INVENTÁRIO DAS EMISSÕES DE POLUENTES … · inventário da Região Norte [Borrego e t al., 2003],...
Transcript of INVENTÁRIO DAS EMISSÕES DE POLUENTES … · inventário da Região Norte [Borrego e t al., 2003],...
Departamento de Ambiente e Ordenamento
Universidade de Aveiro
INVENTÁRIO DAS EMISSÕES DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS
DA REGIÃO NORTE
Relatório R3 AMB – QA – 06/2008
Outubro 2008
Equipa técnica
DAO - Departamento de Ambiente e Ordenamento / Universidade de Aveiro
Carlos Borrego, Professor Catedrático e Director do IDAD
Ana Isabel Miranda, Professora Associada
Alexandra Monteiro, Doutora em Ciências Aplicadas ao Ambiente
Oxana Tchepel, Doutora em Ciências Aplicadas ao Ambiente
Helena Martins, Mestre em Economia e Politica da Energia do Ambiente
Richard Tavares, Licenciado em Engenharia do Ambiente
Lina Gonçalves, Licenciada em Engenharia do Ambiente
Patrícia Barbedo, Licenciada em Engenharia do Ambiente
Agradecimentos
Agradece-se o apoio da Agência Portuguesa do Ambiente, das
Estradas de Portugal, da Câmara Municipal do Porto e da Direcção
Regional de Economia do Norte, disponibilizando informação e
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 1
prestando os esclarecimentos necessários para a elaboração do
presente documento.
ÍNDICE
NOTA INTRODUTÓRIA...............................................................................................1
CAPÍTULO I – DESENVOLVIMENTO DO INVENTÁRIO "TOP-DOWN"
1.1. INTRODUÇÃO............................................................................................5
1.2. METODOLOGIA .........................................................................................5
1.3. RESULTADOS ............................................................................................11
1.3.1. ANÁLISE DA REPRESENTATIVIDADE REGIONAL ..................................... 12
1.3.2. ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS EMISSÕES ........................... 15
CAPÍTULO 2 – DESENVOLVIMENTO DO INVENTÁRIO "BOTTOM-UP"
2.1. INTRODUÇÃO..........................................................................................29
2.2. EMISSÕES DO TRÁFEGO..........................................................................31
2.2.1. METODOLOGIA ............................................................................... 32
- O MODELO TREM
- APLICAÇÃO DO MODELO TREM
2.2.2. ANÁLISE DE RESULTADOS .................................................................. 44
2.3. COMBUSTÃO RESIDENCIAL ....................................................................53
2.3.1. METODOLOGIA ............................................................................... 54
- DETERMINAÇÃO DO CONSUMO DE LENHA
- ESTIMATIVA DAS EMISSÕES DE PARTÍCULAS
2.3.2. ANÁLISE DE RESULTADOS .................................................................. 57
2.4 EMISSÕES INDUSTRIAIS.............................................................................61
2.4.1. GRANDES FONTES PONTUAIS ............................................................. 61
2.4.2. FONTES DE EMISSÃO COM MONITORIZAÇÃO PONTUAL ........................ 64
2.5. EMISSÕES BIOGÉNICAS ..........................................................................71
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 1
2.5.1. METODOLOGIA ............................................................................... 71
2.5.2. ANÁLISE DE RESULTADOS .................................................................. 74
COMENTÁRIOS FINAIS............................................................................................77
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................83
ANEXOS
ANEXO I – MAPAS REPRESENTATIVOS DAS EMISSÕES DE NOX NA REGIÃO NORTE POR
SECTOR DE ACTIVIDADE
ANEXO II – MAPAS REPRESENTATIVOS DAS EMISSÕES DE SO2 NA REGIÃO NORTE POR
SECTOR DE ACTIVIDADE
ANEXO III – MAPAS REPRESENTATIVOS DAS EMISSÕES DE COVNM NA REGIÃO NORTE
POR SECTOR DE ACTIVIDADE
ANEXO IV – MAPAS REPRESENTATIVOS DAS EMISSÕES DE CO NA REGIÃO NORTE POR
SECTOR DE ACTIVIDADE
ANEXO V – MAPAS REPRESENTATIVOS DAS EMISSÕES DE PM10 NA REGIÃO NORTE POR
SECTOR DE ACTIVIDADE
ANEXO VI – MAPAS REPRESENTATIVOS DAS EMISSÕES DE PM2.5 NA REGIÃO NORTE POR
SECTOR DE ACTIVIDADE
ANEXO VII – MAPAS REPRESENTATIVOS DAS EMISSÕES DE NH3 NA REGIÃO NORTE POR
SECTOR DE ACTIVIDADE
ANEXO VIII – FACTORES DE EMISSÃO PARA LAREIRAS
ANEXO IX – INQUÉRITO RELATIVO À COMBUSTÃO RESIDENCIAL E RESPECTIVOS DADOS
OBTIDOS
ANEXO X – EMISSÕES TOTAIS DE PARTÍCULAS PROVENIENTES DA COMBUSTÃO
RESIDENCIAL
ANEXO XI – QUANTIFICAÇÃO DO NÚMERO DE EMPRESAS CADASTRADAS NA CCDR-
N POR CÓDIGO DE ACTIVIDADE ECONÓMICA
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 1
ANEXO XII – SECTORES DE ACTIVIDADE MAIS REPRESENTATIVOS NO DOMÍNIO EM
ESTUDO
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 1
NOTA INTRODUTÓRIA
Face à necessidade de elaborar um inventário de emissões, em 2003, a
Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território (DRAOT-Norte),
actual Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte
(CCDR-N), e a Universidade de Aveiro (UA) estabeleceram um protocolo de
colaboração para desenvolvimento de um Inventário de Emissões de
Poluentes Atmosféricos da Região Norte. Na sequência dessa colaboração, e
para dar cumprimento às responsabilidades legais, é necessária a revisão,
actualização e melhoria do inventário desenvolvido, perspectivando uma
maior facilidade e eficácia na utilização da informação.
Um inventário de emissões consiste numa lista da quantidade de poluentes
lançada para a atmosfera, numa determinada área geográfica, e num
determinado período de tempo, por todas as fontes aí localizadas.
O resultado deverá permitir compreender o peso das emissões ao nível
nacional e regional, e identificar as principais fontes emissoras e respectivos
poluentes. Para além disso, e ainda que não se possa estabelecer uma
relação directa entre Qualidade do Ar e Emissões Atmosféricas, os inventários
de emissões constituem dados de entrada indispensáveis aos modelos de
qualidade do ar e ferramentas fundamentais para a gestão da qualidade do
ar, na medida em que permitem identificar os locais onde a intervenção é
mais premente.
Neste enquadramento, e na sequência do inventário anterior [Borrego et al.,
2003], a actualização do Inventário Regional das Emissões Atmosféricas
baseou-se em dois tipos de metodologias:
• “top-down” - onde é realizado o cálculo das emissões, em termos
globais, de uma determinada região, para a qual existem dados
disponíveis e, numa segunda fase, é feita a desagregação espacial
e/ou temporal para maiores resoluções, a partir de factores de
ponderação adaptados ao tipo de fonte poluente em analise;
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 2
• “bottom-up” - onde a estimativa das emissões é feita para uma
área geográfica bem caracterizada, sendo conhecidos todos os
dados necessários para o seu cálculo. Esta abordagem é bastante
precisa, mas pressupõe a disponibilidade de toda a informação
necessária de uma forma detalhada, o que nem sempre é possível.
A descrição e aplicação destas metodologias, para a área de abrangência
da CCDR-N (Figura 1), será apresentada nos Capítulos 1 e 2 respectivamente.
Braga nça Vin hais Chave sMontalegre
Ali jó
Mirand ela
Moga do u ro
Vimio soValpa ços
Fafe
Ar ouca
Bot icas
B ar celos
o
Alf â ndega da
Fé
Parede s Sabro sa
Sernancelhe
Maia
T ab uaço S .
J o ã o
da Pes queira
Vieira do
Minho
Rib eira de
Pen a
Cabecei ras de
Basto
Vale nç a
Freixo de
Esp ada
a Cint a
C aminha
V. N .
Famalic ão
Pen edo no
Gondomar
Ponte da
Barca
Tarouca
Lousada Sant o
Tirs o Felgueiras
Celorico de
Ba sto Vila
do
Conde
a
Oliveira de
AzeméisVale
de
Camb ra
Es pi
S. Jo
Made i
Viana Do Castelo
Miranda Do
Douro
Carrazeda de Ansiães
Mondim de Basto
Moimenta da Beira
Sta. Marta
Régua Armamar
Resende
Terras de Bouro
Esposende
Póvoa de Varzim
Trof a
P.Ferreira
Castelo de Paiva
Marco de
Canavezes
Vila Nova de Cerveira Paredes
de Coura
Porto Litoral Braga Vale do Ave Vale do Sousa Z. Norte Interior Z. Norte Litoral
Zonas e Aglomerações
Valongo Matosinhos
Porto
Vila Nova de Gaia nho
ãoda
Vila Real
Vila da Feira
Macedo d e
Cavale
Vil a Flor
Braga
Cinfães
Murça
Amaran te
B aiã oTorre
de Monco rvo
Melgaço
Pen afie l
Monção
Arcos de
V aldevez
Vila Pou ca
de Aguiar
Vila
Verde
Vila Nova
de Foz
Côa
Ponte de
Lima
Lameg
N
Figura 1. Mapa representativo dos concelhos da Região Norte, enquadrados nas
respectivas Zonas e Aglomerações.
A Região Norte caracteriza-se como uma região estatística (NUTS II), que
compreende os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real e
Bragança, e parte dos distritos de Aveiro, Viseu e Guarda, num total de 86
concelhos. Perfaz uma área de 21 278 km², 24% do Continente, e a
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 3
população ronda os 4.062.402 (37% da população do território de Portugal
Continental), representando 28% do Produto Interno Bruto português [URL 1].
De acordo com as definições constantes do art. 2.º do Decreto-Lei n.º 276/99,
de 23 de Julho, integra duas zonas, Norte Litoral e Norte Interior, e quatro
aglomerações, Vale do Sousa, Vale do Ave, Braga e Porto Litoral,
representadas na Figura 1.
O inventário de emissões desenvolvido segundo as duas metodologias será
discretizado espacialmente para o nível de concelho.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 5
1.1. Introdução
Este capítulo tem como objectivo principal a actualização e melhoria do
inventário da Região Norte [Borrego et al., 2003], através da discretização
espacial dos dados de emissão do inventário nacional, recorrendo à
metodologia “top-down”. Para se proceder a esta desagregação, usaram-se
diversos factores sócio-económicos, seleccionados de acordo com a
disponibilidade de dados e adequação ao caso de estudo.
O desenvolvimento do inventário “top-down” para área de abrangência da
CCDR-N, permitirá uma primeira leitura da distribuição das emissões de
poluentes atmosféricos da região e a identificação das zonas mais críticas e
dos sectores mais significativos ao nível da emissão de poluentes atmosféricos.
Esta abordagem “top-down” possibilitará ainda a análise da importância das
emissões da Região Norte no panorama nacional.
1.2. Metodologia
A comunidade europeia elegeu a metodologia EMEP/CORINAIR como
procedimento para a estimativa das emissões atmosféricas [EMEP/CORINAIR,
2007; URL2]. Adoptada pelo programa EMEP (Co-operative Programme for
Monitoring and Evaluation of the Long-range Transport of Air Pollutants in
Europe), harmoniza os inventários de emissões atmosféricas através da
definição de categorias de poluentes e fontes poluidoras, juntamente com
procedimentos de validação e verificação.
O inventário EMEP/CORINAIR, realizado de acordo com as normas da União
Europeia (UE), disponibiliza informação a nível nacional (NUT I) em 19 países,
desagregada por 11 tipos de actividade e por espécie poluente, de acordo
com a Convenção de Poluição Atmosférica Transfronteiriça a Longas
Distâncias, servindo como base comparativa entre os diferentes países.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 6
Em Portugal, os dados de emissão objecto do Inventário Nacional foram
obtidos a partir desta mesma metodologia EMEP/CORINAIR [IA (2004); URL3]. O
Inventario Nacional, disponibiliza informação discretizada ao nível do concelho
(NUT IV), desagregada por tipo de actividade e espécie poluente. Porém, a
utilização dos dados de emissão em estudos de gestão de qualidade do ar
exige um nível de resolução mais elevado, pelo que surgiu a necessidade de
recorrer a factores de ponderação para uma desagregação espacial para o
nível da freguesia (NUT V).
Os dados utilizados no desenvolvimento da metodologia “top down”, provêm
do Inventário Nacional, e reportam-se ao ano de 2003, uma vez que à data de
elaboração do Inventário Regional., esta era a informação mais recente
disponível.
Os poluentes contemplados no Inventário Nacional e alvo de estudo para o
Inventário de Emissões da Região Norte são: monóxido de carbono (CO),
óxidos de azoto (NOx), óxidos de enxofre (SOx), compostos orgânicos voláteis
não metânicos (COVNM), amoníaco (NH3) e material particulado com
diâmetro aerodinâmico equivalente inferior a 10 µm (PM10) e 2,5 µm (PM2.5).
Em termos de fontes poluidoras, consideraram-se dois tipos: grandes fontes
pontuais (actividades de carácter industrial de grande dimensão) e fontes em
área (actividades poluidoras de carácter difuso e pontual, de menor
dimensão).
As grandes fontes pontuais são inventariadas através de dados de
monitorização em contínuo fornecidos pelas próprias indústrias. Na Figura 2
apresenta-se a localização das 34 grandes fontes emissoras industriais
englobadas na metodologia EMEP/CORINAIR, classificadas de acordo com o
tipo de processo industrial existente: refinarias, centrais térmicas, celuloses,
cimenteiras e produção de produtos químicos. Destacam-se 4 fontes pontuais
na região abrangida pela CCDR-N, nomeadamente a Refinaria de Petróleo de
Matosinhos, a Central Térmica da Turbogás (Gondomar), a Fábrica de Pasta de
Papel de Viana do Castelo e a Siderurgia Nacional (Maia), cujos dados são
objecto de análise do Capítulo 2 (metodologia “bottom up”).
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 7
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
CCDR-N orte
ðððð
ðððð
ðððð ðððð
Legenda:
ðððð Celulose ðððð Central Térmica ðððð Cimenteira ðððð Produtos Químicos ðððð Refinaria ðððð Siderurgia
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððððððð
ðððð
ðððð ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
ðððð
Figura 2. Localização das grandes fontes emissoras englobadas na metodologia
EMEP/CORINAIR, em Portugal Continental e no domínio abrangido pela CCDR-N.
As fontes em área encontram-se divididas num conjunto de actividades
reunidas nas seguintes categorias:
• Combustão residencial e comercial (instalações de combustão
residencial, institucional, comercial, de aquacultura, agricultura, etc.);
• Combustão industrial;
• Processos de produção (processos da indústria do petróleo, aço,
química, madeira, pasta de papel, alimentar, etc.);
• Extracção e distribuição de combustíveis;
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 8
• Uso de solventes (aplicação de tinta, limpeza a seco,
desengorduramento, etc.);
• Transportes rodoviários (veículos ligeiros de passageiros e mercadorias,
pesados de passageiros e mercadorias, motociclos, etc.);
• Outras fontes móveis (veículos militares, caminhos de ferro, actividades
marítimas, tráfego aéreo, agricultura, etc.)
