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FERNANDA CARVALHO BRITO INVENTÁRIO HISTÓRICO CULTURAL DE MITOS E LENDAS DAS COMUNIDADES DO ENTORNO DO RIO PREGUIÇAS EM BARREIRINHAS MA: um atributo turístico cultural dos Lençóis Maranhenses Balneário Camboriú (SC) 2015

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FERNANDA CARVALHO BRITO

INVENTÁRIO HISTÓRICO CULTURAL DE MITOS E LENDAS DAS

COMUNIDADES DO ENTORNO DO RIO PREGUIÇAS EM BARREIRINHAS – MA:

um atributo turístico cultural dos Lençóis Maranhenses

Balneário Camboriú (SC) 2015

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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Vice-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria – PPGTH

Curso de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria

FERNANDA CARVALHO BRITO

INVENTÁRIO HISTÓRICO CULTURAL DE MITOS E LENDAS DAS

COMUNIDADES DO ENTORNO DO RIO PREGUIÇAS EM BARREIRINHAS – MA:

um atributo turístico cultural dos Lençóis Maranhenses

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Turismo e Hotelaria – área de concentração: Planejamento e Gestão do Turismo e da Hotelaria – (Linha de Pesquisa: LPI – Planejamento do Destino Turístico). Orientador: Prof. Dr. Luciano Torres Tricárico

Balneário Camboriú (SC) 2015

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APRESENTAÇÃO

No processo da formação do homem de forma plena e integral a

universidade tem um papel significativo. As discussões que ocorrem na academia nos

conduzem a pertinentes reflexões, que encaminham a formulações e redefinições de

diversos conceitos nos mais variados âmbitos, ampliando, assim, a nossa visão de

mundo e o nosso leque de informações nos campos social, político, econômico,

cultural, entre outros. Há, ainda, de se ressaltar a função do Mestrado na qualificação

profissional que atualmente é imprescindível para um pesquisador, considerando que

é direcionado para as pessoas interessadas em ingressar na pesquisa acadêmica,

sejam eles recém-formados ou profissionais do mercado.

Passado cerca de dez anos trabalhando em escolas particulares é que veio

novamente aquele sonho guardado do tempo de faculdade - a de ser concursada e

ter um pouco de estabilidade, principalmente porque eu já era mãe de duas filhas. Em

meados de 2006, comecei a estudar para vários concursos, até que em 2010 tive o

resultado de minha dedicação, passei no concurso da UEMA de Bacabal para o

Ensino Superior, no Estado para o Ensino Médio e o IFMA de Barreirinhas para o

Médio e Superior.

Hoje sou professora do Estado e do IFMA, ministrando as disciplinas de

português e espanhol. Mas o mais interessante é que revivi uma nova experiência em

sala de aula, a de ter pela primeira a oportunidade de orientar os alunos e a voltar a

ser uma pesquisadora. Fiquei tão comovida com o relato de uma turista ao comentar

que havia ficado “encantada” em conhecer uma lenda da comunidade de Barreirinhas,

contada pelo condutor de turismo. E a partir deste episódio que me veio a curiosidade

de investigar os mitos e as lendas do município de Barreirinhas. E assim orientei meu

primeiro projeto do Pibic-Médio em relação aos contos, mitos e lendas da Comunidade

do entorno dos Lençóis maranhenses, em Barreirinhas-MA.

Como já mencionado anteriormente, é mais do que claro para todo

profissional, seja ele de qual área for, a necessidade constante de qualificação. Neste

sentido, o mestrado apresenta-se como elemento essencial para dar continuidade ao

meu processo de formação. Considerando que já possuo iniciada a caminhada no

magistério, tanto na educação básica quanto na superior, a exigência de ampliar o

meu cabedal de conhecimento é ainda mais pertinente. Tendo em vista que a

especialização já não contempla mais as necessidades do exigente mercado de

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trabalho, a formação continuada em nível de mestrado mostra-me, cada vez mais, de

suma importância.

Por isso, assim que tomei ciência do Mestrado em Turismo e Hotelaria,

resolvi participar da seleção, uma vez que é a oportunidade para dar continuidade a

minha formação, melhorar a minha qualificação profissional, e assim poder estar em

melhores condições de enfrentar a concorrência do mercado de trabalho atual e,

principalmente, esse desejo se fortaleceu ao conhecer a proposta do curso e,

respectivamente, das suas linhas de pesquisa. O que já muito me interessava, pois,

desde que, comecei a trabalhar no IFMA-Campus Barreirinhas e interagir com a

comunidade, o turismo e sua cultura, observei como estudiosa que há uma gama

muito rica sobre a literatura oral, mas não há um registro desta literatura, nem estudos

aprofundado e científico, e este fato foi uma das mais significantes razões pela escolha

deste Mestrado.

A percepção da expectativa desse problema, que se torna um entrave para

a literatura e identidade cultural de um povo, foi percebido que esta literatura corre

risco de não ser passada de geração em geração, mas também pude identificar que

um estudo científico poderá servir como uma ponte de apoio e estudo para muitos

outros trabalhos que venham abordando o Turismo e a Cultura de uma comunidade.

Sendo assim, o mestrado trouxe a oportunizar de pesquisar e, ainda,

adquirir conhecimentos que subsidiarão uma maior cientificidade às discussões e me

inserindo novamente no contexto acadêmico, uma vez que tenho plena convicção da

importância de mais esse passo para minha caminhada de formação, contribuindo de

forma crítica e transformadora. Quem sabe em um futuro próximo dar continuidade e

desenvolvimento em meus estudos devido às conclusões e aprimorando novas

reflexões que certamente surgirão no decorrer dos estudos, com o Doutorado.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter colocado a cidade de Barreirinhas na trajetória de minha vida profissional, científica, e laços de eternas amizades. Agradeço aos meus pais Fernando e Maria de Jesus, ao meu esposo Carlos Lindenberg e filhas Gabriella e Rebeca, minha madrinha Marise Piedade pelo incentivo, compreensão e apoio nas horas difíceis. E por último, agradeço aos meus amigos Mauro, Irinéia, Chico, Ana Lúcia, Rivaldo, Gil, Rafiza, Canídia, Abahão, Isael e Carlos Eduardo Colins pelo apoio e ajuda na contribuição da realização deste trabalho, assim como a minha querida amiga Monique Serra, Luciano Gomes e ao meu orientador Luciano Torres Tricárico pela orientação. E a todos os demais amigos, meus singelos agradecimentos.

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BRITO, Fernanda Carvalho. Inventário Histórico Cultural de Mitos e Lendas Comunidades do Entorno do Rio Preguiças em Barreirinhas – MA: um atributo turístico cultural dos Lençóis Maranhenses. Dissertação, 168p. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria – Mestrado Acadêmico MINTER-UNIVALI, realizado na Universidade do Vale do Itajaí – SC., 2015.

RESUMO

Esta pesquisa discorre sobre os mitos e lendas que fazem parte do patrimônio cultural imaterial da cidade de Barreirinhas e seu entorno, a fim de demonstrar a importância e o respeito pela preservação da identidade cultural no âmbito literário da cultura popular barreirinhense. Isso porque, os mitos e as lendas possuem características que retratam o mítico, símbolo do imaginário social da comunidade, povoado de mistérios e que junto a outros elementos culturais originam toda a produção cultural situados no tempo e no espaço do homem. Sendo assim, objetiva-se, por meio desta pesquisa, analisar os benefícios acrescentados ao turismo que os mitos e lendas do entorno do Rio Preguiças trazem, bem como para toda a sociedade de Barreirinhas-MA. Para tanto, como procedimento metodológico utilizam-se instrumentos e técnicas qualitativas para coleta e análise dos dados de entrevistas com três moradores de cada uma das sete comunidades ribeirinhas selecionadas para efeito desta pesquisa, 10 condutores de visitantes, 11 turistas e, tendo o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) como instrumento de análise metodológica dos dados sob a visão de Fernando Lefèvre e Ana Maria Cavalcante Lefévre, em que através das falas dos entrevistados, descreve-se o resultado da pesquisa. Apresenta-se como conclusão da pesquisa, a possibilidade de haver um trabalho em conjunto entre as partes interessadas com o intuito de beneficiar as comunidades ribeirinhas, através da complementação da oferta turística local. Com isso, há a necessidade de realização de um planejamento para execução da atividade turística que levem em conta as propostas apresentadas pelas comunidades ribeirinhas contempladas. Deste modo, apresentam-se propostas norteadoras a título de contribuição para agregar valores culturais aos roteiros turísticos já existentes, otimizando a experiência do visitante e inserindo a comunidade neste processo.

Palavras-chave: Turismo Cultural. Patrimônio Cultural Imaterial. Mito. Lenda.

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BRITO, Fernanda Carvalho. Resgate Histórico Cultural de Mitos e Lendas das Comunidades do Entorno do Rio Preguiças em Barreirinhas – MA: um atributo turístico cultural dos Lençóis Maranhenses. Dissertação, 168p. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria – Mestrado Acadêmico MINTER-UNIVALI, realizado na Universidade do Vale do Itajaí – SC., 2015.

ABSTRACT

This research discusses the myths and legends that are part of the intangible cultural heritage of the city of Barreirinhas in the State of Maranhão, and its surroundings, in order to demonstrate their importance, and respect for the preservation of cultural identity in the literary context of the popular culture of Barreirinhas. This is because the myths and legends have characteristics that depict the mythical, a symbol of the social imaginary of the community, a people of mysteries that, together with other cultural elements, gave rise to all the cultural production situated in the time and space of its people. This research analyzes the benefits that the myths and legends surrounding the Preguiças River have brought for tourism, and for the society of Barreirinhas. To this end, qualitative tools and techniques were used to collect and analyze data from interviews with three residents of each of the seven riverside communities selected for the purposes of this study, as well as ten tour guides, and eleven tourists. The methodological tool used was Discourse of Collective Subject (DSC), to analyze the data in the form described by Fernando Lefèvre and Ana Maria Cavalcanti Lefèvre, whereby the results of the research are described through the words of the interviewers. The research concludes by presenting the possibility of a joint effort among the stakeholders interested in benefiting coastal communities by complementing the local tourism offer. A plan is needed, for the implementation of tourism activities that take into account the proposals presented by the riverside communities studied. Guiding proposals are therefore presented, as a contribution for adding cultural value to the existing tourist itineraries, optimizing the visitor experience and involving the local community in this process.

Keyword: Cultural tourism. Intangible Cultural Heritage. Myth. Legend.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Trajeto de São Luís-MA para Barreirinhas- MA............................... 23

Figura 2 Localização do município de Barreirinhas no Estado do Maranhão.. 68

Figura 3 Localização e População estimada do município de Barreirinhas... 69

Figura 4 Evolução Populacional do Município de Barreirinhas 1991-2010…. 70

Figura 5 Comunidades Ribeirinhas do município de Barreirinhas–MA........... 71

Figura 6 Dona Albertina Silva Rocha (à esquerda) ........................................ 75

Figura 7 “Cantinho” originou-se devido à volta que o Rio Preguiças percorre

e rodeia a Comunidade....................................................................

76

Figura 8 Porto do Bilica.................................................................................. 82

Figura 9 Rio Preguiças e o Banho na Comunidade Sobradinho................... 88

Figura 10 Entrada da Comunidade Sobradinho............................................... 88

Figura 11 Comunidade de São Domingos........................................................ 93

Figura 12 Dunas da Comunidade de Atins....................................................... 96

Figura 13 Passeio de quadriciculo ou carro 4 por 4.......................................... 97

Figura 14 2º Farol Preguiças da Comunidade de Mandacaru........................... 101

Figura 15 Paisagem vista do farol para a comunidade..................................... 102

Figura 16 Restaurante e Casa da Farinha (Produção da farinha de mandioca) 105

Figura 17 Artesã e contadora dos mitos e das lendas....................................... 105

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LISTA DE QUADRO

Quadro 1 – Tipologia do Turismo...................................................................... 31

Quadro 2 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade

sobre a cultura popular na comunidade Cantinho. Barreirinhas-

MA. 2015.......................................................................................

77

Quadro 3 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem

parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre

a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na

comunidade Cantinho. Barreirinhas-MA. 2015.............................

78

Quadro 4 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI

Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Cantinho.

Barreirinhas- MA. 2015.................................................................

80

Quadro 5 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade

sobre a cultura popular na comunidade Santo Antônio.

Barreirinhas-MA. 2015..................................................................

83

Quadro 6 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem

parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre

a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na

comunidade Santo Antônio. Barreirinhas-MA. 2015....................

84

Quadro 7 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI

Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Santo Antônio.

Barreirinhas-MA. 2015..................................................................

86

Quadro 8 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade

sobre a cultura popular na comunidade Sobradinho. Barreirinhas-

MA. 2015.......................................................................................

89

Quadro 9 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem

parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre

a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na

comunidade Sobradinho. Barreirinhas-MA. 2015.........................

90

Quadro 10 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI

Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Sobradinho.

Barreirinhas- MA. 2015.................................................................

92

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Quadro 11 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade

sobre a cultura popular na comunidade São Domingos.

Barreirinhas-MA. 2015...................................................................

93

Quadro 12 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem

parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre

a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na

comunidade São Domingos. Barreirinhas-MA. 2015...................

94

Quadro 13 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI

Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade São Domingos.

Barreirinhas- MA. 2015.................................................................

95

Quadro 14 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade

sobre a cultura popular na comunidade Atins. Barreirinhas-MA.

2015................................................................................................

97

Quadro 15 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem

parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre

a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na

comunidade Atins. Barreirinhas-MA. 2015...................................

98

Quadro 16 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI

Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Atins. Barreirinhas-

MA. 2015......................................................................................

99

Quadro 17 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade

sobre a cultura popular na comunidade Mandacaru. Barreirinhas-

MA. 2015.......................................................................................

102

Quadro 18 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem

parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre

a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na

comunidade Mandacaru. Barreirinhas-MA. 2015.........................

102

Quadro 19 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI

Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Mandacaru.

Barreirinhas- MA. 2015.................................................................

104

Quadro 20 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade

sobre a cultura popular na comunidade Tapuio. Barreirinhas-MA.,

2015...............................................................................................

106

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Quadro 21 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem

parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre

a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na

comunidade Tapuio. Barreirinhas-MA. 2015................................

107

Quadro 22 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI

Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Tapuio. Barreirinhas-

MA. 2015.......................................................................................

108

Quadro 23 – Discurso do sujeito coletivo com relação ao interesse do turista

em conhecer a cultura popular local. Barreirinhas-MA. 2015......

109

Quadro 24 – Discurso do sujeito coletivo com relação ao interesse do turista

em conhecer o patrimônio cultural imaterial (mitos e lendas) da

região que vai visitar: Barreirinhas-MA. 2015...............................

110

Quadro 25 – Discurso do sujeito coletivo com relação aos mitos e lendas que

acha mais interessante divulgar aos turistas: Barreirinhas-MA.

2015...............................................................................................

111

Quadro 26 – Discurso do sujeito coletivo com relação a preservar e divulgar

essa literatura oral aos turistas. Barreirinhas-MA. 2015................

112

Quadro 27 – Roteiro 1 – Santo Antônio e Cantinho............................................ 128

Quadro 28 – Roteiro 2 – Tapuio e São Domingos................................................ 129

Quadro 29 – Roteiro 3 – Atins............................................................................. 130

Quadro 30 – Roteiro 4 – Sobradinho.................................................................. 130

Quadro 31 – Roteiro 5 –Mandacaru.................................................................... 131

Quadro 32 – Delimitação de símbolos/signos das Comunidades Ribeirinhas..... 132

Quadro 33 – Demonstrativo de demarcação geográfica baseada no percurso

do Rio Preguiças em relação às Comunidades Ribeirinhas............

133

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC - Ancoragens

CNFCP - Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular

CNFL - Comissão Nacional do Folclore

CNRC - Centro Nacional de Referência Cultural

CNT - Conselho Nacional de Turismo

COMCOOP - Cooperativa de Condutores de Visitantes e Monitores

Ambientais do Parque Nacional dos Lençóis Maranhense

COMTUR - Conselho Municipal de Turismo de Barreirinhas

COOPERNÁUTICA - Cooperativa de Transporte Náutico dos Pilotos e

Proprietários de Embarcações de Barreirinhas

DPI - Departamento do Patrimônio Imaterial

DSC - Discurso do Sujeito Coletivo

ECH - Expressões-Chaves

FNPM - Fundação Nacional Pró-Memória

GTPI - Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IC

IFMA

- Ideias Centrais

- Instituto Federal do Maranhão

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

ISEB - Instituto Superior de Estudos Brasileiros

MA - Maranhão

MinC - Ministério da Cultura

Mtur - Ministério do Turismo

PCI - Patrimônio Cultural Imaterial

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas

Empresas

SENTUC - Secretaria Municipal de Turismo e Cultura

SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura

UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................... 15

2 PROCESSOS METODOLÓGICOS......................................................... 21

2.1 Tipo de Pesquisa.............................................................................. 21

2.2 População e Amostra....................................................................... 22

2.3 Técnicas de Coleta e Análise dos Dados....................................... 24

3 TURISMO E TURISMO CULTURAL.................................................. 29

4 ANÁLISE SOCIAL SOBRE O MITO........................................................ 37

4.1 História, Mito e Memória......................................................................... 37

4.2 Relatos Sobre os Mitos Emblemáticos................................................ 42

5 PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL................................................ 44

5.1 Patrimônio Cultural Imaterial................................................................. 49

5.2 Cultura Popular e a Construção Conceitual da Categoria

Folclore........................................................................................................

56

5.3 Lendas, Oralidade e Imaginário Popular............................................ 60

6 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO: BARREIRINHAS

– MA..............................................................................................................

65

6.1 Contextualização Histórico.................................................................... 65

6.2 Contextualização Sócio Espacial......................................................... 67

7 RESULTADOS DA PESQUISA................................................................ 72

7.1 Dados Obtidos Através da Pesquisa In Loco..................................... 72

7.1.1 Percepção da Cultura Popular, do Patrimônio Cultural Imaterial e do

Turismo Para as Comunidades Ribeirinhas............................................

74

7.1.1.1 Comunidade de Cantinho.......................................................................... 75

7.1.1.2 Comunidade de Santo Antônio.................................................................. 80

7.1.1.3 Comunidade de Sobradinho...................................................................... 87

7.1.1.4 Comunidade de São Domingos................................................................. 93

7.1.1.5 Comunidade de Atins................................................................................. 96

7.1.1.6 Comunidade de Mandacaru...................................................................... 99

7.1.1.7 Comunidade de Tapuio.............................................................................. 104

7.2 Percepção da Cultura Popular, do Patrimônio Cultural Imaterial

e do Turismo Para os Turistas...............................................................

109

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7.3 Percepção da Cultura Popular, do Patrimônio Cultural Imaterial

e do Turismo para os Condutores de Turismo...................................

111

7.4 Discussão da Coleta de Dados.............................................................. 113

7.4.1 Comunidades Ribeirinhas.......................................................................... 113

7.4.2 Turista................................................................................................ 120

7.4.3 Condutores de Turismo...................................................................... 122

7.4.4 Proposta de Roteiro para o Turismo Cultural e de Estratégias de

disseminação da cultura oral em Mitos e Lendas de Barreirinhas-MA

124

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 134

REFERÊNCIAS........................................................................... 137

APÊNDICE A – Entrevista Estruturada Para a Comunidade............ 147

APÊNDICE B – Questionário de Pesquisa Aplicado aos Turistas.... 150

APÊNDICE C – Questionário de Pesquisa Aplicado aos Condutores

de Visitantes................................................................................................

153

APÊNDICE D – Termo de Compromisso................................................. 155

APÊNDICE E – Perfil Condutores de Turismo........................................ 157

APÊNDICE F – Perfil dos Turistas............................................................ 159

APÊNDICE G – Lendas e Mitos das Comunidades Ribeirinhas....... 160

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1 INTRODUÇÃO

O mundo é uma teia global, e as distâncias não são mais obstáculos para

os turistas, já que as informações são instantaneamente divulgadas através da mídia

e internet. Dessa forma, as pessoas se deslocam por inúmeros motivos, inclusive pela

Cultura, uma vez que o acesso a um vídeo na Internet, uma novela, filmes ou folders

em agências de viagem poderá aguçar o imaginário do turista. Para Murta e Myanaki

(2011, p.7):

Hoje, os meios de comunicação nos permitem saber com rapidez e eficiência muita coisa sobre outros povos e outras culturas. É muito comum o cinema e a televisão exibirem filmes japoneses, franceses, ingleses e norte-americanos. Nas grandes cidades, grupos folclóricos, artistas e músicos estrangeiros apresentam sua produção cultural.

O Turismo Cultural serve de acesso ao patrimônio, o qual se caracteriza

pelo interesse do turista em conhecer não só paisagens e monumentos, mas, também

a busca da valorização e conhecimento da formação da identidade de um povo, que

possui diversos valores e olhares, tradições, manifestações culturais, artísticas,

históricas e religiosas.

A priori, há uma relação entre a Cultura e o Turismo baseada na “existência

de pessoas motivadas em conhecer culturas diversas” e a posteriori, “na possibilidade

do turismo servir como instrumento de valorização da identidade cultural, da

preservação e conservação do patrimônio e da promoção econômica de bens

culturais”. (BRASIL, 2008, p.16).

A cultura está presente em todas as regiões do Brasil, nas áreas urbanas

e rurais, à medida que propiciam situações de interação entre os turistas e a cultura

local, pois os visitantes passam a valorizar o folclore, os costumes éticos, as casas

típicas, crenças, mitos, lendas, contos, bebidas e comidas regionais, festas e festivais.

Nesse contexto, há uma ligação muito forte entre o turista, a cultura e o patrimônio.

Outro fator, preponderante, refere-se ao fato de que inúmeros imigrantes trouxeram

seus hábitos e costumes, que, ao longo dos anos, interagiram com as culturas aqui já

existentes.

Vale destacar que, a diversidade cultural brasileira tem sido prestigiada

pelos governantes e pela sociedade como um dos principais aspectos do patrimônio

brasileiro. Isso significa para o Turismo a possibilidade de estruturação de novos

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produtos distintos, aumentando o fluxo de turistas. Tendo como apreço a possibilidade

de fazer do turismo uma ação capaz de promover e preservar a cultura. (BRASIL,

2008). De acordo com Castro e Fonseca (2008, p. 19) as Políticas culturais

relacionadas ao patrimônio cultural imaterial têm como:

A principal estrutura governamental voltada especificamente para a preservação do patrimônio cultural imaterial é o Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI) do IPHAN. O DPI foi criado pelo Decreto nº 5.040, de 6 de abril de 2004, e substituiu o antigo Departamento do Patrimônio Imaterial e Documentação de Bens Culturais, que fora criado, por sua vez, pelo Decreto nº 4.811, de 19 de agosto de 2003. Ao DPI vincula-se, desde dezembro de 2003, o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP). Associam-se também às ações do DPI as secretarias regionais do IPHAN.

O produto turístico cultural, quando bem elaborado e executado em seu

planejamento poderá atrair fluxo e contingente de visitantes para uma determinada

região e, também vários investidores. Além disso, o Turismo Cultural proporcionará

para a região outras vantagens como: polos turísticos, intercâmbio cultural, melhoria

da geração de empregos, valorização da cultura local e preservação do patrimônio

cultural.

A preservação do patrimônio material e imaterial é uma preocupação

mundial, e reconhecida como vertente representativa da cultura humana na

atualidade, devido às características histórico-culturais, que essa riqueza representa

para as sociedades do mundo todo. “Portanto, o reconhecimento do patrimônio

intangível como índice cultural foi construído no curso de um longo processo de

maturação, resultado da ampliação do debate, da legislação e da ação de órgãos

públicos nacionais e internacionais”. (SILVA, 2013, p.2).

No turismo, a atividade multifacetada está envolvida com aspectos tanto

econômicos, sociais, culturais e ambientais. No entanto, no que se refere à

preservação deve-se ter um olhar especial para a conservação e respeito deste

patrimônio material e imaterial, permitindo o aperfeiçoamento da regulamentação

desta atividade, sem causar danos irreparáveis, tanto nas cidades, quanto na

sociedade. Para Borges, Marujo e Serra (2013, p. 140)

O turismo é uma atividade multifacetada que apresenta uma forte ligação com o patrimônio material e imaterial de um lugar. É óbvio que a atividade turística pode ser responsável por alguns problemas que afetam, por exemplo, as cidades patrimônio mundial. Mas, também, é um fato que o turismo pode contribuir para a revitalização e preservação dessas mesmas cidades.

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De acordo com a definição da Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 2003, o Patrimônio Cultural Imaterial

é transmitido de geração em geração, sendo constantemente (re)criado pelas

comunidades, grupos, ou indivíduos (BRASIL, 2006a). E manifesta-se nas

comunidades ou individualmente, por meio das tradições, práticas sociais, rituais,

eventos festivos e expressões orais, conhecimentos e técnicas, junto com os

instrumentos, objetos, artefatos que lhes são associados e relacionados ao seu

ambiente, de sua interação com a natureza e sua história.

No cenário da cultura de um determinado povo, há um aglomerado de

manifestações e expressões de caráter intangível e que se apresenta na memória

como preservação e, na oralidade, como forma de transmissão. Surgem a partir desse

conglomerado imaterial os contos populares, os mitos, as lendas, assim como os

rituais e todo universo dos saberes, experiências e vivências populares.

A relação existente entre o turismo, o patrimônio, a cultura, os mitos e

lendas são discussões teóricas de muitos autores e estudiosos de diferentes áreas do

conhecimento, como Lima (2002); Barretto (2007); Ferreira (2012); Silva (2013) e

serão vistos neste estudo, com o foco voltado para o Turismo Cultural.

A cerca do exposto, acima, o motivo que contribuiu para a escolha do tema

foi a reflexão dos benefícios que o patrimônio cultural pode trazer para a comunidade

barreirinhense, partindo do princípio de que o imaginário mítico também faz parte do

universo turístico cultural e que merece ser foco de pesquisa e estudo.

Barreirinhas é considerada como ‘portal’ de acesso de um rico patrimônio

‘natural’ representado pelas ‘belezas’ do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses

(MARTINS, 2008), patrimônio este que vem sendo utilizado turisticamente,

favorecendo a economia local. Além disso, o município possui também, um

patrimônio cultural, por meio da produção e comercialização do artesanato em fibra

de buriti, típico exemplo de um legado material. Entretanto, o patrimônio cultural

imaterial, representado pelas manifestações folclóricas de um povo, os mitos e lendas,

necessitam de um olhar voltado para a valorização deste legado, sua importância e

sua relação com a formação da identidade e do Turismo Cultural.

A presente dissertação tem como objeto de investigação o patrimônio

cultural imaterial – mitos e lendas – os benefícios que estas manifestações culturais

trazem para a comunidade e para o Turismo Cultural. Os mitos e lendas oriundos das

comunidades ribeirinhas do município de Barreirinhas-MA, local onde a pesquisa

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pretende concentrar-se, é entendido como um espaço impregnado de crenças, de

modo que se possam construir relações mais amplas, entre o imaginário popular e o

turismo local.

Assim, o problema se define sobre a vertente que diz respeito a

comunidade de Barreirinhas-MA, a qual contempla compreende a relevância cultural

de seus mitos e lendas como um atributo para o desenvolvimento do turismo cultural?

Segundo Ferreira (2012) a compreensão dos mitos e lendas como manifestações

culturais, peculiares do lugar, compreende a percepção da comunidade em relação à

importância da preservação dessas manifestações culturais e sua relação com o

Turismo Cultural.

De forma geral, por meio deste trabalho, foram analisados os benefícios

turísticos culturais que os mitos e as lendas do entorno do Rio Preguiças trazem para

a sociedade de Barreirinhas-MA. De forma específica, pretende-se:

a) Identificar os mitos e as lendas contados pelas comunidades do entorno

do Rio Preguiças;

b) Definir quais mitos e lendas contribui para a conservação da memória e

da identidade cultural desta comunidade;

c) Produzir um acervo literário oral dos mitos e lendas locais;

d) Elaborar sugestões que incluam os mitos e as lendas no roteiro turístico

cultural de Barreirinhas-MA.

A pesquisa ocorreu no final do primeiro semestre de 2015 e utilizou-se

como modelo de referência metodológica a abordagem qualitativa, assim como o uso

das técnicas de pesquisa de campo, entrevistas estruturadas com as comunidades

ribeirinhas, questionários semiestruturado com os turistas e condutores de visitantes,

e também as observações.

Depois de definido os envolvidos na investigação: moradores das

comunidades ribeirinhas do município de Barreirinhas-MA, turistas e condutores de

visitantes da região para que, por meio da interpretação da coleta de dados, pudesse

ser construído a partir da fala dos depoimentos individuais, um novo discurso,

caracterizado como Discurso do Sujeito Coletico – DSC – técnica elaborada pelos

estudiosos Fernando Lefèvre e Ana Maria Cavalcante Lefèvre.

Neste contexto, buscou-se esclarecer se a comunidade ribeirinha teria o

interesse em preservar a cultura popular através dos mitos e lendas da região, assim

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como a aceitação de divulgar esses manifestos culturais para os visitantes, e estes

por sua vez, tenham o interesse em conhecer ou não a cultura popular dessas

comunidades ribeirinhas. E também, se os condutores de visitantes divulgam os mitos

e as lendas desses povoados ribeirinhos. Podendo a partir do exposto, caracterizar a

pesquisa como sendo exploratória e descritiva.

Para embasamento teórico, realizou-se inicialmente uma revisão

bibliográfica, na qual foram levantados os dados relativos ao Turismo Cultural,

Patrimônio Histórico Cultural, Cultura Popular, Patrimônio Cultural Imaterial, Mitos e

Lendas e sobre a região estudada. Buscou-se entender, também através da pesquisa

bibliográfica, o turismo, sua conexão com a cultura popular oral através dos mitos e

lendas, e a proposta de um roteiro turístico que incluam os mitos e lendas das

comunidades ribeirinhas – Atins, Mandacaru, Tapuio, São Domingos, Santo Antônio,

Cantinho e Sobradinho, situadas no município de Barreirinhas-MA, e que pertencem

ao cenário de desenvolvimento do turismo cultural da região.

Em vista do apresentado, acima, torna-se indispensável demonstrar a

importância e o respeito pela preservação da identidade cultural, do patrimônio

imaterial para o Turismo Cultural como incentivador da divulgação literária oral das

comunidades ribeirinhas, fazendo com que a população entre em contato com sua

cultura, permitindo a divulgação do Turismo cultural para o mundo, por meio dos mitos

e lendas, pois este patrimônio cultural imaterial pertence ao povo que pode

compartilhar esse acervo literário aos turistas e, assim incluir essas comunidades, nos

roteiros turísticos já existentes na cidade de Barreirinhas.

A dissertação aqui apresentada está organizada em sete capítulos. No

primeiro capítulo, descreve-se os processos metodológicos utilizados para a formação

da pesquisa; o segundo capítulo, intitula-se a análise social sobre o mito, com os

seguintes subitens: história, mito e memória e os relatos sobre os mitos emblemáticos;

o terceiro capítulo aborda o patrimônio histórico cultural enfocando o Patrimônio

Cultural imaterial, a Cultura Popular e a construção conceitual da categoria Folclore e

as Lendas, Oralidade e Imaginário Popular; o quarto capítulo: Turismo destacando o

Turismo Cultural; o quinto aborda-se o município foco da pesquisa, Barreirinhas – MA,

com sua contextualização histórica e geográfica, assim como sua formação espacial;

no sexto apresenta-se a discussão dos resultados, através dos quadros de acordo

com a Pesquisa In Loco, onde enfatiza-se a percepção da cultura popular, do

patrimônio cultural imaterial e do turismo para as comunidades ribeirinhas, para os

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turistas e condutores de visitantes, sinalizou-se de tal modo a discursão dos

resultados dos mesmos; assim como apresenta-se a proposta de roteiro para o

turismo cultural e de estratégias de disseminação da cultura oral dos mitos e lendas

de algumas comunidades ribeirinhas do município de Barreirinhas- MA; e finalmente,

o sétimo e último capítulo destaca-se as considerações finais.

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2 PROCESSOS METODOLÓGICOS

A princípio, antes de apontar o percurso metodológico propriamente dito, é

importante frisar que este trabalho tem caráter interdisciplinar, pois contém diversos

conhecimentos científicos, de diferentes campos do saber – Antropológico,

Sociológico, Histórico e Turístico, no intuito de refletir sobre a importância das

“manifestações culturais” – mitos e lendas – que fazem parte do “patrimônio cultural

imaterial”, relacionados à comunidade local e ao turismo, na cidade de Barreirinhas -

MA.

Este capítulo tem por objetivo expor a metodologia utilizada no arranjo e

preparação da pesquisa proposta, por meio da discussão do tipo de estudo, descrição

do universo investigado para obtenção de dados, assim como sua forma de coleta.

2.1 Tipo de Pesquisa

Pretendeu-se, neste trabalho, desenvolver um estudo qualitativo do tipo

exploratório e descritivo aplicado por meio da pesquisa bibliográfica e de campo,

utilizando a análise do discurso do sujeito coletivo como método interpretativo. Esta

tem como característica interpretativa, que vem a considerar a história, o lugar, a

cultura e também as comunidades do local em que se desenvolve (AQUINO, 2009).

“O pesquisador participa, compreende e interpreta”. (CHIZZOTTI, 2010, p. 52).

Na pesquisa qualitativa todos os fenômenos são ao mesmo tempo

extraordinários e valiosos, assim como os sujeitos, que são dignos de estudo, já que

todos são iguais; entretanto, permanecem únicos, levando-se em consideração que

todos os seus pontos de vistas são relevantes e fundamentais, tanto os mais cultos

aos menos letrados.

O interesse em utilizar o método qualitativo para os estudiosos Bauer e

Gaskell (2002, p. 57) consistiu em que:

O interesse dos pesquisadores qualitativos é na tipificação da variedade de representações das pessoas no seu mundo vivencial. As maneiras como as pessoas se relacionam com os objetos no seu mundo vivencional, sua relação sujeito-objeto, é observada através de conceitos tais como opiniões, atitudes, sentimentos, explicações, estereótipos, crenças, identidades, ideologias, discurso, cosmovisões, hábitos e práticas [...]. As representações são relações sujeito-objeto particulares, ligadas a um meio social. O pesquisador qualitativo quer entender diferentes ambientes sociais no espaço

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social, tipicamente estratos sociais e funções, ou combinações deles, juntamente com representações específicas.

Com base em Gil (1989), as pesquisas do tipo descritivas trazem como

objetivo fundamental a descrição das características de determinada população ou

fenômeno ou a consignação das relações entre variáveis, ou seja, as investigações

podem identificar tanto opiniões, atitudes, como crenças de uma determinada

comunidade, sendo que algumas delas vão mais além de uma simples existência de

afinidades entre variáveis, almejando definir a natureza dessa relação.

Empregou-se a estratégia metodológica em pesquisa do tipo qualitativa, e

o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), baseado nos estudos e pesquisas de Lefèvre e

Lefèvre (2003). Estes se baseiam numa forma qualitativa de conceber o pensamento

de uma coletividade, adicionando em síntese-discurso que busca revelar a

Representação Social de um grupo sobre temas que estão mergulhados na

coletividade e podem ser apreendidos pelos discursos individuais.

No primeiro momento, como objetivo de se atingir os objetivos propostos,

foi realizado um estudo bibliográfico para fundamentar a respectiva pesquisa. Esse

estudo foi essencial para respaldar, cientificamente, a pesquisa, uma vez que, tendo

uma boa fundamentação teórica se tem uma melhor abordagem e aproximação do

tema aos objetivos propostos.

Em seguida, foi utilizada, como proposta de organizar e relatar os dados

qualitativos de natureza verbal, ou seja, os depoimentos obtidos por meio de gravação

de MP3 e outros. Para isso, utilizou-se a entrevista para conhecimento das opiniões e

das ideias dos entrevistados acerca do tema tratado aplicado aos moradores da

comunidade, bem como questionário semiestruturado elaborado e aplicado pela

pesquisadora aos Condutores de Visitantes e aos turistas, com data e hora marcada,

conforme a disponibilidade dos mesmos.

2.2 População e Amostra

O espaço da pesquisa consiste em sete comunidades1 ribeirinhas

escolhidas entre os 217 povoados, devido aos seguintes critérios: estas sete

comunidades possuem infraestrutura básica como acesso facilitado, por meio

1 As mesmas serão mencionadas no capítulo 7.

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marítimo e terrestre, assim como hospedagem. Sendo que as sete pertencem ao

município de Barreirinhas – Maranhão (MA), que limita-se com o Oceano Atlântico ao

Norte, com o Município de Santa Quitéria ao Sul, com os municípios de Paulino Neves

e Santana do Maranhão ao Leste e com o município de Urbano Santos a Oeste

(SILVA, 2008).

Segundo o IBGE (2010), partindo da ilha de São Luís, são 272 km por

estradas asfaltadas. Pela BR-135/MA-402, sendo a Translitorânea, acesso também

pela MA 225. O respectivo município de Barreirinhas possui uma área de 3.111 km²,

está localizado à Latitude 02º 44’ 49” S e Longitude: 42º 49' 35" W, há densidade

demográfica de 17,1 hab/km² e pertence a Microrregião: Lençóis Maranhenses,

Mesorregião: Norte Maranhense.

Figura 1 – Trajeto de Barreirinhas- MA para São Luís- MA p

Fonte: Disponível em: https://www.google.com.br/maps/dir/S%C3%A3o+Lu%C3%ADs,+MA/Barreirinhas+-

+MA/@-2.9847404 Acesso em: 18 mar. 2015

Os critérios usados para a seleção dos sujeitos da pesquisa, que compõe

a natureza da investigação, vêm a ser primordiais por intervir diretamente na

qualidade das informações, do mesmo modo que seu nível de representatividade no

grupo social. (DUARTE, 2002). E para identificação da população e amostra, foram

levados em consideração os sujeitos da pesquisa, isto é, os moradores das

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comunidades de Atins, Mandacaru, Sobradinho, Tapuio, São Domingos, Santo

Antônio, Cantinho, que vivem no entorno do Rio Preguiças. Isto porque “os narradores

ribeirinhos “bebem na fonte” do diálogo oral, do intercâmbio do saber oriundo de seus

ancestrais, suas experiências de rio, de mata, de convivência dentro da comunidade”

(ZURRA, 2011, p. 31). Como também os Condutores de Visitantes que residem em

Barreirinhas e os Turistas daquela região.

A opção de entrevistar os sujeitos da pesquisa se deu por serem pré-

conhecidas as particularidades do universo a ser pesquisado, assim como a facilidade

de acesso aos sujeitos entrevistados por causa do seu universo considerado pequeno,

conforme Fernando Lefèvre e Ana Maria Cavalcante Lefèvre (2005). A escolha desse

universo reduzido de participantes se deu ao fato de que o método desenvolvido por

estes dois estudiosos, consiste em um desafio a que o Discurso do Sujeito Coletivo-

DSC busca replicar a partir do pensamento, materialmente falado, que é discurso

coletivo. Tal pensamento apresenta-se indiscutivelmente como qualitativo, no

momento em que o discurso expressa a opinião, compartilhados pelos indivíduos e

reconstruída através das expressões-chaves que dará composição a um novo e único

discurso configurado como coletivo, sem que haja assim uma grande quantidade de

sujeitos participantes na pesquisa.

A escolha dos sujeitos se deu de forma intencional entre a comunidade,

condutores de turistas e turistas, considerando a variabilidade e a qualidade dos

sujeitos em termos de possibilidade de fornecerem dados ricos e expressivos, com a

intenção de se obter grande parte das mais distintas percepções apresentadas pelos

envolvidos.

2.3 Técnicas de Coleta e Análise dos Dados

As técnicas e instrumentos para contato com os informantes foram:

entrevista estruturada e questionários semiestruturados e observação participante.

Em relação aos dados, eles não deverão ser vistos como algo isolado ou episódios

determinados, capturados no momento da observação. “Eles se dão em um contexto

fluente de relações que são fenômenos que não se restringem às percepções

sensíveis e aparentes, mas se manifestam em uma complexidade de oposições de

revelações e de ocultamentos”. (CHIZZOTTI, 2010, p. 83).

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Os dados foram analisados segundo a metodologia e os instrumentos que

permitiram a elaboração de discursos que enquadrassem vários sujeitos que vivem e

visitam a região estudada, neste caso em particular, o município de Barreirinhas-MA.

Isso com base em Lefèfre (2000), que trabalha a análise denominada Discurso do

Sujeito Coletivo-DSC como modelo:

Nos depoimentos, ao mesmo tempo em que o sujeito enquanto ator social revela dados que são modelos interiorizados, este mesmo ator experimenta conhecer o fato social de forma peculiar. É, portanto necessário à seleção de diversas e variadas entrevistas, a fim de que possamos compor o quadro global, para que seja atingida a compreensão do campo pretendido (LEFÉVRE, 2000, p.20).

Em relação à entrevista e aos questionários, cabe mencionar que todos os

envolvidos foram informados sobre a natureza da pesquisa e sua importância, assim

como a realização do instrumento de pesquisa para a coleta dos dados de acordo com

a disponibilidade dos entrevistados, sendo agendados antecipadamente,

considerando os compromissos dos mesmos.

Nas entrevistas estruturadas foram realizadas com três moradores de cada

comunidade estudada, com perguntas abertas e aplicadas pela pesquisadora nas

residências dos entrevistados. Enquanto que os questionários semiestruturados com

os turistas e condutores de visitantes foram realizados mediante agendamento com

os mesmos.

O contato direto entre a pesquisadora e seus entrevistados flexibilizou as

entrevistas favorecendo a obtenção de respostas claras, bem como a coleta detalhada

da representação da cultura popular existentes na memória e crença dos moradores

ribeirinhos colhidas por meio de gravações.

Já os questionários realizados pela pesquisadora com os turistas e

condutores de visitante foram uma opção para o dinamismo e aplicabilidade,

objetivando colher melhor as informações dos sujeitos da pesquisa, assim como os

significados, as crenças e valores elaborados por eles, que serviram como

instrumento para suas concepções acerca da temática trabalhada.

