Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

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Prof. Dr. Eduardo José Paz Ferreira Barreto

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Prof. Dr. Eduardo José Paz Ferreira Barreto

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Ser Poliglota na Própria Língua O professor dizia:

“Isso está errado, isso não se diz”.

Como ‘não se diz’? A criança repete o que ouve. Seus pais só dizem isso, e são advogados, professoras primárias...

O outro erro era:

“Isso não é português”.

Ora, se não é português, tem que ser outra língua, francês, inglês, alemão...

São dois erros de pedagogia. O professor de hoje reconhece que o aluno vem com sua modalidade lingüística. Uma língua que só tem uma modalidade é uma língua morta.

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O ideal é que o aluno seja poliglota na própria língua, que ele aprenda o maior número de realidades da sua língua e até a língua padrão, porque senão vai cometer vários erros de tradução na própria língua. Como a história do sujeito que foi para o Rio Grande do Sul. Quando chegou ao Paraná, leu em uma placa: “Atenção, tartarugas na estrada”. Ele disse para a mulher:

“Eu vou diminuir a marcha. A primeira tartaruga que aparecer, você apanha e a gente leva de souvenir.”

Atravessou o Paraná, Santa Catarina, e nada de tartaruga. Só depois descobriu que tartaruga é quebra-mola.

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Claro que todas essas normas de correção, próprias de cada variedade, têm o seu limite: a propriedade do texto. Se você constrói um texto que é uma carta íntima a um amigo, tem a possibilidade de utilizar construções que não estão apoiadas nem documentadas pelas normas da língua padrão. Mas a natureza do termo é que leva a isso. Essa relatividade existe em todas as obrigações sociais. Quando a gente recebe um convite para uma festa, está lá no convite: traje passeio, ou esporte, ou a rigor. O que é isso? É que existe uma etiqueta social. A língua padrão é a etiqueta cultural. Um tipo de modalidade que não é para usar todos os dias.

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Há pessoas até que exageram, e o resultado é que normalmente não são entendidas. Tenho um amigo, professor de português,que só fala a língua exemplar, padrão. Uma vez, saindo do Pedro II, foi assaltado. Gritou, e não apareceu ninguém. Ele ficou aborrecidíssimo. Voltou ao Pedro II e reclamou.

“Mas você não gritou? Não pediu socorro?”, perguntaram.

“Eu gritei, mas não apareceu ninguém!”

“Mas o que você disse?”

“Eu gritei ‘Peguem-no! Peguem-no!’”

O limite é a adequação.

Evanildo Bechara

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Diversidade Linguística – Video 01

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Níveis de Linguagem – Vídeo 02

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Língua Portuguesa no ISTOBJETIVOS

O aluno deverá ser capaz de expor suas idéias de forma clara e objetiva; entender a diferença entre a comunicação informativa e expressiva; elaborar relatórios utilizando adequadamente a técnica e empregar com precisão o vocabulário da Língua Portuguesa.

EMENTA

Fundamentos lingüísticos básicos: ortografia; sintaxe; redação; expressão oral; estrutura e organização do pensamento; elaboração de textos a partir de temas específicos; meios de expressão; argumentação; língua; linguagem e leitura; qualidade da linguagem técnica; funções da linguagem; vícios da linguagem; resumos, comunicações, apresentações e relatórios.

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Atividade 01 Afinal, o que é a língua?

A língua é uma das realidades mais fantásticas da nossa vida. Ela

está presente em todas as nossas atividades; nós vivemos

entrelaçados (às vezes soterrados!) pelas palavras; elas

estabelecem todas as nossas relações e nos­sos limites, dizem ou

tentam dizer quem somos, quem são os outros, onde estamos, o

que vamos fazer, o que fizemos. Nossos sonhos são povoados de

palavras; os outros se definem por palavras; todas as nossas

emoções e sentimentos se revestem de palavras. O mundo inteiro é

um magnífico e gi­gantesco bate-papo, dos chefes de Estado

negociando a paz e a guerra às primeiras sílabas de uma criança

em alguma favela brasileira ou numa vila africana. E pela linguagem,

afinal, que somos indivíduos únicos: somos o que somos depois de

um processo de conquista da nossa palavra, afirmada no meio de

milhares de outras palavras e com elas compostas.

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Apesar dessa presença absoluta na nossa vida (ou talvez justamente por

isso), ainda sabemos pouco sobre a linguagem e, em geral, temos uma

rela­ção problemática com ela, principalmente em sua forma escrita. Isto é,

em­bora não sejamos nada sem a língua, parece que ela permanece

alguma coi­sa estranha em nossa vida, como se ela não nos pertencesse.

Neste primeiro momento, vamos refletir um pouco sobre alguns dos traços

que definem a língua e por que ela parece muitas vezes alguma coisa

"estrangeira”.

Exercício 1

A primeira coisa que devemos fazer ao pensar sobre a realidade da lín­gua,

é separá-la em duas categorias básicas: língua falada e língua escrita. Na

verdade, a realidade primeira da língua é a fala, tanto na história da

immanidade como na nossa história pessoal Isto é, a escrita surgiu depois,

e fundamentada na realidade da fala. Por enquanto, consideremos apenas

a fala. Observe os exemplos seguintes (você pode lê-los em voz alta,

porque agora o que nos interessa é apenas o som; não se impressione com

os erros de grafia...)

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1. Eu conheço ele dês que a gente era colega de colégio.

2. Eu o conheço desde o tempo em que éramos colegas no colégio.

3.O sinhô vai armoçá gorinha memo? Não faiz mar, nóis vorta despois.

4. O senhor vai aumoçá nesse momento? Não faz mau, nós voutamos

depois.

5. Vós poderíeis dizer, excelência, que estou equivocado,

6. Você podia dizê, cara, que eu errei.

7. Comprei um pacótchi di lêitchi.

8. Comprei um pacote de leite.

9. Mas tu quiria u quê?

10. Porém, tu querias o quê?

Eis aí dez enunciados bastante diferentes entre si, diferentes não

apenas pelas informações veiculadas, mas também quanto às formas

empregadas. Há diferenças de sons, vocabulário, formas verbais,

formas de tratamento etc. Veja (sempre lembrando da fala, não da

escrita):

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sinhô - senhor - você - tu - vós armoçá - aumoçá despois - depois eu o

conheço - eu conheço ele

São somente alguns poucos exemplos. Se saíssemos à rua com um gravador na

mão, recolhendo amostras do que as pessoas realmente falam no dia-a-dia,

passaríamos o resto da vida coletando material sem jamais esgotar a variedade.

Esta é uma palavra-chave para qualquer compreensão da língua, o ponto de

partida de nosso estudo: a variedade.

Vamos pensar um pouco sobre essa variedade. Para uma discussão inicial, siga o

roteiro:

a) Todos os exemplos acima pertencem à língua portuguesa? Por quê?

b) Que fatores determinam as diferenças? Pense no seu próprio caso: você fala

sempre a mesma linguagem?

c) Em geral, de que modo reagimos diante de um falante "diferente"? Pense em

alguns exemplos.

d) Os programas de humor (do tipo "A praça é nossa", ou as "Escolinhas")

costumam explorar a diferença lingüística. O que provoca graça?

e) Faça sua pergunta!

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Atividade 02Um conjunto de variedades

Nesse primeiro momento, já temos um ponto de partida para definir a língua: toda língua é um

conjunto de variedades. Em geral, pela própria Orientação tradicional da escola e do ensino da

escrita, temos uma tendência a imaginar a realidade da língua como alguma coisa homogênea,

fixa, profundamente uniforme. Também decorre da tradição escolar a idéia que costuma

separar as ocorrências lingüísticas em dois grupos: o certo, identi­ficado sempre com as formas

gramaticais escolares, e o errado, que, em ge­ral, é aquilo que a gente fala e ouve o dia inteiro.

Essa é uma divisão tão forte que praticamente todos os falantes da língua portuguesa

conservam, em algum grau, uma certa insegurança no uso da linguagem.

Frases como Sou bom em matemática, mas péssimo em português, ou Será que falei certo?,

ou Não sei nada de gramática, ou Mas que língua mais difícil esse tal de português são muito

freqüentes em ambientes escola­rizados. Daí porque, embora a palavra ocupe um espaço

extraordinário na vida das pessoas, ela mantenha sempre o seu toque "estrangeiro", como algo

que nunca pode ser completamente dominado.

É claro que há muitos fatores envolvidos nessa questão, em geral relativos a uma certa

confusão de conceitos. A primeira confusão nós vimos acima: a diferença, bastante substancial,

entre língua falada e língua escrita. Em geral, as pessoas tendem a julgar a língua apenas

como uma realidade escrita. Outra confusão freqüente decorre do sentido da palavra

gramática. As pessoas normalmente entendem "gramática" apenas como o livro que contém as

regras "certas" da língua.

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Diversidade lingüística

Por enquanto, va­mos esquecer momentaneamente os conceitos de certo e errado, a

noção de gramática e os fatos da língua escrita e nos concentrar na imensa diver­sidade

lingüística da oralidade, isto é, vamos prestar atenção, sem precon­ceitos ou julgamentos

prévios, na língua real que vivemos todos os dias.

Nós já percebemos que a língua é um imenso conjunto de variedades.

