«Inúmeras manufaturas, entre elas algumas emblemáticas ... · depois, começava o escândalo...

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COLEÇÃO AUDEMARS PIGUET ROYAL OAK Royal Oak: há 40 anos a navegar com sucesso Foi o primeiro relógio desportivo de luxo, rompendo conceitos estéticos e usando o aço como se fosse um metal precioso. O Royal Oak ajudou a Audemars Piguet a ultrapassar a crise do quartzo e mantém-se hoje como modelo e ícone da manufatura. Por Fernando Correia de Oliveira 79 Há 40 anos, a Península Ibérica vivia em ditadura, mas os regimes de Lisboa e Madrid começavam a dar já sinais de desgaste e fraqueza. A comunidade internacional isolara um e outro, e as transições democráticas iriam chegar brevemente. Mas 1972 começara de forma sangrenta na Europa: em janeiro, em Derry, na Irlanda do Norte, a repressão do exército britânico sobre os independentistas católicos saldava-se em 13 mortos (o episódio, conhecido como Bloody Sunday, iria inspirar uma das mais conhecidas canções dos U2). O presi- KLU[L KVZ ,Z[HKVZ <UPKVZ 9PJOHYK 5P_VU PYPH ÄJHY na história pelos melhores e piores motivos: em fevereiro, fazia uma inesperada visita à China; meses depois, começava o escândalo Watergate, que iria levar ao seu afastamento. O mundo vivia a tensão da Guerra Fria e a Europa mantinha-se dividida, num quadro saído da II Guerra Mundial. Nos Jogos Olímpicos, em Munique, os pa- lestinianos do Setembro Negro atacavam a delega- ção israelita, tendo sido assassinados onze atletas. A Alemanha Federal sagrava-se campeã da Europa em futebol, o alemão Heinrich Böll era Prémio Nobel da Literatura. Em Londres, estreava-se Jesus Cristo Superstar, de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber. 6 ÄSTL O Último Tango em Paris, de Bernardo Berttolucci, com Marlon Brando e Maria Schneider, provocava o escândalo generalizado. A França apresentava o TGV. Nascia o conceito de tempo universal coordenado (UTC), que vinha substituir o conceito de tempo médio de Greenwich (GMT). E a indústria relojoeira suíça morria uma morte que parecia rápida e inexorável. O aparecimento da tecnologia do quartzo e a PU\UKHsqV KVZ TLYJHKVZ JVT YLS}NPVZ Äm]LPZ L baratos por parte do Japão provocaram uma he- catombe no setor, na década de 70 e no início dos anos 80. Segundo números da Fédération de l’industrie horlogère suisse (FH), a indústria relojo- eira tinha 90 mil trabalhadores em 1970 e chegou aos 30 mil em 1984. O número de empresas di- minuiu de 1.600, em 1970, para menos de 300 no auge da crise. Hoje em dia, há cerca de 600 empresas, que empregam aproximadamente TPS WLZZVHZ «Os efeitos do quartzo sobre a indústria relojoeira [YHKPJPVUHS ZqV KL]HZ[HKVYLZ® YLÅL[L +VTPUPX\L Fléchon na sua mais recente obra, La Conquête du Temps (Flammarion, 2011). «Inúmeras manufaturas, entre elas algumas emblemáticas, como a francesa Lip, desaparecem. Os relojoeiros mais velhos são reformados, os outros tentam reconverter-se. As escolas de relojoaria fecham. Uma placa de chumbo HIH[LZL ZVIYL \TH WYVÄZZqV ZPUPZ[YHKH® Perante este cenário, não será difícil visualizar o clima de desesperança, de algum desespero mesmo, que rodeava a edição de 1972 da Feira de Basileia, já naquela altura a montra principal do setor a nível mundial. Embora a pesquisa e o desenvolvimento se centrassem então, mesmo na Europa, no melho- ramento da medição eletrónica do tempo, «alguns raros mestres relojoeiros perseveravam, ignorando o perigo, como se a mecânica, por milagre, pudesse ]PY H YLZWVUKLY HVZ UV]VZ KLZHÄVZ PTWVZ[VZ WLSV progresso ávido de uma precisão que os meios tradicionais não podiam, inexoravelmente, satisfazer mais», escreve Fléchon. Mas, ao mesmo tempo, começava a surgir por esta altura uma nova clientela – ousada, ativa, HKLW[H KVZ KLZHÄVZ WYVÄZZPVUHPZ L KLZWVY[P]VZ KL um estilo de vida dinâmico. Os relojoeiros tiveram então de inventar relógios suscetíveis de acom- panhar os homens de ação em todas as suas H[P]PKHKLZ X\V[PKPHUHZ WYVÄZZPVUHPZ V\ KL SHaLY O cronógrafo, sobretudo o automático, acabado de inventar (1969), popularizava-se. Respondendo H LZ[H YLHSPKHKL UV ÄUHS KVZ HUVZ L PUxJPV KVZ anos 70, uma nova abordagem estilística começa a «Inúmeras manufaturas, entre elas algumas emblemáticas, como a francesa Lip, desaparecem. Os relojoeiros mais velhos são reformados, os outros tentam reconverter-se. As escolas de relojoaria fecham. Uma placa de chumbo abate-se sobre uma profissão sinistrada» Dominique Fléchon

