alto debico cardíaco.
Pode haver retinopatia pela oclusão das artérias retinianas.
Pode ser de dois tipos: não-proliferativa e a proliferativa.
Esta última, é definida pela presença de neovasos no corpo
vítreo causando hemorragia e/ou descolamento de retina.
As úlceras cutâneas são decorrentes da isquemia crônica da
pele e subcutâneo e podem sofrer infecção bacteriana
secundária, dificultando a sua cicatrização. O tratamento é
lento e existe repouso, cuidados locais e ATB sistêmico.
Fenômenos uteroplacentários mediante oclusão crônica ou
aguda, porém, a anemia falciforme não contraindica a
gravidez.
DIAGNÓSTICO
A presença de VCM baixo sugere associação com
ferropenia ou talassemia e um VCM elevado está presente
na crise megaloblástico.
O esfregaço do sangue periférico mostra os drepanócitos
(ausência não descarta). Pode haver hemácias em alvo
(eliptócitos).
Presença de corpúsculos de Howell-Jolly e de
Pappenheimer , que são decorrentes do hipoesplenismo.
O VHS encontra-se baixo. As hemácias afoiçadas têm
maior dificuldade de se empilhar para formar o rouleaux.
Há aumento da bilirrubina indireta, do DHL e queda da
haptoglobina.
A confirmação diagnóstica é feita pela eletroforese de Hb,
a qual verifica também as variantes falcêmicas. Observa-se
o grande predomínio de HbS na anemia falciforme e o leve
predomínio da HbA no traço falcêmico.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
TRATAMENTO
As medidas gerais visam à prevenção das infecções
(imunização habitual e contra a hepatite B e pneumococo).
O uso do ácido fólico (1-5mg/dia) é recomendado.
As crises álgicas vasoclusivas devem ser tratadas com
hidratação associada à analgesia progressiva (simples até
os fortes).
Qualquer episódio de febre alta, especialmente em
crianças, deve ser prontamente tratado com antibióticos
contra o pneumococo.
A transfusão de concentrados de hemácia tem como
objetivo reduzir o percentual de hemácias com HbS para
abaixo de 30%.
A exsanguineotransfusão é a troca do sangue do paciente
pelos concentrados de hemácia do doador.
As duas indicações clássicas de transfusão na anemia
falciforme são o controle das crises anêmicas e na
profilaxia das crises vasoclusivas desencadeadas pela
cirurgia.
A hipertransfusão esta indicada quando há AVC, a qual
consiste na transfusão crônica de concentrado de hemácias
a cada 3-5 semanas.
A hidroxilureia é um agente mielossupressor que possui
efeito benéfico pelo fato de ativar a síntese de HbF. Está
reservada para adolescente e adultos com episódios álgicos
frequentes, com história de síndrome torácica aguda e
eventos vasoclusivos diversos.
O transplante é eficaz nas crianças que apresentam
complicações severas, como AVC, STA e dor intratável.
VARIANTES FALCÊMICAS
TRAÇO FALCÊMICO
São os indivíduos heterozigotos para o gene da HbS
(doença AS). São pessoas assintomáticas que apresentam
vida normal.
O principal problema é em relação ao aconselhamento
genético.
HEMOGLOBINOPATIA SC
São pacientes duplos heterozigotos para o gene da HbS
(cadeia βs)
e o gene da HbC β
c ).
Há uma doença de gravidade intermediária entre a anemia
falciforme (doença SS) e o traço falcêmico (doença AS),
pois a HbC estimula a polimerização da HbS.
Após 10 anos a esplenomegalia está presente.
Merecem destaque duas complicações: retinopatia
(principal causa de morbidade) e a osteonecrose da cabeça
do fêmur.
O achado laboratorial mais característico é a presença de
múltiplas hemácias em alvo no sangue periférico.
A hemoglobinopatia SC é a doença mais associada ao
encontro de hemácias em alvo na periferia.
VARIANTE S/BETA-TALASSEMIA
Estes pacientes são duplos heterozigotos para os genes da
HbS e do genes da talassemia beta.
Há uma completa ausência de produção desta cadeia
(talassemia beta-0).
Possui um quadro clínico muito semelhante ao da anemia
falciforme, com a mesma gravidade e complicações.
Todo paciente com anemia microcítica e hipocrômica não
ferropriva e anemia falciforme provavelmente tem
talassemia associada.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
TALASSEMIAS
Possui como característica básica uma deficiência na
síntese de cadeias de globina, variando desde indivíduos
inteiramente assintomáticos até crianças com anemia
grave, deformidade óssea e destruição acelerada de células
vermelhas.
As talassemias são classificadas de acordo com o tipo de
cadeia globínica deficiente. Na beta-talassemia há
deficiência das cadeias beta, e nas alfa-talassemias há uma
deficiência nas cadeias alfa.
BETA-TALASSEMIAS
A beta-talassemia é a forma mais comum de talassemia no
Brasil, sendo a terceira hemoglobinopatia registrada (a.
falciforme e hemoglobinopatia SC).
A beta-talassemia é caracterizada por uma diminuição ou
ausência na síntese de cadeias beta de globina.
Há dois tipos de gene beta-talassêmico: o totalmente
incapaz de produzir cadeias beta β0, e outro que produz
pequena quantidade de cadeia beta β+.
Os homozigotos para o gene β0
(genótipo β0/β
0) não
produzem absolutamente nenhuma cadeia beta, e os duplos
heterozigotos β+/β
0 produzem uma pequena quantidade de
cadeia beta. O paciente desenvolve uma beta-talassemia
major. Os heterozigóticos para o gene β0 ou β
+ (genótipo
β0/β ou β
+/β)apresentam beta-talassemia minor ou traço
talassêmico.
Os homozigóticos para o gene β+ (genótipo β
+/ β
+)
costuma dar origem a beta-talassemia intermediária. Uma
quadro moderadamente grave de talassemia, mas não
dependente de transfusão.
No geral, o quadro da anemia e do quadro clínico é
dependente da quantidade total de cadeia beta produzida
por dois alelos.
Ocorrem duas consequências: síntese diminuída de Hb,
promovendo microcitose, hipocromia e anemia; e sobra de
cadeia alfa no citoplasma do eritroblasto.
As cadeias alfa livres são completamente insolúveis e
precipitam no citoplasma da célula. O seu efeito tóxico
culmina na destruição do eritroblasto (eritropoiese
ineficaz).
Além de microcíticas e hipocrômicas estas hemácias
contem corpúsculos de inclusão (cadeias alfa) que as
tornam susceptíveis aos macrófagos esplênicos, explicando
a hemólise extravascular crônica.
A anemia é consequência ao mesmo tempo da redução da
síntese de Hb, da eritropoiese ineficaz e da hemólise
extravascular.
A eritropioese ineficaz acaba estimulando a absorção de
ferro levando a hemossiderose.
QUADRO CLÍNICO E
LABORATÓRIO
BETA-TALASSEMIA MAJOR (DE COOLEY)
A ausência completa de cadeia beta permite a formação de
uma quantidade expressiva de complexos de cadeia alfa
que irão provocar destruição celular.
A doença se instala com anemia grave (3,0-5,0g/dl) e
icterícia. Há uma grande expansão da medula óssea,
levando às clássicas deformidades ósseas talassêmicas
(proeminência maxilares, aumento da arcada dentária
superior com separação dos dentes e bossa frontal).
Baixa estatura torna-se uma regra, bem como disfunção
endócrina, inanição e susceptibilidade a infecções.
Pela hemólise crônica, verifica-se litíase biliar com
formação de cálculos de bilirrubinato de cálcio e úlceras
maleolares.
A hepatoesplenomegalia é um achado clássico, pela
hemólise crônica e eritropoiese ineficaz.
As transfusões repetidas levam à sobrecarga de ferro,
provocando hemocromatose transfusional (bronzeamento
da pele, hipogonadismo, DM, insuficiência cardíaca).
Há intensa anisopoiquilocitose, com predomínio de
hemácias em alvo, microcíticas e hipocrômicas. A
eritroblastose é marcante.
BETA-TALASSEMIA INTERMEDIÁRIA
Quadro clínico mais brando, pois possuem menor
produção de cadeia beta pelos eritroblastos.
O crescimento e desenvolvimento estão preservados.
Sinais e sintomas de hemossiderose só aparecem após os
30 anos, a não ser que se for prescrito sulfato ferroso
(inadvertidamente).
Os achados hematimétricos são idênticos aos da beta-
talassemia major.
BETA-TALASSEMIA MINOR
A principal importância é o seu reconhecimento como
entidade benigna.
Também é referida com traço talassêmico.
O paciente é assintomático, sendo o problema descoberto
acidentalmente no seu hemograma.
O sangue periférico contém hemácias em alvo e com
pontilhado basofílico.
DIAGNÓSTICO
O exame padrão-ouro para o diagnóstico (e o único capaz
de confirma-la) é a eletroforese de Hb.
Valores de HbA2 entre 3,5 a 8% são característicos.
O percentual de HbF depende do grau de deficiência da
cadeia beta: na forma major >90% e na menor pode ser
normal ou pouco elevado.
TRATAMENTO
BETA-TALASSEMIA MAJOR
O tratamento se baseia na hipertransfusão crônica. Esta
terapia controla a hiperplasia eritroide desordenada, por
retirar o estímulo anêmico à produção renal de EPO.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
A esplenectomia é recomendável sempre que as
necessidades de transfusão aumentarem mais de 50% em
um ano.
O maior problema passa a ser a hemocromatose
transfusional. A terapia com a deferoxamina deve ser
implementada o mais breve possível.
O transplante de MO possui bons resultados quando
indicada corretamente.
BETA-TALASSEMIA MINOR/INTERMEDIÁRIA
Os pacientes devem ser acompanhados para uma avaliação
contínua de seus sintomas.
As hemotransfusões são indicadas para os sintomáticos e
para aqueles com sinais de insuficiência cardíaca.
A talassemia minor não exige tratamento, somente
orientação e aconselhamento genético.
ALFA-TALASSEMIAS
A ausência completa de cadeias alfa é incompatível com a
vida extrauterina, ocasionando em um natimorto ou em
hidropsia fetal.
Sem nenhuma cadeia alfa, as cadeias beta se acumulam e
se juntam formando tetrâmeros y4, denominados Hb Barts,
a qual é muito ávida por O2. Isso gera hipóxia grave e
anemia as quais provocam falência cardíaca e hidropsia
fetal.
A ausência de 3 genes permite o nascimento da criança
sem menores problemas, mas já com anemia. A sobra de
cadeias beta não possui o efeito tóxico grave das cadeias
livres.
DIAGNÓSTICO
A eletroforese de Hb pode confirmar o diagnóstico da
hidropsia fetal ao mostrar a Hb Barts e ausência completa
de HbA.
A alfa-talassemia minor é mais difícil de diagnosticar, o
qual é feito pelo exame da síntese de alfa globina
reticulocitária ou por mapeamento genético.
O tratamento só está indicado na doença de Barts sendo
semelhante àquele preconizado na beta-talassemia.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
LEUCEMIAS AGUDAS
O que caracteriza as leucemias agudas é o fato de ocorrer
um acúmulo de progenitores ou precursores da linhagem
linfoide ou mieloide, células que recebem a denominação
de blastos.
Estes blastos são incapazes de se diferenciar em células
maduras, devido ao bloqueio de maturação, o grande
marco fisiopatológico da doença.
As leucemias agudas, em contrapartida, são caracterizadas
pelo acúmulo de células maduras ou quase maduras. Estas
podem ser derivadas de clones neoplásicos mais jovens,
que seguiram o processo normal de maturação.
A LMA é a leucemia mais comum em adultos, ao passo
que a LLA é mais frequente em crianças. Na verdade é
o câncer mais comum (25-35%) na infância.
PATOGÊNESE
Uma determinada célula progenitora (ao sofrer mutações)
se torna incapaz de prosseguir na diferenciação
hematopoiética. Esta célula não vai além da forma jovem
(blasto) e começa a se proliferar descontroladamente,
ocupando a medula óssea e impedindo o crescimento e a
diferenciação das células normais.
Na LMA, o clone pode ter origem: na célula-tronco,
CFU-mieloide, CFU-GM ou CFU-E/mega,
mieloblasto/pró-mielócito, monoblasto, eritroblasto ou
mega.
Cada subtipo morfológico de LMA corresponde ao tipo de
célula que sofreu transformação.
Na LLA como vimos, o clone neoplásico deriva de um
progenitor linfoide, uma célula pré-T ou pré-B ou mesmo
um linfócito B que assume características de blasto. Todas
as células são consideradas linfoblastos.
Em 80% das LLA, a origem da neoplasia é a linhagem B.
No restante (20%), a fonte é a linhagem de células T.
EVOLUÇÃO DA LEUCEMIA
AGUDA
Os blastos leucêmicos primeiramente infiltram a medula,
ocupando mais de 20% (OMS) e mais de 30% (FAB) do
total de células nucleadas, podendo chegar a 80-100% de
ocupação.
Essa expansão do clone neoplásico ocupa o espaço
necessário à produção das células hematológicas normais,
culminando em pancitopenia, o grande marco clínico da
doença.
E como tais células não são capazes de amadurecer, elas
não exercem qualquer função fisiológica. As defesas do
organismo continuam dependendo dos poucos neutrófilos e
monócitos existentes.
O paciente vai ao óbito pela infiltração tecidual maciça
(que leva à falência orgânica), e/ou pela pancitopenia grave
e suas consequências (anemia, infecções, hemorragia).
TIPAGEM E IMUNOFENOTIPAGEM
Os blastos da LMA são um pouco maiores que os da LLA
e geralmente apresentam grânulos azurófilos em seu
citoplasma, o que define a linhagem granulocítica (M2,
M3, M4).
A presença no citoplasma de filamentos eosinofílicos –
bastonetes de Auer - é patognomônica de LMA, embora
presente na M1, M2, M3 e M4.
A imunofenotipagem é o método considerado padrão-
ouro para tipar leucemias.
CITOGENÉTICA
Mutações ocorrem associadas a desarranjos estruturais nos
cromossomos.
Os principais exemplos são as deleções, inversões,
translocações, ganhos cromossomais e perdas
cromossomais. Podem ser visualizadas pelo cariótipo ou
pelo FISH.
O resultado final é a ativação dos oncogenes ou supressão
dos antioncogenes.
Em mais de 50% dos casos de LMA são observadas
alterações cromossomais no clone neoplásico. As mais
importantes e mais cobradas são as TRANSLOCAÇÕES
e as INVERSÕES:
Na LLA, as alterações cromossomais são bastante
frequentes, sendo observadas em mais de 85% dos casos.
A hiperploidia descreve um número de cromossomos
superior a 46 e é uma alteração típica da forma infantil
desta leucemia, indicando bom prognóstico.
Em contrapartida, a translocação t(9;22) ou cromossomo
Philadelfia e as translocações t(4;11), t(8;14) e (1;19)
denotam prognóstico reservado, sendo mais comum em
adultos. A translocação t(12;21) é a única de bom
prognóstico, sendo a anormalidade citogenética mais
comum nas crianças, e rara em adultos.
As leucemias agudas podem ser primárias, quando surgem
em um paciente sem nenhuma doença hematológica e sem
uso prévio de quimioterápicos leucemogênicos ou
secundárias, quando surgem em pacientes com doenças
hematológicas pré-leucêmicas ou uso prévio de
quimioterápicos.
Toda leucemia secundária possui um prognóstico
reservado!!
Os fatores de risco são: radiação ionizante, benzeno,
alquilantes, inibidores da topoisomerase II (LMA),
distúrbios hereditários, anomalias citogenéticas congênitas
(Down).
LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA
A LMA é a leucemia mais comum, afetando uma faixa
etária bastante ampla. Sua incidência começa a se elevar
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
bastante a partir dos 15 anos e tende a aumentar
progressivamente com a idade.
A tríade clássica da leucemia aguda é: astenia, hemorragia
e febre. Essa tríade é a mesma da anemia aplásica, sendo o
seu principal diagnostico diferencial, principalmente
quando não há leucocitose no hemograma.
A astenia é o sintoma inicial em metade dos casos. É o
principal componente da síndrome anêmica.
O sangramento reflete a plaquetopenia grave,
eventualmente, um distúrbio da coagulação (CIVD).