• Tratamento e deposição de resíduos;
• Agricultura.
Dada a necessidade de valores de emissão com o maior nível de
desagregação espacial e temporal possível, foi feita uma desagregação
espacial dos valores por concelho, para o nível de freguesia, para cada
poluente, segundo a metodologia “top-down” (Figura 3), com recurso a
factores de ponderação disponíveis e considerados adequados para cada
uma das actividades poluidoras atrás mencionadas.
NUT IV(CONCELHOS)
NUT V(FREGUESIAS)
DOWN
TOP
Figura 3. Esquema de desagregação das emissões segundo a metodologia “top-down”.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 9
Na Tabela 1 apresentam-se os factores socio-económicos usados no processo
de desagregação [Censos, 2001; DGE, 1995; URL4].
Tabela 1. Factores socio-económicos usados na desagregação das emissões.
ACTIVIDADE DESAGREGAÇÃO
Concelho/Freguesia
Combustão residencial e
comercial
Census 2001 - população activa
total Combustão industrial Census 2001 – pop. sector
secundário Processos de produção Census 2001 – pop. sector
secundário Extracção/distribuição de combustíveis
Census 2001 - população activa
total
Uso de solventes Census 2001 – pop. sector
secundário Transportes rodoviários Census 2001 - população activa
total Outras fontes móveis Census 2001 – pop. sector primário
Tratamento/deposição de
resíduos
Census 2001 – população activa
total Agricultura Census 2001 – pop. sector primário
A metodologia de desagregação “top-down” pode ser traduzida
matematicamente pela seguinte expressão:
k
kpaik
ai S
fEE
×= (Eq. 1)
onde:
a – actividade poluidora
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 10
i - poluente [SOx, NOx, CO, COVNM, NH3, PM10 e PM2.5]
k – unidade espacial [freguesia]
kaiE
- emissão anual do poluente i pela actividade a e por unidade espacial k [t.km-2]
aiE - emissão anual do poluente i pela actividade a [t]
kpf
- factor de desagregação usado para obtenção do nível NUTV (freguesias) para a actividade a
Sk – área da unidade espacial k [km2]
Com o objectivo de agrupar toda a informação contida no inventário, e de
forma a facilitar a sua consulta e utilização, procedeu-se à actualização da
base de dados – PolAr2, desenvolvida durante o inventário anterior [Borrego et
al., 2003]. Concebida em formato Access, esta base de dados, possui uma
estrutura (Figura 4) que permite a desagregação das emissões das várias
actividades atrás mencionada.
POLAR 2
Fontes em área Fontes pontuais
actividades CORINAIR
EXTRACÇÃO DISTRIBUIÇÃO COMBUSTIVEIS
USO SOLVENTES
TRANSPORTE RODOVIARIO
OUTRAS FONTES MOVEIS
AGRICULTURA
FLORESTA TRATAMENTO DEP. RESIDUOS
PROCESSOS PRODUÇÃO
GRANDES FONTES EMISSORAS
-
FONTES PONTUAIS
POLAR 2
Fontes em área Fontes pontuais
actividades CORINAIR
EXTRACÇÃO DISTRIBUIÇÃO COMBUSTIVEIS
USO SOLVENTES
TRANSPORTE RODOVIARIO
OUTRAS FONTES MOVEIS
AGRICULTURA
FLORESTA
PROCESSOS PRODUÇÃO
GRANDES FONTES EMISSORAS
FONTES PONTUAIS
VALORES FORNECIDOS METODOLOGIA TOP-DOWN (FACTORES DESAGREGAÇÃO)
COMBUSTÃO
Figura 4. Esquema de construção e organização da Base de Dados Polar2.
A PolAr2 apresenta-se como uma base de dados de emissões de poluentes
atmosféricos, que se encontra dividida em 2 menus principais de opções:
fontes em área e fontes pontuais. Estes menus principais subdividem-se, por sua
vez, em menus que permitem a escolha da actividade ou da grande fonte
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 11
industrial, respectivamente (Figura 5). Ao aceder ao menu das “Fontes em
Área” será possível seleccionar a actividade pretendida (segundo a
metodologia EMEP/CORINAIR), e em seguida ter acesso aos respectivos dados
de emissão disponíveis em 3 níveis de discretização: distritos, concelhos (NUTIV)
e freguesias (NUTV).
Relativamente às grandes fontes pontuais, é possível aceder, através da
visualização da sua localização geográfica, às características de cada fonte e
às respectivas condições de emissão.
Figura 5. Interface gráfica de acesso a fontes em área e fontes pontuais e um exemplo do tipo de dados fornecidos pela PolAr2.
Dado que esta base de dados possui uma estrutura dinâmica, procedeu-se à
actualização das tabelas de dados de entrada, introduzindo os disponíveis
mais recentes, o que resultou numa actualização imediata dos resultados. A
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 12
PolAr2 permite ainda a exportação dos dados para EXCEL e para um software
de informação geográfica (ArcView).
1.3. Resultados
De forma a sistematizar e tratar os dados de emissões disponíveis seguiram-se
dois tipos de abordagem: uma análise quantitativa, que permite avaliar a
contribuição regional (área da CCDR-N) de cada um dos poluentes em
estudo, por sector de actividade, face à realidade nacional; e uma análise
qualitativa, na qual se pretende averiguar a distribuição espacial desses
mesmos poluentes na região em estudo.
1.3.1. Análise da Representatividade Regional
Na Tabela 2, apresenta-se a comparação entre as emissões em área
estimadas para a Região Norte, por tipo de actividade e poluente, e os valores
das emissões totais nacionais inventariadas. A sua análise permite avaliar a
importância e a contribuição desta região para o total nacional de emissões
atmosféricas.
A Região Norte apresenta um contributo considerável relativamente ao total
nacional de emissão dos vários poluentes quantificados, à excepção do SO2.
Verifica-se que a fracção emitida de cada um dos poluentes por esta região é
significativamente elevada, quando comparada com a sua área territorial
relativa (24% da área total de Portugal Continental) e considerando que
representa 28% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
A Figura 6 complementa e facilita a análise da informação constante da
Tabela 2, mostrando a distribuição das emissões dos poluentes com maior peso
na Região Norte, pelas várias actividades poluentes, para a área de
abrangência da CCDR-N e para Portugal Continental.
Transportes rodoviários, processos de combustão, processos de produção e
uso de solventes, destacam-se como os principais sectores emissores,
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 13
apontando-se a elevada densidade populacional e o intenso tecido industrial
existente na região como principais potenciais causas.
Tabela 2. Comparação entre o total de emissões em área no domínio da CCDR-N e o total nacional, por actividade poluidora e por poluente (dados de 2003).
POLUENTES (ton/ano) COVNM NOx SO2 CO PM10 PM2.5
ACTIVIDADES Total
Nac.
Domínio
CCDR-N
Total
Nac.
Domínio
CCDR-N
Total
Nac.
Domínio
CCDR-N
Total
Nac.
Domínio
CCDR-N
Total
Nac.
Domínio
CCDR-N
Total
Nac.
Domínio
CCDR-N
Combustão Residencial e Comercial
22501 8228 42033 13139 3995 1206 244953 92115 22028 8105 21800 8035
Combustão Industrial
7909 1525 75071 11283 134321 7116 15453 3864 16398 2195 15295 2074
Processos de Produção
16417 4063 904 119 16067 66 1252 52 26500 9177 7680 2156
Extracção/Dist. Combustíveis 24661 8724 444 0 7129 989 711 1 839 0 839 0
Uso de solventes
104014 32028 0 0 0 0 0 0 1685 365 1686 365
Transportes Rodoviários
58475 22876 107321 36871 3681 1293 299801 116197 8509 2859 8503 2857
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 14
Outras fontes móveis
20045 7444 26173 8242 7441 2167 236834 89362 20163 7502 19957 7440
Tratamento e Deposição Resíduos
7009 2564 805 318 536 6 1618 425 305 79 0 0
Agricultura 25971 5007 1871 492 0 0 16077 4223 3244 852 3242 852
TOTAL 287001 92458 254622 70463 173170 12844 816700 306238 99671 31135 79003 23779
% Emissões
CCDR-N 32,2 27,7 7,4 37,5 31,2 30,1
COVNM (ton/ano)
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000
COMBUSTÃO RESIDENCIAL
COMBUSTÃO INDUSTRIAL
PROCESSOS DE PRODUÇÃO
EXTRAÇÃO/DIST. COMBUSTÍVEL
USO SOLVENTES
TRANSPORTES RODOVIÁRIOS
OUTRAS FONTES MÓVEIS
TRATAMENTO DE RESIDUOS
AGRICULTURAtotal regional
total nacional
CO (ton/ano)
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000 350000
COMBUSTÃO RESIDENCIAL
COMBUSTÃO INDUSTRIAL
PROCESSOS DE PRODUÇÃO
EXTRAÇÃO/DIST. COMBUSTÍVEL
USO SOLVENTES
TRANSPORTES RODOVIÁRIOS
OUTRAS FONTES MÓVEIS
TRATAMENTO DE RESIDUOS
AGRICULTURA total regional
total nacional
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 15
NO x (ton/ano)
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000
COMBUSTÃO RESIDENCIAL
COMBUSTÃO INDUSTRIAL
PROCESSOS DE PRODUÇÃO
EXTRAÇÃO/DIST. COMBUSTÍVEL
USO SOLVENTES
TRANSPORTES RODOVIÁRIOS
OUTRAS FONTES MÓVEIS
TRATAMENTO DE RESIDUOS
AGRICULTURAtotal regional
total nacional
PM10 (ton/ano)
0 5000 10000 15000 20000 25000 30000
COMBUSTÃO RESIDENCIAL
COMBUSTÃO INDUSTRIAL
PROCESSOS DE PRODUÇÃO
EXTRAÇÃO/DIST. COMBUSTÍVEL
USO SOLVENTES
TRANSPORTES RODOVIÁRIOS
OUTRAS FONTES MÓVEIS
TRATAMENTO DE RESIDUOS
AGRICULTURA total regional
total nacional
Figura 6. Distribuição das emissões poluentes pelas várias actividades poluidoras, para
a região da CCDR-N e para Portugal Continental.
Pode verificar-se que a nível regional as actividades envolvendo transportes
rodoviários, e também, embora em menor parte, a combustão residencial, são
as principais fontes emissoras de óxidos de azoto (NOx) e monóxido de carbono
(CO).
No que se refere aos compostos orgânicos voláteis (COVNM) a realidade
regional acompanha a tendência nacional: os sectores que mais contribuem
para as emissões deste composto são os que fazem uso de solventes, e os
transportes rodoviários.
Relativamente às partículas, nomeadamente às PM10, evidenciam-se os
processos de produção, outras fontes móveis (que incluem os veículos militares,
caminhos de ferro, actividades marítimas, tráfego aéreo, agricultura, etc.) e
combustão residencial, como as principais fontes emissoras na Região Norte.
1.3.2. Análise da Distribuição Espacial das Emissões
A análise espacial do inventário desagregado ao nível da freguesia, pela
metodologia “top-down”, permite identificar as regiões mais problemáticas em
termos de emissões em área de poluentes atmosféricos.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 16
Nas Figuras 7 a 13 apresentam-se os mapas das emissões totais em área para
cada um dos poluentes inventariados em 2003, na área de influência da
CCDR-N.
COVN M (ton/ano.km2 )
N
0 - 2.52.5 - 55 - 1515 - 150150 - 500 500 - 150 01500 - 30 00
Figura 7. Distribuição espacial das emissões totais de COVNM.
N
NOx ( ton/ano.k m2 )0 - 55 - 10 10 - 1 00100 - 250250 - 500500 - 10001000 - 1500
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 17
Figura 8. Distribuição espacial das emissões totais de NOx
N
SO2 (ton/ano.km2)
0 - 5 5 - 10 10 - 25 25 - 50 50 - 100 100 - 150 150 - 300
Figura 9. Distribuição espacial das emissões totais de SO2.
N
C O ( ton / a no.km2 ) 0 - 8 0 8 0 - 1 6 0 1 60 - 3 0 0 3 00 - 6 0 0 6 00 - 1 2 0 0 1 20 0 - 2 5 0 0 2 50 0 - 5 2 0 0
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 18
Figura 10. Distribuição espacial das emissões totais de CO.
N
P M 1 0 ( t o n /a no . k m2 ) 0 - 10 1 0 - 2 5 2 5 - 5 0 5 0 - 1 0 0 1 0 0 - 2 0 0 2 0 0 - 3 0 0 3 0 0 - 4 0 0
Figura 11. Distribuição espacial das emissões totais de PM10
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 19
N
PM 2.5 (t on/ano.k m2 )0 - 10 10 - 2 020 - 4 040 - 6 060 - 8 080 - 1 60 16 0 - 32 0
Figura 12. Distribuição espacial das emissões totais de PM2.5.
N
N H 3 ( t o n / a n o . k m 2
)
0 - 5 5 - 1 0 1 0 - 2 5 2 5 - 5 0 5 0 - 7 5 7 5 - 1 5 0 1 5 0
- 300
Figura 13. Distribuição espacial das emissões totais de NH3.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 20
Da análise das figuras conclui-se que existem áreas mais problemáticas comuns
aos vários poluentes, nomeadamente a cidade do Porto e área urbana
envolvente e ainda as zonas urbanas e industriais de Braga e Guimarães. Estas
áreas apresentam emissões consideravelmente elevadas, quando
comparadas com os valores totais da região em estudo. Apesar deste quadro
comum, os mapas de emissões para o NH3 apresentam um padrão de
distribuição ligeiramente diferente, reflectindo a importância das emissões da
actividade agrícola no total emitido deste poluente no interior da região.
Comparativamente com os dados do último inventário de emissões
Atmosféricas da Região norte [Borrego et al., 2003], verifica-se uma diminuição
das emissões totais regionais de todos os poluentes para a atmosfera na ordem
dos 17%, mantendo-se no entanto a sua distribuição espacial na região.
Nas Figuras 14 a 22 apresentam-se a distribuição espacial das emissões dos
principais poluentes, para cada uma das diferentes actividades emissoras,
nomeadamente:
• Combustão residencial e comercial – CO;
• Combustão industrial – NOx;
• Processos de produção – PM10;
• Extracção e distribuição de combustíveis – COVNM;
• Uso de solventes – COVNM;
• Transportes rodoviários – CO;
• Outras fontes móveis – CO;
• Tratamento e deposição de resíduos – COVNM;
• Agricultura – NH3.
De forma a identificar as principais actividades poluidoras responsáveis pelas
emissões dos vários poluentes, as Figuras 14 a 22, apresentam alguns exemplos
de mapas dos principais poluentes emitidos por algumas das actividades
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 21
poluidoras. Nos Anexos I a VII apresentam-se totalidade dos mapas de
emissões, de cada um dos poluentes, por sector de actividade.
