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s300 Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s300-s301, 2007. ISSN 1678-0345 (Print) ISSN 1679-9216 (Online) Pré-anestesia com clonidina antes da anestesia com etomidato-halotano em cães Clonidine premedication before etomidate-halothane anaesthesia in dogs Rafael Derossi, Joana Zafalon Ferreira, Ariane Benites, Larissa Correa Hermeto, João Marcelino Negrini Neto & Fabrício de Oliveira Frazílio Departamento de Medicina Veterinária, FAMEZ – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: [email protected] ABSTRACT The objective of this study was to evaluate three different doses of clonidine, an alpha-2 agonist drug, as a premedicant in dogs prior to etomidate-halothane anaesthesia. Six healthy dogs were anesthetized. Each dog received intravenously (i.v.) three different preanaesthetic protocols: CL6 (clonidine, 6 μg/kg i.v.), CL8 (clonidine, 8 μg/kg i.v.) or CL10 (clonidine, 10 μg/kg i.v.). Anesthesia was induced with etomidate (4 ± 0.8 mg/kg) and maintained with halothane. The following variables were studied: heart rate (HR), systolic arterial pressure (SAP), diastolic arterial pressure (DAP), mean arterial pressure (MAP), respiratory rate (RR), arterial oxygen saturation and end tidal CO 2 . Arterial blood pH and arterial blood gas tension (PaO 2 , PaCO 2 ) were measured during anaesthesia. Time to extubation, time to sternal recumbency and time to standing were also recorded. HR and RR decreased significantly during sedation in all treatments. CL6 and CL8 decreased significantly the arterial pressures after sedation but remained stable during the anaesthetic period. Respiratory variables during anaesthesia were statis- tically similar in all treatments. Halothane requirements were similar for CL6, CL8 and CL10. The combination of clonidine, etomidate and halothane appears to be effective for induction and maintenance of general anaesthesia in healthy dogs. Key words: anaesthesia, clonidine, etomidate, halothane, dogs. INTRODUÇÃO A clonidina é um fármaco seletivo para os receptores alfa-2 agonistas com alguma atividade sobre os receptores alfa-1, primeiramente usado como anti-hipertensivo em humanos, mas devido a sedação e excessiva salivação seu uso foi restrito [7]. Atualmente é considerado um bom fármaco que induz profunda sedação e analgesia após aplicação endovenosa (e.v.). Como outros fármacos alfa-2 agonistas, a clonidina induz analgesia com metade do tempo de duração que a sedação produzida [2]. Outros fármacos alfa-2 agonistas como a xilazina, romifidina, dexmedetomidina ou medetomidina tem sido usados como agentes pré-anestésicos em vários protocolos de anestesia geral em cães [3,4]. O etomidato é um agente anes- tésico venoso, comumente usado em pacientes chocados e com a hemodinâmica instável, sendo um agente recomendado em situações de emergência. Sua principal vantagem é a mínima interferência na função cardiovascular [1] e em cães hipovolê- micos [8]. O halotano é um potente agente anestésico inalatório, com rápida ação na perda da consciência na indução anes- tésica. O halotano causa uma hipotensão por uma redução dose-dependente das pressões arteriais. Objetivou-se neste estudo, comparar três diferentes doses de clonidina e.v. administradas como medicação pré-anestésica antes da anestesia geral com etomidato-halotano em cães. MATERIAIS E MÉTODOS A Comissão de Ética da nossa Instituição aprovou este estudo. Seis cães sem raça definida (2 machos e 4 fêmeas) pesando 11,7±2,2 (média ±DP) foram avaliados. Todos animais estavam sadios baseados em exames clínicos e análises hematológicas e bioquímicas. Foi observado um jejum alimentar de 12 horas e hídrico por 6 horas. Três protocolos anestésicos foram administrados em cada animal com no mínimo de 1 semana entre eles. Cada cão recebeu pela via endovenosa (e.v.) os seguintes protocolos pré-anestésicos: CL6 – clonidina; 6 μg/kg, CL8 – clonidina; 8 μg/kg e CL10 – clonidina; 10 μg/kg. Antes da sedação, um cateter foi inserido na veia cefálica e mantido (10 ml/kg/h) até o final do período experimental. A profundidade da sedação baseada nos efeitos centrais foi avaliada pela seguinte escala: (1) sem efeitos sedativos, (2) ligeira sedação; alerta reduzida e alguma resposta ao estímulo acústico, (3) moderada sedação; sonolência, cabeça baixa, reflexo palpebral mode- rado e rotação parcial do globo ocular, e (4) marcada sedação; decúbito lateral ou esternal, sem resposta aos estímulos acús- ticos, cabeça baixa, fraco reflexo palpebral e completa rotação do globo ocular. Em todos protocolos anestésicos, 15 min depois da administração das diferentes doses de clonidina, a anestesia foi induzida com etomidato e.v. (4±0,8 mg/kg) até a obtenção de um plano aceitável para a intubação endotraqueal. Um sistema semifechado de anestesia inalatória foi conectado ao tubo endotraqueal. A anestesia foi mantida com 0,8-1,2% de halotano em oxigênio 100%. Todos os cães foram mantidos em decúbito lateral esquerdo e a anestesia inalatória foi mantida durante 60 min. Foram avaliados os valores de freqüência cardíaca (FC) batimentos por minuto e as pressões arteriais (PAD, PAS e PAM) por meio de um monitor multiparamétrico não invasivo tipo oscilométrico, com o manguito colocado sobre a artéria femoral. A freqüência respiratória (FR) através de movimentos torácicos por minuto. SpO 2 com o emissor/sensor adap- tado em região cutânea compatível e a temperatura retal (TR) mensurada com termômetro digital. Estes parâmetros foram mensurados antes da aplicação das três doses de clonidina e 5, 10 e 15 min, e a intervalos de 10 min durante o período anestésico. Após a sedação um cateter foi inserido na artéria femoral para a coleta de sangue arterial para a gasometria. Foram avaliados pHa, PaO 2 , PaCO 2 , HCO 2 e excesso de base. As coletas foram realizadas 15 min após a sedação e 30 e 60 min após a indução da anestesia e mensuradas por eletrodos específicos (ABL5 Radiometer, Copenhagen, Denmark). Durante a recuperação anestésica foram avaliados o tempo de extubação (desde o final da administração de halotano até os primeiros movimentos voluntários), tempo de decúbito esternal e tempo do animal se posicionar em estação.

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s300-s301, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Pré-anestesia com clonidina antesda anestesia com etomidato-halotano em cães

Clonidine premedication before etomidate-halothane anaesthesia in dogsRafael Derossi, Joana Zafalon Ferreira, Ariane Benites, Larissa Correa Hermeto,

João Marcelino Negrini Neto & Fabrício de Oliveira FrazílioDepartamento de Medicina Veterinária, FAMEZ – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate three different doses of clonidine, an alpha-2 agonist drug, as a premedicant in dogsprior to etomidate-halothane anaesthesia. Six healthy dogs were anesthetized. Each dog received intravenously (i.v.) three different preanaestheticprotocols: CL6 (clonidine, 6 µg/kg i.v.), CL8 (clonidine, 8 µg/kg i.v.) or CL10 (clonidine, 10 µg/kg i.v.). Anesthesia was induced with etomidate(4 ± 0.8 mg/kg) and maintained with halothane. The following variables were studied: heart rate (HR), systolic arterial pressure (SAP), diastolicarterial pressure (DAP), mean arterial pressure (MAP), respiratory rate (RR), arterial oxygen saturation and end tidal CO2. Arterial blood pHand arterial blood gas tension (PaO2, PaCO2) were measured during anaesthesia. Time to extubation, time to sternal recumbency and timeto standing were also recorded. HR and RR decreased significantly during sedation in all treatments. CL6 and CL8 decreased significantlythe arterial pressures after sedation but remained stable during the anaesthetic period. Respiratory variables during anaesthesia were statis-tically similar in all treatments. Halothane requirements were similar for CL6, CL8 and CL10. The combination of clonidine, etomidate andhalothane appears to be effective for induction and maintenance of general anaesthesia in healthy dogs.

Key words: anaesthesia, clonidine, etomidate, halothane, dogs.

INTRODUÇÃO

A clonidina é um fármaco seletivo para os receptores alfa-2 agonistas com alguma atividade sobre os receptoresalfa-1, primeiramente usado como anti-hipertensivo em humanos, mas devido a sedação e excessiva salivação seu uso foirestrito [7]. Atualmente é considerado um bom fármaco que induz profunda sedação e analgesia após aplicação endovenosa(e.v.). Como outros fármacos alfa-2 agonistas, a clonidina induz analgesia com metade do tempo de duração que a sedaçãoproduzida [2]. Outros fármacos alfa-2 agonistas como a xilazina, romifidina, dexmedetomidina ou medetomidina tem sidousados como agentes pré-anestésicos em vários protocolos de anestesia geral em cães [3,4]. O etomidato é um agente anes-tésico venoso, comumente usado em pacientes chocados e com a hemodinâmica instável, sendo um agente recomendado emsituações de emergência. Sua principal vantagem é a mínima interferência na função cardiovascular [1] e em cães hipovolê-micos [8]. O halotano é um potente agente anestésico inalatório, com rápida ação na perda da consciência na indução anes-tésica. O halotano causa uma hipotensão por uma redução dose-dependente das pressões arteriais. Objetivou-se nesteestudo, comparar três diferentes doses de clonidina e.v. administradas como medicação pré-anestésica antes da anestesiageral com etomidato-halotano em cães.

MATERIAIS E MÉTODOS

A Comissão de Ética da nossa Instituição aprovou este estudo. Seis cães sem raça definida (2 machos e 4 fêmeas)pesando 11,7±2,2 (média ±DP) foram avaliados. Todos animais estavam sadios baseados em exames clínicos e análiseshematológicas e bioquímicas. Foi observado um jejum alimentar de 12 horas e hídrico por 6 horas. Três protocolos anestésicosforam administrados em cada animal com no mínimo de 1 semana entre eles. Cada cão recebeu pela via endovenosa (e.v.)os seguintes protocolos pré-anestésicos: CL6 – clonidina; 6 µg/kg, CL8 – clonidina; 8 µg/kg e CL10 – clonidina; 10 µg/kg. Antesda sedação, um cateter foi inserido na veia cefálica e mantido (10 ml/kg/h) até o final do período experimental. A profundidadeda sedação baseada nos efeitos centrais foi avaliada pela seguinte escala: (1) sem efeitos sedativos, (2) ligeira sedação; alertareduzida e alguma resposta ao estímulo acústico, (3) moderada sedação; sonolência, cabeça baixa, reflexo palpebral mode-rado e rotação parcial do globo ocular, e (4) marcada sedação; decúbito lateral ou esternal, sem resposta aos estímulos acús-ticos, cabeça baixa, fraco reflexo palpebral e completa rotação do globo ocular.

Em todos protocolos anestésicos, 15 min depois da administração das diferentes doses de clonidina, a anestesiafoi induzida com etomidato e.v. (4±0,8 mg/kg) até a obtenção de um plano aceitável para a intubação endotraqueal. Umsistema semifechado de anestesia inalatória foi conectado ao tubo endotraqueal. A anestesia foi mantida com 0,8-1,2% dehalotano em oxigênio 100%. Todos os cães foram mantidos em decúbito lateral esquerdo e a anestesia inalatória foi mantidadurante 60 min. Foram avaliados os valores de freqüência cardíaca (FC) batimentos por minuto e as pressões arteriais (PAD,PAS e PAM) por meio de um monitor multiparamétrico não invasivo tipo oscilométrico, com o manguito colocado sobre aartéria femoral. A freqüência respiratória (FR) através de movimentos torácicos por minuto. SpO2 com o emissor/sensor adap-tado em região cutânea compatível e a temperatura retal (TR) mensurada com termômetro digital. Estes parâmetros forammensurados antes da aplicação das três doses de clonidina e 5, 10 e 15 min, e a intervalos de 10 min durante o períodoanestésico. Após a sedação um cateter foi inserido na artéria femoral para a coleta de sangue arterial para a gasometria.Foram avaliados pHa, PaO2, PaCO2, HCO2 e excesso de base. As coletas foram realizadas 15 min após a sedação e 30 e 60min após a indução da anestesia e mensuradas por eletrodos específicos (ABL5 Radiometer, Copenhagen, Denmark). Durantea recuperação anestésica foram avaliados o tempo de extubação (desde o final da administração de halotano até os primeirosmovimentos voluntários), tempo de decúbito esternal e tempo do animal se posicionar em estação.

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Derossi R., Ferreira J.Z., Benites A., Hermeto L.C., Negrini Neto J.M. & Frazílio F.O. 2007. Pré-anestesia com clonidina antes daanestesia com etomidato-halotano em cães. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s300-s301.

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www.ufrgs.br/favet/revista

Supl 2

Análise Estatística – Para as variáveis dependentes FC, PAS, PAD, PAM, FR, SpO2 e TR aplicou-se a análise devariância ANOVA seguido do teste de Dunnett, sendo o tempo 0 considerado como padrão. Para as variáveis analgesia, se-dação e bloqueio motor adotou-se procedimentos não-paramétricos, aplicando o teste de Friedman seguido da compara-ção múltipla para dados em rank tipo Dunnett, tendo o tempo 0 também como padrão. Foi considerada diferença significativap<0,05.

RESULTADOS

O grau de sedação induzida pelos grupos CL8 e CL10 foi considerado efetivo (grau 4) e do grupo CL6 moderada(grau 3). Não houve diferença significativa no tempo de extubação, tempo de decúbito esternal e no tempo do animal seposicionar em estação.

Após a pré-medicação, FC e FR diminuíram (p<0,05) em todos grupos. Observou-se bloqueio átrio-ventricular deprimeiro grau com todas as doses de clonidina. Somente o grupo CL10 não apresentou diminuição significativa naspressões arteriais no período de sedação. A qualidade de indução da anestesia geral com etomidato foi satisfatória, nãoapresentando dificuldades na intubação endotraqueal. Durante o período anestésico, a FC diminuiu significativamente emtodos os tempos avaliados nos grupos CL6 e CL8, e de 10-20 min no grupo CL10. As pressões arteriais (DAP, SAP e MAP)diminuíram de 10-60 min nos grupos CL6 e CL8 e de 40-60 min no grupo CL10. A FR diminuiu significativamente em todosintervalos avaliados nos 3 grupos após a indução da anestesia até os 60 minutos. O requerimento de halotano foi similarpara os três grupos. Durante o período anestésico não houve alterações significativas (p>0,05) nos grupos CL6, CL8 e CL10nos parâmetros respiratórios avaliados (pHa, PaO2, PaCO2, HCO2 e excesso de base).

DISCUSSÃO E CONCLUSÂO

A eleição dos fármacos pré-anestésicos é fundamental nos protocolos de anestesia geral em pequenos animais.Infelizmente, as maiorias dos fármacos pré-anestésicos usados na clínica veterinária induzem alterações cardio-respiratóriasque podem ser importantes em animais fracos. Baseados em estudos prévios envolvendo outras espécies, nós selecionamostrês doses de clonidina para analisarmos seus efeitos sedativos, analgésicos e sistêmicos em cães. Em nosso estudo apósa administração de clonidina e.v. na dose de 10 µg/kg o efeito sedativo foi superior e mais rápido e exibido nos primeiros 2min pós-administração. Apresentaram decúbito lateral ou esternal, com abaixamento da cabeça e fechamento das pálpebras.Estes efeitos também foram observados em vários estudos com outros fármacos alfa-2 agonistas [4,6].

Sedação com fármacos alfa-2 agonistas resultam em depressão respiratória secundária aos efeitos depressivossobre o sistema nervoso central produzido pela estimulação dos receptores alfa-2 [9]. Em nosso estudo a FR diminuiu emtodos cães nos três grupos pós-sedação. Estes resultados são similares aos produzidos pela dexmedetomidina em cães noperíodo pré-anestésico [6].

A administração e.v. de etomidato produziu uma indução da anestesia geral sem excitação em todos cães e semdificuldades na intubação endotraqueal, similar a outros estudos com cães pré-medicados com fármacos alfa-2 agonistas[4]. Após a administração do etomidato a FC permaneceu abaixo dos valores basais, mas estável até o final do experimento.Etomidato causa mínimas alterações cardiovasculares em cães, mas o halotano causa hipotensão dose-dependente [1,8].Houve uma diminuição progressiva na FR, como os resultados obtidos em outro estudo com infusão de etomidato em cãespré-medicados com medetomidina [5]. Em nosso estudo não houve alterações nos parâmetros respiratórios avaliados. Apósa anestesia geral (etomidato/halotano) os cães permaneceram calmos e sem excitação em nenhum dos protocolos anesté-sicos. O aumento da dose de clonidina em nosso estudo aumentou a sedação/analgesia reduzindo a duração e severidadedos efeitos colaterais cardiovasculares.

Em conclusão, as doses estudadas de clonidina em combinação com etomidato/halotano foram efetivas para aindução e manutenção da anestesia geral em cães sadios. Providenciou um período pré-anestésico satisfatório e reduziu adose de etomidato. Durante o período anestésico as varáveis cardio-respiratórias permaneceram em níveis satisfatórios.

REFERÊNCIAS

1 Criado A., Maseda J., Navarro E., Escarpa A. & Avello F. 1980 . Induction of anaesthesia with etomidate: haemodynamic study of 36 patients.British Veterinary Journal. 52: 803-806.

2 Cullen L.K. 1996 . Medetomidine sedation in dogs and cats: a review of its pharmacology, antagonism and dose. British Veterinary Journal.152: 519-535.

3 England G.C.W. & Hammond R. 1997 . Dose-sparing effects of romifidine premedication for thiopentone and halothane anaesthesia in the dog.Journal of Small Animal Practice. 38: 141-146.

4 Gómez-Villamandos R.J., Palacios C., Benitez A., Granados M.M., Domínguez J.M., Lopez I., Ruiz I., Aguilera E; & Santisteban J .M.2006. Dexmedetomidine or medetomidine premedication before propofol-desflurane anaesthesia in dogs. Journal of Veterinary Pharamcologyand Therapeutics. 59: 157-163.

5 Ko J.C., Thurmon J.C., Benson G.J., Tranquilli W.J., Olson W.A. & Vaha-Vahe A.T. 1994 . Hemodynamic and anesthetic effects of etomidateinfusion in medetomidine-premedicated dogs. American Journal of Veterinary Research. 55: 842-846.

6 Kuusela E., Raekallio M., Valsanen M., Mykkanen K., Ropponen H. & Vainio O. 2001 . Comparison of medetomidine and dexmedetomidineas premedicants in dogs undergoing propofol-isoflurane anesthesia. American Journal of Veterinary Research. 62: 1073-1080.

7 Muzi M., Goff D.R., Kampine J.P., Roerig D.L. & Ebert T.J. 1992 . Clonidine reduces sympathetic but maintains baroreflexresponses in normotensive humans. Anesthesiology. 77: 864-871.

8 Pascoe P.J., Ilkiw J.E., Hashins S.C. & Patz J.D. 1992 . Cardiopulmonary effects of etomidate in hypovolemic dogs. Ame-rican Journal of Veterinary Research. 53: 2178-2182.

9 Sinclair M.D. 2003 . A review of the physiological effects of alpha-2 agonists related in the clinical use of medetomidine in smallanimal practice. Canadian Veterinary Journal. 44: 885-897.

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s302-s304, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Sedação com xilazina e administração epidural lombo-sacralde quetamina, lidocaína e a combinação quetamina-lidocaína em gatos

Sedation with xylazine and lumbosacral epidural administrationof ketamine, lidocaine and ketamine-lidocaine combination in cats

Rafael Derossi, Ariane Benites, Joana Zafalon Ferreira, João Marcelino Negrini Neto,Larissa Correa Hermeto & Fabrício de Oliveira Frazílio

Departamento de Medicina Veterinária, FAMEZ – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.E-mail: [email protected]

ABSTRACT

To determine the efficacy and safety of the combination of epidural ketamine with lidocaine we studied six sedated cats. Eachcat underwent three treatments, at least one week apart, via epidural injection: (1) ketamine (2.5 mg/kg), lidocaine (4.0 mg/kg) and ketamine(2.5 mg/kg) plus lidocaine (4 mg/kg). Epidural injections were applied at the lumbosacral space. Analgesia, motor block, sedation, heart rate,arterial blood pressure, respiratory rate, arterial oxygen saturation were measured by pulse oximetry, and rectal temperature was comparedbefore and after sedation and also after epidural administration of drugs. Epidural administration of the ketamine-lidocaine combinationinduced prolonged analgesia extending from the coccygeal to the T13-L1 dermatomes leading cats to severe ataxia. Cardiovascular effectswere significant in all treatments: heart rate decreased and there was a minimal reduction in arterial pressure. We concluded that adding adose of ketamine to epidural lidocaine in cats is effective and safe when compared the administration of these drugs separately.

Key words: ketamine, lidocaine, epidural, anaesthesia, cats.

INTRODUÇÃO

Na prática felina, os bloqueios epidural ou regional são raramente usados presumivelmente pela dificuldade demanipular estes animais conscientes. Comumente, os clínicos médicos veterinários usam estas técnicas após a tranqüilizaçãoou anestesia superficial pela dificuldade em realizar a aplicação epidural em animais conscientes [9]. A anestesia epiduralem gatos é usado em vários procedimentos ortopédicos dos posteriores e cesáreas, principalmente em animais em estadocrítico ou profundamente sedados [7]. A lidocaína é o anestésico local tradicionalmente usado no bloqueio epidural em cãese gatos [10], mas induz a hipotensão e neurotoxicidade. Em vista destas alterações, estudos têm sido conduzidos para deter-minar as vantagens de um bloqueio sensitivo específico. Com este propósito estudos têm sido realizados com outros fármacosou combinação de fármacos, como morfina em gatos [11] e quetamina–lidocaína em caprinos [2]. Se o efeito destas combi-nações é maior do que os fármacos usados individualmente, então esta interação pode ser considerada sinérgica. Interaçãosinérgica ocorre quando os fármacos utilizados afetam pontos críticos de maneira diferente por uma mesma via de adminis-tração [8]. A quetamina é normalmente utilizada como um agente anestésico dissociativo em gatos, mas também induzanalgesia pela via epidural em animais e humanos, ajudando no alívio da dor pós-operatória [2,3]. O objetivo deste estudofoi verificar se a combinação de lidocaína e quetamina administradas por via epidural em gatos produz analgesia de longaduração com menos efeitos colaterais do que os fármacos administrados separadamente, em doses normalmente usadasclinicamente na medicina veterinária.

MATERIAIS E MÉTODOS

A Comissão de Ética da nossa Instituição aprovou o protocolo e desenho experimental deste estudo. Nós utiliza-mos 6 gatos adultos sadios sem raça definida, pesando 2,0-3,7 kg (média+/-DP; 2,7-0,6 kg). Cada animal recebeu 3 trata-mentos aleatoriamente com intervalo de 1 semana entre eles. Antes da administração dos fármacos pela via epidural, todosos gatos foram sedados com 1,0 mg/Kg/im de xilazina 1%. A área lombo-sacral foi tricotomizada e preparada de forma assép-tica para a introdução da agulha epidural. A pele e subcutâneo do local de entrada da agulha epidural foi insensibilizadacom lidocaína 1%. Após a identificação do espaço epidural (última vértebra lombar e primeira sacral) e confirmação pelapressão negativa ou baixa resistência, os 3 tratamentos foram administrados: Tratamento 1, quetamina (Q-0;0,5 ml/kg; 2,5 mg/kg),Tratamento 2 (L; 0,20 ml/kg; 4,0 mg/kg) e Tratamento 3, (QL- 2,5 mg/kg de quetamina + 4,0 mg/kg de lidocaína).

Freqüência cardíaca (FC), pressões arteriais (PAS, sistólica: PAD, diastólica e PAM, média), freqüência respiratória(FR), SpO2, temperatura retal (TR), analgesia, bloqueio motor e sedação foram mensurados antes da administração dosfármacos (basal), 5, 10 e 15 min após a sedação, e 15 min após a administração epidural até o final do período anestésico.A analgesia foi determinada através de estímulos dolorosos, pela seguinte escala: (1) sensação normal ao estímulo doloroso,(2) ligeira analgesia, (3) moderada analgesia e (4) completa analgesia. O bloqueio motor foi avaliado usando a seguinteescala: (1) animal em posição normal, (2) com dificuldade em se manter em pé, (3) em decúbito, mas com movimentos dosposteriores e (4) em decúbito, sem movimentos dos posteriores. Durante a sedação, antes e depois da administração epidural,

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Derossi R., Benites A., Ferreira J.Z., Negrini Neto J.M., Hermeto L.C. & Frazílio F.O. 2007. Sedação com xilazina e administraçãoepidural lombo-sacral... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s302-s304.

