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Introdução à Constelações Familiares

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Introdução à Constelações Familiares

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Constelação familiar

Constelação Familiar é uma abordagem recente, fenomenológica, sistêmica,

não empirista ou subjetiva, desenvolvido pelo filósofo alemão Bert Hellinger.

Introdução e Desenvolvimento do método: Bert Hellinger desenvolveu seu

método, a partir de observações empíricas, como missionário católico na África

do Sul. Estudou, a partir de então, psicanálise e diversas formas de

psicoterapia familiar, os padrões de comportamento que se repetem nas

famílias e grupos familiares ao longo de gerações.

Hellinger se deparou com um fenômeno descortinado pela psicoterapeuta

americana Virginia Satir nos anos 70, quando esta trabalhava com o seu

método das “esculturas familiares”: que uma pessoa estranha, convocada a

representar um membro da família, passa a se sentir exatamente como a

pessoa a qual representa, às vezes reproduzindo, de forma exata, sintomas

físicos da pessoa a qual representa, mesmo sem saber nada a respeito dela.

Esse fenômeno, ainda muito pouco compreendido e explicado, já havia sido

descrito anteriormente por Levy Moreno, criador do psicodrama. Algumas

hipóteses têm sido levantadas também utilizando-se da teoria de evolução dos

"campos morfogenéticos", formulada pelo biólogo britânico Rupert Sheldrake e

apoiando-se em conceitos da Física Quântica como, por exemplo, a não

localidade.

De posse de detalhadas observações sobre tal fenômeno, Hellinger adquiriu

experiência e, baseado ainda na técnica descrita por Eric Berne e aprimorada

por sua seguidora Fanita English de “análise de histórias”, descobriu que

muitos problemas, dificuldades e mesmo doenças de seus clientes estavam

ligados a destinos de membros anteriores de seu grupo familiar.

As descobertas fundamentais

Hellinger descobriu alguns pontos esclarecedores sobre a dinâmica da

sensação de “consciência leve” e “consciência pesada”, e propôs uma

“consciência de clã” (por ele também chamada de “alma”-- no sentido de algo

que dá movimento, que “anima”), que se norteia por “ordens” arcaicas simples,

que ele denominou de “ordens do amor”, e demonstrou a forma como essa

consciência nos enreda inconscientemente na repetição do destino de outros

Page 3: Introdução à Constelações Familiares€¦ · Introdução à Constelações Familiares . Constelação familiar Constelação Familiar é uma abordagem recente, fenomenológica,

membros do grupo familiar. Essas ordens do amor referem-se a três princípios

norteadores:

1 - a necessidade de pertencer ao grupo ou clã.

2 - a necessidade de hierarquia dentro do grupo ou clã.

3 - a necessidade de equilíbrio entre o dar e o receber nos

relacionamentos.

As ordens do amor são forças dinâmicas e articuladas que atuam em nossas

famílias ou relacionamentos íntimos. Percebemos a desordem dessas forças

sob a forma de sofrimento e doença. Em contrapartida, percebemos seu fluxo

harmonioso como uma sensação de estar bem no mundo.

O procedimento

A “constelação familiar” consiste em uma vivência na qual um cliente apresenta

um tema de trabalho e, em seguida, o terapeuta solicita informações factuais

sobre a vida de membros de sua família, como mortes

precoces, suicídios, assassinatos, doenças graves, casamentos anteriores,

número de filhos ou irmãos.

Com base nessas informações, solicita-se ao cliente que escolha entre outros

membros do grupo, de preferência estranhos a sua história, alguns para

representar membros do grupo familiar ou ele mesmo. Esses representantes

são dispostos no espaço de trabalho de forma a representar como o cliente

sente que se apresentam as relações entre tais membros. Em seguida, guiado

pelas reações desses representantes, pelo conhecimento das "ordens do

amor" e pela sua conexão com o sistema familiar do cliente, o terapeuta

conduz, quando possível, os representantes até uma imagem de solução onde

todos os representantes tenham um lugar e se sintam bem dentro do sistema

familiar.

Nos anos de 2003 a 2005, Hellinger apurou sua forma de trabalho para um

desenvolvimento ainda mais abrangente, que ele denominou de "movimentos

da alma". Estes abrangem contextos mais amplos do que o grupo familiar, tais

como o grupo étnico. Descobriu e descreveu ainda os efeitos das intervenções

(chamados de “ajuda”) e os princípios que efetivamente norteiam a ajuda

efetiva, criando assim também as chamadas “ordens da ajuda”.

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Aplicações

A abordagem apresenta uma vasta gama de aplicações práticas devido aos

seus efeitos esclarecedores no campo das relações humanas, como:

melhoria das relações familiares.

melhoria das relações interpessoais nas empresas.

melhoria das relações no ambiente educacional.

Tais aplicações deram início a abordagens derivadas, denominadas de

constelações familiares, constelações organizacionais e pedagogia sistêmica.

Em 2018, no Brasil, o Ministério da Saúde, incluiu a sua prática no Sistema

Único de Saúde (SUS), como parte da Política Nacional de Práticas

Integrativas e Complementares(PNPIC).

O Brasil é o pioneiro no uso das Constelações Familiares pelo Judiciário,

trabalho que se iniciou com o Juiz Sami Storch. Este uso está se expandindo

rapidamente e já abrange 16 estados Brasileiros. Os dados do judiciário

mostram que o uso da Constelação Familiar aumentou significativamente os

índices de conciliação em processos judiciais de guarda de crianças, alienação

parental, inventários e pensão alimentícia. No judiciário, a intenção não é fazer

terapia, mas a conciliação. Mas uma porta se abre, caso a pessoa deseje ir

mais fundo na sua questão e buscar ajuda terapêutica.

1. Ir para cima↑ Neurônios espelho, Física Quântica, campos mórficos e

Constelações Familiares - por Idris Lahore

2. Ir para cima↑ Saúde, Ministério da. «Ministério da Saúde inclui 10 novas

práticas integrativas no SUS». portalms.saude.gov.br. Consultado em

18 de abril de 2018.

3. Ir para cima↑ «Constelação pacifica conflitos de família no Judiciário -

Portal CNJ». www.cnj.jus.br. Consultado em 6 de setembro de 2018.

Críticas

A Constelação Familiar tem causado polêmica em alguns meios religiosos que

tentam explicá-la mesmo sem o devido conhecimento deste assunto. É muito

comum nestes meios, a confusão desta abordagem terapêutica com preceitos

religiosos, o que são assuntos completamente distintos e independentes.

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Embora os participantes de sessões de Constelações Familiares reportem

resultados positivos (Cohen 2009; Cohen 2005; Franke 2003; Lynch & Tucker

2005; Payne 2005), por ser uma abordagem recente, ainda não existem

estudos científicos conclusivos.

Constelações Familiares A história de nossa família nos pertence. Estamos a ela vinculados, ela é uma

parte de nós e marca a nossa personalidade, com todas as forças e fraquezas

que temos.

A Constelação visa, de forma prática e vivencial, dissolver antigos padrões

(conflitos e doenças que se repetem) familiares que de alguma forma impedem

o livre fluxo de amor entre os membros de um sistema.

Ela atua de forma direta nas questões do sistema familiar, abrindo espaço para

uma nova compreensão e cura desses padrões. A solução torna-se possível

quando a ordem básica sistêmica é restabelecida, os familiares excluídos

voltam a ser respeitados e aceitamos a nossa herança familiar.

Através de um desenho vivo, energético e sensorial de sua Constelação

Familiar pode-se, passo a passo, dissolver os emaranhamentos familiares

inconscientes e chegar-se, assim, a uma solução nova e libertadora.

O QUE É CONSTELAÇÃO

É uma nova abordagem da Psicoterapia Sistêmica Fenomenológica criada e

desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger após anos de pesquisas com famílias,

empresas e organizações em várias partes do mundo, buscando o diagnóstico

e solução de problemas e conflitos. O resultado desses experimentos se

transformou em um trabalho simples, direto e profundo que se baseia em um

conjunto de “leis” naturais que regem o equilíbrio dos sistemas que o próprio

Bert gosta de chamar de “Ordens do Amor”.

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O SISTEMA FAMILIAR

Bert Hellinger acrescenta que mais de 50% dos nossos problemas são de

origem sistêmica. Esse trabalho é, então, uma oportunidade de descobrirmos

de que forma continuamos enredados dentro do sistema familiar e que papéis

assumimos inconscientemente. Somente encontrando o verdadeiro papel que

nos cabe dentro da família, podemos nos sentir livres e resgatar nossa vida

com dignidade e totalidade.

FORTALECENDO NOSSAS RAÍZES

Nossa família nos fortalece e nos apóia quando conhecemos e nos rendemos

às leis ou ordens que regem nosso sistema familiar. Ela nos enfraquece

quando essas mesmas ordens são desconhecidas ou desrespeitadas, gerando

toda sorte de emaranhamentos ou desequilíbrios familiares. Fazer a sua

Constelação Familiar significa trazer força e equilíbrio para você e para todo o

seu sistema familiar.

EM QUE PROBLEMAS A CONSTELAÇÃO PODE AJUDAR?

A Constelação Familiar pode ajudar em todos os problemas de origem

sistêmica. Então, desde problemas de relacionamento de casal, com filhos,

todos os tipos de vícios, problemas emocionais, dificuldades diversas, até

problemas de saúde física podem ser compreendidos, amenizados e muitas

vezes solucionados com a ajuda da Constelação Familiar e com a

disponibilidade do cliente realizar mudanças em sua vida prática, a partir das

novas informações a que teve acesso na Constelação.

FAZENDO A SUA CONSTELAÇÃO

Fazer uma Constelação Familiar significa, de um modo simples, encontrar

soluções para problemas específicos que você está vivendo, ou mesmo,

buscar a origem de uma doença de algum membro da família. Desde questões

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emocionais a acontecimentos trágicos no seio familiar, as Constelações

revelam e buscam soluções práticas e simples, trazendo à tona aquilo que é

essencial no momento e que muitas vezes foi esquecido ou renegado.

AS ORDENS DO AMOR

Este é um convite para trilharmos juntos um caminho de amor e compreensão

para dentro das complexidades do nosso sistema familiar. Conhecer as “ordens

do amor” é uma meta essencial para evitarmos muitas crises e enfermidades

que vivemos em virtude do desconhecimento das leis naturais que regem os

nossos sistemas familiares e sociais.

Seis importantes ordens e princípios

1. Cada membro de uma família pertence a ela igualmente. Cada família tem

um vínculo interno muito forte, a despeito do quão desunida ela pareça

quando olhamos de fora. Todos os membros de uma família merecem

atenção. Se alguém é expulso, ele será representado por um membro que

nascer mais tarde, o qual irá impor a si mesmo um destino similar.

2. A morte precoce de um membro da família tem um forte efeito sobre todo o

sistema. Uma inclinação para morrer advém nos irmãos do morto, devido a

suas conexões com ele. Isto é expresso através da frase “ Eu seguirei você”.

Se alguém carrega algo assim e mais tarde tem filhos, estes percebem isto e

tentam aliviar os pais. Isto é expresso pela frase “Melhor eu do que você”.

Esta inclinação para a morte se mostra através da doença e de

comportamentos perigosos (esportes radicais, uso de drogas).