Em relação ao preenchimento dos questionários junto aos turistas foram

realizados após a identificação feita pela pesquisadora se todos os participantes

haviam realizado os passeios, e tido o contado direto com a comunidade e com os

condutores de visitante, somente após toda essa verificação foi entregue aos 11

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turistas os respectivos questionários para serem respondidos. E foram entregues os

questionários para os 10 condutores de visitante mediante data e hora marcada, sem

comprometer o horário de serviço dos mesmos.

Para analisar os discursos dos moradores das comunidades ribeirinhas,

dos condutores de visitantes e dos turistas, recorreu-se à técnica do Discurso do

Sujeito Coletivo. Esse método de análise adotado tem sua estratégia metodológica

desenvolvida por pesquisadores na década de 90, pela Universidade de São Paulo.

Trata-se de um trabalho que envolve a junção de trechos dos discursos individuais

que acabam sendo reconstruídos pelo pesquisador dando origem a um discurso único

a respeito de uma temática, permitindo vislumbrar o fenômeno coletivo, por este

motivo, foi adotado como técnica de coleta de dados.

Lefèvre e Lefèvre (2003, p.14) relatam que:

Quando se investiga algo que as pessoas efetivamente têm, esse algo já está completamente dado antes da pesquisa, enquanto que, quando se trata de pesquisa acerca daquilo que as pessoas professam, a variável existe de modo apenas virtual necessitando ser construída durante ou através do próprio processo de investigação.

Segundo os mesmos autores, o DSC vem a ser uma técnica de coleta e

organização de dados qualitativos que permitem a composição e agregação dos

depoimentos sem que haja a preocupação numérica com a redução de quantidades

sujeitos participantes na pesquisa (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003).

Com base no método construído por Lefèvre, cuja a sistemática foi adotada

neste trabalho, possui três figuras metodológicas que funcionam como organizadoras

dos depoimentos tomados pela pesquisadora por meio das entrevistas e questionários

junto aos sujeitos da pesquisa (comunidade ribeirinha, turistas e condutores de

visitante), obtendo assim os discursos individuais e em seguida transformados,

resultando assim um só discurso final, representados pelos depoimentos dos sujeitos

da pesquisa, permitindo o resgate das expressões dos depoimentos.

Dessa forma, foram extraídas as falas das Expressões-Chaves (ECH), das

Ideias Centrais (IC) e das Ancoragens (AC). Para o desenvolvimento da proposta, os

autores do método DSC estabeleceram as seguintes figuras metodológicas:

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a) Expressões-Chave (ECH)

De acordo com Lefèvre, Lefèvre e Teixeira (2000) são transcrições literais

de parte do discurso, ou seja: pedaços ou trechos, ou segmentos, contínuos ou

descontínuos do discurso, que deverão ser sublinhados, iluminados, coloridos, pelo

pesquisador, e que revelarão a essência do discurso ou teoria subjacente. As

expressões são parte essencial da análise e constituem os recortes do discurso

(entrevistas, questionários, jornais, etc.).

b) Ideias Centrais (IC)

É um nome, ou expressão linguística que revela e descreve, de maneira

sintética e precisa, o sentido presente nos depoimentos. Descreve o sentido usando

as palavras do entrevistado, não constituindo interpretação. As ideias centrais são

elaboradas pelo pesquisador diante do discurso do entrevistado, utilizando a fala que

as indicam “fortemente”. A partir daí, o pesquisador fará uma síntese daquilo que foi

justificado em cada um dos discursos analisados e cada conjunto homogêneo de

expressões-chave. (DUARTE; MAMEDE; ANDRADE, 2009).

b) Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)

No final do processo a técnica do discurso do sujeito coletivo DSC – é a

elaboração da chamada síntese, ou seja, trata-se da reunião: utiliza-se o discurso

único regido em primeira pessoa do singular, construída a partir das expressões-

chave que mostram ideias centrais (LEFÈVRE, 2000). Assim que os DSC vão sendo

produzidos, compondo o sistema para interpretação das falas dos participantes, em

um só discurso englobado os depoimentos dos participantes, por meio das entrevistas

e questionários. Ou seja, as junções das expressões-chave grafadas desses

depoimentos individuais foram reconstruídos em um novo quadro nomeado como

DSC. Esse novo discurso que junta as expressões-chave dos depoimentos não tem a

necessidade de conter a indicação de nomes dos participantes da pesquisa de campo,

já que o discurso agora se vale de um único discurso coletivo a partir dos depoimentos

das expressões-chave dos discursos individuais.

A construção do processo de análise desses discursos iniciou-se da

seguinte forma: foi transcrito para um fichário todos os depoimentos, com a

identificação dos respectivos participantes e as assinaturas do termo de compromisso

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(em anexo) entregue a cada um deles, segundo sugestão do orientador e normas de

proteção ética ao entrevistado. Em seguida, leu-se algumas vezes e, posteriormente,

identificou-se as expressões-chave sublinhando-as. Após análise das expressões-

chave dos depoimentos individuais foram agrupadas aquelas semelhantes nos

depoimentos de cada participante. Depois, buscou-se identificar e demarcar as ideias

centrais e, por fim, a construção do DSC a partir das expressões-chave dos

depoimentos individuais.

As entrevistas foram transcritas na íntegra, a partir da coleta de dados. E

os trechos retirados para compor as unidades de conteúdo. Assim, optou-se por

estabelecer a análise do conteúdo a partir de temas, que promoveram o agrupamento

das informações adquiridas nos depoimentos das entrevistas com os moradores das

comunidades ribeirinhas do município de Barreirinhas-MA e também dos depoimentos

dos questionários dos turistas e condutores de visitantes vistos a partir da construção

de quadros demonstrativos expostos na Discursão Interpretativa da Pesquisa.

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3 TURISMO E TURISMO CULTURAL

O Turismo é considerado um dos fenômenos sociais e antropológicos mais

surpreendentes e importantes já produzidos pelo homem, ao longo da história. Isso

porque, o turismo não se tornou apenas sinônimo de oportunidade de empregos, mas,

também de conhecimento e a aproximação de distintos povos e suas culturas, além

de conhecer diversos ambientes e paisagens.

A partir do momento em que o indivíduo adquire experiências vividas, como

turista, ampliará seus horizontes de conhecimento histórico, cultural, artístico,

gastronômico, entre outros, referente ao lugar visitado, a comunidade passa a ter

oportunidade de compartilhamento cultural, assim como, renda e emprego.

Entretanto, cabe salientar a importância de políticas, medidas e ações que precisam

ser tomadas por princípios para não interferirem de forma radical sobre a cultura

visitada, já que a preservação do patrimônio histórico-cultural e da qualidade de vida

dos moradores não deve ser menos prezada pelos turistas e órgãos competentes,

tampouco a própria comunidade.

Segundo Barretto (2000, p.19), o conceito de Turismo, de acordo com a

linguagem cotidiana, pode ser entendido como “sinônimo de Viagem”. A autora quer

dizer com isso que, a partir do momento que o homem passa a se deslocar e viajar

para outros sítios em busca de lazer, estudos, a conquista de povos ou em busca de

novas experiências, faz com que a atividade turística se desenvolva.

O Turismo passa a ser valorizado e instigado por muitos estudiosos como

Ruschmann e Tomelin (2013), Martins (2003) e muitos outros que serão ainda citados,

neste trabalho, sendo que este acontecimento é considerado como uma área de

estudo nova. Acerca disso, vale mencionar que, a atividade turística passou a ser

procurada com mais frequência, definida como fenômeno dinâmico e complexo a

partir do século XX, sendo indicada pelo:

Deslocamento temporário de pessoas de seu local de domicílio (núcleo emissor) para uma determinada localidade (núcleo receptor), com permanência de 24 horas e utilização de serviços e equipamentos turísticos. Envolve aspectos tanto econômicos, quanto sociais, naturais, culturais, políticos, compondo um conjunto de serviços e equipamentos interdependentes entre si, os quais são oferecidos ao turista [...]. (REJOWSKL, 1996, p.12).

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Com o deslocamento das pessoas, por causa da atividade turística, o

turismo passa a ser caracterizado como fruição de lazer e ócio do homem moderno,

mas, também no que se refere à dinamização do trade turístico. Cabe, aqui, salientar

que, séculos atrás, o ócio e lazer foram considerados como algo condenável, já que o

homem só poderia servir para o trabalho, isso aos olhos da igreja e para o capitalismo,

em sua fase inicial. Hoje, o que se observa é uma mudança radical ocorrida após a

Revolução Industrial que trouxe crescimento e avanço tecnológico, favorecendo o

alavanque da atividade turística com as viagens.

De acordo com Nora (2009, p. 31) a Revolução Industrial:

Sinalizou para o capitalismo organizado. Foi a partir dela que surgiu a classe média e o aumento relativo do tempo livre. O motor a vapor que, nos transportes, foi utilizado primeiramente na navegação e em seguida nas locomotivas, reduziu o tempo e as incertezas das viagens, ampliando-as consideravelmente. O trem trouxe mais conforto e velocidade alterando, consequentemente, a prática das viagens. No que se refere ao turismo, a contribuição mais importante está ligada à evolução dos meios de locomoção. Nesse sentido, o avanço tecnológico anda de mãos dadas com o seu desenvolvimento.

Ainda com base na autora supracitada o termo ‘turismo’ veio aparecer em

meados do século XIX, quando atingiu seu auge após a Segunda Guerra Mundial,

devido à prática das atividades de massa, e a partir dessa situação a economia ficou

praticamente regularizada na Europa, fazendo com que o lazer fosse apresentado

como uma recompensa, por tanto sofrimento causado, nesse período aterrorizante,

para a sociedade da época. Ao mesmo tempo, o Turismo passou a ser visto como um

gerador de ‘paz mundial’. A pós-guerra alavancou o turismo e os turistas passaram a

ser vistos, segundo Panoso Netto (2005, p.30) como:

O sujeito do turismo é o ser humano. Mas devemos ressaltar que é o ser humano abordado com toda sua carga cultural, com sua história e com suas experiências de antes, durante e depois da viagem. Esse sujeito do turismo não passa a ser objeto somente enquanto se desloca ou está na região de destino.

O Brasil possui uma vasta diversidade cultural e modalidades turísticas.

Para a compreensão sobre a definição dos tipos de turismo e entendimento do setor,

o Ministério do Turismo organizou a definição de alguns tipos, baseado na

terminologia e abordagens, no entanto, deve ser advertido que existem outros

segmentos. Sendo que, aqui, serão mencionados alguns:

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Quadro 1 - Tipologia do Turismo

Turismo Social É a forma de conduzir e praticar a atividade turística, promovendo a

igualdade de oportunidades, a equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva da inclusão;

Ecoturismo É um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista, através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações;

Turismo Cultural Compreende as atividades turísticas relacionadas a vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura;

Turismo Cívico Ocorre em função de deslocamentos motivados pelos conhecimentos de monumentos, fatos, observação ou participação em eventos cívicos, que representam a situação presente ou a memória política e históricas de determinados locais;

Turismo Religioso Configura-se pelas atividades turísticas decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa em espaços e eventos relacionados às religiões institucionalizadas;

Turismo Místico e Esotérico Caracterizam-se pelas atividades turísticas decorrentes da busca espiritual e do autoconhecimento em práticas, crenças e rituais considerados alternativos;

Turismo Ético Constitui-se das atividades turísticas decorrentes da vivência de experiências autênticas em contatos com os modos de vida e a identidade de grupos étnicos;

Turismo de Estudos e Intercâmbio

Constitui-se da movimentação turística gerada por atividades e programas de aprendizagem e vivências para fins de qualificação e ampliação de conhecimento e de desenvolvimento pessoal e profissional;

Turismo de Esportes Compreende as atividades turísticas decorrentes da prática, envolvimento ou observação de modalidades esportivas;

Turismo de pesca Compreende as atividades turísticas decorrentes da prática da pesca amadora, praticada por brasileiros ou estrangeiros, com a finalidade de lazer, turismo ou desporto, sem finalidade comercial;

Turismo Náutico Caracteriza-se pela utilização de embarcações náuticas como finalidade da movimentação turística, podendo ser fluvial, em represas, lacustre ou marítima. Pode, também, envolver atividades como cruzeiros e passeios, excussões e viagens em quaisquer tipos de embarcações náuticas para fins turísticos;

Turismo de Aventura Compreende os movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recreativo e não competitivo;

Turismo de Sol e Praia Constitui-se das atividades turísticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em praias, em função da presença de água, sol e calor. Para o turismo de Sol e Praia, a recreação, o entretenimento e o descanso estão relacionados ao divertimento, à distração ou ao usufruto e contemplação do ambiente de praia;

Turismo de Negócios e Eventos

Compreende o conjunto de atividades turísticas decorrentes dos encontros de interesse profissional, associativo, institucional, de caráter comercial, proporcional, técnico, científico e social;

Turismo Rural É o conjunto de atividade turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade;

Turismo de Saúde Constitui-se das atividades turísticas decorrentes da utilização de meios e serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos

Fonte: BRASIL, (2006b, p.6-53).

Como foi discorrido, quanto aos distintos tipos de Turismo, cabe salientar

que, será destaque o chamado ‘Turismo Cultural’, que atende a demandas de serviços

e produtos culturais que se relacionam com a Arte, o Folclore, a História, etc. Com a

inserção das manifestações culturais como produto turístico e como recurso que

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tentam diminuir as diferenças sociais nas comunidades podendo tornar-se uma forma

de valorização dos grupos culturais locais envolvidos, nesse conjunto, expandindo,

assim, as perspectivas de preservação de suas culturas, enquadrando-se no

segmento do Turismo Cultural.

O Turismo e a Cultura eram considerados áreas convergentes, no entanto,

nas últimas décadas, tem-se observado uma aliança de interesses, ocasionando uma

associação que gerou nova demanda social e espacial de consumo de serviços que

vem a ser conhecido como ‘Turismo cultural’.

O Ministério do Turismo, em parceria com o Ministério da Cultura (MinC) e

o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e com base na

representatividade da Câmara Temática de Segmentação do Conselho Nacional de

Turismo (CNT), de acordo com a abrangência dos termos ‘turismo’ e ‘cultura’, elaborou

um recorte no turismo de natureza cultural e dimensionou o segmento na respectiva

definição de que “Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas

à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e

dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da

cultura” (BRASIL, 2008, p.16).

Segundo Leite (2011, p. 25), desde o final da “década de 1980”, de acordo

com os novos atributos e requisições do mercado, que abarcam a “competitividade,

flexibilidade e segmentação, assistiu-se à constituição de múltiplos ‘novos turismos’,

que consistem em formas diferenciadas de praticar a atividade turística”. A partir disso,

o ‘Turismo Cultural’ pode ser denominado como um segmento do Turismo como

outros já existentes, como de aventura, ecológico, dentre outros. A alteração de tais

recursos em atrativos, de modo a formarem roteiros e produtos turísticos, pode valer-

se como estratégia fundamental a segmentação. Para tanto, são indispensáveis

ajustes que visem “à estruturação, ao desenvolvimento, à promoção e à

comercialização adequadas à singularidade de cada segmento” (BRASIL, 2008, p.

13).

Lefèvre (1994) ao comentar a origem remota e vitalização do Turismo

Cultural, nos anos de 1960, bem como, a maior concretização dele, na década de

1980, no século XX, indica uma ilusória contradição gerada por duas razões principais:

avanço espetacular e sem precedentes dos bens de consumo culturais em domicílio

(vídeo, TV a cabo, Internet) e a progressiva ampliação da rede de atividades ligadas

ao turismo, com expressivo aumento do chamado mundo do lazer. Por esses motivos,

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explana o autor, brota um novo espaço/tempo cultural, e estabelecem novas práticas

culturais, coligando domínios até este momento desagregados: o patrimônio e o

espetáculo vivo exigindo até uma necessária convivência entre um lócus patrimonial

e seu meio social.

O Turismo Cultural, de acordo com Schauffert (2003, p. 13) é considerado

um fator de ‘democratização cultural’, quando desenvolvida com o ‘auxílio da

antropologia’ e outras ciências, que atentam para os mesmos fins de conhecimentos

segundo as aspirações das comunidades em relação à sustentabilidade, por meio da

comunicação educativa e também do respeito às necessidades sociais dos turistas e

da comunidade residente nos locais turísticos.

Barreto (2000, p. 43) explana que, o ‘Turismo Cultural’ vem a ser o “motor

fundamental” para desenvolvimento do “processo de identificação do cidadão com a

sua história e sua cultura”, mas isso vai depender da gestão, assim como de ações

que envolvam a comunidade, principalmente, quando se discute os recursos culturais

de caráter imaterial.

O conceito de Turismo Cultural, para Biesek (2004, p. 43), “vem se

transformando e se adaptando às novas exigências da demanda, numa evolução

paralela ao conceito de patrimônio, em que se considera cada vez mais um maior

número de fatores e elementos”. No entanto, o Turismo e o patrimônio são

considerados interligados, mas que às vezes não possuem nenhum interesse comum

e se desenvolvem de forma independente.

No caso do Turismo Cultural, podem ser observados grupos de turistas que

viajam por lazer, a princípio, em interesses específicos na cultura. Esses turistas

poderão estabelecer um tipo de serviço diferenciado, onde o aspecto lazer deve ser

enfatizado. A própria ressalva é válida ao turista que tem interesse em particular pela

cultura, que exige um tipo de serviço que “ressalte as possibilidades de vivências

culturais” (BRASIL, 2008, p. 43).

De acordo com Pelegrini e Pérez (2009, p. 129):

O Turismo Cultural pode ser um meio para atingir esses objetivos, já que pode ser entendido como uma experiência de intercâmbio cultural que permite aproximar-nos não apenas do conhecimento do passado, mas também da vida atual de outros grupos humanos. [...] O Turismo Cultural pode e deve estar ao serviço da conservação e valorização do patrimônio cultural, mas também pode acontecer o contrário, isto é, o patrimônio cultural pode surgir em função dos interesses mercantis, sendo explorado com esse objetivo. Aqui, os riscos são o abuso, os impactos negativos e a própria perda do patrimônio cultural. Neste sentido, as políticas

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deveriam ser orientadas numa perspectiva de equilíbrio entre o Turismo Cultural e o patrimônio cultural.

É imprescindível a conservação e valorização do patrimônio cultural para o

segmento de turismo, assim como o inverso, já que o patrimônio cultural se mostra

em função dos interesses mercantis, tendo como finalidade a exploração. Contudo,

as políticas deveriam ser mais ponderadas no equilíbrio entre o turismo e o patrimônio

cultural.

No decorrer dos tempos as políticas, vêm-se transformando, e apoiando o

setor cultural do Turismo tanto de forma indireta, quanto direta, isto é, antes as

instituições públicas incentivavam a indústria turística, hoje em dia, o apoio vai para

os serviços, a assistência técnica e também a revitalização do patrimônio cultural.

De acordo com o sociólogo John Urry (1990 apud BARRETTO, 2007), a

sociedade vive no momento pós-modernista, passando por uma tendência voltada

para a nostalgia que se manifesta ainda numa fascinação nostálgica pelo patrimônio

cultural, como representação simbólica da cultura, se tornando uma das

fundamentações mais intensas para o exercício do Turismo Cultural, fazendo com que

o turismo destaque a cultura sobre a natureza.

Segundo Pelegrini e Pérez (2009, p. 113-114):

A antiguidade na idade média, por suas peregrinações a santuários famosos; As grandes viagens dos séculos XVIII e XIX, quando os artistas e intelectuais do Norte da Europa visitaram o Sul da Europa; E por fim, a atualidade, quando o Turismo Cultural se converte num segmento do turismo de massas, especialmente exercitado pelos indivíduos de maior fundamento cultural.

A cultura, do ponto de vista antropológico, de acordo com Pelegrin e Pérez,

é um conjunto de crenças, valores, ideias e modos de vida de um determinado grupo

(no que se refere ao aspecto moral da cultura) e ainda com os artefatos da tecnologia

e os produtos desse grupo social, que se institui aspecto material. Para esse

estudioso, o Turismo Cultural tem como exemplo a visitação de lugares de interesse

cultural, seus monumentos, ou até mesmo o de absorver o modo de vida das culturas

visitadas. Desse modo, o Turismo Cultural pode ser determinado “como o reencontro

entre duas lógicas, uma que desenvolve capacidade de acolhimento e estadia e a

outra que valoriza os conteúdos e descobertas, a aprendizagem do lugar natural, do

patrimônio e dos homens” (MENESES, 2004, p. 48).

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Segundo Meneses (2004, p.48) “o Turismo Cultural une a ideia de viajar e

visitar um ato de conhecimento que proporcionado pelo encontro direto e pessoal com

diversas expressões da cultura de um povo ou país”. Da mesma forma, o autor

supracitado esclarece que, o Turismo Cultural “consiste em excursões frequentes a

outras culturas e lugares para aprender acerca dos seus povos, estilos de vida,

patrimônio e artes”.

Os conceitos destacados, acima, permitem pontuar a ideia da ampliação

das atividades de lazer e do consumo cultural. Desta forma, pode-se enquadrar o

Turismo Cultural num conjunto de três elementos que precisarão ser considerados,

quando se pretende saber com exatidão o que vem a ser Turismo Cultural. São eles:

Turismo; uso do patrimônio cultural; e o aproveitamento das experiências e produtos.

Azevedo (2002) afirma que as características constitutivas do Turismo

Cultural se aludem, especialmente, à busca do conhecimento e a uma oferta que seja

autônoma, que não espere as estações do ano e das configurações do território. A

autora supracitada afirma que:

[...] O Turismo Cultural desponta fortalecido como uma das vertentes mais significativas da dimensão cultural do desenvolvimento: pela riqueza de variantes que comporta; pelas interfaces que motiva; pelos desdobramentos que pode estimular; pelos efeitos possíveis na construção da cidadania; pela valorização da alteridade, isto é, a compreensão da existência de outros patrimônios e ações culturais que, assim como os nossos, merecem respeito. Também pelo retorno econômico que propicia e, sobretudo, pelo compromisso que assume com as gerações futuras (AZEVEDO, 2002, p. 33).

Está ocorrendo uma mudança no perfil dos visitantes do Turismo Cultural.

Estes buscam mais ampliação e estão alterando sua configuração, com a adição de

segmentos de distintas idades, interesses e comportamentos. Com isso, nota-se que

a oferta de equipamentos e serviços culturais está se impulsionando e variando tanto

no que se refere ao espacial e temporal, quanto ao conteúdo. Contudo, deve-se

ressaltar que, nesse momento de crescente igual, os produtos de uma dada localidade

são aproximadamente indiferenciados uns dos outros, assim sendo as atrações

culturais precisam ser expostas de maneira inteligente e criativa, explicando a grande

necessidade de sustentar a diversidade cultural.

McIntosh et al., (1999) expõem algumas medidas tomadas para

estimulação e promoção dos elementos culturais no turismo: aplicar métodos e

técnicas de fortalecimento de itinerário; turístico, onde a visita aos museus e

monumentos, em especial, estão entre os aspectos solicitados; aprimorar o conteúdo

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educativo e cultural do turismo; conjugar atividades turísticas com eventos de

interesse geral (congressos ou reuniões podem ocorrer ao mesmo tempo das

exposições e festivais); e promover atividades educativas e culturais que se adaptem

especialmente à baixa temporada turística.

Com o intuito de transformar um recurso ou um bem patrimonial em atrativo

turístico, surgiu a necessidade de criação de roteiros turísticos que privilegiem os

espaços naturais e, também o patrimônio cultural, mediante ao aproveitamento do

fluxo dos visitantes aos atrativos turísticos. De acordo com o documento intitulado

Turismo Cultural: orientações básicas, do Ministério do Turismo (MTur), o roteiro

turístico constitui-se em:

[...] percurso geográfico determinado integrado por várias atrações com características comuns ou que gira em torno de uma grande atração e associa outras atividades nos deslocamentos propostos, definido e estruturado para fins de planejamento, gestão, promoção e comercialização turística (BRASIL, 2010, p. 75).

MTur propõe a utilização da roteirização como estratégia no

desenvolvimento de produtos turísticos, pois entende que essas ações fortalecem o

capital social e a promoção e preservação da cultura brasileira, como atrativo turístico

e como patrimônio. Sobre esse prisma, as atividades turísticas acabam se ajustando,

por um lado, às vontades e interesses dos viajantes, e, consequentemente, deverão

com isso, estar cada vez mais ligadas aos interesses de públicos mais específicos,

assim como devem instigar e estruturar contatos sociais com famílias locais, no

entanto deve-se evitar o risco do exagero e algo completamente artificial (BRASIL,

2010).

Azevedo (2002) fortalece a imagem de que o Turismo alude à procura de

diversidade traçada pela cultura, pela natureza e pelo patrimônio. Ao sinalar um dos

veículos mais importantes de exposição cultural e ambiental, o turismo aflora a si

próprio, como ferramenta de reafirmação da cultura e de patrimônio.

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4 ANÁLISE SOCIAL SOBRE O MITO

O presente capítulo abordará a história do mito e a memória e os relatos

sobre os mitos emblemáticos, enfatizando as características dos mitos, o imaginário

humano, elencando assim uma análise sociocultural.

4.1 História, Mito e Memória

A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo

mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar,

contar, anunciar, nomear, designar). Mythos institui uma palavra formulada, e pode

ser uma narrativa, um diálogo ou mesmo uma enunciação de um projeto (VERNANT,

2006, p. 172). Na linguagem comum, mito é popularmente associado a algo falso, uma

mentira. Com a penetração do positivismo, no pensamento do final do século XIX,

essa conotação parecia definitiva. Contudo, pesquisas em Etnologia e Religião

Comparada, no início do século XX, devolveram à palavra mito o sentido que ela

sempre teve nas sociedades primitivas, estendendo-a também ao uso do vocábulo

nas civilizações antigas.

Acerca do exposto, acima, o termo grego mythos significa dizer, falar,

contar. Do apogeu do racionalismo grego até o início deste século, mito tinha o sentido

de fábula ou conto, uma fantasia das camadas mais ingênuas ou menos esclarecidas

da sociedade. Portanto, o mito é uma resposta à tentativa arcaica e perene de

responder às questões sobre a origem do mundo, dos elementos, dos fenômenos e

outros. Desde o início dos tempos teve essa função: expressar a indagação do ser

humano sobre o universo e sobre o próprio ser. A perplexidade sempre esteve

presente, faz parte da História desde a aurora da pré-história.

Na visão antropológica, mito significa verdade, contrapondo-se ao original

grego, mais do que isso: a verdade mais profunda e perene. Significa história

verdadeira, tão mais verdadeira quanto é revelação primordial, modelo das atividades

e instituições humanas. É exemplar e sagrada: só pode ser recitada, cantada ou

dançada em ocasião solene, o que lhe dá o caráter de santidade. O acesso ao seu

relato é reservado aos que já se submeteram a uma iniciação. Assim, o mito é a

maneira de vida que a Ciência, embora almeje, jamais será (OLIVEIRA; LIMA, 2006).

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Ainda de acordo com o autor acima citado, e se a Ciência pretende

transformar o mito num modo de vida, como pode bem parecer na civilização

altamente tecnicista de hoje, só o será miticamente. A Ciência só destrói um mito

criado por outro: o de si mesma. E, como por um paradoxo inesperado, hoje, tem-se

diante de uma tarefa cada vez mais inadiável: a de desmascarar o mito da ciência.

Para Crippa (1975, p. 15), o mito:

Configura o mundo em seus momentos primordiais; relata uma história sagrada; propõe modelos e paradigmas de comportamento; projeta o homem num tempo que precede o tempo; situa a história e os empreendimentos humanos num espaço indimensionável; define os limites intransponíveis da consciência e as significações que instalam a existência humana no mundo.

De acordo com Eliade (2006, p. 11), uma definição ampla, e por tal motivo,

menos imperfeita de mito seria:

O mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmos, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma “criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente.

Na cultura o mito é vivo. Simultaneamente, é o produto e instrumento de

conhecimento, bem como de reflexão sobre o mundo, sobre a sociedade e a história.

Incorpora os temas e os processos, perpetuando-os em fluxos nos quais se desenrola

a vida social entre os povos primitivos. É uma forma através da qual o homem situa-

se no mundo o seu lugar entre os demais seres da natureza. O mito nasce, assim, do

desejo de dominação do mundo, a fim de afugentar o medo e a insegurança

(OLIVEIRA; LIMA, 2006).

Para a constituição da história e da identidade de um povo, recorre-se ao

passado e os caminhos da valorização da memória reportando-se a antigas

civilizações para compreender a origem da história ligada aos mitos. O chão sobre o

qual a história inicia seu trabalho indagador será, assim, sistematizado pelo aspecto

mítico, considerando os mitos como produtores de respostas para todas as perguntas

elucidativas daquilo que no passado não era compreensível. Sendo que, os relatos

míticos surgidos com a tradição, constituída em aspectos religiosos, em costumes

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muito antigos, há tempos fornecem subsídios imprescindíveis para a compreensão

que caracteriza, produzem forma e garante o funcionamento de uma sociedade.

Para compreender o conceito de mito, toma-se Pastore (2012, p. 5),

quando refere que sua origem etimológica vem do grego mytbus e que

Palavra mito tem sua origem grega em mythos, que deriva do verbo mytheio, contar, narrar, e mytheo, contar, conversar...Na Grécia arcaica, meados do século VIII ao século VI a. C., o sentido primordial do termo mythos era palavra ou discurso, atrelado a uma narrativa ligada aos deuses e heróis. Na literatura grega, mythos surge com o sentido de história ou narrativa a ser transmitida por meio da palavra. O narrador, um poeta/aedo escolhido pelos deuses, tem a palavra sagrada, pois advinda de uma revelação divina e, portanto, tomada como verdade.

O mito perpassa por gerações, através dos séculos, conjeturando

pensamentos e a cultura de um povo, aspectos que, além de identificarem o seu modo

de observar a realidade e o mundo, ainda marcam a sua identidade. E essas histórias

de heróis, deuses, bichos e monstros eram narrados pelos mais velhos e sábios da

comunidade, os quais crianças e jovens ouviam atentamente e, aos poucos, a

fantástica, inexplicável e misteriosa ordem do universo ia sendo descoberta (HALL,

2006).

Novamente para Megale (2003, p. 5):

Os mitos seriam narrativas fantásticas ou fabulosas, relacionadas a uma dada cultura, crença ou religião, transmitida por gerações dentro de uma estrutura tradicional. Eles têm por finalidade fornecer uma explicação plausível para a origem e o motivo das coisas, como os fenômenos naturais e cósmicos: ciclos das estações do ano, do dia e da noite, da vegetação, da vida e da morte [...] e para os fenômenos históricos.

Segundo Ribeiro (1987) os mitos eram transmitidos de forma oral e com o

aparecimento da escrita, em tempos mais antigos, começaram a ser registrados em

pedras, em pergaminhos e, muito depois, na folha impressa; com o surgimento

tecnológico os mitos também passaram a serem expandidos pela internet, televisão,

cinema, assim como outros meios de comunicação.

Os mitos se habituam a ser narrados em terceira pessoa, porém o diálogo

entre personagens também poderá acontecer. Os mitos costumam brotar de autoria

coletiva, episódio que explica a existência de inúmeras versões de narrativas sobre o

mesmo assunto. É através desses escritos que, pode-se conhecer e estudar mais

sobre as diversas culturas.

Segundo Gleiser (2006, p.18):

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Essa necessidade de entendermos o problema da criação é inerente ao ser humano, está presente desde há muito tempo e a forma que muitas culturas encontraram para ter uma explicação para essas perguntas que não tinham respostas aparentes foi o mito. Os mitos são histórias que procuram viabilizar ou reafirmar sistemas de valores, que não só dão sentido a nossa existência como também servem de instrumentos no estudo de uma determinada cultura.

Não é considerada uma tarefa fácil encontrar uma definição exata da

palavra mito, porque pode estar contida por trás dela toda uma constelação de ideias.

O mito faz parte de um emaranhado de fenômenos cujo sentido é difuso, com pouca

nitidez, múltiplo, servindo como significado para várias coisas, representa muitas

ideias e vem sendo usado em diversos contextos. A comprovação disso, é que, na

atualidade, a palavra mito pode se revelar tanto em um aspecto positivo, quanto

negativo do termo.

Com base em Eliade (2001) o sentido negativo é demasiado evidente na

linguagem comum, na qual surge como utopia, mentira, falsidade. Esse sentido

retribui tanto à crítica dos valores ocidentais, que percebia os mitos como uma

exaltação enganosa da ciência, quanto a depreciação, ao estado do senso-comum,

que analisam como não científicos, impossibilitados de oferecer uma correta imagem

do mundo. Já no sentido positivo o mito não seria refletir ingenuamente uma crença

falsa, mas, um “modelo exemplar”, uma “tradição sagrada”.

Segundo Barthes (1987), um dos maiores historiadores do mito, relata que

o mito é uma fala, contudo, não é considerada como uma fala qualquer. Conforme

esse historiador, são imprescindíveis as condições especiais para que a linguagem

possa ser transformada em mito. Entretanto, assegura que o mito é um sistema de

comunicação e, logo é uma mensagem. Sendo que, o mito é uma fala, tudo pode se

compor como mito, desde que, seja capaz de ser julgado por um discurso. Com base

nesse pensamento, tem-se a abordagem teórica de Chauí (2003) que analisa o mito

como uma fala, um relato ou uma narrativa que traz questões acerca da origem dos

homens, do mundo, das afinidades entre homens e deuses, entre outros.

As chamadas narrativas mitológicas se titulam pelo modo como narra ou

pelo modo como se articula a mensagem, assim qualquer criatura ou qualquer tema

podem ser objetos dos mitos, “tornam-se míticos ao se transformarem em valores e

símbolos sagrados”. (CHAUÍ, 2003, p. 265). O mito tem como função, ainda de acordo

com Chauí (2003), resolver num plano simbólico ou imaginário, os tumultos e os

contrassensos da realidade social, que por algum pretexto não podem ser

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determinadas, racionalmente, pela própria sociedade, dessa maneira, cria-se uma

segunda realidade, que explana:

A origem do problema e o resolve de modo que a realidade possa continuar com o problema sem ser destruída por ele. O mito cria uma compensação simbólica e imaginária para dificuldades, tensões e lutas reais tidas como insolúveis. (CHAUÍ, 2003, p. 265).

A saída que o mito oferece é imaginária, porque segundo Chauí (2003),

atua de maneira invisível e subjacente à organização social. Nesse contexto, o mito

não é somente fruto das relações sociais, mas, principalmente, uma causa social, pois

ele é produzido com o objetivo de brotar efeitos sociais: instituições, comportamentos,

sentimentos, etc. Portanto, extrapola as barreiras da sociedade, porque seu

esclarecimento dirige exprimir pontos referentes ao espírito humano e do mundo.

O mito é uma narrativa do pensamento do ser humano, ou seja, está

enraizado nas memórias da humanidade. Assim, a cultura sofre influência do mito, e,

por conseguinte, as identidades culturais dos povos.

O mito se refere a esse fundo invisível e tenso e o resolve imaginariamente para garantir a permanência de organização. Além de ser uma lógica da compensação, é uma lógica da conservação da sociedade, instrumento para evitar a mudança e a desagregação do grupo. Em outras palavras, é elaborado para ocultar a experiência da história ou do tempo. (CHAUÍ, 2003, p. 265).

Já Halbwachs (2006), em sua edificação do conceito de memória, busca

um olhar mais atencioso para sua dimensão social. Segundo ele, o conceito de

memória coletiva não é fruto de um processo individual, mas sim, como um fenômeno

social que necessita ser abarcado como um processo de reconstrução do passado.

[...] se a memória individual pode, para confirmar algumas de suas lembranças, para precisá-las, e mesmo para cobrir algumas de suas lacunas, apoiar-se sobre a memória coletiva, deslocar-se nela, confundir-se momentaneamente com ela, nem por isto deixa de seguir seu próprio caminho, e todo esse aporte exterior é assimilado e incorporado progressivamente à sua substância (HALBWACHS, 2006, p. 45).

Por outro lado, a memória coletiva, acaba envolvendo as memórias

individuais, sem ser confundidas com elas. Especificando melhor essa questão, o

autor supracitado alude: "Diríamos voluntariamente que cada memória individual é um

ponto de vista sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda conforme o

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lugar que ali eu ocupo, e que este lugar mesmo muda segundo as relações que

mantenho com outros meios” (HALBWACHS, 2006, p. 45).

A memória coletiva é refletida como a seleção, interpretação e transmissão

de aspectos a partir do ponto de vista de um grupo social apontado (HALBWACHS,

2006). Ele exacerba o caráter seletivo da memória, isto é, uma memória estruturada

em categorias. Deste modo, a memória cultural de um lugar é o maior legado que ela

pode possuir. Sendo a tradição oral responsável por sua transmissão, divulgação no

mundo, organização da vida, conservando e defendendo a riqueza cultural de um

povo. Tudo isso faz parte da cultura de diversas localidades, revelando o jeito como

as pessoas se relacionam e conectam ao passado e à tradição, dando

prosseguimento à existência. Essas histórias são a forma principal de transmissão e

preservação do conhecimento da cultura, que vêm resistindo, no passar do tempo, à

massificação e suas tendências uniformes.

4.2 Relatos Sobre os Mitos Emblemáticos

Segundo Cascudo (1976, p. 37), uma característica geral dos mitos e das

tradições fabulosas no Brasil é que

Os nossos são mitos de movimento, de ambulação, porque recordam os velhos períodos dos caminhos, dos rios, das bandeiras, de todos os processos humanos de penetração e vitória sobre a distância. Quase sempre são mitos cuja atividade é apavorar “quando passam” ou “correm”. Curupiras, Caiporas, Mapinguaris, Sacis, Lobisomens seriam ineficazes em atitude hirta2, como uma parada de monstros. Mesmo nos rios, lagoas e mar, os seres assombrosos não têm pouso fixo. Nadam para aqui e para além. [...] A nossa Iara é campeã de distância a nado livre [...].

Como uma configuração emblemática, de acordo com Cascudo (1976) os

mitos percorrem, viajam por distâncias gigantescas do imaginário humano oralmente,

de boca em boca, de geração para geração. Segundo Bachelard (2008, p. 15):

Para poder falar com competência do imaginário não se deve confiar nas exiguidades e nos caprichos de sua própria imaginação, mas possuir um repertório quase exaustivo do imaginário normal e patológico em todas as camadas culturais que nos propõem a história, as mitologias, a etnologia, a linguística e as literaturas.

2Que se eriça com facilidade.

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O ser humano atribui significados que vão bem além da funcionalidade dos

atos ou objetos. Desse modo, aquilo que poderia parecer absolutamente natural, é

transformado pelas diversas culturas para adquirir significado. Assim, nada para o ser

humano se torna insignificante. E dar significado implica entrar no plano simbólico.

O símbolo é, pois, uma representação que faz aparecer um sentido secreto, é a epifania de um mistério. A metade visível do símbolo, o significante, estará sempre carregado da máxima concreção e, como Paul Ricoeur diz de uma maneira excelente, qualquer símbolo autêntico possui três dimensões concretas: é simultaneamente cósmico, onírica e finalmente, poética. (DURAND, 1993, p. 12).

Para Durand (2002), o ser humano é dotado da capacidade simbolizadora

em sua vida sociocultural. Ele propôs uma classificação das imagens do sistema

antropológico, criando uma espécie de mapa delineador da imaginação humana para

que possamos interpretar os símbolos e as imagens que se formam nas profundezas

do inconsciente coletivo (projeções inconscientes dos arquétipos que se juntam aos

acontecimentos do meio num processo de interação).

Diante do que afima Durand (2002), pode-se dizer que o imaginário é o

principal elemento e caminho das relações do homem consigo mesmo e com o mundo,

para que possa se constituir sujeito da sua própria história, ou seja, que pensa. E uma

maneira própria para cada cultura estabelecer a relação existente entre sua

sensibilidade e o meio que vive.

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5 PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL

A palavra patrimônio tem como significado primitivo sua origem atrelada ao

termo grego patér, que quer dizer “pai” ou “paterno”. De tal maneira que o patrimônio

se relaciona com tudo que é deixado pela figura paterna e transmitido para suas

futuras gerações (SILVA, 2003). Essa herança deixada às futuras gerações pode ser

de ordem material ou imaterial. Isso quer dizer que o patrimônio está ligado para

sempre às origens que fundam uma sociedade, assim como a ética de uma

determinada comunidade (BRANDÃO, 1998).

O patrimônio pode adquirir diversos sentidos. No sentido original, esteve

ligado à ‘herança familiar’, melhor dizendo aos bens materiais. Na França do século

XVIII, o poder público iniciou a tomada das primeiras medidas de proteção aos

monumentos de valor para a história da sociedade, o termo ‘patrimônio’ se ampliou

para os bens protegidos por lei e por órgãos especializados, nomeando assim, o

conjunto de bens culturais de uma nação.

Pelegrini e Funari (2012) ensinam que o conceito de patrimônio cultural, em

realidade, encontra-se relacionado às identidades sociais, resultando, a priori, das

políticas do estado nacional, depois, do questionamento do quadro da defesa da

diversidade. Tendo no século XVIII e XIX a associação do patrimônio cultural com a

nação, sendo referida a escolha disso como representação da nacionalidade, na

forma de edifícios, monumentos, assim como outras formas de expressão. Poderá ser

construções modernas ou objetos antigos ou a mescla de ambos. Desta forma surgem

os Museus da Antiguidade. Como exemplo, tem-se, em Paris, o Louvre; e, em

Londres, o Britânico.

Os entendimentos de cultura e história, no decorrer do século XX,

ocorreram expressivas modificações que ecoaram na concepção dos bens

considerados patrimônios (ZANIRATO; RIBEIRO, 2006). É através do patrimônio que

se comunica ao mundo a identidade, a cultura, a memória, em que se incide se

fundamenta e se guia a cultura, assim como a ‘criação’ e a ‘reprodução’ dos grupos

sociais, como diz Silva (2012).