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ela foi avaliada pela seguinte escala: (1) sem efeitos sedativos, (2) ligeira sedação; alerta reduzida e alguma resposta aoestímulo acústico, (3) moderada sedação; sonolência, cabeça baixa, midríase e reflexo palpebral moderado e (4) marcadasedação; decúbito lateral ou external, sem resposta ao estímulo acústico e fraco reflexo palpebral.

Análise Estatística – Para as variáveis dependentes FC, PAS, PAD, PAM, FR, SpO2 e TR aplicou-se a análise devariância ANOVA seguido do teste de Dunnett, sendo o tempo 0 considerado como padrão. Para as variáveis analgesia,sedação e bloqueio motor adotou-se procedimentos não-paramétricos, aplicando o teste de Friedman seguido da compa-ração múltipla para dados em rank tipo Dunnett, tendo o tempo 0 também como padrão. Foi considerada diferença significa-tiva p<0,05.

RESULTADOS

A sedação induzida pela xilazina foi efetiva em todos gatos com duração de 2-3 h (graus 3 e 4). O início da com-pleta analgesia foi rápido em todos tratamentos (2,2+/-1,0 min). A combinação quetamina/lidocaína epidural produziu analgesiade longa duração (137+/-14,3 min; média +/-DP) que a quetamina (70+/-6,3 min) ou lidocaína (69+/-13 min) separadamente.A extensão da analgesia foi similar para os três tratamentos (T13-L1). A ataxia foi mais prolongada no tratamento QL com-binação (96+/-17 min).

Pós-sedação e após a administrações dos fármacos por via epidural, todos animais dos 3 tratamentos apresen-taram diminuição significativa (p<0,05) da freqüência cardíaca, sendo mais demorada na combinação que foi dos 15 min atéo final do experimento. Somente no tratamento com lidocaína epidural não houve diferença significativa nas pressõesarteriais, sendo mínimas nos outros dois tratamentos. Todos os tratamentos apresentaram diminuição significativa (p<0,05)na temperatura retal.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo demonstraram que a combinação de quetamina e lidocaína por via epidural produziuuma analgesia das regiões dos posteriores e abdominal em gatos duas vezes mais longa que a observada com a quetaminae a lidocaína isoladamente.

A hipotensão provocada pelos anestésicos locais por bloqueio simpático, é particularmente prejudicial em cesáreasou animais hipovolêmicos. Além disto, os anestésicos locais necessitam de altas concentrações para produzir longo períodode anestesia e estas podem determinar neurotoxicidade e prolongar a hipotensão [6]. A quetamina como os anestésicoslocais causam um efeito dose-dependente na duração da analgesia. Estas considerações levaram a pesquisa de soluçõesanestésicas mais diluídas ou associações de fármacos para minimizar estes possíveis efeitos nas administrações por viaepidural. A quetamina é um antagonista dos receptores NMDA e interage com os receptores opióides, monoaminérgicos emuscarínicos, e com os canais de Ca2+ na medula espinhal [5].

Sistemicamente, a quetamina afeta o sistema cardiovascular, com aumento da freqüência cardíaca, das pressõesarteriais e resistências vascular e pulmonar com depressão respiratória. Este efeito ocorre por ação central mediado por umaumento generalizado do tônus simpático [12]. Neste estudo a FC diminuiu nos tratamentos Q e QL. Provavelmente esteefeito ocorreu pela sedação com a xilazina antes da administração dos fármacos, porque após as aplicações epidurais a FCpermaneceu estável até o final dos experimentos. Em nosso estudo, todos tratamentos produziram diminuição significativanas pressões arteriais, sendo mais evidente nos grupo Q e QL. Outros estudos com administrações epidural ou subaracnóideacom quetamina só ou em combinação não induziu alterações nas pressões arteriais em caprinos [2] ou eqüinos [3]. Esteefeito pode ter ocorrido pela sedação com a xilazina, volume, local de aplicação e espécie animal. Nenhum dos tratamentosinduziu alterações significativas na freqüência respiratória.

Houve diminuição da temperatura retal em todos animais e nos três tratamentos. Os fármacos alfa-2 agonistasinduzem prolongada depressão na termoregulação [4]. Estes agentes deprimem os receptores alfa-2 nor-adrenérgicos hipota-lâmico causando hipotermia. A diminuição da temperatura retal após xilazina neste estudo é compatível com outros estudosenvolvendo fármacos alfa-2 agonistas em gatos [1,4].

Nós concluímos que a combinação de quetamina (2,5 mg/kg) a lidocaína (4,0 mg/kg) por via epidural é segura eefetiva aumentando a duração da analgesia em gatos, com mínimos efeitos cardiovasculares quando comparada à admi-nistração destes fármacos separadamente.

REFERÊNCIAS

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s304

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s305-s306, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Efeito do etoricoxib na recuperaçãopós-cirúrgica em gatas domésticas

Effect of etoricoxib in the powder-surgical recovery in domestic cats

Lídia Fátima Barreto Rocha 1, Luiz Esmeraldo da Cruz Filho 1, Nilza Dutra Alves 2,Thiago Heráclito de Matos Costa 3, Romeika Hermínia de Macedo Assunção Pereira 2,Herbert Sousa Soares 2, Idalécio Pacífico da Silva 2, Sthenia Santos Albano Amóra 4,

Kilder Dantas Filgueira 5 & Francisco Marlon Carneiro Feijó 6

1Médico Veterinário autônomo. 2Curso de Medicina Veterinária, UFERSA. 3Graduação, Curso de Medicina Veterinária,UFERSA. 4Dotouranda, PGCV-FAVET-UECE. 5Hospital Veterinário, UFERSA. 6Setor de Microbiologia, UFERSA.

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

The felines present serious collateral effects with the use no-steroids anti-inflammatory (AINEs) due to the deficiency of theenzyme glucuronyl-transferase, responsible for the conjugation of the acid glucuronic with the ingested drugs. However, the employmentof AINEs in that species has been revolutionizing with the appearance of drugs that only act for the inhibition of the cyclooxigenase 2 (COX-2).Considering the exposed, the present study aimed at to do a clinical evaluation, behavior and laboratorial of submitted female cats the ovario-histerectomy and treated with etoricoxib. For so much, 16 cats were used divided in two groups, maintained in the same atmosphere conditionsand feeding. The animals of the group I were operated and submitted to the use of the etoricoxib and the animals of the group II representedthe control. Those groups were still submitted to the skin biopsy in the place of the surgical incision, for evaluation histopathologic of thecicatrization process. It was obtained as results that, the animals of the group I ingested larger amount of water and food, and the incisionpresented a larger amount of fibers collagens when compared to the group II. The analyses of the results suggest that, the etoricoxib is safeas your use in felines, promoting a fast recovery and without upset, becoming a good alternative in the relief of the postoperative pain.

Key words: cats, etoricoxib and surgery

INTRODUÇÃO

Atualmente, grande ênfase tem-se dado a terapêutica felina na medicina veterinária. Contudo, ainda não se conse-guiu determinar com segurança, regimes terapêuticos eficazes e apropriados para a maioria dos fármacos utilizados [7]. Ogrande vilão da terapêutica felina é a extrapolação de regimes de doses e indicações terapêuticas dos fármacos de outrasespécies, pois o gato apresenta uma deficiência na conjugação do ácido glicurônico em virtude da deficiência da enzimaglicuronil-transferase [2]. Existem poucos trabalhos relacionados ao uso de medicamentos e seus respectivos efeitos emgatos, e no tocante aos AINEs, o grande receio na sua administração são seus efeitos colaterais. Porém, se houver escolhae prescrição adequada, os animais dificilmente apresentarão tais efeitos [4]. Assim, torna-se necessário à realização depesquisas, no sentido de relatar sobre drogas antiinflamatórias que possam ter uma maior seletividade por enzimas que atuemno processo inflamatório. Neste caso, pode-se citar o grupo dos coxibs, os quais revelam seletividade pela COX-2. Logo, onão envolvimento com os processos fisiológicos farão com que ocorra uma diminuição dos efeitos colaterais dessas drogas.Baseado no exposto, o presente estudo objetivou fazer uma avaliação clínica, comportamental e laboratorial de gatas sub-metidas a ovariossalpingohisterectomia (OSH) e tratadas com etoricoxib.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizadas 16 gatas divididas randomicamente em dois grupos. Nos animais do grupo I, foi administradoetoricoxib na dose de 2 mg/Kg/sid, durante 2 dias, após a realização da ovariohisterectomy. Os animais do grupo II, identificadocomo grupo controle negativo, receberam após a cirurgia uma solução salina no mesmo volume da droga antiinflamatória.Ambos os grupos foram mantidos nas mesmas condições de ambiente, alimentação e regime hídrico. Esses grupos foramainda subdivididos em 2 subgrupos cada, nos quais foram realizadas biopsias da pele (envolvendo a ferida cirúrgica) nosegundo e quinto dia após a cirurgia, para avaliação histopatológica do processo de cicatrização.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os animais foram observados durante 10 dias e foi encontrado que o grupo II teve uma ingestão média de raçãoe água menor que o grupo I. O consumo de ração de ambos os grupos apresentou um aumento progressivo do primeiro parao segundo dia, mantendo-se estável até ao quarto dia. E a partir do quinto dia o grupo II apresentou um aumento no consumode ração até o oitavo dia, contudo sempre inferior ao grupo I e após o nono dia houve uma estabilização. Enquanto que, ogrupo I manteve-se estável e crescente durante todo o experimento. O menor consumo de ração apresentado pelo grupo II,pode ser explicado pela ausência de tratamento analgésico e antiinflamatório, o que teria influenciado o consumo direto de

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Rocha L.F.B., Cruz Filho L.E., Alves N.D., Costa T.H.M., Pereira R.H.M.A., Soares H.S., Silva I.P., Amóra S.S.A., Filgueira K.D. &Feijó F.M.C. 2007. Efeito do etoricoxib na recuperação pós-cirúrgica... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s305-s306.

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ração pela reação inflamatória e dolorosa do pós-operatório. Os animais com dor podem estar sujeitos a um atraso naingestão de alimentos e retardo na cicatrização de ferimentos, aumentando assim o tempo de recuperação pós-cirúrgica [6].

A literatura cita que animais tratados com AINEs apresentam efeitos colaterais, tais como vômitos e diarréias, gas-trites, erosões gástricas e injúrias renais agudas e crônicas [8]. Esses efeitos não foram observados nesse estudo, é provávelque isso tenha ocorrido porque o etoricoxib é um inibidor da COX-2, e os efeitos colaterais ocorrem em virtude da inibição daCOX-1, que possui um importante papel fisiológico no estômago, rins, endotélio e plaquetas [1]. A droga utilizada no presenteestudo, por ser inibidora seletiva da COX-2, provoca menores danos gastrintestinais que AINEs convencionais [3].

Em relação ao exame histopatológico, na biópsia no segundo dia pós-cirúrgico, observou-se uma discreta diferençaentre os grupos I e II, em relação à presença de infiltrados inflamatórios, predominantemente mononucleares, sendo que nogrupo I ocorreu menor quantidade desses tipos celulares. Quanto as biópsias realizadas no quinto dia, verificou-se que haviauma maior quantidade de fibroblastos e de fibras colágenas espessas nos animais do grupo I. Observou-se também que,esse grupo sofreu menor influência de efeitos deletérios promovido pela injúria tecidual, fazendo com que a velocidade decicatrização fosse conseguida de maneira mais rápida, corroborando com autores que afirmam que, o tratamento da dorpós-operatória é de suma importância para o conforto do paciente, assim como para a redução das complicações pós-operatórias e uma recuperação mais acelerada [5].

CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos pôde-se concluir que, o etoricoxib foi capaz de promover melhores condiçõespós-operatórias, garantindo bem-estar aos animais, refletido em menor tempo de recuperação. Seu uso na dose de 2mg/Kgnão apresentou efeitos colaterais dignos de nota. Contudo, embora os animais tratados com etoricoxib tenham apresentadouma melhora no processo de recuperação, são necessárias pesquisas adicionais para um correto protocolo de uso dessadroga em felinos, principalmente quando na sua utilização em processos crônicos.

REFERÊNCIAS

1 Andrade S.F. 2002. Manual de Terapêutica Veterinária. 2.ed. São Paulo: Roca.2 Boothe D.M. 1990. Drug therapy in cats. Mechanisms and avoidance of adverse drug reactions. Journal of the American Veterinary Medical

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s307-s308, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Alterações hemodinâmicas em cães submetidosà ventilação mecânica controlada a pressão com o emprego

da pressão positiva no final da expiração

Hemodynamic alterations in dogs undergoing pressure-controlledventilation with positive end-expiratory pressure

Roberta Carareto 1, Celina Tie Nishimori Duque 2, Danielli Parilha de Paula 2,Paulo Sérgio Patto dos Santos 2, Marlos Gonçalves Sousa 1 & Newton Nunes 3

1Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal do Tocantins, Campus de Araguaína.2Pós-graduando, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária (FCAV), Universidade Estadual Paulista (UNESP),

Campus de Jaboticabal. 3FCAV, UNESP, Campus de Jaboticabal.E-mail: [email protected]

ABSTRACT

This study was conceived to evaluate the hemodynamic alterations owing to pressure-controlled ventilation with varyingpositive end-expiratory pressure (PEEP) (0, 5, and 10 cmH2O) in dogs. An increase was seen only in pulmonary vascular resistance index,whereas the remaining parameters did not change significantly. Pressure-controlled ventilation with varying PEEPs was concluded to causeno impairment in cardiovascular system.

Key words: positive end-expiratory pressure; mechanical ventilation; dogs.

INTRODUÇÃO

A literatura torna clara e irrefutável a evolução da laparoscopia na Medicina Veterinária, abrangendo as mais va-riadas áreas, tais como, reprodução, clinica médica e cirúrgica. Atualmente, as cirurgias laparoscópicas, são rotineiramenteutilizadas por serem procedimentos minimamente invasivos. Entretanto, a homeostase hemodinâmica e respiratória nasvídeos cirurgias, onde se emprega insuflação abdominal ou torácica, requer métodos especiais de ventilação como o uso dapressão positiva no final da expiração (PEEP). A PEEP, por sua vez, consiste no aumento proposital da pressão das viasaéreas, resultando em acúmulo de gás nos alvéolos, mantendo-os abertos e minimizando assim áreas do “shunt” alveolare o colapso pulmonar. Sabe-se, contudo, que a PEEP pode alterar a hemodinâmica, uma vez que causa redução do retornovenoso e do débito cardíaco. Com este estudo, objetivou-se avaliar os efeitos da PEEP sobre o sistema cardiovascular decães anestesiados com propofol e sufentanil e submetidos a ventilação controlada a pressão.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram empregados 6 cães adultos, machos e fêmeas, sem raça definida, clinicamente sadios e com peso de18,21±2,81 kg. Os animais foram induzidos à anestesia com propofol (8 mg/kg por via IV), e mantidos com à anestesia totalintravenosa com propofol (0,2mg/kg/min) e sufentanil (0,1mg/kg/min).

Iniciou-se, imediatamente, a ventilação controlada a pressão, com pressão inspiratória suficiente para manter osvalores de ETCO2 entre 35 e 40 mmHg. Adicionalmente, o ventilador foi ajustado para manter a freqüência respiratória em10 mpm.Todos os animais foram submetidos a três valores de PEEP (0, 5 e 10 cmH2O) em seqüências diferentes, determi-nadas aleatoriamente.

Foram então mensurados os seguintes parâmetros: freqüência cardíaca (FC), pressões arteriais sistólica (PAS),diastólica (PAD) e média (PAM), pressão venosa central (PVC), debito cardíaco (DC), índice sistólico (IS), pressão arterialpulmonar média (PAPm), pressão média capilar pulmonar (PCPm), índice da resistência vascular sistêmica (IRVS), índice daresistência vascular pulmonar (IRVP) e pressão de perfusão coronariana (PPC). Os momentos estabelecidos para o registrodessas variáveis foram M1 (20 minutos após obter a normocapnia com PEEP de 0 cmH2O), M2 (20 minutos após M1), M3 (20minutos após obter a normocapnia com PEEP de 5 cmH2O), M4 (20 minutos após M3), M5 (20 minutos após obter anormocapnia com PEEP de 10 cmH2O) e M6 (20 minutos após M4). Os dados foram submetidos a uma análise de variância,seguido pelo pós-teste de Tukey-Kramer. Considerou-se P<0,05 como estatisticamente significativo.

RESULTADOS

O DC assim como o IS e a PCC reduziram discretamente de acordo com o aumento da PEEP sem entretanto sersignificativo estatisticamente.

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Carareto R., Duque C.T.N., Paula D.P., Santos P.S.P., Sousa M.G. & Nunes N. 2007. Alterações hemodinâmicas em cãessubmetidos à ventilação mecânica controlada a pressão... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s307-s308.

s308

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Supl 2

As variáveis hemodinâmicas, FC, PAS, PAD, PAM, PVC, PCPm, IRVS e não apresentaram diferença significativade acordo com o acréscimo da PEEP. Verificou-se aumento significativo apenas no valor do da PAPm e IRVP ao longo dosmomentos.

DISCUSSÃO

Quando se utiliza o termo pressão positiva expiratória final (PEEP - positive end-expiratory pressure) significa queuma pressão acima da atmosférica foi aplicada nas vias aéreas, ao final da expiração [6]. A PEEP, por sua vez, mantém umarcabouço bronquíolo-alveolar permeável à passagem dos gases, preservando a função de trocas gasosas. Assim sendo,de forma passiva, o ventilador permite apenas o esvaziamento parcial dos pulmões mantendo uma pressão positiva residualno final da fase expiratória. O principal efeito clínico da PEEP é o aumento da oxigenação arterial devido ao aumento dacapacidade residual funcional e recrutamento dos alvéolos colapsados reduzindo as áreas de “shunt” [5].

Os efeitos da PEEP sobre o sistema cardiovascular têm sido exaustivamente estudados, principalmente no quediz respeito às alterações hemodinâmicas e redução do débito cardíaco. Existe um consenso entre os pesquisadores de quebaixos níveis de PEEP (2 a 5 cmH2O) são recomendados durante a ventilação mecânica e valores acima de 5 cmH2O podemtrazer efeitos adversos para a hemodinâmica do paciente, mediante à redução do retorno venoso e débito cardíaco [1].Loeckinger [4] propuseram que a PEEP reduz o débito cardíaco pelo aumento da pressão intratorácica, impedindo o retornovenoso para o coração e, conseqüentemente, causando diminuição do enchimento ventricular direito. Segundo Torres eBonassa [6] tais alterações na função cardíaca são proporcionais à PEEP empregada.

Entretanto, neste trabalho, não observamos alterações significativas no sistema cardiovascular, corroborandocom Klemm [3], que ao utilizarem PEEP de 10 cmH2O também não verificaram alterações deletérias no sistema cardiovascularde eqüinos. Adicionalmente, no estudo realizado por Kards [2], crianças foram submetidas à ventilação controlada e aumentoprogressivo da PEEP e não apresentaram alterações hemodinâmicas significativas. Concluíram, portanto, que a elevaçãoda PEEP de 5 para 15 cmH2O não causou decréscimo significativo do débito cardíaco.

Em experimentos com diferentes valores de PEEP (10, 20 e 30 cmH2O) associados à ventilação mecânica con-trolada, observou-se que o incremento da PEEP causou a aumento da pressão da artéria pulmonar [1], o que poderia explicarportanto, o aumento do IRVP neste experimento. De acordo com Polglase et al. (2005), à medida que incrementamos osvalores da PEEP, o volume pulmonar aumenta com conseqüente compressão dos vasos alveolares, resultando em acréscimoda resistência vascular pulmonar.

CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos, foi possível concluir que a repercussão cardiovascular inferida através doaumento das pressões expiratórias finais foram mínimas, fato este nos fazem acreditar que o uso da ventilação controladaa pressão com níveis elevados PEEP não são deletérios para a homeostase hemodinâmica.

NOTAS INFORMATIVASaDiprivan® – Zeneca Farmacêutica do Brasil Ltda – São Paulo, SPbFastfen® – Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos Ltda – São Paulo, SP

REFERÊNCIAS

1 Krismer A.C., Wenzel V., Lindner K.H., Haslinger C.W., Osory S. & Boville B. 2005 Influence of positive end-expiratory pressure ventilationon survival during severe hemorrhagic shock. Annals of Emergency Medicine. (—): 1-6.

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4 Loeckinger A., Kleinsasser A., Hoermann C., Anette K., Gassner M., Friedric P. & Lindner, K. 2000 . Inert Gas Exchange During Pneumoperito-neum at Incremental Values of Positive End-Expiratory Pressure. Anesthesia & Analgesia. (90): 466-472, 2000.

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7 Polglase,G. R., Morley C. J., Crossley K. J., Dargaville P., Harding R., Morgan D. L. & Hooper S. B. 2005. Positive end-expiratory pressuredifferentially alters pulmonary hemodynamics and oxygenation in ventilated, very premature lambs. J Appl Physiol.(99): 1453-1461.

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s309

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s309-s310, 2007.

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Ventilação controlada com o emprego da pressão expiratóriafinal positiva em cães anestesiados com propofol e sufentanil

e mantidos em cefalodeclive

Controlled ventilation with positive end-expiratory pressure in dogs anesthetizedwith propofol and sufentanil and maintained in head-down tilt

Roberta Carareto 1, Danielli Parilha de Paula 1, Celina Tie Nishimori Duque 1,Paulo Sérgio Patto dos Santos 2, Marlos Gonçalves Sousa 1 & Newton Nunes 3

1Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal do Tocantins, Campus de Araguaína.2Pós-graduando, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária (FCAV), Universidade Estadual Paulista (UNESP),

Campus de Jaboticabal. 3FCAV, UNESP, Campus de Jaboticabal.E-mail: [email protected]

ABSTRACT

This study aimed at evaluating hemodynamics and oxygenation parameters in dogs undergoing general anesthesia with propofoland sufentanil and maintained in 30° head-down tilt. No change was seen in the cardiovascular parameters, whereas a mild change wasdocumented in the oxygenation data. Positive end-expiratory pressure was concluded to be a feasible mode of ventilation in surgical proce-dures that require the animal to adopt this position.

Key words: positive end-expiratory pressure; mechanical ventilation; dogs.

INTRODUÇÃO

Atualmente, as cirurgias laparoscópicas, vêm sendo popularizadas, tornando-se rotineiramente utilizadas porserem procedimentos minimamente invasivos. Os maiores problemas relatados durante a cirurgia laparoscópica dizemrespeito às alterações cardiovasculares e ventilatórias, decorrentes do pneumoperitônio e/ou posicionamento do paciente.Para realização da maioria dos procedimentos laparoscópicos, faz-se necessário um adequado posicionamento, com a fina-lidade de proporcionar exposição das estruturas abdominais e otimizar a visualização de órgãos.

Alterações significativas da fisiologia respiratória ocorrem durante os procedimentos cirúrgicos onde se faz neces-sário a posição de cefalodeclive acentuado ou decúbito de “Trendelenburg”. Nestas situações, o diafragma desloca-se cranial-mente, resultando em compressão das áreas pulmonares, redução da capacidade residual funcional e da complacência,aumento da resistência, alteração na relação ventilação–perfusão e, finalmente, favorecendo a formação de áreas de atelectasia.

Tais alterações têm como resultado clínico a redução da oxigenação arterial e aumento do espaço morto. Minimizaros eventos adversos inerentes ao ato anestésico-cirúrgico e manter a homeostase hemodinâmica e respiratória requermétodos especiais de ventilação como o uso da pressão positiva no final da expiração (PEEP), que consiste no aumentoproposital da pressão das vias aéreas, resultando em acúmulo de gás nos alvéolos, mantendo-os abertos e minimizandoassim áreas do “shunt” alveolar e o colapso pulmonar.

