IOC Modulo4 Artigo de Opiniao

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  • SeqnciaDi dticaAr t igo de o pinio

    argumentoenfoquefavorvel

    tesecontrrio

    em primeiro

    lugar

    posiocontraposioinformaonegociaoconclusoconciliao

    controversomaspormcontudo,todaviaportantoentretanto

    polm

    ica

    consensoSeqnciaD idt i ca

    Artigo deOpin io

  • SeqnciaDi dticaAr t igo de o pinioConvnio 177/2000 de 20/12/2000 entre a Unio, por intermdio do Ministrio da Educao (mec), e o Estado de So Paulo, por intermdio da Secretaria da Educao, nos termos do Contrato de Emprstimo n 1225/oc/br firmado entre a Unio e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (bid)

    GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO

    Governador: Geraldo Alckmin

    SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO DE SO PAULO

    Secretrio da Educao: Gabriel Chalita

    Secretrio Adjunto: Paulo Alexandre Barbosa

    Chefe de Gabinete: Marila Nunes Vianna

    Coordenadora de Estudos e Normas Pedaggicas: Sonia Maria Silva

    COORDENADORIA DE ESTUDOS E NORMAS PEDAGGICAS (CENP)

    EQUIPE TCNICA:

    Dayse Pereira da Silva

    Eduardo Campos

    Eva Margareth Dantas

    Luis Fbio Simes Pucci

    Maria Silvia Sanchez Bortolozzo

    Regina Aparecida Resek Santiago

    Regina Cndida Ellero Gualtieri

    Roseli Cassar Ventrella

    Valria de Souza

  • SeqnciaDi dticaAr t igo de o pinio

    M a t e r i a l do a lunoSeqncia DidticaArtigo de Opinio

    Jacqueline P. Barbosa

    Com a colaborao de:

    Marisa V. Ferreira pesquisa de textos e elaborao de atividades

    Cristina Barbanti pesquisa de textos

  • ndice

    Carta ao leitor ....................? 6

    Atividade 1 - Reconhecendo artigos de opinio .......................................................................8

    Atividade 2 - O contedo dos artigos de opinio: as questes polmicas ..........16

    Atividade 3 - Produo inicial de um artigo de opinio ...................................................23

    Atividade 4 - O contexto de produo do artigo de opinio ........................................23

    Atividade 5 - As vrias vozes que circulam num artigo de opinio ..........................25

    Atividade 6 - Organizadores textuais ..........................................................................................31

    Atividade 7 - Tipos de argumento .................................................................................................36

    Atividade 8 - Movimento argumentativo ..................................................................................39

    Atividade 9 - Explorando a estrutura de um artigo de opinio ..................................41

    Atividade 10 - Devoluo dos primeiros artigos produzidos ...........................................45

    Atividade 11 - Aprofundando a discusso sobre o tema escolhido ............................45

    Atividade 12 - Reescrita de artigo de opinio ...........................................................................46

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO6

    Caro(a) leitor(a),Antes de apresentar a voc este projeto de trabalho, pensamos que seria interessante tecer algumas consideraes. Vamos a elas:

    A propsito do ato de escrever

    Escrever no uma tarefa simples. Tam-

    pouco um dom que apenas alguns ilumi-

    nados possuem. Ningum nasce sabendo

    escrever, mas todos podem aprender a

    produzir bons textos, desde que sejam bem

    orientados para faz-lo e se empenhem.

    No entanto, ningum aprende a escrever

    de repente, como num passe de mgica;

    ao contrrio, o aprendizado da escrita

    um processo longo, que dura para alm

    da escola. Para escrever preciso algum

    domnio do contedo e do gnero a que

    pertence o texto em questo. Tambm

    necessrio considerar a situao de comu-

    nicao, pensar na forma geral de organi-

    zao do texto, na construo de perodos

    e na escolha de palavras adequadas. Como

    se isso no bastasse, h ainda as quase in-

    ndveis regras gramaticais e ortogrcas.

    Tudo isso exige planejar, escrever, revisar

    e, por vezes, reescrever o texto mais de

    uma vez. Tarefa quase insana! por isso

    que, em alguns momentos, sentimos certo

    desconforto diante de uma folha de papel

    em branco. Algumas vezes, voc pode at

    saber o que quer escrever, mas se atrapa-

    lha na hora de organizar as idias no pa-

    pel. Outras vezes, o assunto sobre o qual

    tem de escrever est to distante das suas

    preocupaes que voc tambm no tem

    muito pique para a empreitada.

    preciso que a gente veja algum sentido

    em escrever, que pode ser desde armar

    nossas idias e posies sobre determinado

    tema, reivindicar algo que nos de direi-

    to, criar mundos ccionais que falem um

    pouco dos nossos dramas humanos, at

    saber que estamos meramente exercitando

    algum aspecto da escrita para fazer algu-

    mas das coisas citadas. Caso contrrio, no

    h vontade e empenho que sobrevivam...

    A escrita como fonte de prazer

    Muitas vezes, para obtermos certo prazer

    na vida, necessrio algum esforo ou, no

    mnimo, algum trabalho. Assim acontece

    tambm com o ato de escrever. Encontrar

    as palavras certas, o melhor jeito de en-

    cade-las, a trama adequada de um tex-

    to pode ser fonte de grande satisfao.

    Quem que no gosta de narrar uma boa

    histria, argumentar solidamente, expor

    as idias com clareza e desenvoltura, de

    forma a convencer os interlocutores a res-

    peito da prpria opinio? Ser que existe

    algum que no goste de conversar sobre

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 7

    Caro(a) leitor(a),um assunto do qual entenda bastante ou

    que no goste de admirar algo muito bom

    que tenha feito? Escrever um bom texto

    pode ser uma dessas coisas que, depois,

    podemos car admirando. Mas logo vem

    a angstia de escrever outro...

    Eu mesma, nesse momento, estou vivendo

    essa angstia: j apaguei e reescrevi esse

    texto um tanto de vezes... Que ser que

    vo achar dessa carta e das atividades que

    esto por vir? Embora eu tenha estudado

    algumas teorias sobre escrita e tenha es-

    crito muitos textos na vida, simplesmente

    no sei a forma mais adequada de tentar

    convencer a todos de que escrever pode ser

    mais do que uma atividade escolar ou algo

    de que se precise na vida; escrever pode ser

    libertador!! A escrita no s um ato de

    expresso de idias, pois para escrever so-

    mos obrigados a organizar nossas idias e,

    nesse processo, pensamos mais sobre elas,

    percebemos relaes que no percebamos

    antes, aprendemos coisas novas e, depen-

    dendo do tema sobre o qual escrevemos,

    ainda desenvolvemos nosso senso crtico.

    Por que trabalhar com artigos de opinio?

    Artigos de opinio publicados em jor-

    nais, revistas e sites discutem questes

    polmicas que afetam um grande nme-

    ro de pessoas. Alm de exigir o uso da

    argumentao, supem a discusso de

    problemas que envolvem a coletividade.

    Compreender e produzir artigos de opi-

    nio, portanto, uma forma de estar no

    mundo de um modo mais inteiro, menos

    passivo, menos alienado.

    As atividades que se seguem tm o obje-

    tivo de desenvolver sua capacidade para

    compreender e escrever artigos de opinio.

    Voc vai ler vrios textos desse gnero,

    analis-los, conversar com eles, observar

    suas caractersticas, escrever trechos argu-

    mentativos e artigos de opinio, discutindo

    sobre muitas questes: maioridade penal,

    transgnicos, hip hop, cotas nas universi-

    dades para grupos socialmente excludos,

    nalidade da escola mdia, comportamen-

    to sexual dos jovens, entre outras.

    Entender o ponto de vista do outro e dia-

    logar com ele, concordando ou discor-

    dando, defender as prprias opinies de

    forma slida e convincente nos torna su-

    jeitos da nossa prpria histria.

    Por m, um convite

    Depois dessa (j longa) apresentao,

    cabe convid-lo a participar desse proje-

    to. Gostaramos que voc o encarasse no

    simplesmente como mais uma tarefa es-

    colar, mas sim como uma oportunidade

    de melhorar sua competncia em leitura

    e produo de textos escritos e discutir

    questes de relevncia social.

    Esperamos que, ao nal, voc possa dizer

    que valeu a pena o esforo!

    Ento, mos obra.

    A autora

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO8

    ATIVIDADE 1 RECONHECENDO

    ARTIGOS DE OPINIO

    1. Leia os textos que se seguem procurando identicar qual o tipo de texto em questo e qual sua nalidade ou o objetivo do autor ao escrev-lo.

    Texto 1*

    Menor participa de 1% dos homicdios em SPLevantamento da Secretaria de Segurana surpreende tanto defensores como contrrios reduo da maioridade penalGilmar Penteadoda reportagem local

    Estatstica indita revela que pequena

    a participao de menores de 18 anos na

    autoria de crimes graves em So Paulo.

    Eles so responsveis por cerca de 1% dos

    homicdios dolosos (com inteno) em

    todo o Estado. Eles tambm esto envol-

    vidos em 1,5% do total de roubos maior

    motivo de internao na Febem e 2,6%

    dos latrocnios (roubo com a morte da v-

    tima). De acordo com o IBGE, essa faixa

    etria representa 36% da populao.

    Os dados, calculados com base em ocor-

    rncias em que foi possvel identicar se

    o criminoso era menor ou no, surpreen-

    deram tanto defensores como contrrios

    reduo da maioridade penal.

    Pesquisa feita em dezembro pelo Datafo-

    lha indicou que 84% da populao de-

    fende a reduo da maioridade penal.

    (...)

    Esses nmeros derrubam o mito da pe-

    riculosidade dos jovens e mostram que

    a reduo da maioridade penal vai ter

    um impacto muito pequeno e inecaz,

    armou o socilogo e doutor em cincia

    polcia Tlio Kahn, coordenador-executi-

    vo da CAP (Coordenadoria de Anlise e

    Planejamento.)

    (...)

    Essas imagens enviesadas, de que o jo-

    vem est envolvido com crimes graves,

    podem sustentar polticas pblicas e leis

    que no atacam a raiz do problema e que

    podem at piorar a situao, disse o co-

    ordenador.

    A participao dos adolescentes s ultra-

    passa a faixa dos 10% nos crimes de tr-

    co de drogas (12,8%) e porte ilegal de

    arma (14,8%), segundo a CAP.

    (...)

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 9

    Texto 2

    Maioridade penal1

    Infelizmente, a reportagem que infor-

    mou sobre os dados da Secretaria de

    Segurana Pblica de So Paulo dan-

    do conta de que apenas em 1% dos as-

    sassinatos ocorridos no Estado h parti-

    cipao de jovens menores de 18 anos

    foi publicada em um dia de menor lei-

    tura do jornal (Menor participa de 1%

    dos homicdios em SP, Cotidiano, pg.

    C1, 1/1). Sua divulgao deveria ser o

    mais ampla possvel, pois didtica.

    Sobretudo para aqueles que, movidos

    por emoes instantneas e pela mdia

    televisiva dos nais de tarde, engordam

    as pesquisas de opinio a favor da pena

    de morte e da reduo da maioridade

    penal.

