ISSN 1519-2938 - condutamedica.com.brcondutamedica.com.br/img/revistas/pdfEdicoes/99.pdf ·...
Transcript of ISSN 1519-2938 - condutamedica.com.brcondutamedica.com.br/img/revistas/pdfEdicoes/99.pdf ·...
CO
ND
UT
Am
édic
a15A
NO
S
®ISSN 1519-2938
ANO
XV l
N0 6
0 l
ABR
IL/M
AIO/
JUN
HO/
2014
n Insuficiência Cardíaca Agravada por Marca-Passo n Síndrome de Guillain Barré com Manifestações Atípicas após Leptospirose n Múltiplas Opacidades em Vidro Fosco com Distribuição Centrolobular em Ambos os Pulmões n Oclusão da Veia Central da Retina por Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídio n Insuficiência Cardíaca Aguda em Paciente com Imunossupressão n Acidente Ofídico Bothrópico n Endocardite Infecciosa em Paciente com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida n Hemorragia Digestiva Baixa por Angiossarcoma Metastático Jejunal
2 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014
Editorial
15 Anos de Conduta® MédicaCom a atual edição, de número 60,
nossa revista completa 15 anos de
existência. É um marco para ser come-
morado, algo raro no mercado editorial
médico, excetuando-se as publicações
oficiais de associações de especialidades.
Ou seja, nossa Conduta® Médica já
pode se considerar uma das mais lon-
gevas publicações da área. E podemos
celebrar, também, o fato de que há 15
anos suas edições vêm saindo rigorosa-
mente no prazo previsto, sem atrasos ou
falhas – o que, em nosso meio, também
se constitui numa raridade.
Enfim, são 60 edições dedicadas ao nosso
leitor, o médico prático, que elegeu o
modelo principalmente baseado em
sessões clínicas e em relatos de casos (um
caminho altamente bem sucedido) para
auxiliar na sua educação médica conti-
nuada. A cada dia que passa assistimos ao
retorno ao modelo de discussão de casos
como método de ensino e atualização
em Medicina. Trata-se de uma “velha
receita”, mas insubstituível quando se
pretende oferecer atualização de boa
qualidade. Observando o cenário da
educação médica, do qual participamos
ativamente e com grande interesse há 37
anos, temos assistido a diversas iniciati-
vas de associações médicas, que vêm ele-
gendo o modelo como primordial dentro
das atividades de educação continuada
que oferecem aos seus membros.
Por isso, não nos surpreendemos com
as inúmeras mensagens recebidas com
elogios à nossa linha editorial e ao ex-
celente material que oferecemos para
a atualização dos colegas nas mais di-
versas especialidades, já que Conduta®
Médica destina-se a médicos de várias
áreas. São as excelentes colaborações
de tantos competentes profissionais
que fazem a substância de nossa revista
agradável ao público médico em geral
e de grande utilidade para todos os seus
muitos leitores fiéis.
Neste número, que marca um ciclo,
nossa revista aproveita para introduzir
pequenas modificações, especialmen-
te elaboradas para tornar sua leitura
ainda mais agradável e útil ao médico,
como algumas alterações de cunho
gráfico-visual e mudanças em colunas
editoriais. Um exemplo é a alteração
da coluna “O Desafio da Imagem”, que
passa a se chamar “Desafio Diagnósti-
co”. Tal mudança permitirá estender a
questão prática do diagnóstico médico
– anteriormente restrito ao campo da
imagem – para outros setores de grande
interesse para o médico prático, como a
interpretação correta dos resultados de
exames laboratoriais e sua ingerência e
correlação com o diagnóstico clínico.
Também nesta edição comemorativa
dos nossos 15 anos de existência, gos-
taríamos de destacar não só, como um
todo, o excelente material para estudo
e atualização, mas especificamente
a publicação, pela primeira vez, de
uma sessão clínica ocorrida no recém-
inaugurado hospital da Unimed-Rio, no
Rio de Janeiro. Trata-se de uma unidade
hospitalar nova, com equipes de alto
padrão profissional, e já despontando
no cenário da saúde de nossa cidade.
Tal sessão clínica se constitui em uma
contribuição importante que recebe-
mos e que esperamos que se repita, nos
Algumas das edições da revista publicadas ao longo de seus 15 anos
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 3
ACESSE NOSSO SITE www.condutamedica.com.br PARA CONHECER NOSSAS EDIÇÕES ANTERIORES
CONDUTA MÉDICA
PROF. DR. GILBERTO PEREZ CARDOSOProfessor Titular do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Ciências Médicas da UFF Doutor em Endocrinologia pela UFRJ Editor da revista Conduta® Médica
SESSÃO CLíNICA
Insuficiência Cardíaca Agravada por Marca-Passo
RELATO DE CASO
Síndrome de Guillain Barré com Manifestações Atípicas após Leptospirose
DESAFIO DIAGNóSTICO
Multiplas Opacidades em Vidro Fosco com Distribuição Centrolobular em Ambos os Pulmões
RELATO DE CASO
Oclusão da Veia Central da Retina por Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídio
SESSÃO CLíNICA
Insuficiência Cardíaca Aguda em Paciente com Imunossupressão
A CONDUTA DO PROFESSOR
Acidente Ofídico Bothrópico
RELATO DE CASO
Endocardite Infecciosa em Paciente com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
RELATO DE CASO
Hemorragia Digestiva Baixa por Angiossarcoma Metastático Jejunal
Se você deseja ver publicada emCONDUTA MÉDICA uma Sessão Clínica de seu Serviço ou um Relato de Caso de sua autoria, entre em contato conosco.Tel. 21-22051587e-mail: [email protected]
de leitores que não têm acesso regular
à publicação impressa, principalmente
radicados em outras cidades – a revista
mantém um site próprio, no endereço
www.condutamedica.com.br, com um
número crescente de visitas, atualmente
já bem superior a 5 mil mensais. Ali o
leitor interessado poderá consultar o ma-
terial integral, gratuitamente, dos números
anteriores da revista, com exceção do que
é lançado no trimestre, que é veiculado
somente na plataforma em papel e é publi-
cado no site apenas depois que o número
seguinte sai da gráfica.
Por fim, queremos deixar aqui, mais
uma vez, nossos agradecimentos à Di-
retoria da Unimed-Rio que, com seu
apoio, e por desde sempre ter acreditado
em nosso projeto, vem contribuindo de-
cisivamente para esta importante ação
de educação médica continuada, não só
atingindo seus cooperados, mas também
a classe médica do Rio de Janeiro e até
mesmo de outros Estados.
Desejando que nossos leitores aprovei-
tem a leitura deste nosso 60º número de
Conduta® Médica, agradecemos a todos
os que, ao longo dos últimos 15 anos,
vêm colaborando para o grande sucesso
deste projeto. n
próximos números, vindo somar-se aos
importantes autores que já colaboram
conosco, pertencentes a diversas insti-
tuições não só do Rio, de Niterói e da
região do Grande Rio, mas também de
outros Estados da Federação, de onde
nos têm chegado relatos de casos e
sessões clínicas assinados por médicos
e professores de acentuada expressão.
Nunca é demais lembrar que Conduta®
Médica se encontra referida na Capes,
no endereço que se acha disponível
no expediente da revista, e também
no Catálogo de Revistas Biomédicas
de Língua Portuguesa da Biblioteca da
Universidade de Lisboa, em endereço
também citado em nosso expediente.
Outro aspecto que merece ser lembrado
é que – atendendo a inúmeros pedidos
Agradecemos a todos os que, durante os últimos 15 anos, vêm colaborando para o grande sucesso deste projeto
4
10
13
14
16
19
22
28
4 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBR/mai/Jun/2014
SESSÃO CLíNICA / CliniCal SeSSion
Insuficiência Cardíaca Agravada por Marca-PassoHeart Failure Aggravated by Pacemaker
RESUMO – Paciente do sexo masculino, 55 anos, admitido por insuficiência cardíaca (IC) descompensada iniciada três meses após implante de marca-passo (MP) dupla câmara devido a bloqueio atrioventricular total. Apresentou dissincronismo atrioventricular e intraventricular. Após ressincronização, teve melhora clínica e ecocardiográfica. Discutiu-se a ação do MP sobre o dissincronismo e sua contribuição para o agravamento da IC. (Conduta Médica 2014-15 (60) 4-8)
aBSTRaCT – 55 year-old male patient, admitted for decompensated heart failure (HF) initiated three months after implantation of dual chamber pacemaker (PM) due to complete atrioventricular block. He presented atrioventricular and intraventricular dyssynchrony. After resynchronization, he had clinical and echocardiographic improvements. It was discussed the action of PM on the cardiac dyssynchrony and its contribution to the worsening of HF. (Conduta Médica 2014-15 (60) 4-8)
DESCRITORES – insuficiência cardíaca; marca-passo artificial; terapia de ressincronização cardíaca
KeY-WoRDS – heart failure; pacemaker, artificial; cardiac resynchronization therapy
PROF. ADEMIR
Boa tarde a todos. Agradeço o convite
para realizar a moderação desta sessão
geral do Hospital Unimed-Rio, cujo
tema é de grande importância – tanto
pela elevada prevalência de insufi-
ciência cardíaca quanto pelo acesso
crescente ao uso de marca-passo.
Convido a Dra. Bruna Velasco para a
apresentação do caso clínico e declaro
aberta a sessão.
DRA. BRUNA
Identificação: Paciente masculino, 55
anos, negro, motorista.
Queixa Principal: “Falta de ar”
História da Doença Atual: Paciente
admitido com quadro de dispneia
aos grandes esforços, ortopneia, disp-
neia paroxística noturna e edema de
membros inferiores iniciado há um mês,
Sessão clínica realizada em 6 de setembro de 2013 no Hospital Unimed-Rio (Rio de Janeiro/RJ)
Apresentadores:Dra. Bruna Velasco de Souza PaesDr. Claudio Vieira de CarvalhoMédicos do Hospital Unimed-Rio
Moderador Convidado:Prof. Dr. Ademir Batista da CunhaProfessor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) Participantes: Dr. Bruno Nunes SilvaDr. Claudio Ribeiro Campos AllãoDr. Luiz Antonio de Almeida CamposDr. Luis Felipe Cícero MirandaDr. Paulo CampanaDr. Pedro NogueiraMédicos do Hospital Unimed-Rio
Dr. Carlos Galhardo JuniorDr. César NascimentoDr. Alexandre Felipe RougeDr. Marco Antonio de MattosDr. Renato Vieira GomesMédicos do Hospital Unimed-Rio e do Instituto Nacional de Cardiologia
relata piora progressiva na semana que
antecedeu a internação no Hospital
Unimed-Rio. Nega precordialgia, febre
ou outros sinais e sintomas.
Estava sob uso contínuo de insulina
NPH, metformina 2.550 mg/dia, losar-
tana potássica 50 mg/dia, hidrocloro-
tiazida 25 mg/dia, sinvastatina 40mg
/dia, amitriptilina, carbamazepina e
pregabalina.
História Patológica Pregressa: Diabé-
tico tipo I, com neuropatia diabética.
Portador de hipertensão arterial. Passou
por implante de marca-passo (MP)
dupla câmara há três meses da interna-
ção devido a bloqueio atrioventricular
total (BAVT).
História Social: Ex-tabagista (cessou
há dois anos).
Exame Físico da Admissão: Pacien-
te lúcido e orientado. Hipocorado
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 5
(+/4+), anictérico, acianótico, taquip-
neico e afebril.
Sinais Vitais: PA= 150 x 90 mmHg;
FC= 98 bpm; FR= 35 irpm.
Aparelho Respiratório: Murmúrio ve-
sicular diminuído nos 2/3 inferiores de
ambos os pulmões. Roncos e estertores
crepitantes basais e bilaterais.
Aparelho Cardiovascular: Ictus cordis
visível, palpável a 2 cm da linha he-
miclavicular esquerda, ritmo cardíaco
regular, em três tempos (B3), bulhas
normofonéticas, sem sopros. Turgência
jugular a 90o.
Abdome: Distendido. Peristalse pre-
sente. Fígado palpável a 4 cm do RCD,
borda romba, indolor à palpação.
Membros Inferiores: Edema bilateral
de membros inferiores (2+/4+), simé-
trico, ascendente, frio e depressível.
Oximetria de Pulso: Saturação de O2=
89% em ar ambiente.
Eletrocardiograma Basal: Ritmo
sinusal. Bloqueio de ramo esquerdo do
3º grau. QRS 120 ms.
Exames de Laboratório: Hemograma
completo, glicemia de jejum, creatinina
e ureia, eletrólitos, fosfatase alcalina e
gama GT, além de marcadores de lesão
miocárdica, todos dentro dos valores
de referência.
Radiografia do Tórax no Leito:
Acentuação do interstício pulmonar
bilateral; proeminência dos hilos
pulmonares; obliteração dos seios
costofrênicos mais evidente à es-
querda; aumento da área cardíaca, e
MP cardíaco com extremidades em
câmaras direitas.
DR. PAULO
O ecocardiograma do paciente mostra
aumento do diâmetro sistólico do
ventrículo esquerdo (VE), movimento
paradoxal do septo interventricular,
moderado a importante comprometi-
mento da função sistólica do VE (às
custas de hipocinesia difusa), fração de
ejeção de 26% pelo método de Simpson
(possivelmente subestimada pela movi-
mentação paradoxal do septo) e fluxo
mitral monofásico, com fusão das ondas
E e A. Também evidencia ventrículo
direito (VD) normocontrátil e de diâ-
metros normais, além de refluxo mitral
leve a moderado e tricúspide leve,
pressão sistólica de artéria pulmonar
estimada em 44 mmHg e veia cava
inferior hiperdistendida.
