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Rio de Janeiro, março/abril de 2011 Ano XVII – Nº 153 Marco Lucchesi é escolhido como novo imortal da ABL www.comunitaitaliana.com LAAD 2011 Empresas italianas apresentam soluções para a segurança 150 ANOS A história e os festejos em torno da unificação da Itália MARTHA ROCHA O pulso firme e a sensibilidade da delegada ISSN 1676-3220 R$ 11,90 R 7,00 Invasão O que está em jogo entre Itália e Líbia e quais são os interesses que circundam os países árabes

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Rio de Janeiro, março/abril de 2011 Ano XVII – Nº 153

Marco Lucchesi é escolhido como novo imortal da ABL

www.comunitaitaliana.com

LAAD 2011Empresas italianas apresentam soluções para a segurança

150 AnosA história e os festejos em torno da unificação da Itália

MArthA rochAo pulso firme e a sensibilidade da delegada

ISSN

167

6-32

20R$

11,

90R

7,0

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InvasãoO que está em jogo entre Itália

e Líbia e quais são os interesses que circundam os países árabes

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Job: 252634 -- Empresa: Burti -- Arquivo: 252634-18217-39157-AF-An Painel Bravo-45x32_pag001.pdfRegistro: 19606 -- Data: 19:51:28 25/03/2011

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Job: 252634 -- Empresa: Burti -- Arquivo: 252634-18217-39157-AF-An Painel Bravo-45x32_pag001.pdfRegistro: 19606 -- Data: 19:51:28 25/03/2011

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19 | Tragédia no Japão Acidente no Pacífico faz Itália suspender a construção de usinas nucleares. Expectativa para o referendum sobre a matéria

20 | Ping-Pong com Cesare Battisti – a sua história contada por ele mesmo

16 | Marketing carioca O subsecretário de Relações Internacionais do governo do Rio de Janeiro, Pedro Spadale, revela como atrair investidores estrangeiros

Diz a lenda que Rômulo instituiu o culto ao fogo em Roma. Seis meninas virgens eram escolhidas para garantir que uma chama continuasse acesa. A Casa das Vestais, um lugar sagrado no centro do que hoje é conhecido como área dos fóruns imperiais, reabre ao público.

62 | Sustentabilidade Governo da Itália financia curso em parceria com a Fundação Getúlio Vargas

63 | Culinária A história das marcas italianas que agradam o paladar dos brasileiros

38 | 150 anos Linha do tempo explica os 150 anos da Unificação Italiana e a influência do Risorgimento na cultura brasileira

Março / Abri l de 2011 Ano XVII Nº153

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22 | Crise na Líbia Governo italiano tenta controlar ondas migratórias vindas da Líbia e da Tunísia agravadas pela invasão militar na África

14 | Poder feminino A delegada Marta Rocha conta como é ser a primeira mulher na chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro

30 | Especial LAAD 2011 Empresas italianas aumentam presença no maior evento de Defesa da América Latina

Segurança

CAPA Nossos colunistas

07 | Cose NostrePrevisão encontrada em manuscritos do século XIX afirma que terremoto atingirá Roma no dia 11 de maio

10 | Fabio PortaPrimavera nordafricana: rivoluzioni che guardano più ad occidente che ad oriente

12 | Ezio MaranesiDignità, moralità, moralismo e ipocrisia: pensiamoci

67 | Dídimo Effgen A sociedade capixaba e o desenvolvimento do Espírito Santo passam pelas mãos de ítalo-brasileiros

74 | Claudia Monteiro De Castro Páscoa: como brasileiros e italianos comemoram essa festa milenar?

Atualidade Negócios

PolíticaESPECiAl UNifiCAção

65 | Dos pés à cabeça Pistas de corrida trazem novos conceitos no estilo e na fabricação de vestuário

Moda

18 | Obama no Brasil Pela primeira vez na América do Sul, Barack Obama promete parceria, destaca semelhanças históricas e elogia a democracia e a miscigenação no Brasil

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www.telespazio.net.br

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Diretor-PresiDente / eDitor:Pietro Domenico Petraglia

(rJ23820JP)

Diretor: Julio Cezar Vanni

PubliCação Mensal e ProDução:editora Comunità ltda.

tirageM: 40.000 exemplares

esta eDição foi ConCluíDa eM:30/03/2011 às 18:00h

Distribuição: brasil e itália

reDação e aDMinistração:rua Marquês de Caxias, 31, niterói, Centro, rJ

CeP: 24030-050tel/fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555

e-Mail: [email protected]

reDação: guilherme aquino; nayra garofle; sarah Castro; Janaína Cesar;

lisomar silva; fernanda galvão; Cíntia salomão Castro

reVisão / traDução: Cristiana Cocco

ProJeto gráfiCo e DiagraMação:alberto Carvalho

[email protected]

CaPa: editoria de arte

ColaboraDores: Pietro Polizzo; Venceslao soligo;

Marco lucchesi; Domenico De Masi; fernanda Maranesi; beatriz rassele;

giordano iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; ezio Maranesi; fabio Porta; Paride Vallarelli;

aline buaes; franco gaggiato; Walter fanganiello Maierovitch

CorresPonDentes: ana bizzotto (são Paulo); guilherme

aquino (Milão); Janaína Cesar (treviso); leandro Demori (roma); lisomar silva (roma); Quintino Di Vona (salerno); robson bertolino

(são Paulo); stefania Pelusi (brasília); Vanessa Corrêa (são Paulo)

PubliCiDaDe: osvaldo requião

rio de Janeiro - tel/fax: (21) 2722-2555Cel: (21) 9483-2399

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rePresentantes: espírito santo - Dídimo effgen

tel: (27) 3229-1986; 3062-1953; 8846-4493

Minas gerais - gC Comunicação & Marketing geraldo Cocolo Jr.

tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 [email protected]

Comunitàitaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos

e estrangeiros. os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo

assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

la rivista Comunitàitaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. i collaboratori esprimono, nella massima

libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione.

issn 1676-3220

Um mês de grandes acontecimentos. A Comunità traz nesta edição os fatos que marcaram este período em que tivemos um terremoto no Japão, guer-ra na Líbia, os 150 anos da Unificação da Itália, visita de Barack Obama ao Brasil. Essas e outras notícias num tempo curtíssimo influenciam os passos

da humanidade. Todos os países que investiram em usinas nucleares estão assustados e repensando seus planos para estes geradores de energia após a catástrofe japonesa; povos das regiões do norte África e do Oriente Médio se rebelam contra os governos autoritários locais e guerra eclode na Líbia do ditador Muamar Gadafi; povo italiano exibe patriotismo e bandeiras tricolores são vistas em várias janelas pelo mundo, no dia 17 de março, pelas comemorações do risorgimento; o presidente americano se curva à nova potencia brasileira.

Neste número, publicamos um especial sobre a história desta nação que exerce fascínio pelas suas belezas e pelas suas vicissitudes. Mostramos a evolução de um povo

marcado por conflitos, mas principalmente por uma vastíssi-ma cultura que conduziu a humanidade ao longo dos tempos. Um material que é impossível esgotar-se em uma ou tantas outras edições, mas que ajuda-nos a entender a formação que faz deste um povo tão cativante, encantador, brigador, tão humano. Podemos constatar que semelhanças não são meras coincidências. Ator e diretor de cinema, Roberto Be-nigni emocionou a todos os telespectadores de uma recente transmissão da RAI ao cantar e explicar o hino escrito por Gofredo Mameli. Antes, numa sátira inteligente, contextua-lizou o momento político sem poupar ninguém deste cenário e chamou atenção de uma platéia global para a importância de homens e mulheres que deram a vida para unificar o terri-tório, a língua, o povo. Uma mistura de reprimenda à classe política atual e de orgulho pela nação italiana.

Na página ao lado, podemos conferir a foto do mais novo imortal ítalo-brasileiro. Nosso colaborador e amigo Marco Lucchesi assumirá oficialmente em junho a cadeira de número 15 da Academia Brasileira de Letras. Um dos maiores estudiosos da literatu-ra italiana, que, em março de 1994, ajudou-nos a fundar esta publicação, é sim motivo de orgulho para todos nós. Parabéns a este imenso personagem que comemora este feito junto aos 17 anos da Comunità!

Boa leitura!

Balanços de março

Editorial ExpEdiEntE

Fundada em março de 1994

Pietro Petraglia Editor

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Terremoto em Roma?Uma previsão encontrada entre os manuscritos do astrônomo e

sismólogo Raffaele Bendandi (1893-1979) gerou a maior polê-mica nas redes sociais: “um terremoto atingirá Roma no próximo dia 11 de maio”. Bendandi previu terremotos anteriores que atin-giram a Itália no século XX. Porém, a presidente da Associazione La Bendandiana, Paola Lagorio, afirma que “nos documentos re-lativos a 2011 não se encontra nenhuma referência a lugares ou datas precisas como as que estão sendo divulgadas na internet”. Apesar disso, nas ruas do centro de Ciampino alguns folhetos com o aviso estão sendo espalhados, mas a Defesa Civil ignora o alerta.

os 150Para comemorar o aniversá-

rio de 150 anos da unifica-ção da Itália, o Instituto Italia-no de Cultura de São Paulo e o colégio Dante Alighieri pro-moveram no dia 17 de março um concerto com a pianista italiana Enrica Ruggiero. Cerca de 150 pessoas se reuniram no teatro do colégio para o evento, que contou com a presença do cônsul-geral da Itália, Mauro Marsili. “Esse aniversário mar-ca os 150 anos de um Estado unido e é uma grande alegria comemorar essa data em São Paulo, onde tantos italianos fo-ram acolhidos”, disse o cônsul.

Será que cola?o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, é o pro-

tagonista da nova propaganda “Mágica Itália”, rea-lizada pelo governo para promover o turismo da arte e cultura no país. No vídeo, Berlusconi aparece folheando um livro sobre a nação, e lembra que a “Itália é o país que presenteou o mundo com 50% dos bens artísticos prote-gidos pela Unesco”. A imagem de Berlusconi é intercalada com imagens de cidades italianas como Veneza, Florença, Loreto, Orvieto e Roma. A propaganda, que dura 30 se-gundos, também estará disponível no site www.italia.it.

Davi em riscoSegundo o arquiteto

padovano Fernando De Simone, a estátua Davi de Michelangelo está sofrendo sérios ris-cos de desmoronamen-to. O alerta indica que “o risco será alto se às vibrações causadas pela aproximação simultâ-nea da estátua de gru-pos de 60 visitantes por vez e as oscilações pro-vocadas pelo tráfego de veículos nas imediações se somarem, a partir do próximo verão, às vibra-ções das escavadeiras dos túneis ferroviários de alta velocidade, e su-cessivamente a passa-gem dos trens”. Como sugestão, De Simone pede a transferência da estátua para o subsolo de outro museu.

o ensaísta, poeta, tradutor e escritor Marco Lucchesi, 47 anos, foi escolhido em março pela Academia Brasileira de Letras

como o 7º ocupante da Cadeira nº 15, vaga desde 6 de novem-bro último, com o falecimento do Padre Fernando Bastos de Ávila. Lucchesi contribuiu para a fundação da revista ComunitàItalia-na, além de ter sido colunista e editor do nosso inserto literário, Mosaico. Formado em História pela Universidade Federal Flumi-nense (UFF), doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutor em Filosofia da Re-nascença na Universidade de Colônia, na Alemanha, o mais novo “imortal” é professor da UFRJ e do Colégio do Brasil, além de ser pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), professor-visitante da Uni-versidade de Roma ”Tor Vergata” e da Universidade de Craio-va na Romênia, e editor da Coordenação Geral de Pesquisa e Editoração da Biblioteca Nacional.

RapidinhasO ex-cônsul geral no Rio de Janeiro, Mas-

simo Bellelli, recebeu em março o status de ministro-plenipotenciário da Farnesina.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, vai doar o fardão para a posse do aca-dêmico Marco Lucchesi na ABL.

O Instituto italiano para o Comércio Exte-rior – em colaboração com a Confederação da Indústria Italiana – com o apoio do Ministé-rio do Desenvolvimento Econômico e do Mi-nistério das Relações Exteriores da Itália – organiza a missão de acompanhamento “Grandes Eventos Esportivos” no Brasil, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, de 16 a

19 de maio de 2011. Mais informações: www.eventisportivibrasile2011.it

O presidente da Câmara de Deputados ita-liana, Gianfranco Fini, entregou a medalha de honra da instituição ao presidente do Hos-pital Italiano do Rio de Janeiro e vice-presi-dente da Aliança dos Hospitais Italianos no Mundo,  Antonio Chianello, pelos trabalhos prestados no Brasil.

O diplomata Sérgio Vieira de Mello, morto em 2003 no Iraque, foi homenageado pela Comune di Bologna, que deu o seu nome a uma praça, na via Stalingrado, próxima de Porta Europa.

Div

ulga

ção

NeymarProcuradores da Ju-

ventus e do Nápoles estiveram em São Pau-lo com o pai do jogador Neymar da Silva Santos Júnior. Na ocasião, um jantar, o também Ney-mar pediu 40 milhões de euros pelo passe do filho. Será que o craque vai?

Vespa 150ºo grupo Piaggio lança em

edição limitada a “Vespa PX 150 Anniversario Unità d’Italia”. Junto ao “tricolo-re”, o logo oficial das come-morações pelos 150 anos. A lambreta é uma variante de um dos modelos tradi-cionais da fábrica, com 125 centímetros cúbicos por cilindrada e detalhes de de-sign clássico.

cosenostreJul ioVanni

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“Depois que li a matéria de capa da última edição fiquei ainda mais entusiasmada para conhecer a cidade de

Salvador. Amo o Nordeste, mas ainda não conheço a Bahia. Com tanta beleza, confesso que pude viajar com a revista. Com certeza, Salvador está na lista dos lugares que pretendo visitar este ano.”

Francine H. de castro – Rio de Janeiro – RJ – por e-mail

“li, na última edição, a entrevista com a brasileira Michele Conceição, envolvida no caso Ruby e achei interessan-

tíssima. Eu, que tenho tanto orgulho de ser cidadão italiano, sinto-me ofendido por ter no governo alguém sem a menor preocupação com a sua moral. Esse não é comportamento adequado para ninguém, muito menos para um premier.”

João Luís daLsino – São Paulo – SP – por e-mail

cartas

Para você, as mulheres já conquistaram os mesmos direitos dos homens na sociedade?

Você é a favor das usinas nucleares?

Você é a favor do ataque internacional à Líbia?

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 04/03/11 a 11/03/11.

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 17/03/11 a 22/03/11.

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 22/03/11 a 25/03/11.

Sim - 55,6%

Não - 87,5%

Não - 60%

Não - 44,4%

Sim - 12,5%

Sim - 40%

opinião

“Tenho pena de Kadafi e sinto muito. O que está

ocorrendo na Líbia me afeta pessoalmente”,

Silvio Berlusconi, primeiro ministro italiano, em Turim, durante uma reunião de seu partido, o Povo

da Liberdade (PDL).

“Na Alemanha não falei de receber refugiados ou de

sua distribuição em outros países, mas coloquei a ênfase

na necessidade de diretrizes comuns na UE sobre políticas

de imigração e asilo”,Giorgio Napolitano, presidente

da Itália, sobre o êxodo de imigrantes por causa da crise no

norte da África.

“Em linguagem simples e direta, esperamos uma

relação de igual para igual. As circunstâncias

do mundo de hoje favorecem muito isso”,

Antonio Patriota, ministro das relações exteriores,

sobre a visita do presidente americano, Barack Obama,

ao Brasil.

“A moratória de um ano sobre o nuclear é uma decisão de bom senso, de cautela, de respeito à preocupação dos cidadãos frente a episódios extraordinários que suscitaram grandes inquietações na opinião pública”,Stefania Prestigiacomo, Ministra do Meio Ambiente, sobre o adiamento da construção de usinas nucleares na Itália.

“No dia a dia sou básica, costumo usar base quando me produzo mais. Tenho duas da La Prairie, uma bem do meu tom de pele e a outra um pouco mais escura, que passo quando estou bronzeada. É uma para o inverno e outra para o verão. O bom é que as duas já vêm com corretivo e, como elas são líquidas, são fáceis de espalhar”,Isabeli Fontana, modelo, em entrevista sobre truques de beleza.

“Estou feliz de receber este reconhecimento ainda em vida, embora já não seja tão jovem. Estou profundamente comovida, é uma grande honra para mim”,Rita Levi Montalcini, cientista italiana e Prêmio Nobel de Medicina, ao receber o prêmio Doutor Honoris Causa da Universidade canadense McGill.

“A Itália nunca foi tão dividida quanto agora”,Gioacchino Lanza Tomasi,

musicólogo e filho de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, cujo

livro “O Leopardo”, de 1958, está entre as descrições da

unificação da Itália.

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no celular

enquetes frases

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“Estive morando uma temporada na Itália em função de meu dou-

torado e, finalmente, pude conhecer a região da Apúlia. Conheci Bari, Lec-ce, Polignano a Mare, mas a que mais me encantou por causa dos famosos “Trulli” foi, sem dúvida nenhuma, Al-berobello. Já estou programando um retorno proximamente”.

ana cristina r. dos santos Niterói, RJ — por e-mail

Salão Internacional do Móvel em Milão“O evento está de volta” é o slogan do maior encontro de design de móveis do mundo, que acontece entre os dias 12 e 17 de abril, no distrito esporti-vo de Rho. Em sua 50ª edição, o evento traz o que existe de me-lhor em inovação, tecnologia e cultura, além das tendências de móveis desenvolvidos a partir do conceito de sustentabilida-de. Do clássico ao moderno, o público poderá ver, tocar e experimentar os modelos de mobília doméstica. Simulta-neamente, o público - que na edição passada contou com mais de 30 mil pessoas – pode-rá visitar o Salão Internacional do Banho, a Eurocucina e a 24ª edição do Salão Internacional do Complemento de Decora-ção. Outras informações pelo telefone (21) 2262-9141 ou pelo e-mail: [email protected].

Reabertura  Fechada para obras de reforma desde 2008, a nova Galeria de Arte Brasileira do Século XIX acaba de ser reinaugurada no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. A coleção en-globa pinturas, esculturas, arte

sobre papel e mobiliário, todos restaurados para a mostra. A importância da reinauguração pode ser medida pelo fato de a Galeria concentrar, num só espaço, nada menos do que os mais significativos autores

e obras produzidas no sécu-lo XIX no Brasil. Além disso, esta é a galeria de arte perma-nente mais antiga do Rio de Janeiro. Dentro da imensa Ga-leria, provavelmente a maior do Brasil, com 2 mil metros quadrados e 8 metros de pé direito, estão em exibição 230 trabalhos, ou seja, 100 a mais do que a versão anterior. O es-paço foi reformulado segundo um novo conceito crítico e ex-pográfico e vai espelhar uma renovada concepção museoló-gica. Avenida Rio Branco, 199 – Cinelândia – Rio de Janeiro.

Concurso fotográfico internacional: “I colori dello sport”A Unione Sportiva ACLI Nazionale (Itália), as ACLI Ita-lianas (Associazioni cristiane lavoratori italiani) e a Unio-ne Sportiva ACLI São Paulo promovem um Concurso Fo-tográfico Internacional com o tema “As Cores do Esporte”, com a finalidade de eviden-ciar, por meio de imagens, os aspectos sociais, morais, medicinais e educativos do esporte.  Todos os inscritos no Brasil concorrerão aos prê-mios da Itália e o vencedor da etapa brasileira ganhará uma passagem de ida e volta para a Itália.  O concurso é aberto a todos os interessados e ca-da participante pode enviar, no máximo, quatro fotos co-loridas.  As fotos, a taxa de inscrição e a ficha de partici-pação devem ser entregues na sede da Unione Sportiva ACLI São Paulo ou envidadas pelo correio (SEDEX) até o dia 20/04 para:Unione Sportiva ACLI São PauloSecretaria do Concurso Fotográfico InternacionalAv. Ipiranga, 318, Bloco A, 13º andar; CEP 01046-927 São Paulo - SP

Mais informações através do e-mail: [email protected]

29ª Bienal de São Paulo no Rio de JaneiroA Cidade Maravilhosa recebe até o dia 15 de maio um pouco do que foi apresentado na 29ª Bienal de São Paulo – Obras Selecionadas. A iniciativa é da Fiat, patrocinadora nacio-nal do evento, em parceria com a Fundação Bienal de São Paulo e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

São 90 obras de 16 artistas expostas no MAM. O Rio é a segunda de 12 cidades brasi-leiras a receber este “recorte especial”. Museu de Arte Mo-derna do Rio de Janeiro - Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo. Mais informações no telefone (55) 21 2240-4944 ou no site www.manrio.com.br.

clickdoleitornaestanteA beleza e o inferno Após os bestsellers Gomorra e O Contrário da Morte, Roberto Saviano apresenta A Beleza e o Inferno. Com relatos contundentes, o autor faz uma com-pilação estarrecedora ao dissecar as entranhas de grandes organizações criminosas, da máfia italiana à polícia secre-ta russa. Um livro vencedor do Europe Book Prize 2010. Em A Beleza e o Inferno, Saviano cita escritores e jornalistas que morreram tentando combater, por meio das palavras, conluios, corrupções, crimes, narcotráfico, dentre outros. Editora Bertrand Brasil, 294 páginas, 39 reais.

Eu sou Deus Mais uma vez o italiano Giorgio Faletti narra uma história de guerra, ódio e vingança na voz de um serial killer que mantém Nova Iorque sob ameaça. A explosão de um prédio e a descoberta de uma carta, levam a polícia a encarar uma difícil realidade: alguns prédios de Nova Iorque tiveram explosivos instalados na época de suas construções. Mas quais? Uma detetive que esconde os dramas pessoais sob a sua imagem profissional e um repórter fotográfico com um passado que deseja esquecer são a única esperan-ça para deter um psicopata que sequer assume a autoria de seus crimes. Editora Intrínseca, 368 páginas, 39,90 reais.

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SErviço

agenda

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Primavera nordafricanaEuropa e Israele guardano con un misto di paura e speranza alle rivoluzioni nordafricane

L’Italia vista dall’Africa è piccola, e la Sicilia è più vi-cina a Tunisi che a Roma: queste considerazioni mi

tornavano spesso in mente in questi giorni, assistendo alle rivoluzioni dei popoli nordafricani contro regimi che da venti o quaranta anni avevano im-pedito il ricambio democratico della classe politica al potere.

E’ successo in Tunisia con la cadu-ta di Ben Ali, in Egitto con Mubarak, in Libia con Gheddafi.

Paesi vicini anche se diversi, ac-comunati da una comune aspirazio-ne della giovani generazioni – che in queste nazioni rappresentano oltre il cinquanta per cento della popolazio-ne! – alla democrazia ed alla libertà.

Non rivoluzioni fondamentaliste o islamiche quindi, anche se spesso il gri-

do di vittoria che giunge alle nostre attente orecchie è quello di “Allah è grande!”.

Rivoluzioni che guardano più ad occi-dente che a oriente, più a Obama che a Bin Laden; un dato di fatto che dovreb-be farci riflettere e aumentare il nostro senso di responsabilità rispetto alla ne-cessaria e utile cooperazione con Paesi che – per quanto vicini e pressoché “con-finanti” con l’Italia, sia pure si tratti di un

confine marino – non abbiamo mai vo-luto considerare come partners naturali, o meglio ancora come la naturale esten-sione meridionale della nostra piccola e vecchia Europa.

Ancora una volta è stato un leader po-litico d’oltreoceano, il Presidente Obama, a rivolgersi per primo e con parole nuove – parole di apertura, ottimismo e spe-ranza – a questi popoli.

Sbaglieremmo infatti a non collegare i fatti di questi giorni con lo storico e corag-gioso discorso pronunciato un anno fa proprio al Cairo da Barack Obama: a insor-gere sono state quelle stesse giovani generazioni arabe che si erano ri-versate sulla piazza della capitale egiziana per ascoltare le parole del primo Presiden-te nero degli Stati Uniti d’America.

Ci sbaglieremmo ugualmente, però, se pensassimo che questi giovani si rivol-gano all’occidente in maniera asettica e acritica; al contrario: a noi occidentali le rivoluzioni del nord dell’Africa chiedono la

fine dei cinici accordi con dittatori o leader da noi comodamente considerati “mode-rati” perché accondiscendenti e flessibili (con noi, non certo con i loro popoli); a noi “potenze occidentali” si chiede il sostegno alla lotta per la democrazia e la libertà, nel pieno rispetto delle loro culture e delle loro tradizioni, laiche e religiose.

Israele in questo momento appare per-plesso e indeciso: da un lato forse preoccu-pato dalla caduta di leader vicini “moderati” ma dall’altro speranzosa che le rivoluzioni si concludano con un esito democratico privo di pregiudizi religiosi e preconcette ostilità.

Anche in Italia si assiste con atteg-giamento ambivalente a quanto succede sull’altra sponda del Mediterraneo. In questo caso l’indecisione è dovuta prin-cipalmente alla paura che il crollo della “diga” costituita dai regimi ‘amici’ di Tu-nisi, Tripoli e Il Cairo, porti con sè come prima conseguenza lo sbarco sulle nostre coste di centinaia di migliaia di profughi e immigrati clandestini.

La democrazia è sempre stata, storica-mente, un processo e non un fatto compiuto.

Anche la massiccia emigrazione ita-liana della fine dell’ottocento e dell’ini-zio del novecento è stata in qualche modo collegata al processo di costru-zione dello Stato italiano unitario; sarà

anche grazie a quell’emi-grazione di massa che si realizzerà in Italia il primo processo di modernizza-zione del Paese. Ugual-mente, la prima e la secon-da guerra mondiale furono all’origine della seconda e della terza grande ondata migratoria; confermando, in questo caso, un’altra

importante ma spesso dimenticata rela-zione: quella tra i conflitti bellici, le rivo-luzioni e le ondate migratorie.

Silenzioso testimone di tutto ciò il Mar Mediterraneo, che dopo aver visto salpare da Napoli e Genova milioni di emi-grati italiani assiste oggi, dai porti di Sfax o Bengasi, all’esodo di migliaia di giovani nordafricani verso le coste della Sicilia.

Rivoluzioni che guardano più ad occidente

che ad oriente, più ad obama

che a Bin laden

opinioneFabioPor ta

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Towards a safer world

agustawestland.com

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A proposito di dignitàDignità, moralità, moralismo e ipocrisia: pensiamoci

Il 13 febbraio le donne italiane so-no scese in piazza per rivendicare la loro dignità. Erano indignate per quanto i media hanno raccontato

sulle feste promosse da Berlusconi nelle sue abitazioni. È impossibile sapere co-sa sia veramente successo in quelle feste. C’è chi sostiene che i limiti della decenza siano stati superati; la presenza di ragaz-ze minorenni e la distribuzione di soldi aggravano il quadro. C’è chi racconta di fe-ste divertenti, magari con qualche refolo boccaccesco, ma sostanzialmente corret-te. Diciamo che il nostro premier farebbe bene a scegliere con cura maggiore le per-sone che si porta in casa. Ma la dignità femminile ha poco a che vedere con la pro-testa: è stata una manifestazione politica contro Berlusconi. Lecita, naturalmente.

Da che mondo è mondo il fisico fem-minile è usato per attrarre, sedurre, ven-dere. Non scandalizziamoci: pensiamo al peso che il fisico di una persona ha nel convivio sociale: chi nasce bello, atleta, alto, sano, magro, bella voce, intelligente ecc. ha ben altre possibilità di successo ri-spetto a chi nasce meno dotato. Giusto o sbagliato che sia, questa è la realtà. A prio-ri non calpestano la dignità femminile le ragazzotte che traggono profitto in forme varie, magari moralmente accettabili, dal corpo che madre natura ha loro concesso. Le donne hanno ben altri motivi per an-dare in piazza: lo status di nullità giuri-dica delle musulmane, la discriminazione nelle carriere e nei salari, l’umiliazione

per i maltrattamenti sofferti in famiglia, l’avvilimento per le richieste sessuali del capo. Per queste cose tutti, uomini e don-ne, dovremmo scendere in piazza. Non lo facciamo; il capo che molesta sessualmen-te una dipendente non indigna nessuno. Vendere il proprio corpo è moralmente censurabile, sia per chi vende sia per chi compra, ma non dovrebbe offendere. La prostituzione è il mestiere più vecchio del mondo: c’è chi vende il corpo, chi l’anima e chi la mente, per soldi, per sopravvivere, per siste-marsi, per carriera, per tenere in piedi un ma-trimonio che fa acqua ecc. Tutti abbiamo l’ar-bitrio per dire i nostri sí e i nostri no. Ma non si metta in croce chi non ha la forza di dire no: non sappiamo cosa c’è a monte. Si abbia pietà più che disprezzo e in-dignazione. Andiamo quindi in piazza, donne e uomini, per chiedere onestà intellettuale, pulizia morale, gene-rosità, amore e comprensione per il pros-simo. Il mondo non premia queste qualità come dovrebbe, oggi come ieri. Il modello vincente è: accetta il vile compromesso, anche quando sai di essere nel giusto. Se il successo lo esige, venditi: il corpo, l’ani-

ma o la mente. Qualcuno che compra lo trovi.

Ed è cosí che oggi, in Italia, una ra-gazzotta importata, di costumi molto discutibili, ha nelle sue mani il destino del governo. Ha già raccontato decine di verità, affermando e smentendosi e in aprile, di fronte ai giudici che do-vranno giudicare Berlusconi, dirà una “sua nuova” verità e il governo po-trà cadere oppure no, dipendendo da

quanto la sventurata dirà e da quanto i giudici vorranno capire. Da qualunque parte la si prenda, è una storia triste. Non è la prima volta che i destini del-la patria sono influenzati dalla forza di seduzione di una bella donna. In questi giorni in cui è prassi rendere omag-gio a chi ha fatto l’Italia, ricordiamo l’abnegazione della contessa di Casti-glione. Bellissima, fu definita all’epoca

“stupenda statua di carne”. Fu l’amante di molti potenti – se ne elencano una cin-quantina – tra cui il re Vittorio Ema-nuele II e il premier conte di Cavour. Il conte, con cognizio-ne di causa, inviò la contessa alla corte di Napoleone III con il compito di sedur-lo e ottenere favori per la patria. Com-pito non difficile: lei era troppo bella. C’è chi lo nega, ma si

sostiene che fu nell’alcova della contes-sa che Napoleone decise di cedere nel 1859 la Lombardia al Regno del Pie-monte e chiudere un occhio quando i bersaglieri nel 1870 entrarono a Roma per la breccia di Porta Pia. Anche allora, non si andava troppo per il sottile.

il modello vincente è: accetta il vile compromesso,

anche quando sai di essere nel giusto. Se il successo lo esige, venditi: il

corpo, l’anima o la mente. Qualcuno che

compra lo trovi

Contessa di Castiglione

opinioneEzioMaranesi

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Pina, zona Norte da cidade, cha-mada Instituto Nossa Senhora das Dores. Quando cursava a faculdade de Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, já era funcioná-ria pública do Tribunal de Justiça. Em 1983, decidiu fazer um concur-so para escrivã da polícia e passou.

— Aí eu me encantei, porque você acaba se apaixonando pela po-lícia. É uma atividade sem rotina, não há um dia igual ao outro. Você dá respostas reais, você vê resulta-dos imediatos do seu trabalho. Em 1990 fiz um novo concurso, dessa vez para o cargo de delegado e pas-sei também — relembra.

Em seu longo currículo, a de-legada carrega casos como o do sequestro do ônibus 174, no bairro do Jardim Botânico, que virou fil-me e documentário. Martha Rocha indiciou o comandante do Batalhão

Polícia de salto altoA delegada Martha Rocha tem pulso firme, mas não esconde a sensibilidade. A primeira mulher a assumir a chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro promete uma corregedoria forte e fala de seu fascínio pela Itália

Nayra Garofle cargo até porque eu não faço pla-nos na minha vida, vivo um dia de cada vez. Depois recebi com muita responsabilidade, considerando a magnitude do cargo. É uma sen-sação de reconhecimento de uma trajetória de vida dedicada ao tra-balho — revela.

Filha de portugueses, Martha Rocha, hoje moradora da Tijuca, foi criada no subúrbio da Penha por uma família muito católica. Tanto que até hoje cultiva o hábito de ir à missa e é devota de Nossa Senhora da Conceição. Estudou em escola pública, fez o curso normal e atuou como professora primária numa escola de freiras em Brás de

Ela tem 1,52 metro de al-tura, não dispensa um salto alto, está sempre de vestido e tem nome

de miss. Mas não foram esses atri-butos que levaram a delegada Martha Rocha a ser nomeada chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Segundo o secretário de Seguran-ça, José Mariano Beltrame, “ela assume o cargo por uma história de 27 anos na polícia”. A carioca de 51 anos acaba de assumir o posto desafiador para um sexo que antes era considerado frágil.

— Eu recebi este convite com muita surpresa. Nunca almejei este

“Ser a primeira mulher a

assumir o cargo aumenta ainda

mais a minha responsabilidade, seja em nome dos

meus policiais e em nome de um

número expressivo de mulheres que

estão torcendo por mim”

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política SEgurança

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de Operações Especiais (Bope) na época, José Penteado, por homicí-dio culposo, já que o caso terminou com a morte de uma refém e do bandido. Logo depois, ela foi exo-nerada e transferida para a 16º DP (Barra da Tijuca). Em entrevista na ocasião, ela disse que fora uma transferência de rotina.

Outro caso de repercussão e que colocou o nome de Martha Rocha na mídia foi o do assassinato do menino João Hélio, quando o carro em que ele estava com a mãe foi as-saltado e os assaltantes arrastaram a criança presa ao cinto de seguran-ça pelo lado de fora do veículo.

Em 2004, a delegada se can-didatou a vice na chapa de Jorge Bittar (PT) na eleição para prefeitu-ra do Rio, sem sucesso, e em 2006 tentou uma vaga na Assembleia Le-gislativa como candidata pelo PSB,

alcançando 18.194 votos, o que lhe rendeu a suplência.

Solteira e sem filhos, a nova che-fe da Polícia Civil tem agora, sob o seu comando, 12 mil policiais no Estado. Assume o cargo em meio a uma crise na instituição que envol-ve policiais em casos de corrupção, desvio de conduta, ligações com milícias e grupos de extermínio. Vários delegados e policiais foram presos ao fim de quase dois anos de investigação da Polícia Federal e do Ministério Público, em parceria com o Secretário de Segurança Beltrame. Seu antecessor, Allan Turnowski, foi indiciado, por vazamento de infor-mações da operação “Guilhotina”.

Martha Rocha prefere não fa-lar sobre os casos de corrupção. Ela afirma que existem palavras – cor-rupção, problemas e crise – que ela riscou de seu vocabulário.

— Eu prefiro dizer que a polícia que eu quero ofertar à população do Rio de Janeiro é uma polícia que seja qualificada, que trabalhe com inova-ção tecnológica, que trabalhe com

metas e resultados e que tenha com-promisso com a ética. Eu acho que primeiro eu quero falar dos bons poli-ciais, eu tenho certeza que o trabalho deles vai se sobrepor à essa imagem que algumas pessoas querem cons-truir da Polícia Civil — afirma.