N
CO (ton /a no .k m2 )0 - 1 1 - 1 515 - 3030 - 6060 - 600600 - 15001500 - 2500
Figura 14. Distribuição espacial das emissões de CO procedentes da Combustão
Residencial.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 22
N
NOx (ton/ano.km2)
0 - 1 1 - 5 5 - 1 5 1 5 - 1 5 0 1 5 0 - 2 5 0 250 - 450 450 - 650
Figura 15. Distribuição espacial das emissões de NOx procedentes da Combustão
Industrial.
N
PM10 (ton / ano.k m2 )
0 - 11 - 1010 - 20 20 - 40 40 - 80 80 - 10 0 80 - 12 0
Figura 16. Distribuição espacial das emissões de PM10 procedentes dos Processos de
Produção.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 23
N
COVNM (ton/ano.km2)
0 - 2.52.5 - 55 - 1515 - 15 0150 - 5 00500 - 1 5001500 - 3000
Figura 17. Distribuição espacial das emissões de COVNM procedentes do sector da
Extracção/Distribuição de Combustíveis.
N
COVNM (ton/ano.km2) 0 - 2.52.5 - 55 - 15 15 - 1 50150 - 500 500 - 150 01500 - 30 00
Figura 18. Distribuição espacial das emissões de COVNM procedentes do Uso de Solventes.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 24
N
CO (to n/a no.k m2 )0 - 1
1 - 1515 - 3030 - 6060 - 60060 0 - 150015 00 - 2500
Figura 19. Distribuição espacial das emissões de CO procedentes do sector dos
Transportes Rodoviários.
N
CO (ton / an o.k m2 ) 0 - 1
1 - 1515 - 3030 - 6060 - 600600 - 1500150 0 - 2500
Figura 20. Distribuição espacial das emissões de CO procedentes do sector Outras
Fontes Móveis.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 25
N
COVNM (ton/ano. km2) 0 - 2.5
2 .5 - 55 - 151 5 - 15 01 5 0 - 5 005 0 0 - 1 5001 5 00 - 3000
Figura 21. Distribuição espacial das emissões de COVNM procedentes do Tratamento
de Resíduos.
N
NH3 (ton/ano.km2) 0 - 11 - 55 - 101 0 - 252 5 - 505 0 - 1001 00 - 250
Figura 22. Distribuição espacial das emissões de NH3 procedentes do sector da
Agricultura.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 26
Tal como já verificado nos mapas das emissões totais, é notória a presença de
áreas particularmente afectadas por todas as actividades antropogénicas
(com a excepção da Agricultura): uma junto à costa, coincidente em parte
com a região metropolitana do Porto, e outra envolvendo a zona urbana e
industrial de Braga e Guimarães.
No caso das emissões provenientes do sector agrícola (Figura 22), são as áreas
mais interiores as principais afectadas, onde a urbanização é muito inferior e a
agricultura é um sector dominante.
Conclui-se que os sectores que mais contribuem as emissões atmosféricas, nas
áreas identificadas como mais problemáticas são: o sector da indústria e
serviços, e das fontes móveis.
Para uma melhor análise do peso e importância destas áreas, em termos
regionais, foram seleccionados e analisados 10, dos 93 concelhos sob a alçada
da CCDR-N, com emissões mais elevadas (Grupo 10+), designadamente:
Braga, Feira, Gondomar, Valongo, Maia, Matosinhos, Porto, Vila Nova de
Famalicão e Vila Nova de Gaia (Figura 23).
Na Tabela 3 são apresentados os totais emitidos para cada um dos concelhos
supracitados e o seu peso face ao total nacional.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 27
Bra ganç aVi nh a i sCh a ves
Montalegr e
Alijó
Mira n dela
Mogadouro
VimiosoValpaç os
Fa fe
A rouc a
Boti cas
Barcel os
V il a Re a l
Vila da
Fei ra
Mac edo de
Cavale
Vila Flor
Br ag a
C i nfães
Mur ça
Ama r ante
Baião
T or r e de
Monco r v o
M el ga ço
P e n afiel
Monç ão
Ar cos d e
Valdevez
Vila Pou ca
de A guiar
Vi la
Ver d e
Vila Nova
de Foz
Côa
Ponte de
Lima
Lameg o
Al fânde ga da
Fé
aredes
Sabrosa
Sernanc el he
M aia
Tabuaç oS.
Joã o
da Pe squeir a
V ie ira do
Mi nho
Ribeir a de
P ena
Cabec eir a s d e
B as to
Valença
Freixo de
Espada
a Cint a
Cami nha
V. N .
Famali cão
Penedono
Gondoma r
Ponte da
B arca
Tarouc a
Lous ada
Santo T ir s o Felguei ras
Celo r ico de
Bas toVila
do
Co n de
Vila N ov a
de Gaia
Ol iv ei r a d e
Azem éis
Vale de
C ambra
Porto
E sp i n h o
S. J oão
d a
M adei
V ila Nova
d e C er veira Par e d e s
d e Co u ra
V i ana do
Cas tel o
Esposende
Miranda do
Douro
Carr azed a de
Ansi ãe s
M o i m ent a da
Bei r a
Res end e Ca stelo
de Pa i va
Mat osinhos
Mo n d im de
Basto
T er ra s de
Bou r o
Amare sPóv oa
de
La nhoso
G u imarãesP ó vo a
de
Varzim
Tr ofa
ValongoM arco
de C an avezes
Ar m amar
R égua
Sta. M ar ta
Mesão Frio
Paços e
Ferre i r a
Figura 23. Concelhos identificados como maiores emissões atmosféricas, relativamente aos principais poluentes (SO2, NOx, COVNM, CO, PM10).
Tabela 3. Emissões (em área) dos principais concelhos poluidores da CCDR-N e o seu peso em termos do total da área regional (dados de 2003).
Emissões em área (ton/ano, ano 2003)
Concelhos NOx SO2 COVNM CO PM10 Área (km2)
% Área
Concelho
Matosinhos 5752 1900 13005 19319 1662 62,3 0,29
V. N. Gaia 4144 627 7654 25882 2288 168,70 0,79
Porto 4160 556 5600 24302 2114 41,66 0,20
Gondomar 4762 262 3307 14647 1207 133,26 0,63
Guimarães 2619 1348 3210 14498 1391 242,85 1,14
Sta Mª da Feira 2502 827 4298 12044 1672 213,45 1,00
Braga 2273 310 3143 13841 1217 183,51 0,86
V. N. Famalicão
2604 1456 3128 11423 1172 201,85 0,95
Maia 2619 288 2633 11821 1000 83,70 0,39
Barcelos 1828 358 2264 8707 961 378,70 1,78
Total Grupo 10+
33263 7932 48242 156484 14684 1709,98
Total Regional 70463 12844 92458 306238 31135 21286,37
% Grupo 10+ 47,21 61,76 52,18 51,10 47,16 8,03
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 28
A Tabela 3 permite aferir a representatividade destes concelhos no painel
regional das emissões atmosféricas. Verifica-se que, em média, a percentagem
relativa a cada um dos poluentes é cerca de 50% do total emitido na Região
Norte. Este peso é tanto mais elevado quando comparado com a fracção de
área ocupada por estes concelhos no território regional, aproximadamente 8%
da área da Região Norte, e população afecta, 29% do total nacional.
O poluente com maior peso relativo nesta região é o SO2, emitido
essencialmente pela combustão industrial. Os concelhos mais críticos em
termos de emissões deste poluente, fazem parte das aglomerações Porto Litoral
e Vale do Ave: Matosinhos, Guimarães e Vila Nova de Famalicão. Os COVNM
emitidos pelo Grupo 10+, representam também mais de 50% da Região Norte,
estando afectos sobretudo ao uso de solventes e ao sector dos transportes
rodoviários. O sector dos transportes rodoviários é ainda responsável pela
relevância das emissões de CO e NOx. Finalmente, o sector que mais contribui
para as emissões de material particulado é o da combustão residencial.
Após uma análise comparativa das emissões, por poluente, entre os anos 2001
e 2003 (Tabela 4), observa-se que, para os poluentes comuns aos dois
inventários, houve uma diminuição das emissões totais a nível regional. Esta
redução deve-se, provavelmente, à adopção de tecnologias menos poluentes
por parte dos sectores anteriormente mencionados.
Tabela 4. Análise comparativa das emissões totais, por poluente, na área de
abrangência da CCDR-N, para os anos 2001 e 2003.
Emissões em área (ton/ano)
ANO NOx SO2 COVNM CO
2001 89153 15196 116469 310117
2003 70463 12844 92458 306238
REDUÇÃO REDUÇÃO REDUÇÃO REDUÇÃO % -21,0 -15,5 -20,6 -1,3
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 29
A Tabela 5, que apresenta as emissões totais para as Aglomerações da Região
Norte.
Tabela 5. Emissões totais nas Aglomerações da Região Norte.
Emissões em área (ton/ano, ano 2003)
Aglomerações NOx SO2 COVNM CO PM10
Braga 2525,99 385,41 3419,51 14976,45 1346,35
Vale do Sousa 3070,75 317,56 3981,99 17423,54 1551,41
Vale do Ave 7654,72 3424,97 9264,34 37718,18 3766,61
Porto Litoral 30945,05 5617,39 44436,99 143224,76 13097,80
Verifica-se que as emissões atmosféricas totais, para todos os poluentes
considerados, são mais relevantes nas Aglomerações de Vale do Ave e Porto
Litoral. Este facto vem confirmar a análise efectuada anteriormente, uma vez
que os concelhos que mais contribuem a nível regional, para cada um dos
poluentes, pertencem a estas duas aglomerações.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 29
2.1. Introdução
Verificou-se, desde 2003, ano da última actualização do Inventario Regional
[Borrego et al., 2003], um avanço no que respeita à publicação de legislação
no campo das emissões atmosféricas. Este avanço, aliado ao aumento do
parque automóvel em Portugal, ao crescimento da indústria e à adopção de
novas tecnologias, bem como ao reforço da fiscalização, levou a alterações
consideráveis no que se refere às emissões de poluentes para atmosfera.
Neste sentido, o presente estudo visa compilar toda a informação sectorial
disponível até 2007, com o objectivo de obter um Inventário Regional mais
completo, detalhado e actual, e disponibilizando a informação recolhida de
forma mais acessível.
Assim sendo, para além da abordagem “top-down”, já descrita e
apresentada, foi desenvolvida e aplicada uma metodologia “bottom-up”
para os sectores de actividade mais críticos em termos de emissões para a
atmosfera, nomeadamente: tráfego rodoviário, combustão residencial,
indústria e ainda para as emissões biogénicas.
Esta metodologia esta organizada de acordo com os seguintes etapas:
I. Planificação
- Definição de áreas de interesse, ano de referência, resolução
temporal, poluentes.
II. Recolha de dados
- Contactos com diferentes entidades de acordo com cada sector
em análise e informação disponível (Direcção Regional da
Economia do Norte, Estradas de Portugal, Câmara Municipal do
Porto, Agência Portuguesa do Ambiente, etc.);
- Realização de inquéritos no âmbito da combustão residencial;
- Identificação e selecção de vias de tráfego e recolha de valores
de fluxos de tráfego relativos a estas vias;
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 30
- Utilização dos dados de autocontrolo reportados pelas empresas à
CCDR-N.
III. Análise da informação recolhida e elaboração do relatório de
inventário
- Gestão e compilação de dados;
- Utilização do modelo de emissões de tráfego automóvel TREM – UA;
- Cálculo das emissões;
- Publicação de resultados.
O inventário cobriu toda a Região Norte, focalizando-se nos dados de base
disponíveis mais recentes e englobando os mesmos poluentes definidos para
o capítulo anterior. O ano de referencia dos dados utilizados varia com o
sector de actividade em estudo.
Nas secções seguintes descreve-se, em detalhe, a metodologia adoptada,
bem como os resultados, por sector de actividade: tráfego rodoviário,
combustão residencial, indústria e emissões biogénicas.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 31
2.2. EMISSÕES DO TRÁFEGO
O tráfego rodoviário é responsável por grande parte das emissões
antropogénicas, constituindo uma das maiores fontes de poluição
atmosférica, mais notória em áreas urbanas onde a situação é agravada pelo
facto da população estar exposta aos poluentes emitidos. As estratégias de
controlo e redução de emissões de poluentes atmosféricos são fulcrais, uma
vez que os níveis de concentração de poluentes em muitas das áreas urbanas
na Europa, nomeadamente em Portugal, excedem os limites de qualidade do
ar estabelecidos pela legislação.
Do ponto de vista ambiental, os transportes contribuem para conhecidos
problemas de poluição atmosférica, tais como a acidificação, a eutrofização e
o aumento das concentrações de ozono troposférico. Na Europa, o transporte
urbano contribui, em média, com mais de metade das emissões totais de óxidos
de azoto (NOx) e partículas (PM), e com cerca de 35% das emissões totais de
compostos orgânicos voláteis (COV) [ECMT, 2001].
O tráfego rodoviário é responsável por cerca de noventa por cento do total de
emissões de monóxido de carbono (CO) em áreas urbanas [ECMT, 2001]. A
densidade do tráfego, os congestionamentos, o número de veículos a gasolina
e os sistemas de ignição a frio, são os principais responsáveis pelo aumento das
emissões de CO dentro da cidade. A concentração deste poluente em valores
superiores aos limites impostos por lei, afecta a saúde humana interferindo com
a oxigenação da hemoglobina. As consequências da sua toxicidade podem ir
desde dores de cabeça, perda de reflexos até à morte. Há ainda, um vasto
conjunto de doenças crónicas, do foro respiratório e circulatório, que correm o
risco de ser agravadas por ligeiros aumentos de CO no ar ambiente.
Segundo estimativas europeias recentes, entre 10 a 18 milhões de pessoas estão
expostas, num total de cerca de 495 milhões de cidadãos europeus [URL5], a
elevadas concentrações de poluentes atmosféricos, situação para a qual o
sector dos transportes contribui significativamente [Miranda et al., 2005]. Em
Portugal, de acordo com o Relatório do Estado do Ambiente de 2006 [APA,
2007], o sector dos transportes é a segunda maior fonte de gases com efeito de
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 32
estufa (GEE), com cerca de 23% das emissões nacionais. O aumento das
emissões de GEE entre 1990 e 2006 atingiu cerca de 100% no caso dos
transportes. As projecções do consumo de energia final para 2010, quando
comparado com o ano de referência, 1990, indicam que o sector dos
transportes terá um aumento de 102 %, correspondente a uma taxa anual de
crescimento de cerca de 4,8%. As deslocações efectuadas em transporte
individual cresceram mais de 111%, a um ritmo médio de 5,1% / ano [PNAC,
2006].