Este estudo teve por objetivo avaliar a hemodinâmica e a oxigenação de cães submetidos ao cefalodeclive sobanestesia geral intravenosa e ventilados com 0, 5 ou 10 cmH2O de pressão expiratória.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram empregados 6 cães adultos, fêmeas, sem raça definida, clinicamente sadias e com peso de 18,21±2,81 kg.Os animais foram induzidos à anestesia com propofola (8 mg/kg por via IV), e mantidos com à anestesia total intravenosa compropofol (0,2mg/kg/min) e sufentanilb (0,1mg/kg/min).

Desta forma, após o preparo dos animais, estes foram posicionados em cefalodeclive de 30°. Iniciou-se, imedia-tamente, a ventilação controlada a pressão, com pressão inspiratória suficiente para manter os valores de ETCO2 entre 35e 40 mmHg. Adicionalmente, o ventilador foi ajustado para manter a freqüência respiratória em 10 mpm. Subseqüentemente,todos os animais foram submetidos a três valores de PEEP (0, 5 e 10 cmH2O) em seqüências diferentes, determinadas alea-toriamente.

Foram então mensurados os seguintes parâmetros: freqüência cardíaca (FC), pressões arteriais sistólica (PAS),diastólica (PAD) e média (PAM), débito cardíaco (DC), Adicionalmente, foram calculados os valores da a pressão parcial deO2 arterial (PaO2), pressão alveolar de oxigênio (PAO2), diferença alvéolo-arterial de oxigênio (AaDO2), conteúdo arterial deO2 (CaO2), conteúdo venoso misto de oxigênio (CvO2), diferença arterio-venosa de O2 (avDO2) e o “shunt” pulmonar (Qs/Qt).

Os momentos estabelecidos para o registro dessas variáveis foram M1 (20 minutos após obter a normocapnia comPEEP de 0 cmH2O), M2 (20 minutos após M1), M3 (20 minutos após obter a normocapnia com PEEP de 5 cmH2O), M4 (20minutos após M3), M5 (20 minutos após obter a normocapnia com PEEP de 10 cmH2O) e M6 (20 minutos após M4). Os dadosforam submetidos a uma análise de variância, seguido pelo pós-teste de Tukey-Kramer. Considerou-se P<0,05 como estatis-ticamente significativo.

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Carareto R., Paula D.P., Duque C.T.N., Santos P.S.P., Sousa M.G. & Nunes N. 2007. Ventilação controlada com o emprego dapressão expiratória final positiva em cães anestesiados... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s309-s310.

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RESULTADOS

Neste estudo, houve um incremento dos valores da freqüência cardíaca proporcional as PEEPs utilizadas, sementretanto significado estatístico. As pressões arteriais também sofreram variações sem significado estatístico ao longo dosmomentos. Adicionalmente o DC sofreu discreta redução de acordo como aumento da PEEP.

Relativamente aos parâmetros que refletem a oxigenação (PaO2, PAO2, AaDO2, CaO2, CvO2, avDO2 e Qs/Qt) nãohouve variação significativa ao longo dos momentos.

DISCUSSÃO

Dentre as alterações na hemodinâmica causadas pela posição de “Trendelenburg”, pode ocorrer aumento doretorno venoso, diminuição da resistência vascular sistêmica e, conseqüentemente acréscimo do débito cardíaco [1]. Entre-tanto, neste estudo as variáveis hemodinâmicas (FC, PAS, PAD, PAM e DC) mantiveram-se constantes ao longo dos momentos,corroborando Paschoal [7], que concluíram ausência de alterações significativas na FC, assim como nas pressões arteriaisem pacientes submetidos ao cefalodeclive.

Com relação aos efeitos da PEEP sobre o sistema cardiovascular, os mesmos têm sido exaustivamente estudados,principalmente no que diz respeito às alterações hemodinâmicas e redução do débito cardíaco. Existe um consenso entreos pesquisadores de que baixos níveis de PEEP (2 a 5 cmH2O) são recomendados durante a ventilação mecânica e valoresacima de 5 cmH2O podem trazer efeitos adversos para a hemodinâmica do paciente, mediante à redução do retorno venosoe débito cardíaco [2]. Loeckinger [5] propuseram que a PEEP reduz o débito cardíaco pelo aumento da pressão intratorácica,impedindo o retorno venoso para o coração e, conseqüentemente, causando diminuição do enchimento ventricular direito.Segundo Meininger [6] tais alterações na função cardíaca são proporcionais à PEEP empregada.

Entretanto, neste trabalho, não observamos alterações significativas no sistema cardiovascular, corroborando Klemm[4]. Adicionalmente, no estudo realizado por Kards [2], o aumento progressivo da PEEP e não resultou em alterações hemodi-nâmicas significativas. Concluíram, portanto, que a elevação da PEEP de 5 para 15 cmH2O não causou decréscimo signifi-cativo do débito cardíaco.

A posição de “Trendelenburg”, sabidamente compromete a mecânica respiratória. Nesta situação, o diafragmadesloca-se cranialmente, tornando a expansão pulmonar mais restrita. Conseqüentemente, a complacência e todos os volumese capacidades pulmonares, principalmente, CRF diminuem [8]. Em conseqüência disso, o espaço morto alveolar e o “shunt”aumentam, resultando em alteração da relação entre a ventilação e a perfusão [3]. Ademais, o cefalodeclive favorece a atelec-tasia e decréscimo da oxigenação arterial. Entretanto, neste trabalho, não observamos alterações significativas em nenhumparâmetro que reflete a oxigenação. Talvez o emprego da PEEP possa ter melhorado oxigenação arterial devido ao aumentoda capacidade residual funcional e recrutamento dos alvéolos colapsados [8]. Ademais, ainda que o cefalodeclive pudessealterar a relação ventilação perfusão (V/Q), aumentando as áreas de “shunt”, neste trabalho não houve alteração desteparâmetro, o que também pode estar relacionado aos efeitos da PEEP, visto que esta impede o colapso alveolar [6].

CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos, foi possível concluir que o cefalodeclive associado a uma ventilação compressão positiva ao final da expiração não causou interferência sobre a hemodinâmica, assim como sobre os índices deoxigenação, sendo portanto uma estratégia válida para ser empregada durante procedimentos cirúrgicos onde se faça neces-sária a adoção deste decúbito.

NOTAS INFORMATIVASaDiprivan® – Zeneca Farmacêutica do Brasil Ltda – São Paulo, SP.bFast fen® – Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos Ltda - São Paulo, SP.

REFERÊNCIAS

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s311-s312, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Protocolo anestésico em tartaruga cabeçuda(Caretta caretta ) para celioscopia exploratória

Anesthetic protocol in a loggerhead turtle (Caretta caretta) for an exploratory coelioscopy

Ruben Lundgren Cavalcanti 1, Nadia Crosignani 1, Marcelo Mucillo 2, Rafael Stedile 2, Marcelo Alievi 3,Carlos Afonso Beck 3, Fabiana Schiochet 3, Fernanda Nóbrega 4 & José Pedro Rocha 5

1Médico Veterinário Autônomo. 2Mestrando, Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias,Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 3Departamento de Medicina Animal-UFRGS.4Residente, Hospital de Clínicas Veterinárias-UFRGS. 5Graduação, Faculdade de Veterinária-UFRGS.

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

A Loggerhead Turtle (Caretta caretta) was anesthesiated for a coelioscopy. The protocol included cetamine, butorphanol andisoflurane. Vital signs were stable during the intervention. The aim of this work is to relate the anesthetic procedure used.

Key words: turtle anesthesia, coelioscopy.

INTRODUÇÃO

A Tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) é um quelônio que distribui-se em baías litorâneas dos oceanos Atlântico,Índico, Pacífico e Mar Mediterrâneo, possui em média 85 cm de comprimento curvilíneo e pesa em torno de 150 kg. Atualmenteencontra-se na lista de espécies ameaçadas tanto na classificação da IUCN (The World Conservation Union) quanto doIBAMA [7]. Dessa forma, todo esforço deve ser empregado pela comunidade veterinária a fim de salvar espécimes debilitadasoriundas do meio-ambiente, providenciando-lhes suporte. A videocirurgia, também denominada cirurgia minimamenteinvasiva, vem sendo empregada de forma mais rotineira nos grandes centros de medicina veterinária. Através dela, umgrande número de procedimentos, tanto diagnósticos como terapêuticos, têm sido realizados em pequenos e grandes animais,além dos silvestres [8]. Para tanto, anestesia geral é requerida e uma das grandes dificuldades encontradas na anestesia detartarugas marinhas está no fato de que estes animais podem entrar em apnéia por vários minutos, dificultando a manutençãocom agentes voláteis [1,2,5,6].

O objetivo deste resumo é de relatar os procedimentos anestésicos utilizados para realização de celioscopia explo-ratória em um espécime de Tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) com alterações na flutuabilidade.

RELATO DE CASO

A paciente fêmea, com 30 kg de massa corporal, oriunda do Centro de Estudos Costeiros Limnológicos e Marinhos(CECLIMAR/UFRGS - Imbé/RS) apresentava alterações na flutuabilidade, não conseguindo submergir. A fim de diagnóstico, avideocirurgia foi preconizada para avaliação exploratória. Inicialmente, após exame clínico, a paciente foi sedada com butorfanol(0,4 mg.kg-1, IM) na massa muscular do membro anterior esquerdo. A indução anestésica foi obtida com quetamina (15 mg.kg-1,IM) no mesmo local mencionado. A intubação traqueal foi realizada com uma sonda endotraqueal de 5 mm de diâmetroexterno e com auxílio de um segmento fenestrado de PVC, que serviu como abridor-de-bocas e como guia para a colocaçãodo tubo. Uma vez na traquéia, o cuff do tubo foi levemente insuflado. A anestesia foi mantida com isofluorano em concentraçãosuficiente para a manutenção do plano de anestesia cirúrgico e foi empregado circuito semi-fechado com reinalação utilizandofluxo de gás fresco de 2 l/min. A paciente foi ventilada manualmente a uma taxa de 4 respirações por minuto. Freqüênciascardíaca e respiratória foram monitoradas assim como o tempo de indução e recuperação anestésicas. O isoflurano foidescontinuado antes do final do procedimento e o circuito anestésico foi lavado com oxigênio a 100%.

DISCUSSÃO

A anestesia geral de répteis possui desafios únicos. A absorção e excreção dos agentes anestésicos são direta-mente afetados pela temperatura ambiente. A duração da indução e da recuperação são mais prolongadas em répteis queem mamíferos, podendo chegar até 96 horas [9,10]. Sedação, assim como comportamento livre de dor, tem sido observadaapós a administração de butorfanol em tartarugas, sendo que a dose de 0,4 a 1 mg.kg-1 parece ser benéfica [9]. A sedaçãoocorreu rapidamente, o que se tornou importante, visto que, embora muitas tartarugas sejam fáceis de manusear, elas podemmorder ou arranhar em resposta a dor ou a ameaça [1,2]. Além disso, o butorfanol foi empregado para promover analgesiapreemptiva, pois, apesar de se tratar de um procedimento minimamente invasivo, a inserção de trocárteres e a insuflação dacavidade celomática podem causar extremo desconforto [3].

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Cavalcanti R.L., Crosignani N., Mucillo M., Stedile R., Alievi M., Beck C.A., Schiochet F., Nóbrega F. & Rocha J.P. 2007. Protocoloanestésico em tartaruga cabeçuda ( Caretta caretta )... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s311-s312.

s312

A indução anestésica requerida para permitir intubação em tartarugas marinhas deve ser realizada com umanestésico parenteral [1,2]. O uso de máscara ou indução anestésica em câmara pode ser ineficaz, já que os quelônios toleramlargos períodos de apnéia [4]. A quetamina (10-30 mg.kg-1) é rotineiramente utilizada em combinação com o butorfanol (0,5– 1,5 mg.kg-1) para a indução anestésica [9]. Para tanto, a quetamina (15 mg.kg-1, IM) foi rápida e permitiu este procedimentofacilmente. No entanto, pelas prolongadas recuperações, recomenda-se o uso da quetamina somente como indutor, reali-zando-se a manutenção anestésica com um agente inalatório [9].

A técnica de intubação orotraqueal em tartarugas marinhas é similar a de outros quelônios e a insuflação do cuff,se necessária, deve ser feita com muito cuidado, visto que tartarugas possuem anéis traqueais completos e a insuflaçãoexcessiva causaria sérios danos na mucosa traqueal [1]. Após, a anestesia inalatória foi iniciada com isofluorano, visto esseser o agente anestésico de escolha para répteis [4,5]. Durante os 30 minutos iniciais da anestesia, a paciente reagiu aosestímulos dolorosos, não permitindo o início do procedimento cirúrgico. Este grau superficial de anestesia pode ser explicadopela habilidade das tartarugas marinhas de permanecerem em apnéia por longo período de tempo, dificultando a manutençãocom agentes voláteis através de shunts cardíacos e, dessa forma, refletindo diretamente na lentidão da indução e recuperaçãoanestésicas [1,2,5,6]. Além disso, a capacidade desses animais utilizarem o metabolismo anaeróbico ajuda a entender oslongos períodos de apnéia [10]. Como a respiração normal de um réptil anestesiado é de 2 a 4 movimentos/minuto, é reco-mendado efetuar uma ventilação a pressão positiva com a mesma freqüência [9]. A freqüência cardíaca durante todo o procedi-mento foi de 24 batimentos por minuto, sendo esta informação obtida através da colocação de Doppler ultrassônico sobrea artéria carótida. A monitorização da profundidade anestésica foi realizada pela observação da perda de tônus da mandí-bula, do reflexo palpebral e do reflexo cloacal, sendo considerado grau profundo de anestesia a perda do reflexo corneano [1].

O procedimento durou cerca de 3 horas e revelou infecção celomática generalizada, sendo esta uma das principaiscausas que levam à alteração na flutuabilidade pela produção, em maior ou menor grau, de gases na cavidade celomática [1].

A extubação foi realizada quando a paciente iniciou ventilação espontânea e aumento gradual de freqüênciacardíaca. Como a maioria dos répteis entra em um estado de depressão respiratória durante a recuperação, a respiraçãodeve ser cuidadosamente monitorada, especialmente depois da administração de quetamina. Assim, a ventilação deve serassistida até que o animal seja capaz de respirar espontaneamente [9]. O período de recuperação foi bastante prolongadoe, somente após 8 horas, a paciente apresentava seus reflexos normais restabelecidos.

CONCLUSÕES

O protocolo anestésico com butorfanol IM, quetamina IM e isofluorano é eficiente para procedimentos diagnósticosem Caretta caretta, embora acarrete período de recuperação prolongado. Além disso, o conhecimento a cerca da fisiologiade répteis, em especial das tartarugas marinhas, é imprescindível para a correta escolha de protocolo, bem como da técnicaanestésica adequada.

REFERÊNCIAS

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s313-s314, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Estudo retrospectivo dos procedimentos anestésicosem pacientes submetidos a neurocirurgias

Retrospective study of anesthetic proceedings in patients undergoing neurosurgeries

Mariana Isa Poci Palumbo Antunes 1, Daniella Aparecida Godoi 1, Mônica Vicky Bahr Arias 2,Carmen Esther Grumadas 2, Angelita Zanata Reia 3 & Julio Ken Nagashima 4

1Graduação, Curso de Medicina Veterinária, Universidade Estadual de Londrina (UEL). 2Departamento deClínicas Veterinárias-UEL. 3Hospital Veterinário-UEL. 4Residente em Anestesiologia, Hospital Veterinário-UEL.

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

Neurosurgeries are more frequent in the routine of the veterinary hospitals and therefore the knowledge of the differentanaesthetic protocols is necessary for each patient, to prevent the morbity and mortality in the after and trans-surgical period. We studiedthe anesthetical data 52 dogs and two cats submitted to neurological surgical procedures between January of 2003 and December of 2006,in the Veterinary Hospital of UEL. It was viewed that the main used protocols was propofol for induction and halothane or isofluorane formaintenance of the anesthesia; these protocols had been efficient in 68,5% of the cases. 36.8% of the complications observed had occurredin patients submitted to anesthesia with halothane and 25.2% in patients with isofluorane. The most complication observed in this study wasbradicardy, which occurred in 27.8% of the patients. Two deaths occurred in patients submitted to “slot” cervical. A good knowledge of theneurological disease and surgical and anaesthetic techniques are essential to prevent alterations in the central nervous system caused bythe drugs, disease or association of these factors.

Key words: Anesthesia, neurosurgery, complications, dogs and cats.

INTRODUÇÃO

As doenças neurológicas que acometem cães e gatos muitas vezes necessitam de intervenções cirúrgicas [3]. Osprocedimentos realizados mais freqüentemente em medicina veterinária são as cirurgias para descompressão ou estabili-zação da coluna vertebral [4]. Além dessas cirurgias, as craniotomias também são realizadas para descompressão do tecidonervoso, biópsias ou retirada de neoplasias [2,4]. O controle anestésico de pacientes com alterações neurológicas requer pre-servação da função neural, evitando-se fatores tais como hipóxia, hipercapnia e instabilidade respiratória e cardiovascular [1,4].

As lesões medulares podem interromper as conexões de tratos nervosos simpáticos advindos do tronco encefálico,diminuindo as funções motoras cardiovasculares, por isso é importante a escolha correta dos protocolos anestésicos [3,4].Alguns anestésicos inalatórios causam alterações cardiovasculares, deprimindo diretamente o miocárdio em maior oumenor grau [4,6].

Em pacientes com trauma crânio-encefálico, o uso de alguns fármacos pode agravar o estado clínico e neurológicodo paciente, aumentando a pressão intracraniana e levando a isquemia cerebral. [4]. Certos fármacos como a cetamina sãototalmente contra-indicados, enquanto que os barbitúricos podem ser benéficos se usados com cautela [4]. O propofol e osbenzodiazepínicos reduzem o fluxo sangüíneo e a pressão intracraniana, sendo boas opções na indução da anestesia [4].

Os objetivos deste trabalho foram avaliar: 1) os protocolos anestésicos utilizados em 54 pacientes (52 cães e doisgatos) submetidos a procedimentos cirúrgicos neurológicos realizados entre janeiro de 2003 a dezembro de 2006, noHospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina; 2) os resultados obtidos com o uso destes protocolos; 3) o índicede complicações e 4) se existe relação entre sua ocorrência e o tempo de anestesia.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado de forma retrospectiva, avaliando-se as fichas anestésicas dos pacientes submetidos aneurocirurgias no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina, no período de Janeiro de 2003 a Dezembrode 2006. Foram avaliados os protocolos anestésicos utilizados em 54 pacientes (52 cães e dois gatos) submetidos aprocedimentos cirúrgicos e os resultados obtidos com o uso destes protocolos e as complicações ocorridas.

Estes animais foram divididos em grupos de acordo com a técnica realizada: 41 cães foram submetidos àhemilaminectomia para tratamento da doença de disco intervertebral, seis cães ao “slot” cervical devido a doença do discointervertebral, três cães e dois gatos à estabilização vertebral (devido à wobbler, fraturas e luxações) e dois cães à craniotomia(retirada de projétil balístico e descompressão devido a perfuração por mordida de outro cão) . Em cada grupo foi avaliadoo tempo de anestesia, os procedimentos anestésicos, o agente inalatório utilizado e a ocorrência de complicações, sendoelas: bradicardia, hipoventilação ou óbito.

RESULTADOS

Utilizou-se a medicação pré-anestésica levomepromazina em 16 animais (27%) e três animais (4%) receberama associação de morfina e levomepromazina. Os outros animais que não receberam tranquilização já vinham sendo medica-dos com opióide durante a internação como analgesia. Os animais foram induzidos com propofol (10%) ou propofol associado

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Antunes M.I.P.P., Godoi D.A., Arias M.V.B., Grumadas C.E., Reia A.Z. & Nagashima J.K. 2007. Estudo retrospectivo dosprocedimentos anestésicos em pacientes submetidos a neurocirurgias. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s313-s314.

s314

ao diazepam. Apenas um animal foi induzido na máscara com sevofluorano e todos os animais foram mantidos com halogenadosdurante o trans-operátorio.

O tempo médio de cirurgia foi de 2 horas e 34 minutos nos pacientes submetidos à hemilaminectomia (mínimo de 1hora e 30 minutos e máximo de 4 horas) e de 2 horas e 36 minutos ao “slot” cervical (mínimo de 2 horas e máximo de 3 horas).Nos animais submetidos à estabilização vertebral o tempo médio foi de 3 horas e 10 minutos (mínimo de 2 horas e 40 minutose máximo de 4 horas e 10 minutos). A craniotomia em um animal durou 1 hora e 40 minutos e no outro, 2 horas e 30 minutos.

Dentre os 41 cães submetidos à hemilaminectomia, 13 (317%) foram anestesiados com halotano, 26 (63,4%) comisoflurano e dois com sevoflurano (4,87%). Entre os animais anestesiados com halotano seis cães apresentaram bradicardia(46,1%). Dos animais anestesiados com isofluorano somente seis (23%) animais apresentaram tal complicação. O agentehalogenado sevofluorano foi utilizado em apenas dois pacientes, e ambos apresentaram bradicardia no trans-operatório. Atécnica de “slot” cervical foi realizada em seis cães, sendo que dois foram anestesiados com halotano e quatro com isofluorano.Não houve complicação com a utilização do halotano, porém nas anestesias com o agente isofluorano dois animais vierama óbito: um animal não retornou à respiração espontânea após o término da anestesia e outro devido à ocorrência de hemor-ragia grave do plexo venoso vertebral no período trans-cirúrgico.

Dentre os cinco animais submetidos à estabilização vertebral, dois foram anestesiados com isofluorano, sendoque um apresentou bradicardia, e dos três pacientes que foram anestesiados com halotano, um paciente apresentou bradicardia.Dentre os cães submetidos à craniotomia, em um utilizou-se sevofluorano, e no outro, o halotano, sendo que neste caso ocorreubradicardia, corrigida através da aplicação de atropina. Todos os animais da cirurgia de “slot” cervical foram anestesiados comventilação controlada, e somente dois animais submetidos à hemilaminectomia foram mantidos com respiração espontânea.Dois procedimentos de estabilização vertebral e um de craniotomia também foram realizados sob ventilação controlada.

DISCUSSÃO

A medicação pré-anestésica com o uso da levomepromazina foi evitada para diminuir as complicações hemodinâ-micas, sendo realizada em apenas 19 animais. A duração da anestesia foi semelhante com os diferentes agentes anestésicosna hemilaminectomia, não havendo correlação entre o tempo anestésico e as complicações ocorridas. Nos outros procedi-mentos o número de animais não foi suficiente para uma análise estatística confiável. A principal complicação observada foia bradicardia, pois as lesões medulares podem interromper as conexões de tratos nervosos simpáticos advindos do troncoencefálico, diminuindo as funções motoras cardiovasculares [4]. Outra hipótese é a ventilação controlada levar à bradicardiapor diminuir o débito cardíaco pela diminuição de pressão negativa sobre os grandes vasos no mediastino, comprometendoo retorno venoso [6].

Como observado neste trabalho, o isofluorano foi mais apropriado para o animal vítima de trauma medular doque o halotano, pois seus efeitos cardiovasculares são mínimos, com manutenção do débito cardíaco, não sensibilizando omiocárdio às catecolaminas [4]. O sevofluorano é um bom agente inalatório e pode ser superior ao isofluorano [5], porémneste estudo retrospectivo o número de animais anestesiados com tal agente não foi significativo.

Não foi possível avaliar alterações no padrão respiratório, pois 43 dos 54 animais anestesiados foram ventiladosmecanicamente (79,63%). A ventilação controlada foi essencial nos procedimentos, pois evitou hipercapnia e hipóxia porhipoventilação [6].

O tipo de cirurgia também pode causar alterações cardiovasculares. Os dois animais que vieram a óbito foramanestesiados com isofluorano e estavam sendo submetidos à técnica de “slot” cervical. Um dos animais não retornou aventilação espontânea após o término do procedimento cirúrgico, provavelmente porque as lesões medulares, especialmenteaquelas craniais ou na própria junção cervicotorácica, podem interromper conexões entre o centro respiratório e a origem medulardos nervos frênico e torácicos, levando à paresia ou paralisia respiratória [4]. O outro cão veio a óbito devido à hemorragiaintensa. Segundo a literatura consultada o plexo venoso vertebral pode ser lesado facilmente nesta técnica causando hemorra-gia severa, que pode ser fatal como neste caso [3]. Nestes casos, o agente empregado não teve correlação com as complicações.