Verificou-se ainda, no século XX, outra compreensão de história que

enquadra seu interesse na antropologia do homem e sua existência. Busca a

contemplação de todos os atores sociais, assim como todos os campos que

expressão a atividade do ser humano. Essa compreensão implicou a valorização dos

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aspectos, os quais se centram na cultura de um povo, como seus ritos, cerimônias,

comunicação, relações sociais, crenças e valores, que passam a ser observados

como resultados culturais dos grupos sociais, que necessitam de salvaguarda de suas

culturas.

Com os novos entendimentos do que seja patrimônio, formulou-se seu

conceito. Isso se deu, de acordo com o valor cultural dada “a dimensão que envolve

a produção e a reprodução das culturas, expressas nos modos de uso dos bens, foi

incorporado à definição do patrimônio” (ZANIRATO; RIBEIRO, 2006, p.254). Camargo

(2002, p. 95-96) classifica o patrimônio em dois conceitos que são:

1. Conceito Clássico de Patrimonial: bens culturais ou monumentos de

excepcional valor histórico e artístico nacional (identidade homogênea e

unitária): origens e tradições luso-brasileiras. Patrimônio “barroco-colonial”

(barroco escravista) e modernista (barroco-modernista). Conceito de História:

oficial; passado remoto; conservador. Conceito de cultura: clássico: erudito

(alta cultura); cultura identifica-se com civilização; produção para a elite.

Conceito de arte: o belo com ênfase nos aspectos eruditos. Componentes:

traçado urbano, centros históricos, cidades históricas e monumentos

isolados; bens móveis (imaginária, pintura, obras de talha, mobiliário, etc.);

exclusão de equipamentos do cotidiano. Áreas rurais: imóveis e moveis

(eventual inclusão de equipamentos- rústicos- cotidianos, não excepcionais).

Estado: bens patrimoniais, reconhecidos social e oficialmente. Propriedade:

oficial, eclesiástica, particular. Estatuto: tombado. Jurisdição: federal,

estadual, municipal (mais rara).

2. Conceito Contemporânea de Patrimônio: Patrimônio cultural em qualquer

sociedade é sempre produto de uma escolha e, como toda escolha, tem um

caráter arbitrário. Resulta da seleção de alguns elementos, enquanto outros

seriam passiveis de esquecimento e destruição. [...].

A concepção de patrimônio, de acordo com suas origens, advém de

inúmeras procedências que firmam o lema da preservação da memória coletiva do

povo por meio de critérios valiosos, culturais, históricos. Entretanto, cabe salientar

sobre a importância da consciência e atenção aos riscos que a modernização pode

trazer para as tradições da sociedade, por isso cabe a proteção desses bens históricos

e culturais.

A definição e o valor do patrimônio perpassam sua imaterialidade; o valor

do patrimônio vem a ser considerado como ‘simbólico’, segundo Silva (2012). Sendo

representado pelos valores abstratos, feitos coletivamente, atribui-se reconhecimento

e identidade aos grupos, escoando pela peneira da ‘memória’ e do ‘pertencimento’.

Esse valor passa a ser relacionado ao valor simbólico e relacionado à memória, a

identidade e a cultura de um povo e, com base nestas particularidades, os bens

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culturais são indagados como a categoria do patrimônio cultural, isso porque,

representam valores relativos a um passado vivido, repletos de memórias e

lembranças do povo.

Para Tomaz (2010, p. 1) os chamados lugares de memória:

Assumem importante significado por fazerem parte da memória coletiva de determinado grupo, a memória de um passado comum e de uma identidade social que faz com que o grupo se sinta parte daquele lugar, do espaço que traz a lume a história de todos.

A valorização do patrimônio cultural como um fator de memória das

sociedades ocorreu somente no final da década de 1970. Somente, recentemente,

entendeu-se que o ser humano utiliza o conhecimento do passado, e quando a cultura

passa a ser testemunha da experiência vivida por esse homem, mesmo que

coletivamente ou individualmente, isso permitirá que a Humanidade se lembre e

amplie seu sentimento, fazendo parte do espaço, da mesma cultura, desenvolvendo

seus elementos comuns, que é a cultura e sua história.

A conservação do patrimônio cultural está diretamente relacionada à

preservação da memória de um povo. Seu processo de conservação, contudo, nem

sempre é sinônimo de segurança para a perpetuidade dessa memória, que muitas

vezes se rompe pela falta de iniciativas dos setores públicos e privados.

Preservar bens patrimoniais tem como finalidade a conservação dos traços

da vida corriqueira, cotidiana, e revela como vivia a sociedade em um referido

momento/tempo, visto que, o que deve ser conservado acaba sendo o objeto

considerado precioso, tanto como valor do material de que é composto, como por uma

herança histórica “ligada a uma personalidade ilustre e por isso mesmo dominadora”

(TOMAZ, 2010, p. 5).

Para uma comunidade o patrimônio histórico cultural vem expressar um

bem destinado que se expandiu no mundo todo, composto pela acumulação contínua

de uma variedade de objetos que se incorporam por seu passado comum: como as

obras e as obras-primas das belas artes, trabalhos e produtos de todos os saberes e

habilidades da humanidade (CHOAY, 2006).

A conservação de bens patrimoniais deve ter por objeto edificações que tenham um significado coletivo para determinada comunidade, pois se perpetua a memória de uma sociedade preservando-se os espaços utilizados por ela na construção de sua história (TOMAZ, 2010, p.5).

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No entanto, a valorização e o reconhecimento da beleza natural e do

patrimônio cultural das nações são particularmente valiosos e importantes. Porque

seus costumes, suas tradições e seus povos contêm uma riqueza intrínseca que

transpassa o material. Eles são considerados um dos maiores recursos do país –

denominados como a face e a alma da humanidade tão diversificada e fascinante

(UNESCO, 2000).

Santos (2001, p. 112) diz que:

[...] o Turismo Cultural assenta-se justamente na busca do conhecimento de tudo aquilo que convencionamos chamar de patrimônio histórico, artístico e cultural. O patrimônio deixado por antigas civilizações continua a despertar o interesse de turistas que se deslocam para todas as partes do mundo, com o objetivo de conhecê-lo, mesmo que esteja em ruínas.

O Patrimônio se pode conceituar como um conjunto de bens materiais e/ou

imateriais que narram a história de um povo, assim como sua relação com o meio

ambiente. Vem a ser o legado que se transmite a futuras gerações. Assim sendo, o

Patrimônio Histórico pode ser denominado como um bem material e imaterial, também

natural ou imóvel que possui significado e, também inigualável importância cultural,

religiosa, artística, documental ou harmonioso para a sociedade.

Segundo Souza (2007) o patrimônio já faz parte da formação da identidade

de um povo; possui vários olhares e valores, fazendo com que haja diversas

possibilidades de interpretações e significados em vários lugares e países. Deste

modo, o patrimônio material e imaterial no Brasil passou a ser alvo de investimentos,

discussões e estudos, criando uma conexão com a atividade turística.

Segundo o Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, que organizou a

proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, colhe-se que:

Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico (IPHAN, 2014).

Com a valorização do patrimônio material e imaterial no Brasil, assim como

no mundo inteiro, começou o despertar pelo interesse e a ascensão de um dos

segmentos do Turismo, que a cada ano conquista mais simpatizantes, que é o

‘Turismo Cultural’.

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Segundo o IPHAN (2014) ocorreram várias mudanças nos últimos 51 anos

em relação ao patrimônio que foram:

Passados 51 anos, em que o País sofreu intensas e velozes mudanças, transformando-se de rural em majoritariamente urbano, a Constituição de 1988 relativiza a noção de excepcionalidade, substituída em parte pela de representatividade e reconhece a dimensão imaterial. A denominação Patrimônio Histórico e Artístico é substituída por Patrimônio Cultural. O conceito é assim ampliado de maneira a incluir as contribuições dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Essa mudança incorpora o conceito de referência cultural e significa uma ampliação importante dos bens passíveis de reconhecimento.

Cumpre ressaltar que o vasto patrimônio histórico-cultural no Brasil se

apresenta:

[...] com potencial para ser utilizado pela atividade turística como atrativo capaz de captar recursos proveniente de turismo nacionais e estrangeiros, para a sua própria preservação e valorização. Para tanto, é necessária socialização do conhecimento em relação à História, do empenho em reconhecer os legados, em conservar o patrimônio histórico-cultural das comunidades e de sua utilização com profundo respeito pela atividade turística (PINHEIRO apud RUSCHMANN; TOMELIN, 2013, p.13).

O artigo 216 da Constituição Federal define o patrimônio cultural brasileiro

como natureza de bens tanto material, quanto imaterial tomados individualmente ou

em conjunto, portadores de referência à ação, à identidade, assim como à memória

dos distintos grupos formadores da sociedade (BRASIL, 1988). Sendo que o material

pode ser classificado em função dos bens móveis e imóveis.

A própria Constituição Brasileira de 1988 estabelece que:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência a identidade, a ação, a memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nas quais se incluem: I- as formas de expressão; II- os modos de criar, fazer e viver; III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados ás manifestações artístico-culturais; V – Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988).

Os móveis são os que se deslocam facilmente, como é o caso, por

exemplo, do artesanato de buriti de Barreirinhas; os imóveis são os fixos, como é o

caso de igrejas e casarões da capital São Luís-MA. Entretanto, sua atenção maior se

volta para o patrimônio imaterial, aquele que é representado por meio das danças e

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lendas, por exemplo. As lendas, assim como os mitos, são o foco do estudo e serão

aprofundados adiante.

5.1 Patrimônio Cultural Imaterial

O conceito de patrimônio cultural se estende ao imaterial, da reunião da

diversidade simbólica vivida e produzida pelo homem, do seu imaginário, de sua

gastronomia, do saber fazer, seus ritos, mitos e crendices, seu artesanato, seus

comportamentos e expressões, tornam-se o desafio enquanto cidadão para expandir

esse conhecimento, assim como sensibilizar toda sociedade para preservação e

valorização do imenso e rico patrimônio.

Conforme afirma Fonseca (2000, p. 11):

Falar em referências culturais significa dirigir o olhar para representações que configuram uma ‘identidade’ da região para seus habitantes, e que remetam à paisagem, às edificações e objetos, aos ‘fazeres’ e ‘saberes’, às crenças e hábitos.

Surge, neste contexto, a ideia de diversidade do patrimônio cultural e, ainda

que, essa nova e ampla perspectiva não tenha se configurado hegemonicamente, ela

trouxe questões, como o conhecimento de referência cultural, que passaram

obrigatoriamente, a serem tratadas. Na atualidade, a concepção de patrimônio cultural

se expandiu e foi incorporado nela todo o chamado ‘legado cultural’ do povo, “como

suas lendas, festas, folguedos, costumes, crenças, manifestações artísticas, etc., tudo

o que existe como elemento essencial para o registro da memória individual e coletiva,

e que possa contribuir com a formação do sentimento de pertença de uma

comunidade” (MACENA, 2003, p.63).

Cabe lembrar que, na atualidade, as indagações que perpassam sobre os

bens materiais e imateriais do patrimônio cultural, reconhecidas como representantes

da cultura do homem, são consideradas recentes, e vêm ganhando nos últimos anos

crescente estudo acerca do turismo e Patrimônio Cultural Imaterial.

Costa e Castro (2008, p. 126-127) entendem que:

Dividir a prática preservacionista em bens culturais materiais e imateriais é, sem dúvida, reproduzir a velha lógica cartesiana que separa, rompe e produz dicotomias, colocando em lados opostos aquilo que na prática é inseparável. Porém, a discussão entre o tangível e o intangível é bastante complexa.

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A constituição Federal em seu Decreto-lei nº 25, de novembro de 1937, instituiu a chamada Lei do Tombamento prevendo a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e, embora em seu Art. 1o tenha definido que constitui patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país, sabemos que talvez em função do caráter mais permanente das estruturas materiais e da natureza lábil dos bens culturais imateriais, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN ressaltou suas ações muito mais em prol da preservação do Patrimônio Material que em relação à preservação das manifestações populares em geral.

Segundo esses autores, no que se refere à forma de atuação ou de

interpretação, muitos estudiosos advertem que as ações do Instituto sempre foram

voltadas para as questões imateriais, cabendo a necessidade de se criarem formas

que pudessem priorizar agora os bens culturais de natureza imaterial, mas também

enfatizam que os bens materiais e imateriais não deveriam ser estudados

separadamente.

Tendo em vista a realização de inúmeros trabalhos de investigação que

tratam sobre o patrimônio cultural imaterial, a Convecção traz como definição

expressa no artigo 2º/1 que

Entende-se por “patrimônio cultural imaterial” as práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões – bem como os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhes estão associados – que as comunidades, os grupos e, sendo o caso, os indivíduos reconheçam como fazendo parte integrante do seu patrimônio cultural. Esse patrimônio cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do seu meio, da sua interação com a natureza e da sua história, incutindo-lhes um sentimento de identidade e de continuidade, contribuindo, desse modo, para a promoção do respeito pela diversidade cultural e pela criatividade humana (CONVENÇÃO..., 2006).

Isso quer dizer que o patrimônio cultural imaterial é entendido como

representações, conhecimento, expressões e práticas, bem como os instrumentos,

espaços culturais, objetos, artefatos que fazem parte do patrimônio. Isto quando são

reconhecidos pelos indivíduos, grupos, até pelas comunidades como parte integrante

do patrimônio cultural.

O patrimônio histórico, cultural, paisagístico e natural da Humanidade tem

sua identificação realizada, ao longo de vários anos, e sendo feita, sistematicamente,

a partir da década de 1930. Nessa época, vários estudiosos estavam preocupados

com a explosão do mundo urbano e passaram a refletir sobre as várias reformas, que

estavam se intensificando nos quatro cantos do mundo. Por causa dessas

transformações que muitas das vezes eram irreparáveis ao patrimônio, houve a

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necessidade da preservação, até mesmo a de remover para outros locais alguns bens

para que não fossem destruídos, já que algumas vias de acesso das grandes

metrópoles precisavam sofrer certas intervenções e modificações.

No transcorrer do século XIX, várias nações europeias começaram a se

estruturar, organizacionalmente, para a conservação, salvaguarda e a seleção dos

ditos bens considerados patrimônios nacionais, as iniciativas públicas e privadas. No

entanto, para muito dessas iniciativas apenas o entendimento de patrimônio restringia-

se apenas aos monumentos, edificações e aos objetos que eram exemplares

autênticos.

Para Pelegrini e Pérez (2009, p.20) a proteção desses patrimônios

começou:

Todavia, a proteção desses bens foi institucionalizada a princípio pela França, em 1830, mediante a criação da Inspetoria dos Monumentos Históricos, cuja ação se restringia ao “recenseamento” do patrimônio. A salvaguarda oficial foi objeto da legislação promulgada em 31 de dezembro de 1913, quando foi implementado um dos primeiros instrumentos legais de proteção ao patrimônio como o classement3 [...].

Por causa da ação realizada pela França, que repudiava o vandalismo e

outras formas de destruição e mutilações dos monumentos, muitos países passaram

a preservar e protegerem seus patrimônios.

Muitos simpatizantes de várias áreas do conhecimento e as esferas

públicas começaram a unir forças, segundo Pelegrini e Funari (2012, p.32):

Arqueólogos, historiadores e arquitetos, entre outros profissionais, passaram então a realizar simpósios para chamar atenção de todo mundo para a importância do legado histórico que os monumentos arquitetônicos e as obras de arte representavam para a humanidade. A partir de novembro de 1945, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) engajou-se nesse campo e passou a promover reflexões sobre estratégias pacíficas de desenvolvimento, em particular, nas áreas das Ciências Naturais, Humanas e Sociais, da Cultura, da Comunicação, da Educação e da Informação.

Mesmo com união e força de vontade de vários profissionais para promover

ações legais de preservação e punição, além de esforços para a busca de soluções

para os problemas, muitos países não aderiram às propostas elaboradas pela

UNESCO. Mas, isso não abateu o propósito de sua criação, até os dias atuais a

UNESCO organizou várias reuniões com muitos estados na tentativa de apaziguar os

3 Modelo francês criado pela Lei de 31 de dezembro de 1913, que instituiu o classement.

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confrontos e conflitos impactantes que as guerras causaram ao patrimônio e a

humanidade, como foi o caso da Segunda Guerra Mundial entre os anos de 1939-

1945.

Em 1972, realizou-se a primeira Conferência Geral da UNESCO sobre o

patrimônio mundial, cultural e natural. Conforme essa convenção, subscrita por mais

de 150 países, o patrimônio da humanidade divide-se em Monumentos, como:

Obras arquitetônicas, esculturas, pinturas, vestígios arqueológicos, inscrições, cavernas; em Conjuntos, como grupos de construções; em Sítios, como obras humanas e naturais de valor histórico, estético, etnológico ou cientifico; em Monumentos Naturais: formações físicas e biológicas; em Formações ecológicas ou fisiográficas: habitat de espécies animais e vegetais ameaçados de extinção; assim como Sítios naturais: área de valor científico ou de beleza natural (FUNARI; PELEGRINI, 2009, p. 25).

Com base no Registro do Patrimônio Imaterial, “Dossiê final” (BRASIL,

2006a) a apreensão com a preservação e a valorização das expressões da chamada

cultura tradicional e popular apareceu mais forte no cenário internacional depois de

ser firmada por distintos países a Convenção da UNESCO a respeito da Salvaguarda

do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, em 1972. Nesse momento vários países do

terceiro mundo resolveram reagir a esse documento, que explanava sobre os bens

móveis e imóveis, do Patrimônio Mundial, os conjuntos arquitetônicos e sítios naturais

ou urbanos.

Em relação ao Brasil, na década de 30 houve o reconhecimento do papel

das expressões populares na formação da identidade cultural do povo brasileiro e que

faz parte do contexto de criação do próprio Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (IPHAN). Em 1936, ocorreu o registro dessas manifestações culturais -

previsto no anteprojeto elaborado por Mario de Andrade, para a instituição, mesmo

que não tenha sido instigado por muito tempo, sua ideia foi retomada mais a frente,

nos anos 70, pelo Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) e, depois pela

Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM).

O Registro do Patrimônio Imaterial, “Dossiê final” (BRASIL, 2006a, p. 15),

aponta que:

Nos últimos 60 anos, a preocupação com a documentação das manifestações ligadas à cultura tradicional e popular não esteve, no Brasil, restrita ao Iphan ou a esfera patrimonial. Várias outras instituições se debruçaram sobre o assunto, entre elas estacando-se o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, hoje ligado à Funarte. Originária da Comissão Nacional do Folclore, criada em 1947, esta instituição vem realizando desde então importante

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trabalho de conservação, promoção e difusão do conhecimento produzido pela cultura popular e sobre ela, desenvolvendo ainda ações de apoio ás condições de existência dessas manifestações e mantendo um extraordinário acervo sobre o tema. Na realidade, instituições como essa é que tem sido efetivamente responsável por uma ação mais permanente e sistemática de documentação desses bens culturais.

O Ministério da Cultura instituiu, em março de 1998, uma Comissão que

teve como objetivo elaborar uma proposta visando à regulamentação do patrimônio

imaterial. Essa Comissão solicitou ao Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial (GTPI)

uma vasta pesquisa sobre experiências brasileiras, como também as experiências,

recomendações e legislações internacionais que falassem sobre o assunto.

Depois do levantamento da pesquisa realizada pelo GTPI, que revelou

problemas que interferiam na manutenção e continuidade das expressões da cultura

tradicional é o turismo desenfreado e predatório, a maneira com que a mídia se

apropria de forma inadequada, o processo de globalização da economia fez com que

houvesse a uniformização de produtos, a indústria se apropria dos conhecimentos e

depois comercializa de forma inadequada para o território nacional e internacional.

Principalmente quando ocorre em série a produção de artefatos tradicionais, visando

somente o lucro, sem se importar se os materiais foram feitos inadequadamente. Além

de apoderar-se gratuitamente dos padrões originais e dos mecanismos tecnológicos

tradicionais. Sendo que a avaliação feita pelos especialistas foi que cada país

estabelecesse dispositivos legais que pudessem garantir a segurança e proteção

desses objetos, diante do valor econômico que tem esses bens.

Uma das maneiras encontradas e recomendadas pelo GTPI, com base no

Registro do Patrimônio Imaterial, foi especificamente o:

[...] reconhecimento da cultura tradicional e popular ou do folclore como área específica da questão da propriedade intelectual, inclusive no seu aspecto industrial. O principal desafio tem sido o reconhecimento da existência de uma propriedade intelectual coletiva, uma vez que a legislação relativa ao direito autoral, em todo mundo, reconhece apenas a autoria individual ou individualizada. As disposições legais relativas ao domínio público têm surgido como uma saída para esse impasse, especialmente em sua modalidade remunerada. Outra possibilidade que vem sendo discutida é a criação de um direito sui generis, mediante o qual as comunidades tradicionais autorizariam ou não o uso de seus conhecimentos ou expressões por terceiros (BRASIL, 2006a, p.18).

De acordo com Pelegrini e Pérez (2009, p.22) oficialmente, os países do

ocidente passaram a compreender e a refletir tais questões a partir de 1989, por meio

da Recomendação da salvaguarda da cultura tradicional e popular, aprovada pela

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Conferência Geral da UNESCO. Tal documento sintetizava a preocupação com “a

identificação, a conservação, a difusão e a proteção da cultura tradicional e popular”,

realizada por meio de registros. Apenas em 17 de outubro de 2003, com outra Carta

Patrimonial denominada ‘Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural

Imaterial’, acatada pela UNESCO, sugeriu a importância do “patrimônio cultural

imaterial como práticas, representações, expressões, conhecimentos, e técnicas, com

os respectivos instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes eram associados”

(CONVENÇÃO..., 2006).

O patrimônio cultural imaterial, segundo a “Convenção para a Salvaguarda

do Patrimônio Imaterial”, formulada em 2003, tendo por base no primeiro parágrafo,

artigo segundo do documento, entende-se como:

As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Para os fins da presente Convenção, será levado em conta apenas o patrimônio cultural imaterial que seja compatível com os instrumentos internacionais de direitos humanos existentes e com os imperativos de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos, e do desenvolvimento sustentável (CONVENÇÃO..., 2006, p. 4).

O patrimônio cultural imaterial abre ‘as portas’ para a história local,

tornando possível o reconhecimento, a valorização e sua preservação, assim como

contribui no processo de formação de uma identidade, essencial na construção da

cidadania. Assim sendo, preservar a memória é fator essencial para que se preserve

e se valorize a identidade e a cidadania, como “uma possibilidade de reflexão sobre o

passado através de sua representação no momento presente” (ALMEIDA;

VASCONCELLOS, 2004, p. 107).

De acordo com Chuva (2002, p. 28):

Ao se apropriar do conceito antropológico de cultura a preservação do patrimônio transforma-se significativamente para uma abordagem das práticas culturais - a própria cultura material torna-se significativa não pelo produto que gera pura e simplesmente, mas pelas práticas que possibilitam a sua produção, os modos de vida e organização social que as geram.

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O patrimônio cultural brasileiro não se resume aos objetos históricos e

artísticos, aos monumentos representativos da memória nacional ou aos centros

históricos já consagrados e protegidos pelas instituições governamentais

responsáveis pela proteção. Artesanatos, maneiras de pescar, caçar, plantar, cultivar

e colher, de utilizar plantas como alimentos e remédios, de construir moradias e

fabricar objetos de uso cotidiano, a culinária, as danças e músicas, os modos de vestir

e falar, os rituais, festas religiosas e populares, as relações sociais e familiares, as

canções, as histórias e lendas, contadas de uma geração para outra, tudo isso revela

os múltiplos aspectos que pode assumir a cultura de uma comunidade e,

consequentemente, constitui seu patrimônio cultural imaterial.

Para Rangel (2002, p. 22) o patrimônio imaterial “são as manifestações que

constituem importantes referências culturais e se relacionam à identidade, à maneira

e ação dos grupos sociais”. Segundo essas autoras incluem-se, nesse conceito,

saberes, celebrações, lugares e formas de expressão. Despretensiosamente, essa

breve conceituação dá condição de ilustrar a abrangência do termo, assim como,

permite entender a não existência de um consenso, seja internacional ou nacional,

acerca da melhor definição para o conjunto dos bens culturais de natureza imaterial.

Expressões das mais variadas são utilizadas, “patrimônio cultural intangível”,

“patrimônio cultural imaterial”, “cultura tradicional e popular”, “patrimônio oral”,

“patrimônio vivo”, entre outros.

A distinção conceitual é apresentada com ressalvas e, demonstra-se

necessária face aos instrumentos disponíveis para a preservação dos bens culturais.

Se por um lado, o instituto do tombamento só pode ser utilizado como proteção legal,

embora não a única, para os bens de natureza material, cujas manifestações

dependem da manutenção de sua integridade física, por outro lado, os bens de

natureza imaterial, cujo caráter é caracterizado pelo dinamismo, a preservação tem

como foco não a conservação dos suportes físicos, mas, a maneira de produzir e

reproduzir, conforme definido no documento intitulado “Princípios, ações e resultados

da política da salvaguarda do patrimônio cultural imaterial no Brasil”:

[...] a busca de instrumentos e medidas de salvaguarda que viabilizem as condições de sua produção e reprodução, tais como: a documentação do bem, com vistas a preservar sua memória; a transmissão de conhecimentos e competências; o acesso às matérias primas e demais insumos necessários à sua produção; o apoio e fomento à produção e ao consumo; a sua valorização e difusão junto à sociedade; e, principalmente, esforços no

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sentido de que os detentores desses bens assumam a posição de protagonistas na preservação de seu patrimônio cultural. (IPHAN, 2010, p. 1).

Assim, diante das especificidades das dimensões do patrimônio cultural,

instrumentos e planos distintos foram criados para sua salvaguarda. Essa adequação

tem importantes implicações sociais, políticas e culturais, e vem atender à demanda

por reconhecimento das “formas de expressão e dos modos de criar, fazer e viver”

(CHUVA, 2002, p. 30).

Por sua vez, quanto aos quesitos de identificação dos bens culturais

imateriais, passíveis de compor o patrimônio cultural brasileiro destaca-se o que

determina a Constituição Federal, ou seja: sua “relevância para a memória, a

identidade e a formação da sociedade brasileira”, assim como, a continuidade

histórica que aparece como “manifestações [...] reiteradas, transformadas e

atualizadas, a ponto de se tornarem referências culturais para as comunidades que

as mantêm e transmitem no tempo” (IPHAN, 2010, p. 1).

5.2 Cultura Popular e a Construção Conceitual da Categoria Folclore

Sobre o campo das Ciências Sociais, no Brasil, dá para se fazer uma

análise da “cultura popular” possibilitando um inesgotável exercício de reflexividade

epistemológica. Conforme idealizado como “histórico-estrutural” nesse processo,

pode-se identificar três significados a partir dos quais se pode analisar a formação

conceitual da cultura popular, que pode ser: ideologia política da cultura popular,

sociologia do folclore, e antropologia do patrimônio.

A noção de Cultura tem deixado a sociedade do passado e do presente

bastante intrigada e confusa. Muitos filósofos como Platão e Aristóteles sentiram essa

mesma inquietação em saber por que os povos se comportavam de diferentes formas

e hábitos e crenças que variam não apenas de uma nação para outra, mais ainda

dentro da mesma nação, de uma região para outra.

Segundo Geertz (1989, p. 4) o conceito de Cultura defendida por ele é:

Cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar, é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. É justamente uma explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais enigmáticas na sua superfície.

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Então, falar sobre Cultura é entender esta como Ciência interpretativa que

busca significados, conclusões, não simbolizando um poder sobre os quais possam

ser atribuídos os comportamentos, os acontecimentos sociais, as instituições e os

processos, mais sim num contexto em que todos esses elementos possam estar

inseridos.

Com base em Chauí (2008, p. 55) cultura é:

Vinda do verbo latino colere, na origem cultura significa o cultivo, o cuidado. Inicialmente, era o cultivo e o cuidado com a terra, donde agricultura, com as crianças, donde puericultura, e com os deuses e o sagrado, donde culto. Como cultivo, a cultura era concebida como uma ação que conduz a plena realização das potencialidades de alguma coisa ou de alguém; era fazer brotar, frutificar, florescer e cobrir de benefícios.

Para Fagundes e Cunha (2010, p.6) “o universo cultural é historicamente

criado nos sentidos e valores que o sustentam, precisam ser explicitados.” Assim, a

Cultura pode ser intermediadora da valorização espacial, pela expressão da fé, dos

ritos, dos modos particulares de ser, de agir e também modifica “a realidade devido

ser uma forma de expressar e a manter o passado e presente, solidificado por meio

dos símbolos que a mesma impregna no espaço geográfico”.

Para Geertz (1989, p. 102) a Cultura:

[...] denota um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressa em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à vida.

Beni (2004, p. 309) considera as manifestações populares e usos

tradicionais da seguinte forma:

Todas as práticas culturais que são tidas como específicas de cada lugar ou região que as integram, ou ainda idênticas em nível nacional como; atividades cotidianas e festivas de ordem sacra ou profana, de caráter popular e folclórico considerado objeto de apreciação e/ou participação turística.

A partir do processo de civilização cultural, defendida por muitos

intelectuais e defensores do Iluminismo, que já previam como inelutável, do

Evolucionismo aplicado à sociedade, os valores e os costumes referentes ao mundo

da cultura popular e considerados ameaçados de desaparecer, passaram a ser

defendidos por esses intelectuais que, em concorrência àqueles movimentos

intelectuais, começaram a observar nas festas, na poesia, nos jogos, nas músicas e

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nas danças da sociedade de classes inferiores, não uma luta de resistência cultural,

mas como um sistema cultural de preservação da “alma de um povo”, sendo

denominado como a base de muitos nacionalistas que se encontravam

hipoteticamente em desenvolvimento.

Ao etnólogo inglês William John Thoms não custou muito para que se

sugerisse na Carta, publicada na Revista The Atheneum, em 1848, a terminologia folk-

lore (“saber tradicional do povo”) para indicar os estudos das “antiguidades populares”.

A partir dessa época o Folclore começou a ser designado como sinônimo de “cultura

popular”; no entanto, chama-se atenção para o fato de que nem tudo, que se refere à

cultura popular, poderá ser denominado como folclórico ou cultura folclórica.

Contemporaneamente, existe uma relação mais estável entre o folclore e a cultura

popular referente ao conceito de patrimônio cultural imaterial.

O Ministério da Cultura aborda hoje sobre o termo folclore como sendo:

O termo folclore (de folk-lore, o saber do povo) passou a designar também os costumes, conhecimentos e crenças do povo, ou seja, tudo aquilo que é transmitido de geração em geração por meio da tradição oral. Numa época em que o saber científico dominava as mentalidades, esse saber derivado da prática era visto como “curiosidades populares”, traços de uma cultura e de uma visão de mundo que o progresso havia deixado para trás, incapaz de resistir ao confronto com a civilização moderna. Vem daí o sentido pejorativo muitas vezes atribuído à palavra folclore, e incorporado ao senso comum, inclusive devido a um esforço da elite nesse sentido (BRASIL, 2010, p.11).

O termo “Cultura Popular” foi muito divulgado por Herder e os irmãos Grimm

que, com outros literários, passaram a compor uma lista dos pioneiros a trabalhar

obras no campo da cultura popular, no romantismo alemão.

Quando se fala em folclore, Cascudo (2012, p. 304) relata que:

Folclore, é a cultura do popular, tornada normativa pela tradição. Compreende técnicas e processos utilitários que se valorizam numa ampliação emocional, além do ângulo do funcionamento racional. Não apenas conserva, depende e mantém os padrões imperturbáveis do entendimento e ação, mas remodela, refaz ou abandona elementos que se esvaziaram de motivos ou finalidades indispensáveis a determinadas sequências ou presença grupal (CASCUDO, 2012, p.304).

Contudo, não foi o bastante para que cessassem as críticas severas aos

folcloristas. A rigidez científica, teórica e metodológica, cobrada pela Sociologia a

partir da sua institucionalização nos anos 30, não economizou nas críticas ao Folclore

e suas aspirações à Ciência.

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Algumas das críticas em destaque ao folclore, a-crítico e descritivo das

pesquisas folclóricas, estabelecem como “ponto fraco”, isto quando vistas pelo ponto

de vista das “Regras do Método Sociológico”, de Durkheim (ROCHA, 2009).

Além disso, adiciona-se a crítica teórica segundo a qual os estudos

folclóricos não poderiam ultrapassar o nível das “teorias nativas”. Mesmo com a

defesa de Edson Carneiro o caráter dinâmico e contemporâneo do folclore, como

sugere o título de seu livro de 1965, a representação do folclore como uma atividade

intelectual artesanal, romântica e, até certo modo, exótica e tradicional, continuaria

como o discurso crítico da sociologia e da antropologia por bastante tempo.

Segundo Cavalcanti e Vilhena (1990, p. 88) ressaltam, a confrontação que

há entre a “escola paulista de sociologia”, representada por Fernandes (1978), e os

folcloristas da Comissão Nacional do Folclore (CNFL) demonstram um debate entre

dois modelos diferentes da ciência, os quais indicam para distintos projetos de

“modernização” para o Brasil.

O enunciado de Frade (2002, p. 223) segundo o qual “pensar a cultura

popular como sinônimo de tradição é reafirmar constantemente a ideia de que sua

Idade de Ouro deu-se no passado”, é extensivo ao folclore. É significativo, portanto, o

fato da distinção entre folclore e cultura popular começar a se estabelecer a partir dos

anos 50.

Oliveira (1992, p. 72) relata que:

...a identidade entre o folclore e cultura popular se rompe no Instituto Superior de Estudos Brasileiros - ISEB. O Folclore começa a ser visto como tradição, cultura popular e transformação. Sendo que o termo cultura popular vem significar como um meio para alcançar determinado fim, dando consciência a comunidade.

O que se via antes era o folclore como parte do processo de construção da

nação e, o que se vê, a partir da ideologia desenvolvimentista é um sentido negativo

adquirido. Ou seja, que passou a ser visto como um atraso cultural.

A cultura popular diz respeito a uma forma particular de consciência

política, e também aquela que imediatamente acabará caindo na ação política. Isto

não quer dizer na ação política em geral, mas, sim, na ação política do povo.

Denominada como o conjunto teórico-prático que determina, junto com a plenitude

das condições materiais objetivas, a marcha de ascensão das massas em direção à

aquisição do poder nas classes sociais.

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Segundo Ferreira Gullar (2001, p. 2) arraigaria o sentido político inscrito na

“missão” e “projeto” propostos ao intelectual frente à cultura popular que:

A expressão ‘cultura popular’ surge como uma denúncia dos conceitos culturais em voga que buscam esconder o seu caráter de classe. Quando se fala em cultura popular acentua-se a necessidade de pôr a cultura a serviço do povo, isto é, dos interesses coletivos do país. Em suma, deixa-se clara a separação entre uma cultura desligada do povo, não popular, e outra que se volta para ele e, com isso, coloca-se o problema da responsabilidade social do intelectual, o que obriga a uma opção.

A cultura popular, na realidade, é a tomada de consciência da realidade

brasileira, pois compreende o problema do analfabetismo, a deficiência de vagas nas

redes de educação, não está inconsciente da realidade em que vivem a condição do

povo rural, nem tão pouco da dominação de uma classe impetuosa e arrogante que

se sobrepõe sobre a economia do país. Portanto, cultura popular não só compreende

as dificuldades por que passa a indústria do livro, como também a acanhamento do

campo aberto às atividades intelectuais. Isso porque, são filhos da deficiência do

ensino e da cultura, que mantém como privilégios de uma minoria da população.

Sendo que todos esses problemas só terão uma possível solução caso realizem

enormes transformações na composição socioeconômica, assim como no sistema de

poder (ROCHA, 2009).

Assim, cultura popular e o folclore, de uma maneira geral, representam

aspectos culturais próprios da região na qual são construídos e difundidos, ou seja,

eles têm vida própria (CASCUDO, 1976). São, por assim dizer, espelhos da própria

identidade cultural da população e permitem compreender aspectos de sua

concepção de mundo.

5.3 Lendas, Oralidade e Imaginário Popular

Muitas comunidades usam as lendas como narrativas de forma oral para

explicar episódios misteriosos ou sobrenaturais, combinando fatos reais, com

imaginários ou fantasiosos, e que, através desse imaginário popular, vão-se

modificando através dos tempos. E aquelas que se tornam conhecidas acabarão

sendo registradas na linguagem escrita.

Lenda vem do latim que quer dizer “aquilo que deve ser lido”. Inicialmente

as lendas contavam histórias de santos, mas estes conceitos foram se transformando

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em histórias que falam da cultura de um povo e de suas tradições. As lendas fornecem

explicação para tudo, até para coisas que não tem explicação científica comprovada,

por exemplo, acontecimentos sobrenaturais (SANTOS, 2014).

Para Moreira (2010, p. 57) a lenda vem:

Lenda vem do latim Legenda, coisas que devem ser lidas. Era o nome dado antigamente às narrativas da vida dos santos. Mas já nos tempos primeiros, a lenda existia destituída do cristianismo, assim como o mito, era transmitida oralmente e misturava fatos reais e históricos com a imaginação.

Como se pode observar, os estudiosos Santos (2014) e Moreira (2010)

seguem o mesmo pensamento sobre as origens da lenda, que vinha do latim e que

eram narrativas que falavam sobre as histórias da vida dos santos e que acabaram

sendo transformadas em histórias da cultura e da imaginação do povo e que passaram

a fazer parte de suas tradições.

A lenda pode ser esclarecida como uma decomposição do mito, devido ao

fato de que são transmitidas oralmente a cada geração, e com o passar do tempo

acabam sendo mudadas.

Sua origem baseia-se em quatro teorias que tentam, de alguma forma, dar

uma resposta contundente. A Teoria Bíblica, com origem nas Escrituras; Histórica com

origem na mitologia; Alegórica onde se diz que todos os mitos são simbólicos,

contendo somente alguma verdade moral ou filosófica e Física usa os elementos,

água, fogo e ar (BULFINCH, 2006).

De acordo com Weitzel (1995, p.30-31):

Lenda (de “legenda”, do verbo latino “légere” ler) era o nome dado antigamente a uma narrativa sobre a vida de santos e mártires, para ser lida nos refeitórios dos conventos (ao mesmo tempo em que o corpo se nutria, a alma também se alimentava como os edificantes exemplos tirados da vida dos santos do dia), passando depois a se aplicar em todo o relato maravilhoso. Isso não quer dizer que a lenda só apareceu com o cristianismo. De tempos imemoriais, povos primitivos criaram relatos fantásticos, seja de acontecimentos verdadeiros em sua origem ou tido como tais, sejam de personagens que possam ter existido, embora a imaginação popular tinha desfigurado seus feitos como caracteres maravilhosos, que se transmitiram de geração a geração, seja mesmo da sedimentação em uma só figura de fatos históricos de todo um povo, os quais são falsamente atribuídos a esse único personagem. A lenda é a mãe da história, pois que esta, em seus primórdios, nada mais foi que uma sucessão de lendas passadas oralmente de uma geração a outra, enriquecidas constantemente pela fantasia popular.

Vários episódios históricos poderão se tornar lenda, isso quando

combinados com ficção, utilizando de uma forma geral a língua local. Considerada

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como uma narrativa de cunho popular acaba, normalmente, sendo transmitida de

geração em geração pela oralidade, e com isso, ela não pode ser confirmada de forma

cientifica, isso também serve para o mito a lenda fornece fatos inexplicáveis, contudo,

são mais facilmente aceitas pelo povo, porque embora sejam fruto da imaginação de

quem as inventou, elas se aproximam mais da realidade do homem.

Como a lenda vem a ser um relato de acontecimentos maravilhosos e

imaginários do ser humano, acaba superando o histórico e o verdadeiro. Ela é

transmitida e cultivada pela tradição da oralidade, guardando as quatro características

que fazem parte do conto popular que são: antiguidade, persistência, anonimato e

oralidade (SOUSA, 2013).

Com base em Moisés (1978, p. 305), a lenda:

Designa toda narrativa em que um fato histórico se amplifica e se transforma sob o efeito da imaginação popular. Não raro, a veracidade se perde no decorrer do tempo, de molde a substituir apenas a versão folclórica dos acontecimentos. A lenda distinguiu-se do mito na medida em que este não deriva de acontecimentos e faz apelo ao sobrenatural. O vocabulário “lenda” também designava, na Idade Média, os relatos contendo vidas de santos. Com tal sentido, Eça de Queiroz escreveu as “Lendas De Santos”, enfeixadas nas últimas páginas.

A lenda em muitos casos é confundida com o mito e sua diferenciação está

no fundamento e confronto. Pode-se dizer que o mito é um sistema de lendas que se

encontra ao redor de um tema central.

Para Moreira (2010, p. 63) o mito e a lenda são usados com frequência sem

distinção:

Sabemos que o mito tem sido usado com as mais diversas significações. Na atualidade, muitas vezes, é definido como sinônimo de algo, ilusório, fictício, que mantém relação com o que não é verdade. Frequentemente é usado, sem distinção, como lenda, fábula, conto.

Cada comunidade procura sempre conservar as suas lendas, pois o povo,

através delas, conta também a sua história. Elas não podem ser comprovadas pelo

povo e nem pela Ciência, porque apenas fazem parte do imaginário daqueles que a

criaram.

A oralidade por muitos anos é o elemento predominante de transmissão

não só de conhecimento, mas de comunicação em diversas sociedades na história da

humanidade, como afirma Ong (1998). O mesmo autor acrescenta que:

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O estudo científico e literário da linguagem e da literatura, durante séculos e até épocas muito recentes, rejeitou a oralidade. No entanto, não há como negar a importância da “oralidade primária”, definida por ele como a oralidade de uma cultura totalmente desprovida de qualquer conhecimento da escrita ou da impressão (ONG,1998, p.19).

Atualmente, ainda se encontra, em alguns povos, uma forma de

comunicação que se baseia na oralidade primária, que faz com que o grupo conheça

as coisas existentes no mundo apenas com base na narração de histórias e da

transmissão de aspectos culturais.

