Irrigação da Cultura da Cebola 37 -...

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ISSN 1415-3033 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 37 Irrigação da Cultura da Cebola Circular Técnica Brasília, DF Dezembro, 2005 Autor Waldir A. Marouelli Eng. Agríc., PhD Embrapa Hortaliças C. Postal 218 70359-970, Brasília, DF [email protected] Édio L. Costa Eng. Agríc., MSc EPAMIG-CTNM, C. Postal 12 39440-000, Porteirinha/MG [email protected] Henoque R. Silva Eng. Agr., PhD Embrapa Hortaliças, [email protected] Introdução A cebola (Allium cepa L.) é a terceira hortaliça em importância econômica no Brasil, com uma área colhida de 67 mil hectares e produção de 1,16 milhão de toneladas. Apresenta também grande valor socia-econômico, sendo que mais de 60 mil famílias têm a produção de cebola como principal atividade. Os principais estados produtores são Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul, onde se concentram cerca de 75% da produção nacional. Outros estados produtores são Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Paraná. A produção em Pernambuco e Bahia está concentrada nos perímetros irrigados do Submédio São Francisco, enquanto em Minas Gerais encontra-se nas regiões do Alto Paranaíba e Norte de Minas. O cultivo da cebola é totalmente realizado com o uso da irrigação, com exceção da região Sul. Todavia, a área irrigada nesta região vem aumentando, em razão do incremento de produtividade e menor risco de perda da produção. Lavouras adequadamente irrigadas em Santa Catarina apresentam até 150% de aumento de rendimento; ademais, os bulbos são superiores em tamanho e formato, têm melhor aspecto visual e conservação pós-colheita. Enquanto a produtividade média nacional está em torno de 16 t ha -1 , cultivos irrigados têm rendimentos acima de 25 t ha -1 . Bons produtores de São Paulo e Minas Gerais têm obtido entre 40 e 60 t ha -1 . Na região do Alto Paranaíba, MG, produtores que utilizam o sistema de alta densidade de plantio em semeadura direta e irrigação por pivô central têm alcançado até 90 t ha -1 .

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ISSN 1415-3033Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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Irrigação daCultura da Cebola

Circular

Técnica

Brasília, DF

Dezembro, 2005

Autor

Waldir A. MarouelliEng. Agríc., PhD

Embrapa HortaliçasC. Postal 218

70359-970, Brasília, DF [email protected]

Édio L. CostaEng. Agríc., MSc

EPAMIG-CTNM, C. Postal 1239440-000, Porteirinha/[email protected]

Henoque R. SilvaEng. Agr., PhD

Embrapa Hortaliças,[email protected]

Introdução

A cebola (Allium cepa L.) é a terceira hortaliça em importância econômicano Brasil, com uma área colhida de 67 mil hectares e produção de 1,16milhão de toneladas. Apresenta também grande valor socia-econômico,sendo que mais de 60 mil famílias têm a produção de cebola comoprincipal atividade.

Os principais estados produtores são Santa Catarina, São Paulo e RioGrande do Sul, onde se concentram cerca de 75% da produção nacional.Outros estados produtores são Pernambuco, Bahia, Minas Gerais eParaná. A produção em Pernambuco e Bahia está concentrada nosperímetros irrigados do Submédio São Francisco, enquanto em MinasGerais encontra-se nas regiões do Alto Paranaíba e Norte de Minas.

O cultivo da cebola é totalmente realizado com o uso da irrigação, comexceção da região Sul. Todavia, a área irrigada nesta região vemaumentando, em razão do incremento de produtividade e menor risco deperda da produção. Lavouras adequadamente irrigadas em SantaCatarina apresentam até 150% de aumento de rendimento; ademais, osbulbos são superiores em tamanho e formato, têm melhor aspecto visual econservação pós-colheita.

Enquanto a produtividade média nacional está em torno de 16 t ha-1,cultivos irrigados têm rendimentos acima de 25 t ha-1. Bons produtores deSão Paulo e Minas Gerais têm obtido entre 40 e 60 t ha-1. Na região do AltoParanaíba, MG, produtores que utilizam o sistema de alta densidade deplantio em semeadura direta e irrigação por pivô central têm alcançadoaté 90 t ha-1.

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Sistema de Irrigação

Vários sistemas podem ser utilizados para airrigação da cultura da cebola, cada qualapresentando características próprias, custosvariáveis, vantagens e desvantagens. No Brasil,a cebola é irrigada, principalmente, pelossistemas por aspersão, seguido pelos sistemaspor superfície. O gotejamento praticamente nãotem sido utilizado em razão do estreitoespaçamento entre linhas de plantio encarecerdemasiadamente o custo do sistema.

Irrigação por Aspersão

Mesmo em regiões que tradicionalmenteutilizam sistemas por superfície, a aspersãovem sendo adotada como uma alternativa para,dentre outros fatores, garantir maiorprodutividade e melhor qualidade de bulbo,facilitar o manejo da irrigação, aumentar aeficiência do uso de água e reduzir o uso demão-de-obra.