DR. CÉSAR
Existem três tipos de dissincronismo:
o atrioventricular, o intraventricular
e o interventricular. No paciente em
questão há dissincronismo atrioventri-
cular e intraventricular entre o septo e
a parede posterior do VE.
PROF. ADEMIR
Temos, então, dois caminhos possíveis
na condução no caso: investigar doença
coronariana aterosclerótica e isquemia
subjacente como causa da descompen-
sação da IC, ou atribuir a disfunção ao
dissincronismo e optar pela terapia de
ressincronização.
DR. PEDRO
É preciso ponderar a utilidade e as
limitações da pesquisa de isquemia por
investigação não invasiva, através da
ecocardiografia ou da cintilografia com
estresse farmacológico.
DR. RENATO
Gostaria de comentar que a investi-
gação de isquemia em paciente com
marca-passo possui muitas limitações,
como todos sabem.
DR. ALEXANDRE
É importante lembrar que o paciente
tinha neuropatia diabética e se encon-
trava sob o uso de analgésicos. Esses
fatos poderiam ter mascarado os sin-
tomas típicos de doença coronariana.
DR. CARLOS
Em caso positivo para isquemia mio-
cárdica, qual seria a melhor estratégia
de reperfusão?
PROF. ADEMIR
Em a isquemia sendo importante, eu
optaria pela cirurgia de revascularização
miocárdica. Mas, sendo menos intensa,
escolheria o tratamento percutâneo.
DRA. BRUNA
Apresento aqui a cineangiocoronario-
grafia (figuras 1 a 6) do nosso paciente,
onde foram observadas alterações
importantes como lesão de 80% em
terço médio de artéria descendente
anterior, lesão de 90% em terço médio
de artéria coronária direita e lesão de
70% em terço médio de ramo ventri-
cular posterior. >
6 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014
SESSÃO CLíNICA / CliniCal SeSSion
FIGURAS 1 A 6Cineangiocoronariografia
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 7
FIGURAS 7 E 8Ecocardiograma - análise do fluxo mitral pelo Doppler pulsado, demonstrando inicialmente dissincronismo atrioventricular, caracterizado pela curta duração da diástole no ciclo cardíaco (imagens de antes e depois do implante do ressincronizador)
FIGURAS 9 E 10 Ecocardiograma - corte paraesternal do eixo longo em modo M com análise por Doppler tecidual, demonstrando dissincronismo intraventricular entre paredes opostas, caracterizado pelo atraso da contração da parede ínfero-lateral
>
8 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014
SESSÃO CLíNICA / CliniCal SeSSion
PROF. ADEMIR
Para concluirmos a discussão, faço um
resumo da conduta dos médicos assis-
tentes: frente à ausência de evidências
de isquemia miocárdica significativa e
a constatação de dissincronia, optou-se
pela ressincronização.
DRA. BRUNA
E isso ocorreu porque o paciente em
questão foi enquadrado com classe de
recomendação I e nível de evidên-
cia A pelas Diretrizes Brasileiras de
Dispositivos Cardíacos Eletrônicos
Implantáveis1 e indicação IIa A pela
Atualização da Diretriz Brasileira de
Insuficiência Cardíaca Crônica2 para
terapia de ressincronização.
Lembro que tais diretrizes preconizam
ressincronização aos “pacientes com FE
≤ 35%, ritmo sinusal, IC com CF III ou
IV, apesar de tratamento farmacológico
otimizado, com QRS de 120 a 150 ms
e comprovação de dissincronismo por
método de imagem”.
Para também corroborar tal conduta,
destaco que os estudos COMPANION3
de 2004 e CARE-HF4 de 2005 conclu-
íram pela redução de mortalidade e
internações nos pacientes submetidos
à ressincronização quando comparados
a controles.
Nosso paciente obteve melhora sig-
nificativa da congestão pulmonar e
sistêmica, assim como dos parâmetros
ecocardiográficos. A FE do VE passou
para 48% (figuras 9 e 10).
O caso apresentado tem semelhança
à casuística do estudo BLOCK-HF4
recém-publicado, no qual pacientes
com IC e bloqueio atrioventricular
total (BAVT), quando submetidos ao
implante de MP biventricular, tiveram
menor incidência de eventos combina-
dos que os submetidos ao MP conven-
cional posicionado no VD.
PROF. ADEMIR
Novamente agradeço o convite dos
colegas para moderar esta discussão,
assim como a presença de todos. Por
fim, parabenizo os participantes e dou
por encerrada a sessão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Martinelli Filho M, Zimerman LI,
Lorga AM, Vasconcelos JTM, Rassi
A Jr. Guidelines for Implantable Elec-
tronic Cardiac Devices of the Brazilian
Society of Cardiology. Arq Bras Cardiol
2007;89(6):e210-e238.
2. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG,
Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D,
Rodrigues D, et al. Sociedade Brasileira
de Cardiologia. Atualização da Diretriz
Brasileira de Insuficiência Cardíaca
Crônica - 2012. Arq Bras Cardiol
2012:98(supl. 1):1-33.
3. Bristow MR, Saxon LA, Boehmer
J, Krueger S, Kass DA, De Marco
T, et al. Cardiac-Resynchronization
Therapy with or without an Im-
plantable Defibrillator in Advanced
Chronic Heart Failure. N Engl J Med
2004;350:2140-50.
4. Cleland JGF, Daubert JG, Erdmann
E, Freemantle N, Gras D, Kappen-
berger L, et al. The Effect of Cardiac
Resynchronization on Morbidity and
Mortality in Heart Failure. N Engl J
Med 2005;352:1539-49.
5. Curtis AB, Worley SJ, Adamson PB,
Chung ES, Niazi I, Sherfesee L, et al.
Biventricular Pacing for Atrioventri-
culkar Block and Systolic Dysfunction.
N Engl J Med 2013;368:1585-93. n
Alguns dos participantes da sessão no Hospital Unimed-Rio
Prof. Dr. Ademir Batista da Cunha, moderador convidado
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 9
Os médicos cooperados da Unimed-
Rio elegeram Celso Barros para mais
quatro anos no comando da cooperativa
carioca. A Chapa Unimed Competen-
te, liderada pelo pediatra, recebeu 60%
dos votos (1.599 votos), num processo
eleitoral que contou com a participação
de 2.776 médicos. Celso Barros assumiu
a Unimed-Rio em 1998 e, desde então,
vem liderando o processo de crescimen-
to da organização, que hoje é líder de
mercado no Rio de Janeiro. A votação
aconteceu durante a Assembleia Geral
Ordinária da cooperativa, realizada no
dia 25/2.
“Assumimos a Unimed-Rio com 236
mil clientes, médicos ganhando R$ 23
por uma consulta e praticamente sem
nenhum patrimônio. Hoje, a Unimed-
Rio tem 1,2 milhão de clientes, um
patrimônio de mais de R$ 300 milhões
e pagamos R$ 80,00 por consulta. Dis-
tribuímos aos médicos, apenas no ano
passado, mais de R$ 500 milhões por
serviços prestados. Entre os planos de
médio prazo, planejamos quase dobrar
nossa carteira, atingindo 2 milhões de
clientes até 2018. Os médicos coopera-
dos, que confiaram em nossa capacidade
de gestão e na seriedade com a qual
conduzimos os projetos da cooperativa,
podem esperar um período de ainda
mais prosperidade e expansão”, afirma
Celso Barros.
Cooperados aprovam gestão atual
Em Assembleia Geral, grupo liderado por Celso Barros vence com 60% dos votos
Na ordem do dia também constavam a
prestação de contas de 2013, destinação
de sobras e remuneração da diretoria,
que foram aprovadas pela maioria
dos médicos cooperados presentes.
Novidade na rede própria
Quando o assunto é a sua rede própria
de atendimento, a Unimed-Rio
também segue em ritmo de crescimen-
to. Recentemente, o Grupo anunciou
o lançamento do Centro de Excelência
Oncológica, resultado de uma parceria
com a Oncoclínicas CTO. O CEON
terá capacidade para atender cerca de
70% da demanda de infusão de medi-
camentos e de serviços de radioterapia
de última geração verificadas atual-
mente entre os clientes da Unimed-
Rio no município do Rio de Janeiro.
Inicialmente, a previsão é que a
unidade entre em funcionamento
no primeiro trimestre de 2014 em
um ambiente no Hospital Unimed-
Rio. Em um segundo momento, será
transferida em definitivo para um
prédio próprio com cerca de 1.500
m², ao lado do Hospital Unimed-Rio.
“Esta é uma nova fase e um passo
importante do nosso projeto de verti-
calização. Hoje, já contamos com um
base assistencial forte, com nossos
PA’s, o Hospital, o EPVM e o Centro
de Excelência Física. Agora, perce-
bemos a oportunidade de evoluir a
partir de alianças com parceiros e
avançar nas nossas práticas do con-
trole do autocusto”, destaca Celso
Barros. n
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 9
10 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBR/mai/Jun/2014
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Síndrome de Guillain Barré com Manifestações Atípicas após Leptospirose Guillain Barré Syndrome with Atypical Manifestations after Leptospirosis
Autores:Dra. Clécida Mara Normando RebouçasMédica Residente de Neurologia (R3) do Hospital Universitário Getúlio Vargas / HUGV, da Universidade Federal do Amazonas / Ufam (Manaus/AM)
Dra. Maria de Lourdes de Souza GalvãoMestre em Neurofisiologia, Neurologista e Preceptora da Residência de Neurologia do HUGVNeurologista da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (Manaus/AM)
Dra. Giselle Benevides Monteiro FerreiraMédica Residente de Neurologia (R3) do HUGV
Dr. Daniel Ribeiro ChavesNeurologista do Serviço de Neurologia do HUGV
Dr. Massanobu TakataniMestre e Neurologista Coordenador do Serviço de Neurologia do HUGV
RESUMO – A relação entre síndrome de Guillain Barré (SGB) e leptospirose é pouco compreendida. Acredita-se que seu mecanismo seja decorrente da produção de anticorpos séricos contra antígenos dos nervos periféricos. Há raros casos publicados na literatura médica. Relatamos o caso de um paciente jovem que apresentou grave síndrome de Guillain Barré, com tetraparesia e oftalmoplegia após infecção assintomática por bactéria do gênero Leptospira. O relato chama a atenção pela apresentação de SGB num paciente com forma assintomática da leptospirose, apresentação neurológica pouco frequente e exuberante. (Conduta Médica 2014-15 (60)10-12)
aBSTRaCT – The relationship between Guillain Barré syndrome (GBS) and leptospirosis is poorly understood. It is believed that its mechanism is due to the production of serum antibodies against antigens of peripheral nerves. There are rare cases published in the medical literature. We report the case of a young patient who presented severe Guillain Barré syndrome, with tetraparesis and ophthalmoplegia after asymptomatic infection by bacteria of the genus Leptospira. The report draws attention to the presentation of GBS in a patient with asymptomatic form of leptospirosis, a less frequent neurological presentation. (Conduta Médica 2014-15 (60) 10-12)
DESCRITORES – síndrome de Guillain Barré; leptospirose; oftalmoplegia
KeY-WoRDS – Guillain Barré syndrome; leptospirosis; ophthalmoplegia
INTRODUÇÃO
A síndrome de Guillain Barré (SGB)
é uma doença aguda caracterizada por
paralisia motora flácida ascendente,
com sintomas sensoriais mínimos,
acompanhada ou não de paralisia de
pares cranianos [1].
Cerca de 70% dos casos relatam uma
doença aguda infecciosa que precedeu
o quadro até seis semanas antes. A gas-
troenterite por Campylobacter jejuni é a
mais comum (32%), seguida de infecções
de vias aéreas superiores e outros fatores
[1,2]. Existem relatos isolados de infecção
por bactérias do gênero Leptospira [3].
A leptospirose é uma doença infecciosa
epidêmica prevalente em vários países,
e cuja infecção resulta de exposição à
urina de mamíferos portadores, com
contaminação direta do solo ou água.
As manifestações neurológicas são
infrequentes e, quando presentes,
variam desde meningite asséptica
(mais comum) a encefalite, cerebelite,
distúrbios do movimento, sangramento
intracraniano, mielite, mielorradiculo-
patia, paralisia facial e SGB [4].
A relação entre a SGB e a leptospirose
não está bem compreendida. Acredita-
se que o mecanismo seja semelhante ao
das demais doenças infecciosas, ou seja,
anticorpos séricos contra antígenos dos
nervos periféricos [3]. Há raros casos
publicados na literatura médica.
RELATO DO CASO
Homem, 29 anos, natural e procedente
de Manaus (AM), apresentou-se no De-
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 11
partamento de Emergência desta cidade
com queixa de intensa fraqueza mus-
cular de início em membros inferiores,
com rápida ascendência para membros
superiores – que o deixou tetraplégico
em 24 horas. Seguiu-se ainda a esse
quadro diplopia, fotofobia e inconti-
nência urinária. Negava comorbidades.