2.2.1. Metodologia
A caracterização dos transportes rodoviários como fontes de poluição, e a
estimativa das suas emissões, são tarefas importantes e urgentes. A utilização de
modelos numéricos para a estimativa das emissões é uma abordagem
frequente para a quantificação dos poluentes atmosféricos emitidos pelos
veículos. O principal objectivo destes modelos consiste no cálculo das emissões
para diferentes escalas temporais e espaciais, de modo a poderem ser utilizados
em diferentes tipos de aplicações, nomeadamente na modelação e gestão da
qualidade do ar.
Neste capítulo quantificam-se as emissões do tráfego rodoviário na área de
abrangência da CCDR-N, estuda-se a distribuição espacial das emissões e
analisam-se os resultados de forma a identificar quais as categorias de veículos
que emitem mais e quais os concelhos com maiores emissões, sobre os quais a
tomada de decisão para contornar o problema é mais eminente.
O modelo TREM
Para dar resposta aos objectivos propostos, aplicou-se o modelo de emissões de
transportes de fontes em linha, TREM – Transport Emission Model for Line Sources,
desenvolvido no Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade
de Aveiro [Tchepel, 2003]. Este modelo permite calcular as emissões para os
seguintes poluentes: CO, NOx, COV, CO2, SO2 e PM10, entre outros. O TREM foi
aplicado à área de estudo da CCDR - N, para o cálculo das emissões numa
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 33
base diária, para os poluentes acima referidos. Além da estimativa das emissões
de transporte rodoviário, o modelo calcula também o consumo de combustível.
O TREM calcula as emissões do transporte rodoviário com base na aproximação
de velocidade média proposta pelos projectos MEET/COST319 [Niederle, 1999] e
pelo projecto ARTEMIS [EEA, 2007].
Os factores de emissão usados no modelo são definidos tendo em conta a
idade dos veículos (Tabela 6). Para veículos ligeiros de passageiros a gasolina e
gasóleo (EURO 1) e comerciais ligeiros a gasolina e gasóleo (convencionais e
EURO 1), os factores de emissão decorrem da metodologia MEET [Joumard,
1999]. As restantes categorias de veículos ligeiros de passageiros e comerciais
ligeiros com tecnologias mais antigas, estão abrangidas pelas equações
CORINAIR/COPERT [COPERT III, 2000]. O cálculo para veículos pesados de
mercadorias e passageiros, com tecnologias mais antigas, baseia-se nos
factores de emissão apresentados no “Swiss/German Handbook” [Hickman,
1997]. Para as tecnologias mais recentes (EURO 2 a EURO 5), os factores de
emissão são definidos como uma fracção dos níveis de emissão EURO 1. Para as
tecnologias envolvendo novos combustíveis, tais como veículos a GPL, biodiesel
ou gás natural foram implementadas as aproximações propostas pelo projecto
ARTEMIS e publicadas pelo EMEP/CORINAIR (2006) [URL6]. Para o cálculo da
emissão de PM10 para tecnologias mais antigas, foram adoptadas as
metodologias NAEI (2003) considerando, quer os veículos a gasóleo, quer a
gasolina.
Neste modelo, as vias de tráfego são consideradas como fontes em linha,
sendo as emissões calculadas individualmente para cada segmento de
estrada, caracterizado em termos de frota de veículos, volume de tráfego e
velocidade média (Figura 24).
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 34
Figura 24. Representação esquemática dos dados de entrada do modelo TREM.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 35
Tabela 6.Classificação de categorias de emissão tendo em conta a idade dos veículos.
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
Veículos ligeiros de passageiros a gasolina
Pre ECE
ECE 1500 & 01 ECE 15 02 ECE 1503 ECE 1504
Veículos ligeiros de passageiros a gasóleo e GPL
Convencional
Veículos ligeiros de mercadoria Convencional
Veículos pesados de mercadoria
e autocarros Convencional
Autocarros a Gás Natural -
Motociclos Convencional
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Veículos ligeiros de passageiros a gasolina
ECE 1504
EURO 1 EURO 2 EURO 3 EURO 4
Veículos ligeiros de passageiros a gasóleo e
GPL
Conv.
EURO 1 EURO 2 EURO 3 EURO 4
Veículos ligeiros de mercadoria
Convencional
EURO 1 EURO 2 EURO 3 EURO 4
Veículos pesados de mercadoria e autocarros
Convencional
EURO 1 EURO 2 EURO 3 EURO 4 EURO 5
Autocarros a Gás Natural EURO 1 EURO 2 EURO 3 EEV**
Motociclos Convencional Stage 1 Stage 2 Stage 3
**Enhanced Environmental Vehicles - Veículos com as melhores tecnologias disponíveis para autocarros a gás natural. Equivale aos EURO 4/5 para os outros pesados de passageiros.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 36
A massa de poluente emitida pelos veículos é estimada em dois passos:
1. Determinação de factores de emissão para cada tipo de veículo
considerando a velocidade média, e
2. Quantificação das emissões, para cada segmento da estrada, recorrendo
aos factores de emissão e actividade dos transportes.
As emissões (Ep) do poluente p são estimadas para cada troço de estrada de
acordo com a Equação 2:
(Eq. 2)
onde:
EFpi(v) - factor de emissão [g.km-1], para o poluente p e classe de veículo i, em
função da velocidade média v [km.h-1],
Ni - número de veículos da classe i, no intervalo de tempo considerado
(tipicamente uma hora),
L - comprimento do segmento de estrada [m].
Aplicação do modelo TREM
Antes de se poder aplicar o modelo de emissões de tráfego rodoviário, são
necessários vários dados de entrada, que incluem a informação sobre a rede
viária, a localização dos contadores de tráfego e os fluxos associados, para os
vários tipos de veículos (motociclos, automóveis ligeiros de passageiros e de
mercadoria, pesados com e sem reboque e autocarros). Esta informação, para
a área abrangida pela CCDR-N, foi fornecida pela Estradas de Portugal (EP)
[URL7]. A Figura 25 representa a rede viária e localização dos contadores de
tráfego, para a área em questão.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 37
Figura 25. Rede de estradas e localização dos contadores de tráfego rodoviário.
Tendo em conta a finalidade do inventário e a informação disponível,
seleccionou-se 2007 como ano de referência. A informação fornecida pela EP
inclui médias diárias, diurnas e nocturnas, de Inverno e Verão, para as principais
vias representadas na Figura 25. No entanto, apesar do elevado número de
postos de contagem de tráfego representados na Figura 25, apenas se
encontravam acessíveis dados relativos a contagens de tráfego nas estradas
consideradas ‘mais relevantes’ (Auto-estradas, Itinerários Principais, Itinerários
Complementares e Estradas Nacionais), pois nem todos os contadores estavam
activos e alguns apresentavam falhas significativas nas bases de dados que lhes
estão associadas para o período seleccionado. Estas falhas foram,
maioritariamente, encontradas em troços de Itinerários Complementares e
Estradas Nacionais.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 38
O Distrito do Porto representa cerca de 48% do número total de veículos
existentes na Região Norte (1791000 em cerca de 3690000). Dada esta
representatividade, face à realidade regional, e de forma a estabelecer-se um
perfil diário de tráfego, tipicamente urbano, foram tratados estatisticamente os
dados de fluxo de tráfego automóvel da cidade do Porto. Estes dados foram
obtidos com recurso a contadores estrategicamente localizados em algumas
das principais vias do centro urbano da cidade do Porto. A divisão de tráfego da
Câmara Municipal do Porto tem implementado um sistema de gestão de tráfego
na área urbana do Porto, que a divide em 10 zonas distintas (Figura 26).
Figura 26. Localização das 10 zonas e identificação das zonas utilizadas na área
urbana do Porto (delimitadas pela circunferência azul).
Relativamente a estes dados de contagens para o centro urbano da cidade do
Porto, apenas foram disponibilizados valores referentes ao ano de 2003, em sete
das dez zonas actualmente consideradas (Figura 26). A inexistência de dados
posteriores a 2003 implicou a análise da evolução temporal do parque
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 39
automóvel na área abrangida pela CCDR-N, de forma a extrapolar as emissões
para o ano de referência (2007).
De acordo com a Figura 27, que representa a taxa de crescimento do número
de veículos em Portugal, é possível observar um aumento de cerca de 14% do
número de veículos em circulação em Portugal, entre 1970 e 2007, e em
particular de 7% entre 2003 e 2007. Verificou-se um aumento, principalmente, na
categoria dos veículos ligeiros de passageiros e todo o terreno (8%) e na
categoria dos veículos ligeiros comerciais (6%), contrariamente aos veículos
pesados (-5%) [ACAP, 2007].
0,00,5
1,01,52,02,5
3,03,54,0
4,55,0
1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006
Ano
Nº
tota
l de
veíc
ulos
(m
ilhõe
s de
veí
culo
s)
ligeiros passageiros ligeiros comerciais pesados
Figura 27. Taxa de crescimento do número de veículos em circulação em Portugal entre
1970 e 2007.
Dada a indisponibilidade de dados discretizados, por categoria de veículo, para
a Região Norte, e de forma a estabelecer um cenário urbano, foi considerada a
evolução do número total de veículos nesta região. Tendo em conta esta
evolução determinou-se um factor de aumento de cerca de 7,3% [ACAP, 2007],
nos dados de tráfego rodoviário, para a cidade do Porto, entre 2003 e 2007.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 40
As Figuras 28 e 29 representam, para a cidade do Porto, a evolução temporal do
número médio de veículos que circulam pela cidade durante os dias de
semana, e os de fim-de-semana, para dois meses de Inverno (Janeiro e
Fevereiro) e Verão (Junho e Julho), respectivamente e referente a 2007. A
escolha dos meses acima referidos resultou da tentativa de caracterizar os perfis
típicos de tráfego, nomeadamente para períodos de actividade e férias laborais
e escolares.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
0 5 10 15 20HORAS
Nº
VEÍ
CU
LOS
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SABADO DOMINGO
Figura 28. Variação diária do número de veículos estimado para 2007, para dois meses
de Verão, na cidade do Porto.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
0 5 10 15 20HORAS
Nº
VEÍ
CU
LOS
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SABADO DOMINGO
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 41
Figura 29. Variação diária do número de veículos estimado para 2007, para dois meses
de Inverno, na cidade do Porto.
Como se pode verificar, há um aumento do número de veículos em circulação
de cerca de 50%, do Verão para o Inverno. Este aumento resulta da deslocação
da população Portuense para fora da cidade durante as férias laborais e
escolares, típico do período de Verão. Apesar da disparidade sazonal, o fluxo
diário apresenta um comportamento típico, com maior número de veículos a
circularem a partir do inicio da manhã, atingindo o seu máximo durante a tarde,
podendo deste modo concluir-se que o perfil diário médio do número de
veículos é semelhante para os períodos de Inverno e Verão. Nos meses de
Inverno, o máximo registado coincide com os horários escolares, observando-se
uma diminuição do tráfego rodoviário a partir das 17 horas. Nos meses de Verão,
o pico de tráfego não é tão pronunciado como no Inverno, mantendo-se
constante entre as 13 e as 20 horas.
Além da definição da rede viária na área de abrangência da CCDR-N, o
modelo TREM necessita de informação relativa à distribuição dos veículos por
categorias (passageiros a gasolina ou a diesel, veículos a GPL, veículos de
mercadoria a gasolina ou a diesel, veículos pesados, autocarros e motociclos).
Estes valores podem advir tanto dos contadores de tráfego, como de
informação estatística. Perante a ausência deste tipo de dados nos contadores
de tráfego, utilizaram-se os pressupostos seguintes [APA, 2007; ACAP, 2007]: 93,2%
dos veículos ligeiros de passageiros são a gasolina e 6,8% a gasóleo, e todos os
veículos ligeiros de mercadoria são a gasóleo. Para a avaliação do peso das
emissões rodoviárias de cada categoria de veículos, é importante conhecer a
composição do parque automóvel existente na área abrangida pela CCDR-N. A
Figura 30 representa essa distribuição, nos distritos abrangidos pela CCDR-N, para
2007 [ACAP, 2007].
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 42
69,6%
2,0%
0,3%
19,0%
0,1% 2,3% 6,8%
Ligeiros de passageiros
Comercias ligeiros e TT
Pesados de mercador ias
Pesados de passageiros
Ciclomotores e motociclos até 50cc
Motociclos com mais de 50cc
Quadriciclos
Figura 30. Composição do Parque Automóvel para a área abrangida pela CCDR-N em
2007.
Outro factor importante no cálculo das emissões de tráfego rodoviário é a
composição da frota, relacionada com tecnologias de redução de emissões e
capacidade do motor, tendo em conta a idade dos veículos (Tabela 7). Para a
área em estudo, assumiu-se o tipo de distribuição resultante da análise do
parque automóvel nacional [ACAP, 2007], que se apresenta nas Tabela 7 a 12.
Tabela 7. Dados de entrada para o modelo TREM, para veículos de passageiros.
Classe %
Pré-ECE 0
ECE 15-00/01 0
ECE 15-02 0
ECE 15-03 1,8
ECE 15-04 9,7
“Improved
conventional” 0
“Open loop” 0
EURO 1 25,9
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 43
EURO 2 36
EURO 3 16,8
EURO 4 9,8
Tabela 8. Dados de entrada para o modelo TREM, para veículos ligeiros de mercadoria.
Classe %
Convencional 5,4
EURO 1 20
EURO 2 43,9
EURO 3 19
EURO 4 11,7
Tabela 9. Dados de entrada para o modelo TREM, para veículos pesados de mercadoria.
Classe %
Convencional 30,8
EURO 1 25,1
EURO 2 26,2
EURO 3 10,6
EURO 4 7,3
EURO 5 0
Tabela 10. Dados de entrada para o modelo TREM, para autocarros a gasóleo.
Classe %
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 44
Convencional 32,4
EURO 1 19,9
EURO 2 24,6
EURO 3 13,5
EURO 4 9,6
Tabela 11. Dados de entrada para o modelo TREM, para autocarros a gás natural.
Classe %
EURO 1 0
EURO 2 29,9
EURO 3 0
EEV 70,1
Tabela 12. Dados de entrada para o modelo TREM, para motociclos.
Classe %
Conventional 50
Stage 1 15
Stage 2 25
Motociclos, <50
cc
Stage 3 10
Conventional 28,6
Stage 1 37,7
Stage 2 26,5
Motociclos com
motor a 2
tempos Stage 3 7,2
Motociclos com Conventional 28,6
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 45
Stage 1 37,7
Stage 2 26,5
motor a 4
tempos
Sage 3 7,2
De acordo com as características das estradas consideradas na área da
CCDR-N, em questão, e os valores médios registados nos postos de contagem,
foram considerados diferentes valores de velocidade média (Tabela 13).
Tabela 13. Velocidades médias consideradas para diferentes tipos de estradas.