    Rui Marin Daher - So Paulo, SP

    Texto 3O endurecimento das penas seguramente um instrumento de inibio criminalidadeAri Friedenbach

    A responsabilizao do menor por seus atos infracionais tem de ser debatida com a

    seriedade que o tema exige. A sociedade

    vem expressando com clareza sua preo-

    cupao com a crescente violncia, nota-

    damente nos grandes centros. No pode-

    mos conceber que se pretenda educar as

    novas geraes sem que se transmita s

    crianas e aos jovens o claro conceito de

    limites.

    inegvel que reprimir parte integran-

    te do processo educativo. E isso deve

    ocorrer no mbito familiar, bem como

    no mbito da sociedade. Evidentemente,

    no se pode falar em punio sem que se

    atue com o efetivo intuito de evitar que

    o cidado, seja ele menor ou maior de 18

    anos, cometa qualquer ato infracional, ou

    seja, h que se atuar com determinao

    no sentido de permitir a incluso social

    de todos os brasileiros, dando-lhes, antes

    de tudo, o direito e as condies de fazer

    um efetivo planejamento familiar e pro-

    piciando-lhes acesso a sade, educao e

    trabalho. Concomitantemente, h que se

    aparelhar o Estado para atuar quando es-

    tamos sendo impedidos de exercer nossos

    direitos mais essenciais: o direito vida e

    o de ir e vir.

    Quando falo em represso, evidentemen-

    te no estou querendo apoiar qualquer

    poltica favorvel a negar direitos civis.

    No apio qualquer prtica de tortura

    ou violncia. No entanto, a colocao de

    limites criana, ao jovem e ao adoles-

    cente forma inequvoca de educ-los.

    O polmico debate a respeito da maio-

    ridade penal no pode ser encaminhado

    como uma questo meramente matem-

    tica. No se trata de 18, 16 ou 14 anos.

    (...)

    Uma lei justa e verdadeira deveria exami-

    1. Retirado do jornal Folha de S. Paulo de 01/01/2004.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO10

    nar o ru como ser humano, o qual, se

    menor de 18 anos (especicamente para

    os casos de crimes hediondos, crimes que

    atentem contra a vida ou com srio ris-

    co vida), deve ser examinado atravs

    de percia multidisciplinar, a qual dever

    atestar a real compreenso do agente

    agressor dos fatos por ele causados, para

    que ento seja encaminhado para insti-

    tuio adequada, para cumprimento da

    pena (presdio-escola).

    No se pode admitir que um menor que

    tenha cometido um crime violento possa

    ser recuperado e reintegrado ao conv-

    vio social aps apenas trs anos, ainda

    que o tratamento dispensado a ele seja

    exemplar.

    (...)

    Alguns problemas da Febem tm solu-

    es mais simples do que pode parecer

    eis que diversas questes foram pre-

    vistas pelo legislador ao redigir o ECA

    (Estatuto da Criana e do Adolescente).

    Muitas vezes o que falta a correta apli-

    cao da lei.

    Est previsto no estatuto que o menor in-

    terno dever car separado de acordo com

    idade, compleio fsica e infrao/pericu-

    losidade. A reinsero desse menor infra-

    tor depender tambm de programas de

    colocao prossional desses jovens quan-

    do retornam ao convvio social.

    O sistema para os jovens infratores de-

    veria ser constitudo de unidades de

    pequeno porte, nas quais o menor ser

    obrigado a estudar, a fazer cursos pro-

    ssionalizantes, com acompanhamento

    efetivo de psiclogos. O menor ou maior

    que, ao sair de um perodo de recluso,

    no tiver qualquer perspectiva de traba-

    lho e vida decente seguramente voltar

    a delinqir.

    Com todo tipo de acesso informao

    que hoje um jovem tem, seja atravs da

    televiso, de revistas, jornais, internet

    (hoje disponvel na maioria das escolas

    pblicas), alm do fato de a maioria dos

    jovens nessa faixa etria j estar traba-

    lhando ou de alguma forma ajudando na

    manuteno de sua casa, no possvel

    concebermos um adolescente no estar

    em condies de arcar com as responsa-

    bilidades de seus atos, seja ao votar, ao

    dirigir, ao agredir, ao matar etc.

    A aplicao de penas mais severas, seja

    aos menores infratores, seja aos maiores

    de 18 anos, diferentemente do que pre-

    gam os defensores do continusmo, inibe

    o agente agressor e deve passar a clara

    mensagem de que o crime no compen-

    sa. O endurecimento das penas segura-

    mente um instrumento de inibio

    criminalidade.

    As autoridades constitudas, bem como

    os tericos de planto, necessitam de

    vivncia do mundo real. H que assumir

    uma posio responsvel, pois lidar com

    a questo da violncia apenas com olhos

    voltados aos fatores sociais (da maior im-

    portncia), sem dvida, constitui uma vi-

    so bastante mope. (...)

    Ari Friedenbach advogado e um dos fundadores do Instituto Liana Friedenbach, criado no nal de 2003, com o objetivo de prestar apoio s vtimas de violncia. Ele pai de Liana Friedenbach, que foi seqestrada e assassinada, junto com o namorado, em novembro de 2003. Esses crimes foram cometidos por cinco pessoas, entre as quais um menor de idade.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 11

    Texto 4*

    A Sua no precisa do ECA. J o Brasil2... Estatuto da Criana e do Adolescente foi publicado em 13 de julho de 1990. Catorze anos depois, detratores ainda dizem que essa lei boa para a Sua. Muito pelo contrrio: mudanas no ECA, s se for para impor penas aos governantes que o descumprem. Ariel de Castro Alves

    No dia 13 de julho de 1990 foi publi-

    cado o ECA (Estatuto da Criana e do

    Adolescente), Lei n 8.069/1990. A lei es-

    tabelece a proteo integral s crianas

    e aos adolescentes brasileiros, regula-

    mentando o artigo 227 da Constituio

    Federal de 1988. A grande mudana de

    enfoque que, anteriormente, no Cdigo

    de Menores, vigorava a doutrina da situa-

    o irregular, pela qual o menino de rua, a

    menina explorada sexualmente, a criana

    trabalhando no lixo estavam em situa-

    o irregular e deveriam ser objeto de

    interveno do Estado. Com o ECA, nessas

    situaes acima descritas quem est irre-

    gular a famlia, o Estado e a sociedade,

    que no garantiram a proteo integral.

    Um grande equvoco apresentado pelos

    detratores do ECA armar que uma

    lei boa para a Sua. Resposta: muito pelo

    contrrio, a Sua no tem Estatuto e no

    precisa, j que os direitos da infncia e

    juventude so priorizados e respeitados

    independentemente de lei. Pases como

    o Brasil, que no respeitam os direitos da

    criana e do adolescente que precisam

    de legislao especca. O ECA parte do

    pressuposto de que a principal funo da

    lei transformar a realidade, e no o con-

    trrio, a lei se adaptar a uma realidade

    injusta, cruel e desigual, como defendem

    os que pugnam por mudanas no texto

    legal. O grande desao aps 14 anos do

    ECA est na sua implementao, e para

    tanto necessria uma atuao maior do

    Estado, principalmente atravs

    de oramentos pblicos que

    priorizem a rea social, a cida-

    dania e os direitos humanos.

    Atualmente, 14 milhes de

    crianas e adolescentes tm

    seus direitos negados no Brasil

    isso signica que o ECA no

    existe para eles. Vivem em fa-

    mlias com renda per capita de menos

    de R$ 60 mensais. Esse nmero repre-

    senta 23% da populao infanto-juvenil

    do pas. Ao menos 1 milho de crianas

    e adolescentes, com idade entre 7 e 14

    anos, esto fora da escola, e 2 milhes e

    900 mil crianas esto sujeitas ao traba-

    lho infantil. Esse nmero pode chegar a

    6 milhes, segundo levantamento da OIT

    (Organizao Internacional do Trabalho).

    Estima-se que mais de 1 milho e meio de

    meninas esto sujeitas explorao sexu-

    al. O relatrio da Comisso Parlamentar

    Mista de Inqurito do Congresso Nacional

    acusa alguns polticos, empresrios, poli-

    ciais, juzes, entre outros, como respons-

    veis por redes de explorao.

    A mortalidade infantil no Brasil, apesar

    de avanos signicativos, ainda alta:

    so 29 mortes para cada mil nascidos vi-

    vos. No Japo so 3 por mil e em Cuba, 7

    por mil. A violncia domstica atinge 4

    2. Texto retirado de www.agenciacartamaior.com.br, 13/7/2004.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO12

    em cada 10 crianas, segundo as entida-

    des que atuam na rea.

    O Brasil um dos cinco pases do mun-

    do com maiores ndices de homicdios de

    jovens entre 15 e 24 anos. O nmero de

    mortes nessa faixa de 54 em cada gru-

    po de 100 mil habitantes, segundo a pes-

    quisa da Unesco. Com relao aos jovens

    privados de liberdade, 71% das unidades

    onde esto internados os 12.400 adoles-

    centes infratores do pas so irregulares,

    conforme levantamento realizado pelo

    Ipea (Instituto de Pesquisa Econmica

    Aplicada). So unidades superlotadas,

    onde vigoram ociosidade, violncia,

    maus-tratos e tortura. So verdadeiros

    presdios, e no unidades educacionais.

    Essas e outras mazelas recentemente ze-

    ram parte de um relatrio de entidades

    encaminhado ao Comit Internacional da

    ONU (Organizao das Naes Unidas),

    rgo responsvel por acompanhar o

    cumprimento da Conveno Internacional

    dos Direitos da Criana de 1989. A conclu-

    so que o Estado brasileiro no tem tra-

    tado sua populao infanto-juvenil com a

    prioridade absoluta prevista na lei.

    (...)

    Tudo isso demonstra que a consolidao

    da democracia no Brasil passa necessaria-

    mente pela garantia, proteo e promo-

    o dos direitos das crianas e dos adoles-

    centes. Mudanas no ECA, s se for para

    estabelecer penas para os governantes

    que o descumprem.

    Ariel de Castro Alves advogado, conselheiro nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos, funda-dor da seo brasileira da Acat (Ao dos Cristos para Abolio da Tortura), vice-presidente do Projeto Meninos e Meninas de Rua de So Bernardo do Campo, diretor do Sindicato dos Advogados de So Paulo, colaborador do Centro de Justia Global e assessor da Comisso de Direitos Humanos da Assemblia Legislativa de So Paulo.

    O suplemento jovem Atitude reuniu oito

    adolescentes, com idade entre 15 e 17

    anos, para uma discusso sobre maiorida-

    de penal. Todos se mostraram a favor da

    reduo.

    O grupo acredita que, se um adolescente

    de 16 anos pode votar, tambm pode res-

    ponder por atos criminosos. Porm, con-

    cordam que essa medida no ir resolver

    todos os problemas. Eles discutiram sobre

    a superlotao dos presdios, o aumento

    do tempo da pena para jovens em con-

    ito com a lei e acham que os presdios

    adultos devem ser separados dos juvenis.