Quando indagado sobre antecedentes
epidemiológicos, referia que havia se
exposto a inundação no bairro onde
morava por um período relativamente
longo (cerca de oito horas). Negava in-
fecções respiratórias ou gastrointestinais
nos dois meses prévios.
EXAME FíSICO
Ao exame físico, o paciente se apresen-
tava lúcido, vigil, acamado, eupneico,
normocorado e hidratado. Seus sinais
vitais eram FC 89 bmp, 24 irpm, tax
36,5o. A ausculta cardíaca era rítmica
e regular, sem sopros. Apresentava
abdome flácido, indolor, sem massas ou
visceromegalias. O exame neurológico
demonstrava pupilas isocóricas e fo-
torreagentes, ptose palpebral à direita,
semiptose à esquerda e oftalmoplegia,
além de diparesia facial (ver figura 1A),
escala RDC força grau 0 globalmente,
reflexos profundos ausentes nos quatro
membros, e sensibilidade superficial e
profunda preservada, sem nível sen-
sitivo. Diante do quadro, postulou-se
como principal hipótese diagnóstica a
síndrome de Guillain Barré.
EXAMES COMPLEMENTARES
Exames laboratoriais básicos (hemogra-
ma, ureia, creatinina, sódio, eletrólitos e
transaminases) não demonstraram qual-
quer irregularidade. As sorologias para
HIV, hepatite B e C, HTLV, Epstein
Barr e Campilobacter jejuni resultaram
negativas. Havia sorologia IgG positiva
para CMV e IgM negativa. O teste Elisa
(IgM) para leptospirose foi positivo,
mas a espécie e o sorotipo não foram
determinados. A análise do líquido ce-
falorraquidiano (LCR) demonstrou 10
células e 339 proteínas após a primeira
semana de início dos sintomas. Diante
da alta suspeição clínica e da gravidade
do quadro, indicou-se a administração
venosa de imunoglobulina humana 0,4
mg/kg/dia durante cinco dias.
A eletroneuromiografia, realizada na ter-
ceira semana de internação, demonstrou
lesão de natureza primariamente desmie-
linizante, caracterizada por diminuição
da velocidade de condução motora, sem
comprometimento sensitivo.
EVOLUÇÃO
Durante internação clínica de 30 dias, o
paciente não apresentou disautonomias
nem complicações clínicas. Obteve
um discreto ganho de força muscular
dos membros superiores (RDC grau 1).
Recebeu alta para prosseguir com reabili-
tação e acompanhamento ambulatorial.
Um ano depois houve importante
recuperação, embora ainda apresen-
tasse sequela motora, caracterizada por
fraqueza muscular distal dos membros
superiores (força grau 4) e atrofia de
primeiro músculo interósseo bilateral
predominante na mão direita. Feliz-
mente houve excelente recuperação
da força dos membros inferiores e dos
déficits de pares cranianos (figura 1B).
DISCUSSÃO
A síndrome de Guillain Barré (SGB)
é uma doença aguda caracterizada por
paralisia motora flácida ascendente,
com sintomas sensoriais mínimos,
acompanhada ou não de paralisia de
pares cranianos. Cerca de 70% dos
casos relatam uma doença aguda in-
fecciosa que precedeu o quadro até seis
semanas antes. A gastroenterite por
Campylobacter jejuni é a mais comum
(32%), seguida de citomegalovírus, >
FIGURA 1APaciente no sétimo dia do início dos sintomas da SGB. Note a diparesia facial, predominando em hemiface D, com ptose palpebral assimétrica, olhar fixo e inexpressivo devido à paralisia oculomotora
FIGURA 1BPaciente um ano após o diagnóstico, com completa recuperação da expressão facial e movimentos oculares
12 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014
Epstein Barr, vírus da hepatite A, B ou
C, HIV, influenza e Mycoplasma pneu-
moniae. Gravidez, imunização e cirurgia
também são mencionadas [2]. Há casos
relatados no contexto de lúpus erite-
matoso sistêmico, doença de Hodgkin
e linfoma e H1N1, além de bactérias
do gênero Leptospira, sendo a principal
espécie identificada a Leptospira inter-
rogans, sorovare icterohemorrageae [3].
O diagnóstico da doença é baseado
em critérios clínicos e laboratoriais,
amparados pela eletroneuromiografia,
que confirma a natureza desmielinizante
da doença [5]. Citologia e bioquímica
do líquido cefalorraquidiano são im-
prescindíveis para confirmar a doença,
com a clássica dissociação albumino-
citológica presente em até 80 % dos
casos a partir da segunda semana. A
fisiopatogenia da enfermidade está
relacionada à formação de anticorpos
séricos contra antígenos dos nervos pe-
riféricos em algumas das apresentações
clínicas, mas, na maioria dos casos, os
anticorpos não foram identificados [6].
A relação entre SGB e leptospirose foi
demonstrada em poucos relatos de caso
na literatura, e o mecanismo responsável
pelo desenvolvimento da síndrome de
SGB após leptospirose continua incerto.
Presume-se que haja efeito direto da
leptospirose e lesões imunomediadas no
sistema nervoso central e periférico [7].
Uma vasculite difusa durante e após a fase
inicial da doença é vista como responsá-
vel pela maioria das síndromes neuroló-
gicas, enquanto complexos autoimunes
circulantes poderiam estar associados
com outras síndromes observadas na fase
imune da doença. Em um relato de caso,
foram encontrados anticorpos antigan-
gliosídeo anti-GD1 e anti-GM1[8].
As manifestações neurológicas da leptos-
pirose são variadas e pouco frequentes:
meningite asséptica, encefalite, cerebe-
lite, distúrbios do movimento, sangra-
mento intracraniano, mielite, mielorra-
diculite, paralisia facial e SGB-like. Sua
apresentação neurológica mais comum
é a meningite asséptica, que ocorre na
fase imune da doença, dura poucos dias
a semanas, resolve-se espontaneamente e
tem bom prognóstico. O acometimento
de nervos periféricos é raro[4].
A apresentações SGB-like têm na
maioria dos casos prognóstico favorável,
com resolução em três a seis semanas
[3,4]. Entre os casos descritos na lite-
ratura, as manifestações foram típicas,
ou seja, paralisia flácida ascendente.
Nosso paciente apresentou um quadro
dramático, com sintomas pouco comuns,
como a oftalmoplegia e ptose. Tais sin-
tomas são infrequentes na SGB (5%),
e não há nenhum caso descrito até o
momento secundário a leptospirose. Já o
envolvimento do nervo facial é comum,
ocorrendo em 50% a70% dos casos e
sendo bilateral em 1/3 dos pacientes [9].
CONCLUSÃO
A relação entre SGB e leptospirose é rara.
Neste relato, a história epidemiológica
do paciente e o afastamento de outros
agentes etiológicos prováveis, bem como
a sorologia da fase aguda positiva para
leptospirose, nos levam a supor que esse
tenha sido o fator desencadeante da SGB.
Este caso chama a atenção por alguns
aspectos. Em primeiro lugar, pela única
apresentação de SGB num paciente com
forma assintomática da leptospirose des-
crita até o momento. Em segundo, pela
apresentação neurológica exuberante
do quadro neurológico, que evidenciou
paralisia facial bilateral e paralisia com-
pleta da motricidade extraocular, sendo
esta última incomum na SGB.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL. Síndrome de Guillain-
Barré: protocolo clínico e diretrizes te-
rapêuticas. Ministério da Saúde, 2009.
2 . Hughes RA, Cornblath DR.
Guillain-Barré syndrome. Lancet;
366(9497):1653-66, 2005.
3. Bal AM, et al. Guillain-Barré syn-
drome in a pediatric patient following
infection due to Leptospira. Jpn. J.
Infect. Dis.(56): 29-31, 2003.
4. Panicker R. Mammachan R.
Jayakumar V. Primary neuroleptospi-
rosis. Post Grad Med J 77, 2001.
5. Vucic S, Kiernan MC, Cornblath DR.
Guillain-Barré syndrome: an update. J
Clin Neurosci. 2009;16(6):733-41.
6. Hadden RDM; Hughes ACM .
Management of inflammatory neuropa-
thies. J Neurol Neurosurg Psychiatry.74
(Suppl 2):9-14, 2003.
7. Mumford C, Dudley N, Terry H. Lep-
tospirosis presenting as a flaccid paraple-
gia. Postgrand Med J 1990; 66-218-20;
8. Lepur D; Himbele J; Klinar I; Vran-
jican Z; Baršić B. Anti-ganglioside
antibodies-mediated leptospiral me-
ningomyeloencephalopolyneuritis.
Scandinavian Journal of Infectious
Diseases 39(5) 472-475, 2007.
9. Ropper AH. The Guillain Barre
syndrome. N Engl J Med 1992; 26 (3)
:1130–1136. n
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 13
Desafio Diagnóstico
Analise os dados e as imagens fornecidos e procure chegar ao diagnóstico.A resposta e os comentários se encontram nas páginas 26 e 27.
Paciente do sexo masculino, 24 anos, com quadro agudo de dispneia, tosse e hemoptise, apresentando
Múltiplas Opacidades em Vidro Fosco com Distribuição Centrolobular em Ambos os Pulmões Case report of a 24 year-old man, with acute dyspnea, cough and hemoptysis, presenting Ground-Glass Opacities of Peripheral Distribution in Both Lungs
RESUMO - Paciente masculino, 24 anos, iniciou quadro agudo de dispneia, tosse e he-moptise. Tabagista há sete anos (14 maços/ano) e usuário de drogas. (Conduta Médica 2014-15 (60) 13;26-27)
aBSTRaCT - Male patient, 24 years old, that developed acute dyspnea, cough and hemoptysis. He has been a smoker for seven years (14 packs / year) and a drug addict. (Conduta Médica 2014-15 (60) 13;26-27)
DESCRITORES - dispneia; tosse; hemoptise; drogas
KeY-WoRDS - dyspnea; cough; hemoptysis; drugs
D i a g n o S T i C C h a l l e n g e
FIGURA 1Tomografia de tórax em corte transversal evidenciando áreas de opacidades com atenuação em vidro fosco de aspecto nodular e distribuição centrolobular em ambos os pulmões
Autores:Leonardo da Silva CalimanAcadêmico de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) (Niterói - RJ)Prof. Alessandro Severo Alves de MeloProfessor Adjunto do Departamento de Radiologia da UFFDr. Joeber Bernardo Soares de SouzaMédico Assistente do Serviço de Clínica e Pneumologia do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da UFFMédico Pneumologista do Instituto Estadual de Doenças do Tórax Ary Parreiras (Niterói - RJ)Dr. Jorge Luiz BarilloMédico Cirurgião Torácico do Huap/UFFMestre em Cirurgia Torácica pela UFFDr. Roger Vinicius Ancillotti FilhoMédico residente do Serviço de Radiologia do Huap/UFF
14 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBR/mai/Jun/2014
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Oclusão da Veia Central da Retina por Síndrome do Anticorpo AntifosfolipídioCentral Retinian Vein Occlusion by Antiphospholipid Antibody Syndrome
Autor:Dr. Luiz RoismanEx-Fellow e Atual Médico Colaborador do Setor de Retina e Vítreo do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina / EPM-UnifespMédico Plantonista do Pronto-Socorro do Hospital São Paulo (Unifesp)Médico do Setor de Retina e Vítreo do Hospital Federal da Lagoa (MS/RJ)
RESUMO – A síndrome do anticorpo antifosfolipídio (SAF) é um distúrbio vascular sistêmico que leva a eventos tromboembólicos, afetando inclusive os vasos retinianos. É relatado aqui um caso de síndrome do anticorpo antifosfolipídio primária que abriu o quadro com uma oclusão da veia central da retina, no intuito de atentar no diagnóstico dessa doença de importante morbidade. (Conduta Médica 2014-15 (60) 14-15)
aBSTRaCT – The antiphospholipid antibody syndrome (AAS) is a systemic vascular disturbance that results in tromboembolic events, affecting retinian vassels. Here we report a case of primary antiphospholipid antibody syndrome with an occlusion of retinian central vein to show that the correct diagnosis of this disease is very impor-tant. (Conduta Médica 2014-15 (60) 14-15)
DESCRITORES – síndrome do anticorpo antifosfolipídio; oclusão da veia central retiniana; eventos tromboembólicos
KeY-WoRDS – antiphospholipid antibody syndrome; central retinian vein occlusion; tromboembolic events
INTRODUÇÃO
As doenças vasculares da retina não são
comuns em indivíduos jovens, sendo
que mais de 90% dos pacientes têm mais
de 50 anos, e pelo menos 70% dos casos
estão relacionados a hipertensão arterial,
diabetes e aterosclerose (1).
A síndrome do anticorpo antifosfolipídio
(SAF) é um distúrbio vascular sistêmico
que leva a eventos tromboembólicos. Seu
diagnóstico se baseia na história de trom-
bose arterial ou venosa, abortos recorren-
tes e/ou trombocitopenia (2) associada
à detecção de anticorpos que incluem
os anticardiolipinas, o anticoagulante
lúpico, anticorpos contra fosfatidilinosi-
tol, fosfatidilserina e fosfatidiletolamina
entre outros. Os dois primeiros são os mais
comuns (3, 4).
A SAF pode se apresentar isoladamente
– SAF primária –, ou estar associada a
doenças autoimunes, mais comumente o
lúpus eritematoso sistêmico, sendo então
denominada SAF secundária (4).