Tecnicamente, podemos dividir essas variedades em quatro tipos básicos:

diferenças sintáticas, aquelas que decorrem da ordem das palavras na fala (ele me disse

x ele disse-me) ou de diferentes modos de realizar a concordância verbal (tu querias x tu

queria ou nós estávamos x nós estava);

diferenças morfológicas, aquelas que decorrem da forma da palavra, tomada

individualmente (vamos x vamo);

diferenças lexicais, isto é, diferentes nomes para o mesmo objeto (pandorga x pipa x raia

x papagaio);

d) diferenças fonéticas, isto é, pronúncias diferentes da mesma unidade sonora sem

distinção de significado (poRta, com erre aspirado x porta, com erre "caipira").

E que fatores determinam essa variedade? Isto é, por que as pessoas falam mais ou

menos diferente umas das outras? Considerando apenas os exemplos acima, podemos

enumerar algumas razões. Veja:

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a) A região do falante. Esse aspecto talvez seja o mais imediatamente com-preensível de

todos. Isto é, cada região do país tem um conjunto mais ou menos homogêneo de

características fonéticas, um sotaque próprio que dá traços distintivos ao falante nativo, um

sotaque que, em geral, passa a ser a sua marca mesmo quando ele não vive mais na sua

região de origem. A região determina mais diretamente a pronúncia (leitchi x leite), mas

também pode diferenciar pelo vocabulário (mandioca x macaxeira) e pela sintaxe (Diga-me,

em Portugal x Me diga, no Brasil).

b) O nível social do falante, sua escolaridade e sua relação com a escrita.

Esse é outro aspecto fundamental na distinção das variedades, e em geral inde­pende dos

sotaques regionais. Aqui as distinções tocam diretamente algumas for­mas da língua

reproduzidas pela escola e sustentadas na escrita, como alguns pon­tos de concordância

verbal (nós vamos x nóis vai), emprego de alguns termos es­tigmatizados (menas x

menos), vocabulário mais ou menos literário etc.

c) A situação da fala, isto é, todo o conjunto das circunstâncias que cercam o momento do

enunciado. O mesmo falante empregará variedades diferentes da linguagem dependendo

de onde ele está (na sala de aula, no campo de futebol, em casa), da pessoa ou pessoas

com quem ele está falando (o chefe, a mãe, um assaltante, o vizinho, um desconhecido no

ponto de ônibus), a sua intenção ao falar (dar uma ordem, convencer alguém, fazer um

pedido, recusar um pedi­do, pedir alguém em casamento, mentir), a situação específica

(um incêndio, um entardecer à beira do mar, com pressa atravessando a rua) - e as

possibili­dades aqui são virtualmente infinitas.

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Apesar dessa imensa variedade, parece que, de uma forma ou de outra, todos

(ou quase todos!) costumamos nos entender razoavelmente, pelo me­nos em

situações básicas de comunicação. Há, ainda, um outro fato bem interessante:

em geral, as variedades lingüísticas são capazes de intercomu­nicação, isto é,

grande parte das variedades conversam entre si. Em alguns casos, umas

comentam as outras, como ocorre quando brincamos com o sotaque de um

amigo ou nas festas juninas em que o falante urbano tenta imitar a fala caipira.

Nessa conversa entre as variedades, umas podem, inclusive, exercer certa

influência sobre outras, mudando-lhes progressivamente características mais

tradicionais. As pesquisas lingüísticas têm mostrado que formas típi­cas de

variedades menos prestigiadas socialmente estão entrando na língua padrão (a

fala padrão, por exemplo, já admite amplamente a ocorrência de construções

como Esse foi o filme que eu mais gostei em contraste com a construção padrão

clássica Esse foi o filme de que mais gostei).

Por outro lado, é perceptível que o intenso contato nas nossas cidades entre

variedades rurais e urbanas do português brasileiro, decorrente da maciça

migração da população do campo para a cidade, está redundando na

substituição progressiva da pronúncia rural típica de palavras como véia, paia,

teia pela urbana típica (velha, palha, telha).

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Variedade e valor

Mais ainda que isso, as variedades mantêm uma relação de valor umas com as

outras. Em bom português, a verdade é que todas as sociedades hu­manas

estabelecem uma hierarquia entre suas variedades, atribuindo valo­res a este ou

àquele traço da fala. Por motivos sociais e históricos, algumas variedades são

consideradas boas (a essas damos o nome técnico de varie­dades padrões ou

língua padrão) e outras más.

Quando alguém nos diz algo, nós não apenas interpretamos as infor­mações que

nos são passadas pelas palavras em si, mas também o próprio falante, e

costumamos avaliar também rapidamente toda a situação em que a fala ocorre.

Em suma: as palavras nunca estão sozinhas. E qualquer discussão sobre a

linguagem, seu sentido e sua natureza deverá, obrigatoriamente, discutir também

as condições reais em que ela existe.

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E, é claro, a relação entre as variedades sociais nem sempre é tranqüila. Há, de

certo modo, um conflito permanente entre algumas delas. Pense na sua

experiência pessoal: anos e anos sofrendo na escola para aprender uma

variedade que nos dizem ser a certa, mas sempre vivenciando uma certa

in­segurança, certas incertezas no uso de algumas formas da língua. Como

re­solver essa questão?

Enquanto pensamos na resposta, vamos aprofundar ainda mais a definição de

língua a partir de suas variedades, enfrentando agora outra fonte de confusão: o

conceito de gramática.

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Para aprofundar um pouco os diferentes sentidos da palavra "gramática", vamos observar as

ocorrências abaixo. Como até aqui estamos considerando apenas a linguagem oral, é

interessante você ler as frases em voz alta.

- Nós vamos agora e voltamos depois.

- Nós vamo agora e voltamo depois.

- Nóis vamo agora e voltamo depois.

- Nóis vai agora e vortamo dispois.

- Vamos voltamos depois agora nós e.

Exercício 2

Considerando a sua experiência como falante de português, responda a essas questões

preliminares:

1) Das frases acima, quais delas de fato ocorrem no dia-a-dia, e quais delas não ocorrem

nunca?

2) Considerando as frases que de fato ocorrem na vida real, qual delas seria a de uso mais

freqüente no meio em que você vive? Você tem certeza?

3) Como falante da língua, você se identifica com qual ocorrência? Só essa ou mais alguma?

4) Faça um rápido perfil do falante das frases que você assinalou como ocorrentes (isto é,

classe social, escolaridade, região...).

5) Assinale quais ocorrências você acha ―corretas‖ e quais você acha ―erradas‖. Justifique.

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Agora que você já investigou as frases acima, vamos desenvolver um pouco mais

a noção lingüística de gramática. É muito importante que tenhamos uma noção clara

do que significa essa palavra que o uso comum define apenas como ―linguagem

certa‖. O sentido mais usual da palavra você já conhece: gramática é o conjunto de

regras da língua, definidas num livro escolar, que decidem o que é certo e o que é

errado‖. Mas de qual ―língua‖? Bem, da lista acima, a gramática escolar vai

reconhecer como ―certa‖ apenas a ocorrência ―a‖, como você já deve ter notado.

E o que fazemos com as outras ocorrências? Bem, descartada a ocorrência ―e‖,

que, como tal não existe em português, as outras acabam por ser muito mais usadas

na vida real que a ocorrência ―a‖. Precisamos, então, entender melhor essa questão,

estudando a noção de língua padrão ou norma culta.

Por enquanto, vamos insistir um pouco mais na noção de gramática, agora não do

ponto de vista normativo ou escolar, mas do ponto de vista científico, isto é, do ponto

de vista da linguística, a ciência que estuda as línguas humanas. Para o cientista da

língua, não interessa, a princípio, se uma frase é julgada ―certa‖ ou ―errada‖, mas se

ela ocorre ou não de fato na vida real. Do ponto de vista linguístico, é a ocorrência

que determina a gramaticidade. Assim, a expressão frase gramatical, para o

linguista, tem um sentido bastante diferente do sentido que terá para o professor de

português e para as gramáticas normativas, interessadas fundamentalmente na

língua padrão escrita.

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O Princípio da Regularidade

E que traço vai definir a gramaticidade das ocorrências consideradas ―erradas‖

pela escola, mas que existem em profusão na vida real?

O princípio fundamental de todas as gramáticas, tanto a da língua padrão

como as variedades não padrões, é a regularidade. Isto é, todas as variantes da

língua se organizam, em todos os seus aspectos estruturais (sintáticos,

morfológicos, fonéticos) de uma forma regular e reiterável (isto é, as formas são

recorrentes). Em outras palavras, por trás de todas as frases efetivamente

proferidas pelos falantes da língua existe uma organização; existe uma

gramática.

Ninguém inventa regras por conta própria; mesmo o mais miserável dos

falantes, que jamais entrou numa escola e jamais conviveu com falantes de

outras variedades sociais, domina uma gramática complena, domina todo o

conunto de regras que comanda a sua variedade nativa, tem um conjunto que

começa a se consolidar a partir dos dois anos de idade.

Diante da imensa variedade a que nos referimos acima, já deve ficar claro

para você que existem muitas gramática spar aa mesma língua e, se queremos

desenvolver um bom domínio da escrita, precisamos saber como nos orientar em

meio a essa diversidade.