Para isso, durante a coletiva de imprensa realizada para a sua apresentação oficial, Martha Rocha explicou que pretende fortalecer a corregedoria porque “o bom poli-cial não teme a corregedoria forte”.

— A gente vai construir uma cor-regedoria proativa, que se antecipe aos fatos e eu tenho certeza que os bons policiais vão ter destaque em relação a qualquer outro tipo de ca-so que a gente possa imaginar — diz.

A delegada acredita que nada é mais importante em sua vida neste momento do que o desafio de im-plantar projetos na Polícia Civil. De

voz doce e uma serenidade absoluta ao falar, engana-se quem pensa que a delegada não tem “pulso firme” pa-ra agir. Aos subalternos, um alerta: ela não tem medo de tomar decisões.

— Eles podem esperar uma chefe dedicada, uma chefe que não tem me-do de decidir, que vai tomar decisões firmes, mas que sempre procurará tomar decisões justas — afirma.

Fora do expediente, Martha Ro-cha se diz uma mulher simples e aprecia programas com os amigos. Frequenta o salão de beleza obriga-da, por não gostar de “perder tempo”. Porém, reconhece que não pode viver sem os profissionais da beleza. Com-pras? Ela não é consumista. No ano passado, viajou a passeio para a Itália com três amigas. Dentre as cidades visitadas, Milão estava no roteiro.

— Milão é considerada a capital da moda. Passei por todas aquelas lojas e não comprei nada. Eu sou o tipo de pessoa que se gostar de al-guma coisa, vai pra casa pensar se vale a pena comprar e volta no dia seguinte — conta, aos risos.

A viagem de 15 dias pela Itália rendeu boas lembranças. A ex-pro-fessora primária é só elogios para o povo italiano, a cultura e a comida.

— Fiquei apaixonada por Vero-na, não deixei de visitar a casa de Julieta. A Itália é um país muito alegre, tem boa comida, as pessoas são agitadas, lembra muito o Bra-sil, acho que a gente tem o mesmo jeito espevitado de ser. Já tinha ido à Itália com meus pais, mas dessa vez, por exemplo, pude olhar Capri com outros olhos — recorda.

Longe do dia-a-dia sem rotina de uma delegada e, agora, de uma chefe de polícia, Martha Rocha não dispensa seus prazeres. Adora via-jar e cozinhar, é vascaína, mas não entende nada de futebol e procura manter hábitos saudáveis. Inclusi-ve, é adepta de caminhada.

— Eu sou a pessoa mais simples que você pode imaginar. Eu tenho uma vida muito trivial. Gosto de receber meus amigos, gosto de can-tar, de cinema e gostaria de ler mais do que estou lendo — revela.

Diante de tantos escândalos na Polícia Civil, Martha Rocha revela que não teve dificuldades na hora de escolher as pessoas que traba-lhariam com ela a partir de agora.

— A polícia é composta de muitas pessoas preparadas, de muitas pessoas comprometidas

com a ética, não foi di-fícil compor ou pensar nos nomes para traba-lhar comigo. Eu acho que ser chefe de po-lícia é um desafio em qualquer momento. Ser a primeira mulher a assumir o cargo au-menta ainda mais a minha responsabili-dade, seja em nome dos meus policiais e em nome de um nú-mero expressivo de mulheres que estão torcendo por mim — conclui.

“Milão é considerada a capital da moda. Passei por todas aquelas lojas e não comprei nada. Eu sou o tipo de pessoa que se gostar de alguma coisa, vai pra casa pensar se vale a pena comprar e volta no dia seguinte”

D esencadeada pela Polícia Federal no mês passado, a

operação deu início a uma das maiores crises da história da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Desde então, 38 pessoas foram presas, sendo 30 policiais. Em parceria com a Secretaria de Segurança e o Ministério Público do Rio de Janeiro, a operação da PF foi realizada para prender policiais militares e civis suspeitos de repassar informações a traficantes de drogas sobre operações policiais em troca de propinas e de se apropriar de armas, dinheiro e drogas obtidos nas ações.

OperaçãO GuilhOtina

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Desde que foi “presentea-do” com a notícia de que sediará a Copa do Mun-do de Futebol de 2014 e

as Olimpíadas de 2016, o Estado do Rio de Janeiro dispõe de grande vi-sibilidade no cenário internacional. Com esses trunfos, o subsecretá-rio de Relações Internacionais do governo, Pedro Jorge Spadale tra-balha incansavelmente para atrair mais investidores estrangeiros para o Estado. Ele acredita que, com o Momento Itália Brasil – evento que terá o início oficializado a partir de outubro – os empresários italianos terão novas oportunidades de reco-nhecerem no Rio possibilidades de grandes investimentos.

— Esse ano vai haver uma programação extensa a partir do segundo semestre com o Momento Itália Brasil. Certamente, vai ha-ver encontros econômicos, missões que virão para cá, acho que é uma oportunidade muito interessante para que sejam organizados um se-minário, um fórum de negócios. O momento é muito propício, missões de todos os lugares do mundo têm

chegado ao Rio de Janeiro e, sem dú-vida, pode-se aproveitar esse grande evento para fomentar isso — afirma.

Desde que assumiu a subse-cretaria, em novembro do ano passado, Spadale procura colocar em prática as prioridades do setor. Para atrair novos investimentos, por exemplo, a subsecretaria tra-balha em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e com a secretaria de Desenvolvimento Econômico.

— Sempre que o governador viaja em missões, nós temos uma de-legação empresarial que, ao chegar ao destino, encontra empresários lo-cais, faz rodadas de negócios. Além disso, trabalhamos a promoção das exportações — revela.

Spadale ressalta o importante desempenho do governador Sergio

Bem além das fronteiras

“Cria” da casa, subsecretário de Relações Internacionais do governo do Rio de Janeiro conta como o estado trabalha

para atrair cada vez mais investidores estrangeiros

Nayra Garofle

Pedro Spadale elogia o governador do Rio

de Janeiro, Sergio Cabral, que se dispõe a fazer o trabalho de

“vendedor do Rio”

política coopEração

março / abri l 2011 | comunitàitaliana16

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Cabral que, segundo ele, se dispõe a fazer o trabalho de “vendedor do Rio”. Prova disso, de acordo com o subsecretário, foi a missão Flumi-nense realizada em novembro de 2007, quando Cabral viajou à Itália junto à varias delegações empresa-riais e representantes das secretarias de seu governo para estreitar as rela-ções sócio-econômicas com o país.

— Tínhamos uma delegação empresarial muito boa. A Confin-dustria foi a nossa parceira, assim como a Firjan. A receptividade na Itália foi excelente. Na época não sabíamos ainda que seríamos sede da Copa e das Olimpíadas, mas uma coisa importante foi dar esse recado, mostrar que o Rio estava mudando e que as coisas aqui eram diferen-tes. Fizemos isso junto com o setor privado. Por outro lado, nós procu-ramos receber as delegações aqui e mostrar a elas quais são as opor-tunidades, orientá-las nos devidos encontros para fazer com que essas visitas tenham resultado — diz.

O subsecretário diz que não há na agenda do governador nenhuma visi-ta programada à Itália para este ano. Porém, ao se confirmar a informação de que o Rio será sede do Encontro Mundial da Juventude com o Papa em 2013, ao que tudo indica, o go-vernador terá de ir ao Vaticano para encontrar com o Papa Bento XVI.

— Seria muito interessante aproveitar esta oportunidade, vis-to que já se passaram quatro anos desde a missão fluminense. De lá para cá, muitas coisas mudaram e temos muitas novidades. A relação da Itália com o Rio é muito boa, é um país muito querido por todos os brasileiros — acredita Spadale — Acho que nós temos de procu-rar traduzir esta simpatia em fatos concretos, seja em negócios, seja em atitudes de cooperação cultu-ral, científica, ou seja, que possam gerar frutos — completa.

Pedro Spadale lembra que outra prioridade é a cooperação técnica e a identificação de políticas públicas bem sucedidas. Para citar um tema mais recente, depois da tragédia ocasionada pelas chuvas em janeiro na Região Serrana do Rio e que dei-xou mais de 890 mortos, a busca por países que têm grande expe-riência na prevenção e gestão de desastres é um fator emergencial.

— Estamos mapeando os países e vamos fazer visitas técnicas com o pessoal da Defesa Civil e da secreta-ria do Meio Ambiente para conhecer in loco essas experiências. Os países que nós priorizamos são o Japão,

Chile, Peru, Equador, Alemanha, Es-tados Unidos e Cuba. Isso também serve para todos os outros segmen-tos de políticas públicas, educação, saúde, segurança — enumera.

O trabalho de intercâmbio de experiências tem gerado bons fru-tos. Na questão da segurança, por exemplo, Spadale revela que “nós aprendemos com a experiência co-lombiana”.

— Eles conseguiram diminuir drasticamente o índice de violência, onde havia condições muito pareci-das com a nossa, favelas, tráfico de drogas. Ainda na área de cooperação, há a questão de capacitação, treina-mentos de policiais, de pessoas da área de saúde — diz o subsecretário lembrando que no fim do ano pas-sado foi inaugurada, no subúrbio de Buenos Aires, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), a partir da experiência bem sucedida da ges-tão de Sergio Cabral.

O terceiro ponto apresentado por Spadale na questão das priorida-des de sua subsecretaria se refere aos financiamentos externos de orga-nismos multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimen-to, o Banco Mundial ou até bancos de países equivalentes ao nosso Ban-co Nacional do Desenvolvimento (BNDES). Sabendo que hoje temos tantos projetos por aqui, esses ban-cos oferecem vias de financiamentos, às vezes em boas condições.

O Rio de Janeiro ganhou proje-ção internacional nos últimos anos em razão dos grandes investimentos e eventos esportivos que ocorrerão

nos próximos anos, como os Jogos Militares, em julho deste ano, e até mesmo o Rio+20, no ano que vem.

— Há uma série de atores en-volvidos nesses eventos, mas o principal impacto é o da vinda de delegações estrangeiras interessa-das em oportunidades de negócios, principalmente de países europeus que já sediaram Copas, Olimpíadas. Além disso, o que nos interessa mui-to é conhecer a experiência desses países. Nós temos uma cooperação muito boa em andamento com os britânicos, temos interagido bas-tante com eles, já que estão na reta final para as Olimpíadas do ano que vem. É uma troca bem intensa e fru-tífera para nós — destaca.

No âmbito das relações interna-cionais, é Spadale o responsável por programar a agenda de viagens ao exterior do governador. Depois de receber o presidente dos Estados Uni-dos, Barack Obama, em março, Cabral participou de conferências em Wa-shington e Boston. Em seguida, será a vez de visitar a França, Londres, No-ruega, Holanda, Madri e China.

Formado em Relações Interna-cionais pelo Centro Universitário Bennett e especializado na área pe-la Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Pedro Spadale, de 30 anos, iniciou sua trajetória profissional como estagiário em 2001 no gover-no do Estado e passou por todos os cargos, foi assistente e assessor. Foram nove anos até ser chamado para atuar na Firjan, por um ano, na área internacional. Em novembro do ano passado, Cabral o convidou para retornar, o que Spadale julgou como “um convite irrecusável”.

— Aqui a rotina é chegar bem cedo e sair bem tarde. É trabalho pesado. São 15 pessoas que fazem parte da equipe e que vestem a camisa. Por isso, o trabalho acaba acontecendo de forma natural e prazerosa — revela.

Acima, modelo de teleférico em

favela colombiana utilizado no Rio de Janeiro. Ao

lado, a Unidade de Pronto Atendimento

inaugurada, no ano passado, em

Buenos Aires

“Temos que traduzir esta simpatia em fatos concretos”

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Con preparativi problema-tici, gente agitatissima e stampa mondiale presen-te in peso, Barack Obama

è sbarcato sul territorio brasiliense il 19 marzo insieme alla famiglia ed è stato ricevuto dalla presidentessa Dilma Rousseff. Dopo un incontro privato i capi di stato hanno parlato nel Palácio do Planalto.

— Il Brasile ha lasciato la ditta-tura per divenire una democrazia. È una delle economie che più cresce nel mondo, facendo emergere dalla povertà milioni di persone e portan-dole al ceto medio. Oggigiorno gli Usa e il Brasile sono le due maggiori democrazie dell’emisfero e anche le due maggiori economie — ha detto il presidente Barack Obama.

Ma Dilma ha ricordato che sa-ranno necessari dei cambiamenti affinché la partnership abbia suc-cesso.

— Comprendiamo il contesto dello sforzo fatto dal suo governo per la ripresa dell’economia ameri-cana. Ma tutti sanno che misure di grande portata provocano impor-tanti cambiamenti nei rapporti tra le valute di tutto il mondo. Questo processo logora le buone pratiche economiche e spinge paesi a intra-prendere azioni protezionistiche e difensive di tutti i tipi. Siamo un pa-ese che si sforza per allontanarsi da anni di basso sviluppo e per questo motivo vogliamo rapporti commer-ciali più giusti ed equilibrati.

Da Brasília la comitiva statuni-tense è partita per Rio de Janeiro dove, il giorno dopo, avrebbe tenuto una conferenza all’aperto in Praça Marechal Floriano (Cinelândia).

Se da una parte dei cittadini volevano contestare la presenza di Obama, la crisi della Libia e l’oc-cupazione delle troppe brasiliane in Haiti, dall’altra i carioca si orga-nizzavano attraverso le reti sociali per partecipare all’evento. Tutto sa-rebbe andato come previsto se gli organizzatori non avessero disdetto il discorso in piazza, trasferendolo dentro al Theatro Municipal. Se-condo il Consolato Generale degli Stati Uniti la decisione è sta-ta presa per motivi di sicurezza. Anche se Obama aveva detto che avrebbe gradito di poter parlare direttamente al popolo brasiliano “di come possiamo rafforzare l’ami-cizia tra i nostri paesi”, solo un piccolo gruppo di invitati, politici e giornalisti autorizzati hanno po-tuto vederlo. Frasi come “Obama go home!” e “Povo imperialista!” sono state registrate dal microblogging Twitter. La visita del presidente ha diviso opinioni. Secondo la deputa-ta Regina Gonçalves (PV-Diadema) Obama non avrebbe dovuto sceglie-re Rio de Janeiro.

— E’ stata una scelta po-litica sbagliata. São Paulo rappresenta tutto il peso economico del paese.

Invece il senatore Marcelo Cri-vella (PRB-RJ) crede che la visita romperà paradigmi.

— La crescita dei nostri rap-porti con gli Stati Uniti esige che quel paese riveda la sua politica di barriere in modo da garantirci la giustizia delle entrate non discri-minate nel mercato americano.

Barack Obama ha dato enfasi alla storia dei due paesi, indicando somiglianze nelle due traiettorie.

— Le Americhe sono state sco-perte da uomini che sono arrivati dall’altro lato dell’oceano e le hanno viste come “nuovo mondo”. Siamo diventati colonie dominate da di-stanti corone, ma abbiamo subito dichiarato la nostra indipendenza. [...] Crediamo anche che in paesi cosí estesi e diversi quanto i nostri, formati da generazioni di immigran-ti di tutte le razze, fedi e culture, la democrazia dia maggior speranza del fatto che tutti i cittadini siano trattati con dignità e rispetto. E che possiamo risolvere i nostro proble-

mi in pace e trovare la forza nella nostra diversità.

Il tour per la cit-tà meravigliosa ha incluso una presen-tazione di capoeira e la visita al quartie-re Cidade de Deus nella zona ovest di Rio. Il gran finale, com’era previsto, è stata la visita al Cri-sto Redentore – ma con l’antecedente dell’autorizzazione Usa di attaccare mili-tarmente la Libia.

obama in BrasilePolitica di buona vicinanza fa venire per la prima volta in Sudamerica il presidente statunitense

Fernanda Galvão

Secondo la Secretaria de Imprensa do Estado, il governatore Sergio

Cabral partirà per gli Stati Uniti, dove parteciperà a conferenze tenute a Boston e Washington. Tra i temi discussi ci saranno quelli di una partnership con lo stato del Maryland in segmenti riguardanti la sanità e l’istruzione. Saranno anche firmati accordi che garantiscono l’appoggio statunitense ai Mondiali di Calcio del 2014 e alle Olimpiadi del 2016. Riguardo a queste ultime, Obama nel suo discorso a Rio ha affermato che ritornerà per vederle.

Cabral neGli usa

Sopra, il presidente statunitense Barack

Obama mentre sbarca all’aeroporto internazionale di Rio de Janeiro, ricevuto

dal governatore dello Stato, Sérgio Cabral

attualità

18 março / abri l 2011 | comunitàitaliana

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As consequências da tragédia no Japão vão além das fronteiras. Devido ao acidente nu-

clear provocado pelas explosões das usinas, sobretudo em Fukushima, em 22 de março, a Itália declarou moratória de um ano para retomar o estudo de produção de nuclear. O projeto foi aprovado em 2008, constituindo um dos destaques da plataforma de governo do pri-meiro-ministro, Silvio Berlusconi. Será realizado, entre os dias 12 e 13 de junho, um referendo nacional que defina a construção de usinas nucleares no país. Em 1987, um referendo também foi aplicado e a opinião pública optou por cancelar o projeto. Na ocasião, a catástrofe se deu na Ucrânia, com o acidente de Chernobyl.

A Itália é a única nação industria-lizada do Grupo dos Oito sem usina nuclear e permanece deficitária em produções de energia. Segundo Gian Antonio Stella, autor do livro “La Deri-va. Perché l’Italia rischia il naufrágio”, 88% de energia que o país importa vem do norte da Europa, da Rússia e da Líbia. Para o físico italiano, Enri-co Pedemonte, a catástrofe japonesa não deve cancelar o projeto italiano.

— As centrais construídas pela Itália têm capacidade para aguentar o impacto de um avião e são muito mais confiáveis que as de Fukushima.

O professor do Departamento de Mineralogia e Geotectônica do Instituto de Geociências da Uni-versidade de São Paulo, Caetano

Juliani, explica que as usinas são planejadas para resistir a terremotos intensos e são desenhadas para cada região em particular, levando-se em conta sua história sísmica.

— No Japão nunca havia sido registrado um tremor tão forte. To-das as plantas nucleares desligam automaticamente quando ocorre um terremoto de um certo grau, para evitar acidentes. No caso do Japão, a tsunami inundou as casas de máquinas e os geradores deixa-ram de funcionar e, como não havia energia elétrica externa devido ao rompimento dos cabos de alta ten-são, assim que as baterias do no-break se esgotaram, o sistema de refrigera-ção deixou de funcionar e os reatores aqueceram. Acreditava-se que as [usi-nas] do Japão fossem as mais bem protegidas, até esse acidente. Mas são usinas muito antigas também. Certamente haverá necessidade de repensar todas essas normas de se-gurança, não só no Japão, mas em todo mundo — alerta Juliani.

O acidente nuclear no Pacífi-co ocorreu após um terremoto de 9 graus de intensidade, segundo a escala Richter, que atingiu várias ci-dades japonesas, entre elas, Sendai e

Tóquio. Os tremores desencadearam uma tsunami que assolou grande parte do território asiático.

O estudante Willian Hirata, de 23 anos, que estava em Yamanashi, descreve o momento do terremoto.

— Eu estava fazendo o check-in das minhas bagagens e não achava que o terremoto estivesse tão forte, mas quando olhei ao redor do aeroporto, vi todas as estruturas se mexendo.

Terror este que parte da popu-lação italiana não deseja enfrentar. No ano passado, em Milão, foi rea-lizada a manifestação “No Nuclear Day”, cujo slogan era “melhor ativos hoje do que radioativos amanhã”.

Eventos esportivos são suspensosA seleção japonesa, comandada pe-lo italiano Alberto Zaccheroni tinha dois amistosos agendados: contra Montenegro, em 25 de março e Nova Zelândia, dia 29. A Federação Japo-nesa de Futebol não confirmou as partidas. Após o desastre, Zaccheroni retornou à Itália a pedido da família.

Pizzaiollo italiano se recusa a voltarGiuseppe Erricchiello, 26 anos, vi-ve no Japão há 5 anos. Após sofrer um atentado, sendo esfaqueado e ficado em coma, Peppe, como é co-nhecido, não quis permanecer em sua terra natal, Afragola. Com a ajuda da avó, aprendeu a fazer pi-zza. Juntou dinheiro e se mudou para Tóquio. Começou como aju-dante de cozinha. Hoje, é pizzaiollo do próprio restaurante, batizado de “La Bicocca”. Após o terremoto e a tsunami que devastaram a região, Vincenzo Petrone, embaixador da Itália no Japão, garantiu auxílio a todos os italianos que estivessem em solo japonês. Peppe, ao contrá-rio, preferiu ficar.

— A minha vida é tudo nesta ci-dade. — conclui.

futuro incertoGoverno decide adiar por um ano os estudos de programa nuclear. Em junho, referendo decide destino das construções

Fernanda Galvão

atualidadE

Acima, usinas nucleares, em

Sendai, na província de Miyagi, pegam

fogo após o terremoto seguido

da tsunami, que assolou o Japão no

dia 11 de março

Abaixo, o estudante Willian Hirata, que estava no extremo asiático durante a

tragédia

19comunitàitaliana | março / abri l 2011

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Una vicenda lunga e molto controversa, ed allo stesso tempo storica, giudiziaria e diplomati-ca. Comincia nel 1977, in un anno particolare e delicato della storia d’Italia, e negli anni ha

coinvolto la Francia, il Messico e il Brasile. Cesare Bat-tisti è stato condannato in Italia per quattro omicidi commessi negli anni ’70, quando faceva parte del grup-po Proletari Armati per il Comunismo (PAC) e dal 2007 si trova in carcere preventivo a Brasilia.

Il Governo italiano ne richiede l’estradizione, men-tre l’ex presidente brasiliano, Luiz Inácio Lula da Silva, l’ultimo giorno del suo mandato, il 31 dicembre del 2010, ha negato il suo rimpatrio, appoggiando la deci-sione dell’ Advocacia Geral da União.

Il caso è destinato ad andare avanti. Attualmente Battisti, che si dichiara innocente e vittima di un complotto, si trova nel carce-re Papuda a Brasilia, aspettando la decisione del Supremo Tribunal Fe-deral del Brasile.

ComunitàItaliana — Com’è la vita qui a Papuda?Cesare Battisti: Il carcere è un micro mondo dove ci sono persone di tutti i tipi. Dopo aver passato un anno e quattro mesi nel carcere della Policia Federal, adesso sono in un’area speciale del carcere Papuda, do-ve ci sono ex poliziotti e persone che hanno studiato un corso superiore.

CI – Che cosa prova quando vede la sua im-magine in televisione?CB – Sono traumatizzato ogni volta che parlano di me. Non mi riconosco in quello che raccontano. Han-no creato un mostro che non sono io. Hanno costruito un personaggio diverso dalla realtà. Nel mondo ci sono 10000 Cesari Battisti, rifugiati, ma sembra che io sia la molecola impazzita di quegli anni.

CI – Chi sono i suoi nemici?CB – Quelli che vogliono cambiare la storia, riscriven-do gli anni di piombo in Italia.

CI – Cosa sente verso l’Italia? È ancora il suo paese?

CB – Ho abbandonato l’Italia molto giovane. Mi considero un cittadino del mondo. Non esiste il concetto di patria per me, ha perso il suo signi-ficato. È la vita stessa e la maniera in cui ho vissuto che mi hanno por-tato a questa conclusione.

CI – Com’è stato il suo arri-vo a Rio de Janeiro?CB – C’era la mia foto dappertutto, ero terrorizzato. Sapevo che mi sta-vano controllando, per questo non mi sono messo in contatto con i mo-vimenti e con altri rifugiati, per non pregiudicarli (sic). Quando salivo al morro era l’unico momento in cui mi sentivo vivo. Un giorno ero seduto in un bar e la proprietaria, che era anal-fabeta, mi chiese di leggere le lettere di suo figlio che era in carcere e di ri-spondere per lei. Fu così che divenni lo scribacchino del morro di Santa Marta, Tabajara, Cantagalo e Pavão.

CI – Cosa pensa della decisio-ne di Lula di non estradarla?CB – È stato un atto di coraggio considerando l’importanza e la re-sponsabilità che il Brasile ha nel quadro geopolitico internazionale. Sicuramente il momento e l’ora per comunicare questa scelta, non sono stati un caso. Il caso Battisti è stato usato con altre ragioni politiche. Se

io non fossi uno scrittore e non aves-si un’immagine pubblica, a nessuno gli importerebbe di me. Il mio errore è stato fare il passo più lungo della gam-ba: in Francia denunciavo la situazione italiana perché mi sentivo sicuro.

CI – Diversi esponenti del governo italiano avevano ipotizzato ritorsioni più o meno eclatanti in caso di pronunciamento contrario. Che cosa pensa delle reazio-ni dell’Italia? CB – L’Italia non ha mai avuto abba-stanza forza per far parte dei paesi più ricchi del mondo. È stata sempre un bluff. Ha avuto grande importan-za perché si trova in una posizione geografica strategica per la ONU e perché il denaro della mafia riempie le banche di tutto il mondo. L’Italia

ha bisogno del Brasile. Inoltre, il Brasile adesso l’ha superata.

CI – Che cosa c’è dietro il caso?CB – Il caso Battisti è diventato un caso internazionale, tolto dal conte-sto di quegli anni (di piombo), una merce di scambio per molte cose. Io sono perseguitato dallo Stato Ita-liano e dal Giudiziario Brasiliano. Sembra assurdo ciò che sta succeden-do: il capo dell’esecutivo rilascia un preso e il potere giudiziario si rifiuta.

CI – Nel 2009 disse che era di-sposto a incontrare i familiari delle vittime, è ancora così?CB – Io posso conversare (sic) con queste persone senza problemi. Io ho anche avuto una corrispondenza con Alberto Torregiani, in una delle ultime lettere mi aveva anche chie-sto un aiuto per scrivere un libro.

CI – Cosa vorrebbe fare se fosse scarcerato?CB – Non so fare altro che scrivere e lavorare per le comunità. Mi piace-rebbe fare un lavoro sociale con base nella scrittura. Voglio promuovere la cultura, anche se la frontiera tra cultura e la politica è sottile.

CI – Adesso che cosa rappre-senta la politica per lei?CB – Mi definisco anarco-comuni-sta. Nell’anarchismo peró il nucleo forte è l’individuo, ed è per questo che mi considero anarco-marxista. È difficile costituire delle società so-cialiste al mondo d’oggi. Ad esempio Venezuela sta facendo il meglio che poteva fare. Era un paese feudale, non si puó pretendere un cambia-mento dall’oggi al domani. Cuba sarebbe il miglior esempio di demo-crazia del mondo, se non fosse per l’embargo, impostogli dagli USA.

CI – Perché vari movimenti de-gli anni di piombo scelsero il cammino della lotta armata?CB – La lotta armata è stata un er-rore. Tutti siamo caduti dentro la trappola dello Stato che distruggeva i movimenti culturali attraverso la repressione, spingendoci alla lotta armata. Stavamo facendo il loro stes-so gioco di potere, senza rendercene conto. Oggi la rivoluzione non passa più attraverso le armi, ma passa at-traverso la cultura e l’educazione.

CI – Qual è la sua maggior preoccupazione?CB – Ho paura di star vivendo un film già visto nel 2009. È possibile che si ripeterà?

la storia raccontata da Battisti“Il mio errore è stato fare il passo più lungo della gamba: in Francia denunciavo la situazione italiana perché mi sentivo sicuro”

Stefania PelusiDe Brasília

Esclusivo AttuAlità

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Novas tecnologiasUm protocolo de intenções para desenvolvimento de no-

vas tecnologias no setor automotivo foi assinado, em fevereiro, pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, o presidente do Ins-tituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, João Jornada, e representantes das empresas Fiat Powertrain e FPT Industrial. O objetivo é utilizar os pesqui-sadores e o campus do Inmetro, em Xerém, para a realização conjunta de pesquisas, incluindo o estudo de um motor para veículos comerciais leves movidos a um combustível com 30% de biodiesel e 70% de diesel em sua composição. O veículo-conceito será apresentado ao governo brasileiro até 2013. Mais de 4 milhões de reais devem ser investidos para a realiza-ção das pesquisas. O responsável pelo Grupo Fiat na América Latina, Cledorvino Belini, exaltou o pioneirismo da monta-dora italiana, que completa 35 anos de presença no Brasil. “A Fiat foi a primeira montadora a oferecer carro a álcool. A parceria com o Inmetro não poderia ser mais oportuna, repre-senta a conquista de um grau tecnológico de novos patamares e reafirma o compromisso da Fiat com a mobilidade huma-na”. Entre os projetos a serem desenvolvidos no futuro, está o desenvolvimento de um motor que apresente uma melhoria significativa de eficiência energética e a criação de um progra-ma de incentivo à formação de jovens engenheiros.

notíciaS

Telecom italiaA Telecom Italia prevê um crescimento de suas receitas

para este ano na América Latina. No Brasil, o aumento estimado está entre 7% e 8%, chegando aos 14.5 milhões de reais, com uma margem operacional bruta em torno de 4.5 milhões de reais, contra os 4.2 milhões de reais do ano anterior. Na Argentina, o grupo italiano almeja uma recei-ta de 17.7 milhões de pesos (21% a mais em comparação com 2010) e uma margem operacional bruta de 5.5 milhões, contra os 4.8 milhões de pesos do ano passado. A Telecom Italia tem interesse em aumentar sua participação na Tele-com Argentina “se e quando existirem as oportunidades”, declarou Franco Bernabè, CEO da empresa,  em uma tele-

conferência. “No entanto, devemos primeiro tentar entender melhor a empre-sa, além de considerar que temos limites normativos. Mas, certamente, é de nosso interesse analisar a possibi-lidade, o que exigirá algum tempo”, frisou Bernabè.  Há também a previsão de uma

redução das receitas na Itália de cerca de 4% e uma flexão da margem operacional bruta de aproximadamente 9.4 mi-lhões de euros, face aos 9.8 milhões de euros de 2010.

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versusIntolerânciainteresse

Intolleranza contro interessi

Enquanto o governo francês liderava as negociações para iniciar os ataques contra as forças do ditador Muamar Kadafi, na Líbia, os governantes e a popu-lação italiana mantinham sua preocupação em dois

aspectos: a onda migratória que deve aumentar ainda mais em direção à Itália e o impacto sobre as fortes relações comerciais entre os dois países, consolidadas nos últimos anos após grande esforço da Itália para apagar as mágoas do período colonial.

Desde o início da ação militar na Líbia, autorizada por uma resolução da ONU do último dia 17 de março e conduzida por uma coalizão da qual fazem parte, além da Itália, França, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Canadá, o governo italiano vem rei-terando sua defesa de uma postura diplomática de diálogo com o gover-no líbio. O premier Sílvio Berlusconi chegou a lamentar as notícias sobre o bombardeamento parcial de uma das residências oficiais do general Kadafi e reiterou que nenhum caça italiano está participando diretamente dos ataques contra o exército líbio.

M entre il governo francese guidava i negoziati per iniziare gli attacchi contro le forze del dittato-re Muammar Gheddafi in Libia, il governo e il popolo italiano si preoccupavano di due aspet-

ti della questione: l’ondata migratoria verso l’Italia, che dovrà aumentare ancora di più e l’impatto dovuto alle forti relazioni commerciali tra i due paesi, consolidate negli ultimi anni dopo aver fatto grandi sforzi, da parte italiana, per cancellare i risenti-menti accumulati dal periodo coloniale.

Fin dall’inizio dell’azione militare in Libia, autorizzata da una risoluzione della Onu del 17 marzo e condotta da una co-alizione di cui fanno parte, oltre all’Italia, Francia, Stati Uniti, Gran Bretagna e Cana-da, il governo italiano continua a difendere il suo atteggiamento diplomatico di dialo-go con il governo libico. Il premier Silvio Berlusconi si è persino lamentato quando ha saputo del bombardamento parziale di una delle residenze ufficiali del generale Gheddafi e ha ripetuto che nessun caccia italiano sta partecipando in modo diretto agli attacchi contro l’esercito libico.

Onda migratória e relações comerciais são principal preocupação italiana em relação

à Líbia. Governo defende via diplomática e evita envolvimento militar direto nos ataques

contra sua ex-colônia africana

Ondata migratoria e relazioni commerciali sono principale preoccupazione italiana in rapporto alla Libia. Governo difende via diplomatica ed evita diretto coinvolgimento militare negli attacchi contro la sua ex colonia africana

Aline BuaesEspecial para Comunità

Esercito libico si organizza durante attacco straniero autorizzato dalla Onu

Exército líbio se organiza durante ataque estrangeiro autorizado pela ONU

Capa imigração&guErra

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Intolerânciainteresse

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A postura moderada de Berlusconi, para além da vi-são dos oposicionistas que lembram sua amizade com o ditador líbio, reflete os temores da população italiana sobre as incertezas da situação e os objetivos políticos por trás desta intervenção militar internacional, con-siderando as conseqüências que recairão diretamente sobre a Itália, como a imigração ilegal e a fuga em mas-sa da população, devido à posição geográfica italiana.

O governo italiano, desde o início da onda de re-voltas em países árabes, que já provocou as renúncias dos presidentes da Tunísia e do Egito, vem reiterando aos seus colegas de União Europeia a necessidade de dividir o peso da grave situação migratória e huma-nitária decorrente destas situações de conflito. Mas há também a preo-cupação com a amizade comercial e estratégica da Itália com a Líbia. As declarações do premier de que esta-va “triste” pelos bombardeamentos contra a residência de Kadafi tam-bém foram interpretadas por críticos como uma forma de la-mentar que o esforço diplomático dos últimos anos para reatar rela-ções de amizade com a ex-colônia africana esteja indo por água abai-xo neste momento. Mesmo com a Itália não participando direta-mente dos ataques contra a Líbia, os Estados Unidos estão usando suas bases militares presentes no sul do país e, caso a Otan entre em cena, caças italianos dotados de tecnologias avançadas pro-vavelmente serão utilizados.

Em agosto de 2008, em uma visita histórica à Trípoli, Berlusconi colocou fim a 40 anos de difíceis relações da Itália com a Líbia, ex-colônia italiana de 1911 a 1943, ao pedir oficialmente desculpas “pelas feridas causadas ao povo líbio”. Naquele momento se iniciavam as tratativas para a assinatura do polêmico Tratado de Amizade entre os dois países.

O temor da onda migratória em massaA onda de revoltas populares que vem abalando os países árabes nos últimos meses já provocou conse-quências diretas na Itália, que acompanha com tensão o desenvolvimento da crise na Líbia, grande aliada não apenas comercial, mas também no combate à imi-gração clandestina nas águas do Mar Mediterrâneo. Desde o dia 15 de janeiro, mais de 15 mil pessoas che-garam à Itália ilegalmente a partir do norte da África, sendo a maioria proveniente da Tunísia. Esse número é quatro vezes o número do total de imigrantes clan-destinos interceptados no mar durante todo o ano de 2010. As organizações internacionais reiteram o risco de uma catástrofe humanitária de dimensões imprevisíveis e afirmam que toda a Europa deve es-tar preparada para receber milhares de desabrigados e refugiados. Enquanto o governo italiano mobiliza as suas estruturas e fala em cerca de 200 ou 300 mil imigrantes nos próximos meses, a agência europeia de controle das fronteiras externas, Frontex, calcula em 1,5 milhão o número de pessoas que deve tentar fugir da instabilidade política nos países norte-africanos.