Dentre os sistemas por aspersão, oconvencional é o mais utilizado, notadamentenas regiões Sul e Sudeste. Os aspersores maisusados são os de impacto com raio de alcanceaté 20 m. Em grandes áreas, a exemplo doestado de Minas Gerais, o pivô central vemsendo utilizado com sucesso. Nos últimos anos,alguns produtores têm optado por sistemasfixos de microaspersão e do tipo Santeno®

(tubos de polietileno com orifícios de 0,3 mm dediâmetro).

Conforme estudos realizados pela EmbrapaSemi-Árido, a irrigação por aspersão possibilitaincrementos médios de produtividade da ordemde 20%, em relação ao sistema por sulco, a150%, em relação ao sistema tradicional porinundação temporária. A eficiência do uso deágua pela cultura (massa de bulbos produzido/massa de água aplicada) nos sistemas poraspersão pode ser até duas vezes maior queno sulco, três vezes maior que na inundaçãoem bacias com camalhões e seis vezes maiorque na inundação em bacias simples.

Irrigação por Superfície

Por não molharem a parte aérea das plantas, ossistemas de irrigação por superfície minimizamdoenças da parte aérea. Podem, por outro lado,favorecer doenças de solo.

No Brasil, os sistemas por superfície maisutilizados para cebola são por inundaçãotemporária em bacias e por sulco,principalmente por pequenos produtores daregião Nordeste. Na irrigação por inundação aágua é aplicada em pequenas bacias ouquadras, com tamanho variável conforme o tipode solo, condições topográficas edisponibilidade de água.

O sistema tradicional por inundação temporáriaem bacias simples foi até alguns anos atrás omais utilizado no Vale do São Francisco. Dentreos problemas causados por esse sistema está oexcesso de umidade no colo da planta, aocorrência de doenças de solo e a reduçãodrástica da produtividade e da qualidade debulbos, notadamente em solos de textura fina.Tais problemas são agravados pelo pequeno

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intervalo entre irrigações (3 a 5 dias)normalmente adotado pelos produtores.

O sistema por inundação em bacias comcamalhões, uma variação do sistematradicional, reduz os problemas de aeração edoenças de solo, possibilitando um incrementode produtividade entre 100% e 150% emrelação ao sistema tradicional. Tem adesvantagem da alta demanda de mão-de-obra, dada a impossibilidade de mecanizaçãopara a construção dos camalhões dentro dasbacias.

A irrigação por sulco, relativamente ao sistematradicional por inundação, possibilitaincrementos de produtividade entre 50% e100%; já com relação ao sistema por inundaçãoem bacias com camalhões, o incremento éligeiramente inferior. Por outro lado, os sulcospodem ser construídos mecanicamente,reduzindo o uso de mão-de-obra. Requer,todavia, topografia com declive natural uniformeou sistematizada e solos com boa infiltraçãolateral.

Irrigação por Gotejamento

No sistema por gotejamento há menorocorrência de doenças da parte aérea por nãomolhar a folhagem, além de pouco interferir naspráticas culturais.

Muito embora alguns estudos não tenhamconstatado incremento de produtividade decebola sob irrigação por gotejamento,comparativamente à aspersão, outros têmdemonstrado que ganhos podem seralcançados. Ganhos em produtividade têm sidoatribuidos ao fato do gotejamento ser capaz demanter tanto a umidade quanto a fertilidade dosolo relativamente constantes e próximas aoótimo requerido pela cultura, sem provocarproblemas de aeração. Adicionalmente, aeficiência de uso de água pela cebola irrigadapor gotejamento é maior que nos demaissistemas.

Apesar das vantagens que o sistema oferece, ogotejamento não tem sido utilizado na culturada cebola no Brasil, com exceção empequenas áreas de observação. Mesmo em

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outros países, o sistema tem sido poucoutilizado. A principal limitação é o alto custo porunidade de área, que pode chegar a quatrovezes o da aspersão.

Para o uso do gotejamento, as linhas deirrigação e os gotejadores devem serespaçados de modo que se forme uma faixamolhada contínua ao longo da linha de plantio.Como regra geral, pode-se adotar umespaçamento entre gotejadores de 10 a 20 cmpara solos de textura grossa, de 20 a 30 cmpara textura média e de 30 a 50 cm paratextura fina. Para sistema de cultivo emcanteiros com largura de 100 a 120 cm, podemser necessárias de 2 a 3 linhas de gotejadorespor canteiro.

Associação da Irrigação com Doenças

A cebola é uma cultura sensível ao déficithídrico, necessitando de boa disponibilidade deágua no solo para seu desenvolvimento. Noentanto, excesso de água, aliado a altastemperaturas, é prejudicial, favorecendo aincidência de patógenos e reduzindo ocrescimento e, como conseqüência, aprodução.

Existe uma relação entre doenças na cultura dacebola e a forma de aplicação da água.Embora isso seja uma verdade, a maioria dosagricultores irrigam de forma inadequada,geralmente em excesso.

O uso de cultivares adaptadas à região,associadas a métodos de irrigação adequadosa cada tipo de solo e topografia, pode reduzir aincidência de doenças, bem como, aumentar aprodutividade.

