Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE...

72
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS DEPARTAMENTO DE GEOFÍSICA MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica Rasa São Paulo 2010

Transcript of Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE...

Page 1: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS

DEPARTAMENTO DE GEOFÍSICA

MICHELLE DAVID WATANABE

Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de

Dados de Reflexão Sísmica Rasa

São Paulo

2010

Page 2: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

1

MICHELLE DAVID WATANABE

Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de

Dados de Reflexão Sísmica Rasa

Dissertação apresentada ao Instituto de

Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas

da Universidade de São Paulo para obtenção

do título de Mestre em Geofísica.

Área de Concentração: Sísmica Rasa

Orientadora: Profª. Drª. Liliana Alcazar Diogo

São Paulo

2010

Page 3: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

i

AGRADECIMENTOS

À Profª. Drª. Liliana Alcazar Diogo pela oportunidade, orientação e dedição

oferecida para o desenvolvimento e conclusão deste trabalho.

Ao meu esposo pela motivação constante, aos familiares e amigos pelo apoio

e credibilidade a mim confiada.

Page 4: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

ii

RESUMO

O principal propósito do trabalho foi o de melhorar a qualidade das etapas de

análise de velocidades e empilhamento de dados de reflexão sísmica rasa.

Investigou-se em particular situações em que as reflexões não são observadas

dentro da validade da aproximação hiperbólica das curvas de tempo de percurso, a

qual é empregada nos procedimentos convencionais de análise de velocidades.

Várias aproximações para a curva de tempo de percurso foram avaliadas e

escolheu-se como a mais apropriada à escala de investigação rasa, a aproximação

denominada de hipérbole deslocada, proposta originalmente por Malovichko (1978).

Os resultados obtidos para a análise de velocidade de dados sintéticos e reais

mostraram que mesmo existindo uma forte ambiguidade no ajuste da curva t(x), há

um relacionamento teórico do valor de S com os demais parâmetros do modelo que

deve ser satisfeito. A representação gráfica do vínculo entre o parâmetro S e os

valores de tempo normal (t0) e velocidade VRMS foi fundamental para a realização da

etapa de análise de velocidade.

Exemplificou-se com o uso de dados sintéticos que a anisotropia do meio

afeta os tempos de percurso de forma significativa na escala de sísmica rasa, sendo

necessário realizar outras investigações sobre as equações de tempo de percurso

mais apropriadas a meios anisotrópicos e estudar uma forma de adaptá-las ao

processo de análise de velocidades.

Visando evitar a degradação na qualidade dos dados devido ao estiramento

da correção NMO convencional, foi proposta a implementação de uma correção

NMO que seja constante ao longo da duração do pulso refletido. Para tal foram

adaptados programas de correção estática. O resultado da correção NMO

Page 5: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

iii

implementada reduziu distorções da forma do pulso e gerou um empilhamento com

maior amplitude e maior conteúdo de frequência.

Page 6: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

iv

ABSTRACT

The main intention of this work was to improve the quality of velocity analysis

and stack of shallow seismic reflection data. It was investigated in particular

situations where the reflections are not observed in the hyperbolic traveltime validity

used in conventional velocity analysis.

Some approaches for the traveltime had been evaluated and it was chosen as

most appropriate in shallow investigation, the approach of shifted hyperbola

considered originally by Malovichko (1978).

The results of velocity analysis for synthetic and real data showed that despite

of strong ambiguity in fitting traveltime equation, there is a theoretician relation

between the value S with the other parameters of the model. The graphical

representation was fundamental for the accomplishment of velocity analysis.

It was exemplified using synthetic data that anisotropy affects the traveltime in

consequential form. It is necessary to realize other investigations about more suitable

traveltime equations and to study a way of implementing the analysis velocity

process.

In order to avoid the degradation in the quality data due to stretching of

conventional NMO correction, it was proposed a NMO correction implementation

that be constant during the seismic pulse. Static correction procedure was adapted

for accomplishing the propose the NMO correction. The result of this new NMO

correction decreased the pulse distortions and improved the stacking.

Page 7: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

v

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxograma exemplificando uma seqüência básica do processamento de

reflexão sísmica, segundo a técnica CDP. ............................................................. 10

Figura 2 - Exemplo de análise de velocidade pelo método de (t2 - x2). .................. 13

Figura 3 - Duas formas de apresentação do espectro de velocidade derivado de

família CMP. ............................................................................................................ 15

Figura 4 - Sismograma CMP contendo um evento refletido com VNMO de 2264 m/s;

(b) Sismograma corrigido com VNMO apropriada; (c) Sobrecorreção causada pela

velocidade errada (mais baixa que o correto) (2000 m/s) e (d) Subcorreção causada

por VNMO mais alta que o correto (2500 m/s). ...................................................... 16

Figura 5 - Estiramento de um pulso pela correção NMO. ...................................... 17

Figura 6 - Esquema da técnica BMS. ..................................................................... 19

Figura 7 - Comparação entre correção convencional NMO (esquerda) e Nonstretch

NMO (direita). ......................................................................................................... 20

Figura 8 - Comparação entre diferentes equações de tempo de trânsito. ............. 22

Figura 9 - Sismograma sintético com ganho AGC. ................................................ 26

Figura 10 - Sismograma sintético com ganho AGC e função envelope. ................ 27

Figura 11 - Representação dos valores de S=1,0 (azul), S=1,5 (verde), S=2,0

(vermelho), S=2,5 (rosa), S=3,0 (amarelo) para velocidade de 1290 m/s. ............ 28

Figura 12 - Painel para análise de velocidades com valor de S variando de 1,0 à 3,5,

com velocidade inicial (linha azul) de 1200 m/s e passo de 100 m/s. .................... 30

Figura 13 - Gráfico de S-t0 para diferentes valores de velocidade VRMS. .............. 31

Figura 14 - Painel para análise de velocidades com valor de S variando de 1,5 à

2,75, com velocidade inicial (linha azul) de 1200 m/s e passo de 50 m/s. ............. 33

Page 8: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

vi

Figura 15 - À esquerda: sismograma sintético completo, à direita: sismograma

sintético referente aos traços 49 ao 66. ................................................................. 35

Figura 16 - Painel NMO para seção escolhida entre os traços 49 a 66. ................ 35

Figura 17 - Gráfico de S em função do tempo to, para diferentes valores de

velocidade. ............................................................................................................. 36

Figura 18 - Painel para análise de velocidades com valor de S variando de 1,120 à

1,125, com velocidade inicial (linha azul) de 900 m/s e passo de 100 m/s. ........... 38

Figura 19 - Painel NMO para CMP30. .................................................................... 39

Figura 20 - Painel NMO para CMP240. .................................................................. 40

Figura 21 - Gráfico de S em função do tempo to, para diferentes valores de

velocidade para CMP30. ........................................................................................ 41

Figura 22 - Gráfico de S em função do tempo to, para diferentes valores de

velocidade para CMP240. ...................................................................................... 41

Figura 23 - Painel para análise de velocidades CMP30 com valor de S variando de

1.58 à 1.63, com velocidade inicial (linha azul) de 1200 m/s e passo de 50 m/s. .. 43

Figura 24 - Painel para análise de velocidades CMP240 com valor de S variando de

1.40 à 1.45, com velocidade inicial (linha azul) de 1200 m/s e passo de 50 m/s. .. 44

Figura 25 - CMP30: original (traços 1 a 12) e corrigido de NMO (traços 13 a 24) com

a escala de tempo alterada para utilização do programa sustaticrrs, que requer que

os desvios de tempo (dtNMO) sejam números inteiros. ......................................... 46

Figura 26 - Comparação entre a correção de NMO convencional (esquerda, traços 1

a 12) e implementada com deslocamento constante (direita, traços 13 a 24) para o

CMP30. ................................................................................................................... 46

Figura 27 - À esquerda: empilhamento do CMP 30 após correção de NMO:

convencional (traço 1) e implementada (traço 2), à direita: respectivos espectros de

Page 9: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

vii

amplitude dos traços empilhados. .......................................................................... 47

Figura 29 - Seção empilhada obtida da correção de NMO convencional (esquerda,

traços 1 a 297) e implementada com deslocamento constante (direita, traços 298 a

502). ....................................................................................................................... 48

Page 10: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Valores de velocidade interpretados no painel (Figura 12), em função do

parâmetro S. ........................................................................................................... 29

Tabela 2 - Valores de velocidade interpretados no painel (Figura 14), em função do

parâmetro S. ........................................................................................................... 31

Tabela 3 - Análise dos CMP´s escolhidos. t0 a partir do painel NMO convencional;

Faixa de valores de S a partir do Gráfico (Figuras 21 e 22); VRMS do painel proposto

e Scalc, o valor teórico para os valores de t0 e VRMS citados nesta tabela.