Quando o distúrbio é secundário apenas à plaquetopenia,
manifesta-se com sangramento cutâneo e mucoso.
A febre pode ser decorrente de dois mecanismos:
neutropenia e febre neoplásica (rápida proliferação clonal).
A hepatoesplenomegalia é uma manifestação frequente e
pode diferenciar clinicamente a leucemia aguda de uma
anemia aplásica (que não cursa com
hepatoesplenomegalia).
A linfadenomegaia pode ocorrer, porém é mais comum na
LLA. Dor óssea é decorrente da expansão medular pela
proliferação dos blastos.
O exemplo mais clássico é o da hiperplasia gengival
comum nos subtipos M4 e M5 (monocíticos).
O sarcoma graulocítico (cloroma) é uma tumoração
extramedular, que pode se apresentar como um tumor de
órbita.
Os leucócitos aumentam a viscosidade sanguínea e
podem aderir ao endotélio das vênulas pulmonares e outro
órgãos, como o cérebro.
Em casos graves, devem ser imediatamente tratados com
leucoáferese. Nos demais casos, a quimioterapia costuma
ser eficaz.
ACHADOS LABORATORIAIS
O hemograma de uma leucemia é caracterizado pela
anemia e plaquetopenia, com leucometria variável.
A leucocitose é representada por blastos na periferia,
geralmente associada à neutropenia.
Numa minoria (<5%) os blastos estão ausentes na periferia,
sendo encontrados apenas na medula óssea uma condição
de leucemia aleucêmica.
É comum um predomínio superior a 70% dos blastos sobre
os outros leucócitos.
A presença de grânulos azurófilos citoplasmáticos e dos
bastonetes de Auer são achados exclusivos de LMA.
A hiperuricemia está presente em 50% dos pacientes, pelo
aumento na produção de ácido úrico decorrente da
hiperproliferação celular. A síndrome de lise tumoral é
uma temida complicação da QT e deve ser devidamente
prevenida.
DIAGNÓSTICO
Deve ser sempre confirmado pelo mielograma (aspirado
de MO).
É necessária a presença de mais de 20% (OMS) ou 30%
(FAB) de blastos entre as células nucleadas do aspirado.
LMA-M3
Os promielócitos neoplásicos secretam fatores pró-
coagulantes, tais como o próprio fator tecidual, induzindo
uma síndrome de CIVD. Estes pacientes apresentam um
quadro clínico marcado pelo sangramento, desproporcional
ao grau de plaquetopenia.
Altas doses de ATRA são capazes de reativar esse receptor
nuclear, permitindo a maturação dos promielócitos que
desaparecem paulatinamente do sangue e da medula.
TRATAMENTO
A transfusão de plaquetas está indicada nos seguintes
casos: transfusão terapêutica (sangramento mucoso ou
orgânico, com plaquetas <50.000); transfusão profilática
(todo paciente com plaqueta <10.000).
A causa mais comum de refratariedade a transfusão de
plaquetas á aloimunização por anticorpos anti-HLA da
superfície plaquetária.
A transfusão de concentrações de hemácias é indicada
especialmente nos pacientes com anemia sintomática.
A CIVD é um problema é específico da leucemia
promielocítica.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Pelo aumento do metabolismo do DNA nos blastos
hiperproliferativos, é comum a hiperuricemia em pacientes
com LMA, ocorrendo em 50% dos casos. Durante a QT,
ocorre liberação de aguda de ácido úrico pela lise dos
blastos.
Devem receber 48h antes e durante a QT: hidratação
venosa (0,45% - 3.000ml), bicarbonato de sódio e
alupurinol.
Se ocorrer a síndrome de lise tumoral, a insuficiência renal
oligúrica deve ser tratada com hidratação venosa e, nos
casos graves, diálise.
A síndrome da leucostase é provocada pela formação de
plugs de blastos obstruindo a microvasculatura.
O tratamento da leucostase deve ser feito com a própria QT
para a remissão da LMA, ou com hidroxiureia em altas
doses. A leucoaférese é reservada para os casos em que a
QT não pode ser iniciada de imediato.
TERAPIA ESPECÍFICA DA LMA
Deve ser feita com QT de alto poder mielotóxico, para
tentar destruir completamente o clone mieloblástico.
A indução da emissão tem o objetivo de exterminar o clone
neoplásico. A remissão completa (RC) é definida pelo:
desaparecimento dos blastos do sangue periférico; MO
com menos de 5% de blastos; ausência de células com
bastonetes de Auer e recuperação hematopoiética (<1000
neutrófilos).
A terapia de remissão é obrigatória e tem por objetivo
prolongar a RC através da prevenção da recaída da doença,
maximizando a chance de cura.
A QT DE CONSOLIDAÇÃO é indicada para os
pacientes com cariótipos de bom prognóstico e nos
pacientes sem condições de receberem o transplante de
células hematopoiéticas.
O TRANSPLANTE ALOGÊNICO é considerado a
terapia mais eficaz de LMA, em termos de cura, embora
tenha alta toxicidade, com uma mortalidade em torno de
20%. Deve ser considerado como primeira opção de
terapia pós-remissão (em vez de QT de consolidação) em
pacientes sem cariótipo favorável ou com outros fatores de
mau prognóstico (hiperleucocitose) com idade <55 anos e
que possuam doadores HLA compatíveis.
O transplante alogênico também é a terapia de escolha na
recidiva da LMA, com chance de cura em torno de 30-50%
se a recidiva ocorreu após 6 meses.
O transplante alogênico é feito injetando-se na circulação
do receptor as células-tronco retiradas do doador, após a
QT mieloablativa, utilizando doses extremamente altas de
ciclofosfamida com bussulfan ou com RT de corpo inteiro.
O objetivo é destruir quase todas as células
hematopoiéticas do paciente para que o novo conjunto de
células-tronco faça surgir uma nova medula, originando
um novo conjunto de células hematopoiéticas.
O TRANSPLANTE AUTÓLOGO de células
hematopoiéticas é realizado em três etapas: retiram-se
células-tronco do próprio paciente após remissão completa
da leucemia; terapia ablativa e reinfusão das células-tronco
no paciente.
A mortalidade do transplante autólogo é muito menor que
a do transplante alogênico, pela ausência da complicação
enxerto/hospedeiro, podendo ser utilizado em pacientes
acima de 60 anos.
O transplante autólogo tem sido recomendado como
primeira opção após a primeira remissão em pacientes sem
cariótipo favorável, na ausência de irmãos HLA
compatíveis e/ou com idade superior a 55-60 anos.
TERAPIA DA RECIDIVA
A recidiva da LMA quase sempre corre na MO, como
novo aumento do percentual de blastos. Por isso o
transplante alogênico é a terapia de escolha em pacientes
com idade inferior a 60 anos e irmão HLA-compativel.
Nos demais pacientes utilizamos o transplante autólogo ou
o anticorpo gemtuzumab.
Ainda existem duas opções terapêuticas: um segundo
transplante alogênico ou infusão de leucócitos do doador.
TERAPIA DA LEUCEMIA PROMIELOCÍTICA
AGUDA (SUBTIPO M3)
Este subtipo de LMA possuía péssimo prognóstico. Os
pacientes acabavam falecendo de CIVD, apesar da QT,
porém há bom prognóstico devido ao ATRA (tretinoína).
Age induzindo a maturação dos promielócitos neoplásicos,
ao ativar o receptor defeituoso do ácido retinoico.
O ATRA pode provocar dois efeitos adversos importantes:
hiperleuceucocitose e síndrome do ácido retinoico.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
FATORES PROGNÓSTICOS NA LMA
O fenótipo MDR-1 significa a presença de uma bomba na
membrana os blastos leucêmicos que retira o
quimioterápico da célula, tornando a doença resistente à
QT.
Os idosos formam o grupo de pior prognóstico: maior
incidência de LMA pós-mielodisplasia, marcador CD34,
maior incidência do fenótipo MDR-1, menor tolerância às
doses da QT.
LEUCEMIA LINFOIDA AGUDA
A LLA é a leucemia mais comum na infância (90%), com
pico de incidência entre 2-10 anos.
A LLA infantil responde bem a QT, com chance de cura
em torno de 70-85%.
O quadro clínico é muito semelhante ao da LMA, com
algumas diferenças: dor óssea frequente; adenomegalia
cervical/generalizada; massas mediastinais; acometimento
do SNC; febre neoplásica.
É a presença de linfoblastos na medula óssea em proporção
>25% do total de células nucleadas consiste no critério
diagnóstico.
Pelos critérios da FAB, existem três subtipos de LLA (L1 –
infantil e com melhor prognóstico/resposta terapêutica; L2
– mais comum nos adultos; L3 – menos comum, forma
leucêmica do linfoma de Burkitt).
TRATAMENTO
A terapia de suporte é exatamente a mesma descrita para a
LMA.
A quimioterapia da LLA divide-se em 4 fases:
Indução da remissão – pelo menos 3 drogas
(corticoide, vincristina e L-asparginase). Altas doses
de prednisona levam a uma deficiência parcial da
imunidade celular, predispondo à pneumocistose.
Profilaxia do SNC – ao contrário da LMA, a LLA
possui grande tendência à recidiva no SNC após a QT.
Esquema intratecal com SMX-TMP + ara-C +
prednisona.
Consolidação da remissão – sem esta fase,
virtualmente todos os casos recidivavam em poucos
meses. A consolidação. É realizada com metotrexato
em doses intermediárias.
Manutenção - realizada com 6-mercaptopurina +
metotrexato por 2-3 anos.
A recidiva da LLA é observada em 15-30% dos casos de
LLA em crianças e em 60-70% dos adultos. Se ocorrer nos
primeiros 2 anos durante a fase de consolidação , as
chances de cura com uma nova QT são precárias
(transplante alogênico).
O declínio neurocognitivo é uma das complicações
tardias da QT em crianças que tiveram radioterapia
craniana o QT intratecal. Há também cardiotoxicidade e
déficit de crescimento.
O tratamento da LLA-L3 geralmente responde mal,
devendo ser feito semelhante ao do linfoma de Burkitt
(ciclofosfamida, metotrexato e antraciclinas).
O tratamento da LLA – Philadelfia (+) baseia-se no
mesilato de imatinibe.
O uso de imatinibe associado à QT, também pode servir de
ponte para o transplante alogênico.
TRANSPLANTE DE CÉLULAS
HEMATOPOIÉTICAS
O termo transplante de células-tronco não é mais
adequado, pois junto com as células-tronco são
transfundidas outras células progenitoras e linfócitos T
citotóxicos responsáveis pela doença enxerto-versus-
hospedeiro e pelo terapêutico enxerto-versus-neoplasia.
TRANSPLANTE ALOGÊNICO – considerado o melhor
tipo de transplante para se obter a cura de uma neoplasia
hematológica. Ideal que seja um parente de 1º grau e HLA
compatível.
TRANSPLANTE SINGÊNICO – ocorrido entre gêmeos
univitelinos. A chance de recidiva de uma leucemia é
maior pela ausência do efeito enxerto-versus-leucemia.
TÉCNICA DO TRANSPLANTE
O principal mecanismo para erradicar o clone neoplásico é
a quimioradioterapia mieloablativa, capaz de exterminar
todas as células hematopoiéticas do paciente e depois
recebe novas células hematopoiéticas.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
O TRANSPLANTE ALOGÊNICO – o doador não
precisa nem mesmo ser do grupo sanguíneo do receptor. A
quimiomieloablação é feita com
ciclofosfamida(imunossupressor) + bussulfan
(mieloablativo).
A mieloablação serve para curar a neoplasia enquanto a
imunossupressão tem o objetivo de evitar a rejeição ao
enxerto.
Para evitar a doença do enxerto-versus-hospedeiro aguda,
utiliza-se um esquema imunossupressor adicional com
ciclofosfamida + metotrexato/tracolimus.
No TRANSPLANTE AUTÓLOGO – após uma QT inicial
de indução de remissão, associada á injeção de fatores
estimuladores de colônia, as células-tronco do próprio
paciente são extraídas do sangue periférico.
COMPATIBILIDADE HLA
O HLA representa um grupo de proteínas de membrana
reconhecidas pelos linfócitos T.
Para o transplante alogênico o que importa é a reação das
células T do doador com o HLA do recptor, o mecanismo
da tão temida doença enxerto-versus-hospedeiro.
Para que a reação enxerto-versus-hospedeiro não aconteça,
o transplante alogênico deve ser feito com células de um
doador HLA compatível.
Outro aspecto da compatibilidade HLA é a rejeição ao
enxerto, causada não por linfócitos, mas por anticorpos
anti-HLA (gestações anteriores, transfusões ou
transplantes). Exame de crossmatch.
As reações adversas não infecciosas imediatas são:
náuseas e vômitos, diarreia, enterite, estomatite e
convulsões. Uma das mais temidas é a doença hepática
veno-oclusiva consequente à lesão dos sinusoides
hepáticos com oclusão trombótica.
As infecções (bacterianas e fungicas), juto a doença
enxerto-hospedeiro, são as maiores responsáveis pela
mortalidade relacionadas ao transplante. Isso ocorre pela
neutropenia e plaquetopenia graves.
A imunização esta indicada: antipneuocócica polivalente,
anti-influenza, anti-hemófilos e hepatite B.
DOENÇA ENXERTO-HOSPEDEIRO AGUDA
É uma das principais causas de mortalidade após o
transplante alogênico, ocorrendo em 30% quando o irmão
é compatível.
A idade >45 anos é um fator de risco considerável.
Para ser aguda, deve ocorrer até 3 meses do transplante.
Febre, rash cutâneo maculopapular, anorexia, náuseas,
vômitos, diarreia, icterícia(elevação da TGO/TGP e FA).
Deve ser diferenciada da sepse, sendo o diagnóstico
confirmado pela biópsia de um órgão acometido, revelando
lesão endotelial e infiltrado linfocítico.
O tratamento é indicado nos graus II, III e IV
(comprometimento hepático/intestinal) feito com
metilprednisolona.
A forma crônica ocorre após 3 meses do transplante.
Prednisona + ciclosporina.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
LEUCEMIAS CRÔNICAS
Caracterizam-se pelo acúmulo lento e gradativo de
leucócitos neoplásicos na medula óssea e no sangue.
As células que se acumulam estão numa fase tardia de
maturação.
De todas as mais comum é a LLC, correspondendo a 30%
de todas as leucemias, perdendo apenas para LMA.
A LMC foi a primeira neoplasia maligna para a qual se
descobriu uma droga direcionada ao alvo molecular
causador da doença, o mesilato de imatinibe.
LEUCEMIA MIELOIDE
CRÔNICA (LMC)
A LMC é uma síndrome mieloproliferativa crônica, porém,
ao contrário das leucemias agudas, esse clone segue o
curso normal de maturação até as células finais
(graulócitos, hemácias e plaquetas): não há bloqueio de
maturação.
PATOGÊNESE
Cerca de 95% dos pacientes com LMC apresenta o
cromossomo Philadelfia ou t(9:22), detectável na análise
do cariótipo das células do aspirado de MO.
A diferenciação ocorre preferencialmente para a série
granulocítica, levando ao acúmulo na MO e no sangue
periférico de neutrófilos, bastões, meta, mielócitos e
mieloblastos.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O exame físico revela esplenomegalia, leucocitose
neutrofílica acentuada, com desvio à esquerda.
Febre, perda ponderal, astenia, desconforto abdominal
palpitação, saciedade precoce, dispneia e equimoses.
As infecções da LMC não são frequentes, nem
caracterizam a doença.
O neutrófilo possui uma função normal ou diminuída.
Existem relatos de rotura do baço espontânea, que leva ao
óbito por choque hemorrágico.
A LMC é uma das únicas causas de basofilia proeminente
e persistente.
Ocorre a síndrome da leucostase, na qual os blastos
oferecem maior viscosidade ao sangue do que os
neutrófilos maduros.
O diagnóstico deve ser sempre suspeitado quando houver
leucocitose acentuada (>25.000) e mantida em um paciente
com esplenomegalia.
Um aspirado de MO e uma biópsia de MO devem ser
realizados. A confirmação diagnóstica é feita pelo achado
do cromossomo Philadelfia na avaliação citogenética das
células do aspirado.