Apresento um caso de oclusão da veia
central da retina que levou ao diagnóstico
de SAF primária.
RELATO DE CASO
Paciente feminina, 29 anos, procurou
o Pronto-Socorro de Oftalmologia do
Hospital São Paulo com queixa de emba-
çamento visual no olho esquerdo (OE),
Olho direito (A) sem alteração fundoscópica; olho esquerdo (B) com quadro de oclusão da veia central da retina
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 15
de início há três dias. Previamente hígida,
a paciente negava uso de medicações, in-
clusive anticoncepcionais. Apresentava,
ao exame oftalmológico, acuidade visual
de 20/20 no olho direito e conta dedos
a 1 metro no olho esquerdo, associado
a defeito pupilar aferente relativo nesse
olho. Biomicroscopia de segmento an-
terior, pressão intraocular e motilidade
ocular estavam sem alterações. O exame
fundoscópico era característico de oclusão
da veia central da retina no olho esquerdo
e normal no olho direito (figura 1).
Na história pregressa havia uma gestação
bem-sucedida, sem história de aborto. A
paciente negava tabagismo e era etilista
social.
Ao exame físico apresentava mucosas
normocoradas, estando hidratada e eup-
neica. A pressão arterial era de 120 x 70
mmHg, o pulso era 76 bpm, e a tempera-
tura, 36,2oC. Sua frequência respiratória
era de 13/min. Não havia alterações no
restante do exame físico e neurológico.
Realizamos então investigação laborato-
rial, que evidenciou anemia normocítica e
normocrômica, com hematócrito de 32%
e plaquetopenia de 110000. Não havia
alterações no leucograma. O anti-HIV era
negativo, FTA-ABs não reagente, VDRL
reagente com título de 1/2. O PCR era
de 18 mg/dL (é normal até 1mg/dL), e o
VHS, 54 mm (é normal até 20mm). Os
fatores antinuclear e reumatoide se en-
contravam não reagentes. As dosagens de
C3, C4, Anca, antitrombina III, proteína
C e S, fator V de Leiden e homocisteína
estavam dentro da normalidade. Os
anticorpos anticardiolipina IgM e IgG
foram positivos em títulos de 50 e 110
UI/ml, respectivamente (o normal é até
10 UI/ml). O anticoagulante lúpico se
encontrava negativo.
Fechou-se o diagnóstico de SAF primária,
iniciando-se o tratamento com AAS e
varfarina. Hoje a paciente é acompa-
nhada nos ambulatórios de Doenças
Vasculares da Retina e de Reumatologia
da EPM-Unifesp.
DISCUSSÃO
A SAF é uma síndrome autoimune de
hipercoagulabilidade que afeta vasos
venosos e, preferencialmente, arteriais de
grande ou pequeno calibre (1).
A frequência de alterações oculares rela-
cionadas com a síndrome é variável (8 a
88%) e pode ser a primeira manifestação
trombótica. A afecção ocular majoritaria-
mente afeta a vasculatura retiniana, classi-
camente com oclusões venosas e arteriais
retinianas. Outros achados incluem infarto
coroídeo, vasculite, vitreíte, neurite, alte-
ração na motilidade ocular, conjuntivite,
esclerite e uveíte (1).
O mecanismo exato da trombofilia da
SAF é desconhecido. Existem teorias
que envolvem alterações em plaquetas,
células endoteliais, citocinas inflamató-
rias e fatores de coagulação (5-7).
A presença de altos títulos de anticardio-
lipina IgG (>40 UI) é preditor fortemente
relacionado a eventos trombóticos (6).
A trombose pode recorrer em até 70%
dos pacientes com SAF primária, sendo
necessária a anticoagulação sistêmica de
longo prazo (8).
A importância deste relato está no alerta
à classe médica, principalmente oftal-
mológica, da importância da investigação
diagnóstica de vasculopatias retinianas
em pacientes hígidos e/ou jovens. O di-
agnóstico permite o tratamento precoce,
diminuindo a morbimortalidade de graves
doenças sistêmicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Utz VM, Tang J. Ocular manifestations
of the antiphospholipid syndrome. Br J
Ophthalmol 2011; 95:454–459
2. Hughes GRV. Thrombosis, abortion,
cerebral disease and the lupus anticoagu-
lant. BMJ 1983; 287: 1088–1089.
3. Provenzale JM, Ortel TL, Allen NB.
Systemic thrombosis on patients with
antiphospholipid antibodies: lesion dis-
tribution and imaging findings. AJR Am
J Roentgenol. 1998;170(2):285-90.
4. Asherson RA, Merry P, Acheson JF,
Harris EN, Hughes GR. Antiphospholi-
pid antibodies: a risk factor for occlusive
ocular vascular disease in systemic lupus
erythematosus and the ‘primary’ anti-
phospholipid syndrome. Ann Rheum Dis.
1989;48(5):358-61.
5. Levine JS, Branch DW, Rauch J. The
antiphospholipid syndrome. N Engl J
Med. 2002;346(10):752-63. Comment in:
N Engl J Med. 2002;347(2):145-6.
6. Turiel M, Sarzi-Puttini P, Peretti
R, Rossi E, Atzeni F, Parsons W, et al.
Thrombotic risk factors in primary an-
tiphospholipid syndrome: a 5-year pros-
pective study. Stroke. 2005;36(7):1490-4.
7. Beckhauser AP, Arana LA, skare TL.
Antiphospholipid syndrome and bilateral
retinal artery and vein occlusion: case
report. Arq Bras Oftalmol. 2008 Mar-
Apr;71(2):282-5.
8. Khamashita MA, Cuadrado MJ, Mujic
F, et al. The management of thrombosis in
the antiphospholipid-antibody syndrome.
N Engl J Med 1995; 332: 992–997. n
16 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBR/mai/Jun/2014
SESSÃO CLíNICA / CliniCal SeSSion
Insuficiência Cardíaca Aguda em Paciente com ImunossupressãoAcute Heart Failure in a Patient with Immunosuppression
Sessão clínica realizada em 30 de abril de 2013 no Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Antonio Pedro (Huap), da Universidade Federal Fluminense / UFF (Niterói/RJ)
Apresentadora:Dra. Teresa CarboneResidente de Clínica Médica do Huap/UFF
Participantes: Prof. Luiz Otávio MocarzelCoordenador do Serviço de Clínica Médica da UFF
Dra. Julliana Quintas Dra. Raquel Macedo Dr. Pedro GemalResidentes de Clínica Médica do Huap/UFF
Prof. Antonio Alves de CoutoProfessor Titular da Disciplina de Cardiologia da UFF
Prof. Mario Luiz RibeiroProfessor Adjunto da Disciplina de Cardiologia da UFF
Profa. Ana Flávia Malheiros TorbeyProfessora Adjunta da Disciplina de Pediatria da UFF
Carolina Cunto de AthaydeJoão Gabriel Batista LageInternos de Medicina da UFF
RESUMO – Paciente do sexo masculino, branco, de 41 anos, com história de drogadição e imunossupressão, apresenta quadro agudo de insuficiência cardíaca de rápida progressão, típica de cardiomiopatia dilatada, onde a dispneia precede o edema. Sem história familiar de cardiopatia. (Conduta Médica 2014-15 (60) 16-18)
aBSTRaCT – A 41-year-old caucasian man, with history of drug addiction and immunosuppression, presents acute heart failure with rapid progression, similar to dilated cardiomyopathy, which dyspnea precedes the edema. There was no family history of heart disease. (Conduta Médica 2014-15 (60) 16-18)
DESCRITORES – edema; dispneia; cardiopatia
KeY-WoRDS – edema; dyspnea; cardiopathy
PROF. COUTO
Bom dia!
Iniciaremos agora a sessão de hoje, apre-
sentada pela residente de Clínica Médica
Dra. Teresa Carbone.
DRA. TERESA
Bom dia!
Nosso caso clínico é sobre um homem
de 41 anos, assintomático até julho de
2012, que começou a apresentar tosse não
produtiva e sudorese noturna, sem febre.
Após dois meses sem assistência médica,
iniciou quadro de edema de membros in-
feriores ascendente, dispneia progressiva
e dor torácica, evoluindo até anasarca.
Foi internado em outro hospital, sendo
diagnosticadas tuberculose pulmonar e
insuficiência cardíaca, esta sem etiologia
definida.
Era usuário, até a internação, de cocaína,
tabaco e álcool. Permaneceu três meses
internado, com boa evolução clínica
(NYHA III à I). Nessa internação, foi
realizado um ecocardiograma transto-
rácico, que evidenciou miocardiopatia
dilatada, com predomínio de dilatação de
cavidades direitas, com fração de ejeção
normal. Recebeu alta em dezembro de
2012 estando assintomático, tanto da
doença respiratória quanto das queixas
cardiopulmonares.
Foi medicado com digoxina 0,25 mg/d,
furosemida 80 mg/d, espironolactona 25
mg/d, amiodarona 200 mg/d, mononitrato
de isossorbida 10 mg/d e varfarina 5 mg/d.
Em abril de 2012 procurou assistência
médica por disúria e polaciúria, sendo
diagnosticada estenose de uretra. Foi
então internado no Hospital Universi-
tário Antônio Pedro para procedimento
urológico.
Na avaliação clínica do paciente, que se
encontrava assintomático, foram identifi-
cados PA - 110x80 mmHg, FC - 72 bpm,
FR - 18 irpm, peso - 56kg, altura - 1,79
m, IMC - 17,4 e cintura - 78cm, além
de turgência jugular fixa, com aumento
da onda V, e batimento de fúrcula ester-
nal e fossas supraclaviculares; derrame
SESSÃO CLíNICA / CliniCal SeSSion
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 17
>
pleural bilateral, predominante à direita;
precórdio hiperdinâmico, ictus visível e
palpável entre as linhas hemiclavicular e
axilar média e entre o 4º e 6º EIC, ritmo
cardíaco regular com B3; sopro sistólico
2+/6+ em focos tricúspide e mitral, e
hepatomegalia com refluxo hepatojugu-
lar, sem ascite e sem edema de membros
inferiores.
PROF. COUTO
Esse exame físico é compatível com in-
suficiência tricúspide orgânica, principal-
mente pela onda V aumentada no pulso
venoso. Diante desse quadro, devemos
sempre pensar em síndrome carcinoide
ou em uma cardiopatia congênita como
doença de Ebstein – que representa 1%
das cardiopatias congênitas.
DRA. TERESA
Vamos mostrar agora os exames com-
plementares. Os exames laboratoriais
mostraram alterações na leucometria
(11.600 leucócitos com 11% de bastões)
e elevação de ureia, creatinina (105 e 1,85
respectivamente) e da PCR (14,82). No
entanto, esses parâmetros se normaliza-
ram ao longo da internação. Passemos
ao eletrocardiograma (ECG). Gostaria
de fazer algum comentário sobre o ECG,
Prof. Couto?
PROF. COUTO
Neste ECG (figura 1) observamos ritmo
sinusal. O eixo é indeterminado, visto que
o complexo QRS é isodifásico em todas
as derivações do plano frontal. A frequ-
ência cardíaca está em torno de 140bpm.
Observamos QR em V1, o que mostra
um intracavitário de átrio direito no
ventrículo direito (VD), demonstrando
sua atrialização. Isso é visto na anomalia
de Ebstein (AnE) e na endomiocardiofi-
brose. Há também Q profunda em V2, o
que mostra uma área de inatividade. A
onda P é larga – traduzindo a sobrecarga
atrial – e alta, sendo chamada de “onda P
do Himalaia”, característica da doença de
Ebstein. Também observamos sobrecarga
de VD de V1 a V6 e BRD.
DRA. TERESA
Em seguida, temos a radiografia de tórax
(figura 2): em PA observamos aumento
FIGURA 1ECG – ritmo sinusal, sobrecarga de cavidades direitas
FIGURA 2Aumento da área cardíaca, principalmente do VD
da área cardíaca, e em perfil pode-se ver
melhor o aumento principalmente do
VD, ocupando 2/3 do esterno.
Veremos agora o ecocardiograma. Gosta-
ria de comentá-lo, Prof. Mario?
PROF. MARIO
No ecocardiograma (f iguras 3 e 4)
podemos ver a implantação mais apical da
valva tricúspide, causando atrialização do
VD. No exame com contraste podemos
ver que não há comunicação interatrial
ou forame oval patente, que podem estar
presentes em 80% dos casos de AnE. O
18 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014
SESSÃO CLíNICA / CliniCal SeSSion
PROF. COUTO
Então, este foi um caso difícil, pois é raro
e há outros diagnósticos diferenciais. Pelo
fato de o paciente ser usuário de drogas,
uma hipótese seria a cardiomiopatia dila-
tada. Devemos avaliar a possibilidade de
correção cirúrgica para este paciente. A
cirurgia utilizada antigamente apresen-
tava alta mortalidade – no entanto, atu-
almente, foi desenvolvida pelo Dr. José
Pedro da Silva uma cirurgia cuja mortali-
dade é bem menor. Esta consiste em uma
reconstrução cônica da valva tricúspide,
que permite um fluxo sanguíneo central
e a coaptação completa das válvulas.
Além disso, esses pacientes podem apre-
sentar arritmias. Curiosamente, este não
apresenta S. Wolf-Parkinson-White, que
pode ser associada à AnE, mas apresenta
fibrilação atrial. Neste caso está indicada
a anticoagulação com varfarina.