.......................................................................................................................... 45

Page 11: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

1

SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................................. ii

ABSTRACT ............................................................................................................. iv

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ v

LISTA DE TABELAS ............................................................................................. viii

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3

CAPÍTULO 1 EQUAÇÕES DE TEMPO DE PERCURSO …................................. 6

CAPÍTULO 2 ANÁLISE DE VELOCIDADES E CORREÇÃO NMO ................... 10

2.1 Processamento Convencional de Dados Sísmicos ............................ 10

2.2 Métodos para Análise de Velocidade .................................................. 11

2.3 Correção NMO .................................................................................... 15

CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTO IMPLEMENTADO PARA ANÁLISE

DE VELOCIDADE E EMPILHAMENTO DE DADOS

SÍSMICOS .................................................................................. 21

3.1 Escolha da Equação de Tempo de Percurso ...................................... 21

3.2 Construção de Painel para Análise de Velocidades ........................... 22

3.3 Correção NMO Constante e Empilhamento ...................................... 24

CAPÍTULO 4 RESULTADOS .............................................................................. 25

4.1 Análise sobre Dados Sintéticos ........................................................... 25

4.1.1 Caso Isotrópico ...................................................................... 25

4.1.2 Caso Anisotrópico .................................................................. 34

4.2 Análise sobre Dados Reais .................................................................. 39

CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÔES ....................................... 49

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 51

Page 12: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

2

APÊNDICE A ANISOTROPIA ............................................................................ 55

Page 13: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

3

INTRODUÇÃO

Os métodos sísmicos utilizam a propagação de ondas elásticas, geradas

artificialmente em sub-superfície ou no mar, baseadas na variação das velocidades

de propagação dessas ondas em função das propriedades elásticas de solos e

rochas. Nas interfaces que separam meios com densidade e velocidade de

propagação das ondas diferentes, as ondas sísmicas sofrem os fenômenos de

refração e reflexão.

J. Clarence Karcher conduziu os primeiros experimentos de sísmica de

reflexão entre 1919 e 1921 e demonstrou o potencial do método geofísico para

exploração de óleo através do mapeamento de rochas. A primeira descoberta de

óleo atribuída à sísmica de reflexão ocorreu durante 1927 no campo Maud em

Oklahoma. (ALLRED et al, 2008). Foi em meados da década de 50, que ocorreram

os primeiros relatos da aplicação da sísmica de reflexão em escala de prospecção

rasa (PAKISER et al., 1954a, 1954b, 1956), mas somente a partir de 1980 que os

levantamentos de sísmica de reflexão rasa tiveram seu foco voltado para resolução

de problemas geológico-geotécnicos (HUNTER et al. (1984), KNAPP e STEEPLES

(1986a e 1986b), entre outros).

Os dados de reflexão sísmica rasa apresentam características distintas dos

dados sísmicos na escala de investigação de petróleo. Características essas que

podem afetar a funcionalidade das etapas do processamento sísmico convencional.

Com respeito às etapas de análise de velocidades e empilhamento destacam-

se, em geral, as seguintes particularidades na escala de investigação rasa: pequena

multiplicidade dos levantamentos CMP; forte interferência do groundroll em

afastamentos curtos; estreita janela de afastamento fonte-receptor para observação

Page 14: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

4

das reflexões livres da interferência de sinais coerentes e de mudanças da forma do

pulso devido à reflexão acima da distância crítica.

Todos os métodos de análise de velocidades fundamentam-se no ajuste da

equação de tempo de percurso às reflexões identificadas nos registros sísmicos. No

processamento sísmico convencional, é utilizada a aproximação hiperbólica (Dix,

1955) para as curvas de tempo de percurso das reflexões, a qual gera tempos

errôneos para grandes afastamentos fonte-receptor, em geral maiores do que a

profundidade do refletor, ou quando o meio apresenta anisotropia.

Diversos autores investigaram o efeito do afastamento nas equações de

tempo de percurso e aproximações que gerem tempos de percurso mais próximo

dos reais para afastamentos longos (Taner & Koheler, 1969; Malovichko, 1978, em

russo tomado de Castle (1994); De Bazelaire, 1988; Castle, 1994, Taner, 2005 e

Blias, 2007).

Os erros introduzidos pela anisotropia nas estimativas dos modelos

velocidade-profundidade obtidos do processamento convencional fez aumentar a

necessidade de obtenção de um modelo mais preciso, e a quantificação da

anisotropia tornou-se um assunto muito discutido na literatura (Banik, 1984;

Thomsen, 1986, Wright, 1987; entre outros). Os parâmetros de Thomsen

revolucionaram a quantificação da anisotropia na exploração sísmica. A partir de

uma tentativa de correlação da anisotropia observada nas velocidades de

propagação de onda com os coeficientes elásticos, conseguiu-se uma separação

entre os efeitos da anisotropia e o das “quantidades isotrópicas” (Tsvankin, 1996).

Procurou-se avaliar qual a influência da presença de anisotropia do meio no

processo de analise de velocidades baseado em equações desenvolvidas para

meios isotrópicos.

Page 15: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

5

Neste trabalho foram investigados procedimentos para a implementação das

etapas de análise de velocidades e correção de NMO, a partir da equação de tempo

denominada por hipérbole deslocada (Malovichko, 1978). A metodologia

desenvolvida permitiu aprimorar o resultado destas etapas, o que consequentemente

melhorou a qualidade do empilhamento dos dados de sísmica de reflexão rasa.

Esta dissertação é composta por cinco capítulos com a seguinte organização:

No primeiro capítulo são apresentadas algumas aproximações para as equações de

tempo de percurso das reflexões sísmicas. No segundo capítulo é descrito o

processamento sísmico convencional, da análise de velocidades ao empilhamento

dos dados sísmicos. No terceiro capítulo é apresentada de forma resumida a

metodologia proposta neste trabalho para a análise de velocidades, correção de

NMO e empilhamento. No capítulo quatro a metodologia implementada é avaliada

sobre dados sintéticos e reais. As conclusões dos resultados juntamente as

recomendações são encontradas no quinto capítulo.

Page 16: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

6

CAPÍTULO 1

EQUAÇÕES DE TEMPO DE PERCURSO

Todos os métodos de análise de velocidades, apresentados no capítulo 2,

fundamentam-se no ajuste da equação de tempo de percurso às reflexões

identificadas nos registros sísmicos. Várias aproximações têm sido propostas para a

curva de tempo de percurso com o intuito de descrever adequadamente como varia

o tempo de percurso do sinal refletido em função do afastamento fonte-receptor,

dado o modelo geológico em subsuperfície.

Dix (1955) deduziu a fórmula da equação de tempo tradicionalmente utilizada

para análise de velocidades, conhecida como aproximação hiperbólica e dada pela

fórmula:

2

220

RMSV

x+t=xt (1.1)

onde, t0 é o tempo duplo de trânsito da superfície ao refletor (tempo normal), x é a

distância da fonte ao receptor e RMSV é dada em função das velocidades dos meios,

pela fórmula,

i

iiRMS Δt

Δtv=V

2

(1.2)

sendo, iv as velocidades intervalares (velocidade média correspondente a um

determinado intervalo em profundidade ou entre dois tempos de reflexão normal) e

iΔt os intervalos de tempo normal em cada camada i .

A partir da equação (1.2) chega-se a equação (1.3) para o cálculo das

velocidades intervalares que, quando calculadas dessa forma, também são

Page 17: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

7

denominadas por velocidade de DIX.

12

211

222

tt

VtVt=vi

(1.3)

onde iv = velocidade intervalar, V1 = velocidade NMO no tempo t1 e V2 = velocidade

NMO no tempo t2. Note que as velocidades V1 e V2 são tratadas como sendo as

velocidades RMS, e os índices 1 e 2 referem-se, respectivamente, ao topo e à base

do intervalo i .

A aproximação hiperbólica (equação 1.1) é exata para apenas um refletor

plano em meios isotrópicos e homogêneos, e é válida somente para pequenos

afastamentos fonte-receptor (x) para a reflexão na base de um pacote de camadas.

Aproximações das curvas de tempo de percurso para afastamentos longos

Em geral, para afastamentos fonte-receptor maiores do que a profundidade do

refletor a equação hiperbólica gera tempos de trânsito errôneos. Para reduzir este

problema, torna-se importante investigar aproximações não hiperbólicas para

equacionar o sobretempo de reflexão.

Malovichko (1978), em russo tomado de Castle (1994); De Bazelaire (1988) e

Castle (1994) propuseram o uso da aproximação denominada de hipérbole

deslocada (shifted-hyperbola), dada pela equação:

2

2200 .1.11

RMSV

xS+t

S+t

S=t(x)

, (1.4)

onde o parâmetro de deslocamento S é definido como

22

4

μ

μ=S (1.5)

sendo,

Page 18: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

8

n

=kk

n

=k

jkk

j

t

Vt=μ

1

1 (1.6)

observa-se que: 2RMSV=μ2 .

Nota-se que o parâmetro S nesta aproximação é uma medida de quanto a

equação de tempo difere da forma hiperbólica, de forma a aproximar bem os valores

de tempo de trânsito provenientes do levantamento sísmico.

Taner et al. (2005) considerou a representação de t (x) na seguinte forma:

2

220 2

RMS ax+ν

x+t=t(x) (1.7)

onde a é definido como um fator de aceleração de acordo com a expressão,

a=S− 18t02 νRMS

(1.8)

Blias (2007) fez uma revisão sobre o desenvolvimento das aproximações de

tempo de percurso e propôs novas expressões, citadas a seguir:

- deduziu a equação de três termos,

2220

2

4

2

220 34t

1xS++νν

xS

ν

x+t=t(x)

RMSRMSRMS

(1.9)

- considerando um novo formato para a equação t(x), utilizando o conceito de

velocidade média e introduzindo um novo termo (g), sugerido por Al Chalabi (1973,

1974) como fator de heterogeneidade vertical, chegou a expressão:

)+(gνt

gx+

ν

x+t

=t(x)

Ave

2Ave

11 22

0

2

220

(1.10)

Page 19: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

9

onde, 12

2

Ave

RMS

ν

ν=g e

n

=k k

kn

=k k

k

n

=kk

Ave

ν

hH

=

ν

h

h=ν

11

1 , sendo H a profundidade do refletor.