Algumas das principais doenças de solo emáreas de cebola irrigada em excesso e/ou comdrenagem inadequada são: tombamento demuda (Rhizoctonia solani; Pythium spp.;Fusarium spp.), antracnose foliar(Colletotrichum gloeosporioides), podridãobasal (Fusarium oxysporum) e podridão mole(Erwinia carotovora). A antracnose foliar ou mal-

de-sete voltas é o principal problemafitossanitário da cebola no Brasil, ocorrendodesde a sementeira até o armazenamento debulbo. As podridões mole e basal (fusariose)também podem causar grandes perdas nocampo e durante o armazenamento. Já otombamento de muda (damping off) podeocasionar baixa densidade de plantas, nosistema de semeadura direta, ou baixorendimento de mudas.

Dentre os sistemas de irrigação superficial, opor inundação temporária, em bacias ouquadras simples, é o que mais favorece aincidência de doenças de solo, como aantracnose, considerada um dos principaisproblemas da cebola em áreas que utilizamesse sistema de irrigação.

Mesmo nos sistemas por aspersão, o agricultordeve evitar a formação de pontos deencharcamento, os quais freqüentemente setransformam em focos de disseminação emultiplicação de doenças de solo. Dentre asprincipais causas de encharcamento tem-se:vazamentos e desuniformidade de distribuiçãode água, drenagem deficiente, depressões nosolo e áreas compactadas por máquinas eimplementos.

A aspersão, especialmente em regime de altafreqüência, favorece condições de elevadaumidade na folhagem, podendo aumentar aincidência de doenças da parte aérea, como:mancha púrpura (Alternaria porri), queima daspontas ou mofo cinzento (Botrytis ssp.),podridão aquosa (Burkholderia gladioli pv.allicola) e míldio (Peronospora destructor). Asdoenças da parte aérea são favorecidas porinjúrias nas folhas, sejam mecânicas oucausadas por tripes (Thrips tabaci), que, napresença de umidade, provocam ferimentosque funcionam como “porta de entrada” parafungos e bactérias.

A água de irrigação pode servir de veículo nadisseminação de várias doenças. Assim, oconhecimento da origem e da qualidade daágua é importante, pois o escorrimentosuperficial da água de chuva ou de irrigação

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por um campo infectado pode contaminarfontes de água superficiais ou subterrâneas àjusante.

Necessidade de Água das Plantas

A necessidade total de água da culturadepende das condições climáticas e do cicloda cultivar, variando de 350 a 650 mm. Anecessidade aumenta proporcionalmente aocrescimento das plantas, atingindo o máximono estádio de bulbificação e diminuindo no dematuração.

Embora a cebola seja sensível ao déficit hídrico,requerendo disponibilidade adequada de águano solo e irrigações freqüentes para seu bomrendimento, o excesso pode ser igualmenteprejudicial, favorecendo a incidência dedoenças, reduzindo o crescimento e,consequentemente, a produção e a qualidadede bulbos.

A duração do ciclo da cultura depende dacultivar, do clima e do sistema de plantio,variando de 100 a 210 dias, como no caso decultivares tardias plantadas na região Sul emque o ciclo pode durar até 210 dias. Em termosde necessidade de água, o período decrescimento pode ser dividido em quatroestádios: inicial, vegetativo, bulbificação ematuração.

Existem no Brasil quatro sistemas de produçãode cebola: transplante de mudas, semeaduradireta, bulbinho e soqueira. O transplante demudas é o sistema mais utilizado,principalmente pelos produtores do sul do país.As mudas são produzidas em sementeiras(canteiros), onde se deve ter especial cuidadocom a irrigação. A semeadura direta está emexpansão em São Paulo e Minas Gerais. Já osmétodos do bulbinho e da soqueira sãoutilizados principalmente para a produção decebola na entressafra, em algumas regiões deSão Paulo.

Produção de MudasQuando em combinação adequada com osdemais tratos culturais, a irrigação possibilita a

obtenção de mudas de alta qualidade e maiorvigor. Tanto quanto a falta, o excesso de águaé prejudicial para as mudas. O local dasementeira deve apresentar solo com excelentedrenagem natural e água de irrigação de boaqualidade, pois fontes contaminadas podemtransmitir doenças às mudas ainda emformação.

Embora a produção de mudas sejatradicionalmente realizada em canteiros nocampo, há produtores produzindo em bandejasde 288 células. Neste caso, deve-se teratenção especial com a irrigação. O transplanteé realizado entre 30 e 60 dias após asemeadura, quando as mudas apresentam 0,5a 0,7 cm de diâmetro e 18 a 20 cm de altura.

Estádio Inicial

Dependendo do sistema de plantio, o estádioinicial compreende o período que vai dasemeadura, do transplante das mudas, doplantio de bulbinhos ou do plantio de bulbosrefugos (sistema de soqueira) até oestabelecimento inicial das plantas (10% docrescimento vegetativo).

O solo deve ser previamente irrigado,independentemente do sistema de plantioutilizado. A semeadura em solo seco esubseqüente irrigação proporcionam, quasesempre, problemas de estande e crescimentodesigual das plantas. Imediatamente após otransplante das mudas, deve-se realizar umairrigação para, além de disponibilizar água àsmudas, eliminar bolsões de ar em torno dasraízes.