3. Crianças tomam sentimentos de outros membros da família. Isto ocorre de

dois modos: ou elas compartilham fortes sentimentos de outros membros da

família ( elas ajudam a carregar estes sentimentos por assim dizer ), ou elas

tomam para si sentimentos não expressos. Por exemplo, uma avó submissa

é abusada fisicamente por seu marido. Ela tem então uma neta que por sua

vez fica enraivecida com seu marido por nenhuma razão aparente. Na

constelação familiar torna-se claro que a neta carrega a raiva de sua avó.

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4. As crianças são leais aos seus pais (pai e mãe). As crianças quase sempre

lidam com seu prórpio destino de modo a impedir que elas mesmas tenham

um destino melhor que o de seus pais. Devido a esta lealdade elas tendem a

repetir o destino destes pais e seus infortúnios.

5. Há uma ordem na família que precisa ser respeitada. A pessoa que vem

primeiro, seja um irmão ou um parceiro, toma o primeiro lugar. Os outros

seguem esta ordem cronológica. Estes lugares precisam ser respeitados

sem julgamento ou valorização, apenas percebidos como são.

6. Há uma organização espacial básica que é preferível. Há uma ordem básica

na qual todos os membros de uma família se sentem bem, desde que se

garanta que todas a conexões negativas tenham sido resolvidas. Nesta

ordem os pais ficam à frente de seus filhos com o pai ficando no primeiro

lugar e a mãe seguindo no sentido horário a ele (quando olhamos de cima).

As crianças devem ficar olhando seus pais seguindo o sentido horário de

acordo com sua ordem cronológica do mais velho para o mais novo.

Constelação Familiar de Bert Hellinger: as “Ordens do Amor”. O Direito

de Pertencer.

“Muita gente julga que o amor tem o poder de superar tudo, que é preciso

apenas amar bastante e tudo ficará bem. (…). Para que o amor dê certo, é

preciso que exista alguma outra coisa ao lado dele. É necessário que haja o

conhecimento e o reconhecimento de uma ordem oculta do amor. ”

Bert Hellinger

Bert Hellinger, além de terapeuta é um pensador e pesquisador magnífico.

No alto de seus 91 anos conseguiu atingir uma grande percepção e sabedoria

a respeito da alma humana e, descobriu ao longo de 30 anos de trabalho, de

maneira determinada, séria e devotada, uma série de leis ocultas que atuam

sobre as pessoas, grupos, famílias e até nações.

Essas leis vêm sendo ignoradas por toda a história da humanidade, causando

grandes distúrbios, conflitos e dores em escala individual e coletiva.

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A primeira lei se refere à pertinência: Todos têm o igual direito de pertencer.

A segunda lei se refere ao equilíbrio entre dar e receber.

A terceira lei diz que há uma hierarquia de tempo: os mais antigos vêm primeiro

e na sequencia os mais novos.

Bert Hellinger descobriu essas leis através da aplicação da terapia das

Constelações familiares, que ele desenvolveu ao longo de anos. Esse processo

foi cada vez mais profundo e ampliado a percepção dele sobre o

funcionamento de casais, famílias, empresas, comunidades e paises. O

terapeuta alemão chegou à conclusão que todo grupo funciona como um

organismo vivo que se autorregula para permitir que sobreviva ao longo do

tempo.

Em cada Constelação Familiar realizada, Hellinger foi deduzindo um

conhecimento sobre as leis ou “ordens” ocultas da vida. Ele observava um

fenômeno e dali deduzia algo que se demonstrava enquanto uma ordem básica

da vida (método fenomenológico).

Nenhum trabalho foi tirado da teoria para chegar à prática, mas sim ao

contrário, da prática para a teoria.

O trabalho é simples, pois atua com questões essenciais da vida como o

relacionamento familiar. E apesar da simplicidade, ele toca nas dimensões

mais sutis da alma familiar (alma não no sentido religioso, mas no sentido latino

da palavra, “aquilo que empresta movimento a algo”) como a dor, a vida, a

morte, o amor e as separações, com isso seus resultados são vastos,

complexos e profundos.

Neste artigo de hoje, falarei sobre a “Ordem do pertencer”.

Todos têm o igual direito de pertencer.

O que isso quer dizer?

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Quer dizer que não importa o que uma pessoa faça que seja julgado como

“condenável”, “pecaminoso”, “reprovável” ou “errado”, ela continuará tendo o

direito de pertencer ao sistema familiar. Isso não significa que ela esteja isenta

de repreensões, restrições e até de punições legais, mas apesar de tudo, ela

continuará com o mesmo direito de pertencer a sua família. As atitudes dessa

pessoa podem diminuir sua credibilidade, confiabilidade e até sua proximidade,

perante a família, mas nunca o seu pertencimento.

Por exemplo, se um indivíduo comete um crime e isso causa uma vergonha

entre os seus familiares, ele vai preso, cumpre sua pena, sai da prisão e,

muitas vezes, passa a morar afastado de seus familiares. As pessoas passam

a não comentar sobre o acontecido, evitam falar do passado e tentam apagar

da história da família aquele membro. Ele se transforma em um ser

inconveniente e uma “vergonha moral” para a família.

No entanto, essa “ordem” demonstra que quando um membro de uma família é

visto dessa maneira e é excluído pelos demais, essa situação cria um efeito

colateral em todo sistema familiar.

A lei do pertencimento atua drasticamente fazendo com que esse membro do

grupo seja incluído novamente de um jeito ou de outro, esteja ele vivo ou não.

Normalmente, percebe-se que esse comportamento reprovável, reaparece em

alguma das gerações seguintes em forma de sintomas em alguns membros:

filhos, netos, ou bisnetos por exemplo, sem que eles entendam o que está

acontecendo. Ou também, na forma de um problema de relacionamento entre

membros como irmãos ou um casal.

Essa ”lei do pertencimento” também é válida para aquelas pessoas que foram

prejudicadas em favor de alguém da família. Se por exemplo, um homem se

divorcia para contrair um novo matrimônio, após uma separação “mal

resolvida”, onde a ex mulher foi excluída por ele, a energia dessa exclusão

pode atuar sobre os filhos do novo casal do homem.

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Essa é uma dinâmica das mais comuns verificadas por Hellinger. Um filho se

comporta de modo “inapropriado” tendo ciúmes de um dos pais, ou sendo

tirano dentro de casa, porque pode estar sofrendo os efeitos daquela mãe que

foi deixada de lado em favor da união dos pais.

É quando a felicidade de alguém foi fruto da infelicidade de outro.

Esse “sofrimento” pode perdurar por gerações nos integrantes da família, até

alguém fazer um movimento para que esse indivíduo excluído

seja reconhecido e incluído novamente no sistema familiar.

Quando esses membros da família são reconhecidos é possível haver uma

reconciliação pacífica entre todos. Esses momentos demandam uma grande

coragem, pois exige dos membros de uma família, que superem seus

julgamentos morais em favor da inclusão dos membros excluídos, pelo bem

maior da família. Sendo aceitos novamente, eles ganham um espaço precioso

no coração de seus membros. Dessa forma, todos podem voltar a sentir a paz

que foi interrompida pelo acontecimento doloroso do passado.

O resultado individual é que um dos membros que carregava a sensação de

não se sentir aceito em nenhum lugar, finalmente acaba. O sentimento de

“voltar para casa” dentro de si é incrivelmente libertador e a felicidade se torna

possível.

A Terapia Sistêmica e a Família de Origem do Terapeuta

A Terapia Sistêmica foca nas relações. Ela compreende o indivíduo integrado

ao seu contexto familiar e sociocultural, e realça a complementariedade

existente entre os seres humanos.

Por praticar uma abordagem relacional, o terapeuta sistêmico interage com o

cliente - entendendo-se por cliente a família, o casal ou o cliente individual -

numa postura de proximidade e sintonia. Deste modo, experimenta emoções

distintas durante cada atendimento, e é essencial que ele tenha consciência de

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si mesmo e de como sua história pessoal e familiar interfere em seu modo de

entender a realidade e relacionar-se com ela.

O trabalho com a família de origem tem espaço assegurado na terapia

sistêmica. Pais preocupados com a educação de seus filhos percebem que

repetem padrões de seus pais que não gostariam de repetir. Casais

reproduzem modelos relacionais de suas famílias de origem, mesmo quando

haviam se proposto a construir novos modelos para o seu casamento. A

exploração das experiências com a família de origem na terapia promove as

reformulações necessárias para liberar o indivíduo da repetição destes padrões

familiares disfuncionais.

O reenquadre das mágoas e sentimentos infantis, a reformulação da ira e das

imagens negativas, a revisão das expectativas irrealistas, o libertar-se do

aprisionamento a lealdades invisíveis e a possibilidade de perdão, são alguns

dos objetivos centrais do trabalho com a família de origem. A riqueza da terapia

sistêmica reside na possibilidade de que este trabalho possa ser feito com a

presença da família de origem na terapia, mas também na ausência dela,

quando ela não pode participar.

A meta é a liberação do indivíduo de seus aprisionamentos passados, para que

deixe de reagir à sua história e passe a agir e se conduzir dentro de uma

proposta relacional atualizada e pessoal com sua família de origem e com sua

vida. Busca-se o desenvolvimento da individualidade, mantendo a conexão

com a família, integrando o ser autônomo e o pertencer.

Através da compreensão intergeracional, o cliente alcança maior integridade,

que se traduz por vínculos mais saudáveis com cônjuges e filhos,

interrompendo a repetição de condutas que o convertem em vítima de sua

história e de si mesmo, e que o leva a encontrar e fazer outras vítimas. A

possibilidade de ver a própria família com outros olhos, rever suas regras,

entraves e riquezas, facilita renunciar às delegações que ela transmitiu a cada

um de seus membros, favorecendo que a nova geração esteja liberada da

repetição.

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O Terapeuta Sistêmico e sua Família de Origem

O terapeuta sistêmico se depara com a necessidade de examinar sua relação

com a família de origem já nos primeiros anos de formação. Em geral ele fica

estancado quando um caso evoca seus problemas familiares. Quando isto

acontece, o terapeuta pode apresentar uma série de indicadores de que fatores

pessoais estão interferindo na sua capacidade de conduzir a sessão, tais

como: enrijecimento, fechamento, mudança brusca de postura ou de tema, foco

e intensidade inapropriados, dispersão, irritação, cansaço, sono. Todos os

terapeutas, em certo nível, veem a si mesmos na vida de seus clientes, sendo

fundamental a consciência de como os valores subjetivos do terapeuta influem

no processo terapêutico, e como suas questões pessoais e familiares se

entrelaçam com os problemas e a realidade dos clientes. Problemas inerentes

à terapia serão sem dúvida perturbadores e penosos para os clínicos, quando

tocam em problemas da vida do terapeuta, como o abandono de um pai, uma

luta moral difícil, um trauma emocional escondido.

A terapia sistêmica baseia-se num processo integrado da pessoa do terapeuta

e de suas habilidades técnicas. No trabalho clínico o terapeuta tem em sua

pessoa o mais rico instrumento de trabalho. É útil ao terapeuta voltar-se para

seu genograma, examinando como seus modelos relacionais e o lugar que

ocupou em sua família de origem interferem no posicionamento frente a cada

família e a cada cliente que atende.

Murray Bowen organizou sua Teoria Intergeracional dando destaque ao tema

da família de origem do terapeuta. Em 1967, em congresso realizado na

Filadélfia, apresentou um trabalho a respeito da própria família de origem,

surpreendendo a comunidade científica presente. Ele verificou que os

terapeutas que tinham mais êxito na clínica eram os que mais haviam

trabalhado as próprias famílias, pois estavam mais diferenciados das histórias

das famílias dos clientes.