- propôs um aprimoramento para a aproximação (1.10),

])x+(g+ν[tν

xg

)+(gνt

gx+

ν

x+t

=t(x)RMSRMS

Ave

2Ave

2220

2

42

220

2

220

121

11

(1.11)

- deduziu nova expressão baseada na forma 2cx+b

x+a=t(x)

2

,

2

20

2

220

4t1x

S+ν

x+t=t(x)

RMS

(1.12)

Page 20: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

10

CAPÍTULO 2

ANÁLISE DE VELOCIDADES E CORREÇÃO NMO

2.1 PROCESSAMENTO CONVENCIONAL DE DADOS SÍSMICOS

O processamento de dados sísmicos é uma metodologia realizada de diferentes

formas, uma vez que depende das escolhas de cada executor, da qualidade dos dados

sísmicos, dos algoritmos utilizados, do aparato computacional disponível, entre outros

fatores. Porém, o procedimento é, em geral, realizado de acordo com uma rotina

composta por uma seqüência básica de processamento, ilustrada na Figura 1.

Figura 1 - Fluxograma exemplificando uma seqüência básica do processamento de reflexão sísmica,

segundo a técnica CDP.

Page 21: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

11

O processo de empilhamento (penúltima etapa do fluxograma apresentado na

Figura 1) é uma ferramenta para realçar a qualidade das reflexões sísmicas e ao mesmo

tempo reduzir o nível de ruído. É um processo simples de adição de traços obtidos de

diferentes fontes e receptores. Primeiramente os traços devem ser selecionados em

famílias de mesmo CMP e ajustados (correção de NMO) para assegurar, tanto quanto

possível, que as reflexões em todos os traços (diferentes afastamentos fonte-receptor)

tenham o mesmo tempo de chegada. Assim, quando os traços são empilhados, os

pulsos das ondas refletidas são somados em fase produzindo um sinal mais forte, e o

ruído, que tende a ser diferente traço a traço, é reduzido pela interferência destrutiva

após a soma dos traços.

A qualidade do empilhamento depende da execução das etapas anteriores. Neste

trabalho pretende-se melhorar a qualidade do resultado das etapas de análise de

velocidades e correção de NMO, com atenção às particularidades dos dados sísmicos

na escala de investigação rasa.

2.2 Métodos para Análise de Velocidade

A análise de velocidade consiste em determinar a velocidade sísmica dos meios,

ou camadas, em que as ondas sísmicas passaram.

Green (1938) publicou um dos trabalhos pioneiros para a determinação da

velocidade a partir de dados de sísmica de reflexão. Este autor obteve o que hoje é

definida como velocidade média. Neste trabalho são feitas as primeiras sugestões sobre

o ponto comum em profundidade o que viria a ser chamada posteriormente de técnica

CDP, idealizada por William Harry Mayne, em 1962, na qual os pontos de subsuperficie

são registrados, redundantemente, com diferentes distâncias fonte-receptor.

No método sísmico, existem diferentes conceitos de velocidades:

Page 22: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

12

Velocidade Intervalar (Intervalar Velocity) (vi): velocidade média

correspondente a um determinado intervalo de distância em profundidade ou

entre dois tempos de reflexão normal;

Velocidade RMS (Root Mean Square Velocity) (VRMS): velocidade matematica-

mente definida pela equação 1.2;

Velocidade NMO (Normal MoveOut Velocity) (VNMO): velocidade que corrige o

aumento do tempo de reflexão (sobretempo normal) relacionado com a

distância fonte-receptor; é a velocidade que melhor horizontaliza uma reflexão

sísmica presente em uma família de traços CMP, quando aplicada a correção

NMO.

Velocidade de Empilhamento (Stacking Velocity) (Vs): A velocidade de

empilhamento equivale, aproximadamente, a velocidade que corrige o NMO

do traço com maior distância fonte-receptor. Para meios com velocidade

variável em função da profundidade, a velocidade de empilhamento é sempre

maior que a velocidade RMS que, por sua vez, é sempre maior que a

velocidade média.

Em teoria, a velocidade RMS é igual à velocidade NMO somente para superfícies

homogêneas com camadas horizontais, e quando determinada a partir de tempos

observados em afastamentos curtos. Entretanto, na prática, em muitos casos, como por

exemplo um meio com heterogeneidade vertical e considerando-se afastamentos

próximos à profundidade do refletor, a velocidade de NMO é aproximadamente a

velocidade RMS, e assim pode ser usada como uma estimativa razoável da velocidade

de RMS.

Há diferentes modos de determinar a velocidade. Todos os métodos

apresentados a seguir se baseiam na fórmula hiperbólica para os tempos de percurso:

análise (t2 - x2): é baseada no fato que, a expressão do sobretempo para os

Page 23: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

13

quadrados de t e de x, resulta num evento linear. Quando diferentes valores de x2

e t2 são plotados, a inclinação (1/v2) pode ser usada para determinar a

velocidade, uma vez que o inverso da raiz quadrada resulta na própria

velocidade. Requer o rastreamento das leituras dos tempos de chegada das

reflexões;

Figura 2- Exemplo de análise de velocidade pelo método de (t2 - x2).

(adaptado de Yilmaz, 1987)

Painel CVP (Constant Velocity Panel): a correção NMO é aplicada nas

famílias CMP com uma velocidade constante ao longo do tempo; constrói-se

um painel da correção de NMO realizada usando diferentes velocidades

constantes. O resultado das diferentes correções é comparado e a velocidade

que resulta no melhor aplainamento das hipérboles é a velocidade certa para

o refletor, marcando o tempo de ocorrência de cada reflexão;

Painel CVS (Constant Velocity Stack Panel): similar ao método CVP. Os

dados são corrigidos de NMO, empilhados e indicados como um painel para

cada velocidade de empilhamento diferente, sendo este procedimento

realizado para um conjunto de famílias CMP, de modo a compor um trecho da

seção empilhada. A análise do painel significa interpretar qual velocidade

Page 24: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

14

proporcionou o melhor empilhamento para cada evento refletido, marcando o

tempo de cada evento na seção empilhada.

Espectro de Velocidade (ou análise Semblance): é uma medida da qualidade

do empilhamento efetuado sobre a curva de tempo de percurso calculada

para diferentes pares de valores de tempo normal e VRMS. Os resultados são

representados no plano de velocidade versus tempo normal, como iso-

amplitudes. A medida Semblance é definida pela expressão:

t

M

=it(i)i,

tt

f

s

M=S

1

2

2

.1 (2.1)

M

=it(i)i,t f=s

1 (2.2)

onde: o índice t dos somatórios são os tempos normais; St representa o resultado do

empillhamento ao longo da curva de tempo t(i); t(i) é dado pela equação da hipérbole,

onde o argumento i representa o número do traço associado ao afastamento (x da

equação 1.1); fi,t(i) é o valor da amplitude no i-ésimo traço no tempo t(i)e o índice

M representa o número de traços da família CPM.

Dois tipos de exibição (Figura 3) podem ser usados para identificar o par tempo

normal - velocidade (t0,VS): plotagem tipo mosaico (gated raw plot), e plotagem tipo

curvas de contorno (contour plot), onde os máximos correspondem às velocidades de

empilhamento, as quais serão utilizadas posteriormente para se efetuar a correção

NMO.

Page 25: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

15

Figura 3 - Duas formas de apresentação do espectro de velocidade derivado de família CMP (a): mosaico

(b) e curvas de contorno (c). (Yilmaz, 1987)

2.3 Correção NMO

Correção NMO (normal moveout) é o deslocamento aplicado aos registros de

reflexão sísmica de modo a anular o efeito da distância fonte-receptor, ou seja, é a

correção do sobretempo normal (∆tNMO = t(x) - t0). Em outras palavras, é a correção do

tempo adicional que uma reflexão sísmica registrada com o receptor afastado (x) da

fonte apresenta, quando comparado com o tempo que esta mesma reflexão teria se a

fonte e o receptor estivessem no mesmo ponto (x=0).

A correção do sobretempo normal na prática busca três objetivos: alinhar os

eventos refletidos observados nos sismogramas CMP; proporcionar um sinal empilhado

que seja uma boa aproximação do tempo de afastamento zero e permitir uma estimativa

da velocidade de subsuperfície (Castle, 1994).

Correção NMO convencional

A correção de NMO convencional baseia-se na equação de tempo hiperbólica

(equação 1.1). Para obter o aplainamento das reflexões (horizontalização da hipérbole),

a velocidade (VRMS ou VNMO) deve ter um valor correto. Quando a velocidade é mais

Page 26: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

16

baixa que a correta, a reflexão é sobrecorrigida e curva-se para cima; quando a

velocidade é mais alta que a correta, a reflexão é subcorrigida e curva-se para baixo

(Figura 4).