BIBLIOGRAFIA
Silva, JP - Nova técnica cirúrgica para a
correção da anomalia de Ebstein: resul-
tados imediatos e em longo prazo / José
Pedro da Silva – São Paulo, 2007 - Tese
(doutorado) – Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. n
contraste permanece muito tempo no
átrio direito (AD), não progride e não
chega até a artéria pulmonar; volta para
a veia cava, mostrando disfunção do VD.
Profa. Ana Flavia, gostaria de opinar?
PROFA. ANA FLÁVIA
Podemos ver que os folhetos da valva
tricúspide não são bem aderidos, são displá-
sicos e disfuncionantes, causando regurgi-
tação. Em crianças com doença de Ebstein
não é comum haver tanta dilatação do VD,
como é visto nesse paciente adulto; nesse
caso o VD rechaça o ventrículo esquerdo
(VE). O próprio miocárdio está acometido,
substituído por fibrose – a doença não é
apenas da valva. Também encontramos
associação de AnE com atresia ou estenose
pulmonar, já que, no feto, o VD pouco
desenvolvido não bombeia o sangue ade-
quadamente, levando ao hipodesenvolvi-
mento da artéria pulmonar.
DRA. TERESA
Prosseguindo, veremos a angiotomografia
(figuras 5 e 6). Nessas imagens podemos
observar a veia cava dilatada e o aumento
do átrio direito, mostrando mais uma vez
a atrialização do VD.
FIGURA 5Atrialização do VD, aumento do AD
FIGURA 3Aumento do AD, VE rechaçado pelo VD. Seta superior: local de implantação da valva tricúspide no paciente. Seta inferior: local de implantação normal da valva tricúspide
FIGURA 6Aumento do AD, dilatação da veia
cava inferior
FIGURA 4Atrialização do VD, valva aórtica com 3 cúspides (em AnE encontramos associação com VAo bicúspide)
SESSÃO CLíNICA / CliniCal SeSSion
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 19
Entre os acidentes causados por ser-
pentes no Brasil, cerca de 85% são do
tipo acidente ofídico bothrópico – par-
ticularmente envolvendo as picadas de
cobras jararacas e jararacuçus e cuja
letalidade gira em torno de 0,5%. Os
locais do corpo humano mais acome-
tidos são as pernas e os pés (78% dos
casos), seguidos das mãos (18% dos
casos) e de outras regiões. Essas espé-
cies de serpentes são biologicamente
classificadas como “peçonhentas”, em
razão de apresentarem veneno e algum
tipo de mecanismo (presas) que torna
possível a inoculação desse veneno em
outro organismo. É, portanto, possível
existir serpente venenosa, porém não
peçonhenta.
Desse modo, podemos definir o acidente
ofídico como aquele envenenamento
causado pela inoculação de toxinas
(veneno) através das presas (aparelho
inoculador) das serpentes peçonhentas,
podendo determinar o aparecimento de
manifestações clínicas locais (na região
da picada) e sistêmicas.
Os venenos ofídicos podem ser clas-
sificados de acordo com suas ativida-
des fisiopatológicas, cujos efeitos são
observados em nível local, regional e
sistêmico.
Com relação ao acidente ofídico bo-
thrópico, o veneno inoculado no orga-
nismo através da picada de uma cobra
jararaca, por exemplo, tem atividades
proteolítica, coagulante e hemorrágica.
Sua atividade proteolítica, responsável
pelo aparecimento de um processo infla-
matório agudo (“fenômeno flogístico”),
decorre da ação direta de toxinas do
veneno ou pela ativação de células e
liberação de mediadores inflamatórios.
Sua atividade coagulante é consequente
à ação de toxinas sobre a cascata de co-
agulação, causando consumo de fatores
da coagulação e do fibrinogênio. Já sua
atividade hemorrágica surge por ação
de “hemorraginas”, que lesam o endo-
télio vascular, causando sangramentos.
Além disso, in vitro, o veneno bothró-
pico apresenta, ainda, alguma atividade
hemolítica, que é observada em alguns
pacientes, sobretudo nos casos graves.
Nesses casos, a hemólise seria explicada
pela ação mecânica do coágulo sobre
as hemácias, pela hidrólise de fosfolipí-
dios da membrana ou, indiretamente,
através da liberação de lisolecitina da
lecitina plasmática.
As manifestações clínicas locais e regio-
nais provocadas pelo acidente ofídico
bothrópico surgem logo nos primeiros
minutos e horas após a picada, sendo
referidos como: sinais flogísticos (dor,
calor, rubor e edema) e manchas equi-
móticas na região da picada, progre-
dindo ao longo do segmento corporal
acometido; aparecimento de bolhas
com conteúdo seroso ou sero-hemor-
rágico; infecção bacteriana secundária
(celulite, erisipela, abscesso); necrose
Professor, como tratar um acidente ofídico bothrópico?
Neste espaço, renomados professores de Medicina respondem sobre sua conduta diagnóstica e/ou terapêutica.
A CONDUTA DO PROFESSOR
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 19
20 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014
de tecidos moles; síndrome comparti-
mental (geralmente, surgindo nas pri-
meiras 24 horas, em razão da compres-
são do feixe vasculonervoso causada
pelo edema acentuado, provocando
déficit funcional e risco de gangrena
do segmento corporal acometido);
gangrena e necessidade de amputação.
As marcas da picada nem sempre são
visíveis, assim como o sangramento
nos pontos de inoculação das presas.
Quanto às manifestações sistêmicas do
acidente ofídico bothrópico, temos:
sangramentos à distância do local
da picada (gengivorragia, epistaxe,
hematúria, hemorragia digestiva etc);
choque hipovolêmico (por enorme
sequestro de líquido no segmento
corporal em que ocorreu a picada e/
ou por sangramentos); choque séptico
(como complicação de uma infecção
bacteriana secundária no local da
picada), e insuficiência renal aguda,
tanto pré-renal quanto parenquimato-
sa – necrose tubular aguda ou necrose
cortical bilateral (em razão da hipo-
volemia prolongada, sangramentos ou
sequestro de líquido para o terceiro
espaço; também como complicação de
mioglobinúria consequente a extensa
necrose de tecido muscular próximo à
área da picada, seja por intensa ativi-
dade proteolítica, seja por síndrome
compartimental).
Na maioria dos casos, o reconheci-
mento das manifestações clínicas e a
história epidemiológica do acidente
ofídico permitem o diagnóstico do tipo
de envenenamento envolvido, embora
seja possível também o diagnóstico
por meio da identificação do animal
(serpente). A gravidade do acidente
ofídico depende da quantidade de
veneno inoculado, região atingida e
espécie de serpente envolvida, não
existindo imunidade adquirida contra
o veneno das serpentes.
Na prática, não existe exame laborato-
rial para determinar o tipo de envene-
namento ofídico, sendo o diagnóstico
eminentemente clínico-epidemioló-
gico. Todavia, nos acidentes ofídicos
bothrópicos, exames de coagulação
sanguínea devem ser sempre realizados
tanto para a confirmação diagnóstica
quanto para a avaliação prognóstica
(classificação da gravidade do caso) e
também para a observação da eficácia
terapêutica (soroterapia específica).
O atendimento inicial do paciente
vítima de picada de cobra venenosa
e peçonhenta consiste em, na medida
do possível, manter o indivíduo calmo,
evitando esforços físicos como correr;
procurar um hospital o mais rápido
possível, procurando antes saber se este
possui soros antiofídicos; se possível,
capturar e levar a serpente causadora
do acidente para ser identificada no
hospital; lavar o local da picada com
água limpa; não fazer perfurações ou
cortes no local da picada, pois isso
aumenta a chance de hemorragia e
infecção bacteriana secundária; não
ingerir bebidas alcoólicas; não colocar
folhas, pó de café ou outros contami-
nantes sobre o local da picada. Quanto
a fazer ou não torniquete ou garrote no
membro picado, historicamente esse
procedimento sempre foi condenado,
em razão de possibilitar uma maior
concentração do veneno no local da
picada. Todavia, recentemente, alguns
artigos médicos, surpreendentemente,
recomendam que se faça isso.
O tratamento específico consiste na
soroterapia específica para o acidente
ofídico bothrópico, sendo a dose de
soro administrada calculada de acordo
com a gravidade do envenenamento.
Com relação ao soro antibothrópico,
10 ml do soro são capazes de neutrali-
zar 25 mg do veneno. A aplicação do
soro deve ser feita por via intravenosa,
diluída em solução glicosada 5% ou
soro fisiológico 0,9%, numa solução
1:1, numa velocidade de 30 a 40 gotas/
minuto.
Devido à sua natureza heteróloga, a
administração do soro pode causar
reações de hipersensibilidade ime-
diata e/ou tardia: urticária, náuseas/
vômitos, rouquidão, estridor laríngeo,
broncoespasmo, espasmo de glote, hi-
potensão arterial, choque anafilático,
doença do soro (urticária, prurido,
poliartralgia, linfadenomegalias, febre
baixa e proteinúria, surgindo cerca de
um a quatro semanas após a sorotera-
pia). Não há evidências de que outros
fármacos neutralizem os efeitos do
veneno, de modo que a soroterapia es-
pecífica é o padrão-ouro indispensável
no tratamento desses pacientes. Uma
vez diagnosticada a reação de hiper-
sensibilidade imediata, a soroterapia
deve ser imediatamente interrompida
A CONDUTA DO PROFESSOR
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 21
e posteriormente restituída após o
tratamento da anafilaxia e a dessensi-
bilização necessária. Para a prevenção
dessas reações de hipersensibilidade,
15 minutos antes da administração do
soro antibothrópico, administramos
prometazina 50 mg via oral (anti-his-
tamínico H1), cimetidina 300 mg ou
ranitidina 150 mg (anti-histamínicos
H2) e hidrocortisona 500 mg intrave-
noso, o que reduz muito a possibilidade
dessas reações. Além disso, está indi-
cada a profilaxia antitetânica.
Em todos esses pacientes devemos
colher sangue para a verificação do
tempo de coagulação sanguínea, cujo
resultado, de forma prática, definirá a
gravidade do envenenamento bothró-
pico, permitindo ao médico calcular
o número de ampolas do soro antibo-
thrópico que deverá ser administrada
inicialmente no caso concreto. Assim,
caso o tempo de coagulação do pa-
ciente esteja normal, consideramos
que o acidente bothrópico é de grau
leve, estando indicada a administração
inicial de 4 a 6 ampolas do soro. Caso
o tempo de coagulação esteja altera-
do, mas não haja sinais evidentes de
sangramento ativo, consideramos que
o acidente bothrópico é de grau mode-
rado, estando indicada a administração
inicial de 8 a 10 ampolas do soro. Por
outro lado, caso o tempo de coagulação
esteja alterado e haja sinais evidentes
de sangramento ativo, consideramos
que o acidente bothrópico é grave,
estando indicada a administração
inicial de 12 a 15 ampolas do soro.
Em seguida, o tempo de coagulação
sanguínea do paciente passará a ser
novamente verificado a cada seis
horas, quando, então, será feita uma
nova avaliação clínica e reclassificação
do envenenamento sob o aspecto do
seu grau de gravidade, repetindo-se a
administração do soro conforme essa
nova classificação encontrada, salvo
nos casos de grau leve, cuja repetição
da soroterapia não será necessária se,
após essas seis horas, não tiver havido
mudança do quadro clínico e/ou la-
boratorial, permanecendo o paciente
sendo observado em ambiente hos-
pitalar. E isso é feito dessa maneira,
sucessivamente de seis em seis horas,
até 24 horas após normalização do
tempo de coagulação e ausência de
evidências clínicas e/ou subclínicas
(por exemplo, hematúria microscó-
pica) de sangramento ativo, quando,
então, será avaliada a possibilidade de
alta hospitalar.
Como tratamento de suporte, é funda-
mental manter o paciente em repouso,
corrigir os eventuais distúrbios hi-
droeletrolíticos e ácido-básicos, e
administrar analgésicos e antieméticos,
conforme o caso, além da profilaxia
da hemorragia digestiva alta. Após a
normalização do tempo de coagulação
sanguínea, inexistindo hemorragia
digestiva, é possível (se o caso assim
exigir) administrar anti-inflamatório
não hormonal e também iniciar pro-
filaxia de trombose venosa profunda,
conforme as condições clínicas do
segmento corporal afetado. Se houver
síndrome compartimental, a fascio-
tomia estará indicada. No caso de
insuficiência renal aguda, poderá estar
indicado o tratamento dialítico.
Além disso, nossa experiência pessoal
– após cerca de 25 anos trabalhando
como médicos plantonistas em serviços
de emergência de hospitais públicos
– recomenda o uso de antibiótico-pro-
filaxia empírica por pelo menos cinco
dias nesses casos, visando cobertura
de flora bacteriana mista (bactérias
anaeróbias, gram negativas e gram
positivas), tal como a associação de
amoxicilina e clavulinato, o que parece
diminuir a incidência de complicação
infecciosa bacteriana secundária no
local da picada. n
Agradecimento:
O autor agradece à Dra. Valdilene Simões Cardoso (médica cirurgiã geral do Serviço de Emergência do Hospital Federal do Andaraí), que contribuiu para este artigo como coautora.