O governo italiano, com o apoio de organizações humanitárias internacionais, já está preparado para um aumento ainda maior da onda de imigrantes pro-venientes da Líbia no caso de agravamento da situação no país. Entidades como a Caritas, a Cruz Vermelha

L’atteggiamento moderato di Berlusconi, la cui causa va oltre alla sua amicizia con il dittatore libi-co sempre citata dall’opposizione, riflette le paure del popolo italiano riguardo le incertezze della situazione e gli obiettivi politici alle spalle di questo intervento militare internazionale, considerando le conseguenze che ricadranno direttamente sull’Italia, come l’immi-grazione illegale e la fuga in massa della popolazione dovuto alla posizione geografica italiana.

Fin dall’inizio dell’onda di ribellioni nei paesi ara-bi, che ha già provocato la rinuncia dei presidenti della Tunisia e dell’Egitto, il governo italiano ripete ai suoi colleghi dell’Unione Europea che c’è bisogno

di dividere il peso della grave si-tuazione migratoria e umanitaria causata da queste situazioni di conflitto. Ma ci si preoccupa an-che dell’amicizia commerciale e strategica dell’Italia con la Libia. Anche le dichiarazioni del premier, che si è dichiarato “triste” dovuto ai bombardamenti contro la casa di Gheddafi sono state interpre-tate dai critici come una forma di esternare la sua insoddisfazione di fronte al fatto che, in questo mo-mento, tutti gli sforzi diplomatici degli ultimi anni per ristabilire i legami di amicizia con l’ex colonia

africana siano andati persi. Anche se l’Italia non sta partecipando direttamente agli attacchi contro la Li-bia, gli Stati Uniti stanno usando le sue basi militari presenti al sud dello Stivale e, se per caso la Nato do-vesse entrare in scena, probabilmente saranno usati caccia italiani dotati di tecnologie avanzate.

Nell’agosto 2008, in una storica visita a Tripoli, Berlusconi aveva dato fine a 40 anni di difficili rap-porti tra l’Italia e la Libia, ex colonia italiana dal 1911 al 1943, chiedendo ufficialmente scusa “per le ferite causate al popolo libico”. In quel momento comincia-vano le trattative per la firma del polemico Trattato di Amicizia tra i due paesi.

Il temore dell’ondata migratoria in massaL’ondata di ribellioni popolari che sta turbando i paesi arabi negli ultimi mesi ha già provocato con-seguenze dirette in Italia, che segue con tensione lo sviluppo della crisi in Libia, grande alleata non solo commerciale ma anche nella lotta all’immigra-zione clandestina nelle acque del Mediterraneo. Dal 15 gennaio più di quindicimila persone sono ar-rivate illegalmente in Italia dal nord Africa, la cui maggior parte venuta dalla Tunisia. Questo nume-ro rappresenta il quadruplo del totale di immigranti clandestini intercettati in mare durante tutto il 2010. Le organizzazioni internazionali insistono sul rischio di una catastrofe umanitaria di dimensioni imprevi-sibili e dicono che tutta l’Europa dovrà essere pronta a ricevere migliaia di sfollati e rifugiati. Mentre il go-verno italiano mette in moto le sue strutture e parla di circa 200 o 300 mila immigranti nei prossimi mesi, l’agenzia europea di controllo delle frontiere estere, Frontex, calcula che 1,5 milione di persone cerche-ranno di sfuggire dall’instabilità politica dei paesi del nord Africa.

L’Italia, con l’appoggio di organizzazioni umanita-rie internazionali, è già pronto per un aumento ancora più grande dell’ondata di immigranti provenienti

O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi ao

lado do ditador da Líbia, general Muamar Kadafi

Il primo ministro italiano, Silvio Berlusconi,

accanto al dittatore della Líbia, generale Muammar Gheddafi

Capa imigração&guErra

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Internacional e órgãos da ONU atuam nos principais pontos de desembarque de quem decide fugir dos países em crise pelo Mediterrâneo. Um plano de distribuição para possíveis refugiados libios foi estruturado e prevê a participação de todas as regiões italianas, que devem receber os imigrantes divididos proporcionalmente.

A maior parte dos 15 mil imigrantes clandestinos identificados nas últimas semanas em Lampedusa, uma pequena ilha turística com uma população fixa de 6 mil habitantes e principal destino das embar-cações clandestinas, são homens jovens de origem tunisiana que chegam à Itália com o objetivo de pros-seguir viagem para França ou Alemanha.

— Há uma inteira geração de jovens que fogem da Tunísia devido à crise econômica e política e aproveita a ausência de controles nas fronteiras — admitiu o mi-nistro da Defesa italiano, Roberto Maroni, anunciando que o governo trabalha com a possibilidade de enqua-drá-los no status de proteção humanitária temporária, já que, devido à situação de instabilidade na Tunísia, eles não poderiam ser repatriados neste momento.

A Itália, segundo a atual normativa europeia, é obrigada a impedir a continuação dos imigrantes clan-destinos para outros países europeus e de reenviá-los aos seus países de origem, com exceção dos solicitan-tes de asilo ou com direitos ao status de refugiados, provenientes de países em guerra. Segundo o vice-diretor da Caritas, no caso dos tunisianos, poderiam

dalla Libia se la situazione dovesse aggravarsi. Enti-tà come la Caritas, la Croce Rossa e gli organi della ONU si fanno presenti nei principali luoghi di sbarco di chi decide di fuggire dai paesi mediterranei in crisi. È stato messo in piedi un piano di distribuzione per possibili rifugiati libici, che prevede la partecipazione di tutte le regioni italiane, che riceveranno gli immi-granti divisi in maniera proporzionale.

La maggior parte dei 15 mila immigranti clande-stini identificati nelle ultime settimane a Lampedusa, una piccola isola turistica con una popolazione di sei mila abitanti e meta principale delle imbarcazioni

LíBIA

TuNíSIA

ITáLIA

MALTALAMPeduSA

PANTeLLeRIA

Trípoli

TúnisAgrigento

Sfax

o caminho dos imigrantes ilegais que chegam na itáliail percorso degli immigranti illegali che arrivano in italia

I l sistema di accoglienza per gli stranieri che entrano irregolarmente in Italia è di-

viso in tre tipi di strutture: i Centri di prima accoglienza (CPA) che realizzano una prima identificazione per sapere la situazione degli immigranti; i Centri di accoglienza richiedenti asilo (Cara), in cui gli immigranti posso ri-manere per periodi variabili per realizzare le procedure di riconoscimento del loro status; e i Centri di identificazione ed espulsione (Cie), in cui si rimane in attesa della preparazine del processo di rimpatrio, in cui si può rimanere al massimo per 180 giorni. Per i richiedenti di asilo e i rifugiati c’è un sistema chiamato Siprar (Sistema di protezione per i richiedenti di asilo e rifugiati), attraverso il quale si ot-tengono un posto per dormire, alimentazione, assistenza e orientamenti.

Imigrantes clandestinos, vindos da Líbia e da

Tunísia, aguardam solução do governo

Immigranti clandestini provenienti da Libia e Tunisia aspettano una soluzione del governo

O sistema de recepção para os estrangei-ros que chegam irregularmente à Itália

é dividido em três tipos de estrutura: os Cen-tros de Primeiro Acolhimento (Cpa), que rea-lizam um primeiro reconhecimento da situa-ção do imigrante; o Centro de Recepção de Solicitantes de Asilo (Cara), no qual ele pode permanecer por períodos variáveis a fim de realizar o procedimento para reconhecimento do seu status; e os Centros de Identificação e Expulsão (Cie), no qual aguarda a preparação do processo de repatriação, podendo perma-necer por um período máximo de 180 dias. Para os solicitantes de asilo e refugiados, existe um sistema chamado Siprar (Sistema de proteção para solicitantes de asilo e refu-giados), através do qual recebem alojamento, alimentação, assistência e orientação.

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solicitar asilo apenas ex-membros do exército ou do governo. Portanto, a decisão do Ministério do Interior em conceder o status de proteção humanitária tem-porária resolveria um dos principais nós burocráticos provocados com essa nova onda de imigração.

Segundo previsões, o principal fluxo será de imi-grantes com direito a asilo ou status de refugiado, provenientes de outros países africanos que permanece-ram anos bloqueados na Líbia. Neste tipo de imigração, o perfil muda, havendo muitas mulheres com crianças e famílias, ao invés dos jovens tunisianos.

O governo italiano também enviou missões hu-manitárias às fronteiras da Líbia com a Tunísia e aos dois principais portos da Tunísia de onde partem os imigrantes clandestinos a fim de evitar que a crise nestes países provoque uma “partida em massa em direção à Itália”. Já a União Europeia, além dos auxí-lios financeiros enviados diretamente às organizações humanitárias em ação nos países em crise, também enviou, através da Frontex, forças policiais para auxi-liar as operações da polícia de fronteira italiana.

— Esta situação representa um desafio importan-te para a Itália, a qual esperamos que seja apoiada por toda a União Europeia — afirma o representante do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Ac-nur) no Sul da Europa, Laurens Jolles. A organização também salienta que a comunidade internacional não pode esquecer a situação dramática dos refu-giados africanos bloqueados na Líbia, provenientes de países em guerra civil como Eritreia, Somália e Sudão, que não conseguem se proteger da tensão in-terna e não podem retornar a seus países de origem. Enquanto a situação na Líbia não converge em uma guerra civil declarada, o principal fluxo de imigrantes corre em direção às fronteiras com Tunísia e Egito.

— Por enquanto trata-se de um problema tran-sitório, de trabalhadores egípcios ou de outras nacionalidades que querem deixar a Líbia e retornar a seus países — explica Francesco Marsico, vice-diretor da organização católica italiana Caritas.

Para Marsico, a União Europeia e os governos na-cionais europeus precisarão se manifestar de maneira clara caso a situação piore nas próximas semanas. A França, por exemplo, já declarou sua indisponibilidade para receber esses imigrantes. Ele, no entanto, afirma que o problema também é interno. — Infelizmente, devemos admitir que o governo italiano, nos últimos anos, não teve uma visão ampla sobre o problema e não pediu nem sugeriu à União Europeia o desenvolvimento

clandestine, è di uomini giovani di origine tunisina, che arrivano in Italia per proseguire il viaggio per la Francia o la Germania.

— C’è un intera generazione di giovani che fugge dalla Tunisia dovuto alla crisi economica e politica e approfitta dell’assenza di controlli alle frontiere — ha ammesso il ministro degli Interni italiano, Rober-to Maroni, annunciando che il governo lavora sulla possibilità di inquadrarli nello status di protezione umanitaria temporanea, visto che, dovuto alla situa-zione di instabilità in Tunisia, non potrebbero essere rimpatriati in questo momento.

L’Italia, secondo la normativa attuale euro-pea, è obbligata ad impedire il proseguimento degli immigranti clandestini verso altri paesi europei e a ri-mandarli nei loro paesi di origine, a eccezione di quelli che richiedono asilo o hanno diritto allo status di ri-fugiati, provenienti da paesi in guerra. Secondo il vice direttore della Caritas, nel caso dei tunisini potrebbe-ro richiedere asilo solo gli ex membri dell’esercito o del governo. Quindi la decisione del Ministero degli Interni di concedere lo status di protezione umani-taria risolverebbe uno dei principali nodi burocratici provocati da questa nuova ondata di immigranti.

Secondo delle previsioni, il flusso principale sarà di immigranti con diritto all’asilo o allo status di ri-fugiati, reduci da altri paesi africani che sono rimasti per anni bloccati in Libia. In questo tipo di immi-grazione cambia il profilo: ci sono molte donne con bambini e famiglie invece di giovani tunisini.

Il governo italiano ha anche inviato missioni umanitarie alle frontiere della Libia con la Tunisia e nei principali porti tunisini, da dove partono gli immigranti clandestini, per evitare che la crisi in questi paesi provochi una “partenza in massa ver-so l’Italia”. Da parte sua l’Unione Europea, oltre agli aiuti finanziari inviati direttamente alle organizza-zioni umanitarie in azione nei paesi in crisi, ha anche mandato, attraverso la Frontex, forze di polizia per aiutare le operazioni della Guardia di Finanza.

— Questa situazione rappresenta una importante sfida per l’Italia e speriamo che riceva gli appoggi da tutta l’Unione Europea — afferma il rappresentan-te dell’Alto Commissariato della Onu per i Rifugiati (Acnur) dell’Europa del sud, Laurens Jolles. Inoltre l’organizzazione mette in risalto che la comunità internazionale non può dimenticare la drammati-ca situazione dei rifugiati africani bloccati in Libia, provenienti da paesi in guerra civile come l’Eritrea, la Somalia e il Sudan, che non riescono a proteggersi dalle tensioni interne e non possono rientrare nei lo-ro paesi di origine. Mentre la situazione in Libia non risulta in una guerra civile dichiarata, il principale flusso di immigranti scorre verso le frontiere con la Tunisia e l’Egitto.

— Per ora si tratta di un problema transitorio, di lavoratori egiziani o di altre nazionalità che vogliono lasciare la Libia e ritornare nei loro paesi — spiega Francesco Marsico, vice direttore dell’organizzazione cattolica italiana Caritas.

Per Marsico l’Unione Europea e i governi nazionali europei avranno bisogno di manifestarsi in modo chia-ro se per caso la situazione peggiorasse nelle prossime settimane. La Francia, ad esempio, ha già dichiarato la sua indisponibilità per ricevere questi immigranti. Comunque lui dice che il problema è anche interno. — Purtroppo dobbiamo ammettere che il governo ita-liano negli ultimi anni non ha avuto un’ampia visione

Acima, o vice-diretor da organização católica

italiana Caritas, Francesco Marsico.

Abaixo, a Itália passou a interceptar em alto-mar

as embarcações e a enviar os imigrantes às autoridades líbias, que deveriam providenciar

a repatriação

Sopra, il vice direttore dell’organizzazione

cattolica Caritas Italiana, Francesco

Marsico. Sotto, l’Italia ha cominciato ad

intercettare in alto mare le imbarcazioni e a

mandare gli immigranti alle autorità libiche che

devono provvedere al loro rimpatrio

Capa imigração&guErra

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de projetos a longo prazo para resolver o problema da imigração norte-africana — afirma Marsico.

— A Itália teve uma visão política limitada, con-fiando totalmente no êxito do acordo com a Líbia — adverte, referindo-se ao tratado de amizade entre os dois países firmado em 2008, que reduziu drasti-camente o número de desembarques clandestinos no litoral italiano. Com o acordo, a Itália passou a in-terceptar em alto-mar as embarcações e a enviar os imigrantes às autoridades líbias, que deveriam provi-denciar a repatriação destas pessoas.

“Buraco negro” nos direitos humanosDesde o início, este tratado provocou polêmicas en-tre ativistas de direitos humanos e teve a suspensão decretada alguns dias após o início dos recentes con-flitos na Líbia. O vice-diretor da Caritas afirma que “o exército líbio retinha estes imigrantes e impedia que pessoas provenientes de regiões em guerra pudessem solicitar asilo político ou status de refugiados”.

Firmado em agosto de 2008, o polêmico trata-do entrou em vigor em março de 2009. Assim, ao longo de 2009, o desembarque marítimo de imi-grantes clandestinos diminuiu em 74% em relação a 2008, enquan-to em 2010 a redução foi de 88% em relação a 2009. A própria ONU chegou a solicitar a verificação das condições em que as pessoas eram mantidas nas prisões líbias, enquan-to diversos trabalhos jornalísticos revelaram as trágicas trajetórias

del problema e non ha richiesto, né suggerito, all’Unio-ne Europea l’idealizzazione di progetti e lungo termine per risolvere il problema dell’immigrazione dal Nord Africa — afferma Marsico.

— L’Italia ha dimostrato di avere una visione politica limitata, fidandosi appieno del risultato dell’accordo con la Libia — avverte, riferendosi al trattato di amicizia tra i due paesi siglato nel 2008, che ha drasticamente ridotto il numero di sbarchi clandestini lungo il litorale italiano. Con l’accordo l’Italia ha cominciato ad intercettare in alto mare le imbarcazioni e a mandare gli immigranti nelle ma-ni delle autorità libiche, che dovevano provvedere al rimpatrio di queste persone.

“Buco nero” nei diritti umaniFin dall’inizio questo trattato provoca polemiche tra attivisti di diritti umani ed è stato sospeso qualche giorno dopo l’inizio dei recenti conflitti in Libia. Il vice direttore della Caritas dice che “l’esercito libico tratteneva questi immigranti e impediva che persone

Manifestantes protestam contra o acordo de amizade assinado

entre a Líbia e a Itália, alegando violação dos

direitos humanos

Dagmawi Yimer, um dos autores do

documentário “Come un uomo sulla terra

Manifestanti protestano contro l’accordo di

amicizia firmato tra la Libia e l’Italia per

presuta violazione dei diritti umani

Dagmawi Yimer, uno degli autori del

documentario “Come un uomo sulla terra”

comunitàitaliana | março / abri l 2011 27

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destes imigrantes enviados de volta à Líbia pelas for-ças italianas. Um destes trabalhos foi o documentário “Come un uomo sulla terra”, realizado por Riccardo Biadene, Dagmawi Yimer e Andrea Segre. Yimer era um estudante etíope que viveu pessoalmente os horrores das prisões líbias antes de conseguir chegar à Itália.

— O acordo líbio impediu um fluxo muito grande de imigrantes com direitos de asilo e isso significa um buraco negro na questão dos direitos humanos sobre a imigração — afirma Marsico.

Portas da EuropaO Mar Mediterrâneo, nos últimos anos, se tornou pro-tagonista de crescentes fluxos migratórios, envolvendo praticamente todos os países costeiros. Os principais pontos de chegada à Itália estão nos litorais da Puglia, da Sicília e, com menos freqüência, da Calábria. Durante a crise nos países dos Bálcãs, no Kosovo e na Albânia, no final dos anos 90, provocando um dos maiores fluxos migratórios já enfrentados pelo país, as praias da Puglia constituíam os principais pontos de acesso. Com os novos imigrantes dos anos 2000 partindo do norte da África, o destino de desembarque acaba sendo, naturalmente, o litoral da Sicília, prin-cipalmente a ilha de Lampedusa.

Segundo dados oficiais, os desembar-ques na Sicília passaram de 2.700, no ano de 2000, para quase 37 mil, em 2008. Após aquele ano, com a assinatura do tratado com a Líbia, ocorreu uma espécie de bloqueio dos fluxos migratórios. A nova crise, iniciada em meados de janeiro deste ano, trouxe, somen-te à Lampedusa, mais de 6 mil imigrantes. Na opinião do dirigente da Caritas Itália, os fluxos significativos de imigrantes ilegais de 2005 a 2007 foram um dos principais motivos que levaram o governo Berlusconi a decidir pela assinatura de um acordo com o governo de Kadafi.

Dependência energética e comercial entre Itália e LíbiaDesde 1950, quando a Líbia declarou independência da Grã-Bretanha, as relações comerciais com a Itália atravessaram fases difíceis, principalmente nos pri-meiros anos do governo de Kadafi, na década de 70. A situação melhorou em 1998, até chegar ao auge com a assinatura, em 2008, do Tratado de Amizade e Cooperação com a Itália. Até o início da atual crise, a Líbia era um importante aliado no norte da África para a Itália e um dos mais importantes fornecedores de energia (gás e petróleo).

O tratado de 2008, firmado pelo primeiro-mi-nistro, Silvio Berlusconi, previa o favorecimento aos investimentos nas empresas italianas presentes na

Capa imigração&guErra

provenienti da regioni in guerra potessero richiedere asilo politico o status di rifugiate”.

Firmato nell’agosto del 2008, il polemico trattato è entrato in vigore nel marzo del 2009. Cosí durante il 2009 lo sbarco marittimo di immigranti clandesti-ni è diminuito del 74% in confronto al 2008, mentre nel 2010 la riduzione è stata dell’88% in rapporto al 2009. La stessa Onu ha perfino richiesto la verifica delle condizioni in cui erano tenute le persone nelle prigioni libiche, mentre molti lavori di tipo giorna-listico hanno rivelato le tragiche traiettorie di questi immigranti rimandati in Libia dalle forze dell’ordine italiane. Uno di questi lavori è stato il documentario “Come un uomo sulla terra”, realizzato da Riccardo Biadene, Dagmawi Yimer e Andrea Segre. Yimer era uno studente etiope che ha perso-nalmente vissuto gli orrori delle prigioni libiche prima di riuscire ad arrivare in Italia.

— L’accordo libico ha impe-dito un flusso molto grande di immigranti con diritto ad asilo e ciò significa un buco nero nella questione dei diritti umani sull’im-migrazione — afferma Marsico.

Porte dell’EuropaNegli ultimi anni il Mar Mediter-raneo è divenuto protagonsita di crescenti flussi migratori che coinvolgono praticamente tutti i paesi costieri. I punti principa-li di arrivo in Italia sono i litorali della Puglia, della Sicilia e, me-no spesso, della Calabria. Durante la crisi nei paesi dei Balcani, nel Kossovo e in Albania, alla fine degli anni ’90, che ha provocato uno dei più grandi flus-si migratori già affrontati dall’Italia, le spiagge della Puglia erano i principali punti d’entrata. Con i nuovi immigranti degli anni 2000, che partono dal nord Africa, la destinazione degli sbarchi alla fine è natu-ralmente il litorale della Sicilia, specialmente l’isola di Lampedusa.

Secondo dati ufficiali gli sbarchi in Sicilia sono au-mentati da 2.700 nel 2000 a quasi 37 mila nel 2008. Dopo quell’anno, con la firma del trattato con la Libia, si è avuta una specie di fermo dei flussi migratori. La nuova crisi, cominciata a metà gennaio di quest’an-no, ha fatto sí che arrivassero, solo a Lampedusa, più di seimila immigranti. Secondo il dirigente della Ca-ritas Italia i flussi significativi di immigranti illegali dal 2005 al 2007 hanno rappresentato uno dei motivi principali che ha portato il governo Berlusconi a de-cidere di siglare l’accordo con il governo di Gheddafi.

“Entre 2008 e 2010, a balança comercial entre

itália e líbia chegou a 40

bilhões de euros, enquanto um

fundo soberano líbio investiu 2,5 bilhões de euros

para comprar 7% da Unicredit”

“Tra il 2008 e il 2010 la bilancia commerciale tra l’Italia e la Libia

ha raggiunto i 40 miliardi di euro, mentre un fondo

sovrano libico ha investito 2,5 miliardi di euro

per comprare il 7% della Unicredit”

Momento que em que o primeiro-ministro italiano,

Silvio Berlusconi, firma parceria com o governo líbio, liderado por Kadafi

Momento in cui il primo ministro italiano, Silvio

Berlusconi, firma accordo con il governo libico guidato da Gheddafi

março / abri l 2011 | comunitàitaliana28

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Dependenza energetica e commerciale tra Italia e LibiaFin dal 1950, quando la Libia ha dichiarato la sua indipendenza dalla Gran Bretagna, i rapporti com-merciali con l’Italia sono passati per fasi difficili specialmente nei primi anni del governo di Ghedda-fi, negli anni ’70. La situazione è migliorata nel 1998 fino ad arrivare all’apice con la firma nel 2008, del Trattato di Amicizia e Cooperazione con l’Italia. Fino all’inizio della crisi attuale la Libia era un importante alleata dell’Italia nel Nord Africa e uno dei più impor-tanti rifornitori di energia (metano e petrolio).

Il trattato del 2008 siglato dal primo ministro Silvio Berlusconi prevedeva agevolazioni per inve-stimenti fatti nelle aziende italiane presenti in Libia.

Anche se criticato da attivisti dei diritti umani, il trattato ha favorito l’aumento degli scambi commer-ciali tra i due paesi. Tra il 2008 e il 2010 la bilancia commerciale tra l’Italia e la Libia ha raggiunto i 40 miliardi di euro, mentre un fon-do sovrano libico ha investito 2,5 miliardi di euro per comprare il 7% della Unicredit, divenendo co-sí il maggior azionista del gruppo bancario italiano; e l’1% della com-pagnia di metano e petrolio italiana Eni è stato acquisito da fondi libici, il che ha prorogato per altri 25 an-ni le concessioni energetiche per il gruppo italano nel paese africano, tra i tanti altri accordi.

Durante le prime settimane del-la crisi libica, il governo italiano è stato fortemente criticato dovuto alla mancanza di un atteggiamento ufficiale contro il regime di Gheddafi, specialmente il premier Berlusconi, accusato di mantenere rappor-ti di amicizia personale con il dittatore. Dalla fine di febbraio autorità del governo italiano hanno deciso di sospendere l’accordo con il paese africano, anche se analisti di diritto internazionale hanno dichiarato che questa sospensione non sarebbe entrata ufficial-mente in vigore.

In questo momento grandi aziende italiane pos-siedono filiali importanti in Libia, come l’impresa edile Impregilo che presenta l’11% dei suoi progetti nel paese di Gheddafi, o la compagnia di finanza Exor, che controlla la Juventus e di cui la famiglia Gheddafi possiede il 7,5%. Ma la preoccupazione principale in Italia quando è ecclosa la crisi libica riguarda il rifor-nimento energetico. Dei dati rivelano che il 13% del metano importato dall’Italia proviene dalla Libia, co-sí come il 23% del petrolio consumato in Italia.

Líbia. Mesmo com as críticas de ativistas de direitos humanos, o tratado favoreceu o aumento das trocas comerciais entre os dois países. Entre 2008 e 2010, a ba-lança comercial entre Itália e Líbia chegou a 40 bilhões de euros, enquanto um fundo soberano líbio investiu 2,5 bilhões de euros para comprar 7% da Unicredit, se tornando o maior acionista do grupo bancário italiano, e 1% da companhia de gás e petróleo italiana Eni foi ad-quirida por fundos líbios, o que prolongou em 25 anos as concessões energéticas para o grupo italiano no país africano, entre muitos outros acordos.

Nas primeiras semanas da crise líbica, o governo italiano foi extremamente criticado pela falta de uma postura oficial contra o regime de Kadafi, especialmen-te o premier Berlusconi, acusado de manter relações

de amizade pessoal com o ditador. A partir do final de fevereiro, autoridades do governo italiano assumiram a suspensão do acordo com o país africano, ainda que analistas de direito internacional afirmassem que tal suspensão não estaria oficialmente em vigor.

Atualmente, grandes empresas italianas possuem braços importantes na Líbia, como a construtora Im-pregilo, com 11% dos seus projetos no país de Kadafi, ou a financeira Exor, que controla a Juventus e da qual a família Kadafi possui 7,5%. Mas, a principal preocupação italiana quando estourou a crise na Líbia referia-se ao fornecimento enérgico. Alguns dados revelam que 13% do gás importado pela Itália vêm da Líbia, assim como 23% do petróleo consumido no país chegam do território líbio. O dirigente da Eni, Paolo Scaroni, tranquilizou a imprensa italiana ao de-clarar que, mesmo com a redução de mais de 50% da produção de gás na Líbia, não há motivos para preo-cupações, pois o norte da Europa possui condições de fornecer gás suficiente para o consumo italiano.

Em 1961, a Eni já extraía petróleo na Tunísia. Nos

dias atuais, técnicos líbios e italianos leem

uma planta, em Mellitah

Nel 1961 l’Eni estraeva già grezzo in Tunisia. In

foto recente, tecnici libici e italiani leggono una

pianta a Mellitah

comunitàitaliana | março / abri l 2011 29

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feira traz tecnologia de defesa ao RioSetor da segurança reforça relações comerciais entre Brasil e Itália e foca nos eventos esportivos dos próximos anos

Em 2005, cerca de 18 mil pessoas

passaram pelo pavilhão de

exposições da LAAD

Cintia Salomão Castro

A lém das palestras que compõem o III Seminário de Defesa e o I Seminário

de Segurança, a programação da LAAD 2011 conta com o V Simpósio Internacional de Logística Militar. Serão três painéis. No dia 13, o painel será dedicado à adaptação das Forças Armadas a novos processos logísticos. No dia 14, os debates vão girar em torno da sistemática de aquisições governamentais de produtos de defesa, e um dos palestrantes é um oficial da OTAN. Já no dia 15 de abril, os convidados vão falar sobre a terceirização na logística militar - e implicações nas atividades de logística, comando e controle.

lOGístiCa Militar

“o Brasil é um importante parceiro na área da defesa e de

cooperação técnica e científica, além de base de exportação para

a América latina”Ronaldo Padovani, analista do iCE

O tema da segurança ganha cada vez mais importância no Brasil devido às preparações

para grandes eventos esportivos de âmbito internacional, como a Copa do Mundo de 2014. Dentro desse contexto, de 12 a 15 de abril, a ci-dade sede dos Jogos Olímpicos de 2016 será o palco da LAAD – De-fence & Security – o maior e mais importante evento do setor de De-fesa e Segurança da América Latina. O encontro bianual conta com o apoio do Ministério da Defesa e das Forças Armadas e com a presença de autoridades de segurança dos países da América Latina. Os seminários abordarão assuntos como a integra-ção entre Forças Armadas e forças policiais – tendo como estudo de ca-so o capital humano empregado no Complexo do Alemão; programa nu-clear e treinamentos especiais para grandes eventos e antiterrorismo.

De acordo com os organizado-res, esta edição deve reunir 550 expositores no pavilhão do Riocen-tro. Em 2009, a feira atraiu cerca de 18 mil visitantes. A expectativa de público para 2011 é de 24 mil pessoas. A exemplo de 2009, quan-do o presidente Lula participou do encontro, é esperada a presença da presidente da República Dilma

Rousseff. Pela primeira vez, haverá participação de países como China, Noruega, Portugal e Taiwan.

— Existem dois aspectos dife-rentes para que o momento seja muito positivo. Um diz respeito à estratégia nacional de defesa, lan-çada pelo Governo Lula em 2008. Nesse sentido, os primeiros projetos

já foram assinados, como a aquisi-ção de submarinos e helicópteros. A LAAD é uma oportunidade para dar continuidade a esse processo. Outra questão importante é o Bra-sil como sede das Olimpíadas e da Copa do Mundo, para os quais serão concluídos os primeiros projetos de segurança. Muitas empresas virão ao evento com foco nisso — destaca o diretor da LAAD, Sergio Jardim.

Participação ItalianaA Itália confirmará a sua tradi-cional presença com a vinda de representantes do Ministério da Defesa e de 19 empresas que atu-am em setores como produção de aeronaves, sistemas de segurança e fabricação de radares. O núme-ro é maior em relação a 2009, que contou com a presença de 12 com-panhias. O pavilhão italiano é uma ação conjunta do ICE, da Federa-ção das Indústrias Italianas para os setores Aeroespacial, Defesa e Segurança (AIAD) e do Ministério italiano da Defesa. Para Ronal-do Padovani, analista do Instituto Italiano para o Comércio Exterior (ICE) para o setor, a participação coletiva em 2009 teve um balanço bastante positivo, o que pode ser visto pelo aumento do número de participantes e pelo retorno de em-presas como a Finmeccanica – uma das maiores fabricantes européias.

— O Brasil é um importante parceiro na área da defesa e de coo-peração técnica e científica, além de base de exportação para a América Latina. Nossa presença na LAAD 2011 tem o objetivo de incrementar tal intercâmbio, apresentar as últi-mas tecnologias e inovações para o setor e negociar importantes alianças estratégicas — afirma Padovani.

De acordo com os dados do ICE, nos últimos anos, a in-dústria italiana tem buscado uma estratégia de interna-cionalização por meio da aquisição de uma base indus-trial na Europa e da penetração no mercado americano, com um fa-turamento de mais de 12 bilhões de euros e a geração de 50 mil empre-gos diretos. As indústrias se fazem presentes sobretudo nas áreas de Brindisi, Frosinone, Gênova, La Spezia, Latina, Livorno, Nápoles, Roma, Taranto, Torino e Varese.

LaaDdEfESa&SEgurança2011

30 março / abri l 2011 | comunitàitaliana

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Voando altoFabricante de helicópteros, a AgustaWestland aumenta sua participação no mercado brasileiro

Cintia Salomão Castro

Uma das líderes mun-diais do setor de produção e comerciali-zação de helicópteros, a

AgustaWestland, estará presente na LAAD 2011 para apresentar alguns de seus produtos de uso civil e mili-tar. Sediada na província de Varese, conta com uma sucursal brasileira e escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro. O engenheiro Roberto Gara-vaglia, vice-presidente de marketing da empresa, revela que o interesse da multinacional pelo Brasil é grande.

— O país tem uma das taxas de desenvolvimento mais altas do chamado BRIC. Nossos clientes são empresários importantes, como instituições privadas, empresas, entidades governamentais e as Forças Amadas — afirma.

Nesta entrevista, ele revela que a empresa já vendeu, para clientes bra-sileiros, cerca de 150 helicópteros de uso civil, governativo e militar.

ComunitàItaliana — A Agus-taWestland é uma referência no setor de helicópteros. Po-de nos contar um pouco a história da empresa?Roberto Garavaglia — Consti-tuída no ano 2000, a AgustaWestland

conta com uma hereditariedade de raízes profundas, e tem como van-tagem a experiência e a tradição da sociedade italiana Agusta S.p.A. e da britânica Westland Ltd.

A experiência na produção de he-licópteros remonta ao início dos anos 1950, quando ambas decidiram en-trar de forma independente no setor. Uma primeira ocasião de colabora-ção houve nos anos 1960, quando a Westland começou sua produção sob a licença Agusta do AB47, com o nome de Westland-Agusta-Bell 47G-3B-4 ou simplesmente “Sioux”. A partir de 1964, a Westland produziu 250 helicópteros de tal modelo junto ao estabelecimento de Yeovil. A co-laboração entre Agusta e Westland prosseguiu por 20 anos, a partir dos anos 70, com o projeto relativo ao helicóptero EH101. Em 2000, a Finmeccanica e a britânica GKN de-cidiram realizar uma aliança, através da Agusta e da Westland. Nasceu, en-tão, a AgustaWestland, uma empresa competitiva que reuniu as ativida-des desenvolvidas anteriormente pelas duas firmas e beneficiou-se da cultura e da expe-riência das duas parceiras. Assim, foi capaz de bus-car oportunidades de negócios em nível global. Ao final de 2004, a Finmeccanica

adquiriu o controle total da socie-dade e da cota da GKN, e tornou-se acionista única. A empresa, hoje, é líder em numerosos programas inter-nacionais de máxima importância, fez alianças estratégicas com ou-tras sociedades de renome do setor, oferece ao mercado uma gama com-pleta de produtos tecnologicamente avançados para uso civil e militar. Atualmente, encontra-se com nu-merosos produtos de características inéditas em desenvolvimento.