    Se preocupam tambm com que adolescen-

    tes com menos de 16 anos sejam recrutados

    por adultos para praticar crimes, mas acre-

    ditam que esses adolescentes teriam mais

    medo de cometer crimes, para no seguir

    o exemplo dos jovens com mais de 16 que

    vo presos. Alm disso, eles no concordam

    que os pais sejam responsabilizados pelos

    atos dos lhos. Na opinio de Ana Luiza

    Santana de Carvalho, de 15 anos, melhorar

    a qualidade da educao no Brasil deveria

    ser a principal preocupao dos polticos.

    (Hoje em Dia, MG, p. 29, 7/12/2003)

    Texto 5

    Adolescentes discutem maioridade penal Valeska Silva

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 13

    2. A que gnero textual pertencem os textos que voc acabou de ler?

    3. Qual parece ter sido o objetivo principal do autor? Algumas possi-bilidades seriam: contar uma histria para entreter algum, relatar fato

    ocorrido ou resultados de pesquisa para informar o leitor, criticar ou

    dar opinio, defender uma posio ou opinio argumentando para ten-

    tar convencer algum.

    4. E voc? O que pensa sobre a reduo da maioridade penal? Escreva um ou dois pargrafos expondo sua posio frente a essa questo, defen-

    dendo-a com argumentos.

    5. Os trechos abaixo foram todos retirados de jornais: alguns de notcias ou reportagens, outros de artigos de opinio. Indique quais deles foram

    retirados de uma notcia (ou reportagem) e quais foram retirados de um

    artigo de opinio:

    Trecho 1

    Eis alguns exemplos de gneros textuais: dilogo, interrogatrio, depoimento, conto, crnica, romance policial, poesia, receita, instruo, procurao, notcia, reportagem, carta de solicitao, carta de leitor, artigo de opinio, editorial, verbete de enciclopdia etc.

    (...) inegvel que ela [a internet]

    traz ganhos imensos de produti-

    vidade para as empresas e para as

    pessoas fsicas. Diagnsticos m-

    dicos podem ser feitos a distncia,

    com o paciente em um pas e o

    mdico em outro; novos mtodos

    de aprendizagem revolucionam a

    educao; e novas prosses tm

    sido criadas.

    No entanto, existe o outro lado.

    J temos em nosso pas vrias ca-

    tegorias de excludos: os da terra,

    os da educao, os do emprego,

    os da sade e os da moradia, entre

    outros. Agora estamos passando a

    conviver com um novo tipo de ex-

    cluso. Trata-se da excluso digital.

    Ela to ou mais grave que as

    outras, pois j se torna obstculo

    para as pessoas obterem empre-

    gos dignos.

    A excluso digital o lado ruim

    da sociedade do conhecimento

    esse termo vem sendo usado

    para designar uma nova forma

    de sociedade ps-capitalista, na

    qual o recurso econmico bsico

    deixou de ser o capital, as mat-

    rias-primas e at mesmo a mo-

    de-obra. Nessa sociedade, o que

    vale para conseguir emprego o

    capital intelectual (...).

    Paulo Roberto Feldmann (Folha de S.Paulo, 5/2/2001)

    AN

    DR

    SA

    RM

    ENTO

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO14

    Todo mundo ouve hip hop

    hoje em dia, mas quem

    entende o que ele diz?,

    pergunta-se Genival

    Oliveira Gonalves,

    mais conhecido como

    GOG, rapper que, ao lado

    dos Racionais e do Cmbio

    Negro, foi gura-chave na

    escalada do rap brasileiro rumo

    s rdios comerciais na segun-

    da metade da dcada de 90.

    Representante da linha mais poli-

    tizada do gnero, GOG sabe para

    quem est falando. Desde 2002,

    ele um dos organizadores do ci-

    clo de eventos Hip Hop pela Paz.

    Marcada por forte teor social, a

    edio deste ano foi encerrada

    neste sbado (13) com um gran-

    de show no Ginsio do Gama (ci-

    dade-satlite de Braslia).

    Tradicionalmente, o rap (sigla de

    rhythm and poetry, ritmo e poe-

    sia em ingls) narra o cotidiano

    das periferias com realismo e es-

    prito contestador. O evento, no

    entanto, no se restringiu msi-

    ca foi pontuado por palestras e

    debates sobre temas como maio-

    ridade penal, cotas para negros,

    desenvolvimento sustentvel e

    retratao da mulher no univer-

    so hip hop. A idia central do hip

    hop denunciar, sim, mas com

    transformao de conscincia,

    diz Marjorie Bastos, militante do

    movimento hip hop no Rio de

    Janeiro e uma das palestrantes

    do evento.

    Para GOG, discusso justamen-

    te o que falta para consolidar o

    hip hop como movimento social.

    (...)

    Marjorie, no entanto, adverte: Ain-

    da no vejo o hip hop como um

    movimento. uma cultura. Ele no

    est organizado nacionalmente,

    como o MST, por exemplo, nem

    tem linhas de aes ou propostas

    de polticas pblicas, mas est se

    encaminhando para isso.

    Gusta vo Faleiros (Agncia Carta Maior, www.agenciacartamaior.com.br)

    Todo mundo ouve hip hop

    hoje em dia, mas quem

    entende o que ele diz?,

    pergunta-se Genival

    Oliveira Gonalves,

    mais conhecido como

    GOG, rapper que, ao lado

    dos Racionais e do Cmbio

    Negro, foi gura-chave na

    escalada do rap brasileiro rumo

    s rdios comerciais na segun-

    da metade da dcada de 90.

    Trecho 2

    (...) O Brasil precisa de agricultu-

    ra livre de transgnicos para suprir

    o mercado interno com alimentos

    saudveis e baratos e, depois, ven-

    der os excedentes aos ricos mer-

    cados da Europa, Japo e China,

    que rejeitam OGMs. Eles pagam

    at 10% a mais para se ver livres

    do milho frankenstein. A soja

    certi cada como no-transgnica

    recebe dos europeus prmio de

    at 8 dlares por tonelada (...).

    Flvia Londres (Revista Caros Amigos, agosto de 2001)

    Trecho 3OGMs a sigla usada para designar organismos geneticamente modi cados

    MA

    RIA

    ELI

    SA F

    RA

    NC

    O/J

    B/A

    OG

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 15

    Trecho 4

    (...) Na ltima safra, mais de 80% da

    soja plantada no Estado (RS) foi trans-

    gnica. Os agricultores gachos espe-

    ram a deciso do governo para saber se

    podero utilizar sementes do organis-

    mo modicado geneticamente para a

    prxima safra ou no. Publicamente, j

    disseram que, mes-

    mo que sem per-

    misso, pretendem

    repetir o uso (...).

    (Da sucursal de Bras-lia, Folha de S.Paulo, 18/9/2004)

    (...) Dessa forma, ca claro que no de-

    vemos abrir mo dos avanos tecnolgicos

    pelo simples medo do novo, mas, adota-

    das as medidas de segurana apropriadas,

    como tm feito todas as naes onde a

    biotecnologia j uma realidade, inclusi-

    ve o Brasil, devemos usufruir dos benef-

    cios que ela nos proporciona, sob o risco

    de, em no o fazendo, carmos atrelados

    a uma estagnao no ciclo evolutivo (...).

    A adoo da biotecnologia tem oferecido

    aos pequenos agricultores de pases como

    a ndia novas alter-

    nativas e solues

    para o aumento de

    sua produtividade e

    rentabilidade, alm

    da simplicao do

    manejo da lavoura,

    oferecendo-lhes uma

    melhor qualidade de

    vida (...).

    Rick Greubel (Folha de S.Paulo, 13/2/2003)

    Trecho 5

    6. Justique sua resposta questo anterior dizendo por que deniu os textos como notcias ou como artigos de

    opinio.

    7. Identique nos trechos de artigo de opinio qual questo est sendo discutida e qual a posio do autor frente a essa

    questo.

    8. Ao longo da Atividade 1, a partir da comparao com outros tipos de texto, voc foi identicando alguns artigos

    de opinio e reconhecendo trechos de outros artigos. Tente

    agora denir o que um artigo de opinio.

    TAD

    EU V

    ILA

    NI/Z

    ERO

    HO

    RA

    /AO

    GB

    IA P

    AR

    REI

    RA

    S/A

    BR

    IL IM

    AG

    ENS

    Soja transgnica

    Mudas de mamo transgnico

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO16

    ATIVIDADE 2 O CONTEDO DOS ARTIGOS DE

    OPINIO: AS QUESTES POLMICAS

    Situao de Argumentao

    Por que e para que argumentamos? Sobre quais assuntos argumenta-

    mos? Observe as armaes abaixo:

    A Terra gira em torno do Sol.

    A bactria um ser vivo.

    O lme Cidade de Deus concorreu ao Oscar de melhor lme estran-

    geiro, mas no ganhou.

    O governo federal encaminhou ao Congresso projeto de lei que esta-

    belece novos critrios de acesso ao ensino universitrio.

    As duas primeiras frases armam verdades cientcas que, levando em

    conta os conhecimentos cientcos acumulados at os dias de hoje, po-

    dem ser comprovadas. Assim, no cabe contest-las ou argumentar a fa-

    vor ou contra. Pode-se, no mximo, explicar o movimento de translao

    e por que a bactria um ser vivo. As duas outras frases dizem respeito

    a fatos ocorridos, diante dos quais tambm no cabe nenhum tipo de

    contestao o lme concorreu e no ganhou e o governo encaminhou

    um projeto de lei ao Congresso. Nos quatro exemplos temos ento fatos

    que no podem ser refutados.

    Entretanto, em relao aos dois ltimos fatos, podemos considerar: foi

    injusto (ou justo) o Brasil ter perdido o Oscar. O projeto que o governo

    encaminhou equivocado (ou uma medida necessria). Diante dessas

    armaes cabem contestaes, refutaes, opinies diferentes. So ar-

    maes que no dizem respeito a fatos inquestionveis, mas sim a opini-

    es. Ora, em matrias de opinio, como cada um pode ter uma posio

    diferente diante dessas questes, s possvel argumentar. E argumentar

    mais do que simplesmente dar opinio sobre algo sustent-la com ar-

    gumentos, que so razes, evidncias, provas, dados etc. que do suporte

    idia defendida. Assim, para convencer algum de que certas posies,

    idias ou teses so as mais acertadas ou adequadas, argumenta-se.

    1. Indique quais perodos contm argumentao.

    Perodo 1 preciso que o povo escolha bem em quem vai votar, dado que as mu-

    danas de que o Brasil tanto precisa dependem, em parte, da iniciativa

    desses candidatos.