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COLEÇÃO AUDEMARS PIGUET ROYAL OAK

Royal Oak: há 40 anos a navegar com sucesso

Foi o primeiro relógio desportivo de luxo, rompendo conceitos estéticos  

e usando o aço como se fosse um metal precioso. O Royal Oak ajudou  

a Audemars Piguet a ultrapassar a crise do quartzo e mantém-se hoje  

como modelo e ícone da manufatura.

Por Fernando Correia de Oliveira

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Há 40 anos, a Península Ibérica vivia em ditadura, mas os regimes de Lisboa e Madrid começavam a dar já sinais de desgaste e fraqueza. A comunidade internacional isolara um e outro, e as transições democráticas iriam chegar brevemente. Mas 1972 começara de forma sangrenta na Europa: em janeiro, em Derry, na Irlanda do Norte, a repressão do exército britânico sobre os independentistas católicos saldava-se em 13 mortos (o episódio, conhecido como Bloody Sunday, iria inspirar uma das mais conhecidas canções dos U2). O presi-denteÊdosÊEstadosÊUnidos,ÊRichardÊNixon,ÊiriaÊÞcarÊna história pelos melhores e piores motivos: em fevereiro, fazia uma inesperada visita à China; meses depois, começava o escândalo Watergate, que iria levar ao seu afastamento. O mundo vivia a tensão da Guerra Fria e a Europa 

mantinha-se dividida, num quadro saído da II Guerra Mundial. Nos Jogos Olímpicos, em Munique, os pa- lestinianos do Setembro Negro atacavam a delega-ção israelita, tendo sido assassinados onze atletas. A Alemanha Federal sagrava-se campeã da Europa em futebol, o alemão Heinrich Böll era Prémio Nobel da Literatura. Em Londres, estreava-se Jesus Cristo Superstar, de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber. OÊÞlmeÊO Último Tango em Paris, de Bernardo Berttolucci, com Marlon Brando e Maria Schneider, provocava o escândalo generalizado. A França apresentava o TGV. Nascia o conceito de tempo universal coordenado (UTC), que vinha substituir o conceito de tempo médio de Greenwich (GMT).  E a indústria relojoeira suíça morria uma morte  que parecia rápida e inexorável.O aparecimento da tecnologia do quartzo e a 

inunda��oÊdosÊmercadosÊcomÊrel�giosÊÞ�veisÊeÊbaratos por parte do Japão provocaram uma he- catombe no setor, na década de 70 e no início  dos anos 80. Segundo números da Fédération  de l’industrie horlogère suisse (FH), a indústria relojo-eira tinha 90 mil trabalhadores em 1970 e chegou aos 30 mil em 1984. O número de empresas di- mi nuiu de 1.600, em 1970, para menos de 300  no auge da crise. Hoje em dia, há cerca de  600 empresas, que empregam aproximadamente 50ÊmilÊpessoas.