Estrada Velocidade
(km.h-1)
Auto-estrada 120
Itinerário Principal 110
Itinerário Complementar 110
Estrada Nacional 50
Centro Urbano do Porto 20
2.2.2. Análise de Resultados
A aplicação do modelo TREM permitiu estimar as emissões totais diárias em
2007, por segmento de estrada, de CO, CO2, NOx, PM10, SO2 e COV, cuja
distribuição espacial se apresenta respectivamente nas Figuras 31, 33, 35, 37,
39 e 41 e as emissões totais por categorias nas Figuras 32, 34, 36, 38, 40 e 42.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 46
Figura 31. Distribuição espacial das emissões de monóxido de carbono, em kg.km-1, na
área da CCDR-N, calculadas através do modelo TREM.
0
20000
40000
60000
80000
Motociclos Ligeiros
gasolina
Ligeiros
diesel
Ligeiros
mercadorias
Pesados
mercadorias
Autocarros
Categoria de veículos
Em
issõ
es T
ota
is D
iárias
(kg)
Figura 32. Emissões totais diárias de monóxido CO, em kg, por categoria de veículos.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 47
Figura 33. Distribuição espacial das emissões de dióxido de carbono, em kg.km-1, na área
da CCDR-N, calculadas através do modelo TREM.
0500000
1000000150000020000002500000300000035000004000000
Motociclos Ligeiros
gasolina
Ligeiros
diesel
Ligeiros
mercadorias
Pesados
mercadorias
Autocarros
Categorias de veículos
Em
issõe
s T
otai
s D
iária
s (k
g)
Figura 34. Emissões totais diárias de CO2, em kg, por categoria de veículos.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 48
Figura 35. Distribuição espacial das emissões de compostos orgânicos voláteis, em kg.km-
1, na área da CCDR-N, calculadas através do modelo TREM.
0500
1000150020002500300035004000
Motociclos Ligeiros
gasolina
Ligeiros
diesel
Ligeiros
mercadorias
Pesados
mercadorias
Autocarros
Categoria de veículos
Em
issõe
s T
otai
s D
iária
s (k
g)
Figura 36. Emissões totais diárias de COV, em kg, por categoria de veículos.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 49
Figura 37. Distribuição espacial das emissões de óxidos de azoto, em kg.km-1, na área da
CCDR-N, calculadas através do modelo TREM.
0
2000
4000
6000
8000
10000
Motociclos Ligeiros
gasolina
Ligeiros
diesel
Ligeiros
mercadorias
Pesados
mercadorias
Autocarros
Categoria de veículos
Em
issõe
s T
otai
s di
ária
s (k
g)
Figura 38. Emissões totais diárias de NOx, em kg, por categoria de veículos.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 50
Figura 39. Distribuição espacial das emissões de PM10, em kg.km-1, na área da CCDR-N,
calculadas através do modelo TREM.
01000200030004000500060007000
Motociclos Ligeiros
gasolina
Ligeiros
diesel
Ligeiros
mercadorias
Pesados
mercadorias
Autocarros
Categoria de veículos
Em
issõe
s T
otai
s D
iária
s (k
g)
Figura 40. Emissões totais diárias de PM10, em kg, por categoria de veículos.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 51
Tendo em consideração que a CCDR-N se encontra a desenvolver um Programa
de Execução, que visa a implementação de medidas para a redução de
partículas na região, medidas estas constantes dos Planos de Melhoria da
Qualidade do Ar na Região Norte [Borrego et al., 2007], considera-se pertinente
ressaltar o peso das emissões geradas pelas categorias de veículos pesados e
ligeiros a diesel, face às restantes consideradas.
Figura 41. Distribuição espacial das emissões de óxidos de enxofre, em kg.km-1, na área da
CCDR-N, calculadas através do modelo TREM.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 52
0100200300400500
Motociclos Ligeiros
gasolina
Ligeiros
diesel
Ligeiros
mercadorias
Pesados
mercadorias
Autocarros
Categoria de veículos
Em
issõe
s T
otai
s di
ária
s (k
g)
Figura 42. Emissões totais diárias de SO2, em kg, por categoria de veículos.
A distribuição das emissões totais por categorias de veículos, para cada poluente,
encontra-se apresentada na Figura 43.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
CO NOX PM10 SO2 COV
Poluente
Autocarros
Pesados mercadorias
Ligeiros mercador ias
Ligeiros diesel
Ligeiros gasolina
Motociclos
Figura 43. Distribuição das emissões totais por categoria de veículos, para cada
poluente.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 53
Da análise da Figura 43 constata-se que a categoria que mais contribui para as
emissões de tráfego rodoviário, para todos os poluentes, é a de veículos ligeiros
a gasolina, excepto para PM10. Para o SO2, apesar de ser um poluente emitido
essencialmente por veículos a diesel, também se verifica esta tendência. Este
facto dever-se-á sobretudo à predominância da categoria de veículos ligeiros
a gasolina face às restantes, representando, como foi referido anteriormente,
cerca de 70% do parque automóvel na Região Norte, em 2007 (Figura 43). No
caso das PM10, a maior contribuição advém dos pesados de mercadoria,
devido à emissão deste poluente estar predominantemente associada à
queima de combustível em veículos a diesel.
Analisando as figuras anteriores é possível identificar os concelhos com maiores
emissões de tráfego, que se representam na Figura 44. Estes concelhos
englobam a grande área metropolitana do Porto e os concelhos que rodeiam
as A1, A3, A4, A28,IP4, EN13, EN101 e EN 107.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 54
Bragança Vinhai sChaves Monta legre
Alijó
Mirande la
Mogadouro
Vimios oValp a ço s
F afe
Aro uc a
B otic as
Barcelos
Vil a Real
V ila da
Feira
Mac edo de
Cavale
Vila Flor
Bra ga
Cinf ães
Murça
Ama rant e
B aião
Tor re de
M o n corvo
Me lgaço
Penafiel
Monção
A rcos de
Val de ve z
Vi la Pouca
de Aguia r
V ila
Verde
Vila Nov a
de Foz
C ô a
Po n te de
Lima
Lameg o
Alfândega da
Fé
Paredes
S abro sa
Sernancelhe
Maia
T ab u aç oS.
João
da P esqueira
Vieira do
Minho
Rib eira de
Pena
Cabece iras de
B as to
Val e n ça
Fre ixo de
Espa d a
a Cint a
Cam inha
V . N.
Famalic ão
P enedono
Gondomar
Po n te d a
Barc a
T arouc a
Lous ada
Sant o Tirso Felgueir as
C e lo r ico d e
B as to Vila
d o
Conde
V ila Nova
de Gaia
Olivei ra de
Az em é isVa le
de
Cambra
Porto
E spinho
S. Jo ão
da M a d ei
Vila Nova
de Cerveir a Pa redes
de Coura
Via na do
Cas telo
E spos end eMir anda
do Douro
C a rra ze da de
A ns iãe s
M oiment a da
Be ira
Res en deCaste lo
de Pai v a
M at osinh o s
Mondim de
Ba st o
T erras de
Bo uro
Am a r esPóvoa
deLanhoso
Guim arãesPóvo a
de
V arzim
Tro faVa longo
M arco de
Ca nav ezesAr m a mar
R é g u aSta.
Mar ta Me sã o
F rio
P aços de
Fe r re ira
N
Figura 44. Concelhos com maiores emissões de tráfego, relativamente aos
principais poluentes, na área de CCDR-N.
A inexistência de dados de contagens de tráfego rodoviário numa extensão
significativa da rede viária, na área abrangida pela CCDR-N, em especial na
região interior, bem como nos grandes centros urbanos, resulta numa
subestimativa do número total de veículos contabilizados, resultando assim
numa também substimativa das emissões de poluentes. Além disso, a
inexistência de dados de contagens para todas as zonas identificadas na
cidade do Porto para os anos de 2003 e 2007 origina também a substimativa
nas emissões na área metropolitana do Porto. É de salientar, contudo, que
foram contabilizados, com base nos dados estatísticos mais recentes [ACAP,
2007], quer o aumento do número total de veículos entre 2003 e 2007, quer a
constante renovação do parque automóvel, nomeadamente nas vendas de
veiculos novos.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 55
2.3. COMBUSTÃO RESIDENCIAL
Tradicionalmente usada em Portugal como fonte de aquecimento doméstico,
a combustão residencial suporta-se num tipo de tecnologia que, apesar de
satisfazer as necessidades de mercado a este nível, constitui uma importante
fonte emissora de contaminantes atmosféricos, transformando-se assim num
dos principais problemas associados à qualidade do ar. Segundo dados da
Agência Europeia do Ambiente, na Europa, a combustão residencial é
responsável por cerca de 22% das emissões totais de partículas PM10 e 30% de
PM2,5 para atmosfera, tal como se pode observar na Figura 45 [URL8]:
Figura 45. Emissões totais de partículas, por sector de actividade (adaptado do “Annual
European Community LRTAP Convention emission inventory report, 1990 – 2006”,
[URL8])
Efeitos adversos têm sido associados ao longo do tempo às emissões resultantes
da combustão doméstica, e muitos países têm tentado estabelecer padrões
para estas emissões numa perspectiva de redução futura. Este tipo de
combustão difere da queima industrial em larga escala, uma vez que nas
lareiras domésticas, a lenha (combustível habitualmente usado em Portugal na
combustão residencial) é queimada em pedaços, sem qualquer tipo de
PM10
Indústria
Metalurgica
5,2%Transportes
Rodoviários
15,9%
Produção
Mineral
11,0%
Indústria
Manufactora
Construcção
9,1%
Emissão directa
do Solo
6,9%
Gestão de
Biomassa
5,2%
Combustão
Residencial
21,7%
Outras
categorias
24,4%
PM2,5
Indústria
Metalurgica
4,7
Transportes
Rodoviários
17,8%Produção
Mineral
7,4%
Indústria
Manufactora
Construcção
11,1%
Sector
Agricola/
Florestal/
Pescas
6,4%
Produção de
Electricidade/
Calor 4,2%
Combustão
Residencial
29,6%
Outras
categorias
18,8%
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 56
controlo, quer sobre o processo de combustão, quer sobre o combustível
utilizado e o efluente gasoso emitido.
Do ponto de vista ambiental, as emissões de NOx e SO2 a partir da madeira não
são as mais relevantes, pelo menos quando comparadas com os poluentes CO
e Partículas, emitidos em maiores quantidades por este sector do que, por
exemplo, nas fornalhas a petróleo ou a gás [Hinrichs e Kleinbach, 2003].
2.3.1. Metodologia
No sentido de estimar as emissões provenientes deste sector, determinou-se
uma taxa de utilização das lareiras domésticas na Região Norte, bem como a
quantidade de lenha gasta pelas famílias portuguesas, obtendo-se ainda uma
estimativa da quantidade de lareiras abertas e fechadas existentes. A sua
dimensão, número e distribuição não permitem o tratamento das fontes
residenciais como pontuais,
tendo sido consideradas no
presente inventário como
fontes em área.
A informação base para o
cálculo das emissões provém
de um inquérito realizado no
âmbito de um projecto de
investigação da Universidade
de Aveiro, o qual pretendia
determinar o grau de
exposição da população à
poluição atmosférica
(AnexoVII1), e no qual se
incluíram algumas questões
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 57
relativas à combustão residencial.
Este inquérito foi colocado on-line entre os dias 10 de Janeiro e 11 de Fevereiro
de 2008 na página do CESAM (Centro de Escudos do Ambiente e do Mar) e o
link difundido, pelo Presidente da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias),
para todas as Juntas de Freguesia do país, de modo a abarcar dados a nível
nacional. Da mesma forma. O link foi enviado também por e-mail, pelos vários
intervenientes nestes projectos para as suas listas de contactos, solicitando
divulgação, com o objectivo de obter uma amostra a mais representativa
possível.
A distribuição geográfica da
amostra não foi homogénea, como se pode verificar pela Figura 46. De notar
que a região de Lisboa e Vale do Tejo registou o maior número de respostas,
(cerca de 27 %), seguindo-se o Grande Porto com aproximadamente 18 % e a
região do Baixo Vouga com 17 %. Estes resultados já eram de esperar, no caso
das duas primeiras regiões, por serem as mais populosas a nível nacional. Para
o caso do Baixo Vouga, este resultado prender-se-á com o facto do inquérito
ter tido origem nesta região e por se terem obtido muitas respostas através das
listas de contactos de e-mail.
Relativamente à área de abrangência da CCDR-N, como se pode verificar
pelo mapa, os concelhos do Porto e de Vila Nova de Gaia obtiveram, em
conjunto, um número de respostas superior a 200 (163 e 115 respectivamente).
Para apurar a significância dos dados trabalhados, recorreu-se a métodos
estatísticos de amostragem. O erro da amostra foi determinado aplicando uma
função log-normal, para um nível de confiança de 95%, seguindo uma
distribuição de t-student, sendo que para populações finitas é feita uma
correcção para a população, segundo as Equações 3 e 4:
onde,
N – população
0
0
nN
nNn
+×= (Eq. 3)
Figura 46. Distribuição geográfica do número de respostas aos inquéritos.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 58
n - total respostas (corrigido)
n0 – total respostas
onde,
e – erro da amostra
σ - desvio padrão populacional
z – 1,96 para grau de confiança 95%
Para o inquérito ao nível nacional e para a região de abrangência da CCDR-N,
apresentam-se na Tabela 14 os parâmetros estatísticos determinados para
apurar a significância dos resultados:
Tabela 14. Representatividade e erro associado aos dados do inquérito
Amostra População
(hab.)
Total Respostas
(n)
Representatividade
(%)
Erro %
Total
Nacional 10 356 117 3149 0,0304 1,75
CCDR-N 4062402 1063 0,0262 3,00
Como se pode verificar, a percentagem de erro é bastante baixa, quer no que
se refere à amostra a nível nacional, quer a nível regional. Uma margem de
erro de 3% permite um grau de confiança aceitável sobre os resultados obtidos
pelo inquérito.
Determinação do Consumo de Lenha
(Eq. 4) n
zeσ×=
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 59
Dos dados dos inquéritos foi possível obter uma estimativa dos vários tipos de
aquecimento existentes e da respectiva forma de utilização (número de
lareiras abertas e fechadas e respectivos consumos de lenha nos concelhos, a
nível nacional).
Como já foi mencionado, a distribuição geográfica da amostra não foi
homogénea, pelo que não foi possível reunir informação relativa a todos os
concelhos da Região Norte. Assim sendo, tendo em consideração o objectivo
deste inquérito, associaram-se os resultados obtidos aos dados do Census 2001
do Instituto Nacional de Estatística, do qual foi possível retirar informação sobre
os sistemas de aquecimento disponíveis (aquecimento central, lareira,
aparelhos fixos e aparelhos móveis) por alojamento, por agregado familiar e
por pessoas residentes (dados disponíveis por NUTS IV, concelhos), no sentido
de obter uma caracterização por concelho, na área de actuação da CCDR-
N.
No tratamento dos dados para estimativa do consumo de lenha,
consideraram-se 3 gamas de consumo: até 2 ton/Inverno, de 2 a 4 ton/Inverno,
e mais de 4 ton/Inverno. No cálculo das emissões assumiu-se o limite máximo
das duas primeiras gamas, e 5 ton/Inverno no último caso.