Questionando a ideia de “saúde mental perfeita” e reconhecendo como a

própria vida do terapeuta afeta e é afetada pela terapia que está conduzindo,

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com respeito aos seus problemas não resolvidos, transformou a debilidade do

terapeuta em um instrumento útil para a condução da terapia.

O terapeuta sistêmico, quando trabalha sua família de origem, passa a

reconhecer com mais clareza e prontidão a ressonância provocada nele pela

interação com as famílias que atende. Seu “eu pessoal” torna-se uma

ferramenta para seu “eu terapêutico”. O que o seu “eu pessoal” registra e

vivencia na terapia informa seu “eu terapêutico” sobre as experiências que o

cliente vive na família dele. Assim, o terapeuta pode reconhecer, por exemplo,

através de seus sentimentos de opressão e tensão, os sentimentos de

opressão e tensão que o paciente identificado sofre. Pode avançar e utilizar

esta vivência terapêuticamente, porque seu self está diferenciado do self do

cliente, exatamente pela clareza e resolução que obteve a partir do trabalho

com sua família de origem. Assim, seu trabalho clínico se enriquece, e ele

enriquece a si mesmo e às famílias que atende. Neste sentido, podemos

concordar com Whitaker, sobre a possibilidade do terapeuta crescer junto com

a família.

A resolução de algumas questões fundamentais, que o trabalho com a família

de origem do terapeuta promove, contribui para humanizar sua experiência e

sua formação, pondo destaque na sua capacidade de reconhecer a riqueza ,

diversidade e capacidade das famílias.

O trabalho clínico está repleto de desafios pessoais para os terapeutas. O

terapeuta sistêmico, ciente da interdependência existente entre o técnico e o

pessoal, evolui quando integra o conhecimento da sua família de origem à

habilidade técnica, e propicia a si próprio uma experiência de crescimento

compartido.

Teoria geral de sistemas

A teoria geral de sistemas (também conhecida pela sigla, T.G.S.) surgiu com

os trabalhos do biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy, publicados entre

1950 e 1968.

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A T.G.S. não busca solucionar problemas ou tentar soluções práticas, mas sim

produzir teorias e formulações conceituais que possam criar condições de

aplicação na realidade empírica. Os pressupostos básicos da T.G.S. são:

Existe uma nítida tendência para a integração entre as ciências naturais e

sociais;

Essa integração parece orientar-se rumo a uma teoria dos sistemas;

Essa teoria de sistemas pode ser uma maneira mais abrangente de estudar

os campos não físicos do conhecimento científico, especialmente as

ciências sociais;

Essa teoria de sistemas, ao desenvolver princípios unificadores que

atravessam verticalmente os universos particulares das diversas ciências

envolvidas, aproxima-nos do objetivo da unidade da ciência;

Isso pode levar a uma integração muito necessária da educação científica.

A importância da TGS é significativa tendo em vista a necessidade de se

avaliar a organização como um todo e não somente em departamentos ou

setores. O mais importante ou tanto quanto é a identificação do maior número

de variáveis possíveis, externas e internas que, de alguma forma, influenciam

em todo o processo existente na Organização. Outro fator também de

significativa importância é o feedback que deve ser realizado ao planejamento

de todo o processo.

Teoria dos sistemas começou a ser aplicada na Administração principalmente

em função da necessidade de uma síntese e uma maior integração das teorias

anteriores (Científicas e Relações Humanas, Estruturalista e Comportamental

oriundas das Ciências Sociais) e da intensificação do uso da cibernética e da

tecnologia da informação nas empresas.

Os sistemas vivos, sejam indivíduos ou organizações, são analisados como

“sistema abertos”, mantendo um continuo intercâmbio de

matéria/energia/informação com o ambiente. A Teoria de Sistema permite

reconceituar os fenômenos em uma abordagem global, permitindo a inter-

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relação e integração de assuntos que são, na maioria das vezes, de natureza

completamente diferentes.

Histórico

A teoria de sistemas, cujos primeiros enunciados datam de 1925, foi proposta

em 1937 pelo biólogo Ludwig von Bertalanffy, tendo alcançado o seu auge de

divulgação na década de 50. (ALVAREZ, 1990). Em 1956 Ross

Ashby introduziu o conceito na ciência cibernética. A pesquisa de Von

Bertalanffy foi baseada numa visão diferente do reducionismo científico até

então aplicada pela ciência convencional. Dizem alguns que foi uma reação

contra o reducionismo e uma tentativa para criar a unificação científica.

Conceito

O Sistema é um conjunto de partes interagentes e interdependentes que,

conjuntamente, formam um todo unitário com determinado objetivo e efetuam

determinada função (OLIVEIRA, 2002, p. 35).

Sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes

que interagem com objetivos comuns formando um todo, e onde cada um dos

elementos componentes comporta-se, por sua vez, como um sistema cujo

resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se

funcionassem independentemente. Qualquer conjunto de partes unidas entre si

pode ser considerado um sistema, desde que as relações entre as partes e o

comportamento do todo sejam o foco de atenção (ALVAREZ, 1990, p. 16).

Sistema é um conjunto de partes coordenadas e não relacionadas, formando

um todo complexo ou unitário.

Conceitos fundamentais

Entropia - todo sistema sofre deterioração;

Sintropia, negentropia ou entropia negativa - para que o sistema continue

existindo, tem que desenvolver forças contrárias à Entropia;

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Homeostase - capacidade do sistema manter o equilíbrio, adaptando-se ao

ambiente;

Heterostase - toda vez que há uma ação imprópria (desgaste) do sistema,

ele tende a se equilibrar. (OBS: O "estado de equilíbrio", segundo a lei da

entropia, é um pouco diferente do que pode parecer pelo senso comum)

Para as ciências administrativas, o pensamento sistêmico é muito importante

pois as organizações envolvem vários aspectos:

Transformações físicas necessárias à fabricação dos produtos e prestação

dos serviços;

Comunicação entre os agentes e colaboradores para desenvolver, produzir

e entregar o produto ou serviço atendendo as expectativas e necessidades

do cliente;

Envolvimento das pessoas para que elas se empenhem no processo

cooperativo;

Desenvolvimento de competências, habilidades e conhecimentos, para que

as pessoas tenham condições de realizar o trabalho da maneira esperada;

Por esses motivos, as organizações podem ser entendidas como sistemas

abertos.

Pensamento

A ciência do século passado adotava a mecânica clássica como modelo do

pensamento científico. Isso equivale a pensar nas coisas como mecanismos e

sistemas fechados. A ciência de nossos dias adota o organismo vivo como

modelo, o que equivale a pensar em sistemas abertos.

Sistema

O sistema consiste em uma sistemática fatorial em grupos de influência de

ações que fundamentam a Teoria Sistemática Geral.

Ambiente

O ambiente de um sistema é um conjunto de elementos que não fazem parte

do sistema, mas que podem produzir mudanças no estado do sistema.

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Sistemas abertos

Basicamente, a teoria de sistemas afirma que estes são abertos e sofrem

interações com o ambiente onde estão inseridos. Desta forma, a interação gera

realimentações que podem ser positivas ou negativas, criando assim uma auto

regulação regenerativa, que por sua vez cria novas propriedades que podem

ser benéficas ou maléficas para o todo independente das partes. Toda

organização é um sistema aberto. A empresa é caracterizada como um

Sistema Aberto, pois sofre interações e flutuações de seu ambiente interno

(departamentos, processos, recursos humanos etc.) e do ambiente externo

(economia, política, meio ambiente etc.).

Sistemas fechados

Esses sistemas são aqueles que não sofrem influência nem influenciam o meio

ambiente no qual estão inseridos, de tal forma que ele se alimenta dele

mesmo. A entropia apenas se mantém constante nos sistemas isolados. Ex:

Sistema de televisão, pois não muda e não sobre atualizações e não interfere

no meio externo. (Com exceção das Smarts).

Sinergia/entropia

Embora seja possível tentar entender o funcionamento de um carro só olhando

as suas partes separadamente, o observador talvez não consiga compreender

o que é um carro só olhando suas peças. É preciso entender de que forma as

diferentes partes do sistema interagem. Essa interação dos elementos do

sistema é chamada de sinergia. A sinergia é o que possibilita um sistema

funcionar adequadamente.

Por outro lado a entropia (conceito da física) é a desordem ou ausência de

sinergia. Um sistema pára de funcionar adequadamente quando ocorre

entropia interna.

Realimentações

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Os organismos (ou sistemas orgânicos) em que as alterações benéficas são

absorvidas e aproveitadas sobrevivem, e os sistemas onde as qualidades

maléficas ao todo resultam em dificuldade de sobrevivência, tendem a

desaparecer caso não haja outra alteração de contrabalanço que neutralize

aquela primeira mutação. Assim, de acordo com Ludwig von Bertalanffy,

a evolução permanece ininterrupta enquanto os sistemas se autorregulam.

Um sistema realimentado é necessariamente um sistema dinâmico, já que

deve haver uma causalidade implícita. Em um ciclo de retroação uma saída é

capaz de alterar a entrada que a gerou, e, consequentemente, a si própria. Se

o sistema fosse instantâneo, essa alteração implicaria uma desigualdade.

Portanto em uma malha de realimentação deve haver um certo retardo na

resposta dinâmica. Esse retardo ocorre devido à uma tendência do sistema de

manter o estado atual mesmo com variações bruscas na entrada. Isto é, ele

deve possuir uma tendência de resistência a mudanças.

Teoria reducionista e teoria sistêmica

Segundo a teoria de sistemas, ao invés de se reduzir uma entidade (um animal,

por exemplo.) para o estudo individual das propriedades de suas partes ou

elementos (órgãos ou células), se deve focalizar no arranjo do todo, ou seja,

nas relações entre as partes que se interconectam e interagem orgânica

e estatisticamente.

Uma organização realimentada e auto gerenciada, gera assim um sistema cujo

funcionamento é independente da substância concreta dos elementos que a

formam, pois estes podem ser substituídos sem dano ao todo, isto é, a auto-

regulação onde o todo assume as tarefas da parte que falhou. Portanto, ao

fazermos o estudo de sistemas que funcionam desta forma, não

conseguiremos detectar o comportamento do todo em função das partes.

Exemplos são as partículas de determinado elemento cujo comportamento

individual, embora previsto, não poderá nos indicar a posição ou movimentação

do todo.

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Interdisciplinaridade

Em biologia temos nas células um exemplo, pois não importa quão profundo

seja o estudo individual de um neurônio do cérebro humano, este jamais

indicará o estado de uma estrutura de pensamento, se for estirpado, ou morrer,

também não alterará o funcionamento do cérebro. Uma área emergente

da biologia molecular moderna que se utiliza bastante dos conceitos da Teoria

de Sistemas é a Biologia Sistêmica.

Em eletrônica, um transistor numa central telefônica digital, jamais nos dará

informações sobre o sistema, embora sua falha possa causar algum tipo de

alteração na rede. Nas modernas centrais, os sinais remetidos a si serão

automaticamente desviados para outro circuito.