«Os efeitos do quartzo sobre a indústria relojoeira tradicionalÊs�oÊdevastadoresÈ,ÊreßeteÊDominiqueÊFléchon na sua mais recente obra, La Conquête du Temps (Flammarion, 2011). «Inúmeras manufaturas, entre elas algumas emblemáticas, como a francesa Lip, desaparecem. Os relojoeiros mais velhos são reformados, os outros tentam reconverter-se. As escolas de relojoaria fecham. Uma placa de chumbo abate-seÊsobreÊumaÊproÞss�oÊsinistrada.ÈPerante este cenário, não será difícil visualizar 

o clima de desesperança, de algum desespero mesmo, que rodeava a edição de 1972 da Feira de Basileia, já naquela altura a montra principal do setor a nível mundial.Embora a pesquisa e o desenvolvimento se 

centrassem então, mesmo na Europa, no melho-ramento da medição eletrónica do tempo, «alguns raros mestres relojoeiros perseveravam, ignorando o perigo, como se a mecânica, por milagre, pudesse virÊaÊresponderÊaosÊnovosÊdesaÞosÊimpostosÊpeloÊprogresso ávido de uma precisão que os meios tradicionais não podiam, inexoravelmente, satisfazer mais», escreve Fléchon.Mas, ao mesmo tempo, começava a surgir por 

esta altura uma nova clientela – ousada, ativa, adeptaÊdosÊdesaÞosÊproÞssionaisÊeÊdesportivos,ÊdeÊum estilo de vida dinâmico. Os relojoeiros tiveram então de inventar relógios suscetíveis de acom-panhar os homens de ação em todas as suas atividadesÊquotidianas,ÊproÞssionaisÊouÊdeÊlazer.ÊO cronógrafo, sobretudo o automático, acabado de inventar (1969), popularizava-se. Respondendo aÊestaÊrealidade,ÊnoÊÞnalÊdosÊanosÊ60ÊeÊin�cioÊdosÊanos 70, uma nova abordagem estilística começa a 

« Inúmeras manufaturas, entre elas algumas emblemáticas, como a francesa Lip, desaparecem. Os relojoeiros mais velhos são reformados, os outros tentam reconverter-se. As escolas de relojoaria fecham. Uma placa de chumbo abate-se sobre uma profissão sinistrada»

Dominique Fléchon

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atingir o design dos relógios de pulso. Após várias décadas, o relógio técnico adota a forma tonneau, dando-lhe um lado masculino, reforçado pela caixa em aço, menos caro que o ouro. Clássico e robusto, o relógio desportivo atrai agora aqueles que veem nele também um objeto elegante, um acessório e, ao mesmo tempo, um instrumento que evoca o ambiente das corridas de automóveis. Aparecem as caixas quadradas.É por esta altura que, «procurando um relógio que 

nunca tenha existido», a respeitável e histórica ma- nufatura Audemars Piguet aborda o designer Gerald Genta. E, na Feira de Basileia de 1972, é apresen-tado o Royal Oak, o primeiro relógio desportivo de 

luxo, com caixa em aço, «metal deliberadamente promovido à categoria dos metais preciosos», lem-bra Fléchon. A sua luneta octogonal, com parafusos aparentes e montada numa caixa com oito lados, alinha-se ao gosto da época, num revivalismo do tonneau Art Déco.Durante a apresentação do Royal Oak, «o mundo 

relojoeiro está tão surpreendido como cético: este relógio em aço é, na verdade, mais caro que muitos relógios em ouro!», sublinha o historiador. «No entanto, o Royal Oak conhecerá um sucesso planetário e durável.»O Royal Oak original (49 x 39 x 3 mm) tinha o 

mostrador com decoração guilloché, tipo tapeçaria. E vinha com um calibre automático, com rotor central,ÊoÊmaisÊÞnoÊdaÊsuaÊ�poca.ÊIndicavaÊhoras,Êminutos e data (numa janela, nas três horas). Outro aspeto revolucionário e tecnicamente difícil de re-solver era o facto de ter pulseira em aço, totalmente integrada na caixa.Gerald Genta, falecido em agosto do ano pas-

sado,ÊaosÊ80Êanos,ÊnasceuÊemÊGenebraÊeÊeraÊÞlhoÊde mãe suíça e pai italiano. A sua formação inicial foi em joalharia e ourivesaria, mas o primeiro em-pregoÊqueÊteve,ÊnosÊanosÊ50,ÊfoiÊlogoÊnaÊrelojoariaÊ– contratado pela Universal Genève, desenvolveu ali um calibre automático, com microrrotor, que colocou no primeiro relógio que desenhou, o Poler-outer. Seguiram-se, para a mesma marca, o Golden e o White Shadow (equipados com microrrotores e calibres elétricos Unisonic e Accutron, a tentativa de 

O sucesso do Royal Oak rapidamente levou a Audemars Piguet a conceber variações sobre o modelo. Do aço, passou-se ao ouro e até às invulgares declinações em aço  e ouro, denominadas bicolores.