CONCLUSÃO

O conhecimento dos efeitos dos fármacos e das técnicas anestésicas corretas é imprescindível para obter sucessonas neurocirurgias. Após a análise dos dados, foi possível concluir que o isofluorano foi o agente que apresentou o menoríndice de complicações. É essencial ainda um bom conhecimento das doenças neurológicas e das alterações que podemocorrer concomitantemente para evitar alterações no sistema nervoso central causadas pelos fármacos, pela doença ouassociação destes fatores.

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Cloridrato de benzocaína na anestesia de carpas ( Cyprinus carpi )

Benzocaine hydrochloride anesthesia in carp (Cyprinus carpi)

Mariana Isa Poci Palumbo Antunes 1, Daniella Aparecida Godoi 1,Rafael Sanches Spurio 1, Carmen Esther Grumadas 2 & Marco Antonio da Rocha 3

1Graduação, Curso de Medicina Veterinária, Universidade Estadual de Londrina (UEL).2Departamento de Clínicas Veterinárias, Área de Anestesiologia-UEL. 3Departamento de Zootecnia-UEL.

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

Fish anesthesia is indicated to allow the accomplishment of several procedures. We determine the dose of benzocaine in thecarp anesthesia (Cyprinus carpi), carrying through six phases with 40 fish each. The average weight of carps in each phase was of 147.45±7.99g,173.32±9.15g, 191.26±14.05g, 269.84±19.24g, 285.25±17.97g, and 300.91±16.45g. In each phase, fish had been captured and placed infour containers each one with different concentrations of benzocaine (100, 140, 180, and 220 mg/L respectively). The induction time (IT)was registered for each fish and after that the anesthetic induction biometry was performed. In each phase the minimal dose of benzocainewas calculated using the Linear Response Plateau (LRP), in a model that included dose and IT as covariates. The LRP was calculated foreach phase: 125.79mg/L in 114.33s, 155.68mg/L in 115.75s, 145.33mg/L in 102.52s, 149.50mg/L in 140.53s, 166.42mg/L in 116.15s, and158.34mg/L in 102.00s. The optimal dose was related with the weight, resulting in the equation: y= 114.230+0.158x, where y corresponds to thedose, and x to the weight (r2=0.53). The equation shows that an increase in the weight in 1g corresponds to an increase of 0.158 mg/L in thedose of benzocaine hydrochloride for carps.

Key words: Fish, carp, benzocaine, anesthesia.

INTRODUÇÃO

A Piscicultura é uma atividade em grande expansão nacional e as técnicas de cultivo devem ser desenvolvidasnas nossas condições ambientais. Também está havendo a popularização dos peixes de aquário como animais de estimação.Diversos agentes químicos são usados para a realização de anestesia de peixes. As doses recomendadas variam conformeo agente utilizado, a via de administração, a espécie do peixe, a qualidade e temperatura da água, o pH, a constituição iônicae a concentração de oxigênio dissolvido na água. Sabe-se que a resistência e a tolerância aos anestésicos variam deindivíduo para indivíduo e que mesmo espécies afins podem diferir muito a esse respeito. Os procedimentos anestésicospodem ser utilizados visando a realização da biometria de peixes, marcação, corte de nadadeiras, transporte, exame físicoe procedimentos cirúrgicos [2].

A benzocaína (éster etílico do ácido para-aminobenzóico) tem sido utilizada para tranqüilização, analgesia eanestesia de peixes de várias espécies [4]. A indução da anestesia com benzocaína ocorre em 2 a 4 minutos, e a recupera-ção em tempo inferior a dez minutos. Como geralmente existe uma diferença pequena entre a dose anestésica e a letal dabenzocaína, pretende-se diminuir as taxas de mortalidade com o uso da mesma, conhecendo-se a dose desta para carpas.

A determinação da dose anestésica de benzocaína para carpas criadas em tanques na Universidade Estadualde Londrina poderá ser utilizada como um padrão regional, facilitando o manejo desses peixes.

MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi realizado na Estação de Piscicultura da Universidade Estadual de Londrina. Foram utilizadas240 carpas (Cyprinus carpi), divididas em seis etapas com 40 peixes cada, sendo o intervalo entre cada etapa de doismeses. Os peixes eram retirados do tanque externo e colocados em tanques menores, com capacidade para 1000L de água.Depois eram capturados ao acaso e colocados individualmente em bacias de plástico contendo água e o anestésico nasconcentrações a serem testadas.

A temperatura da água foi mantida em torno de 23°C. Em cada etapa foram realizados quatro tratamentos: 500,700, 900 e 1100 mg de benzocaína diluída em álcool e depositada em bacias contendo 5 L de água. O tempo de indução (TI),definido como o tempo em segundos entre a colocação do peixe no tanque e o desaparecimento dos movimentos operculares,foi registrado para cada peixe. Após a indução anestésica, cada peixe foi mantido fora da água por 10 minutos, para realizaçãoda biometria. O peso corporal foi determinado em gramas. Os peixes foram colocados em um tanque com renovação con-tínua de água para permitir a sua recuperação. Em cada etapa foi determinada a dose mínima de benzocaína através do Plateaude Resposta Linear (LRP) usando o software SAEG [1], em um modelo que inluiu dose e TI como covariantes. Ao final doexperimento foi determinada a relação entre a dose mínima de benzocaína e o peso corporal das carpas através de re-gressão linear.

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Antunes M.I.P.P., Godoi D.A., Spurio R.S., Grumadas C.E. & Rocha M.A. 2007. Cloridrato de benzocaína na anestesia de carpas(Cyprinus carpi ). Acta Scientiae Veterinariae. 35: s315-s316.

s316

RESULTADOS

O peso médio encontrado em cada etapa foi de 147,45±7,99g, 173,32±9,15g, 191,26±14,05g, 269,84±19,24g,285,25±17,97g, e 300,91±16,45g respectivamente. O LRP foi calculado para cada etapa, e os valores encontrados foram:125,79mg/L em 114,33s, 155,68mg/L em 115,75s, 145,33mg/L em 102,52s, 149,50mg/L em 140,53s, 166,42mg/L em 116,15s,e 158,34mg/L em 102,00s. A dose ótima foi relacionada com o peso, resultando na equação: y= 114,230+0,158x, onde “y”corresponde à dose, e “x” ao peso (r2=0,53). A equação mostra que um aumento no peso em 1g, corresponde a um aumentode 0,158 mg/L na dose anestésica de cloridrato de benzocaína para carpas.

DISCUSSÃO

A benzocaína é um anestésico local de mamíferos usado como anestésico geral em peixes, sendo administradopor imersão. Tem sido observada uma margem de segurança muito pequena entre a dose eficaz e a dose letal [3]. O presentetrabalho relacionou a dose ótima com o peso, obtendo a equação: y= 114,230+0,158x, onde “y” corresponde à dose, e “x” aopeso (r2=0.53). Esse resultado indica que um aumento no peso em 1g, corresponde a um aumento de 0,158 mg/L na doseanestésica de cloridrato de benzocaína para carpas. Porém, a Universidade de Michigan, utiliza a dose de 50 mg/L, a induçãoocorre em 1 a 3 minutos, e a recuperação de 3-15 minutos [4]. A dose anestésica de benzocaína aqui determinada poderáser utilizada visando diminuir os índices de mortalidade dos peixes com o uso da mesma.

CONCLUSÃO

Após análise criteriosa dos dados, os resultados permitem concluir que um aumento no peso da carpa em 1g,corresponde a um aumento de 0,158 mg/L na dose de cloridrato de benzocaína para se obter a anestesia de Cyprinus carpi.Com a determinação da dose de benzocaína capaz de produzir anestesia geral em carpas, espera-se que ocorra a diminuiçãodo índice de mortalidade por estresse durante a manipulação desses peixes, bem como a diminuição da taxa de mortalida-de por administração de doses excessivas do anestésico.

REFERÊNCIAS

1 Euclydes R.F. 1983. Sistema para análise estatística e genética. In: Manual de utilização do programa SAEG (Viçosa, Brasil). 1 CD – ROM.2 Hubbell J.A.E.; Muir W. W.; Skarda R. 1989. Anesthetic procedures and techniques in birds, fish, reptiles, amphibians, rodents, and exotic cats.

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of fish, 5p. Disponível em: <http://www.ucuca..umich.edu/forms/Anesthesia_fish.doc> Acessado em 12/2005.

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Supl 2

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Morfina ou tramadol por via epidural na analgesiapós-operatória de cães submetidos à orquiectomia

Postoperative analgesia of epidural injectionof morphine or tramadol in dogs after orchiectomy

Ricardo Miyasaka de Almeida 1, Samara Maguilnik 2 & Daniel Guimarães Gerardi 3

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

The postoperative analgesia is important because pain is deleterious to the patient’s recovery. The epidural analgesia with mor-phine is very known and useful in Veterinary Medicine. Tramadol, an atypical opioid, inhibits monoaminergic recaptation, but its use by epiduralroute is rare. Twelve dogs were submitted to orchiectomy after epidural injection of lidocaine-morphine or lidocaine-tramadol combination. Afterthe anesthetic recovery, all dogs were evaluated with a scale of physiological and behavioral parameters at four, eight, 12, 18 and 24 hourspost-surgery. There were no significant differences among treatments. Both protocols were considered suitable for analgesia in dogs. It wasconcluded that morphine and tramadol, when epidurally injected, are effective against postoperative pain in dogs following orchiectomy.

Key words: analgesia, dogs, epidural, morphine, tramadol.

INTRODUÇÃO

A analgesia pós-operatória é de suma importância, pois a dor causa vários efeitos deletérios que prejudicam arecuperação do paciente [6]. Já foram demonstradas as vantagens da analgesia pré-emptiva, principalmente com a utilizaçãode analgésicos não-esteroidais e opióides [2,13]. O uso parenteral de opióides para o manejo da dor é consagrado na Anestesiologia,porém, como essas substâncias têm uma vida média relativamente curta, existe a necessidade de reaplicações, o que aumentaa incidência de efeitos colaterais. Com isso, a terapia por via epidural se mostra vantajosa, sendo que a morfina, por suacaracterística hidrofílica, representa uma ótima escolha de fármaco pela longa duração de ação, podendo alcançar 24 horasde alívio da dor [8,15]. O tramadol é um opióide que inibe a recaptação monoaminérgica, promovendo assim analgesia com-parada à da morfina, apesar da menor afinidade por receptores opióides [10], no entanto, seu uso pela via epidural é poucorelatado na Medicina Veterinária [4,5,11]. Objetivou-se nesse estudo comparar a analgesia proporcionada pela injeção epiduralde morfina ou tramadol associados a lidocaína em cães submetidos à orquiectomia eletiva.

MATERIAIS E MÉTODOS

Doze cães adultos, com peso variando de 6,6 a 21,2 kg, sem raça definida e considerados sadios após examesclínicos e laboratoriais foram submetidos à orquiectomia eletiva. Anteriormente à cirurgia, foram divididos em dois grupos deigual número, os quais receberam por via epidural lidocaína sem vasoconstritor1 (6,0 mg/kg) associada a 1,0 mg/kg de tra-madol2 ou 0,1 mg/kg de morfina3. A injeção epidural foi realizada no espaço lombossacro por técnica descrita pela literatura[8]. Todos os cães foram pré-medicados com 1,0 mg/kg de xilazina4 e submetidos à indução anestésica com 12,5 mg/kg detiopental5 para a execução da técnica anestésica local. A administração de qualquer outro tipo de agente anestésico ouanalgésico durante o ato operatório foi realizada conforme necessidade. Após a cirurgia, os animais foram encaminhadosao canil de internação da Faculdade de Medicina Veterinária da Upis para a total recuperação anestésica e análise pós-operatória dos tratamentos descritos. A avaliação da analgesia pós-cirúrgica foi realizada usando-se uma escala compostade parâmetros fisiológicos e comportamentais [3], executada após quatro, oito, 12, 18 e 24 horas do procedimento cirúrgico,sempre pelo mesmo avaliador, o qual não teve conhecimento dos fármacos aplicados. Conforme a necessidade de reforçoanalgésico durante o período de avaliação, este foi oferecido ao animal pela administração de antiinflamatório não-esteroidal.Os dados foram tabulados e submetidos à análise estatística por teste de Mann-Whitney (p=0,05).

RESULTADOS

Durante todo o procedimento cirúrgico, os animais permaneceram acordados, calmos e com as variáveis defreqüência cardíaca, pulso femoral, freqüência e padrão respiratórios normais, indicando anestesia e analgesia adequadas.Não foram necessárias administrações complementares de anestésico ou analgésicos, com exceção de um cão que nãoaceitava a contenção física e o posicionamento na calha cirúrgica durante a orquiectomia, o qual recebeu uma dose sub-hipnótica de propofol6 (1,5 mg/kg, IV), não sendo necessária outra reaplicação.

Após a intervenção cirúrgica, todos os cães recuperaram a atividade motora sem maiores problemas, cerca deduas horas do início da anestesia epidural.

No período pós-operatório, o único efeito colateral observado foi sinais de tenesmo defecatório em um cão decada grupo.

Não existiu diferença significativa entre os tratamentos ao longo dos momentos de avaliação, e de acordo com aescala de avaliação de dor, cujo escore máximo é 27, os dois tratamentos foram classificados como adequados, sendo queo maior valor obtido foi nove. Não houve necessidade de complementação analgésica durante as primeiras 24 horas daintervenção cirúrgica.

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s317-s318, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

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Almeida R.M., Maguilnik S. & Gerardi D.G. 2007. Morfina ou tramadol por via epidural na analgesia pós-operatória de cãessubmetidos à orquiectomia. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s317-s318.

s318

DISCUSSÃO

A técnica de anestesia epidural com o uso de lidocaína é indicada para procedimentos peri-anais, peri-vulvares,orquiectomia, cesareanas e cirurgias ortopédicas de membros pélvicos em animais de pequeno porte, com o tempo hábilmédio anestésico de duas horas [1,8], portanto, como observado nos cães durante a orquiectomia, essa técnica foi efetiva empromover a anestesia e analgesia adequadas, com a recuperação total de todos os pacientes.

A aplicação de opióides por via epidural é justificada pelo fato do principal local de modulação nociceptiva localizar-seno corno dorsal da medula espinhal, portanto, a administração de pequenas doses resulta em boa analgesia com menoresefeitos sistêmicos [9]. A morfina, por essa via, pode reduzir a dor por até 24 horas em cães [8,12,15], enquanto que o tramadolpode atingir um efeito analgésico de até quatro horas em cavalos e de três a 10 horas em cães [4,5,11], sendo que sua açãoanalgésica já foi equiparada à morfina [10,14]. Portanto, de acordo com a escala de avaliação de dor, os dois tratamentosforam classificados como adequados, sendo que ambos causaram diminuição da sensibilidade à dor por até 24 horas apósa intervenção cirúrgica, sem maiores efeitos colaterais.

Em relação ao tenesmo apresentado por dois cães durante o período pós-cirúrgico, a explicação vem da proprie-dade dos opióides em diminuir a motilidade intestinal [10], o que não torna seu uso contra-indicado no manejo da dor pós-operatória. Adicionalmente, a morfina quando utilizada por via epidural em cães, pode causar outros efeitos colaterais nãoverificados nesse estudo, como prurido, retenção urinária, hipoventilação e hipotensão [7,8,12], assim como tais reações adver-sas também são evidenciadas quando sua aplicação se dá por via intramuscular ou intravenosa [15]. O tramadol, por sua vez,não desencadeou efeitos colaterais importantes após administração epidural em cães ou cavalos [4,5,11], similarmente aoocorrido nesse estudo.

CONCLUSÕES

Concluiu-se que a morfina e o tramadol, quando injetados por via epidural, promovem boa analgesia pós-operatóriadurante as primeiras 24 horas, sem efeitos colaterais importantes, em cães submetidos à orquiectomia.

NOTAS INFORMATIVAS1Xylestesin 2% – Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda. – Itapira, SP.2Tramal 100 mg – Carlo Erba S.A. – Duque de Caxias, RJ.3Dimorf 10mg/ml – Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda. – Itapira, SP.4Rompum 2% – Bayer S.A. – Saúde Animal – São Paulo, SP.5Tiopentax 1g – Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda. – Itapira, SP.6Provive 1% – Claris Produtos Farmacêuticos do Brasil Ltda. – São Paulo, SP.

REFERÊNCIAS

1 Adetunji A., Ajadi R.A. & Aladesawe T.A. 2001 . A comparison of epidural anaesthesia with lignocaine, bupivacaine, and lignocaine/bupivacainemixure in dogs. Israel Journal of Veterinary Medicine. 56: 85-88.

2 Fantoni D.T. & Mastrocinque S. 2004. Analgesia preemptiva: mito ou fato? Clínica Veterinária, 49: 24-32.3 Firth A.M. & Haldane S.L. 1999 . Development of a scale to evaluate postoperative pain in dogs. Journal of the American Veterinary Medical

Association. 214: 651-659.4 Guedes A.G.P., Natalini C.C., Alves S.D.L. & Oliveira S.T. 2002 . Tramadol via epidural em cães submetidos à substituição do ligamento

cruzado cranial. Ciência Rural. 32: 345-346.5 Halder S. & Bose P.K. 2000 . Post-operative analgesic effect of epidural xylazine in combination with tramadol in dog. Indian Journal of Animal

Health. 39: 51-52.6 Hansen B.D. 2005 . Analgesia and sedation in the critically ill. Journal of Veterinary Emergency and Critical Care. 15: 285-294.7 Herperger L.J. 1998 . Postoperative urinary retention in a dog following morphine with bupivacaine epidural analgesia. Canadian Veterinary

Journal. 39: 650-652.8 Jones R.S. 2001 . Epidural analgesia in the dog and cat. The Veterinary Journal. 161: 123-131.9 Lemke K.A. 2004 . Understanding the pathophysiology of perioperative pain. Canadian Veterinary Journal. 45: 405-413.10 Mastrocinque S. & Fantoni D. 2001 . Modulação da resposta neuroendócrina à dor pós-operatória em cães. Estudo comparativo entre tramadol

e morfina. Clínica Veterinária. 31: 25-29.11 Natalini C.C. & Robinson E.P. 2000 . Evaluation of the analgesic effects of epidurally administered morphine, alfentanil, butorphanol, tramadol,

and U50488H in horses. American Journal of Veterinary Research. 61: 1579-1586.12 Robinson T.M., Kruse-Elliott K.T., Markel M.D., Pluhar G.E., Massa K. & Bjorling D.E. 1999 . A comparison of transdermal fentanyl versus

epidural morphine for analgesia in dogs undergoing major orthopedic surgery. Journal of the American Animal Hospital Association. 35: 95-100.13 Sibanda S., Hughes J.M., Pawson P.E., Kelly G. & Bellenger C.R. 2006 . The effects of preoperative extradural bupivacaine and morphine

on the stress response in dogs undergoing femoro-tibial joint surgery. Veterinary Anaesthesia and Analgesia. 33: 246-257.14 Turker G., Goren S., Bayram S., Sahin S. & Korfali G. 2005 . Comparision of lumbar epidural tramadol and lumbar epidural

morphine for pain relief after thoracotomy: a repeated-dose study. Journal of Cardiothoracic and Vascular Anesthesia. 19:468-474.

15 Valadão C.A.A., Duque J.C. & Farias A. 2002 . Administração epidural de opióides em cães. Ciência Rural. 32: 347-355.

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Anestesia para cirurgia de catarata – relato de caso

Anaesthesia for cataract surgery – case report

Gabrielle Coelho Freitas 1, Adriano Bonfim Carregaro 2,André Vasconcelos Soares 3 & Nilson Oleskovicz 4

1Mestranda, Programa de Pós Graduação em Cirurgia Veterinária-UFSM. 2Setor de Anestesiologia Veterinária-UFSM.3Mestrando, Curso Pós-graduação em Ciências Veterinárias-CAV/UDESC. 4Setor de Anestesiologia Veterinária-CAV/UDESC.

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

Cataract can be usually seen in old dogs, and the only treatment is the surgical removal of the crystalline lens when the sightis injured. The patients submitted to that surgery need balanced anaesthetic protocols and that priority the maintenance of intraocularpressure under physiological limits, the prevention of oculocardiac reflex and the entirely imobilization of the eyeball. This study reports theanaesthetic proceeding used in a 14 years old dog, submitted to extracapsular facectomy surgery. The protocol used was consideredsuitable for the surgical procedure.

Key words: cataract, extracapsular facectomy, inhalatory anaesthesia.

INTRODUÇÃO

Boa parte dos pacientes com alterações oftálmicas é composta por animais geriátricos, os quais requerem proto-colos anestésicos balanceados e que minimizem os efeitos deletérios dos fármacos, uma vez que essa faixa etária é consi-derada de risco em anestesia. Isto porque muitos desses animais apresentam doenças intercorrentes, como alteraçõeshemodinâmicas e pulmonares, doenças renais ou obesidade, que podem levar a complicações anestésicas [9].

Catarata é a opacidade do cristalino ou de sua cápsula [5]. Cataratas são comumente vistas em cães idosos, efreqüentemente classificadas em “senis” ou “relacionadas à idade” se nenhuma outra causa antecedente é aparente. A pro-gressão deste tipo de catarata é freqüentemente lenta; muitos meses a vários anos podem passar para a observação da perdada visão. A causa das cataratas relacionadas à idade no cão é desconhecida [3]. O único tratamento é a remoção cirúrgica,empregada quando a catarata já prejudica significativamente a visão [5].

RELATO DE CASO

Foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) umcanino, SRD, macho, com 14 anos de idade e peso de 8,8 kg apresentando catarata bilateral. O animal foi submetido àcirurgia de facectomia extracapsular primeiramente no olho esquerdo. Após 2 meses a mesma cirurgia foi realizada no olhodireito; e é este último procedimento que será relatado a seguir.

O paciente apresentava-se aparentemente hígido ao exame clínico, e sem alterações na ausculta cardíaca epulmonar. Para medicação pré-anestésica (MPA) foi utilizado a combinação de cetamina S(+) e midazolam, nas doses de4mg/kg e 0,4mg/kg, respectivamente, pela via intramuscular. Observou-se adequada sedação nos pacientes, sendo facilitadaa manipulação para tricotomia e para o acesso venoso, anteriormente à indução anestésica.

A indução anestésica foi realizada com a combinação de cetamina S(+) e midazolam, nas doses de 2,5mg/kg e0,4mg/kg, respectivamente. Os animais foram mantidos em ventilação mecânica com 1 – 1,5V% de isofluorano em oxigênioa 100%. Com o objetivo de centralização e imobilidade completa do globo ocular, foi utilizado atracúrio (0,3mg/kg IV) logoapós a intubação do paciente.

Após a recuperação anestésica, foi colocado um colar elizabetano no paciente, impedindo qualquer lesão ao localda cirurgia. Na terapia pós-operatória, o animal recebeu cetoprofeno na dose de 1mg/kg SC, 1 vez ao dia, durante 5 dias.

DISCUSSÃO

Em pacientes que serão submetidos à cirurgia ocular, uma anestesia segura e efetiva requer manutenção dapressão intra-ocular (PIO) próxima ao normal, prevenção da ativação do reflexo óculo-cardíaco (ROC), controle da hemorra-gia e imobilização completa do globo ocular [10].

A manutenção da PIO abaixo dos limites normais é essencial para uma boa anestesia em cirurgias intra-oculares.Mudanças significativas na PIO podem afetar negativamente os resultados da cirurgia intra-ocular, levando a complicaçõespós-operatórias como prolapso de íris ou de lente e perda do humor vítreo [1]. Quase todas as medicações anestésicas utilizadasem Medicina Veterinária diminuem a PIO, mediante a redução do débito cardíaco e/ou pressão sanguínea sistêmica, miorre-laxamento extra-ocular, ou aumento da eliminação do humor aquoso [4].