A maioria (90-95%) dos pacientes com LMC é
diagnosticada ainda na fase crônica da doença. Após um
período médio de 3-5 anos, virtualmente todos os pacientes
antes com LMC não tratada evoluem para a chamada crise
blástica (fatal) – causa mais comum de óbito.
O tratamento é feito com mesilato de imatinibe (Glivec).
Esse tem sido o tratamento de escolha, deixando o
transplante alogênico em segundo plano, devendo o mesmo
ser considerado como tratamento de primeira linha em
crianças e adultos jovens.
O Glivec age, transformando o clone leucêmico numa
célula que segue seu processo normal de apoptose. O
objetivo é uma resposta hematológica após 3 meses do uso
do medicamento.
Antes do glivec, usava-se o interferon-alfa, que age scomo
um imunomodulador e antiviral que age alterando a
expressão de oncogenes, inibindo a proliferação celular e
aumentando a ação de células T contra o clone neoplásico.
O transplante é reservado para adultos que falham a
terapia com inibidores de tirosina quinase (imatinibe) ou
como opção para terapia de primeira linha de crianças e
adultos jovens.
As drogas mielossupressivas (bussulfan e hidroxiureia) são
capazes de promover a remissão hematológica e de
controlar os sintomas e a esplenomegalia.
O alupurinol é utilizado como medida de prevenção de
gota e nefropatia por deposição de urato.
A fase acelerada da LMC não responde aos
mielossupressores e a resposta ao interferon-alfa é precária.
O Glivec continua sendo superior do que outras
modalidades de tratamento.
LEUCEMIA LINFOCÍTICA
CRÔNICA (LLC)
A LLC é a segunda leucemia mais comum e acomete
caracteristicamente a população idosa, sendo a mais
comum leucemia nessa idade. Não acomete crianças.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
O clone neoplásico é um linfócito B maduro, porém
bloqueado em uma fase de diferenciação, que impede a sua
transformação em plasmócitos (produtora de anticorpos). É
o mesmo linfócito do linfoma linfocítico pequeno.
A LLC não está relacionada à radiação ionizante, benzeno
ou alquilantes. A etiologia e etiopatogenia são totalmente
desconhecidas.
É uma doença cumulativa e não proliferativa.
A evolução da doença é o acúmulo desses linfócitos
clonais na MO, passando em seguida para o sangue
periférico e atingindo o fígado e baço. O paciente fica
propenso à infecções bacterianas. Além disso, há uma
maior incidência de outras neoplasias (CA pulmão e TGI).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Há linfocitose (>3.000), adenomegalia cervical, como
achados mais comuns.
A linfocitose é a principal característica da doença,
estando sempre acima de 5.000/mm3, sendo idênticos
morfologicamente aos linfócitos normais.
A anemia hemolítica autoimune (Coombs direto) por IgG
(quente) pode ocorrer em 10% dos casos em algum
momento da doença. é o diagnóstico mais provável quando
uma anemia se instala abruptamente, associada á icterícia
(BI) e reticulócitos no sangue.
A hipogamaglobulinemia está presente devido a pouca
função dos linfócitos, apesar do número elevado. As
consequências são infecções por bactérias encapsuladas,
geralmente sinusite e pneumonia.
DIAGNÓSTICO
Linfocitose persistente >10.000 + aspirado de medula
óssea com >30% de linfócitos (normal até 10%).
Linfocitose persistente >5.000 + aspirado com >30% +
imunofenotipagem revelando marcadores de linfócitos B
maduros em conjunto com o marcador CD5.
O estadiamento de Rai e Binet.
Uma complicação fatal da LLC é a síndrome de Richter,
tratando-se de uma formação neoplásica da LLC em um
linfoma não Hodgkin agressivo, evoluindo com grandes
massas linfonodais de crescimento rápido, febre,
emagrecimento e acometimento extranodal.
TRATAMENTO
Os pacientes que se apresentam no estágio 0 de Rai ou no
estágio I/II, com menos de 3 cadeias de linfonodos
acometidas e sem sintomas constitucionais não devem
receber tratamento específico. O paciente geralmente
morre por causas não relacionadas à LLC.
As indicações de se iniciar a terapia específica, são:
Falência medular (III ou IV de Rai) ou C de Binet.
Sintomas constitucionais
Esplenomegalia >6cm RCE
Linfocitose superior a 300.000/mm3
Hipogamaglobulinemia com infecções de repetição.
Anemia imuno-hemolítica.
O objetivo principal da terapia é a melhora dos sintomas e
provavelmente aumento da sobrevida, já que dificilmente
há cura.
Clorambucil foi utilizado como terapia de primeira linha
na LLC durante anos. A associação com prednisona tem
sua maior indicação no tratamento da anemia hemolítica ou
da PTI relacionada à LLC.
Outro agente alquilante importante é a ciclofosfamida
(normal ou pulsado).
Atualmente, a droga de escolha é a fludarabina. Os
análogos purínicos são de alto custo e produzem
mielotxicidade e imunodepressão celular, predispondo a
infecções (pneumocistose).
Anticorpos monoclonais: rituximab, alemtuzumab.
Na tentativa de obter maior efeito enxerto-versus-leucemia,
as pesquisas têm focado no transplante alogênico não
mieloablativo.
A esplenectomia, radioterapia e leucoaférese são
tratamentos paliativos.
LEUCEMIA DE CÉLULAS
PILOSAS
É um tipo de leucemia crônica. O clone neoplásico é
derivado dos linfócito B, que produz fatores ativadores de
fibrose (mielofibrose de medula).
O quadro clínico lembra o das síndromes
mieloproliferativas, com esplenomegalia de grande monta,
pancitopenia, adenomegalia.
São marcos da tricoleucemia:
A apresentação clínica é variável, geralmente relacionada à
infecções de repetição, cansaço, sangramentos, dor
abdominal e saciedade precoce.
Exige uma biópsia de MO.
A droga de escolha é a cladribina, pentostatina. Um dos
efeitos colaterais é a linfocitopenia dos linfócitos TCD4
(penumocistose, HZ, tuberculose).
Os pacientes assintomáticos (sem pancitopenia ou leve,
Hb>11, neutrófilos >1000, paquetas >100.000) podem ser
apenas observados sem tratamento.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
SÍNDROMES MIELOPOLIFERATIVAS CRÔNICAS
Todas essas doenças têm em comum o fato de serem neoplasias hematológicas cujo clone neoplásico origina-se as stem
c
ell. O clone é capaz de se proliferar na MO e de se
diferenciar nas células maduras.
A LMC é marcada pelo acúmulo na medula e no sangue
periférico de granulócitos. A policitemia vera tem como
principal achado laboratorial a eritrocitose (aumento do
número de hemácias ou da concentração da Hb). A
trombocitemia essencial cursa com uma trombocitose
superior a 1 milhão/mm3.
A metaplasia mieloide agnogênica caracteriza-se pela
mielofibrose precoce e hematopoiese extamedular.
A LMC é caracterizada pela t(9:22) que determina a
produção de uma tirosina quinase codificada pelo gene
BCR/ABL.
POLICITEMIA RUBRA VERA
É a síndrome mieloproliferativa mais comum, seguida
pela LMC, metaplasia mieloide agnogênica e
trombocitemia essencial.
PATOGÊNESE
A Janus-quinase (JAK2) é ligada a receptores de
membrana de fatores de crescimento como a
eritropoietina e trombopoietina. Há uma mutação que leva
à ativação da cascata de fosforilação intracelular com
proliferação celular.
O clone neoplásico dá origem a progenitores da linhagem
eritroide capazes de se proliferar na presença de
quantidades ínfimas de EPO ou mesmo na ausência dela.
A não dependência de EPO permite uma proliferação
excessiva e desregulada dos progenitores e precursores
eritroides.
ABORDAGEM
Eritrocitose significa o aumento na concentração de Hb ou
de hemácias. Ocorre por dois mecanismos básicos:
redução do volume plasmático (eritrocitose relativa); e
aumento da massa eritrocitária (eritrocitose absoluta).
A eritrocitose relativa ocorre nos quadros de
desidratação aguda ou crônica, devido a perdas digestivas,
cutâneas ou urinárias. Pode ocorrer na dengue
hemorrágica.
O tabaco é um dos principais fatores, além do diurético
para HAS.
A policitemia secundária à hipóxia, na qual estados
hipoxêmicos crônicos estimulam a liberação renal de
EPO, já que a Hb libera pouco O2 aos tecidos, com
estimulação renal à EPO.
A policitemia rubra vera é marcada pela expansão do
setor eritroide e a princípio devemos separar a eritrocitose
relativa da policitemia (absoluta). Para isso solicitamos o
exame de radioisótopos nas hemácias.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Valores de eritrocitose acima de 60% em pacientes com
saturação arterial de oxigênio acima de 92% quase sempre
significam policitemia vera (PV).
O prurido é um achado frequente na PV ocorrendo em
50% dos casos, provavelmente devido à basofilia com
hiper-histaminemia, sendo desencadeado pelo banho
quente.
Há pletora facial, esplenomegalia (não é de grande monta)
e eritrocitose.
A incidência de úlcera péptica e hemorragia digestiva está
elevada na PV (basofilia e hiper-histaminemia).
A hiperuricemia e a pseudo-hipercalemia são achados
comuns.
A ÚNICA NEOPLASIA HEMATOLÓGICA QUE SE
APRESENTA COM PANCITOSE É A
POLICITEMIA VERA.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
O diagnóstico é estabelecido quando estão presentes os
três critérios maiores ou dois primeiros maiores (M1 e
M2) e todos os menores, sugerem a presença de uma
síndrome mieloproliferativa.
A maior dificuldade diagnóstica se dá nos pacientes que
evoluem com ferropenia, pois podem não apresentar
eritrocitose ou elevação da massa eritrocitária. A pista
para essa situação é a presença de microcitose acentuada.
COMPLICAÇÕES E PROGNÓSTICO
As principais complicações são os eventos trombóticos. O
AVC isquêmico, IAM, trombose mesentérica e TVP.
Os fenômenos tromboembólicos são responsáveis pela
maior parte dos óbitos.
Duas complicações da PV são características das
síndromes mieloproliferativas: mielofibrose com
metaplasia mieloide e leucemia aguda. A medula vai
sendo ocupada por tecido colágeno, estando os
progenitores e precursores são lançados no sangue e se
estabelecem no baço e fígado. A consequência é a
hepatoesplenomegalia (metaplasia mieloide).
Cerca de 1/3 acaba evoluindo para a leucemia aguda
(segunda causa de morte na PV).
TRATAMENTO
Flebotomia, a qual aumenta a sobrevida desses pacientes
de 2 anos para acima de 10 anos.
As drogas mielossupressivas devem ser administradas nos
pacientes com alto risco de evento trombótico.
A droga de escolha é a hidroxiureia.
A terapia especifica não cura o paciente, apresentando
essa possibilidade apenas com o transplante alogênico.
Evitar o banho quente.
AAS em baixas doses (100mg/dia) apara prevenção de
eventos trombóticos.
Uso de alupurinol 300mg/dia.
METAPLASA MIELOIDE
AGNOGÊNICA
O clone neoplásico da origem a megacariócitos e
monócitos que secretam citocinas, as quais atraem e
estimulam os fibroblastos a sintetizarem colágeno.
Logo após a fase inicial da hiperplasia medular
(característica da síndrome mieloproliferativa), instala-se
um elevado grau de mielofibrose.
As células são lançadas na circulação e assentam-se no
baço e fígado, tornando-os preenchidos com tecido
hematopoiético (metaplasia mieloide).
O crescimento do baço leva a uma esplenomegalia de
grande monta, que tem como consequências mais
importantes o hiperesplenismo (anemia e plaquetopenia) e
hipertensão portal, pelo hiperfluxo na veia esplênica.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO
O achado mais frequente no exame físico é a
esplenomegalia de grande monta que ocorre em quase a
totalidade dos casos.
O que chama atenção na metaplasia mieloide agnogênica
é a alteração da contagem diferencial, expressa pela
eritroleucoblastose e a presença de poiquilocitose com
predomínio de hemácias em lágrima ou dacriócitos.
O diagnóstico de metaplasia é baseado na tríade:
leucoeritroblastose, hemácias em lágrima e
mielofibrose.
O aspirado da MO é quase sempre seco, devendo ser
realizada uma biópsia de medula.
Causas de esplenomegalia maciça (baço palpável na FIE e
linha média):
PROGNÓSTICO E TRATAMENTO
Cerca de 20% evoluem para caquexia, baço grande e
hipertensão portal sintomática (hiperfluxo da veia
esplênica e trombose da v. hepática/infiltração dos
sinusoides hepáticos).
A doença não tem cura, tendo a terapia com o objetivo de
reduzir os sintomas, sem aumentar a sobrevida.
A hidroxiureia deve ser administrada nos casos de
leucocitose e trombocitose expressivos ou esplenomegalia
de grande monta.
A radioterapia está indicada para controlar a
esplenomegalia e os tumores hematopoiéticos nos tecidos
(SNC).
Novas terapias com talidomida, transplante alogênico
ou autólogo.
TROMBOCITEMIA ESSENCIAL
Acomete principalmente adultos velhos do sexo feminino
Há um aumento na produção de plaquetas, especialmente
acima de 1.000.000/mm3, o que predispõe não só a
eventos trombóticos, mas também hemorragia.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
As causas mais comuns são as infecções, injuria tecidual,
anemia ferropriva, sangramento agudo pós-esplenectomia
e anemias hemolíticas (crianças).
O aumento das plaquetas é consequente a fatores
estimulantes de colônias de megacariócitos com a
interleucina-6 (IL-6), produzidos pela reação inflamatória
ou pelas células neoplásicas.
A maioria dos pacientes é assintomática.
A trombose arterial na trombocitemia essencial são o
AVC isquêmico, ataque isquêmico transitório, IAM,
trombose mesentérica e femoral.
Há múltiplas equimoses e petéquias, hemorragia
digestiva e sangramento grave.
Aparecimento súbito de dor, disestesias, calor, eritema nas
extremidades, principalmente nos mmii (dígitos dos pés).
Na presença de leucocitose >20.000, devemos suspeitar
de LMC afastando-se pela busca do cromossomo
Philadelfia.
Os critérios propostos são: >500.000/mm3, ausência de
Ph+, massa eritrocitária, presença de ferro na meula óssea,
ausência de mielofibrose ou displasia medular.
Os pacientes assintomáticos e com plaquetopenia menor
que 1.000.000/mm3nao devem receber tratamento, pois a
sobrevida é semelhante à da população hígida com a
mesma faixa etária.
Para os pacientes sintomáticos e com >1.500.000/mm3
plaquetas devem ser tratados com hidroxiureia e
anagrelida, além de anticoagulação plena (AAS).
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
LINFOMAS NÃO-HODGKIN
Compõe um grupo de neoplasias originárias no tecido
linfático.
Ao contrário das leucemias linfocíticas, os linfomas
“nascem” no tecido linfoide e, eventualmente, infiltram a
medula óssea e outros tecidos, enquanto leucemias
linfocíticas fazem a rota inversa.
O tecido MALT pode aparecer e desaparecer de acordo
com o estímulo antigênico, como ocorre na mucosa
gástrica (surgindo apenas nos estados inflamatórios
crônicos – H. pylori).
A camada cortical dos linfonodos é formada por
inúmeros folículos linfáticos, onde se encontra a maior
parte dos linfócitos B do organismo.
Os linfócito B ‘virgens’ penetram nos linfonodos e se
concentram nos folículos (primários). Durante a
estimulação antigênica, esses folículos linfáticos crescem
pela proliferação e modificação dos linfócitos B,
tornando-os folículos secundários. Eles adquirem um
centro germinativo.
O contato com o antígeno ativa um grupo de linfócitos B,
que se transformam em células maiores, denominadas de
centroblastos.
A conversão dos centroblastos em centrócitos ocorre
através do fenômeno de hipermutação somática, que pode
aumentar ou não a especificidade antigênica.
Eventualmente acumulam-se alguns linfócitos B de
memória (zona marginal).
A zona paracortical é rica em linfócitos T e os fornece
para os centros germinativos durante a resposta
antigênica. A região medular, rica em plasmablastos e
plasmócitos (em migração) e pobre em linfócitos.