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Exercício 3

Suponha agora que você é um cientista da língua, um lingüista, e está diante

das cinco ocorrências apresentadas acima. A sua tarefa é tentar levantar as regras

que comandam esses enunciados, isto é, o princípio de regularidade que se revela

neles.

1. No item b, qual a regra que comanda o uso da primeira pessoa do plural?

2. Essa é difícil: no item d, que princípio poderíamos propor para dar conta da

ocorrência, primeiro, da forma ―nós vai‖ e, em seguida, ―vortamo‖ (e não ―nóis

vorta‖ – embora ela também pudesse ocorrer)?

3. Como dirá arroz, paz e mas o falante que em geral diz ―nóis‖?

4. Em b e c, por que o falante corta o s de vamos e voltamos, mas não de nós e de

depois? Qual a ―lógica‖?

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Para encerrar essa breve introdução às noções de língua, variedade e

gramática, vamos ler um texto do lingüista brasileiro Sírio Possenti, que

demonstra didaticamente o fato de que não existem línguas uniformes,

apresentando exemplos extraídos da nossa linguagem diária, e diz por

que a variedade é positiva.

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Texto 1NÃO EXISTEM LÍNGUAS UNIFORMES

Sírio PossentiAlguém que estivesse desanimado pelo fato de que parece que as coisas não dão certo

no Brasil e que isso se deve ao "povinho" que habita esse país (conhecem a piada?),poderia talvez achar que tem um argumento definitivo, quando observa que "até mesmopara falar somos um povo desleixado". Esse modo de encarar os fatos da linguagem ébastante comum, infelizmente. Faz parte da visão de mundo que as pessoas têm a respeitodos campos nos quais não são especialistas. Em outras palavras, é uma avaliação falsa. Mascomo existe, e como também é um fato social associado à linguagem, deve ser levado emconta. Por isso, para quem pretende ter uma visão mais adequada do fenômeno dalinguagem, especialmente para os profissionais, dois fatos são importantes: a) todas aslínguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou comunidade na qual todos falemda mesma forma; b) a variedade lingüística é o reflexo da variedade social e, como emtodas as sociedades existe alguma diferença de status ou de papel entre indivíduos ougrupos, essas diferenças se refletem na língua. Ou seja: a primeira verdade que devemosencarar de frente é relativa ao fato de que em todos os países (ou em todas as"comunidades de falantes") existe variedade de língua. E não apenas no Brasil, porqueseríamos um povo descuidado, relapso, que não respeita nem mesmo sua rica língua. Asegunda verdade é que as diferenças que existem numa língua não são casuais. Aocontrário, os fatores que permitem ou influenciam na variação podem ser detectadosatravés de uma análise mais cuidadosa e menos anedótica.

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Um dos tipos de fatores que produzem diferenças na fala de pessoas são

externos à língua. Os principais são os fatores geográficos, de classe, de idade, de

sexo, de etnia, de profissão etc. Ou seja: pessoas que moram em lugares

diferentes aca­bam caracterizando-se por falar de algum modo de maneira

diferente em relação a outro grupo. Pessoas que pertencem a classes sociais

diferentes, do mesmo modo (e, de certa forma, pela mesma razão, a distância - só

que esta é social) acabam caracterizando sua fala por traços diversos em relação

aos de outra classe. O mesmo vale para diferentes sexos, idades, etnias,

profissões. De uma forma um pouco simplificada: assim como certos grupos se

caracterizam através de alguma marca (digamos, por utilizarem certos trajes, por

terem determinados hábitos etc), também podem caracterizar-se por traços

lingüísticos. Para exemplificar: podemos dizer que fulano é velho porque tem tal

hábito (fuma cigarro sem filtro, por exemplo), ou porque fala ―Brasil‖ com um ―l‖ no

final (ao invés de falar ―Brasiu‖, com uma semivogal como em geral ocorre com os

mais jovens). Ou seja, as línguas fornecem meios também para a identificação

social. Por isso, é freqüentemente estranho, quando não ridículo, um velho falar

como uma criança, uma autoridade falar como uma pessoa simples etc. Por

exemplo, muitos meninos não podem ou não querem usar a chamada linguagem

correta na escola, sob pena de serem objeto de gozação por parte dos colegas,

porque em nossa sociedade a correção é considerada uma marca feminina.

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Também há fatores internos à língua que condicionam a variação. Ou

seja, a variação é de alguma forma regrada por uma gramática interior da

língua. Por isso, não é preciso estudar uma língua para não ―errar‖ em

certos casos. Em outras palavras, há ―erros‖ que ninguém comete, porque

a língua não permite. Por exemplo, ouvem-se pronúncias alternativas de

palavras como caixa, peixe, outro: a pronúncia padrão incluiria a

semivogal, a pronúncia não-padrão a eliminaria (caxa, pexe, otro). Mas

nunca se ouve alguém dizer peto ou jeto ao invés de peito e jeito. Por que

será que os mesmos falantes ora eliminam e ora mantêm a semivogal?

Alguém pode explicar por que o u cai antes de t (otro) e o i não cai no

mesmo contexto (peito, jeito)? Certamente, então, o tipo de semivogal (i ou

u) e a consoante seguinte são parte dos fatores internos relevantes para

explicar esse fato que, de alguma forma, todo falante conhece.

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Outro exemplo: podem-se ouvir várias pronúncias, em vários lugares do

país, do som que se escreve com a letra l em palavras como alguma:

alguma, auguma, arguma. A variação também existirá em palavras como

planta: planta ou pranta (mas nunca ouviremos puanta). Mas, o l será

sempre um l em palavras como lata. Ou seja: no fim da sílaba, ele varia; no

meio, também (embora não com o mesmo núme­ro de variantes). Mas, no

início, nunca. E isso vale para falantes cultos e incultos.

Mais exemplos: poderemos ouvir "os boi", "dois cara", "Comédia dos

Erro", mas nunca "o bois", "um caras" ou "Comédia do Erros". Ouviremos

muitas vezes "nós vai", mas nunca "eu vamo(s)". Assim, as variações

lingüísticas são condicionadas por fatores internos à língua ou por fatores

sociais, ou por ambos ao mesmo tempo.

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Alguns sonham com uma língua uniforme. Só pode ser por mania

repressiva ou medo da variedade, que é uma das melhores coisas que a

humanidade inventou. E a variedade lingüística está entre as variedades

mais funcionais que existem. Podemos pensar na variação como fonte de

recursos alternativos: quanto mais numerosos forem, mais expressiva

pode ser a linguagem humana. Numa língua uniforme talvez fosse

possível pensar, dar ordens e instruções. Mas, e a poesia? E o humor? E

como os falantes fariam para demonstrar atitudes diferentes? Teriam que

avisar (dizer, por exemplo, "estou irritado", "estou à vontade", "vou tratá-lo

formalmente")?

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Idéia Geral e Seus Tópicos Compreendendo e Praticando

Idéia geral é a idéia contida no parágrafo inicial de

um texto, idéia essa que abrange todo o assunto que

vai ser desenvolvido.

Vejamos um exemplo:

Ao abrir um jornal, lemos o seguinte título de notícia: O

temporal de ontem causou grandes estragos

materiais à cidade e sérios transtornos ao trânsito.

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Como se pode observar, o título da notícia dá uma idéia geral do assunto que

virá a seguir. Para nosso trabalho, idéia geral e título de notícia são a mesma

coisa.

Uma parte da idéia geral indica que serão abordados os danos causados pela

chuva a bens diversos. Há, portanto, no título da notícia, ou seja, na idéia geral, o

que se poderia chamar de um tópico: estragos materiais à cidade.

Igualmente, como no título da notícia há referência a transtornos ao trânsito,

percebemos também que há nele, ou seja, na idéia geral, o tópico: transtornos

ao trânsito.

Para que você domine a noção de tópico, vamos estabelecer, para efeito de

nosso trabalho, que tópico é um pequeno tema que está contido numa idéia

geral. A idéia geral, portanto, pode conter um, dois ou mais tópicos.

O que foi explicado acima pode ser visualizado com o seguinte esquema:

Idéia Geral

O temporal de ontem causou grandes estragos materiais à cidade e sérios

transtornos ao trânsito.

Tópico 1: estragos materiais à cidade. Tópico 2: transtornos ao trânsito.

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Idéia Geral

O hipertireoidismo é uma disfunção da glândula tireóide que pode causar

emagrecimento e taquicardia.

Tópico 1:__________ Tópico 2:__________

Idéia Geral

A prática de esportes pode trazer benefícios físicos e psicológicos às pessoas.

Tópico 1:__________ Tópico 2:__________

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Retomando a idéia geral do título da notícia, vamos ver como ela fica com

os tópicos e ampliada com detalhes, que são necessários para o

esclarecimento do assunto.

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Idéia Geral

Muitas vezes uma viagem de férias proporciona às pessoas não só o

merecido descanso, mas também a possibilidade de conhecerem novos

lugares.

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No capítulo anterior você assimilou as noções de idéia geral e de tópico.

Você praticou com exercícios, relacionando detalhes com seus respectivos

tópicos. Agora vamos começar um trabalho que o conduzirá a criar

detalhes.