Deve-se considerar que nas cirurgias intra-oculares a monitoração do plano anestésico é prejudicada, pois alocalização do campo operatório impossibilita o controle da anestesia pelos reflexos óculo-palpebrais [9]. Freqüência cardíaca(FC), freqüência respiratória (f), ritmo cardíaco e pressão arterial (PA) são parâmetros mínimos que devem ser monitoradoscontinuamente durante a cirurgia ocular [1].

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s319-s320, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

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Freitas G.C., Carregaro A.B., Soares A.V. & Oleskovicz N. 2007. Anestesia para cirurgia de catarata – relato de caso.Acta Scientiae Veterinariae. 35: s319-s320.

s320

A MPA deve aliviar a ansiedade, suprimir a tosse, prevenir o vômito e prover analgesia no período perioperatório.Diazepam ou midazolam podem ser utilizados com segurança em cães e gatos que serão submetidos à cirurgia ocular, poisproporcionam o relaxamento dos músculos oculares e promovem recuperação suave da anestesia [1]. A vantagem dosfenotiazínicos é a sua ação antiemética, uma vez que a emese leva a aumentos rápidos e importantes na PIO, podendocausar danos ao olho afetado ou romper suturas delicadas [9].

Em cães e gatos, a xilazina pode causar vômito, não devendo ser utilizada como MPA em pacientes que serãosubmetidos à cirurgia intra-ocular [10]. Além disso, é um agente vagotônico potente e causa severa bradicardia; assim, nãodeve ser empregado em pacientes oftálmicos que tenham predisposição ao estímulo vagal e a baixos valores de FC [9].

A MPA com opióides em cães pode desencadear miose, fato indesejável nas cirurgias de catarata. Para este tipode cirurgia a pupila deve estar dilatada e imóvel [10].

A cetamina, fármaco utilizado na MPA e indução anestésica, apresenta-se como um composto racêmico. O isômeroS(+) induz hipnose mais duradoura, quase duas vezes mais longa que o isômero R(-). O efeito da cetamina S(+) também éduas vezes menor na diminuição da resistência vascular, quando comparado à forma racêmica. Apresenta efeitos similaresàqueles da cetamina racêmica na eletrofisiologia cardíaca e na função cardiopulmonar [6].

Os fármacos utilizados na MPA que induzem analgesia, sedação e/ou tranqüilização reduzem a incidência deexcitação durante o período de indução e, dessa forma, diminuem a probabilidade de aumento da PIO. Em cães e gatosapropriadamente pré-tratados, o tiobarbiturato, propofol ou cetamina podem ser administrados para indução anestésica [1].Os tiobarbituratos e o propofol diminuem o débito cardíaco, a pressão sanguínea, relaxam os músculos extra-oculares efacilitam a drenagem do humor aquoso [10].

Um estudo comparativo entre o midazolam e o diazepam associados à cetamina na indução da anestesia emcães não demonstrou alterações significativas nas funções hemodinâmicas ou pulmonar, mas a associação de midazolame cetamina apresentou pequena vantagem, facilitando e tornando mais rápida a intubação [9]. Estudos sobre a influênciadessa associação na PIO revelaram que ela não promove alterações em cães [7,8]. A indução também pode ser realizadacom os anestésicos inalatórios, porém, quando se usa máscara para a administração destes fármacos ou de oxigênio, apressão direta sobre o olho deve ser evitada [1]. A relutância à máscara é comum, devendo esta ser utilizada apenas empacientes bem sedados [10]. O isofluorano, em relação ao halotano, é o anestésico inalatório indicado para pacientes de altorisco, como os geriátricos, por ser mais seguro em relação às alterações de ritmo cardíaco [9].

A profundidade anestésica requerida para imobilidade completa do globo ocular pode ser diminuída quando umbloqueador neuromuscular é utilizado. Os bloqueadores neuromusculares não aumentam a PIO, podendo até reduzí-la [1].Tais agentes são recomendados nos procedimentos intra-oculares, como as facectomias. A manipulação cirúrgica requer afixação do globo ocular na posição central, e a não utilização do bloqueador pode ocasionar distorção do globo ocular [9]. Adose de 50mg/kg IV de atracúrio é adequada para cirurgias oftálmicas em cães que necessitem do bloqueio da musculaturaextrínseca do bulbo ocular sem paralisia completa das musculaturas intercostal e diafragmática e, portanto, sem a necessidadede ventilação controlada [2].

A recuperação suave da anestesia, a prevenção do auto-trauma e a analgesia são essenciais para o sucesso deuma cirurgia ocular. Os delírios, a incoordenação e a tosse podem causar deiscência dos pontos cirúrgicos, provocar hemor-ragia intra-ocular ou descolamento da retina, acarretando perda da visão do olho operado [10].

CONCLUSÃO

Durante o período operatório, foram monitorados FC, f, PA não invasiva, saturação de O2 na hemoglobina e traçadoeletrocardiográfico; e os parâmetros fisiológicos do paciente não foram alterados de forma significativa.

Considerando-se os sinais comportamentais de dor, o protocolo pós-operatório adotado foi adequado, nãosendo observado alterações posturais do animal, assim como agitação ou vocalização durante os dias em que este per-maneceu internado. O paciente teve recuperação anestésica tranqüila e livre de desconforto.

REFERÊNCIAS

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8 Tamura E.Y., Barros P.S.M.; Fantoni D.T.; Cortopassi S.R.G. 1997. Efeitos da associação de acepromazina, midazolam equetamina sobre a pressão intra-ocular em cães. Revista Brasileira de Ciências Veterinárias, 4:19-23.

9 Tamura E.Y., Fantoni D.T., Cortopassi S.R.G., Barros P.S.M. 2003. Anestesia em cirurgias oculares em cães: efeitos dosanestésicos e controle da pressão intra-ocular - revisão. Clínica Veterinária, 42:32-39.

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Avaliação de diferentes protocolos anestésicospara realização de lavado traqueal em gatos

Evalution of different anesthetic protocols for tracheal wash in cats

Renata Navarro Cassu 1, Alessandra Melchert 2 & Daniela Alonso Favinha 3

1Departamento de Cirurgia e Anestesiologia, Curso de Medicina Veterinária, Faculdade das Ciências Agrárias, UNOESTE.2Departamento de Clínica de Pequenos Animais, Curso de Medicina Veterinária, Faculdade das Ciências Agrárias, UNOESTE.

3Graduação, Curso de Medicina Veterinária, Faculdade das Ciências Agrárias, UNOESTE.E-mail: [email protected]

ABSTRACT

This study had as objective to evaluate the anesthetic quality of the thiopentone (GT) or propofol (GP) for thecollection traqueal wash in cats, after sedation with acepromazine in combination with butorphanol. Both the inductor agentsused in this study were employed with success, however respiratory depression and reduction in haemoglobin oxygensaturation was observed in both groups, being emphasized the need of meticulous monitoring and the patients’ ventilationduring the procedure.Key words: propofol, thiopentone, cat.

INTRODUÇÃO

O lavado traqueal é uma técnica utilizada para o auxílio do diagnóstico de patologias no trato respiratório inferior.Para a realização desse procedimento é empregada anestesia geral, visando total imobilidade e maior conforto ao paciente.Os fármacos utilizados na indução anestésica podem exercer influências sobre a qualidade da intubação endotraqueal. Foidemonstrada no homem [9] e em gatos [3], menor incidência de tosse e laringoespamo, melhor relaxamento de epiglote emaior depressão sobre o reflexo laringotraqueal com o uso do propofol, comparativamente, ao tiopental.

O objetivo desse estudo foi avaliar a qualidade anestésica proporcionada pelo tiopental sódico comparativamenteao propofol para realização de lavado traqueal em gatos saudáveis, após tranquilização com acepromazina associada aobutorfanol.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram avaliados 22 gatos adultos, com peso médio de 3±2 kg, clinicamente saudáveis. Após jejum sólido de 12horas e hídrico de 4 horas, os animais foram distribuídos aleatória e eqüitativamente em dois grupos. Todos os animais foramtranquilizados com acepromazina1 (0,1 mg/kg im) em associação ao butorfanol2 (0,2 mg/kg im). Após 20 minutos, os animaisforam submetidos à indução anestésica com 12,5 mg/kg de tiopental sódico3 (GT, n=11) ou 5mg/kg de propofol4 (GP, n=11).Os agentes indutores foram administrados em velocidade média de 25 segundos. Iniciou-se a partir desse momento a colheitado lavado traqueal. Parâmetros avaliados: freqüência cardíaca (FC), saturação de pulso de oxigênio (SpO2), com oxímetrode pulso5; pressão arterial sistólica (PAS), com doppler vascular6; freqüência respiratória (f), pela monitoração dos movimentostorácicos; temperatura retal (TR), com termômetro digital7; tempo médio total do procedimento (minutos), necessidade dedoses adicionais (mg/kg) do agente indutor, dose (mg/kg) total do anestésico geral para a realização do procedimento, reflexode tosse (presente ou ausente), ocorrência de cianose e apnéia, qualidade e período de recuperação. Momentos avaliados:FC e f foram avaliadas antes da tranqüilização, 15 minutos após a mesma, imediatamente, 15 e 30 minutos após a colheitado lavado traqueal.

A estatística foi realizada com análise de variância (ANOVA), teste de Tukey e teste t não pareado. Todos os testesforam realizados ao nível de significância de 5%.

RESULTADOS

Para as variáveis, FC, f, SpO2, T, não foram observadas diferenças entre os grupos, porém, a FC foi superior aos15 minutos após a MPA em relação aos 15 e 30 minutos após o término da colheita do lavado traqueal nos dois grupos. A ffoi superior no momento basal em relação aos 15 e 30 minutos após o término da colheita do lavado traqueal para ambosos grupos. Embora sem diferença estatística a incidência de apnéia foi superior no GT (5 animais de 11), em relação ao GP(2 animais de 11), sendo necessária a realização de ventilação assistida com ambu, até a total recuperação da ventilaçãoespontânea dos animais. A cianose também foi mais freqüente no GT (5 animais de 11) em relação ao GP (4 animais de 11),porém não houve diferença estatística entre os grupos. A SpO2 não diferiu entre os momentos avaliados. Com relação à Thouve redução progressiva no decorrer do tempo, com valores superiores no momento basal e aos 15 minutos após a MPA,em relação aos demais momentos avaliados.

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s321-s323, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

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Cassu R.N., Melchert A. & Favinha D.A. 2007. Avaliação de diferentes protocolos anestésicos para realização de lavadotraqueal em gatos. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s321-s323.

s322

A PAS foi inferior no GT em relação GP. Com relação aos momentos, a PAS foi superior no momento basal emrelação aos demais momentos para ambos os grupos.

O tempo de recuperação não variou entre os grupos, com tempo médio de 62±19 e 57±19, para o GT e GP,respectivamente.

O reflexo de tosse foi mais evidente no GT, com 55% (6 animais de 11) de incidência, enquanto no GP, a incidênciafoi de 45% (5 animais de 11), porém não houve diferença significativa.

Nenhum animal necessitou de dose adicional para realização do procedimento de lavado traqueal, sendo admi-nistrada a dose total de 12,5 mg/kg de tiopental e 5mg/kg de propofol para cada um dos animais avaliados, no GT e GP, respec-tivamente. Não houve diferença entre os grupos em relação ao tempo médio total do procedimento, que variou entre 3,3±1,5minutos e 3,5±0,5 minutos, para o G1 e G2, respectivamente.

DISCUSSÃO

O tiopental e o propofol induzem depressão cardiorrespiratória dose-dependente. Apnéia transitória e depressãorespiratória podem ser observadas após indução anestésica com tiopental, porém, normalmente, são detectadas mínimasalterações hemogasométricas [7]. O propofol também pode induzir depressão respiratória e apnéia, as quais podem serminimizadas pela redução da dose desse agente indutor e pela administração lenta do mesmo [5]. No atual estudo, houvequeda na freqüência respiratória, após aplicação dos agentes indutores nos dois grupos, com maior incidência de apnéiaapós administração do tiopental em relação ao propofol. Paralelamente, maior incidência de tosse foi observada com o usodo tiopental em relação ao propofol. Além de mais freqüente, o reflexo de tosse foi mais pronunciado, com duração maislonga, exigindo tempo mais prolongado de ventilação assistida nos animais induzidos com tiopental. Alguns estudosrealizados no homem têm demonstrado que o propofol determina maior atenuação dos reflexos das vias aéreas [6], quandocomparado ao tiopental. Em estudo realizado em gatos, melhor qualidade de intubação endotraqueal foi obtida com opropofol em relação ao tiopental sódico, com menor incidência de tosse e laringoespamo, melhor relaxamento de epiglotee maior depressão sobre o reflexo laringotraqueal [3]. A queda da saturação de oxigênio ocorreu em igual proporção nos doisgrupos, em função da colheita do lavado traqueal, sugerindo que essa técnica altera a troca gasosa fisiológica, provavel-mente, devido à administração intratraqueal de volume elevado de solução salina, provocando redução transitória nasaturação de oxigênio na hemoglobina, a qual foi prontamente revertida após o término do procedimento, corroborandoresultados previamente relatados na espécie canina [2]. Os valores médios observados de oximetria neste estudo (72% e76%, para G1 e G2, respectivamente), sugerem a ocorrência de hipoxemia, pois a conversão da saturação de pulso de oxigênio(SpO2) em pressão arterial de oxigênio (PaO2) é descrita em termos de 30 unidades de diferença entre elas, de modo que70%, 80% e 90% de SpO2 é indicativo de PaO2 de 40 mmHg, 50 mmHg e 60 mmHg, respectivamente [10].

Com relação às variáveis cardiovasculares, foi observado aumento na FC com redução da PAS após a MPA, emambos os grupos. Esse achado pode ser explicado pelo efeito vasodilatador conferido pela acepromazina, determinadopelo bloqueio dos receptores alfa1-adrenérgicos [1], culminando com a queda da PAS e aumento reflexo da FC. No decorrerdo procedimento foi observada redução da pressão arterial em ambos os grupos, porém esse efeito foi mais acentuado nosanimais anestesiados com tiopental. Tanto a administração de tiopental quanto a do propofol, produz discreta a moderadahipotensão em gatos saudáveis [7,11].

A recuperação pós-anestésica do tiopental é longa, devido à redistribuição desse fármaco na gordura corpórea,podendo ser extremamente prolongada, quando doses adicionais são necessárias [4]. No entanto, o propofol apresentarápida redistribuição tecidual, com clearance metabólico extremamente rápido, com meia vida plasmática de 55 minutos naespécie felina. Essas propriedades farmacocinéticas conferem ao propofol rápida recuperação pós-anestésica, com tempomédio de 30 minutos em gatos, após administração de única dose [8]. Resultados divergentes foram observados no presenteestudo, no qual o tempo de recuperação não variou entre os grupos. A recuperação também pode ser influenciada pelamedicação pré-anestésica. Em estudo semelhante realizado em cães, o tempo médio de recuperação foi mais longo nosanimais tranquilizados pela associação de acepromazina/butorfanol [2]. A administração prévia de acepromazina e outrostranqüilizantes podem prolongar o tempo de recuperação do propofol [11].

CONCLUSÃO

Perante as condições experimentais deste estudo, pode-se concluir que os anestésicos gerais, tiopental e propofol,foram satisfatórios para realização de lavado traqueal em gatos, não representando um fator de risco para animais saudá-veis, porém para aqueles que apresentem comprometimento do sistema cardiorrespiratório, monitoração mais minuciosadeve ser utilizada, como a oxicapnografia, hemogasometria e ventilometria, a fim de que maior segurança possa ser con-ferida ao paciente.

NOTAS INFORMATIVAS1Acepran 0,2%, Univet, São Paulo, Brasil.2Torbugesic, Fort Dodge, São Paulo, Brasil.3Tiopentax, Cristália, Itapira-SP, Brasil.4Propovan, Cristália, Itapira-SP, Brasil.5Oxímetro, J.G. Moriya, LTDA, São Paulo, Brasil.6Doppler 841-A, Parks Medical Electronics, Las Vegas, EUA.7Termômetro digital BD, São Paulo, Brasil.

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Cassu R.N., Melchert A. & Favinha D.A. 2007. Avaliação de diferentes protocolos anestésicos para realização de lavadotraqueal em gatos. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s321-s323.

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REFERÊNCIAS

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s324

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s324-s325, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Prurido intenso após administraçãoepidural de morfina em gato: relato de caso

Severe pruritus after morphine epidural administration in cat: case report

Sérgio dos Santos Souza, Tatiana Regina Intelisano, Christianni Padovani de Biaggi,Iara Tiburcio, Márcia Marques Jericó & Cláudio Alves de Moura

Universidade Anhembi MorumbiE-mail: [email protected]

ABSTRACT

Spinal morphine promotes good pain relief for long periods, however it is not free from side effects. Pruritus is one of its side effectswith a high incidence in humans. Epidural administration of lidocaine1 (2,5 mg.kg-1), bupivacaine2 (0,5 mg.kg-1) and morphine3 (0,15 mg.kg-1)was performed in a cat submitted to ilio osteosynthesis and sacro-iliac stabilization. The following day, auto mutilation lesions were observedand it was concluded that the animal experienced secondary pruritus induced by to the administration of epidural morphine, probably dueto the high doses given. This effect, however, does not constitute a reason for contraindication.

Key words: morphine, pruritus, feline.

INTRODUÇÃO

Os agentes analgésicos opióides são alternativas importantes no controle da nocicepção em animais, principal-mente quando administradas por via epidural, para o controle segmentar da dor pós-operatória [9], onde seus efeitos farma-cológicos são atribuídos à ativação de receptores localizados na camada superficial (substância gelatinosa) do corno dorsalda medula espinhal [3].

Devido às propriedades hidrofílicas e coeficiente de partição óleo/água de 1,4:1, altas concentrações de morfinasão observadas na circulação sistêmica, após a injeção por via epidural, onde cerca de 29% da quantidade deste opióideé absorvida pela gordura epidural, e aproximadamente 71% passa para a circulação sistêmica ou atravessa a duramáter,podendo alcançar, eventualmente, altas concentrações no líquido cefalorraquidiano [4]. A morfina é eliminada lentamente doLCR, permitindo uma concentração suficiente para substituir constantemente as moléculas dissociadas dos receptores,sendo possível manter longos períodos de analgesia [3].

A analgesia pós-cirúrgica produzida pela administração epidural de morfina é dose dependente, qualitativamentemelhor e com maior período hábil do que a obtida após administração desses agentes por via parenteral [1], entretanto éacompanhada de uma série de possíveis efeitos indesejáveis, tais como, depressão respiratória, retenção urinária, vômito,prurido e hipotermia e em menor freqüência oligúria, agitação, miose, hipotensão e constipação [3]. O prurido apresenta umaincidência bastante alta em seres humanos e também é descrita em cães, eqüinos e bovinos, todavia é rara a sua descriçãona espécie felina.

RELATO DE CASO

O animal, Lupita, da espécie felina, fêmea, sem raça definida e adulta foi atendida pelo serviço de cirurgia doHospital Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi, encaminhada por Médico Veterinário, apresentando histórico deatropelamento há 12 horas, e medicada com dipirona sódica (25 mg.kg-1). A proprietária relatou abortamento cerca de 2horas após o atropelamento e impotência funcional dos membros posteriores, além de hiporexia, oligodipsia, iscúria eaquesia. Ao exame físico observou-se aumento da sensibilidade abdominal, impotência e alodinia em membros posteriores,phithisis bulbi em globo ocular direito, taquicardia, taquipnéia, agressividade e desidratação ao redor de 5%. Foram solici-tados, como exames complementares, hemograma, dosagem sérica de uréia, creatinina e lactato, além de radiografia depelve e ultrassonografia abdominal. Os resultados dos exames complementares confirmaram processo inflamatório, desi-dratação com hemoconcentração discreta e fraturas em ílio e acetábulo esquerdos, além de luxação sacro-ilíaca direita. Oanimal foi tratado com enrofloxacina (5 mg.kg-1, SC), tramadol (2 mg.kg-1, IM), meloxicam (0,1 mg.kg-1, SC), fluidoterapia comRinger com lactato, e posterior realização de osteossíntese de ílio e estabilização sacro-íliaca.

O animal foi submetido a jejum alimentar de 12 horas e hídrico de 4 horas, em seguida foi pré-tratado com petidina(4 mg.kg-1, IM) e instituiu-se fluidoterapia com solução de Ringer com lactato através de acesso venoso em veia cefálicaesquerda, para realização da indução anestésica com propofol (7 mg.kg-1) e isofluorano para manutenção anestésica emcircuito Mapleson D. Neste momento o animal foi posicionado em esfinge para realização de anestesia epidural com lidocaína(2,5 mg.kg-1), bupivacaína (0,5 mg.kg-1) e morfina (0,15 mg.kg-1) diluídos a 0,3 ml.kg-1. O procedimento cirúrgico durou 3 horase o animal foi dispensado cerca de 1 hora após o procedimento, já desperto. No dia seguinte o animal retornou ao hospital

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Souza S.S., Intelisano T.R., Biaggi C.P., Tiburcio I., Jericó M.M. & Moura C.A. 2007. Prurido intenso após administração epiduralde morfina em gato: relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s324-s325.

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apresentando uma extensa laceração na região torácica decorrente de autotraumatismo. A proprietária relatou que cerca de8 horas após a anestesia epidural o animal apresentou episódios sucessivos de prurido intenso durante 4 horas, após ascrises este apresentou normorexia, normodipsia, e micção normal, porém mantinha o quadro de aquesia e em nenhum mo-mento se mostrou agressivo. Após a tricotomia da região para realização de anaplastia, observou-se lesões característicasde automutilação e outras na região caudais das orelhas compatíveis com quadro de dermatite úmida aguda. Com base norelato da proprietária, nas características das lesões observadas e suas localizações concluiu-se que o animal apresentouum quadro de prurido secundário à administração de morfina por via epidural.

DISCUSSÃO

Os mecanismos envolvidos no surgimento de prurido decorrente da administração de morfina pela via epiduralainda não estão completamente esclarecidos, entretanto, algumas hipóteses são levantadas freqüentemente, tais como:ação dos conservantes, liberação de histamina e alteração nos centros moduladores cervicais associada a hiperexcitabilidadecentral produzida pelo fármaco [6]. A teoria que os conservantes seriam os responsáveis por este efeito colateral caiu emdescrédito nos últimos anos, visto que a utilização de opióides sem conservante não foi capaz de impedir o surgimento deprurido [8]. A liberação de histamina produzida pela ação de alguns opióides também é bastante criticada, pois se observouque a ação de anti-histamínicos no tratamento deste efeito foi muito pobre, diferentemente da resposta a naloxona queembora não seja capaz de impedir a liberação de histamina, apresentou resposta significativa no tratamento de prurido [5].Por isso, a teoria mais aceita é a alteração nos centros moduladores cervicais, encontrados na porção cranial da medula, daterceira ou quarta vértebra cervical até a porção caudal do bulbo, onde existe uma continuidade entre o trato de Lissauer, asubstância gelatinosa e o núcleo do tracto espinhal do nervo trigêmio, sendo uma área rica em receptores opiáceos [2],levando a um quadro de hiperexcitabilidade, que apresenta regressão, em aproximadamente 85% dos pacientes tratadoscom doses sub-hipnóticas de propofol para controlar o prurido. O propofol produz marcada depressão dos cornos ventral edorsal da medula espinhal, tendo sido postulado que sua ação antipruriginosa é devida à inibição da transmissão pós-sináptica, diferente da ação da naloxona, que bloqueia a transmissão encefalinérgica central. A dose de propofol usadanesses casos não produz sedação, hipnose ou diminuição da intensidade da analgesia [7].

A freqüência de apresentação no homem varia entre 90 e 100%, para a dose total de 10mg, e entre 1 e 28%, paradoses totais entre 2 e 5mg. A ocorrência do prurido pode estar associada, particularmente, ao emprego de agonistas mu,tendo em vista que administraram meperidina ou nalbufina por via intravenosa, em eqüinos e observaram tal efeito apenasnos animais medicados com o agonista mu [9].

Baseando-se nestes dados de literatura, acredita-se que o quadro de prurido deve ser decorrente da utilizaçãode dose alta de morfina pela via epidural, onde após o término do efeito dos anestésicos locais, produz alteração do sistemade modulação cervical ocasionando prurido intenso semelhante ao observado em outras espécies.