COLEÇÃO AUDEMARS PIGUET ROYAL OAK

É por essa altura que, “procurando um relógio que nunca tenha existido”, a res-peitável e histórica manufatura Audemars Piguet aborda o designer Gerald Genta.  E, na Feira de Basileia de 1972, é apresen-tado o Royal Oak, o primeiro relógio des-portivo de luxo, com caixa em aço, “metal deliberadamente promovido à categoria dos metais preciosos”, lembra Fléchon.

Gerald Genta e o esboço daquele que viria a ser o primeiro Royal Oak. As declinações do mostrador em azul e em preto sempre acompanharam o modelodesde a sua criação.

Os desenhos técnicos submetidos para a atribuição da patente do Royal Oak.

A caixa, a luneta octogonal e os caraterísticos parafusos do Royal Oak são a sua assinatura. Inconfundível marca do ADN estético do relógio.

Um bilhete de entrada na Feira de Basileia de 1972 onde foi apresentado o Royal Oak pela primeira vez. Face ao sucesso do modelo a Audemars Piguet iniciou a produção de variações, incluindo peças para senhora e em ouro.

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resposta suíça ao quartzo). Gerald Genta começa a ser conhecido como designer e a ser solicitado por muitas manufaturas. Além do Royal Oak, criou alguns dos modelos mais conhecidos de sempre na relojoariaÊdeÊpulsoÊÐÊoÊOmegaÊConstellationÊ(1959),Êo IWC Ingenieur (1976), o Patek Philippe Nautilus (1976) ou o Cartier Pasha (1997). Desde 1969, tem a sua própria marca, especializada em sonneries e em encomendas especiais para ricos e famosos. Durante os anos 80, Genta obteve licença da Walt Disney e produziu séries limitadas onde persona-gens como Rato Mickey, a Minnie, o Pato Donald ou o Pateta aparecem em relógios em ouro.Como surgiu a ideia do Royal Oak? Gerald Genta 

nunca foi muito preciso quanto a isso: invocava a falta de documentos, de memória…Gregory Pons, jornalista francês que acompanha 

há quatro décadas o setor, dá-nos alguns porme-nores, depois de várias conversas com Genta e, principalmente,ÊcomÊaÊvi�vaÊeÊaÊÞlha,ÊqueÊtrabalha-vam com ele no atelier de Genebra. «Os primeiros traços a lápis não foram propriamente para um relógio desportivo, mas para um trabalho sobre a caixa», refere o especialista. «A forma octogonal já lá estava há muito na sua cabeça, ele sempre teve in-tenção de fazer um relógio com essa forma. A ideia dos parafusos ou a inspiração no portaló da linha de 

veleiros Royal Oak surgiu muito mais tarde.»Pons revela ainda outro pormenor inédito: foi um 

pedido do importador da Audemars Piguet para Itália, Roberto Carlotti, que terá desencadeado o processo de encomenda do Royal Oak. O mer-cado italiano era, na altura, o mais importante para a marca e, tal como hoje, marcava as tendências est�ticas.ÊCarlottiÊcome�avaÊaÊterÊdiÞculdadeÊemÊvender relógios suíços, de grande qualidade, mas com caixas de estética demasiado conservadora.  E pediu à manufatura do Brassus que criasse algo de novo, em aço, para que não fosse tão caro como os de ouro, com movimento simples, mas de formas modernas, adaptadas a uma clientela mais nova e dinâmica.«Existia, assim, do lado de Genta, uma caixa 

octogonal; e do lado do importador italiano, um pe-dido para um relógio simples, em aço. O Royal Oak nasceu desta dupla realidade», diz Pons.Na primavera de 1971, o projeto para o novo 

relógio é aprovado internamente pela Audemars Piguet. Mas as máquinas de produção não estavam preparadas para o fabrico de caixas em aço e o investimento, em tempos de crise, ia ser volumoso. Mesmo assim, o relógio fez-se. Genta e Carlotti acreditavam muito no Royal Oak. O designer terá mesmo oferecido o projeto à manufatura, para 