Os detalhes pormenorizam os tópicos, e um modo fácil de desenvolvê-

los é perguntar-se:

Cabe um exemplo? Cabe uma justificativa? Cabe um esclarecimento?

Cabe um comentário?

Mas veja bem! É fundamental que cada pergunta seja feita em

referência ao tópico visado. Sempre em relação a ele.

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Então, as perguntas que você respondeu afirmativamente vão gerar os detalhes

que você pode usar para desenvolver seu texto. Veja que, se os seus detalhes

são oriundos destas perguntas, você, certamente, vai desenvolver um texto

objetivo. Seus detalhes estarão diretamente ligados ao tópico correspondente e à

idéia geral.

Para facilitar a memorização dos quatro tipos de detalhes que mencionamos, você

pode lançar mão da sigla EJEC, a qual como você, provavelmente, já observou, é

formada pelas iniciais de exemplo, justificativa, esclarecimento e comentário. A sigla

serve apenas para você se lembrar dos quatro tipos mencionados.

É oportuno estabelecer que os quatro tipos de detalhes, que servirão de referência

para o desenvolvimento de nosso trabalho, são na verdade seis. Este é um caso raro

em que quatro são seis.

Aos quatro tipos de detalhes que formam o EJEC é necessário acrescentar-se

descrição e narração. Referimo-nos a quatro tipos apenas, inicialmente, porque eles

são os mais comuns, os mais freqüentes. A partir de agora memorize a sigla como

sendo EJEC-DN.

Quando mencionamos descrição e narração, estamos nos referindo a pequenas

descrições ou pequenas narrações, pois se a abordagem é em nível de detalhe só

pode ser algo breve.

Lembre-se de que a seqüência dos tipos de detalhes depende exclusivamente da

seqüência lógica do texto. Além disso, tenha em mente que você pode usar apenas um

ou outro dos tipos mencionados ou, ainda, alguns deles combinados.

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Após ler a idéia geral e

identificar os tópicos,

acrescente um detalhe a

cada um deles.

Page 39: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Agora, após identificar os

tópicos, estabeleça mais dois

detalhes para cada um deles.

Page 40: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Você agora assistirá dois pequenos vídeos.

Após assisti-los, leia a idéia geral abaixo:

“O computador é considerado por muitos um instrumento

indispensável, tanto no contexto profissional quanto no doméstico.”

- Crie pelo menos dois tópicos.

- Estabeleça pelo menos três detalhes para cada tópico.

- Escreva um texto dissertativo contendo entre 150 e duzentas palavras

utilizando os tópicos e detalhes anotados.

Sugestões: Para esses tópicos, você pode:

Criar exemplos; criar justificativas para o fato de ser ele um

instrumento indispensável; criar esclarecimentos de como ele é

necessário; acrescentar pequenas descrições, se achar conveniente.

Nunca se esqueça de que cada pequena descrição tem que estar junto

do assunto a ela relacionado.

Page 41: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Coerência Textual (Professor Gílson Demétrio Ávalos )

Um texto é coerente quando é possível interpretá-lo. Estudar a coerência de um

texto é, pois, estudar as condições de sua interpretabilidade. Existem condições de

interpretabilidade ligadas diretamente ao texto, como o conhecimento e o uso

adequado dos recursos léxicos e gramaticais da língua. Se alguém ouvisse ou lesse

coisas como:

Quem tem uma foto importada de 1000 cc, que custa US$ 20.000, não vai

expô-la ao trânsito de uma cidade como São Paulo.

Holyfield venceu a luta, apesar de ser o mais forte dos lutadores.

não hesitaria em classificá-las como incoerentes. No primeiro caso, houve o uso

inadequado de uma palavra do léxico. Basta trocar a palavra foto pela palavra

moto que o texto fica coerente. No segundo caso, houve uma falha gramatical. A

conjunção apesar de não está adequada para unir as duas idéias expostas no

texto. Se a substituirmos pela conjunção pois tudo volta a ficar bem, em uma outra

versão como:

Holyfield venceu a luta, pois era o mais forte dos lutadores.

Page 42: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Mas a coerência de um texto depende também de outros fatores, como

os elementos contextualizadores que são data, local, assinatura, elementos

gráficos etc. ―ancoram‖ um texto em uma situação comunicativa

determinada. Imagine o seguinte texto contextualizado de duas maneiras

diferentes:

Hoje, eu, o rei, convido todos a comparecer em massa, para

assistir ao massacre de Israel.

assinado: Imperador Tito, Jerusalém, ano 70

assinado: Pelé, Rio de Janeiro, 1995.

No caso [a], teríamos o relato de fato relacionado à história do povo

judeu. No [b], um prognóstico sobre um jogo de futebol, envolvendo duas

seleções.

Mas a coerência de um texto depende também do nosso

conhecimento de mundo.Alguém que não conheça a história de Roma,

da ocupação da Judéia pelos romanos e a sua destruição pelo imperador

Tito, terá mais dificuldades para entender a primeira contextualização.

Page 43: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Se alguém nos disser que, quando assistia a um casamento, a luz se apagou

justamente no momento em que a noiva ia saindo da igreja, todos nós saberemos,

sem que esteja dito no texto, que a noiva caminhava pelo corredor central da

igreja, vindo do altar, em direção à porta principal, e que estava acompanhada do

noivo que, nesse momento, já era seu marido. Tudo isso porque, como ocidentais e

brasileiros, temos, em nosso repertório, o esquema sobre como se processa um

casamento em uma igreja católica. Se disséssemos a mesma coisa a um indiano,

por exemplo, ele teria dificuldade em perceber a coerência do texto, por falta de

repertório.

A propósito, você consegue imaginar o tipo de cultura ou conhecimento de

mundo que tornaria coerente o texto a seguir, citado por Richard Gordon, em seu

livro A assustadora história da medicina?

Verrugas – procure um homem que nunca viu o próprio pai e peça para tocar no

seu casaco. Como profilaxia, nunca deixe seus filhos tocarem na água onde foram

cozidos ovos.

(GORDON, A assustadora história da medicina, p. 157.)

Page 44: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

As meta-regras de coerência

Pesquisando sobre a coerência dos textos, um estudioso francês chamado

Michel Charolles conseguiu descobrir quatro princípios fundamentais

responsáveis pela coerência textual. Chamou-os de meta-regras da coerência.

São as seguintes:

Meta-regra da repetição – um texto coerente deve ter elementos repetidos;

Meta-regra de progressão – um texto coerente deve apresentar renovação do

suporte semântico;

Meta-regra da não-contradição – em um texto coerente, o que se diz depois não

pode contradizer o que se disse antes ou que ficou pressuposto;

Meta-regra de relação – em um texto coerente, seu conteúdo deve estar

adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis.

Page 45: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Vejamos cada uma delas. A primeira, a meta-regra da repetição, nada mais é

do que aquilo que chamamos de coesão textual. O fato de, em uma frase,

recuperarmos termos de frases anteriores, por meio de pronomes, elipses,

elementos lexicais ou substitutivos constitui um processo de repetição ou

recorrência. A coesão textual é, portanto, a primeira condição (necessária, mas

não suficiente) para que um texto seja coerente.

A meta-regra de progressão nos diz que um texto deve sempre apresentar

informações novas à medida que vai sendo escrito. Vejamos o texto a seguir:

Essa criança não come nada. Fica apenas brincando com os talheres, ou

seja: pega a colher, o garfo e não olha para o prato de comida. Ela não se

alimenta. Brinca apenas. Diverte-se com uma colher e um cargo e o prato fica

na mesa. O ato de brincar substitui o ato de alimentar-se.

Esse texto, embora apresente elementos recorrentes (coesão), não

apresenta progressão. É um texto circular, sem informatividade alguma.

Portanto, incoerente.

Page 46: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

A meta-regra da não-contradição nos diz que cada pedaço de texto deve

―fazer sentido‖ com o que se disse antes. Vejamos o texto a seguir:

Para as tropas aliadas, o dia 4 de junho foi um dia terrível. Os homens da 4ª

Divisão de Infantaria ficaram o dia inteiro no mar. Os navios-transporte e as

embarcações de desembarque faziam círculos ao largo da ilha de Wight. As

ondas arrebentavam sobre os lados, caía uma chuva forte. Os homens estavam

prontos para o combate, mas sem destino nenhum. Depois dessa exaustiva

caminhada, todos estavam cansados. Nesse dia 3 de junho, ninguém queria

jogar dados ou pôquer, ou ler um livro ou ouvir outra instrução. O desânimo

tomava conta de todos.

(AMBROSE, O dia D – 6 de julho de 1944: A batalha

culminante da Segunda Grande Guerra, p. 221. – adaptado - )

A informação de que os soldados estavam exaustos depois de uma

caminhada contradiz o que está pressuposto na parte inicial do texto. Afinal, eles

estavam embarcados em navios-transporte e embarcações de desembarque e

pressupõe-se que, nessas condições, soldados não façam caminhadas. A

informação de que no dia 3 de junho ninguém queria jogar dados ou pôquer etc.

contradiz o que está explicitado no início: o dia era 4 de junho. O texto em

questão tem coesão, progressão, mas é contraditório e, por isso, incoerente.