Até a emergência das plântulas, brotação dosbulbinhos ou durante o período de pegamentode mudas, no sistema de transplante, deve-sefornecer água por meio de irrigações leves efreqüentes, procurando manter a camada até20 cm de profundidade com umidade na faixaentre 70% e 100% da água disponível no solo.Após a emergência das plântulas ou dopegamento das mudas, deve-se aumentarligeiramente o intervalo entre irrigações e aprofundidade de molhamento do solo, paraestimular o crescimento radicular, em

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profundidade e lateralmente.Um dos grandes desafios da semeadura diretaé a obtenção de adequada germinação dassementes e emergência das plântulas,sensivelmente dependentes da uniformidade eda disponibilidade de água no solo. Há umdecréscimo direto da germinação com aredução da umidade do solo a partir dacapacidade de campo. Por outro lado,irrigações em excesso favorecem maiorincidência de doenças de solo que causam otombamento de mudas e, da mesma forma quea deficiência hídrica, comprometem o estande.

Estádio Vegetativo

O estádio vegetativo compreende o períodoentre o estabelecimento inicial das plantas e oinício da bulbificação. Nesse estádio, asplantas são menos sensíveis à falta de águaque nos estádios inicial e de bulbificação.Todavia, irrigações deficitárias podem acarretarreduções significativas de produtividade,mesmo que o suprimento de água no estádioseguinte seja adequado. Portanto, sobcondições de disponibilidade limitada de água,deve-se optar por maximizar a produção porunidade de área em detrimento do aumento daárea cultivada.

Plantas com crescimento luxuriante, devido aofornecimento de água e nitrogênio em excesso,além de ter a duração do ciclo estendido, estãomais sujeitas ao ataque de pragas e doenças.

Estádio de Bulbificação

O estádio de bulbificação, ou de formação debulbos, se prolonga até o início da maturação,sendo o período onde se verifica o máximo nívelde demanda de água pelas plantas. O estádiode bulbificação, juntamente com o período depegamento de mudas, são os mais sensíveis aodéficit hídrico.

A deficiência de água, particularmente duranteo período de rápido crescimento do bulbo,reduz drasticamente o rendimento e o tamanhodo mesmo. Já a manutenção do solo úmido,sem excessos, otimiza o crescimento das raízesem favor de um maior crescimento do bulbo.

Por outro lado, irrigações e adubaçõesnitrogenadas em excesso podem favorecer oengrossamento demasiado do pseudocaule(pescoço-grosso), prejudicando a conservaçãodos bulbos e induzindo maior susceptibilidadeàs doenças foliares.

Estádio de Maturação

Nesse estádio, compreendido entre o início damaturação dos bulbos e a colheita, há umasensível redução no uso de água pelas plantas(20% a 30% menor que no estádio debulbificação), devendo as irrigações sergradualmente reduzidas até sua completaparalisação. O primeiro sinal deamadurecimento é o tombamento dopseudocaule (estalo), seguindo-se o secamentoda parte aérea da planta.

Condições de clima quente e seco, assim comoa paralisação das irrigações em época correta,favorecem a obtenção de bulbos de melhorqualidade. O excesso de água durante amaturação torna os bulbos aquosos e combaixa capacidade de conservação. Irrigaçõesou chuvas próximas da colheita reduzem o teorde matéria seca, sólidos solúveis e a pungênciados bulbos, além de aumentar as perdas porapodrecimento durante o armazenamento ecomercialização.

Manejo da Água de Irrigação

Para a obtenção de alta produtividade e bulbosde qualidade, a cultura necessita de umsuprimento controlado e freqüente de água,particularmente durante o estádio debulbificação. O controle da irrigação éimportante para evitar que excessos ou déficitsde água prejudiquem a atividade fisiológica dasplantas e não favoreçam a ocorrência dedoenças.

Vários são os métodos para o manejo racionalda irrigação. Os mais precisos requeremavaliação do nível de água no solo e/ou docálculo da evapotranspiração da cultura (Etc)em tempo real, além de equipamentos epessoal qualificado para fazê-lo. A seguir são

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apresentados parâmetros relacionados àsnecessidades hídricas da cebola quepossibilitam o manejo por métodos como o datensão e do balanço de água no solo, os quaissão descritos em detalhe no livro “Manejo dairrigação em hortaliças”, publicado pelaEmbrapa Hortaliças.

Sementeira

Antes da semeadura, o canteiro deve serirrigado até o solo atingir a umidade entre 80%e 100% da água disponível no solo naprofundidade até 30 cm. Da semeadura até 5 a10 dias após a emergência, as irrigaçõesdevem ser leves e freqüentes, sendodependentes do tipo de solo e condiçõesclimáticas. Em geral, irrigar duas vezes por dia,uma pela manhã e outra pela tarde; sobcondições de clima ameno e solo com altacapacidade de retenção de água, umairrigação por dia pode ser suficiente. Com ocrescimento das mudas, irrigar a cada 1 ou 2dias, sempre no período da tarde, evitando-seexcesso ou falta de água. A partir da Tabela 1pode-se estabelecer a freqüência de irrigaçãoconforme o tipo de solo e a evapotranspiraçãode referência (ETo).