De tal modo com que a (re)construção da história ocorreu, a partir da

oralidade fornecida para compor uma história, que se aproxime cada vez mais da

experiência humana e que se modifica com o cotidiano do processo histórico.

Por meio da oralidade, as histórias narradas pelas pessoas trazem

lembranças guardadas de tempos passados de emoções, de angústias e de júbilos

vividos com bastante pureza, ainda contidos na memória principalmente dos mais

velhos (HALL, 2006).

O uso da oralidade é uma completa relação entre os indivíduos de forma

dinâmica, realizadas através da história coletiva ou individual, de maneira tradicional,

focada às vezes em grandes feitos heroicos.

A História concretizou importantes transformações teórico-metodológicas,

como resultado do processo de redefinição paradigmática ocorrido no século XX. São

elas: o aumento das fontes abrangendo linguagens sociais e culturais; os objetos e as

abordagens conceituais, fora a inclusão de novos sujeitos históricos. Além desses

novos objetos que passaram a compor matéria de interesse do historiador está

também o imaginário. Barros (2004, p. 91-92) observa que:

Essencialmente as imagens produzidas por uma sociedade, não apenas imagens visuais, como também imagens verbais e em última instância as imagens mentais. O Imaginário será aqui visto como uma realidade tão presente quanto aquilo que poderíamos chamar de “vida concreta”. Esta perspectiva sustenta-se na ideia de que o imaginário é também reestruturante em relação à sociedade que o produz [...] o imaginário mostra-se dessa forma uma dimensão tão significativa das sociedades humanas como aquilo que corriqueiramente é encarado como realidade efetiva.

No contexto do imaginário, as crenças começam a ser entendidas como

elementos de práticas e historicidade na organização da sociedade, das quais os

sujeitos estabelecem suas verdades ao mesmo tempo em que constroem história.

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Para Durand (1998) o imaginário é o “conjunto das imagens e das relações

de imagens que constitui o capital pensado do homo sapiens”, o grande e fundamental

denominador onde se encaixam todos os procedimentos do pensamento humano. O

imaginário corresponderia à fase do espelho, ao reconhecimento de si que a criança

pequena opera ao descobrir seu reflexo.

Para tentar entender o objeto, devem-se buscar no imaginário as imagens,

símbolos e representações que são encontradas nas narrativas orais, assim como

pelas fontes iconográficas que demandam ser imprescindíveis para notar certos

aspectos das representações sociais, formas reveladores que ultrapassam os limites

presentes no âmbito tradicional.

A cultura, na era pós-moderna, pode ser chamada de “cultura dinâmica,

original e criativa, isso porque revela, interpreta e cria sua realidade” (LOUREIRO,

2001). Isso porque a Cultura, através do imaginário, faz com que o homem se situe

numa nobreza que ultrapassa a natureza que o circunda.

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6 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO: BARREIRINHAS – MA

6.1 Contextualização Histórico

Barreirinhas-MA foi fundada em 29 de março de 1938, onde de acordo com

diversas fontes primárias e secundárias Como: livros, artigos, dissertações e etc.,

consultadas não há muitos registros sobre o surgimento do município de Barreirinhas-

MA, de como ocorreu o seu povoamento e quem foram os primeiros habitantes locais.

É muito comum encontrar nessas publicações que não existem documentos oficiais

que determinem o desbravamento do município. No entanto, são levantadas diversas

hipóteses. Algumas delas mais voltadas para a vertente histórica, como em Ramos

(2008) que aponta a construção de uma estrada ligando Campo Maior-PI a Brejo-MA.

Segundo Ramos (2008), Barreirinhas surgiu em consequência da

expansão pecuária vinda através do Piauí, provocando a colonização da região com

o surgimento de povoados, implantação de fazendas de gado, engenho de cana de

açúcar e o cultivo agrícola.

De acordo com Tasso (2011) havia uma segunda estrada, estruturada com

a construção de uma ponte sobre o rio Mocambo em 1849, que vinha do julgado de

São Bernardo da Parnaíba (atualmente apenas são Bernardo), seguia a freguesia

denominada São José do Periá (hoje conhecida como Humberto de Campos). Essa

estrada passava pela região onde hoje é a sede do município de Barreirinhas;

portanto, acredita-se que este acesso tenha sido utilizado pelos primeiros habitantes

da região.

Há, ainda, outra hipótese considerando que a inserção populacional tenha

sido realizada pelo rio Preguiças, que corta a cidade de Barreirinhas e por seus

afluentes, uma vez que permitem a navegabilidade através do tráfego de pequenas

embarcações. Segundo essa vertente a fixação do homem na região foi determinada

pela fertilidade das margens do rio, pelas pastagens e campos propícios à criação de

gado e também pelo clima.

A nascente do Rio Preguiças está localizada na Barra da Campineira no

município de Brejo. Então, acredita-se que os primeiros habitantes de Barreirinhas

tenham sido provenientes de Brejo, Mocambinho ou de Tutóia, vindo pelo litoral.

Embora não tenha sido estabelecido um consenso quanto ao início do povoamento

de Barreirinhas, sabe-se que o Rio Preguiças, certamente, foi de fundamental

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importância para a formação do município, por ser uma via fluvial e por suas regiões

ribeirinhas serem boas áreas para o cultivo e para pecuária.

Podemos constatar a relevância do Rio Preguiças para os habitantes de

Barreirinhas, ao citarmos um trecho do “Almanak Administrativo da Província do

Maranhão”, e, era na época do Império, uma publicação da Capital (São Luís) que

versava sobre a administração política da mesma e trazia um breve resumo sobre as

comarcas. Nessa publicação encontra-se a seguinte observação:

Esta freguesia foi dotada pela natureza para vir a ser no futuro o ponto mais importante e rico da agricultura maranhense. Com um rio profundo, com braços navegáveis feracíssimas, que de 15 em 15 dias são regadas pelas águas que transbordam; abundante de peixe, criando com facilidade o gado, só lhe faltam braços para o trabalho [...] (RAMOS, 2008, p. 26).

A Freguesia de Barreirinhas foi criada em 1858 com territórios

desmembrados de Tutóia, Brejo e São Bernardo, como diz Ramos (2008, p. 51):

O primeiro documento sobre Barreirinhas foi a Lei n 481, de 18 de junho de 1858, assinada por João Pedro dias Vieira, vice-presidente da Província do Maranhão, criando uma nova freguesia na Comarca de Brejo. Com a promulgação desta lei passou a existir oficialmente o nome barreirinhas, que antes era um simples povoado pertencente à vila de Tutoia [...].

A Lei nº 481 denominava a freguesia de Nossa Senhora da Conceição das

Barreirinhas, que, na época, foi um dos últimos municípios a serem criados nessa

região. Em 14 de junho de 1871, a freguesia foi elevada à categoria de Vila através

da Lei nº 951 em seu artigo 1°. A Vila de Barreirinhas só adquiriu categoria de Cidade

no século seguinte, pela Lei nº 45, de 29/03/1938, quando adotou apenas a

nomenclatura “Barreirinhas”, nome este, que, segundo moradores locais, foi dado

devido às barreiras - paredes de argila de até 20 metros de altura - ladeadas por dunas

às margens do Rio Preguiças.

No que se refere aos primeiros habitantes da região, acredita-se que

tenham sido os indígenas Caetés. Assim como não foram encontrados registros sobre

o desbravamento do território de Barreirinhas, também não se localizaram

documentos comprobatórios desta teoria, porém, em alguns estudos, os indígenas

Caetés são apontados como os pioneiros nessa região, como diz Silva (2008, p. 82):

Os índios Caetés foram considerados os primeiros grupos de habitantes da área formando os primeiros núcleos do entorno do rio Preguiças no século XVIII. Acredita-se que tenham sido atraídos pela fertilidade da área e pela abundância dos pescados.

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Em relação ao patrimônio, Ramos (2008) comenta que a maior produção

artesanal do Maranhão é no município de Barreirinhas, sendo verdadeiras obras de

artes, com diversas variedades, confeccionadas com perfeição e qualidade para

atender a exportação e a demanda ocasionada pelo turismo. Baseado nas tradições

indígenas do município, onde antes era fabricado apenas o material necessário ao

uso doméstico como a rede, o jacá, o tapete e as simples sacolas utilizadas aos

passeios e para compras.

No entanto, o que se ver hoje, é que esse artesanato fabricado pelos

indígenas, passou de geração em geração e a comunidade Barreirinhense

aperfeiçoou e expandiu a confecção de artesanato transformando-o em uma atração

turística, extraídos da fibra do buriti, tendo como produtos, bolsas, pulseiras, chapéus,

calçados, viseiras, bonés, redes, produzidos por mulheres artesãs, que no trato da

palha do buriti torna o linho, e deste cada obra de arte, diversificada pela técnica,

forma e cor, tingidas com pigmentos vegetais (RAMOS, 2008).

Ainda de acordo com o autor supra citado, o Patrimônio Histórico de

Barreirinhas é constituído de bens naturais, artístico e o conjunto urbano da formação

da cidade, porém nem todos são legalizados e monitorados pelo poder público. Entre

os quais se destacam:

- Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses;

- Morro da Ladeira;

- Rio Preguiças;

- Fazenda Santa Cruz;

- Farol da Preguiças;

- Igreja da Matriz e o quadro Batismo de Jesus.

Em seguida, serão abordadas as características geográficas e

socioeconômicas que ajudaram a compreender melhor o município de Barreirinhas.

6.2 Contextualização Sócio Espacial

Segundo sua localização geográfica o município de Barreirinhas está

situado na mesorregião Norte Maranhense e na microrregião da Baixada Oriental

Maranhense (Lençóis Maranhenses). Possui uma área de 3.024.019 Km2 (IBGE 2014)

e o município limita-se ao norte pelo Oceano Atlântico, a leste pelos municípios de

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Paulino Neves e Santana do Maranhão, ao sul pelo município de Santa Quitéria do

Maranhão e a oeste pelos municípios de Santo Amaro do Maranhão e Primeira Cruz.

O ponto mais elevado do território está localizado na Chapada das

Mangabeiras, a 804 metros acima do nível do mar. A costa é recortada por uma

planície litorânea com dunas e planaltos em seu interior e os principais rios são o

Tocantins, o Gurupi, o Pindaré, o Mearim, o Parnaíba, o Turiaçu e o Itapecuru.

O relevo de Barreirinhas é moderado em sedimentos recentes e

corresponde a uma baixada litorânea constituída por linhas de praias e restingas, com

dunas móveis e fixas, tabuleiros e planícies flúvio-marinhas. As planícies são

responsáveis pela formação de dunas que se deslocam constantemente e que forjam

parte da extensão conhecida como Lençóis Maranhenses, formados pela sucessão

de dunas fixadas pela vegetação sob clima úmido (IABS, 2008 apud TASSO, 2011).

O município de Barreirinhas está a uma distância de 269 km da capital do

Estado e possui três vias de acesso: rodoviária, aérea e marítima. Com uma área

urbana de 1.097 (um mil e noventa e sete) hectares está na 38° (trigésima oitava)

posição em extensão territorial do Estado do Maranhão (Figura 1).

Figura 2 - Localização do município de Barreirinhas no Estado do Maranhão.

Fonte: Dados vetoriais do IBGE, em 2012.

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O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

divulgou que, em 2010, o município de Barreirinhas possuía 54.930 (cinquenta e

quatro mil novecentos e trinta) habitantes. Os dados mais recentes do Instituto

apontam uma população estimada de 59.623 (cinquenta e nove mil, seiscentos e vinte

e três) habitantes, o que significa um aumento populacional de 4.693 (quatro mil

seiscentos e noventa e três) habitantes nos últimos anos, o que representa um

aumento percentual de 7% entre 2010 e 2014(IBGE, 2014) (Figura 2).

Figura 3 – Localização e População estimada do município de Barreirinhas

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais.

Na Figura 3 a seguir, é possível acompanhar o crescimento populacional

do município de Barreirinhas a partir do ano de 1992 até o último censo em 2010.

Nota-se que, ao longo dos anos, tem favorecido um aumento populacional

considerável, se se considerar os dados divulgados em 2014, então verifica-se que a

população praticamente dobrou nesses últimos doze anos.

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Figura 4- Evolução Populacional do Município de Barreirinhas 1991-2010

Fonte: IBGE: Censo Demográfico 1991, Contagem Populacional 1996, Censo Demográfico 2000,

Contagem Populacional 2007 e Censo Demográfico 2010.

O último censo, em 2010, registrou que a quantidade de habitantes

residentes na zona urbana de Barreirinhas (22.053 pessoas) era inferior à quantidade

de habitantes residentes na zona rural do município (32.887 pessoas). Outro indicador

da mesma pesquisa revelou que a quantidade de habitantes do sexo masculino, com

28.132 (vinte oito mil cento e trinta e dois) homens, era superior à quantidade de

habitantes do sexo feminino que totalizava 26.798 (vinte seis mil setecentos e noventa

e oito) mulheres.

Repleta de paisagens naturais, a cidade se tornou um polo turístico que

apresenta como atrativos: dunas, interdunares, rios, lagoas, serrote, manguezais,

restingas e vegetações características de Cerrado e de Caatinga. Por essas

características a cidade de Barreirinhas é mais conhecida como “a porta” de entrada

dos Lençóis Maranhenses, que atrai um contingente muito grande de turistas no

decorrer do ano.

Para Tasso (2011) o processo de desenvolvimento turístico do polo

“Lençóis Maranhenses”, onde se situa o município de Barreirinhas, aconteceu a partir

do ano de 2000, podendo ter sido motivado pelo aumento do número de habitantes.

Atraídos por investimentos na estruturação desse novo cenário turístico, investidores

externos e grupos de trabalhadores rurais buscaram oportunidades de trabalho, renda

e melhores condições de vida.

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Atualmente, Barreirinha possui aproximadamente 217 povoados, estão

entre eles as comunidades ribeirinhas de Vassouras, Mandacaru, Tapuio, Caburé e

Atins que se destacam por serem focos de visitação turística, abaixo a localização de

algumas dessas comunidades:

Figura 5 – Comunidades Ribeirinhas do município de Barreirinhas-Ma.

Fonte: Google Maps (2015).

A grande parte dessas comunidades é explorada o turismo de aventura, ou

seja, os turistas têm acesso a elas quando da vivência de determinados roteiros.

Contudo, sabe-se que, para alcançar positivamente um advento da atividade turística,

promovendo desenvolvimento social e sustentável, deve-se buscar outros subsídios

para nutrir essa necessidade com novos atrativos turísticos.

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7 DISCUSSÕES INTERPRETATIVA DA PESQUISA

7.1 Dados Obtidos por meio da Pesquisa In Loco

As configurações fundantes de Barreirinhas revelam que o município viveu

em relativo isolamento por muitas décadas do século XX, devido às dificuldades e

precariedade do acesso terrestre a essa região e a outras cidades, até mesmo a

capital São Luís-MA. Assim, a rota mais acessível nesta época era o Rio Preguiças,

por onde transitavam os “navios de porte” que “subiam até a localidade chamada Vila

Regina, situada a 36 Km rio acima, e de lá seus passageiros faziam o transbordo em

canoas que os levavam até Barreirinhas, num percurso de 10Km. (TSUJI, 2002, p.58)

A melhoria considerável nas condições do tráfego de Barreirinhas só veio

acontecer em 2002, com a abertura da rodovia MA-402, inaugurada com pista

asfaltada e sinalizada. Com o processo de abertura das estradas ao tráfego de

Barreirinhas que “passa a ser a via preferencial de moradores e distintos segmentos

sociais que trabalham na cidade, assim como turistas que visitam o destino

Barreirinhas/Lençóis Maranhenses” (GRAÇA, 2010, p.87)

Foi em meados da década de 80, século XX, que se deu realmente o marco

para o turismo de Barreirinhas, segundo Graça (2010), em 1981, nesse período o ato

do governo com a criação do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses levou a

cidade um momento sublime de reconhecimento pelo acesso privilegiado a região dos

Lençóis. Nessa mesma época que se dá início as realizações culturais de cunho

popular em Barreirinhas, segundo Graça (2010):

...a Vaquejada Regional, criada em 1984. Representa um acontecimento de grande relevância para o município, pois, a cada ano, atrai um público sempre maior, vindo de municípios vizinhos, de São Luís e de outros Estados do Brasil. Esse evento continua a ser realizado, anualmente, todos os meses de julho, e, portanto, integra o calendário turístico cultural do município, sob a coordenação da Secretaria de Turismo e Cultura (SEMTUC) (GRAÇA, 2010, p. 94).

Na verdade, hoje o município de Barreirinhas tem o turismo de aventura e

o turismo cultural como parte da vida da cidade. Os moradores locais vivenciam a

“atmosfera” do turismo pelo intenso movimento e circulação de veículos e pessoas,

moradores e turistas transitando nas ruas e avenidas. Na chegada e saída dos turistas

aos hotéis, pousadas, passeios, agências, tudo isso, movimenta Barreirinhas todos os

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meses do ano, sendo em baixa temporada ou não, acidade ‘respira’ o turismo. No

entanto, o turismo dependendo do lugar de onde falam, de sua maior ou menor

inserção na atividade turística e que deve sempre buscar outras ‘portas de acesso’ a

novas oportunidades turísticas.

A criação de novos roteiros, ou seja, a roteirização turística, tem um papel

fundamental no desenvolvimento regional. De acordo com o Ministério do Turismo

(BRASIL, 2007, p. 14):

A roteirização turística, organizando e integrando a oferta turística brasileira a partir dos princípios da participação, da flexibilidade e da sustentabilidade, mostra-se como elemento-chave para permitir que os recursos, resultantes do incremento da atividade turística de uma região, possam significar a promoção de inclusão social e auxiliar na redução das desigualdades sociais e regionais.

Há a necessidade de novos destinos turísticos (sugeridos ao longo do

trabalho) que promovam inovações em seus produtos e diferenciá-los dos outros já

existentes, levando-se em consideração que se poderá obter um aumento na oferta

de Turismo Cultural, na região de Barreirinhas. Por essa razão, a incorporação de

novas atividades culturais, como os mitos e as lendas, nos roteiros turísticos poderá

ser uma das medidas fundamentais na segmentação turística como elemento da

roteirização, enquadrando como uma experiência piloto com a inserção de um roteiro

turístico pautado no patrimônio cultural dos mitos e lendas das comunidades

ribeirinhas às margens do Rio Preguiças, pertencente ao município de Barreirinhas.

O presente trabalho aborda o Turismo Cultural da região de Barreirinhas,

poderá servir como espelho a outras cidades, que sintam a necessidade de buscar

novos roteiros turisticos. Para isso, foi desenvolvido uma dinâmica de investigação de

campo, ao desenvolver antes um projeto que levasse a esse êxito, buscando almejar

os objetivos propostos. Desta forma o uso do roteiro e cronograma a ser seguido foi

de fundamental importância entremeados entre o tempo de execução da pesquisa in

locus. Assim, a discussão e/ou reflexões privilegiaram fatos fotografados,

documentados, situações gravadas, no que tange a comunidade e sua cultura.

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7.1.1 Percepção da Cultura Popular, do Patrimônio Cultural Imaterial e do Turismo

Para as Comunidades Ribeirinhas

Durante a pesquisa de campo, foi realizada a investigação sobre o breve

processo histórico das comunidades ribeirinhas investigadas a partir dos

depoimentos, com o propósito de conhecer melhor o local estudado e a comunidade

residente junto aos moradores dessas comunidades.

Almejando alcançar os resultados da discussão do tema trabalhado, foram

realizadas entrevistas com os moradores das comunidades ribeirinhas. Os dados

utilizados, neste estudo, foram oriundos de pesquisa de campo entre os meses de

maio, junho e julho de 2015, através de um roteiro de entrevista estruturada

(APÊNDICE A), junto a 3 pessoas de cada comunidade ribeirinha, sendo elas, sete

comunidades: Atins, Mandacaru, Sobradinho, Tapuio, São Domingos, Santo Antônio,

Cantinho.

Com relação às entrevistas foram realizadas, vinte e uma com um total de

12 questões abertas para conhecimento das opiniões e das ideias dos entrevistados

acerca do tema tratado. As entrevistas foram aplicadas pelo pesquisador no local

escolhido pelos entrevistados. Sendo que, as entrevistas foram realizadas nas

residências dos moradores. Cabe mencionar que, de acordo com a pesquisa, justifica-

se a quantidade de entrevistados com base em Lefrève (2000), pois o mesmo aborda

o sujeito coletivo se especificando em poucos entrevistados e, assim, ter-se a

qualidade da mesma.

A técnica da entrevista foi muito vantajosa para a pesquisa, principalmente,

no que tange ao contato direto com o entrevistado, deixando-o mais relaxado e

descontraído para responder de forma mais profunda as perguntas que envolvem

crenças, valores, turismo e cultura.

A partir da coleta e análise das entrevistas, deu-se início a organização dos

dados, assim como as devidas análises sobre os respectivos aspectos que envolve o

tema trabalhado, baseados no método do DSC:

Relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular;

Relação da importância e preservação da literatura oral; e

Relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes.

Em seguida, são apresentados os mitos e lendas das comunidades

estudadas a partir das falas dos sujeitos da pesquisa.

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7.1.1.1 Comunidade de Cantinho

O relato sobre a história da comunidade de Cantinho foi explicado pela líder

Quilombola Dona Albertina Silva Rocha (Figura 6) durante a pesquisa realizada no

mês de julho de 2015 em sua residência. O povoado Cantinho é uma comunidade

quilombola que fica localizada as margens esquerdas do Rio Preguiças, do lado

direito: limite com povoado Cedro, lado esquerdo: povoado São José e Laranjeiras,

ao sul: Povoado Santo Antônio. Fica a 10 km da sede do município vivendo cerca de

230 famílias (no mínimo 5 pessoas por famílias) numa área aproximadamente de 120

hectares.

Figura 6 - Dona Albertina Silva Rocha (à esquerda)

Fonte: Brito, 2015

Segunda a moradora da comunidade deu início com a vinda das famílias

que se deslocaram do povoado Santo Antônio e fixaram moradia neste local, que hoje

é conhecido como povoado Cantinho que outrora deram o nome de “Saco Fundo”. O

nome “Cantinho” originou-se devido à volta que o Rio Preguiças percorre, rodeando

os povoados (em formato de canto) Cantinho e Santo Antônio. Na ocasião em que os

brancos fugiram abandonando as terras do povoado Santo Antônio foram morar no

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Cantinho em um sítio muito bonito, cujo dono era conhecido como Sr. Luís Português,

que residiu ali por longo tempo, mudando-se para capital.

Ela relata também que todos os moradores do Cantinho eram

descendentes de negros (em condição de escravos) e viviam com muitas dificuldades.

Para sobreviverem, recebiam ajuda do padre francês chamado Roberto Pourraz, que

distribuía roupas e alimentos. Como também ensinou a comunidade a trabalhar em

forma de mutirão, a plantar, construir casas, abrir estradas. Que hoje dá acesso a

vários povoados e também ao Lençóis Maranhenses foi construída pelo padre

Roberto Pourraz, em parceria com o senhor Léo Costa (na época estudante de

Sociologia), juntamente com os moradores dos povoados: Cantinho, Santo Antônio,

Tratada, Cedro, Atoleiro, Gambá, Sucurujú, Mata Fome. A construção dessa estrada

teve a duração de dois anos (devido à falta de ferramentas e de trabalho) e os

materiais como: areia, terra e outros, eram transportados nos ombros dos

trabalhadores (em lata de querosene) e pelos animais.

Figura 7 – “Cantinho” originou-se devido à volta que o Rio Preguiças percorre e rodeia a Comunidade

Fonte: Brito, 2015

Vale ressaltar que, de acordo com o depoimento da entrevistada, o Padre

Roberto e o Senhor Léo Costa também contribuíram para a Fundação Cantinho

(Figura 7), conta também com a importante contribuição de Dona Albertina (dona

Bebel), pois a mesma foi a primeira professora da comunidade como também escritora

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de um livro que conta a lenda do “Peixe encantado”; assim como, também a

responsável por manter a tradição da Dança de São Gonçalo, entre as crianças,

adolescentes e os adultos.

Em consonância aos objetivos propostos, tem-se os seguintes discursos

da Comunidade Cantinho:

Quadro 2 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular na comunidade Cantinho. Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Benedito Pereira, 59 anos

Nós temos a dança de São Gonçalo, o festejo de Santo Antônio que é mais antigo do que a fundação de nosso povoado, a dança do carimbó, a dança country, que antes era conhecida como a dança do boiadeiro e tambor de crioula, dança do negro, as lendas que aparecem uns encantados no rio.

A cultura popular é toda festa que se comemora em dia Santo, no mês festejo junino, a cultura negra, as

danças de São Gonçalo, dança do Cacuriá, dança da caixa, a dança da Mangaba e saber valorizar a cultura

da comunidade.

Albertina Silva Rocha, 69 anos

A cultura popular eu me relacionei muito, porque eu fui criada pelo meu avô que era chefe de música em Barreirinhas.Toda festa que se fazia em qualquer feriado, qualquer dia santo, festa junina, tudo a gente fazia festa, usando a nossa cultura, e nós temos a cultura negra é que é a de São Gonçalo, a dança do Cacuriá, a dança da caixa e a dança da Mangaba e muitas outras que nem estou lembrando mais. A gente faz tudo em nossa cultura na comunidade do Cantinho e aqui em Santo Antônio.

Manoel Pereira dos Santos Filho, 50 anos

Festa, música, repentina, qualquer tipo de coisa que a gente já vem trazendo dos nossos antigos.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

A cultura popular eu me relacionei muito, porque fui criada pelo meu avô que era chefe

de música em Barreirinhas. A cultura popular é toda festa que se comemora em dia Santo, no mês

festejo junino, a cultura negra, música, repentina, as danças de São Gonçalo, dança do Cacuriá,

dança da caixa, a dança da Mangaba e a literatura que fazem parte da cultura popular, vem trazendo

dos nossos antigos. A gente faz tudo em nossa cultura na comunidade do Cantinho.

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Quadro 3 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na comunidade Cantinho. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: conhecimento sobre os mitos que fazem parte do folclore da região

Entrevistado MITO

Benedito Pereira, 59 anos

A “Cabeça de cuia”, a “Mãe d’água”, um peixe muito grande, dizem que é um peixe, porque quando ele aparece é igual a uma canoa emborcada, um encantado que aparece lá no bexigoso, quando o povo passa lá às vezes ver, temos o menino que aparece da lagoa.

Albertina Silva Rocha, 69 anos

O “Menino da lagoa”, peixe encantado, o cavalo do bexigoso, Mãe d’água. Mito da mãe d’água que carregava as pessoas, mãe d’água preta, a gente sabia até, dizem que ele encostava nas pessoas e encantava. Tem também o mito que virou lenda do peixe encantado do peixe dourado que queria tomar minha filha. Nós tivemos uma briga porque ele queria tomar minha filha, eu não podia passar perto de uma casa que meu cabelo arrepiava em minha filha teve muito tempo doente, hoje é aleijada por causa disso. Minha filha era linda, linda, linda.

Manoel Pereira dos Santos Filho, 50 anos

Mito da mãe d’água.

Análise do Discurso: conhecimento sobre as lendas que fazem parte do folclore da região

Entrevistado LENDAS

Benedito Pereira, 59 anos

Uma história que aparecia a cabeça de boi, por nome chamado Bilica perto do cemitério e às vezes quando estava pescando aparecia, isso no tempo dos antigos. A mãe d’agua.

Albertina Silva Rocha, 69 anos

Eu sabia muito, mas eu já esqueci um pouco, mas tenho lembrança “O menino da lagoa”, Caso que aconteceu mesmo aqui, tem o peixe encantado e até mesmo eu já vi, e o cavalo do bexigoso, e a mão d’água que muita gente daqui já viu, a pescaria de Dona Zuila o baú de ouro, a travessia do riacho feita pelas brancas, a toalha de ouro escondida nas dunas

Manoel Pereira dos Santos Filho, 50 anos

A lenda do peixe encantado, a lendo do anzol lá no riacho, onde eles colocaram o ouro no tempo dos escravos, tem também a lenda da bonequinha, que só falava com a dona, para outra pessoa era boneca. E pra menina era encantada. Lenda do riacho. A lenda da mulher que jogou o menino no rio e essa criança encantou. Tem a lenda do cemitério. A lenda da ponte. A lenda da criança encantada na lagoa, nos caminhos dos Piaus.

Análise do Discurso: saber sobre a existência desses mitos

Entrevistado

Benedito Pereira, 59 anos

Quem contava era os meus pais, meus avôs, meus bisavôs.

Albertina Silva Rocha, 69 anos

A criação do meu avô e de minha tia, pois só morava nós três e todo esse processo de histórias quando a gente não fazia nada a noite, eu sentava depois de fazer minhas atividades de colégio ele ia me contar, porque eu fazia muitas perguntas, ele me contava tudo, tudo o que acontecia, desde de quando ele foi criado desde pequenininho, a mãe fazendo as comidas com ele dentro do seio lá fazendo comida pros escravos

Manoel Pereira dos Santos Filho, 50 anos

Meu avô

Análise do Discurso: saber sobre a existência dessas lendas

Entrevistado

Benedito Pereira, 59 anos

Os nossos avôs sentavam ai ia contar as histórias do tempo dos encantados que aparecia e isso era do tempo da escravidão.

Albertina Silva Rocha, 69 anos

Essas lendas a gente ficou sabendo, desde de quando a gente foi crescendo e foi assistindo, porque a gente presenciou e outras foram os mais velhos que contavam pra gente

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Manoel Pereira dos Santos Filho, 50 anos

Gente daqui mesmo do cantinho

Análise do Discurso: considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Benedito Pereira, 59 anos

Porque os nossos filhos e nossos netos tem que ficar sabendo, o turista quando chega, ai eles vão contar pros outros como a gente tá contando hoje o que sabe.

Os filhos e netos tem que saber das histórias, assim como os turistas que irão contar a outros que poderão vir a nossa comunidade.

Albertina Silva Rocha, 69 anos

Eu acho muito importante, porque elas existiram de verdade, as pessoas sabem inclusive os daqui, porque essa parte das histórias de quilombos, já deveriam estar nos colégios pro povo saber e foram aqui que eles começaram a surgir e não foi em Barreirinhas e foi através dos escravos, justamente tem que tá ai bem na frente é as histórias de quilombos

É muito importante, porque essas histórias fazem parte das histórias quilombolas e o povo deve saber que elas surgiram na época dos escravos.

Manoel Pereira dos Santos Filho, 50 anos

Acho importante porque é uma coisa que já tá quase acabando. Porque tem muita gente que contava essas histórias, mas a maioria já morreram, porque nunca foi escrito, nunca foi fotografado, foi filmado e eles morreram e acabou. É importante que alguma dessas histórias estivessem gravadas, documentadas em um local, CD, livro, alguma coisa. Que a gente pudesse ouvir depois, não é, se nós tivéssemos esses contos escritos ou gravados já era alguma coisa.

Discurso do Sujeito Coletivo se considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

É muito importante, porque essas histórias fazem parte das histórias quilombolas e os

filhos e netos tem que saber das histórias, assim como os turistas que irão contar a outros que

poderão vir a nossa comunidade e o povo deve saber que elas surgiram na época dos escravos.

Muita gente que contava essas histórias, já morreram. É importante que alguma dessas histórias

estivessem gravadas, documentadas em um local, CD, livro, alguma coisa. Se nós tivéssemos esses

contos escritos ou gravados já era alguma coisa.

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Quadro 4 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Cantinho. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: Discursos com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Benedito Pereira, 59 anos

Sim, é muito bom que eles saibam, talvez, talvez não, que seja melhor pra nós para que seja uma melhoria pra nossas comunidades.

Sim, é muito bom que eles saibam para a melhoria de nossas comunidades.

Albertina Silva Rocha, 69 anos

Sim, com toda certeza, é porque só assim nossa cidadezinha, nosso povoado fica reconhecido tendo essas histórias, vendo os lugares pra gente visitar, os riachos onde aconteceram essas coisas, nós só não temos mais vestígios do tempo dos escravos porque arrancaram tudo, mas ainda temos coisas que comprovam.

Sim, com toda certeza. Nosso povoado fica reconhecido tendo essas histórias, vendo os lugares pra gente visitar, os riachos onde aconteceram essas coisas, ainda têm coisas que comprovam.

Manoel Pereira dos Santos Filho, 50 anos

Com certeza, até mesmo para os moradores também da própria região vão ficar sabendo dessas histórias. Aqui ninguém conta essas histórias porque não sabem, dizem assim, nunca ouvi falar disso não, a conversa é essa. Porque não há comunicação, não há diálogo entre pai e filho, entre mãe e filha, é só ir para o serviço e pra as festas, bebedeira e acabou. Então se isso acontecesse, essa oportunidade de cumprir, de fazer e pensando e programando com você, a coisa vai mudar de figura e vai mudar pra melhor.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Sim, com toda certeza. Aqui ninguém conta essas histórias porque não sabem, dizem

assim, nunca ouvi falar disso não, a conversa é essa. Nosso povoado fica reconhecido tendo essas

histórias, vendo os lugares pra gente visitar, os riachos onde aconteceram essas coisas, ainda têm

coisas que comprovam. É muito bom que eles saibam para a melhoria de nossas comunidades. Os

moradores também da própria região vão ficar sabendo dessas histórias. Então se isso acontecesse,

essa oportunidade de cumprir, fazer, a coisa vai mudar de figura e vai mudar pra melhor.

7.1.1.2 Comunidade de Santo Antônio

De acordo com o depoimento da Senhora Lionete Lisboa Nascimento, de

56 anos, residente da comunidade de Santo Antônio, relatou que por volta de 1685,

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cerca de (328 anos atrás), a comunidade de Santo Antônio é uma comunidade

também quilombola, situado à margem do Rio Preguiças, no alto do morro na área de

entorno do Parque Nacional, de um lado limitando com o povoado de cantinho, do

outro lado com o povoado Carnaubeira, de fundo, com o povoado Axuí. Fica cerca de

12 Km da sede municipal, com aproximadamente 130 famílias (no mínimo 05 (cinco)

pessoas por família, numa área de 110 hectares, no entanto não possui escola, suas

crianças estudam na escola que se encontra no povoado vizinho Cantinho, enquanto

os adolescentes, de escolas de ensino médio, se deslocam de canoa pelo Rio

Preguiças para a sede do município.

De acordo com a entrevistada, a comunidade deu início com vinda dos

negros africanos que foram sequestrados dos seus de origem e trazidos de navios e

desembarcados no Porto Grande que existia no povoado, construído pelos negros na

condição de escravos. Os negros eram comprados pelos senhores das fazendas,

sendo responsável pelos escravos na época era o “Preto Mariano”, a fazenda era

mantida pela cana-de-açúcar (cachaça, mel, rapadura, criação de gado, extração de

ouro e etc.)

A moradora relata que, os escravos eram comprados com o ouro extraído

da própria terra. Os negros africanos eram maltratados e obrigados a realizar

trabalhos exaustivos e em condições desumanas. Por certas vezes, seus corpos eram

empilhados sobre o lago, servindo assim de travessia para que os cavalos dos

brancos não molhassem suas patas.

Segundo o relato, em um momento da história, os portugueses vieram a

Barreirinhas cobrar do senhor da fazenda a parte do ouro que lhes era enviado, porém

não estava no valor combinado e então procuraram o senhor da fazenda que não

soube justificar a falta do ouro. Os portugueses dirigiram-se ao “Preto Mariano” e esse

por sua vez negou-se a entregar o complemento do ouro (uma parte do ouro foi

colocado em tachos e baús e jogados no fundo do Rio Axuí, e a outra parte enterrada

no “Porto do Bilica”), de acordoo com a Figura 8, a seguir.

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Figura 8 – Porto do Bilica

Fonte: Brito, 2015

A entrevistada, ainda, comenta que, os portugueses saquearam a fazenda

deixando os senhores sem nada. Alguns escravos acolheram seus senhores, outros

adoraram o ocorrido aos brancos pelo massacre e perseguições que seus senhores

fizeram os escravos passar. Os senhores abandonam suas terras e passaram agora

a fugir dos negros e a serem perseguidos. Os negros passaram a tomar conta de tudo,

a ter vida “livre” trabalhando por conta própria nas lavouras.

E relatou que, o Porto Grande (conhecido como Porto do Bilica) e o

Casarão que existiram no povoado Santo Antônio, foi demolido pelos negros (a mando

do prefeito da época, o Sr. Antônio José Godinho – 1966/1969) e suas pedras

carregados pelos mesmos, para o outro lado do Rio Preguiças. Essas pedras foram

usadas para o calçamento das principais ruas que estavam surgindo no centro do

município de Barreirinhas e que foram construídas pelos escravos.

Apresenta-se a seguir o quadro demonstrativo das falas de alguns

informantes agrupados:

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Quadro 5 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular na comunidade Santo Antônio. Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Antônia Sousa Santos, 89 anos

As futuras gerações tem que saber da importância de divulgar sobre a

cultura popular de sua comunidade.

A cultura popular é a dança de São Gonçalo, o bumba boi, quadrilhas, festas juninas, a literatura, por ter

vários mitos e lendas.

José Raimundo (conhecido como José Raimundo do cantinho), 58 anos,

A cultura popular é uma das coisas mais importantes do nosso povoado, porque ela dá um destaque para as futuras gerações que por ai estão vindo. Esse pessoal novo que tá vindo agora a gente tem que deixar a nossa cultura que a gente segue. Nós já estamos no final dos tempos, na terceira idade, e eles é que tem que dá destaque à nossa cultura e é importante que a gente passe isso pra eles, porque são eles que iram divulgar no futuro. Principalmente nossa comunidade que é uma das mais antigas de Barreirinhas, é uma comunidade que tem a característica quilombola, então as futuras gerações tem que saber da importante de divulgar nossa cultura e pra que nunca morra e muito menos em nosso povoado. Para que sempre seja divulgada também para os turistas que aqui chegam isso é muito importante. Quando os visitantes aqui chegam no povoado, eles querem saber o que aconteceu aqui no povoado, querem saber de tudo. Então eles saem felizes quando alguém conta tudo daqui pra eles, tudo o que aconteceu aqui.

Lionete Lisboa Nascimento, ¨61 anos

Eu entendo da cultura popular aqui de Santo Antônio que é as danças de São Gonçalo, o bumba boi, tem as quadrilhas, as festas juninas e tem também os festejos e a cultura popular dos antigos e vários outros como a literatura dos mitos e lendas que temos aqui no Santo Antônio. Tem várias histórias de mitos e lendas sobre os descendentes quilombolas, dos antigos daqui.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

A cultura popular é uma das coisas mais importantes do nosso povoado, é a dança de

São Gonçalo, o bumba boi, tem as quadrilhas, as festas juninas, a cultura popular dos antigos, a

literatura dos mitos e lendas que temos aqui no Santo Antônio. Tem várias histórias de mitos e lendas

sobre os descendentes quilombolas. Nossa comunidade que é uma das mais antigas de

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Barreirinhas, tem a característica quilombola, as futuras gerações têm que saber da importância de

divulgar nossa cultura e divulgar também para os turistas. Quando os visitantes aqui chegam, querem

saber de tudo. Então eles saem felizes quando alguém conta tudo daqui pra eles.

Quadro 6 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na comunidade Santo Antônio. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: conhecimento sobre os mitos que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado MITO

Antônia Sousa Santos, 89 anos

Sim, peixe encantado

José Raimundo (conhecido como José Raimundo do cantinho), 58 anos,

Mito da mãe d’água na volta do lameirão a minha madrasta, mulher do papai, ela gosta muito de pescar. Ela era ribeirinha e gostava de pescar por fonte dos taboqueiros e quando o tambor batia na beira do rio, lá dentro do terereu, menino chorava, o velho Zé Martins tirava pra fora, que era o papai.

Lionete Lisboa Nascimento, ¨61 anos

Mito da mãe d’água que aparecia encima da ponte pra quem vai atravessar pra quem vai enterrar seus mortos no cemitério. No cemitério aparecia umas vozes chamando e as pessoas se assombrando, pela noite é difícil as pessoas passarem por lá, esse pedaço que aparecem essas lendas só passam lá as pessoas corajosas, medroso não passa fora de hora, porque é perigoso, porque ali aparece fantasma, coisas de outro mundo que é muito misterioso, as pessoas se assombram com o que aparece lá, é um lugar perigoso, eles falam que é lá que está o ouro enterrado que se deu a lenda e dos fantasmas dos que morreram atrás do ouro. Os antigos sabem muitas histórias.

Análise do Discurso: conhecimento sobre as lendas que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado LENDAS

Antônia Sousa Santos,

89 anos

Sim, uma vez uma mulher que sempre gostava de contar história e muita amiga da minha mãe queria se deslocar até um lugar vizinho do seu povoado pediu ajuda para uma canoa que ia passando com muitos homens, todos vestidos de branco. Mais a mulher não se intimidou, pois acreditava que tudo era normal. Passados muitos minutos a moça percebeu algo estranho por que ninguém falava nada. E logo se lembrou do ofício de nossa senhora, onde rezou assim: “DEUS TE SALVE RELOGIO, QUE ANDES ATRASADO, SERVIU DE SINAL PARA O VERBO ENCARNADO’’. Dizendo a última palavra conta-se que a canoa encostou na beira do rio e a mulher foi jogada na água.

José Raimundo

(conhecido como José

Raimundo do

cantinho), 58 anos,

Lenda do gritador que assustava as pessoas no Carnaubal, porque não tinha antes essa passagem que tem hoje para ir para a Barreirinhas, que era o porto do banha, que ainda não existia. Nós andávamos é pelo Carnaubal e lá tinha esse cantador que aparecia depois das cinco horas da tarde e ninguém mais podia passar por lá, porque quando o gritador passava assombrava todo mundo de lá. Saindo da Vila São José de poeira tinha um outro gritador, que aparecia pra muitas pessoas e assombrava muito o povo naquela época. Isso quem me contava muito era minha avó. Eu que andava por aqui que era garotinho e que depois das cinco horas eu não fazia mais nenhum favor pra cá pra este lado daqui, com medo disso ai. No rio aparece a Cabeça de cuia, aqui no Igarapé do santo Antônio onde os escravos fizeram as primeiras moradias deles tinha também essa lenda tinha uma corrente quando os pescadores ia pescar, os ribeirinhos as correntes batiam no fundo d’água que assustava todo mundo. As correntes pareciam que estavam encima do chão se arrastando como uma corrente grossa. Minha avó me contava tudo isso porque ela nasceu e se criou aqui. Ela era descendente de escravo e eu estou com 58 anos e quando eu era

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garotinho e já ouvia algum tipo de coisa desse tipo por aqui. Então, a lenda do povoado aqui é meio misteriosa no Santo Antônio.