Em Sociologia, a movimentação histórica de uma determinada massa humana,

por mais que analisemos o comportamento de um determinado indivíduo

isoladamente, jamais conseguiremos prever a condição do todo

numa população. Os mesmos conceitos e princípios que orientam uma

organização no ponto de vista sistêmico, estão em todas as

disciplinas, físicas, biológicas, tecnológicas, sociológicas, etc. provendo uma

base para a sua unificação.

Além dos exemplos citados, podemos observar a ação sistêmica no meio-

ambiente, na produção industrial automatizada, em controles e processos, na

teoria da informação, entre outros.

Aplicações

Na teorização matemática surgiu o desenvolvimento da isomorfia entre os

modelos de circuitos elétricos e outros sistemas. As aplicações da teoria de

sistemas abrangem o desenvolvimento de todos os ramos da ciência. Alguns

exemplos são: engenharia, computação, ecologia, administração, psicoterapia

familiar, termodinâmica, dinâmica caótica, vida artificial, inteligência artificial,

redes neurais, modelagem, simulação computacional, jogos desportivos

colectivos e turismo entre outras.

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Holomovimento

Para David Bohm, o holomovimento é a natureza básica da realidade: um

processo dinâmico da totalidade (holos, gr.), "uma única e inquebrantável

integridade em movimento de fluxo". Tudo está ligado a tudo e em fluxo

dinâmico, cada parte do fluxo, dentro desta estrutura holográfica, contém o

fluxo como um todo. O fluxo em si está em constante mudança processual.

Bohm desenvolveu esta teoria a partir de sua reinterpretação da física

quântica.

Ordem Implícita e Explícita

À Ordem Explícita, ou o que chamamos realidade do mundo fenomênico,

subjaz uma Ordem Implícita, ou ordenação sob o aparente caos. O que parece

casual pode ser expressão de uma ordem subjacente, oculta, cuja apreensão

depende da rede epistemológica do observador.

A Ordem Implícita não é destruída ao se expressar como Ordem Explícita,

podendo a manifestação ser revertida de explícita a implícita. O relacionamento

entre estas duas ordens é, no entanto, complexo. Numa analogia, pode-se

dizer que a Ordem Explícita é o universo espaço-temporal em que vivemos, e a

Ordem Implícita o universo do não-manifestado.

Para Bohm, a ordem primária fundamental é a implícita, sendo a ordem

explícita semelhante a ondulações passageiras na superfície da implícita.

A ordem implícita e explícita é uma teoria que convida a entender

o universo com o um todo indivisível que flui. Considera o processo, fluxo e

mudança como fundamentais, argumentando que o estado do universo num

determinado momento reflete uma realidade mais básica como o mundo

tridimensional dos objetos, a relação espaço-tempo... Neste nível, embora a

matéria possa ser descrita em si mesma, isso não é o necessário para defini-la

com clareza. A esta realidade David Bohm chama de Ordem Implícita ou

Encoberta.

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A Ordem Explícita ou Exposta se refere ao que se manifesta no mundo à nossa

volta. Bohm defende que o mundo empírico realiza e expressa potencialidades

existente dentro da ordem implícita. Bohm também indica que as Ordens

Implícitas nos levam ao nível mais profundo de estudo e análise abordando

aspectos de nossa experiência física, psicológica e espiritual.

Um clássico exemplo para o entendimento desta teoria é o do redemoinho.

Embora ele possua uma forma relativamente constante, ele só existe no

movimento do rio, ou seja, ele será a ordem explícita dentro da ordem implícita

de acordo com um processo coerente de transformação.

Esta teoria sugere que, para que tenhamos um entendimento mais amplo dos

segredos do universo, devemos compreender os processos geradores que

ligam as ordens implícitas e explícitas.

Espaço

Para Bohm, o "espaço vazio" é parte desse todo que é fluxo incessante. Não é

vácuo, mas espaço e matéria estão intimamente ligados. Efetuou cálculos

matemáticos demonstrando a ontologia do "espaço vazio": cada centímetro

quadrado deste contém mais energia potencial do que toda a energia que está

manifestada no universo.

A Teoria dos Campos Mórficos do Biólogo Rupert Sheldrake,

No seu livro Uma Nova Ciência da Vida (A New science of life, 1981),

Sheldrake toma posições na corrente organicista ou holística clássica,

sustentadas por nomes como Von Bertalanffy e a sua Teoria Geral de Sistemas

ou E. S. Russell, para questionar de um modo definitivo a visão mecanicista,

que dá por explicado qualquer comportamento dos seres vivos mediante o

estudo de suas partes constituintes e sua posterior redução para as leis

químicas e físicas.

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Sheldrake propõe a idéia dos campos morfogenéticos, os quais ajudam a

compreender como os organismos adotam as suas formas e comportamentos

característicos.

Morfo vem da palavra grega morphe que significa forma; genética vem de

gêneses que significa origem. Os campos morfogenéticos são campos de

forma, campos padrões, estruturas de ordem. Estes campos organizam não só

os campos de organismos vivos, mas também de cristais e moléculas. Cada

tipo de molécula, cada proteína, por exemplo, tem o seu próprio campo mórfico

– hemoglobina, insulina, etc. De um mesmo modo cada tipo de cristal, cada

tipo de organismo, cada tipo de instinto ou padrão de comportamento tem seu

campo mórfico. Estes campos são os que ordenam a natureza. Há muitos tipos

de campos porque há muitos tipos de coisas e padrões dentro da natureza.

A contribuição de Sheldrake foi juntar noções vagas sobre os campos

morfogenéticos (Weiss 1939) e os formular em uma teoria demonstrável.

Desde que escrevera o livro no qual apresenta a Hipótese da Ressonância

Mórfica, em 1981, foram feitas numerosas experiências que, em princípio,

deveriam demonstrar a validade, ou a invalidade destas hipóteses. Você

encontrará algumas mais relevantes ao término deste artigo.

Três enfoques sobre o fenômeno vital

Tradicionalmente houve três correntes filosóficas sobre a organização da

natureza biológica da vida: vitalismo, mecanicismo e organicismo.

VITALISMO

O vitalismo sustenta que em toda forma de vida existe um fator intrínseco,

evasivo, inestimável e não sujeito a medidas que ativa a vida. Hans Driesch,

biólogo e filósofo alemão precursor principal do vitalismo depois da mudança

de século, chamou a esse fator causal misterioso enteléquia, que se fazia

especialmente evidente em aspectos do desenvolvimento do organismo como

a regulação, regeneração e reprodução.

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A forma clássica do vitalismo como foi exposta por numerosos biólogos no

princípio de século, especialmente por Driesch, foi criticado severamente pelo

seu caráter acientífico: o fator causal (enteléquia) era incerto e não pôde ser

demonstrado de modo algum.

Ernest Nagel, filósofo da ciência escreveu em 1951, no seu livro Filosofia e

Investigação Fenomenológica: “O grosso do vitalismo […] é agora uma questão

extinta […] não tanto talvez para a crítica filosófica e metodológica que se há

revelado contra a doutrina, mas para a infertilidade do vitalismo em guiar a

investigação biológica e pela superioridade heurística de focos alternativos.”

MECANICISMO

Embora numerosos biólogos identifiquem-se como vitalistas, na prática eles

são mecanicistas, determinados pelas experiências de laboratório e as

exigências da investigação científica de mostrar as experiências com

parâmetros que possam ser medidos na física e química. Sheldrake afirma que

o fracasso do vitalismo é devido principalmente a sua inabilidade para fazer

predições demonstráveis e para apresentar experiências novas.

No momento, o enfoque ortodoxo da biologia vem determinado pela teoria

mecanicista da vida: os organismos vivos são considerados como máquinas

físico-químicas e todos os fenômenos vitais podem ser explicados, em

princípio, com leis físico-químicas. Na realidade, isto é a posição reducionista

que sustenta que os princípios biológicos podem ser reduzidos às leis fixas

destes dois ramos da ciência.

A ortodoxia científica adere a esta teoria porque oferece um marco de

referências satisfatórias, onde numerosas perguntas sobre os processos vitais

podem ser respondidas e porque já muito tem se investido nela. As raízes do

mecanicismo são mesmo profundas. De acordo com Sheldrake inclusive se

admitir-se que o enfoque mecanicista está severamente limitado não só nas

práticas, mas nos princípios, não pode ser abandonado e no momento é o

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único método disponível para a biologia experimental. Sem dúvida continuará a

ser usado até outra(s) alternativa(s) mais positiva(s) surgir(em).

ORGANICISMO OU HOLISMO

O organicismo ou holismo recusam que os fenômenos da natureza possam ser

reduzidos exclusivamente às leis físico-químicas, pois estas isoladas ou

conjuntamente não podem explicar a totalidade dos fenômenos vitais. Por outro

lado reconhece a existência de sistemas hierarquicamente organizados com

propriedades que não podem ser entendidas por meio do estudo de partes

isoladas, mas em sua totalidade e interdependência. Daí o termo holismo, da

palavra whole = todo em inglês.

O organicismo foi desenvolvido através das influências de diversos sistemas

filosóficos como os de Alfred North Whitehead e J. C. Smuts, psicologia

Gestalt, conceitos como os campos físicos e parte do mesmo vitalismo de

Driesch.

“O organicismo trata os mesmos problemas que Driesch disse que eram

insolúveis em termos mecanicistas, mas enquanto ele propôs a enteléquia não

física para explicar a totalidade e diretividade dos organismos, os organicistas

propõem o conceito do campo morfogenético (ou embriônico ou de

desenvolvimento)”. (Sheldrake 1981).

CAMPO MORFOGENÉTICO

“Os campos morfogenéticos ou campos mórficos são campos que levam

informações, não energia, e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem

perda alguma de intensidade depois de ter sido criado. Eles são campos não

físicos que exercem influência sobre sistemas que apresentam algum tipo de

organização inerente.”

“[…] centrada em como as coisas tomam formas ou padrões de organização.

Deste modo cobre a formação das galáxias, átomos, cristais, moléculas,

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plantas, animais, células, sociedades. Cobre todas as coisas que têm formas e

padrões, estruturas ou propriedades auto organizativas.”

“Todas estas coisas são organizadas por si mesmas. Um átomo não tem que

ser criado por algum agente externo, ele se organiza só. Uma molécula e um

cristal não são organizados pelos seres humanos peça por peça se não que

cristalizam espontaneamente. Os animais crescem espontaneamente. Todas

estas coisas são diferentes das máquinas que são artificialmente montadas

pelos seres humanos.”

“Esta teoria trata sistemas naturais auto-organizados e a origem das formas. E

eu assumo que a causa das formas é a influência de campos organizacionais,

campos formativos que eu chamo de campos mórficos. A característica

principal é que a forma das sociedades, idéias, cristais e moléculas dependem

do modo em que tipos semelhantes foram organizados no passado. Há uma

espécie de memória integrada nos campos mórficos de cada coisa organizada.

Eu concebo as regularidades da natureza como hábitos mais que por coisas

governadas por leis matemáticas eternas que existem de algum modo fora da

natureza.” (Sheldrake, 1981).

COMO FUNCIONAM OS CAMPOS MORFOGENÉTICOS?