Os linfócitos esplênicos sempre contêm uma zona
marginal de células B de memória, entre o manto e a
parafolicular.
O linfoide do timo é composto basicamente por linfócitos
T, em varias fazes de maturação, entremeados por
algumas células epiteliais reticulares. Na zona medular,
predominam linfoblastos, linfócitos jovens e células
reticulares, enquanto que na zona cortical, há um
verdadeiro aglomerado de linfócitos T maduros.
O tecido MALT é responsável pelo primeiro contato do
sistema imune com os antígenos externos, sendo rico em
células apresentadoras de antígeno, linfócitos T e B de
memória, incluindo células B produtoras de IgA.
A medula e o timo são considerados tecidos linfoides
primários, ao produzir linfócitos virgens. Após o contato
antigênico, eles se transformam e linfócitos B e T de
memória, ganhado a corrente linfática, depois a
sanguínea, habitando os tecidos linfoides terciários
(MALT).
EPIDEMIOLOGIA
Os linfomas não-Hodgkin são os principais
representantes das neoplasias linfoides.
A imunofenotipagem nos trouxe uma nova visão para o
reconhecimento de tipos mais específicos de linfomas
B/T.
O surgimento da AIDS e um avanço nas técnicas de
transplantes de órgãos sólidos. O pico de incidência
ocorre entre 50-65 anos. A frequência aumenta em
progressão geométrica com a idade.
ETIOPATOGENIA
Agentes ambientais e anormalidades genéticas herdadas
participam nas alterações irreversíveis sofridas por
cromossomos, ativando os oncogenes e inativando
antioncogenes.
Há associação com infecção pelo Epstein-Barr e alguns
linfomas B, Burkitt.
A grande maioria dos LNH não possui uma etiologia
definida.
A infecção pelo HIV aumenta o risco de aparecimento
LNH pela imunossupressão na fase SIDA/AIDS, sendo
linfomas de alto grau de malignidade (Linfoma B d e
células grandes; Burkitt, primário do SNC, linfomas de
cavidades serosas).
Os linfomas B de grandes células e o Burkitt são
responsáveis por 70% do total, e com associação à
diminuição da contagem de CD4 como principal fator de
risco.
O Epstein-Barr possui importante papel na patologia pelo
fato de infectar os linfócitos B, gerando proliferação
descontrolada.
O transplante de órgãos sólidos propicia o linfoma pelo
fato de necessitar de um maior tempo de terapia
imunossupressora, o que não ocorre no transplante de
MO.
A infecção pelo H. pylori leva ao aparecimento de tecido
linfoide em regiões da mucosa do estomago, predispondo
ao linfoma MALT gástrico.
A síndrome de Sjögren é uma colagenase autoimune
causa infiltração linfocítica nas glândulas lacrimais e
salivares, do tipo sialoadenite mioepitelial.
Na doença celíaca há o surgimento de uma população
aberrante de linfócitos T da mucosa intestinal que
eventualmente podem se transformar em clones
neoplásicos.
Herbicidas, radiação ionizante, solventes orgânicos e
resinas de cabelo aumentam o risco de LNH.
CLASSIFICAÇÃO
O padrão folicular significa que a proliferação de células
neoplásicas, no linfonodo, fica praticamente restrita aos
folículos linfáticos.
O acometimento difuso é caracterizado por
comprometimento, pelas células tumorais, de toda a
arquitetura do gânglio, com perda da estrutura folicular.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
A classificação mais atual (OMS) em 2008, subdivide os
linfomas de células T e NK e linfomas de Hodgkin.
Além disso, há os linfomas indolentes, agressivos e
altamente agressivos.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A grande maioria dos pacientes a apresentação é com a
linfoadenomegalia periférica (cervical, supraclavicular e
inguinal).
Nos LNH indolentes, a linfoadenomegalia costuma ser
insidiosa, com períodos alternados de crescimento e
regressão espontânea.
Nos LNH agressivos, apresenta-se com massas
linfonodais e crescimento rápido.
Devemos indicar a biópsia quando:
Maior que 2cm
Supraclavicular ou escalênico
Crescimento progressivo
Endurecido, aderido aos planos profundos.
Os LNH possuem um padrão de comprometimento
ganglionar diferente da doença de Hodgkin. Eles
acometem o anel de Waldeyer, linfonodos epitrocleares e
abdominais.
Os chamados “sintomas B” (febre>38º; sudorese noturna;
perda ponderal >10% em 6 meses) encontram-se em 40%
dos casos. São indicativos de pior prognóstico.
Nos LNH agressivos, os sintomas B são encontrados em
50% dos casos. Quanto mais rápido o crescimento
tumoral, maior a chance de aparece sintoma B.
Outros sintomas são: fadiga, mal-estar e prurido. Se
houver acometimento mediastinal haverá tosse seca
persistente, desconforto torácico e compressão da cava
superior. Pode haver linfonodos abdominal, como uma
massa palpável e desconforto abdominal.
Somente alguns subtipos cursam com esplenomegalia de
grande monta.
O comprometimento extranodal é bem mais frequente
nos LNH do que na doença de Hodgkin. O TGI e a MO
são os mais acometidos.
Diversos linfomas também podem ter um órgão
extranodal como sitio primário, neste caso o TGI (dor
crônica, náuseas, vômitos, diarreia e esteatorreia).
O acometimento hepático é comum, cursando com
hepatomegalia, mas sem sinais de disfunção hepática.
O acometimento cutâneo decorre da presença na derme
de infiltrados neoplásicos e se traduzem por lesões
eritematoinfiltradas papulosas, nodulares, em placa e
ulcerações.
A leucopenia é o achado mais associado ao
comprometimento da MO.
PROGNÓSTICO
O prognostico dos LNH é bastante dependente do tipo
histológico, muito mais do que do estadiamento
(diferente do Hodgkin).
Há um paradoxo: os indolentes sem tratamento possuem
sobrevida maior, porém, sem cura. Diferentemente, os
agressivos são curados pela QT.
O IPI (índice prognóstico) tem sido utilizado para os
LNH agressivos. Para o linfoma B folicular indolente,
utiliza-se um escore semelhante, mas trocando o status
performance e o acometimento extranodal pelos níveis de
Hb (<12g/dl ganha 1 ponto) e pelo número de sítios
linfonodais acometidos.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
TIPOS ESPECÍFICOS
Os linfomas B constituem cerca de 85% de todos os
LNH.
Os tipos mais comuns (folicular e difuso de grandes
células) são derivados das células B presentes no centro
germinativo do folículo linfático secundário.
Divididos em 3 tipos: indolentes; agressivos e
altamente agressivos.
O LNH mais comum é o linfoma difuso de grandes
células B, responsável por 30% de todos estes linfomas,
seguido pelo linfoma folicular (20%).
LINFOMAS INDOLENTES
LINFOMA FOLICULAR DE CÉLULAS B
É o segundo LNH mais comum, após o difuso de grandes
células B.
Corresponde a 70% dos casos de linfomas indolentes.
A idade média de apresentação é 60 anos, iniciando com
uma linfoadenomegalia insidiosa (cervical,
supraclavicular, inguinal e axilar).
Os sintomas B são relatados em 20%, bem como
elevação do DHL sérico.
O IPI costuma ser baixo, com 45% apresentando-se com
um escore 0.
A terapia não influi muito no prognóstico e deve ser
reservada para doença localizada.
A grande maioria dos casos não tem cura e virtualmente
todos morrem do próprio linfoma.
Muitos pacientes desenvolvem transformação neoplásica:
um linfoma B agressivo, geralmente difuso de grandes
células.
LINFOMA LINFOCÍTICO PEQUENO
É a forma linfomatosa da leucemia linfocítica crônica
(LLC).
Portanto é derivado de um subtipo linfócitos B maduros
virgens circulantes sem competência imunogênica.
Hipogamaglobulinemia.
A diferença entre o linfoma linfocítico pequeno e a LLC
é apenas didática, pois se trata de uma mesma doença.
Cerca de 80% dos casos se encontram no estágio IV,
com 70% da extensão para a medula óssea, com
infiltração maciça.
Um número significativo de pacientes evolui com
transformação maligna para um linfoma difuso de
grandes células B, uma grave complicação que recebe o
nome de síndrome de Richter.
LINFOMA LINFOPLASMÁTICO
É exatamente a mesma doença da
macrogamablobulinemia de Waldenstrom. A única
diferença é que alguns casos não apresentam o pico
monoclonal de IgM.
É derivado dos linfócitos B estimulados a se tornarem
plasmócitos.
Mais de 70% estão no estágio IV.
LINFOMA B DA ZONA MARGINAL NODAL
A histologia revela a presença de folículos linfáticos com
uma zona do manto e uma zona marginal proeminentes.
Manifesta-se com linfoadenomegalia generalizada e
segue um curso bastante indolente (sobrevida de 12
anos).
LINFOMA B DA ZONA MARGINAL ESPLÊNICO
É derivado dos linfócitos B de memória da zona marginal
da polpa branca do baço.
O paciente possui uma esplenomegalia, na ausência
linfoadenomegalia, a não ser nos linfonodos do hilo
esplênico e pancitopenia.
Cerca de 90% dos casos já estão no estágio IV, devido ao
acometimento do fígado e MO.
Não tem boa resposta à QT, mas o rituximab tem
mostrado boas taxas de respostas em casos refratários.
LINFOMA MALT
Corresponde a 5% de todos os LNH, sendo o linfoma
MALT gástrico o exemplo mais comum.
O linfoma MALT geralmente surge como complicações
de algumas doenças benignas inflamatórias. Tais
patologias estimulam a formação de tecido linfoide na
mucosa.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Gastrite crônica por H pylori, poli-infestação
parasitária, tireoidite de Hashimoto e síndrome de
Sjögren,
O linfoma MALT gástrico corresponde a 75% dos
linfomas do TGI.
Ocorre dor no epigástrio, náuseas ou vômitos, plenitude
pós-prandial e perda ponderal.
O diagnóstico só poderá ser feito pela biopsia da
submucosa gástrica, e praticamente todos estão
relacionados à gastrite crônica por H. pylori.
A doença intestinal imunoproliferativa cursa com um
linfoma em adultos jovens e esta relacionado à baixas
condições socioeconômicas, e altos níveis de infestação
parasitária. Manifesta-se com dor abdominal
hepatoesplenomegalia e enteropatia perdedora de
proteína.
O linfoma BALT é derivado da mucosa brônquica,
porém, não cursa com linfoadenopatia hilar e mediastinal
e o derrame pleural só em 10% dos casos.
Linfoma tireoidiano se manifesta com bócio progressivo
com ou sem sintomas traqueais obstrutivos, com
consistência endurecida. O principal fator de risco é a
tireoidite de Hashimoto.
No linfoma na síndrome de Sjogren, há uma ativação
policlonal das glândulas salivares e lacrimais, com
sialoadenite mioepitelial. Linfoadenomegalia cervical.
LINFOMAS B AGRESSIVOS
LINFOMA DIFUSO DE GRANDES CÉLULAS B
Corresponde a mais de 90% dos casos de linfomas
agressivos e a 30% de todos os LNH.
É derivado das células B em transformação blástica dos
centros germinativos.
A doença se manifesta com uma massa linfonodal de
crescimento rápido na região cervical ou abdominal. Em
40% dos casos há apresentação extranodal no TGI.
Os sintomas B são relatados na apresentação em 30-40%
dos casos e o DHL está elevado em metade dos pacientes.
Apesar de uma forte tendência à disseminação, esses
tumores encontram-se inicialmente localizados em 55%
dos casos e disseminados em 45%.
Geralmente a sobrevida em 5 anos significa cura do
tumor.
LINFOMA B DIFUSO IMUNOBLÁSTICO
Trata-se de uma forma mais agressiva do linfoma difuso
de grandes células, responsável por 10% dos casos.
É bem mais comum nos pacientes com SIDA/AIDS.
Quase sempre relacionado ao Epstein-Barr.
LINFOMA B INTRAVASCULAR
É um tipo raro de linfoma B em que as células
neoplásicas se alojam no lúmen dos microvasos de vários
órgãos, especialmente na MO, SNC, rins e pulmão e pele.
LINFOMA DE CÉLULAS DO MANTO
É um linfoma derivado dos linfócitos B pequenos
‘virgens’ da zona do manto que se parecem
morfologicamente com centrócitos.
Apresenta-se com linfoadenomegalia generalizada,
esplenomegalia, acometimento do anel de Waldeyer e do
TGI.
Este linfoma é moderadamente agressivo e a
poliquimioterapia não aumenta significativamente a
sobrevida média destes pacientes (3-4 anos).
LINFOMAS B ALTAMENTE
AGRESSIVOS
LINFOMA DE BURKITT
O linfoma é o segundo mais comum da infância (30%),
perdendo apenas para o linfoma linfoblástico de células
pré-T.
Embora relativamente comum em crianças, é raro em
adultos (exceto HIV), e deriva de linfócitos B do centro
germinativo que foram submetidos à ativação antigênica.
Existem 3 formas: esporádica; endêmica africana e
forma no HIV positivo.
A forma esporádica é a mais comum, com dor abdominal,
ascite e massa abdominal. Ao contrário da forma
endêmica, a associação com o vírus Epstein-Barr é
discreta.
A forma endêmica africana possui forte associação com o
Epstein-Barr (95%). O sintomas B são incomuns.
Todas as formas de linfomas de Burkitt evoluem com
massas de crescimento rápido, sintomáticas e com
manifestações compressivas e DHL elevado. A resposta a
QT é dramática e a chance de cura é de 60%.
LINFOMA DE BURKITT-SÍMILE
Trata-se de uma variante histológica, contendo células
maiores misturadas às pequenas células não clivadas.
A evolução e prognóstico são intermediários entre o
linfoma de Burkitt e B difuso de grandes células. A
evolução e o prognóstico são intermediários entre as duas
formas.
LINFOMA LINFOBLÁSTICO DE CÉLULAS PRÉ-B
É a forma linfomatosa da LLA de células pré-B. é um
tipo bastante raro de LNH (o mais comum é o de células
pré-T).
LINFOMAS T/NK
O grupo de linfomas T, pré-T e NK constitui 15% de
todos os LNH.
MICOSE FUNGOIDE
É o representante dos linfomas indolentes. É derivado das
células T-helper presentes na derme.
As lesões cutâneas da micose fungoide evoluem de forma
indolente, durante anos, em sucessivos estágios.
Estágio I – caracteriza-se por lesões inespecíficas
máculas ou placas eritematodescamativas, pruriginosas.
Estágio II – as placas eritematosas são múltiplas e
apresentam-se infiltradas e descamativas. A biópsia já
pode revelar o diagnóstico.
Estágio III – caracteriza-se pelo aparecimento de lesões
vegetativas de cor vermelho-acastanhado, com
ulcerações.
A síndrome de Sezary é uma variante da micose
fungoide, marcada pela eritrodermia esfoliativa difusa,
associada à linfoadenopatia e a leucemização da micose
fungoide. Linfócitos com núcleos cerebriforme.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
LINFOMA LINFOBLÁSTICO DE CÉLULAS PRÉ-T
Este linfoma é o sintoma mais comum da infância,
responsável por 40% dos casos.
Acomete crianças na fase escolar ou adolescente
Costuma-se manifestar com massa mediastinal de
crescimento rápido, com complicações compressivas.
O envolvimento da MO, levando à leucemização do
linfoma, não é comum no início do quadro, mas acaba
ocorrendo em 60% dos casos, em associação com
disseminação no SNC.
LINFOMA/LEUCEMIA DE CÉLULAS T HTLV-1-
ASSOCIADO
Este linfoma tem o pior prognóstico dentre os LNH
mesmo com a terapia (sem resposta adequada).
A forma leucêmica se manifesta com linfocitose à custa
de linfócitos com núcleos em forma de “folha de trevo”.
A forma linfomatosa é caracterizada pela
linfoadenomegalaia generalizada, sem leucemização.
A forma crônica com lesões cutâneas e linfocitose sem
hipercalemia e a forma latente, com lesões cutâneas e
pulmonares.
LINFOMA ANAPLÁSICO
É o segundo linfoma T mais comum, perdendo apenas
para a micose fungoide. Tem o comprometimento
agressivo, com chance de cura.