CI — De que modo a Agus-taWestland opera no Brasil?RG — Operamos no Brasil através de uma sucursal própria, a AgustaWes-tland do Brasil, presente em São Paulo e no Rio de Janeiro. A sede fluminen-se é responsável pela promoção dos produtos da empresa junto às Forças Amadas brasileiras, enquanto as ativi-dades relativas ao mercado comercial são conduzidas na filial paulista, on-de mantemos uma ampla e moderna estrutura. Ali também conduzimos

uma série de atividades in-dustriais voltadas para os

clientes comerciais do país e tam-bém da América do Sul. Mais de 80 empresas

brasileiras colaboram com a AgustaWestland do Brasil.

CI — Por quais motivos a AgustaWestland sen-tiu-se interessada pelo

mercado brasileiro?

LaaD2011

comunitàitaliana | março / abri l 2011 31

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RG — O Brasil, que já é um mercado de excelência para a nossa empresa no setor comercial, apresenta, hoje, uma das taxas de desenvolvimen-to mais altas entre aqueles países do chamado grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Portanto, é lógico que procuramos investir em termos de recursos econômicos e humanos no país. Além disso, por conta da nossa própria presença no território local, procuramos expan-dir nossa cota de mercado no Chile, na Colômbia e no Peru, que exibem um alto potencial, sem esquecer da Argentina. Só para dar uma ideia da nossa atual dimensão no merca-do brasileiro, considere que foram vendidos cerca de 150 helicópteros para uso civil, governativo e militar.

CI — Quantos helicópteros a empresa vende anualmente no Brasil e no mundo?RG — O mercado de helicópteros apresenta um trend cíclico e está su-jeito a muitos fatores e a complexas variáveis econômicas. A Agusta-Westland vende, em média, mais de 200 helicópteros por ano. No caso do Brasil, o setor comercial recebe aproximadamente 10% de tal volu-me. Em âmbito civil, por exemplo, o setor de petróleo e gás (provimento energético com transporte de pes-soal e material entre terra firme e plataforma em mar aberto) está em forte ascensão. A empresa viu cres-cer rapidamente o seu papel nesse segmento, inclusive na América Latina, e pode oferecer o melhor helicóptero médio e o mais vendido do mundo – o AW139. Além disso, somos líderes no Brasil, do setor corporativo/vip com cerca de 70% do mercado; em particular, com a li-nha de produtos da categoria light twin (AW109 Power, Grand e o mais recente Grand New).

CI — Qual é o perfil do compra-dor de helicópteros no Brasil?RG — Estamos presentes no mer-cado seja em nível comercial, seja em nível governativo e militar. Os clientes são empresários impor-tantes, assim como instituições privadas, empresas, entidades go-vernamentais e as Forças Amadas.

CI — Quanto custa, em mé-dia, um helicóptero? E os custos de manutenção?RG — Não é simples responder a uma pergunta sobre valores eco-nômicos, os quais variam em base a múltiplos fatores, entre os quais o modelo, a configuração de base e aquela que é personalizada para o cliente. Sem esquecer os pacotes de manutenção, treinamento, equi-pamento e pessoal técnico, além de outros aspectos. O valor de uma unidade pode chegar a 15 milhões de dólares para um helicóptero civil.

CI — Quais são as expectati-vas de crescimento do setor para este ano?RG — Ao longo de 2010, obtive-mos importantes resultados, apesar dos efeitos da recessão econômica planetária, que teve reflexos no se-tor aeronáutico em geral. O mercado encontra-se em recupe-ração progressiva e o ano de 2010 confirmará o trend positivo que tem caracterizado o andamento da sociedade nos últimos anos.

CI — Quais são as novidades da empresa para 2011?RG — Temos a tradição de investir de maneira significativa na inova-ção. No ano passado, apresentamos dois produtos novos: o GrandNew e o AW169. Concluímos 2009 com o voo inaugural de cinco modelos (as novas versões do AW101, Lynx Mk.9A, T129, AW159 e AW149), em apenas três meses. Em feverei-ro, tivemos o voo do biturbinado leve Grand New, inclusive no Bra-sil, enquanto que o AW169 terá em breve um lançamento comercial. A empresa, portanto, apresenta, desde o início de 2011, soluções múltiplas e novas para satisfazer o mercado mundial, inclusive o

brasileiro, tanto em nível comercial quanto em nível militar.

CI — Quais são os concorrentes principais da AgustaWestland? RG — Os de sempre. Em particu-lar, a franco-alemã Eurocopter e as norte-americanas Sikorsky, Boeing e Bell Helicopters.

CI — Recentemente, a Agus-taWestland assinou um acordo com a Aeronáutica

Militar italiana. Exis-tem perspectivas para uma oferta

futura ao governo brasileiro?RG — O mercado de helicópteros militares no Brasil oferece diversas oportunidades. Somos dotados de uma ampla gama de produtos para satisfazer as exigências operativas do país. Entre os requisitos aos quais podemos responder, estão os exigi-dos para helicópteros de uso naval. Lembramos que a Marinha brasilei-ra já opera diversos AgustaWestland Lynx. Além disso, o Exército pode-ria precisar de novos helicópteros utility. Podemos ainda oferecer um helicóptero de treinamento comum às várias Forças Armadas, e novos veículos para as diversas agências governamentais brasileiras.

CI — De 12 a 15 de abril de 2011, o Rio de Janeiro será sede do Latin América Aerospace &

Defense (LAAD), a maior feira de defesa e segu-

rança da América Latina e a AgustaWestland virá

ao Brasil para o evento...RG — Estaremos pre-sentes na LAAD, em um contexto de participação

mais ampla da Finmeccanica. Durante a ocasião, esperamos avaliar novas oportunidades de negócios. Pretendemos, ainda, promover nossas atividades e pro-dutos com o objetivo de expandir aquela que já é uma presença signi-ficativa em um mercado que, como já citei, nos parece um dos mais im-portantes para o futuro do setor aeroespacial.

“Vimos crescer rapidamente nosso papel no segmento petróleo e gás, que está em forte ascensão no Brasil e na América latina”Roberto Garavaglia, vice-presidente da AgustaWestland

LaaDdEfESa&SEgurança2011

32 março / abri l 2011 | comunitàitaliana

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LaaD2011

Dona de um dos maio-res estandes da LAAD 2011 e comandada, na América Latina, pelo

engenheiro Marco Mazzu, a Iveco torna público o “Guarani”, protó-tipo do tanque blindado vendido para o Brasil, em 2009.

— Trata-se de um produto muito especial, com muita tecno-logia, incluindo o aço balístico, que pretendemos comprar aqui no Brasil, desenvolvendo fornecedo-res locais. O VBTP, ou “Guarani”, é resultado de uma licitação que foi lançada pelo Exército. Vencemos, criamos um time especial de enge-nheiros, que inclui profissionais do próprio Exército, e desenvolvemos o veículo — conta Mazzu.

Especializada em produção e comercialização de caminhões e ônibus, a fábrica se localiza em Sete Lagoas, no estado de Minas Gerais. Além da produção de to-das as linhas de produtos, o espaço contém um centro de produção integrado, com mais de 100 enge-nheiros. O trabalho abrange linha de montagem de carroçaria, cabine de pintura e montagem final.

A Iveco ainda possui 33 fábricas espalhadas por países como Itá-lia, Alemanha, França e Espanha. Contudo, a atuação comercial está presente em mais de 100 países, o que a torna a maior produtora de ônibus da Europa.

Em entrevista à Comunità, o engenheiro Marco Mazzu revela que, além do Guarani, será exposto o LMV, um dos jipes militares mais vendidos no mundo.

ComunitàItaliana - A Ive-co faz parte do grupo Fiat. Explique sobre a sua histó-ria e expansão na América Latina.

Marco Mazzu - O Grupo Fiat opera no Brasil há mais de 60 anos. Sentimo-nos uma empresa ver-dadeiramente brasileira. Eu sou casado com uma brasileira. Um dos meus três filhos também nasceu no Brasil. Sinto-me em casa. Quanto à Iveco, iniciamos nossas atividades em 1997 e os primeiros 10 anos, até 2006, foram de construção de uma base de atuação: uma fábrica e uma rede de concessionários. Em 2007, porém, a Iveco mundial decidiu investir no Brasil. Foram designa-dos R$ 570 milhões e construímos um centro de desenvolvimento de produto, o primeiro fora da Itália, uma nova unidade de produção de caminhões pesados, um cen-tro de distribuição de peças. Ainda abrimos mais de 40 novas conces-sionárias e lançamos seis novas famílias de produtos, o que fez da Iveco uma empresa de gama com-pleta. Com caminhões em todos os segmentos do mercado brasileiro, a Iveco é a marca de caminhões que mais cresce no Brasil.

CI - O Brasil é um forte pro-dutor de caminhões. Qual é a presença da Iveco neste mercado?MM - Com o plano de crescimen-to implementado em 2007, a Iveco conseguiu multiplicar por cinco su-as vendas no país, duplicando seu market share. Hoje, temos cerca de 9% do mercado brasileiro. Com o caminhão médio Iveco Vertis, por exemplo, entramos em um seg-mento que representa cerca de 20% das vendas do mercado nacional.

CI - Qual o perfil dos com-pradores da Iveco? MM - A Iveco atende os em-presários das grandes, médias e pequenas empresas de transporte. E também os autônomos. Temos clientes como o Martins (o maior atacadista brasileiro), a Gafor e a Tegma (duas das maiores trans-portadoras do Brasil), entre muitos outros. Mas, também temos uma presença forte entre os caminho-neiros, como os cegonheiros. Com sua proposta de inovação, a Ive-co atrai aqueles transportadores e caminhoneiros que buscam a mo-dernidade, o avanço por meio da tecnologia aplicada ao transporte.

CI - Quais são as expecta-tivas da participação da empresa na LAAD 2011?MM - Apresentaremos o primeiro protótipo do VBTP-MR, um veículo blindado para o transporte de pessoal que foi batizado pelo Exército brasi-leiro como “Guarani” e deverá entrar em produção seriada em dois anos. Vamos ainda mostrar caminhões adaptados para o uso militar e alguns veículos especiais como o LMV, um dos jipes militares mais vendidos em todo o mundo, produzidos na Itália.

CI - A Iveco já atendia o pú-blico militar do Brasil e de outros países? MM - A Iveco é uma das maiores produtoras de caminhões para uso militar e tem clientes em dezenas de países do mundo, incluindo a América do Sul. Temos muitas opor-tunidades de crescer nesta área.

Tecnologia sobre rodasEm parceria com as Forças Armadas brasileiras, Iveco apresenta protótipo de blindado

Fernanda Galvão

Abaixo, o tão aguardado protótipo

do “Guarani”, tanque blindado

desenvolvido pela Iveco em parceria com o Exército do

Brasil

comunitàitaliana | março / abri l 2011 33

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Especializada em serviços para satélites, a empre-sa Telespazio, cuja sede mundial localiza-se em

Roma, está presente no Brasil há mais de dez anos. Integra o gru-po italiano Finmeccanica, através de uma joint venture que inclui a francesa Thales. Seus serviços mais importantes incluem a observação da terra, a navegação, a telecomuni-cação e a conectividade integradas, e programas espaciais científicos.

A empresa estará no pavilhão italiano da LAAD, onde apresenta-rá seus produtos com a exibição de imagens capturadas por satélites especiais. O presidente da Teles-pazio no Brasil, Marzio Laurenti, é um dos palestrantes convidados do III Seminário de Defesa LA-AD, na manhã do dia 14 de abril. Ele falará sobre gerenciamento de desastres naturais a partir do uso de imagens da constelação de sa-télites. Na ocasião, vai dar mais detalhes ao público sobre a tecno-logia empregada. Nesta entrevista, Laurenti explica que a empresa pretende ampliar a gama de clien-tes governamentais no Brasil.

ComunitàItaliana – Como se insere a Telespazio nos pre-parativos para os grandes

eventos esportivos de 2014 e 2016?Marzio Laurenti – Devido à realização da Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil, haverá uma grande necessidade de infra-es-trutura relacionada à segurança. No contexto dos amplos produtos oferecidos no setor pela Finmec-canica, nós temos um papel, pois um sistema de segurança não pode prescindir dos satélites.

CI – Que produtos e serviços a Telespazio oferece para o setor de defesa e segurança?ML – O portfólio dentro do setor de satélites é muito amplo. A Thales fabrica os satélites, enquanto nós re-alizamos toda a infra-estrutura de terra. Somos uma das raríssimas em-presas no mundo que fornece todos os serviços satelitares a 360 graus. Algumas companhias podem ser concorrentes em setores específicos, como na observação da Terra, mas nenhuma tem uma competência am-pla e completa como a nossa.

CI – Como será a presença da Telespazio na LAAD?ML – Estaremos na grande área de-dicada à Finmeccanica, onde serão apresentados os nossos serviços. Haverá a exibição de imagens do sistema Cosmo-SkyMed. Também mostraremos alguns dos serviços de navegação das bandas de frequência KU e C. Além disso, falaremos da nos-sa experiência de desenvolvimento de um sistema militar chamado Sicral, para a OTAN e a Itália, em bandas X, UHF e KA. O projeto foi realizado através do modelo econô-mico PPP (Parceria Público Privado). Esse detalhe é muito importante, pois o Brasil demonstrou que quer fazer o próprio satélite por meio de um modelo PPP, com envolvimento público e privado. Nós estamos in-teressados em mostrar que fomos capazes de fazê-lo. Apresentaremos outros produtos, como o INAV, um sistema único, testado de forma po-sitiva pela proteção civil europeia, que permite a localização da equipe, a comunicação e o compartilhamen-to de imagens de mapa capturadas por satélite. Isso é muito útil em caso de catástrofes, como gran-des deslizamentos ou terremotos, em que as telecomunicações ficam inoperantes.

CI – Qual é o perfil dos clien-tes no Brasil?ML – A maior parcela, atualmente, constitui-se de grandes compa-nhias de telefonia fixa e móvel. Depois, vem o mercado corporativo (empresas). E a terceira parcela é o governo, como a Aeronáutica. Ago-ra, chegou o momento de ampliar a clientela junto ao governo.

CI – Que tipo de projetos vocês têm para o mercado brasileiro? ML – O nosso plano é ampliar e trazer mais serviços e produtos. No Brasil, ainda não fornecemos toda a gama de serviços que podemos. Queremos oferecer, por exemplo, o sistema Cosmo-SkyMed, que conta com quatro satélites, usado pela defesa italiana. Trata-se de uma aplicação importante no ca-so de emergências ou controle de fronteiras, por possuir vantagens como a tomada de imagens da mes-ma área, em momentos diversos do dia, independente do horário e da presença da luz do sol. Estamos começando a falar com as entidades governamentais sobre o produto e já iniciamos acordos de venda com a Petrobrás.

A Telespazio traz soluções que vão desde o monitoramento de catástrofes ao controle de fronteiras

Cintia Salomão Castro

Segurança via satélite

No alto, o diretor da Telespazio no

Brasil, Marzio Laurenti. Abaixo, as imagens da Região

Serrana (RJ) após os deslizamentos de

janeiro de 2011

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LaaDdEfESa&SEgurança2011

março / abri l 2011 | comunitàitaliana34

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COnfira alGuMas das palestras que OCOrrerãO nO riOCentrO

agEnda LaaD2011

dIA 12 de ABRILAbertura: sessão solene e palestra magna com o Ministro da Defesa Nelson Jobim. O assunto será a estratégia nacional de defesa e o impacto da evolução tecnológi-ca na transformação do modelo de defesa.

Os desafios do desenvolvimento tecnológico das forças: aplicações e os desafios na área de Defe-sa Cibernética e na operação em rede, conforme a Estratégia Nacional de Defesa. Os palestran-tes convidados são os generais João Roberto de Oliveira (Assessor Especial do Comandan-te do Exército para o Setor Cibernético) e emilio Carlos Acocella (Chefe do Centro Integrado de Tele-mática do Exército).

Aeronáutica e o Programa espacial: a importância estratégica do domínio da tecnologia espacial, com o

brigadeiro e engenheiro Francisco Car-los Melo Pantoja, diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço.

dIA 13 de ABRILIntegração Forças Armadas e forças policiais. Lições aprendidas da integração entre o Exército Brasileiro e Polícias na Operação Arcanjo (operação realizada no Rio de Janeiro). Com o comandante do 26º Batalhão de In-fantaria Paraquedista, coronel Antonio Manoel de Barros.

estudo de caso: O capital humano em-pregado no Complexo do Alemão e a tecnologia utilizada na missão modela-da como operação de paz. Armamentos, tecnologias, recursos adotados e os principais benefícios da modernização em desafios como este. Com o general Fernando José Lavaquial Sardenberg, comandante da Brigada de Infantaria Pá-ra-quedista/Comandante da Força de Pacificação (Nov 2010-fev 2011).

dIA 14 de ABRILTecnologia em satélite: O gerenciamento de desas-tres naturais a partir do uso de imagens da constelação de satélites radar COSMO SkyMed. Uma apresentação sobre esta prática e a tecnologia empregada. Com o presidente da Telespazio Brasil, Marzio Laurenti.

dIA 15 de ABRILPrograma nacional de atividades espaciais: uma visão sobre o cenário brasileiro, tecnologias prioritárias e as principais demandas futuras nesta área. Com represen-tantes da Agência Espacial Brasileira.

Intercâmbio de experiências: Compartilhando os aprendizados obtidos com Israel e Reino Unido pa-ra uma rápida resposta em situações de emergência, terrorismo internacional, gerenciamento de desastres, simulações. A importância da atualização do conheci-mento e da capacidade de resposta considerando os grandes eventos que o país sediará. Com o capitão bombeiro militar Marco Antonio Basques Sobrinho, do Grupamento Operacional do Comando Geral.

destaques da prOGraMaçãO da laad 2011

As 19 empresas italianas que já confirmaram presença no pavilhão italiano da LAAD 2011 atuam em setores variados da área de defesa e segurança, como produção de helicópteros, fornecimento de sistemas de engenharia e elaboração de sistemas sofisticados de telecomunicações via satélite.

A.G.e. (Aircraft Ground equipment Officine Meccaniche): fornecimento e manutenção de

equipamentos de suporte para o solo aéreo militar e civil.Fiocchi Munizioni: Produz cartuchos

para variadas exigências, como caça, segurança e defesa pessoal, e usos de fim militar.

Regione Puglia: A Apúlia é uma região localizada no sudeste da Itália, onde empresas atuam no setor aeronáutico desde 1934. Investimentos contínuos fizeram da localidade num centro de excelência no

campo aeroespacial, que conta com uma das maiores concentração de empresas italianas no setor.

AgustaWestland: uma das líderes mundiais do setor de produção e comercialização de helicópteros.

Lacert: Especializada no projeto, fabricação e distribuição de geradores de energia nos campos militar, hospitalar,

aeroespacial, ferroviário e laboratorial, entre outros.

Alenia Aeronautica: Projeta, constrói, integra e suporta sistemas complexos para o mercado civil e de defesa em vários países.

Magnaghi Aeronautica: Construtores de carros de aterrissagem e sistemas para a manufatura mecânica

em liga de alumínio, aço e liga de Titânio.

Salver: opera no campo da engenharia estrutural e de verificação, de técnicas de fabricação de materiais de construção em compostos avançados, especialmente

no campo da aeronáutica.

Beretta: Fábrica de armamentos portáteis, como fuzis e pistolas semiautomáricas, inclusive

produtos para o mercado esportivo.

Selex Communications: Fornecedora mundial de sistemas de comunicações para a proteção de cidades

e pontos críticos da infraestrutura dos países.

Calzoni: Uma das líderes europeias de fornecimento de sistemas de engenharia e

operativos para submarinos e navios.

Oto Melara: Tecnologias de defesa naval, terrestre e aérea. Fornece veículos para as Forças Armadas italianas.

Selex Galileo: Um dos principais fornecedores europeus de sistemas de radar. Seus equipamentos ajudam

aeronaves a detectarem ameaças em espaço aéreo.

distretto Aerospaziale Pugliese: O distrito da região italiana da Apúlia procura

reforçar e consolidar a competitividade de seus produtos em todo o mundo. Sua política é a de integrar

empresas de diferentes tamanhos e promover no país pesquisa e formação profissional.

Processi Speciali: Controle e tratamento de materiais aeronáuticos de modo não destrutivo, com líquidos

penetrantes e partículas magnéticas.

Selex Sistemi Integrati: Desenvolve sistemas de proteção com sistemas para radares aéreos e vigilância marinha.

Finmeccanica: Holding italiana que reúne empresas como Telespazio, AgustaWestland e Selex

Galileo. Atua nos setores da aeronáutica, espacial, da defesa e de helicópteros.

Pro-Systems: Desenvolve e produz produtos em tecido especial para uso militar, com proteção

contra balas e objetos cortantes.Telespazio: Especializada em serviços para

satélites, oferece serviços de observação da terra, de telecomunicações e programas espaciais científicos.

queM veM

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Nova rotaO prefeito de São Luís, João Castelo, assinou um protocolo

de intenções que garante o primeiro voo internacional regular da capital maranhense para a Itália, na rota São Luís-Milão. A iniciativa faz parte das comemorações dos 400 anos da cidade e será viabilizada graças à parceria com a Blue Pa-norama Airlines e Puma Air. Segundo a Secretaria Municipal de Turismo de São Luís, o voo inaugural está previsto para junho e, a partir de então, a prefeitura local pretende elevar a captação de turistas europeus, particular-mente italianos, para a capital e para Barrei-rinhas. Na avaliação da Secretaria, o voo regular facilitará tam-bém a realização de press trips e famtours nos dois destinos e o estabelecimento de missões comerciais entre o Brasil e a Itália. Fundada em 1998 pelo operador turístico Astro Travel, com sede em Fiumicino, a Blue Pano-rama Airlines S.A. é uma companhia aérea italiana de voos regulares e charter. Esta será a primeira vez que fará traje-tos para a capital maranhense. Sob a marca Blue Express, ela oferece, desde 2005, também voos de baixo custo. A compa-nhia pertence a Distal & Itr Group (66,6%) e Franco Pecci (33.4%). A empresa trabalha, atualmente, com uma frota de 11 aeronaves.

Páginas brasileirasA produção literária brasileira pôde ser apreciada na tra-

dicional Feira do Livro Infantil de Bolonha, no fim de março. A participação do Brasil foi organizada pela Câma-ra Brasileira do Livro e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), através do projeto Brazilian Publishers. A iniciativa visa à promoção da produção editorial no Exterior. Doze editoras brasileiras participaram do evento apresentando 921 títulos e 1024 exemplares de livros. Ano passado, o evento rendeu 122 mil dólares em negócios relacionados aos direitos autorais aos expositores brasileiros. Esta é a segunda atividade realiza-da pelo projeto em 2011. A primeira foi a participação na segunda edição da Feira do Livro de Gastronomia e do Vi-nho de Paris. A feira, que cresceu de tamanho e importância em 2011, teve a participação das editoras Bocatto, Melho-ramentos e Senac São Paulo. Já na Feira do Livro Infantil de Bolonha as editores presentes foram: Calis, Cosac Naify, Cortez, DCL, Elementar, Escala, FTD, Manole, Melhora-mentos, Pallas Editorial, Positivo e Todolivro.

notíciaS

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Risorgimento40 | Línguas unificadas

43 | Dante e a unificação da língua italiana Florence Carboni

45 | A importância da língua italiana para São Paulo Giliola Maggio

46 | A Itália no imaginário brasileiro Paola G. Baccin

48 | Partidas

52 | Anita e Giuseppe Garibaldi no Brasil Yvonne Capuano

54 | Árvore de Giuseppe e Anita Garibaldi Annita Garibaldi Jallet

56 | Urnas tricolores

59 | I 150 anni in Brasile Stefania Pelusi

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RisorgimentoE

m 17 de março de 1861 é aprovada pelo Parlamento a Lei que pro-clama Vittorio Emanuele II rei da Itália. Passaram-se 150 anos e para comemorar esta data, o País parou neste dia em que se viram bandeiras em janelas e atividades patrióticas. Muitas iniciativas que mostram o quanto existe de Itália em nosso cotidiano serão realiza-das ao longo do ano. O povo italiano orgulha-se de fazer parte de um território unificado onde, como disse recentemente Roberto Benigni, nasce primeiro a cultura para depois existir como nação. Formada por homens e mulheres que tornaram grande este país e estavam prontos para enfrentar a morte para que existisse um futuro. A histó-

ria é riquíssima e passa pelas artes, pelo comércio e por muitos conflitos. Este especial mostra a cronologia de fatos importantes que marcaram além dos 150 anos e não se pretende, logica-mente, esgotar nestas páginas.

Recordar a Unificação da Itália não é apenas revisitar um momento histórico, mas com-preender o quanto o Risorgimento impactou os séculos vindouros para além deste pequeno pedaço do mapa reconhecido imediatamente pela figura da bota.

Encontramos aqui personagens emblemáticos como Dante Alighieri e Giuseppe Garibaldi. De um lado, a influência do poeta florentino como unificador do idioma e o mais notável re-presentante medieval da literatura latina. De outro, o corajoso general que, ao lado de Anita, trouxe para o Brasil um pouco da Itália para colaborar na miscigenação do povo e tornou-se “herói de dois mundos”.

Um século e meio se passou em busca de unidade e democracia. No momento em que, de Milão à Nápoles, podia se ouvir “estamos prontos à morte, A Itália nos chamou”, conforme narra o hino nacional, era preciso renascer.

Vamos entender um pouco da formação que faz deste um povo tão cativante, encantador, brigador, fascinante, tão humano. E constatar que semelhanças não são meras coincidências.

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O Congresso de Viena divide a ItáliaO Congresso de Viena, que tinha iniciado em novembro do ano anterior e terminado em 9 de junho, sanciona a divisão da Itália, que então somava vinte milhões de habitantes, em dez Estados: Reino da Sardenha; Reino Lombardo-Veneto, sob a soberania austríaca; Ducado de Parma e Piacenza, Ducado de Modena e Reggio; Ducado de Massa e Carrara; Grã-ducado da Toscana; Ducado de Lucca; Estados da Igreja (compreendendo também as ligas de Bolonha, Ferrara, Ravenna, Marche, Benevento e Pontecorvo); República de San Marino; Reino de Nápoles e Sicília. É a

Áustria a guardiã da restauração na Itália, mas, logo instaurada a nova ordem, nascem as primeiras revoltas, começando por aquelas liderada por Joaquim Murat, que tenta organizar um levante das populações itálicas com a promessa de um reino único. A aventura de Murat se conclui com o seu fuzilamento na pequena cidade de Pizzo Calabro, no dia 8 de outubro.

Nasce em Milão a revista Il conciliatore [O conciliador]O programa da primeira revista italiana de inspiração patriótica e liberal é escrito por Silvio Pellico, Luigi Porro

Lambertengui, Federico Confalonieri, Giovani Berchet, Giandomenico

Romagnosi. O primeiro número é publicado em 3 de setembro. Em outubro são condenados à morte, em Roma, cinco

conspiradores da região das Marche. Nasce em dezembro,

em Alexandria, a Sociedade dos Sublimes Mestres Perfeitos, inspirada nas idéias comunistas de Filippo Buonarroti.

1815 1818

línguas unificadasComo os italianos aprenderam a falar italiano. Também graças à televisão

No dia 17 de março de 1861, no seu primeiro dia de vi-da, a Itália unificada tinha

uma constituição, um rei, um par-lamento, um governo, um grande território, um exército e a dignida-de de um Estado novinho em folha. Faltava somente a palavra, ou me-lhor, uma língua. Os italianos não falavam italiano. Se o próprio Vitó-rio Emanuel II falava em piemontês com o primeiro ministro Camillo Benso, conde de Cavour (que prefe-ria o francês), imaginem a babel que reinava no restante da península.

Sem palavrasNa opinião do historiador da língua Tullio De Mauro, “nos anos da uni-ficação nacional os italófonos eram cerca de 600 mil, numa população de mais de 25 milhões de pessoas”. Ou seja, somente 2,5%. Outros pesquisa-dores, levando em conta que pessoas nascidas nas regiões de Toscana, La-zio, Úmbria e Marche podiam receber de direito o diploma de “falantes de italiano”, dada a proximidade dos seus idiomas ao italiano, são mais ge-nerosos. Mas no máximo eram uns 10% (2,5 milhões). Depois, destes

pouquíssimos sabiam ler e escrever: 78% (com picos de 90% e de 100% para as mulheres em algumas regi-ões) eram analfabetos. Um desastre linguístico que poderia corroer a base da identidade nacional, geralmente fundada exatamente na língua.

Talvez tenha sido culpa do sec-tarismo dos italianos, do antigo bairrismo que Dante (primeiro te-órico do ‘vulgar’, ou seja do italiano do volgo, popular) assim estigma-tizava no Purgatório “Ah dividida Itália, imersa em fel, / nau sem pi-loto, em meio do tufão, / dona de reinos, não, mas de bordel: /” [trad. De Cristiano Martins, ed. Itatiaia/USP, 1979]. Ou talvez, como já na época explicavam os historiadores, da presença, ao longo de séculos, de dominadores estrangeiros, que não permitiu que prevalecesse um dos “vulgares” da península, todos provenientes do latim, mas pro-fundamente diferentes entre eles.

Língua mortaAs causas eram muitas, mas o resul-tado um só: em 1861 o italiano era uma língua literária, nascida nos li-vros e ótima para escrever em versos. Na opinião de Alessandro Manzoni, importante escritor da época, era quase uma “língua morta” porque ninguém a usava na feira ou em casa. Um idioma tão artificial que tornava incompreensível o Canto degli italia-ni (é este o título original do nosso hino nacional, de 1847) de Goffredo Mameli, revolucionário “pronto para a morte” (e que, efetivamente, ficou em cima das barricadas da República romana em 1849).

Igualados: uma família da zona

da Valtellina (Lombardia) segue o programa televisivo

de perguntas e respostas Lascia o raddoppia? em

1957. A TV favoreceu a difusão de um

italiano padrão entre aqueles que usavam

o dialeto.

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março / abri l 2011 | comunitàitaliana40

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República Transpadana (1796-1797)

República Cisalpina (1797-1802)

Reino de Itália (1805-1814)

Reino de Sardenha (1848-1861)

Bandeira de Estado do Reino de Itália

(1861-1946)

Reino das Duas Sicílias (1848)

República Romana (1849)

República Social Italiana (1943-1945)

República Cispadana(1796-1797)

República Italiana (1802-1805)

Reino de Sardenha (1848-1861)

Reino de Itália (1861-1946)

Grão-ducado de Toscana

(1848-1849)

República de Veneza (1848-1849)

República Romana (1849)

República Italiana desde 1948

História da bandeira italiana

Revolta no Reino das duas Sicilias e repressõesApós o pronunciamento dos militares democratas espanhóis e a revolta de Salerno, em julho deste ano, um grupo de 127 soldados do regimento da cavalaria Real Bourbon de Nola, liderados por Michele Morelli e Giuseppe Silvati, desloca-se para Avellino. Em 9 de julho, Guglielmo Pepe, oficial de Murat, entra em Nápoles encabeçando 7.000 rebeldes (soldados e carbonários). Em 13 de julho, Ferdinando I jura sobre a Constituição. Em outubro, a Áustria envia tropas para o Reino das Duas Sicílias a fim de restabelecer a ordem. Em Milão, sempre em outubro, são presos Silvio Pellico e Pietro Maroncelli, membros de uma “célula carbonária”.

1820

“A maioria dos italianos do séc. XIX não teria entendido bem o sen-tido de alguns versos do hino, da mesma forma que a maioria dos ita-lianos do terceiro milênio ainda não o entende”, explica Pietro Trifone, historiador da língua italiana na Universidade de Roma Tor Vergata e autor do recém publicado “Histó-ria lingüística da Itália desunida” (Editora Il Mulino, título original Storia linguistica dell’Italia disunita]. “Devido à sintaxe revertida dos ver-sos iniciais, a maioria dos leitores interpreta, de forma errada, a ex-pressão ‘escrava de Roma’: o poeta refere-se à ‘Vitória’, mas é natural pensar que ‘escrava de Roma’ seja, ao contrário, a Itália”.

Os milagres da escolaCom a unificação política, italiano e dialetos entraram em contato e tudo começou a melhorar. “A língua co-mum (o italiano) e os idiomas locais (os dialetos) são os pólos extremos de um sistema mais articulado”, ex-plica Trifone. “Um sistema em que se distinguem várias soluções interme-diárias, como um italiano regional ou um dialeto civilizado”.

As pessoas comuns, ao se re-lacionar com o médico, o advoga-do, o funcionário público ou o padre, que talvez vinham de outra região, começaram a usar um vocabulário e uma gramática mescladas. Quando, finalmente, com

a lei Coppino do ano de 1877, a fre-quência obrigatória da escola foi ampliada para as crianças até os 9 anos, aplicando multas nos pais que não cumprissem a lei; desta forma, o analfabetismo despencou para 40% em 1911, como média nacio-nal. “Pela primeira vez na história, a população italiana alfabetizada era mais numerosa”, explica Trifone.

Querida RainhaE o que fizeram os italianos com sua nova língua? Entre 1914 e 1918, usaram o idioma, por exemplo, pa-

ra escrever – mesmo cheia de erros e expressões dialetais – para Vitório Emanuel III e para a família real cente-nas de cartas de protesto (o Arquivo de Estado de Roma

conserva 422 delas) contra a Primeira Guerra Mundial. “Eg-greggio assasino” [em italiano

Abecedário: um suplemento de 1941 e um de

1897. A escola conseguiu superar o

analfabetismo

comunitàitaliana | março / abri l 2011 41

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Movimentos insurrecionaisEnquanto o exército austríaco, em Nápoles, derrota os revolucionários de Guglielmo Pepe, na região do Piemonte, no dia 10 de março, começa a insurreição que, após a abdicação de Vítor Emanuel I, leva ao trono Carlos Alberto. Ele outorga a constituição espanhola, mas não marcha contra a Áustria e obedece às ordens do tio Carlo Felice de Savóia de alcançar as tropas fiéis ao antigo regime. Os russos e os austríacos marcham sobre Novara e levam ao trono Carlo Felice. Espalha-se entre os reis o temor de novas insurreições, enquanto em Florença nasce em janeiro, por iniciativa do livreiro Giovan Pietro Viesseux, a publicação mensal “Antologia” escrita ao longo de um decênio por muitos patriotas: Giuseppe Poerio, Gabriele Pepe, Pietro Colletta, Pietro Giordani, Niccolò Tommaseo, Giuseppe Montani, Raffaele Lambruschini, Gino Capponi, Cosimo Ridolfi, Bettino Ricasoli, Enrico Mayer.

uma nova primavera europeiaNa Itália, cresce a iniciativa liberal após a ascensão de Luís Felipe de Orléans ao poder em julho, na capital francesa, que proclama o princípio de não-intervenção: a França é contra qualquer intervenção para reprimir os insurgentes revolucionários fora dos limites nacionais. É o fim da ordem sancionada quinze anos antes pelo Congresso de Viena. Em novembro, em Roma, Luís Napoleão Bonaparte, futuro imperador da França com o nome de Napoleão III, encontra-se com um grupo de carbonários para estudar a possibilidade de uma revolução na Itália.