Os campos morfogenéticos agem sobre a matéria impondo padrões restritivos

em processos de energia cujos resultados são incertos ou probabilísticos. Por

exemplo, dentro de um determinado sistema um processo físico-químico pode

seguir diversos caminhos possíveis. O que o sistema faz para optar para um

deles? Do ponto de vista mecânico esta eleição estaria em função de

diferentes variáveis físicas e químicas que influenciam no sistema:

temperatura, pressão, substâncias presentes, polaridade, etc., cuja

combinação decantaria o processo para determinado caminho. Se fosse

possível controlar todas as variáveis em jogo você poderia predizer o resultado

final do processo. Porém, não é deste modo, mas o resultado final é sujeito ao

acaso probabilístico, algo quantificável só por meio de análise estatística. O

Campo Morfogenético relacionado com o sistema reduz consideravelmente a

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amplitude probabilística do processo, levando o resultado em uma direção

determinada.

“Os Campos Mórficos funcionam , tal como eu explico em meu livro, a

presença do passado, modificando eventos probabilísticos . Quase toda a

natureza é inerentemente caótica. Não é rigidamente determinada. A dinâmica

das ondas, os padrões atmosféricos, o fluxo turbulento dos fluidos, o

comportamento da chuva, todas estas coisas são corretamente incertas, como

são os eventos quânticos na teoria quântica. Com o declínio do átomo de

urânio você não é capaz de predizer se o átomo declinará hoje ou nos

próximos 50.000 anos. É meramente estatístico, Os Campos Mórficos

funcionam modificando a probabilidade de eventos puramente aleatórios. Em

vez de uma grande aleatoriedade, de algum modo eles enfocam isto, de forma

que certas coisas acontecem em vez de outras. É deste modo como eu

acredito que eles funcionam “. (Sheldrake, 1981).

ONDE SE ORIGINAM OS CAMPOS MORFOGENÉTICOS?

Um campo morfogenético não é uma estrutura inalterável, mas que muda ao

mesmo tempo, que muda o sistema com o qual está associado. O campo

morfogenético de uma samambaia tem a mesma estrutura que os campos

morfogenético de samambaias anteriores do mesmo tipo. Os campos

morfogenéticos de todos os sistemas passados se fazem presentes para

sistemas semelhantes e influenciam neles de forma acumulativa através do

espaço e o tempo.

A palavra chave aqui é “hábito”. Este é o fator que origina os campos

morfogenéticos. Através dos hábitos os campos morfogenéticos vão variando

sua estrutura dando causa deste modo às mudanças estruturais dos sistemas

em que estão associados.

Por exemplo, em uma floresta de coníferas é gerado o habito de estender as

raízes mais profundamente para absorver mais (e/ou melhores) nutrientes. O

campo morfogenético da conífera assimila e armazena esta informação que é

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herdada não só por exemplares no seu entorno, mas em florestas de coníferas

em todo o planeta por efeitos da ressonância mórfica.

EXPERIÊNCIAS

De acordo com Sheldrake, um modo simples para demonstrar a existência dos

campos morfogenéticos é criando um novo campo mórfico para logo observar

seu desenvolvimento.

Código Morse

O Dr. Arden Mahlberg, psicólogo de Wisconsin, realizou experimentos que

analisam a capacidade de duas pessoas para aprender dois códigos Morse

diferentes. Um deles é o padrão clássico e o segundo, inventado por ele

variando as seqüências de pontos e linhas de modo que fosse igualmente difícil

(ou fácil) aprender o código. A pergunta é: será mais simples aprender o

verdadeiro Morse que o inventado porque milhões de pessoas já aprenderam

isto? A resposta, aparentemente, é sim.

Ratos em labirinto

Esta é uma das primeiras experiências realizadas por Sheldrake, recuperada

do tempo em que ele começou a considerar os campos morfogenéticos.

Consiste em ensinar a um grupo de ratos determinada aprendizagem, por

exemplo, sair de um labirinto, em certo lugar, para logo observar a habilidade

de outros ratos em outros lugares, deixarem o labirinto. Esta experiência já foi

levada a cabo em numerosas ocasiões dando resultados muito positivos.

Organização dos cupins

Mesmo separando um cupinzeiro, alterando sua forma, criando uma espécie de

ferimento, os cupins, mesmo cegos reconstroem a forma original. Explicação:

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há um campo morfogenético que dá forma ao cupinzeiro. Os campos estão

presentes em todos os sistemas vivos e/ou organizados, incluindo-se os

humanos (lembraram das células tronco?)

Muitas outras pesquisas são propostas pelo biólogo Rupert Sheldrake e outros

biólogos organicistas (holistas), que enfatizam a contextualização da Biologia e

das pesquisas relacionadas às ciências biológicas, psicologia, física, medicina

e outras.

Teoria das representações sociais

A teoria das representações sociais foi elaborada por Serge Moscovici com o

intuito de explicar e compreender a realidade social, considerando a dimensão

histórico-crítica (OLIVEIRA, 2001).

O conceito de Representação Social se estabelece no limite entre a psicologia

e a sociologia, especialmente entre a psicologia e a sociologia do

conhecimento. Este teve início com Durkheim, com o conceito da teoria da

Representação Coletiva, no qual procurava dar conta de fenômenos como

religião, mitos, ciência, categorias de tempo e espaço em termos de

conhecimento inerente à sociedade. Moscovici (1978), por sua vez, afasta-se

da perspectiva sociológica de Durkheim quando considera as representações

como algo compartilhado de modo heterogêneo pelos diferentes grupos

sociais, assim retorna o conceito de Representação Social para a Psicologia

Social.

Serge Moscovici nasceu em 1928, é um psicólogo social. Atualmente, é diretor

do Laboratoire Européen de Psychologie Sociale (Laboratório Europeu da

Psicologia Social), que ele cofundou em 1975, em Paris. É também membro do

European Academy of Sciences and Arts, da Légion d'honneur e do Russian

Academy of Sciences.

Foi na obra La Psychanalyse, son image et son public, de 1961, que o autor

mencionou pela primeira vez o conceito de Representação Social,

desenvolvendo a partir deste uma psicossociologia do conhecimento.

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Desta forma, o conhecimento é adquirido por meio da compreensão alcançada

por indivíduos que pensam, porém, não sozinhos, pois a semelhança dos

pronunciamentos feitos pelos indivíduos de um grupo demonstra que pensaram

juntos sobre os mesmo assuntos.

Para Moscovici (1978), as Representações Sociais são entidades quase

tangíveis. Elas circulam, cruzam-se e cristalizam-se incessantemente, por

intermédio de uma fala, um gesto, um encontro em nosso universo cotidiano,

constituindo, assim, uma modalidade de conhecimento particular que tem por

função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos.

A Representação Social produzida na construção do cotidiano de cada

indivíduo, a teoria das Representações Sociais, tenta entender as lutas,

batalhas, espaços, formas de comunicação desses indivíduos e o que eles

produzem de saberes no e pelo cotidiano.

A representação social é algo que vai muito além de formulações de conceitos

acerca de determinado fato, mas produções de comportamentos embasados

em experiências sociais, de forma individual e coletiva; conjunto de conceitos

construídos diante de um fenômeno social.

A teoria das Representações Sociais é uma teoria sobre a construção dos

saberes sociais (JOVCHELOVITCH, DUVEEN, 2001), entretanto, é importante

diferenciar saberes sociais de opiniões. Moscovici (1978, p. 46) descreve

opinião como sendo algo pouco estável, incidindo sobre pontos particulares.

São, portanto, características observadas mais individualmente pelo homem

enquanto que representações sociais.

Ou seja, todos os aspectos que envolvem a vida de um sujeito, inclusive o

momento histórico-cultural em que o sujeito está inserido são, de certa forma,

formadores das Representações Sociais que este formulará a respeito dos

fenômenos sociais que fazem parte do seu contexto.

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Representar um objeto, para Moscovici (1978), é, ao mesmo tempo, conferir-

lhe o status de um signo, é conhecê-lo, tornando-o significante, ou seja, tornar

familiar o não familiar. Há duas formas de conhecimento que podem explicar os

conceitos de familiar e não familiar, sendo estes o de Universo Reificado e o de

Universo Consensual.

De acordo com Oliveira e Werba (2001), os Universos Reificados são mundos

restritos, onde circulam as ciências, a objetividade ou as teorizações abstratas.

Nestes, a sociedade é percebida como um sistema de diferentes papéis e

classes, cujos membros são desiguais. Já os Universos Consensuais são as

teorias do senso comum, onde se encontram as práticas do dia a dia e a

produção de Representações Sociais. No Universo Consensual a sociedade é

vista como um grupo de pessoas que são iguais, cada uma com possibilidades

de falar em nome do grupo. Este, de acordo com Moscovici (1981), estimula e

dá forma à nossa consciência coletiva, explicando coisas e eventos de tal

forma que sejam acessíveis a cada um do Universo Reificado das ciências e

deve ser transferido ao Universo consensual do dia a dia para, assim, ser

representado.

Existem dois processos formadores das Representações Sociais, sendo estes

o processo de ancoragem e o processo de objetificação. Estes dois processos

servem para familiarizar o desconhecido.

Além disso, ancorar também significa classificar e rotular, pois implica, muitas

vezes, em um juízo de valor pois, ao ancorarmos, classificamos pessoas,

ideias e objetos, situando-os dentro de uma categoria, procurando, assim, um

lugar para encaixar o não familiar. Oliveira e Werba (2001) citam como

exemplo de ancoragem o problema da Aids que, quando surgiu, diante da

dificuldade de entendê-la e classificá-la, foi ancorada pelo senso comum como

uma “peste”, ou seja, a “peste gay”, a qual só aconteceria com estes. Esta foi a

forma encontrada para encaixar, de alguma forma, o não familiar, dando conta

da ameaça que a Aids trazia.

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O segundo processo de formação das representações acontece com a

objetificação, ou seja, uma transformação do abstrato em algo quase físico,

traduzindo algo que existe no pensamento em algo que existe na natureza.

Segundo Moscovici (1981, p. 64), “objetificar significa descobrir o aspecto

icônico de uma ideia ou ser mal-definido, isto é, fazer equivaler o conceito com

a imagem”.

Desta forma, procura-se, por meio da objetificação tornar concreta, visível uma

realidade, aliando conceito com imagem, ou seja, a objetificação é a imagem

que acompanha a ancoragem, que é conceito.

A teoria das representações sociais é um importante método de estudo, pois

“[...] tem a capacidade de descrever, mostrar uma realidade, um fenômeno que

existe, do qual muitas vezes não nos damos conta, mas que possui grande

poder mobilizador e explicativo” (JACQUES, 2001, p. 31).

A Representação Social mostra-se como um conjunto de proposições, reações

e avaliações que dizem respeito a determinados pontos, emitidas aqui e ali, no

decurso de uma pesquisa de opinião ou de uma conversação pelo “coro”

coletivo de que cada um faz parte, queira ou não. Esse “coro” é a opinião

pública, sendo que esta recebe seu significado a partir de uma situação multi-

individual, em que os indivíduos se expressam, ou são chamados a se

expressar, a favor ou contra alguma condição específica, alguma pessoa ou

proposta de importância geral, em tal proporção de número, intensidade e

constância, que isso dê origem à probabilidade de afetar, direta ou

indiretamente, a ação em direção ao objeto referido, diferenciando-se, assim,

das Representações Sociais, as quais têm a ver com as dimensões de

construção e de mudança, ausentes na opinião pública (GUARESCHI, 1996).