Estimativa das Emissões de Partículas
Partindo da quantidade de lenha consumida por Inverno e por habitação,
procedeu-se ao cálculo efectivo das emissões de partículas (PM10 e PM2,5), no
sentido de quantificar as emissões deste poluente para cada concelho da
Região Norte (Eq. 5).
Emissões =[Consumo de Lenha * Factor de Emissão * Poder Calorífico] (kg) (Eq. 5)
onde,
Consumo de lenha = [kg]
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 60
Poder Calorífico = 19000 kJ/kg (valor médio para a madeira [Sternhufvud et al.
2004])
Distinguiram-se as lareiras abertas e fechadas no cálculo das emissões
recorrendo aos factores de emissão seguintes (para informação mais
detalhada ver Anexo VIII):
• FE (PM10) para Lareiras abertas – 2,88E-07 kg/kJ;
• FE (PM10) para Lareiras fechadas - 1,92E-07 kg/kJ;
• FE (PM2,5) para Lareiras abertas - 2,79E-07 kg/kJ;
• FE (PM2,5) para Lareiras fechadas - 1,86E-07 kg/kJ.
2.3.2. Análise de Resultados
Da análise nacional dos inquéritos, por NUTS III, no que respeita aos sistemas de
aquecimento, verificou-se que aproximadamente 87% dos inquiridos afirma
utilizar algum tipo de equipamento de aquecimento. Dos vários tipos de
aquecimento utilizados, 36% dos inquiridos utiliza lareiras, das quais cerca de 17%
correspondem a lareiras abertas e 20% a lareiras fechadas, sendo que os
restantes 66% correspondem a outros tipos de aquecimento (central, a óleo,
eléctrico, etc.).
No que se refere ao consumo de lenha, mais de 80% das pessoas que utilizam
lareira consomem até 2 ton/Inverno, e entre 10% e 20% afirmam consumir de 2 a
4 toneladas de lenha por Inverno. Em regiões do interior, como por exemplo
Trás-os-Montes e Alto Douro, a percentagem de pessoas que consome até 2
ton/Inverno desce para os 70%, dando lugar a consumos de 2 a 4 ton/Inverno
na ordem dos 25% a 30%.
No que respeita à taxa de utilização, segundo este inquérito mais de 60% das
pessoas afirma que utiliza o equipamento de aquecimento até 4 horas diárias, 7
dias por semana.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 61
Todos os dados mencionados anteriormente poderão ser consultados nas
tabelas presentes do Anexo 1X.
A Tabela 15 apresenta os valores relativos à utilização de lareiras, no domínio da
CCDR-N, obtidos por extrapolação dos resultados dos inquéritos efectuados.
Tabela 15. Valores relativos à utilização de lareiras no domínio da CCDR-N (extrapolados
com base nos inquéritos efectuados).
Domínio CCDR-N - 4062402 hab. %
Considerada
População
(hab.)
Usa Lareira 36 % 1462 465
Lareiras abertas 16% 690 608
Lareiras Fechadas 20% 812 480
até 2 ton/Inverno 75% 3046 802 Consumo
médio de
lenha 2 – 4 ton/Inverno 25% 1015 601
Após a determinação das emissões de partículas, para cada tipo de
equipamento, segundo a metodologia descrita no ponto anterior, obtiveram-se
as emissões de partículas para cada concelho da Região Norte (Figura 47).
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 62
PM10 (ton/ano) 0 - 0,
.002
0,00 2 - 0 ,0 040,00 4 - 0 ,0 070,00 7 - 0 ,0 150,01 5 - 0 ,0 26
N
Figura 47. Emissões totais de partículas (PM10 e PM2,5) provenientes de lareiras na área de
abrangência de CCDR-N.
Como se pode observar na Figura 47, é nas aglomerações Porto Litoral, Braga e
Vale do Ave que as emissões de material particulado proveniente da
combustão residencial são mais significativas (Anexo X). Este resultado já seria
de se esperar, considerando a maior densidade populacional destes locais [INE,
2007; URL1]. Quando comparadas as densidades populacionais destes
concelhos, conclui-se que as aglomerações acima mencionadas representam
cerca de 96% do agregado populacional da Região Norte.
Para além deste factor, deverá ser tido em consideração o tipo de construção
existente na Região Norte. Durante os anos 80, verificou-se a uma tendência de
construção na qual predominava a implantação de lareiras (abertas e
fechadas) nas habitações, usadas em simultâneo com outros equipamentos de
aquecimento como radiadores, aquecedores eléctricos e a gás. A partir da
década de 90, observou-se um significativo aumento na utilização do
aquecimento central, principalmente nas habitações construídas após 2005, em
que a sua utilização sobe praticamente até 50%, constatando-se um aumento
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 63
significativo na taxa de utilização das lareiras fechadas, enquanto para as
lareiras abertas o seu uso permanece mais ou menos constante [URL1].
Na zona Norte Interior pesa, não só o factor demográfico, mas também a
heterogeneidade geográfica na distribuição dos inquéritos, onde as
aglomerações onde as emissões de partículas foram mais elevadas, foram
também as que obtiveram maior número de respostas.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 64
2.4. EMISSÕES INDUSTRIAIS
Desde 2004 que diversas actividades industriais passaram a ser obrigadas a
declarar as emissões atmosféricas das quais são responsáveis às entidades
competentes (CCDR’s ou APA), ao abrigo do Decreto-Lei 78/2004, de 3 de Abril.
Este diploma legal visa garantir a protecção do recurso natural ar, bem como
estabelecer medidas, procedimentos e obrigações dos operadores das
instalações abrangidas, com vista a evitar ou reduzir a níveis aceitáveis a
poluição atmosférica originada nessas mesmas instalações. Entre as actividades
sujeitas ao cumprimento do Decreto-Lei 78/2004 encontram-se: instalações de
combustão integradas em estabelecimentos comerciais ou de serviços,
instalações de produção de electricidade e vapor, manutenção e reparação
de veículos, pesquisam e exploração de massas minerais, e actividades de
armazenamento de combustíveis com potência térmica nominal, superior a 100
kW/th. Dependendo dos caudais mássicos de poluente emitidos por cada uma
das fontes fixas monitorizadas, são estabelecidos diferentes planos de
monitorização para estas instalações, e consequentemente a entidade
competente a quem esses dados são reportados.
Tendo em conta as necessidades de monitorização previstas no referido
Decreto-Lei, consideram-se dois tipos de fontes poluidoras: as grandes fontes
pontuais (de carácter industrial de grande dimensão) e fontes pontuais de
menor dimensão. As grandes fontes pontuais são inventariadas através de
dados de monitorização em contínuo, fornecidos pelas próprias indústrias à
Agência Portuguesa do Ambiente, enquanto que as fontes pontuais de menor
dimensão, estão sujeitas a monitorização pontual periódica, e reportam os
resultados à CCDR da sua área de jurisdição.
Este sub-capítulo, referente ao inventário regional das emissões industriais, será
dividido em duas secções, uma relativa às grandes fontes pontuais (2.4.1) e
outra às pequenas fontes industriais (2.4.2).
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 65
2.4.1. Grandes fontes pontuais
Tal como já referido, os dados de emissões das 4 grandes fontes pontuais existentes
na Região Norte representadas na Figura 2 (refinaria de Petróleo de Matosinhos,
Central Térmica da Turbogás em Gondomar, a Fábrica de Pasta de Papel de Viana
do Castelo e Siderurgia Nacional da Maia) são medidos em contínuo e
periodicamente reportados à APA (com excepção da última destas fontes, que faz
monitorização pontual e reporta à CCDR-N). Na Figura 48 são apresentados os
valores anuais de PM10, CO, COVNM, NOx e SO2, referentes aos três anos mais
recentes disponíveis: 2003, 2005 e 2007.
0 5000 10000 15000 20000 25000 30000
SO2
NOx
COVNM
CO
PM10
Poluent e
Emissões (t on/ano)
Maia 2007Maia 2005Maia 2003
0 5000 10000 15000 20000 25000 30000
SO2
NOx
COVNM
CO
PM10
Poluente
Emissões (t on/ano)
Matosinhos 2007Matosinhos 2005Matosinhos 2003
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
SO2
NOx
COVNM
CO
PM10
Poluent e
Emissões (t on/ano)
Viana do Castelo 2007Viana do Castelo 2005Viana do Castelo 2003
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000
SO2
NOx
COVNM
CO
PM10
Poluente
Emissões (ton/ano)
Gondomar 2007Gondomar 2005Gondomar 2003
Figura 48. Análise comparativa das emissões provenientes das grandes fontes pontuais
existentes na Região Norte, entre 2003 e 2007.
A análise da Figura 48 permite verificar que houve uma redução considerável
das emissões totais entre 2003 e 2007, em todas as fontes e para a maior parte
dos poluentes analisados. Esta diminuição das emissões deve-se sobretudo a
investimentos, no sentido de cumprir com as obrigações legais impostas (Valores
Limite de Emissão, e Licenças Ambientais), implementando MTD’s (Melhores
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 66
Tecnologias Disponíveis), utilizando combustíveis menos poluentes e
promovendo o uso de sistemas de tratamento de efluentes gasosos a jusante do
processo produtivo.
A Tabela 16 permite uma análise mais concreta dos valores de emissão
reportados. Verifica-se que, para os poluentes COVNM e CO, a percentagem
de redução foi, em média, superior a 95%, para todas as instalações, tal como
as Partículas, que diminuíram mais de 50%. SO2, NOx e são os poluentes que
apresentam comportamento mais variável, consoante o tipo de indústria.
A bold destacam-se as emissões mais elevadas de cada um dos poluentes para
o ano de 2007.
Tabela 16. Evolução temporal das emissões provenientes das grandes fontes
pontuais.
MATOSINHOS
(ton/ano)
MAIA
(ton/ano)
V. DO CASTELO
(ton/ano)
GONDOMAR
(ton/ano)
TOTAL
(ton/ano)
2003 2005 2007 2003 2005 2007 2003 2005 2007 2003 2005 2007 2003 2007 Variação
SO2 11586 9959 23942 620 350 590 1367 1201 444 154 22 472 13727 25448 ���� 85,4 % NOx 6978 2627 5795 4401 511 724 2441 1077 447 4364 2844 13631 18184 20598 ���� 13,3 % COVNM
11562 5527 23 3828 19 102 3122 759 3 3176 209 198 21688 326 ���� 98,5 % CO
13461 234 279 25717 9347 1347 5432 469 151 11330 292 212 55939 1989 ���� 96,4 % PM10 1730 532 833 13823 15023 46 2389 2129 335 871 34 145 18813 1359 ���� 92,8 %
Relativamente à Central Térmica de Gondomar, COV, CO e PM10 desceram,
entre 80 e 100%. No entanto NOx e SO2 registaram aumentos na ordem dos 200%.
No caso da Siderurgia, segundo informações da própria empresa, em 2005 terá
havido um avultado investimento na área das emissões que, não só contemplou
novos sistemas de tratamento de efluentes, o que poderá explicar a diminuição
média de 94% de todos os poluentes analisados. Só o SO2 não ultrapassou os 5%
de redução.
A Celulose de Viana do Castelo apresentou também uma clara redução das
emissões totais medidas. Todos os poluentes desceram, entre 65 e 100%.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 67
Por último, a Refinaria de Matosinhos, apresenta um comportamento
semelhante à Central Térmica de Gondomar, com uma diminuição das
emissões de COV, CO e PM10 acima dos 50%. NOx apenas atingiu uma redução
de 17%. O SO2, apesar das medidas implementadas para diminuir o enxofre nos
combustíveis utilizados nos equipamentos de combustão, registou um aumento
superior a 100%.
Em termos globais, identificam-se duas principais grandes fontes emissoras: a
Refinaria de Matosinhos (SO2 e PM10) e a Central Térmica de Gondomar (NOx e
COVNM). A Refinaria é responsável por 94% do SO2 e 61% das PM10, e a Central
Térmica por 66% do NOx e 61% dos COVNM emitidos pelo total das 4 fontes. A
Siderurgia Nacional da Maia contribuiu com 68% para o total das emissões de
CO.
2.4.2. Fontes de emissão com Monitorização Pontual
De forma a sistematizar e tratar a informação reportada pelas empresas (fontes
pontuais de menor dimensão) à CCDR-N, seguiram-se dois tipos de
abordagem. Por um lado, uma análise espacial, na qual se pretende averiguar
a representatividade, em termos de área (Figuras 49 e 50). Por outro lado, uma
análise quantitativa, que permitirá avaliar a contribuição de cada um dos
sectores de actividade, para o panorama regional, face à realidade das
empresas licenciadas (Figura 51 e Anexos XI e XII). Para tal, foi disponibilizada
pela Direcção Regional da Economia do Norte (DRE-N), uma base de dados
com as empresas licenciadas da região.
Fazendo uma análise comparativa entre os dados fornecidos pela DRE-N e os
reportados à CCDR-N pelas empresas, por vias do autocontrolo, observa-se
que a distribuição espacial do tecido industrial é semelhante. Assim sendo, e
apesar de em valor absoluto, o número de empresas que reportam à Comissão
de Coordenação ser inferior, em cerca de 70%, ao número de empresas
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 68
licenciadas na Região Norte, esta amostra pode considerar-se representativa
da realidade regional em termos de distribuição espacial.
Figura 49. Número de empresas cadastradas na Base de Dados da CCDR-N.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 69
Figura 50. Número de empresas licenciadas existentes na Região Norte (DRE-N).
Efectuou-se também uma análise comparativa por sector de actividade, de
forma a avaliar a distribuição e contribuição relativa de cada um dos sectores
de actividade expressos na Base de Dados da CCDR-N, face à realidade das
indústrias licenciadas na Região Norte. Os resultados são apresentados na
Figura 51, elencando os sectores com maior expressividade na Região (para
informação mais detalhada consultar o Anexo XII).
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 70
0 2 4 6 8 10 12 14
Madeira, Cortiça, Cestaria e Espartaria
Texteis
Prod. Metálicos
Vestuár io
Prod. Minerais N/ Metálicos
Alimentar e Bebidas
Máq. e Equip. Electricos, N.E., Inform., Electr ., etc.
Pasta de Papel, Cartão e seus artigos
Prod. Químicos, Fibra Sintetica ou Artificial
Veículos Automóveis e componentes
Couro e seus podutos
Outras Ind. Transformadoras
Artigos de Borracha e Mat. Plásticas
Tipo de Indústria
% Empresas Presentes
CCDR-N
DRE-N
Figura 51. Análise comparativa, por tipo de indústria, do número de empresas
cadastradas na CCDR-N e empresas licenciadas na Região Norte (DRE-N).
Como se pode observar, entre os sectores de actividade económica mais
representativos no universo das empresas licenciadas contam-se: a indústria
da madeira e da cortiça, cestaria e espartaria, fabricação de produtos
metálicos, têxteis e vestuário, reunindo 12% de empresas, num total de cerca
de 10.000. O peso destes dois últimos sectores coincide com a importância dos
mesmos na base de dados da CCDR-N, estando portanto bem representados
face à realidade regional. Para as restantes actividades tal não se constatou,
sendo que os sectores cujas empresas mais cumprem com a obrigação de
reportar à CCDR-N são os da indústria do couro e seus produtos, e outras
indústrias transformadoras.