Para aclimatação e rustificação das mudas,visando maior resistência às etapas de

transporte e transplante no campo, algunsprodutores suspendem as irrigações entre 2 e 4dias antes do transplante. Entretanto, antes dotransplante, os canteiros devem ser irrigadosabundantemente para facilitar o arranque dasmudas com o máximo volume de raízes,favorecendo seu pegamento. Para minimizar orisco de déficit hídrico às mudas, algunsprodutores fazem o corte das folhas antes dotransplante.

Estádio Inicial

Antes da semeadura ou do transplante dasmudas, deve-se irrigar o suficiente para elevar aumidade do solo entre 80% e 100% dacapacidade de campo, na camada até 30 cm.Dependendo do tipo e da umidade do solo, alâmina líquida de água a ser aplicada variaentre 10 e 15 mm para solos de textura grossae entre 20 e 40 mm para os de texturas média efina. No caso de irrigação por gotejamento, alâmina deve ser fracionada durante 2 a 3 diaspara induzir a formação da faixa molhada.

No estádio inicial, as irrigações devem ser feitasa cada 1 a 2 dias, podendo, em casos de altaevapotranspiração e solo com baixacapacidade de retenção de água (texturagrossa), ser necessário duas irrigações por dia.Valores de turno de rega, conforme o tipo de

Tabela 1. Sugestão de turno de rega (dias) durante a formação de mudas em sementeira e o estádioinicial de desenvolvimento da cultura da cebola, e número de dias para se paralisar as irrigações poraspersão antes da colheita, conforme o tipo de solo e a evapotranspiração de referência (ETo).

* Considerar o menor turno de rega para o período entre a semeadura e 10 dias após a emergência.

Fonte: Marouelli et al. (2001).

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solo e a ETo, são fornecidos na Tabela 1.Durante esse estádio, a evapotranspiração dacultura (ETc) depende principalmente daevaporação de água da superfície do solo, aqual é função da fração de solo umedecidosuperficialmente, da freqüência de irrigação eda demanda evapotranspirativa da atmosfera.

Estádios Vegetativo, Bulbificação eMaturação

É possível utilizar diferentes critérios para adeterminação do momento correto de se irrigare da quantidade de água a aplicar por irrigaçãona cultura da cebola. No manejo da irrigaçãopelo método da tensão da água no solo, asirrigações devem ser realizadas quando atensão atingir valores entre 7 e 15 kPa parasolos arenosos e entre 20 e 40 kPa para solosde textura média e fina, a fim de maximizar orendimento de bulbos. Os menores valoresdevem ser utilizados como limite de tensãodurante o estádio de bulbificação. No sistemade gotejamento, considerar a faixa de tensãoentre 7 e 15 kPa. A avaliação da tensão érealizada a 50% da profundidade efetiva dosistema radicular, por meio de sensores, comotensiômetros, instalados entre as linhas deplantio.

Nos métodos de balanço de água no solo eturno de rega, o fator de disponibilidade deágua no solo (f) recomendado para a cultura dacebola, na irrigação por aspersão, varia de 0,25a 0,30 para solos de textura fina e ETo acima

de 6 mm dia-1, e de 0,45 a 0,50 para solos detextura grossa e ETo abaixo de 4 mm dia-1. Parairrigação por sulco considerar-se um fator dedisponibilidade entre 0,40 e 0,60, e paragotejamento, entre 0,15 e 0,25.

Os valores de coeficiente de cultura (Kc),necessários para a determinação da ETc nosdiferentes estádios fenológicos da cebola, sãoapresentados na Tabela 2. Nota-se que, noestádio inicial, Kc é dependente do sistema deirrigação e da freqüência de irrigação. Trata-sede valores médios, podendo requerer ajustespara condições específicas de cultivo. No casode cultivo mínimo (semeadura ou transplante demuda em palhada), por exemplo, os valores deKc devem ser reduzidos para compensar oefeito da palhada em diminuir a evaporação daágua do solo. Durante o estádio inicial, o efeitoda palhada é maior, podendo ser necessárioreduzir o valor de Kc entre 25% e 50%; duranteo estádio de maturação a redução é menor (5%a 15%).

A decisão do momento de se irrigar com baseem observações visuais de sintomas dedeficiência de água na planta, além da difícildeterminação no campo, pode acarretarredução significativa de rendimento. Arealização da irrigação com base naidentificação visual da ocorrência de déficithídrico moderado, caracterizado pela perda deturgidez e tonalidades de verde mais escurodas folhas, pode acarretar uma queda de

Tabela 2. Coeficiente de cultura (Kc) para os diferentes estádios de desenvolvimento da cultura

da cebola, conforme o sistema de irrigação.

1 Caso de semeadura direta (turno de rega TR ≥ 3 dias). Para TR = 1 dia, usar Kc = 1,05; TR = 2 dias, usar Kc = 0,85.2 Para transplante de mudas usar Kc = 0,85.

Obs.: No caso de produção de mudas, em sementeira (Estádio 0), adotar Kc = 1,05.

Fonte: Adaptado de Santos (1997), Allen et al. (1998) e Marouelli et al. (2001).

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rendimento da ordem de 25%. Por outro lado,se as irrigações são realizadas quando asplantas apresentam sintomas visuais de déficithídrico severo, ou seja, murchamento dasextremidades foliares e predominância decoloração verde-acinzentado, a queda podechegar a 60%, com comprometimento daqualidade dos bulbos.