    Galileu Galilei 1564-1642

    Nicolau Coprnico 1473-1543

    Uma questo polmica sempre na dependncia do momento histrico em questo. Isso vale at para as chamadas verdades cientcas. Por exemplo, como voc j deve saber, antes do astrnomo polons Nicolau Coprnico (1473-1543) e do fsico, matemtico e astrnomo italiano Galileu Galilei (1564-1642), acreditava-se que a Terra era o centro do universo e que o Sol girava em torno dela e isso era inquestionvel. At que novos estudos e conhecimentos viessem

    BET

    TMA

    NN

    /CO

    RB

    IS/S

    TOC

    KPH

    OTO

    SB

    ETTM

    AN

    N/C

    OR

    BIS

    /STO

    CK

    PHO

    TOS

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 17

    Perodo 2 No se pode denir como censura uma iniciativa que tem como obje-

    tivo apenas classicar a programao das emissoras de TV e dos espet-

    culos pblicos. (Folha de S.Paulo, 23/9/2000)

    Perodo 3No h idade perfeita. Quando se tem menos de 30, tem-se mais dispo-

    sio e tempo, mas falta dinheiro. Quando se tem entre 30 e 50, pode-se

    at ter um pouco mais de dinheiro e disposio, mas falta tempo. Com

    mais de 50, no melhor dos casos, pode-se at ter mais dinheiro e tempo,

    mas no se tem mais a mesma disposio.

    Perodo 4Reza a Constituio que todo brasileiro tem direito educao. Infelizmente

    isso est muito distante da realidade vivida por ns. Um pas sem educa-

    o um pas sem futuro.

    Perodo 5 imprescindvel que as pessoas se conscientizem da importncia de lu-

    tar pelos seus direitos em todas as instncias existentes. preciso parti-

    cipar da vida poltica do pas, acompanhando os acontecimentos mais

    relevantes, discutindo os problemas nacionais e participando das prin-

    cipais decises sempre que possvel.

    2. Identique a idia, posio ou opinio dos perodos que indicou na questo anterior e diga qual argumento foi utilizado.

    Uma questo controversa

    Toda argumentao envolve uma questo controversa ou polmica. Uma

    questo controversa aquela para a qual no h uma resposta nica, isto

    , frente a ela possvel assumir diferentes posicionamentos.

    H questes controversas que afetam um grande nmero de pessoas e

    h algumas que so mais particulares, pois interessam apenas a um re-

    duzido nmero de pessoas. Por exemplo, tomar uma posio sobre se

    voc deve ou no parar de estudar para cumprir os horrios de um novo

    trabalho seria uma questo particular, e por isso dicilmente se tornaria

    tema de um artigo de opinio de um jornal a menos que esse tipo de

    dvida afetasse a vida de muitos jovens. Neste caso, seria possvel algum

    escrever um artigo discutindo essa questo, algo do tipo Trabalho ou

    Escola?. Portanto, um artigo de opinio discute questes controversas

    (polmicas), que podem incidir sobre temas polticos, sociais, cientcos

    e culturais, de interesse geral e atual, que afetem direta ou indiretamente

    um grande nmero de pessoas, e procura respond-las. Normalmente

    essas questes surgem a partir de algum fato acontecido e noticiado.

    provar o contrrio. O primeiro a armar que, na verdade, era a Terra que girava em torno do Sol foi Coprnico, responsvel pela descrio do sistema heliocntrico, que d incio astronomia moderna. Em seguida, sua armao foi conrmada por Galileu, responsvel pela fundamentao cientca de teoria heliocntrica de Coprnico e pela sistematizao da mecnica como cincia. Tal idia, no entanto, no foi bem aceita de imediato, j que ia contra certos dogmas da Igreja, e Galileu terminou sendo condenado pela Igreja, passando parte de sua vida recluso.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO18

    Vejamos alguns exemplos de questes controversas que foram discutidas na imprensa

    em geral nos ltimos tempos:

    A principal funo da escola mdia deve ser preparar o jovem para o mundo do

    trabalho?

    O Brasil deve permitir a livre produo de alimentos transgnicos?

    A clonagem humana deve ser permitida?

    Qual a funo da arte na sociedade atual?

    O hip hop poder vir a ser um MST urbano?

    O aborto deve ser legalizado?

    A existncia de cotas nas universidades para alunos provenientes de escola pblica

    justa?

    A falta de informao a grande responsvel pela alta incidncia de gravidez na

    adolescncia?

    3. Voc concorda que essas questes so realmente controversas? Escolha uma delas e prove que so realmente controversas: explicite pelo menos dois posicionamentos

    possveis frente questo escolhida, sustentando cada um deles com pelo menos um

    argumento.

    Por exemplo, diante da questo A principal funo da escola mdia deve ser preparar o

    jovem para o mundo do trabalho? so possveis dois posicionamentos:

    A principal funo da escola mdia deve ser a preparao para o mundo do trabalho,

    pois a maior preocupao dos jovens de hoje saber se tero um emprego no futuro.

    Dessa forma, a escola estaria atendendo a uma demanda da sociedade.

    A principal funo da escola mdia no deve ser a preparao para o trabalho, mas

    sim a ampliao do universo cultural dos alunos, como parte indispensvel de sua

    formao como pessoa humana e cidado, o que tambm acaba se revertendo para

    o mundo do trabalho. A formao especca para o trabalho deve caber aos cursos

    tcnicos e prossionalizantes.

    4. Leia atentamente os trechos a seguir e identique a questo controversa subjacente:

    a) Prevenir um grande trunfo para vencer mais algumas batalhas contra a AIDS, no

    entanto isso muitas vezes ofuscado pelo desejo e esperana que cercam a busca pela

    cura: a pesquisa cientca, a vacina, o avano no desenvolvimento de medicamentos e

    a melhoria na assistncia, que apresenta um carter de maior urgncia e de resultados

    imediatos. Assim, de maneira geral, a preveno acaba ocupando uma posio secun-

    dria dentro das polticas de sade voltadas aids, sendo abordada em aes pontuais

    e isoladas e desarticuladas entre si, que no resultam em mudanas de impacto e sus-

    tentveis. Gapa So Paulo (Agncia Carta Maior, 18/7/2004)

    b) O que me espanta que os jovens se queixem de que tm poucas fontes de conhe-

    cimento da sexualidade. S nas ltimas dcadas, as escolas comearam a introduzir o

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 19

    tema nas salas de aula, assim mesmo com nfase na higiene corporal, tendo em

    vista as DSTs. A famlia, aos poucos, comea a derrubar tabus, exceto nas classes

    populares, onde a falta de conhecimento obriga os jovens a aprenderem na rua,

    como se dizia na minha gerao. Hoje, aprende-se na televiso. Primeiro, com a

    exacerbao do voyeurismo, tipo Big Brother. o bordel despejado, via eletrnica,

    no quarto das crianas ou na sala da casa. Sem que famlias, escolas e igrejas cuidem

    da educao do olhar de crianas e jovens.

    Frei Betto (Revista Caros Amigos, edio 87)

    c) As empresas de motoboys estavam a mil, cada motoqueiro ganhava um salrio que

    compensava o risco, assim como tambm foram os lotaes. Agora vai comear o

    cadastramento, o controle, e a verdade que o Estado est organizado para no

    deixar que a elite perca poder econmico e poltico, esto todos preparados para

    boicotar qualquer tentativa de crescimento da classe tida por eles como mais bai-

    xa, que na real somos ns. Ferrz (Revista Caros Amigos, edio 86)

    5. Agora leia os dois artigos que se seguem procurando identi car qual questo contro-versa est sendo discutida e qual a posio dos autores frente a essa questo.

    ARTIGO 1*

    Eu amo essa cidade Marcelo Rubens Paiva

    Eu amo So Paulo. Nasci aqui, quando ela

    era ainda uma fria cidade organizada o

    Centro era no centro, nos bairros as pes-

    soas moravam , provinciana, de muitas

    casas com quintais, sua noite era do si-

    lncio, quando havia mais praas do que

    avenidas e aos ns de semana no havia o

    que fazer. J morei em outras cidades, at

    na mais linda de todas, o Rio de Janeiro.

    Mas sempre volto. Pior: com saudades.

    Como escritor, eu poderia morar em qual-

    quer canto buclico do mundo, escrever

    diante de uma paisagem deslumbrante.

    Mas, e se o computador der pau, quem

    conserta? E se der fome noite, quem

    entrega comida? E se eu quiser pesquisar

    algo na biblioteca, ter alguma completa

    por perto? E se eu quiser relaxar e ver um

    lme de arte, ter algum cinema na re-

    gio? E se eu quiser me inspirar e assistir a

    uma pea do Antunes? E se eu quiser voar

    e participar do teatro-ritual de Z Celso?

    E se eu quiser danar um determinado es-

    tilo? E onde estaro os amigos de todas

    as partes do Brasil? E uma padoca aberta

    de madrugada, quando bater a insnia?

    E uma festa maluca, que comea s 2h,

    num galpo abandonado? E quando trou-

    xerem uma exposio sobre a China, ela

    estar por perto? E haver uma feira de li-

    vros com todas as editoras representadas?

    Alis, dar para eu comprar livros a qual-

    quer hora do dia? E se eu quiser um moji-

    to cubano? Ou o novo The Strokes? Ou

    uma raridade? E se eu estiver duro, ter

    uma pea do Mrio Bortolotto custando

    R$ 1, ou um Shakespeare grtis no teatro

    do Sesi? E sebos com livros usados?

    3. Artigo publicado na Folha de S. Paulo em 24/01/2004.

    Motoqueiros circulam entre carros na av. 23 de Maio, em So Paulo - SP. 11.04.2001.

    LALO

    DE

    ALM

    EID

    A/ F

    OLH

    A IM

    AG

    EM

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO20

    E cursos grtis do Sesc? Posso ser ouvinte

    de uma boa universidade? Aparecer nas

    palestras do Instituto Moreira Salles?

    Quem decide se mudar de So Paulo deve

    abrir mo de tudo isso. Olha o dilema:

    uma vez morando nela, consegue se livrar

    do que faz bem alma? H qualidade de

    vida nesse paradoxo. H tambm estresse

    sem tantos servios. desesperador ter

    uma paisagem deslumbrante, mas o com-

    putador no ter conserto.

    So Paulo no tem cara. um caleidos-

    cpio do caos. Por isso, fascina. Por isso,

    funciona. Das marginais, v-se a cidade se

    acotovelar no sentido da cordilheira da

    avenida Paulista. Sobre ela, a indenida

    cor da poluio. (...)

    So Paulo o mundo entre seus rios. No

    existe nada igual. nica e essencial. Nas

    caladas, no se estranha um negro de

    mos dadas com uma loira, um japons

    gordo jogando domin com um cego, um

    portugus rindo da piada de um italiano,

    um ndio executivo de terno e gravata

    falando ao celular, um rabe beijando

    um judeu, punks lsbicas bebendo cer-

    veja, um camel lendo Dostoievski, hare

    krishnas paquerando patricinhas no fa-

    rol, um ano carregando um trombone,

    um malabarista cuspindo fogo, desem-

    pregados vendendo canetas coreanas.

    So Paulo sua gente.

    Em muitos bairros, ainda se diz afetuo-

    samente bom dia s manhs. Um caf

    com leite se chama mdia. O po cro-

    cante e feito na hora. O sol nem nasceu.

    Gente voltando da balada servida no

    mesmo balco que gente indo ao traba-

    lho. E um pastel de feira no faz mal a

    ningum.