1821 1830

correto seria “Egregio assassino”] escreveu um grupo de anárqui-cos de Pádua no dia 20 de abril de 1915, começando uma carta em que insurgiam dizendo que se seus su-periores lhes ordenassem de abrir fogo contra o inimigo, eles dispara-riam contra os próprios superiores. E para a “Senhora Rainha”, no dia 12 de junho de 1916, um padre de Montespertoli (província de Floren-ça) perguntava: “Gostaria de dizer, para aquele covarde do Rei, que mande parar esta guerra e traga pa-ra casa meus filhos. [...] E espero que perca a Itália, para ver que irão tirar da cabeça a coroa, que tem em cima de sua cabeça feia. Atenciosamente, meus cumprimentos”. “Depois de meio século de unificação nacional,

graças aos progressos na área da educação, pessoas de condição so-cial humilde e de diferentes lugares estiveram, de alguma forma, em condição de fazer com que sua voz chegasse para quem as administra-vam”, comenta Trifone.

RecuperadaA escola tinha aberto os caminhos, mas foram os meios de comuni-cação de massa que funcionaram como megafones para a língua co-mum. Nos anos 30, o rádio foi o instrumento de propaganda do totalitarismo de Mussolini, mas aca-bou pondo as bases de um ‘italiano padrão’ que servirá de modelo para os programas de TV no pós-guerra. “A disponibilidade de poderosos mass media modificou a língua e, nos últimos sessenta anos, ampliou seu uso, sobretudo na língua fa-lada”, explica o especialista. Foi a televisão, por exemplo, que acelerou a italianização dos dialetos, favore-cendo, ao mesmo tempo, a difusão dos regionalismos (somente nos anos 90 o Grande dizionario italiano dell’uso registrou 212 termos regio-nais que passaram a fazer parte da língua nacional). “Desta maneira, estabeleceu-se um italiano médio, falado e escrito, autônomo do mo-delo literário”, conclui Trifone. Em suma, o italiano tornou-se uma língua viva. Mas, se para unificar a Itália foram suficientes menos de 50 anos, para dar aos seus cidadãos uma língua comum, foram necessá-rios 150 anos.

(revista Focus)

Acima, crianças atentas ao estudo da nova língua. Abaixo, uma emissora de rádio – o principal veículo de divulgação política e

cultural da primeira metade do século XX

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março / abri l 2011 | comunitàitaliana42

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explodem movimentos insurrecionais por toda ItáliaA revolta começa em fevereiro no Estado Pontífice e nos ducados de Modena e Parma. Francesco IV, duque de Modena, manda prender Cino Menotti, que será enforcado em 26 de maio depois de um processo sumário. A revolta se expande por Parma (Maria Luisa d’Austria se refugia em Piacenza),

nos territórios pontífices de Emilia-Romagna, de Marche e de Umbria. Em Turim, morre Carlo Felice, que é sucedido por Carlos Alberto, que extingue as esperanças revolucionárias. Giuzeppe Mazzini, no exílio em Marselha, funda o movimento político chamado “Jovem Itália”. Os movimentos se concluem com o trabalho de repressão das tropas austríacas que obtém fácil vitória sobre os insurgentes. O governo francês não os defende apesar do compromisso firmado no ano precedente sobre o princípio da não-intervenção.

Repressões contra os afiliados da Jovem ItáliaNo Piemonte, é descoberta uma conspiração que envolve muitos oficiais do exército saboiano: doze são condenados à morte. No exílio, se consuma o rompimento entre Guiseppe Mazzini e Filippo Buonarroti. Massimo D’Azeglio publica o romance histórico “Ettore Fieramosca, o desafio de Barletta”.

Outro ano de falência insurrecionalDesastrosa expedição militar em Savóia pela Jovem Italia e malograda insurreição em Genova (ao encontro marcado se apresenta somente o jovem Giuseppe Garibaldi).

1831 1833 1834

Dante e a unificação da língua italianaExilado de sua terra natal por motivos políticos, Dante Alighieri não poderia imaginar que seria marcado como um dos ícones da Itália

Para o filólogo Migliorini, Dante (1265–1321) foi o pai da língua italiana e a

paternidade foi sendo aceita. È ver-dade ou mito? Um pouco verdade, um pouco mito. Como todas as lín-guas, o italiano teve uma história complexa e é impossível apontar-lhe uma paternidade, mesmo que alguns acontecimentos e persona-gens tenham sido determinantes na sua geração.

Na época de Dante, o latim ainda era considerado a única lín-gua digna de ser escrita em todas as circunstâncias. Todos os outros idiomas originados de sua evolução espontânea, amplamente usados pelas populações da România, eram chamadas vulgares, do vulgo.

Milita a favor do mito Dante, pai do italiano o fato dele ter escrito as primeiras obras poéticas e trata-do de temas filosóficos em língua vulgar, segundo ele, o novo sol, des-tinado a resplendecer no lugar do latim, consciente do domínio abso-luto daqueles que já não entendiam a nobre língua. A preocupação lin-güística de Dante radicalizou-se em De vulgari eloquentia, obra teórica,

onde apresentou idéias lingüísticas extremamente avançadas e originais e, em particular, analisou os vulga-res da península, selecionando os que, após serem depuradas de seus traços demasiadamente populares e regionais, ele considerava os menos indignos de se transformarem em língua literária única. Na sua seleção impiedosa, Dante eliminou o tosca-no, preferindo-lhes outros vulgares.

Se as ideias defendidas nesta obra tivessem tido sucesso, talvez a atual língua nacional da Itália fosse diferente do que é, sendo igualmente outros os idiomas con-siderados dialetais. Para a felicidade dos toscanos, as ideias de De vulga-ri eloquentia não influenciaram os contemporâneos de Dante. Devido ao fato da obra ter sido escrita em latim, língua que poucos já conse-guiam ler. Também porque Dante deixou-a sob forma de manuscrito inacabado, desconhecido até o sé-culo XVI, quando foi publicada uma sua tradução já em italiano-tosca-no, isto é, precisamente no idioma sobre o qual Dante tinha visão crí-tica, paradoxo que não deixou de provocar polêmica até o século XIX.

Mas a obra dantesca que desem-penhou papel essencial no processo de desenvolvimento do toscano co-mo língua nacional da Itália foi A divina comédia. Para a época, foi es-pantoso o sucesso deste livro, na Toscana, na península e até mesmo fora dela. Essa popularidade deve ser atribuída ao seu grande valor literá-rio. A fama da Comédia fora da área toscana deveu-se também ao fato que o livro fora escrito durante o exílio de Dante no norte peninsular, onde muitos autores não toscanos tomaram o poeta florentino como modelo literário e linguístico.

É inegável que o sucesso estron-doso que a Comédia conheceu no decorrer dos séculos foi determinan-te para o sucesso deste vulgar e para sua futura transformação na língua nacional de toda a Itália. Dante le-gitimou o vulgar ao mostrar que, como o latim, era apropriado para falar de qualquer assunto, em qual-quer domínio da vida. Enfim, com seus escritos, teve a clarividência de levar a cultura a todos aqueles que conheciam o vulgar e não o latim.

Entretanto, outros fatores de-vem ser levados em consideração para colher as diversas facetas do processo de nascimento da língua italiana. Um deles é o fato de que, na mesma época, outras obras-pri-mas foram escritas em toscano: o Canzoniere e o Decameron, respec-tivamente de Petrarca (1304-1374) e Boccaccio (1313-1375), que, com Dante, formamos as “Três coroas”, os três pais do italiano.

Mas seria um desvio idealista ver o italiano como produto das

O poeta e político florentino, Dante

Alighieri, autor de A Divina Comédia, uma das obras latinas que mais influenciaram a

sociedade mundial

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em Nápoles é inaugurada a ferrovia Nápoles-Portici, em Milão Carlo Cattaneo funda a revista “O Politécnico”.

“Nabucco” triunfa no ScalaEm 9 de março é apresentado no Scala de Milano “Nabucco” de Giuseppe Verdi, com o seu coral patriótico “Va pensiero”. Neste ano Alessandro Manzoni finaliza a versão final de “Os noivos” [I Promessi sposi] e Vincenzo Gioberti começa a escrever a “Supremacia moral e cívica dos italianos”.

O sacrifício dos irmãos BandieraOs irmãos Attilio e emilio Bandiera, oficiais da marinha austríaca, desembarcam em 16 de junho na foz do rio Neto, próximo da cidade de Crotone, para liderarem uma inexistente insurreição. Traídos por um companheiro, são fuzilados em 24 de julho.

1839 1842 1844

obras destes três grandes poetas e não o contrário, isto é, estes escri-tores como produtos excelentes do processo histórico que permitiu a gênese do italiano. Dentro deste processo, deve ser enfatizado o fato que o latim foi perdendo progressi-vamente vitalidade, prestígio, valor funcional e número de falantes.

Esta perda acentuou-se, quando do desenvolvimento das institui-ções comunais, as quais permitiram o aparecimento da burguesia, que

logo constituiu o setor social mais dinâmico e que, desconhecedora do latim, usou seus vulgares para transcrever as crescentes atividades, técnicas, comerciais, administrati-vas, políticas etc.

Desde o século XIII, Florença ocu-pava uma posição de destaque no norte e centro da península no que se refere à civilização burguesa. O fiorino de ouro cunhado na cidade, em 1250, registrava esta prosperidade. As práti-cas comerciais florentinas alcançavam

toda a península e outras regiões da Europa, chegando até o Oriente.

A confluência do talento dos três grandes poetas com o es-plendor econômico e cultural da Toscana valorizou o vulgar daquela região, que tornou-se na alterna-tiva ao latim como língua única e unificadora peninsular.

Florence carboni, professora do Instituto

de Letras da UFRGS

Os Estados italianos em 1859: em vinho o Reino de Sardenha; em amarelo o Reino

das Duas Sicílias; em vermelho os Estados Pontifícios; em roxo o Reino Lombardo-Vêneto e em verde

o Grão-ducado da Toscana e os

Ducados de Parma e de Modena

Reino de Sardenha (em vinho) em 1860, depois da anexação

da Lombardia, do Grão-ducado da Toscana, dos

Ducados emilianos e da Romanha

pontifícia

O Reino de Sardenha após a Expedição dos Mil, depois

denominado Reino de Itália (1861)

O Reino de Itália, em 1866, depois da Terceira Guerra de

Independência

O Reino de Itália, em 1870, depois da conquista de Roma

O Reino de Itália, em 1919, depois

da Primeira Guerra Mundial

República Italiana, desde 1946

Mapas do processo de unificação

Império italiano, em 1940

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Torna-se papa Giovanni Maria Mastai Ferretti: Pio IXMorre Gregório XVI e, em 17 de junho, é eleito papa o cardeal Giovanni Maria Mastai Ferretti com o nome de Pio IX. O novo pontífice concede anistia a todos os condenados políticos e acende o entusiasmo do partido neo-guelfo, que esperava uma confederação italiana sob a liderança do papa.

Insurreições por toda Itália e primeira guerra de IndependênciaDepois de Paris, Viena e Berlim, o ano das revoluções começa em Milão com a “greve da fumaça” para atingir o monopólio do tabaco controlado pelos austríacos. Em 12 de janeiro, passa pela Sicília e se estende pelo continente: Ferdinando II de Bourbon é pressionado a proclamar a constituição. Veneza se insurge e, em 22 de março, é proclamada a república. Após cinco dias de combate (18-22 de março), os milaneses pressionam o general Joseph Radetzky a deixar a cidade. Carlos Alberto decide entrar em guerra contra a Áustria com a ajuda de voluntários e pequenas unidades de expedição enviadas por Leopoldo II da Toscana, Pio IX e Ferdinando II de Bourbon, que voltam atrás. Depois das vitórias de Pastrengo e Goito, entre 22 e 27 de julho, as tropas piemontesas são derrotadas em Custoza. Giuseppe Garibaldi chega do Uruguai, Daniele Manin organiza a defesa de Veneza, enquanto Giuseppe Mazzini quer a “guerra do país”. Na Toscana e em Roma os democratas colocam em crise os governos moderados. Em Roma, no dia 15 de novembro, é assassinado Pellegrino Rossi, e Pio IX foge para Gaeta.

1846 1848

A importância da língua italiana para São PauloO estado brasileiro, que abriga uma das maiores comunidades italianas no país, mantém viva a cultura dos imigrantes

A língua italiana, que ainda é falada em São Paulo, cons-titui a base do patrimônio

histórico e cultural de inúmeras co-munidades na capital e no interior do Estado, elemento fundamental para a manutenção da memória e identidade da população paulista, te-nha ela ascendência italiana ou não.

As pesquisas sobre a língua ita-liana falada em São Paulo iniciadas por volta de 1993 pela Prof.a Dra. Loredana De Stauber Caprara e Olga Alejandra Mordente, na Uni-versidade de São Paulo, tiveram como objetivo principal docu-mentar e analisar a língua italiana nos imigrantes que vieram à capi-tal, logo após o Segundo Conflito Mundial. O estudo, inicialmente realizado com italianos de nível de instrução médio-alto, estendeu-se ao interior do Estado e novamen-te à capital, tendo como sujeitos, nessa segunda fase, imigrantes que pertenciam em sua origem, à faixa de instrução médio-baixa. Dessa forma, as reflexões acerca da língua falada resultaram, ao longo desses anos, em pesquisas significativas para a elaboração do mapa do ita-liano falado em São Paulo.

Notamos, através da pesquisa elaborada por Caprara e Mordente, que o longo período fora do país de origem afastou grande parte des-ses imigrantes do uso cotidiano, correto e fluente da língua mater-na. Aqueles que, habitualmente, falavam um italiano correto, ape-sar de algumas interferências do português-brasileiro, eram pessoas de classe médio-alta, que mantive-ram laços constantes entre si nos ambientes sociais da comunidade e com a pátria, através de viagens e de outros contatos. Entre essas

pessoas havia o costume de manter o uso da língua italiana em família e o compromisso de transmitir o idioma aos descendentes. No caso de casamentos fora da comunidade de origem, muitas vezes o parcei-ro aprendia a falar o idioma ou, ao menos, o compreendia.

Em contraposição à pesquisa de Caprara e Mordente foram feitos estudos sobre a língua dos imigran-tes de Pedrinhas Paulista, a então colônia fundada no Segundo Pós-Guerra na região de Assis, no Oeste Paulista, por italianos provenientes de diversas regiões. Verificamos as transformações linguísticas numa comunidade relativamente fecha-da, sem muitos contatos externos, cujos habitantes em princípio eram falantes dialetais e mantinham en-tre si intensos contatos cotidianos, numa área espacialmente delimita-da. À sua chegada, o imigrante que se fixou em Pedrinhas Paulista, enfrentou uma nova dimensão lin-guística e social que era a presença do português-brasileiro em sua va-riedade local, o contato com seus conterrâneos que, por sua vez, fa-lavam também o próprio dialeto e a presença de um italiano “co-mum” entre os técnicos italianos de nível superior de escolaridade que moravam no local. É nesse quadro de fragmentação linguís-tica que procuramos elementos da formação e da manutenção da lín-gua dos pedrinhenses.

No que concerne à presença da língua italiana falada na capi-tal e em São Bernardo do Campo por pessoas de nível de instrução

Em São Paulo, a cultura italiana é

bastante forte, seja no idioma ou nas

danças típicas

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A república romana, a república veneziana, a repressão austríaca e a abdicação de Carlos Alberto em favor de Vítor emanuel II A derrota dos piemonteses enfraquece o fronte patriótico. Em Roma, após a fuga de Pio IX, é proclamada a república liderada pelo triunvirato Giuseppe Mazzini, Carlo Armellini e Aurelio Saffi. A república romana, defendida pelos homens de Giuseppe Garibaldi, capitula em 30 de junho pelo grupo de expedição francês

apoiado pelas tropas austríacas e bourbonistas . Garibaldi chega rapidamente para ajudar na defesa da república veneziana, que acaba capitulando em 23 de agosto após dois meses de bombardeios. A ordem é restaurada em todos os territórios, até no Reino das Duas Sicílias, com uma violenta repressão em Palermo, em maio. Neste ínterim Carlo Alberto, que tinha denunciado o armistício em 9 de agosto de 1848 e fora derrotado em Novara em 23 de março, abdica em favor do filho Vítor Emanuel II.

O parlamento do reino da Sardenha aprova a lei Siccardi, Pio IX volta para Roma, Garibaldi em exílio em Nova Iorque, Mazzini, em Londres Em 9 de março, na câmera dos deputados, e em 8 de abril, no Senado, é votada em Turim a lei Siccardi, que abole o tribunal eclesiástico, a imunidade dos locais sagrados, reduz o número das festividades religiosas e impede a igreja de adquirir bens sem o consentimento do Estado. Em agosto morre o ministro Pietro De Rossi di Santarosa, irmão de Santorre, para quem é negada a extrema-unção por ter dado consentimento à lei Siccardi. Em 12 de abril Pio IX entra em Roma. Em 30 de julho Giuseppe Garibaldi chega em Nova Iorque. Neste momento se difunde em muitas partes da Itália o brigantaggio [banditismo]: da região da Romagna, um dos maiores representantes é Stefano Pelloni, conhecido como il Passatore [Balseiro, devido à sua profissão].

1849 1850

médio-baixo, notamos que o pro-cesso de fragmentação da língua ocorre de modo semelhante a Pedri-nhas Paulista, entretanto, nessas cidades, há um aumento no inte-resse pela preservação da língua e cultura italianas através de cursos de língua e na criação de manifesta-ções culturais que não existiam há alguns anos.

Ressaltamos ainda que há um estudo em curso sobre varieda-des do dialeto trentino falado em

A itália no imaginário brasileiroDomingo é dia de macarronada; mangia che ti fa bene; a tavola non s’invecchia. Essas são algumas das frases que ouvimos desde crianças e que dão um sabor especial às refeições de muitos brasileiros oriundi ou não

Há italianismos que foram introduzidos na língua portuguesa por meio das

correntes migratórias. Algumas des-sas palavras passaram a fazer parte do léxico, outras desapareceram ou são usadas apenas dentro do núcleo familiar. Palavras já dicionarizadas, no entanto, ainda são sentidas co-mo italianismos, não obstante a sua total adaptação fonética, como es-paguete, nhoque, polenta.

Há palavras que vieram com a abertura das importações: nas em-balagens de produtos importados, nos livros, nas revistas de receitas em italiano, que vão para os cardápios dos restaurantes e que, apesar de

ainda não serem usados pela maio-ria da população, apresentam um alto grau de divulgação: al car-toccio, al dente, funghi, tartufo bianco, acetto balsamico.

Há, ainda, um tercei-ro grupo que inclui termos relacionados à música como adaggio, sonata; à navegação: escolta, piloto; à poesia: soneto, terceto; à arquitetura: mezanino, pedestal; ao teatro: arlequim, co-lombina; às artes pictóricas: azul ticiano, caricatura e outros que não são mais percebidos como pala-vras italianas: baderna, capitão, carnaval, carroça, gambito, embai-xada, faxina, gibão, loteria.

Ao ser integrado, o estrangeiris-mo pode perder alguns significados

e adquirir outros que pertencem à visão de mundo da comunidade da língua receptora. A adaptação semântica é uma comprovação da total integração do estran-

geirismo à nova língua. Vejamos alguns exemplos.Braciola deriva provavelmen-

te de carne na brasa (brace). Na Itália indica, normalmente, uma fatia de carne com osso. Na língua geral e, principalmente nas regiões setentrionais e centrais da penín-sula, refere-se a um corte de carne que pode ser bovina, suína ou ovina. Nessas regiões a palavra vem sendo

Piracicaba e diversos a serem inicia-dos em cidades do interior como, Jundiaí, Taubaté, Itu, Salto, dentre tantos outros municípios que têm o italiano na sua origem. Além dis-so, há grupos de pesquisa que têm como objetivo preservar a memó-ria e identidade de comunidades de imigrados. Ademais, nos dias de hoje, há um fluxo intermitente de italianos que vem ao Brasil, em particular à capital paulista, devi-do à facilidade de deslocamento, à

mobilidade existente na cidade e à alta permeabilidade que a socieda-de brasileira permite, ocorrendo, desse modo, uma constante renova-ção dos contatos e das experiências entre italianos e brasileiros.

Giliola Maggio, Doutora em Geografia Humana pela

Universidade de São Paulo. Docente nos cursos de graduação e de pós-graduação em língua e literatura

italiana na FFLCH – USP

A preservação da memória italiana é uma

das características de grupos de pesquisa

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Guerra da Criméia e abertura dos jogos diplomáticos europeus Em 26 de janeiro, Cavour apresenta na Câmera o ato de adesão do governo saboiano ao tratado de aliança franco-inglês de 1854. Com uma convenção anexa se prevê o envio de 15 mil homens. Os soldados da expedição italiana, também atingidos por uma epidemia de cólera (1300 casos mortais), se distinguiram na batalha da Cernaia. Na primeira fila estão os bersaglieri liderados pelo general Alfonso La Marmora, que rechaçam, junto os franceses, a tentativa russa de romper o assédio de Sebastopoli. É o valor pago pelo reino piemontês para entrar no jogo diplomático europeu. Em 20 de novembro, Vítor Emanuel vai para Paris com Cavour e Massimo D’Azeglio para encontrar Napoleão III. Quando, em 1856, em Paris, se reúne o Congresso das potências européias, Cavour obtém para o reino da Sardenha uma participação paritária com as outras potências. No encontro de 8 de abril, Cavour e os representantes da França e da Inglaterra denunciam como perigosas as políticas repressivas do Estado Pontíficio e do Reino das Duas Sicílias, onde estão encarcerados seiscentos presos políticos, e a ocupação austríaca das legações pontífices.

1855São anos de repressão. Mas, em Turim, Cavour torna-se cada vez mais importante e, após a “união” com urbano Rattazzi em 4 de novembro, torna-se Presidente do Conselho

1852

substituída por cotoletta. Na Itália meridional, a palavra refere-se a um modo de preparo da carne, enrolada e recheada, conhecida nas outras regi-ões da Itália por involtino. No Brasil, braciola e suas adaptações gráficas (bracciola (sic), brachola, brajola) cor-respondem à variedade meridional.

Cantina também adquiriu, no português, traços linguísticos que não são mais reconhecidos pelos falantes do italiano. Em italiano, cantina é, em primeiro lugar, a ade-ga. Em São Paulo, cantina passa a designar, em língua portuguesa, um local de atmosfera alegre, ba-rulhenta, onde são servidos pratos abundantes e não muito caros.

A confirmação de que uma no-va palavra foi criada é comprovada por um texto publicado na revis-ta italiana Food que apresenta aos leitores – empresários italianos do ramo de alimentação –, a cidade de São Paulo como um importante nicho de mercado: “Nel 1900, metà degli operai delle industrie di San Pa-olo erano stranieri e l’81% di loro era d’origine italiana. Gli oriundi comin-ciarono ad aprire ristoranti, pizzerie e <cantinas>, locali popolari con cibo abbondante e quasi sempre musica italiana dal vivo.» e mais adiante: «a Bixiga, uno dei quartie-ri d’origine italiana famoso per le sue tante <cantinas>.” Curiosamente, a palavra cantina torna-se, no texto, um brasilianismo, revelado pelo uso da forma plural em -s e pela necessi-dade de tradução ao leitor italiano: locali popolari con cibo abbondante.

Cantina representa as duas ima-gens paradoxais dos italianos no

Brasil. De um lado, um povo alegre, que canta, dança e que superou a fo-me, motivo da imigração. Ao mesmo tempo a imagem permanece ligada àquele período, com uma conotação negativa relacionada à pobreza, ao comer muito, ao falar alto, sem re-quinte. A comunidade atingida pelo estereótipo busca defender-se. Os proprietários de restaurantes explo-ram esse conceito ou rechaçam-no, e procurarão, lingüisticamente, atribuir conceitos afetuosos ao ita-lianismo, por meio de um reforço

positivo ou procurarão substituir a denominação de seus estabelecimen-tos por outro italianismo, ristorante que remete à Itália atual, relacionada ao requinte, ao luxo.

No imaginário brasileiro, as duas representações da Itália convi-vem pacificamente: de um lado toda a família reunida em volta da mesa, comida da nonna abundante, falan-do alto, rindo, cantando. De outro lado, a Itália atual, dos grandes no-mes da moda e do design. As duas imagens não se misturam, ninguém imagina la nonna em um vestido Armani e um foulard Ferragamo di-rigindo uma Ferrari testarossa.

Paola G. Baccin é doutora em Filologia e Língua

Portuguesa pela Universidade de São Paulo. Docente nos cursos

de graduação e de pós-graduação em língua e literatura italiana na

FFLCH – USP

Acima, cantina no bairro do Bixiga, em

São Paulo. Bracciola. Abaixo, o casario no bairro da Mooca, SP

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Ruptura das relações diplomáticas entre o reino saboiano e o império austríaco de Francesco Giuseppe. Fracasso da expedição de Sapri O fracasso da expedição de Carlo Pisacane em Sapri com o massacre dos duzentos patriotas (1 e 2 de julho) e a derrocada dos movimentos

de Mazzini em Genova e Livorno decretam o fim das sociedades inspiradas por este político. Nasce oficialmente a Sociedade Nacional Italiana, que une democratas e moderados com o objetivo de libertar a Itália da liderença piemontesa.

Mal sucedido atentado de Felice Orsini contra Napoleão III e encontro de Plombières O insucesso do atentado de Felice Orsini contra Napoleão III (14 de janeiro) possibilita a ocasião para Cavour colocar na defensiva o soberano francês sobre o perigo das atividades conspiratórias e sobre a necessidade de resolver a questão italiana. Durante os encontros de Plombières (20-21 de julho), Cavour e Napoleão III firmam um acordo secreto que prevê a expulsão dos austríacos do Reino Lombardo-Vêneto, que deve ser anexado a um reino da Alta Italia junto com as regiões Marche e Romagna. Em compensação, a França terá Nice e Sabóia.

1857 1858

Delineia-se no horizonte, anunciado pela cor preta das chaminés. Não é um

navio de cruzeiro e os passageiros não são ricos de férias. Aquele navio transporta fome, esperança, sau-dade de casa e medo de um futuro incerto numa terra desconhecida. Do convés da terceira classe, nossos antepassados perscrutam na ne-blina, procurando o perfil de Nova York. Hoje em dia, seus descenden-tes vêem na tevê barcos precários, lanchas e botes infláveis que trans-portam outras cargas de fome, esperança, saudade e medo para Bari, Lampedusa, a costa da Sicília. Talvez seja a maior mudança a ter acontecido nos últimos 150 anos de história da Unificação: a Itália

transformou-se de país de emigra-ção para terra de imigração.

Em fugaEntre 1861 e 1985 saíram da Itália cerca de 30 milhões de emigrantes. Como se a inteira população italiana do início do século XX tivesse viaja-do de uma só vez. “Mas a emigração não foi só um fenômeno patológico, resultado da pobreza insuportável ou de atraso na modernização”, especifica Patrizia Audenino, do-cente de História Contemporânea na Universidade de Milão. “A partir da Idade Média a Itália sempre foi atravessada por intensas correntes migratórias, de saída e de entrada, como também internas ao territó-rio: por motivos geográficos, por acontecimentos políticos, porque assim era imposto pela economia urbana e agrícola”.

Resta o fato de que a maioria dos emigrantes italianos (mais de 14 milhões, o auge, em 1913, de quase 900 mil pessoas) viajou exatamente nas décadas depois da unificação, durante a chamada “grande emigração” de 1876-1915. Cidades inteiras, como Padula, na província de Salerno, viram suas populações se reduzirem à metade na década entre o final do século XIX e o início do XX. O destino de quase um terço dessas pessoas era a América do Norte, que precisava muito de mão de obra.

Antes de 1861, somente poucos milhares de emigrantes tinham ido até lá. Como no caso de Garibaldi, soldado errante da Ásia às Amé-ricas, que com Antonio Meucci (o

inventor do telefone) tinha funda-do uma fábrica de velas em Clifton, perto de Nova York, exatamente para dar emprego aos italianos. Mas a grande onda de emigração de 1876, deflagrada pelos pedidos norte-americanos de mão de obra, foi diferente. E não viajavam so-mente os que trabalhavam a terra dos outros. “As camadas mais po-bres da população, na realidade, não tinham como pagar a viagem, por isso entre os emigrantes predomi-navam os pequenos proprietários rurais”. Que depois, com os envios de dinheiro, exatamente como hoje em dia fazem muitos trabalhadores imigrantes na Itália, compravam uma casa ou um terreno em seu pa-ís. Uma conseqüência econômica bastante imprevisível. “Calculou-se que foi também graças aos envios de dinheiro dos emigrantes nas Améri-cas que a Itália agüentou melhor a crise econômica do ano de 1929, explica Stefano Luconi, docente de História dos Estados Unidos na Universidade de Roma Tor Vergata.

Outros lugaresMas Nova York e os Estados Unidos não foram o único destino, e quem viajava não era somente do sul da Itália. Ao contrário: “Os genoveses muito antes de 1861 viajaram para a Argentina e o Uruguai”, diz Au-denino. Agora, mais de 20 milhões de argentinos têm sangue italiano nas veias. Como os imigrantes que chegam hoje na Itália, eles não ini-ciavam a aventura com a família toda, de mala e cuia, como nós os imaginamos olhando para as fotos

PartidasDesde 1861, cerca de 30 milhões de italianos tentaram a sorte no exterior

No fim do século XIX inúmeras

famílias desembarcaram no Brasil em busca de

uma vida melhor

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A segunda Guerra de Independência e o armistício de VillafrancaEm 10 de janeiro, Napoleão III declara, diante do parlamento sub-alpino, não ser insensível ao grito de dor que chega da Itália. Prepara-se o matrimônio entre Giuseppe Napoleone, sobrinho do imperador francês, e Maria Clotilde de Sabóia, filha de Vítor Emanuel II. No Piemonte fervem também os preparativos militares logo após ao acordo com a França. O parlamento aprova um empréstimo de 50 milhões de liras para enfrentar as despesas militares. Neste ínterim, a Áustria juntou as tropas e, no dia 23 de abril, pede ao Piemonte para se mobilizar. Começa a Segunda Guerra de Independência: no final de abril os austríacos atravessam o rio Ticino, mas, em 4 de junho, na batalha de Magenta, franceses e piemonteses derrotam os austríacos. Enquanto na Toscana, em Parma e Modena, na região das Romagnas, Marche e Umbria houve seguidos levantes preparados pela Sociedade Nacional Italiana para pedir a anexação do Piemonte, em 11 de julho, Napoleão III, traindo as expectativas italianas – também devido o temor de uma intervenção prussiana – firma em Villafranca um armistício com os austríacos que prevê a cessão da Lombardia em favor dos franceses, que a entregarão para o Piemonte em troca de Nice e Sabóia, e o restabelecimento das leis na Itália central. Cavour se demite e é substituído pela dupla La Marmora-Rattazzi. Vítor Emanuel, incomodado, rejeita as anexações de Parma, Modena, Bolonha, Florença e envia governantes extraordinários que mantenham extra-oficialmente os contatos.

1859

Neste mapa, o fluxo migratório da Itália entre 1861 e 1965. O pico desse fluxo foi há 100 anos

Mapa da emigração italiana pelo mundo

CANAdáe

BRASILAuSTRáLIA

SuíçA

ALeMANhA

FRANçA

ARGeNTINA

eSTAdOS uNIdOS

6.200.000

1.432.000

2.940.000

6.322.000

4.604.000

3.458.000

396.000

de cem anos atrás. “Quase sempre a emigração era programada para ser temporária e quem viajava era geral-mente um homem só (as mulheres deslocavam-se de uma região para outra para trabalhar como empre-gadas domésticas ou camponesas). Mas houve uma importante exce-ção: a grande migração camponesa do Vêneto e do Sul para o Brasil, em especial modo após a abolição da es-cravidão em 1888 e o anúncio de um amplo programa de colonização”.

OdisséiasA viagem transoceânica não era muito diferente daquela enfren-tada pelos migrantes de hoje. “Geralmente, quem saia das regiões do norte da Itália embarcava em Ge-nova ou Le Havre, quem saia do sul embarcava em Nápoles”, explica Au-denino. A diferença numérica entre os passageiros da terceira classe e da primeira era a seguinte: cinco mil e dezessete, respectivamente. Tam-bém as diferenças de tratamento

eram enormes: um saco cheio de palha e um urinol para cada 100 pessoas eram os únicos confortos de uma viagem que podia durar um mês. Muitos morriam antes de ver o Novo Mundo: um vêneto, Bortolo Rosolen, irá lembrar em seus teste-munhos que perdeu 6 dos seus 11 filhos na travessia: “A viagem foi exaustiva, tanto é que nem meu cachorro, que deixei na Itália, pas-saria por tais privações”. Ao chegar, depois de passar pela humilhante

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expedição dos Mil e anexação do Reino das duas Sicílias O ano de 1860 inicia com o novo compromisso de Cavour para a constituição de um governo que substitua o de La Marmora-Rattazzi. Em março, dois plebiscitos sancionam a fusão das regiões Toscana e Emilia com o Reino da Sardenha. Em Palermo, uma insurreição irrompe no dia 4 de abril. Imediatamente reprimida, desperta a revolta em toda Sicília. Quatro dias depois, Garibaldi aceita a proposta de Francesco Crispi e Nino Bixio para liderar um grupo de expedição no Reino das duas Sicílias, partindo em 6 de maio, com a oposição do Piemonte. No dia 11, a Expedição dos Mil desembarca em Marsala. Garibaldi assume o comando da Ilha e derrota as tropas bourbonistas. Mas, em 6 de junho, em Palermo, Garibaldi firma uma convenção que declara a queda do domínio de Francesco II na capital siciliana. Em agosto, fracassam as tentativas cavournianas de organizar

uma revolta moderada em Nápoles, onde Garibaldi desembarca em 7 de setembro. No dia 11, Garibaldi escreve para Vítor Emanuel convidando-o a liquidar Cavour e ir para Roma para ser coroado rei da Itália. Um mês depois, Cavour aprova uma lei que permite as anexações da Itália central e meridional. Na batalha de Castelfidardo,

os piemonteses anexam as regiões de Marche e Úmbria. Em 21 de outubro, no Reino das Duas Sicílias, é realizado um plebiscito para anexação ao Piemonte, que foi aprovado com cerca de 75% dos votos. Cinco dias depois, acontece o famoso encontro de Teano, onde Garibaldi saúda Vítor Emanuel II como rei da Itália. Em 4 de novembro, há plebiscitos também nas regiões Umbria e Marche. Na mesma semana, Vítor Emanuel II entra em Nápoles. No dia 17 de dezembro, é dissolvida a Câmara dos Deputados do reino para consentir as eleições de novos representantes também dos territórios anexados.

1860

‘filtragem’ no escritório da imi-gração em Ellis Island, começava o desafio para a integração.