Page 47: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Finalmente, a meta-regra de relação estabelece que o conteúdo do texto deve estar

adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis. Vejamos o

seguinte texto:

O município de São José do Rio Preto abrange uma região imensa que é composta

por vários Estados limítrofes que ocupam uma área respeitável [...] Conta ainda com

uma superpopulação, com uma maioria de pessoas cultas e uma juventude com

grandes recursos educacionais, cursando as várias escolas e faculdades.

Isto posto, nossa cidade sente falta urgente de uma Capela Crematória. Para os leigos é

preciso esclarecer que, para um corpo ser exumado através de forno crematório, há

necessidade que ele registre esta vontade em duas testemunhas. Somente o

interessado poderá usar esta forma de suprir seu desejo, caso contrário, a exumação

seria da forma natural, ou seja: o sepultamento.

(Diário da Região,S.J. do Rio Preto,15 abr. 1998 (trecho de uma carta

escrita por um leitor)

Esse texto contraria de várias maneiras a meta-regra de relação, pois seu conteúdo

não está de acordo com o mundo real. Afinal, São José do Rio Preto não se limita com

vários Estados, não tem superpopulação, um corpo (uma pessoa morta) não pode mais

registrar vontade alguma, e, se pudesse, não seria em duas testemunhas, mas diante

de duas testemunhas. Há também o emprego inadequado do léxico. Afinal, exumar

não é o mesmo que cremar ou sepultar.

Page 48: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Exercícios

Identifique, em cada um dos textos a seguir, a meta-regra de coerência que foi

infringida. (Estes textos foram retirados de PETRAS, O melhor do besteirol.)

―É realmente apropriado que nos reunamos aqui hoje, para homenagear Abraham

Lincoln, o homem que nasceu numa cabana de troncos que ele construiu com suas

próprias mãos‖. (Político, em um discurso, homenageando Lincoln)

―Eles vivem da mão para a boca, como as aves do céu‖. (Sir Boyle, descrevendo a

pobreza dos agricultores irlandeses)

―Damos cem por cento na primeira parte do jogo e, se isso não for suficiente, na

segunda parte damos o resto‖. (Yogi Berra, jogador norte-americano de beisebol,

famoso por suas declarações esdrúxulas)

―Mantle rebate com as duas mãos porque é anfíbio‖. (idem)

―Nós não temos censura. O que temos é uma limitação do que os jornais podem

publicar‖. (Louis Net, ex-vice-ministro da Informação da África do Sul).

Page 49: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

―a) considerando etc. etc., este Conselho resolve: que uma nova cadeia seja

construída; b) que a nova cadeia seja construída com os materiais da velha cadeia;

c) que a velha cadeia seja usada até que a nova esteja pronta‖. (Resolução da

Junta dos Conselheiros, Canto, Mississipi,1800).

―Por que deveriam os irlandeses ficar de braços cruzados e mãos nos bolsos

enquanto a Inglaterra pede ajuda?‖ (Sir Thomas Myles, falando em um comício em

Dublin, em 1902, sobre a guerra dos Boeres).

―Por que os judeus e árabes não podem se reunir e discutir a questão como bons

cristãos?‖ (Arthur Balfour, estadista britânico, primeiro-ministro e ministro do

Exterior).

―Quando um grande número de pessoas não consegue encontrar trabalho, o

resultado é o desemprego‖. (Calvin Coolidge, presidente americano em 1931).

―Encontrando um milhão de dólares na rua, eu procuraria o cara que o perdeu e, se

ele fosse pobre, devolveria‖. (Yogi Berra).

Page 50: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

―Este é um grande dia para a França!‖ (Presidente Nixon, ao comparecer ao

enterro de Charles De Gaulle).

―Acho que os senhores pensam que, em nossa diretoria, metade dos diretores

trabalha e a outra metade nada faz. Na verdade, cavalheiros, acontece justamente

o contrário‖. (Diretor de empresa, defendendo membros do seu staff).

―Um homem não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, a menos que ele

seja uma ave‖. (Sir Boy Roche, deputado representante de Tralee no Parlamento

Britânico).

Precisamos de leis que protejam a todos. Homens e mulheres, normais e bichas,

qualquer que seja sua perversão sexua...ahn, preferência. (Bella Abzug, político de

Nova Iorque, em um comício em defesa da Emenda dos Direitos Iguais).

―Eu não estava mentindo. Disse, sim, coisas que mais tarde se viu que eram

inverídicas‖ (Presidente Nixon, em depoimento durante as investigações do caso

Watergate).

―Cuidado! Tocar nesses fios provoca morte instantânea. Quem for flagrado fazendo

isso será processado‖. (Tabuleta numa estação ferroviária).

Page 51: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

―Referimo-nos àquele ano sangrento, 1793. Naqueles tempos conturbados, coube

aos empregados domésticos franceses dar um exemplo sem igual de dedicação.

Houve mesmo muitos que, em vez de trair seu amo, deixaram-se guilhotinar em

lugar deles e que, quando voltaram dias mais felizes, silenciosa e respeitosamente,

reassumiram seus empregos‖. (Le Figaro, Paris, fevereiro de 1890, em um artigo

sobre a vida doméstica durante a Revolução Francesa).

―Aproximadamente 80% da poluição do ar são causados por hidrocarbonetos

liberados pela vegetação, de modo que não vamos exagerar e criar, e exigir o

cumprimento de padrões rigorosos de emissão por fontes artificiais‖ (Presidente

Ronald Reagan).

―A Pepsi traz seu ancestrais de volta da cova‖. (Tradução para chinês, do slogan ―A

Pepsi faz a gente viver‖).

―Quando dois trens se aproximarem em um cruzamento, ambos devem parar por

completo e nenhum dos dois iniciar viagem até que o outro tenha passado‖ (De

uma lei do Kansas).

Page 52: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Coesão Textual (Platão & Fiorin – Para Entender o Texto: Leitura e Redação)

Quando lemos com atenção um texto bemconstruído, não nos perdemos por entre os enunciadosque o constituem, nem perdemos a noção de conjunto.Com efeito, é possível perceber a conexão existenteentre os vários segmentos de um texto e compreenderque todos estão interligados entre si.

A título de exemplificação do que foi dito, observe-se o texto que vem a seguir:

Page 53: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

“É sabido que o sistema do Império Romano dependia da escravidão, sobretudo para a

produção agrícola. É sabido ainda que a população escrava era recrutada principalmente

entre prisioneiros de guerra.

Em vista disso, a pacificação das fronteiras fez diminuir consideravelmente a população

escrava.

Como o sistema não podia prescindir da mão-de-obra escrava, foi necessário encontrar

outra forma de manter inalterada essa população.”

Como se pode observar, os enunciados desse texto não estão amontoados

caoticamente, mas estritamente interligados entre si: ao se ler, percebe-se que há

conexão entre cada uma das partes.

A essa conexão interna entre os vários enunciados presentes no texto dá-se o

nome de coesão. Diz-se, pois, que um texto tem coesão quando seus vários

enunciados estão organicamente articulados entre si, quando há concatenação

entre eles.

A coesão de um texto, isto é, a conexão entre os vários enunciados obviamente

não é fruto do acaso, mas das relações de sentido que existem entre eles. Essas

relações de sentido são manifestadas sobretudo por certa categoria de palavras, as

quais são chamadas conectivos ou elementos de coesão. Sua função no texto é

exatamente a de pôr em evidência as várias relações de sentido que existem entre

os enunciados.

Page 54: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

No caso do texto citado acima, pode-se observar a função de alguns desses

elementos de coesão. A palavra ainda no primeiro parágrafo ("É sabido ainda

que"...) serve para dar continuidade ao que foi dito anteriormente e acrescentar um

outro dado: que o recrutamento de escravos era feito junto dos prisioneiros de

guerra.

O segundo parágrafo inicia-se com a expressão em vista disso, que estabelece

uma relação de implicação causal entre o dado anterior c o que vem a seguir: a

pacificação das fronteiras diminui o fornecimento de escravos porque estes eram

recrutados principalmente entre os prisioneiros de guerra.

O terceiro parágrafo inicia-se pelo conectivo como, que manifesta uma outra

relação causal, isto é: foi necessário encontrar outra forma de fornecimento de

escravos porque o sistema não podia prescindir deles.

São várias as palavras que, num texto, assumem a função de conectivo ou de

elemento de coesão

— as preposições: a, de, para, com, por, etc;

— as conjunções: que, para que, quando, embora, mas, e, ou, etc;

— os pronomes: ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual, etc;

— os advérbios: aqui, aí, lá, assim, etc.

Page 55: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

O uso adequado desses elementos de coesão confere unidade ao texto e

contribui consideravelmente para a expressão clara das idéias. O uso inadequado

sempre tem efeitos perturbadores, tornando certas passagens incompreensíveis.

Para dar idéia da importância desses elementos na construção das frases e do

texto, vamos comentar sua funcionalidade em algumas situações concretas da língua

e mostrar como o seu mau emprego pode perturbar a compreensão.

A coesão no período composto

O período composto, como o nome indica, é constituído de várias orações, que,

se não estiverem estruturadas com coesão, de acordo com as regras do sistema

lingüístico, produzem um sentido obscuro, quando não, incompreensível.