    So Paulo mudou muito nas ltimas dca-

    das. So Paulo sempre muda muito. Ficou

    melhor e pior. Ela ganhou a violncia ur-

    bana. A desigualdade nunca foi tamanha.

    E, para um deciente, est sempre atra-

    sada em relao a outras cidades, suas

    caladas so difceis, o transporte pblico

    no adaptado. Mas ela ganhou a Mostra

    de Cinema, festivais de jazz, um nmero

    enorme de casas noturnas, restaurantes

    e livrarias. A cada ano, teatros e cinemas

    so inaugurados. Institutos culturais tam-

    bm. E quase sempre h acesso para os

    decientes.

    A cidade est na rota das grandes exposi-

    es. Pina Bausch nunca deixa de se apre-

    sentar por aqui. E j vieram Nirvana, U2,

    at Stevie Wonder. Alguns tocam de graa

    no Ibirapuera domingo de manh. Aos 15

    anos, assisti a Miles Davis no Municipal. E

    ao bal Sagrao da Primavera do Bolshoi.

    Vi Ray Charles tambm. At conversei

    com ele no saguo do Hotel Transamrica.

    Conversei tambm com Kurt Cobain no sa-

    guo do Maksoud. Bem, entre os passari-

    nhos do campo, o barulho do mar, as cigar-

    ras cantando, prero o mundo.

    Marcelo Rubens Paiva, 44, jornalista e escritor, articulista da Folha. autor de, entre outras obras, Malu de Bicicleta (Objetiva), Feliz Ano Velho (Arx) e Blecaute (Siciliano).

    MIG

    UEL

    BO

    YA

    YA

    N/E

    DIT

    OR

    A A

    BR

    IL

    Museu de Arte Moderna de So Paulo (MASP), 04.09.1990

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 21

    Parece at um ttulo fcil, mas na realida-

    de no. Bom... sim, para quem mora em

    determinado lugar de So Paulo. Pode-se

    dizer que a cidade subdividida em duas,

    e isso claro, central e perifrica, a parte

    difcil dizer quem cerca quem.

    Que os moradores da periferia (como

    eu, t ligado?) vo ao centro para pres-

    tar servio no nenhuma novidade,

    mas e a diverso? E desfrutar a cidade?

    A so outros quinhentos, ou melhor, so

    outros 450.

    Poderia citar milhes de motivos para no

    gostar da cidade, poderia divagar por mil

    tas, mas a cidade me, terra de arra-

    nha-cus, ptria dos desabrigados, lar de

    Germano Mathias, e sempre ser assim.

    So Paulo continuar iludindo com sua

    leve manta, e se andarmos noite por

    ela no veremos somente boates, bares,

    casas de relaxamento, ruas nobres que

    parecem as de Londres, comrcios luxu-

    osos que nos fazem ir para Tquio, lojas

    que nos levam ao passado e a pr um p

    no futuro. Mas se olharmos com detalhe

    veremos crianas, lhos de seus no to

    ilustres moradores, acompanhados da fa-

    mosa senhora do chapelo, a fome, em

    quase toda esquina.

    Mas passa fome quem quer em So

    Paulo, j dizia o sbio professor a sua

    turma de alunos escolhidos pelo siste-

    ma nanceiro de algum colgio tipo o

    Salesiano. quente. Quem no quiser que

    venda chiclete, balinha, Bob Esponja, a-

    nal no igual para todos a entrega do

    trofu de cidado honorrio.

    Vem maranhense, vem pernambucano,

    vem baiano, mas daqui direto para o al-

    bergue, ou quem sabe para a periferia.

    (So Paulo a segunda Bahia e o segun-

    do Rio em termos de baianos e cariocas.)

    No h vagas, mas h espao para todos,

    desde que cada um esteja no seu devido

    lugar, certo, manos?

    Esse s um lado da cidade? Pode ser,

    sangue bom, mas o lado que eu co-

    nheo, com que convivo, de onde vejo

    somente as costas do Borba Gato, segu-

    rando seu fuzil, deixando claro que es-

    tamos sendo vigiados, o lado que me d

    a lgrima, que reparte a dor da perda,

    o lado de quem no tem lado, de quem

    nunca retratado, d at rima, seu carro

    tem ar-condicionado, aqui na perifa s

    muleque descalo.

    Venham todos ver nesse aniversrio o

    rapa da prefeitura tomar a barraca da-

    quela dona Maria que era empregada e

    perdeu o emprego porque o lho saiu

    no Cidade Alerta. Venham festejar com

    o vizinho que saiu da cadeia h dois dias

    e ainda no sabe como ir fazer para co-

    ARTIGO 2*

    Sobreviver em So Paulo4 Ferrz

    4. Artigo publicado na Folha de S. Paulo em 24/01/2004.

    Favela Aba, na zona sul de So Paulo. 03.03.2004A

    ND

    R

    SAR

    MEN

    TO

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO22

    mer e se vestir, vem que tem vaga para

    voc, aqui SP.

    A terra onde matar perifrico causa siln-

    cio e frustrao, e matar do outro lado da

    ponte causa indignao, passeatas, mu-

    dana na legislao.

    E todos falam pra caramba, montam tese,

    mas passa um dia aqui para ver se sobra

    orgulho dos textos mentirosos, dos verbos

    bem colocados, das frases bem montadas,

    que emocionam, que chocam e que no -

    nal so tudo um monte de mentiras, por-

    que a So Paulo ao seu redor de concre-

    to e a nossa de lama. A sua : Moema,

    Morumbi, Jardim Paulista, Pinheiros,

    Itaim Bibi e Alto de Pinheiros. A nos-

    sa : Jardim ngela, Iguatemi, Lajeado,

    So Rafael, Parelheiros, Marsilac, Cidade

    Tiradentes, Capo Redondo.

    Palavro aqui na comunidade desem-

    prego, aqui Sampa tambm, mas do

    marketing estamos alm, fora da festa,

    fora da comemorao.

    Na rea da barragem, onde vivem n-

    dios tupis-guaranis, ningum est saben-

    do da festa. Em Campo Limpo, Graja e

    Brasilndia no vi ningum encher de ro-

    sas nem ningum restaurar, no vieram

    ao menos canalizar o crrego, no m do

    dia no teve show, no teve visita de nin-

    gum do poder pblico, mas vi um me-

    nino de 7 anos na ponte esperando a es-

    perana, s no sei por quanto tempo. A

    nica coisa que representa o governo por

    aqui a polcia, ento todos j imaginam

    como ele representado.

    T certo! So Paulo nossa tambm, a-

    nal, cuidamos do dinheiro, lavamos, vi-

    giamos, passamos, limpamos, digitamos,

    afogamos mgoas em pequenos bares,

    vivemos em pequenos casulos, comemos

    o pouco de rao que sobrou do outro

    dia e ainda dizemos amm, Sampa city,

    voc meu bero, pois no nascemos

    com nenhum de verdade.

    Construmos e no moramos, fritamos e

    no comemos, assistimos, mas no vivemos,

    passamos vontade, mas passamos adiante.

    O qu? Ah! A parte boa da cidade? Bom,

    acho que vou passar essa, vou deixar para

    algum que viva nela, pois o termo aqui

    para ns sobrevivncia, mas com certe-

    za deve ter muita coisa boa nela, Sampa

    bem grande, n? E tem muita diversidade

    cultural, assim como social.

    Somos somente um reexo de tudo isso,

    os catadores de materiais reciclveis, os

    balconistas, os motoristas, os anelinhas,

    as empregadas domsticas, os vendedores

    ambulantes, os vigilantes, os meninos da

    Febem, os 118 mil presos de todo o Estado

    e mais uma porrada de gente que te sa-

    da e deseja mais conscincia e considera-

    o nesse aniversrio, So Paulo.

    Ferrz o nome literrio de Reginaldo Ferreira da Silva, 28, autor de Capo Pecado (Labortexto, 2000), romance sobre o cotidiano violento do bairro do Capo Redondo, na periferia de So Paulo, onde vive o escritor, e de Manual Prtico do dio (Objetiva, 2003).

    Qual a questo controversa que est sendo discutida pelos dois artigos?

    Qual a posio do autor do texto 1? Cite pelo menos dois argumentos utilizados

    pelo autor para defend-la.

    Qual a posio do autor do texto 2? Cite pelo menos dois argumentos utilizados

    pelo autor para defend-la.

    Que contrastes podem ser estabelecidos entre os textos 1 e 2? Levante alguma hi-

    ptese que possa explicar a divergncia de posies existente entre eles.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 23

    ATIVIDADE 3 PRODUO INICIAL DE

    UM ARTIGO DE OPINIO

    Agora voc vai produzir uma primeira verso do seu artigo de opinio sobre a questo

    polmica ligada ao tema que j vem estudando em sala de aula, como parte de um pro-

    jeto interdisciplinar de trabalho. O tema que voc escolheu d margem a vrias ques-

    tes polmicas, para as quais muitas opinies diferentes so possveis. Imagine que seu

    artigo ser publicado em um jornal dirio de grande circulao, cujos leitores no tm

    necessariamente uma posio rmada sobre a questo em pauta.

    Lembre-se:

    Defenda sua posio, sustentando-a com argumentos.

    Seu texto dever ter, aproximadamente, 30 linhas.

    Deixe uma margem direita (em torno de 5 centmetros) para anotaes futuras.

    Consulte dicionrios e gramticas, se tiver dvidas sobre o emprego da lngua.

    Caprichar na letra fundamental; outras pessoas tm de conseguir ler o seu texto.

    ATIVIDADE 4 O CONTEXTO DE PRODUO

    DO ARTIGO DE OPINIO

    Todo texto que a gente escreve ou l possui um contexto. Os textos no existem no

    vazio, mas em um determinado contexto de produo: eles sempre so escritos por

    algum, para algum, com certa inteno, em determinado tempo e lugar, divulgados

    em certo veculo etc., e todos esses elementos interferem no sentido dos textos. Ao es-

    crever, fundamental levar em conta esses aspectos (e tambm na leitura, para que seja

    possvel compreender mais efetivamente o que se leu).

    O contexto de produo dos artigos de opinio pode ser descrito da seguinte maneira:

    O produtor do artigo de opinio5

    Geralmente, o produtor de um artigo de opinio um especialista no assunto (ou no

    mnimo algum que estuda aspectos da questo em discusso) ou um representante de

    determinada instituio social (como sindicatos, governo, universidades, ONGs etc.)

    que, de alguma forma, tem algo a dizer sobre a questo. Em funo disso, o autor busca

    construir uma imagem de si mesmo para seus leitores como algum que tem conhe-

    5. Descrio do contexto de produo do artigo de opinio adaptado de material produzido sob a coordenao da professora Anna Rachel Machado para o PLEPI Seqncia Didtica Artigo de Opinio , desenvolvido na Universidade de Mogi das Cruzes entre 1998 e 2000.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO24

    cimento sobre o tema tratado, segue a lgica, a razo, possui argumentos slidos para

    sustentar sua posio.