Malvistos Se na América do Sul conquistar um lugar na nova pátria foi mais fácil graças também à língua pare-cida, nos Estados Unidos foi muito difícil para gerações inteiras. “Os preconceitos a respeito da comuni-dade italiana se agravaram com a I Guerra Mundial”, explica Luconi. “A inserção na sociedade foi muito len-ta. Nossos compatriotas preferiam se isolar nos bairros italianos e fre-qüentar as escolas das paróquias, separadas do sistema educacional, e, desta forma, retardavam a difu-são do inglês na comunidade”. Este isolamento voluntário alimentou a suspeita americana.

Alguns ganharam muito dinhei-ro, é claro. Como Mister Peanuts, ou seja, Amedeo Obici, que embarcou para os Estados Unidos com idade de 11 anos e, trabalhando feito lou-co, tornou-se o rei dos amendoins. Ou como Geremia Lunardelli, que chegou pobretão no Brasil e, em poucos anos, tornou-se o senhor do café. Geralmente lembramos só deles. Todos os outros, que nós esquecemos, são muito bem lem-brados nos países que os acolheram. Mas, com palavras pouco gentis, parecidas com aquelas usadas hoje em dia pelos italianos quando falam dos estrangeiros imigrantes na Itá-lia, talvez por medo deles.

Nos Estados Unidos, que tinham abolido a escravidão pouco tem-po antes, dizia-se que os italianos

não eram brancos, mas também não “claramente negros”; na Aus-trália eram “invasores da pele cor de azeitona”, quase um título de filme de ficção científica. Nos Esta-dos Unidos, os italianos eram uma “raça inferior”, uma “estirpe de as-sassinos, anárquicos e mafiosos”; na Suíça eram bandidos até nas salas

de espera da terceira classe nas es-tações e ninguém queria alugar uma casa para eles porque eram “sujos como porcos”, barulhentos e tinham filhos demais. Outras definições pa-recem ecoar aquelas dos xenófobos italianos: “os italianos das classes inferiores sempre mostraram ser mendigos. Parece que muitos deles são mendigos pelo prazer de men-digar”; “muitos insistem em pedir ajuda, como se isso fosse obrigação”. “Uma avalanche de Francescos e Ma-rias de olhos escuros, ou de Gino, Tito e Mario com sobrancelhas parecidas com aquelas das baratas”, escrevia-se no Daily Mirror inglês ainda em 1940. E o presidente dos USA Ri-chard Nixon, numa interceptação de 1973, foi o mais claro de todos: “Não são como nós. A diferença está no cheiro diferente, no aspecto di-ferente, na forma de se comportar diferente [...]. O grande problema é que não se consegue achar um [italia-no] que seja honesto”.

Juízos e preconceitos que al-guém pagou caro. “Em 1891, no estado da Luisiana, 11 sicilianos processados por homicídio e ab-solvidos foram linchados pela população, que recorreu ao sistema de justiça sumário herdado da épo-ca da escravidão”, conta Luconi. “E em 1922, no estado do Alabama, um afro-americano foi absolvido de uma acusação de estupro porque a vítima era siciliana, portanto equi-parada, como o acusado, a uma raça inferior”. Em suma, era um fato ocorrido entre “negros e italianos”.

Nos USA, a imigração da Itália parou na Primeira Guerra Mundial.

Tio Sam. Imigrantes italianos em

Ellis Island, NYC. Imigrantes e Estátua

da Liberdade. Abaixo, Canção

símbolo dos emigrantes e manual dos emigrantes que

iam para o Brasil, em 1886

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março / abri l 2011 | comunitàitaliana50

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Proclamação do Reino da Itália e banditismo meridionalEm 27 de janeiro, acontecem as primeiras eleições para a formação do Parlamento italiano, que decreta o sucesso do partido moderado encabeçado por Cavour. 15 de fevereiro: depois de 102 dias de assédio na fortaleza de Gaeta, Francesco II de Bourbon se rende e embarca com a família num navio francês para chegar em Roma, onde ficará hóspede do papa Pio IX. 17 de março: A primeira lei aprovada pelo novo parlamento, e promulgada em 17 de março, proclama Vítor Emanuel II e seus descendentes rei da Itália. 23 de março:constitui-se o primeiro governo liderado por Cavour, que já em 27 define a posição italiana diante das questões romanas: Roma é capital, mas com o consenso dos franceses e sem afetar a liberdade espiritual do pontífice. Abril: eclode a primeira grande revolta na região da Basilicata. É o início do brigantaggio (que une militares desertores e lealistas, camponeses insatisfeitos e salteadores). Em 1861, os soldados piemonteses aumentam de 15 mil para 50 mil para reprimir o fenômeno. Em fevereiro de 1864, chegam a 116 mil. Segundo as estimativas oficiais, entre 1861 e 1865, foram mortos em combate 5212 briganti [bandidos] . Mas vítimas da repressão foram, na realidade, aproximadamente vinte mil. Em 6 de junho, Cavour morre improvisamente em Turim. Em 12 de junho, Bettino Ricasoli dá início a um novo governo.

1861

Em 1921, o Emergency quota act impôs um limite no número de imigrantes do Leste e Sul Euro-peu. “Estas limitações geográficas ainda se inspiravam em preconcei-tos raciais e étnicos” diz Luconi. “Considerava-se que povos como o italiano fossem mais difíceis de serem integrados. Somente com a Segunda Guerra Mundial, graças ao alistamento no exército norte ame-ricano de muitos ítalo-americanos, a integração começou a se tornar uma realidade”.

Na EuropaTalvez este seja um dos motivos da retomada da emigração para os Estados Unidos logo depois da Segunda Guerra Mundial. Mas, àquela altura, já havia sido aberta uma nova rota, em direção ao Nor-te Europa. “Na realidade, em 150 anos, os destinos europeus preva-leceram em relação aos americanos, se excluirmos o período da grande emigração”, pontua a Audenino.

Quem não viajava a pé enfren-tava intermináveis viagens nos assentos de madeira dos trens. Mas, mesmo na Europa, os nossos compatriotas nunca foram recebi-dos de braços abertos. Até porque 50% dos italianos que viajavam pa-ra a França e o Norte Europeu eram clandestinos. Na Suíça, onde mui-tos chegavam ultrapassando a pé os Alpes, obter um visto de perma-nência anual tornou-se um trajeto cheio de obstáculos: um inferno de 4 anos, um purgatório de 10 e o ris-co constante de serem expulsos por causa de um pretexto qualquer.

Indo para o Norte da BotaAo mesmo tempo, com a reconstru-ção e o boom industrial das décadas de 50 e 60, a emigração interna recomeçou. “No início foi mais a tradicional emigração sazonal das áreas de serra para as cidades”, ex-plica Audenino. “Nos vales quem viajava eram os homens, enquanto as mulheres ocupavam-se da eco-nomia familiar e agrícola”.

O triângulo industrial formado por Turim, Genova e Milão tornou-se

pólo de atração: e muitos chegavam das áreas mais pobres do Nordeste (Vêneto e Friuli) e do Sul. Foi nesta época que “lá no Norte” o termo “ter-rone” (que originalmente significava latifundiário) mudou de significado, tornando-se sinônimo pejorativo de “meridional”. A armadilha do pre-conceito armou novamente, mas desta vez entre compatriotas.

Recursos Em Turim, assim como nos dis-tritos onde se extraia minério na Bélgica, os emigrantes do período pós-guerra encontraram as mesmas precárias condições, a discriminação e as dificuldades aparentemente in-trasponíveis que tinham enfrentado seus pais e avós. Mas, mesmo assim, iam para lá. Por que? Como a “horda” que muitos imaginam estarem asse-diando nossas fronteiras, talvez mais para fugir da injustiça social do que da pobreza. Era isto que um imigran-te, já no final do séc. XIX, escrevia para um ministro do Reino da Itália: “Plantamos trigo mas não comemos pão branco. Cultivamos videiras, mas

não bebemos do vinho. Criamos animais, mas não comemos car-ne. Apesar disso vocês nos acon-selham a não abandonar nos-sa pátria? Mas é uma pátria a

terra onde não se consegue viver do próprio trabalho?”.

(revista Focus)

Acima, operários italianos em uma fábrica de cimento suíça. Eles recebiam menos do que os colegas suíços. Abaixo, a estação dos

“migrantes” em Milão, em 1965. No mesmo ano, cartaz racista em Turim

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Giuseppe Garibaldi ferido no Aspromonte Um ano, em 1862, dominado pela questão de Roma e Veneza. Garibaldi continua sendo protagonista. Os garibaldinos são interceptados nas fronteiras da região do Trentino e, em maio, as tropas régias prendem, em Brescia, 123 ‘camisas vermelhas’. Em 20 de julho Giuseppe Garibaldi, em Marsala, jura “ou Roma ou a morte” e parte a frente de 1300 voluntários que são contidos em 29 de agosto no Aspromonte. Garibaldi é ferido numa perna e preso.

1862Acordo entre Itália e França para retirada dos franceses de Roma e não agressão da Itália contra o estado Pontífice Em 19 de novembro a câmera aprova a transferência da capital de Turim para Florença, como clara demonstração do fato que não considera mais a possibilidade de tornar Roma capital. Em 3 de fevereiro, 1865, Vítor Emanuel II deixa Turim para se transferir em Florença.

1864

Anita e Giuseppe Garibaldi no BrasilA história que faz de Garibaldi um mito e o importante papel da brasileira ao lado do herói

Minha ascendência é ita-liana: Artusi, pelo ramo materno — Ida Rapha-

ella Artusi — e Capuano, pelo lado paterno — Luiz Lobuglio Capuano. Os Capuano, oriundos de Cave di Tirreno, próximo a Nápoles, che-garam ao Brasil em 1890, como imigrantes, no pequeno navio San Gotardo. Traziam em sua bagagem a experiência das dificuldades que toda a Itália teve de passar nos tempos que se seguiram à sua unifi-cação. Orgulho-me da ascendência dos Capuano, íntegra e idealista, que me orientou e educou dentro desses princípios. Apesar da labu-ta cotidiana, faziam sempre uma pausa no cansaço para rememorar as lutas que nossos antepassados empreenderam ao lado dos garibal-dinos e as figuras lendárias de Anita e Giuseppe Garibaldi, inflamando minha imaginação de criança e des-pertando minha admiração pelos dois. Por isso, resolvi pesquisá-los.

Em fins de 1835, Garibaldi che-gou ao Rio de Janeiro foragido da Itália. Foi condenado à morte por envolver-se com Giuseppe Mazzi-ni, fundador da Jovem Itália, numa

revolução mal sucedi-da iniciada em Gênova. Tornou-se então amigo de Luigi Rossetti. Com a ajuda de um rico comer-ciante italiano, comprou um pequeno barco para fazer viagens de cabo-tagem, chamando-o de Mazzini.

Em 1835, eclodiu a Revolução Farroupilha. Desencadeada em São Pedro do Rio Grande do Sul e Santa Catari-na, seria o mais duradouro conflito interno brasileiro do século XIX, pondo em risco a própria integri-dade da nação.

A opressão política e fiscal que onerava a oligarquia sulina, favo-recendo os fazendeiros de países vizinhos, foi um dos motivos pre-ponderantes para o movimento farroupilha. As razões econômicas e políticas ganharam contornos ideoló-gicos, opondo os sulinos ao Império.

Nesse ínterim, Garibaldi e Rossetti visitaram Tito Lívio Zam-becari, conde bolonhês que aderira

às doutrinas republicanas e demo-cráticas de Mazzini, acreditando que o idealismo dos farroupilhas fosse o mesmo dos revolucionários italia-nos. Zambecari e Bento Gonçalves, líder da Revolução Farroupilha, esta-vam presos no Rio de Janeiro.

O pequeno Mazzini foi trans-formado em navio de guerra em oposição às embarcações imperiais. Como os portos sulinos estavam vigiados, os dois revolucionários italianos foram obrigados a fugir. Na Argentina, Garibaldi ficou pre-so durante oito meses. Libertado, juntou-se a Rossetti e retornou ao Brasil. Apresentaram-se ao go-verno farroupilha. Rossetti, por ser um intelectual, foi designado para fundar e redigir o jornal re-volucionário O Povo. Garibaldi, como homem do mar, foi enviado a Camaquã, Rio Grande do Sul. Nos galpões da fazenda do Brejo, o go-verno revolucionário armou seu estaleiro. Cumprida a missão, rece-beu ordem para dirigir-se à cidade de Laguna e encontrar-se com Davi Canabarro e Joaquim Teixeira Nu-nes, chefes da Revolução.

Garibaldi partiu com dois bar-cos, Farroupilha e Seival, em 5 de julho. O primeiro naufragou. Todos os seus amigos italianos morreram. O Seival, de maior porte, chegou ao seu destino, com John Griggs no comando.

Em 25 de julho de 1839, foi pro-clamada a República Catarinense. Nesta aventura, Garibaldi, que não pensava em casamento, encontrou o amor de sua vida, conforme narra em suas memórias:

Detalhe do quadro A batalha dos Farrapos,

de Wasth Rodrigues

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Terceira Guerra de Independência e Vêneto anexado à Itália8 de abril: é firmado o tratado ítalo-prussiano no qual se prevê que, em caso de guerra entre Prussia e Áustria, a Italia entrará no front de batalha. 20 de junho: a Itália entra em guerra e é derrotada pelos austríacos em Custoza (na província de Verona) em 24 de junho e na batalha naval de Lissa (em 20 de julho). Somente Garibaldi obtém bons resultados no Trentino, mas é pressionado a retirar-se após o tratado de paz que, graças à vitória dos prussianos a Sedowa, na Boemia, em 3 de julho, concede o Vêneto à Itália (21 de outubro).

Roma capital italianaDevido à derrota dos franceses em Sedan pelos prussianos (1 de setembro de 1870), o governo italiano deixa de delongas e decide ocupar Roma, já privada do apoio de Napoleão III. Em 5 de setembro, Vítor Emanuel II envia para Roma o conde Gustavo Ponza de San Martino oferecendo ao papa “as garantias necessárias para a independência espiritual da Santa Sé”. Pio IX recusa a proposta em 10 de setembro e, no dia seguinte, o general Raffele Cadorna entra com as suas tropas no Estado pontífice. Em 20 de setembro, o 29° batalhão de infantaria e o 34° batalhão de bersaglieri entram através de uma fenda da Porta Pia aberta pela artilharia. No confronto morrem 49 soldados italianos e 19 do exército do papa.

1866 1870

Eu andava pelo tombadilho do Itaparica, quando decidi

procurar uma mulher que me tirasse daquela insuportável e tediosa situação. Lancei um olhar às habitações da Barra,

situada na entrada sul de Laguna .[...] Avistei uma jovem e pedi

que me transportassem até ela. Desembarquei e dirigi-me às residências onde estava o

motivo da minha viagem. Não a encontrei, mas um homem

convidou-me para tomar café em sua casa. Entramos e a primeira pessoa que avistei era aquela que eu procurava. [...] Ambos ficamos estáticos e silenciosos, olhando-

nos um ao outro como duas pessoas que já se encontraram e

tentam reconhecer reminiscências nas fisionomias...

(GARIBALDI, 1888, p. 56)

Em Garibaldi, Anita encontrou o que sempre sonhara — o homem que não sentira medo de amá-la. Aos dezenove anos, deixou-se en-volver pela fantasia própria da mocidade, integrando essa epopeia catarinense que durou cento e vin-te dias.

Os imperiais apertaram o cer-co. Frederico Mariath comandou os navios do Império contra os re-volucionários. Os navios legalistas avançaram e, embora seu número fosse superior aos comandados por Garibaldi, todos estavam prontos para lutar.

Anita fez cerca de vinte viagens em um pequeno barco, em que le-vava armas e munições, sem se importar com o fogo cruzado que poderia atingi-la. O estoicismo de Anita e Garibaldi foi mencionado pelo próprio Frederico Mariath, em 15 de novembro de 1839.

Em 1840, depois de grande expectativa e ansiedade, nasceu Menotti, o primogênito do casal. No mesmo ano, Garibaldi chora a perda do seu grande amigo Rosset-ti, que morreu lutando.

Juntando-se aos farroupilhas, Anita e Garibaldi viveram grandes vitórias, mas amargaram também derrotas desastrosas. Na última re-tirada, ao alcançarem a Serra das Antas no Rio Grande do Sul, mar-chando pelo interior da floresta, tornou-se quase impossível às tro-pas avançarem devido à falta de munições, dificuldades climáticas e à fome. O casal temia perder o filho, que sobreviveu a tantas intempé-ries por um verdadeiro milagre.

Chegando finalmente no acam-pamento do líder Bento Gonçalves, Garibaldi estava convencido de que a revolução estacionara e que o melhor seria restabelecer a paz entre os farrapos e o Império. Além disso, a pobreza e as dificuldades enfrentadas, desde o nascimento do filho, fizeram-no tomar a decisão: sua participação na revolução pertencia ao passado.

Agora, o destino era o Uruguai. Garibaldi, na qualidade de corsário, não recebia soldo. Era necessário,

para iniciar nova vida no Uruguai, obter algum recurso. Solicitou algu-mas cabeças de gado ao Ministro da Fazenda, Domingos José de Almei-da, que comoveu-se com o modesto pedido e prontamente o atendeu, dando-lhe novecentas reses.

A família partiu acompanha-da de um grupo de homens, pelo pampa aberto. O trajeto era desco-nhecido. A boiada, escolhida sem critério, encontrava-se em péssi-mas condições e os responsáveis pela condução eram quase todos mercenários e boiadeiros impro-visados. Piorando a situação, era comum a fuga de homens durante a noite, levando algumas das reses. Outras morriam ou se perdiam pe-la estrada. Mesmo assim, paravam apenas para o descanso e alimen-tação dos viajantes. As chuvas torrenciais tornaram a travessia extremamente difícil. Anita, carre-gando Menotti, seguia em silêncio. Acostumara-se ao sacrifício.

Após dois meses de marcha, fa-tigados, mas felizes, conseguiram alcançar o território uruguaio com o pouco gado que ainda restava. Ani-ta deixava para sempre a terra natal, sem imaginar que um dia seria res-peitada e homenageada por todos os brasileiros, seus irmãos.

Yvonne capuano,Médica e empresária, é

autora de De sonhos e utopias:

Anita e Giuseppe Garibaldi; Garibaldi, o

Leão da Liberdade; e A epopeia de Anita e Giuseppe Garibaldi

Um dos canhões usados pelos Farroupilhas. Permaneceu até 1926 no

fundo do riacho Santa Isabel, em

Camaquã, quando foi recuperado junto

com outros e passou ao acervo do Museu

Júlio de Castilhos

Retrato de Anita Garibaldi por

Joaquim R. Ferreira

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Árvore de Giuseppe e Anita GaribaldiHeróis não somente italianos, brasileiros ou uruguaios, mas heróis de um mundo “globalizado”, em que simbolizam os valores da coragem, do sacrifício e da justiça

pequena casa. Rosita faleceu ainda criança. Portanto, foram só três os filhos que viajaram com a mãe para a Itália, em 1847, e pouco tem-po depois Garibaldi se juntou a eles.

Menotti, filho predileto de Garibaldi, co-meçou a navegar com ele como grumete desde 1854, quando o pai voltou do segundo exílio devido ao triste êxito da República Romana. Ti-nha 14 anos. Depois, foi com o pai na Sardenha, em Caprera, onde construiu um pequeno sítio, e depois na Expedição dos Mil e nas campanhas sucessivas: em 1866, no Trentino, em 1867, no Agro Romano e, finalmente, entre 1870 e 1871, na campanha da França. Depois decidiu se de-dicar ao saneamento do Agro Pontino, uma área erma cheia de pântanos e de malária, onde

criou uma grande fa-zenda modelo, porém sem conseguir saneá-la e levá-la a diante. Em 1876, tornou-se deputado até 1900. Em 1868, tinha se casado com Frances-ca Italia Bidischini, filha de um amigo de joventude do pai. Foi uma união feliz, da qual nasceram seis fi-lhos: Giuseppe [† aos

3 anos de idade], Gemma, Anita, Rosita, Giu-seppina e Giuseppe. O último filho teve uma filha, Teresita, que não teve prole mas adotou duas crianças. Foi a terceira filha, Rosita, quem deu um descendente para Menotti, casando-se com o conde Vittorio Ravizza. E por sua vez ti-veram filhos e netos.

Os filhos de Menotti e Francesca Italia ficaram na Itália, quase todos em Roma, on-de levaram uma vida decorosa, conservando mesmo depois do falecimento de Menotti, em 1903, a fazenda da pequena cidade de Cara-no, que correspondia a uma pequena parte das terras onde Menotti tinha sacrificado sua vida e onde está sepultado. A pesquisa sobre

Considero ser um grande privilégio ter nascido na família de Giuseppe e Anita Garibaldi e é uma obriga-ção fazer com que eles fiquem mais

conhecidos, junto com sua família. A populari-dade do General (1807-1882) e de Anita – Ana Maria de Jesus Ribeiro, chamada também de Annita na Itália (1821-1849) – permanece vi-va apesar da passagem do tempo. O mito que envolve seus feitos faz parte dos alicerces da nação italiana, além da história do Brasil e do Uruguai. Mas a respeito de seus descendentes havia, e ainda há, muitas lacunas. Este é o mo-tivo pelo qual me pareceu necessário pesquisar os dados relativos aos outros três filhos deles também, assim como os dados de seus des-cendentes até os dias de hoje, ainda mais a partir do momento em que fui chamada para ser a curadora de um museu em memó-ria da família, aberto na casa de um dos fi-lhos dos Garibaldi, Ricciotti, em Riofre-ddo, perto de Roma.

Embora o Herói de dois mundos tenha ti-do outros filhos após o falecimento de Anita, destacam-se os três fi-lhos nascidos da última relação com Francesca Armosino, companheira da última fase de sua vida, eles não deixaram herdeiros. Os netos de Garibaldi nasceram todos dos filhos de Anita, que foram quatro: Menotti (1840-1903), Rosita (1843-1845), Teresita (1845-1903) e Ricciotti (1847-1924).

Menotti, o maior de todos, nasceu no Bra-sil perto de Mostardas (RS) e seus primeiros meses de vida foram tão aventurosos quanto a vida de seus pais em sua passagem do Brasil ao Uruguai. Rosita, Teresita e Ricciotti nasceram em Montevidéu, numa situação mais tranqui-la para a família, que, finalmente, tinha uma

Annita Garibaldi Jallet, bisneta de Giuseppe

e Anita Garibaldi

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Menotti foi mais simples graças à disponi-bilidade da família, que me doou sua árvore genealógica.

Muito mais difícil foi a pesquisa sobre os filhos de Teresita. Ela se casou aos dezesseis anos com um oficial muito bonito, veterano da Expedição dos Mil, Stefano Canzio, que era de uma importante família de Genova, e tiveram dezesseis filhos, dos quais três faleceram: Ma-meli, Anzani, Lincoln, Annita (†), Brown, Leo, Decio, Cairoli, Foscolo, Giuseppe (†), Giuse-ppe (†), Rosita, Annita, Francesca, Giuseppe, Garibalda. Achar pistas de seus descendentes foi complicado porque muitos deles decidiram emigrar, voltando para a América Latina para terem fazendas (Anzani, por exemplo, no Pe-ru), lutando em conflitos locais, trabalhando em grandes impresas (Brown no canal de Pana-má). Outros ficaram na Itália. Os descendentes de Decio tiveram um papel cultural muito im-portante e fundaram uma famosa editora.

Encontrar aqueles descendentes de Teresita, que vivem longe da Itália, não teria sido possível sem a contribuição das Embaixadas e dos Insti-tutos Italianos de Cultura. Isto deve-se também ao fato de que o inte-resse pela emigração italiana aumentou notavelmente nos úl-timos anos e, graças a isso, desenvolve-ram-se pesquisas de estudiosos que, de forma muito gentil, me ajudaram.

O mais jovem dos filhos de Anita, Ric-ciotti, teve uma vida atormentada. Jovem demais para participar da Expedição dos Mil, juntou-se ao pai, vindo do internado inglês on-de estudava, somente no final do ano de 1861. Ele queria lutar a qualquer custo, e Garibaldi o levou com ele em 1866, em 1867 e nos anos 1870 e 71. Sempre foi ótimo soldado, apesar de uma grave invalidez numa perna. Porém, na vida civil, não era tão bom como em batalha: na sua vida acumulou uma série de situações desastradas, nos anos de sua juventude de emi-gração na Austrália também. Teve a sorte de se casar com uma jovem inglesa, Constance Hopcraft, corajosa e determinada. Tiveram tre-ze filhos: Giuseppe (†), Rosa, Italia, Giuseppe, Irene Teresa (†) Ricciotti, Menotti, Sante, Ar-naldo (†), Bruno, Costante, Ezio, Giuseppina. Finalmente conseguiram viver felizes na casa de Riofreddo onde criaram, baseando-se no modelo em Caprera – a ilha de Garibaldi na Sar-degna – uma pequena fazenda.

Os filhos de Ricciotti entraram na história por serem aqueles que tentaram dar continui-dade à tradição guerreira do avô. O mais velho, Giuseppe, lutou com o pai na guerra grego-turca de 1897. Os irmãos encontraram-se

novamente em 1912 na Grécia, depois de vá-rias experiências de trabalho no exterior, e outra vez, em 1914, como voluntários na Fran-ça na Primeira Guerra Mundial. Lá morreram Bruno e Costante. Os filhos de Ricciotti parti-ciparam da guerra de 1915 a 1918 no exército italiano e, depois, voltaram à vida civil, mas ficaram divididos pela política e pela ditatura de Mussolini. Este queria para si o mito de Ga-ribaldi, e fez com que as associações garibaldine organizadas por Ezio Garibaldi entrassem no grupo que apoiava o regime. Os irmãos que não concordaram tiveram que ir embora exilados. Especialmente Menotti e Sante, que morou na França desde 1925 e que, depois de um longo período passado nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, faleceu em 1946. Ricciotti e Constance tive-ram, dos treze filhos, somente seis netos, mas agora tem numerosos bisnetos.

Estabelecer a árvore genealógica do ramo de Ricciotti Garibaldi foi menos difícil, justamente porque é o meu lado da família mais próximo. Sou a única filha de Sante Garibaldi e de sua es-posa Beatrice Borzatti, tenho três filhos e seis

netos, nascidos entre 2004 e 2010.

Na casa de Riofre-ddo quis preservar a lembrança dos meus avós, Ricciotti e Cons-tance, de meu pai e minha mãe, Sante e Beatrice, transfor-mando o lugar em um museu onde continu-am a ser pesquisados todos os membros da família. Seus ob-

jetos e lembranças, após a casa de Riofreddo ter ficado por muito tempo abandonada, foram reunidos no Museu de Porta San Pancrazio em Roma, do qual me ocupo ativamente. Uma par-te da documentação encontra-se espalhada em várias instituições, principalmente nos Insti-tutos para a História do Risorgimento, quando não ficou com as famílias.

Garibaldi e Anita são lembrados no mun-do todo. E não parece, nesta circunstância do 200° aniversário do nascimento de Garibaldi e do 150° da fundação da Itália moderna, que eles serão esquecidos facilmente. Livros, docu-mentários, tudo contribui para que eles sejam heróis não somente italianos, brasileiros ou uruguaios, mas heróis de um mundo “globaliza-do”, em que simbolizam os valores da coragem, do sacrifício e da justiça.

Anita repousa em seu monumento no Gia-nicolo, na Roma que a viu, pela última vez, lutar ao lado do seu General, enquanto Giuseppe Ga-ribaldi encontra-se no cemitério de Caprera, a ilha da Sardenha que foi a última paixão do He-rói, e que lembra, nas cores e na beleza, muitas paisagens do Brasil da sua juventude.

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Homem, vinte e cinco anos ao mínimo, alfabetiza-do, abastado: este era o

eleitor italiano de 150 atrás. No novo Estado, sob o modelo da lei piemontesa de 1848, escolher os deputados (não os senadores, que eram escolhidos pelo rei) era um privilégio reservado a menos de 2% da população. Assim, nas pri-meiras sessões eleitorais (com eleitores variando entre 52% e 57% dos que tinham direito), os eleitos foram em larga maioria importantes senhores, espressões dos poderes locais.

Reformas Em 1882, uma primeira reforma concede o direito de voto a 12% da população, mas a verdadeira mudança ocorre em 1912, com o sufrágio universal, ainda que so-mente para os homens. Embora já no final do séc. XIX os socialistas tivessem criado as primeiras orga-nizações populares, foi justamente com o sufrágio universal que os par-tidos de massa a ganharam forma. Estes partidos, a diferença das duas frentes históricas originárias, direi-ta e esquerda, beneficiaram-se com o tempo de aparatos e formas de propaganda. E entre o trasformis-mo (termo introduzido por volta

de 1880, quando foram iniciadas alianças políticas que prescindiam das tradicionais divisões entre di-reita e esquerda e visavam mais interesses pessoais), fusões e novas formações, evoluiram até hoje. (Ver quadro da página XX e XX)

Substituídas pelo voto plebisci-tário (de uma lista única escolhia-se sim ou não) com a ditadura fascista,

as livres eleições voltaram em 1946, quando, pela primeira vez, votaram também as mulheres. Foi utilizado o sistema proporcional (introduzido em 1921) baseado na relação direta entre votos e cadei-ras. Um sistema revisto em 1993 em sentido majoritário (para favo-recer o assim chamado bipolarismo) e substituído em 2005 pelo sistema de coalizão, que prescinde das prefe-rências dadas para cada candidato.

Desorientados Mas, independente do sistema eleitoral, como os italianos se ex-pressam nas urnas? No pós-guerra (antes o parlamento não podia ser

Urnas tricoloresOs italianos e a política: como se votava, os partidos e as políticas de alianças espúrias (trasformismi)

Imagens das eleições em 1946; cédula eleitoral; mulheres votando; Os italianos foram chamados a escolher entre monarquia e república; Rei Umberto II votando

Acima, campanha eleitoral da

coalizão Blocco popolare

unisionist para as eleições políticas

de 1946

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estreMa sinistra sinistra destra estreMa destra

1861

1882

1910

1912

1921

1926

1946

1943

1972

Árvore genealógica dos partidos italianos

Depois de 1882 formaram-se governos com deputados de diversas origens.

Em 1912 adotou-se o sufrágio universal masculino.

Em 1926 todos os partidos anti-fascistas são dissolvidos. Alguns, durante a ditadura, operam no estrangeiro e em sigilo, outros, são criados antes do final da II Guerra Mundial.

Em 1943 Pli, Dc, PdA, Psiup e Pcd’i constituíram o Cln (Comitato di Liberazione Nazionale) que lidera a Resistenza.

Em 1946, depois da expulsão dos nazifascitas nasce a república e realizam as primeiras eleições a sufrágio universal (com voto também para as mulheres).

Garibaldini, mazziniani e radicali

Sinistra storicaFrancesco Crispi, Agostino

Depretis e Giusepe Zanardelli

Fascio della democrazia - 1883Felice Cavallotti, Giovanni Bovio, Andrea Costa

Partito Socialista Italiano - 1892Andrea Costa, Filippo Turati, Anna Kuliscioff

Partito Socialista Italiano (Psi) - 1947

Pietro Nenni

Partito Socialista Italiano di unità

Proletaria (Psiup) - 1964Tulio Vecchietti

(dissolvido em 1972)

Partito Socialista Italiano (Psi) - 1969Bettino Craxi (dissolvido em 1994)

Partito Socialista unificato (Psu) - 1966

Partito Socialdemocratico Italiano (Psdi) - 1947

Giuseppe Saragat

Partito Socialdemocratico Italiano (Psdi) - 1969

Giuseppe Saragat, Mario Tanassi

Partito Radicale - 1904Giuseppe Marcora (dissolvido em 1922)

unione Sindacale Italiana - 1912Arturo Labriola, Alceste De Ambris

(dissolvido em 1925)

Giustizia e Libertà - 1929Carlos Rosselli

Liberalsocialisti - 1941Piero Calamandrei

Partito Socialista Italiano di unità Proletaria (Psiup) - 1943Sandro Pertini, Pietro Nenni

Partito Comunista Italiano (Pci) - 1946

Palmiro Togliatti, Luigi Longo e Enrico

Berlinguer

Partito Repubblicano Italiano (Pri) - 1946

Ugo La Malfa

Partito Radicale - 1986Mario Pannuzio, Ernesto Rossi e Marco Pannella

Fronte dell’uomo Qualunque - 1944Guglielmo Gianinni

(dissolvido em 1949)

Partito Liberale Italiano (Pli) - 1946Giovanni Malagodi

Movimento Sociale Italiano (Mli) - 1946Giorgio Almirante e

Arturo Michelini

Partito Nazionale Monarchico - 1946

(poi Partito Democratico di

Unità Monarchica) Alfredo Covelli

Msi-destra Nazionale - 1972Giorgio Almirante

Partito Liberale Italiano (Pli) - 1943Ivanoe Bonomi, Benedetto Croce

Partito d’Azione (PdA) - 1942Ferruccio Parri, Ugo La Malfa

(dissolvido em 1947)

democrazia Cristiana (dc) - 1942

Achille Grandi, Alcide De Gasperi

Partito Socialista Riunificato - 1930

Partito Comunista d’Italia (Pcd’i) - 1921Antonio Gramsci, Amadeo Bordiga

Partito Nazionale Fascista (Pnf) - 1921

Benito Mussolini (dissolvido em 1943)

Partito Socialista unitario - 1922 Filippo Turati e Giacomo Matteotti

unione elettorale Cattolica - 1912Vincenzo Gentiloni (dissolvido em 1925)

Partito Liberale - 1912Giovanni Giolitti

Partito Popolare Italiano (Ppi) - 1919Luigi Sturzo

Fasci Italiani di Combatimento - 1919

Benito Mussolini

Partito Socialista Riformista Italiano (Psri) - 1912

Ivanoe Bonomi, Leonida Bissolati (dissolvido em 1920)

Partito Nazionalista - 1910Enrico Corradini

Ministeriali

Partito Repubblicano Italiano (Pri) - 1895Giovanni Bovio e N. Calajanni

Clerico-moderati e conservatori

destra storicaCamillo Benso conte di Cavour,

Bettino Ricasoli, Marco Minghetti

Com o novo século, durante a considerada Idade Giolittiana, os eleitos de Direita e de Esquerda que apoiaram o governo são definidos como “Ministeriali”.