Necessidade de Lixiviação de Sais

A cultura da cebola é muito sensível àsalinidade. O máximo rendimento esperadoocorre a uma condutividade elétrica do extratode saturação do solo de até 1,2 dS m-1. Paracondutividade de 1,8 dS m-1 a redução derendimento é da ordem de 10%; para 4,3 dS m-1

de 50%; e para 7,5 dS m-1 de 100%.

Em regiões áridas e semi-áridas,principalmente, a água de irrigação pode sersalina e prejudicar a cultura. Sob taiscondições, deve-se aplicar uma fraçãoadicional de água, a cada irrigação, para lixiviaro excesso de sais e prevenir a salinização dosolo. Para irrigação por aspersão e superfície,pode-se utilizar a seguinte relação:

em que:

LR = fração de lixiviação requerida (decimal);CEa = condutividade elétrica da água deirrigação (dS m-1).

Para águas com baixa salinidade (CEa < 0,7 dSm-1), não é necessário aplicar água delixiviação, ou seja, considerar LR = 0. Nasregiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o risco desalinidade é praticamente inexistente.

Paralisação das Irrigações

As irrigações devem ser suspensas quando osbulbos apresentarem máximo crescimento, oque, dependendo da cultivar, tipo de solo eclima, ocorre de uma a duas semanas antes dacolheita. Essa prática evita a entrada de águano pseudocaule da cebola e permite rápidadessecação da parte aérea e maturação dos

bulbos, melhorando suas condições de cura ede conservação. O corte de água previne aindaque as raízes recomecem a crescer.Alguns produtores determinam o momento deparalisar as irrigações apertando opseudocaule (pescoço) da planta entre osdedos, estabelecendo o critério de 50% deplantas com pescoço macio como limite decorte. Sugestão de época de paralisar asirrigações é apresentada na Tabela 1.

Método Simplificado de Manejo

A seguir é apresentado um procedimentosimplificado que permite programar,antecipadamente, quando e quanto irrigar, semo requerimento de equipamentos ou decálculos complicados. Os intervalos entreirrigações (turnos de rega) e as lâminas deágua, para cada estádio da cultura, sãodeterminados conforme as condiçõesclimáticas médias da região (dados históricosde temperatura e umidade relativa do ar), tipode solo e profundidade efetiva do sistemaradicular das plantas. Para melhorcompreensão o procedimento seráapresentado simultaneamente a um exemploprático.

O método é útil para técnicos e produtores compouca experiência ou que irrigam de formaempírica, com base apenas no senso prático.Não é indicado para aqueles que já irrigam deforma adequada, por meio de tensiômetros e/outanque de evaporação tipo Classe A.

Exemplo: Determinar o turno de rega e o tempode irrigação a cada estádio fenológico dacultura da cebola para a seguinte condição:· Região: Petrolina, PE· Sistema de produção: transplante de mudas· Data da semeadura: 15 de fevereiro· Ciclo da cultura: 130 dias· Solo: classe textural franco-argilo-arenoso· Água: condutividade elétrica de 0,1 dS m-1

· Clima: dados históricos fornecidos a seguir· Sistema de irrigação: aspersão convencional· Intensidade de aplicação de água (I

a): 15,0

mm h-1

LR = CEa15 – CEa

10 Irrigação da Cultura de Cebola

Passo 1: Estabelecer a duração de cada estádio de desenvolvimento da cultura.

Solução do exemplo

Passo 2: Determinar, pela Tabela 2, o coeficiente de cultura (Kc) para cada estádio dedesenvolvimento das plantas.

Solução do exemplo

Na Tabela 2, para irrigação por aspersão e sistema de transplante de mudas, obtém-se: Kc (0) =1,05; Kc(1) = 0,85; Kc(2) = 0,85; Kc(3) = 1,05; Kc(4) = 0,75.

Passo 3: Determinar, pela Tabela 3, a ETo a partir de dados históricos de temperatura e umidaderelativa média do ar disponíveis na região.

Estes dados podem, muitas vezes, ser obtidos nos escritórios locais de extensão rural, prefeiturasou, em última instância, em mapas climatológicos disponíveis no livro “Irrigação por aspersão emhortaliças” da Embrapa Hortaliças.

Tabela 3. Evapotranspiração de referência (mm dia—1) conforme a umidade relativa (URm) e

temperatura média histórica do ar.

Fonte: Marouelli et al. (2001).

Solução do exemplo

Por interpolação na Tabela 3 obtém-se:

11Irrigação da Cultura de Cebola

Passo 4: Determinar a ETc para cada estádio de desenvolvimento pela equação:

EToKcETc ×=em que:

ETc = evapotranspiração da cultura (mm dia-1);Kc = coeficiente de cultura (adimensional);ETo = evapotranspiração de referência (mm dia-1).