Trata-se de um importante linfoma de células T,
derivados dos linfócitos T ou de “células nulas” em
transformação blástica presentes na região paracortical ou
da pele.
Manifesta-se com a linfadenomegalia periférica ou
retroperitoneal, associada a sintomas B e as lesões
cutâneas linfomatosas em 25% dos casos.
Pode ser curado em até 80% dos casos (principalmente
em crianças).
TRATAMENTO
INDOLENTES
Linfomas indolentes devem ser abordados de forma mais
conservadora, uma vez que a poliquimioterapia raramente
atinge a cura e o objetivo principal deve ser paliativo.
A minoria desses tipos de pacientes apresenta-se com
estágio localizado (I e II). Neste caso, vale a pena tentar a
cura através da radioterapia direcionada.
Infelizmente a maioria dos pacientes com linfoma B
indolente possui doença disseminada ao diagnóstico (III e
IV) com envolvimento medular frequente.
Casos oligossintomáticos a conduta deve ser expectante,
sem iniciar a QT, até a evolução para um quadro
sintomático.
As indicações clínicas são: sintomas B, linfadenomegalia,
envolvimento de órgãos vitais, citopenias e
agressividade.
Terapia com rituximab, radioimunoterapia e transplante
de MO.
O transplante alogênico pode ser considerado em um
grupo selecionado de pacientes (jovens com doença
recaída e agressiva).
AGRESSIVOS
O mandamento número 1 é iniciar o mais precoce
possível a QT, pela real chance de cura.
O esquema CHOP possui potencial de mielotoxicidade,
necessitando de cuidados quanto a febre no neutropênico
e de reposição de plaquetas.
Nos pacientes de alto risco para neutropenia grave e
prolongada, pode se considerar a prescrição de G-CSF ou
GM-CSF.
Nos paciente com estágio localizado (I e II) a QT alcança
taxas de cura muito expressivas (75%).
Nos pacientes com estágio avançado (III e IV) a QT
consegue taxa de cura menor (35%).
O IPI é o principal determinante individual da taxa de
cura. No mediastinal a chance de cura é de 70-80%.
Não podemos deixar de cuidar da síndrome de lise
tumoral (com alto grau de malignidade) com hidratação
venosa, alupurinol e alcalinização da urina.
O linfoma de células do manto não possui boa resposta
ao tratamento, com pequena taxa de cura.
Há grande benefício com o uso de transplante autólogo
nos pacientes respondedores à QT.
ALTAMENTE AGRESSIVOS
A profilaxia da lise tumoral ainda é mais importante.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
LINFOMA DE HODGKIN
A célula de Reed-Sternberg é o clone neoplásico da
doença e que é derivado de linfócitos B do centro
germinativo do linfonodo, embora seus marcadores de
imunofenotipagem não sejam marcadores linfocíticos. Ou
seja, na verdade o linfoma de Hodgkin é um linfoma B.
Ocorrem dois picos de incidência: 20-30 e aos 50-60
anos.
PATOGÊNESE E PATOLOGIA
A célula de RS é uma célula grande e ao seu redor
acumulam-se diversas outras células (linfócitos T,
neutrófilos, plasmócitos) como pano de fundo. Não são
neoplásicas, e sim reativas.
Deve-se frisar que para o diagnóstico as RS deve ser
encontrada junto as demais células.
As RS possuem marcadores que confirmam o
diagnóstico: CD15 e CD30.
Existem dois tipos diferentes quanto à fenotipagem: LH
clássico (esclerose nodular, celularidade mista, rico em
linfócitos e depleção linfocitária) e o LH com
predomínio linfocitário.
O tipo esclerose nodular é o mais comum,
manifestando-se geralmente com adenopatia cervical ou
mediastinal assintomática em mulheres ou homens
jovens. É o tipo de segundo melhor prognóstico.
O tipo celularidade mista é o segundo mais comum
sendo mais comum nos adultos masculinos. Os sintomas
B são mais frequentes e o estágio costuma ser mais
avançado em relação à esclerose nodular. Está associado
ao Epstein-Barr e é o tipo mais comum no HIV+.
O tipo depleção linfocitária é menos comum e de pior
prognóstico (mais agressivo). Encontra-se associada a um
mau prognóstico, com doença agressiva, rapidamente
fatal, com febre e pancitopenia.
O tipo rico em linfócitos possui o melhor prognóstico.
APRESENTAÇÃO CLÍNICA E
LABORATÓRIO
A manifestação clínica mais frequente é a adenomegalia
cervical e supraclavicular.
Os linfonodos mediastinais podem atingir grandes
dimensões e provocar colapso de lobos do pulmão. Ao
contrário dos LNH, a distribuição linfonodal se faz de
maneira centrípeta, sendo raros os epitrocleares. O padrão
de disseminação é por contiguidade em 90% dos casos.
O comprometimento extranodal pode ocorrer em
qualquer local, sendo menos comum do que nos LNH.
Os sintomas de valor prognóstico – sintomas B.
A febre de Pel-Ebstein: dias de febre alta alternados
com dias sem febre, bastante sugestiva de linfoma.
Outros linfomas clássicos, mas sem relação com o
prognóstico, são o prurido e a dor nos linfonodos pós-
ingestão de álcool.
A eosinofilia é um achado frequente, principalmente
naqueles que manifestam prurido.
DIAGNÓSTICO/ESTADIAM.
É dado pelo histopatológico dos linfonodos acometidos,
através do encontro da RS.
O estadiamento do LH é obrigatório para a decisão
terapêutica e baseia-se na historia e exames clínicos na
biópsia linfonodal, nas imagens e na biópsia de MO
bilateral.
Dois terços dos pacientes com DH recém diagnosticada
apresentam evidencia radiográfica de envolvimento
intratorácico.
Nos pacientes ECI e II supradiagfragmáticos são tratados
com RT e QT (dispensa a laparotomia).
TRATAMENTO E
PROGNÓSTICO
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
A maioria dos pacientes cm LH é diagnosticada no
estágio II, principalmente IIA (assintomáticos).
A chance de cura é de 80-90%.
As principais ferramentas no tratamento LH são a QT e a
RT.
O transplante autólogo é reservado para os casos de
recidiva à QT.
A RT gera boca seca, alteração no paladar, faringite,
náuseas e tosse seca, dermatite.
Sinal de Lhermitte, caracterizado pela sensação de
choque irradiado para as costas e mmii após flexão da
cabeça, pneumonite e pericardite.
As neoplasias secundarias à RT ocorrem geralmente com
altas doses de irradiação e após 10 anos: CA pulmonar e
carcinoma de mama.
A QT de escolha para tratar o LH atualmente é o
esquema ABVD, pois é pouco mielotóxico e não traz
maiores sequelas tardias e não leucemogênico.
A maioria dos pacientes com LH em estágio I e II,
esclerose nodular apresenta doença localizada ao
diagnóstico. A chance de cura entre 80-90%, na ausência
critério prognóstico desfavorável.
Prognóstico favorável: <50 anos, esclerose nodular,
ausência de sintomas B, 3 ou menos cadeias acometidas,
ausência de doença volumosa, VHS<50mm/h.
Prognóstico desfavorável: >50 anos, celularidade mista,
sintomas B, >3 cadeias acometidas, doença volumosa,
VHS>50mm/h.
A modalidade combinada de QT, consistindo 2 ciclos do
ABVD, seguidos de RT (30Gy) é considerada a primeira
linha padrão da DH de estágio precoce com prognóstico
favorável.
Para os pacientes com prognóstico desfavorável em
estágio precoce o esquema recai de 4 ciclos de ABVD +
RT em campo envolvido com 30Gy.
A terapia para os pacientes com estágio II e IV é formado
por 8 ciclos (no mínimo 2 após a remissão). A chance de
cura está em torno de 60%. A RT de campo envolvido só
é feita sob massas linfonodais volumosas mediastinais.
Se a recidiva ocorrer após RT isolada, a conduta é a QT
com ABVD por 6-8 ciclos. Se a doença após 1 ano da
primeira QT, pode ser resgatado com novo esquema, caso
não responda adequadamente, o paciente deve ser
submetido ao transplante autólogo.
Se a doença ocorrer dentro de 1 anos após a primeira QT
ou simplesmente remitir após a QT, a conduta de maior
eficácia é a QT de resgate (esquema DHAP), seguido de
transplante autólogo.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
MIELOMA MÚLTIPLO
As gamopatias monoclonais são neoplasias nas quais um
clone plasmocitário se acumula na medula óssea (mieloma
múltiplo) ou tecido linfoide + medula óssea
(macroglobulinemia de Waldenstrom).
Quando um clone plasmocitário se multiplica no
organismo, aparece no plasma o seu produto: a
imunoglobulina.
A amiloidose é uma doença infiltrativa de curso maligno.
O tipo AL (cadeia leve) apresenta um componente M
plasmático em 80% dos casos e é uma importante causa de
síndrome nefrótica, IRC e cardiomiopatia.
Só existem dois tipos de cadeia leve: kappa e lambda. O
componente M pode ser formado pela imunoglobulina
completa ou por uma cadeia pesada ou leve.
MIELOMA MÚLTIPLO
É o principal representante das neoplasias plasmocitárias.
Afeta caracteristicamente a população >50 anos.
No MM o clone neoplásico pode surgir inicialmente no
tecido linfoide e, porém somente no microambiente da MO
encontra as devidas condições para se proliferar. A medula
então se torna repleta de plasmócitos neoplásicos – as
células do mieloma.
As células do mieloma se proliferam na MO, ocupando o
espaço das células hematopoiéticas, liberando substâncias
que inibem a proliferação dos eritroblastos (anemia e
pancitopenia) e que ativam os osteoclastos (principal
mecanismos de destruição óssea.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O termo mieloma múltiplo vem do fato da doença
acometer múltiplos focos da MO funcionante (costelas,
vertebras, crânio, esterno etc.)
A anemia é decorrente não só da ocupação medular, mas
principalmente dos fatores inibitórios da eritropoiese
secretados pelas células do mieloma.
Em cerca de 80% dos casos, a cadeia leve do componente
M aparece na urina (proteína de Bence Jones), que causa
nefropatia crônica.
A destruição óssea promove a liberação de cálcio, gerando
hipercalcemia e hipercalciúria.
Os níveis de imunoglobulinas normais estão baixos, sendo
este um dos principais mecanismos da susceptibilidade a
infecções.
LESÕES ESQUELÉTICAS
São comuns em sítios que possuem medula funcionante,
gerando dor do tipo reumática, intermitente.
As fraturas patológicas são frequentes, sendo as do tronco
confundidas com pleurisia ou doença neurológica.
Pode haver diminuição da estatura do paciente mediante
fraturas nos corpos vertebrais.
As alterações radiológicas características consistem sempre
em lesões líticas, arredondadas, do tipo insuflantes. Não
são detectadas pela cintilografia.
O principal diagnóstico diferencial é com as metástases
ósseas líticas, encontradas no carcinoma de mama, pulmão
e tireoide.
Possui dor óssea movimento-dependente e a lesões do MM
poupam os pedículos vertebrais.
SUSCEPTIBILIDADE ÀS INFECÇÕES
A infecção bacteriana é a principal causa de morte nos
pacientes com MM.
Uma queda na produção e um aumento na degradação
periférica das imunoglobulinas, leva à
hipogamaglobulinemia funcional.
Há também uma diminuição dos níveis de linfócitos T,
uma opsonização defeituosa e função granulocítica
alterada.
ENVOLVIMENTO RENAL
Há redução do clearance de creatinina (IR).
As cadeias leves de imunoglobulina são pequenas o
suficiente para serem filtradas pelo glomérulo e aparecem
na urina (Bence Jones), sendo extremamente lesiva aos
túbulos proximais, levando a uma disfunção tubular
proximal – Fanconi.
As células tubulares proximais não conseguem mais
absorver a proteína de BJ, permitindo que ela alcance a
alça de Henle e o néfron distal, formando os cilindros de
cadeia leve (nefropatia obstrutiva crônica).
A hipercalcemia, decorrente da maior reabsorção óssea
somada á imobilidade destes pacientes, é responsável pela
deposição de cálcio nos rins, levando à IRC, além de
facilitar a formação dos cilindros.
A hipercalcemia é a principal causa de IRA no MM.
A amiloidose decorre do depósito tecidual progressivo de
cadeias leves que se transformam em fibrilas amiloides,
acometendo a língua, coração, glomérulos, nervos
periféricos e gerando síndrome nefrótica.
ENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO
As células invadem o canal espinhal e podem provocar
compressão extradural, gerando dor radicular, perda de
função esfincteriana e paraplegia.
A crise hipercalcêmica é o principal mecanismo de
alteração do estado de consciência no paciente com MM
(>12mg/dl). Pode evoluir com vômitos, desorientação,
convulsões.
SÍNDROME DA HIPERVISCOSIDADE
Decorre do aumento na concentração das imunoglobulinas
no plasma, gerando cefaleia, fadiga, distúrbios visuais,
epistaxe e papiledema.
MIELOMA OSTEOESCLERÓTICO (POEMS)
Significa polineuropatia, organomegalia, endocrinopatia,
gamopatia monoclonal e alterações cutâneas.
O diagnóstico é firmado por dois critérios maiores com
pelo menos mais uma característica.
O tratamento é o mesmo do MM.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
LABORATÓRIO
O componente M é detectado pela eletroforese de
proteínas, sendo maior a concentração, pior o prognóstico.
O tipos mais comum é o MM-IgG, seguido pelo mm-IgA e
o mieloma de cadeia leve.
A gamopatia monoclonal com IgM não se chama MM, mas
sim macroglobuinemia de Waldenstrom.
O MM-IgG é um mieloma de melhor prognóstico, com
chance de menor insuficiência renal, hipercalcemia e
amiloidose. Porém cursa com nível maior de componente
M e infecções.
O MM-IgA causa mais hipercalcemia e hiperviscosidade,
com menor chance de infecções. O mieloma de cadeia leve
é considerado um tipo de mau prognóstico. O MM-IgD é o
pior.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
O diagnóstico de MM requer um critério obrigatório:
Plasmocitose medular >10% ou plasmocitoma e mais
pelo menos um (componente m no soro >3g/dl,
componente M na urina >1g/dl ou lesão de órgão alvo.
Regra CARO (cálcio, anemia, rim e lesão óssea).
FATORES PROGNÓSTICOS
A sobrevida média do MM está em torno de 3 anos.
Alguns fatores estão relacionados com o prognóstico, tais
como: grau de anemia, componente M, número de lesões
ósseas, escorias nitrogenadas, cálcio sérico.
O nível de beta2-microglobulina é o principal fator
prognóstico no MM, sendo essencial para determinação do
ISS.
Presença de morfologia plasmablástica, plasmócitos
circulantes e expressão de CD138 e CD56, implicam em
pior prognóstico desfavorável.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Devemos acrescentar aos estágios III e IV os sufixos A e
B, conforme a dosagem de creatinina: A (<2mg/dl) e B
(>2mg/dl).
TRATAMENTO
Os objetivos são o aumento da sobrevida e a melhora da
qualidade de vida.
A terapia de primeira linha do MM inclui a QT
convencional, QT em altas doses com transplante autólogo
e combinações de novos agentes (talidomida, lenalidomida
e bortezomib).
Para os pacientes elegíveis para o transplante autólogo,
devemos iniciar o protocolo do transplante em todos os
pacientes com MM sintomáticos com idade <70 anos, sem
contraindicações (ICC, insuficiência hepática, d.
pulmonar).
O transplante autólogo tardio é um protocolo alternativo
ao primeiro, com células mantidas em criopreservação. O
esquema de indução é mantido e depois a recidiva, para
somente realizar o transplante autólogo.
Para os pacientes não elegíveis para o transplante
autólogo, aqueles com comorbidades e baixo performance
status, são excluídos do TMO autólogo. Uso de melfalan e
prednisona.
A terapia adjuvante baseia-se no uso rotineiro de
bifosfonados em todo o paciente com MM e lesões ósseas
líticas ou osteopenia difusa. Além da administração de
EPO.
Na crise hipercalcêmica usamos o SF 0,9%, furosemida,
corticoide e bifosfonados. No caso da crise renal realiza-
se plasmaferese.