57comunitàitaliana | março / abri l 2011

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1992

1986

1989

2010

Lega Lombarda - 1986Umberto Bossi

Federazione dei Verdi - 1986Gianni Mattioli

Partito della Rifondazione Comunista (Prc) - 1991

Armando Cossutta e Fausto Bertinotti

Partito democratico della Sinistra (Pds) - 1991

Achille Occhetto

Partito Popolare Italiano (Ppi) - 1994

Mino Martinazzoli

Forza Italia (Fi) - 1994Silvio Berlusconi

Alleanza Nazionale (An) - 1994

Gianfranco Fini

Movimento Sociale Fiamma Tricolore - 1995

Pino Rauti

Popolo della Libertà (Pdl)

2007Silvio Berlusconi e Gianfranco Fini

Movimento per le Autonomie

(Mpl) 2005Raffaele

LombardoLa destra

2007Francesco

Storace

Centro Cristiano democratico (Ccd) - 1994

Pierferdinando Casini e Clemente Mastella

Cristiani democratici uniti

(Cdu) - 1995Rocco Buttiglione

unione democratici per l’europa

(udeur) - 1999Clemente Mastella

unione democratici di Centro (udc) - 2002Pierferdinando Casini

e Marco Follini

I democratici1999

Romano Prodi

La Margherita (dl) - 2000Francesco Rutelli

Italia dei Valori1998

Antonio Di Pietro

Socialisti democratici Italiani (Sdi)

1998Enrico Boselli

democratici di Sinistra (ds) - 1998

Massimo D’Alema

Partito dei Comunisti Italiani

(Pdci) - 1998Oliviero Diliberto

Partito democratico (Pd) - 2007Walter Veltroni e Pier Luigi Bersani

Sinistra ecologia Libertà (Sel) - 2009Nichi Vendola

Alleanza per l’Italia (Api) - 2009Francesco Rutelli

Futuro e Libertà per l’Italia (Fli) - 2010Gianfranco Fini

Lega Nord - 1989Umberto Bossi

Em 1992 Tangentopoli provoca a crise dos partidos considerados “Prima repubblica” e o nascimento de uma nova formação política.

considerado realmente representa-tivo) predominou a divisão entre o Partido Comunista (Pci) e a maio-ria hegemônica da Democracia Cristã (Dc). Depois vieram os pe-ríodos de centro-esquerda (nos anos 60, logo após a abertura da Dc aos socialistas) e do pentaparti-do (1980-1992): uma aliança entre Dc, Psi, Psdi, Pli, Pri varrida pelo movimento Mani Pulite [Mãos Lim-pas] ao longo do processo chamado Tangentopoli, em 1992. Aquele ter-remoto político abriu caminho para a Liga Lombarda (que depois passou a ser chamada Liga Norte) e para Silvio Berlusconi.

Uma evolução que parece re-produzir uma recente análise que,

colocando em confronto com os dados de uma pesquisa em 1975, re-petida no outono de 2010, revela como o voto dos filhos foram transferidos em trinta anos para a direita em relação aos dos seus pais. Se em 1975 os fi-lhos votavam mais à esquerda que os pais, hoje ocorre o contrário, mesmo nas “regiões verme-lhas” como a Toscana e a Emilia-Romagna.

(revista Focus)

EspEcialSeSquicentenário

março / abri l 2011 | comunitàitaliana58

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Questa data si è trasforma-ta in un momento storico per il Belpaese. L’Italia uni-

ficata, cioè un regno di oltre 22 milioni di abitanti guidato all’epo-ca dal re Vittorio Emanuele II e nata da personaggi straordinari, quali Mazzini, Cavour, Garibaldi. Quest’ultimo ribattezzato come eroe dei due mondi. La sua capacità di sollevare le folle e le sue vittorie militari diedero un contributo de-terminante all’unificazione dello Stato italiano. A 28 anni Garibal-di si rifugiò in Sudamerica dove diresse i moti liberali in Uruguay, Messico, Brasile e Perù. Ritornò in Italia per la Prima Guerra d’In-dipendenza e poi, con migliaia di patrioti, combatté le guerre in tut-ta la penisola. I suoi lunghi viaggi lo portarono alla convinzione che “il mondo era percorso da un gran-de fremito di libertà”.

“Noi fummo da secoli calpesti, derisi, perché non siam popoli, per-ché siam divisi. Raccolgaci un’unica bandiera, una speme: di fonderci insieme”. La lingua del ventenne Mameli, il padre dell’inno d’Italia, è la lingua poetica dell’Ottocento che descrive il sentimento di una na-zione frammentata in piccoli stati prima del 1861.

Il famoso detto, attribuito a Massimo D’Azeglio, “fatta l’Italia, bisogna fare gli Italiani”, rimet-te al centro delle attenzioni la considerazione che l’unificazione dell’Italia non è un fatto circo-scritto ad una data storica, ma un lungo e faticoso processo.

Eventi commemorativiProprio quest’anno si celebrano i 150 anni dell’Unità d’Italia, per que-sto sono state organizzate iniziative su tutto il territorio nazionale e ol-treoceano. Come qui in Brasile, dove, secondo il Primo Segretario dell’Ambasciata d’Italia, Pier Luigi Gentile, “molti saranno gli eventi commemorativi che sottolineeran-no l’interesse vivo verso l’Italia”.

Nell’università di Brasília (UnB) è prevista una rassegna cinematogra-fica da marzo a luglio con film italiani sottotitolati in portoghese, “selezio-nati dalla lettrice italiana Prof.ssa Anna Paola Sebastio, che offriran-no una panoramica abbastanza

completa dall’Unità d’Italia fino ai nostri giorni”, racconta Gentile. Sempre all’UnB, dal 25 al 29 aprile, è organizzata una settimana ricca di eventi culturali ed anche gastrono-mici “Il Brasile Italiano: una visione del contributo italiano alla cultura brasiliana”. Protagonisti di questa settimana saranno due documen-tari, uno sull’architetta italiana Lina Bo Bardi e un altro dell’attri-ce e regista Ittala Nandi; diverse conferenze, in cui parteciperanno docenti universitari italiani e brasi-liani, la traduttrice di Umberto Eco al portoghese Aurora Bernardini, lo scienziato politico e poeta Amado Cervo, la poetessa Jandira Costa. Inoltre ci saranno serate musicali or-ganizzate dal coro italiano della UnB e dal coro di italiano dei bambini del Centro Ensino Fundamental de Brasília, diretti dalla bacchetta del Maestro Angelo Antoniani.

Il 4 giugno sarà inaugurata nell’Ambasciata d’Italia a Brasília la mostra fotografica “Padiglione Italia nel Mondo” in collabora-zione con la Biennale di Venezia, che mira al-la valorizzazione degli artisti italiani contem-poranei attivi all’estero. Un programma  a cui prenderanno parte diverse ambasciate italiane all’estero, che realizzeranno imma-gini e  video su queste opere e li invieranno in Italia, dove saranno presentati al Padiglione Italia della prossima Biennale di Venezia. 

“Nel corso di quest’anno - spiega il Primo Segretario dell’Ambasciata d’Italia – sarà presentato e valo-rizzato il Museo dell’Emigrazione italiana (MEI)”, un progetto che comprenderà non solo Brasília, ma anche São Paulo e Rio de Janeiro. Il MEI presenta la varietà delle esperienze migratorie italiane e si propone come opportunità di ri-flessione sulla storia, l’attualità e il futuro dell’essere e sentirsi italiani.

Altrettanto ricca la program-mazione di eventi organizzati a São Paulo, come la XV edizione del Premio Italia nel Mondo il 15 aprile, dove verranno consegnati ri-conoscimenti a personalità italiane e italo-brasiliane. Diverse le mostre presentate nel corso di quest’anno: i

“150 anni Grande Italia” nel Collegio Dante Alighieri, “I siti italiani Patri-monio Mondiale dell’UNESCO” nel Conjunto Nacional di San Paolo, “I luoghi della memoria. Case-museo. Spazi privati che raccontano la no-stra storia: le case dei padri della patria” nel Museu da Casa Brasileira di San Paolo e l’esposizione “Il viag-gio dell’emigrazione italiana da Genova a Santos” che sarà l’evento inaugurale della riapertura del Me-morial do Imigrante.

La regista Alessandra Vannucci presenterà a novembre uno spet-tacolo sull’emigrazione italiana in Brasile, “La Merica”, con orche-strazione dal vivo sia a São Paulo, nell’Auditorio Ibirapuera, che nel porto di Rio de Janeiro. Un altro concerto-spettacolo unirà le due metropoli brasiliane, “Viaggio mu-sicale in Italia” del Duo Alterno, che si esibirà con un ricco repertorio di musiche dall’ottocento a oggi.

L’immigrazione italiana sarà il te-ma prescelto per RECINE, il Festival cinematografico degli archivi di Rio de Janeiro e per un seminario dell’Ar-chivio Nazionale del Brasile, che analizzerà il contributo degli italiani alla costruzione del Brasile moderno.

La capitale di Rio Grande do Sul, Porto Alegre, questo mese si trasformerà nello scenario del semi-nario sul Risorgimento Italiano organizzato dall’Università cattolica di Porto Alegre e della mostra fotografica su

“Risorgimento e Unità d’Italia” nel Museo Usina do Gasômetro.

Invece Belo Horizonte ospiterà l’esposizione “150 anni 20 regioni 1 Italia”, con materiali inviati dal MEI e dalle regioni italiane e anche la mo-stra di produzioni grafiche da tutto il mondo degli artisti di mail-art (arte postale), dal titolo “I 150 anni dell’Unità d’Italia: il Brasile guarda l’Italia, l’Italia guarda il Brasile”.

A Curitiba sarà presentato in an-teprima il film “Garibaldi in America” del regista italo-brasiliano Rubens Gennaro, nell’ambito della 1ª Edizio-ne della Rassegna “Mia Cara Curitiba”.

Il Consolato italiano inoltre ha in programma altre iniziative in fase di definizione, tra cui la stampa e la divulgazione di un volume celebrati-vo su personaggi e scritti dell’Unità d’Italia, conferenze e rassegne cine-matografiche in collaborazione con i Centri Culturali Italiani di Maceió, João Pessoa e Natal.

stefania Pelusi

i 150 anni in BrasileTorino 17 marzo 1861. “L’Italia s’è desta”

“l’unificazione dell’italia non è un fatto circoscritto ad una data storica, ma un lungo e faticoso processo”

EspECiaLSESquicEntEnário

comunitàitaliana | março / abri l 2011 59

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São Paulo é conhecida em todo o país pela sua grande variedade gastro-nômica. Entre seus mais

de 12 mil restaurantes, é possível encontrar cozinhas tão distintas como a libanesa e a grega, a japo-nesa e a alemã, mas, sem dúvida, a culinária mais bem representada na cidade é a italiana. Existem cen-tenas de restaurantes e cantinas italianas, cerca de 1500 pizzarias e inúmeras rotisserias que vendem os mais tradicionais molhos e massas do país. Em meio a tantas opções, é fácil ficar um pouco perdido. Mas, agora, quem procurar um autêntico restaurante italiano na cidade po-derá usar como guia o certificado Ospitalità Italiana, conferido a 30 restaurantes de São Paulo em uma

iniciativa da União das Câmaras de Comércio italianas pelo mundo (Unioncamera) em parceria com o Istituto Nazionale Ricerche Turisti-che (Isnart) e cinco ministérios do governo italiano.

A ideia do certificado surgiu na Itália com o objetivo de valorizar a culinária e os ingredientes típicos do país. Em 2010 a iniciativa foi levada para o exterior, com a parti-cipação de 45 países. Entre todas as cidades contempladas mundo afora, São Paulo é a que abriga mais esta-belecimentos que seguem a tradição gastronômica italiana, e foi a primei-ra a receber o prêmio fora da Itália.

Para fazer a avaliação em São Paulo, a Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Cultura (Ital-cam) entrou em contato com 75

restaurantes. Foram feitas visitas aos estabelecimentos e pedidas cópias dos cardápios, fotografias de rótu-los de produtos e explicações sobre receitas tradicionais servidas. Todas as informações foram avaliadas por

uma comissão composta por enólogos, chefs de co-

zinha e profissionais do turismo e da in-dústria de alimentos,

que levaram em con-ta critérios como: cardápio escrito em italiano, com pelo menos 51% de pratos típicos, chef de cozinha italiano ou com experiência em res-taurantes típicos, carta de vinhos com ao menos 20% de vinhos ita-lianos e presença de um funcionário fluente no idioma. Também foi ava-liada a procedência dos ingredientes, sendo que alguns, como o azeite extravirgem, deveriam ser obriga-toriamente importados da Itália. Dos 75 restaurantes avaliados, 30 cumpriam todos os requisitos e re-ceberam o certificado.

— Não é um concurso gastro-nômico, o certificado não quer dizer necessariamente que os pra-tos são bons ou ruins, mas sim que seguem os preceitos da cultura ita-liana — explicou Erica Bernardini, responsável pela área de marketing e comunicação da Italcam e que acompanhou todo o processo de avaliação dos restaurantes. — O próprio nome do certificado, Os-pitalità Italiana, já explica a ideia por trás da avaliação: reconhecer lugares onde o italiano se sinta aco-lhido, onde sinta que sua cultura está bem representada — declarou.

A chef de cozinha Paula Lazzari-ni, dona do restaurante Spadaccino,

la vera cucina italianaRestaurantes de São Paulo ganham certificado que atesta o respeito à tradição gastronômica da Itália

Vanessa Corrêa da SilvaDe São Paulo

O chef Sauro Scarabotta, do

Friccò, que recebeu o selo de qualidade

nEgócioS gaStronomia

60 março / abri l 2011 | comunitàitaliana

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na Vila Madalena, concorda com es-se conceito. — Minha intenção foi fazer um lugar onde por duas ou três horas a pessoa seja transportada pa-ra a Itália. Mesmo que a pessoa não entenda o cardápio ou as placas no banheiro, essa é uma experiência que ela teria se estivesse visitando uma cidade italiana. A ideia é fazer um pedacinho da Itália fora da Itália — explicou Paula, cujos pais vieram de Bologna para viver no Brasil.

— Eu quis ser até um pouco inflexível com esse aspecto de re-almente seguir a tradição italiana — concluiu ela, contando que, mes-mo sendo algo que muitos clientes costumam pedir, não quis colocar o ravióli de mussarela no cardápio porque não reconhece o prato co-mo típico da culinária italiana.

O mais novo entre os 30 res-taurantes a receberem o selo, o Pecorino, aberto há seis meses na região do Jardim Paulista, tam-bém serve apenas pratos italianos. — Meu cardápio é totalmente tí-pico, escolhemos as receitas mais consagradas, originárias principal-mente do Centro e do Sul da Itália, e as seguimos à risca — explicou Zito Silveira, dono do restaurante.

Descendente de italianos por parte de mãe, Silveira visita a Itá-lia todos os anos e se inspirou em lugares vistos durante as viagens para recriar a atmosfera de uma trattoria romana. Uma das ideias importadas da Itália foi a de servir o vinho da casa em jarras de 0,5 li-tro, muito comum em restaurantes do país. Outro diferencial são as porções de queijos italianos, como o taleggio, o grana padano e o peco-rino, que dá nome ao local.

Com um cardápio mais variado, o Friccò, que fica na Vila Mariana, também recebeu o selo de qualidade. Apesar de seguir o critério que de-termina que pelo menos metade do cardápio seja composto de receitas tradicionais italianas, o chef Sauro Scarabotta também serve em seu restaurante pratos como casquinha de siri e caldo de feijão. Italiano da cidade de Gubbio, Scarabotta consi-dera importante manter a tradição, mas sem se fechar à renovação:

— Não me considero 100% italiano e acho isso positivo, a glo-balização é enriquecedora.

Para Scarabotta, o certificado Ospitalità Italiana é um reconhe-cimento do país aos restaurantes que têm o cuidado de usar produtos autênticos, que são a base da boa culinária italiana. “O selo represen-ta uma coisa muito importante, que

é a autenticidade. Os ingredientes italianos são muito falsificados. No mundo todo vemos versões que tentam imitar produtos como o pre-sunto de Parma e o queijo parmesão”.

Scarabotta pretende usar o certificado como um fio condu-tor de iniciativas que divulguem ainda mais a culinária italiana em São Paulo. Uma das ideias é criar uma espécie de passaporte que os clientes poderão levar aos 30 res-taurantes contemplados com o selo.

— Ao visitar um determina-do número de restaurantes em um certo período de tempo, a pes-soa poderia ganhar prêmios como uma garrafa de vinho ou um me-nu degustação — explicou. O chef também planeja reservar um dia da semana para divulgar sua língua pátria no restaurante. Nesse dia, clientes que sinalizarem em suas mesas a vontade de

participar da iniciativa serão aten-didos somente em italiano.

Inspirado na região da Ligúria, o Zena Caffé, no Jardim Paulista, tem como um dos pontos fortes outro critério também levado em conta na hora de concorrer ao certifica-do: a decoração. A ideia foi seguir os elementos encontrados na Itá-lia, com muitas fotos de cidades da Ligúria e falsas janelas pintadas na parede, típicas da região.

— Procuramos reproduzir o cli-ma de um lugar italiano sem cair na caricatura de uma cantina — disse o chef Carlos Bertolazzi.

No cardápio escrito em italiano, o destaque vai para os pratos típicos das cidades do litoral noroeste da Itá-lia, como a focaccia e o pesto genovês.

— Nosso menu é muito tradi-cional, não há nenhuma variação nas receitas italianas. Muitos geno-veses vêm para comer a focaccia e dizem que é tão boa ou até melhor do que a que encontram em Gêno-va — disse Bertolazzi.

Os restaurantes que receberam o certificado assinaram um termo de responsabilidade, se comprometen-do a continuar seguindo os critérios estabelecidos. A avaliação é feita anualmente e, caso algum dos res-taurantes não mantenha a qualidade, pode não ter o certificado renovado. Em 2011, a Italcam acredita que mais restaurantes devem parti-cipar, já que o prêmio teve uma

grande repercussão: — Muitos lugares que

não participaram do processo ou que não atingiram os cri-térios estão nos procurando para saber o que devem fazer para participar da próxima avaliação — disse Erica, que conclui — Não discriminamos restaurantes mais ou menos sofisticados, e isso fez com que a população conhecesse lugares que normalmente não aparecem nos guias gastronômicos.

O presidente da Câmara

Ítalo-Brasileira de Comércio,

Edoardo Pollastri, o proprietário do

restaurante Pecorino, Osni Silveira Neto,

o presidente da Unioncamere,

Ferrucio Dardanello, o chef do Pecorino,

Andre Galante e o cônsul da Itália em

São Paulo, Marco Marsili posam na

cerimônia de entrega do prêmio. Acima, o Friccò de Cordeiro,

do restaurante Friccò

61comunitàitaliana | março / abri l 2011

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Empreendedorismo prá-tico e a criação de mais de vinte empresas. Esses foram os frutos colhidos

por meio do curso financiado pelo Ministério italiano do Trabalho e Políticas Sociais e pela AssForSeo, organização italiana para a forma-ção, desenvolvimento e ocupação, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. O projeto se chama “Altra economia – nuove imprese per lo sviluppo sostenibile e solidale”, e foi realizado no âmbito de intervenção para a formação dos italianos residentes em países que não pertencem à União Europeia.

O objetivo era o de formar pes-soas para a criação de empresas junto a setores emergentes da eco-nomia local, em ressonância com o desenvolvimento sustentável. Para os organizadores, a meta foi plena-mente alcançada.

— Nosso balanço de aprovei-tamento é 100%. Alguns alunos já estão com empresas montadas, com o CNPJ. Um deles ganhou uma bolsa de estudo e está estudando na Universidade de Salerno — con-ta a coordenadora do curso, Liliana Frenda, responsável pela AssFor-Seo no Brasil.

O programa teve, no total, 500 horas de duração. Destas, 300 foram realizadas junto à Fundação Getúlio Vargas, instituição de excelência sediada na cidade do Rio de Janei-ro. As outras horas foram divididas entre project work, aprendizado de língua italiana e estágio. A turma te-ve 24 alunos – que ganharam uma bolsa de estudos de 100% – e dois ouvintes. Todos são cidadãos italia-nos residentes no Rio de Janeiro.

A cerimônia de diplomação aconteceu no dia 18 de março, na Fundação Getúlio Vargas, e con-tou com a presença do cônsul geral Umberto Malnati.

— Hoje, o Brasil é um dos princi-pais mercados emergentes e a sétima economia mundial, com um PIB que

ultrapassou o da Itália. Que essa ini-ciativa possa reforçar o amor pela minha pátria — destacou o cônsul.

O diretor da AssForSeo, Salva-tore Anfuso, elogiou os projetos desenvolvidos pelos alunos.

— O curso foi muito mais técnico do que pensávamos. Os pro-jetos são muito avançados. Alguns, inclusive, ainda não pudemos de-senvolver na Itália. Concluo com um espírito de satisfação, e estou certo de que se pode dar continuidade a esse tipo de iniciativa — comentou.

O presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio do Rio de Janeiro, Raffaele di Luca, chamou atenção para a oportunidade ofere-cida aos alunos.

— É uma ocasião que deve ser aproveitada. Espero que o governo italiano faça algo a mais para ajudar na formação de seus cidadãos que vi-vem em outros países — comentou.

Di Luca aproveitou para pre-sentear as empresas recém-criadas com a associação isenta de taxas, por um ano, junto à Câmara.

O diretor da área de relações inter-nacionais da FGV, Bianor Cavalcanti, destacou o alto nível de satisfação por par-te dos envolvidos.

— O clima da cerimônia de encerra-mento revelou um alto nível de satisfação de alunos e professores. Nesse momento de mudanças na Europa e no Brasil, a coopera-ção entre instituições é importante. É uma experiência pioneira para a FGV, que apon-ta para um futuro de aprofundamento des-sa relação.

Embriões sustentáveisCurso financiado pelo governo italiano confere formação prática em micro-empreendedorismo a cidadãos residentes no Rio de Janeiro

Cintia Salomão Castro

nEgócioS

A criação de uma micro-empresa dedicada ao cultivo e à

comercialização de cogumelos para uso medicinal no estado do Rio de Janeiro foi um dos projetos apresentados pelos alunos. O Agaricus blazei é uma espécie de fungo encontrado sobretudo em regiões de clima tropical e subtropical, cujas propriedades medicinais reforçam o sistema imunológico. Os cogumelos cultivados serão transformados em cápsulas por empresas especializadas, de modo que cheguem ao consumidor final como suplemento alimentar. O projeto de Miriam Ferreira Pradal e Diana Conti deve ser implementado nos próximos meses.

— O curso atingiu totalmente o seu objetivo, que é o de dar uma formação para sermos capazes de montarmos um negócio sustentável — resumiu, satisfeita, Miriam Pradal.

funGhi della salute

Alunos recebem diploma pela conclusão do

curso, na Fundação Getúlio Vargas

“o curso foi muito mais técnico do que poderíamos

pensar e os projetos apresentados pelos alunos

são muito válidos”,Salvatore Anfuso,

diretor da AssforSeo

62 março / abri l 2011 | comunitàitaliana

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Maior rede de culiná-ria italiana do Brasil, a Spoleto, do Grupo Úmbria, conta com

uma fórmula de sucesso que conquis-tou os consumidores das grandes cidades. Com massas e molhos pre-parados em poucos minutos, os números da cadeia de restaurantes são superlativos. Por mês, são servi-dos 1,2 milhão de pratos. Já ao ano, a rede calcula que 14 milhões de consu-midores visitam os 291 restaurantes, sendo 263 no Brasil e 28 no exterior (26 no México e dois na Espanha).

Um dos diferenciais da rede é que o cliente é o próprio “chefe” e tem a liberdade de montar o prato na hora. Entre as opções, são 16 massas, risotos, saladas, carpaccio e polpettones, com até oito varia-ções, entre os 34 ingredientes. São seis tipos de molho para as massas e outros seis para as saladas.

Na fábrica do Spoleto, no estado do Rio de Janeiro, para se ter uma di-mensão do trabalho, são produzidas mensalmente cerca de 176 tonela-das de molhos, outras 71 toneladas de massas recheadas, 17 toneladas de lasagnas e 7 toneladas de risotos. A linha de produção da rede não fica atrás dos chineses. A possibilidade de crescimento da rede se deu, prin-cipalmente, através do sistema de franchising, que possibilitou a en-trada nas principais cidades do país.

Aliadas às diversas possibili-dades de montagem dos pratos ao apetite do brasileiro, os números da rede, que completará 12 anos, não param por aí. A projeção pa-ra 2011 é manter o mesmo ritmo de crescimento satisfatório e assi-nar 35 novas unidades ao longo do ano, chegando ao faturamento de R$ 390,8 milhões, o equivalente a 13% de crescimento quando com-parado a 2010, ano que registrou o faturamento de R$ 345,6 milhões.

Presente em 23 estados brasi-leiros e no Distrito Federal, a maior concentração de lojas está em São Paulo (84) e no Rio de Janeiro (56), com unidades distribuídas entre shopping centers, centros comer-ciais e lojas de rua.

A história de sucesso do Spoleto está diretamente ligada ao italiano Gianni Carboni, nascido em Roma e radicado no Brasil desde 1986, ano que abriu o seu próprio restauran-te, o Bravo Gianni. Após fechar a casa, Carboni, que já era fornecedor de massas e molhos (suas especia-lidades) para o Spoleto, uniu-se aos empresários Eduardo Ourivio e Mario Chady em uma sociedade voltada para a fabricação e o forne-cimento destes produtos à rede.

Carboni é responsável pe-los produtos do Grupo Úmbria e consultor da rede Spoleto para lançamento de novos produtos. O grupo conta ainda com as redes Domino’s Pizza e Koni Store.

— O bom relacionamento com o cliente, o preço, a qualidade das

refeições servidas e a agilidade no atendimento é o diferencial do Spo-telo. Diariamente temos um belo serviço pela frente, que é o de servir bem as pessoas — conta o executivo.

De acordo com ele, usar produ-tos de qualidade para que o sabor seja preservado, garantindo à re-ceita um paladar mais apurado é uma das garantias da fórmula Spo-leto em servir bem.

— Nossa experiência em culi-nária italiana nos possibilitou atuar em outros países. Atualmen-te estamos pesquisando mercados na Argentina, onde deveremos abrir uma unidade ainda neste ano, além de Austrália e Peru, onde es-tudamos novos empreendimentos. Este é um ano de muitas possibili-dades — revelou o diretor.

Indagado sobre a possibilida-de de atuar no já consolidado e concorrido mercado italiano de gas-tronomia, Carboni diz não ser fácil, já que a Itália conta com redes fortes, redes regionais e inúmeros estabele-cimentos familiares de alto padrão.

— Futuramente a Itália pode até ser um mercado em potencial para a rede, mas hoje não estamos em estudo. Além de a concorrência ser alta, a cultura de shopping cen-ters de lá não é tão forte como aqui no Brasil — confessa.

Carboni conta, ainda, que é im-portante dar fim à crença de que macarrão engorda.

— O segredo está no molho. É só fazer uma combinação leve com os ingredientes que o prato fica sa-boroso e a digestão fácil. A massa é um alimento nutritivo, econômi-co e versátil, com o qual podemos fazer inúmeras variações e criar pratos maravilhosos.

E ele dá a receita para uma boa massa: “50% é qualidade dos in-gredientes, 30% é a maneira de fabricá-la e 20% é a maneira certa de cozinhá-la”.

Ao gosto do mercado

Após se consolidar no Brasil, grupo que detém marcas famosas como

Spoleto, Domino’s Pizza e Koni Store busca outros continentes

Fachada de uma das franquias da rede Spoleto

Robson BertolinoDe São Paulo

Spoleto é uma cidade localizada no centro da Itália, na região da Úm-bria. Esta região se destaca pelo equilíbrio entre homem e natureza,

no tratamento que seus cidadãos sempre tiveram com sua terra e seu rico passado. Na Idade Média e na Renascença, foi uma ativa região no coração histórico, cultural e religioso da Itália. Suas cidades se desen-volveram de forma extraordinária, acumu-lando uma enorme riqueza artística.

Apesar de apresentar traços da era romana em sua estrutura urbana, Spoleto ainda mantém uma aparência medieval. Isso ocorre devido à cidade ter sido um próspero Ducado “Longobardi” – povo germânico originário do Norte da Europa que fez parte do Império Romano – e, depois, uma impor-tante cidade dentro do Estado Papal.

história da Cidade de spOletO

nEgócioS

comunitàitaliana | março / abri l 2011 63

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In queste settimane, di botto, si è scatenato il cosiddetto valzer delle panchine. Alcune sono già saltate e di altre è facile intuire che cambie-

ranno più o meno a breve. Il fenomeno, c’è da dire, non riguarda solo l’Italia e la con-ferma la si può avere pensando proprio ad alcuni nostri tecnici impegnati all’estero.

Guardando al nostro movimento, vanno lasciate da parte le prevedibili vi-cende che riguardano le panchine dei Club meno forti, fatalmente legati a scos-soni che possano cambiare la stagione via via che questa avanza, col miraggio della salvezza. Quel che colpisce è piuttosto la piega che hanno preso molte fra le So-cietà più solide, la cui gestione ha subíto una brusca sterzata rispetto a un passato nemmeno troppo lontano.

Qualche tempo fa era stata la volta niente meno che dell’Inter. Aveva divorzia-to dall’esperto e ultravincente Benitez per affidarsi a un tecnico quasi di primo pelo come Leonardo, il tutto nel giro di poco più di sei mesi, da quando Mourinho ave-va vinto, incassato, più o meno ringraziato e salutato tutti. In un Club che sembrava essersi finalmente liberato della sindrome da allenatore che l’aveva afflitto per una quindicina d’anni, è venuta a crearsi una situazione di difficile lettura e di ancor più difficile controllo. Seguendo la scia della Società, schiere di commentatori e tifosi sono caduti nell’errore di giudicare un allena-tore che ha alzato tro-fei di ogni tipo nel cor-so di appena 15 stagio-ni per i soli pochi mesi trascorsi a Milano. Difficile non sorride-re. Così come difficile era stato non definire avventata la sostitu-zione di Mourinho col suo rivale numero uno. Fatto sta che neppure l’ottenimento di vitto-rie agognate per quasi mezzo secolo è ri-uscito a infondere serenità nell’ambiente.

All’Inter sta accadendo qualcosa di mol-to, troppo simile a quanto è successo nell’ul-timo Real Madrid di Florentino Perez e da qualche anno più accade al Chelsea di Abra-movic. Con riferimento ai londinesi, arriva-

ti finalmente soldi a palate in un Club che aveva appena ricominciato a vincere dopo un’astinenza di cinquant’anni, d’un tratto si è preteso di tenere un ritmo di affermazio-ni che nessuno ha. E più o meno a ogni in-ciampo si è fatta piazza pulita, liberandosi di allenatori del calibro di Mourinho e Sco-lari, col rischio che il prossimo sia Ancelotti. Dati i presupposti, c’è da chiedersi come si

possa anche solo pensare di far fuori chi, oltretutto al primo tentativo, ha appena conquistato la prima accoppiata campio-nato-coppa in 105 anni di storia… Fatto sta che Carletto sembra destinato alla sua

amata Roma, che nel frattempo ha sacrifica-to Ranieri sull’altare del dio Totti come se le vi-cende legate al cambio di proprietà non fosse-ro già sufficientemente destabilizzanti… D’al-tra parte lo stesso era successo con Spalletti, che al momento si sta godendo una meritata e gratificante parentesi russa in attesa magari di tornare in Italia per

guidare questa volta la Juventus.La Torino bianconera, a proposito, sta

vivendo l’ennesima annata nera. Da Calcio-poli in poi ha fatto sempre peggio e viene da pensare che questo crollo verticale sia in realtà un processo autodistruttivo studiato a tavolino esattamente come la resa incon-

dizionata davanti ai giudici nel 2006. L’av-vicendamento forse soltanto di facciata alla Presidenza e una serie di cambi di panchina che non si era visto in più di un secolo hanno fatto il pari con un esborso di quattrini senza precedenti. Dalla risalita in Serie A, il gruppo è stato praticamente smembrato e rifondato ogni stagione e gli ultimi dati pubblicati in-dicano che a oggi il saldo fra acquisti e ces-

sioni – ingaggi a parte - è in negativo di ben 130 milioni di euro. La beffarda aggravante è che i tantissimi ex della Juve stanno facendo benissimo ovunque siano andati e oltretutto quando la incontrano le fanno spesso male.

Tutto questo porta alla conclusione che molti degli attuali padroni dal calcio si stanno comportando da arricchiti. Non c’è quasi più traccia della cultura sportiva che ha animato generazioni di dirigenti più o meno vincenti ma comunque dal ca-rattere inconfondibile, apprezzabili già per questo. Checché si dichiari, oggi non c’è lo straccio di un progetto. Non si semina per raccogliere e se le cose non vanno non le si aggiustano ma si comprano pezzi di ricam-bio. Se però in Paesi emergenti anche dal punto di vista calcistico è comprensibile che lo sviluppo possa prendere quest’illusoria scorciatoia, stona decisamente vedere tan-ta poca classe e lungimiranza in una terra che di pallone vive da lunghissimo tempo. E non può non saltare all’occhio che di scor-ciatoia, poi, non si tratta. Perché buttar giù tutto per ricostruire daccapo, ancora una volta senza fondamenta, non condurrà mai a nulla. Di buono, s’intende.

Un sistema al collasso

Molti degli attuali padroni dal calcio si stanno comportando da arricchiti. Non c’è

quasi più traccia della cultura sportiva che ha animato generazioni

di dirigenti

calcioAndreaCiprandiRatto

março / abri l 2011 | comunitàitaliana64

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A criatividade do empre-sário italiano Mario Moretti Polegato deu a ele a chave para uma

solução importante ao cotidiano de cada um: como caminhar com mais conforto. A planta dos pés é a parte do corpo com o maior nú-mero de glândulas sudoríparas. E, da mesma forma que um par de sa-patos isola o homem do chão aonde pisa, ele também evita a transpira-ção. Há pouco mais de quinze anos, durante uma viagem de negócios aos Estados Unidos para promover o vinho da família, Mario Polegato notou que, naquele verão de tem-peratura alta, o par de calçados “queimava” os pés durante as ca-minhadas. O jovem e excêntrico empresário de vinho não pensou duas vezes em furar a sola do sa-pato com uma faca. Assim, os pés “respiraram” aliviados.

Ao retornar à Itália, ele decidiu desenvolver a intuição e, na peque-na fábrica de sapatos da família, produziu uma sola especial capaz de devolver aos pés a capacidade natu-ral de transpiração, sem reter o suor. A sola criada por Mario Polegato era furada, assim como a palmilha e uma membrana permeável ao va-por, mas impermeável à água. Para testar, a fábrica passou a produzir

sapatos apenas em números pe-quenos, para meninos e meninas. O sucesso foi grande e logo a linha aumentou e passou a ter produtos para homens e mulheres. Nos anos seguintes, os aperfeiçoamentos dos sapatos dão passos de gigante.

A empresa cresce, princi-palmente a partir de 2000, e a expansão do grupo comercial pa-rece não conhecer fronteiras. Os investimentos em tecnologia são a

marca registrada deste sucesso. Em 2004, Mario Polegato decide ir ao mercado buscar mais recursos pa-ra ampliar as atividades. Ele abre a empresa para a cotação na Bolsa de Valores. O faturamento aumen-taria na ordem de 25% ao ano. O toque de Midas leva a Geox, hoje, a ter em caixa 100 milhões de euros. A empresa de Montebelluna se tornou a segunda maior fabri-cante de calçados, ficando atrás apenas da Clarks, no setor do “casual footwe-ra market”. Para a Geox, que começou com apenas cinco funcionários e que hoje conta com de 30 mil, foi um grande salto. Com

mais de 50 “brevetos” registrados, ela está na vanguarda do setor.