Lionete Lisboa

Nascimento, ¨61 anos

Tenho dois nomes de lendas: uma foi uma senhora que já morreu que ela estava na beira do riacho aqui do Santo Antônio pescando e lá apareceu quando ela botou o anzol dentro da água e na hora subiu um negócio estranho e quando subiu, ela superou um medo enorme quando viu na cabeça do anzol e saiu correndo, justamente essa senhora já morreu, finada Diola, Deolinda. Ela contava que era muito corajosa e pescava sozinha na beira do riacho e nesse dia ela se assustou com essa lenda. Outra- o filho dela foi atravessar do outro lado do igarapé e uma pessoa apareceu, ou melhor, um fantasma- um rapaz muito corajoso, mas nessa hora a coragem foi embora- esse fantasma botou ele pra correr atravessando na água, ou seja atravessou o rio e ainda continuou correndo atrás dele e ele chegou em casa assombrado. Isso daqui do Santo Antônio paro outro lado do rio porque ele morava do outro lado. Ele tinha uma casinha lá no riacho, ele adoeceu.

Análise do Discurso: saber sobre a existência desses mitos:

Entrevistado

Antonia Sousa Santos, 89 anos

Através de pessoas que viveram no tempo dos escravos

José Raimundo (conhecido como José Raimundo do cantinho), 58 anos,

Minha avó que me contava essa lendas, porque se criou convivendo com essas lendas, finada Isidora, viveu convivendo com essas lendas, ela via isso ai, ela contava pra nós porque era convivência dela e que assustava a gente. Ela contava e a gente vai contanto pros mais novos que vai chegando ai e pros visitantes que vai chegando aqui.

Lionete Lisboa Nascimento, 61 anos

As pessoas que moravam lá me contavam, meus avós, os antigos, e as pessoas com que aconteciam as histórias.

Análise do Discurso: saber sobre a existência dessas lendas:

Entrevistado

Antonia Sousa Santos, 89 anos

Através de pessoas que viveram no tempo dos escravos

José Raimundo (conhecido como José Raimundo do cantinho), 58 anos,

Era a avó, era avôs, as pessoas mais antigas do povoado que tinha convivência com eles como o finado Antônio Pereira.

Lionete Lisboa Nascimento, 61 anos

Não soube responder.

Análise do Discurso: considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Antônia Sousa Santos, 89 anos

Não soube responder.

Divulgar para as futuras gerações, para os visitantes, que não se

prenda em divulgar somente a esta geração toda a literatura oral do

povoado.

José Raimundo (conhecido como José Raimundo do cantinho), 58 anos,

Eu acho importante divulgar, porque a gente tem que divulgar para as futuras gerações que vem por ai. Eles não sabem do que a gente está contando, muita gente não sabe de nada, essas crianças que estão vindo se a gente não divulgar, contar como é, como que eles vão ficar sabendo. Eles só sabem se a gente divulgar, por isso é muito importante que alguém fale e faça a entrevista com nós e divulgue para as outras pessoas, porque os visitantes quando eles chegam, eles gostam de saber o que acontece no povoado, o que teve na geração passada. Então

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isso é importante, que seja divulgado e muito divulgado pra que essa cultura não morra aqui, continue pra frente. A história do nosso povoado é uma história que seja permanentemente repassada para as futuras gerações.

Lionete Lisboa Nascimento, ¨61 anos

Acho importante porque vai ser divulgada pra outras gerações e não fica só com a nossa, é levar pra outras gerações que vem.

Discurso do Sujeito Coletivo se considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Eu acho importante divulgar, para as futuras gerações, muita gente não sabe de nada,

não divulga, como que eles vão ficar sabendo. Eles só sabem se a gente divulgar, é muito importante

que alguém fale e faça a entrevista com nós e divulgue para as outras pessoas, os visitantes quando

eles chegam, eles gostam de saber o que acontece no povoado, o que teve na geração passada. A

história do nosso povoado seja permanentemente repassada para as futuras gerações. Não fica só

com a nossa.

Quadro 7 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Santo Antônio Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: Discursos com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Antônia Sousa Santos, 89 anos

Sim, para recordar a importância e a vivencia dos escravos no povoado

É importante preservar e divulgar sobre a comunidade para que ela

não seja desvalorizada e que futuras gerações possam saber um pouco

mais sobre sua cultura.

José Raimundo (conhecido como José Raimundo do cantinho), 58 anos,

É importante porque além deles saber, serve também para as futuras gerações saberem também, não só do próprio povoado, mas também o povoado vizinho, que por aqui vem nos visitar, que saiam daqui sabendo do que aconteceu no povoado do Santo Antônio. Quando as pessoas de outro povoado vem pra cá e perguntam sobre o povoado e eu conto, eles dizem: quem foi que te contou e isso foi verdade e, então eu digo a eles que foram os meus familiares que me contaram. E isso aconteceu mesmo e muito dessas histórias eu presenciei, porque eu estava com meus avôs. Porque isto foi aqui que aconteceu, no primeiro povoado que teve no município de Barreirinhas e que depois passou para Barreirinhas, como cidade, aqui era pra ser um bairro mas não pode ser porque em virtude de ser uma região arenosa e complicada o acesso de

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chegada através de transporte que é traçado ou de pés por via terrestre ou por barco por via fluvial é muito complicado.

Lionete Lisboa Nascimento, 61 anos

Eu acho importante porque tem até como a comunidade se desenvolver, vai ter mais um desenvolvimento, porque é uma comunidade esquecida que teve essas grandes acontecimentos históricos importantes, e a comunidade é deixada de lado é desvalorizada, até os benefícios que é pra vir pra dentro da comunidade, não vem, porque aqui foi a primeira comunidade, ela que surgiu antes de Barreirinhas ser conhecida internacionalmente e é uma comunidade desde a época dos colonizadores, ela foi a primeira comunidade desta região e hoje é esquecida. É como o povo fala os turistas só vemos passando nos carros, mas os outros não dão a mínima importância para a comunidade como realmente ela deveria ter. É por isso que eu acho importante divulgar e preservar.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Eu acho importante, para as futuras gerações saberem também, não só do próprio

povoado, o povoado vizinho, saiam daqui sabendo do que aconteceu no povoado do Santo Antônio.

Perguntam sobre o povoado e eu conto, dizem: quem foi que te contou, então eu digo a eles que

foram os meus familiares que me contaram. E isso aconteceu mesmo, histórias eu presenciei, eu

estava com meus avôs, no primeiro povoado que teve no município de Barreirinhas e que depois

passou para Barreirinhas, é uma comunidade desde a época dos colonizadores, grandes

acontecimentos históricos importantes, e a comunidade é deixada de lado, é desvalorizada. É como

o povo fala os turistas só vemos passando nos carros. É por isso que eu acho importante divulgar e

preservar, a comunidade se desenvolver.

7.1.1.3 Comunidade de Sobradinho

Sobre povoado de Sobradinho, relatou a professora Cleonisse Martins que

comunidade nasceu a partir de uma simples casinha construída em uma parte alta do

local por se achar que o rio poderia encher e, alcançá-la, caso fosse próxima do rio,

em 1874, onde se tem lembranças que os primeiros moradores pode se destacar os

antepassados da família de Plínio Portugal da Rocha e sua esposa Raimunda.

Com base no relato, na época dos primeiros moradores, o transporte era

feito pelo Rio Preguiças através de pequenas embarcações, como canoas, as

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condições de vida nessa época eram muito difíceis, sem infraestrutura nenhuma. As

estradas eram de areia, dificultando a entrada de transportes terrestres. Com o passar

do tempo o povoado ganhou uma estrada de piçarra, melhorando a movimentação de

transportes (Figura 10). Também foi construída uma ponte de madeira facilitando a

travessia do rio principal do município de Barreirinhas e que corta a comunidade, o

Preguiças (Figura 9).

Figura 9 – Rio Preguiças e o Banho na Comunidade Sobradinho

Fonte: Brito, 2015

Segundo a entrevistada, as informações mais próximas que se tem de sua

evolução são que em 1990, data em que o povoado foi contemplado com a energia

elétrica, e construção da escola melhorando a vida das pessoas do local.

Figura 10 – Entrada da Comunidade Sobradinho

Fonte: Brito, 2015

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Quadro 8 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular na comunidade Sobradinho. Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Cleonisse Martins de Sena Conceição, 48 anos,

Que é muito importante, porque resgata a história de um povo, que vai passando de geração a geração, nos últimos anos a gente não tem visto esse trabalho realizado nas comunidades, as pessoas se prendem muita a televisão e a computadores e vai deixando um pouco de lado, mas quando você trabalha o resgate da cultura popular você mostra pra comunidade atual tudo o que aconteceu no passado e que é importante para a história dessa comunidade.

É importante, mostra as coisas do passado, resgata a história do povo e é repassado de geração a geração

Cultura popular é as danças, as festas, brincadeiras, que viu na comunidade e conta histórias de lobisomem, berros na estrada,

virando assim histórias da comunidade.

Nos últimos anos a gente não tem visto esse trabalho realizado nas

comunidades. As pessoas se prendem muita a televisão e a

computadores e vai deixando um pouco de lado, mas quando você

trabalha o resgate da cultura popular.

Raimundo Costa Silva, 63 anos

Cultura popular é as danças, os festejos de São Sebastião, festa junina daí pra frente começa as brincadeiras de boi, várias coisas como o lobisomem, tem bicho aqui na estrada né, uma vez alguém viu e me contou, esse rapaz já até morreu, tá com apenas dois anos. Ele contou que estava ali na casa dele alta noite e ai ele ouviu um berro aqui na estrada e ai ele olhou, já era quase meia noite e quando ele ouviu o berro saiu de costas e de frente pra estrada andando com medo, e ai disse que o bicho estava rolando no pinche e berrava, meu menino que estava aqui disse que também ouviu um berro. Ano retrasado eles viram foi um lobisomem correndo ai eles se ajuntaram pra ver se pegava, mas eles não foram de medo.

José de Ribamar Pereira Dutra, 64 anos

Festejo de São Sebastião é a festa que mais esse pessoal gosta dessa região.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

É muito importante o resgate da história de um povo. Sendo passada de geração a

geração. A Cultura popular é as danças, os festejos de São Sebastião, festa junina daí pra frente

começa as brincadeiras de boi, várias coisas como o lobisomem, tem bicho aqui na estrada né, uma

vez alguém viu e me contou, ouviu um berro aqui na estrada, era quase meia noite, o bicho estava

rolando no pinche e berrava, viram foi um lobisomem correndo, eles não foram de medo. Nos últimos

anos a gente não tem visto esse trabalho realizado nas comunidades, as pessoas se prendem muito

a televisão e a computadores e vai deixando um pouco de lado, você trabalha o resgate da cultura

popular, mostra pra comunidade o que aconteceu no passado, é importante para a história dessa

comunidade.

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Quadro 9 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na comunidade Sobradinho. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: conhecimento sobre os mitos que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado MITO

Cleonisse Martins de Sena Conceição, 48 anos,

O principal é a história do Morro da ladeira, dentro mesmo da sede de Barreirinhas, que conta que há uma serpente que a cabeça está em um determinado local e o rabo está lá no morro da ladeira, da igreja católica até o morro da ladeira ela vai se expandindo, até que ela aperte a comunidade como um todo, mas na minha comunidade mesmo existe dois mitos: o mito do peixe grande que corre toda essa área do Rio Preguiças, esse mito desse boi que se transforma em uma canoa e logo depois é um peixe boi, é um monstro marinho e assim vai se espalhando e ninguém descobre o que realmente é esse ser. E em minha comunidade também tem a história de uma escola que antigamente disse que tinha uma senhora que morava lá, antes dessa professora morar na comunidade mesmo, havia uma velha na comunidade que toda noite ia na escola arrastar cadeira e até hoje quando a escola está fechada as pessoas que moram por perto dizem que ouvem esse arrastar de cadeiras ai vão e quando cegam lá não é o vigia e não são as zeladoras e ninguém que trabalha na escola se encontra naquele local, e as pessoas no escuro conseguem ouvir o arrastar das cadeiras, então isso é um mito que tem na minha comunidade e que dá para perceber que as pessoas valorizam muito, quando chegam no Sobradinho e perguntam “contém uma história de sua comunidade?” as pessoas vão logo falando esse mito da velha que anda arrastando cadeira.

Raimundo Costa Silva, 63 anos

Lobisomem.

José de Ribamar Pereira Dutra, 64 anos

Fantasma, bem ali encima tem um lugar chamado encruzilhada e aqui e acolá a gente via, o grupo novo por volta das seis horas você não arrodeava ele de jeito nenhum, porque nego botava você pra correr, que ali tinha fantasma demais, isso porque logo morreu gente lá dentro.

Análise do Discurso: saber sobre a existência desses mitos:

Entrevistado

Cleonisse Martins de Sena Conceição, 48 anos,

Eu não sou de Barreirinhas, mas a vinte e cinco anos que moro em Sobradinho e quando eu cheguei as pessoas mais idosas já contavam essas histórias do mito da história da cobra e quem me contou também foram meus próprios alunos que vivem aqui e me contaram na escola onde eu trabalho é que falam isso, a tia antes as pessoas diziam que a velha arrastava as cadeiras aqui, por eu ter essa idade de 48 anos, as crianças de minha escola que contam essas histórias é que eu fico não sabendo pelos mais velhos, mas pelos mais novos.

Análise do Discurso: conhecimento sobre as lendas que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado LENDAS

Cleonisse Martins de Sena Conceição, 48 anos,

Como eu já falei: A lenda do peixe, que a gente confunde um pouco o que a lenda e o que é o mito, que o mito geralmente resgata a história da criação de algum ser e a lenda vem passando de geração em geração. Eu conheço somente essa da cobra grande, do peixe boi e a da velha que tem em minha comunidade.

Raimundo Costa Silva, 63 anos

Uma vez eu vim com a mamãe e o papai bem ali, onde tem a encruzilhada e a gente viu uma pessoa deitada altas horas da noite, deitado bem branquinho, quando foi de manhã papai foi reparar não tinha nem rastro nenhum da cama com o homem e não foi ninguém que me disse e eu também vi, mas que você não tem coragem de se aproximar porque tem medo e que não viu também tem medo

José de Ribamar Pereira Dutra, 64 anos

Lenda do Sucuruiu, antes da Petrobrás aparecer.

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Raimundo Costa Silva, 63 anos

Fiquei sabendo porque pessoas que viram me contaram, que é muito feio e que não pode se aproximar, dá medo

José de Ribamar Pereira Dutra, 64 anos

Mãe e avó.

Análise do Discurso: saber sobre a existência dessas lendas:

Entrevistado

Cleonisse Martins de Sena Conceição, 48 anos,

As criancinhas do jardim, se você sentar com elas e perguntar a história da velha que arrasta cadeiras, elas mesmas te contam e os idosos da escola. Nós temos um grupo pessoas que são os contadores de histórias que contam as histórias, a gente grava e depois fazemos um livro artesanal e depois expomos na biblioteca da escola.

Raimundo Costa Silva, 63 anos

As histórias dos meus antigos, meus bisavôs, eles já contaram pros pais e estes pros filhos e assim se vai e pros outros filhos que assim sou eu. Sou um dos conhecedores dessas coisas, e as vezes a gente quer ver, mas só aparecem altas horas da noite não vê, mas a gente ouviu dizer a sabe que é verdade, porque essas pessoas que dizem eram pessoas respeitadas e a gente acreditou

José de Ribamar Pereira Dutra, 64 anos

Os mais velhos contavam.

Análise do Discurso: considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Cleonisse Martins de Sena Conceição, 48 anos,

Com certeza, as pessoas hoje se prendem muito como falei anteriormente na televisão e na internet, quando você faz uma roda e conta as histórias e você vê os brilhos nos rostinhos das pessoas, dizem puxa ninguém faz isso mais, ninguém quer mais resgatar essa histórias e quando falta energia na comunidade, faz-se uma roda e uma fogueira e começam a contar as histórias e essa é uma maneira muito gostosa de resgatar essas histórias.

As pessoas não se prendem mais as histórias por causa dos aparelhos eletrônicos, internet e televisão. As roda de história ainda fazem brilhar os olhos, essa é uma maneira muito prazerosa de se contar e resgatar

essas histórias.

Raimundo Costa Silva, 63 anos

Porque são histórias bonitas, e que alguém precisa saber também.

José de Ribamar Pereira Dutra, 64 anos

Não soube responder.

Discurso do Sujeito Coletivo se considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

As pessoas hoje se prendem na televisão e na internet, mas alguém precisa saber, você

faz uma roda e conta as histórias bonitas, você vê os brilhos nos rostinhos das pessoas, dizem puxa

ninguém faz isso, ninguém quer mais resgatar essas histórias. Falta energia na comunidade, faz-se

uma roda e uma fogueira e começam a contar as histórias e essa é uma maneira muito gostosa de

resgatar essas histórias.

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Quadro 10 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Sobradinho. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: Discursos com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Cleonisse Martins de Sena Conceição, 48 anos,

Com certeza, seria importante, primeiro porque as pessoas se prendem muito ao turismo para visitar os Lençóis, vou visitar o Farol, vou visitar o Caburé, vou visitar isso e isso, e se você ver a exposição desse material (histórias de mitos e lendas) em determinado local, as pessoas vão conhecer mais da comunidade e vão conhecer mais do município e vão realmente valorizar não só a beleza turística, mas a beleza cultural.

As pessoas se prendem muito ao turismo dos Lençóis, Farol e

Caburé. Tem que ter exposição de material sobre Mitos e Lendas para

conhecimento cultural da comunidade. Valorizar não só a beleza turística, mas a beleza

cultural.

Raimundo Costa Silva, 63 anos

É importante porque eles precisam ficar sabendo das histórias de nossos mais velhos, eu sou um deles e então eu sempre conto pros meus netos e eles já vão contar pra outros. É muito esquisito hoje, porque as estradas já tem muito movimento e tão sumindo tudo hoje, por causa desses movimentos.

José de Ribamar Pereira Dutra, 64 anos

Sou a favor quando mais sabe mais divulgam sobre nosso lugar.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Com certeza, seria importante, porque as pessoas se prendem muito ao turismo para

visitar os Lençóis, vou visitar o Farol, vou visitar o Caburé, ver a exposição desse material (histórias

de mitos e lendas), precisam ficar sabendo das histórias de nossos mais velhos, eu sempre conto

pros meus netos e eles já vão contar pra outros. As pessoas vão conhecer mais da comunidade,

mais do município. Quando mais sabe, mais divulgam sobre nosso lugar. Valorizar não só a beleza

turística, mas a beleza cultural.

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7.1.1.4 Comunidade de São Domingos

Figura 11 - Comunidade de São Domingos

Fonte: Brito, 2015

Relato apresentado por Dona Ana Júlia Cruz Pereira, de 78 anos, residente

do povoado de São Domingos, conta que a comunidade foi fundada por sua avó, Dona

Vitória Alves da Silva, nascida em 1901, uma senhora que se chamava mãezinha e

José de Lacerda que vieram para essa região e, então, foi fundado este lugar. No

começo existiam as casas da Dona Vitória Alves da Cruz e de Justino Barroso, do

Faustino, Antônio da Cruz, Francisco Neto e as outras duas eram ado padrinho Sérgio

e a outra era o Casarão onde se faziam as festas, quando as embarcações vinham e

paravam todas aqui no Porto Grande, desembarcando pessoas importantes da época

para a reunião festiva como Dona Regina Célia e senhor Alberto I.

Com base no relato, a comunidade de São Domingos (Figura 11) fica cerca

de 6 Km da sede do município. Os moradores vivem da pesca, da lavoura e do

turismo, isso porque a cada ano cresce o número de construções de pousadas.

Quadro 11 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular na comunidade São Domingos. Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Teodoro Ferreira da Silva, 94 anos

A cultura popular é a união de tudo e muito mais que tem no povoado.

A cultura popular é a união de tudo que tem no povoado.

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Maria de Nazaré, 71 anos

Posso falar sobre o rio, quando eu me entendi a gente via muita coisa diferente nesse rio, hoje não vê mais. Eu falo pros mais novos do que eu, que já vi a tal de cabeça de cuia e meu pai falava pra gente e eu vi no rio um objeto que fazia medo, eu era jovem, por volta de meus catorze anos e eu vi.

No rio tem um objeto que dá medo, que é a cabeça de cuia.

Adelina, 50 anos Eu entendo um pouquinho, aprendia com meu pai, ouvia muito dele, histórias do passado, já do meu tempo pra cá já mudou mais, no tempo dele tinha muitas histórias.

Aprendi com meu pai histórias do passado.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

A cultura popular é a união de tudo que tem no povoado. Aprendi com meu pai. Ouvia

dele histórias do passado. No tempo dele tinha muitas histórias. Posso falar sobre o Rio Preguiças.

Eu posso falar pros mais novos, que já vi a tal de cabeça de cuia. Vi no rio um objeto assim que fazia

medo.

Quadro 12 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na comunidade São Domingos. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: conhecimento sobre os mitos que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado MITO

Teodoro Ferreira da Silva, 94 anos

Tem muito, conto pros filhos e netos, estou com essa idade, mas eu não posso dizer, aparecia muita visagem.

Maria de Nazaré, 71 anos Mãe d’água, medo de lobisomem.

Adelina, 50 anos Da mãe d’água e tem gente que já viu, e o saci Pererê pro lado dos matos, tinha gente que via, mas não sei se é verdade, a gente acredita que tem.

Análise do Discurso: saber sobre a existência desses mitos:

Entrevistado

Teodoro Ferreira da Silva, 94 anos

Um conta do jeito e conta do outro, faz muitos anos que eles morreram.

Maria de Nazaré, 71 anos

Meu pai, minha mãe, ela dizia que tinha muita mãe d’água

Adelina, 50 anos Meu pai, minha mãe, ela contava que estava com uma senhora em nosso quintal fazendo bolos e elas viram e viram um monte de gente correndo para a beira do rio e quando chegou não viram mais nada e viram que era a mãe d’água que caia dentro d’água e algumas pessoas diziam que mais lá embaixo era a morada delas, no final dessa praia aqui, tinha gente que via.

Análise do Discurso: conhecimento sobre as lendas que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado LENDAS

Teodoro Ferreira da Silva, 94 anos

Eu não lembro, mas tem aqui.

Maria de Nazaré, 71 anos

Mãe d’água

Adelina, 50 anos Muitas histórias o pessoal contava, hoje em dia não contam mais, eu e meu gravávamos muitas histórias, ele sabe mais que eu, quase não lembro mais

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Análise do Discurso: saber sobre a existência dessas lendas:

Entrevistado

Teodoro Ferreira da Silva, 94 anos

Meus pais e não tenho mais lembrança.

Maria de Nazaré, 71 anos

Minha mãe e minha avó

Adelina, 50 anos Meus pai e os pessoais antigos, tinha uma família aqui que contava muitas histórias. Quando a gente era criança todo mundo ia correndo pra lá, só queria viver lá ouvindo as histórias, porque eles contavam muitas histórias. Era muita gente que ia lá para ficar ouvindo.

Análise do Discurso: considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Teodoro Ferreira da Silva, 94 anos

Ás vezes conta de um jeito e outros contam de outro.

Ninguém conta história igual à outra.

Maria de Nazaré, 71 anos

Porque quanto mais agente souber é melhor e principalmente para esses meninos novos, tem que falar pra entender também.

O conhecimento dos antigos tem que perpetuar através dos mais novos.

Adelina, 50 anos Com certeza, pra chamar mais a atenção, as pessoas querem saber uma coisa dessa, é mais para chamar a atenção das pessoas para virem pra cá, né. Com certeza é melhor pra gente.

Histórias sempre chamam atenção das pessoas, com isso, atraem outras para saber da história.

Discurso do Sujeito Coletivo se considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Quanto mais gente souber da história é melhor, principalmente para esses meninos

novos. Histórias chamam atenção, das pessoas que querem saber. Umas vezes conta de um jeito e

outros contam de outra. Chamar a atenção das pessoas para virem pra cá. Com certeza é melhor

pra gente.

Quadro 13 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade São Domingos. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: Discursos com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Teodoro Ferreira da Silva, 94 anos

Não soube responder. Turistas não entendem, por isso tem que conversar para entender.

Maria de Nazaré, 71 anos

Eu acho importante, porque muitos turistas não entendem o que houve aqui e a gente tem que conversar com alguns deles para entenderem um pouco.

É importante porque quanto mais divulgam as histórias do povoado, mais atenção darão essas pessoas, fazendo com que o povoado fique mais conhecido. O povoado precisa de gente e clientela (turista).

Adelina, 50 anos Com certeza, quanto mais divulgando as histórias da gente é melhor, chama mais atenção das pessoas, porque precisamos de gente, clientela para que o povoado da gente fique mais conhecido.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

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Eu acho importante, porque muitos turistas não entendem o que houve aqui e a gente

tem que conversar com alguns deles para entenderem um pouco.

7.1.1.5 Comunidade de Atins

Segundo depoimento de D. Benedita de Jesus santos Pereira, os primeiros

moradores de Atins foram os senhores José Marcelino, Ferreirinha, Pedro Lucas,

Camilo, Vitinho, Luizão (isso porque tinha pés muito grande). A comunidade surgiu

por acaso, por um dos pescadores que foi pescar por aquelas bandas, gostou do lugar

e resolveu construir sua morada. Depois avisou aos outros pescadores sobre o lugar,

e que por curiosidade resolveram assim conhecer o lugar.

De acordo com o depoimento, os pescadores acabaram se encantando

pela região rodeada por praias de águas claras, sem poluição e deserta. Muito próximo

ao povoado ficam as dunas (Figura 12) que se movimentam pelos ventos e cheias de

pequenas lagoas e igarapé, que enche nas épocas das chuvas. Foi por essa razão

que os pescadores resolveram manter residência fixa naquele lugar e com o tempo

foi sendo descoberta também pelos visitantes que se sentiram atraídos pelo lugar, e

assim, o povoado de Atins passou a fazer parte de uma das atrações turísticas de

Barreirinhas.

Figura 12 – Dunas da Comunidade de Atins

Fonte: Brito, 2015

Com base, ainda, no depoimento, a comunidade hoje vive da pesca, de

pequenos comercias chamados de quitandas/mercadinhos e também do turismo. O

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povoado Atins tem acesso de duas formas: por via fluvial e pelo Rio Preguiça ou

terrestre, observando a paisagem contemplativa de dunas e lagoas pelo percurso do

Parque Nacional dos Lençóis Maranhense, por meio de quadriciclos ou carros 4 x 4

(Figura 13).

Figura 13 – Passeio de quadriciclo ou carro 4 por 4

Fonte: Brito, 2015

Segundo a informação repassada por D. Benedita, o nome da comunidade

provém de duas lendas que assim contam os moradores. A primeira versão diz que

‘algum tempo atrás que um navio que navegava ao logo do oceano ao se aproximar

da praia naufragou. E no mesmo navio viajava a bordo um escritor famoso, por nome

José Bonifácio Atins que acabou morrendo. Em homenagem a ele, deu-se o nome

desse povoado Atins, que no qual hoje em dia existem muitas belezas e é um povoado

bem conhecido’. E ainda existe, a segunda versão é que o nome Atins foi colocado

porque antigamente existiam muitas gaivotas que emitiam um som parecido com um

latido e, essas gaivotas tinham o nome de Atins e por existirem várias delas por todo

o povoado, resolveram batizar a comunidade com este nome.

Quadro 14 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular na comunidade Atins. Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Maria Telvane Lima dos Santos, 49 anos

O meu entendimento é bem vago sobre a cultura popular do povoado.

A cultura popular faz parte do cotidiano, da vida, do povoado e

está ao nosso redor.

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Ledalena Silva, 56 anos

Não soube responder.

Benedita de Jesus Santos Pereira, 51 anos

Meu entendimento é que a cultura popular, seja ela exercida, ela faz parte do nosso cotidiano. A cultura popular é uma coisa que faz parte da nossa vida e do nosso povoado e sempre está ao nosso redor.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

A cultura popular faz parte do cotidiano e da vida, do povoado e sempre está ao nosso

redor.

Quadro 15 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na comunidade Atins. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: conhecimento sobre os mitos que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado MITO

Maria Telvane Lima dos Santos, 49 anos

Casca grossa, mula-sem-cabeça, lobisomem, só isso que eu conheço.

Ledalena Silva, 56 anos

Não soube responder.

Benedita de Jesus Santos Pereira, 51 anos

Têm alguns mitos algumas histórias são várias lendas, como a lenda do lobisomem, lenda de mula-sem-cabeça, uma lenda de o homem que virou toco e são vários mitos.

Análise do Discurso: saber sobre a existência desses mitos:

Entrevistado

Maria Telvane Lima dos Santos, 49 anos

Pelos mais velhos.

Ledalena Silva, 59 anos

Através dos antigos mesmos, os antigos são os meus bisavós, avós e

segundo os meus pais e eles sempre repassavam essas mesmas coisas.

Benedita de Jesus Santos Pereira, 51 anos

Não essas fazem parte da nossa região, mas não tem outras.

Análise do Discurso: saber sobre a existência dessas lendas:

Entrevistado

Maria Telvane Lima dos Santos, 49 anos

Como já disse, pelos mais velhos.

Ledalena Silva, Através dos antigos mesmos, os antigos são os meus bisavós, avós e segundo os meus pais e eles sempre repassavam essas mesmas coisas.

Benedita de Jesus Santos Pereira, 51 anos

A lenda foi essa que o rapaz falou que ele estava junto com o colega dele e o pai dele via qualquer outro tipo de pessoa que ele não falava, ficava mal então quando ele o via já estava fazendo a reza dele, ele mirava no toco a existência que eu soube foi através desse colega

Análise do Discurso: considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Maria Telvane Lima dos Santos, 49 anos

Sim, é importante, mas não sei explicar.

É importante repassar as pessoas de fora acontecimentos dentro do

povoado e o que ainda vem acontecendo.

O que faz parte da cultura é importante divulgar e falar sobre mitos e lendas.

Ledalena Silva, Porque eu acho que é importante a gente repassar para as pessoas que vem de fora saber o que acontece e o que já

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aconteceu dentro do povoado e o que ainda vem acontecendo.

Benedita de Jesus Santos Pereira, 51 anos

Eu acho que faz parte da nossa cultura, então, eu acho que é importante a gente continuar divulgando e falando sobre lendas e mitos.

Discurso do Sujeito Coletivo se considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

É importante a gente repassar para as pessoas que vem de fora o que faz parte da

nossa cultura e continuar divulgando e falando sobre as lendas e os mitos, assim como o que

acontece e o que aconteceu dentro do povoado e o que vem acontecendo.

Quadro 16 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Atins. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: Discursos com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Maria Telvane Lima dos Santos, 49 anos

Não soube responder.

Saber e ter conhecimento de tudo o que acontece dentro do povoado.

Divulgar por escrito, através de livros.

Ledalena Silva, Com certeza, eu acho certo sim. Eles devem saber e ter o conhecimento de tudo o que acontece dentro do povoado, porque é importante e pode acontecer ainda mais que existem os fantasmas, eu acredito.

Benedita de Jesus Santos Pereira, 51 anos

Seria importante divulgar sim por escrito, através de livros.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Eu acho certo sim. É importante divulgar sim por escrito, através de livros. Eles devem

saber e ter o conhecimento de tudo o que acontece dentro do povoado, ainda mais que existem os

fantasmas, eu acredito.

7.1.1.6 Comunidade de Mandacaru

Segundo relato de D. Maryluce Oliveira Souza, os primeiros moradores

foram senhor Domingos Castro, Dona Rialina e Dona Brígida. No início era muito difícil

para as crianças porque não tinha colégio, só existia pescadores. O ferro de engomar

era na brasa, o peixe era salgado para ser conservado. Eles pisavam o sal para secar,

depois era vendido para os compradores. A função das mulheres era tirar breu e fazer

renda e assim que elas viviam. Não tinha médico na época, quando adoeciam,

recorria-se a remédios de canteiro como hortelã e outros remédios caseiros feitos de

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ervas. Quando era mais grave iam para Barreirinhas de canoa ou bote e o único

médico que atendia na época se chamava senhor Antônio Olímpio.

Com base na informação dada por D. Maryluce, o povoado de Mandacaru

se encontra à margem esquerda do Rio Preguiças, em frente ao povoado de Caburé

e próximo a foz. Ocorreram várias mudanças ao longo dos anos. Há séculos atrás o

povoado era tomando por diversas vegetações. No entanto, não existe registros

legítimos que afirmam o porquê dos moradores terem afirmado residência naquele

local. Apenas rumores sobre a origem do nome do povoado de Mandacaru, conta-se

que anos atrás, não tem uma fonte que diga a época exata, existia simplesmente só

casas de pescadores que trabalhavam com a pesca e uns poucos com a roça e, então,

como existia pelas redondezas alguns bichos selvagens, resolveram fazer cercas de

cactos conhecidos como Mandacaru para evitar que esses animais entrassem e

mexessem na plantação, enquanto estivessem na lida da pesca em alto mar ou no

Rio Preguiças. Então, com o passar do tempo o povo passou a chamar aquele

povoado de Mandacaru.

Os pescadores começaram a passear pela região das praias e depois,

seguiam para o lugar que eles chamavam de fazenda de Mandacaru por causa da

cerca feita toda de Mandacaru e com o tempo o povo foi acostumando e chamando

os outros pescadores pra irem para Mandacaru até que muitos pescadores

começaram a gostar da região que foi crescendo e chegando mais gente, se

desenvolvendo pouco a pouco e, assim surgiu mais um povoado em Barreirinhas, isso

de acordo com D. Maryluce que ainda comenta que, havia poucas casas no início do

povoamento, feitas de taipa. Suas construções eram feitas com varas trançadas, barro

amassado e cobertas com palha de coqueiros e de buritizal. Estas casas pertenciam

a moradores muito humildes que viviam uma longe das outras.

Segundo o relato, as construções e os moradores que mudaram a história

do povoado foram: senhor Filipe Gomes Veras, o primeiro comerciante; senhora

Cotinha Carvalho, a primeira professora; senhor João Resende Filho, primeiro

vereador. A primeira escola construída foi em 1961, no mandato do então prefeito

Quinca Carvalho; o posto de saúde foi construído em 1981, no mandato do prefeito

Tales Castro; poço público, construído em 1986, no mandato do prefeito Antônio

Olimpo.

A moradora descreve que, em 1908, o primeiro Farol preguiças foi feito de

ferro todo gradeado, contendo seis colunas que o sustenta até hoje. Tem em média

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30 metros de altura e por dentro das grades. Em 1940, foi construído o segundo farol

Preguiças – monumento feito de concreto armado (Figura 14 e 15), construído pela

Marinha do Brasil. Possui 35 metros de altura e 160 degraus, possui um potente feixe

de luz, que ascende e apaga todas as noites para orientar os navegantes. Foi

inaugurado em 1944 pelo Almirante Moraes Rego. É considerada a edificação mais

alta de Barreirinhas. Este farol além de servir como orientação aos navegantes é

considerada um dos principais pontos turísticos do povoado e de Barreirinhas.

Figura 14 – 2º Farol Preguiças da Comunidade de Mandacaru

Fonte: Brito, 2015

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Figura 15 – Paisagem vista do farol para a comunidade

Fonte: Brito, 2015

Quadro 17 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular na comunidade Mandacaru. Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Maryluce Oliveira Souza, 51 anos

Bom, tudo o que se relaciona ao que se vem trazendo da antiguidade em relação aos nossos avós, aos nossos pais e o que vai passando de uma geração para outra, em relação a comida, a danças, etc.

Vem trazendo da antiguidade, dos pais, dos avós. Passando de geração para outra. Comida e

dança: cacuriá, bumba-meu-boi. Contar histórias dos mitos e lendas

Elizete Valdez Rocha, 42 anos

Cultura popular pra mim são os bumba- meu-bois, cacuriá, essas danças que a gente tem na região.

Davi Lima Barroso, 30 anos

A cultura popular serve para contar nossas histórias e manter vivos as lendas e os mitos do povoado.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

A cultura popular pra mim se relaciona ao que vem trazendo da antiguidade em relação

aos nossos avós, aos nossos pais e o que vai passando de uma geração para outra, em relação à

comida, a dança. Pra mim são os bumba meu boi, cacuriá, essas danças, que a gente tem na região.

A cultura serve para contar nossas histórias e manter vivos as lendas e os mitos do povoado.

Quadro 18 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem parte do folclore da região e a análise do discurso do coletivo sobre a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na comunidade Mandacaru. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: conhecimento sobre os mitos que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado MITO

Maryluce Oliveira Souza, 51 anos

Mais ou menos em relação aos mitos até tenho alguns alunos que passaram por algum seriado e fizeram a história tipo a barraca mal assombrada que aconteceu em uma beira de praia aqui de Mandacaru e também tem os três coqueiros que esses coqueiros ficam o povoado de

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Mandacaru e o outro Povoado onde ainda são existentes e que as pessoas que moram lá acabam contando coisas que passaram por lá e acabaram vendo eles são a prova viva do que eles falaram essas pessoas foram entrevistadas por alguns alunos e eles contaram algumas coisas que acontecerão com ele e assim a gente pode registrar em alguns seriados.

Elizete Valdez Rocha, 42 anos

Sim. A história da Iara, Mãe d’agua e Cabeça de Cuia.

Davi Lima Barroso, 30 anos

Alguns sobre a origem do povoado e também sobre as lendas dos rios sobre os peixes que aparecem esses que eu conheço.

Análise do Discurso: saber sobre a existência desses mitos:

Entrevistado

Maryluce Oliveira Souza, 51 anos

Através das pessoas idosas e também de pessoas que ainda vivem com a situação ao passar tipo pessoas que vivenciaram na beira da praia que buscavam aconteceu no caso da barraca mal assombrada eles viram e nos três coqueiros também pessoas que passavam por lá acabaram vendo o que foi registrado pelos alunos.

Elizete Valdez Rocha, 42 anos

Pelos meus pais.

Davi Lima Barroso, 30 anos

Com histórias contadas dos povos mais antigos pessoas mais antigas da região

Análise do Discurso: saber sobre a existência dessas lendas:

Entrevistado

Maryluce Oliveira Souza, 51 anos

Também através das pessoas idosas e pessoas que também vivenciam pessoas que escutaram e acabaram repassando.

Elizete Valdez Rocha, 42 anos

Da mesma forma que as lendas.

Davi Lima Barroso, 30 anos

Essas lendas vem surgindo de pai para filho geralmente a gente não sabe a origem real mas alguém sempre conta uma história.

Análise do Discurso: considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Maryluce Oliveira Souza, 51 anos

Sim. Porque através dela é que a gente vai conhecendo o lugar, o povoado, as pessoas então que seja repassado de pessoa para pessoa, de geração para geração é assim que a gente vai conhecendo a história do povoado como tudo aconteceu e ainda como tudo acontece.

Através da literatura a gente vai conhecendo o lugar, o povoado e

as pessoas. Esse conhecimento vai se passando de pessoa a pessoa, de geração a geração. Conhecer a

história do povoado, o que aconteceu, o que está

acontecendo. Preservar e divulgar são importantes para as

comunidades.

Elizete Valdez Rocha, 42 anos

Acho muito importante porque se a gente não preservar e divulgar, com o tempo a gente vai perdendo tudo isso.

Davi Lima Barroso, 30 anos

Sim é importante porque nessa divulgação a nossa região e as demais comunidades vão entrar para história e muita gente vai ficar sabendo das nossas histórias.

Análise do Discurso: conhecimento sobre as lendas que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado LENDAS

Maryluce Oliveira Souza, 51 anos

Sim. Ainda falando das lendas temos a barraca mal assombrada e os três coqueiros.

Elizete Valdez Rocha, 42 anos

A lenda da menina de barreirinhas e a da Cabeça de Cúia.

Davi Lima Barroso, 30 anos Tenho conhecimento sobre a origem de Mandacaru e sobre a história do Rio Preguiças.

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Discurso do Sujeito Coletivo se considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Sim, muito importante, porque através dela, que a gente vai conhecer o lugar, o

povoado, as pessoas, repassando de pessoa para pessoa, de geração para geração. É importante

a divulgação para nossa região e as demais comunidades vão entrar para a história e muita gente

vai ficar sabendo das nossas histórias e a do povoado, como tudo aconteceu e ainda como tudo

acontece. E se a gente não preservar e divulgar, com o tempo a gente vai perder tudo isso.

Quadro 19 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Mandacaru. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: Discursos com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Maryluce Oliveira Souza, 51 anos

Sim, que todos fiquem sabendo que nessa divulgação acaba se conhecendo as histórias do povoado, o que alguém vivenciou e que quem sabe, o ainda vivencia e conta novas histórias para as pessoas.

Com a divulgação acaba se conhecendo as histórias do povoado.

Elizete Valdez Rocha, 42 anos

Sim, para os visitantes conheceram um pouco mais sobre as nossas histórias.

Os visitantes conhecem um pouco mais sobre as nossas histórias.

Davi Lima Barroso, 30 anos

Sem dúvida, porque a nossa região é muito pobre na área do turismo cultural. Porque o nosso turismo, ou melhor, o Mandacaru depende do farol, então há muita história em Mandacaru que tem que ser contada para o povo e para os visitantes.

Há muita história em Mandacaru que deve ser contada para o povo e para o turista.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Nossa região é muito pobre na área do turismo cultural, Mandacaru depende do farol.