O período que segue é plenamente compreensível porque os elementos de

coesão estão bem empregados:

Se estas indústrias são poluentes, devem abandonar a cidade, para que as boas

condições de vida sejam preservadas.

Esse período consta de três orações, e a oração principal é: devem abandonar a

cidade; antes da principal vem uma oração que estabelece a condição que vai

determinar a obrigação de as indústrias abandonarem a cidade (o conectivo, no

caso, é a conjunção se); depois da oração principal segue uma terceira oração, que

indica a finalidade que se quer atingir com a expulsão das indústrias poluentes (o

conectivo é a conjunção para que).

Page 56: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Muitas vezes, nas suas redações, os alunos constroem períodos

incompreensíveis, por descuidarem dos princípios de coesão. Não é raro, por

exemplo, ocorrerem períodos desprovidos da oração principal, como nos exemplos

que seguem:

O homem que tenta mostrar a todos que a corrida armamentista que se trava

entre as grandes potências é uma loucura.

Ao dizer que todo o desejo de que os amigos, viessem à sua festa

desaparecera, uma vez que seu pai se opusera à realização.

No primeiro período temos:

1) o homem;

2) que tenta mostrar a todos: oração subordinada adjetiva;

3) que a corrida armamentista é uma loucura: oração subordinada substantiva

objetiva direta;

4) que se trava entre as grandes potências: oração subordinada adjetiva.

Page 57: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

A segunda oração está subordinada àquela que seria a primeira, referindo-

se ao termo homem; a terceira é subordinada à segunda; a quarta à terceira. A

primeira oração está incompleta. Falta-lhe o predicado. O aluno colocou o

termo a que se refere a segunda oração, começou uma sucessão de inserções

e "esqueceu-se" de desenvolver a idéia principal.

No segundo período, só ocorrem orações subordinadas. Ora, todos

sabemos que uma oração subordinada pressupõe a presença de uma

principal.

A escrita não exige que os períodos sejam longos e complexos, mas que

sejam completos e que as partes estejam absolutamente conectadas entre si.

Para evitar deslizes como o apontado, graves porque o período fica

incompreensível, não é preciso analisar sintaticamente cada período que se

constrói. Basta usar a intuição lingüística que todos os falantes possuem e

reler o que se escreveu, preocupado com verificar se tem sentido aquilo que

acabou de ser redigido.

Ao escrever, devemos ter claro o que pretendemos dizer e, uma vez escrito

o enunciado, devemos avaliar se o que foi escrito corresponde àquilo que

queríamos dizer. A escolha do conectivo adequado é importante, já que é ele

que determina a direção que se pretende dar ao texto, é ele que manifesta as

diferentes relações entre os enunciados.

Page 58: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

TEXTO COMENTADO

Um argumento cínico

(1) Certamente nunca terá faltado aos sonegadores de todos os tempos e lugares o

confortável pretexto de que o seu dinheiro não deve ir parar nas mãos de administradores

incompetentes e desonestos. (2) Como pretexto, a invocação é insuperável e tem mesmo a cor

e os traços do mais acendrado civismo. (3) Como argumento, no entanto, é cínica e

improcedente. (4) Cínica porque a sonegação, que nesse caso se pratica, não é compensada

por qualquer sacrifício ou contribuição que atenda à necessidade de recursos imanente a

todos os erários, sejam eles bem ou mal administrados. (5) Ora, sem recursos obtidos da

comunidade não há policiamento, não há transportes, não há escolas ou hospitais. (6) E sem

serviços públicos essenciais, não há Estado e não pode haver sociedade política. (7)

Improcedente porque a sonegação, longe de fazer melhores os maus governos, estimula-os à

prepotência e ao arbítrio, além de agravar a carga tributária dos que não querem e dos que,

mesmo querendo, não têm como dela fugir — os que vivem de salário, por exemplo. (8)

Antes, é preciso pagar, até mesmo para que não faltem legitimidade e força moral às

denúncias de malversação. (9) É muito cômodo, mas não deixa de ser, no fundo, uma

hipocrisia, reclamar contra o mau uso dos dinheiros públicos para cuja formação não

tenhamos colaborado. (10) Ou não tenhamos colaborado na proporção da nossa renda.

Villela, João Baptista. Veja, 25 set. 1985.

Page 59: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

O produtor desse texto procura desmontar o argumento dos sonegadores de

impostos que não os pagam sob a alegação de que os administradores do dinheiro

público são incompetentes e desonestos.

Por uma razão prática, vamos fazer o comentário dos vários argumentos

tomando por base cada um dos períodos que compõem o texto:

1º período:

Expõe o argumento que os sonegadores invocam para não pagar impostos: eles

alegam que não os pagam porque o seu dinheiro não deve ir parar nas mãos de

administradores desonestos e incompetentes. Observe-se que o produtor do texto

começa a desautorizar esse argumento ao considerá-lo um "confortável pretexto",

isto é, uma falsa justificativa usada em proveito próprio.

2º período:

O enunciador admite que, como pretexto (falsa razão), essa justificativa é

insuperável e tem aparência de elevado espírito cívico.

3º período:

O conectivo "no entanto" (de caráter adversativo) introduz uma argumentação

contrária ao que se admite no período anterior: a justificativa para sonegar

impostos, como argumento, é cínica e improcedente.

Page 60: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

5º período:

O conectivo "ora" dá início a uma argumentação que se manifesta contrária à

idéia de que o Estado possa sobreviver sem arrecadar impostos e sem se prover de

recursos.

6º período:

O conectivo "e" introduz um segmento que adiciona um argumento ao que se

afirmou no período anterior.

7º período:

Depois de demonstrar que o argumento dos sonegadores é cínico, o enunciador

passa a demonstrar que é também improcedente, o que já foi afirmado no terceiro

período. O motivo da improcedência vem expresso por uma oração causal iniciada

pelo conectivo "porque": a justificativa para sonegar é improcedente porque a

sonegação, ao invés de contribuir para melhorar os maus governos, estimula-os à

prepotência e ao arbítrio. No mesmo período, o conectivo "além de" introduz um

argumento a mais a favor da improcedência da sonegação: ela agrava a carga

tributária dos que, como os assalariados, não têm como fugir dela.

Page 61: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

8º período:

O conectivo "antes", que inicia o período, significa "ao contrário" e introduz um

argumento a favor da necessidade de pagar impostos. O conectivo "até mesmo" dá

início a um argumento que reforça essa necessidade.

9º período:

O conectivo "mas" (adversativo), que liga a oração "É muito cômodo" à oração

"não deixa de ser uma hipocrisia", estabelece uma relação de contradição entre as

duas passagens: de um lado, é cômodo reclamar contra o mau uso do dinheiro

público, de outro, isso não passa de hipocrisia quando não se colaborou com a

arrecadação desse dinheiro.

10º período:

O conectivo "ou" inicia uma passagem que contém uma alternativa que

caracteriza ainda a atitude hipócrita: é hipocrisia reclamar do mau uso de um

dinheiro para o qual nossa colaboração foi abaixo daquilo que devia ser.

Como se vê, os períodos compostos bem estruturados e os conectores usados

de maneira adequada dão coesão ao texto e consistência à argumentação.

Page 62: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

EXERCÍCIOS

Questões de 1 a 4

Nas questões de 1 a 4, apresentamos alguns segmentos de discurso separados por

ponto final. Retire o ponto final e estabeleça entre eles o tipo de relação que lhe parecer

compatível, usando para isso os elementos de coesão adequados.

Questão 1

O solo do Nordeste é muito seco e aparentemente árido. Quando caem as chuvas,

imediatamente brota a vegetação.

Questão 2

Uma seca desoladora assolou a região sul, principal celeiro do país. Vai faltar alimento

e os preços vão disparar.

Questão 3

Inverta a posição dos segmentos contidos na questão 2 e use o conectivo apropriado:

Vai faltar alimento e os preços vão disparar. Uma seca desoladora assolou a região

sul, principal celeiro do país.

Questão 4

O trânsito em São Paulo ficou completamente paralisado dia 15, das 14 às 18 horas.

Fortíssimas chuvas inundaram a cidade.

Page 63: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Questões de 5 a 8

As questões de 5 a 8 apresentam problemas de coesão por causa do mau uso

do conectivo, isto é, da palavra que estabelece a conexão. A palavra ou expressão

conectiva inadequada vem em destaque. Procure descobrir a razão dessa

impropriedade de uso e substituir a forma errada pela correta.

Questão 5

Em São Paulo já não chove há mais de dois meses, apesar de que já se pense

em racionamento de água e energia elétrica.

Questão 6

As pessoas caminham pelas ruas, despreocupadas, como se não existisse

perigo algum, mas o policial continua folgadamente tomando o seu café no bar.

Questão 7

Talvez seja adiado o jogo entre Botafogo e Flamengo, pois o estado do gramado

do Maracanã não é dos piores.

Questão 8

Uma boa parte das crianças mora muito longe, vai à escola com fome, onde

ocorre o grande número de desistências.

Page 64: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Questão 9

Leia o período que segue:

Chegaram instruções repletas de recomendações para que os participantes do

congresso, que, por sinal, acabou não se realizando por causa de fortes chuvas, que

inundaram a cidade e paralisaram todos os meios de comunicação.

a) É compreensível o seu conteúdo?

b) Qual o seu grande defeito?