Professor Wladimir Tadeu Baptista SoaresProfessor do Departamento de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) [Niterói – RJ]
22 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBR/mai/Jun/2014
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Autores:Dra. Jaqueline Abel da RochaMédica Infectologista do Hospital Central da Polícia Militar (Rio de Janeiro/RJ)
Dra. Fernanda Moreth do ValleMédica Clínica do Hospital Estadual Azevedo Lima (Niterói/RJ)
Dra. Ianick Souto MartinsMédica Infectologista e Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Dr. Marcos Olivier DalstonMédico Infectologista e Professor da Faculdade de Medicina da UFF
Dra. Patrícia Yvonne Maciel PinheiroMédica Infectologista e Chefe do Serviço de Doenças Infecto-Parasitárias (DIP) do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da UFF
Endocardite Infecciosa em Paciente com Síndrome da Imunodeficiência AdquiridaInfective Endocarditis in a Patient with Acquired Immunodeficiency Syndrome
RESUMO – Trata-se de um caso de endocardite aórtica (EIAo) por Staphylococcus aureus com desfecho letal, ocorrida em paciente com síndrome da imunodeficiência adquirida (Sida). Este relato destaca alguns aspectos clínicos e epidemiológicos relevantes da ocorrência das infecções “não-oportunistas” em pacientes com Aids e EI. (Conduta Médica 2014-15 (60) 22-25)
aBSTRaCT – This is a case report of aortic infective endocarditis (IE) caused by Staphylococcus aureus occurred in a patient with acquired immunodeficiency syndrome (Aids), with lethal outcome. It highlights some important epidemiological and medical aspects of the occurrence of “non-opportunistic” infections in patients with Aids and IE. (Conduta Médica 2014-15 (60) 22-25)
DESCRITORES – endocardite; HIV; Staphylococcus aureus
KeY-WoRDS – endocarditis; HIV; Staphylococcus aureus
INTRODUÇÃO
A endocardite infecciosa (EI) é um
processo infeccioso que acomete o
endocárdio. Nas últimas décadas,
houve uma e levação na fa ixa
etária dos indivíduos acometi-
dos. Atualmente, a EI ocorre pre-
ferencialmente em pessoas com
idade mais avançada (média de 50
anos)1. O Staphylococcus aureus é
um dos agentes mais frequentes
dessas infecções, que cursam com
elevada morbimortalidade2. Graças
à terapia antirretroviral disponível,
grande parte dos pacientes com
Aids apresenta status imune recu-
perado/preservado e maior sobrevi-
da. Expor a importância da inclusão
das infecções “não oportunistas”
como diagnóstico diferencial na
investigação das infecções em
pacientes com Aids motivou a des-
crição deste caso de EI por S. aureus
em um paciente com Aids.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo feminino, 54 anos,
com história de febre não aferida e dor
em membros inferiores que dificultava
a deambulação, há duas semanas.
Evoluiu com paresia do membro su-
perior esquerdo e diminuição do nível
de consciência, dois dias antes da ad-
missão na Emergência de um hospital
público (HP). Associado ao quadro,
havia relato de acompanhamento
ambulatorial regular para infecção pelo
vírus HIV no Hospital Universitário
Antônio Pedro (Huap/UFF) há dez
anos. Paciente sem história de uso de
drogas endovenosas, infecções cutâne-
as ou internações recentes.
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 23
>
À admissão em HP:
Paciente torporosa (Glasgow 8-9),
taquicárdica (103bpm), hipoten-
sa (90x60 mmHg), taquipneica
(25irpm) e com ritmo cardíaco
regular, sem sopros. Apresentava
murmúrio vesicular universalmente
audível com estertores em base es-
querda e diminuído em base direita.
Tinha abdome tenso, doloroso à
palpação, com defesa. O hemogra-
ma revelou anemia (Hb 7,2 g/dL),
leucometria e número de plaque-
tas normais. Havia a presença de
disfunção renal (Cr 2,5mg/dL e U
96mg/dL) e transaminases tocadas
(TGO 111 U/L e TGP 60 U/L). A
gasometria arterial era consistente
com acidose metabólica compen-
sada com alcalose respiratória, sem
hipoxemia (pH 7,35; HCO3mEq/l:
18; BE: -7,1 mEq/L; pCO2: 33,2
mmHg; pO2: 88mmHg). Foi aven-
tada a hipótese de infecção intra-
abdominal e/ou do sistema nervoso
central (SNC). Foram solicitados
métodos de imagem para investi-
gação dessas possibilidades.
A tomografia computadorizada (TC)
de abdome mostrou coleções líquidas
(prováveis abscessos) nos músculos
ileopsoas e glúteos mínimos, bila-
teralmente, e infarto esplênico (ver
figura 1). A TC de crânio detectou
lesão nodular hipodensa com realce
periférico de contraste no lobo pa-
rietal direito, medindo 2,2cm x
1,3cm (ver figura 2), sugestiva de
neurotoxoplasmose ou abscesso ce-
FIGURA 1TC abdome e pelve mostra coleções líquidas nos músculos ileopsoas bilateralmente. Sugestiva de abscesso de psoas. Maior à esquerda, área destacada
rebral. Foram iniciados ceftriaxone,
metronidazol e cotrimoxazol para
o tratamento dessas infecções. O
Serviço de Cirurgia Geral optou por
conduta conservadora. Foi solicita-
da avaliação de infectologista, que
aventou a hipótese de EI e sugeriu
realização de ecocardiograma.
Em D3 de internação em HP:
Com 72 horas de antibioticotera-
pia, a paciente – apesar de estar
hemodinamicamente estável e com
melhora do nível de consciência
(Glasgow 14) – apresentava-se
taquipneica e febril. Devido a essa
resposta clínica parcial, ceftriaxona
e metronidazol foram substituídos
por meropenem e vancomicina. O
cotrimoxazol foi mantido.
FIGURA 2TC de crânio com lesão nodular
hipodensa com realce periférico de contraste, no lobo parietal direito, em
destaque circular
24 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Em D4 de internação em HP:
O ecocardiograma transtorácico
(EcoTT) evidenciou leve espessa-
mento de folhetos mitroaórticos,
sem evidência de vegetações, sendo
sugerida a realização de ecocar-
diograma transesofágico (EcoTE).
Neste momento, a paciente foi
transferida para o Hospital Univer-
sitário Antônio Pedro, da Univer-
sidade Federal Fluminense (Huap/
UFF).
Em D1 (24 horas de admissão)
no Huap/UFF:
A paciente evoluiu com choque
séptico, necessidade de suporte
ventilatório (intubação orotraqueal
e ventilação mecânica) e nora-
drenalina, após aproximadamente
12 horas de admissão no Serviço
de Infectologia. Neste momento,
foi transferida para o Centro de
Terapia Intensiva do Huap e en-
caminhada à laparotomia para
drenagem de abscesso de psoas.
Uma investigação microbiológica
foi realizada mediante culturas de
sangue e de líquido de abscesso
obtido durante o procedimento ci-
rúrgico e processadas no laboratório
de microbiologia do Huap. Uma
revisão de dados do prontuário do
Huap revelou que a paciente apre-
sentava avaliações recentes com
contagem de linfócitos CD4 > 1000
mm3 e carga viral indetectável,
demonstrando controle adequado
da Aids.
Em D4 internação
no Huap/UFF:
Em D6 de meropenem e vanco-
micina, D3 de suporte ventilatório
e drogas vasopressoras, a paciente
mantinha febre e instabilidade he-
modinâmica. Foi realizado EcoTE,
que revelou vegetação em válvula
aórtica com destruição estrutural
e insuficiência valvar graves. Em
hemocultura e cultura de secreção
de abscesso foi isolado Staphylo-
coccus aureus sensível a oxacilina,
sendo suspensos meropenem e
vancomicina, e iniciada oxacilina.
Foi interrompido o tratamento de
neurotoxoplasmose, uma vez que a
paciente apresentava valores ade-
quados de linfócitos CD4 e elevada
probabilidade de abscesso cerebral
devido à embolização a partir de EI
de valva aórtica.
Em D6 de internação
no Huap/UFF:
A paciente apresentou choque
refratário e falência orgânica múl-
tipla, evoluindo para óbito.
DISCUSSÃO
Relatamos um caso letal de EI
aórtica (EIAo) causada pelo S.
aureus, complicada com emboli-
zações para SNC, baço e músculo
esquelético, eventos frequentes
nas EIAos. Interessantemente, essa
infecção ocorreu em uma paciente
com Aids, o que pode ter confundi-
do as hipóteses diagnósticas iniciais.
Os dados expostos neste caso
chamam a atenção para alguns
aspectos clínicos e epidemiológicos
importantes sobre a ocorrência de
infecções em pacientes com Aids, e
EI: i) as infecções bacterianas “não
oportunistas” que ocorrem habitu-
almente em indivíduos imunocom-
petentes devem estar entre as hipó-
teses diagnósticas na investigação
de febre nos pacientes com Aids;
ii) Atualmente, a terapia antirre-
troviral disponível proporciona aos
pacientes com Aids longa sobrevida
com status imunológico preservado/
recuperado, o que provavelmente
levará a uma menor ocorrência de
infecções oportunistas em relação
às “não oportunistas”; iii) diante
de um paciente com Aids e sinal
neurológico focal, a hipótese de
neurotoxoplasmose deve ser sempre
aventada. No entanto, essa infec-
ção oportunista acomete pacientes
com imunodepressão avançada e
não costuma cursar com sinais de
sepse. Logo, nesse contexto, os
diagnósticos diferenciais, como
abscesso cerebral piogênico de-
corrente ou não de EI, devem ser
investigados; iv) a EI é um proces-
so infeccioso complexo que pode
cursar com comprometimento de
múltiplos órgãos, o que dificulta o
seu diagnóstico.
Os fenômenos embólicos descritos
no presente caso estão de acordo
com dados prévios da literatura. A
embolia cerebral é a manifestação
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 25
neurológica mais frequente da EI2.
Um estudo sueco com pacientes
com EI à esquerda acompanhados
prospectivamente e avaliados com
ressonância magnética de crânio
revelou uma frequência de 65% de
complicações cerebrovasculares,
sendo que 30% desses pacientes
eram assintomáticos5. O infarto
esplênico é descrito em 44% das
autópsias, porém em geral é as-
sintomático2. Outras infecções à
distância também podem ocorrer.
A infecção no músculo psoas pode
ser causa ou complicação das EIs.
Em geral esses abscessos são secun-
dários a processos infecciosos que
acometem estruturas adjacentes ao
músculo (abscessos secundários de
psoas). O abscesso primário de psoas
se desenvolve a partir de dissemina-
ção hematogênica, sendo S. aureus
o agente mais comum. No presente
relato, a ordem cronológica dos
sinais e sintomas sugere que o abs-
cesso de psoas tenha precedido a EI.
O S. aureus é o principal agente
etiológico da EI no mundo indus-
trializado. Esse microrganismo pode
acometer válvulas normais, em até
2/3 dos pacientes. Sua evolução
é grave, resultando em morte em
cerca de 40% dos pacientes2 – o que
também está em concordância com
o desfecho letal observado no caso
apresentado.
O critério diagnóstico mais usado
é o critério de Dukes modificado3.
Quando houver elevada suspeita
clínica de EI deve-se preferen-
cialmente optar pela realização de
EcoTE, uma vez que o EcoTT não é
capaz de excluí-la definitivamente.
Caso o EcoTE não possa ser realiza-
do de imediato, o EcoTT deve ser
realizado e um EcoTE programado,
caso necessário4. Concordantemen-
te, neste caso apenas o EcoTE foi
capaz de diagnosticar a EIAo.
O tratamento de escolha para endo-
cardite de válvula nativa causada por
S. aureus oxacilina sensível é a oxa-
cilina (12g/dia divididos em quatro
ou seis doses diárias). A associação
de gentamicina por três a cinco dias
é opcional. O tempo de tratamento
para EI não complicada pode ser
de quatro semanas. No entanto, na
presença de complicações locais ou
à distância, o tratamento deve ser
estendido para seis semanas4. Apro-
ximadamente um terço dos pacientes
com EI esquerda necessitam de inter-
venção cirúrgica2.
CONCLUSÃO
Finalmente, os dados apresentados
ressaltam a importância da suspei-
ção diagnóstica das infecções “não
oportunistas” em pacientes com
HIV e de EI nas síndromes infec-
ciosas agudas ou subagudas com
envolvimento de múltiplos órgãos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1. Walter Tavares, Luiz Alberto
Carneiro Marinho. Rotinas de
Diagnóstico e Tratamento das
Doenças Infecciosas e Parasitárias,
2ª ed.
2. Mandell, Douglas, and Bennett’s.
Principles and Practice of Infec-
tious Diseases, 7th ed.
3. Li JS, Sexton DJ, Mick N et
al. Proposed Modifications to the
Duke Criteria for the Diagnosis of
Infective Endocarditis. Clin Infec
Dis 2000;30: 633-38.
4. Baddour LM, Wilson WR, Bayer
AS, et al: Infective Endocarditis:
Diagnosis, Antimicrobial Therapy,
and Management of Complica-
tions (AHA). Circulation 2005
Jun14;111(23):e394-434.