CONCLUSÃO

O prurido decorrente da administração epidural da morfina pode ser atribuída a doses elevadas do fármaco e,apesar de ser um possível efeito indesejável da técnica, não chega a constituir motivo para contra-indicação dessa moda-lidade de analgesia devido à sua baixa ocorrência.

NOTAS INFORMATIVAS1Cloridrato de lidocaína 2% sem vasoconstrictor – Lidoston® – Ariston.2Cloridrato de bupivacaína 0,5% sem vasoconstritor – Neocaína® – Cristália.3Sulfato de morfina 10mg/ml – União Química – Linha Analgésicos.

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s326

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s326-s328, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Comparação entre bloqueio motor e sensitivo em plexo braquialde galinhas domésticas ( Gallus domesticus ) com ropivacaína 0,75%

Comparison between motor and sensitive brachialplexus blockade in chickens with 0,75% ropivacaine

Larissa Borges Cardozo 1, Levi de Castro Fiúza 2, Ricardo Miyasaka de Almeida 3,Paula Diniz Galera 3 & Maria Fernanda Silva Machado 4

1Residente em Anestesiologia e Clínica Cirúrgica, Hospital Veterinário de Pequenos Animais da Universidade de Brasília (UnB),Brasília/DF. 2Hospital Veterinário de Pequenos Animais-UnB. 3Faculdade de Veterinária-UnB. 4Graduação, Cursode Medicina Veterinária-UnB. *Projeto realizado com apoio do Programa de Iniciação Científica (PIC-UnB) e CNPq.

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

The effects of brachial plexus blockade with 0,75% ropivacaine in chickens at the volume 1 ml kg-1 were evaluated after anestheticinduction with isoflurane. Six adult chickens, 30 weeks old and body weight 4,5 ± 0,4 kg were used, resulting in 10 right wing brachial plexusblockades, being evaluated motor and sensory response to stimuli, scored in a scale of zero to three. Comparative analysis by t-paired test(p≤0,05) between the blocks showed no differences. However, sensitive blockade showed a longer duration then motor blockade. Thebrachial plexus blockade with 0,75% ropivacaine is an effective technique to provide surgical analgesia for thoracic limb in chickens.

Key words: birds, brachial plexus, local anesthesia, ropivacaine.

INTRODUÇÃO

Pesquisas são realizadas com o objetivo de desenvolver técnicas anestésicas que reduzam o risco ao animal,além do custo do procedimento sem, contudo, comprometer a eficácia da técnica. A grande vantagem do uso de anestesialocal é que esta implica em maior segurança, pois reduz a quantidade de anestésicos inalatórios ou intravenosos necessá-rios para manutenção do animal em plano cirúrgico. Além disso, os anestésicos locais promovem excelente analgesia,mesmo no pós-operatório imediato [7]. A maior limitação de seu uso deve-se à necessidade de conhecimento anatômicopara a realização de bloqueios, bem como os efeitos e doses tóxicas dos anestésicos em cada espécie [1].

Os bloqueios regionais baseiam-se na deposição do anestésico local nas regiões periféricas de um nervo ougrupo de nervos que formam um plexo, ocasionando dessensibilização da área que é inervada pelo mesmo; assim, obloqueio de plexo braquial é realizado para que se possibilitem intervenções em membro torácico nas regiões abaixo docotovelo [3].

A ropivacaína é o primeiro anestésico local utilizado exclusivamente na forma levógira e é menos cardiotóxica doque a bupivacaína. A qualidade do bloqueio motor, duração da anestesia e dor induzida pela injeção da mesma quandoutilizada em bloqueios foram considerados mais adequados em comparação A outros anestésicos (lidocaína e bupivacaína)[2], por isso, pode ser considerada opção segura na anestesia local em aves.

O presente estudo associa o uso de ropivacaína na anestesia regional do plexo braquial em galinhas domésticas,visando avaliar efeito, duração e qualidade dos bloqueios motor e sensitivo alcançados após sua administração.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizadas seis galinhas (Gallus domesticus) de 30 semanas de idade e com peso médio de 4,5 ± 0,4 kg,sadias e vacinadas, provenientes de granja de corte. Os animais foram mantidos em local adequado para aves, com camade maravalha, comedouros e bebedouros, sendo que a alimentação era composta de ração específica para aves duas vezesao dia, e água ad libitum.

Dez bloqueios de plexo braquial foram realizados, sempre em asa direita, e respeitando o intervalo mínimo deuma semana entre os procedimentos em um mesmo animal. As aves eram retiradas do ambiente onde permaneciam emgrupo e mantidas em jejum de 12 horas dentro de gaiolas, para diminuir o risco de regurgitação e aspiração de conteúdoestomacal durante o procedimento. O animal a ser submetido ao bloqueio era mantido em local climatizado, até não seremobservados sinais de excitação devido a sua manipulação. Para estipular o padrão de resposta a estímulos de cada animaloptou-se por realizar os mesmos estímulos de avaliação antes do bloqueio ser efetuado.

No intuito de facilitar a localização e o bloqueio do plexo braquial, os animais foram induzidos à anestesia geralcom isofluorano1 diluído em oxigênio a 100% com o uso de máscara facial, até que fosse alcançado relaxamento muscularnecessário. A administração do anestésico era interrompida e as aves mantidas em oxigênio até o término da efetivação da

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Cardozo L.B., Fiúza L.C., Almeida R.M., Galera P.D. & Machado M.F.S. 2007. Comparação entre bloqueio motor e sensitivoem plexo braquial de galinhas domésticas ( Gallus domesticus )... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s326-s328.

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técnica. A ave era posicionada em decúbito dorsal e a asa direita colocada em posição perpendicular à quilha, e para alocalização do plexo eram realizadas movimentações e palpação da articulação escapuloumeral, onde as raízes do plexoestão situadas.

Após o preparo da área, o bloqueio era realizado pela injeção do volume de 1mL/kg de ropivacaína a 0,75%2

(dose de 7,5 mg/kg) com auxílio de seringa de 5 mL3 e agulha hipodérmica 40x8mm4, introduzida na musculatura peitoral emângulo de 90°, até a sensação de toque em estruturas ósseas, condizendo com o local adequado de injeção. Assim, eraadministrado o volume calculado, até que se obtivesse o volume residual de 1mL, que era injetado durante todo o projeto desaída da agulha pela musculatura. A área era, então, massageada manualmente para melhor dispersão do anestésico.

Ao término do procedimento a ave era retirada da oxigenoterapia, monitorando-se sua recuperação. Em intervalosde cinco minutos até 180 minutos era realizado estímulo álgico com pinça hemostática Kelly em terço proximal de rádio-ulnadas duas asas para comparação da resposta sensorial. A atividade motora foi avaliada através de estimulação das aves aomovimento (bater das asas), observando-se a abertura da asa bloqueada com relação à asa não-bloqueada. A metodologiadescrita foi sempre realizada pela mesma pessoa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quando os dois bloqueios foram comparados entre si nos diferentes momentos durante o período experimentalnão foram notadas diferenças estatísticas, mas clinicamente observou-se ser o bloqueio sensitivo mais acentuado que obloqueio motor. Esse fato deve-se à menor afinidade da ropivacaína pelas fibras envolvidas na função motora (Aß), sendomais efetiva no bloqueio das fibras de condução da dor (Ad e C) [8].

A técnica escolhida demonstrou ser eficaz, pois entre os dez bloqueios realizados, apenas um (10%) não foiefetivo em ambas as avaliações (escore 3 em todos os momentos), provavelmente devido a um erro na realização da mesma.A taxa de sucesso da técnica depende de muitos fatores como a distribuição do anestésico, o ponto de injeção e volumeaplicado e também da conformação tecidual das estruturas adjacentes ao nervo a ser bloqueado [3].

Afirma-se que melhor será a ação do anestésico local quanto menor for a quantidade de tecido conjuntivo e avascularização do sítio de injeção. A eficácia do bloqueio pode ser incrementada pelo uso de aparelhos como o eletroesti-mulador de nervos periféricos, que permite a localização exata dos nervos a serem bloqueados, auxiliando na injeção doanestésico o mais próximo possível do local a ser atingido [7]. Outra alternativa é a utilização da técnica de obstrução do fluxoarterial associada ao emprego da técnica de múltiplas injeções, relatada em cães, aumentando a probabilidade de alcancedo plexo braquial e bloqueio eficiente [4].

Durante o estudo não foram observados sinais de intoxicação relacionados à dose de 7,5 mg/kg de ropivacaína.Apenas um animal demonstrou excitação (vocalização, bater de asas, defecação), mas esse fato foi tomado como particu-laridade do indivíduo, considerando que apenas a contenção física havia sido realizada até então. Foi relatado que sinaiscomo convulsão e parada cardíaca foram observados ao ser utilizada a dose de 67mg/kg de lidocaína em galinhas [1].Contudo, já foi utilizada a dose de 20mg/kg do mesmo anestésico sem que os mesmos sinais fossem observados, apesar dadose máxima recomendada ser de 4mg/kg [9].

Um animal regurgitou, fato que pode ser associado a tempo de jejum pré-anestésico insuficiente e que poderiatrazer complicações à vida do animal, como uma pneumonia por aspiração. Apesar das recomendações de jejum serembastante restritas às aves, devido a seu alto metabolismo e baixa reserva hepática de glicogênio, um jejum de 12 horas nãoé deletério à ave a ser submetida à anestesia [6].

A realização da indução anestésica através de máscara promove adequado relaxamento, tornando a realizaçãoda técnica um procedimento rápido, seguro e eficaz, sem maiores riscos ao animal [5]. O isofluorano demonstrou ser umanestésico seguro na anestesia das aves, provocando mínima depressão respiratória e rápida recuperação anestésica,corroborando com a literatura, que o considera o anestésico inalatório de eleição na medicina aviária [6,10].

Houve diferença significativa em relação ao momento zero a partir de 15 minutos até 130 minutos e momento 10minutos até 120 minutos para os bloqueios motor e sensitivo, respectivamente, caracterizando o período de latência de cercade 15 minutos para o bloqueio motor e 10 minutos para o sensitivo e período hábil de anestesia motora de 115 minutos esensitiva de 110 minutos. Não há dados do uso de ropivacaína em bloqueios de plexo braquial em mamíferos domésticosaos quais se possam comparar aos resultados alcançados, mas considerando o maior metabolismo das aves, o períodohábil de anestesia desse anestésico mostrou ser suficiente para a realização de procedimentos nos membros torácicos.

CONCLUSÃO

Diante do presente estudo, pode-se concluir que a utilização da ropivacaína no bloqueio de plexo braquial éefetiva, resultando em bloqueio de duração e intensidade suficientes para a realização de procedimentos em asa.

NOTAS INFORMATIVAS1Forane® – Abbott Lab. do Brasil Ltda., São Paulo, SP.2Ropi® 7,5 mg/mL – Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., Itapira, SP.3BD Plastipak® – BD Brasil, São Paulo, SP.4Agulha hipodérmica – Nipro Medical Ltda., Sorocaba, SP.

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Cardozo L.B., Fiúza L.C., Almeida R.M., Galera P.D. & Machado M.F.S. 2007. Comparação entre bloqueio motor e sensitivoem plexo braquial de galinhas domésticas ( Gallus domesticus )... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s326-s328.

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REFERÊNCIAS

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2 Feldman H.S. & Covino B.G. 1988. Comparative motor-blocking effects of bupivacaine and ropivacaine, a new amino amide local anesthetic,in the rat and dog. Anesthesia and Analgesia. 67: 1047-52.

3 Futema F., Fantoni D.T., Auler Jr. J.O.C., Cortopassi S.R.G., Acaui A. & Stopiglia A.J. 2002. A new brachial plexus block technique in dogs.Veterinary Anaesthesia and Analgesia. 29: 133-139.

4 Futema F. 2005. Bloqueio de plexo braquial. In: Anais do VII Encontro de Anestesiologia Veterinária (São Luís, Brasil). p. 109.5 Guimarães L.D., Moraes A.N., Campello R.A.V., Oleskovicz N. & Ulliana D. 2000. Estudo comparativo entre sevofluorano, halotano e

isofluorano em Gallus domesticus. Ciência Rural. 30: 999-1004.6 Ludders J. W. & Matthews N. 1996. Anesthesia and immobilization of specific species: Birds. In: Thurmon, J.C., Tranquilli, W.J., Benson, G.

J. Lumb & Jones - Veterinary Anesthesia. 3.ed. Baltimore: Lippincott Willians & Wilkins. p. 645-669.7 Massone F. 2002. Anestesia local. In: Fantoni D.T.& Cortopassi S.R.G. Anestesia em cães e gatos. São Paulo: Roca. p. 193-198.8 McClellan K.J. & Faulds D. 2000. Ropivacaine. A review of its pharmacology and therapeutic use in regional anesthesia. Drugs. 60: 1065-93.9 Mendes G.M., Cruz M.L., Figueiredo J.P., Marúcio R.L., Riccó C.H. & Campagnol, D. 2003. Bloqueio de plexo braquial em galinhas domés-

ticas (Gallus domesticus), In: Congresso Brasileiro da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens (São Pedro, Brasil).10 Murphy J.P. & Fialkowski J. 2001. Injectable anesthesia and analgesia of birds. In: Gleed, R.D., Ludders, J.W. (Eds.) Recent Advances in

Veterinary Anesthesia and Analgesia: Companion Animals. Fonte: <http://www.ivis.org/advances/Anesthesia_Gleed/paul/chapter_frm.asp?LA=1>.

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ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Avaliação da analgesia pós-cirúrgica com o empregode lidocaína 2% intraperitoneal em cães ( Canis familiaris )

submetidos à ovário-histerectomia

Evaluation of post surgery anlagesia using intraperitoneal2% lidocaine in dogs submitted to ovariohysterectomy

Fabíola Lopes Coelho, Marcus Vinicius de Castro Falcão,Simone Andrade da Silva, Carla Valéria Rocha Ramos & Renata Couto Rijo

Universidade Estácio de Sá, Vargem Pequena/RJ.E-mail: [email protected]

ABSTRACT

The objective was to determine if intraperitoneal (IP) lidocaine provides analgesia following ovariohysterectomy (OHE). Dogswere pre-medicated with acepromazine, induced with propofol and maintained with isoflurane. They were randomly assigned in two groups:5 received 8.8 mg kg 2% lidocaine without epinephrine IP (LID); 5 received 0.9% saline IP (SAL) upon completion of OHE. All IP doses werestandarlized to 0.88 mL kg with saline. Dogs were scored at ½, 1, 2, 3, 4, 6, 8 and 24 hours post-extubation by one observer and be evaluatedusing a cumulative pain scale (CPS) that included physiologic and behavioral variables. Dogs would be treated with 0.2mg kg morfine if theirCPS score was > 18. Non-parametric variables were analysed by Mann-Whitney. There were no significant difference pain scores betweengroups with the CPS. Peak post-surgical pain scores for both groups occurred at ½ hours and declined gradually.The conclusion is thatintraperitoneal lidocaine decreases the pain, analyzed through the CPS pain scale, but the results are not statistically significant.

Key words: analgesia, anesthesia, lidocaine, dog, ovariohysterectomy.

INTRODUÇÃO

Os estudos sobre os fármacos anestésicos locais usados na clínica indicam que o primeiro utilizado foi a cocaínasucesso. Devido à alta toxicidade e dependência química da cocaína, novos anestésicos locais foram pesquisados. Em 1905,foi sintetizada a procaína. Na década de 30 a lidocaína e na de 60 a bupivacaína. Recentemente foi lançada no mercado aropivacaína [4].

O presente estudo visa avaliar a analgesia promovida pela lidocaína 2% por via intraperitoneal em cães (Canisfamiliaris) submetidos ao procedimento de ovário-histerectomia eletiva.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizados dez cães fêmeas para serem submetidos à ovário-histerectomia eletiva. Estes animais se apresen-taram na policlínica da Universidade Estácio de Sá e foram caracterizados como saudáveis através do exame clínico elaboratorial. No pós-operatório, a avaliação da dor foi realizada através de uma escala de dor cumulativa (CPS) e é compostapor 8 variáveis consideradas importantes para a avaliação da dor: aumento relativo da freqüência cardíaca (comparado aovalor pré-operatório), aumento relativo da freqüência respiratória (comparado ao valor pré-operatório), vocalizações, agitação,resposta à palpação do local onde foi realizada a cirurgia, movimentos, resposta à manipulação e atitude [2]. A avaliação dador foi executada sempre pelo mesmo observador, sendo que este não tinha conhecimento de quais animais pertenciam aogrupo teste ou controle. Na manhã da cirurgia os animais tiveram suas freqüências cardíacas e respiratórias aferidas paraque seus parâmetros vitais normais fossem determinados.

O protocolo anestésico utilizado nos pacientes foi padronizado, sendo os cães pré-medicados com acepromazinaa 1% (0,1mg/kg/IM). A indução feita com propofol (5mg/kg/EV) e mantida com isoflurano1. A intervenção cirúrgica foi realizadasempre pelo mesmo cirurgião e com a mesma técnica. Momentos antes da laparorrafia, instilava-se na cavidade abdominalde cinco animais lidocaína a 2% sem vasoconstritor2 na dosagem de 8,8 mg/kg diluídos em 0,88 ml/kg de solução salina estérila 0,9%3 caracterizando-os como o grupo teste. Já compondo o grupo controle, cinco animais recebiam solução salina estéril a0,9%5 na dose de 0,88 ml/kg pela via intraperitoneal. Todos os animais eram pontuados pelos sinais de dor, segundo a CPS,½, 1, 2, 3, 4, 6, 8 e 24 horas após a extubação. Caso a CPS superasse a pontuação 18, os animais seriam medicados commorfina [2]. Os valores foram avaliados utilizando o teste não-paramétrico de Mann-Whitney e seriam considerados estatis-ticamente significativos caso P< 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A opção pela utilização da escala de dor CPS se deu pela sua maior precisão e variantes quando comparada àVAS. A VAS se torna mais precisa em pacientes humanos, onde estes quantificam suas próprias dores, por isso afirmam-se

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Coelho F.L., Falcão M.V.C., Silva S.A., Ramos C.V.R. & Rijo R.C. 2007. Avaliação da analgesia pós-cirúrgica com o empregode lidocaína 2% intraperitoneal em cães ( Canis familiaris )... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s329-s330.

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que sua utilização em animais requer um observador experiente [5]. Observou-se no presente trabalho que o pico de dor nospacientes ocorreu nos primeiros 30 minutos após a extubação, e nem mesmo neste período a pontuação ultrapassou 18,conseqüentemente não foram utilizados opióides [1]. Após esse momento, constatou-se um declínio gradativo dos valoresque caracterizou os primeiros minutos após a intervenção cirúrgica como sendo o mais doloroso.

No grupo controle obteve-se uma pontuação de 24 com uma média de 4,8, enquanto o grupo teste uma pontua-ção de 16 e média 3,2. Esses valores demonstram que a utilização da lidocaína pela via intraperitoneal utilizada nos animaisdo grupo teste determinou uma diminuição na pontuação e por conseguinte um conforto pós-operatório maior quando com-parado ao grupo controle. Entretanto os valores encontrados não apresentam diferença estatisticamente significativa deacordo com o teste não paramétrico de Mann-Whitney, que obteve o valor de P = 0,31.

Resultados estatísticos significativos quando trabalharam com lidocaína pela via intraperitoneal não foram obtidos[1,6]. Devido ao curto período de pico de dor observado, não foi possível determinar o tempo de duração da analgesia induzidapela lidocaína intraperitoneal, pois de 1 até 24 horas após a extubação todos os pacientes, incluindo os do grupo controle,demonstravam um limiar de dor baixo. O efeito local da lidocaína varia de 90 a 200 minutos, entretanto acreditamos que aanalgesia promovida pela lidocaína intraperitoneal ocorra por ação sistêmica, não sendo recomendado a utilização comoparâmetro de análise o tempo de duração da lidocaína local quando se estiver estudando o seu emprego pela via intra-peritoneal [3]. O pico de concentração sérica da lidocaína com vasoconstritor intraperitoneal em cães foi de 22 minutos. Sabe-se que a função do vasoconstritor nos anestésicos locais é o retardo na sua absorção aumentando o tempo de duração destes.Acreditamos que a presença ou não do vasoconstritor não interfere na duração e no efeito analgésico da lidocaína quandoaplicada pela via intraperitoneal. Preconizamos a utilização da lidocaína pura na metodologia do presente trabalho. Entretanto,sugerimos que novos estudos com uma casuística maior sejam realizados para que se tenha mais sensibilidade nos testesestatísticos.

CONCLUSÃO

Com base nos resultados da escala de dor CPS e achados do estudo, conclui-se que a lidocaína 2% intraperitonealpromove diminuição da dor após cirurgia de ovário-histerectomia em cães (Canis familiaris), porém não há analgesia estatis-ticamente comprovada.

NOTAS INFORMATIVAS1Isothane® – Baxter Caribe Inc.2Cloridrato de lidocaína 2% sem vasoconstritor® – Hipolabor Ltda.3Cloreto de sódio 0,9% solução® – Halexistar Ind. Ltda.

REFERÊNCIAS

1 Carpenter R.E., Wilson D.V. & Evans A.T. 2004. Evaluation of intraperitoneal and incisional lidocaine or bupivacaine for analgesia followingovariohysterectomy in the dog.Veterinary Anaesthesia and Analgesia. 31: 46-52, 2004.

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3 Lumb W.V. & Jones E.W. 1996. Local anesthetics. In: Thurmon J.C., Tranquilli W.J. & Benson G.J. Veterinary Anesthesia. Philadelphia: SansTache. p. 330-336.

4 Luna S.P.L. & Teixeira F.J. 2005. Anestesia em pequenos animais. 93f. Dissertação – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia,Botucatu.

5 Mathews K.A. 2000. Pain assessment and general approach to management. Veterinary Clinical North America: Small Animal Practice. 30:729-752.

6 Rademaker B.M.P., Kalkman C.J., Odoom J.A., Wit L. & Ringers J. 1994. Intraperitoneal local anaesthetics after laparoscopic cholecystectomia:effects on postoperative pain, metabolic responses and lung function. British Journal of Anaesthesia. 72: 263-266.

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Efeitos da eletroacupuntura e da morfina sobre parâmetroscardiorrespiratórios e consumo de anestésico em gatas

submetidas à ovariossalpingohisterectomia

Electroacupuncture and morphine effects on the cardiorrespiratory parametersand anesthesic consumption in cats submitted to ovariohysterectomy

Wangles Pignaton 1, Janaína Rodrigues Simões 2, Evandro Zacché 3, Patricia Maria Coletto Freitas 4,Marcelo Rezende Luz 4, Mariana da Silva Melo 5 & Letícia Binda Baungarten 6

1Residente de Anestesiologia, Hospital Veterinário-UNESP, Botucatu/SP. 2Residente Cirurgia, Hospital Veterináriode Uberlândia-UFU/MG. 3Residente em Clínica Médica, Hospital Veterinário-PUC/PR. 4UFES.

5Médica Veterinária Autônoma. 6Programa de Mestrado em Ciências Veterinárias-UFU/MG.E-mail: [email protected]

ABSTRACT

This study aimed to compare the effects of electroacupuncture (EA) and morphine on the cardiorrespiratory parameters andanesthesic consumption in cats submitted to ovariohysterectomy. Eighteen adult healthy cats received acepromazine (0.2 mg/kg/im), propofoland isofluorane, and were distributed in three groups: control group (GC), morphine (GM) and electroacupuncture (GE). GE animals weretreated with electroacupuncture on points Zusanli (E 36) and Yanglingquan (VB 34); GM animals received morphine (0.2 mg/kg/im) and GCanimals received NaCl 0.9% saline solution. The variables studied were: rectal temperature (Tr); respiratory frequency (f;) heart rate (FC);SpO2; invasive PAM; and inspirated isofluorane volume. Data were analysed by profile analysis at 5% probability. Only GE animals did not showstatistical differences between invasive PAM moments. The isofluorane inspirated volume was smaller on GE animals. It was concluded thatEA on points E 36 and VB 34 decreases the isofluorane inspirated volume, causing a better cardiac stability in cats submitted to ovariohisterectomy.

Key words: analgesia, acupuncture, opioids, anesthesiology, feline.