Figura 4 - Sismograma CMP contendo um evento refletido com VNMO de 2264 m/s; (b) Sismograma

corrigido com VNMO apropriada; (c) Sobrecorreção causada pela velocidade mais baixa que o correto (2000

m/s) e (d) Subcorreção causada por VNMO mais alta que o correto (2500 m/s). (adaptado de Yilmaz, 1987)

A correção de NMO convencional, por ser baseada na equação de tempo

hiperbólica, é válida somente para pequenos afastamentos, menores do que a

profundidade do refletor. Para afastamentos maiores, o ajuste da hipérbole para a

correção de NMO, gera uma velocidade VNMO maior do que VRMS.

Para uma estimativa correta das velocidades torna-se importante incluir

equações não hiperbólicas ao sobretempo de reflexão. No capítulo I foram apresentadas

diversas equações propostas por diferentes pesquisadores, com o objetivo de melhorar

a precisão, particularmente para afastamentos maiores que a profundidade do refletor

alvo.

A correção NMO convencional depende do afastamento fonte-receptor (x), da

velocidade (VRMS ou VNMO) e do próprio valor de tempo t(x) lido no sismograma,

Page 27: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

17

2

22

0)()(

NMONMO v

xxtxt=txtdt (2.3)

Por isso, essa correção é chamada de dinâmica pelo fato da quantidade de

correção de um mesmo pulso variar com o tempo dentro da duração do pulso.

Estiramento do pulso

Um problema da aplicação da correção dinâmica é o estiramento do pulso

sísmico. Buchholtz (1972) foi o primeiro a mostrar que a aplicação convencional da

correção de NMO nas reflexões CMP gera um estiramento que aumenta com o

afastamento e diminui com o tempo normal. Este autor discutiu de forma qualitativa as

distorções causadas no sinal sísmico resultantes da aplicação da correção NMO. Dunkin

e Levin (1973) descreveram uma expressão quantitativa do estiramento de NMO. A

Figura 5 representa graficamente o que acontece com o pulso sísmico quando este sofre

distorções no traço corrigido de NMO.

Figura 5 - Estiramento de um pulso pela correção NMO. (modificado de Dunkin e Levin, 1973)

Quanto o estiramento do pulso for significativo, o pulso todo deve ser silenciado

para impedir a degradação das amplitudes empilhadas. Em geral, na implementação da

Page 28: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

18

correção NMO nos pacotes de processamento, o silenciamento do pulso é efetuado

quando o tamanho do pulso aumenta mais do que 50% do tamanho original.

O silenciamento (muting) é uma técnica aplicada aos dados de reflexão sísmica

que consiste na supressão, total ou parcial, das informações contidas em um traço.

O efeito do estiramento é maior para refletores mais rasos, porque em geral

possuem velocidades mais baixas, ou seja, quanto menor a velocidade maior é o

estiramento. E para uma dada reflexão, o estiramento é tanto maior quanto maior for o

afastamento. Sendo assim, é comum observar uma redução da multiplicidade do

processo de empilhamento nos eventos rasos, devido a necessidade de silenciar os

pulsos com grande estiramento.

Procedimentos Alternativos para a Correção NMO

Para evitar ou ao menos minimizar o efeito do estiramento, procedimentos

alternativos para a correção de NMO vêm sendo investigados.

Rupert e Chun (1975) sugeriram uma técnica para a correção de NMO,

denominada como Block-Move-Sum (BMS). Este princípio assume que o pulso refletido

em qualquer ângulo de incidência terá a mesma forma e duração do pulso refletido com

incidência normal, e será atrasado no registro sísmico por uma constante de tempo igual

ao NMO associado com o começo do evento. O procedimento BMS é ilustrado na Figura

6. O traço de menor afastamento (x0(t)) é dividido em blocos de dados sobrepostos de

duração BL, isto é, AB e CD. Cada bloco assume uma largura suficiente para conter

uma reflexão sísmica completa. O bloco AB é projetado para o traço de afastamento Xi(t)

ao longo da hipérbole AA´. O bloco equivalente A´B´, também de comprimento BL, é

corrigido por uma constante e se transforma em A´´B´´ no traço corrigido. O bloco CD e

outros blocos são movidos de maneira similar (linha pontilhada). Em suma, os blocos

(faixas de tempo associadas à duração do pulso refletido) são corrigidos do mesmo

Page 29: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

19

valor de sobretempo, eliminando deste modo o estiramento do traço e reduzindo sua

distorção.

Figura 6 - Esquema da técnica BMS. (Rupert e Chun, 1975)

Outra implementação da correção NMO, é o procedimento batizado de

Nonstretch NMO por Perroud e Tygel (2004). A proposta deste procedimento é ajustar

uma hipérbole a cada amostra do pulso refletido de modo a manter o paralelismo, tanto

quanto possível, das curvas de tempo de trânsito em um intervalo de tempo que englobe

todo o pulso sísmico que deve ser corrigido de NMO (Figura 7). Os autores citados

acima propuseram variar a velocidade na equação da hipérbole para o cálculo da

correção de NMO de cada valor de tempo (to+) durante a duração do pulso sísmico,

)()2()( 2

22

v

h+t=ht o , (2.4)

sendo h a metade do afastamento e a velocidade v() dada pela relação,

2/1

0

2τ1)(

tt(h)

+v=τv NMO (2.5)

Esse procedimento faz com que as curvas de tempo fiquem aproximadamente

Page 30: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

20

paralelas (Figura 7, a direita). Desta forma, a correção de NMO pode ser aplicada com

os programas convencionais dos pacotes de processamento, basta alterar a curva de

velocidade-tempo fornecida ao programa que aplica a correção NMO.

Figura 7 - Comparação entre o sobretempo da correção NMO convencional (esquerda) e da correção

Nonstretch NMO (direita). (adaptado de Perroud e Tygel, 2004)

Page 31: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

21

CAPÍTULO 3

PROCEDIMENTO IMPLEMENTADO PARA ANÁLISE DE VELOCIDADES E

EMPILHAMENTO DE DADOS SÍSMICOS

3.1 Escolha da Equação de Tempo de Percurso

O primeiro passo para a elaboração de um procedimento de análise de

velocidades apropriado aos dados sísmicos na escala de investigação rasa foi a

escolha da curva de tempo de percurso mais adequada.

Para um modelo geológico na escala de investigação rasa, foi realizado um

teste com as principais fórmulas descritas na literatura. A Figura 8 apresenta as

curvas de tempo de percurso das equações citadas no Capitulo 1, para serem

comparadas com a curva exata obtida por meio do método do traçado de raio.

Determinou-se então que para o modelo geológico utilizado representativo de

ambiente na escala de investigação rasa, sendo o mesmo modelo descrito no

Capítulo 4, a equação mais apropriada foi a da hipérbole deslocada (curva verde) a

qual praticamente coincide com a curva exata (curva vermelha) até o afastamento de

96 m, o qual equivale a uma razão afastamento-profundidade maior do que 3.

Page 32: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

22

Figura 8 - Comparação entre diferentes equações de tempo de trânsito.

3.2 Construção do Painel para Análise de Velocidades

A motivação para a elaboração do painel proposto foi viabilizar a realização da

análise de velocidades com base em uma equação que além do tempo normal

possui duas incógnitas; e constituir um procedimento simples e uma ferramenta útil

para aprimorar a qualidade da etapa de análise de velocidades.

Como o procedimento convencional fornece uma boa estimativa do tempo

normal (t0), o problema está na determinação da velocidade. Propôs-se inicialmente

obter o tempo normal com algum dos procedimentos convencionais baseados na

equação da hipérbole.

Utilizando o valor de t0 previamente determinado, o procedimento idealizado

Page 33: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

23

foi plotar diversas curvas de tempo de percurso (equação 1.4) sobre os

sismogramas, variando os valores de S e de VRMS sistematicamente. A interpretação

é realizada visualmente identificando qual curva se ajusta aos pulsos do evento de

reflexão observado no sismograma.

O painel implementado é composto por seis seções gráficas sendo que cada

seção apresenta um valor de S fixo com 10 curvas correspondendo aos tempos de

percurso sobre os dados. A primeira seção é feita a partir do valor inicial dado para S

juntamente com o valor inicial dado a velocidade com as adições de seu passo

totalizando assim as 10 curvas de tempo representando a variação dos valores de

velocidade (VRMS). As seções subsequentes são resultados do incremento atribuído

ao parâmetro S mantendo, porém o esquema descrito para a plotagem das

velocidades. Foi convencionado que a primeira curva é definida como sendo a

primeira curva ascendente, tendo o azul como sua cor padrão.

A representação do painel foi efetuada com o pacote de processamento

sísmico SU-Seismic Unix (Cohen & Stockell, 2010), através de recursos da

linguagem shell-script. Apenas o cálculo dos tempos de percurso (equação 1.4)

precisou ser programado independente do pacote SU.

Para auxiliar na interpretação do painel e reduzir a ambiguidade, entre os

valores de S e VRMS, verificou-se que há uma relação de vínculo entre esses valores,

dada pelas equações (1.5) e (1.6). Propôs então, a representação gráfica dos

valores de S em função de t0 e VRMS. Como são 3 parâmetros, optou-se por gerar

uma curva de S em função de t0 para cada valor fixo de VRMS. Esse gráfico auxilia a

escolha dos intervalos de S e de VRMS para a construção e a interpretação do painel,

conforme será discutido no Capítulo 4, onde são descritos os resultados obtidos com

esta metodologia.