Solução do exemplo

Passo 5: Determinar a profundidade efetiva do sistema radicular (Z) para os estádios 2, 3 e 4 dacultura.Para fins de irrigação, a profundidade efetiva é aquela onde se concentram cerca de 80% dasraízes. Em termos gerais, a profundidade efetiva é de 20 a 30 cm no estádio 2 e de 35 a 40 cm nosestádios 3 e 4. Como a profundidade das raízes varia conforme a textura, estrutura e fertilidade dosolo, dentre outros fatores, é recomendável fazer uma avaliação visual das raízes no próprio localde cultivo, por meio da abertura de uma trincheira perpendicular à fileira de plantas.

Solução do exemplo

Observações visuais, realizadas num campo de cebola na safra anterior, indicaram as seguintesprofundidades: 25 cm no estádio 2 e 35 cm nos estádios 3 e 4.

Passo 6: Determinar a textura do solo.Dentre os fatores que afetam a capacidade de armazenamento de água do solo (estrutura, tipo deargila, teor de matéria orgânica etc.), a textura é um dos mais importantes. Para fins de uso dométodo de manejo simplificado, a caracterização do solo é feita de acordo com a textura, a partirda classe textural, como a seguir:

· Textura fina: franco-argilo-siltoso, franco-argiloso, argila arenosa, argila siltosa, argila, muitoargiloso.

· Textura média: franco, franco-siltoso, franco-argilo-arenoso, silte (Obs.: solos de cerrado detextura fina devem ser considerados, para efeito dos cálculos de irrigação, como de texturamédia).

· Textura grossa: areia, areia franca, franco-arenoso.

Muitas vezes, o produtor dispõe da classe textural do solo por se tratar de um requerimento dealguns bancos para o financiamento agrícola. Caso não disponível, a análise pode ser realizada apreços acessíveis na maioria dos laboratórios de análise química do solo.

12 Irrigação da Cultura de Cebola

Solução do exemplo

Solo com classe textural franco-argilo-arenosa será considerado como de textura média.

Passo 7: Determinar o turno de rega (TR) para cada estádio da cultura.Para a produção de mudas em sementeira e durante o estádio inicial, o turno de rega édeterminado na Tabela 1, conforme a ETo e o tipo de solo. Para os demais estádios fenológicos, éobtido na Tabela 4, a partir da ETc, tipo de solo e profundidade efetiva das raízes.

As Tabelas 1 e 4 foram desenvolvidas para sistemas de irrigação por aspersão. Para irrigação porsulco, o turno de rega pode ser estimado como sendo cerca de 40% maior que aquele determinadopara a aspersão, enquanto para gotejamento cerca de 70% menor.

Solução do exemplo

Para solo de textura média obtém-se nas Tabelas 1 e 4:

Tabela 4. Turno de rega (dia) para a cultura da cebola irrigada por aspersão, nos estádios vegetativo,bulbificação e maturação, conforme a evapotranspiração da cultura (ETc), profundidade radicular etextura do solo.

Obs.: Valores intermediários podem ser obtidos por interpolação; o valor obtido deve ser arredondado para baixo.

Fonte: Adaptado de Marouelli et al. (2001).

13Irrigação da Cultura de Cebola

Passo 8: Determinar a lâmina de água real necessária a ser aplicada a cada irrigação pela equação:

LRN = TR x ETc

em que:

LRN = lâmina de água real necessária (mm).

Solução do exemplo

Passo 9: Determinar a eficiência de irrigação (Ei) proporcionada pelo sistema.A eficiência de irrigação engloba, principalmente, a desuniformidade com que a água é distribuídana área irrigada. Depende do dimensionamento hidráulico e da manutenção do sistema e, no casoda aspersão, das condições climáticas, notadamente o vento. Valores aceitáveis para sistemas poraspersão convencional variam entre 65% e 80%; para pivô central e gotejamento entre 75% e 90%e para sulco entre 50% e 60%. Na prática é comum encontrar sistemas operando com eficiênciaabaixo da aceitável. A avaliação e a manutenção do sistema devem ser realizadas, no mínimo, acada dois anos.

Solução do exemplo

Para um sistema convencional adequadamente dimensionado, numa operação sob condiçõesde vento fraco (< 2 m s-1), considera-se uma eficiência de 70% (Ei = 0,70).

Passo 10: Determinar a necessidade de lixiviação de sais (LR).

Solução do exemplo

Para água com CEa = 0,1 dS m-1, portanto, CEa < 0,7 dS m-1 a fração de lixiviação requerida éLR = 0.

Passo 11: Determinar a lâmina de água total necessária a cada irrigação.

em que:

LTN = lâmina de água total necessária (mm);Ei = eficiência de irrigação (decimal).

Solução do exemplo

Para Ei = 0,70 e LR = 0, tem-se:

LTN = LRNEi x (1 – LR)

14 Irrigação da Cultura de Cebola

Passo 12: Calcular o tempo de irrigação.Para aspersão convencional é determinado por:

em que:

Ti = tempo de irrigação (min);Ia = intensidade de aplicação dos aspersores (mm h-1).

Solução do exemplo

Para Ia = 15,0 mm.h-1, tem-se:

A intensidade de aplicação de água de sistemas por aspersão varia com o diâmetro de bocais,pressão de serviço e espaçamento entre aspersores. Essas informações podem ser obtidas decatálogos técnicos de fabricantes de aspersores ou em testes de campo.Para se fornecer a lâmina total de irrigação utilizando o sistema por pivô central, deve-se selecionara velocidade de deslocamento, em percentagem de tempo, através do percentímetro localizado nopainel de controle do mesmo.