Para encontrar soluções, a em-presa adotou a participação em esportes extremos que permitam aos engenheiros estudar o material e a sua interação entre quem usa e o ambiente. Não por acaso, a em-presa decidiu investir na Fórmula 1, onde no cockpit a temperatura varia dos 40 aos 50 graus centí-grados. A equipe Red Bull, campeã do mundo nas categorias de fabri-cantes e de pilotos, com o alemão Sebastian Vettel, vai calçar Geox.

– Na F1, as equipes testam novas tecnologias em condições limites. Depois, o material usado é transferido para o dia a dia nas cidades. O nosso objetivo é estu-dar melhorias ao produto e, em seguida, aplicar as descobertas nos sapatos de todos. Preparamos tam-bém um macacão especial que faz o corpo do piloto respirar. Não te-nho dúvida de que em breve todas as equipes irão buscar soluções que nós já teremos – explica Polegato.

E já a partir deste primeiro se-mestre, uma coleção especial, a Geox Red Bull Racing, vai ganhar as vitrines. As pistas de corrida serão um trampolim para os lançamen-tos que incrementam a tonificação muscular, aliada à respiração dos pés. Uma composição entre sola, palmilha e uma membrana de “in-terface” dos elementos do calçado, ajuda a melhorar a postura do ato de caminhar. O mesmo princípio de conforto e de cuidado com a saú-de norteia a linha de roupas.

Ternos, casacos, tudo furado com estilo e precisão científica e que reduzem em 40% a transpi-ração, ajudam a dar oxigênio às vendas. A presença em 103 paí-ses, as mil lojas da marca e 10 mil pontos de multimarcas falam por si só. E, para fazer frente à crise que atingiu o mercado, a empresa decidiu revitalizar a comunicação e fazer valer, em alto e bom som, a tecnologia e o estilo italiano

para o usuário. Uma nova cam-panha chama a atenção do cliente para este triunvirato imbatível, vulnerável apenas às taxas de importação im-postas pelo Brasil em nome da proteção dos produtores locais. Esta barreira diminui a

competitividade do produto italiano, que fatura 60% no

mercado externo, princi-palmente nos vizinhos de casa, Espanha, Ale-manha e França.

Dos pés à cabeçaA tecnologia e o estilo italiano

na fabricação de sapatos ganha novos conceitos a partir de testes em pistas de corrida

Guilherme AquinoDe Milão

moda mErcado

Abaixo, o modelo da Geox – Red Bull

Racing Team – utilizado pelo piloto

Sebastian Vettel

comunitàitaliana | março / abri l 2011 65

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SaúdE notaS

ResfriadoUm estudo publicado no site Cochra-

ne Reviews afirma que tomar zinco em forma de xarope ou comprimidos po-de diminuir a gravidade e a duração dos resfriados comuns, além de ajudar na sua prevenção. O zinco pode encobrir os ví-rus do resfriado e impedi-los de entrar no organismo por meio da mucosa do na-riz, e também impede o vírus de se dupli-car, pelo menos nos testes de laboratório, além de auxiliar o sistema imunológico e reduzir as reações desagradáveis do corpo à infecção. Mas há um alerta: o zinco não pode ser usado no longo prazo, devido ao risco de intoxicação. Grandes quantida-des da substancia podem causar náusea, vômitos, dores abdominais e diarreia.

Depois do solBronzeou-se demais? Alguns cuidados

são essenciais para aliviar a pele do trauma das queimaduras. Já que o corpo está quente, banho frio é a melhor opção. Evite usar bucha/esponja ou qualquer es-foliante na região afetada. O sabonete tem que ser bem hidratante e suave, ca-so contrário pode deixar a pele ainda mais vermelha e ressecada. Aproveite e aplique também um óleo hidratante de banho. Seja gentil até para enxugar a pele com uma toalha macia. Aplique loções pós-sol específicas, com produtos calmantes co-mo a aloe vera (babosa) três vezes ao dia. Isso diminui a ardência. E tome bastante água para ajudar na hidratação da pele.

Sobre corantesUm comunicado do Center for Science

in the Public Interest, organização de defesa do consumidor dos Estados Uni-dos, diz que alguns corantes químicos usados em muitos refrigerantes podem causar câncer. A Instituição afirma que o corante tem amônia e produz vários com-postos químicos que causaram câncer em estudos com animais. A entidade pediu que a FDA (agência de vigilância sanitária dos EUA) proíba o uso da substância. Os refrigerantes que mais têm o corante são aqueles de cores escuras.

Rejuvenescimentoo romã e o morango são a fonte da

juventude. É o que sugere a pesqui-sa da Universidade Hallym, na Coreia do Sul. Essas frutas são algumas das melhores opções para prevenir o en-velhecimento precoce da pele. “Elas são ricas em ácido elágico, um antio-xidante poderoso”, afirma o bioquí-mico Marcelo Hermes Lima, da Uni-versidade de Brasília, que estuda o composto há anos. A recomendação é acrescentá-las a um dos lanches diá-rios. Não há consenso sobre a quanti-dade de frutas necessária para manter a pele jovem. Mas quem se preocupa com a balança agradece: 100 gramas de romãs e morangos têm, respectiva-mente, 56 e 30 calorias.

SojaUm dos grãos mais completos entre

as leguminosas, a soja contém al-to teor de proteína, possui vitaminas do complexo B e é rica em minerais como potássio, zinco e cálcio, além de importantes compostos que podem estar associados a benefícios à saú-de. Seu consumo, como parte de uma dieta equilibrada, pode contribuir para manter os níveis de colesterol e prevenir doenças cardíacas. E mais: quem sofre de intolerância à lacto-se encontra na bebida à base de so-ja uma boa alternativa alimentar. De acordo com a Food and Drug Admi-nistration (FDA), órgão norte-ameri-cano que regula os medicamentos e alimentos, a ingestão de pelo menos 25g de proteína de soja por dia pode ajudar a reduzir o colesterol.

EnergéticosUm artigo publicado na revista “Pe-

diatrics” mostra uma análise dos efeitos de bebidas energéticas em crianças e jovens. Taquicardia, pres-são alta e até mesmo paradas car-díacas fatais são algumas das ocor-rências graves provocadas por estas bebidas com alto teor de cafeína. O estudo estimula os pediatras a dis-cutir os riscos dos energéticos com os pacientes, especialmente aqueles com problemas cardíacos e distúr-bios de comportamento ou humor - como o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. A gran-de quantidade de açúcar pode trazer riscos a diabéticos.

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Dídimo Effgen, jornalista e publicitário capixaba que, a partir desta edição, traz aos leitores da Comunità as notícias e informações daqueles italianos e seus descendentes que fazem a diferença no crescimento e desenvolvimento sócio-econômico do estado do Espírito Santo

Nuova città 1o Presidente da Lorenge S.A., José Elcio

Lorenzon, apresentou ao prefeito de Linhares, Guerino Zanon, o PRIMACIT-TÁ, maior empreendimento imobiliário unificado do Espírito Santo, que será cons-truído na cidade. O complexo ocupará uma área de 75.000 m², frente à BR 101, no vetor norte, para onde a cidade mais se de-senvolve. O megaempreendimento será o

maior núcleo urbano planejado do Estado. Com investimentos de R$ 345 milhões e início de obras previsto para maio, o meio empresarial da cidade está na expectativa de bons projetos para a população.

Nuova città 2Segundo Lorenzon, a cidade de Linha-

res se impõe no cenário estadual por causa das boas perspectivas econômicas e geração de emprego e renda. Há anos, ela integra o time das cidades atrativas para negócios e investimentos. A relação de empresas que se instala no município é uma das maiores do Estado. O complexo terá área total construída de 165.000 m² e vai assegurar ao município uma comple-ta infraestrutura em serviços comerciais, empresariais e de hotelaria, além de refor-çar as opções de boa moradia da cidade.

Dividendos 1o Sistema de Cooperativas de Crédito

do Brasil (Sicoob), no Espírito Santo, presidido por Bento Venturim, acaba de dividir entre os seus associados R$ 38,3 milhões, provenientes dos resultados obti-dos pela instituição financeira em 2010. A distribuição dos lucros é um dos principais atrativos da Cooperativa em relação aos bancos tradicionais. No Estado, 105 mil pessoas usufruem as vantagens oferecidas pelo Sicoob, que está presente em todas as regiões capixabas com 83 agências.

Dividendos 2Há 21 anos, o Sicoob Espírito San-

to é dirigido por Bento Venturim, capixaba de Venda Nova do Imigrante. Neto de italianos, o líder cooperativista tem entre suas paixões o cultivo de ca-

fé Conilon – o Espírito Santo é o maior produtor dessa variedade no País. Além de atuar no Estado, o advogado repre-senta o Sicoob em nível nacional. Bento Venturim integra a Diretoria Colegiada e preside o conselho  de administração do Fundo Garantidor de Crédito da ins-tituição financeira.

Bravo! izotonAumentar em 22,6% as vendas até o

fim do ano é a expectativa da marca capixaba Cobra D’agua. A empresa apos-ta no crescimento de lojas franque-adas, no número de clientes lojistas e na expansão do mix de produtos. O empresário Lucas Izoton anunciou ampliação para o licenciamento de marcas para os pró-ximos anos. Com a estratégia, espera aumentar em 500% a movimentação da empresa, até 2015. Ele quer trabalhar com cerca de 30 novas indústrias de produtos licen-ciados que vão de calçados, óculos e bonés, até bicicletas. O empresário Izoton é também presidente da Findes – Federação das Indústrias do Espírito Santo.

Exame precisoA Central Sorológica de Vitória (CSV) –

laboratório com atuação no Espírito Santo e dirigido por Sílvio Foletto – co-memora a realização inédita de 100 mil exames de alta complexidade executados por mês, com tec-nologia de ponta encontrada ape-nas nos grandes centros de pesqui-sa e análise fora do país. A empre-sa já conquistou 50% do mercado no Estado. Todos esses números facilitam a percepção das empresas multinacionais desta área para os serviços prestados pela CSV, um dos degraus almejados pela empresa.

Mercado aquecidoo ano de 2011 começou bem para a

Città Engenharia, uma das maiores construtoras do ES. A empresa traba-lha em ritmo acelerado para lançar mais dois empreendimentos no município de Vila Velha, localizado na Grande Vitó-ria. Na praia de Itaparica será lançado o Residencial Al Mare. Em Santa Paula, ao lado da Barra do Jucu e da Reserva de Jacarenema, a Città lança o Villagio Santa Paula. Segundo Roberto Puppim, diretor da companhia, ambos os em-preendimentos serão lançados ainda no primeiro semestre.

Villaggio D’italiaÉ o mais novo e luxuoso empreendi-

mento imobiliário lançado na região da Pedra Azul, nas montanhas do Espí-rito Santo, idealizado pelo empresário Lucas Izoton, que inaugurou no últi-mo final de semana de março os dois primeiros pontos do Villaggio d’Italia Re-sidential, SPA & Resort. Foram entregues o Trevo Rodoviário, que é um dos mais modernos e seguros do Brasil. Dá acesso ao Villaggio e o Pórtico de Entrada, uma inspiração do Arco de Constantino que se encontra em Roma, Itália, próximo ao Coliseu, e demonstra a grandiosidade do empreendimento. Uma homenagem a todos os descendentes de italianos que ajudaram a colonizar o estado e deram a identidade capixaba.

espíritosantoDídimoEf fgen

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A Milano para os chinesesA invasão chinesa em Milão cres-

ce a olhos vistos, puxadinhos ou não. Em um ano, a despesa média de um chinês em viagem de turismo, ou melhor, de shopping, na capital in-ternacional da moda e do design, é de 870 euros. O povo de Mao bateu os japoneses e os russos, ex-líderes do consumo desenfreado. No ano passado, 200 mil chineses que passa-ram pela cidade deixaram um rastro de lojistas felizes. Nas joalherias, as notinhas chegaram a 6 mil euros. Já nas boutiques, os gastos giraram em torno dos 800 euros. Os dados são do Centro de Estudos da Fundação Itá-lia China. Eles passeiam em Veneza, visitam Roma, mas abrem a carteira em Milão.

Guerra no trânsitoEles estão por toda a parte. Lavam os

vidros dos carros parados nos sinais de trânsito da cidade. Quem pensava que este tipo de trabalho acontecia apenas no terceiro mundo, enganou-se. Mas, numa cidade do primeiro mundo, rica, ele dura pouco. As autoridades decretaram guer-ra aos lavadores de carros. Em apenas 15 dias foram identificadas 300 pessoas, algumas foram multadas em 500 euros. E não tem choro. Caso o cidadão – clan-destino e sem documento, na maior parte das vezes – não possa pagar, as autorida-des confiscam o que ele tiver em casa, ou no abrigo no qual dorme.

Cemitério urbanoos banquinhos modernos nas praças re-

modeladas, após terem sido transfor-madas em estacionamentos subterrâneos, não agradam os habitantes. Na praça Da-teo, os velhos bancos em madeira foram substituídos por retângulos de cimento armado, com acabamento em granito. Os moradores, supersticiosos, não sentam porque eles lembram as lápides dos mor-tos. Um visual de cemitério numa praci-nha na qual a vida deveria escorrer livre e leve não se enquadra nos anseios dos vizi-nhos e passantes. Resultado: os morado-res se preparam para uma batalha civil em prol de uma reforma geral na praça.

Alberto Giacometti foi um dos maiores escultores do século passado. As suas

figuras filiformes encantam o mundo inteiro. Por uma delas, um colecionador pagou 74 milhões de euros. Pois bem, os visitantes que estiverem aqui em Milão poderão admirar, no museu Gallarate, a mostra “L’anima del 900”, com cerca de 50 peças, entre esculturas, pinturas e dese-

nhos, sendo 15 inéditas. As obras chegam do acervo da família e de dois coleciona-dores privados de Milão. E no museu em Lecco, uma escultura de Giacometti está exposta ao lado de um bronze etrusco do ano III a.C. Incrível é a semelhança entre as peças, à distância de dois milênios. Para maiores informações, eis os sites: www.museomaga.it e www.museilecco.org.

Giacometti lombardo

Refugiados magrebinoso teto máximo para receber os exilados da

Líbia e da Tunísia é de 3.300 pessoas, segundo o governador da Lombardia, Ro-berto Formigoni. A região se mobiliza para enviar uma equipe de especialistas e avaliar melhor qual ajuda pode ser dada “in loco” e qual é a dimensão do socorro humanitário que deverá ser prestado deste lado do mar Mediterrâneo. Quartéis militares, institui-ções civis e privadas estão sendo analisadas para receber o fluxo de imigrantes “ofi-ciais”, ou seja, aqueles da diáspora provoca-da pela queda de regimes no norte da Áfri-ca. Enquanto isso, os clandestinos errantes de sempre, fugindo da pobreza, continuam a desembarcar na costa do país, que vive uma crise econômica capaz de preocupar os imigrantes já instalados no território.

milãoGui lhermeAquino

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Quer a lenda que o pró-prio Rômulo, fundador e primeiro rei de Roma, tenha instituído na ci-

dade o culto ao fogo. Para manter a tradição, Rômulo teria criado a Or-dem das Vestais – um grupo de seis mulheres virgens escolhidas para habitar em um lugar sagrado no co-ração daquilo que futuramente seria conhecido como área dos foruns imperiais. As vestais tinham como missão manter acesa a chama que queimava dentro da mansão que as abrigava. Após duas décadas fecha-da ao público por conta de trabalhos de restauração, a famosa Casa das Vestais reabre ao público que visita a Cidade Eterna todo os anos.

Nos primórdios do ritual, três ou quatro meninas virgens eram escolhidas para cuidar do fogo. Mais tarde, o número chegou a seis, e assim permaneceu até que o Império decretasse o fim dos ritos pagãos em nome do catolicismo, em 391 d.C., quando o templo foi abandonado pelas últimas vestais que cuidavam da chama e reocu-pado por nobres famílias romanas antes de passar às mãos da Igreja.

O complexo reaberto este ano obedece à planta erguida prova-velmente após o grande incêndio que destruiu Roma em 64. d.C e fora reformada por ocasião de ou-tro incêndio de grandes proporções acontecido em 191. “É mais um local restituído aos turistas e aos roma-nos no centro do antigo Império”, diz Francesco Giro, subsecretário do Ministério dos Bens Culturais.

A Casa das Vestais fica no mesmo complexo arquitetônico abrigado pelo monte Palatino e pe-los Fóruns Imperiais, antigo centro

nevrálgico da capital. O ingresso de visitação inclui a visita ao monte e às ruínas, além do Coliseu. A parte mais avistável é o átrio, hoje uma espécie de gramado retangular a céu aberto que comporta três ba-nheiras cheias de água. Toda a zona é circundada pelas estátuas que sobreviveram à queda do Im-pério, aos saques bárbaros e à posterior dilapidação dos monumentos para venda ou uso dos materiais em basíli-cas, edifícios e estátuas em Roma e mundo afora.

“É um momento que os ita-lianos esperavam há muito. Agora estamos trabalhando para trazer de volta o Circo Massimo’’, comemora Giro. Ele lembra que a obra custou cerca de 19 milhões de euros (in-cluem escavações no próprio Circo Massimo e no Colle Oppio, outros dois importantes centros históricos que passam por reformas). O fi-nanciamento dos trabalhos veio de fontes públicas e privadas. As ves-tais foram escolhidas ao longo dos séculos por somente cinco famílias patrícias romanas, que ainda for-mavam uma base de 20 crianças do sexo feminino, de 6 a 10 anos, para que essas substituíssem as vestais oficiais quando estas cumprissem os 30 anos de duração dos serviços prestados à Roma.

O átrio aberto à visitações era a parte da casa onde as vestais passa-vam a maior parte do dia, apesar de

serem cidadãs livres e poderem ca-minhar na rua quando quisessem. A casa, no entanto, era inviolá-vel – tinha acesso a ela somente o Pontifício Máximo, espécie de “pa-pa” das religiões pagãs romanas. O mais célebre a ocupar o cargo foi o próprio Giulio Cesare antes de se tornar imperador.

As vestais tinham privilégios que poucos cidadãos romanos pos-suíam, menos ainda as mulheres: eram mantidas pelo Estado, únicas romanas que podiam fazer testa-mento, testemunhar na Justiça sem fazer qualquer tipo de jura-mento. Até mesmo os estandartes consulares, símbolos de Roma, eram arriados quando uma vestal passava por eles. Em troca das be-nesses, deveriam manter aceso o fogo e conservar a virgindade por 30 anos, quando eram então livres para deixar o templo.

Deslizes não eram tolerados: caso perdesse a virgindade, uma vestal era obrigatoriamente as-sassinada de modo cruel: eram amarradas, vestidas com roupas fú-nebres e trancadas dentro de uma sepultura com uma pequena lampa-

rina e um fio de comida. Morriam por inanição.

A maior parte das estátuas das vestais que decoravam o templo se perderam ao longo dos séculos, mas algumas ain-da podem ser vistas no local,

colocadas em ordem aleatória, pois não foi possível saber ainda

hoje como eram dispostas na épo-ca antiga.

Virgens expostasMansão onde habitavam as virgens vestais romanas é reaberta. Nela foi conservada o fogo cultuado pelo Império por séculos

Público visita a Casa das Vestais após sua

reabertura

Leandro DemoriDe Roma

turiSmo

69comunitàitaliana | março / abri l 2011

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Foto

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ItalianStyle

Shaula Com design de Stefano Marcato especial para Nasonmoretti, estas lâmpadas de mesa são feitas com vidro de Murano e visam exaltar e mostrar uma face mais moderna deste tradicional vidro italiano. Produto com 18cm de altura e disponível em diversas cores. Preço sob consulta.www.nasonmoretti.com

Verger sobre a mesa O projeto do designer francês Jean-Michel Willemotte, especial para Fratelli Guzzini e intitulado “Un Verger sur la Table’, foi apresentado em Paris e foi projetado para ter uma fruta para cada pote de plástico, que com a sua forma para servir a fruta, lembra uma árvore frutífera natural. Preço sob consulta.www.fratelliguzzini.com

Confira algumas novidades das maison italianas do design apresentadas na última edição da feira Maison et Objetc, que ocorreu em Paris em meados de fevereiro.

Le soleil Com design do espanhol Vicente Garcia Jimenez, esta lâmpada suspensa, graças a um policarbonato especial do qual é feita, cria um efeito luminoso difuso sobre o chão e feixes de luz para o alto. As bordas irregulares criam formas diferentes de acordo com o ponto de vista do observador. Disponível em três cores.Preço sob consulta.www.foscarini.it

Cosmic Landscape Lâmpada na versão de mesa do designer Ross Lovegrove. “A ideia foi criar uma espuma de luz tridimensional”. Também na versão de chão e suspensa. Preço sob consulta. www.artemide.com

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IlLettoreRacconta

São Paulo Capograssi

“T ão importante quanto viver intensamente o seu presente, é conhecer bem o seu passado para que ele não se perca no seu futuro!”. Não encontrei frase melhor que esta para iniciar este resumo da história de

meus avós, que assim como milhares de outros imigrantes, por força do destino, cruzaram o oceano e criaram raízes no Brasil.

Nascido em 1918, em Capograssi, provín-cia de Salerno, Sul da Itália, meu avó Ernesto Sevo cresceu em meio a festas e músicas, regadas a bandolim, instrumento que toca até hoje, aos 92 anos. Em 1936, se alistou no exército. Foi servir na guerra em 1939 e acabou sendo enviado para a França, um fato lamentado por todos. Mas, se não fosse isso, não teria tido a sorte de encontrar Pauline Maraninchi – uma jovem francesa, nascida em Toulon, que passou grande parte da infância na Córsega, até a guerra começar – com a qual começou a namorar, inicialmente escondido, pelo fato de não serem da mesma terra e, para a família dela, ele ser considerado inimigo.

Foi amor à primeira vista, acontecido numa rua de Paris, e nenhum dos dois fazia ideia que logo teriam de escolher entre ficar juntos enfren-tando a resistência dos pais dela, ou sair do país, tendo maior liberdade para prosseguir com o único fato agradável que a guerra parecia ter pro-porcionado. E assim aconteceu.

Uma trajetória que se oficializou em 1945, ainda na França mas que, na tentativa de escapar de alguma possível prisão, por ser considerado inimi-go da nação, meu avô mentiu em seus dados de origem. Se, por um lado, isto

facilitou para regularizar sua relação com minha avó, também dificultou a sua situação quando foi convocado para uma suposta troca de docu-

mentos, que acarretou em sua prisão e maior complicação. Daí em diante foi campo de concentração, uma inven-

tada operação que ele simulou para evitar a prisão, a chegada dos americanos aumentando a tensão e minha

avó mudando seu ritmo de vida para ajudar o marido escapar, em tentativas frustradas que se estenderam até o fim da guerra e abriram uma grande possibilidade de mudança de país para começarem a viver uma nova vida.

Uma vida iniciada junto à reconstrução das cidades, à procura por familiares que sumiram naqueles momentos, colhendo as tristes notícias de mortes e as alegrias do nascimento dos dois primeiros filhos (Henri e Ma-rie Josè), somado aos preparativos para ir à Itália já em 1948.

Chegaram à Itália em meio a festas dos parentes de meu avô e tiveram uma fácil adaptação. Local onde não ficaram por muito tempo, pois um irmão de meu avô que já estava no Brasil, fez um convite ao casal para vir para cá, pois o país oferecia boas oportunidades de trabalho para quem acabara de passar por uma guerra e estava arrasado. O que não era o caso deles.

Mesmo assim, vieram em 1951 e por conta da terceira gravidez, Pau-line passou muito mal na viagem de navio, aumentando o pressentimento de que não ha-via tomado a decisão certa. A primeira visão do Brasil não foi boa, chegando ao porto sob um tempo muito ruim, mas com a esperança que tudo iria melhorar.

Promessas não cumpridas, assim co-mo as impressões que não mudaram e só pioraram. Com a difícil adaptação, mesmo com a chegada do novo filho (João Er-nesto) e as novas preocupações com o não cumprimento da palavra por partes dos parentes, enquanto iam dando um jeito de sobreviver no bairro do Belenzinho, plantando uma árvore, vendo a mesma, e os filhos, crescerem e a distância da Itália separada pelo Atlântico, ainda mais aumentar.

O casal adquiriu um bar. A vontade de voltar para a França ou mesmo a Itália só aumentava e não fosse a ajuda de alguns amigos en-contrados por aqui, teria sido difícil suportar. Até que um dia, em 1978,

Pauline voltou para rever a família, Ernesto, por opção, nunca mais, e na volta da esposa, a vida seguiu até os dias de hoje, passando por momentos bons e ruins.

A morte de familiares, incluindo a de um filho, só serviu para mostrar que “a vida na época da guerra não foi tão ruim assim!” E não fosse a chegada dos netos, a visita de alguns parentes de lá para cá, a minha ida até a Itália (por duas vezes) para estreitar os laços e as lembranças ma-ravilhosas daquilo que passou, tudo poderia ter ficado ainda pior.

Usando o conceito da frase inicial deste texto, resolvi eternizar a história de meus avós. “Uma árvore, três filhos e um livro” é o título da obra que conta a história real de um amor

nascido em meio a Segunda Guerra, numa narrativa, sem cortes, de momentos alegres e sofridos, que se assemelha a biografia de muitos imigrantes que partiram pelo mun-do, levando a eterna saudade do lugar aonde nasceram e passaram os melhores momentos de suas vidas.

Eu acabei fazendo minha cidada-nia francesa, pois a italiana é

muito demorada. Já estive por duas vezes na Itália, lugar pelo qual tenho uma forte ligação e espero morar um dia, por algum tempo, por considerar um lugar divi-namente iluminado.

Fernando Ferrari,Belenzinho, São Paulo

Mande sua história com material fotográfico para:

[email protected]

Ernesto (soldado) e

Pauline (Comunhão)

Fernando

março / abri l 2011 | comunitàitaliana72

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Receita do Cappelletti alla RomanescaPorção para quatro pessoas

Ingredientes: 1 pacote de cappelletti fresco ou seco; 150 g de manteiga sem sal; 250g de ervilhas; 150 g de presunto cortado em cubo; 150 g de champignons fatiados; 250 g de creme de leite; 50 g de queijo parmesão; 50 g de provolone; 50 g de mussarela fresca.

Modo de preparo: Ferva, numa panela grande, a água com uma pitada de sal grosso. Em seguida, adicione o cap-pelletti e deixe cozinhar por até 6 minutos, dependendo do tipo da massa. Em uma frigideira, derrete-se a man-teiga, adiciona o creme de leite (não ferver), em seguida, o presunto em cubos, os champignons picados e os queijos ralados. Mexa entre 3 e 5 minutos. Por final, adicione o cappelletti, já cozido na frigideira, e cozinhe por mais al-guns minutos. Tempere com sal de acordo com o gosto.

saporid’italiaRobsonBer tol ino

MarcanteQuem frequenta o Il Nuovo Sogno di Anarello é

atendido por um “Cavaliere” que inspirou novelas e deu nome à própria rua do restaurante

Serviço: Rua Sogno di Anarello, 58 - Vila Mariana, SP Tel.: 11 5575-4266

São Paulo - Um dos responsáveis por definir a gastrono-mia tradicional da Itália no país, o chef Giovanni Bruno está à frente de quase toda a genealogia dos restauran-tes da capital paulista. Sob a sua batuta, está o já adulto

Il Nuovo Sogno di Anarello, um charmoso e tradicional restau-rante localizado no bairro da Vila Mariana, em São Paulo.

Desde que chegou ao Brasil, em 1954, vindo do comune de Casalbuono, Salerno, Giovanni não parou de produzir e de ter boas ideias. Começou como lavador de pratos no Gigetto e, desde então, idealizou alguns projetos que foram sucesso de crítica e público.

Toda essa dedicação e carinho foram reconhecidos. Giovan-ni ostenta nas paredes de seu agradável restaurante, diversos quadros com fotos e saudações de clientes encantados com a qualidade de sua comida e a cortesia no atendimento. Alguns desses quadros chamam a atenção do frequentador, como o tí-tulo de cidadão honorário da cidade de São Paulo e o título de “cavalieri” concedido pelo governo da Itália aos cidadãos que divulgam a cultura italiana ao redor do mundo.

Giovanni se assume um homem de “sala”, com fortíssimo amor pela cozinha e paixão pela cidade de São Paulo, que o “acolheu como uma mãe”, como gosta de dizer. Criati-vo e empreendedor, ele foi um dos responsáveis por popularizar vá-rios pratos tipicamente italianos, como o cappelletti à romanesca, que foi introduzido no Gigetto, na década de 1950.

— A intenção era agradar a um cliente que havia voltado da Itália e tinha comido algo semelhante por lá. Romanesca é inspirado no fettu-cine à parisiense, feito com creme de leite, presunto cozido, manteiga e champignons — conta ele — A gastronomia em São Paulo mudou muito nos últimos anos. Na cidade é possível encontrar restaurantes de nível internacional. Já não é preciso ir à Itália para fazer uma boa refeição.

O chef é uma espécie de faz tudo do restaurante. Ele recebe a maior parte dos clientes na porta, anota os pedidos, sugere pratos e vinhos e, se tiver inspirado, dá uma canja cantando a música Champagne, de Peppino di Capri.

— O nome do restaurante vem de um apelido que o diretor de teatro, Antunes Filho, me deu. No filme “A Rosa Tatuada” havia um personagem com o nome de Anarello. Minha história já serviu de inspiração para personagens de novelas, como “Os Imigrantes (1982)” e “Vida nova (1988)”, além de programas de televisão e reportagens de jornais e revistas.

A experiência que Giovanni imprime em seu atendimento e qualidade dos pratos faz escola. Seu primeiro negócio no ramo foi na Cantina do Júlio, onde tinha outros três sócios. Em se-guida, veio um restaurante da rua 13 de Maio, que pegou fogo, logo depois criou o Giovanni Bruno, da rua Martinho Prado, que existe até hoje. “Também tive outros restaurantes na cida-de, sempre de cozinha italiana tradicional”.

Com mais de 25 anos em atividade o Il Nuovo Sogno di Ana-rello, fica na rua homônima (homenagem do ex-prefeito Jânio Quadros) e funciona somente à noite e nos dias de semana.

— Procuro agradar a todos, de acordo com o que os clientes quiserem comer. A intenção é que todos se sintam integrados à nossa família — diz.

Giovanni Bruno, dono do restaurante Il Nuovo Sogno di Anarello, com sua famosa receita “Cappelletti alla Romanesca”

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Rieti, umbigo da itália

Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim?N atale con i tuoi, Pasqua con chi vuoi. Assim diz o ditado

italiano. Ou seja, o Natal deve ser passado com a família e a Páscoa com quem você bem entender.

O provérbio tem suas razões. Afinal, a Páscoa, no hemisfério norte, cai na primavera. É o momento perfeito para fazer um passeio bate e volta num lugar fora da cidade, como manda a tradição, a famosa scampagnata. Enquanto no Brasil o feriado é na sexta-feira, a Sexta-Feira Santa, dia da Paixão, Crucificação e morte de Cristo, na Itália o dia do feriado é na segunda-feira, chamada Lunedì dell’Angelo. Não é nem o dia da morte de Cristo, nem da Última Ceia, nem da Ressurreição, mas o dia em que um anjo, do sepulcro vazio, dirige a primeira mensagem às mulheres que ali chegam para completar a sepultura do corpo de Jesus. Ele diz a elas: «Não vos assusteis!».… «Buscais a Jesus de Nazaré, o Crucificado Ressuscitou, não está aqui» (Mc. 16, 6) Apesar de ser um feriado teoricamente religioso, na prática é um momento de fazer um passeio ao ar livre e

aproveitar o primeiro feriado primaveril. E nada como o bom e velho amigo piquenique. Geralmente o menu do piquenique pode ser igual ao do domingo de Páscoa: Pizza di Pasqua, que é um pão em forma de panettone, mas que pode ser salgado com gosto de queijo ou doce; corallina, uma espécie de salame; ovos cozidos. E acrescente o que a gulodice sugerir. E para finalizar, a famosa Colomba, “prima” do panettone. Pena que, em março - inicio de abril, o tempo ainda é incerto e, às vezes, o piquenique acaba sendo Déjeuner sur l’herbe mouillée, um almoço na grama molhada. Mas quem sai na chuva é pra se molhar. Outra diferença cultural: no Brasil, os ovos de Páscoa vêm recheados com bombons. O chocolate da “casca” do ovo pode ser bom, mas o melhor é o que tem dentro. A Kopenhagen, sempre presente nos meus sonhos gulosos, recheia os ovos até com marshmallow, afinal, já que é para engordar, que seja em alto estilo. Na Itália, o ovo pode ser gigante, de meio metro de circunferência, mas não vem com nenhum bombom dentro. Vem com uma “surpresa”, que é uma lembrancinha: um porta chave, um soldadinho de chumbo, uma miniatura de dinossauro de plástico. Sinceramente, prefiro uma dúzia de chocolatinhos. Existe também o costume, hoje mais raro, da parte de homens galantes (em fase de extinção), de colocar uma jóia dentro do ovo. Um amigo me contou que, uma vez, seu primo tinha dado um chocolate para a namorada com um anel de ouro dentro. Ela não abriu imediatamente e ele quis deixar a surpresa para ela descobrir depois. Quando ele foi embora, ela, que não gostava de chocolate amargo, deu o ovo para o sobrinho. Que ao abrir secretamente, achou um anel pouco interessante e o jogou no lixo. E comeu o chocolate. O anel foi pras cucuias e me parece, o namoro também. Quem mandou não gostar de chocolate amargo?

Você sabe exatamente onde fica o centro da Itália? Ora, elementar, meu caro Watson. Na simpática cidadezinha de Rieti, famosa também pela sua montanha nos arredores, o

monte Terminillo, cujo cume fica branquinho no inverno e que é um ótimo lugar para esquiar. Fazia parte do território onde morava o antigo povo dos sabinos.

Rieti fica a uns 70 km a nordeste de Roma, pegando a antiga Via Salaria. Na graciosa praça de San Rufo, há um monumento em mármore que diz “Umbilicus Italiae”, o centro geográfico do bel paese, de acordo com a tradição. Até o grande poeta Virgilio havia feito tal afirmação sobre Rieti em seu poema épico, Eneide.

la gente, il postoClaudiaMonteiroDeCastro

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Como seria bom se a natureza tivesse mais verde e a cidade tivesse mais vida, com menos poluição e congestionamentos. Andar de ônibus ajuda a diminuir a emissão de poluentes nocivos à saúde, promove a redução de veículos nas ruas e rodovias e estimula a harmonia na sociedade. Andar de ônibus é bom, seguro e confortável. É bom para todos, inclusive você!

www.marcopolo.com.br

Come sarebbe bello se la natura avesse più verde e la città più vita, con meno inquinamento e ingorghi. Spostarsi in autobus aiuta a diminuire l’emissione di sostanze inquinanti nocive alla salute, promuove la riduzione di veicoli nelle strade e autostrade e stimola l’armonia nella società. Spostarsi in autobus è buono, sicuro e comodo. È buono per tutti, compreso te!

A V V I C I N A N D O P E R S O N E

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