5 . Snygg -Mar t in U, Gus ta f s -
son L, Rosengren L, et al: Ce-
rebrovascular Complications in
Patients with Left-Sided Infective
Endocardit is Are Common: A
Prospective Study Using Magnetic
Resonance Imaging and Neuroche-
mical Brain Damage Markers. Clin
Infect Dis 2008; 47:23. n
26 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014
retornou à UPA na manhã de 24 de janeiro, tendo
realizado hemograma (hematócrito 35.8%, VCM
88.4, RDW 11.9, plaquetas 160000, leucócitos
10500, neutrófilos 69.7%, eosinófilos 1.2%, basófi-
los 0.8%, linfócitos 17.8 e monócitos 10.5%), raio
X de tórax – que revelou discretas consolidações
periféricas em ambos os pulmões (figura 2A) – e
gasometria (pH 7.5, saturação 92.5%, pO2 59mmHg,
pCO2 34.4 mmHg, HCO3 27.2 mmol/L, CO2T 28.3
mmol/L, BE 3.9 mmol/L). Foi então medicado com
antitérmico e, após observação, recebeu alta à tarde
com prescrição de antibiótico e orientação.
Devido à hemoptise e à intensificação da dispneia, o
paciente foi internado na mesma UPA em 25/1 para
melhor investigação, sendo colocado em isolamento
pela suspeita de tuberculose. Foi pesquisado BAAR
no escarro e realizado teste rápido para HIV, que
foram negativos. O hemograma apresentou hema-
tócrito 31,6%, plaquetas 173000, leucócitos 7600
(sem desvio para esquerda), glicose 92 mg/dL, sódio
142 mmol/L, potássio 3,6 mmol/L, ureia 13 mg/dL,
creatinina 0,9 mg/dL, magnésio 1,8 mg/dL, cálcio
total 7,6mg/dL (N:8.6-10.3), TGO 34 U/L, TGP 44
U/L, bilirrubina total 1.47 mg/dL (indireta 0.73;direta
0.74) e amilase 71 U/L. Foi iniciado antibiótico
(amoxicilina, ác. clavulânico e claritromicina).
Em 26/1 realizou novo hemograma com hematócrito
de 34.9% e demais sem alterações. O coagulograma
era normal, assim como o sedimento urinário. Os
resultados da gasometria foram pH 7.52, saturação
92.6%, pO2 58.3mmHg, pCO2 36.1 mmHg, HCO3
29.9 mmol/L, CO2T 31.0 mmol/L e BE 6.8 mmol/L.
Foi feito novo raio X de tórax, além de tomografia
computadorizada (TC) de tórax, que demonstrou
múltiplas opacidades em vidro fosco com distribui-
ção centrolobular (figura 3).
Em 27 de janeiro, após três dias de internação,
recebeu alta com melhora clínica e radiológica
(figura 2B), mantendo antibiótico domiciliar por
mais sete dias.
Depois da alta clínica, o paciente foi encaminhado
para o ambulatório do Hospital Universitário
Antônio Pedro com ficha de referência para inves-
tigação de tuberculose. Foi avaliado pela Pneumo-
logia em 1º de fevereiro de 2013, apresentando-se
hemodinamicamente estável, eupneico, afebril,
anictérico, acianótico, com ritmo cardíaco em dois
tempos sem sopros, além de murmúrio vesicular
universalmente audível sem ruídos adventícios.
Orofaringe, abdômen e membros estavam sem
alterações. Perguntado pelo pneumologista sobre
se usava drogas ilícitas, o paciente confirmou o uso
de cocaína 12 horas antes do início dos sintomas.
Assim, após avaliação de sua história clínica,
do exame físico e dos exames complementares,
concluiu-se estar diante de uma lesão pulmonar pelo
uso inalado da cocaína.
Uma nova TC de tórax realizada em 14 de março
de 2013 não apresentou anormalidades. Na ocasião
realizou-se também espirometria, com os seguintes
resultados: CVF = pré 111,8 % e pós 112,6%; VEF1
= pré 106,9% e pós 108,7%; VEF1/CVF = pré 106,9%
e pós 108,7% (dentro dos limites da normalidade). As
sorologias para HIV I e II e hepatite B estavam nega-
tivas. O hemograma se apresentava sem alterações.
Discussão:
Dano alveolar difuso, edema pulmonar não car-
diogênico e hemorragia pulmonar podem resultar
de abuso de cocaína. Derrame pleural, quando
Paciente do sexo masculino, 24 anos, com quadro agudo de dispneia, tosse e hemoptise, apresentando múltiplas opacidades em vidro fosco com distribuição centrolobular em ambos os pulmões
Introdução: As lesões pulmonares por abuso de
drogas incluem pneumonia, edema cardiogênico,
dano alveolar difuso, hemorragia pulmonar e
pneumonia por aspiração.1 O abuso de cocaína
representa um dos mais graves problemas de saúde
e sociais do nosso tempo. Radiologistas e médicos
assistentes devem estar familiarizados com as várias
complicações pleuropulmonares associadas ao abuso
de drogas ilícitas – em especial a cocaína – para
garantir o correto diagnóstico e planejamento do
tratamento adequado em pacientes com manifes-
tações respiratórias associadas a tal abuso.2
Diagnóstico: Hemorragia pulmonar por uso de
cocaína
Relato do caso: Paciente masculino, 24 anos,
auxiliar de obras, tabagista (dois maços/dia há
sete anos). Em 19 de janeiro de 2013 apresentou
quadro de febre, mialgia e cefaleia, tendo procurado
atendimento em emergência de hospital geral em
20 de janeiro, onde foi levantada a suspeita de
virose. Após a prescrição de sintomático, o paciente
recebeu alta com orientação.
Com a persistência dos sintomas e mantendo-se
com febre alta (40ºC), ele procurou Unidade de
Pronto Atendimento (UPA) em 23 de janeiro, onde
realizou hemograma (hematócrito 39%, plaquetas
137000, leucócitos 9500, neutrófilos 71%, eosinó-
filos 1%, basófilos 1%, linfócitos 15.4%, monócitos
11.5%). Após ser levantada a hipótese de dengue,
o paciente recebeu reidratação venosa, antitérmico
com alta e prescrição de terapia de reidratação oral
e sintomáticos. Após 24h, por manter febre alta
e iniciar quadro de dispneia, tosse e hemoptoico,
FIGURA 2Evolução Radiográfica: (imagem A) dia 24 - observam-se discretas consolidações periféricas em ambos os pulmões; (imagem B) dia 27 - observa-se evolução da melhora das opacidades
Resposta do
Desafio Diagnóstico da página 13
D i a g n o S T i C C h a l l e n g e
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 27
existente, está mais associado em pacientes onde a
lesão pela cocaína evolui com insuficiência cardíaca.
A hemorragia pulmonar aparece logo após o uso e
tende a desaparecer rapidamente após a cessação
do uso do agente responsável.2 Manifesta-se, então,
radiologicamente, como opacidades multifocais
bilaterais, e na tomografia computadorizada de
alta resolução como opacidades em vidro fosco, de
distribuição extensa e centrolobular.1, 2
Tanto os edemas cardiogênicos como os não car-
diogênicos, como a hemorragia alveolar, podem se
expressar por comprometimento pulmonar difuso ou
multifocal, com opacidades em vidro fosco, consoli-
dações, espessamento de septos interlobulares, com
ou sem derrame pleural. As manifestações radiológi-
cas do edema pulmonar cardiogênico podem incluir
ainda graus variáveis de cardiomegalia.5
Apesar de a hemorragia pulmonar crônica ser
identificada em usuários de cocaína em estudos
de autópsia, tipicamente as alterações por imagem
tendem a regredir rapidamente.3 Achados de necrop-
sia mostram que a hemorragia alveolar pode ocorrer
de forma muito frequente na doença aguda, bem
como na fase crônica, e sem haver necessariamente
hemoptise.3
A patogênese do edema pulmonar induzido por
cocaína é complexa e multifatorial. Disfunção do
miocárdio, isquemia e infarto cardíacos, arritmias
e cardiomiopatia dilatada podem ser fatores contri-
buintes no edema cardiogênico. Enquanto que danos
no endotélio capilar pulmonar, com o aumento de
sua permeabilidade, podem desempenhar papel fun-
damental no edema não cardiogênico.5
A hemoptise pode ser considerada secundária à
ruptura dos vasos submucosos traqueobrônquicos
(circulação sistêmica), ou do parênquima pulmonar
– decorrente de lesão da membrana alveolocapilar
(circulação pulmonar).6, 7 Hemorragia alveolar
difusa com hemoptise secundária à cocaína pode
ser uma ameaça à vida, com sangramento maciço
que pode exigir cirurgia.2
No nosso caso a hemoptise se manifestou com
sangramento moderado após cinco dias da inalação
da cocaína, havendo também anemia e ausência
de sinais de asfixia, com o raio X e a TC de tórax
mostrando infiltrado pulmonar – o que corrobora a
hipótese de uma lesão alveolocapilar, uma vez que
os espaços alveolares podem acomodar um grande
volume de sangue oriundo da circulação pulmonar.
O abuso de cocaína em suas diversas formas re-
presenta um dos mais graves problemas de saúde
e social do nosso tempo. Neste artigo nota-se o
quão importante é o médico assistente estar atento
a essa possibilidade diagnóstica e às suas múltiplas
manifestações clínicas e radiológicas, devendo ser
ressaltado que, muitas vezes, a história do uso da
droga é omitida pelos pacientes. Também devemos
assumir que pacientes com hemoptise, independen-
temente da quantidade, devem ser internados para
garantir o correto diagnóstico e o planejamento do
tratamento adequado. 2, 9
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Gotway MB, Marder SR, Hanks DK, et al. Tho-
racic Complications of Illicit Drug Use: An Organ
System Approach. Radiographics, October 2002.
V 22, S119-S135.
2. Restrepo CS, Carrillo JA, Martínez S, Ojeda
P, Rivera AL, Hatta A. Pulmonary complications
from cocaine and cocaine-based substances: imaging
manifestations. Radiographics, July 2007. V27, p
941-956.
3. Hagan IG, Burney K. Radiology of recreational drug
abuse. Radiographics. 2007 Jul-Aug;27(4):919-40.
4. Godwin JE, Harley RA, Miller KS, Heffner JE.
Cocaine, pulmonary hemorrhage, and hemoptysis.
Ann Intern Med1989; 110: 843.
5. Mancano A, Marchiori E, Zanetti G, Escuissato
DL, Duarte BC, Apolinário LA. Complicações pul-
monares após uso de crack: achados na tomografia
computadorizada de alta resolução do tórax. J. bras.
pneumol. 2008, vol.34, n.5, pp. 323-327.
6. Suhl J, Gorelick DA. Pulmonary function in
male freebase cocaine smokers. Am Rev Respir Dis
1988;137:A488.
7. Tashkin DP, Khalsa ME, Gorelick D, et al. Pul-
monary status of habitual cocaine smokers. Am Rev
Respir Dis 1992;145:92–100.
8. Parrillo JE, Dellinger RP, Garwood S, Strange C
and Sahn SA. Principles of Diagnosis and Manage-
ment in the Adult Critical Care Medicine - Prin-
ciples of Diagnosis and Management in the Adult.
Mosby, 2008 Massive Hemoptysis Chapter 47.
9. Spiro SG, Silvestri GA, Agustí A, Dennis A,
Wiggle Thomas K. Waddell Clinical Respiratory
Medicine (Fourth Edition): chapter 38 - Manage-
ment of massive hemoptysis. Elsevier Inc. All rights
reserved. 2012. n
FIGURA 3Imagens A, B, C e D - Tomografia de tórax em corte transversal evidenciando áreas de opacidades com atenuação em vidro fosco de aspecto nodular e distribuição centrolobular em ambos os pulmões
28 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBR/mai/Jun/2014
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Hemorragia Digestiva Baixa por Angiossarcoma Metastático JejunalGastrointestinal Bleeding Due to Metastatic Jejunal Angiosarcoma
Autores:Prof. Italo AccettaProfessor Titular de Cirurgia de Urgência da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF)Professor Assistente de Emergência Pré-Hospitalar da Faculdade de Medicina da Universidade Gama Filho (UGF)
Dr. Rossano Asumpção CruzDr. Waldomiro Barbosa TeixeiraDra. Maria Aparecida GalhardoMédicos Cirurgiões do Serviço de Emergência do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da UFF
Prof. Alessandro Severo Alves de MeloProfessor Adjunto de Radiologia da Faculdade de Medicina da UFF
Profa. Angela Cristina Gouveia CarvalhoProfessora Adjunta de Patologia da Faculdade de Medicina da UFF
Thaysa Fernandes Lacerda Rocha CostaAcadêmica da Faculdade de Medicina Souza Marques
Profa. Maria Emília Lopes MonteiroProf. André Figueiredo AccettaProfessores Assistentes da Faculdade de Medicina da UFF
RESUMO – Os autores relatam um caso de hemorragia digestiva baixa por angiossarcoma metastático de jejuno em paciente de 37 anos submetida quatro anos antes a mastectomia e radioterapia por angiossarcoma de mama. Com a revisão da literatura, destacam a raridade do tumor, suas características histopatológicas e a incerteza dos benefícios da quimioterapia após ressecção cirúrgica. (Conduta Médica 2014-15 (60) 28-30)
aBSTRaCT – The authors report a 37 year-old female with low gastrointestinal bleeding due to metastatic jejunal angiosarcoma. The patient was submitted to mastectomy and irradiation therapy four years ago for breast angio-sarcoma. The authors conclude that metastatic jejunal angiosarcoma is very rare and pos operatory chemotherapy effects are not clear. (Conduta Médica 2014-15 (60) 28-30)
DESCRITORES – angiossarcoma; intestino delgado; hemorragia digestiva baixa
KeY-WoRDS – angiosarcoma; small intestine; low gastrointestinal bleeding
INTRODUÇÃO
Angiossarcoma é neoplasia maligna
muito infrequente. Mais rara ainda é
a sua localização no trato digestório,
onde costuma apresentar comporta-
mento muito agressivo, prognóstico
sombrio e até dificuldades no seu
diagnóstico histopatológico. Relatar
um caso de hemorragia digestiva baixa
causada por angiossarcoma metastá-
tico no jejuno constitui o principal
objetivo deste trabalho.