Assim, a RS tem relação com a opinião pública. Porém, a Representação

Social não é mera opinião, vai além dela, pois está relacionada à avaliação do

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objeto, aos sentimentos associados a ele e isso enquanto característica

produzida e compartilhada por um grupo. Entretanto, as proposições, reações

ou avaliações estão organizadas de maneira muito diversa segundo as classes,

as culturas ou grupos, e constituem tantos universos de opinião quantas

classes, culturas ou grupos existentes (MOSCOVICI, 1978).

Segundo o autor, estas proposições, reações e avaliações estão organizadas

de acordo com a cultura e a formação social de cada grupo e, a partir disto,

lança a ideia de que cada contexto social está dividido em três dimensões: a

atitude, a informação e o campo de representações ou a imagem.

A informação é a organização dos conhecimentos que o grupo possui a

respeito de determinado objeto social. Ou seja, dependendo do nível de

conhecimento do grupo, as informações a respeito do objeto serão mais

precisas, e sua representação pode diferir de um grupo com pouca, nenhuma

informação, ou com informações diferentes (MOSCOVICI, 1978).

No que se refere ao campo de representações, Moscovici (1978) considera-o a

imagem que o grupo social constrói do objeto, o modelo social referente aos

aspectos da representação do objeto.

A atitude, segundo o autor, é a tomada de posição diante do objeto, ser

favorável ou não, aceitar ou rejeitar, ou então ser intermediário, ou seja, o meio

termo entre os dois extremos.

A psicologia social trabalha com as representações sociais no âmbito do seu

campo, do seu objeto de estudo – a relação indivíduo-sociedade – e de um

interesse pela cognição, embora não situado no paradigma clássico da

psicologia: ela reflete sobre como os indivíduos, os grupos, os sujeitos sociais

constroem seu conhecimento a partir da sua inscrição social, cultural, etc., por

um lado e, por outro, como a sociedade se dá a conhecer e constrói esse

conhecimento com os indivíduos. Logo, como interagem sujeitos e sociedade

para organizar a realidade, como terminam por construí-la numa estreita

parceria que passa pela comunicação (ARRUDA, 2007).

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O Caminho do Conhecimento

Dois movimentos nos levam ao conhecimento. O primeiro se estende e quer

abarcar algo até então desconhecido para dele se apropriar e dele dispor. O

esforço científico pertence a esse tipo e sabemos quanto ele transformou,

assegurou e enriqueceu o nosso mundo e a nossa vida. O segundo movimento

se origina quando nos detemos, durante nosso esforço em abarcar o

desconhecido, e dirigimos o olhar, não mais para um determinado objeto

palpável, mas para um todo. Assim, o olhar está disposto a receber,

simultaneamente, a diversidade que se encontra à sua frente. Quando nos

deixamos levar por esse movimento, por exemplo, diante de uma paisagem,

uma tarefa ou um problema, notamos como nosso olhar fica, ao mesmo tempo,

pleno e vazio. Pois só podemos nos expor à plenitude e suportá-la, quando

prescindimos primeiramente dos detalhes.

Assim, detemo-nos em nosso movimento exploratório e nos retraímos um

pouco, até atingirmos aquele vazio que pode resistir à plenitude e à

diversidade. Esse movimento, que primeiramente se detém e depois se retrai,

chamo de fenomenológico. Ele nos conduz a conhecimentos distintos daqueles

obtidos pelo movimento do conhecimento exploratório. Contudo, ambos se

completam. Pois também no movimento do conhecimento científico

exploratório precisamos, às vezes, deter-nos e dirigir nosso olhar, do estreito

ao amplo, do próximo ao distante. Por sua vez, o conhecimento resultante do

procedimento fenomenológico precisa ser verificado no indivíduo e no próximo.

O processo

No caminho do conhecimento fenomenológico, expomo-nos, dentro de um

determinado horizonte, à diversidade dos fenômenos, sem escolher entre eles

e nem avaliá-los. Esse caminho do conhecimento exige, portanto, um esvaziar-

se, tanto em relação às idéias preexistentes quanto aos movimentos internos,

sejam eles da esfera do sentimento, da vontade ou do julgamento. Nesse

processo, a atenção é simultaneamente dirigida e não dirigida, centrada e

vazia. A postura fenomenológica requer uma prontidão tensionada para a ação,

sem passar, entretanto, à execução. Graças a essa tensão, tornamo-nos

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extremamente capazes e prontos para perceber. Quem a suporta percebe,

depois de algum tempo, como a diversidade presente no horizonte se dispõe

em torno de um centro e, de repente, reconhece uma conexão, uma ordem

talvez, uma verdade ou o passo que leva adiante. Esse conhecimento provém

igualmente de fora, é vivenciado como uma dádiva e é, via de regra, limitado.

O Trabalho com as Constelações Familiares

O que o procedimento fenomenológico possibilita e requer pode ser

experimentado e descrito de modo especialmente marcante através do trabalho

com as constelações familiares. Pois a colocação da constelação familiar é, por

um lado, o resultado de um caminho do conhecimento fenomenológico e, por

outro lado, o procedimento fenomenológico obtém resultado, quando se trata

do essencial, apenas através da contenção e confiança na experiência e

compreensão por ele possibilitadas.

O cliente

O que acontece quando um cliente coloca a sua família na psicoterapia? Em

primeiro lugar, escolhe entre as pessoas de um grupo, representantes para os

membros de sua família. Portanto, para o pai, para a mãe, para os irmãos e

para si mesmo, não importando quem ele escolhe para representar os diversos

membros de sua família. Na verdade, é melhor ainda se escolher os

representantes independentemente de aparências externas e sem uma

determinada intenção. Isto já é o primeiro passo em direção a uma contenção e

uma renúncia à intenções e velhas imagens.

Quem escolhe seguindo aspectos exteriores, por exemplo, idade ou

características corporais não se encontra numa postura aberta para o essencial

e invisível. Limita a força expressiva da colocação através de considerações

externas. Com isso a colocação de sua constelação familiar já pode estar, para

ele, talvez fadada ao fracasso. Por isso também não importa e algumas vezes

é melhor que o terapeuta escolha os representantes e deixe o cliente configurar

com estes a sua família. Porém, o que deve ser considerado é o sexo das

pessoas escolhidas, isto é, que homens sejam escolhidos para representar os

homens e mulheres para as mulheres.

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Escolhidos os representantes o cliente coloca-os no espaço um em relação ao

outro. No momento da colocação é de grande ajuda que ele os segure com

ambas as mãos pelos ombros e assim em contato com eles os posicione em

seu lugar. Durante a montagem permanece centrado, prestando atenção ao

seu movimento interior, seguindo-o até sentir que o lugar para onde conduziu o

representante seja o certo. Durante a colocação está em contato não somente

consigo e com o representante, senão também com uma esfera, recebendo daí

também sinais que o ajudarão a encontrar o lugar certo para essa pessoa.

Prossegue assim com os outros representantes até que todos se encontrem

em seus lugares. Durante este processo o cliente está, por assim dizer,

esquecido de si mesmo.

Desperta deste esquecimento de si mesmo quando todos estão posicionados.

Algumas vezes é de ajuda quando, em seguida, dá uma volta e corrige o que

ainda não está totalmente certo. Senta-se, então. Podemos perceber

imediatamente quando alguém não se encontra nesta postura de esquecimento

de si mesmo e contenção. Por exemplo, quando prescreve para cada um dos

representantes uma determinada postura corporal no sentido de uma escultura,

ou quando monta a constelação muito depressa como se seguisse uma

imagem preconcebida ou quando se esquece de colocar uma pessoa, ou

quando declara que uma pessoa já está em seu lugar certo sem tê-la

posicionado de modo concentrado.

Uma constelação familiar que não foi configurada deste modo concentrado

termina num beco sem saída ou de forma confusa.

O terapeuta

O terapeuta precisa também se libertar de suas intenções e imagens a fim de

que a colocação de uma constelação familiar tenha êxito. Na medida em que

se contém e se expõe centrado à constelação, reconhece imediatamente se o

cliente quer influenciá-lo através de imagens preconcebidas ou esquivar-se

daquilo que começa a se mostrar. Então ele ajuda-o a se centrar e o conduz a

um estado de disposição para que se exponha ao que está acontecendo. Se

isso não for possível, pára com a colocação.

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Os representantes

Exige-se também dos representantes uma contenção interna de suas próprias

idéias, intenções e medo. Isso significa que eles devem observar exatamente

as mudanças que se manifestam em seu estado corporal e seus sentimentos

enquanto são colocados. Por exemplo, que o coração bate mais depressa, que

querem olhar para o chão, que se sentem repentinamente pesados ou leves,

ou estão com raiva ou tristes. É também de grande ajuda quando prestam

atenção às imagens que emergem e que ouçam os sons e palavras que

afloram. Por exemplo, um americano que estava começando a aprender

alemão, ouvia constantemente durante uma colocação familiar na qual ele

representava um pai a sentença alemã: "Diga Albert". Mais tarde ele perguntou

ao cliente se o nome Albert tinha algum significado para ele. "Mas é claro", foi a

resposta", é o nome do meu pai, do meu avô e Albert é o meu segundo

prenome."

Uma outra pessoa que representava em uma constelação o filho de um pai que

havia morrido em um acidente de helicóptero ouvia constantemente o ruído do

rotor de um helicóptero. Certa vez este filho tinha sido o piloto de um

helicóptero em que estava também o pai. O helicóptero caiu, mas os dois

sobreviveram. Para que essa postura obtenha resultado são naturalmente

necessárias uma grande sensibilidade e uma enorme prontidão para se

distanciar de suas próprias idéias. E o terapeuta precisa ser muito cauteloso

para que as fantasias dos representantes não sejam captadas como

percepções. Tanto o terapeuta quanto os representantes podem escapar mais

facilmente deste perigo quanto menos informações tiverem sobre a família.

As perguntas

A percepção fenomenológica obtém melhores resultados quando se pergunta

só o essencial, diretamente antes da colocação familiar. As perguntas

necessárias são:

1.Quem pertence à família?

2. Existem natimortos ou membros da família que morreram precocemente ?

Houve na família destinos especiais, por exemplo deficientes?

Page 38: Introdução à Constelações Familiares€¦ · Introdução à Constelações Familiares . Constelação familiar Constelação Familiar é uma abordagem recente, fenomenológica,

3. Um dos pais ou avós teve anteriormente um relacionamento firme, portanto,

foi noivo(a), casado(a) ou teve de alguma forma um relacionamento longo e

significante? Uma anamnese extensa dificulta, via de regra, a percepção

fenomenológica tanto do terapeuta como também dos representantes. Por isso,

o terapeuta recusa também conversas prévias ou questionários que vão além

das perguntas mencionadas. Pelo mesmo motivo os clientes não devem dizer

nada durante a colocação nem os representantes devem fazer perguntas de

qualquer tipo para os clientes.

Centrar-se em si mesmo

Alguns representantes são tentados a extrair da imagem externa da

constelação o que sentem em vez de prestar atenção à sua percepção corporal

e ao seu sentimento interno imediato. Por exemplo, o representante de um pai

dissera que se sentia confrontado pelos filhos porque estes tinham sido

colocados à sua frente. Entretanto, quando prestou atenção ao seu sentimento

interior imediato, percebeu que estava se sentindo bem. Ele se desviara de sua

percepção imediata por causa da imagem externa. Algumas vezes, quando um

representante sente algo que lhe parece indecoroso, não o menciona. Por

exemplo, que ele, como pai, sente uma atração erótica pela filha. Ou uma

representante não se arrisca a dizer que ela, como mãe, se sente melhor

quando um de seus filhos quer seguir um membro da família na morte.