PROPOSTA DE REDAÇÃO

Nas dissertações, o uso apropriado dos conectivos assume importância particular

para estabelecer as relações semânticas e lógicas entre os vários segmentos do texto.

Elabore um texto dissertativo bem coeso, manifestando seu ponto de vista a respeito

das idéias contidas neste fragmento:

O Duque de She dirigiu-se a Confúcio, dizendo: — Temos em nossa terra um homem

direito. Seu pai furtou uma ovelha, e o filho depôs contra ele. — Na nossa, retrucou

Confúcio, ser direito é proceder de maneira diferente. O pai oculta a culpa do filho, e o filho

a do pai. Gente direita é assim que se comporta.

Máximas de Confúcio. Apud Russell, Bertrand. Ensaios céticos. 2. ed. São Paulo, Nacional, 1957. p. 82.

Page 65: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Nesta lição, dando continuidade à anterior, vamos ainda tratar da coesão do texto

e do uso dos elementos lingüísticos adequados para estabelecer conexões entre

os vários enunciados do texto.

1) O papel dos elementos de coesão

Consideramos como elementos de coesão todas as palavras ou expressões

que servem para estabelecer elos, para criar relações entre segmentos do

discurso tais como: então, portanto, já que, com efeito, porque, ora, mas, assim,

daí, aí, dessa forma, isto é, embora e tantas outras.

O que se coloca como mais importante no uso desses elementos de coesão é

que cada um deles tem um valor típico. Além de ligarem partes do discurso,

estabelecem entre elas um certo tipo de relação semântica: causa, finalidade,

conclusão, contradição, condição, etc. Dessa forma, cada elemento de coesão

manifesta um tipo de relação distinta. Ao escrever, deve-se ter o cuidado de usar o

elemento apropriado para exprimir o tipo de relação que se quer estabelecer.

Page 66: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

O porém, por exemplo, presta-se para manifestar uma relação de contradição:

usado entre dois enunciados ou entre dois segmentos do texto, manifesta que um

contraria o outro. Observe-se o exemplo que segue:

Israel possui um solo árido e pouco apropriado à agricultura, porém chega a

exportar certos produtos agrícolas.

No caso, faz sentido o uso do porém, já que entre os dois segmentos ligados

existe uma contradição. Seria descabido permutar o porém pelo porque, que serve

para indicar causa. De fato, a exportação de produtos agrícolas não pode ser vista

como a causa de Israel ter um solo árido.

Muitas pessoas, ao redigir, não atentam para as diferentes relações que os

elementos de coesão manifestam e acabam empregando-os mal, criando, com

isso, paradoxos semânticos.

Esses elementos não são formas vazias que podem ser substituídas entre si,

sem nenhuma conseqüência. Pelo contrário, são formas lingüísticas portadoras de

significado e exatamente por isso não se prestam para ser usadas sem critério. A

coesão do texto é afetada quando se usa o elemento de coesão inadequado.

Page 67: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Vejamos, a título de exemplo, as relações que alguns elementos de coesão

estabelecem:

a) assim, desse modo: têm um valor exemplificativo e complementar. A seqüência

introduzida por eles serve normalmente para explicitar, confirmar ou ilustrar o que se

disse antes.

O Governador resolveu não comprometer-se com nenhuma das facções em disputa

pela liderança do partido. Assim, ele ficará à vontade para negociar com qualquer uma que

venha a vencer.

b) e: anuncia o desenvolvimento do discurso e não a repetição do que foi dito

antes; indica uma progressão semântica que adiciona, acrescenta algum dado novo.

Se não acrescentar nada, constitui pura repetição e deve ser evitada. Ao dizer:

Este trator serve para arar a terra e para fazer colheitas

o e introduz um segmento que acrescenta uma informação nova. Por isso seu uso é

apropriado. Mas, ao dizer:

Tudo permanece imóvel e fica sem se alterar

o segmento introduzido pelo e não adiciona nenhuma informação nova. Trata-se,

portanto, de um uso inadequado.

Page 68: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

c) ainda: serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor

de determinada conclusão, ou para incluir um elemento a mais dentro de um

conjunto qualquer.

O nível de vida dos brasileiros é baixo porque os salários são pequenos.

Convém lembrar ainda que os serviços públicos são extremamente deficientes.

d) aliás, além do mais, além de tudo, além disso: introduzem um argumento

decisivo, apresentado como acréscimo, como se fosse desnecessário,

justamente para dar o golpe final no argumento contrário.

Os salários estão cada vez mais baixos porque o processo inflacionário diminui

consideravelmente seu poder de compra. Além de tudo são considerados como

renda e taxados com impostos.

e) isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras: introduzem esclarecimentos,

retificações ou desenvolvimentos do que foi dito anteriormente.

Muitos jornais fazem alarde de sua neutralidade em relação aos fatos, isto é, de

seu não comprometimento com nenhuma das forças em ação no interior da

sociedade.

Page 69: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

f) mas, porém, contudo e outros conectivos adversativos: marcam oposição

entre dois enunciados ou dois segmentos do texto. Não se podem ligar, com

esses relatores, segmentos que não se opõem. Às vezes, a oposição se faz

entre significados implícitos no texto.

Choveu na semana passada, mas não o suficiente para se começar o plantio.

g) embora, ainda que, mesmo que: são relatores que estabelecem ao mesmo

tempo uma relação de contradição e de concessão. Servem para admitir um

dado contrário para depois negar seu valor de argumento. Trata-se de um

expediente de argumentação muito vigoroso: sem negar as possíveis

objeções, afirma-se um ponto de vista contrário.

Observe-se o exemplo:

Ainda que a ciência e a técnica tenham presenteado o homem com abrigos

confortáveis, pés velozes como o raio, olhos de longo alcance e asas para voar, não

resolveram o problema das injustiças.

Como se nota, mesmo concedendo ou admitindo as grandes vantagens da

técnica e da ciência, afirma-se uma desvantagem maior.

Page 70: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

O uso do embora e conectivos do mesmo sentido pressupõe uma relação de

contradição, que, se não houver, deixa o enunciado descabido. Exemplo:

Embora o Brasil possua um solo fértil e imensas áreas de terras plantáveis,

vamos resolver o problema da fome.

h) Certos elementos de coesão servem para estabelecer gradação entre os

componentes de uma certa escala. Alguns, como mesmo, até, até mesmo,

situam alguma coisa no topo da escala; outros, como ao menos, pelo menos,

no mínimo, situam-na no plano mais baixo.

O homem é ambicioso. Quer ser dono de bens materiais, da ciência, do próprio

semelhante, até mesmo do futuro e da morte.

Ou

É preciso garantir ao homem seu bem-estar: o lazer, a cultura, a liberdade, ou,

no mínimo, a moradia, o alimento e a saúde.

Page 71: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Para encerrar essas considerações sobre o uso dos elementos de

coesão, convém dizer que, às vezes, cria-se o paradoxo semântico

provocando determinados efeitos de sentido. Pode-se conseguir, por

exemplo, um efeito de humor ou de ironia ou revelar preconceitos

estabelecendo-se uma relação de contradição entre dois segmentos que,

usualmente, não são vistos como contraditórios. Sirva de exemplo uma

passagem como esta:

Ela é mulher, mas é capaz.

Como se nota, o mas passa a estabelecer uma relação de contradição

entre ser mulher e ser capaz. Essa relação revela humor ou preconceito do

enunciador. Nos dois casos, no entanto, pressupõe-se que as mulheres não

sejam capazes.

É claro que o uso desses paradoxos deve ser feito com cuidado e

dentro de um contexto que não dê margem a ambigüidades.

Page 72: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

2) A retomada ou a antecipação de termos

Observe o trecho que segue:

José e Renato, apesar de serem gêmeos, são muito diferentes. Por exemplo, este é

calmo, aquele é explosivo.

O termo este retoma o nome próprio "Renato", enquanto aquele faz a mesma coisa com a

palavra "José". "Este" e "aquele" são chamados anafóricos.

Anafórico, genericamente, pode ser definido como uma palavra ou expressão que serve

para retomar um termo já expresso no texto, ou também para antecipar termos que virão

depois. São anafóricos, por exemplo, os pronomes demonstrativos (este, esse, aquele), os

pronomes relativos (que, o qual, onde, cujo), advérbios e expressões adverbiais (então, dessa

feita, acima, atrás), etc.

Quando um elemento anafórico está empregado num contexto tal que pode referir-se a

dois termos antecedentes distintos, isso provoca ambigüidade e constitui uma ruptura de

coesão. Na escrita, é preciso tomar cuidado para que o leitor perceba claramente a que termo

se refere o elemento anafórico.

Eis alguns exemplos de ambigüidade por causa do uso dos anafóricos:

O PT entrou em desacordo com o PMDB por causa de sua proposta de aumento de

salário.

No caso, sua pode estar se referindo à proposta do PT ou à do PMDB.

Page 73: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Para desfazer a ambigüidade, apela-se para outras formas de construção da

frase, como, por exemplo:

A proposta de aumento de salário formulada pelo PT provocou desacordo com

o PMDB.