Page 34: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

24

3.3 Correção NMO Constante e Empilhamento

Para evitar a distorção do estiramento da correção de NMO convencional,

implementou-se um procedimento similar ao Block Move Sum (Rupert & Chun,

1975), onde a correção de NMO é aplicada através de deslocamentos constantes ao

longo do traço, como uma correção estática. Esta correção foi chamada de correção

NMO constante.

Para o desenvolvimento da correção de NMO constante utilizou-se o

programa do pacote SU- Seismic Unix (Cohen & Stockell, 2010) que efetua correção

estática (sustaticrrs). A geometria de aquisição dos dados foi extraída do cabeçalho

dos registros CMP. Os valores de sobretempo (dtNMO) foram calculados utilizando-se

a equação da hipérbole deslocada e fornecidos para o programa sustaticrrs a fim de

realizar a correção de NMO.

Page 35: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

25

CAPÍTULO 4

RESULTADOS

4.1 Análise sobre Dados Sintéticos

O sismograma sintético é uma representação gráfica de um registro sísmico

gerado numericamente a partir de uma suposta situação geológica e sobre um

hipotético arranjo de geofones.

Para a geração do sismograma sintético para modelos elásticos, utilizou-se o

pacote de programas SEIS88 desenvolvido por Cerveny e Pšenčík (1988), o qual

considera a propagação de raios em meios multicamadas elásticos e isotrópicos,

separados por interfaces curvas. Para modelos com anisotropia, utilizou-se o pacote

de programas ANRAY95 desenvolvido por Gajewski e Pšenčík (1995).

4.1.1 Caso Isotrópico

Parâmetros do Modelo

O modelo utilizado para a criação dos dados sintéticos foi baseado na

geologia local da área localizada no campus da Universidade de São Paulo (em

frente ao Instituto de Física), na região oeste da cidade de São Paulo.

Trata-se de sedimentos terciários da Bacia Sedimentar de São Paulo

compostos, predominantemente, de intercalações de areia e argila, os quais se

assentam sobre embasamento granito-gnaisse pré-cambriano.

No presente trabalho utilizou-se o modelo geológico definido em Diogo et al.

(2004), com 2 camadas horizontais, sendo as espessuras das camadas h1=4,5 m e

h2=26,1 m e com velocidades V1=357 m/s e V2=1727 m/s. A distância crítica de

Page 36: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

26

reflexão no topo do embasamento adotado para o modelo foi de 24,3 m.

Os dados foram gerados para 96 receptores, com afastamento mínimo de 1m

e intervalo entre os traços de 1m. A freqüência dominante utilizada para a geração

do sinal foi de 100 Hz. Posteriormente, foi adicionado ruído aleatório aos dados para

que o sismograma não apresentasse zeros.

Metodologia Aplicada

O primeiro passo foi fazer a comparação do sismograma sintético gerado com

o sismograma obtido para o envelope do sinal. Em ambos foi aplicado ganho AGC

(Automatic Gain Control), sendo assim melhor visualizados.

Figura 9 - Sismograma sintético com ganho AGC.

Page 37: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

27

Figura 10 - Sismograma sintético com ganho AGC e função envelope.

A partir desta comparação, nota-se que o sismograma apresentado na Erro!

Fonte de referência não encontrada.10 mostra mais claramente o pulso refletido,

uma vez que não apresenta a defasagem devido à reflexão acima do ângulo crítico

de incidência. Assim, para a análise de velocidades utilizou-se do atributo da função

envelope.

Para ilustrar como a curva de tempo de percurso varia em função do

parâmetro S, na Figura 11 são representadas diversas curvas do parâmetro de S em

função da velocidade e do tempo t0, em seus valores corretos para o modelo

considerado. Dados VRMS=1290 m/s e t0=0,5568 s, construiu-se seis curvas com S

variando entre 1 e 3. Nota-se que para os valores utilizados, a curva que melhor se

adaptou ao sinal foi a de cor vermelha, a qual representa o valor de S=2 para a

velocidade correta do modelo sintético analisado.

Page 38: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

28

Figura 11 - Representação dos valores de S=1,0 (azul), S=1,5 (verde), S=2,0 (vermelho),

S=2,5 (rosa), S=3,0 (amarelo) para velocidade de 1290 m/s.

Como a faixa de variação, ou seja, o intervalo de busca do parâmetro S

aparentemente é menor do que o intervalo de busca da velocidade VRMS, optou-se

por construir o painel fixando um valor de S e calculando as curvas de tempo para os

valores de VRMS (Figura 12).

Com a construção desse painel para análise de velocidades foi possível

visualizar o comportamento das curvas de tempo para a variação da velocidade em

relação ao parâmetro S. Para cada valor de S, foi possível determinar um valor de

VRMS mais adequado. A Figura 12, mostra o painel com os valores de S variando

entre 1 e 3,5, com passo de 0,5 e as velocidades entre 1200 m/s a 2100 m/s, com

passo de 100 m/s. Foi convencionado que a curva de tempo para a primeira

velocidade será a de cor azul, corespondendo a primeira curva na direção

ascendente.

Na tabela a seguir, são citados os resultados da interpretação da escolha da

velocidade em função do parâmetro S .

Page 39: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

29

Tabela 1 - Valores de velocidade interpretados no painel (Figura 12), em função do parâmetro S

S VRMS (m/s)

1,0 1400

1,5 1300

2,0 1300

2,5 1200

3,0 1200

3,5 1200

Existe, portanto, uma forte ambiguidade entre S e VRMS para o modelo

trabalhado.

Analisando-se agora as curvas do parâmetro S em função de to e VRMS

(Figura 14) proposto como um vínculo para o processo de análise de velocidades.

Para estes cálculos foram fixados os valores corretos da primeira camada (V1=357

m/s, t01=0,02521 e h1=4,5 m). Observa-se que para o valor de t0=0,5568 s,

determinado previamente, os valores de S encontram-se na faixa de 1.65 a 1.75, no

range de velocidades analisados.

Com isso o painel de velocidades foi refeito diminuindo-se o incremento de S

para verificar sua relação com a velocidade (Figura 14). Agora, tem-se que a seção

gráfica inicial parte de S=1,5 com passo de 0,1 e V=1200 m/s com passo de 50 m/s.

Na Tabela 2 estão os novos resultados da interpretação da escolha da velocidade

em função do parâmetro S.

Page 40: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

30

Figura 12 - Painel para análise de velocidades com valor de S variando de 1,0 à 3,5, com velocidade inicial (linha azul) de 1200 m/s e passo de 100 m/s.

Page 41: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

31

Figura 13 – Gráfico de S-t0 para diferentes valores de velocidade VRMS.

Tabela 2 - Valores de velocidade interpretados no painel (Figura 14), em função do parâmetro S

S VRMS (m/s)

1,5 1350

1,6 1350

1,7 1300

1,8 1300

1,9 1250

2,0 1250

Nota-se que a ambigüidade observada na interpretação do painel proposto é

resolvida, quando confrontada com o vínculo proposto. O único valor que satisfaz as

duas interpretações é o valor de 1300 m/s para um S igual a 1,707, lido na Figura

13. Para valores de S maiores, a informação do gráfico (Figura 13) indica

Page 42: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

32

velocidades maiores em oposição à interpretação do painel (Figura 14 e Tabela 2).

Observa-se ainda, que o resultado obtido apresenta excelente precisão, uma vez

que o valor de S calculado para o modelo proposto foi 1,705, para uma valor de

VRMS=1290 m/s como sendo o correto.

Page 43: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

33

Figura 14 - Painel para análise de velocidades com valor de S variando de 1,5 à 2,0, com velocidade inicial (linha azul) com valor de 1200 m/s

e passo de 50 m/s.

Page 44: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

34

4.1.2 Caso Anisotrópico

Parâmetros do Modelo

Para avaliar o efeito do meio apresentar anisotropia (ver APÊNDICE A) no

processo de análise de velocidades, procurou-se na literatura informações sobre

modelos geológicos com anisotropia VTI na escala de investigação rasa. Definiu-se

um novo modelo para teste, utilizando como base os valores citados no artigo de

Thomsen (1986), para a área de Wills Point, cujas condições foram as que mais se

aproximaram do tipo de alvo de interesse, com profundidade sendo z=58,3 m. Trata-

se de um folhelho, com velocidades na direção vertical de VP=1058 m/s e VS=387

m/s, densidade igual a 1,800 g/cm3 sendo os parâmetros de Thomsen dados por:

ε=0,215, δ=0,315 e γ=0,280.

Para gerar o sismograma sintético com o pacote de programas ANRAY, foi

necessário calcular os coeficientes elásticos da matriz Cijkl, a partir dos parâmetros

de Thomsen, uma vez que essas constantes são os parâmetros de entrada do

programa.

Metodologia Aplicada

Para este estudo, ao invés de trabalhar com o conjunto inteiro dos dados do

levantamento, decidiu-se por fazer o estudo dos traços 49 ao 66, para evitar

interferência dos eventos coerentes (groundroll e reflexões mais rasas) nos

afastamentos curtos e antes das mudanças de fase do pulso sísmico, como ilustrado

na Figura 15.

Page 45: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

35

Figura 15 - À esquerda: sismograma sintético completo, à direita: sismograma sintético referente aos

traços 49 ao 66.

O processamento dos dados foi iniciado com a interpretação do painel de

NMO convencional para a determinação do valor de t0 (Figura 16), obtendo-se

0,1245 s (para a velocidade de 1200 m/s).