    Os leitores do artigo de opinioSo pessoas que freqentemente lem determinado jornal ou revista e esto de alguma

    forma interessadas na questo polmica, seja porque as afeta diretamente, seja porque

    se interessam pela discusso dos assuntos em pauta na sociedade. Em nosso pas, em

    que a leitura praticada por poucos, pode-se dizer que os leitores de artigos de opinio

    fazem parte de uma elite sociocultural.

    CirculaoUm artigo de opinio circula em jornais e revistas impressos ou on-line (na internet).

    Objetivo(s)Inuenciar o pensamento dos destinatrios (os leitores), isto , construir ou transfor-

    mar (inverter, reforar, enfraquecer) a posio desses destinatrios sobre uma questo

    controversa de interesse social e, eventualmente, mudar o comportamento deles.

    Em suma, o artigo de opinio, apesar de escrito, pode ser visto como um dilogo com o pensamento do outro, para transformar suas opinies e/ou atitudes.

    1. Leia o texto a seguir, procurando identicar os elementos do contexto de produo:

    ARTIGO 1*

    O desao de reconhecer novas formas de participao Patrcia Lnes

    O(a) jovem participa da vida poltica do

    pas? A resposta quase sempre a mes-

    ma: no, alienado(a). O que se verica

    na prtica no bem isso. Grupos de hip

    hop, dana, teatro e msica, formados por

    jovens, pipocam nas favelas e periferias do

    Brasil. Isso no signica participar politica-

    mente? preciso compreender que parti-

    cipao poltica vai alm do exerccio do

    voto. Existem muitas maneiras, como se

    organizar em grupos nas escolas, comuni-

    dades e espaos de trabalho para tentar

    intervir nas decises que esto sendo to-

    madas e mudar o rumo da histria (seja da

    sua comunidade ou do seu pas).

    No caso dos(as) jovens no diferente. A

    diferena est em como a sociedade v

    a juventude e o que espera dela. O mito

    da juventude alienada no to recente

    e toma como referncia uma maneira de

    participao referenciada na juventude

    das dcadas de 1960 e 1970, que protago-

    nizou as manifestaes contra a opresso

    poltica. No Brasil, grupos de jovens estive-

    ram ligados resistncia ao governo mili-

    tar por meio de ncleos teatrais, partidos

    e movimentos polticos clandestinos, che-

    gando at luta armada. Foram tambm

    jovens transgressores(as) dessa poca que

    protagonizaram o rico cenrio musical,

    6. Artigo publicado no Jornal da Cidadania, ano 9, n 122, abril/maio de 2004.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 25

    gerando movimentos cuja expresso mais

    conhecida at hoje a Tropiclia. Esse mo-

    vimento de resistncia foi essencial para

    que fosse possvel, j na dcada de 1980, a

    reabertura para a democracia.

    A idia do jovem revolucionrio cou.

    Mas o mundo mudou nas ltimas dca-

    das. Uma ento nascente cultura do con-

    sumo se consolidou. As utopias, antes

    claras e denidas, caram cada vez mais

    nebulosas. Mas continuou se cobrando

    dos(as) jovens que fossem revolucion-

    rios, como se fosse da natureza da juven-

    tude transformar para melhor.

    Os(as) jovens esto se organizando talvez

    menos nos partidos, mas em grupos cultu-

    rais locais, movimentos globais, redes ou

    ligados s organizaes de cidadania ativa.

    Depois de reconhecer o novo, preciso criar,

    no campo da poltica tradicional, formas de

    inserir esses e essas jovens vidos por parti-

    cipao em um espao mais democrtico e

    menos refratrio condio juvenil.

    A discriminao de gerao um ponto

    complexo da participao jovem. Se jun-

    to de seus semelhantes fcil dizer o que

    se pensa, na presena da pessoa adulta

    pode no ser to simples. Mais ainda

    quando nem sempre a palavra o meio

    pelo qual os (as) jovens se sentem mais

    vontade para expressar sua opinio.

    Para desfazer esses e outros ns, grupos

    de jovens vm se articulando Brasil afora,

    tentando aproximar essas prticas locais

    e muitas vezes pouco institucionalizadas

    do campo da poltica formal.

    A estratgia de formao de redes por jo-

    vens no nova. Os movimentos interna-

    cionais antiglobalizao, por exemplo (em

    sua maioria protagonizados por jovens

    militantes), comearam se articulando em

    rede pela internet. No Brasil, redes como a

    do Nordeste, a de Belo Horizonte e a do Rio

    de Janeiro (Rede Jovens em Movimento)

    esto comeando a pautar questes mais

    amplas que dizem respeito aos (s) jovens

    moradores(as) desses lugares, articulando

    diferenas em nome dos direitos da juven-

    tude e da luta por polticas pblicas mais

    inclusivas. A idia parece estar frutican-

    do. Durante o 1 Frum Social Brasileiro,

    em novembro de 2003, essas trs redes e

    outros jovens se reuniram e deram o pon-

    tap inicial para a criao de uma rede na-

    cional da juventude, que deve realizar seu

    primeiro grande encontro ainda este ano.

    Patrcia Lnes especialista em sociologia urbana, mestranda em sociologia, pesquisadora do Ibase, representando-o na Rede Jovens em Movimento.

    Jovens contra a guerra no Iraque ocupam o Monumento s Bandeiras, em So Paulo 18.02.2003

    AN

    DR

    SA

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    ENTO

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO26

    2. Agora indique cada um dos elementos do contexto de produo do texto que leu, fazendo um quadro semelhante ao que se segue:

    CONTEXTO DE PRODUO

    a) Autor do texto

    Papel social

    b) Interlocutores

    Representao social

    c) Finalidade/Objetivo

    d) Circulao

    ATIVIDADE 5 AS VRIAS VOZES QUE CIRCULAM

    NUM ARTIGO DE OPINIO

    Geralmente, um texto escrito no traz s a voz de quem escreve, mas outras vozes que

    tambm falam pela boca do autor. Ele costuma conversar com pessoas que pensam

    de uma determinada forma, concordando com elas ou discordando delas. Assim, para

    compreendermos de fato um texto, preciso prestar ateno a essas conversas (que

    muitas vezes nos remetem a outros textos) e, mais do que isso, ir tambm conversan-

    do com o texto medida que o lemos. Ser que eu concordo ou discordo do autor?

    Totalmente ou em parte? H um ngulo da questo que o autor no est considerando?

    Ler assim ler criticamente, no de forma passiva, engolindo tudo o que o autor diz,

    mas reetindo sobre as coisas e dialogando com o texto. E por que isso importante?

    Por vrias razes, entre elas para que no sejamos to manipulados pela mdia em geral

    e para que possamos exercer nossos direitos mais plenamente.

    1. Leia agora o prximo artigo* procurando perceber, alm dos leitores em geral, com quem o autor do texto conversa. V voc tambm tentando conversar com o texto,

    concordando ou discordando dele.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 27

    Hip Hop em legtima defesa7Preto Ghez

    O recente episdio envolvendo o suposto escritor Marcelo Mirisola e

    o Hip Hop nos leva a um raciocnio simples. Toda a vida temos ouvi-

    do de todos os segmentos artstico-culturais que ns os meninos do

    Hip Hop precisaramos ampliar nosso campo de viso, precisaramos

    descobrir que a Arte vai bem mais alm do que nosso Hip Hop. A maio-

    ria deles nos recomenda livros, nos recomenda lmes, nos recomenda

    discos, nos recomenda a Arte e a Cultura por eles reconhecida como

    sentimento maior que o nosso simples Hip Hop. Olham pra ns com os

    olhos bondosos de quem v uma criana pouco civilizada. E o desejo

    deles (como foi um dia o mesmo desejo dos padres para com os ndios)

    nos elevar enquanto seres humanos. Bom pra ns ter tanta gente pre-

    ocupada com nossas vidas, nossas caminhadas. Nos do afagos como

    um treinador de ces, ou de um outro bicho qualquer. E curiosamente

    no sentido inverso do que nos dizem, sobre a favela e suas armas, eles

    escrevem livros, eles fazem lmes, eles estriam peas, eles cantam m-

    sicas e gravam discos esmiuando a favela como que numa autpsia,

    talvez alguns deles at procurem ceps diferentes e batendo no peito

    rasguem as gargantas pra em unssono bradar aos quatro cantos que

    tambm eles so favela! Alis ser favela t na moda, a favela a bola

    da vez e nos olhos da pequena-burguesia os cifres denunciam seus

    sentimentos mais mesquinhos. Por entre eles j caminham vencidos e

    tristes... a droga que consomem j no faz o efeito esperado, precisam

    de doses cada vez maiores.

    O dedo viaja nos pequenos botes do controle remoto e eu mudo de

    canal s um pouco, s pra sacar o que rola no mundo l fora. A cena

    a mesma algum inventou outra coreograa, descobriu outra mulher

    Poeta e rapper maranhense, vocalista do grupo Cl Nordestino, Preto Ghez era um dos lderes do Movimento Hip Hop Organizado do Brasil (MHHOB), uma das organizaes nacionais do setor. Foi interno da Febem, onde desenvolveu seu trabalho musical, e a partir da ajudou a organizar o movimento hip hop nas regies Norte e Nordeste. Morreu em um acidente de carro em setembro de 2004, com 31 anos. Sobre sua morte, Gilberto Gil, ministro da Cultura, armou: uma imensa perda. Como artista, lder e articulador talentoso do hip hop, Ghez deixou um trabalho sedimentado, voltado para a construo de polticas para a juventude brasileira. Ele era uma inteligncia a servio dessa revoluo silenciosa que os grupos culturais promovem hoje nas centenas de periferias do pas.

    (Retirado de http://www.amazonia.com.br/portao/reportagens/detalhe.hasp?canal=1&cod=4021) 7. Retirado de http://www.realhiphop.com.br/materias/materia_pretoghoez-miri.htm

    Grateiros no tnel que liga as avenidas Dr. Arnaldo e Paulista, em So Paulo 05.07.2003

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    ENTO

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO28

    escultural, juntou tudo isso numa frase de duplo sentido e gravou um

    disco que vender milhes, custe o que custar todos querem isso, custe o

    que custar todos buscam o seu hit. A menina antes annima, logo estar

    estampando as capas das revistas masculinas e pendurada na banca de

    revistas da esquina de sua quebrada chamar ateno como uma pea

    de carne exposta no aougue prximo. Ela sorri satisfeita navegando

    entre os drinques da elite e logo algum descobrir que ela vai bem

    mais alm do que um simples corpo, ento voc poder se emocionar

    quando o programa de tv numa tarde de Domingo contar a histria

    da vida dela com uma trilha sonora que nos tome nos braos de nossas

    prprias tristezas entre um e outro depoimento de familiares e amigos.

    Ela merece estar ali s ela sabe o preo que pagou pra estar ali. Esse

    lugar que o ali que todos buscam envolve dinheiro, fama e uma s-

    rie de sentimentos outros diferentes de carcia.

    Melhor voltar ao assunto que estvamos discutindo. Ento, tenho con-

    versado com o Marcelo Mirisola no limite de minha educao pra

    tentar entender melhor o universo paralelo que ele criou pra si. (...)

    qualquer custo, de qualquer jeito, seja como for, ele precisa estar sur-

    fando na crista da onda, ele quer ser cult. Quando crescer ele quer ser o

    Ferrz, ter a mesma ateno. que segundo ele tem tanto escritor bom

    por a e justamente quem ganha mais ateno o Ferrz. Tanto cara

    genial sem conseguir publicar e o Ferrz consegue publicar dois livros.