INTRODUÇÃO

A percepção da dor está associada a fatores emocionais, sensoriais e comportamentais. Segundo autores esta causasofrimento, leva ao estresse, acidose, podendo causar hipersensibilidade central e dor crônica [4]. Em gatos, o estímulodoloroso contínuo pode ocasionar inapetência e ingestão calórica inadequada, desencadeando problemas sistêmicos [6].Vários grupos analgésicos podem ser administrados para o controle da dor em animais, como opióides, antiinflamatóriosnão-esteroidais e anestésicos locais. A escolha de um agente para o tratamento da dor se baseia nos tipos de procedimentosclínico-cirúrgicos realizados, na categoria de risco do paciente e nas vantagens e desvantagens dos agentes analgésicos[1]. A eletroacupuntura (EA) é uma técnica utilizada na medicina tradicional chinesa, que consiste na inserção de agulhas empontos anatômicos do corpo, no intuito de produzir efeito terapêutico ou analgésico no animal [2].

Atualmente, vem tornando-se uma opção para o controle da dor, uma vez que, mediante esse método, é possívelpromover analgesia cirúrgica e pós-operatória com estabilidade cardiorrespiratória, redução do requerimento de opióidesno trans e pós-cirúrgico, melhor cicatrização, e menor prevalência no pós-operatório [5]. Assim, Objetivou-se com este estudocomparar os efeitos da eletroacupuntura e da morfina sobre parâmetros cardiorrespiratórios e consumo de anestésico emgatas submetidas a ovariossalpingohisterectomia eletiva.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizadas 18 gatas adultas, sem raça definida, hígidas. As gatas foram distribuídas em três grupos de igualnúmero (GE, GM e GC). Decorrido o jejum alimentar e hídrico, todos os animais receberam acepromazina (0,2 mg/Kg IM) eapós 20min propofol, por via intravenosa, para indução anestésica, na dose de 8,0 mg/Kg. A manutenção anestésica foi comisofluorano, em circuito anestésico sem reinalação de gases, diluído em fluxo de oxigênio de 200ml/Kg/min. O registro dasvariáveis foram obtido no momento anterior à administração da acepromazina (Mbasal), 10min depois do Mbasal (M0), apósindução anestésica (M1), após 30 minutos do início do estímulo nos acupontos (M2) e a cada 10min após M2, durante 60 min(M2 a M7). Adquirido o plano anestésico, nos animais do GE foram introduzidas agulhas de acupuntura nos pontos Zusanli(E 36) e Yanglingquan (VB 34), bilateralmente, e em seguida foram adaptadas às agulhas os eletrodos do aparelho de eletroes-timulação. Com uma corrente alternada na freqüência entre 2-100Hz. Nos animais do GM, também a adquidrido o planoanestésico foi administrado morfina (0,2 mg/Kg IM) e nos do GC foi administrado volume equivalente ao da morfina de soluçãode cloreto de sódio a 0,9%. Tanto nas gatas do GM quanto nas do GC foram introduzidas agulhas de acupunturas em pontosfalsos (Sham), onde o aparelho de estimulação permaneceu desligado. No grupo GE, o início do estímulo começou 30minantes do início do procedimento cirúrgico. Em todos os grupos foram estudadas as variáveis que seguem: temperaturacorporal (Tr); freqüência respiratória (f); frequência cardíaca (FC); saturação de oxiemoglobina (SpO2); pressão arterial média(PAM) obtida por método invasivo ; e volume inspirado de isofluorano (VIIsof). A análise estatística foi realizada por meio daanálise de perfil, incluindo os testes das hipóteses, a 5% de probabilidade (P<0,05).

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Pignaton W., Simões J.R., Zacché E., Freitas P.M.C., Luz M.R., Melo M.S. & Baungarten L.B. 2007. Efeitos da eletroacupunturae da morfina sobre parâmetros cardiorrespiratórios... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s331-s332.

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RESULTADOS

No grupo estimulado pela eletroacupuntura (GE) houve diminuição significativa (P < 0,01) no VIIsof (72,13%), quandocomparado ao da morfina (GM) (58,33%). Ambos os grupos GE e GM tiveram diferença para o grupo controle (GC) nesteparâmetro. O VIIsof do GC, GE e GM, foi, respectivamente, 1,63, 1,03 e 1,34 vezes a CAM do isofluorano em gatos. Em relaçãoa PAM, não se observou variação desta em nenhum dos momentos avaliados nos animais do GE, já nos do GM e GC houvevariação deste parâmetro no decorrer do procedimento cirúrgico de forma semelhante. Não observou-se diferença significativaem nenhum momento no trans-cirúrgico nos três grupos em relação a FC. Encontrou-se uma diferença na f entre o M-20 (an-terior a aplicação da acepromazina) para os demais momentos nos três grupos. Neste momento, a f apresentava-se maiselevada que nos demais momentos. A Tr decresceu constantemente nos três grupos estudados desde a administração daacepromazina até o final do procedimento, revelando diferença estatística para a interação momento·grupo. O declínio da Trfoi mais acentuado nos momentos iniciais da anestesia. Não houve diferença significativa na interação momento·grupo para aSpO2, representando igualdade estatística entre os tratamentos em todos os momentos, assim como entre os momentos emcada um dos grupos. As médias da SpO2 permaneceram sempre entre 96 e 98%, sendo a variação desses dados mínima.

DISCUSSÃO

Nesse estudo, os animais tratados pela EA apresentaram menores alterações na PAM do que aqueles tratadospela morfina e não tratados. O tracionamento do pedículo ovariano esquerdo foi o momento crítico durante o procedimento,notavelmente nos grupos GC e GM, devido à alta elevação da PAM e da diferença significativa em relação ao GE. Apesar doaumento da PAM nesse momento, no GE houve maior uniformidade das médias da PAM durante o procedimento. Não obstante,nos três grupos a média da PAM situou-se dentro dos valores de normalidade, entre 80 e 120mmHg para a espécie felina.Em humanos, a utilização da EA diminuiu a PAM causada pela distenção retal, por meio da liberação de peptídeos opióides [3].Nesse estudo, a utilização da EA nos pontos Zusanli e Yanglingquan promoveu menores variações da PAM do que a utilizaçãode morfina e ausência de agente analgésico. Autores relataram um decréscimo de 21,2±7,5% na CAM do isoflurano de cãesapós eletroestimulação dos acupontos Zusanli [3]. Nesse estudo, a eletroestimulação nos acupontos Zusanli e Yanglingquanpromoveram uma diminuição de 58,33% no VIIsof, enquanto a utilização da morfina decresceu 22,02%. O menor consumo deisofluorano neste estudo bem como a menor alteração na PAM promovida pela EA pode estar associada à liberação desta devárias substâncias, como serotonina, glicina, e opióides endógenos, que alteram a condução, percepção e modulação, alémdo bloqueio da condução do estímulo nociceptivo [3]. A FC apresentou comportamento estável durante o trans-anestésiconos três grupos. Entretanto, entre os três grupos, houve menor variação desse parâmetro no GM, corroborando com a poucainfluência desse fármaco no sistema cardiovascular. Autores relataram que, umas das vantagens da utilização da EA, é aestabilidade cardiorrespiratória promovida por essa técnica [8]. Em nosso estudo esse achado pode ser endossado pelamaior regularidade da FC nos animais do GE do que no GC. Embora o principal efeito adverso da morfina seja a depressãorespiratória, o comportamento da ƒ neste estudo foi semelhante entre os grupos durante o trans-anestésico, não havendodiferença entre os momentos em nenhum deles. A estabilidade respiratória no grupo tratado pela EA corrobora com o relatadopor autores que destaca estabilidade cardiorrespiratória propiciada por esta técnica [8]. Em relação a Tr, diversos fatores con-tribuíram para o declínio contínuo até o final do procedimento. Entre eles encontram-se: a depressão nervosa provocada pelosfármacos anestésicos, a vasodilatação periférica secundária à administração da acepromazina e do propofol, assim comoa abertura da cavidade abdominal para realização da OSH. Autor relata que o declínio da temperatura é mais acentuado noinício da anestesia, por causa da inibição do tônus termorregulatório induzida por agentes anestésicos, estabilizando-se apóstrês ou quatro horas em valores baixos [7]. Fato observado nesse estudo em que houve um decréscimo maior da Tr no início daanestesia, principalmente nos animais tratados pela EA e morfina. A SpO2 esteve, nos três grupos, próximo ao esperado paraum paciente anestesiado, isto é, acima de 95%. Nos três grupos estudados houve pouca variação no decorrer da anestesia,indicando a eficiência da oxigenioterapia estabelecida no protocolo experimental.

CONCLUSÃO

Nas condições deste estudo pode-se concluir que a eletroacupuntura promove melhor estabilidade cardiorrespiratóriaque a morfina, com diminuição do consumo anestésico.

REFERÊNCIAS

1 Firth A.M. & Haldane S.L. 1999 . Development of a scale to evaluate postoperative pain in dogs. Journal of the American Veterinary MedicalAssociation. 214: 651-659.

2 Gaynor J.S. 2000 . Acupuncture for management of pain. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice. 30: 875-884.3 Iwa M. 2005. Electroacupuncture reduces rectal distension-induced blood pressure change in conscious dogs. Dig. Dis. Sci. 50: 1.264-1.270.4 Lascelles B.D.X. 1997 . Post-operative central hypersensitivity and pain: the preempitive value of phetidine for ovariohysterectomy. Pain. 73:

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and Analgesia. 88: 1.362-1.369.6 Mathews K.A. 2002. Non-steroidal anti-inflammatory analgesics: a review of current practice. Veterinary Emergency and

Critical Care. 12: 89-97.7 Sessler D.I. 1993 . Perianesthetic thermoregulation and heat balance in humans. FASEB Journal. 7: 638-644.8 Wright M. & Mcgrath C.J. 1981 . Physiologic and analgesic effects of acupuncture in the dog. Journal of the American Veterinary

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Lidocaína no bloqueio dos nervos alveolar mandibular ementoniano durante exodontia de cães: resultados preliminares

Lidocaine in alveolar and mentonian block during dogs exodonty: preliminary study

Wangles Pignaton 1, Janaína Rodrigues Simões 2, Evandro Zacché 3,Patricia Maria Coletto Freitas 4 & Vanessa Martins Fayad Milken 5

1Residente em Anestesiologia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho(FMVZ-UNESP), Campus de Botucatu/SP. 2Residente em Cirurgia de Pequenos Animais, Faculdade de Medicina Veterinária,

Universidade Federal de Uberlândia/MG. 3Residente em Clínica e Cirurgia de Animais de Companhia, Pontifícia Universidade Católicado Paraná, Campus São José dos Pinhais. 4Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo. 5FAMEV-UFU.

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

This study aimed to compare the effects of lidocaine in alveolar and mentonian block during incisive teeth exodonties in dogsanesthetized with isofluorane. Twelve adult cross-breed dogs of both sex were utilized. The animals were randomly distributed in fourgroups: alveolar and mentonian block with 5 mg·kg-1 of 2% lidocaine (GAL and GML, respectively) and saline injection (placebo) on thesenerves (GAP and GMP, respectively). The data of transoperative period were submitted to multivariate statistics analysis, at 5% probability.There was a higher isofluorane consumption in GAP and GMP (respectively 48.56% and 57.60%) when compared to respective nerve blockwith lidocaine. The MAP, HR and RR did have significative increase during exodonty in GAP and GMP. There were no differences in electro-cardiograph and SpO2 parameters between groups. It was observed a significatively rectal temperature decrease during surgery in allstudied groups. Thus, we conclude that lidocaine in alveolar and mentonian block is indicated for canine incisive exodonty, but there wereno differences on effectiveness between techniques.

Key words: local blockade, exodonty, dentistry, anaesthesiology, surgery, dog.

INTRODUÇÃO

A dor é uma resposta fisiológica do organismo e, quando não tratada, desencadeia distúrbios sistêmicos, sendoassim, importante o seu controle no pré, trans e pós-operatório [2]. A lidocaína é um anestésico local do tipo amida que possuipotência e duração moderadas, alto poder de penetração, sendo, por isso, muito utilizada em medicina veterinária [6]. Objetivou-se com este estudo comparar os efeitos da lidocaína no bloqueio do nervo mandibular alveolar (NMA) e do nervo mentoniano(NM) durante extração de dentes incisivos de cães anestesiados pelo isofluorano.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizados doze cães adultos, sem raça definida, machos e fêmeas. Realizou-se exame clínico completo(ênfase à auscultação cardíaca e pulmonar), análise eletrocardiográfica e coleta de amostra sangüínea para determinaçãodo volume globular (VG) e proteína plasmática total (PPT), sendo submetidos ao experimento somente os hígidos. Foi feitaantibioticoterapia preemptiva com associação de metronidazol (12,5 mg·kg-1) e espiramicina (75.000 UI·kg-1), via oral (PO),três dias antes. Para profilaxia bucal, utilizou-se clorexidina a 0,12%, nos sete dias anteriores ao procedimento.

No dia da experimentação, os cães foram submetidos a jejum alimentar de oito horas, e hídrico de quatro horas.Para o protocolo anestésico, administrou-se acepromazina (0,1 mg·kg-1) intramuscular e, logo após, propofol (5,0 mg·kg-1)intravenoso para indução anestésica. Os animais foram intubados e mantidos com isofluorano diluído em fluxo de oxigênioa 100% (200 ml·kg-1·min1), através de circuito de reinalação parcial de gases e sob ventilação espontânea.

Os cães foram distribuídos aleatoriamente em quatro grupos: bloqueio do NMA com lidocaína a 2% sem vasoconstritor(5,0 mg·kg-1) (grupo lidocaína-alveolar mandibular, GLMA); bloqueio deste nervo com placebo de solução e cloreto de sódioa 0,9% (grupo placebo-alveolar mandibular, GPAM); bloqueio do NM com lidocaína a 2% sem vasoconstritor (5,0 mg·kg-1) (grupolidocaína-mentoniano, GLM); e bloqueio deste nervo com placebo de solução de cloreto de sódio a 0,9% (grupo placebo-mentoniano, GPM). O volume do placebo foi calculado a partir da dose da lidocaína. Para realização do bloqueio do NMA,introduziu-se uma agulha 25 x 0,70 mm em forma de “V” 1,0 cm rostral ao ângulo da mandíbula esquerda, na sua face medial[5]. Para o NM, introduziu-se uma agulha 13 x 0,60 mm aproximadamente 1,0 cm distante da fissura mandibular, na região doramo da mandíbula esquerda, dentro do seu respectivo forame [5]. Após 30 e 50 minutos, extraíram-se, respectivamente, osincisivos lateral e intermédio.

Foram avaliados os parâmetros pressão arterial média (PAM) invasiva, freqüência cardíaca (FC), traçado eletrocar-diográfico (altura e largura da onda P, intervalo P-R, altura e largura da onda Q, intervalo Q-T e segmento S-T), freqüênciarespiratória (ƒ), saturação parcial de oxiemoglobina (SpO2), temperatura retal (Tr), fração inspirada de isofluorano (FIIsof) etempo de anestesia (tAnest). O registro das variáveis ocorreu após a estabilização anestésica (M0), durante a extração doincisivo lateral (M20) e do incisivo intermédio (M30). A temperatura da sala cirúrgica foi mantida próxima de 20°C.

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s333-s334, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

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Pignaton W., Simões J.R., Zacché E., Freitas P.M.C. & Milken V.M.F. 2007. Lidocaína no bloqueio dos nervos alveolar mandibulare mentoniano durante exodontia de cães: resultados preliminares. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s333-s334.

s334

Os resultados do trans-operatório foram avaliados pela análise de variância multivariada de perfil (MANOVA), a5% de probabilidade (p < 0,05) [4]. As demais variáveis, como peso, VG, PPT, tempo de anestesia e FIIsof foram submetidosa ANOVA e, se significativos, ao teste de Tukey. Toda a estatística foi realizada por meio de um software específico1.

RESULTADOS

Não houve diferença entre os grupos para o peso, VG, PPT e tAnest. A FIIsof foi significativamente menor no GLAM

(48,56%) e GLM (57,60%) em relação, respectivamente, ao GPAM e GPM. Porém, não houve diferença entre os grupos tratados.

Houve maior estabilidade da PAM nos grupos GLAM e GLM. Nos grupos placebo (GPAM e GPM), houve aumento signifi-cativo durante a extração dos dentes. Semelhantemente, a FC e a ƒ também apresentaram aumento significativo nessesmomentos e diferença estatística em relação ao bloqueio do respectivo nervo com lidocaína.

Os parâmetros eletrocardiográficos e a SpO2 não apresentaram modificações significativas entre os grupos enem entre os momentos.

A Tr decresceu continua e significativamente em todos os grupos estudados durante todo o decorrer do procedi-mento.

DISCUSSÃO

A produção de estímulos nocivos no homem e nos animais resulta no aumento da PAM, da FC, na dilatação pupilare em alterações nos parâmetros respiratórios [1,2]. Embora evidências de hipóxia possam indicar sensações nociceptivas [7],não houve, nesse estudo, alterações significativas na SpO2 entre os grupos. Não obstante, a oscilação da PAM, FC e ƒ nosgrupos não tratados indicou que houve conseqüências fisiopatológicas da dor durante a exodontia dos incisivos, mesmoestando os animais sob anestesia geral. A exodontia em cães é, geralmente, bastante laboriosa, necessitando de anestesiageral ou dissociativa, sendo o bloqueio local uma ferramenta importante para garantir total conforto do paciente durante oprocedimento [3], fato demonstrado pelos resultados desse ensaio experimental.

Apesar de estímulos dolorosos também interferir nos eixos neurendócrinos, com aumento de catecolaminas e,conseqüentemente, por alterações cardíacas e aumento no consumo de oxigênio pelo miocárdio, não houve evidênciaseletrocardiográficas de arritmias.

CONCLUSÃO

Assim, nas condições deste estduo, conclui-se que a utilização da lidocaína no bloqueio dos nervos mandibularalveolar e mentoniano é indicada para exodontia de incisivos em cães, não havendo diferença em eficácia entre as técnicas.

NOTAS INFORMATIVAS

1Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas 5.0 (SAEG 5.0). Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais.

REFERÊNCIAS

1 Davis, L.E. 1985. Use of analgesics after surgery in animals. Journal of the American Veterinary Medical Association. 187: 513-514.2 Lascelles, B.D. & Waterman A. 1997. Analgesia in cats. In Practice. 19: 203-213.3 Massone, F. 2003. Atlas de anestesiologia veterinária. São Paulo: Roca, 172p.4 Morrison, D.F. 1967. Multivariate statistical methods. New York: MaC Grows Hill, 388p.5 Muir, W.W., Hubbell, J.A.E., Skarda, R.T., Bednarski, R.M. 2000. Handbook of veterinary anesthesia. 3.ed. Saint Louis: Mosby, 574p.6 Short, C.E. 1987. Principles and practice of veterinary anesthesia. Baltimore: Williams & Wilkins, 669p.7 Thurmon, J.C., Tranquilli, W.J., Benson, G.J. Lumb & Jones’ veterinary anesthesia. 3.ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 928p.

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s335-s336, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Uso de clonidina e morfina via epiduralpara cirurgia ortopédica em cão – relato de caso

Use of clonidine and morphine epidural for orthopedical surgery in dog – case report

André Vasconcelos Soares 1, Nilson Oleskovicz 2, Ademar Luiz Dallabrida 3,Aury Nunes de Moraes 2, Gabrielle Coelho Freitas 4 & André Luís Correa 5

1Mestrando, Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias-CAV/UDESC. 2Setor de AnestesiologiaVeterinária-CAV/UDESC. 3Setor de Patologia e Clínica Cirúrgica-CAV/UDESC. 4Mestrando, Programade Pós-graduação em Medicina Veterinária-UFSM. 5Graduação, Medicina Veterinária-CAV/UDESC.

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

Many times orthopedical surgeries are complicated for the patient because they promote an intense painful stimulus, this way,the development of anesthetic protocols that reduce the perception to the painful stimulus provoked is needed. A case of a dog, yorkshirebreed, male, 2 year-old, submitted to left femur osteosynthesis surgery, in which pre-anesthetic medication was not administered, inducedwith propofol anesthesia, is related. Thereafter, morphine and clonidine was administered into the epidural space associated to generalinhalatory anesthesia with isofluorane, being the protocol considered appropriated for such a procedure, tends in view that the obtainedresults demonstrated minimum adverse effects.

Key words: epidural, clonidine, morphine, dog.

INTRODUÇÃO

Um grande número de técnicas de anestesia loco-regionais podem ser utilizadas para a produção de condiçõesadequadas para a realização de procedimentos cirúrgicos e como técnicas analgésicas pós-operatórias [6]. Estas, podemser com combinações de sedativos ou mesmo complementares a uma anestesia geral, desta forma não necessitando deanalgésicos sistêmicos [4]. A anestesia epidural constitui da administração de anestésicos locais no espaço epidural parabloqueio sensitivo e motor dos nervos espinhais, produzindo anestesia cirúrgica [6].

A clonidina é um α-2-adrenérgico de alta seletividade para interação com receptores α2:α1 de 300:1. A ação anal-gésica da clonidina por via epidural vem sendo comprovada em humanos. Autores já observaram que a clonidina produzanalgesia mediante ação em um sítio espinhal, sem induzir depressão respiratória, náusea ou vômito, contudo, produzhipotensão e bradicardia [8].

O sulfato de morfina é um derivado opióide, muito utilizado em caninos e felinos para produção de sedação eanalgesia [6].

Os anestésicos inalatórios como o halotano, provocam marcada depressão respiratória, pronunciada bradicardia,e o pulso torna-se mais lento [3]. Já o isoflurano possui depressão cardiovascular e respiratória dose dependente, mas comseus efeitos adversos muito mais amenos que o halotano, sendo, portanto o anestésico inalatório de escolha para pacientescríticos [5]. Atualmente o isoflurano é o inalante de escolha, devido à rápida indução e recuperação da anestesia, relativaestabilidade do sistema cardiovascular, e isenção de efeitos tóxicos. Autores relatam que o isoflurano possui uma taxa debiotransformação muito pequena, sendo que praticamente todo o isoflurano administrado é eliminado pelos pulmões [7].

A analgesia pós operatória sempre se faz necessária, para o beneficiamento do paciente. Esta pode ser local oucom uso de analgesia narcótica por via epidural [9].

RELATO DE CASO

Foi admitido ao Hospital de Clínica Veterinária do centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estadode Santa Catarina um cão de 2 anos de idade, pesando 3,2 Kg, da raça yorkshire, para osteossíntese de fêmur esquerdo.Cateterizou-se a veia cefálica direita com uso de um cateter 22G para administração de ringuer lactato na dose de 10 mL/Kg/hr.Neste paciente, optou-se por indução anestésica sem o uso de medicação pré-anestésica, o qual foi realizado com propofolna dose de 6 mg/Kg pela via intravenosa. Após a intubação com endotubo de murphy número 5,0; esta foi conectada aosistema de anestesia de baraka e recebeu oxigênio a 100% com um fluxo diluente de 1,0 L/min. Logo, foi realizado a anestesiaepidural com a associação de morfina na dose de 0,1 mg/Kg e clonidina na dose de 75mg totais, e completando-se comsolução fisiológica o restante para um volume de 0,26 mL/Kg. O paciente foi mantido em anestesia inalatória com isofluoranoa 0,5 V%, vaporizado em vaporizador calibrado, permanecendo assim até o término da cirurgia. O procedimento cirúrgicoteve início após 15 minutos da realização da anestesia epidural. Durante todo o período anestésico-cirúrgico foram aferidosos parâmetros vitais, tais como freqüência cardíaca (FC), freqüência respiratória (FR), pressão arterial sistólica (PAS) pelo

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Soares A.V., Oleskovicz N., Dallabrida A.L., Moraes A.N., Freitas G.C. & Correa A.L. 2007. Uso de clonidina e morfina viaepidural para cirurgia ortopédica em cão – relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s335-s336.

s336

método não invasivo (PANI), temperatura retal (TR) e, índice de saturação do oxigênio na hemoglobina (StO2). Foi adminis-trado no trans-anestésico uma dose de 20 mg/Kg de cefalotina pela via intravenosa, como antibiótico profilático. Após otérmino do procedimento foi administrado uma dose cetoprofeno na dose de 1 mg/Kg pela via intramuscular como analgé-sico e antiinflamatório pós-operatório, sendo repetida nos dois dias consecutivos em doses diárias.