O terapeuta presta atenção, portanto, aos leves sinais corporais, por exemplo,

um sorriso ou um retesamento, ou uma aproximação involuntária das pessoas.

Quando comunica tais percepções os representantes podem verificar

novamente a sua própria percepção. Alguns representantes fazem também

afirmações amáveis porque pensam que com isso poderão ajudar ou consolar

o cliente. Tais representantes não estão em contato com o que acontece e o

terapeuta deve substituí-los por outros imediatamente.

Os sinais

Um terapeuta que não se mantém constantemente durante a situação inteira

em sua percepção centrada, isto é, sem intenção e sem medo, é levado,

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muitas vezes através de afirmações de primeiro plano a um caminho errado ou

a um beco sem saída. Com isso os outros representantes ficam também

inseguros. Existe um sinal infalível se uma colocação familiar está no caminho

certo ou não. Quando começa a se perceber no grupo observador inquietação

e a atenção diminui, a colocação não tem mais chance. Nesse caso, quanto

mais depressa o terapeuta interromper o trabalho tanto melhor.

A interrupção permite a todos os participantes concentrar-se novamente e

depois de algum tempo recomeçar o trabalho. Algumas vezes o grupo

observador também apresenta sugestões que levam adiante. Entretanto isto

deve ser apenas uma observação. Se tentarem somente adivinhar ou

interpretar, isso aumenta a confusão. Então o terapeuta também deve parar a

discussão e reconduzir o grupo à concentração e seriedade.

A abertura

Tratei minuciosamente destas formas de procedimento e dos obstáculos que

podem surgir a fim de por limites às colocações feitas levianamente. Senão o

trabalho com as constelações familiares pode cair facilmente em descrédito.

Alguns procedem de outra forma nas constelações familiares. Se isso ocorrer a

partir de uma atenção centrada pode obter bons resultados. Entretanto, se

ocorrer somente por uma necessidade de delimitação ou para ganhar prestígio

a abertura fenomenológica fica limitada devido às intenções.

A melhor forma de adquirir prestígio é quando se tem novas percepções que

podem ser comprovadas pelos resultados e nas quais se deixa também outros

participarem. Se, entretanto, a delimitação segue idéias teóricas ou é

influenciada por intenções e medos que se recusam em concordar com a

realidade que se mostra, isto leva à perda da prontidão para apreender, com as

respectivas consequências para o efeito terapêutico. Se a colocação da

constelação familiar for feita só por curiosidade ela perde a sua seriedade e

força. Restam, então, do fogo talvez apenas as cinzas e do vestido apenas a

cauda.

O início

Page 40: Introdução à Constelações Familiares€¦ · Introdução à Constelações Familiares . Constelação familiar Constelação Familiar é uma abordagem recente, fenomenológica,

De volta agora ao trabalho com as constelações familiares. A questão que o

terapeuta deve decidir, em primeiro lugar, é:

Coloco a família atual ou a de origem?

Deu bons resultados começar com a família atual. Pois, dessa maneira, pode-

se colocar mais tarde aquelas pessoas da família de origem que ainda agem

fortemente na família atual. Obtém-se assim uma imagem em que as

influências que sobrecarregam e curam através das várias gerações ficam

visíveis e podem ser sentidas. Unicamente quando os destinos da família de

origem são especialmente trágicos é que se começa com a família de origem.

A próxima pergunta é:

Com quem começo a colocação?

Começa-se com o núcleo familiar, portanto, pai, mãe e filhos. Se existe um

natimorto ou uma criança que morreu precocemente, coloca-se esta criança

mais tarde para poder ver qual o efeito que tem na família quando está à vista.

A regra é começar com poucas pessoas, deixar-se conduzir por elas e

desenvolver passo a passo a constelação.

O procedimento

Quando a primeira imagem é configurada dá-se ao cliente e aos

representantes um pouco de tempo para que se exponham à ela, deixando-a

atuar. Muitas vezes os representantes começam a reagir espontaneamente,

por exemplo, começam a tremer ou chorar ou abaixam a cabeça, respiram com

dificuldade ou olham com interesse ou apaixonadamente para alguém. Alguns

terapeutas perguntam aos representantes muito depressa como eles estão se

sentindo, impedindo ou interrompendo dessa maneira este processo.

Quem faz perguntas aos representantes apressadamente, utiliza este

procedimento facilmente como substituto para a sua própria percepção,

tornando os representantes inseguros também. O terapeuta deixa, em primeiro

lugar, a imagem atuar também sobre ele. Freqüentemente vê imediatamente

qual a pessoa que está mais carregada ou em perigo. Se, por exemplo, ela foi

colocada de costas ou de lado, o terapeuta vê que ela quer partir ou morrer.

Apenas precisa, sem perguntar nada a ninguém, dirigi-la uns poucos passos à

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frente na direção em que está olhando e prestar atenção ao efeito que esta

mudança provoca nela e nos outros representantes.

Ou se todos os representantes olham para uma mesma direção o terapeuta

sabe, imediatamente, que alguém deve estar na frente deles: uma pessoa que

foi esquecida ou excluída. Por exemplo, uma criança que morreu

precocemente ou um noivo anterior da mãe que morreu na guerra. Então ele

pergunta ao cliente quem poderia ser e coloca a pessoa no quadro antes que

qualquer um dos representantes tenha dito algo.

Ou quando a mãe está cercada pelos filhos dando a impressão de que eles

estão impedindo a sua partida, o terapeuta pergunta ao cliente imediatamente:

O que aconteceu na família de origem da mãe que possa esclarecer esta

atração por partir. Então ele procura, em primeiro lugar, um alívio e solução

para a mãe antes de continuar a trabalhar com os outros representantes.

O terapeuta desenvolve, portanto, os próximos passos a partir da colocação

inicial e busca informações adicionais do cliente para o próximo passo, sem

fazer ou perguntar nada além do que ele precise para este passo. Com isso a

constelação mantém a concentração no essencial e a sua especial densidade e

tensão. Cada passo desnecessário, cada pergunta desnecessária, cada

pessoa adicional que não seja necessária para a solução diminui a tensão e

desvia a atenção das pessoas e dos acontecimentos importantes.

Constelações familiares densas

Freqüentemente é suficiente colocar somente dois representantes, por

exemplo, a mãe e o filho com aids. O terapeuta nem precisa então dar maiores

instruções. Deixa os representantes seguir os movimentos que resultam do

campo de forças entre eles, entretanto sem nada dizer. Assim ocorre um drama

mudo, no qual vem à luz não somente os sentimentos das pessoas

participantes mas também emerge um movimento que mostra quais os passos

que são possíveis ou adequados para ambos.

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O espaço

Aqui se apresenta o mais surpreendente efeito da postura fenomenológica e

sua forma de procedimento. A contenção centrada do terapeuta e do grupo

participante cria o espaço no qual relacionamentos e emaranhamentos vêm à

tona. Eles se movimentam em direção à uma solução dando a impressão de

que os representantes são movidos por uma força poderosa exterior. Esta força

serve-se deles e deixa parecer muitas das usuais suposições psicológicas e

filosóficas insuficientes e falhas.

A participação

Em primeiro lugar vê-se que existe obviamente um conhecimento através da

participação. Os representantes comportam-se e se sentem como as pessoas

que representam embora nem eles nem o terapeuta possuam informações

prévias que vão além dos fatores e acontecimentos externos mencionados

anteriormente. Muitas vezes o cliente fica estupefado que os representantes

expressam as mesmas coisas que conhece das pessoas reais ou que mostram

os mesmos sentimentos e sintomas que as pessoas reais têm. Por isso pode-

se concluir que os membros reais da família também possuem este

conhecimento através da participação de modo que nada de significativo

permanece oculto à sua alma.

Há pouco tempo uma conhecida de uma mulher relatou que o seu pai era judeu

e que tinha ocultado este fato de seus filhos, batizando-se. Ela tomara

conhecimento disto pouco antes de sua morte. Nesta oportunidade soube

também que o pai tinha ainda duas irmãs que haviam morrido em um campo

de concentração. Esta mulher tivera muitas profissões, uma atrás da outra.

Primeiro tinha sido uma camponesa, depois foi restauradora de velhos móveis

antes de escolher a sua atual profissão de terapeuta. Quando então pesquisou

sobre as circunstâncias da vida de suas duas tias mortas veio à tona que uma

delas administrara uma fazenda e a outra uma loja de antiguidades. Sem ter

conhecimento disto tinha seguido as duas através de suas profissões, ligando-

se desse modo a elas.

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O campo de forças

O esclarecimento para isso permanece um mistério. Rupert Sheldrake provou

através de observações e muitas experiências que cães demonstram através

de seu comportamento que sentem imediatamente quando seu dono ou dona

que estão ausentes se põem a caminho de casa e que percebem

imediatamente quando este caminho é interrompido. Sentem também, algumas

vezes, através dos continentes. Portanto, deve existir um campo de forças

através do qual ambos estão diretamente ligados.

Os mortos

Nas constelações familiares torna-se ainda mais evidente através do

comportamento dos representantes e com isso, naturalmente, através do

comportamento e dos destinos dos membros reais da família que eles estão

ligados às pessoas que já faleceram há muito tempo. Como se poderia de

outra forma ser esclarecido que numa família, durante os últimos 100 anos, três

homens de várias gerações tenham se suicidado com 27 anos de idade no dia

31 de dezembro e pesquisas revelaram que o primeiro marido da bisavó tinha

falecido com 27 anos no dia 31 de dezembro e tinha sido provavelmente

envenenado pela bisavó e seu segundo marido?

A alma

Aqui atua mais do que um campo de forças. Aqui atua uma alma comum que

liga não somente os vivos mas também os membros falecidos da família. Esta

alma abarca somente certos membros familiares e nós podemos ver pelo

alcance de sua atuação quais os membros da família que foram por ela

abrangidos e tomados a seu serviço.

Começando pelos descendentes são os seguintes:

1. os filhos, inclusive os natimortos e os falecidos,

2. os pais e seus irmãos,

3. os avós,

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4. algumas vezes ainda um ou outro avô ou avó e também ancestrais que

estão ainda mais longe

5. todos - e isto é especialmente significativo - aqueles que deram lugar para a

vantagem dos membros mencionados anteriormente, principalmente parceiros

anteriores dos pais ou avós, e todos aqueles que através de sua infelicidade ou

morte a família teve vantagem ou lucro.

6. as vítimas de violência ou morte causadas por membros anteriores dessa

família. Sobre os dois últimos grupos mencionados gostaria de comunicar o

que experiências recentes trouxeram à luz. Nas colocações das constelações

familiares de descendentes de pessoas que acumularam uma grande riqueza,

chamou-me a atenção que netos e bisnetos têm tido destinos terríveis que não

podem ser entendidos somente pelos acontecimentos dentro da família.

Somente depois que as vítimas cuja morte ou infelicidade havia sido o preço

para esta riqueza foram colocadas na constelação veio à tona a extensão da

atuação dos destinos destas pessoas na família. Exemplos para estes casos:

trabalhadores que morreram na construção de ferrovias ou sondagens de

petróleo, cuja contribuição para a riqueza e bem-estar dos industriais não tinha

sido reconhecida e valorizada. Em muitas colocações de descendentes de

assassinos, por exemplo, agressores nazistas do 3° Reich pôde-se ver que os

netos e bisnetos queriam se deitar junto às vítimas e com isso corriam extremo

risco de se suicidar.