Então temos muita história em Mandacaru, que tem que ser contada para o povo e para os visitantes,

com essa divulgação, acaba conhecendo as histórias do povoado, o que alguém vivenciou, ainda

vivencia e conta novas histórias para as pessoas. Assim os visitantes conheceram um pouco mais

sobre as nossas histórias.

7.1.1.7 Comunidade de Tapuio

Depoimento de Guionardo Sousa Silveira, morador de Tapuio relata que

“Tapuio povoado que surgiu de uma tribo (Tribo Tapuias). No tempo de escravidão

por volta de 1770, essa aldeia possui algumas ocas de índios Tapuias, que viviam à

margem direita do Rio Preguiças situada do lado oposto ao centro da cidade. Sendo

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um povoado tomado ainda pela vegetação nativa, como tucunzal, buritizeiros,

juçareiras, e também possui uma grande área de concentração de barro.

Figura 16 – Restaurante e Casa da Farinha (Produção da farinha de mandioca)

Fonte: Brito, 2015

Segundo o depoimento, todas as pessoas que ali chegavam se

encantavam com a originalidade daquele lugar repleto de riquezas e todos

aprenderam com os indígenas, se familiarizaram, desde a aprendizagem dos tijolos,

do artesanato, da pesca, da cultura, da agricultura, etc. Onde isso é constantemente

hereditário. Antigamente em noite de lua as pessoas sentavam nas portas, faziam

fogueiras e contavam histórias e lendas.

Figura 17 – Artesã e contadora dos mitos e das lendas

Fonte: Brito, 2015

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Com base no relato, o povoado Tapuio foi um dos que demorou bastante

para receber boa educação, energia elétrica, além de muitas outras coisas. Mas nem

isso impediu seu desenvolvimento, pois foi daqui que saíram os melhores carpinteiros,

marceneiros, pedreiros, professores, pescadores, agricultores, artesão (Figura 17),

cantores, tocadores, dançarinos e muito mais. Também já foi o maior exportador de

banana, castanha de caju, cana, coco d’água e até hoje é o melhor produtor de farinha

(Figura 16).

Quadro 20 – Discurso do sujeito com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular na comunidade Tapuio. Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Maria da Soledade Rocha Santos, 59 anos

É fazer o material como tapiti, a peneira, cesto, bolsa, balaio, crivador, festejo de todos os Santos, Nossa Senhora da Conceição, São Francisco, faz farinha, faz beiju.

A cultura popular é a dança, os festejos, as histórias do Rio

Preguiças.

Maria da Conceição Santos Lima, 55 anos

A cultura popular é a dança, tem as festas, os festejos, de Nossa Senhora da Conceição, da Santa Luzia, de todos os santos: São Sebastião, que são os festejos daqui, depois vem as quadrilhas, tem vários tipos de dança, tem a dança da peneira, teve agora e foi muito legal, tem a dança do grupo do Kanhidhia, que é o grupo de dança Kalipso e várias danças, tem o boi que tem saído e tá muito bem aplaudido, tem a festa da banana, a festa dos namorados, festa da farinha, aqui é cheio de novidade.

Maria Anastácia Silva Silveira, 76 anos

A história do Rio Preguiças, dizem que tem um peixe, dizem, mas eu nunca vi, e aqui a gente banha, pula, travessa rio e graças a Deus eu nunca vi nenhum peixe desses. Festa, brincadeira tem muita, tem quadrilha, tem toda brincadeira, festa eu nunca dancei, porque papai e mamãe nunca deixou eu dançar e, assim eu fiquei até hoje sem dançar em festa.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao conhecimento da comunidade sobre a cultura popular:

A cultura popular é a dança, toda brincadeira, tem as festas, festejo de todos os Santos,

Nossa Senhora da Conceição, São Francisco, de Nossa Senhora da Conceição, da Santa Luzia,

São Sebastião, que são os festejos daqui, material como tapiti, a peneira, cesto, bolsa, balaio,

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crivador, faz farinha, faz beiju. A história do Rio Preguiças, dizem que tem um peixe, mas eu nunca

vi.

Quadro 21 – Discurso do conhecimento sobre os mitos e lendas que fazem parte do folclore da região e a análise do discurso coletivo sobre a importância de preservar e divulgar essa literatura oral na comunidade Tapuio. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: conhecimento sobre os mitos que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado MITO

Maria da Soledade Rocha Santos, 59 anos

Cabeça de Cuia, Mãe d’água.

Maria da Conceição Santos Lima, 55 anos

Quando eu me entendi minha mãe já falava que aqui era terra de índio e também outra história que o nome dele era Geraldo e que ele tava na beira do rio, e que as mães d’água encantaram ele e levaram, quando chegou lá chefe perguntou se tinham verificado ele, ai disseram que não, mas ele era queimado, e eles não aceitam gente queimado, vão deixar ele lá onde vocês acharam, eles ficaram com tanta raiva que eles não deixaram ele no porto, eles foram dentro do Giquiri, que é só espinhos, quando deram vê dele gritando, então rocaram e tiraram ele. Isso aconteceu aqui no Tapuio e a outro foi que o pai dele deu ele pra mãe d’água e ele se encantou na lagoa, maré tava seca bem no meio da canela e aconteceu isso, aconteceu memo.

Maria Anastácia Silva Silveira, 76 anos

Não soube responder.

Análise do Discurso: saber sobre a existência desses mitos:

Entrevistado

Maria da Soledade Rocha Santos, 59 anos

Porque as pessoas idosas me contavam e eu escutava.

Maria da Conceição Santos Lima, 55 anos

Quando eu me entendi, minha mãe me contou, isso ai e outras pessoas me contaram

Maria Anastácia Silva Silveira, 76 anos

Papai contava

Análise do Discurso: saber sobre a existência dessas lendas:

Entrevistado

Maria da Soledade Rocha Santos, 59 anos

As pessoas de idade mais velhas do que eu me contavam eu ficava escutando, aprendi por isso.

Maria da Conceição Santos Lima, 55 anos

É também através de minha família e eles disseram que aconteceu e eu acreditei, porque aconteceu mesmo

Maria Anastácia Silva Silveira, 76 anos

Meu pai contava pra gente, recomendava pra não ir pro meio por mode do peixe grande não pegar a gente

Análise do Discurso: considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Análise do Discurso: conhecimento sobre as lendas que fazem parte do folclore da região:

Entrevistado LENDAS

Maria da Soledade Rocha Santos, 59 anos

A lenda das mães d’águas que perturbam as pessoas.

Maria da Conceição Santos Lima, 55 anos

O peixe que aprece mais no inverno, mas que esses tempos ele não aparece, as vezes custa. Só que quando ele aparecia morria gente afogado.

Maria Anastácia Silva Silveira, 76 anos

Um peixe aparece ai nesse rio, isso é o que gente vê, mas daqui a gente não vê. A história do lobisomem, o do rio do Sucuruju, peixe encantado que aparecem para algumas pessoas

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Maria da Soledade Rocha Santos, 59 anos

Porque muitas pessoas sabem contar e já viram e seria importante para aqueles que nunca viram saber de alguém que conta e a acha que é verdade.

É importante contar histórias, divulgar para os outros o que aconteceu. Para

aqueles que nunca ouviram as histórias é importante saber para preservar e divulgar pra outras

pessoas.

Maria da Conceição Santos Lima, 55 anos

Acho importante sim preservar porque foi uma coisa que aconteceu sim, então as pessoas tem que ficar sabendo disso

Maria Anastácia Silva Silveira, 76 anos

Porque é importante a gente contar história sim, saber e contar pra outros, essa turma mais nova, a história do tio bichão, tudo isso eram histórias que ele contava assim pra gente sentado na porta, meu marido era um contador de história, ele sabia todas as histórias, mas eu nunca gravei muita coisa não.

Discurso do Sujeito Coletivo se considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Acho importante sim preservar uma coisa que aconteceu, as pessoas têm que ficar

sabendo disso, saber e contar pra outros, a história do tio bichão, eram histórias que ele contava pra

gente sentado na porta, meu marido era um contador de história, ele sabia todas as histórias, muitas

pessoas sabem contar e já viram e seria importante para aqueles que nunca viram saber de alguém.

Quadro 22 – Discurso com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes na comunidade Tapuio. Barreirinhas-MA. 2015.

Análise do Discurso: Discursos com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos visitantes:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

Maria da Soledade Rocha Santos, 59 anos

É importante contar pros turista e se eles procurar, vamos ter que contar

É importante contar para os turista porque eles não sabem das lendas.

Maria da Conceição Santos Lima, 55 anos

Porque é importante esse pessoal de fora saber dessa lenda, porque eles não sabem.

Maria Anastácia Silva Silveira, 76 anos

É importante porque eles não sabem e ai a gente acha importante.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao interesse em divulgar o PCI-Mitos/Lendas aos

visitantes:

É importante contar pros turistas e se eles procurar, vamos ter que contar, para esse

pessoal de fora saber dessa lenda, porque eles não sabem.

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7.2 Percepção da Cultura Popular, do Patrimônio Cultural Imaterial e do Turismo

Para os Turistas

Procurando alcançar os objetivos específicos, os quadros expostos logo a

baixo vem demonstrar a partir dos discursos dos turistas a percepção da cultura

popular, do patrimônio cultural imaterial e do turismo.

Para isso foi realizado o questionário semiestruturado (APÊNDICE C)

aplicado aos 11 turistas, que se disponibilizaram a responder o mesmo. Sendo que,

os turistas foram abordados depois dos passeios e tido o contato com a comunidade

e condutores de turistas. Somente depois disso, foi aplicado os questionários com

objetivo de verificar se há interesse por parte dos turistas em conhecer a cultura

popular local e também em relação ao interesse de conhecer o patrimônio cultural

imaterial (mitos e lendas) da região visitada.

Os depoimentos foram transcritos na integra para um caderno e depois de

analisado foram grafadas as expressões-chave, e construída as ideias-centrais. Após

o levantamento de todas as expressões-chave grafadas a partir dos depoimentos

individuais, deu-se a construção e análise de um novo discurso denominado discurso

do sujeito coletivo-DSC.

Quadro 23 – Discurso do sujeito coletivo com relação ao interesse do turista em conhecer a cultura popular local. Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: Discursos com relação ao interesse em conhecer a cultura popular local

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

J.D Sim, em todas as viagens gosto de conhecer o modo e as riquezas da cultura local.

É interessante conhecer a cultura do lugar, pois ela revela as características do povo e amplia o entendimento do ser humano. É a cultura que conta a história de um povo.

M.D.R Porque es interesante conocer la cultura del lugar.

F.I.D.M Sim, pois revela as características do povo da região.

R.N.Q Sim, acho sempre importante conhecer culturas e histórias regionais

T.C.F Sim, porque sempre me interesso por outras culturas.

I.K.R Sim, porque é uma cidade pitoresca e quando viajo gosto de me inserir na comunidade para ampliar o entendimento do ser humano.

I.S. Sim, sempre é bom para aumentar o conhecimento sobre cultura. É a cultura que conta a história de um povo

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Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao interesse em conhecer a cultura popular local

Todas as viagens gosto de conhecer o modo e as riquezas da cultura local. “Porque es

interesante conocer la cultura del lugar”. Revela as características do povo da região. Sempre

importante conhecer culturas e histórias regionais. Me interesso por outras culturas. Gosto de me

inserir na comunidade para ampliar o entendimento do ser humano. É bom para aumentar o

conhecimento sobre cultura. É a cultura que conta a história de um povo.

Quadro 24 – Discurso do sujeito coletivo com relação ao interesse do turista em conhecer o patrimônio cultural imaterial (mitos e lendas) da região que vai visitar: Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: Discursos com relação a importância de conhecer o patrimônio cultural imaterial (mitos e lendas) da região que vai visitar:

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

R do C Importantíssimo, porque isso quer mostrar a cultura local, isso que está embutido nesses mitos e lendas.

Conhecer as histórias é conhecer as crenças, a fé de uma comunidade e, isso manterá a comunidade viva, porque seus mitos e lendas contam o que o povo crer e sente.

M.D.R Porque la naturaleza es importante, pero la cultura es tan o más importante. El contexto cultural.

F.I.D.M. Sim, visitar um local turístico impressiona e marca o visitante por completo.

R.N.Q. Importante não seria a palavra. Acho curioso e como disse gosto de conhecer histórias.

C.A.S.Q Sim, para conhecer melhor as histórias da região

T.C.F Sim, para aprendermos mais sobre nosso país.

I.S Sim, para futuras gerações se beneficiarem

N.S.G.M. Sim, curiosidade e cultura geral.

I.K.R. Com certeza, porque está na esfera das crenças, da fé de uma comunidade. E porque é poético, curioso também.

J.L.F.O Sim considero, mas por curiosidade

AJGM Sim, isso manterá as comunidades sempre vivas. Os mitos e as lendas contam o que o povo crer e sente.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação ao interesse em conhecer o patrimônio cultural imaterial

(mitos e lendas) da região que vai visitar

Importantíssimo, visitar um local turístico impressiona e marca o visitante, curiosidade

e cultura, gosto de conhecer histórias. Mostrar a cultura local, “pero la cultura es tan o más

importante.” Conhecer melhor as histórias da região, para aprendermos mais sobre nosso país, para

futuras gerações se beneficiarem. Está na esfera das crenças, da fé de uma comunidade. Isso

manterá as comunidades sempre vivas. Os mitos e as lendas contam o que o povo crer e sente.

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111

7.3 Percepção da Cultura Popular, do Patrimônio Cultural Imaterial e do Turismo

para os Condutores de Visitante

Buscando encontrar respostas que contemplem os objetivos propostos

neste estudo, utilizou-se um questionário semiestruturado (APÊNDICE B) junto aos

dez condutores de visitantes que se propuseram a participar da pesquisa, com data e

hora marcadas no local de trabalho dos mesmos.

Os dados coletados a partir dos depoimentos, foram transcritos na integra,

em seguida foram analisados e grafados as expressões-chave de cada depoimento,

construída as ideias centrais e, por último a construção do discurso-síntese, que são

os discursos do sujeito coletivo. Na sequência da análise observou-se a com relação

cultura popular, do patrimônio cultural imaterial e do turismo para os condutores de

turismo em Bareirinhas-MA. Assim, apresenta-se em seguida os quadros

demonstrativos com as informações das expressões-chave, ideia central e o discurso

do sujeito coletivo em relação aos mitos e lendas que os condutores de visitante

acham interessante divulgar aos turistas e também se consideram importante

preservar e divulgar literatura oral da região.

Quadro 25 – Discurso do sujeito coletivo com relação aos mitos e lendas que acha mais interessante divulgar aos turistas: Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: relação aos mitos e lendas você acha mais interessante divulgar aos turistas

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

N.C.A

A Serpente do Morro da ladeira faz parte da história da cidade.

Lenda do Batatão dos Lençóis Maranhenses. Os visitantes gostam de saber um pouco da cultura local.

A história do menino encantado.

I.L.M. Primeiro sobre o morro e sobre o rio, porque faz parte da Beleza da nossa cidade.

M.A.L. Não soube responder.

T.M.A. O da serpente do morro da ladeira, porque faz parte da história da cidade.

J.R.M. Nenhuma, porque não gosto de lendas.

L.M.S. O menino encantado do Rio Preguiças, A noiva de Atins.

G.A.S. Gosto de falar da lenda do Batatão dos Lençóis Maranhenses e a Serpente que está debaixo da cidade. O Batatão é uma espécie de fogo que surge no meio dos Lençóis a noite e quando vão atrás do fogo para ver de perto ele desaparece misteriosamente. A lenda da serpente fala que tem uma gigante serpente de baixo da

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cidade, onde sua cabeça está localizada na igreja da Matriz e sua calda está no povoado Santa Cruz. A serpente está em um profundo sono e quando ela despertar vai destruir toda a cidade.

J.S.A. Não soube responder.

E.F.D. Porque os visitantes gostam de saber um pouco da cultura local.

H.R.C. Da história dos pais que eram pescadores e viviam disso, acontece que o mar não estava para peixe e os pais fizeram um acordo para conseguirem pegar muito peixe. O acordo era que eles lhes davam o filho em troca e foi isso que aconteceu. Para sempre eles perderam o seu único filho para as mães d’água.

Discurso do Sujeito Coletivo com relação aos mitos e lendas você acha mais interessante divulgar

aos turistas

Os visitantes gostam de saber um pouco da cultura local. Primeiro sobre o morro e sobre

o rio, porque faz parte da beleza da nossa cidade. O da serpente do morro da ladeira, faz parte da

história da cidade. Gosto de falar da lenda do Batatão dos Lençóis Maranhenses, Batatão é uma

espécie de fogo que surge no meio dos Lençóis a noite, desaparece misteriosamente. A lenda da

serpente, uma gigante serpente de baixo da cidade, sua cabeça está localizada na igreja da Matriz,

sua calda está no povoado Santa Cruz, em um profundo sono, e quando ela despertar vai destruir

toda a cidade. A noiva de Atins. Da história do menino encantado do Rio Preguiças, o mar não estava

para peixe, e os pais fizeram um acordo para conseguirem pegar muito peixe deram o filho em troca,

eles perderam o seu único filho para as mães d’água.

Quadro 26 – Discurso do sujeito coletivo com relação a preservar e divulgar essa literatura oral aos turistas. Barreirinhas-MA. 2015

Análise do Discurso: considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Entrevistado Expressões chaves das ideias centrais

Ideia Central

N.C.A Sim, mais divulgação como dança, tambor de crioula, etc.

Divulgar o turismo de Barreirinhas. Valorização da história e cultura local. É importante preservar e

divulgar para os visitantes e garantir o bem esta da população local.

I.L.M. Sim, principalmente para mim. Porque através desses mitos viajamos um pouco e entendemos algumas coisas que antes eram inexplicáveis.

M.A.L. Quanto mais divulgado o turismo de Barreirinhas, melhor é as atividades culturais, serve muito pra chamar atenção do visitante.

T.M.A. Sim. Porque o turista já sai da cidade com outra visão do Maranhão.

J.R.M. Não soube responder.

L.M.S. É importante para enriquecer o atrativo turístico, Marketing positivo

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113

G.A.S. É de muita importância para valorizar a história da cidade e cultura local.

J.S.A. Sim para ajudar as pessoas que vem conhecer nosso lugar a ter uma boa experiência.

E.F.D. Sim, para que eles possam saber da nossa cultura, divulgar para os próximos visitantes e não ficar esquecida.

H.R.C. Eu acho que é importante preservar, porque temos que ter alguma coisa para divulgar e passar para os visitantes que nos apreciam e garantir o bem estar da população local.

Discurso do Sujeito Coletivo se considera importante preservar e divulgar essa literatura oral

Sim, principalmente para mim, através desses mitos viajamos, entendemos algumas

coisas, divulgado o turismo de Barreirinhas, melhor é as atividades culturais, serve para chamar

atenção do visitante. Porque o turista já sai da cidade com outra visão do Maranhão. Eu acho que é

importante preservar, temos que ter alguma coisa para divulgar e passar para os visitantes, ajudar

as pessoas que vem conhecer nosso lugar, saber da nossa cultura, e não ficar esquecida, divulgar

para os próximos visitantes, e garantir o bem estar da população local. É importante, enriquecer o

atrativo turístico, marketing positivo.

7.4 Discussão da Coleta de Dados

Este presente item vem apresentar a discussão da coleta de dados

levantados a partir das comunidades ribeirinhas do município de Barreirinhas-MA, dos

turistas e condutores de visitante, de acordo com o que foi citado nos itens anteriores

em relação às falas dos entrevistados e o discurso do sujeito coletivo expostos através

dos quadros.

7.4.1 Comunidades Ribeirinhas

Os ribeirinhos apresentam diferentes denominações, assim como outros

grupos, visto que suas interações com outras culturas os fizeram ir além de suas

práticas de pesca e extrativismo e, consequentemente, ocupando outros espaços

sociais (SOUZA, 2011). Tomando essa ideia, esses sujeitos não desenvolvem apenas

essas atividades por se encontrarem, de acordo com a geografia da região, à beira do

rio, mas devido à interação com diferentes culturas. Com isso, eles acabam

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desenvolvendo outras atividades, relacionadas ao Rio Preguiça, a terra e a vegetação,

como as do trabalho agrícola familiar, pescaria, a extração da fibra de buriti para

confecção de artesanato, para seu próprio meio de subsistência.

Corrêa (2003) afirma que os ribeirinhos (as) são homens, mulheres,

crianças e jovens, que nascem, vivem, convive e se criam, existem e resistem às

margens dos rios, denominados também por algumas pessoas de caboclos. Para

essas populações a relação que elas têm com os rios é intensa, é onde sua vida se

passa, tento assim uma forte ligação do homem com as águas. Este fato se observa

no momento em que os nativos contam seus mitos e lendas sobre a mãe d’água, peixe

encantado, cabeça de cuia e muitos outros seres míticos que fazem parte da cultura

popular dessas comunidades ribeirinhas estudadas.

A cultura é produzida por grupos sociais, sejam eles da cidade ou do

campo, e ela ao longo da história é perpassada de geração em geração, e que sofre

mudanças conforme as necessidades de subsistência, suas relações com outros

grupos, o cotidiano como um todo. Nesse sentido, segundo Marconi; Presotto, a

Cultura “[...] engloba os modos comuns e aprendidos da vida, transmitidos pelos

indivíduos e grupos, em sociedade” (1987, p.41).

Uma das comunidades estudada fez parte do contexto histórico da região

de Barreirinhas, como a comunidade de Santo Antônio, que surgiu no período colonial,

e que possui as etnias que compuseram a população brasileira. Assim como a

comunidade de Cantinho que surgiu a partir da comunidade de Santo Antônio, já que

seus descendentes quilombolas resolveram construir sua própria comunidade,

transmitindo assim, seus conhecimentos e saberes a outras gerações para perpetuar

a cultura, mesmo que haja o surgimento de outra comunidade, o que importa são os

laços culturais passados, respeitados e compartilhados entre seus familiares.

O desenvolvimento de Barreirinhas não foi diferente do que aconteceu com

muitas comunidades em várias regiões do país, que tem como descendentes os

negros, portugueses e indígenas, que fizeram parte da história e construção dessas

comunidades. E que seus descendentes ajudaram a prosperar e divulgar seus

povoados.

Hoje o município de Barreirinhas é conhecido pelo mundo em face ao

turismo local que se pôs nas rotas a partir de suas belezas naturais como os Lençóis

Maranhenses proporcionando um deleite aqueles que ali vivem ou buscam um lugar

para descanso e lazer. No entanto cabe mencionar a importância que tem o turismo

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para esse município, principalmente no que tange o turismo cultural dos mitos e

lendas, ainda deixado como segundo plano por muitas pessoas que se envolvem

diretamente e indiretamente com o turismo da região.

A falta de interação por parte de órgãos públicos e privados ligados ao

turismo em Barreirinhas, coloca a cultura local à mercê da desvalorização de sua

cultura popular oral, que envolve o folclore da região e que também pode fazer parte

do turismo cultural local, trazendo prosperidade não somente para as comunidades

ribeirinhas ricas de histórias míticas que possam interessar aos visitantes e dar

continuidade por várias gerações esse legado cultural.

Com o processo de desenvolvimento da cultura popular, antes

marginalizada, atualmente é respeitada, valorizada e considerada como importante

fonte de estudo, tanto literário como cultural, especialmente em pesquisas que visem

a compreensão e a evidência das variedades culturais das comunidades aqui

estudadas. Segundo Sousa (2005, p.40) é desse modo que as culturas geram

símbolos os mais diversos que se manifestam por meio de normas, valores, crenças,

hábitos, costumes e tradições que constituem as identidades.

Ainda segundo o autor supracitado:

Além disso, as narrativas orais podem contribuir para o entendimento do comportamento humano em relação aos fenômenos naturais, bem como em relação à sua própria história, tradições, hábitos, valores, medos, crenças e superstições que, estabelecidas pelo imaginário, constituem a sua identidade. Podem mostrar, ainda, a utilidade e o sentido das instituições sociais que determinam o comportamento coletivo das comunidades em estudo (SOUSA, 2005, p. 123).

Diante do exposto acima, em relação aos fenômenos naturais relacionados

às crenças, tradições e ao imaginário popular, isso pode ser visto quando os

moradores de Cantinho relataram que a cultura popular para eles engloba as danças,

música, cultura negra e a literatura oral transmitida pelos antigos. Em Santo Antônio

eles relatam a importância histórica de sua comunidade tanto para seu povo quanto

aos turistas, porque a comunidade foi a primeira que surgiu na época da colonização

portuguesa e escravidão. Isso é um marco histórico da região. A comunidade possui

em sua cultura danças, festas, literatura oral. Existem várias histórias míticas e

lendárias dos descendentes quilombolas. A comunidade de Santo Antônio também

relata o quanto os turistas saem felizes quando alguns moradores descrevem sobre

as características e origens da comunidade.

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Cruz (2008, p.58) pontua que a “identidade ribeirinha é uma identidade

territorial, pois é construída a partir da relação concreta/simbólica e

material/imaginária dos grupos sociais com o território”. Contudo, reconhecer a

identidade ribeirinha é considerar suas experiências culturais, o dia a dia das pessoas,

as experiências de vida, seus saberes, mitos, lendas, seu território, e que são sujeitos

que têm direitos e valores e que devem ser respeitados.

A existência de lendas e crenças nas comunidades estudadas em

Barreirinhas-Ma, que vivem em torno do rio Preguiças, como a da Mãe D’àgua, Peixe

Encantado, Cabeça de Cuia, Lenda do Baú de Ouro, Menino do Igarapé, Menino

Encantado, entre outros, estão ligadas ao habitat e às condições socioculturais da

região. Desta maneira, estas histórias estão, em sua maioria, relacionadas

principalmente com a água, a prática da pesca, a fauna e a flora características desta

região, pois nada do que ocorre em uma história popular, uma lenda, ou um mito, pode

ser considerado como algo supérfluo, pois isso tudo faz parte da cultura popular

dessas comunidades ribeirinhas do município de Barreirinhas.

Segundo Pereira (2005, p. 108 apud GONÇALVES, 2011) essas

populações são “sujeitos que contribuem para a riqueza da região por diferenciar-se

do modelo urbano de vida, não só pelo espaço que ocupa geograficamente, mas pela

ligação que as pessoas têm com a terra e seus frutos”.

A cultura popular e o folclore, de uma maneira geral, representam aspectos

culturais próprios da região na qual são construídos e difundidos, ou seja, eles têm

vida própria (CASCUDO, 1972). São, por assim dizer, espelhos da própria identidade

cultural da população e permitem compreender aspectos de sua concepção de

mundo.

Os moradores do povoado de Sobradinho comentam criticamente que nos

últimos anos a comunidade vem deixando em segundo plano a cultura popular, pois

as pessoas estão presas a televisão e aos computadores. No entanto, alguns

moradores sabem que trabalhar a cultura popular é importante para mostrar à

comunidade o que aconteceu no passado. Já o povoado de São Domingos seus

moradores comentaram que a cultura popular vem da união de tudo que há no

povoado. Enquanto que os moradores de Atins disseram que a cultura faz parte do

cotidiano, da vida e do povo.

Em Mandacaru a cultura popular para a população é tudo aquilo que vem

do passado, repassado pelos avôs e pais, o que vem de geração em geração. A

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117

cultura está na comida, dança, histórias que servem para manter vivos as lendas e os

mitos do povo. Isto também foi comentado pelos moradores de Tapuio sendo apenas

acrescentadas as brincadeiras, festas, festejos de Santos, artesanato, assim como as

histórias orais que envolvem o Rio Preguiças.

No que se refere em preservar e divulgar a literatura oral a comunidade de

Cantinho, os moradores falam da importância das histórias contadas, pois estas fazem

parte da cultura quilombola e, que devem ser divulgados para os turistas e toda a

comunidade deve saber, pois aqueles que contavam já não estão entre os vivos. Eles

comentam também que essas histórias são importantes e devem ser gravadas em CD

e escritas em livros.

Em Santo Antônio, seu povo entende que é importante divulgar para as

gerações futuras, pois muitos em sua comunidade não divulgam. Entretanto, alguns

acham importante que alguém fale e façam entrevistas com eles para que possam

divulgar aos outros, o que aconteceu em seu povoado. Eles não querem que suas

histórias se percam nesta geração, mas que perpetue a outras futuras.

No povoado de Sobradinho, alguns moradores mencionam da importância

de se fazer rodas de histórias em volta de uma fogueira e passar a noite ouvindo as

histórias contadas. Isso é para eles uma forma de resgatar suas histórias. Contudo

comentam de forma negativa a influência da internet e da televisão, que afastam os

moradores e a juventude da aproximação da cultura popular com a sociedade. Nesse

sentido, a linguagem oral apresenta mais recursos em termos de expressividade. É

assim que a Literatura Oral se mantém e, propaga-se pelo mundo, variando conforme

os ambientes, as ocasiões e as culturas de cada geração.

Em São Domingos, os moradores enfatizam que quanto mais gente souber

é melhor, principalmente para os mais novos. A comunidade chama atenção deles

para que possam saber e contarem para outras pessoas e, isso possibilita que outros

visitantes possam vir para a comunidade conhecer assim a cultura local.

Quanto à comunidade de Atins, os moradores comentam que é importante

repassar para visitantes, o que faz parte de sua cultura e divulgar os mitos e as lendas,

assim como o que aconteceu, como aconteceu e o que vem acontecendo com a

comunidade. Isso também pode ser visto em Mandacaru, quando a comunidade

transmite a outras pessoas sobre a região, dando a oportunidade de conhecer as

histórias e tudo o que aconteceu e o que acontece na comunidade. Os moradores de

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Mandacaru também mencionam que, caso não haja a preservação e divulgação de

sua cultura, com o tempo corre-se o risco de perde-la.

Diante dessa situação é importante divulgar e preservar a literatura oral,

porque é através dela que se tem o conhecimento do lugar, do povo, do que é

repassado de geração em geração. Percebe-se nestes relatos que as comunidades

se preocupam em divulgar e preservar seus conhecimentos históricos e, explicar essa

forma literária oral, tem sido um grande desafio não somente para os teóricos da

literatura desde o seu surgimento, como também para os indivíduos das comunidades

que tentam preserva-la e divulga-la.

É importante observar que a literatura oral das comunidades ribeirinhas de

Barreirinhas, enquanto atividade comunicadora vai além do entretenimento, da

informação ou simples passatempo das comunidades em transmitir sua cultura para

os visitantes ou seus descendentes. Pois tudo isso faz parte da memória dos

ribeirinhos e é fundamental para cada comunidade se distinguir dos demais grupos,

se tornando a marca e sinal da identidade de cada comunidade ribeirinha diferenciada.

Segundo Wehling (2003, p.13):

A memória do grupo, sendo a marca ou sinal de sua cultura, possui algumas finalidades que, embora abstratas e diluídas no inconsciente coletivo, tem evidências bastante concretas. A primeira e mais penetrante dessas finalidades é a da própria identidade. A memória do grupo baseia-se essencialmente na afirmação de sua identidade (WEHLING, 2003, p.13).

A comunidade de Tapuio frisa a importância da disseminação da literatura

oral, pois ela narra sobre os fatos e acontecimentos, relatados pelos seus

antepassados que tinham o costume de se reunirem em suas portas, sentados ao

chão. Essa é uma das formas mais antigas de contarem as histórias populares da

literatura oral. Até mesmo saber quem foram os protagonistas que presenciaram

essas histórias vividas em meio aos mitos e as lendas da região. Assim, aqueles que

não conhecem e nunca viveram essas histórias tenham a oportunidade de conhecer

um pouco sobre sua identidade, a literatura popular, as características e as origens

de seu povo.

Estabelecida a relação entre folclore, lendas, histórias e a identidade

cultural de um povo, e tendo em vista o debate sobre o nascimento da identidade

cultural, pode-se agora compreender melhor a ligação entre as lendas, mitos e os

mecanismos do Inconsciente (SOUSA, 2006).

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A importância de divulgar as histórias dos mitos e lendas aos visitantes para

os moradores de Cantinho faz com que a comunidade se sinta reconhecida e viva, já

que essas histórias se referem a fatos importantes e que podem ser visitados, servindo

como comprovação dos mesmos. Quanto a divulgação aos filhos e descendentes dos

moradores, estes também acabam repassando a outras gerações e, isso é uma

oportunidade de divulgar e perpetuar a cultura popular local. Desse modo, “nessa

demonstração do real, a narrativa oral é uma forma de diálogo, de interação verbal,

que tem como função não apenas de divertir, de satisfazer as necessidades

psicológicas do ouvinte, mas também interpretar o mundo” (SOUTO; BRANDÃO,

2012, p. 9).

Na comunidade de Sobradinho, a crítica recai para aqueles que se

prendem mais ao turismo de aventura, pois a divulgação e o marketing enfatizam mais

esse tipo de turismo, deixando de lado o cultural. Isso porque, a comunidade tem

consciência da importância dos turistas conhecerem mais sobre as histórias da

comunidade contada pelos mais velhos. Com isso, os turistas vão conhecer mais

sobre a comunidade e o município. E assim, poderão valorizar não somente as

belezas naturais da região dos Lençóis, como as culturais existentes na comunidade

através de suas histórias orais.

No povoado de São Domingos, a comunidade menciona a importância do

turista em entender o que houve na comunidade e que os próprios moradores devem

repassar ao turista sobre a cultura local. Enquanto que, a comunidade de Atins relata

a importância de divulgar por escrito, através de livros as histórias e acontecimentos

que ocorreram dentro do povoado, assim como seus fantasmas.

Foi comentado pela comunidade de Mandacaru que a região é pobre no

que se refere ao turismo cultural. Apenas é enfatizado o turismo ao Farol que recebe

muitos visitantes por ano. No entanto destacam que a região possui muitas histórias

e que devem ser contadas ao povo e aos turistas. A divulgação dessas histórias

mostra que alguém vivenciou. E que no momento que é divulgado, outros irão divulgar

e contar também essas histórias. Isso faz com que o visitante e a comunidade

conheçam melhor sobre as histórias locais. Para o povo de Tapuio, também é

importante falar para os turistas sobre a literatura, e que essa é uma forma deles

saberem sobre os mitos e as lendas da região.

O patrimônio cultural imaterial, transmitido de geração em geração de

Barreirinhas é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do

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seu meio, da sua interação com a natureza e da sua história, incutindo-lhes um

sentimento de identidade e de continuidade, contribuindo, desse modo, para a

promoção do respeito pela diversidade cultural e pela criatividade humana

(CONSELHO DA EUROPA, 2005).

7.4.2 Turista

O turista que vai à busca do turismo cultural, aquele em que o principal

atrativo é algum aspecto da cultura humana, seja ele a história, o cotidiano, o

artesanato ou qualquer outro aspecto que o conceito de cultura abranja, segundo

Barretto (2000). Aproveita a viagem para conhecer pessoas, tradições, histórias e

aprender sobre o passado de maneira viva e autêntica, isso tem sido uma das mais

fortes tendências na atividade turística na atualidade.

De acordo com o relato dos turistas, estes mencionam que quando viajam,

muitos deles gostam de conhecer os modos e as riquezas da cultura popular, pois

através disso se revelam a eles as características, as histórias e as origens do

povoado visitado. Relatam também da importância de conhecer a cultura e aproveitam

a oportunidade de se inserirem na comunidade visitada vivenciando, valorizando,

aprendendo e respeitando a cultura popular das comunidades ribeirinhas de

Barreirinhas-MA. Com isso, eles acabam ampliando seu entendimento quanto à

cultura, interpretando, promovendo e protegendo o patrimônio cultural local. Tal fato

faz com que haja um aumento do conhecimento e a preservação da cultural regional

local sobre as histórias, características e origens do lugar visitado, contribuindo

também para desenvolvimento sustentável de cada comunidade ribeirinha.

Segundo Menezes (2009, p.64-65):

O turismo cultural funciona como um elo entre turismo e preservação, capaz de promover a restauração, a revitalização, a ressignificação e a reconfiguração do patrimônio que, se bem interpretado, cria oportunidades de aprendizado para turistas e moradores, os quais passam a conhecer os valores, os costumes, a história e a identidade através do patrimônio. Isto promove a comunidade e desenvolve a cidadania cultural.

Nesta perspectiva o turismo cultural pode também se apresentar como

estratégia de desenvolvimento sustentável para as comunidades ribeirinhas de

Barreirinhas, isso se aliar o planejamento econômico à percepção da procura e oferta

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por bens culturais, buscando preservar os recursos naturais e culturais da região de

Barreirinhas para as futuras gerações e desenvolvendo assim, a economia das

comunidades ribeirinhas.

A cultura pode ser mediadora da valorização espacial, por meio da

expressão de fé, ritos, modos particulares de ser, agir e também transformar a

realidade, devido ser uma forma de expressar e manter passado e presente,

solidificado por meio dos símbolos que a mesma impregna no espaço geográfico. Para

Geertz (1989, p. 102) a cultura,

[...] denota um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressa em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à vida.

Portanto, verifica-se que o aprendizado e o convívio produzido entre o

grupo e os demais indivíduos denominam-se Cultura. As preferências de cada região

ou lugares manifestam a estrutura cultural dos grupos humanos, visualiza-se as

características e peculiaridades embutidas nos significados e reforçam a unidade

coletiva. As manifestações, usos tradicionais e populares são considerados por Beni

(2004, p.309) da seguinte maneira:

Todas as práticas culturais que são tidas como específicas de cada lugar ou região que as integram, ou ainda idênticas em nível nacional como: atividades cotidianas e festivas de ordem sacra ou profana, de caráter popular e folclórico, consideradas objeto de apreciação e/ou participação turística.

Diante da possibilidade de apreciação e/ou participação das diferentes

atividades que poderão desencadear como turísticas a partir das manifestações

culturais como produto turístico, é destacado por Beni (2004, p. 89) que “o turismo

contribui para preservar valores culturais que também possui valor específico para o

turista”.

A importância de conhecer o patrimônio cultural imaterial (mitos e lendas)

da região que vai visitar, os turistas relatam o interesse de conhecer a cultura,

enfatizado como importantíssimo, já que o local visitado pode impressionar e marcar

para sempre o que foi vivido por eles. E que ao conhecer essas histórias da

comunidade visitada, os turistas aprendem sobre a região, sobre o país. E esta esfera

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de crenças e fé, que envolvem essas comunidades, mantendo-as viva, assim como

os mitos e lendas contadas, mostrando o que o povo crê e sente.

O Ministério do Turismo em Orientações Básicas (BRASIL, 2006 p. 17)

considera que:

O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade, movimentando-se em busca de ícones que representam a identidade local e a memória coletiva. Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiências, fatos históricos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade, e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compõem o patrimônio.

Acerca do exposto pelo Ministério do Turismo em Orientações Básicas na

citação acima, compreende-se que, as atividades associadas ao turismo cultural são

variadas e complexas, as sociedades possuem características e manifestações

diferentes em relação à cultura e modos de vida como um todo, portanto, existem

inúmeras possibilidades para conhecer e descobrir as identidades e as memórias

coletivas.

7.4.3 Condutores de Turismo

É imprescindível que se invista na qualificação profissional, visto que a

atividade turística é, em sua essência, prestadora de serviços e, portanto, depende da

qualidade do elemento humano que presta serviços, para o encantamento do visitante

e, consequente aumento da demanda.

A qualificação do condutor de turismo cultural também é outra questão que

precisa ser solucionada com cuidado. Sobre este problema, Lucas (2003, p.20) afirma

que:

A formação de condutores que atuam preferencialmente em Turismo Cultural deve levar em consideração os aspectos da história, da arquitetura, do meio ambiente, da culinária e do estilo de vida das regiões e local aberto à visitação, de modo a tornar a experiência a mais rica e interessante possível. O guia deverá combinar a informação acurada com um modo atraente de apresenta-la evitando tanto o academicismo excessivo quanto a superficialidade leviana.

Os condutores de turismo comentam que os visitantes ao chegarem no

local visitado, gostam de saber um pouco sobre a cultura popular. Eles falam das

“lendas da serpente”, que vive no Morro da Ladeira e que é uma serpente gigante.

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Está se encontra debaixo da cidade e, que sua cabeça está na Igreja da Matriz,

vivendo em sono profundo e, dizem que quando ela despertar, destruirá toda a cidade

de Barreirinhas – MA. Na Capital do Maranhão, em São Luís, existe também a lenda

da serpente que é muito conhecida, e que irá despertar um dia e destruir toda a Ilha

de São Luís -MA. Outra lenda comentada foi a do “Batatão”, que envolve os Lençóis

Maranhenses, a “Lenda do Menino Encantado”, “Noiva de Atins” e histórias com a

mãe d’água. Histórias assombrosas e míticas que encantam os visitantes da região.

O fato de São Luís ser uma ilha parece ter ratificado a presença maciça do imaginário da Lenda da Serpente como uma das lendas mais contadas pela literatura oral até os dias de hoje. Conta a lenda que em torno da ilha de São Luís há uma enorme serpente que jamais deixará de crescer, até que um dia a calda toque a cabeça. Quando tal acontecer, o monstro concentrará sua força comprimindo a porção de terra por ele envolvida. São Luís, então, desaparecerá tragada pelas águas [...] (CAVALCANTI, et al, 2008, p. 277).

O turismo cultural se alude como toda forma de turismo que possa ter como

atratividade algum aspecto da cultura do povo, podendo ser sua história, seu

cotidiano, assim como o artesanato ou qualquer outra forma que se refira à cultura, e

por que não a literatura (BARRETTO, 2001).

Corroborando com a autora supracitada, acima, o turismo cultural deve

explorar não somente o patrimônio cultural material de uma comunidade, como, por

exemplo, o artesanato, visto que existem outros fatores que levam a acessão do

turismo cultural, tal qual o patrimônio imaterial, onde estão inseridos os mitos e as

lendas.

Para os condutores de turismo é importante divulgar e preservar a literatura

oral. Eles relatam que através dos mitos e lendas é que se “viaja” pelo universo da

literatura. E que divulgar as atividades culturais chama a atenção do turista, que

retorna ao lugar de origem com outra visão sobre o Maranhão. Ajudar os visitantes a

conhecerem a região, saber sobre a cultura faz com que a literatura não seja

esquecida e, assim garantir o bem estar da comunidade local e enriquecer o atrativo

turístico obtendo um marketing positivo para a região visitada.