Figura 16 - Painel NMO para seção escolhida entre os traços 49 a 66.

Page 46: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

36

O gráfico de S em função do tempo t0 e VRMS foi construído para definir o

intervalo dos valores mais apropriados para a construção do painel seguindo o

mesmo procedimento proposto para os dados sísmicos isotrópicos.

Admitindo o valor t0 encontrado no painel NMO convencional, e de acordo

com o intervalo inferido para a escolha dos valores de entrada a partir do gráfico da

Figura 17, foi feito o painel para análise de velocidades proposto (Figura 18), com os

valores de S variando no intervalo de 1,120 a 1,125. Nota-se que neste caso a

variação de S foi atribuída a terceira casa decimal.

Figura 17 - Gráfico de S em função do tempo to, para diferentes valores de velocidade.

Analisando o painel (Figura 18), vê-se que a variação do valor de velocidade

que ajusta a curva de tempo de percurso aos dados é sutil quando verificada em

cada seção gráfica de S. Praticamente a mesma velocidade para todos os valores

Page 47: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

37

de S avaliados, sendo a curva que melhor acompanha a forma do pulso a

caracterizada pela curva amarela, correspondente ao valor de 1200 m/s, o que é

está de acordo com a informação do gráfico de S (t0,VRMS) para um valor de

S=1,225. Observa-se que neste caso a metodologia proposta não melhorou o

resultado obtido da análise realizada pelo painel de NMO convencional (Figura 16).

O modelo intervalar calculado a partir desta velocidade corresponde à

segunda camada com velocidade de 1331,6 m/s e 66 m de espessura (70,5 m de

profundidade) enquanto a profundidade do modelo utilizado para gerar os dados era

58,3 m. Verificou-se, portanto, que a anisotropia do meio de fato não pode ser

desconsiderada em dados na escala de investigação rasa.

Page 48: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

Figura 18 - Painel para análise de velocidades com valor de S variando de 1,120 à 1,125, com velocidade inicial (linha azul) de 900 m/s e passo de 100 m/s.

Page 49: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

39

4.2 Análise sobre Dados Reais

A metodologia proposta foi aplicada a um conjunto de dados reais

anteriormente adquiridos segundo técnica CMP não convencional (DIOGO et al.,

2004). Os afastamentos do conjunto de dados adquiridos estão entre 50 a 84 m. O

intervalo entre geofones foi de 1 m, acarretando em um intervalo de 2 m nos

sismogramas CMP.

Metodologia Aplicada

O processamento dos dados reais iniciou-se pela determinação dos valores

de t0 a partir do painel NMO para diversos CMP´s, exemplificados nas Figuras 19 e

20.

Figura 19 - Painel NMO para CMP30.

Page 50: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

40

Figura 20 - Painel NMO para CMP240.

O gráfico S-t0 (Figuras 21 e 22) apresenta diversas curvas, uma para cada

valor de velocidades, para o parâmetro S em função do valor de t0. O range de

velocidade pode ser escolhido a critério do interpretador de acordo com a

necessidade do mesmo. Para a análise dos dados reais, o gráfico foi elaborado para

o range de velocidade de 1200 m/s a 1700 m/s, sendo que cada curva colorida

representa uma velocidade.

Page 51: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

41

Figura 21 - Gráfico de S em função do tempo to, para diferentes valores de velocidade para CMP30.

Figura 22 - Gráfico de S em função do tempo to, para diferentes valores de velocidade para CMP240.

Page 52: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

42

Na Tabela 3 são apresentados os dados referentes à interpretação dos CMP´s

analisados. Para o valor de t0 extraído do painel NMO convencional, verificou-se no

gráfico de S(t0,VRMS), Figuras 21 e 22, a faixa de prováveis valores de S, definido em

função das velocidades escolhidas. Utilizando as informações adquiridas a partir

desse gráfico, foi construído o painel proposto para a análise de velocidades, desta

vez reduzindo o intervalo dos valores de S para aqueles encontrados a partir do

gráfico mencionado.

Tomou-se como exemplo os CMP´s mostrados anteriormente na análise do

painel NMO: CMP 30 (Figura 23) e CMP 240 (Figura 24). A partir do valor de VRMS

interpretado do painel, calculou-se o valor teórico de S para posterior comprovação

da interpretação nos gráficos de S (t0,VRMS) (Figuras 21 e 22).

De acordo com o painel do CMP30, identificamos que a curva se melhor se

ajusta é correspondente à velocidade de 1250 m/s com S=1.58. Para o CMP240,

interpretaram-se como ideais a velocidade de 1400 m/s e S=1.42. O erro atribuído

às interpretações ficou em torno de 0.1 para o valor de S e de inferior a 50 m/s para

as velocidades encontradas.

Pela Tabela 3 é possível notar que os valores de t0 são diferentes para cada

CMP escolhido e vão progressivamente aumentando de acordo com o avanço da

execução do levantamento. O uso do gráfico de S (t0,VRMS) foi fundamental para

orientar a escolha do intervalo de valores de S para a construção do painel, e

repetindo o que já foi mencionado anteriormente, só é possível comprovar a

velocidade interpretada no painel com a interpretação conjunta do painel e do

vínculo imposto, representado por esse gráfico.

Page 53: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

43

Figura 23 - Painel para análise de velocidades CMP30 com valor de S variando de 1.58 à 1.63, com velocidade inicial (linha azul) de 1200 m/s

e passo de 50 m/s.

Page 54: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

44

Figura 24 - Painel para análise de velocidades CMP240 com valor de S variando de 1.40 à 1.45, com velocidade inicial (linha azul) de 1200 m/s

e passo de 50 m/s.

Page 55: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

45

Tabela 3 - Análise dos CMP´s escolhidos. t0 a partir do painel NMO convencional; Faixa de valores de

S a partir do Gráfico (Figuras 21 e 22); VRMS do painel proposto e Scalc, o valor teórico para os

valores de t0 e VRMS citados nesta tabela.

CMP t0 (s) S (gráfico S-to) VRMS SCALC

10 0,0645 1,58-1,64 1300 1,60 20 0,0640 1,63-1,70 1250 1,61 30 0,6560 1,58-1,65 1250 1,58 40 0,0654 1,57-1,63 1250 1,59 50 0,0660 1,56-1,63 1300 1,58 60 0,0667 1,55-1,62 1350 1,58 70 0,0667 1,55-1,61 1300 1,57 80 0,0668 1,55-1,61 1300 1,57 90 0,0687 1,55-1,61 1300 1,55

100 0,0687 1,52-1,58 1300 1,55 110 0,0710 1,50-1,55 1350 1,53 120 0,0731 1,47-1,52 1400 1,51 130 0,0735 1,46-1,51 1400 1,50 140 0,0736 1,47-1,52 1400 1,50 150 0,0741 1,47-1,52 1400 1,50 160 0,0749 1,46-1,51 1400 1,49 170 0,0780 1,42-1,47 1400 1,45 180 0,0810 1,40-1,44 1400 1,43 190 0,0810 1,40-1,45 1400 1,44 200 0,0853 1,37-1,41 1450 1,41 210 0,0853 1,37-1,41 1450 1,41 220 0,0824 1,39-1,44 1450 1,43 230 0,0830 1,38-1,43 1450 1,42 240 0,0820 1,40-1,44 1400 1,42

Os valores de VRMS da Tabela 3 foram sempre entre 50 a 100 m/s menores do

que os previamente encontrados pela correção de NMO convencional, e são mais

condizentes com os valores esperados para a área (DIOGO et al., 2004)

A correção de NMO constante, como descrito no Capítulo 3, é ilustrada para o

CMP30. Também para o CMP30 são comparados o resultado da correção de NMO

convencional e o seu empilhamento com os resultados da correção de NMO

implementada, Figuras 25 e 26, respectivamente.

Page 56: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

46

Figura 25 - CMP30: original (traços 1 a 12) e corrigido de NMO (traços 13 a 24) com a escala de

tempo alterada para utilização do programa sustaticrrs, que requer que os desvios de tempo (dtNMO)

sejam números inteiros.

Figura 26 - Comparação entre a correção de NMO convencional (esquerda, traços 1 a 12) e

implementada com deslocamento constante (direita, traços 13 a 24) para o CMP30.

Page 57: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

47

Na Erro! Fonte de referência não encontrada.27 é apresentado o

empilhamento do CMP 30 e seus respectivos espectros de amplitude, obtida com a

correção de NMO convencional e implementada.

Figura 27 - À esquerda: empilhamento do CMP 30 após correção de NMO: convencional (traço 1) e

implementada (traço 2), à direita: respectivos espectros de amplitude dos traços empilhados

Na comparação entre os empilhamentos, nota-se que aquele feito a partir da

correção de NMO implementada apresenta uma melhora na forma do pulso,

tornando este mais definido e com ganho de amplitude do sinal, o que pode ser

verificado no espectro de amplitude apresentado à direita da figura.

O processo foi então adaptado para ser aplicado em toda linha. A seção

empilhada pode ser vista na Erro! Fonte de referência não encontrada.28, a qual

foi dividida de maneira a mostrar a comparação da seção empilhada com correção

Page 58: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

48

NMO normal (traços de 1 a 297) e com correção NMO implementada (296 a 502).