MACROGLOBULINEMIA DE
WALDENSTROM
É caracterizada pele presença de IgM monoclonal
produzida por um clone linfoplasmocitário (intermediário
entre linfócitos B e plasmócito).
O linfoma lifoplasmocitário é a própria
macroglobulinemia, sob a forma de linfoma.
A apresentação clinica mais comum pe a síndrome de
hiperviscosidade.
Afeta os sitema neurológico, dificultando a deambulação,
com sinal de Romberg positivo.
Na síndrome há sobrecarga acardíaca, prejuízo no fluxo
cerebral e alterações na hemostasia.
Presença de vasos em salsicha na fundoscopia, com
papiledema e exsudatos.
A macroglobulina reveste a superfície das plaquetas,
inibindo a sua função e predisponde a diátese hemorragia.
A anemia é normocítica e normocrômica. O aumento do
VHS e a formação de roleaux no sangue periférico, devido
a agregação eritrocitária provocada pelo componente M.
O diagnóstico é confirmado pela associação do
componente M do tipo IgM, com o encontro das células
neoplásicas na MO.
O tratamento se baseia no uso do agente alquilante
clourambucil.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
NEUTROPENIA FEBRIL
A associação entre plaquetopenia e neutropenia compõe a
principal expressão clínica da toxicidade medular
aplasiante da QT. Outro problema relacionado é a mucosite que promove
uma importante quebra de barreira, abrindo as portas para
infecções pelo TGI. Classicamente define-se neutropenia como uma
contagem de neutrófilos inferior a 500/microL ou <1000
com previsão de queda para menos de 500 nas próximas
48h.
A febre é definida pela temperatura oral >37,8º
(medida única) ou 38º (por mais de 1 hora).
Mesmo na ausência de febre, alguns pacientes
neutropênicos devem ser abordados como se tivessem
neutropenia febril. Um exemplo são os idosos, que
podem não desenvolver febre durante uma infecção.
ETIOLOGIA
Todo neutropênico febril deve ser considerado portador
de infecção grave potencialmente letal em curto espaço
de tempo.
Pelo rastreio microbiológico, apenas 10-25% tem
hemocultura positiva (bacteremia), ou seja, a MAIORIA
DOS CASOS DE NEUTROPENIA FEBRIL NÃO HÁ
INFECÇÃO DOCUMENTADA!!!
A mucosite, principalmente do TGI, acarreta múltiplas
soluções de continuidade e abertura de portas de entrada
para os microrganismos ali presentes. Além disso, a
deficiência neutrofílica aumenta a chance de translocação
bacteriana para circulação sistêmica.
Atualmente, as bactérias mais encontradas nas
hemoculturas de pacientes neutropênicos febris são os
estafilo coagulase negativos.
A duração da neutropenia é outro fator importante. Após
a primeira semana a incidência de infecções fúngicas por
leveduras (Candida) aumenta.
Após a segunda semana, aumenta o risco de infecções
por fungos filamentosos (aspergilus). O prognóstico das
fungemias é sensivelmente pior que o das bacteremias,
logo a duração da neutropenia é um fator essencial na
estratificação do risco.
Na maior parte dos casos nenhuma infecção é
documentada.
AVALIAÇÃO INICIAL
São considerados pacientes de alto risco os pacientes que
apresentem qualquer um dos critérios, e devem ser
internados para tratamento IV.
Expectativa de neutropenia por mais de 7 dias;
Disfunções orgânicas crônicas (DPOC, IRC, cirrose);
Alterações agudas da homestase;
Sintomas gastrointestinais compatíveis com mucosite;
Sinais de infecção em cateter venoso profundo (flogose
local).
Para os pacientes com baixo risco, devem preencher
todos os pré-requisitos, podendo ser tratados
ambulatorialmente ou IV.
Expectativa de neutropenia inferior a 7 dias;
Ausência de disfunções orgânicas crônicas, alterações na
hemóstase, sintomas no TGI e sinais de infecção do
cateter.
Uma maneira mais formal de se estratificar o risco de
óbito na neutropenia febril é através do escore MASCC
(<21 alto risco/ >21 baixo risco).
Um dado que não pode ser menosprezado é a história de
colonização ou infecção previa documentada por germes
multirresistentes ou fungos, assim como historia de
hospitalização recente.
Não se deve realizar toque retal, devido ao risco de
translocação mediante a mucosite. Endoscopia e
broncofibroscopia acarretam risco baixo de bacteremia.
Raio-x de tórax, exame do escarro, liquor só deverão ser
solicitados mediante suspeita clínica de infecções nestes
locais.
TRATAMENTO
ANTIMICROBIANO
Sabemos que a maior causa de febre nestes indivíduos
é a translocação bacteriana (Gram -) pelo TGI. Logo,
o esquema antimicrobiano empírico em neutropenia
febril sempre dever prover cobertura
antipseudomonas.
Nos poucos casos que positivam a hemocultura (10-25%)
vimos que os principais patógenos são os cocos Gram+
(estafilo coagulase negativo), o que permite o uso da
vancomicina.
Todavia, NÃO SE RECOMENDA, a associação de
vancomicina em todos os casos de neutropenia febril,
com exceção aos pacientes com mau estado geral,
possivelmente estafilo coagulase-positivos.
Se o paciente apresentar critérios de gravidade ou
certos fatores de risco, o tratamento antimicrobiano
(com drogas antipseudomonas) deve ser acrescido da
vancomicina (cobre Gram+).
Se houver infecção ou colonização prévia por germes
multirresistentes, tratamento em hospitais com
prevalência desses germes, ou estado de mau clínico.
Se houver suspeita de superinfecção intestinal por C.
difficile, podemos associar metronidazol ou
vancomicina oral ao esquema empírico.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
A duração do tratamento é variável: se uma infecção
especifica for identificada o tempo de uso do ATB deverá
corresponder ao tempo de tratamento da infecção, ou as
drogas deverão ser mantidas até a recuperação da
contagem de neutrófilos para >500.
Nos demais casos, quando nenhuma infecção específica é
descoberta, o esquema empírico com cobertura
antipseudomonas dever ser mantido até a contagem
neutrofilica >500 e afebril pelo menos 48h.
Nos pacientes de baixo risco, a persistência de febre após
o 2º dia de tratamento obriga uma importante mudança
terapêutica, devendo ser tratados com drogas IV como se
fossem de alto risco.
A persistência da febre nos primeiros 2-4 dias de
tratamento, num paciente de alto risco ESTÁVEL, não
indica uma mudança às cegas no esquema terapêutico. Se
o paciente estiver INSTÁVEL, deve-se aumentar a
cobertura com germes multirresistentes além de cobertura
antifúngica.
Pacientes que continuam com febre inexplicada por >3
dias a despeito do tratamento antimicrobiano empírico
devem ter um novo set de hemoculturas coletado além
de um TC de tórax + seios da face.
No caso de queixas abdominais importantes (dor,
diarreia) devemos pesquisar toxina da C. difficile e
realizar TC de abdome (sinais de enterocolite
neutropênica).
COBERTURA ANTIFÚGICA
O tratamento antifúngico empírico deve ser iniciado nos
pacientes que permanecem com febre após 4-7 dias de
ATB.
Terapia antifúngica preemptiva quer dizer que iniciar
drogas antifúngicas antes de confirmação diagnóstica
final somente se houver evidências de infecção fungica.
TC de tórax (sinal do halo) e seios da face.
Para o tratamento da candidemia usa-se: anfotericina-B,
capsofungina e voriconazol (primeira escolha nos
resistentes ao fluconazol).
INFECÇÃO DO CATETER
VENOSO PROFUNDO
Demonstra-se que o cateter é a fonte de bacteremia
quando a hemocultura do seu lúmen se torna positiva
>120 min antes da periférica, devido a maior
concentração no cateter.
Na maioria dos casos recomenda-se a retirada do cateter,
porém, certos germes menos virulentos podem ser
tratados sem retirada do corpo estranho.
Quando se opta pela manutenção do cateter, deve-se
administrar o ATB através do seu lúmen.
A higienização das mãos antes e depois de manipular
o cateter – SEMPRE; assepsia e antissepsia rigorosa
durante o procedimento de implantação; uso de
clorexidina com degermante.
Cuidados com a pele, alimentos bem cozidos e evitar
plantas e animais.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
HEMOSTASIA
A hemostasia primária (que estanca o sangramento) pela
formação do trombo ou tampão plaquetário. A
hemostasia secundária evita o ressangramento pela
formação da rede de fibrina, que consolida o trombo.
PLAQUETAS
Durante o repouso, possuem superfície discoide,
pontuada por múltiplos buracos que dão origem ao
sistema canalicular aberto (rico em grânulos).
Suas funções são: servir de cano de escape para exocitose
dos grânulos intracelulares, constituir uma reserva interna
de membranas (durante a ativação plaquetária), e
armazenar receptores de agregação plaquetária.
São 3 tipos de grânulos: alfa (proteicos – que aumentam a
adesividade e cascata de coagulação); densos
(armazenam agonistas de ativação plaquetária e sistema
de coagulação) e lisossomos (hidrolases).
As plaquetas são fragmentos celulares anucleados que
brotam dos megacariócitos (derivados da linhagem
mieloide).
A ligação entre a matriz extracelular, fVW e o receptor
deste último (GP Ib) estabiliza o tampão plaquetário.
As plaquetas circulantes têm que se agarrar ao colágeno
subendotelial, exposto na parede do vaso lesado. A
ligação entre o colágenos, o fVW e o seu receptor (GP
Ib) faz com que a plaqueta pare de rolar e fique aderida
firmemente.
HEMOSTASIA PRIMÁRIA
A formação do tampão plaquetário no sitio de injuria
vascular requer a integridade de 3 sistemas: adesão,
ativação e agregação.
O colágeno é o principal substrato para a adesão
plaquetária.
A ligação colágeno-GP-VI também transmite os
primeiros sinais de ativação plaquetária, graças ao papel
de receptor exercido pela GP-VI.
Se o fVW não existisse (ou receptor, a GPIb), a forca da
corrente sanguínea arrastaria as plaquetas para longe do
colágeno exposto (e o paciente sangraria sem parar).
As plaquetas são estimuladas pelos agonistas
plaquetários – inicialmente o próprio colágeno, mas
também epinefrina e trombina. O processo faz com que
haja uma regurgitação do sistema canalicular aberto ao
mesmo tempo em que o conteúdo de seus grânulos é
secretado. Há um aumento na superfície de contato com
exposição dos receptores de adesão e agregação.
A estimulação pelos agonistas também induz a síntese de
tromboxano A2 pela COX-1, amplificando a ativação
plaquetária, fechando a alça de retroalimentação.
Em relação à desgranulação observamos o seguinte: os
grânulos densos liberam ADP, contribuindo para a
ativação de novas plaquetas. Além disso, a serotonina
liberada causa vasoconstrição, o que ajuda a reduzir o
sangramento. Os grânulos alfa secretam proteínas,
algumas com o objetivo de aumentar a adesividade
plaquetária e cascata de coagulação.
O processo de agregação plaquetária participa
diretamente da cascata de coagulação (hemostasia
secundária). Há participação do fator III, que funciona
como um ‘gancho’ no qual vão se prender as enzimas da
cascata de coagulação.
A síntese de TxA2 amplifica o processo de ativação
plaquetária e recruta plaquetas para lesão. O AAS acetila
a COX-1 causando seu bloqueio irreversível pelo resto da
vida da plaqueta. Pode reduzir a formação de trombos por
7-10 dias.
Dois antiplaquetários atuam esse mecanismo, diminuindo
o recrutamento de plaquetas inativas para a área de
formação do trombo (ticlopidina e clopidogrel).
A agregação é um fenômeno mediado pela GP IIb/IIIa,
utilizando o fibrinogênio como ponte para ligar uma
plaqueta à outra. Antes da ativação plaquetária a
GPIIb/IIIa é incapaz de ligar ao fibrinogênio. A ativação
plaquetária promove uma alteração conformacional dos
receptores, que passam a interagir fortemente com o
fibrinogênio.
HEMOSTASIA SECUNDÁRIA
Os monômeros de fibrina se polimerizam e forma uma
rede em volta do plug de plaquetas, acumulando
hemácias e leucócitos, é o chamado trombo vermelho,
geralmente na circulação venosa. O trombo branco é
composto de plaquetas e predomina na circulação
arterial.
Todos os fatores de coagulação são sintetizados no
fígado, incluindo o fator VIII (que também é
sintetizado nos rins.
Alguns fatores de coagulação necessitam de
modificações pós-sintéticas para funcionar
adequadamente: são os fatores dependentes da vitamina
K (complexo protrombínico).
A vitamina K é necessária para a carboxilação dos
resíduos de ácido glutâmico dessas moléculas. São
formadas enzimas multimoleculares imprescindíveis para
a cascata de coagulação (tenase e protrombinase)
A velocidade de reação de coagulação aumenta milhares
de vezes na presença dessas enzimas, além de formar um
coágulo na área restrita à lesão.
Os cumarínicos (warfarin) inibem a reação de
carboxilação dependente de vitamina K.
A via intrínseca é desencadeada pelo contato do sangue
com uma superfície negativa (colágeno). Exame para
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
avalia-la é o tempo de tromboplastina total ativada
(TTPa).
A via extrínseca é iniciada com a expressão do fator
tecidual, que está localizado nas células subendoteliais
(m. liso e fibroblasto) e entra em contato com o sangue
em caso de lesão do endotélio. O exame é o tempo de
atividade da protrombina (TAP).
Ambas as vias convergem para a via final comum. A
partir do momento em que o fator X é ativado.
O fator Xa também se liga ao fosfolipídio plaquetário
para converter o fator II (protrombina) em fator IIa
(trombina), na presença de cálcio ionizado.
A trombina transforma o fibrinogênio plasmático (fator I)
em monômeros de fibrina.
As ligações fibrina-fibrina são estabilizadas pelo fator
XIIIa (estabilizador de fibrina).
O sangue coagula mediante a exposição ao fator tecidual.
É pouco provável que a via intrínseca seja necessária para
a coagulação in vivo. De fato, pacientes que apresentam
deficiências congênitas de fator XII, pré-calicreína não
apresentam nenhum distúrbio hemorrágico, apesar de
terem o TTPa alargado.
A via extrínseca ativa a enzima mais importante da via
intrínseca, retroalimentando positivamente o sistema
(gerando trombina). Este fenômeno é crucial para
continuidade do processo, já que a tenase da via
extrínseca (TF + VIIa) é rapidamente inativada pelo
TFPI, bloqueando a continuidade desta via. Logo se
houver deficiência dos fatores IX e VIII, um grave
distúrbio de coagulação se instala (hemofilia).
CÉLULAS ENDOTELIAIS
A simples presença de uma célula endotelial
metabolicamente ativa é capaz de promover o bloqueio
dos três passos da hemostasia primária, conseguindo
interromper a cascata de coagulação (hemostasia
secundária).
A célula endotelial faz isso com a produção de NO e
prostaciclina, os quais tornam irresponsivas ao agonistas
plaquetários.
Na membrana luminal do endotélio ainda existe um
receptor que funciona como ADPase, transformando o
ADP (ativador da hemostasia) em adenosina (inibidor da
hemostasia).
A inibição da hemostasia secundária é mediada pela
trombomodulina, proteína S, heparan-sulfato, e
inibidor da via do fator tecidual (TFPI).
O estímulo à fibrinólise é feito por vários fatores:
exercícios, aumento da pressão arterial, acidose, liberação
de tPA. Este último transforma o plasminogênio em
plasmina (principal fibrinolítico endógeno).
Apenas o plasminogênio ligado à rede de fibrina é
transformado em plasmina.
Quando o endotélio é lesado, sua integridade matinha um
estado antitrobinogênico, logo uma série de estímulos
pró-coagulantes entrará em cena. Um mau funcionamento
implica perda de todos os mecanismos antitrombo
previamente citados.
O principal constituinte envolvido nas reações
hemostáticas é o colágeno, mas outras substâncias
adesivas (fibronectina, vitronectina e laminina),
também exercem está função.
Mesmo a lesão traumática, as células endoteliais podem
desligar seus mecanismos antitrombóticos graças aos
efeitos de citocinas pró-inflamatórias (TNF e IL1) que
reduzem os níveis de trombomodulina na superfície da
membrana plasmática e forçam a síntese de fator tecidual.