Em síntese, observa-se que o turismo não pode se reduzir a uma mera

atividade comercial composta pelos critérios de mercado; as políticas nacionais de

turismo devem ser concebidas por equipes interdisciplinares de economistas,

geógrafos, arqueólogos, historiadores, sociólogos, etc. Porque ensinar é dever dos

setores públicos e privados aos visitantes e os turistas (PÉREZ, 2009). Nesse sentido,

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um planejamento turístico estratégico da cidade, que englobe ações interpretativas do

patrimônio e o envolvimento da comunidade, torna-se inevitável para o seu

desenvolvimento dentro do contexto do turismo sustentável.

Ainda sobre o turismo, é preciso que os gestores tenham definidos o que

eles entendem por desenvolvimento e que reflitam sobre o significado do turismo para

a região procurando determinar quem ganha (ou tende a ganhar) e quem perde (ou

tende a perder) com essa atividade. Mediante a isso, observa-se que o turismo não

pode se reduzir a uma mera atividade comercial composta pelos critérios de mercado;

as políticas nacionais de turismo devem ser concebidas por equipes interdisciplinares

de economistas, geógrafos, arqueólogos, historiadores, sociólogos, etc. Porque

ensinar é dever dos setores públicos e privados aos visitantes e os turistas (PÉREZ,

2009).

7.4.4 Proposta de Roteiro para o Turismo Cultural e de Estratégias de Disseminação

da Cultura Oral em Mitos e Lendas de Barreirinhas-MA

Conforme o levantamento feito, nas comunidades ribeirinhas, sobre as

propostas de roteiros para o turismo cultural e que possibilitem estratégias que

disseminem a cultura dos mitos e lendas do município de Barreirinhas – MA, observa-

se que, tais propostas podem ser consideradas como mais uma potencialidade ao

turismo da região.

As propostas apresentadas, por meio do levantamento das pesquisas,

podem oferecer melhorias e ampliações conforme o indicado pelas comunidades. No

entanto, vários casos apresentaram soluções e dificuldades em relação ao

distanciamento dos povoados em relação ao centro, onde se encontra o núcleo

receptor formado por agentes como a Prefeitura, Secretarias e órgãos ligados ao

turismo e a cultura, os quais possibilitam diálogo, discussões e soluções entre as

partes interessadas ao desenvolvimento do turismo cultural da região e o

beneficiamento para as comunidades e moradores ribeirinhos que tanto necessitam e

querem compartilhar para que essas propostas saiam do papel e sejam executadas

em parcerias com várias instituições.

Sabe-se que, as criações de novos roteiros turísticos causam um impacto

para alguns que pensam que o turismo é algo poluidor e destruidor, no entanto não

se deve ter um olhar negativo a tudo. Quando há parcerias em “jogo”, pode-se mudar

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essa imagem para positivo, isso se houver vontade política, projetos com objetivo de

almejar o beneficiamento do turismo e a importância social de participação dessas

comunidades ribeirinhas como núcleo receptor e que de forma alguma devem ser

prejudicados em prol do turismo de massa.

De acordo com Pellegrini Filho (1999), na segunda metade do século XX,

em meio à sociedade industrial, a vida sociocultural da época encontrava-se acelerada

e dinâmica, provocando mudança nos bens culturais, principalmente quando se refere

às manifestações folclóricas e culturais populares. Portanto, o turismo atua hoje, como

fator de mudança em vários setores.

No caso das manifestações folclóricas culturais em especial, que antes

eram discriminadas passaram a fazer parte da rota do turismo, ampliando

potencialidades e oportunidades a várias comunidades ribeirinhas a fazerem parte do

circuito turístico cultural de Barreirinhas – Lençóis Maranhenses. Isso, porque o

folclore quando usado com bom senso e respeito pelo seu patrimônio cultural imaterial

– Mitos e Lendas, para isso deve se estudar cada caso, em cada comunidade e

integra-los ao turismo, observando a conveniência de apresentação aos turistas, os

grupos de contadores de histórias da comunidade, condutores ou guias de turismo

que façam essa ligação, como tentativa de solução para resguardar esses grupos que

possuem essas manifestações folclóricas populares surgidas e vivenciadas

empiricamente.

Pellegrini Filho (1999, p.151) comenta que “a Ecologia e cultura ofereceram

uma variada gama de alternativas para a diversificação de roteiros turísticos, no

Brasil”. Não se trata de um sonho, proporcionar condições de dinamização e melhoria

do aproveitamento dos recursos naturais e culturais para o turismo e lazer. E isso é o

que realmente a comunidade ribeirinha sonha e almeja, já que possuem belezas

naturais e culturais que favorecem o turismo da região.

Segundo o autor acima citado, duas coisas são indispensáveis para que

isso venha a acontecer:

I – percepção aguda, formação especializada e capacitação por parte de administradores públicos das áreas de Turismo e Cultura frente ao contexto do mercado de oferta/mercado de demanda/preservação ativa de bens naturais e culturais/serviços públicos, e II - sensibilidade de empresários no sentido de assumirem compromissos sociais (sem prejuízo de lucros) (PELLEGRINI FILHO, 1999, p.151).

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Para obter dinamismo e o mínimo de falhas tem que se investir na

formação, capacitação, técnicas e aperfeiçoamento do pessoal envolvido para a

preservação do bem estar natural e cultural. Assim, como monitorar os empresários

que visam somente o lucro, explorando o turismo sabendo do retorno financeiro

imediato, até mesmo porque o público consumidor brasileiro não é exigente como o

europeu, como também cita Pellegrini Filho (1999).

Deve haver um trabalho em conjunto entre a Prefeitura, Governo do

Estado, Governo Federal, Comunidade e Sociedade organizada envolvidos no turismo

da região para que possam agir em conjunto no planejamento e execução das

atividades turísticas e de lazer propostas pelas comunidades ribeirinhas de

Barreirinhas – MA, que são voltadas para o desenvolvimento e difusão do turismo à

cultura da mesma. Essas atividades devem ser pautadas segundo os moradores da

seguinte forma:

- Criar o 1º Festival da Cultura Popular do Cantinho e Santo Antônio

(Cultura Quilombola), abrangendo as danças, as culinárias, as músicas locais,

cantigas, os mitos e as lendas;

- Passeio de canoa das 17:00 às 18:00 da tarde contando histórias de

Cantinho e Santo Antônio, assim como seus mitos e lendas;

- Construção de um Museu histórico em homenagem ao mais antigo

morador do povoado, buscando assim, entre os antigos moradores objetos, livros,

fotos, livrescos narrados por moradores da comunidade que contam os mitos, as

lendas e a história da comunidade;

- Organizar “Luais” na beira do rio com os turistas nas prainhas, contando

as histórias dos mitos e lendas da região narradas pelos moradores mais antigos do

povoado;

- Confeccionar livrinhos que narram às lendas e as histórias do povoado,

os quais poderão ser vendidos para os visitantes;

- Reunir os moradores para conseguir uma casa antiga ou a construção de

uma casa nova para ser transformada em museu histórico, que guarde lembranças

dos antepassados e que os visitantes possam conhecer cada um da cultura local;

- Divulgar nas escolas aos mais jovens sobre as histórias e mostrar a

importância que tem de preservar e divulgar a cultura local da comunidade;

- Passeio noturno vespertino de caiaque nos igarapés (envolvendo a lenda

do peixe encantado);

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- Pescaria noturna com pescadores da comunidade contando as lendas e

mitos no porto de cada povoado;

- No percurso da lagoa Azul, fazer uma parada no meio da trajetória e

contar sobre a lenda do tesouro enterrado na época dos escravos lá nas dunas;

- Pernoitar na beira do rio envolta de uma fogueira e contar as histórias

tanto aos moradores quanto aos visitantes;

- Envolver um percurso das Vassouras até o Morro do Boi de canoa a remo

ou de barco a vela;

- No mês de julho próximo ao festival da farinha, aproveitar o número maior

de visitante ao povoado e convidá-los a participar pela noite da “Roda de Histórias ao

Luar”, contadas pelos mais conhecidos contadores de histórias do povoado de Tapuio.

De acordo com a viabilidade de execução propõe-se inserir nas atividades

do roteiro as ideias aqui levantadas pelos moradores, valorizando sua participação na

formatação do roteiro.

A partir da criação de um plano de ação participativo, pretende-se elaborar

um plano estratégico subsidiado de acordo com a experiência e know-how de cada

agente envolvido no processo, além de utilizar-se da análise situacional de cada

comunidade pesquisada, delegando a execução das ações de forma a contemplar

todos os atores: Ministério do Turismo – Mtur, Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e

Pequenas Empresas - SEBRAE Nacional, SEBRAE/UF, Secretaria Municipal de

Turismo e Cultura – SENTUC, a Cooperativa de Condutores de Visitantes e Monitores

Ambientais do Parque Nacional dos Lençóis Maranhense – COMCOOP, Cooperativa

de Transporte Náutico dos Pilotos e Proprietários de Embarcações de Barreirinhas –

COOPERNÁUTICA e o Conselho Municipal de Turismo de Barreirinhas – COMTUR.

Com a criação deste novo roteiro, listam-se as atividades estratégicas

necessárias e primordiais para concretização da ideia de disseminação da cultura oral

em Mitos e Lendas das comunidades ribeirinhas:

- Busca de informações e pessoas-chave na comunidade;

- Levantamento dos Mitos, Lendas e características singulares de cada

comunidade;

- Modelagem Técnica de elaboração do roteiro;

- Articulação junto à comunidade para desenvolvimento das atividades

propostas;

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- Sensibilização de guias e condutores de forma a demonstrar a atratividade

do roteiro proposto;

- Criação da identidade visual e impressão de materiais de cada roteiro

integrado;

- Planejamento e Execução das ações de marketing complementar ao já

desenvolvido no destino;

- Lançamento do Roteiro;

- Realização de Famtur com as principais operadoras turísticas que

vendem o destino “Lençóis Maranhenses”;

- Criação de uma Instância de Governança para controle e manutenção dos

roteiros.

Além do que foi exposto, deve-se mencionar o estabelecimento da

capacidade de suporte dos atrativos que o integram, bem como do roteiro como um

todo. Suporte este, que enquadre o nível máximo aceitável de uso pelo visitante, com

alto nível de satisfação para os usuários e mínimos impactos negativos para as

comunidades.

A proposta do roteiro “Mitos e Lendas dos Lençóis” contempla a

oportunidade de valorizar a cultura local, possibilitando ao visitante uma experiência

diferenciada de integração com as comunidades de 7 povoados localizados ao longo

das margens do Rio Preguiças, despertando e aguçando o imaginário através de

contos de mitos e lendas vivenciados por populares. De acordo com as peculiaridades

de cada comunidade ribeirinha, o turista poderá conhecer os hábitos e costumes

desenvolvidos, realizando atividades do cotidiano de cada uma delas.

A missão do roteiro é complementar a oferta turística local, trazendo como

protagonistas os próprios moradores de cada comunidade, envolvendo-os no

processo da atividade turística, aumentando a permanência do turista na região e

consequentemente gerando renda e desenvolvimento local de forma sustentável.

Quadro 27 – Roteiro 1 - Santo Antônio e Cantinho

Roteiro 1 – Santo Antônio e Cantinho Slogan: “Da mais antiga fazenda da região aos encantos do artesanato local”. Informações iniciais: Santo Antônio destaca-se como a comunidade mais antiga da cidade de Barreirinhas, formada em sua grande parte por descendentes de negros escravos vindos para a região no período colonial. O primeiro cemitério da cidade também abriga túmulos de padres jesuítas que ali habitaram. Lá também se encontra a Fazenda Santo Antônio a primeira do lugar e cujo nome deu título à comunidade. A partir de Santo Antônio consegue-se acesso ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.

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Já Cantinho descende da comunidade de Santo Antônio, a origem do seu nome dar-se devido à volta que o Rio Preguiças percorre e rodeia a comunidade. Lá é possível encontrar uma cooperativa de produtos da região (licor, doces e artesanato da fibra do buriti). Descrição: Ao chegar à cidade de Barreirinhas poderá ser contratado um veículo tracionado 4x4 para conduzir o visitante até a comunidade de Santo Antônio e Cantinho que irá atravessar o rio na balsa no Porto do Bilica. Acesso: Travessia do Rio Preguiças pela balsa e posteriormente o percurso de trilha em areia. Das Comunidades à sede de Barreirinhas é aproximadamente 12Km. Duração: 1 dia Valor de Interesse: história, cultura e produtos artesanais. Mitos e Lendas: CANTINHO: MITOS: Mito da mãe d’água e cavalo do bicho, Mito do menino levado pela Mãe d’água, LENDAS: O menino encantado, Lenda do Baú de ouro, Lenda da Cabeça de cavalo, Lenda do Peixe encantado, Lenda do menino do Igarapé, Lenda do cemitério, Lenda da cabeça de cuia, Lenda da Mãe d’água, Lenda da mulher do cemitério... SANTO ANTÔNIO: MITOS: Mito da mãe d’água, o Gritador, cabeça de cuia... LENDAS: Lenda da Ponte, Lenda do homem de fé em Deus, O Mistério da lenda do Riacho, Lenda da mãe d’água, Lenda do Gritador... Equipamentos turísticos disponíveis: Pousada e restaurante.

Quadro 28 – Roteiro 2 - Tapuio e São Domingos

Roteiro 2 – Tapuio e São Domingos Slogan: “Dos filhos da terra aos mistérios envolventes do Rio Preguiças” Informações Iniciais: Na comunidade de Tapuio residiam os primeiros habitantes da região, os índios Tapuios. O povoado é conhecido pelo seu Festival da Farinha que acontece todos os anos, destaca-se também na economia de exportação de banana, castanha de caju, cana e água de coco. Nas casas de farinha é possível acompanhar o processo de fabricação da mesma. Outro aspecto destaque são os vários restaurantes que servem comidas típicas da gastronomia local como a galinha caipira e a peixada. A hospedagem pode ser feita em Casas de veraneio, alugadas por temporada. São Domingos é uma comunidade que vive da pesca, lavoura e turismo. Lá encontram-se diversos restaurantes, hotéis e pousadas à beira rio. Destacam-se também os banhos em pequenas praias formadas à margem do Rio Preguiças. Descrição: O roteiro inicia-se no cais de Barreirinhas que se encontra na Av. Beira-rio, isso se o turista optar a ida de barco ou pode alugar um carro traçado e atravessar pela balsa para a comunidade de Tapuio. Já a comunidade de São Domingues o turista pode ir de barco sendo contratado o serviço em cooperativas e agências de turismo ou optar de ir em carro próprio sem ser traçado. Acesso: Travessia de barco, percurso feito pelo Rio Preguiças ou percurso de carro feito de balsa a Tapuio e percurso de barco pelo rio ou por via terrestre por carro, sendo que da sede de Barreirinhas à Tapuio é de 3Km e para São Domingos é de 6Km. Duração: 1 dia Valor de Interesse: gastronomia, cultura, história, Mitos e Lendas: TAPUIO: MITOS: Mito dos encantados, Mito do lobisomem... LENDAS: Lenda do Peixe Encantado, Lenda da Mãe d’água, Lenda do lobisomem, A lenda do menino encantado, A menina que encantou, Lenda do peixe encantado, Lenda da cabeça de cuia, Lenda da Mãe d’água... SÃO DOMINGOS: MITOS: Mito da Mãe d’água, Mito dos fantasmas do rio... LENDAS: Lenda da mãe d’água, Lenda do menino preto, Lenda da Cabeça de Cuia, Lenda do Peixe Encantado... Equipamentos Disponíveis: Pousada, casas para alugar e Restaurantes.

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Quadro 29 – Roteiro 3 - Atins

Roteiro 3 – Atins Slogan: “Das praias desertas ao contemplar do pôr do sol entre dunas e lagoas” INFORMAÇÕES INICIAIS: Atins é uma comunidade descoberta por pescadores da região, se tornando a posteriormente um lugar muito visitado pelos turistas, já que a comunidade é cercada por pequenas dunas e lagoas em época das chuvas, assim como praias desertas, um completo paraíso para aqueles que gostam de desfrutar calor e sol. Suas ruas são todas areais e os turistas podem ter um contato mais próximo com os nativos, já que as pousadas são próximas as residências dos moradores locais (famílias de pescadores). Estas ajudam na divulgação da cultura popular, através dos mitos e lendas contadas pelos pescadores. Além do que foi dito, o turista pode se deleitar com os famosos pratos típicos servidos nos restaurantes que são: peixada, peixe frito e grelhado e o famoso camarão grelhado. Descrição: A travessia na balsa no Porto do banho, onde começa a trilha da comunidade de Cantinho a Atins, como a estrada é de areia, o carro usado tem que ser um 4x4, percorrendo cerca de 1h a 1h30, um trecho de aproximadamente 30Km com uma ‘vista encantadora’ de dunas e lagoas, até a chegada na comunidade de Atins. Ao chegar em Atins, o turista conhece a vila de pescadores, onde fica as casas e as pousadas e conhece uma das atrações que é a foz do Rio Preguiças onde encontra-se a união do Rio Preguiças com o mar, podendo o turista praticar neste local o skysurf, após isso segue-se para a praia, podendo tomar banho de mar ou apenas contemplar a paisagem, depois segue para o Canto de Atins (vilarejo de pescadores) com praias paradisíacas, que fica a 6km de Atins. Esse local os visitantes desembarcam dos carros e fazem o pedido do almoço com tendo como Menu os pratos típicos (camarão grelhado, peixe frito, peixe assado e peixada), em seguida os turistas voltam aos carros para dar continuidade ao passeio, até a parada na lagoa Verde, após tirar fotos, apreciar a paisagem e se refrescar com um banho na lagoa, eles retornam para os restaurantes, onde almoção e podem descansar nas redes feitas pela moradores da região e pela tarde, por volta das 16h retornam a Barreirinhas. Este mesmo passeio pode também ser feito por meio marítimo, o turista inicia-se o roteiro no Cais de Barreirinhas, onde irá contratar um barco em cooperativas ou em agências de turismo e segue de barco até o destino do porto de Atins Acesso: Por carro 4x4 ou barco percorrendo aproximadamente cerca de 45Km da saída de Barreirinhas até Atins. Duração: 1 dia ou pernoitar Valor de Interesse: história, cultura, Gastronomia e produtos artesanais. Mitos e Lendas: ATINS: MITOS: Mito do lobisomem, Mito da cabeça grande... LENDAS: Lenda da casca grossa, Lenda do Boi, Lenda do Lobisomem... Equipamentos Disponíveis: Pousada e restaurante.

Quadro 30 – Roteiro 4 – Sobradinho

Roteiro 4 – Sobradinho Slogan: “Comunidade repleta de balneários com águas refrescantes e cenário de vegetação nativa de palmeiras de buriti e açaí.” INFORMAÇÕES INICIAIS: Sobradinho é uma comunidade que vive da lavoura, mesmo sendo ribeirinha. Ela encontra-se as margens da MA-402, povoado bem próximo a Barreirinhas, cerca de 15km, aproximadamente 15min a 20min do centro de Barreirinhas. O povoado possui uma vasta quantidade de banhos, como São Roque e outros banhos que ficam muito próximos, em comunidades vizinhas com duração de 5min a 10min de chegada, tem-se os respectivos banhos (Bonito, Parada, Passagem do canto e Baixão). A comunidade é famosa por preparar o prato típico da Galinha Caipira e o peixe assado (Tilápia), nos restaurantes da comunidade. O forte da comunidade é o mês de Junho com o festejo de Junino com quadrilhas e bum-meu-boi e o festejo de São Sebastião. Descrição: O turista pode descer do ônibus intermunicipal que faz linha a Barreirinhas, na própria comunidade de Sobradinho ou carro próprio ou se hospedar em Barreirinhas e alugar um carro ou agendar com uma cooperativa ou agência de turismo o passeio a Sobradinho.

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Sendo que a comunidade se encontra a margem da MA-402, primeira comunidade que dá acesso a Barreirinhas logo depois da ponte. Acesso: por carro a Barreirinhas é de 15Km. Duração: 1 dia Valor de Interesse: cultura, história e gastronomia. Mitos e Lendas: SOBRADINHO: MITOS: Mito do Riacho, Mito da Criação do Rio Preguiças, Mito das benzedeiras, Mito do Santo São Francisco... LENDAS: A canoa que virava peixe, Velha que arrastava a cadeira na escola, Lenda da Mãe d’água... Equipamentos Disponíveis: Restaurante/Pousada com quartos para pernoite.

Quadro 31 – Roteiro 5 - Mandacaru

Roteiro 5 –Mandacaru Slogan: “Da vista no Farol Mandacaru à contemplação das praias de Atins e Caburé” INFORMAÇÕES INICIAIS: Comunidade de pescadores que lidam com a pesca de peixes e caranguejos no mangue. Possui como atração assim que os visitantes desembarcam no porto de Mandacaru a barraca colorida mais famosa da região onde vende bebidas e batidas feita de cachaça da terra e frutas tropicais, principalmente o caju, que é predominante na região de Barreirinhas. Depois da parada a barraca colorida, segue-se ao Farol Preguiças para apreciação da vista da Praia de Caburé e Atins. Na volta o turista pode apreciar o artesanato local feito de mariscos e fibra de buriti, produzido pelas mulheres dos pescadores. Descrição: O roteiro começa no Cais de Barreirinhas que fica na Avenida Beira-rio, onde o turista contrata o passeio através de agências de turismo ou cooperativas de turismo, em seguida fazem a descida do Rio Preguiças em sentido da foz, até o cais de Mandacaru, neste trajeto o turista contempla a paisagem intacta da vegetação da região como buritizais, palmeira Carnaúba, açaí e mangues, assim como as aves como Guaras e gaivotas. Esse percurso dura em média uma hora de barco (lancha voadeira) e em barco pequeno ou médio porte varia de 3h a 3h30 até o cais de Mandacaru. Acesso: Por barco percorrendo aproximadamente cerca de 42Km da saída de Barreirinhas até Mandacaru. Duração: 1 dia Valor de Interesse: história, cultura, Gastronomia e produtos artesanais. Mitos e Lendas: MANDACARU: MITOS: Mito do ser assombroso que apossava do corpo dos pescadores, Mito da mãe d’água... LENDAS: Lenda do Peixe, Lenda do lobisomem, Lenda dos três coqueiros... Equipamentos Disponíveis: As pousadas ficam em Caburé (pequena península que fica em frente a Mandacaru e que fica entre o Rio Preguiças e o mar do Atlântico).

Os 5 (cinco) roteiros propostos complementarão os roteiros tradicionais já

praticados, agregando valor cultural e a participação da comunidade. Dessa forma,

visualizando tal potencialidade deve-se desenvolver ações de marketing para levar ao

público de interesse as novas possibilidades de práticas do turismo de experiência

com enfoque na disseminação dos mitos e lendas das comunidades ribeirinhas ao Rio

Preguiças na região dos Lençóis Maranhenses.

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Como sugestão para destacar as singularidades e a experiência do turista

como única em cada roteiro, propõe-se a delimitação de símbolos/signos que retratem

o cotidiano, hábitos, costumes, paisagens de cada localidade.

Quadro 32 – Delimitação de símbolos/signos das comunidades ribeirinhas

Santo Antônio e Cantinho

Elaboração do Design da Fazenda Santo Antônio de forma estilizada Dança de São Gonçalo com desenhos estilizados ou representação da comunidade quilombola em Cantinho

Tapuio e São Domingos

Desenho estilizado da produção de farinha em Tapuio Desenho estilizado de praias de água doce em São Domingos

Atins

Desenho estilizado de um pescador e sua rede de pesca Gaivotas estilizadas

Sobradinho

Desenho estilizado de festejos populares de São Sebastião

Mandacaru

Desenho estilizado do farol Artesanato estilizado

Uma vez estruturado o roteiro, ele deve ser constantemente avaliado

quanto à capacidade de atender às exigências e às expectativas do turista, quanto

aos benefícios advindos para as comunidades, assim como os impactos positivos e

negativos. Para isso, a qualificação dos equipamentos utilizados para o transporte,

divulgação, artesanatos e livretos confeccionados pela comunidade, e serviços

prestados são fatores fundamentais para a qualidade dos serviços turísticos.

Para uma visão espacial da produção do roteiro segue abaixo um quadro

demonstrativo de demarcação geográfica baseada no percurso do Rio Preguiças

especificando cada comunidade ribeirinha inserida no roteiro.

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Quadro 33 - Demonstrativo de demarcação geográfica baseada no percurso do Rio Preguiças em

relação às Comunidades Ribeirinhas

Barreirinhas

Sobradinho

Santo Antônio

Cantinho

Tapuio

São Domingos

Mandacaru

Atins

Rio Preguiças

N

S

L O

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista todos os assuntos abordados pela pesquisa, a sociedade

emite e recepciona o turismo como atividade que disponibiliza oportunidades da

ascensão cultural. As cidades que detêm o patrimônio cultural viabilizam um aumento

do desenvolvimento turístico da região; então, essas cidades poderão promover

benefícios para a comunidade e para os turistas, utilizando ferramentas para

viabilização da promoção do Turismo Cultural.

Observa-se que, as comunidades que se encontravam em crise econômica

e que possuem um potencial turístico, recorrem ao turismo como uma das formas para

dinamizar a economia e ao mesmo tempo valorizar e preservar os recursos naturais

e culturais. Dessa forma, um estudo que procura analisar o uso das potencialidades

turísticas da cidade de Barreirinhas-MA, como um fator importante para o

desenvolvimento da cidade, parece ao mesmo tempo oportuno e relevante, visto que

as questões sobre os benefícios do turismo sobre as comunidades receptoras vêm

sendo alvo de constantes especulações por parte de especialistas na área de turismo.

Através das pesquisas bibliográficas realizadas, compreende-se que os

mitos e as lendas são transmitidos oralmente e que misturam fatos reais e históricos

com a imaginação popular. Com relação aos mitos e lendas estes fazem parte da

formação da identidade da cultura das comunidades ribeirinhas, e são vistos como

manifestações e expressões numa tentativa de explicar a realidade vivida pelo povo.

Nas comunidades pesquisadas, perceberam-se as constantes mudanças,

rupturas e continuidades, assim como, um constante processo de mudanças de

referenciais culturais, daí a importância da preservação do Patrimônio Cultural

Imaterial, que é essencial no processo do Turismo Cultural. Sendo assim, cada

comunidade (Cantinho, Santo Antônio, Sobradinho, São Domingos, Atins, Mandacaru

e Tapuio) possui um Patrimônio Cultural Imaterial marcado por suas características

ímpares, devendo ser então preservadas, protegidas e acessíveis dentro do processo

do turismo cultural, pois os mitos e as lendas sempre estarão presentes na vida

humana, sendo transpassadas de geração em geração.

A interpretação do patrimônio imaterial dos cidadãos é fundamental para o

perfeito entendimento e desfrute do visitante e ela deve ser estimulante e criativa.

Afinal, os visitantes querem descobrir a trama humana e social que perpassa pela

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história de um lugar, e não apenas nomes e datas. Tal interpretação pode ser feita de

diversas maneiras e pode envolver mídias e suportes diferenciados.

Propõe-se, mediante ao apresentado, neste trabalho, que seja realizado

um trabalho cooperativo entre Secretaria Municipal de Turismo e Cultura,

comunidade, órgãos públicos, empresas, Governo e instituições da sociedade para

que se criem projetos e viabilizem investimentos que garantam o sucesso do turismo

da cidade. Dessa forma, cabe aos gestores do turismo de Barreirinhas- MA, refletirem

sobre a possibilidade de transformar o potencial cultural e natural da cidade em

produtos turísticos autênticos e de qualidade, além de adotarem programas que levem

ao desenvolvimento sustentável do turismo regional, com eficiência, qualidade e

competitividade. Para tanto, é necessário que as iniciativas turísticas tenham bem

definido seu espaço geográfico, assim como seus objetivos determinados.

Desta forma, fruto da interação junto às comunidades na busca pela

identificação dos principais mitos e lendas que fazem parte da literatura oral dos

povoados ribeirinhos ao longo da extensão do Rio Preguiças em Barreirinhas-MA,

sugeriu-se a elaboração de um roteiro turístico cultural tendo como subsidio o

patrimônio cultural imaterial, representado pelas expressões orais vivas e

transpassadas de geração a geração através da cultura popular, possibilitando assim

uma valorização e preservação da identidade cultural e servindo como canal para a

transmissão dos mitos e lendas como produto sustentável para o turismo,

complementando sua oferta local. Nesta oportunidade, a comunidade é colocada

como agente principal do processo, participando de todas as etapas de formatação

do roteiro, percebendo assim seu papel nesta atividade econômica.

O município de Barreirinhas apresenta grande potencialidade para o

desenvolvimento do turismo cultural, que é um fenômeno que vem aliando

investimentos na preservação, no desenvolvimento e na promoção do Patrimônio

Cultural Imaterial e constitui uma eficaz estratégia para o desenvolvimento

sustentável.

Destarte, não se pode pensar em desenvolvimento do Turismo Cultural

sem aliarmos iniciativa privada, o Governo e a sociedade para a conservação,

divulgação e valorização da cultura popular, já que esses atores devem possuir esse

perfil participativo e atuante fazendo parte do processo de desenvolvimento desta

modalidade de turismo. Por esse motivo, pretende-se, através dessa temática,

futuramente, aprofundar mais o contexto pesquisado, para assim, divulgar os

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resultados propostos, nesta dissertação, e dar continuidade em um programa de

doutorado.

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APÊNDICE A – Entrevista Estruturada para a Comunidade

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC

Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria – PPGTH Curso de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria

Pesquisa: RESGATE HISTÓRICO CULTURAL DE MITOS E LENDAS DAS COMUNIDADES DO ENTORNO DO RIO PREGUIÇAS EM BARREIRINHAS – MA: um atributo turístico cultural dos Lençóis Maranhenses Mestranda: Fernanda Carvalho Brito Orientador: Dr. Luciano Torres Tricârico

ROTEIRO DE ENTREVISTA (COMUNIDADE)

1) Identificação

Nome:______________________________________________________________

Idade: ______________________________________________________________

Comunidade: ________________________________________________________

2) Qual o seu entendimento em relação a cultura popular?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3) Você tem conhecimento sobre os mitos que fazem parte do folclore de sua região?

E quais são?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

4) Você tem conhecimento sobre as lendas que fazem parte do folclore de sua região?

E quais são?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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148

5) Como você ficou sabendo da existência desses mitos?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

6) Como você ficou sabendo da existência dessas lendas?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

7) Você considera importante preservar e divulgar essa literatura oral? Por que?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

8) Na sua opinião seria interessante divulgar esse patrimônio imaterial – mitos/ lendas,

para os visitantes dessa região? Justifique.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

9) Conte a (s) lenda (s) que você conhece? ___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

10) Conte o (s) mito (s) que você conhece? ___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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11) Fale sobre o processo histórico de sua comunidade. ___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

12) Dê sugestões que incluam os mitos e as lendas no roteiro turístico de sua

comunidade.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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150

APÊNDICE B – Questionário de Pesquisa Aplicado aos Turistas

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC

Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria – PPGTH Curso de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria

Pesquisa: RESGATE HISTÓRICO CULTURAL DE MITOS E LENDAS DAS COMUNIDADES DO ENTORNO DO RIO PREGUIÇAS EM BARREIRINHAS – MA: um atributo turístico cultural dos Lençóis Maranhenses

Mestranda: Fernanda Carvalho Brito Orientador: Dr. Luciano Torres Tricârico

QUESTIONÁRIO (TURISTA)

1) Sexo

( ) Masculino ( ) Feminino

2) Faixa Etária

( ) 0 a 18 anos ( ) 19 a 40 anos

( ) 41 a 60 anos ( ) Acima de 60 anos

3) Grau de escolaridade

( ) Fundamental Incompleto ( ) Fundamental completo

( ) Médio Incompleto ( ) Médio completo

( ) Superior Incompleto ( ) Superior completo

4) Profissão:

( ) Estudante ( ) Funcionário Público

( ) Empresário ( ) Autônomo

( ) Outros___________________________________________________

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5) Cidade / Estado / País de Origem:

____________________________________________________________

6) Motivo da visita em Barreirinhas?

( ) Serviço ( ) Lazer

( ) Outros___________________________________________________

7) Ao visitar a cidade de Barreirinhas você teve interesse em conhecer a cultura

popular local, por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

8) Você considera importante conhecer o patrimônio cultural imaterial (mitos e lendas)

da região que vai visitar, por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

9) Você teve contato com a cultura local? Ficou sabendo sobre algum mito ou lendas

que fazem parte do folclore local? Quais?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

10) Caso tenha tido conhecimento da manifestação cultural oral. Pode dizer quem fez

a divulgação dos mitos e lendas?

( ) Foi o condutor de visitante ( ) Foi alguém da comunidade

12) Você teve interesse de conhecer outros roteiros turísticos, além dos Lençóis

Maranhenses, como por exemplo um roteiro que vislumbre a cultura popular? Você

pode dizer qual?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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13) Qual (quais) lenda (as) ou mito (os) que você teve conhecimento ao visitar

Barreirinhas?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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APÊNDICE C – Questionário de Pesquisa Aplicado aos Condutores de Visitantes

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC

Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria – PPGTH Curso de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria

Pesquisa: RESGATE HISTÓRICO CULTURAL DE MITOS E LENDAS DAS COMUNIDADES DO ENTORNO DO RIO PREGUIÇAS EM BARREIRINHAS – MA: um atributo turístico cultural dos Lençóis Maranhenses Mestranda: Fernanda Carvalho Brito Orientador: Dr. Luciano Torres Tricârico

ROTEIRO DE ENTREVISTA (CONDUTORES DE VISITANTE)

1) Sexo

( ) Masculino ( ) Feminino

2) Faixa Etária

( ) 0 a 18 anos ( ) 19 a 40 anos ( ) 41 a 59 anos

3) Grau de escolaridade

( ) Fundamental Incompleto ( ) Fundamental completo

( ) Médio Incompleto ( ) Médio completo

( ) Superior Incompleto ( ) Superior completo

4) A quanto tempo trabalham como condutor de visitante?

___________________________________________________________________

5) Naturalidade:

___________________________________________________________________

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6) Qual motivo lhe levou a ser condutor de visitante(Guia)?

( ) falta de opção de emprego

( ) gosto pela profissão

( ) remuneração

( ) outros

_______________________________________________________

7) Dos itens abaixo sobre a cultura de sua região marque as que você conhece:

( ) mitos

( ) lendas

( ) danças

( ) outros, Quais?_____________________

8) Você divulga este patrimônio cultural imaterial (Mitos e Lendas) aos visitantes,

mesmo sem o pedido de conhecimento por parte deles?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

9) Quais mitos e lendas você acha mais interessante divulgar aos turistas? Justifique

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

10) Você sabe da importância da divulgação e preservação da cultura popular para o

turismo? Justifique

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

11) Dentre os mitos e lendas que você conhece, quais os que você acredita?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

12) Dos mitos e lendas que você conhece, quem foi que lhe contou?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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APÊNDICE D – Termo de Compromisso

UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – COMUNICAÇÃO, TURISMO E

LAZER – CECIESA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSO EM TURISMO E

HOTELARIA – MESTRADO ACADÊMICO MINTER/UNINORTE

TERMO DE COMPROMISSO

Através deste, estamos convidando-(a) você para participar da pesquisa

“RESGATE HISTÓRICO CULTURAL DE MITOS E LENDAS DAS COMUNIDADES

DO ENTORNO DO RIO PREGUIÇAS EM BARREIRINHAS – MA: um atributo

turístico cultural dos Lençóis Maranhenses”, que tem como objetivo geral analisar os

benefícios turísticos culturais que os mitos e as lendas do entorno do Rio Preguiças

trazem para a sociedade de Barreirinhas-MA. Para contribuir como atendimentos de

nosso objetivo geral proposto foram elaborados alguns objetivos específicos, são eles:

a) Identificar os mitos e as lendas contadas pelas comunidades do entorno

do Rio Preguiças;

b) Definir quais mitos e lendas contribui para a preservação da memória e

da identidade cultural desta comunidade;

c) Produzir um acervo literário dos mitos e lendas locais;

d) Elaborar sugestões que incluam os mitos e as lendas no roteiro turístico

cultural de Barreirinhas-MA.

A justificativa para a realização dessa investigação apoia-se na premissa

de que, torna-se indispensável à identificação dos mitos e das lendas que fazem parte

do patrimônio cultural imaterial, que podem servir como divulgadores literários das

comunidades ribeirinhas, fazendo parte assim do Turismo Cultural de Barreirinhas –

MA.

Quanto a sua participação, sinta-se completamente livre para decidir

participar ou não, mas ressaltamos a importância de sua participação e contribuição

dessa investigação. Igualmente esclarecemos que seu anonimato será garantido;

isso, porque as informações serão sigilosas; a não-participação não acarretará

prejuízo algum a sua pessoa; as informações sobre os resultados ficarão a sua

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disposição, sendo que sua participação não acarretará quaisquer constrangimento,

dano, risco, ônus ou desconforto a sua pessoa. Os dados coletados serão utilizados

para fins de pesquisa acadêmica e divulgação do conhecimento sobre o tema

proposto. Caso concorde com termos propostos, solicitamos o preenchimento e sua

assinatura neste documento, conforme segue:

Eu, _______________________________________________________,

Portador documento de identidade nº _____________________________

declaro que, de forma livre e esclarecida, aceito participar do estudo “RESGATE

HISTÓRICO CULTURAL DE MITOS E LENDAS DAS COMUNIDADES DO

ENTORNO DO RIO PREGUIÇAS EM BARREIRINHAS – MA: um atributo turístico

cultural dos Lençóis Maranhenses” desenvolvido pela mestranda Fernanda Carvalho

Brito com o coordenação e orientação de Luciano Torres Tricárico, na modalidade de

Projeto de Pesquisa Científico, vinculada ao Programa de Pós-graduação Stricto

Senso em Turismo e Hotelaria – Mestrado Acadêmico MINTER/UNINORTE

ASSINATURA:

LOCAL e DATA:

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APÊNDICE E – Perfil dos Condutores de Turismo

PERFIL DOS ENTREVISTADOS – Condutores de Turismo

Dados dos condutores (NCA) (JLM) (MAL) (TMA) (JRM)

SEXO Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino FAIXA ETÁRIA 19 a 40 19 a 40 0 a 18 19 a 40 19 a 40

GRAU DE ESCOLARIDADE Médio Incompleto Médio Incompleto Médio Incompleto Médio Completo Médio Completo

TEMPO DE CONDUTOR Desde 2007 Desde 2009 Desde 2011 Desde 2011 Desde 2009

CIDADE/ESTADO/PAÍS DE

DESTINO

Barreirinhas-

Ma/BR

Barreirinhas-

Ma/BR

Barreirinhas-

Ma/BR

Barreirinhas-

Ma/BR

Barreirinhas-Ma/BR

PERFIL DOS ENTREVISTADOS – Condutores de Turismo

Dados dos condutores (LMS) (GAS) (JSA) (EFD) (HRC)

SEXO Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino FAIXA ETÁRIA 19 a 40 19 a 40 19 a 40 19 a 40 19 a 40

GRAU DE ESCOLARIDADE Médio Completo Médio Completo Médio Completo Médio Completo Médio Completo

TEMPO DE CONDUTOR Desde 2005 Desde 2013 Desde 2008 Desde 2005 Desde 2002

CIDADE/ESTADO/PAÍS DE

DESTINO

Barreirinhas-

Ma/BR

Barreirinhas-

Ma/BR

Kaiçara/BR Brasileiro Brasileiro

Condutores de Turismo I

DADOS DOS

CONDUTORES

(NCA) (JLM) (MAL) (TMA) (JRM)

MOTIVO DE SER

CONDUTOR

Gosto pela profissão Gosto pela profissão e

remuneração

Gosto pela

profissão, porque

gosto do que eu

faço

Gosto pela profissão Gosto pela profissão

CONHECIMENTO

SOBRE A

CULTURA DE

SUA REGIÃO

Danças Mitos e lendas Danças Lendas das serpentes Lendas- Lenda da serpente do Morro da

Ladeira

DIVULGAÇÃO

DO PATRIMÔNIO

CULTURA

IMATERIAL

Sim, mitos e lendas Às vezes sim Às vezes sobre o Rio Preguiças até mesmo do bicho preguiça

Não. Porque eles não perguntam sobre esse tipo de coisa.

Não, porque não sou

bom de contar

história

MITOS E

LENDAS MAIS

INTERESSANTES

Das danças culturais da

região

Primeiro sobre o morro

e sobre o rio, porque faz

parte da beleza da

nossa cidade

O da serpente do morro da ladeira, porque faz parte da história da cidade.

Nenhuma, porque não gosto de lendas.

IMPORTÂNCIA

DA

DIVULGAÇÃO E

PRESERVAÇÃO

DA CULTURA

POPULAR

Sim, mais divulgação

como dança, tambor de

crioula, etc.

Sim, principalmente

para mim. Porque

através desses mitos

viajamos um pouco e

entendemos algumas

coisas que antes eram

inexplicáveis.

Quanto mais

divulgado o turismo

de Barreirinhas,

melhor é as

atividades

culturais, serve

muito pra chamar

atenção do

visitante

Sim. Porque o turista já

sai da cidade com outra

visão do Maranhão

Não.

DOS MITOS E

LENDAS, QUAIS

ACREDITA

Lendas Conto porque é legal

passar a história para

frente pra ter conteúdo.

Mas não acredito nelas.

Para falar a verdade só uma

Nenhuma.

DOS MITOS E

LENDAS, QUEM

LHE CONTOU

Pessoas nativas e

moram no parque

Meu pai, minha mãe e

colegas de trabalho

também.

Aprendi nas escolas Vi na internet.

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158

Condutores de Turismo II

DADOS DOS

CONDUTORES

(LMS) (GAS) (JSA) (EFD) (HRC)

MOTIVO DE SER

CONDUTOR

Gosto pela profissão Gosto pela profissão Remuneração

Gosto pela profissão

Gosto pela profissão. E para contribuir na melhoria do bem estar dos turistas e melhoria do meio ambiente.