No sistema por sulco, o tempo de irrigação é igual ao tempo necessário para a água atingir o finaldo sulco mais o tempo gasto para infiltrar a lâmina de água requerida pelas plantas (LRN). Ocomprimento dos sulcos e a velocidade de infiltração de água são dependentes do tipo de solo,sendo recomendada a sua avaliação em testes de campo.

Ti = 60 x LTNIa

15Irrigação da Cultura de Cebola

Passo 13: Estabelecer a época de paralisação das irrigações a partir da Tabela 1 e/ou critério de50% de plantas com “pescoço” macio.

Solução do exemplo

Pela Tabela 1, para solo de textura média e ETo = 3,3 mm dia-1, a última irrigação deve ocorrercerca de 10 dias antes da colheita.

Fertirrigação

A aplicação de fertilizantes solúveis via água deirrigação é uma prática ainda muito poucodifundida entre os produtores de cebola noBrasil. Por permitir maior parcelamento nasaplicações e melhor incorporação dosfertilizantes no solo, minimiza perdas porvolatilização e lixiviação, e possibilita, via deregra, maior eficiência no uso de nutrientespelas plantas.

A princípio, o fornecimento de fertilizantes viaágua pode ser realizado por qualquer sistemade irrigação. A condição determinante é que aágua seja aplicada com uma uniformidademínima de 70%. Dentre os sistemas poraspersão, o pivô central é o mais apropriado,muito embora sistemas convencionais,adequadamente dimensionados e mantidos,possam ser utilizados.Por razões econômicas e práticas, nem todosos nutrientes necessitam ser parcelados aolongo do ciclo da cultura. Em geral, somente onitrogênio e o potássio são aplicados emcobertura. Devido ao baixo risco de lixiviação eda usual ausência de resposta da cultura aoparcelamento em cobertura, os demais macrose micronutrientes são rotineiramente aplicadosem pré-plantio.

A freqüência de aplicação depende, dentreoutros fatores, do método de aplicação, do tipode fertilizante e do solo. Quando o fornecimentoé convencional, seja manual oumecanicamente, são feitas pelo menos duascoberturas; a recomendação geral é de 1/3 donitrogênio no plantio e o restante parcelado aos20 e 45 dias após o transplante para cultivares

precoces, aos 35 e 55 dias para cultivares deciclo médio e aos 45 e 90 dias para cultivarestardias. Para potássio, aplicar entre 50% e 75%da dosagem total em pré-plantio, entre 10% e25% aos 30, 40 ou 50 dias e entre 15% e 25%aos 55, 65 ou 100 dias após o transplante, paracultivares precoces, de ciclo médio e tardio,respectivamente. No sistema de bulbinho, sãofornecidos 40% em pré-plantio, 20% aos 5 diase 40% aos 25 dias após a brotação (ciclo de 80dias).

A fertirrigação via aspersão permite oparcelamento de nutrientes mais freqüente queno sistema convencional a lanço ouincorporado no sulco, em geral, a cada duas aquatro semanas. Para solos arenosos na regiãoNorte de Minas Gerais, a assistência técnicalocal recomenda que a fertirrigação poraspersão seja realizada em regime de altafreqüência (2 a 3 dias). Para sistemas porgotejamento, a freqüência varia entre uma etrês vezes por semana, muito embora asaplicações possam ser diárias.

Fertilizantes com maior potencial de lixiviação,como os nitrogenados, devem ser aplicadosmais freqüentemente que aqueles com menorpotencial, como os potássicos. Todavia, paranão aumentar o uso de mão-de-obra, e emrazão das principais fontes de nitrogênio e depotássio poderem ser misturadas e aplicadassimultaneamente, geralmente se adota amesma freqüência. Devido a maior capacidadede troca, a freqüência de fertirrigação em solosde textura média e fina pode ser menor que aadotada em solos de textura grossa.Independente do método de fertilização deve-se evitar aplicações de nitrogênio próximas do

16 Irrigação da Cultura de Cebola

final do ciclo da cultura, haja vista que retarda oamadurecimento dos bulbos e maximiza aprodução de bulbos com “pescoço-grosso”.Recomendações para o parcelamento denitrogênio e potássio via fertirrigação, ao longo

do ciclo da cultura da cebola, sãoapresentadas na Tabela 5. A quantidade a seraplicada em cada período é determinada apartir da dosagem total recomendada paracada nutriente.

1 Somente aplicar via água para sistemas por aspersão com eficiência acima de 70%.2 % do ciclo total da cultura (Ex.: 30% eqüivale ao 36o dia de uma cultivar com ciclo de 120 dias).3 Aplicar de forma convencional em pré-plantio 20% do N e 30% do K total recomendado.4 % de nutriente a ser aplicado em cada período em relação à quantidade total.5 Aplicar em pré-plantio 10% do N e 15% do K total recomendado.

Tabela 5. Sugestão para o parcelamento de nitrogênio e potássio via fertirrigação por aspersão egotejamento, ao longo do ciclo da cultura da cebola.

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