A solução para ambos os grupos era a mesma. As vítimas devem ser vistas e

respeitadas por todos os membros da família. Todos devem reverenciá-las,

inclinando-se diante delas, sentir tristeza e chorar por elas. Depois disso, os

ganhadores e agressores originais devem se deitar ao lado das vítimas e os

outros membros da família devem deixá-los aí. Só assim os descendentes

ficam livres. Aqui fica evidente que os membros da família se comportam como

se tivessem uma alma comum e como se fossem chamados a serviço por uma

instância comum preordenada e como se esta instância servisse uma certa

ordem e seguisse um certo objetivo.

O amor

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Em primeiro lugar podemos ver que a alma liga os membros da família uns aos

outros. Isso vai tão longe que a alma de uma criança anseia seguir na morte o

pai que morreu cedo ou a mãe que morreu cedo. Pais ou avós também

desejam às vezes seguir na morte um(a) filho(a) ou um(a) neto(a). Podemos

observar esse anseio também entre parceiros. Se um deles morre o outro

freqüentemente também não quer mais viver.

O equilíbrio

Em segundo lugar, podemos ver que existe em uma família uma necessidade

de equilíbrio entre o ganho e a perda que abarca várias gerações. Isto é, os

que ganharam às custas de outros pagam com uma perda compensando assim

o que ganhou. Ou, se no caso dos ganhadores se tratarem de agressores,

geralmente não são eles que pagam, senão os seus descendentes. Estes são

escolhidos pela alma da família para compensar no lugar de seus

antecedentes, freqüentemente sem que tenham consciência disso.

A precedência dos antecedentes

A alma da família, portanto, dá preferência aos antecedentes em relação aos

descendentes, sendo este o terceiro movimento ou a ordem que a alma da

família segue. Um descendente ou está disposto a morrer por um antepassado

se achar que com isso pode evitar a morte dele ou está disposto a expiar a

culpa pendente de um membro familiar anterior. Ou uma filha representa a

mulher anterior de seu pai e se comporta em relação ao pai como se fosse a

sua parceira e como rival em relação à mãe. Se a mulher anterior foi

injustiçada, então a filha apresenta os sentimentos dessa mulher perante os

pais.

A totalidade

Aqui podemos ver também o quarto movimento e a ordem que a alma da

família segue. Ele vela para que a família esteja completa e restaura a sua

totalidade com o auxílio de descendentes para representar os que foram

esquecidos, rejeitados ou excluídos. Resumi aqui, de modo sucinto, os

Page 46: Introdução à Constelações Familiares€¦ · Introdução à Constelações Familiares . Constelação familiar Constelação Familiar é uma abordagem recente, fenomenológica,

movimentos da alma da família, as leis e as ordens que ela segue. Eu os

descrevo minuciosamente em meu livro " Die Mitte fühlt sich leicht an" ("No

centro sentimos leveza") nos capítulos "Culpa e Inocência em Sistemas", "Os

Limites da Consciência" e "Corpo e Alma, Vida e Morte" assim como em meu

livro "Ordnungen der Liebe" ("As Ordens do Amor") no capítulo "Do Céu que

provoca Doenças e da Terra que cura".

As soluções

As questões são as seguintes:

Como o terapeuta encontra uma solução para o cliente?

O que é aqui o procedimento fenomenológico?

Ele vai do próximo ao distante e do estreito ao amplo. Isto é, em vez de olhar

somente para o cliente o terapeuta olha para a sua família e, em vez de olhar

somente para o cliente e sua família ele olha para além deles, para um campo

de forças e para a alma que os abarca. Pois é evidente que o indivíduo e sua

família estão integrados em um campo de forças maior e em uma grande alma

e são usados e tomados a seu serviço. Da mesma forma que o

reconhecimento do problema e as soluções possíveis só surgem

freqüentemente através da ligação com algo maior. Por isso se quero ajudar a

alma do cliente eu a vejo governada pela alma da família. Mas se olhar aqui

somente para o cliente e sua família, reconheço, talvez , as ordens e leis que

levam a emaranhamentos. Entretanto, somente apreendo onde estão as

soluções se encontro um acesso ao campo de forças e dimensões da alma que

ultrapassam o indivíduo e a sua família.

Não podemos influenciar estas dimensões da alma. Nós podemos somente nos

abrir. Porque quando se tratar de algo decisivo, a compreensão das imagens,

frases e passos que solucionam e curam nos será presenteada por esta alma.

O terapeuta abre-se para a atuação desta grande alma através do recolhimento

total de suas intenções e sua consideração pelo que ele talvez receie, inclusive

o receio de fracassar. Então surge repentinamente uma imagem ou uma

palavra ou uma frase que lhe possibilita dar o próximo passo. No entanto é

sempre um passo no escuro.

Page 47: Introdução à Constelações Familiares€¦ · Introdução à Constelações Familiares . Constelação familiar Constelação Familiar é uma abordagem recente, fenomenológica,

Apenas no final é que se releva se foi o passo certo que inverte a necessidade.

Através da postura fenomenológica entramos, portanto, em contato com estas

dimensões da alma. Isto é, mais através da nãoação centrada do que através

da ação. Através de sua presença centrada o terapeuta ajuda também o cliente

a adquirir esta postura, a compreensão e a força que daí advêm. Muitas vezes

o cliente não agüenta esta compreensão e se fecha a ela novamente. O

terapeuta também concorda com isso, através de seu recolhimento. Também

aqui ele não se deixa envolver nem através de uma reivindicação interna nem

externa no destino do cliente e de sua família.

Pode parecer duro, mas o resultado da experiência mostra que cada

compreensão que foi presenteada desta forma é incompleta e temporária, tanto

para o terapeuta quanto para o cliente. Retorno, no final, ao começo " à

diferença entre o caminho do conhecimento científico e do fenomenológico". Eu

a sintetizei num poema que escrevi já há alguns anos atrás.

Dinâmica familiar

A dinâmica familiar diz respeito à forma como os indivíduos no seio de

uma família interagem entre si. Esta interação, dependendo da sua

funcionalidade (saudável ou não) influencia toda a estrutura

e relacionamentos entre os membros.

Segundo a revisão bibliográfica de Dessen e Szelbracikowski (2004)

a dinâmica familiar é importante do ponto de vista do desenvolvimento do

indivíduo porque são as práticas parentais, na sua maioria, que vão ditar

o comportamento e a postura adotados.

De acordo com Szymanski (2004) as práticas inerentes à dinâmica

familiar dizem respeito aos valores, aos hábitos, aos mitos, aos pressupostos,

às interpretações do núcleo familiar e do exterior, das partilhas e de toda a

subjetividade que lhe é natural.

Estas características da dinâmica familiar ajudam-nos a perceber se a família é

funcional ou disfuncional e as capacidades adquiridas entre os membros no

campo emocional pelo que, famílias cuja capacidade de desenvolvimento

Page 48: Introdução à Constelações Familiares€¦ · Introdução à Constelações Familiares . Constelação familiar Constelação Familiar é uma abordagem recente, fenomenológica,

saudável de todos os membros é conseguida, são consideradas funcionais

(Szymanski, 2004).

Neste contexto, Ackemann (1998, p.77, cit in Szymanski, 2004, p.6) considera,

no que diz respeito às dinâmicas familiares saudáveis, que:

“… capaz de cumprir e harmonizar todas as funções essenciais [de garantir a

sobrevivência e plasmar a humanidade essencial do homem] de forma

apropriada à identidade e às tendências das famílias e de seus membros, de

forma realista em relação aos perigos e oportunidades que prevaleçam no meio

circundante.”

Quando a dinâmica familiar adotada pelos pais é inconsistente, pouco

disciplinadora e com disparidades extremas tais como demasiadas punições ou

demasiada benevolência, isso reflete-se na postura adotada pelos filhos

(Dessen, & Szelbracikowski, 2004).

O que acontece, na maioria destes casos, é que os pais não sabem distinguir

os papéis, o que acaba por interferir negativamente com a dinâmica familiar e

atinge tudo aquilo que diz respeito à dinâmica parental (Dessen, &

Szelbracikowski, 2004).

Neste sentido, os cuidados parentais podem tornar-se numa grande fonte

de stresse que prejudica a dinâmica familiare, consequentemente, a resolução

de problemas de comportamento inerentes que possam estar a criar obstáculos

(Dessen, & Szelbracikowski, 2004).

Por vezes, em dinâmicas familiares nas quais existem dois filhos e um deles é

agressivo para com o outro, isso vai alastrar-se às suas relações com os pares,

principalmente na escola, isto porque a família é a base de socialização que

a criança tem (Dessen, & Szelbracikowski, 2004).

No entanto Szymanski (2004) defende que as dinâmicas familiares quando são

construídas de acordo com pressupostos que se assumem devidamente

organizados dão à criança a possibilidade de exercer atividades cuja

dificuldade aumenta gradualmente à medida que esta adquire competências e

promovem o seu desenvolvimento saudável.

Page 49: Introdução à Constelações Familiares€¦ · Introdução à Constelações Familiares . Constelação familiar Constelação Familiar é uma abordagem recente, fenomenológica,

Por outro lado, vários estudos demonstram que, habitualmente, as dinâmicas

entre irmãos promovem as competências sociais externas dos indivíduos, uma

vez que criam uma aliança fraternal fortificada, especialmente

em famílias reconstituídas, ou seja, em que um dos conjugues saiu de casa e o

outro voltou a casar, assumindo a guarda parental (Dessen, & Szelbracikowski,

2004).

Quando falamos de famílias reconstituídas, estamos a considerar questões

como a necessidade de adaptabilidade entre os membros que dizem respeito à

capacidade para reorganizar todo o sistema familiar, a qual vai,

inevitavelmente, interferir com o desenvolvimento dos seus membros

(Szymanski, 2004).

Regra geral, três tópicos são fundamentais para se poder compreender

o comportamento d indivíduo com base nas dinâmicas familiares (Dessen, &

Szelbracikowski, 2004).

“Para dar conta das expetativas do grupo social, os pais oferecem uma

condição de desenvolvimento favorável tanto no ambiente físico como no tipo

de ações que criam, nas oportunidades que oferecem aos filhos e nos objetivos

e estratégias que desenvolvem para enfrentar essa tarefa” (Nunes, 1994, cit in

Szymanski, 2004, p. 5).

Assim, o tipo de dinâmica dita o desenvolvimento cognitivo, a relação e

o stresse parental já que todos esses vão influenciar (Dessen, &

Szelbracikowski, 2004).

Além do desenvolvimento cognitivo, Szymanski (2004) foca ainda a importância

das competências sociais que fluem juntamente com uma boa dinâmica

familiar em que há apoio e respeito mútuo e privilegiam o envolvimento de

todos os membros da família em todas as questões abordadas.

Conclusão

É possível verificar que as dinâmicas familiares são os maiores preditores

dos comportamentos adotados por todos os seus membros, principalmente

pelas crianças. Por essa razão é indispensável apostar em dinâmicas

Page 50: Introdução à Constelações Familiares€¦ · Introdução à Constelações Familiares . Constelação familiar Constelação Familiar é uma abordagem recente, fenomenológica,

funcionais e saudáveis que promovam em todos os membros da família a

capacidade para desenvolver competências em vários níveis, principalmente

cognitivo e social.