Endotoxinas bacterianas induzem as células endoteliais a
aumentarem a síntese de PAI-1 (inibidor do ativador de
plasminogênio), o qual inibe o tPA, justificado um
autobloqueio na capacidade fibrinolítica, o que ciara a
balança para o lado da trombose.
AVALIAÇÃO DO PACIENTE
COM DISTÚRBIO DA
HEMOSTASIA
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Os distúrbios hereditários da hemostasia geralmente se
manifestam na infância, mas eventualmente podem
aparecer pela primeira vez na fase adulta.
O tipo de hemorragia nas desordens hereditárias
geralmente ode ser bem discernido entre um distúrbio
plaquetário e um da coagulação.
Os distúrbios da hemostasia geralmente vêm
acompanhados de outros sinais e sintomas da doença de
base ou pela história de uso de algum medicamento.
A PTI idiopática é o principal distúrbio idiopático
adquirido da hemostasia.
ONDE ESTÁ O PROBLEMA?
O sangramento plaquetário predomina na pele e mucosas
(gengivorragia, epistaxe, menorragia, hematúria). Outra
característica é a persistência do sangramento após cortes
superficiais (fazer a barba), já que o defeito está na
hemostasia primária.
O sangramento por coagulopatia predomina nos órgãos e
tecidos internos, cujos sinais são hemartroses, hematoma
dissecante profundo.
Alguns sangramentos são comuns aos dois tipos de
desordem hemostática, tais como hemorragia cerebral,
retiniana, digestiva, menorragia.
PROVAS DE HEMOSTASIA
A contagem plaquetária varia de 150.000 a
450.000/mm3.
Os índices plaquetários principais são VPM e PDW. O
aumento do VPM sugere destruição periférica de
plaquetas, como a PTI e PTT. O estímulo aos
megacariócitos da medula óssea leva a libercao de
plaquetas maiores. Geralmente é acompanhado do
aumento do PDW (índice de anisocitose).
O tempo de sangramento (TS) é o tempo necessário
para um pequeno corte superficial na pele pare de
sangrar. Depende da hemostasia primária (plaquetas,
fVW), mas também da integridade vascular cutânea.
Não se deve pedir o TS de rotina, a não ser que houver
suspeita de distúrbio na hemostasia primária. O TS
significativamente alargado (>10min), diante de
plaquetometria normal sugere doença de VW ou distúrbio
genético da função plaquetária.
O tempo de retração do coágulo encontra-se aumentado
na trombocitopenia com plaquetas <50.000/mm3 e na
trombastenia de Glazmann. O tempo normal é de 1-3h.
O tempo de coagulação (TC) é o tempo necessário para
que o sangue coagule dentro do tubo de ensaio, à
temperatura da nossa mão. Vai de 5-10min.
O tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa),
que é de 25-35s, está alargado nas coagulopatias da via
intrínseca ou via comum, geralmente quando há
deficiência moderada a grave. Heparina não fracionada,
deficiência de fator VIII (hemofilia A), fator IX
(hemofilia B), CIVD.
O tempo de protrombina (TP ou TAP) e o INR estão
elevados nas coagulopatias da via extrínseca ou comum,
geralmente quando a deficiência é moderada ou grave.
Cumarínicos, deficiência de vit. K, insuficiência hepática,
deficiência de fator VII/X.
O tempo de trombina (TT), normal é de 5-15s. Quando
alargado ou formação do coágulo sem as características
normais significa que existe afibrinogenemia,
hipofibrinogenemia. O TT também está alargado na
presença de fatores antitrombínicos (heparina e veneno
botrópico).
PROVAS DE HEMOSTASIA
São 4 principais: contagem plaquetária, TS, TAP e
TTPa. As duas primeiras medem a hemostasia primária e
as duas últimas medem a secundária.
Se houver trombocitopenia significativa (<50.000) com
TTPa e TAP normais (sem coagulopatia) o diagnóstico
está claro. Devemos procurar as causas de
trombocitopenia (justifica o prolongamento do TS e o
tempo de retração do coágulo).
Se houver trombocitopenia + coagulopatia (alargamento
do TTPa e TAP) devemos pensar em insuficiência
hepática com hiperesplenismo, CIVD ou heparina.
Se a plaquetopenia for normal, mas o tempo de
sangramento for anormal (>10min), a suspeita recai sobre
a doença de VW.
O TTPa alterado e TAP normal, o problema está na
via intrínseca: uso de heparina, deficiência hereditária
(hemofilia A/B).
O TTPa normal e TAP alterado, o problema está na
via extrínseca: insuficiência hepática, deficiência de
vit. K, cumarínicos.
O TTPa e TAP alterados, o problema está na via
extrínseca: insuficiência hepática, deficiência de vit.
K, cumarínicos.
O TTPa e TA normais, com todos os testes
convencionais normais, as hipóteses são VW,
hiperfibrinólise e deficiência de fator XIII
desfibrinogenemia.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
DISTÚRBIOS PLAQUETÁRIOS
Os distúrbios plaquetários podem ser classificados em
desordens numéricas (trombocitopenia e trombocitose);
ou desordens da função plaquetária.
TROMBOCITOPENIA
Existem 5 mecanismos distintos:
Pseudotrombocitopenia – que é uma falsa contagem
pelo aparelho Coulter devido a artefatos técnicos. Níveis
aumentados de IgA, IgG ou IgM induzem a agregação
plaquetária no momento da coleta de sangue.
Destruição acelerada – é a causa mais comum. O
aumento do consumo ou destruição de plaquetas estimula
a trombopoiese, aumentando o número, tamanho e taxa
de maturação dos precursores megacariocíticos.
Os mecanismos imunes são responsáveis pela grande
maioria dos casos. PTI, LES, HIV.
Os mecanismos não imunes são: PTT, SHU, CIVD.
Diminuição de produção pela MO – observa-se com
frequência anemia e granulocitopenia associadas, tais
como nas mielodisplasias e anemia aplásica.
Trombopoiese ineficaz – como ocorre na eritropoiese
ineficaz pela carência de B12. A medula aumenta o
número de mega, apesar de produzirem pouca plaqueta
por um problema de maturação nuclear.
Distribuição anormal – o aumento do baço pode levar a
um sequestro de plaquetas nos cordões esplênicos e causa
trombocitopenia. Faz parte da síndrome de
hiperesplenismo.
A trombocitopenia induzida por hemodiluição é
usualmente encontrada quando o paciente recebe mais de
8-10 unidades de sangue em 24 horas.
A transfusão de plaquetas está indicada se houver
sangramento microvascular ou se houver trombocitopenia
<50.000.
PÚRPURA TROMB.
IDIOPÁTICA (PTI)
As plaquetas são destruídas de forma prematura na
circulação como resultado de autoanticorpos ou de
imunocomplexos presentes na superfície de sua
membrana.
As plaquetas são opsonizadas por anticorpos IgG e são
reconhecidas destruídas pelos histiócitos ou macrófagos.
Quando a desordem responsável pela formação destes ou
imunocomplexos é reconhecida chamamos esta condição
de PTI secundária.
Na PTI idiopática, nenhuma doença ou condição
subjacente é acompanhada. Há uma expansão da massa
megacariocítica na MO na tentativa de compensar essa
perda acelerada.
A forma infantil (aguda) é definida como a presença de
trombocitopenia em um período inferior a 6 meses, com
resolução espontânea em 90% dos casos. 2-6 anos.
Em cerca de 75% dos casos a trombocitopenia ocorre 2-3
semanas após uma infecção viral respiratória ou
exantemática.
A forma adulta (crônica) é uma doença comum que afeta
mais mulheres ente os 20-40 anos. O início é insidioso, e
uma historia de sintomas hemorrágicos de gravidade
variável é relatada pelo paciente.
Ao contrário da forma aguda, a remissão só ocorre em
10% dos casos.
A gravidade da hemorragia depende da contagem de
plaquetas. Quando inferior a 10.000/mm3 podem
apresentar sangramentos que põe em risco a sua vida
(hemorragia cerebral).
As manifestações clínicas incluem sangramento sob a
forma de petéquias, as quais surgem por causa da estase
vascular.
Equimoses na região dorsal das pernas podem ser
observadas, porém, hematomas não ocorrem por serem
frutos das desordens da coagulação.
O sangramento menstrual excessivo pode ser o primeiro
sinal da doença. Pode haver melena, hematêmese.
O diagnóstico de PTI é de exclusão. O aspirado de MO
costuma ser realizado para afastar outras causas
hematológicas, como as leucemias e mielodisplasias.
Mostra uma medula normal ou leve moderada hiperplasia
do setor megacariocítico.
O tratamento da PTI infantil: geralmente é
autolimitada, com recuperação espontânea da
plaquetometria após 4-6 semanas. Crianças com
<30.000/mm3 que apresentam sangramento mucoso
devem ser tratadas com prednisona 2mg/kg/dia.
Na PTI do adulto quase sempre é crônica, exigindo
tratamento na maioria dos casos. Todos os pacientes
inferiores a 20.000/mm3 ou <50.000/mm3 com
sangramento mucoso, requerem tratamento. A droga de
escolha é a prednisona durante 4-6 semanas.
O corticoide age de varias maneiras: reduz a fenestração
endotelial (reduz o sangramento cutâneo-mucoso), reduz
os receptores Fcy dos macrófagos e inibe a produção de
anticorpos pelo baço e MO.
A esplenectomia eletiva deve ser recomendada nos
pacientes que recaem durante a diminuição da dose de
prednisona e naqueles com contagem inferiores a 20-
30.000/mm3por um período de maior que 3 meses.
A esplenectomia de urgência é indicada nos indivíduos
com trombocitopenia grave (<10.000) que não responde à
terapia esteroide nas primeiras 6 semanas.
A imunoglobulina venosa polivalente é uma alternativa
para a PTI refretária, que possui maior eficácia a curto
prazo, com rápido efeito. Ocupa os receptores Fcy da
membrana dos histiócitos e macrófagos, evitando a
fagocitose das plaquetas sensibilizadas. O anticorpo
anti-D também ocupa os receptores Fcy dos macrófagos
esplênicos (tal como a imunoglobulina).
A PTI refratátia é definida pela presença de
trombocitopenia <50.000 por mais de 3 meses apesar da
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
esplenectomia. Para aqueles com sangramento ou
plaquetopenia <20.000 alguma medida está indicada.
Inicialmente, pode ser tentado o esquema de pulsos de
dexametasona. Rituximab para os refratários ao
corticoide.
A transfusão de plaquetas, a princípio, não está indicada,
pois as plaquetas transfundidas teoricamente seriam
rapidamente destruídas pelos anticorpos.
PTI SECUNDÁRIA
A trombocitopenia induzida por drogas é resultado de
uma reação idiossincrásica, tal como quinidina ou
heparina.
Um autoanticorpo é dirigido contra a droga e reage
também conta a GPIIb/IIIa na membrana plaquetária,
resultando na ativação e agregação plaquetária, levando a
trombocitopenia associada a uma paradoxal pré-
disposição à trombose.
O quadro clínico a plaquetopenia associada a medicações
(exceto heparina) é caracterizado por hemorragias graves
com sangramento mucoso, petéquias e equimoses.
Pode haver as formas relacionadas à gestação, ao LES,
HIV e outras causas (infecções virais, LLC).
PÚRPURA TROMB.
TROMBÓTICA (PTT)
A PTT é caracterizada pela oclusão trombótica
disseminada da microcirculação, levando à síndrome de
anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia,
sintomas neurológicos, febre e insuficiência renal.
A fisiopatologia envolve a lesão endotelial, cujas células
liberam fatores de ativação plaquetária (fVW de maior
tamanho).
Os microtrombos formam-se nas arteríolas terminais e na
rede capilar, sendo constituídos na sua maior parte por
plaquetas e fVW, com pouca fibrina. Estes são
responsáveis pela isquemia, consumo de plaquetas e lise
de hemácias.
É definida pela pêntade: anemia hemolítica;
trombocitopenia; sintomas neurológicos; febre e
insuficiência renal.
Os primeiros sintomas são mal-estar, febre, fraqueza,
seguidos por um quadro variável de cefaleia, paralisia de
pares cranianos, afasia, hemiparesia, confusão mental,
coma e convulsão.
Por ser intravascular é comum a hemoglobinúria e
hemossiderinúria. O achado clássico é a presença de
esquizócitos.
Ao contrário da CIVD, as provas da coagulação (TP,
TTPa) estão normais, a não ser por um leve aumento dos
PDF (produtos de degradação de fibrina). O sedimento
urinário mostra hematúria e proteinúria.
O diagnóstico é confirmado pela biópsia (pele, gengiva,
MO) em 50% dos casos. O achado característico é
representado pelos depósitos hialinos subendoteliais.
O tratamento é feito com plasmaférease (retirada do fVW
de alto peso, dos fatore pró-agregantes e
imnuocomplexos)
Vale ressaltar que a transfusão de plaquetas é
formalmente CONTRAINDICADA na PTT, pelo risco
de aumentar a formação dos microtrombos, piorando a
função neurológica e renal.
DESORDENS FUNCIONAIS
HEREDITÁRIAS
TROMBASTENIA DE GLAZMANN
Consiste numa agregação plaquetária defeituosa em
resposta ao ADP, colágeno, trombina e adrenalina.
O defeito consiste em uma deficiência da glicoproteína
IIb/IIIa.
O laboratório revela tempo de sangramento prolongado,
ausência de clamps paquetários no esfregaço e plaquetas
que não se agregam in vitro.
SÍNDROME DE BERNARD-SOULIER
Caracteriza-se por uma deficiência da GP-Ib, responsável
pela ligação do fVW durante a adesão plaquetária ao
subendotélio.
DESORDENS FUNCIONAIS
ADQUIRIDAS
DISFUNÇÃO PLAQUETÁRIA URÊMICA
Há uma diminuição na ativação, agregação e adesividade
plaquetária.
As plaquetas de pacientes com insuficiência renal
necessitam de maior quantidade de fVW para se
manterem aderidas à parede do vaso.
A anemia com valores <24% piora a função plaquetária.
A administração de crioprecipitado e DDAVP melhora as
propriedades de adesão das plaquetas por aumentar a
atividade do fVW.
DROGAS ANTIPLAQUETÁRIAS
O AAS inibe, irreversivelmente, a função plaquetária.
Os AINEs inibe a função plaquetária reversivelmente,
bloqueando a síntese de prostaglandinas.
A ticlopidina e clopidogrel inibem a ativação plaquetária
pelo ADP por bloquear os receptores purinérgicos da
membrana da plaqueta.
QUANDO INDICAR A
TRANSFUSÃO?
De uma forma geral, a transfusão terapêutica está
indicada nos sangramentos úmidos ou graves associados
á contagem de plaquetas inferior a 50.000/mm3 o a
desordens qualitativas (TS anormal).
A transfusão profilática (pacientes não sangrantes) está
indicada quando <10.000 ou <20.000 com febre ou
infecção.
A trombocitopenia só contraindica os procedimentos
cirúrgicos se houver <50.000/mm3. Se for um
procedimento neurocirúrgico ou oftalmológico, a
contagem sobe para 100.000/mm3.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
DISTÚRBIOS DA COAGULAÇÃO E DvWB
DOENÇA DE VON
WILLENBRAND
A doença de VW é a desordem hemorrágica hereditária
mais comum.
O fVW é o responsável pela adesividade plaquetária ao
colágeno em sítios de lesão vascular. Outra função
importante pe formar um complexo com o fator VIII,
funcionando como sua proteína de transporte e
impedindo qu este seja depurado da circulação.
O distúrbio afeta basicamente o componente primário da
hemostasia, pelo prejuízo da adesão plaquetária.
Na DVW tipo 1, responsável por 80% dos casos, há uma
redução leve e moderada nos níveis do fVW.
No tipo 2, os níveis plasmáticos são normais, porém há
um defeito do fator ou no tamanho do multímeros. O
resultado é a formação de agregados que rapidamente são
depurados do plasma.
A DVW tipo 3 é raríssima, e cursa com ausência total fo
fator, com atividade do fator VIII baixíssima.