RELATO DO CASO
Pac iente b ranca , 37 anos , deu
entrada no Serviço de Emergência
do Hospital Universitário Antônio
Pedro (Huap) com queixas de fezes
negras e tonteiras há sete dias. Rela-
tava fraqueza e cansaço há seis meses,
quando foi iniciado tratamento, sem
sucesso, com sulfato ferroso para
anemia. Informava ainda mastec-
tomia bilateral, com radioterapia,
devida a angiossarcoma de mama
esquerda há quatro anos.
Ao exame f ís ico apresentava-se
lúcida, orientada, hemodinamica-
mente estável e com intensa palidez
cutâneo-mucosa. Pescoço, membros,
e abdome encontravam-se dentro
da normalidade, enquanto o tórax
apresentava cicatriz cirúrgica da
mastectomia. Com hematócrito 25%
e hemoglobina 8 g/dL, a paciente foi
internada no Serviço de Emergência
e, durante cinco dias, foi transfundida
com seis unidades de concentrado de
hemácias. Ainda nesse período foram
realizadas endoscopias digestivas
alta e baixa (que não constataram
anormalidades) e tomografia compu-
RELATO DE CASO / CASE REPORT
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 29
tadorizada do abdome, com contraste
venoso (figuras 1 e 2), que mostrou a
presença de tumoração no jejuno pro-
ximal. Com persistência de melena,
e queda dos níveis de hematócrito e
hemoglobina, indicamos laparotomia
exploradora.
No ato operatório encontramos tu-
moração exofítica (figura 3) de apro-
ximadamente 4 x 5 cm envolvendo
toda a circunferência jejunal, a 50 cm
do ângulo de Treitz e com coloração
escurecida. Não evidenciamos lin-
fonodomegalias ou metástases. Com
suspeita diagnóstica de melanoma,
optamos por ressecção de 15 cm do
segmento intestinal (figura 4) com-
prometido e anastomose imediata
término terminal. A evolução pós-
operatória foi satisfatória, com alta
hospitalar no sexto dia.
O exame histopatológico do spe-
cimen diagnosticou angiossarcoma
metastático grau 3. Estudo imuno-
FIGURAS 1 e 2Tomografia com tumoração no jejuno
histoquímico com imunomarcação
foi positivo para CD 31, CD 34, Fli 1
e Ki 67 ( >75%).
DISCUSSÃO
Angiossarcoma é neoplasia maligna
muito agressiva, de péssimo prognós-
tico, e constitui aproximadamente 1%
a 2% dos sarcomas. 1,2,3,4
Pode acometer qualquer área do
corpo e predomina na pele e tecido
subcutâneo. Também pode compro-
FIGURA 3Tumoração exofítica no jejuno
FIGURA 4Segmento intestinal ressecado
30 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014
RELATO DE CASO / CASE REPORT
meter órgãos internos (baço, fígado,
coração, suprarrenais, ovários), mas
é excepcional no intestino delgado.
Sua etiopatogenia exata é desconheci-
da, mas parece ter relação com radio-
terapia prévia 1,5,6,7,8 e a presença de
corpos estranhos. 1,2,4 Tem origem no
endotélio vascular e se caracteriza por
diferentes graus de proliferação endo-
telial, além de formação de rede de
pequenos e delicados canais vascula-
res interligados com forma e tamanho
irregulares , revestidos de células ma-
lignas fusiformes com características
epitelioides. Sua imunohistoquímica
é positiva para os marcadores CD 31,
CD 34 e Ki 67.
A ocorrência do angiossarcoma é mais
comum em adultos, sem predileção
por gênero ou faixa etária. Perda de
peso, fraqueza e cansaço são sintomas
inespecíficos, mas, quando o tumor
se localiza no intestino delgado,
pode cursar com dor abdominal,
obstrução, perfuração ou, principal-
mente, por sangramento intestinal
1,3,4,5,6,7,8,9,10, e excepcionalmente por
hemoperitônio. 2 A localização do
tumor no segmento jejuno ileal reduz
em muito a eficácia da endoscopia
digestiva alta e baixa, enquanto que
a tomografia computadorizada com
contraste venoso é bastante valiosa
para a suspeição diagnóstica de tumor
intestinal, conforme verificado na
paciente por nós tratada.
A ressecção cirúrgica do angiossar-
coma é a melhor abordagem para seu
tratamento. A raridade desse tumor
não permite demonstrar, com segu-
rança, os benefícios da quimioterapia
pós-operatória.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. PASCUAL, M; JUANPERE, N;
ALAMEDA, F; PERA, M. Angiosar-
coma primário de colon como causa
de hemorragia digestiva baja masiva.
REV. ESP. ENFERM. DIG. 2010;
102: 282-3.
2. JOO, T.Y; JEONG, C.Y; JUNG,
J.E; JOON, L.Y; CHAN, H.S; CHOI,
S.K; PARK, S.T; HA, S.W. Angiosar-
comaintra abdominal en el desarrollo
de una cápsula de un cuerpo estraño:
a propósito de um caso associado con
diátesis hemorrágica. WORLD J.
SURG. ONCO. 2005; 3: 60.
3. ZURERA, L; VALMORISCO,
M.A; GOMAR, M.P; TRUJILLO,
D.B; ORTIZ, A.A.R; POLEY, S.G;
OSSORIO, A.M; GARCIA, M.A.P;
SERRANO, J.M.F; LUIS, J. Angio-
sarcoma em intestino delgado como
localizacion excepcional. HTTP://
www.asacirujanos.com/angiosarcoma-
en-intestino-delgado.com
4. CHEN, J.L; MOK, K.T; TSENG,
H.H; WANG, B.W; LIU, S.I; CHEN,
C.W. Duodenal angiosarcoma: na
unusual cause of severe gastroin-
testinal bleeding. J. CHIN. MED.
ASSOC. 2007; 70: 352-5.
5. FERNANDEZ, M.M; VELA, C.G;
FERNANDEZ, F.F; MACHO, F.M;
BERNAL, F.V; GONZALEZ, J. C.
Angiosarcoma metastático del in-
testino delgado. VI CCONGRESSO
VIRTUAL HISPANOAMERICA-
NO DE ANATOMIA PATOLÓGI-
CA, Marzo, 2004.
6. KALEMEN, K; YU, Q.Q; HOWARD,
L. Small intestinal angiosarcoma leading
to perforation and acute abdomen. A
case report and review of the literature.
ARCH. PATHOL. LAB. MED. 2004;
128:95-8.
7. MOHAMED, A; ALIYU, H.O;
LIMAN, A; ABULLAHI, H; ABU-
BAKAR, N. Angiosarcoma of the
small intestine. ANN. AFRIC. MED.
2011; 10: 246-8.
8. AITOLA, P; POUTIAINEN, A;
NORDBACK, I. Small bowel angios-
sarcoma after pelvic irradiation: a
report of two cases. INT. COLOREC-
TAL DIS. 1999; 14: 308-10.
9. CHAMI, T.N; RATNER, L.E;
HENNEBERRY, J; SMITH, D.P;
COLINA, G; KATZ, P.O. Angios-
sarcoma do intestino delgado: relato
de caso e revisão da literatura. AM.
J. GASTROENTEROL. 1994; 89:
797-800.
10. MARTINEZ, A.G.F; POZO,
P.J.M; AVILA, C.J.A; DAVIDSON,
G.H; MARTINEZ, A.F. Angiosar-
coma epitelioide primário de jejuno
multifocal como causa excepcional de
anemia crônica por perdas digestivas.
GASTROENTERO. HEPATOL.
2012; 35: 295-6. n
Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014 31
Laura BergalloEditora
O conteúdo e as opiniões expressas nos casos e sessões aqui publicados são de responsabilidade exclusiva de seus relatores e participantes, não expressando obrigatoriamente a posição da revista. Foto de Capa: Getty Images / Stockbite
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE RELATOS DE CASO
1. Enviar o relato de caso em CD ou pelo e-mail [email protected] com texto em fonte Times New Roman, corpo 12, além da autorização de publicação assinada por todos os autores (esta deve somente ser enviada pelo correio ou entregue em mãos). Ver modelo da autorização em http://www.condutamedica.com.br/artigo.asp?id=103.2. Redigir o título em português e, logo abaixo, em inglês.3. Em seguida, mencionar nomes dos autores, titulação principal de cada um, e serviço ou instituição a que pertencem.4. Fazer o resumo do relato de caso em português, com não mais que 250 palavras, seguido do abstract, em inglês, também com não mais que 250 palavras.5. Colocar as palavras-chave (ou descritores), num mínimo de três e máximo de cinco, seguidas das key-words, em inglês, também no mínimo de três e máximo de cinco.6. Para o texto do relato de caso, sugerimos itens (não obrigatórios) como apresentação, anamnese, antecedentes, exame físico, impressão diagnóstica, exames solicitados e seus resultados, evolução e conduta adotados, comentários e discussão, e bibliografia (referida ou não) ao final.7. A bibliografia pesquisada ou as referências bibliográficas não devem ter mais que 10 itens. No caso das referências bibliográficas, todas elas devem estar citadas no texto e numeradas na ordem de seu aparecimento.OBS: Para publicação de sessões clínicas e desafios diagnósticos, consultar a editora sobre as normas.
EXPEDIENTEConduta Médica (ISSN 1519-2938) é uma publicação de Laura Bergallo Editora, com sede à Rua do Catete, 228/303 - Catete - Rio de Janeiro - RJ - CEP 22220-001 - tel. (21) 2205-1587 - e-mail [email protected], com tiragem de 7 mil exemplares e distribuição gratuita e exclusiva para a classe médica.
EDITOR Gilberto Perez Cardoso
EDITORES ASSOCIADOS Fernando Antonio Pinto Nascimento e Antônio Alves de Couto
Editor Junior Renato Bergallo Bezerra Cardoso
CORPO EDITORIAL Adauto Dutra Moraes Barbosa; Agostinho Soares da Silva; Antonio Cláudio Goulart Duarte; Cantídio Drumond Neto; Celso Correa de Barros; Cyro Teixeira da Silva Junior; Edson Marchiori; Eduardo Augusto Bordallo; Eduardo Nani da Silva; Emilson Ferreira Lorca; Euclides Malta Carpi; Evandro Tinoco Mesquita; Fernando José Nasser; Heraldo Belmont; Hugo Miyahira; Ivo Pitanguy; Jodélia Lima Martins Henriques; Jorge Strogoff; José Antônio Caldas Teixeira; José Galvão Alves; José Manoel Gomes Martinho; José Sérgio Franco; Luiz Mario Bonfatti Ribeiro; Marcos Raimundo de Freitas; Maria Alice Neves Bordallo; Marília Martins Guimarães; Mario Barreto Corrêa Lima; Mario Fritsch Toros Neves; Mauro Zamboni; Miguel Houaiss; Osvaldo José Moreira do Nascimento; Rogério Neves Motta; Rubens Antunes Cruz Filho; Serafim Ferreira Borges; Terezinha Sanfim Cardoso; Wladmir Tadeu Baptista Soares
INDEXAÇÃO A revista Conduta Médica está constando, no momento, nas seguintes bases de dados:-http://www2.ff.ul.pt/biblioteca/catalogo/Revistas_Biomedicas_Lingua_Portuguesa.htm (Catálogo de Revistas Biomédicas em Língua Portuguesa da Universidade de Lisboa ) - http://qualis.capes.gov.br/webqualis/publico/pesquisaPublicaClassificacao.seam (Qualis da Capes Medicinas I e II)
Jornalista Responsável Luiz Bergallo (Reg. 27552-RJ)
Projeto Gráfico e Diagramação Guilherme Sarmento ([email protected])
Edição, Texto e Revisão Laura Bergallo (Reg. Jornalista 31363-RJ)
Impressão Grafitto
ConDUTa®
médica
NOTA DO EDITOR: A revista Conduta Médica é uma publicação exclu-sivamente voltada para a educação médica continuada, não sendo desti-nada à divulgação de pesquisa médica e/ou experimental de qualquer tipo.
Seus artigos se constituem em relatos e discussões de casos práticos de atendimento ambulatorial e/ou hospitalar, em que é preservada a identidade dos pacientes e em que são utilizados exclusivamente proce-dimentos e condutas consagrados na literatura científica, sem nenhuma finalidade de produzir conhecimento novo que utilize investigação com seres humanos.
PAtROCínIO ExCLuSIVO:
www.condutamedica.com.br
EDIÇÃO DE ABRIL/MAIO/JUNHO - 2014 - Nº 60 – ANO XV
32 Conduta médiCa ● ano XV - n060 - aBRiL/maio/JunHo/2014