Figura 28 - Seção empilhada obtida da correção de NMO convencional (esquerda, traços 1 a 297) e

implementada com deslocamento constante (direita, traços 298 a 502).

Page 59: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

49

CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Os resultados obtidos para a análise de velocidade dos dados sintéticos

mostraram que mesmo existindo ambigüidade no ajuste da curva t(x), há um

relacionamento teórico do valor de S com os parâmetros do modelo que deve ser

satisfeito. A construção do gráfico de S em função de t0 e VRMS foi de grande valia

para a minimização do erro no valor de S e na velocidade quando analisados tanto

os dados sintéticos quanto os dados reais.

No processo de análise de velocidade para os dados sintéticos isotrópicos

viu-se que a interpretação do painel integrado ao vínculo estabelecido pelo gráfico

de S (t0,VRMS) retornou valores de S e VRMS com excelente precisão. Já para a

análise de velocidade dos dados sintéticos anisotrópicos, concluiu-se que a

anisotropia do meio afeta os tempos de percurso de forma significativa na escala de

investigação rasa.

Nos dados reais a análise de velocidades proposta forneceu valores de VRMS

mais condizentes com o esperado para área, conforme relatado em DIOGO et al.

(2004). A implementação da nova correção NMO, uma adaptação do conceito do

método BMS (Block Move Sum), reduziu as distorções observadas na forma do

pulso, melhorando portando o empilhamento (aumentou a amplitude e a freqüência

dominante do pulso sísmico).

Como recomendações futuras ao trabalho sugerem-se melhorias na

representação gráfica dos painéis visando maior facilidade de observação nas

curvas de tempo de percurso junto ao sismograma, como por exemplo,

Page 60: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

50

representando ao lado do painel um gráfico com a escala de cores dos valores de

velocidade. No processo de análise de velocidades em meio anisotrópico é

necessário realizar outras investigações sobre as equações de tempo de percurso e

estudar uma forma de adaptá-las ao processo de análise de velocidades.

Page 61: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

51

BIBLIOGRAFIA

ACHENBACH, J. D. Wave propagation in elastic solids. North-Holland Series, v.16, Amsterdam: North-Holland, 1975. 425p.

AL CHALABI, M. Series approximation in velocity and traveltime computations. Geophysical Prospecting, v.21, n. 04, p. 783-795, 1973.

AL CHALABI, M. An analysis of stacking, RMS, average and interval velocities over a horizontally layered ground. Geophysical Prospecting, v. 22, n.03, p. 458-475, 1974.

ALKHALIFAH, T., and TSVANKIN I. Velocity analysis for transversely isotropic media. Geophysics, v. 60, n. 05, p. 1550-1566, 1995.

ALLRED, B. J.; DANIELS, J. J.; EHSANI M. R. Handbook of Agricultural Geophysics. CRC Press, 2008, p.03.

BACKUS, G. E. Long-wave elastic anisotropy produced by horizontal layering. Journal of Geophysical Research, v.67, n.11, p.4427-4440, 1962.

BANIK, N. C. Velocity anisotropy of shales and depth estimation in the North Sea basin. Geophysics, v.49, n.09, p.1411-1419, 1984.

BLIAS, E.; Long-spreadlength approximations to NMO function for a multi-layered subsurface. CSEG Recorder, p. 36-42, March 2007.

BUCHHOLTZ H. A note on signal distortion due to dynamic (NMO) correction. Geophysical Prospecting, v.20, p.395-402, 1972.

BYUN, B. S.; CORRIGAN D.; GAISER J. E. Anisotropic velocity analysis for lithology discrimination. Geophysics, v.54, n.12, p.1564-1574, 1989.

BYUN, B. S.; CORRIGAN D. Seismic traveltime inversion for transverse isotropy. Geophysics, v.55, n.02, p.192-200, 1990.

CASTLE, R. J. A theory of normal moveout. Geophysics, v.59, n.06, p.983-999, 1994.

CERVENÝ, V.; PŠENČĺK, I. SEIS88. Ray tracing program package. Prague: Charles University, 1988.

CHOU, P. C.; PAGANO, N. J. Elasticity: Tensor, dyadic and engineering approaches. Princeton: Van Nostrand, 1967. 209p.

COHEN, J.K., STOCKWELL, J.W. CWP/SU: Seismic Unix Release 33: A Free

Page 62: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

52

Package for Seismic Research and Processing. Center for Wave Phenomena. Colorado School of Mines, Colorado. 2000.

CRAMPIN, S. Evaluation of anisotropy by shear wave splitting. Geophysics, v.50, n.01, p.142-152, 1985.

DE BAZELAIRE, E. Normal moveout revisited: Inhomogeneous media and curved interfaces. Geophysics, v.53, n.02, p.143-157, 1988.

DE BAZELAIRE, E. Normal moveout revisited in focus. Geophysical Prospecting, v.42, p.447-499, 1994.

DIOGO, L. A.; LE DIAGON, F. M. M.; PRADO, R. L. Bedrock imaging using post-critical shallow seismic reflection data. Journal of Applied Geophysics, v.57, p.1-9, 2004.

DIX, C. H. Seismic velocities from surface measurements. Geophysics, v.20, n.01, p.68-86, 1955.

DUNKIN J. W.; LEVIN F. K. Effect of normal moveout on a seismic pulse. Geophysics, v.38, n.04, p.635-642, 1973.

ELDUES, O. M. Modelagem Sísmica em Meios Complexos. Tese de Mestrado, Rio de Janeiro: UFRJ, 2003.

GAJEWSKI, D.; PŠENČĺK, I. Program Package ANRAY95, version 3.01, 1995.

GRECHKA, V.; TSVANKIN I. 3-D description of normal move out in anisotropic media. 66th SOCIETY OF EXPLORATION GEOPHYSICISTS ANNUAL MEETING, Expanded Abstract, p.1487-1490. 1996.

GREEN, C. H. Velocity determinations by means of reflection profiles. Geophysics, v.03, n.04, p. 295-305, 1938.

HAKE, H.; HELBIG K.; MESDAG, C. S. Three-term Taylor series for t2- x2 curves over layered transversely isotropic ground. Geophysical Prospecting, v.32, p.828-850, 1984.

HELBIG, K. Seismic anisotropy: Handbook of geophysical exploration, unpublished manuscript. 1994.

HÜHNEL, T. The influence of structure on seismic parameter estimation in anisotropic media. Tese de Doutorado, Edinburgh – University of Edinburgh, 1998. 220p.

HUNTER, J. A, PULLAN, S.E., BURNS, R. A , GAGNE, R. M., GOOD, R. S. Shallow seismic reflection mapping of the overburden-bedrock interface with the engineering seismograph - some simple techniques. Geophysics, v.49, n. 08, p.1381-1385, 1984.

Page 63: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

53

KNAPP, R. W., STEEPLES, D. W. High-resolution common depth point seismic reflection profiling: field acquisition parameter design. Geophysics, v.51, n.02, p.283-294, 1986a. KNAPP, R. W., STEEPLES, D. W. High-resolution common depth point seismic reflection profiling: instrumentation. Geophysics, v.51, n.02, p.276-282, 1986b.

MALOVICHKO, A. A. A new representation of the traveltime curve of reflected waves in horizontally layered media. Applied Geophysics, n.91, p.47-53, 1978 (in Russian).

NAYFEH, A. H. Wave propagation in layered anisotropic media. North-Holland Series, v.39, Amsterdam: Elsevier, 1995. 332p.

OLIVEIRA, A. M. S., BRITO, S. N. A. Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, 1998. 584 p.

PAKISER, L.C., MABEY, D.R., Mapping shallow horizons with reflection seismograph. Science, v.119, p.740, 1954a. PAKISER, L.C., MABEY, D.R., WARRICK, R.E. Mapping shallow horizons with reflection seismograph. AAPG Bull., v.38, p.2382-2394, 1954b. PAKISER, L.C., WARRICK, R.E. A preliminary evaluation of the shallow reflection seismograph. Geophysics, v.21, n.02, p.388-405, 1956.

PERROUD H.; TYGEL M. Nonstretch NMO. Geophysics, v.69, n.01, p.599-607, 2004.

PŠENČĺK, I. Basics of plane wave propagation and of the seismic ray method: Lectures Notes. Salvador: UFBa-CPGG, 2000. 135p.

RUPERT G. B.; CHUN J. H. The block move sum normal moveout correction. Geophysics, v.40, n.01, p.17-24, 1975.

SCHEPERS, R. A seismic reflection method for solving engineering problems. Journal of Geophysics, v.41, p.367-384, 1975. SENA, A. G. Seismic traveltime equations for azimuthally anisotropic media – Estimation of interval of elastic properties. Geophysics v.56, n.12, p.2090-2101, 1991.

SHATILO A.; AMINZADEH F. Constant normal-moveout (CMNO) correction: a technique and test results. Geophysical Prospecting, v.48, p.473-488, 2000.

SIMÕES, Fº I. A. Modelagem e inversão de tempos de trânsito em meios heterogêneos anisotrópicos fraturados. Tese de Doutorado, Salvador: UFBa - PPPG, 1992.

Page 64: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

54

TANER, M.; KOEHLER F. Velocity Spectra – Digital computer derivation and applications of velocity functions. Geophysics, v.34, n.06, p.859-881, 1969.