CONHECIMENTO

SOBRE A

CULTURA DE

SUA REGIÃO

Danças Lendas / Danças Mitos / Lendas Lendas/Danças

Mitos/Danças

DIVULGAÇÃO

DO PATRIMÔNIO

CULTURA

IMATERIAL

(80% sim e 20% não)

Geralmente quando eu

vejo interesse dos

visitantes.

Às vezes

Sim Mais ou menos.

MITOS E

LENDAS MAIS

INTERESSANTES

O menino encantado do

Rio Preguiças, A noiva

de Atins.

Gosto de falar da lenda do Batatão dos Lençóis Maranhenses e a Serpente que está debaixo da cidade. O Batatão é uma espécie de fogo que surge no meio dos Lençóis a noite e quando vão atrás do foto para ver de perto ele desaparece misteriosamente. A lenda da serpente fala que tem uma gigante serpente de baixo da cidade, onde sua cabeça está localizada na igreja da Matriz e sua calda está no povoado Santa Cruz. A serpente está em um profundo sono e quando ela despertar vai destruir toda a cidade.

Aqueles que falam sobre a cultura do barreirinhenses e moradores das áreas dos Lençóis.

Danças, quadrinhas, Bumba Boi. Os visitantes gostam de saber um pouco da cultura local.

Os pais eram pescadores e viviam disso, acontece que o mar não estava para peixe e os pais fizeram um acordo para conseguirem pegar muito peixe. O acordo era que eles lhes davam o filho em troca e foi isso que aconteceu. Para sempre eles perderam o seu único filho.

IMPORTÂNCIA

DA

DIVULGAÇÃO E

PRESERVAÇÃO

DA CULTURA

POPULAR

É importante para

enriquecer o atrativo

turístico, Marketing

positivo

É de muita importância para valorizar a história da cidade e cultura local.

Sim para ajudar as pessoas que vem conhecer nosso lugar a ter uma boa experiência.

Sim, para que eles possam saber da nossa cultura, divulgar para os próximos visitantes e não ficar esquecida.

Eu acho que é importante preservar, porque temos que ter alguma coisa para divulgar e passar para os visitantes que nos apreciam e garantir o bem estar da população local. Manter sempre o meio ambiente conservado e limpo.

DOS MITOS E

LENDAS, QUAIS

ACREDITA

A do Rio Preguiças Não acredito muito mas respeito e gosto muito dessas histórias.

Acho que possa haver algo mais com uma explicação mais racional.

Lenda do Açaí e da

Mandioca

Nenhum

DOS MITOS E

LENDAS, QUEM

LHE CONTOU

A do Rio Preguiças foi senhor Antônio Carlos

Meu avô conta muita

história. As histórias

que eu sei foi ele que

me contou.

Pais e avós.

Meu pai, Enéas Miranda.

Os mais velhos.

Meus pais e meus

avós

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159

APÊNDICE F – Perfil dos Turistas

PERFIL DOS ENTREVISTADOS – TURISTAS

Dados do

turista

(RC) (JD) (MDR

)

(BA) (FIM) (RNQ

)

(CAS

Q)

(TCF

)

(IS) (NSG

M)

(IKR) (JLFO

)

(AJG

M)

SEXO M M F M M F M F F F F M M

FAIXA

ETÁRIA

41 a

60

41 a

60

19 a

40

19 a 40 19 a

40

19 a

40

Acim

a de

60

19 a

40

Acima

de 60

41 a

60

19 a

40

Acima

de 60

41 a

60

GRAU DE

ESCOLARID

ADE

Supe

rior

Com

pleto

Supe

rior

Com

pleto

Superi

or

Incom

pleto

Superi

or

Incomp

leto

Superi

or

Incom

pleto

Supe

rior

Super

ior

Comp

leto

Sup

erior

Superi

or

Compl

eto

Supe

rior

Com

pleto

Supe

rior

Com

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Superi

or

Compl

eto

Superi

or

Compl

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PROFISSAO Profe

ssor

Estud

ante

Estuda

nte

Autôn

omo

Jorna

lista

Advo

gado

Prod

utor

de

even

tos

Funcio

nária

Públic

a

Apose

ntada

Médi

ca

Médi

ca

Apose

ntado

Funcio

nário

Públic

o

CIDADE/EST

ADO/PAÍS DE

DESTINO

Rio

de

Janei

ro-

RJ/B

R

Brasíl

ia -

DF

Bueno

s

Aires

Argen

tina

Barreiri

nhas-

Ma/BR

São

Luís-

MA/B

R

Brasíl

ia –

DF

Brasíl

ia -

DF

Bras

ília -

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Rio de

Janeir

o-

RJ/Bra

sil

Arac

aju-

SE/B

R

Porto

Segu

ro-

BA/B

R

Porto

Segur

o-

BA/BR

Rio de

Janeir

o-

RJ/BR

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APÊNDICE G – Lendas e Mitos das Comunidades Ribeirinhas

COMUNIDADE DE CANTINHO

MITOS: Mito da mãe d’água e cavalo do bicho(ALBERTINA) Tem muitas histórias da mãe d’água encantada, tem a história do cavalo do bicho bicoso, rapaz criado e estudou comigo, ele já era casado e veio da tratada e todo mundo disse pra ele não vir alto da noite e que o bicho bicoso é um lugar muito perigoso pra se ver visão, lá se via padre, via fogo no meio da água, via tanta coisa, ele dizia que não tinha medo. - rapaz lá o caipora tá lá te esperando e antes que o cavalo entrasse dentro d’água e o cavalo não quis entrar dentro do rio, ele lutou, bateu no cavalo com as esporas e o cavalo só deu dois pulos e saltou do riacho. E quando o cavalo estava lá em cima, viu o cavalo voltando fazendo força pra correr viu lá em cima que tinha um menino preto com um cachorro todo preto puxando o cavalo pelo rabo, quando ele viu o menino agarrado no rabo do cavalo, ele pegou e deu uma cipoada tão grande tanto no cachorro e no menino que deu um grito e ele gritou também com voz bem forte. – me larga diabo- quando ele fez assim o bicho desapareceu e o cavalo desabou feito um doido, quando ele chegou na porta da mãe dele e a mãe dele ainda tá viva e quando ele chegou com a suada do cavalo com eles e viu ele caindo do cavalo, ele caiu doente com muita febre e passou muito mal doente e a família dele teve que gastar muito dinheiro para que ele ficasse bom. Mito do menino levado pela Mãe d’água(ALBERTINA) O menino da lagoa ficou conhecido por toda a comunidade daqui. Diz que uma mulher estava gestante e gostava de pescar. Certo dia ela foi pescar e não tinha deixado nada em casa pra comer e o resultado, ela pediu pra mãe d’água se a mãe d´água desse bastante peixe pra ela, ela dava aquele menino que estava na barriga pra mãe d’água. E ela começou a pescar e toda vez que ela ia, trazia os vasilhames cheios de peixes e quando ela teve o menino, o menino era meio esquisito diferente dos outros, mas foi criado, e quando já estava meio grande, tinha mais o menos sete anos, ele foi no comercio que ficava noutro lado da lagoa na rua que eles moravam do lado e o comercio ficava do outro, um pouco distante. Ele pegou o dinheiro e foi comprar as coisas pra casa, quando ele volta à tardinha e quando chegou na beira da lagoa ele deixou o tamanco que era os calçados da gente nesse tempo de madeira e deixou o tamanquinho no chão com a sacola com as compras e a garrafinha com o querosene de lado e entrou na lagoa e ele não chegou nem no meio da lagoa, lá o rastro sumiu e muitos mora dores foram atrás dele e deu a noite e não encontraram nada e nem sangue e rastro de algum bicho que tenha comido o menino. O povo comenta que ele encantou e ele baixa nas pessoas no terreiro de candomblé e trabalham com essas arrumações de espírito e contam o porquê dele ter ido embora e foi contar que a mãe dele quando ele ainda estava no ventre tinha dado ele pra mãe d’água.

LENDAS: O menino encantado (ALBERTINA) Era uma moça que estava buchuda e o pai era conservador carrasco. Ela ficou buchuda e escondeu a gravidez até quando não pode mais e no dia que amanheceu louca de dor para dar luz ela foi lá pro fim do cercado na beira do rio ela pariu a criança e jogou na água e a criança afundou e ninguém até hoje sabe. Hoje tem muita gente que contam os curadores contam que o menino encantou e que o peixe encantado é o menino, mas eu não acredito, porque nesse tempo eu olhei esse peixe encantado e ela ainda não havia aparecido buchuda. Não é, é outra coisa, então eles dizem que ele desencantou em um peixe e só desencante no dia em que ele encontrar outra mulher buchuda escondida pra ninguém saber e ele agarrar ela e mamando peito dela, ai ele desencanta. Lenda do Baú de ouro (ALBERTINA) Foi assim, tem joias, porque tinham as moedas, mas eu logo vou começar pelo baú. O baú de ouro era onde dona Maria a branca guardava todas as suas peças que fazia pros seus adornos pra ir pra suas festas, então eles já estavam mandando fazer essas peças pra eles usarem sem transmitir para mandar pra lá todo ouro encontrado aqui. O ouro e pedra preciosas que eles encontravam, quando os portugueses firam que não estava indo a quantidade certa, eles achavam que estavam enganando eles vieram pra cá, pegaram de surpresa, mas como eles parecem que sentiram, sei lá, que vinham alguém fiscalizar o trabalho daqui, porque a alimentação deles vinha toda de lá, de Portugal. E o que acontece, eles pegaram uma parte do ouro entregaram pro negro da confiança, Chamado Mariano. Mariano pegou o ouro e encheu potes, tachos e um baú com todas as joias, contam os mais velhos,

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inclusive meu avô e minha avô contavam também, que ele escondeu na boca do igarapé amarrado no fundo do rio numa corrente muito forte o baú de ouro que era onde estavam as joias e os outros tachos foram escondidos numa parte do igarapé chamado Bilica, lá estava os tachos, e a toalha de ouro foi escondida no meio das dunas que nesse tempo não se sabe nem direito porque as dunas se movimentam muito e o alambique que era de ouro ele escondeu que hoje onde fica a ponte perto do Santo Antônio. Lenda da Cabeça de cavalo (ALBERTINA) Conta um das pessoas que morava aqui ela conta muito que quando ela ia pescar a noite lá no igarapé via muita visagem, navio, quando ela foi pescar com um garoto, quando ela jogou o anzol e ele ficava subindo e descendo, pra lá e pra cá e ela não pegava peixe e foi observar e vinha uma cabeça de cavalo andando pendurada na linha até a pontinha da vara, ela se espantou, desatou a canoa, agarrou o menino e vieram embora. Lenda do Peixe encantado (ALBERTINA) Tem também a história do peixe encantado, que era muito grande e que tem em nosso rio, aqui no Cantinho, que é o rio Preguiça. Esse peixe é visto por muitas pessoas, principalmente quando chega perto do inverno ele aparece. Eu pelo menos já vi duas vezes e não estava só. Estava eu e mais duas amigas, nos vimos esse peixe. Da primeira vez eu tinha assim, uns doze pra quinze anos, era uma turma muito grade banhando, homens, mulheres todo mundo pulando de uma árvores que tem lá, na beira da ribanceira, onde encostavam os navios negreiros. Lá tinha uma lamada de um pau muito bonito, que tinha umas flores chamada rabo de arara. A gente subia e pulava lá dentro d’água, entre o rabo de arara e o meio do rio tinha um lençol enorme de lodo aquilo parecia um lençol e era mito bonito, então nós estávamos tomando banho e pulando no vago entre os matos e o lodo quando ele subiu do outro lado do lodo. E já tinha umas dez pessoas do outro lado, do lado dele e quando a gente gritou, eles olharam pra trás, viram e meteram o braço nadando “correndo” pro outro lado do rio e saltaram se agarrando nas árvores e nós subimos também e ficamos olhando. Gritávamos, foi grito demais, as velhas começaram a chegar (as mães da gente) no porto e nós ficamos olhando. Elas olharam mas não viram mais, ele já tinha afundado. Ele é um peixe muito grande, muito bonito todo preto, preto, preto, que não mostra nem cabeça, nem rabo, nem abas, é só aquele negócio preto que nem uma canoa emborcada, mas ele é muito bonito tão preto que parece assim não sei nem comparar com que de tanto bonito. Eu já estava maior já moça, nós fomos pescar no porto de mamãe, bem na frente de nossa casa, subindo nos pés de mangue botava os anzóis por dentro das raízes do mangue pra pegar os peixes, quando nós vimos uma zuada no rio, pá, aquela zuada subindo a água e quando nós vimos era ele, o mesmo que nós vimos lá onde nós estávamos tomando banho e as três que viram no lado de lá, nós vimos daqui, ele existe de verdade no rio daqui. Aqui no rio a gente tem que ter muito cuidado, principalmente o turista quando chega tem que ter muito cuidado, o nosso rio é manso, mas se o peixe encantado aparecer toda vez, tem que morrer uma pessoa, essa é a lenda do peixe encantado. A gente tem muito cuidado e deve ter principalmente o visitante. Lenda do menino do Igarapé (BENEDITO) Lá no Bexigoso, que é onde os turistas passam, lá é um igarapé, e lá aparece um menino, às vezes quando você vai passando ele se mostras pra pessoas e a gente fica muito nervoso se você adormecer e dormir lá você não consegue, porque começa a jogar pedra, jogar areia. Lenda do cemitério (BENEDITO) Lá no cemitério, quando a gente atravessa a ponte a gente não consegui passar tarde da noite, porque tem medo da mulher que aparece lá arriba da ponte. Lenda da cabeça de cuia (BENEDITO) O cabeça de cuia, às vezes você está pescando, quando você dá fé, aparece o cabeça de cuia perto de você, você não consegue ficar e tem que ir embora, você fica com muito medo. Lenda da Mãe d’água (BENEDITO) A mãe d’água aparece pra você, uma pessoa tão bonita que às vezes vem na proa da canoa, no galho de um pau, no porto. Você tem que sair porque aquilo não é coisa da gente pegar, é um encantado, ai a gente tem que sair fora.

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Lenda da mulher do cemitério (BENEDITO) Temos a história de um cemitério do tempo da escravidão, dos negros que lá foi enterrado os primeiros padres daqui de Barreirinhas, do povoado, do tempo dos jesuítas. Ainda tem lá as catacumbas antigas, tem um pé de pau muito importante, pau-d’arco muito lindo que é patrimônio histórico que a gente vem conservando em nossa comunidade a muitos anos. Na travessia tinha um pau de palmeira, hoje não existe mais porque era muito antigo. Quando era mata aparecia lá uma mulher em pé que você não conseguia passar, então ai depois do pé de pau muita gente roçaram mais o mato e agora não viram mais não. Era uma mulher que aparecia.

COMUNIDADE DE SANTO ANTONIO

MITOS: Mito da mãe d’água (Lionete Lisboa Nascimento) Mito da mãe d’água que aparecia encima da ponte pra quem vai atravessar pra quem vai enterrar seus mortos no cemitério. No cemitério aparecia umas vozes chamando e as pessoas se assombrando, pela noite é difícil as pessoas passarem por lá, esse pedaço que aparecem essas lendas só passam lá as pessoas corajosas, medroso não passa fora de hora, porque é perigoso, porque ali aparece fantasma, coisas de outro mundo que é muito misterioso, as pessoas se assombram com o que aparece lá, é um lugar perigoso, eles falam que é lá que está o ouro enterrado que se deu a lenda e dos fantasmas dos que morreram atrás do ouro. Os antigos sabem muitas histórias. Cabeça de Cuia - José Raimundo (conhecido como José Raimundo do cantinho) No rio aparece a Cabeça de cuia, aqui no Igarapé do santo Antônio onde os escravos fizeram as primeiras moradias deles tinha também essa lenda tinha uma corrente quando os pescadores ia pescar, os ribeirinhos as correntes batiam no fundo d’água que assustava todo mundo. As correntes pareciam que estavam encima do chão se arrastando como uma corrente grossa. Minha avó me contava tudo isso porque ela nasceu e se criou aqui. Ela era descendente de escravo e eu estou com 58 anos e quando eu era garotinho e já ouvia algum tipo de coisa desse tipo por aqui. Então, a lenda do povoado aqui é meio misteriosa no Santo Antônio. Mito -José Raimundo (conhecido como José Raimundo do cantinho) Do rio do Axui aparecia o Gritador, mãe d’água, cabeça de cuia (lá no Bilica, no Porto dos negros escravos) Mito da mãe d’água na volta do lameirão a minha madrasta, mulher do papai, ela gosta muito de pescar. Ela era ribeirinha e gostava de pescar por fonte dos taboqueiros e quando o tambor batia na beira do rio, lá dentro do terereu menino chorava, o velho Zé Martins tirava pra fora, que era o papai.

LENDAS: Lenda da Ponte Na travessia para o outro lado onde a princesa morava (lugar da fazenda Santo Inácio) a ponte era de buriti, e existia visagens que empurravam as pessoas no rio, ninguém em hipótese poderia atravessar. - Lenda do homem de fé em Deus (Lionete Lisboa Nascimento) Tudo o que o homem fazia ele dizia: olhe tenha fé em Deus que ele é bom. Quem contou foi meu sogro, ele dizia que era a história do peixe. Um dia a mulher foi pescar e havia perdido a chave da casa e o homem muito bravo disse olha mulher você vai ter que dá conta dessas chaves. Ela disse como vou dar conta dessas chaves, porque eu deixei essas chaves aqui e elas desapareceram, caíram na água e eu não achei as chaves, caíram lá no rio. Aí o homem foi para a feira e comprou um peixe e trouxe pra casa pra mulher consertar e quando a mulher abriu o peixe viu as chaves dentro da barriga do peixe A mulher disse tá vendo homem, tenha fé em Deus, o homem que tem fé em Deus tem tudo. O Mistério da lenda do Riacho (Lionete Lisboa Nascimento) Foi outro senhor, o pai do Neto, ele contou essa história do mistério do riacho, que o homem ia pescar tinha aquele mistério que descarreirava ele lá do porto. E esse mistério era muito profundo era um negócio que aparecia na beira do riacho que justamente era a mesma que botava o pescador

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pra correr, era um mistério. Essa é uma lenda muito forte, bonita e assustadora. De onde diz que o ouro está enterrado lá, o baú de ouro. Lenda da mãe d’água (Lionete Lisboa Nascimento) Elas ficam na poupa da canoa, meu sobrinho um dia parou no Carnaubal, lá perto do riacho e uma subiu na moto dele, ele ficou paralisado, deu febre, ficou ruim, ruim, coisa bárbara de outro mundo e aconteceu com meu sobrinho. Lá tem muito fantasma, muita coisa assombrosa. Meu esposo já falecido me contou que tem um rio lá pertinho da entrada de onde era os casarões e um rapaz botou um barzinho ei ele foi pra lá nessa tarde, ele anoiteceu lá tomando, porque gostava de tomar uma cervejinha, quando deu dez horas da noite ele saiu de lá desse bar, lá pertinho da entrada desse cemitério. Quando deu dez da noite retornou pra casa e nunca voltou pegou um outro caminho, errou o caminho para o caminho que vai dar no povoado vizinho chamado Cedro, de lá desnorteou e justamente lá nesse barzinho é de frente onde as pessoas contam que lá no rio é morada de mães d’águas, diz que lá vê várias coisas estranhas, por de lá passou a noite toda andando e quatro horas da manhã ele sentou desnorteando sem saber onde estava, dizendo: oh meu Deus eu tô no caminho errado, ele não gastava dez minutos para ir para lá casa e passou a noite toda andando, e tentou ouvir o galo cantar pra ver pra onde ele poderia seguir para voltar para casa. Ai ele ouviu o galo cantar e seguiu a cantada do galo até chegar em casa. Ele foi sair lá perto do Tapuio tão longe. Olhe o tanto que ele andou e disse que não estava tão bêbado assim, mas alguma coisa aconteceu no caminho. Bem foi isso que ele me contou e isso muito assustado e angustiado porque alguma coisa tinha tomado ele no meio do caminho porque ele não saiu de lá bêbado pra vir embora pra casa e ficar desnorteado a noite toda sem saber o caminho de casa, isso não era normal. Do riacho (José Raimundo (conhecido como José Raimundo do cantinho) O Amadeu que faz parte da comunidade, estava pescando apareceu um fantasma e descarreirou ele de lá. Outro foi no Bexigoso, antes deles roçarem o mato lá, que era mata forte e alta, nessa época não tinha transporte de quadriciclo ou Toyota, tudo era cavalo ou jumentinho e toda vez que alguém passava lá a noite a partir de oito ou nove horas da noite tinha um cidadão que puxava no rabo do cavalo e assustava as pessoas. Era a maior confusão aqui jamais alguém passava só lá. Depois das dez se passasse tinha algo que puxava o rabo do cavalo que não ia, ele surrava o cavalo com a espora, isso ai minha avó me contava muito. Isso acontece na região que sai pra área dos lençóis. Então nós temos um mucado de histórias pra contar. Tem a história do cabeça branca pra quem sai pro Parque do Lençóis, ali aparecia um cabeça branca lá que também assustava agente, não é um povoado é uns 3Km daqui que vai pro povoado Cedro, que aparecia o cidadão que gritava, quem via dizia que tinha cabeça bem branquinha, era um anão com feitio de cabeça de homem com a cabeça toda branca. Tem gente que dizia que aparecia um cachorro muito grande e um lobisomem, dizem que o finado Horácio que virava lobisomem na frente das pessoas dia de sexta-feira. Lenda do Gritador- José Raimundo (conhecido como José Raimundo do cantinho) - lenda do gritador que assustava as pessoas no Carnaubal, porque não tinha antes essa passagem que tem hoje para ir para a Barreirinhas, que era o porto do banha, que ainda não existia. Nós andávamos é pelo Carnaubal e lá tinha esse cantador que aparecia depois das cinco horas da tarde e ninguém mais podia passar por lá, porque quando o gritador passava assombrava todo mundo de lá. Saindo da Vila São José de poeira tinha um outro gritador, que aparecia pra muitas pessoas e assombrava muito o povo naquela época. Isso quem me contava muito era minha avó. Eu que andava por aqui que era garotinho e que depois das cinco horas eu não fazia mais nenhum favor pra cá pra este lado daqui, com medo disso ai.

COMUNIDADE SOBRADINHO

MITOS: Mito (José de Ribamar Perira Dutra) Na beira do riacho tem ainda muito lugar que ainda não pode andar. Porque ainda hoje, existe muita coisa perigosa lá e não se deve andar por aquela beira de mato só, sempre deve andar na companhia de outra pessoa, que ainda existe muita coisa ainda, muito fantasma. Outro dia uma coisa me botou pra correr lá do riacho, uma vez eu fui tirar o curral que deixei lá outro dia, isso foi na sexta-feira e quando foi sábado, antes de eu ir pra igreja fui tirar o curral quando uma voz desceu de lá - ei espera

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ai que eu já vou. Você acredita que agarrei de lá, peguei meu calção e sai correndo até aqui em cima com o cara gritando- ui-cuió... ui-cuió... ui-cuió... Quando eu cheguei aqui em cima que eu olho, enxerguei uma pessoinha mas eu também não sei quem era. Foi o objeto que eu vi e me botou pra correr do riacho. Eu digo muita coisa ainda existe, que não se explica lá no riacho. Negócio de fantasma e outras coisas ainda existe, só que a gente não deve acreditar em certas coisas, deve acreditar mais no pai verdadeiro que a gente se livra de muita coisa. Mito da Criação do Rio (Cleonisse Martins de Sena Conceição) O Rio Preguiça era muito largo e que hoje está se tornando estreito por conta do assoreamento, mas a comunidade diz que é o monstro ou o peixe grande que vem mexer nas suas águas e pensam que é a canoa e na manhã as areias da margem do rio se movem e assim vai assoreando. Mito das benzedeiras (Raimundo Costa Silva) O mito que eu conheço é das benzedeiras que a mamãe sempre levava a gente pra se benzer. Ela levava por causa de mau olhado, quebrante, então essas são as coisas que os mais velhos acreditavam e dava certo nas histórias deles e os meninos ficavam curados por aquelas pessoas que benziam. Mito do Santo São Francisco (Raimundo Costa Silva) Tem o São Francisco que é nosso padroeiro da igreja Católica que as pessoas acreditam muito que é o São Francisco que é a nossa cultura forte de Sobradinho.

LENDAS: Lenda “A canoa que virava peixe” (Cleonisse Martins de Sena Conceição) Era uma vez, um peixe muito grande que habitava a região do Rio Preguiça, principalmente na comunidade de Sobradinho. As pessoas geralmente quando iam pescar a noite, quando havia muito peixe, porque hoje não há muito peixe assim em nosso rio, quando as pessoas iam pescar usavam a canoa para atravessar o rio e de repente quando eles iam atravessar o rio e quando estavam voltando não encontravam mais a canoa, viam no meio do rio alguma coisa muito grande e pensando que fosse a canoa que tivesse sido alagada, mergulhavam no rio para retira-la e de repente começava a se mover e as pessoas geralmente diziam, como uma canoa podia mover se não tinha ninguém mexendo com ela e não tinha maré para mover ela, algo tá errado. De repente a canoa afundava saia mais na frente, quando eles observavam canoa com cabeça, canoa com rabo quando iam perceber lá estava o peixe transformado em canoa e a canoa em peixe e isso ia até amanhecer o dia, quando eles percebiam que a noite a canoa se movia e se transformava em ser com vida e ser sem vida, ao amanhecer estava a canoa no mesmo local em que eles haviam deixado. Ai fica a questão é uma canoa ou é um peixe. O peixe se moveu ou é uma canoa parada. E fica a interrogação para as pessoas que queiram visitar Sobradinho a noite e fazer a sua pescaria. Muito cuidado porque uma canoa que vira peixe e peixe que vira canoa é só no Sobradinho. Lenda “Velha que arrastava a cadeira na escola” (Cleonisse Martins de Sena Conceição) Nome da escola Socorro Gonçalves, em homenagem a primeira professora da comunidade, ela morava no espaço mesmo da escola, onde trabalhava, antes que ela chegasse, as pessoas já falavam que havia uma velha e que a noite quando a escola estava fechada e toda no escuro começava o arrastar cadeiras de acordo como ela gostava tudo em filas. Diziam que as crianças quando saiam da escola e deixava as cadeiras bagunçadas a noite a velha ia arrastar as cadeiras e se você fosse lá ascendesse a lâmpada não ia encontrar nada e quando você desligava as lâmpadas e se afastasse de lá, começava o arrastar das cadeiras e assim surgiu na história do Sobradinho a história da “Velha que arrastava a cadeira na escola”. Lenda da Mãe d’água (Raimundo Costa Silva) A história do papai e da mamãe dizia sobre a mãe d’água que tem no rio. Eles sempre comentavam com a gente que era pequeno, pra gente não banhar depois de seis horas, porque depois de seis horas elas apareciam. Então essas são as histórias que eles contavam pra gente e que a gente respeitava e não ia. Lenda da Mãe d’água (José de Ribamar Perira Dutra) Mamãe contava e minha finada avó contava. Que as mães d’água viviam na beira do rio, mulheres de cabelo comprido, isso sempre as pessoas olhavam.

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COMUNIDADE DE SÃO DOMINGOS

MITOS: Mito da Mãe d’água (ADELINA) Mãe d’água, que minha mãe viu, era quase meia noite e não viram ninguém. Quando dona Etelvina e minha mãe começaram a escutar várias coisas caindo dentro da água e não havia ninguém, mas tinhas muita suada dentro da água e não havia nada e saíram correndo dizendo que era a mãe d’água. Mito dos fantasmas do rio (Teodoro Ferreira da Silva) Muita coisa pra ver e aqui e acolá vê muitos fantasmas daqueles que já morreram no rio.

LENDAS: Lenda da mãe d’água (ADELINA) Papai contava que quando eles iam para praia mais o pai dele, isso quando ele era rapazinho. Chegando pra lá da Mangaba começaram a escutar um tal de batida de caixas, que fazem em festejo e quando chegaram lá no estirão diziam que era a morada delas, das mães d’águas. Papai dizia Ave Maria, parecia que estavam batendo dentro da canoa. Ai podia encostar na margem e procurar que não achavam nunca, porque elas são mãe d’água e são encantadas. Uma vez eles viram quando estavam descendo e elas estavam encima das raízes dos mangues e quando estavam chegando perto caíram todas dentro d’água. Um monte de mulheres loiras, tão alvas. Lenda do menino preto (ADELINA) Onde faziam a caeira, dizia que via um menino pretinho só com uma perna, mas o povo dizia que via no povoado do bosque e quando vinha a partir das seis horas aparecia muita visagem pela estrada e coisas assustadoras, mas que ela não recomendava para ninguém passar por aquele caminho depois das seis da tarde, porque muita coisa ruim aparecia no meio do caminho. Lenda da cabeça de Cuia (MARIA DE NAZARÉ) Vinha com minha madrinha e minha mãe das Barreirinhas pra cá. Eu era da idade de onze anos, vinha na poupa da canoa, quando aquele negócio saiu perto da canoa com dente acesos pro nosso lado. Eu largo o remo e corro no rumo de minha mãe. Minha mãe disse: é o que menina? -Eu disse olhe o bicho ai e o bicho mergulhou e quando apareceu, estava lá na cabeça do mangue, no mato. Eu disse nós não vamos mais e minha madrinha disse vamos seguir em frente que esse bicho não vai nos seguir mais. Lenda do peixe encantado (MARIA DE NAZARÉ) Estávamos voltando da praia, quando vimos do lado de nossa canoa, se existia o peixe, então era aquele. Eu fiquei com medo da canoa emborcar, eles diziam que era um peixe encantado e a gente não sabia o que fazer, porque a gente não sabia se comia homem. Lenda da mãe d’água (TEODORO FERREIRA DA SILVA) Aparece muita visagem nesse rio. História antiga. Eu trabalhei dezesseis anos nesse rio e vivia pra lá e pra cá. Minha profissão era comprar peixe e trazer para Barreirinhas. Então, um dia cheguei da praia de madrugada e lembro como se fosse hoje, e quando descarregava a canoa lá no cais e levando o peixe pro rapaz, quando eu vi, que ali era a morada. Era nove horas do dia quando eu vinha remando e vi uma mãe d’água encima de uma canoa emborcada, comecei a remar muito rápido, mas não conseguiu me alcançar. Vi muita coisa pra se arrepiar nesse rio.

COMUNIDADE DE ATINS

MITOS: Mito do lobisomem (BENEDITA) Tem mito de lobisomem que eles ficam falando que aqui no povoado tem umas pessoas que ficam inventando ah fulano vira bicho! Quando passa alta noite que passar algo assim de movimento que os cachorros veem correm tudo e fica com aqueles monte de cachorro latindo, latindo, latindo e eles dizem foi fulano de tal que virou bicho e se tornou uma lenda. Que fica correndo ai de noite alguém,

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quem ouve já fica se assombrando, já fica com medo, passa até sem querer o sono nessa arrumação. Mito da cabeça grande (Ledalena Silva)

O mito que eu sei mais de lá é o tal de cabeça grande que diz que corre atrás das pessoas. Tudo já vem da história antiga que meu pai que contava era de um feto na figura de um homem e ele fazia medo para as pessoas. Ele corria atrás das pessoas e não tinha ninguém com coragem de encarar ele. Todos sempre corriam, não tinha um que encarasse ele, até que um dia meu pai disse: tem o período que esse fulano de tal vai aparecer lá naquele lugar, ai meu pai nunca foi.

LENDAS: Benedita de Jesus Santos Pereira: Lenda da casca grossa Essa lenda fala do homem alto, preto, imagem preta, os pescadores morrem de medo dele, pois se dormir lá praia, ele se serve dos pescadores. Lenda do Boi Ele fica no meio de uma croa só lavando a barriga, este boi é preto, aparece e some dentro d’água, some com tudo, ninguém vê. Lenda do “Joaquim José” Um pescador havia saído com seu Joaquim. E seu Joaquim disse pro pescador que iria virar um toco, o pescador não acreditou e quando olhou pra trás, o seu Joaquim tinha virado um toco. Depois o pescador começou a se engraçar pra uma moça, então seu Joaquim disse que ele ia ter a moça e logo depois a moça veio toda graciosa pra cima do pescador. Dizem que ele é cheio de encanto. Lenda do Lobisomem (Ledalena Silva)

A história do lobisomem é verdade mesmo, porque lá eu mesma já vi uma pessoa que já veio correndo se socorrer na minha casa. Correndo com medo do lobisomem. A gente só escutava o grito e quando a pessoa chegou gritando disse que tinha visto o negócio e que pegava ele e tudo. A gente foi pra lá, mas só que foi verdade mesmo ele desmaiou e tem aparecido pra muitos lá também.

COMUNIDADE DE MANDACARU

MITOS: Mito do ser assombroso que apossava do corpo dos pescadores (MARYLUCE OLIVEIRA SOUZA) A barraca mal assombrada essa eu tenho praticamente na ponta língua onde os alunos fizeram uma pesquisa que conversaram com pescadores e os pescadores passavam um tempo nessa beira da praia pescando e lá eles contam que viram, sentiram alguém que faziam determinadas coisas, que eu não posso citar aqui agora. Depois de alguns minutos que haviam deitado, um daqueles homens, começou a passar mal, fazia bramuras4, que deixou a todos os seus companheiros arrepiados. Quando chegou a noite um deles falava pro outro, que isso estava acontecendo, que para poder acreditar, um tinha que vivenciar a situação e isso foi que aconteceu, foi passando de pescador para pescador, até que falasse um para outro. Mito da mãe d’água (DAVI LIMA BARROSO) Que tem uma lagoa aqui próximo onde aparece a dona mãe d’agua. Muita gente já relata ter visto numa lagoa que tem dentro do povoado mesmo uma lagoa pequena, que já faleceu uma criança lá a décadas atrás. Muitos dizem que outros dizem que é mesmo a mãe d’água quem levou essa criança. Na verdade, uma evangélica duvidou dessa palavra, História, ela teve um sonho depois disso, com essa mãe d’água. Ela mora perto da lagoa e no sonho essa mãe d’água disse que estava esperando as filhas dela banhar no rio pra realmente provar que existia.

4Bramura significa bagunça, peraltice, traquinagem

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LENDAS: Lenda do Peixe (DAVI LIMA BARROSO) Sobre um peixe misterioso que tem no nosso rio que ninguém viu, mas todo mundo sabe que existe esse peixe. Quando ele aparece dizem que morre gente e quem presencia, que vê algum movimento dele, alguma suspeita dele, adoece e passa três a quatro dias de febre e na época em que ele aparece, morre gente toda vez. Lenda do lobisomem (DAVI LIMA BARROSO) Em Mandacaru conta que tem lobisomem, que em noites de quinta pra sexta feira 13 toda noite ele sai para caçar, mas não faz maldade. Nunca houve relatos com pessoa, ele sempre está comendo filhote de cachorro, bosta de galinha e assustando as pessoas. Há relatos de que tenha visto aqui na comunidade do Mandacaru o Faroleiro uma vez chegou a relatar ter visto uma mistura de gente com animal que da cintura pra baixo era quadrúpede e da cintura para cima era ser humano. Se há relatos, prova mesmo e como a gente sabe né, é lenda. Lenda dos três coqueiros (MARYLUCE OLIVEIRA SOUZA) Bom. A dos três coqueiros onde as pessoas passando pelos três coqueiros que ficam entre Bar da Hora e Mandacaru acabaram vendo coelhos, que na verdade quando se aproximavam dos coelhos eles entravam justamente entre os coqueiros desapareciam em buracos e labaredas de fogo como se tivesse alguma coisa pegando fogo e, de repente, as pessoas se aproximavam e desaparecia galinha com pintinhos, que também eram vistas por uma moradora que chegando perto da casa dela desmaiou. Então são provas mais ou menos assim que a gente tem para falar em relação aos casos do coqueiro que foram vivenciados por moradores daqui.

COMUNIDADE DE TAPUIO

MITOS: Mito dos encantados (Maria Anastácia Silva Silveira) Os encantado são as pessoas que batiam o tambor de minas e aparecia muita coisa encantada, mas nunca fui em tambor. Mito do lobisomem (Maria Anastácia Silva Silveira) Lobisomem que gritava de noite.

LENDAS: Lenda do Peixe Encantado (Maria Anastácia Silva Silveira) Meu marido contava muita história. Ele tinha uma sobrinha que vinha aqui só pra ele contar essas histórias. Tem uma que é a do peixe encantado. A gente não vê nem o fim, nem a cabeça dele, só o lombão dele, tipo uma canoa emborcada. Quando se vê, você fica com medo e assombrado. Eu tinha um irmão que não ia na Barreirinhas nem morto, porque uma vez ele quase morre assombrado de medo e assim, meu irmão contou essa história que ele vinha de Barreirinhas e quando ele vinha já perto daqui, ele disse que o peixe botou um lombão medonho bem pertinho dele, ai ele se assombrou e ficou com medo, assim ele só ia na Barreirinhas se fosse acompanhado. Lenda da Mãe d’água (Maria da Conceição Santos Lima) Aconteceu com Maria Lisboa, ela veio fazer farinha na beira do rio e na hora, ela pensou que era de madrugada e, já era doze e pouca. Ela já veio junto com seu filho. Eles estavam lá fazendo a farinha quando começou as mães d’águas a sair da água e corriam em volta da casa de forno e depo is caíam dentro d’água de novo. Ela disse - meu filho eu te peço a Deus não xinga. Ele ficou calado e elas brincaram até quando elas quiseram, depois que o galo cantou desapareceu tudo. Lenda do lobisomem (Maria Anastácia Silva Silveira) Antigamente nesse lugar não tinha esse tanto de casa, passava o lobisomem correndo que nem um couro velho, o cachorro dava arrancada, mas hoje não se ver mais. Mas antes aparecia cada gritador, gritando, se mal dizendo. Diziam que eram pessoas que morreram e não fizeram boa coisa e ficavam sofrendo, mas ninguém sabe se é verdade, ou se será arte do demônio mesmo. A lenda do menino encantado (Maria da Conceição Santos Lima) Quando eu me entendi, minha mãe me falou que o pai do menino encantado tinha dado ele para as mães d’água para que quando ele fosse pescar, pescasse bastante peixe. E ele pegava mesmo

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muito peixe. Quando chegou o tempo delas pegar o menino, ele foi convidado pra vir aqui no Tapuio, porque nesse tempo eles moravam nesse pial. O rapazinho chorou dizendo que não queria vir, porque ele vinha, mas não voltava, e o irmão achando que era preguiça, quis logo meter uma peia nele. Ele veio ai o pai dele comprou as coisas e deixou ele até lá perto da lagoa. Ele ficou escorado olhando, disse que a mãe d’água veio e levou ele nessa hora. A maré estava seca bem no meio da canela, o pessoal daqui desse lugar, meu pai, minha mãe, várias pessoas, correu tudinho pra lá, viraram essa lagoa toda, mas não acharam e foram embora. Passaram muitos anos veio uma pessoa de São Luís que baiava, são pessoas que baixa o espírito que baia. Dizem que baixou no rapaz e era esse Lili, que o pai dele tinha dado ele e que tinha sido encantado e pra ele desencantar só se a mãe dele fosse meia noite chamar por ele na boca das fulôs, gritando três vezes pra ele poder se desencantar, só que ela ia se assombrar. Isso, porque a barba dele estava muito grande, o cabelo muito grande e ela tinha que ir só, ela morreu mas não foi porque tinha medo e nunca foi. E quando ele encostava nessa pessoa que baiava, chamado Nelzico, nesse tempo ela (a mãe) gostava muito de tambor e ele incorporado abraçando e chorando. Tudo isso acontecia na hora dos tambor, ele disse que tá encantado na boca das fulôs e lá ele está. Lenda A menina que encantou (Maria da Conceição Santos Lima) Aqui teve um desfile, a filha de seu Valdemor foi passar o dia na casa de dona Geraldina e depois tomar banho meio dia e ficaram brincando de valeu, tinha dona Helena lavando roupa e quando sumiu uma e ela procurou por trás das canoas e não achou e nessa hora o cachorro da morena começou a latir e desceu e latiu, latiu mesmo nessa hora, ai pronto essa menina não apareceu mais e ela foi dizer depois para um rapaz paralítico que nem sabia que ela tinha morrido, que eles moravam na Mangaba, que ela tinha sido pegada e só não pegou a outra porque na hora o cachorro latiu na hora e dona Helena estava lá e viu quando o cachorro latiu ai ela só foi aparecer no outro dia morta. Esta foi uma outra lenda que aconteceu aqui dentro do Tapuio. Lenda do peixe encantado A do peixe que sempre aparecia, mas agora ele não está parecendo tanto, e quando ele aparecia morria sempre gente afogado. Aparece aqueles paus enfiados e as pessoas dizem que quando tem aqueles paus enfiados morria gente. Lenda da cabeça de cuia (Maria da Soledade Rocha Santos) Aparece quando a gente tá pescando, ele bota a cabeça pra fora e fica olhando pra gente, às vezes quer pegar e tem uma aparência de uma cobra que chamam de sucuruiu ou sucuri que é a cabeça de cuia que é um só. Lenda da Mãe d’água (Maria da Soledade Rocha Santos) A mãe d’água eu não gosto nem de falar, porque eu vi uma vez uma arrumação nesse porto do beco, duas pessoas nadando, isso era uma dez horas da noite nadando dum lado pro outro, tinha assim um beco fundo e lá tinha uma croa, que era ali o “Bar de seu Nonô” e, assim essas pessoas caiam lá e vinham pra cá e vinham conversando, mas não era cristão vivo não, só podiam ser elas, porque era tarde da noite. Eu nem me banhei e fiquei morrendo de medo. Lenda do peixe encantado (Maria da Conceição Santos Lima) Uma mulher teve um filho e não quis saber dele e pensou um jeito de se livrar do mesmo. Ela pegou e jogou ele dentro do rio. Aconteceu que ele se encantou e se transformou em um enorme peixe preto que sempre aparece no inverno.