É de salientar, no entanto, o facto desta análise estar dependente da correcta
atribuição dos sectores de actividade às respectivas indústrias, o que poderá
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 71
não ter acontecido na totalidade das empresas cadastradas e ser a
explicação para o número de empresas compiladas na Base de Dados da
CCDR-N ser superior, em alguns sectores, ao existentes na DRE-N, que constitui
à partida uma base de dados mais completa. Assim sendo, apesar de ambas
as bases de dados demonstrarem uma tendência semelhante quanto ao peso
com que cada sector de actividade contribui para a Região Norte, a análise
não pode ser considerada conclusiva.
Relativamente aos dados de emissões, estes foram analisados em termos totais
por concelho, para os anos de 2005, 2006 e 2007, tendo sido somadas todas as
fontes com monitorização pontual pertencentes ao mesmo concelho. Estes
dados analisados dizem respeito a um total de cerca de 800 empresas que
reportaram dados durante o referido período de tempo.
A Figura 52 apresenta a distribuição espacial destas emissões para todos os
poluentes monitorizados, relativas ao ano mais recente – 2007. É de salientar
que esta distribuição é idêntica à dos restantes anos analisados (2005 e 2006),
tal como se pode observar no exemplo apresentado para os COV’s (Figura
53).
De um modo geral, os concelhos que apresentam emissões monitorizadas
mais elevadas são comuns aos vários poluentes analisados. Este facto pode
ser mais facilmente observado nos gráficos da Figura 54, onde se listam os 20
concelhos com maiores emissões para cada um dos poluentes. Tendo em
conta o panorama global, identificam-se como concelhos mais poluentes,
responsáveis, em média, por mais de 10% das emissões totais: Guimarães; Vila
Nova de Famalicão e Matosinhos. Há ainda a salientar os concelhos de Gaia,
Feira, Porto e Maia com valores de emissões elevados para vários poluentes.
Para além disto, é notória a diferente forma de distribuição por concelhos dos
vários poluentes: o CO e os COV apresentam uma distribuição concentrada
maioritariamente em apenas 5 concelhos, ao contrário de poluentes como as
PTS e SO2 com uma distribuição mais alargada e dispersa (valores significativos
em mais de 10 concelhos).
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 72
Emissões NOx 2007Autocontrolo (kg/h)
0 - 11 - 1010 - 100100 - 500500 - 1000
Emissões PTS 2007Autocontrolo (kg/h)
Emissoes_bd_conce0 - 11 - 1010 - 2525 - 5050 - 100
Emissões CO 2007Autocontrolo (kg/h)
Emissoes_bd_conce0 - 11 - 1010 - 100100 - 500500 - 1000
Emissões SO2 2007Autocontrolo (kg/h)
Emissoes_bd_conce0 - 11 - 55 - 1010 - 100100 - 200
Figura 52. Emissões totais por concelho das fontes de monitorização pontual existentes
na Base de Dados do Autocontrolo, relativamente ao ano de 2007.
Emissões COV 2005Autocontrolo (kg/h)
Emissoes_bd_conce0 - 11 - 55 - 1010 - 100100 - 200
Emissões COV 2007Autocontrolo (kg/h)
Emissoes_bd_conce0 - 11 - 55 - 1010 - 100100 - 200
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 73
Figura 53. Emissões totais de COV por concelho das fontes de monitorização pontual
existentes na Base de Dados do Autocontrolo, relativamente aos anos de 2005 e 2007.
Emissões NOx (kg.h -1)BD autocontrolo 2007
0 100 200 300 400 500 600 700 800
VALE DE CAMBRA
ESPINHO
PAREDES
GONDOMAR
FAFE
ARMAMAR
PENAFIEL
BARCELOS
AMARANTE
OLIVEIRA AZEMEIS
TROFA
FEIRA
VILA DO CONDE
MAIA
V.N. GAIA
PORTO
SANTO TIRSO
MATOSINHOS
V.N. FAMALICÃO
GUIMARÃES
Emissões PTS (kg.h -1)BD autocontrolo 2007
0 20 40 60 80 100 120
AMARANTE
ESPINHO
BRAGA
GONDOMAR
VALONGO
ARMAMAR
VILA DO CONDE
PAREDES
PORTO
BARCELOS
OLIVEIRA AZEMEIS
V.N. FAMALICÃO
MAIA
TROFA
SANTO TIRSO
V.N. GAIA
FEIRA
ARCO VALDEVEZ
GUIMARÃES
MATOSINHOS
Emissões CO (kg.h -1)BD autocontrolo 2007
0 100 200 300 400 500 600 700
FAFE
VILA DO CONDE
BRAGA
AMARANTE
ESPOSENDE
VILA VERDE
SANTO TIRSO
PORTO
ARMAMAR
V.N. GAIA
PAREDES
TROFA
FEIRA
BARCELOS
OLIVEIRA AZEMEIS
V.N. FAMALICÃO
GUIMARÃES
MAIA
GONDOMAR
MATOSINHOS
Emissões SO 2 (kg.h -1)BD autocontrolo 2007
0 50 100 150 200 250
VIANA DO CASTELO
VILA VERDE
AMARANTE
FAFE
VILA POUCA AGUIAR
ESPINHO
OLIVEIRA AZEMEIS
PAREDES
PENAFIEL
BARCELOS
TROFA
VILA DO CONDE
SANTO TIRSO
MAIA
V.N. GAIA
FEIRA
V.N. FAMALICÃO
PORTO
MATOSINHOS
GUIMARÃES
Emissões COV (kg.h -1)BD autocontrolo 2007
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
PENAFIEL
VIANA DO CASTELO
BRAGA
VALE DE CAMBRA
TROFA
FEIRA
VILA DO CONDE
BARCELOS
S. JOÃO MADEIRA
GONDOMAR
SANTO TIRSO
V.N. FAMALICÃO
OLIVEIRA AZEMEIS
PORTO
CASTELO DE PAIVA
MAIA
V.N. GAIA
PAREDES
GUIMARÃES
Figura 54. Identificação dos 20 concelhos com maiores emissões provenientes da
monitorização pontual (Base de Dados do Autocontrolo), relativamente ao ano de
2007.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 74
De forma a analisar a evolução temporal destas emissões durante o período
2005-2007, foram consideradas apenas as fontes pontuais que reportaram
monitorização em cada um destes 3 anos, correspondendo a um universo de
cerca de 300 empresas. O seu total é apresentado na Figura 55, para os vários
poluentes em estudo.
Emissões totais CCDR-Norte (kg.h -1)BD autocontrolo
0
100
200
300
400
500
600
700
800
NOx SO2 CO COV PTS
2005
2006
2007
Figura 55. Emissões totais monitorizadas na área da CCDR-N, reportadas na Base de
Dados do Autocontrolo, durante o período 2005-2007.
De um modo geral, verifica-se uma redução dos totais de emissões
relativamente a 2005, para todos os poluentes analisados. Relativamente às
partículas e SO2 este decréscimo das emissões totais reflecte provavelmente
uma melhor eficiência de combustão e alterações no tipo de combustível
usados pelas indústrias (ex. substituição por gás natural). No caso do CO e do
NOx, as reduções verificadas para 2006-2007 estão relacionadas com um
melhor controlo das condições de queima e eficiência de combustão. Para a
redução das emissões de COV’s aponta-se como principal causa a
substituição de produtos de base solvente por base aquosa.
Apesar destas conclusões serem baseadas num universo restrito de fontes
pontuais, a análise anterior efectuada permitiu concluir sobre a
representatividade desta Base de Dados de autocontrolo. Tendo em conta
esta representatividade, este estudo permite obter um primeiro panorama das
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 75
emissões industriais das pequenas fontes pontuais existentes na Região Norte e
a sua evolução ao longo deste triénio, apesar de caso se pretenda um
panorama mais completo destas emissões ser necessário extrapolar os
resultados tendo em conta a representatividade desta base de dados (~30%)
face à totalidade do tecido industrial.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 76
2.5. EMISSÕES BIOGÉNICAS
A vegetação, que é normalmente considerada como sumidouro de
poluentes atmosféricos, pode constituir também uma fonte de emissões.
A quantificação das emissões biogénicas neste inventário é importante,
devido à participação dos compostos emitidos, os compostos orgânicos
voláteis, nas transformações químicas que ocorrem na atmosfera, que em
conjunto com os poluentes provenientes das actividades antropogénicas,
podem originar concentrações elevadas de poluentes fotoquímicos, como é
exemplo o ozono (O3). Habitualmente, quando contabilizados em inventários
de emissões, é feita uma distinção entre monoterpenos, isopreno e outros
compostos voláteis, como álcoois e aldeídos. Esta segregação pretende
distinguir compostos com base na sua importância relativamente à formação
de ozono, que é consideravelmente mais elevada no caso dos
monoterpenos e isopreno [Simpson et al., 1995].
2.5.1. Metodologia
A quantidade de compostos biogénicos emitidos depende do tipo de
vegetação, nomeadamente da floresta, e das condições meteorológicas.
Na Figura 56 apresenta-se a distribuição espacial do uso do solo na área de
abrangência da CCDR-N. A Região Norte é predominantemente florestal,
com excepção do nordeste transmontano, onde se observa uma elevada
área de uso agrícola.
As emissões biogénicas de COV (monoterpenos e isopreno) foram calculadas
para a área de estudo com a resolução de 1x1 km2, recorrendo a dados de
uso de solo (Corine Land Cover, [URL9]), temperatura do ar ambiente e
radiação solar. Os dados de uso do solo serviram de base para obter a
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 77
distribuição espacial das espécies florestais emissoras deste tipo de COV’s em
particular: pinheiro, eucalipto, carvalho e azinheira.
A variação da temperatura e da radiação solar, representativas de um dia
de Verão e de Inverno, para cada célula da área de estudo, foi obtida
recorrendo à aplicação do modelo meteorológico MM5.
Figura 56. Mapa representativo do tipo de uso do solo na área da CCDR-N.
O factor de emissão para isopreno (I), a uma temperatura T e radiação
fotossinteticamente activa (PAR) L, é calculado da seguinte forma [Geron et
al., 1994]:
TsLs CCII ××= (Eq. 6)
Legenda: Tipo de uso do solo
N
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 78
IS corresponde ao factor de emissão de isopreno à temperatura de
referência Ts=303K e P=1000 µmol.m-2.s-1. Os factores de correcção CL e CT
são calculados de acordo com as Equações 7 e 6:
Ca C L
(1 a L )L
12 2 1/ 2
=+
(Eq. 7)
onde,
L - fluxo PAR,
α e C1 - coeficientes empíricos obtidos a partir de medições (α=0,0027 e
C1=1,066)
[Guenther et al., 1995].
Cexp (C ((T T ) / RT T)
1 exp(C (T T ) / RT T)TT1 S S
T2 M S
=−
+ − (Eq. 8)
onde,
R – constante dos gases perfeitos (8,314 J K-1 mol -1),
T – temperatura do ar (K),
TS - temperatura de referência (303 K),
TM., CT1 e CT2 - coeficientes empíricos
(TM.= 314 K, CT1= 95000 J mol-1, CT2= 230000 J mol-1) [Guenther et al., 1995].
Para o cálculo das emissões totais de monoterpenos aplicou-se a seguinte
equação:
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 79
( )[ ]Ss TTMM −×= βexp (Eq. 9)
onde,
M - factor de emissão de monoterpenos à temperatura T (K),
MS - factor de emissão à temperatura de referência TS =303K
β - coeficiente empírico (β=0.09) [Guenther et al., 1995].
2.5.2. Análise de Resultados
Os resultados obtidos encontram-se representados nas Figura 57 e 58,
expressos em termos das emissões horárias máximas de isopreno e
monoterpenos (g.km-2), representativas do período de Inverno e de Verão,
respectivamente.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 80
Figura 57. Emissões horárias máximas de monoterpenos (COV) representativas do
período de Verão e Inverno.
Figura 58. Emissões horárias máximas de isopreno (COV) representativas do período de
Verão e Inverno.
Analisando as figuras 57 e 58, verifica-se que é na Zona Norte Litoral e nos
concelhos minhotos pertencentes à Zona Norte Interior, que se encontra a
maior taxa de emissão de monoterpenos, independentemente da época do
ano em estudo. Não obstante, no período de Verão, as emissões destes
compostos orgânicos são mais elevadas do que de Inverno, como seria de
esperar, dado que estão dependentes, quer da temperatura, quer da
radiação solar.
No caso do isopreno, observa-se uma tendência semelhante, apesar de não
tão abrangente, podendo por exemplo verificar-se uma clara incidência
deste poluente nos concelhos de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Valença,
Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, e nos concelhos fronteira com a Região
Centro do país (Oliveira de Azeméis, V. Cambra, Arouca, etc.) e Nordeste
Transmontano (Bragança e Vinhais). Tal como no caso dos monoterpenos,
constata-se um aumento de emissão deste poluente na época de Verão em
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 81
comparação com a de Inverno, também pelos motivos apontados
anteriormente.
A ausência de emissões biogénicas na quase totalidade dos concelhos da
Zona Interior Norte, está relacionada com a distribuição espacial das
espécies florestais emissoras de COV’s consideradas na metodologia de
cálculo.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 83
COMENTÁRIOS FINAIS
Este relatório compreende a descrição do trabalho realizado durante o
protocolo estabelecido entre a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional do Norte (CCDR-N) e a Universidade de Aveiro (UA), que visava o
desenvolvimento de um inventário de emissões para a Região Norte,
recorrendo a duas metodologias: “top-down” e “bottom-up”.
Numa primeira fase procedeu-se à desagregação espacial do inventário
disponibilizado pela Agencia Portuguesa do Ambiente para o nível freguesia,
utilizando factores de ponderação adaptados ao tipo de fonte poluente em
análise, e aos dados estatísticos disponíveis.
O detalhe do inventário obtido permite tirar algumas conclusões sobre as áreas
com maiores emissões para a atmosfera, já que a escala geográfica
conseguida nesta primeira estimativa se reporta ao nível da freguesia. Verifica-
se que a área de influência da CCDR-N é responsável, em média, por cerca de
30% das emissões totais nacionais, nos poluentes analisados, o que evidencia a
sua importância no panorama nacional. A área metropolitana do Porto,
juntamente com as áreas urbanas e industriais de Braga e Guimarães, foi
identificada como uma das mais problemáticas, em termos de emissões de
poluentes para a atmosfera. Tal dever-se-á, a uma maior concentração de
indústria, serviços e população afecta a esta área geográfica (29% do total
nacional), quando comparada com a envolvente.