TANER, M. T., TREITEL S. e AL-CHALABI M. A new travel time estimation method for horizontal strata. 75th ANN. INTERNAT. MTG, SOC. OF EXPL. GEOPHYS., p. 2273-2276. 2005

TELFORD, W.M.; Geldart, L.P.; Sheriff, R.E. Applied Geophysics. New York: Cambridge University Press. 1990. 770 p.

THOMSEN, L. Weak elastic anisotropy. Geophysics, v.51, n.10, p.1954-1966, 1986.

THOMSEN, L. Understanding seismic anisotropy in exploration and exploitation. Distinguished Instructor Series, n.5, SEG and EAGE, 2002. 238p.

TSVANKIN, I.; THOMSEN, L. Nonhyperbolic reflection move-out in anisotropic media. Geophysics v.55, n.08, p.1070-1088, 1990.

TSVANKIN, I. Moveout analysis for transversely isotropic media with a tilted symmetry axis. Geophysical Prospecting, v.45, p.479-512.

WINTERSTEIN, D. F. Velocity anisotropy terminology for geophysicists. Geophysics v.55, n.08, p.1070-1088, 1990.

WRIGHT, J. The effects of transverse isotropy on reflection amplitude versus offset – Short Note. Geophysics, v.52, n.04, p.564-567, 1987.

YILMAZ, O. Seismic data analysis: Processing, inversion and interpretation of seismic data. Tulsa : Society of Exploration Geophysicists, 1987.

Page 65: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

55

APENDICE A – ANISOTROPIA

As rochas são anisotrópicas por natureza. A própria gênese (sedimentação,

tectonismo, etc.) se encarrega de tornar as rochas dependentes de direção (Oliveira

& Brito, 1998). Com estas observações e, junto com a necessidade de uma melhor

exploração de registros de dados, especialmente os sísmicos, faz-se necessário

tomar em consideração os efeitos da anisotropia na análise destes dados, uma vez

que muitos procedimentos utilizados para tratamento de dados provenientes de

medidas das rochas são feitos a partir de considerações isotrópicas devido à

simplicidade das equações, a dificuldade de obtenção de parâmetros anisotrópicos

confiáveis e a premissa de que o erro atribuído à anisotropia é grosseiro quando

estas simplificações são consideradas.

Com o trabalho de Thomsen (1986), sobre meios transversalmente isotrópicos

com eixo de simetria vertical (VTI), uma simplificação notável ao problema foi

fornecido e uma grande etapa foi passada para a compreensão da influência da

anisotropia nas assinaturas sísmicas dos corpos. Desde então muitos autores

usaram estas simplificações para introduzir a isotropia transversal nas ferramentas

de processamentos convencionais, especialmente no processo de análise da

velocidade (Byun et al, 1989; Sena, 1991; Tsvankin e Thomsen, 1994).

Pela notação definida por Thomsen, um meio VTI pode ser definido a partir de

cinco constantes elásticas:

ρ

cVPO

33 , (1.12)

Page 66: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

56

ρ

cVSO

44 , (1.13)

02

0902 33

3311

P

PP

V

VV

c

cc , (1.14)

102

12C 2

443333

24433

24413

°V

V=

cc

CcCcδ

P

2INT , e (1.15)

44

4466

2ccc

γ

(1.16)

Os parâmetros adicionais ε , δ e γ são nulos nos meios isotrópicos e definem

anisotropia forte ou fraca.

SISTEMA DE SIMETRIA

Entende-se como simetria de matriz de parâmetros elásticos, quando, após a

rotação do sistema coordenado, sua propriedade permanece a mesma. Existem

materiais com diferentes graus de simetria, com o aumento do grau de simetria tem-

se um decréscimo no número de parâmetros independentes.

Um material isotrópico é o material com simetria mais alta que pode existir. Os

meios anisotrópicos são caracterizados pelo tensor de parâmetros elásticos Cik. Um

plano de simetria é aquele que mantém o tensor de constantes elásticas invariantes

após a reflexão. Não tem dependência direcional de nenhuma constante elástica.

Para descrever o tensor elástico desta simetria, apenas duas variáveis (constantes

de Lamé) são suficientes: λ e μ.

Os principais sistemas de simetria anisotrópicos, cuja classificação e

denominação são herdadas da cristalografia óptica, são oito, a saber: triclínico (21),

Page 67: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

57

monoclínico (12), ortorrômbico (9), tetragonal (6), trigonal (6), hexagonal (5), cúbico

(5) e isotrópico (2), estando apresentados entre parênteses o número de parâmetros

ou constantes elásticas necessárias para sua determinação, assumindo que os

mesmos estão referenciados ao seu sistema de coordenadas.

A tabela I mostra, para cada sistema anisotrópico, os principais elementos de

simetria associados, enquanto na figura III, são apresentadas as constantes

elásticas em sua notação reduzida.

Tabela 1 - Elementos de simetria dos sistemas anisotrópicos (extraído de Winterstein, 1990).

Elementos de Simetria dos Sistemas Anisotrópicos

Triclínico Exibe somente 1 centro de simetria

Monoclínico Exibe 1 eixo binário de simetria e assim 1 plano de simetria

Trigonal Exibe 3 planos de simetria que se interceptam em um eixo ternário

de simetria

Ortorrômbico Apresenta 3 planos mutuamente perpendiculares de simetria

Tetragonal Exibe 5 planos de simetria com 4 dos quais se interceptam no eixo

quaternário de simetria

Cúbico Possuem 9 planos de simetria, sendo 3 paralelos aos eixos

coordenados e 6 coincidentes com os planos diagonais

Hexagonal Exibe 1 plano de simetria perpendicular ao eixo de simetria que é a

interseção de infinitos planos de simetria

Isotrópico Qualquer plano é um plano de simetria, assim como toda direção

coincide com um eixo de simetria

Page 68: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

58

Triclínico Monoclínico

66

,5655

464544

36353433

2625242322

161514131211

C

CC

CCC

CCCC

CCCCC

CCCCCC

66

55

4544

3633

262322

16131211

00

000000

C

C

CC

CC

CCC

CCCC

Trigonal Ortorrômbico

66

55

1555

33

15141311

1514131211

00

00000

C

C

CC

C

CCCC

CCCCC

66

55

44

33

2322

131211

000000000000

C

C

C

C

CC

CCC

Tetragonal Cúbico

66

55

55

33

3311

131211

000000000000

C

C

C

C

CC

CCC

44

44

44

11

1211

121211

000000000000

C

C

C

C

CC

CCC

Page 69: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

59

Hexagonal Isotrópico

66

55

55

33

1311

131211

000000000000

C

C

C

C

CC

CCC

000000200020002

Figura 1 - Representação matricial contraída dos tensores de constantes elásticas dos sistemas de simetria

anisotrópicos, onde 121166 21

CC=C , tanto para trigonal quanto para hexagonal, onde λ e μ são as

constantes de Lamé.

Simetria transversalmente isotrópica com eixo vertical ou VTI (vertical

transversal isotropy), é o modelo mais estudado e com maior aplicação prática de

simetria hexagonal. No caso de um meio VTI, cinco constantes são necessárias para

descrevê-lo completamente (Nayfeh, 1995; Thomsen, 1986) como observado na

equação (I.10). Este tipo de anisotropia pode ser associado a material fino

acamadado, ou seja, camadas horizontais pouco espessas (Backus, 1962), e/ou

estruturas onde partículas individuais são alinhadas em uma direção preferencial

(Figura IV). O eixo de simetria é orientado na direção perpendicular às camadas, no

caso o eixo vertical. Na prática, qualquer seqüência de camadas horizontais

isotrópicas com material não fraturado pode ser considerado um material com

anisotropia transversalmente isotrópica.

Page 70: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

60

Figura 2 - Esquema de simetria VTI, onde x3 é o plano vertical (Kuhnel, 1998).

Este tipo de anisotropia é também chamado de anisotropia polar (Thomsen,

2002), devido à invariância das propriedades à direção de propagação da onda

dentro de planos perpendiculares ao eixo de simetria (ou, a existência de apenas um

pólo de simetria rotacional).

66

44

44

33

1311

131211

0

00

000

000

000

C

C

C

C

CC

CCC=C , onde 2

121166

CC=C

(1)

Na simetria transversalmente isotrópica com eixo horizontal ou HTI (horizontal

transversal isotropy) o número de constantes elásticas é o mesmo do caso anterior,

porém este tipo de anisotropia se comporta de maneira muito diferente com relação

a resposta sísmica devido ao eixo de simetria não ser a direção de propagação com

afastamento zero. Geralmente é causado por um regime de tensões horizontais não

uniformes atuando numa rocha não acamadada gerando fraturas verticais em uma

Page 71: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

61

direção (azimute) dominante.

Figura 3 - Esquema para simetria HTI, onde x2 é o plano vertical (Kuhnel, 1998).

Nota-se que a equação (1) é muito similar a equação (2), mudando apenas a

posição das componentes 12C e 13C . Esta mudança na posição significa uma

rotação do eixo de simetria de 90 graus (comparar Figura 2 e Figura 3).

66

44

44

33

1211

131311

0

00

000

000

000

C

C

C

C

CC

CCC=C (2)

Page 72: Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento ... · MICHELLE DAVID WATANABE Investigações sobre Análise de Velocidades e Empilhamento de Dados de Reflexão Sísmica

62

Figura 4 - Modelos litológicos equivalentes para diferentes tipos de simetria.

(modificado de Eldues, 2003)