    Falando assim ele me lembra um menino fazendo beicinho, querendo

    31/3 Marcelo Mirisola escreve a coluna A vez dos ruminantes, na qual ataca o Rap. A impresso que tenho quando ouo Rap exatamente a seguinte: Vai passando tudo, no reaja, isso um... Rap! Ou seja, algo impositivo... onde no cabe qualquer tipo de reao. Feito um assalto mo armada.

    20/5 Marcelo Mirisola publica a coluna Caro Pinduca. Escreve: Ademir, ou Pinduca, continua refm dos manos do hip hop. No sicamente como eu, que tive de dar uma sumida por conta de uns telefonemas sinistros que recebi. Mas espiritualmente (o que pior), talvez por boa vontade e receio de no corresponder s imposies de sua confessada origem humilde.

    21/5 O poeta Ademir Assuno escreve em seu blog o texto Deixa pra l, mano, no qual diz: Ainda bem que a vida me deu uma dose de serenidade. Melhor ignorar as agresses, nesse momento, e deixar a coisa esfriar. Peixes coloridos saltam no aqurio da sala. Daltnicos no enxergam o vermelho dos peixes. Malucos experientes sabem quando o bagulho srio.

    28/5 Na coluna Para encerrar o assunto, Marcelo Mirisola escreve: ... os manos do hip hop me elegeram inimigo nmero um do movimento. O que me deixa muito envaidecido, diga-se de passagem. O motivo? Uma bobagem, no entenderam o que eu escrevi (nem o Pinduca, advogado deles). Cito de memria: No basta

    ser assaltado por esses manos e agentar a cara feia deles, ainda tenho que ouvir o barulho que fazem e chamar de msica?

    31/5 O poeta Ademir Assuno publica na AOL o artigo Marcelo Mirisola de novo. Haja saco!, em resposta ao escritor Marcelo Mirisola: Ele [Marcelo Mirisola] confunde hip hop com rap, no sabe distinguir MV Bill de Mano Brown, no faz idia do que seja o PCC, nunca pisou no Jardim ngela ou em qualquer periferia (...) ele prefere a realidade de sua torre-quitinete. No gosta de se misturar, de megulhar o focinho na realidade para conhecer sua complexidade...(retirado de http://forum.aol.com.br/foro.php?id top=1&id cat=39&id subcat=74&id foro=2455)

    O escritor Marcelo Mirisola e o poeta Ademir Assuno, o Pinduca, se estranharam por causa dos manos do hip hop. A briga dos dois acontece na web e tem as pginas da AOL como um dos espaos de troca de farpas. Entenda a polmica e depois d sua opinio:

    Marcelo Mirisola, escritor, autor dos romances Bangal, O Heri Devolvido e O Azul do Filho Morto (Editora 34). Escreve quinzenalmente uma coluna no AOL Notcias. Em seus textos costuma criar polmica com vrios setores da sociedade e grupos culturais. Parte da polmica retratada no artigo de Preto Ghez aparece resumida abaixo:

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 29

    ateno. Pra isso ele chora, esperneia, xinga, e cada vez mais traquina,

    tipo menino levado. Suas brincadeirinhas de mau gosto atravessaram a

    sua vida inteira. E carente de ateno, j que ningum parece notar a

    sua genialidade, ele segue aprontando das suas como quem diz: gen-

    te eu t aqui ser que ningum me nota?

    Ele diz que subversivo, que escreve pra detonar o stablishment. Mirisola

    arma que o Rap no msica, pois ele detesta rimas. Perguntado sobre

    algum na msica brasileira que ele admira, responde que o Edvaldo

    Santana bom (nisso ns concordamos [...]) mas, j que ele detesta ri-

    mas leio vrios trechos do novo cd do Edvaldo onde a rima prevalece e

    ele muda de assunto. Em seguida leio Jesus Chorou dos Racionais e ele

    diz que ruim, considera a letra fraca, e no enxerga isso como msica.

    Pergunto ento se isso tudo que ele faz no simplesmente pra cha-

    mar ateno sobre a sua obra, sobre a sua carreira. Ele d vrias voltas

    em argumentos e admite que o objetivo de qualquer um que produz

    arte chamar ateno sobre a sua arte. Nesse ponto um sorriso meu

    enm presencia a admisso de quem premeditou o crime...

    Vontade de perguntar sobre a mdia e outros acessrios, mas o fato de

    ele escrever no AOL j responde tudo. Ele apenas um transgressor que

    escreve na AOL e detesta negros e pobres ou qualquer meleca do gne-

    ro que trate de bumbos, cama elstica, axs e afoxs.

    Cultura poder, eu j escrevi sobre isso. E cada vez mais a cultura tam-

    bm uma questo de classe. Enquanto o Ferrz e o Brown estavam

    longe da ordem do dia eles eram bons... Agora no! Cada vez mais o Hip

    Hop tem crescido, e quanto mais cresce mais dio de classe trar sobre

    ns. De meros consumidores nos tornamos produtores. Conseguimos

    vencer os obstculos cotidianos e garantir que na periferia do Pas in-

    teiro a Cultura se faa viva como nunca antes a zeram. E no s com o

    Hip Hop, mas com o Teatro, a Literatura, a Dana e por a vai toda a be-

    leza da arte e da cultura. Gente como o Mirisola tem medo de que ns

    possamos enm conhecer gente como o Marco Antnio e o seu bels-

    simo Othelo, ou possamos enm ouvir o que o Teatrlogo Reinaldo

    Maia tem a dizer. O Mirisola no um caso isolado, muita gente igual

    a ele quer nos tomar fora o direito de produzir Cultura.

    Mas ao nal de tudo isso eu peo calma com ele, no podemos nos

    aborrecer diante de coisas assim. Pois pra mim as coisas que ele escreve

    j soam como as pegadinhas do Joo Klber, que de extremo mau gos-

    to e desrespeito se propem vanguarda, contestadoras e coisas legais

    desse tipo, mas no passaro de cpia mal feita de uma mistura triste e

    vazia de Charles Bukowski, Paulo Francis e Rita Cadilac.

    Enm, ele virou assunto, tema. Algum agora vai procurar seus livros,

    e que ele aproveite bem o seu momento. Deve ele estar contente com

    isso tudo pois enm a vez do ruminante.

    Marco Antonio Rodrigues compe o ncleo diretor do Grupo Folias DArte, junto com Reinaldo Maia e Dagoberto Feliz. Dirigiu a pea Othelo, de William Shakespeare. um dos pioneiros do Movimento Arte contra a Barbrie em So Paulo, que rene grupos e personalidades do teatro paulista e cuja atuao j criou uma lei municipal de fomento ao teatro.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO30

    2. Agora responda oralmente, com seus colegas, as questes que se seguem:

    a) Com quem o autor do texto conversa no primeiro pargrafo do texto?

    b) A conversa assume uma perspectiva de concordncia ou discordncia?

    c) Ainda no primeiro pargrafo do texto, o autor arma que h uma contradio no

    discurso de determinadas pessoas ligadas aos segmentos artstico-culturais. Que

    contradio essa?

    d) Anal, qual a posio do autor frente armao de que preciso haver uma

    ampliao do campo de viso e de manifestaes culturais? Ele concorda ou dis-

    corda dessa idia? (Considere para a sua resposta o que o autor diz no primeiro e

    no antepenltimo pargrafo do texto.)

    e) No segundo pargrafo e no incio do terceiro, o autor faz uma crtica cultura

    televisiva. Que crtica essa? Voc concorda com ela? Justique.

    f) No antepenltimo pargrafo, o autor arma De mero consumidores nos torna-

    mos produtores (de cultura). O que ele quis dizer com isso? Quais interesses ele

    denuncia com essa armao?

    g) Ao longo de sua argumentao, na qual critica Marcelo Mirisola, o autor cita vrias

    pessoas ligadas msica ou ao movimento hip hop: Edvaldo Santana, Racionais-

    Brown, Ferrz. Voc conhece o trabalho dessas pessoas? Qual sua opinio sobre o

    trabalho delas?

    h) O autor ainda cita dois teatrlogos ligados ao Movimento Arte contra a Barbrie.

    Como voc entende o nome desse movimento? Nessa perspectiva, qual pode ser

    uma das funes da arte na nossa sociedade?

    i) De acordo com todo o artigo, voc considera que o autor foi convincente nas cr-

    ticas que fez a Marcelo Mirisola e na sua inteno, expressa no ttulo, de defender

    o hip hop? Justique.

    j) Para alguns educadores, a principal nalidade da escola mdia deveria ser propor-

    cionar experincias culturais signicativas para os alunos. O que voc pensa sobre

    isso? Como isso poderia ser feito?

    k) Por m, d sua opinio: a escola deve, em nome da ampliao do universo cultural

    de seus alunos, trabalhar com obras clssicas da literatura, das artes plsticas e da

    msica? Por qu? Debata essa questo com seus colegas.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 31

    ATIVIDADE 6 ORGANIZADORES TEXTUAIS

    1. Leia as frases abaixo, prestando ateno nas palavras em destaque, que podem ser chamadas de organizadores textuais:

    Gosto de dar carona, pois isso pode ser perigoso.

    Gosto de dar carona, mas isso pode ser perigoso.

    Qual das duas frases poderia ter sido dita por uma pessoa que gosta de aventura, de

    emoo, enm, uma pessoa que gosta de viver perigosamente?

    2. Qual das alternativas abaixo lhe parece a mais correta?

    Os organizadores textuais so palavras ou expresses que relacionam uma parte

    do texto com a outra, sem interferir no sentido geral do texto.

    Os organizadores textuais so palavras ou expresses que relacionam uma parte

    do texto com a outra e tm um papel importante na denio do sentido geral

    do texto.

    3. Leia com ateno os perodos abaixo e inclua os organizadores textuais em destaque nas colunas adequadas, de acordo com a funo que desempenham em cada perodo,

    usando um quadro semelhante ao que se segue:

    Introduz argumento Acresce argumentos Introduz concluso Introduz uma idia na direocontrria do que armado antes

    No se pode de maneira simplista armar que o brasileiro no gosta de ler, pois preciso considerar que muitos deles ainda hoje no tm acesso a livros e outros

    tantos nem sequer sabem ler.

    As msicas eram de mau gosto, o bolo estava seco, a bebida, quente. Em suma, a festa foi um fracasso.

    O lme no muito bom. A fotograa escura demais, o roteiro est cheio de

    falhas de continuidade. Alm disso, os atores trabalham muito mal.

    A bebida alcolica diminui a capacidade do homem de responder imediatamente

    aos estmulos do mundo externo. Portanto, no se deve dirigir alcoolizado.