COLEÇÃO AUDEMARS PIGUET ROYAL OAK

ParaÊcomemorarÊoÊ40.¼Êaniversário do Royal Oak, o primeiro relógio desportivo de luxo, a Audemars Piguet patrocinou a edição de um livro de 300 páginas consagrado à história deste perene e lendário modelo, desenhado por Gerald Genta. A obra, profusamente ilustrada, traça os 137 anos de história da manufatura Audemars Piguet e narra as quatro décadas do Royal Oak, desde a sua criação, em 1972. O livro surge no contexto da exposição itineranteÊsobreÊoÊ40.¼Êaniversário do modelo, que se iniciou em Nova Iorque, e que seguirá depois para Milão, Paris, Beijing, Singapura e Dubai.Da autoria de Martin K. Wehrli e Heinz Heimann,  a obra Royal Oak custa  100 euros.

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apres sar a decisão de produção. E Carlotti enco-mendadoÊumÊn�meroÊdeÊpe�asÊsuÞcienteÊparaÊminimizar o risco.Na Feira de Basileia de 1972, prudentemente, a 

Audemars Piguet lança uma série muito limitada  de mil Royal Oak (tantos quantos Carlotti tinha encomendado…). «O mercado alemão iria enco-mendar mais 300, os outros mercados mais umas quantas centenas, o que irá dissuadir Georges Golay, o diretor fabril da Audemars Piguet, a não dispensar a máquina de caixas que tinha usado para os primeiros Royal Oak, como tinha pensado», garante Pons.Numa altura em que o marketing dava os primei-

ros passos e numa indústria muito conservadora, o lançamento do Royal Oak foi quase clandes-tino. Mas Gerald Genta, um iconoclasta criativo, sabia que tinha feito «o relógio em aço mais caro do mercado» e passou a comunicar este facto (o RoyalÊOakÊcustavaÊ3.650ÊfrancosÊsu��os,ÊquandoÊum Patek Philippe Calatrava, de quartzo, mas em ouro, custava 2.000 francos suíços). Pormenor que acumulava mais-valias entre o público novo e disponível que se estava a formar. As encomendas foram crescendo e a Audemars Piguet apercebeu-se do êxito que tinha em mãos. O Royal Oak iria gerar receitas que permitiriam às famílias Audemars 

e Piguet (ainda hoje à frente do negócio) sobre-viver ao período crítico do quartzo.Gérald Genta «sublinhou ao máximo o aspeto industrial do Royal Oak, ao colocar os parafusos na luneta. Parafusos inspirados, segundo colaboradores próximos, nos parafusos que se encontram nos capacetes dos es-cafandristas,ÊqueÊoÊfascinavamÈ,ÊaÞrmaÊoÊespecialis-ta. «No início dos anos 70, esta brutalidade técnica do design impõem-se como um fator de rutura dos códigos, aparentemente apreciado por uma nova geração de consumidores, mais jovens, menos con-formistas, muito diferentes dos colecionadores que tinham sido até então os principais clientes  da marca.»E o nome Royal Oak? Terá saído igualmente da 

imaginação de Gerald Genta. Inspirado no veleiro histórico, nos seus canhões e portalós.O Royal Oak foi depois sendo declinado, ao longo 

dos anos, pela designer da manufatura, Jacqueline Dimier. É ela a responsável pelo lançamento do modelo feminino ou pela utilização de calibres com-plicados na linha Royal Oak. Em 1993, surge  o Royal Oak Offshore, autoria do designer  Emmanuel Gueit. Depois, o Royal Oak Concept, com a utilização de novos materiais. Tudo isto tem feito do Royal Oak um dos modelos mais bem- -sucedidos e perenes de toda a indústria.

Tom Brady, Olivier Audemars, Philippe Merk e Arnold Schwarzenegger na abertura da exposição itinerante dedicada aos 40 anos do Royal Oak que se iniciou em Nova Iorque. Peça central do evento é oÊmagn�ÞcoÊexpositorÊqueÊcontém todos os modelos Royal Oak. História viva da relojoaria.