Analisados os 10 concelhos maiores emissões atmosféricas (Braga, Feira,
Gondomar, Valongo, Maia, Matosinhos, Porto, Vila Nova de Famalicão e Vila
Nova de Gaia) verifica-se, que por si só, são responsáveis, em média, por mais
de metade das emissões da região Norte, representando menos de 10% da sua
área total. Constata-se ainda que, relativamente ao último inventário houve
uma diminuição das emissões totais regionais de todos os poluentes para a
atmosfera na ordem dos 17%, mantendo-se no entanto a sua distribuição
espacial na região.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 84
No que se refere às actividades que mais contribuem para este panorama
regional, observa-se que o SO2 é emitido essencialmente pelo sector da
Combustão Industrial, sendo a Combustão Residencial o sector que mais
contribui para as emissões de material particulado para a atmosfera sob a
forma de PM2,5. O sector Processos de Produção é o que assume o papel mais
preponderante em termos de emissões de PM10. O CO e NOx provêm
maioritariamente do sector dos Transportes Rodoviários. Finalmente, as
actividades envolvendo uso de solventes são as principais responsáveis pelas
emissões de COVNM para atmosfera.
O desenvolvimento do inventário “top-down” permitiu obter um primeiro
quadro do cenário actual de emissões em área, a identificação das áreas e
dos sectores de actividade mais críticos para cada poluente, para além da sua
importância em termos do panorama nacional.
Numa segunda fase, foi desenvolvida e aplicada a metodologia “bottom up”
para estimativa das emissões de poluentes atmosféricos, na área de
abrangência da CCDR-N. Esta metodologia teve como ponto de partida a
identificação dos sectores de actividade mais representativos e dos poluentes
a quantificar. O ano de referência foi definido para cada um dos sectores
consoante os dados disponíveis.
Foram identificados 5 sectores: tráfego rodoviário, combustão residencial,
industrial e emissões biogénicas. As emissões de cada um destes sectores foram
estimadas recorrendo a dados de actividade recolhidos na área em estudo
(CCDR-N) e a factores de emissão adequados.
Para o cálculo das emissões resultantes do tráfego rodoviário, foi aplicado o
modelo TREM (Transport Emission Model for Line Sources) à área de
abrangência da CCDR-N, com dados de entrada relativos a 2007. Verifica-se
que a categoria de veículos ligeiros a gasolina é a que mais contribui para as
emissões de tráfego rodoviário, para todos os poluentes analisados,
exceptuando partículas. Este facto deve-se em grande parte ao número de
veículos desta categoria presentes na Região Norte, representando cerca de
70% do parque automóvel. Relativamente às partículas, uma vez que presença
deste poluente é normalmente associada à combustão em veículos a diesel,
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 85
as categorias que mais contribuem para a sua emissão são as de pesados de
mercadorias e ligeiros a diesel.
Geograficamente, a grande área metropolitana do Porto, bem como os
concelhos adjacentes às A1, A3, A4, A28, IP4, EN13, EN101 e EN107, foram as
áreas que, para o ano de referência, obtiveram as maiores emissões de
tráfego.
No que se refere às emissões provenientes da combustão residencial, foi
disponibilizado um inquérito online, a nível nacional, para tentar determinar
uma taxa de utilização de lareiras domésticas na Região Norte, bem como a
quantidade de lenha consumida pelas famílias portuguesas e a quantidade de
lareiras abertas e fechadas existentes. Os resultados regionais do inquérito
efectuado, bem como os dados disponíveis no Census 2001, permitem verificar
que 30% dos inquiridos usa lareira, e que de entre esta população, 75%
consome até 2 toneladas de lenha por Inverno. Estes dados, usados para
calcular as emissões de material particulado, permitem identificar as
aglomerações Porto Litoral, Braga e Vale do Ave, como as maiores emissoras
de partículas na Região Norte. Este resultado é consistente com a elevada
densidade populacional destas áreas urbanas, que por si só, representam
cerca de 96% do agregado populacional da Região Norte.
No interior transmontano, apesar de se tratar de uma zona geográfica onde o
próprio clima e os factores sócio-económicos poderiam potenciar o uso de
aquecimento recorrendo a este tipo de equipamento, estima-se uma menor
emissão de partículas. Para tal pesa, não só o factor demográfico, mas
também a heterogeneidade geográfica na distribuição dos inquéritos, onde as
aglomerações que apresentaram as emissões de partículas mais elevadas,
foram as que obtiveram maior número de respostas.
O tratamento de informação relativa ao sector industrial, teve em
consideração o tipo de monitorização das emissões efectuado nas diferentes
instalações: continua ou pontual. Analisaram-se separadamente as 4 grandes
fontes identificadas na Região Norte e as restantes pequenas fontes industriais
que compõem a Base de Dados do autocontrole da CCDR-N.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 86
Os dados analisados das 4 grandes fontes industriais (Refinaria de Matosinhos;
Central Térmica da Turbogás; a Celulose de Viana do Castelo e a Siderurgia
Nacional) revelam reduções acentuadas das emissões totais, para a maior
parte dos poluentes considerados, entre 2003 e 2007, devido a melhorias nos
processos industriais. Identificam-se duas principais grandes fontes emissoras -
Refinaria de Matosinhos (SO2 e PM10) e Central Térmica de Gondomar (NOx e
COVNM). A Refinaria é responsável por 94% do SO2 e 61% das PM10, e a Central
Térmica por 66% do NOx e 61% dos COVNM emitidos pelo total das 4 fontes. A
Siderurgia Nacional da Maia contribuiu com 68% para o total das emissões de
CO.
Em relação às fontes industriais de monitorização pontual, verificou-se existir
uma representatividade espacial satisfatória da Base de Dados da CCDR-N,
face à totalidade das indústrias existentes/cadastradas na DRE-N. No entanto,
o universo de indústrias compiladas nesta BD representa apenas 30% do total
licenciado.
Com respeito aos dados de emissões totais por concelho, observou-se que a
distribuição espacial das emissões para todos os poluentes monitorizados, é
idêntica para os 3 anos analisados (2005, 2006 e 2007), relativamente a estas
fontes pontuais. Os concelhos onde se registaram maiores valores de emissão,
são comuns aos vários poluentes analisados.
Considerando panorama regional, identificam-se: Guimarães, Vila Nova de
Famalicão e Matosinhos, como os concelhos com maiores emissões
atmosféricas, para todos os poluentes considerados, responsáveis, em média,
por mais de 10% das emissões totais. Seguidos pelos concelhos de Gaia, Feira,
Porto e Maia com valores de emissões elevados para vários poluentes.
De um modo geral, analisando a evolução temporal destas emissões durante o
período 2005-2007 observa-se uma redução dos totais de emissões, para todos
os poluentes analisados, possível reflexo de acções de modernização da
indústria levadas a cabo nos últimos anos.
Relativamente às partículas e SO2 este decréscimo das emissões totais reflecte
provavelmente uma melhor eficiência de combustão e alterações no tipo de
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 87
combustível usados pelas indústrias (ex. substituição por gás natural). No caso
do CO e do NOx, as reduções verificadas para 2006-2007 estão relacionadas
com um melhor controlo das condições de queima e eficiência de combustão.
Para a redução das emissões de COV’s aponta-se como principal causa a
substituição de produtos de base solvente por base aquosa.
Quanto às emissões biogénicas, a quantidade dos compostos emitidos por este
sector depende sobretudo do tipo de vegetação, nomeadamente da floresta,
e das condições meteorológicas existentes. As emissões biogénicas foram
estimadas, em termos de máximos horários, recorrendo aos dados de
temperatura e radiação obtidos pelo modelo meteorológico MM5 e aos dados
de uso do solo do CORINE Land Cover. Estas emissões dizem respeito a
monoterpenos e isopreno (principais COV’s emitidos) e foram calculadas para
o período de Verão e de Inverno.
Verificou-se que é no Norte Litoral e nos concelhos minhotos pertencentes à
Zona Norte Interior, que se encontra a maior taxa de emissão de
monoterpenos, independentemente da época do ano em estudo. Não
obstante, no período de Verão, as emissões destes compostos orgânicos são
mais elevadas do que no período de Inverno, como seria de esperar, dado que
estão dependentes, quer da temperatura, quer da radiação solar.
No caso do isopreno, observa-se uma tendência semelhante, apesar de não
tão abrangente a nível geográfico. Existe uma clara incidência de emissão
deste poluente nos concelhos de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Valença,
Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, e nos concelhos fronteira com a Região
Centro do país e nordeste transmontano.
O uso do solo na área de abrangência da CCDR-N é predominantemente
florestal, com excepção do nordeste transmontano, onde se observa uma
elevada área de uso agrícola.
A ausência de emissões biogénicas na quase totalidade dos concelhos da
Zona Interior Norte, está relacionada com a distribuição espacial das espécies
florestais emissoras de COV’s consideradas na metodologia de cálculo
(pinheiro, eucalipto, carvalho e azinheira).
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 88
De forma a complementar este inventário regional, e dar seguimento ao
trabalho desenvolvido, o presente protocolo terá continuidade em 2008/2009.
Serão aperfeiçoadas as metodologias utilizadas, em particular o “bottom-up”,
para abranger todos os sectores de actividade, permitindo assim calcular o
total emitido de cada poluente, bem como uma análise comparativa da
contribuição dos diferentes sectores.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 90
REFERÊNCIAS
ACAP (2007) Estatísticas do Sector Automóvel – Edição 2007 (cd-rom), ACAP.
APA (2007) Relatório do Estado do Ambiente de 2006, Agência Portuguesa do
Ambiente.
BOAVIDA, F., Jardim, D., Carreira, P., Ferreira, F., Tente, H., Mesquita, S., (2004).
Guia para a elaboração de Planos e Programas, IA e DCEA-FCT/UNL, Lisboa,
Julho 2004
Borrego, C., Miranda, A.I., Monteiro, A., Martins, H., Ferreira, J., Salim, L., J.,
Ginja, S., Coutinho, M., Pereira, M. (2003). Inventariação das Emissões de
Poluentes Atmosféricos da Região Norte, R1 – Desenvolvimento do Inventário
“top-down”, Universidade de Aveiro AMB-QA-13/03. Estudo realizado no
âmbito de protocolo de colaboração com a CCDR-Norte.
Borrego, C., Miranda, A.I., Monteiro, A., Martins, H., Ferreira, J., Salim, L., Sousa,
S., Coutinho, M., Pereira, M. (2007). Elaboração de Planos e Programas de
Acção para a melhoria da qualidade do ar na região Norte. Relatório Síntese
2001-2003, Universidade de Aveiro AMB-QA-11/2006. Estudo realizado no
âmbito de protocolo de colaboração com a CCDR-Norte.
Borrego, C., Miranda, A.I., Martins, H., Ferreira, J., Sousa, S., Calado, D., Sá. E.,
Planos de Melhoria da Qualidade do Ar na Região Norte para o período 2001-
2004, Departamento de Ambiente e Ordenamento, Universidade de Aveiro,
Portugal, Julho 2007
Borrego, C., Miranda, A.I., Monteiro, A., Martins, H., Barbedo, P., (2008).
Inventario das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte, R1 –
Desenvolvimento do Inventário “top-down”, Universidade de Aveiro AMB-QA-
3/2008. Estudo realizado no âmbito de protocolo de colaboração com a
CCDR-Norte.
CENSUS 2001 (2001). Formato digital, Instituto Nacional de Estatística.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 91
COPERT III (2000) Computer Programme to Calculate Emissions from Road
Transport, Methodology and Emission Factors (Version 2.1), EEA.
DGE – Direcção Geral de Energia (1995). Informação Energia nº20.
ECMT (2001): European Conference of Ministers of Transport.: Vehicle Emission
Reductions, OECD, France.
European Environmental Agency (2007) EMEP/CORINAIR Emission Inventory
Guidebook 2007, Technical Report Nº 16/2007, EEA.
Geron C., Guenther A., Pierce T. (1994): An improved model for estimating
emissions of volatile organic compounds form forests in the eastern United
States. In: Journal of Geophysical Research, v.99, nº D6, pp. 12773-12791.
Guenter A., Hewitt C., Erickson D., Fall R., Geron C. (1995): A global model of
ntural volatile organic compounds emissions. In Journal of Geophysical
Research, v. 100, nº D5, pp. 8873-8892.
Gkatzoflias, D., Ntziachristos, L. and Samaras, Z. (2007) COPERT IV – Computer
Programme to Calculate Emissions from Road Transport, Methodology and
Emission Factors (Version 5.0), EEA.
Hickman, A.J. (1997) Emission functions for heavy duty vehicles. TRL report,
n°PR/SE/289/97, Crowthorne, Reino Unido, pp. 24.
Hinrichs, R. A., KLEINBACH, M. (2003). Energy: its use and The environment.
Austrália, pp. 66.
IA (2004). Instituto do Ambiente, Portuguese National Inventory Report on
Greenhouse Gases, 1990-2003, 2005
INE (2007) Anuário Estatístico da Região Norte 2006.
Joumard R. (1999) Methods of estimation of atmospheric emissions from
transport: European scientist network and scientific state-of-the art. INRETS
report, n° LTE 9901, Bron, França, 158 p., e Comissão Europeia, DG Transportes,
n°EUR 18902, ISBN 92-828-6797-8, Luxemburgo, pp.174.
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 92
Miranda, A.I., Costa, A.M. e Borrego, C. (2005) Transportes Sustentáveis para a
Cidade do Futuro (Sustainable Transports for the City of Tomorrow).
Universidade de Aveiro, Portugal; pp.94.
NAEI (2003) Vehicle Emission Factor Database. National Atmospheric Emission
Inventory. Reino Unido.
Niederle W. (1999): MEET/COST319 and handbook emission factors application
for Germany. In: Prooceding of 8th International Sysmposium on Transport and
Air Pollution, Graz, Austria, pp.453-464.
PNAC (2006): Programa Nacional para as Alterações Climáticas. Síntese –
Cenário e esforço de redução. Instituto do Ambiente.
Simpson, D., A. Guenther, C. N. Hewitt, and R. Steinbrecher, 1995: Biogenic
emissions in Europe. 1. estimates and uncertainties. J. Geophys. Res., 100D,
22875-22890.
Sternhufvud, C., Karvosenoja, N., Illerup, J., Kindbom, K., Lükewille, A.,
Johansson, M. & Jensen, D. (2004). Particulate matter emissions and
abatement options in residential wood burning in the Nordic countries.
Copenhaga, pp.72.
Tchepel, O. (2003) Modelo de emissões para apoio à decisão na Gestão da
Qualidade do Ar. Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para
obtenção do grau de Doutor em Ciências Aplicadas ao Ambiente.
Universidade de Aveiro, Portugal; pp.213.
Sítios consultados na Internet:
URL1: http://www.ine.pt/
URL2: http://www.emep-emissions.at/emission-data-webdab/
URL3: http://www.apambiente.pt/
URL4: http://www.snig.cnig.pt/
Inventário das Emissões de Poluentes Atmosféricos da Região Norte 93
URL5: http://epp.eurostat.ec.europa.eu
URL6: http://reports.eea.europa.eu/EMEPCORINAIR4/en/page002.html
URL7: http://www.estradasdeportugal.pt/site/v3/
URL8: http://reports.eea.europa.eu/technical_report_2008_7/en
URL9: http://reports.eea.europa.eu/COR0-landcover/e