    Criar condies de desenvolvimento econmico o melhor modo de ajudar po-

    pulao carente. Entretanto, muitos governantes preferem implementar polticas assistencialistas.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO32

    No Egito antigo a cerveja era considerada a bebida nacional. Os egpcios acredita-

    vam que ela possua propriedades curativas, especialmente contra picadas de es-

    corpio. A bebida tambm era utilizada como produto de beleza pelas mulheres, que acreditavam em seus poderes de rejuvenescimento.

    A reserva de vagas para estudante de escolas pblicas no resolve a questo, como

    tambm no assegura que os beneciados sejam os mais pobres, uma vez que no h na proposta corte por renda. No improvvel que estudantes menos qualica-

    dos de classes mais abastadas migrem para o ensino pblico visando beneciar-se

    da cota. (Editorial, Folha de S.Paulo, 30/5/2004)

    O ambiente era bastante hostil, porm muitos animais sobreviviam l.

    O Brasil uma nao jovem, posto que 42,1% da populao tem menos de 18 anos.

    4. Indique qual dos organizadores textuais abaixo so mais adequados para cada lacuna do texto8:

    portanto alm disso tambm pois

    Texto 1

    A habitao um dos gran-

    des problemas dos centros

    urbanos. No preciso an-

    dar muito por uma cidade

    como So Paulo para que

    vejamos favelas precrias

    e pessoas dormindo na rua

    ou embaixo de pontes e

    viadutos.

    A melhor soluo para esse

    problema a construo

    de prdios populares de

    apartamentos, _____________________ os edifcios custam menos do que as casas e pos-

    sibilitam que um nmero maior de pessoas possa morar num mesmo terreno.

    _____________________, com a construo de prdios, h uma economia na instalao

    de redes de esgoto e de luz e os gastos podem ser divididos.

    preciso considerar _____________________ que edifcios possibilitam mais segurana

    por um preo menor, pois os gastos podem ser divididos por todos os moradores.

    _____________________, ainda que alguns arquitetos defendam a construo de casas

    populares, a forma mais econmica de resolver o problema da moradia a construo

    de prdios de apartamentos.

    8. Atividade retirada de Barbosa, J. (2002). Carta de Solicitao/Reclamao, seqncia didtica elaborada para o Programa PEC-Formao Universitria, SEE-SP, CENP, USP, PUC-SP, UNESP.

    Conjunto habitacional Santa Etelvina, Zona Leste, So Paulo, 27.07.1998

    RO

    GER

    IO M

    ON

    TEN

    EGR

    O/E

    DIT

    OR

    A A

    BR

    IL

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 33

    Assim Finalmente Em segundo lugar Em primeiro lugar

    Texto 2

    O problema da falta de moradia dos grandes centros urbanos no pode ser resolvido

    com a construo de mais prdios.

    _____________________, porque a existncia de muitos prdios diculta a disperso

    dos poluentes do ar que, nas cidades grandes, j esto presentes em grandes quan-

    tidades.

    _____________________, porque um grande nmero de edifcios impede que os raios de

    sol iluminem as casas das pessoas, o que no faz bem para a sade, alm de aumentar

    o consumo de energia eltrica, que o pas tem de economizar.

    _____________________, um grande nmero de pessoas morando em um mesmo local

    acarreta uma necessidade maior de transportes, o que contribui para piorar o trnsito de

    veculos na cidade.

    _____________________, o problema de habitao que as grandes cidades possuem deve

    ser resolvido com a construo de casas populares, e no com o aumento do nmero

    de edifcios.

    Vamos agora aprofundar um pouco o estudo do signicado dos organizadores textuais

    com os quais voc trabalhou.

    5. Vejamos, com mais calma, o uso das expresses mas, porm, contudo, todavia, entretanto, no entanto, que so chamadas de conjunes adversativas. Essas conjun-

    es introduzem idias que vo na direo contrria do que se estava armando. Alm

    disso, seu uso faz com que uma das idias (aquela que vai no sentido pretendido pelo

    produtor do texto) seja destacada, ressaltada.

    a) Em qual das duas oraes se enfatiza mais o fato de Maria ser feinha?

    Maria feinha, mas superlegal.

    Maria superlegal, mas feinha.

    b) Voc diria que o autor da frase a seguir a favor ou contra a pena de morte?

    Um assassino algum que cometeu um crime gravssimo e, por isso, merece ser

    castigado. Mas conden-lo pena de morte seria cometer um erro na tentativa de

    reparar um outro anterior.

    c) Escolha uma das alternativas. Os dois exemplos anteriores mostram que:

    quando usamos uma conjuno do tipo mas a idia que vem depois da

    conjuno a que ressaltada.

    quando usamos uma conjuno do tipo mas a idia que vem antes da conjuno

    a que ressaltada.

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO34

    6. Compare:

    Apesar da legalizao da posse de terras ser uma medida necessria para a concre-tizao da reforma agrria, ela est longe de ser suciente: preciso tambm que se

    criem condies para que essas terras se tornem produtivas e rentveis.

    Embora a legalizao da posse de terras seja uma medida necessria para a concre-tizao da reforma agrria, ela est longe de ser suciente: preciso tambm que se

    criem condies para que essas terras se tornem produtivas e rentveis.

    Agora reita: a diferena na maneira de redigir traz diferena de sentido para os perodos?

    7. Leia a nota abaixo, publicada na revista Veja de 28 de abril de 1999. Identique os organi-zadores textuais que nela aparecem e indique que funo/signicado tm nesse contexto.

    Viva o povo brasileiro O pas tem fama de no cuidar da ecologia. Vide as queimadas na Amaznia. Alm disso,

    em reciclagem de vidros o Brasil foi reprovado num ranking do Instituto Worldwatch.

    Assim, parece soar estranho o pas bater recorde mundial em reciclagem de latas. De

    cada 100 latinhas de bebida, 65 voltam para a indstria. que h 125 000 brasileiros

    suando na coleta de latas usadas. Esse exrcito de subempregados embolsou 80 milhes

    de dlares em 1998.

    preciso considerar que nem sempre esses organizadores textuais aparecem explicita-

    mente nos textos. Leia o exemplo que se segue:

    Nosso apelo para que [O MST] no se desvie da lei. E nossa advertncia elite gover-

    nante brasileira a de que no mais possvel conter os anseios por mudanas na eco-

    nomia. Sem contedo social, a democracia apenas abstrao jurdica, e no o regime

    da maioria. Roberto Busato (Folha de S.Paulo, 4/4/2004)

    Ao longo do texto escrito por Roberto Busato, o autor tenta analisar conitos ocorridos

    entre governo e MST, procurando levar em conta os dois lados da questo. Nesse trecho,

    retirado do ltimo pargrafo do texto, o autor faz um alerta aos dois lados. Depois do

    Acampamento de sem-terra na fazenda So Joo, Teodoro Sampaio, SP, 19.04.2001

    EVEL

    SON

    DE

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    TAS/

    FOLH

    A IM

    AG

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  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO 35

    alerta ao governo em no mais possvel conter os anseios por mudanas na economia,

    o autor tece ainda a seguinte considerao: Sem contedo social, a democracia apenas

    abstrao jurdica, e no o regime da maioria. A relao posta entre essas duas arma-

    es pode ser vista da seguinte forma:

    O governo deve propor mudanas na economia

    (que levem em conta questes sociais) tese

    dado que ou pois organizador textual implcito

    sem contedo social, a democracia apenas abstrao

    jurdica, e no o regime da maioriaArgumento

    Assim, analisando dessa forma, pode-se dizer que a segunda armao serve de argu-

    mento para a primeira.

    8. Leia os dois trechos abaixo procurando exemplicar o tipo de relao entre as partes do texto, explicitando o que este implcito. Desenhe, para cada trecho, um esquema

    semelhante ao anterior, exemplicando essa relao.

    Trecho 1

    Economias como a americana e a japonesa tm poucos encargos sobre a folha de

    pagamentos. Nesses pases, o desemprego baixo. Na Europa, o desemprego me-

    nor na Inglaterra, onde a legislao tambm foi exibilizada. E alto na Frana e na

    Alemanha, que mantm a rigidez. Essa deciso, tomada pelo Senado brasileiro por 51

    votos contra 23, a primeira mudana efetiva na engessada legislao trabalhista que

    vem do governo Getlio Vargas.

    (Artigo publicado na Folha de S.Paulo de 31/1/1998, de autoria de Elcio lvares, senador do PFL pelo Esprito Santo e lder do governo no Senado. Foi ministro da Indstria e do Comrcio do governo Itamar Franco.)

    Trecho 2

    (...) As opinies governamentais sugerem que, nos pases de industrializao tardia

    em que houve desregulamentao do mercado de trabalho, as taxas de desemprego

    mantm-se em nveis aceitveis e baixos. Argentina e Espanha, pases com congura-

    es econmicas semelhantes do Brasil, tornaram-se lderes mundiais da exibilizao

    trabalhista e do desemprego.

    Na Espanha, a reforma trabalhista teve incio em 1984. O desemprego, em 12 anos, saltou

    de 18% para 24% (dados da Fundacin Formacin y Empleo). Na Argentina, a exibiliza-

    o dos contratos de trabalho comeou em 1990 e foi at o nal de 1995. O desemprego

    nesse perodo saltou de 3,6% para 21%.

    (Artigo publicado na Folha de S.Paulo de 31/1/1998, de autoria de Kjeld Jakobsen, secretrio de relaes internacionais da Central nica dos Trabalhadores, diretor da Organizao Regional Interamericana de Trabalhadores da Central Internacional de Organizaes Sindicais Livres e secretrio-geral da Coordenadoria de Centrais Sindicais do Cone Sul.)

  • ENSINO MDIO EM REDE SEQNCIA DIDTICA ARTIGO DE OPINIO36

    ATIVIDADE 7 TIPOS DE ARGUMENTO

    1. Leia os trechos a seguir, identique a idia ou tese que o autor quer de-fender e indique qual argumento o autor usa para defender sua opinio.

    Trecho 1

    Nos pases que passaram a ter a pena de morte prevista no cdigo pe-

    nal os Estados Unidos so um exemplo disso no houve uma diminui-

    o signicativa do ndice de criminalidade. Donde podemos concluir

    que a existncia legal da pena de morte no inibe a criminalidade.

    Trecho 2:

    Toda atitude racista deve ser denunciada e combatida, posto que fere

    um dos princpios fundamentais da Constituio brasileira.

    Trecho 3

    A reduo dos impostos sobre o preo dos carros IPI e ICMS uma

    medida que pode ajudar a combater o desemprego, pois, reduzindo o

    preo, as vendas tendem a crescer, o que provoca um aumento da pro-

    duo, o que por sua vez garante os empregos.

    Trecho 4

    A funo principal da escola mdia no deve ser a preparao especia-

    lizada para o trabalho e, ao contrrio do que se possa pensar, essa no

    uma idia recente. No sculo passado, Einstein j se opunha idia

    de que a escola devesse ensinar conhecimento ou tcnicas especcas

    que uma pessoa fosse utilizar mais tarde na sua vida. Considerava que

    as exigncias da vida so muito variadas para que a escola pudesse

    dar conta delas. Armava ser contra tratar um indivduo como ferra-

    menta morta e considerava, portanto, que a escola deveria ter como