A maioria dos pacientes com DVW possui forma leve,
isto é, sem hemorragia espontânea. A suspeita sobrevém
quando há sangramento imediato após trauma ou
procedimentos invasivos (extração dentária).
Os achados laboratoriais são: TS alargado, TTPa
alargado (pela deficiência parcial secundária do fator
VIII) e demais provas da hemostasia normais.
O TTPa já pode alargar quando a atividade plasmática do
fator VIII é inferior a 30%. A deficiência do fator VIII só
é sintomática quando a atividade é menor que 5%.
A DVW pode cursar com todas as provas da hemostasia
normais.
O diagnóstico é feito com o teste de Ristocetina e
medida do antígeno do fVW pelo ELISA.
O tratamento deve evitar as drogas antiplaquetárias
(AAS).
A profilaxia do sangramento operatório pode ser feita
com DDAVP, que aumenta a síntese endotelial do fVW.
A terapia mais eficaz, independente do tipo, é a reposição
de concentrado ricos em fVW. O crioprecipitado é um
componente do sangue rico em fVW, tendo a
desvantagem do risco maior de transmissão infecciosa,
mas a vantagem do baixo custo.
Para procedimentos dentários, uma opção é a profilaxia
com antifibrinolíticos.
HEMOFILIAS
O defeito consiste numa atividade muito baixa do fator
VIII(A) ou do IX(B).
As manifestações clínicas da hemofilia A ou B são
indistinguíveis. A maior parte dos pacientes com
hemofilia A (70%) possui forma grave, com atividade do
ftor VIII com 1% do normal.
Se o parto não for traumático ou com vácuo/forcps,
raramente há hemorragia intracraniana.
Os primeiros sinais e sintomas surgem por volta dos 4-6
anos, com aparecimento de hemartroses em uma grande
articulação. A hemorragia é proveniente dos capilares
subsinoviais e provoca dor intensa.
A punção do espaço articular é contraindicada pelo risco
de infecção (apenas na dúvida diagnóstica).
Outras manifestações incluem a compressão de nervos
periféricos e provocar síndrome compartimental,
hematomas retroperitoneais, hematomas do psoas (simula
apendicite)
A hemorragia intracraniana ocorre em 10% dos casos
com 30% de mortalidade, sendo a segunda causa de
morte, perdendo apenas para a SIDA. Pode haver
hematoma orofaríngeo, com obstrução das vias aéreas
altas e morte por asfixia.
O laboratório revela apenas um distúrbio na via intrínseca
da coagulação, ou seja TTPa alargado.
O diagnóstico é confirmado pelo ensaio especifico para
os fatores VIII e IX.
O tratamento da hemofilia A é feito com fator VIII
purificado ou recombinante. A reposição dos preparados
com fator VIII está indicada sempre que houver
hemorragia no reparo pré/perioperatório.
A terapia adjuvante é feita com DDAVP. Os
antifibrinolíticos podem ser usados como adjuvantes
antes de procedimentos dentários, porém são
contraindicados na vigência de hematúria por formar
coágulos no sistema excretor.
O tratamento da hemofilia B é feito com fator IX
purificado ou recombinante.
OUTRAS COAGULOPATIAS
HEREDITÁRIAS
A deficiência de fator XI é chamada de hemofilia C,
t´pica de judeus. Esse fator é o único componente que do
sistema de contato que pode provocar sangramento
quando ausente ou atividade reduzida. Os sangramentos
espontâneos, as hemartroses e intracerebrais são raros. O
tratamento é com plasma fresco congelado.
Nas disfibrinogenemias o fibrinogênio é produzido de
forma defeituosa, gerando propriedades alteradas. A
cicatrização pode estar prejudicada e a deiscência das
suturas é uma complicação comum. Tratamento com
crioprecipitado.
A deficiência do fator XIII, o paciente sangra desde o
nascimento, evoluindo para hemorragia grave. É feito o
teste de solubilidade dos coágulos à ureia (teste de ureia).
DEFICIENCIA DE VITAMIA K
É um cofator fundamental para a gama-carboxilação dos
fatores II,V, IX e X, além dos anticoagulantes proteína C
e S.
Os estados deficitários são: recém-nascido, paciente
debilitado em uso de antibióticos, síndromes de má
absorção intestinal e colestase/hepatopatias.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Aplicação de vitamina K ao RN para evitar a doença
hemorrágica do RN.
ANTICOAGULANTES E
ANTIFIBRINOLÍTICOS
HEPARINA
É um polissacarídeo capaz de se ligar ao anticoagulante
endógeno antitrombina III, aumentando intensamente a
atividade antitrombina e antifator Xa.
Inibe as vias intrínseca e comum, alargando o TTPa.
A heparina não-fracionada (HNF) é capaz de inativar a
trombina(IIa) e fator Xa, na presença de antitrombina III.
A HBPM inibe fortemente o fator Xa e fracamente a
trombina (não alarga o TTPa).
Os grandes polímeros de HNF se ligam a proteínas
plasmáticas, ao fator 4 plaquetário e ao endotélio.
Algumas proteínas ligadores são reagentes de fase aguda,
exacerbando a ligação em pacientes críticos.
O resultado é uma resposta extremamente variável de
paciente para paciente, tornando obrigatório o controle
do INR (1,5-2,5).
Como a ligação proteica da HBPM é baixa, não há
necessidade de controlar o TTPa quando esta forma de
heparina é escolhida.
Os efeitos adversos são: sangramento, osteoporose,
trombocitopenia imune.
O tratamento é a suspensão do fármaco ou administração
de protamina.
CUMARÍNICOS (WARFARIN)
É o principal anticoagulante oral. Age inibindo a reacao
de gama-carboxilacão dependente de vitamina K (II, V,
IX e X) e proteína C/S.
Pode haver efeitos sinérgicos com outras drogas: no caso
da amiodarona que aumenta o efeito do cumarínico,
predispondo o sangramento.
O tratamento é a suspensão do fármaco, ou plasma
fresco, vitamina K1 ou Prothromplex.
TROMBOLÍTICOS
Agem convertendo o plasminogênio em plasmina (capaz
de dissolver os polímeros de fibrina do trombo).
A estreptoquinase é o mais usado e não é fibrino-
específico, ou seja, atua tanto no plasminogênio ligado a
fibrina quanto no plasminogênio livre no plasma.
DOENÇA HEPÁTICA
O hepatócito sintetiza todos os fatores da coagulação,
logo, quando há sofrimento hepático, poderá ocorrer
coagulopatias.
Por não haver resposta significativa à vitamina , o
pacientes hepatopatas graves que apresenta hemorragia
devem ser abordados com plasma fresco congelado, que
repõe os principais fatores depletados.
CIVD
Ocorre liberação u exposição do fator tecidual como
principal fator na gênese desta síndrome.
Há uma coagulação exacerbada a ponto de levar à
formação da fibrina em vários pontos da
microvasculatura, consumindo plaquetas, fatores de
coagulação e hemácias, com obstrução de pequenos
vasos.
Diferentemente da PTT, os microtrombos são
constituídos principalmente por fibrina.
De todos os fatores, o mais depletados é o fibrinogênio
(fator I), que pod chegar a valores indetectáveis. Como
consequência à hiperfibrinólise, temos o aumento dos
PDF (produtos de degradação de fibrina).
A forma aguda: relacionada à sepse, trauma,
complicações obstétricas, LMA.
A forma crônica: quase sempre relacionada a tumores
sólidos secretores de fator tecidual.
O diagnóstico de CIVD agudo deve ser suspeitado em
qualquer paciente grave, que se apresenta com diátese
hemorrágica.
A hemostasia primária está prejudicada pincipalmente
pelo consumo plaquetário (trombocitopenia).
Os critérios que definem o diagnóstico são:
hipofibrinogenemia, aumento dos PDFs, alargamento do
TTPa, TP e TT, trombocitopenia, anemia hemolítica com
esquizócitos.
Os pacientes fazem microtrombocitose difusa, levando à
insuficiência renal aguda, disfunção hepática, depressão
do sensório e gangrena.
O prognóstico da CIVD não é bom, já reflete a doença de
base geralmente grave.
Não se sabe se o mecanismo de óbito é pela própria
CIVD ou simplesmente pela SIRS.
O sangramento deve ser abordado com a reposição de
plaquetas, plasma fresco congelado e crioprecipitado.
O beneficio do uso da heparina em baixas doses não foi
comprovado na CIVD aguda. A depleção da antitrombina
II talvez justifique a ineficácia desta abordagem.
Na CIVD crônica a heparinização está indicada para
evitar formação de microtrombos.
Os antifibrinolíticos são contrindicados em qualquer
forma de CIVD, pois podem agravar a microtrombose.
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
HEMOTRANSFUSÃO
INDICAÇÕES
CONCENTRADO DE PLAQUETAS
Está indicado em 3 situações: anemia, hemorragia e
pré/peroperatório.
A Hb e o Ht nunca podem ser os únicos parâmetros para
decidir a necessidade de transfusão.
Na hemorragia aguda – uma perda de volemia superior a
30% (>1500ml) deve sempre requerer a transfusão de
concentrados de hemácias, em conjunto com a reposição
volemia de cristaloides.
Nos indivíduos com instabilidade hemodinâmica ou
comorbidades transfunde com uma perda de 15% da
volemia.
Durante o pré/peroperatório recomenda-se transfundir se
Hb<8g/dl nas seguintes situações: perda prevista para >1L
ou distúrbio da hemostasia. Recomenda-se transfundir se
Hb<10g/dl na seguinte condição: perda prevista de >1L
em pacientes com comorbidade respiratória o
cerebrovascular.
Em todos os outro casos, recomenda-se transfundir apenas
se Hb<7g/dl.
No caso da anemia, recomenda-se transfundir quando
anemia descompensada, insuficiência, alteração do
sensório.
Cada bolsa de hemácias corresponde à elevação de 1g/dl.
CONCENTRADO DE PLAQUETAS
A transfusão de plaquetas está contraindicada na PTT por
aumentar a formação de microtrombos. O mesmo é válido
para a trombocitopenia induzida por heparina.
PLASMA FRESCO CONGELADO
Não se utiliza mais PFC para a reposição de coloide nos
estados de hipovolemia, bem como na cicatrização pós-
operatória.
As indicações atuais são para a reposição dos fatores de
coagulação: cumarínicos, insuficiência hepática, CIVD,
PTT e coagulopatias hereditárias (exceto hemofilia A).
Na presença dos distúrbios acima, o PFC só esta indicado
se houver sangramento por coagulopatia ou procedimento
invasivo com INR>1,5, atividade da protrombina <55%
ou TTPa>55s.
CRIOPRECIPITADO
Contem uma concentrado rico em fibrinogênio, fator VIII,
fVW, Fator XIII e fibronectina.
Atualmente a indicação do crioprecipitado é para repor
fibrinogênio na CIVD, afibrionogenemia e
hipofibrinogenemia hereditária.
Eventualmente, o crioprecipitado é usado no tratamento
da doença de VW. Para repor o fator XIII.
ARMAZENAMENTO
Quando o meio conservante é o CPDA-1, o concentrado
de hemácias é válido até 35 dias. Quando conservado no
meio AS-1 a validade é de 42 dias.
O concentrado de plaquetas dever ser armazenado numa
faixa de temperatura entre 20-24º C, de preferencia em
agitação continua. Validade de 5 dias.
P plasma fresco congelado (PFC) possui validade de 1
ano.
SELEÇÃO DO DOADOR
O doador deve ser voluntário, com mais de 18 anos e mais
de 50kg, ao quais protegem contra consequências da
retirada de sangue.
Determina-se o grupo ABO, Rh, pesquisa de
aloanticorpos e prova cruzada.
É feita uma bateria de exames: anti-HIV 1e 2, antígeno
p24, anti-HTLV, anti-HCV, AgHBs e anti-HBc, VDRL e
sorologia para Chagas.
O sistema ABO possui 45% de O, 40% de A, 11% B e 4%
AB.
Os anticorpos anti-A e anti-B são do tipo IgM e possuem
alto poder de aglutinar hemácias e de ativar o sistema
complemento até a formação do complexo de ataque à
membrana.
O sistema Rh possui 5 antígenos. O antígeno D tem uma
importância única, pelo seu grande potencial imunogênico
e por ser o grande responsável pela doença hemolítica
perinatal aloimune.
Quando dizemos Rh positivo, significa a presenc de
antígeno D nas hemácias e Rh negativo, a sua ausência.
O anticorpo anti-D, por ser uma IgG tem propriedades de
uma aglutinina fraca, além de ativar fracamente o sistema
complemento. Na tipagem sanguínea utiliza-se o anti-D,
uma proteína de carga negativa que facilita a interação das
hemácias e permite a aglutinação com o anti-D.
Quando o anti-D se liga às hemácias, elas sofrem um
processo de opsonização, permitindo o reconhecimento e
destruição pelos macrófagos esplênicos, acarretando
hemólise extravascular.
Alguns pacientes ditos Rh negativos, na verdade, possuem
pequenas quantidade do antígeno D na membrana de suas
hemácias – são os chamados “D fracos”.
Na prática transfusional, o grupo D equivale ao Rh
positivo, não podendo doar para receptores Rh negativos.
A principal razão para a realização da prova cruzada é a
garantia absoluta de prevenção contra o erro de
incompatibilidade sanguínea em relação ao ABO.
COMPLICAÇÕES DA
HEMOTRANSFUSÃO
Aloimunização – algumas a transfusão sanguínea
estimula a produção de aloanticorpos contra os antígenos
presentes na membrana das
hemácias/leucócitos/plaquetas.
Reação transfusional hemolítica aloimune
HEMATOLOGIA – DIÓGENES LIMA – UFCG 2013
Incompatibilidade ABO – como os anti-A/anti-B são
anticorpos IgM e têm alto potencial de ativação do
sistema complemento, o resultado é uma intensa
hemólise intravascular que se inicia logo após a
transfusão. O sistema complemento é ativado,
produzindo fatores quimiotáticos para os neutrófilos
que liberam citocinas pró-inflamatórias e ativam o
sistema de coagulação, provocando CIVD. A conduta
é a hidratação vigorosa, seguida por terapia de suporte
respiratório e hemodinâmico.
Incompatibilidade Rh – é mais comum, porém mais
branda. O receptor é sensibilizado previamente ou
sofre aloimunização para o antígeno D. Os anticorpos
anti-D são IgG, não ocorrndo hemólise intravascular
imediata como na ABO. Mas os anti-D revestem a
membrana das hemácias do doador, “opsonizando-as”
para serem destruídas pelos macrófagos esplênicos
(extravascular).
Reação febril não hemolítica – é a mais comum das
complicações pós-transfusionais, principalmente com uso
das plaquetas. Ocorre por dois mecanismos:
aloimunização contra antígenos HLA de leucócitos
(presentes no concentrado) e formação de citocinas (IL-1).
Sepse bacteriana – é uma complicação grave. Contudo a
Yersinia enterocolytica sobrevive à temperatura de
armazenamento do concentrado de hemácias, sendo então
a bactéria mais comum na sepse por transfusão. No
concentrado de plaquetas a chance é maior
(armazenamento a 22º C).
Injúria pulmonar relacionada à transfusão – os
aloanticorpos do plasma do doador que reagem contra os
leucócitos do receptor, induzindo-os a se agregarem e
aderirem ao epitélio alveolar, liberando citocinas e
aumentando a permeabilidade vascular.
Reação alérgica ao plasma – os pacientes que fazem
alergia são os que possuem deficiência hereditária de IgA.
Doença enxerto-versus-hospedeiro – alguns linfócitos T
citotóxicos presentes nos concentrados de hemácias ou
plaquetas. Esta grave complicação aumenta a sua
incidência quando o sangue transfundido foi doado por
um parente, com HLA compatível. Logo, o sangue doado
NÃO desse ser aproveitado em paciente enfermo. Deve
receber sangue de doadores não aparentados.
Hemotransfusão maciça
Hipotermia (grande quantidade de sangue frio),
alcalose metabólica (pH do concentrado é baixo),
hipercalemia (potássio extravasado no
armazenamento), hipocalaemia transitória (presença
do citrato na bolsa), hipervolemia e congestão
pulmonar (descompensação pela hipervolemia),
trombocitopenia dilucional (causa mais comum),
coagulopatia dilucional.