DISCUSSÃO

Quanto aos parâmetros aferidos durante o procedimento anestésico cirúrgico houveram algumas diferençasentre os tempos. A freqüência cardíaca (FC) manteve-se estável durante os tempos, embora o uso de clonidina mesmoepidural devesse decrescer os valores de FC [2]. O que remete maior segurança ao protocolo, uma vez que o débito cardíacotambém depende da freqüência cardíaca como afirmam alguns autores [1].

Não houve depressão respiratória acentuada concordando com a literatura, quando esta afirma que o uso declonidina ou mesmo morfina pela via epidural não causa depressão no sistema respiratório. Durante todo o procedimentocirúrgico os índices de oxigênio na hemoglobina mantiveram-se estáveis, dentro dos limites considerados fisiológicos.

A pressão arterial sistólica (PAS), monitorada pelo método não invasivo, ou seja através do Doppler ultrassônico,apresentou-se estável durante o procedimento, com mínima queda, já esperado pelo fato de o inalante de escolha, isofluoranoter a capacidade de diminuir a pressão arterial. Mesmo que alguns autores considerem que o uso da clonidina via epiduraldeva diminuir bastante a PAS [1], neste caso, insto não aconteceu.

A temperatura retal foi monitorada também a cada dez minutos e não houve alteração significativa, sendo que asala cirúrgica foi mantida aquecida e sua temperatura também monitorada.

Após o término do procedimento cirúrgico, o paciente demonstrava não ter desconforto no local da ferida cirúrgica,fato este que concorda com alguns autores quando mencionam boa analgesia da clonidina por via epidural [7].

CONCLUSÃO

Do presente relato de caso exposto, conclui-se que para este, o uso de clonidina associada a morfina pela viaepidural trouxe bons resultados, com analgesia satisfatória tanto no período trans operatório quanto ao período pós opera-tório imediato tendo mínimos efeitos adversos tanto para sistema cardiovascular quanto para sistema respiratório destepaciente.

REFERÊNCIAS

1 Bednarski R.M. 1996. Dogs and cats, In: Thurmon J.C., Tranquili W.J. & Benson G.J. Lumb & Jones’ Veterinary Anesthesia. 3rd ed. Baltimore:Williams & Wilkins, pp.812-818.

2 Brondani J.T., Natalini C.C., Raiser A.G., Mazzanti A. & Prati L. 2004. Analgesia epidural com clonidina ou romifidina em cães submetidosà cirurgia coxofemoral. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. 56: 175-182.

3 Hall L.W. & Clarkee K.W. 1987. Anestesia Veterinária. Manole, São Paulo, 8.ed., 451p.4 Mckelvey D. & Hollingshead K.W. 2000. Small Animal Anesthesia & Analgesia. Mosby, Missouri, 2.ed. 334p.5 Massone F. Anestesiologia Veterinária – Farmacologia e Técnicas. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2.ed., 252p., 1994.6 Natalini C.C. 2001. Polígrafo de Anestesiologia Veterinária. UFSM, Santa Maria, 132p.7 Neto F.J.T. & Cruz M.L. 1999. Anestesia inalatória In: IV Curso Prático de Anestesia em Pequenos Animais. FMVZ-UNESP, Botucatu.8 Roelants F., Lavand P. & Mercier V. 2005. Epidural administration of neostigmine and clonidine to indulce labor analgesia: evaluation of efficacy

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s337

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s337-s338, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Utilização do mentol no transporte de alevinosde piauçu (Leporinus macrocephalus)

Mentol use in the transportation of piauçu fingerlings (Leporinus macrocephalus)

Tatiana Aparecida Sartore 1, Eduardo Shimoda 2, Mário Sérgio Lima de Lavor 3, Bruno JoséSilotti Lopes 1, Péterson Vargas Trindade 1, Gilson Mendes da Cruz 4 & Walace Fraga Rizo 5

1Graduação, Curso de Medicina Veterinária, Instituto de Ensino Superior do Espírito Santo-FACASTELO. 2Instituto de Ensino Superiordo Espírito Santo-FACASTELO. 3Instituto de Ensino Superior do Espírito Santo-FACASTELO. 4Instituto de Ensino Superior do Espírito

Santo-FACASTELO. FIOCRUZ/RJ. 5Farmacêutico Bioquímico, Farmácia Nova Fórmula, Castelo-ES.E-mail: [email protected]

ABSTRACT

Piauçu is a sportive fishing fish species and, with the growing of fish-pay parks, the interest for such species has increased verymuch in the late years. This work aimed at verifying the mentol effect as anesthetic in the transportation of piauçu fingerlings. Approximately,300 piauçu fingerlings remained 48 hours in flowing water and without food. After that, a mentol solution-supply was prepared in 512 g/L concen-tration. Based on this concentration the others were prepared with the following final concentration (in water mg mentol/L): T1 – 0,5; T2 – 1,0;T3 – 1,5; T4 – 2,0; T5 – 4,0; T6 – 8,0. The controlling treatment (0mg of mentol/L) was constituted only by water. After that, the fingerlings weredeposited in plastic bags (10cm x 3cm), in the 2 fingerlings for each plastic bag proportion (1 sample) containing 20mL. Each treatment had4 repetitions. For verifying the different mentol concentration (X) influence on the fish life time (Y), we resulted in the equation of regressionY = - 0,423.X2 + 5,488.X + 35,654, that correlates these two parameters. Thus, it can be concluded that the equation optimal point correspondsto the 6,5 mentol concentration in a liter of water, suggesting that it can be a recommended treatment for growing the piauçu fingerlings survivingduring transportation.

Key words: Transportation, anesthesia, fish, piauçu

INTRODUÇÃO

O piauçu é uma espécie de peixe considerada esportiva na pesca e, com a multiplicação dos pesque-pagues noBrasil, o interesse por esta espécie aumentou muito nos últimos anos. Trabalhos têm sido publicados estudando aspectosnutricionais [2,7], viabilidade econômica [8] e a reprodução [1] do piauçu.

É comum, no país, que alguns aquicultores trabalhem apenas com a engorda da espécie criada. Neste caso, sãoadquiridos os alevinos de centrais de reprodução. O transporte é rotineiramente realizado em sacos plásticos de capacidadede 60L, com até 20L preenchido com água. No caso dos alevinos de piauçu, estes são muito agitados, sendo comumenteverificados peixes em constante movimento no transporte. Além do estresse, a agitação aumenta o consumo de oxigênio, o querestringe a densidade de transporte a 50 alevinos/L. Uma das soluções potenciais a este estresse, que poderia permitir maiortempo de transporte dos alevinos ou maior densidade de transporte, seria a utilização de anestésicos na água de transporte.

O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito do mentol em diferentes concentrações como anestésico utilizado notransporte de alevinos de piauçu.

MATERIAIS E MÉTODOS

Aproximadamente 300 alevinos de piauçu, pertencentes à estação de piscicultura do Núcleo de Educação Ambientalde Castelo – ES foram despescados dos tanques externos de cultivo e transportados ao Hospital Veterinário da Facastelo,onde permaneceram durante 48h, sob água corrente e sem arraçoamento.

Foi preparada, então, a solução-estoque de mentol, em concentração de 512g/L. A partir desta solução forampreparadas as demais, com as seguintes concentrações finais (em mg de mentol/L de água): T1 – 0,5; T2 – 1,0; T3 – 1,5; T4 – 2,0;T5 – 4,0; T6 – 8,0. O tratamento controle (0mg de mentol/L) foi constituído apenas por água.

A seguir, os alevinos foram colocados em sacos plásticos (10cm x 3cm), sendo usada a proporção de 2 alevinosem cada saco (1 unidade experimental) contendo 20mL, e o horário foi anotado. Cada tratamento teve 4 repetições. A seguir,foi acompanhado o horário em que ocorreu a morte do 1o indivíduo de cada unidade.

Os tempos médios para que ocorresse a morte em cada tratamento, bem como a regressão correlacionando aconcentração do mentol com o tempo até a morte dos alevinos, foram obtidos mediante a utilização do aplicativo SAEG.

RESULTADOS

A média do tempo até a morte dos alevinos de piauçu submetidos às concentrações (em mg de mentol/L de água)de 0,5 (T1); 1,0 (T2); 1,5 (T3); 2,0 (T4); 4,0 (T5); 8,0 (T6) foram (32,5±11,0), (48,2±6,2), (44,0±17,3), (57,2±22,3), (50,7±13 ,90)e (15,2±1,9), respectivamente. No grupo controle (T0), a média encontrada foi 40,0±1,15.

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Sartore T.A., Shimoda E., Lavor M.S.L., Lopes B.J.S., Trindade P.V., Cruz G.M. & Rizo W.F. 2007. Utilização do mentol notransporte de alevinos de piauçu ( Leporinus macrocephalus ). Acta Scientiae Veterinariae. 35: s337-s338.

s338

Para verificar a influência das diferentes concentrações do mentol (X) sobre o tempo de vida dos peixes (Y), foiobtida a equação de regressão Y = - 0,423.X2 + 5,488.X + 35,654, que correlaciona estes dois parâmetros.

A equação permitiu estimar o tempo para ocorrer a morte de 50% dos alevinos, numa densidade de 100peixes/L nasacola plástica de transporte. Verificou-se que o ponto ótimo da equação correspondeu à concentração de 6,5mg de mentol porlitro de água, sendo o tratamento recomendado para aumentar o tempo de sobrevivência dos alevinos durante o transporte.

DISCUSSÃO

O mentol, devido ao seu efeito anestésico, em alguns tratamentos, aumentou o tempo de sobrevivência dos peixes,quando comparado ao controle, constituído apenas por água. Alguns autores apontam que o mentol reduz o metabolismode alevinos de piauçu, o que pôde ser evidenciado pela diminuição dos batimentos operculares [4]. Os mesmos autoresverificaram, ainda, perda do equilíbrio dos alevinos, o que, dependendo da espécie, poderia evitar o canibalismo, permitindomenores perdas nos transportes.

Analisando-se os resultados da média de tempo até a morte dos alevinos, percebe-se que a concentração 0,5mgmentol/L teve a média de mortalidade inferior ao do grupo controle. Provavelmente a baixa concentração tenha provocadoum reduzido efeito anestésico o que não ocasionou aumento do tempo de vida dos alevinos. Por outro lado às concentraçõesentre 1,0 a 4,0 mg de mentol/L de água proporcionaram mais tempo de vida aos alevinos em relação ao controle. Verificou-seque os peixes submetidos a essas concentrações obtiveram redução dos batimentos operculares e perda do equilíbriosignificativamente maior, mostrando uma redução no estresse dos peixes e permitindo menor redução de oxigênio, o quepode ter levado uma maior sobrevivência.

A utilização 8,0 mg de mentol/L de água implicou em morte rápida dos peixes, devido à alta concentração, o quepoderia ter levado a toxidez fazendo com que os peixes morressem mais rápido. Possivelmente, esta morte se deva aoaumento na concentração de potássio plasmático em peixes anestesiados. O potássio é um íon intracelular e seu aumentono plasma gera um rompimento das células. Este rompimento certamente ocorreu nos peixes anestesiados em concentra-ções mais altas de mentol, como verificado por alguns autores que trabalharam com o tambaqui [3].

Alguns pesquisadores trabalhando com juvenis de matrinxã, submetidos ao 2-phenoxyethanol por um minuto,observaram que concentração ideal foi de 400mg/L para reduzir o estresse em manejos de curtos períodos [5]. No presentetrabalho a concentração ideal encontrada foi de 6,5mg/L. Vale salientar que o trabalho teve como propósito avaliar o efeitodo anestésico no transporte em longos períodos, sendo necessária maior exposição ao anestésico.

No transporte de peixes em sacos plásticos usando altas cargas, o uso de anestésico pode não resultar em grandesefeitos na melhora da água comparando as embalagens onde não foram aplicado o anestésico. Isso pode ser explicadopelo fato de que, sob altas densidades de peixes nas embalagens, a concentração de gás carbônico na água se elevarapidamente, atingindo níveis que exercem efeitos sedativos nos peixes semelhantes ao provocado pelos anestésicos.Assim, o benefício do uso de anestésicos na água de transporte deve ser avaliado com ponderação, verificando aspectosrelacionados à facilidade de manuseio dos peixes, a possibilidade de aumento na densidade de carga e a mortalidade dospeixes durante e após o transporte [6]. O verificado no presente trabalho, entretanto, mostrou que os peixes submetidos aoanestésico na concentração de 6,5mg mentol/L água foi significativamente superior ao controle contendo apenas água.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que o ponto ótimo da equação corresponde à concentração de 6,5mg de mentol por litro deágua, sugerindo ser um tratamento recomendado para aumentar o tempo de sobrevivência dos alevinos de piauçu duranteo transporte.

REFERÊNCIAS

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5 Inoue L.A.K.A., Santos Neto C. & Moraes, G. 2004. Standardization of 2-phenoxyethanol as anesthetic for juvenile Brycon cephalus (Gunther,1869): the use in field procedures. Ciência rural. 34:563-565.

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 2): s339-s341, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Estudo dos efeitos analgésicos e das concentrações plasmáticasdo tramadol em cadelas submetidas a ovário-salpingo-histerectomia

Study of analgesic effects and plasmatics concentrationsof tramadol in female dogs submitted to ovaryhisterectomy

Augusto Cesar Dias dos Santos, Altamir Benedito de Sousa,Jorge Camilo Florio & Helenice de Souza Spinosa

E-mail: [email protected]

ABSTRACT

The aims of this study had been to evaluate the plasmatics concentrations and the analgesic effect of tramadol managed in femaledogs submitted to ovaryhisterectomy. Initially, it was become fullfilled implantation and standardization of the method to detect and quantifythe tramadol in dog’s plasma. For that, it was used high performance liquid chromatography, being necessary the adaptation and validation ofthis method to our laboratorie’s conditions. According to the results, the method was considered suitable, because it presented linearity ofresponse in the desirable range. After the validation of the methodology, the evaluation of tramadol’s plasmatic concentrations in the femaledogs started and were calculated the pharmacokinetics parameters. In this study it was observed wide variations in the tramadol’s plasmaticconcentrations, in the moment that the pain’s presence was viewed, tramadol’s plasmatic concentration varied around 300 to 600 ng/ml in71.0% of the animals.

Key words: tramadol, chromatography, female dog, plasma, pain.

INTRODUÇÃO

O tramadol é um opióide derivado sintético da codeína, com ação analgésica central [7,8]. Produz analgesia emestados de dor aguda e crônica pela ação sinérgica entre mecanismos opióides e pela inibição da recaptação neuronal denorepinefrina e serotonina [8]. Já foi demonstrado que seu efeito analgésico pode ser parcialmente antagonizado pela naloxonae em gatos seu efeito antinociceptivo em receptores alfa-2 adrenérgicos foi demonstrado com a administração de ioimbina[6,7]. Mastrocinque, mostrou que o tramadol possui ação analgésica semelhante à morfina em doses equipotentes no alíviode dores moderadas a severas em cadelas submetidas a ovário-salpingo-histerectomia sem causar depressão respiratória.Nos cães o metabolismo in vivo do tramadol é complexo, com 32 metabólitos identificados. A maior via metabólica é mediadapela citocromo p-450 (CYP) 2D6 ocorrendo a O-desmetilação em O-desmetiltramadol (M1) e pela CYP3A4 a N-desmetilaçãoem N-desmetiltramadol (M2) [1,8]. O M2 é destituído de efeito analgésico, sendo que o M1 possui atividade e afinidade cercade 200 vezes maior por receptor opióide-µ que o tramadol, fazendo com que a CYP2D6 seja importante para o efeito anal-gésico atribuído ao tramadol [1,5]. O tramadol vem sendo amplamente utilizado pois possui baixo potencial para produzirabuso, quando é administrado nas doses terapêuticas não possui efeitos cardiovasculares e respiratórios clinicamentesignificantes, promove pouco efeito na motilidade gastrintestinal, não possui ação sobre a liberação de histamina e é bemtolerado com baixa incidência de efeitos colaterais [5,6].

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizadas 12 cadelas, hígidas, com idade variando de 1 a 6 anos, com peso de 15 a 55,7 kg, submetidasao exame clínico prévio e exames subsidiários como hemograma, provas de função renal e hepática, a fim de evitar possíveisinterferências destes fatores no experimento.

O procedimento anestésico foi realizado com a administração de acepromazina1 0,05 mg/kg/IM como medicaçãopré-anestésica, propofol2 5 mg/kg/IV para a indução e manutenção com isoflurano2. A cirurgia foi realizada com técnica padrãode ovário-salpingo-histerectomia utilizada no HOVET/FMVZ/USP. Imediatamente após o término do ato cirúrgico os animaisreceberam em duplo cego 2 mg/kg de tramadol2, por via intravenosa ou intramuscular e foram alojados em baias individuais,onde permaneceram por um período de 6 horas para avaliação da dor e coleta de amostras de sangue, foi fornecida alimen-tação sólida e líquida ad libitum. Caso o tramadol fosse ineficiente para causar analgesia, empregou-se como medicaçãoresgate 1 mg/kg de cetoprofeno3.

As amostras de sangue foram coletadas através de venóclise instalada na veia jugular externa esquerda. Coletou-se 10 ml de sangue venoso por amostra, sempre em seringa estéril de 10 ml contendo 0,02 ml de heparina sódica, previa-mente adicionada. As amostras foram coletadas em diferentes momentos: 5 minutos antes da administração e às 0,17; 0,33;0,50; 0,75; 1,00; 1,50; 2,00; 3,00; 4,00; 5,00 e 6,00 horas após a administração do tramadol.

As amostras foram centrifugadas por 10 minutos a 2000 g, o plasma foi separado e armazenado a uma temperaturade -80°C, as análises foram realizadas em até 60 dias após a coleta.

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Santos A.C.D., Sousa A.B., Florio J.C. & Spinosa H.S. 2007. Estudo dos efeitos analgésicos e das concentrações plasmáticasdo tramadol em cadelas submetidas a ovário-salpingo-histerectomia... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s339-s341.

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A avaliação da dor pós-operatória foi feita sempre pelo mesmo observador, que utilizou a escala de analogia visual(VAS) e a escala descritiva.

Todos os procedimentos realizados neste estudo estão de acordo com a Comissão de Bioética da FMVZ/USP,processo número 745/2005.

RESULTADOS

Nenhum dos animais apresentou qualquer sinal de intoxicação com a administração de 2 mg/kg de tramadol, porvia intravenosa ou intramuscular.

O teste t mostrou que o grupo que recebeu o tramadol por via intravenosa tem concentrações superiores destefármaco no plasma nos momentos 0,17, 0,33 e 0,50 hora quando comparado ao grupo tratado por via intramuscular. Dosparâmetros farmacocinéticos avaliados o teste t mostrou que o grupo que recebeu tramadol por via intravenosa apresentouárea sob a curva do tempo zero até o infinito (ASC0→∞) superior ao grupo tratado por via intramuscular, indicando que otramadol administrado por via intravenosa possibilita maior disponibilidade deste fármaco no organismo animal. Os demaisparâmetros farmacocinéticos não mostraram diferenças significativas entre os grupos.

Tanto a escala de analogia visual como a escala descritiva mostraram diferenças significantes nos escores de dordos animais quando se comparou o grupo intravenoso com o grupo intramuscular.

Observou-se que das 6 cadelas tratadas com tramadol por via intravenosa, 5 (83%) necessitaram receber amedicação resgate. Por outro lado, no grupo tratado com tramadol por via intramuscular, apenas 2 cadelas (33%) receberama medicação resgate.

DISCUSSÃO

No presente estudo optou-se pela utilização de cadelas de médio a grande porte a fim de possibilitar coletasrepetidas de sangue para realização dos parâmetros farmacocinéticos, sem acarretar maiores conseqüências aos animais.A cirurgia de eleição foi a ovário-salpingo-histerectomia, por ser um procedimento que permite uma padronização e é umdos mais freqüentemente realizados na clínica cirúrgica veterinária.

A validação da metodologia compreendeu o estudo da linearidade, a construção da curva de calibração, a deter-minação da precisão e recuperação do tramadol. De acordo com os resultados obtidos, o método foi considerado adequado,pois apresentou linearidade de resposta dentro da faixa desejável, obtendo-se coeficientes de variação de 2,2 – 3,2% intra-ensaios, e de 2,2 – 3,3% inter-ensaios. Deve-se ressaltar que estes valores aqui obtidos estão no limite inferior em relaçãoàquele preconizado para as metodologias analíticas, que é de no máximo 15% [3]. Estes dados são semelhantes àquelesobtidos por Kukanich e Papich em plasma de cães.

No presente trabalho, após administração intramuscular de 2 mg/kg de tramadol em cadelas, a concentraçãoplasmática máxima (Cmax média) da droga foi de 625,50±10,20 ng/ml, o tempo para alcançar a concentração plasmáticamáxima (Tmax) foi de 0,75±0,10 h e a ASC0→∞ foi de 1604,55±391,93 ng.h/ml. Os valores correspondentes para osindivíduos da espécie humana que receberam 100 mg de tramadol por via intramuscular são Cmax média de 355±86,2 ng/ml,Tmax de 0,94±1,07 h e ASC0→∞ de 3160±527 ng.h/ml [2].

Já Kukanich observou a meia vida de eliminação (t1/2) de 0,80±0,12 h, volume de distribuição aparente (Vd) de3,79±0,93 L/kg, clearance de 0,54±0,81 L/kg/h e volume aparente do compartimento central (Vd1) 0,30±0,45 L/kg em cãesque receberam 4,4 mg/kg de tramadol, por via intravenosa, porem não foram submetidos a nenhum procedimento cirúrgico.

No presente experimento os animais que receberam tramadol por via intravenosa apresentaram t1/2 de 1,24±0,28h, Vd de 1,06±0,21 L/kg, clearance de 0,60±0,20 L/kg/h e Vd1 de 0,33±0,08 L/kg. Vale ressaltar que estes achados foramobtidos em cães submetidos a um procedimento cirúrgico, e portanto, submetidos as condições nas quais o uso de um anal-gésico se faz necessário.

Em cadelas, os presentes achados mostraram que a administração de 2 mg/kg de tramadol, por via intravenosa,promoveu analgesia com duração entre 1,50 a 2,00 horas em 67% dos animais (4 cadelas), enquanto a via intramuscularpromoveu analgesia por até 6 horas em 67% dos animais. Portanto, em cadelas, a duração da analgesia produzida pelotramadol é bastante influenciada pela via de administração. Kukanich e Papich relataram que o tramadol administrado porvia intravenosa em cães sofre maior biotransformação do que em seres humanos; este fato pode resultar numa maior quanti-dade de metabólito ativo, porém como este possui menor meia vida, levaria a uma redução na duração de analgesia quandocomparado com a via intramuscular, como observado no presente estudo. De fato, houve necessidade de medicação resgateem 83% das cadelas que receberam tramadol por via intravenosa, enquanto que apenas 33% das cadelas que receberamo tramadol por via intramuscular necessitaram de medicação resgate.

Deve ser salientado também que a biotransformação do fármaco numa determinada espécie animal pode variarbastante, modificando o efeito do fármaco no organismo do indivíduo susceptível. Neste sentido, foram observadas amplasvariações nas concentrações plasmáticas de tramadol, no momento da administração de medicação resgate; de fato, aconcentração plasmática do tramadol variou de cerca de 300 a 600 ng/ml em 71,0% dos animais. Comparando estes resulta-dos com os encontrados na literatura em seres humanos que receberam de 50 a 100 mg de tramadol por via intravenosa,também foi observada uma grande variação individual na concentração plasmática terapêutica do fármaco, que variou de300 a 600 ng/ml, assim como a observada no presente estudo em cadelas [4].

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CONCLUSÕES

As concentrações plasmáticas de tramadol foram significantemente afetadas pelas vias de administração.

A via de administração exerce grande influência sobre o efeito analgésico do tramadol, sendo que a administraçãopor via intramuscular promoveu analgesia com duração maior do que àquela produzida pela via intravenosa.

NOTAS INFORMATIVAS1Univet S/A – Indústria Veterinária, São Paulo, Brasil.2Cristália, São Paulo, Brasil.3Merial, São Paulo, Brasil.

REFERÊNCIAS

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