O uso do pronome relativo pode também provocar ambigüidade, como na frase

que segue:

Via ao longe o sol e a floresta, que tingia a paisagem com suas variadas cores.

No caso, o pronome que pode estar se referindo a solou a floresta.

Há frases das redações escolares em que simplesmente não há coesão

nenhuma. É o que ocorre nesta frase, citada pela Professora Maria Tereza Fraga no

seu livro sobre redação no vestibular:

Encontrei apenas belas palavras o qual não duvido da sinceridade de quem as

escreveu.

Como se vê, o enunciado fica desconexo porque o pronome o qual não

recupera antecedente algum.

Page 74: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

TEXTO COMENTADO

Um arriscado esporte nacional

Os leigos sempre se medicaram por conta própria, já que de médico e louco

todos temos um pouco, mas esse problema jamais adquiriu contornos tão

preocupantes no Brasil como atualmente. Qualquer farmácia conta hoje com um

arsenal de armas de guerra para combater doenças de fazer inveja à própria

indústria de material bélico nacional. Cerca de 40% das vendas realizadas pelas

farmácias nas metrópoles brasileiras destinam-se a pessoas que se automedicam. A

indústria farmacêutica de menor porte e importância retira 80% de seu faturamento

da venda "livre"de seus produtos — isto é, das vendas realizadas sem receita

médica.

Diante desse quadro, o médico tem o dever de alertar a população para os

perigos ocultos em cada remédio, sem que, neces+sariamente, faça junto com

essas advertências uma sugestão para que os entusiastas da automedicação

passem a gastar mais em consultas médicas. Acredito que a maioria das pessoas

se automedica por sugestão de amigos, leitura, fascinação pelo mundo maravilhoso

das drogas "novas" ou simplesmente para tentar manter a juventude. Qualquer que

seja a causa, os resultados podem ser danosos.

Page 75: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

É comum, por exemplo, que um simples resfriado ou uma gripe banal leve um

brasileiro a ingerir doses insuficientes ou inadequadas de antibióticos fortíssimos,

reservados para infecções graves e com indicação precisa. Quem age assim está

ensinando bactérias a se tornarem resistentes a antibióticos. Um dia, quando

realmente precisar do remédio, este não funcionará. E quem não conhece aquele

tipo de gripado que chega a uma farmácia e pede ao rapaz do balcão que lhe aplique

uma "bomba" na veia, para cortar a gripe pela raiz? Com isso, poderá receber na

corrente sangüínea soluções de glicose, cálcio, vitamina C, produtos aromáticos —

tudo isso sem saber dos riscos que corre pela entrada súbita destes produtos na sua

circulação.

Medeiros, Geraldo. - .Veja, 18 dez. 1985.

Page 76: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

— Linha 1: já que — introduz uma justificativa para o que se disse na oração

anterior.

— Linha 2: e — liga dois atributos que ocorrem simultaneamente.

— Linha 2: um pouco — orienta no sentido da afirmação da propriedade. Opõe-se a

pouco. Se se dissesse "de médico e louco todos temos pouco", a orientação seria

no sentido da restrição da propriedade.

— Linha 2: mas — coloca um argumento mais forte em favor do que foi dito: os

leigos sempre se automedicam, mas hoje se automedicam mais. Há uma oposição

de intensidade entre as duas orações.

— Linha 3: tão ... como — é um marcador de comparação: o fenômeno da

automedicação jamais foi tão preocupante como o é atualmente. Embora se trate de

um comparativo de igualdade, o advérbio jamais nega a existência dessa igualdade

e põe à mostra o fato de que o fenômeno hoje é mais preocupante do que era antes.

— Linha 8: que — é um anafórico, cujo antecedente é pessoas.

— Linha 10: isto é — introduz uma explicação a respeito do que é a venda "livre"

dos produtos farmacêuticos.

— Linha 12: sem que — indica a exclusão de um fato que poderia constituir um

argumento contrário ao que se afirmou anteriormente.

— Linha 17: ou — marca uma relação de alternância (e/ou): todos os elementos

podem ocorrer, embora não simultaneamente.

Page 77: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

— Linha 25: E — introduz uma interrogação retórica que retoma a argumentação

desenvolvida anteriormente.

— Linha 30: tudo isso — é um anafórico e um afirmador de totalidade universal.

Retoma os elementos citados no contexto imediatamente anterior: todos os

elementos da "bomba" para cortar a gripe são perigosos.

Releia o texto e observe que uma consistente coesão textual é um poderoso

expediente de argumentação.

Page 78: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

EXERCÍCIOS

Uma leitura eficiente do texto pressupõe, entre outros cuidados, o de depreender as

conexões estabelecidas pelos conectivos e anafóricos. O texto que segue traz bons exemplos

desses elementos.

Pulo do gato

O grande perigo do jornalista que começa é o de cair na presunção sociológica. É claro

que, tratando da sociedade, o jornalismo é também um pouco de sociologia — mas a

sociologia deve ir para o lugar próprio, os artigos elaborados com mais tempo, os editoriais e

tópicos e, bem digerida em um texto fluido, a reportagem.

Jornalismo é razão e emoção. O texto apenas racional é frio, e só comunica aos que se

encontrem diretamente interessados no assunto. 0 texto deve saber dosar emoção e razão, e

é nesse equilíbrio que está o chamado "pulo do gato". Muitos jornalistas acreditam que o

adjetivo emociona. Enganam-se. Quanto mais despida uma frase, mais cortante o seu efeito.

"E amolou o machado, preparou um toco para servir de cepo, chamou o menino,

amarrou-lhe as mãos, fez-lhe um sinal para que ficasse calado, e rachou o seu corpo em sete

pedaços. 0 me-

15 nino P., de cinco anos, não era seu filho e F. descobrira isso poucos minutos antes,

quando discutia com a mulher." Leads como esse são sempre possíveis na reportagem de

polícia: não necessitam de adjetivos. As tragédias, como os cantores famosos, dispensam

apresentações.

Santayana, Mauro —. Imprensa: Jornalismo e Comunicação, ano 1, 11 : 34, São Paulo, Feeling Editorial,

1988. Nota: Lead é palavra inglesa, usada no jornalismo para indicar um pequeno texto de

apresentação de um texto maior.

Page 79: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Questão 1

a) Qual é o antecedente a que se refere o pronome relativo que na linha 1?

b) Na frase "O grande perigo do jornalista que começa é o de cair na presunção

sociológica", o o em destaque é um pronome demonstrativo. A que elemento do texto

ele se refere?

Questão 2

Nas linhas 2 e 3, o autor afirma que "o jornalismo é também um pouco de

sociologia".

O uso da palavra também faz pressupor algum outro significado além do que

está explícito no texto?

Questão 3

Na linha 3 ocorre o conectivo mas, que manifesta uma relação de contradição

entre dois enunciados. Como se explica essa contradição?

Questão 4

Na linha 6, ao dizer que o texto apenas racional é frio, o que pretende dizer o

autor com o uso de apenas?

Page 80: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Questão 5

Na linha 10, a expressão quanto mais manifesta uma relação proporcional entre dois

termos. Quais são os dois termos dessa relação proporcional?

Questão 6

Na linha 13, a quem se refere o lhe que ocorre em "amarrou-lhe as mãos" e "fez-lhe

um sinal"?

Questão 7

Na linha 14, está dito: "e rachou o seu corpo"; na linha 15 afirma-se: "não era seu

filho".

A que termos se refere o pronome possessivo seu em cada caso?

Questão 8

Nas linhas 15 e 16, afirma-se: "F. descobriu isso poucos minutos antes..."

a) O pronome isso faz referência a que elemento do texto?

b) O advérbio antes reporta a que tempo?

Page 81: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Questão 9

Em "Leads como esse", linhas 16 e 17, o pronome esse a que se refere?

Questão 10

Na linha 18, o conectivo como, ao estabelecer uma relação de comparação entre tragédias e

cantores famosos, indica uma semelhança entre ambos. Em que consiste essa semelhança?

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A título de exercício, para perceber a função e a importância dos conectivos na montagem

da redação, você tentará elaborar um texto de acordo com a seguinte proposta:

— apresentamos um parágrafo que contém uma dessas concepções controvertidas, isto

é, aquele tipo de concepção que não é aceita unanimemente, havendo quem lhe contraponha

muitas ressalvas;

— propomos a seguir um conectivo para o início de cada parágrafo: você desenvolverá a

dissertação, observando o valor desses conectivos e construindo cada parágrafo com o

conteúdo adequado, de modo que os três se encaixem de maneira concatenada e coesa.

Muitas pessoas afirmam que há liberdade de expressão quando o Estado não intervém

para controlar a informação ou quando a censura oficial não proíbe a livre circulação de

opiniões e do pensamento em geral.

Mas...

Assim...

Portanto...

Page 82: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Texto dissertativo – Resumo

Dissertação é um texto que se caracteriza pela defesa de uma ideia, de

um ponto de vista, ou pelo questionamento acerca de urn determinado

assunto.

Em geral, para se obter maior clareza na exposição de um ponto de

vista, costuma-se distribuir a matéria em três partes

a. introdução - em que se apresenta a ideia ou o ponto de vista que será

defendido;

b. desenvolvimento ou argumentação - em que se desenvolve o ponto de

vista para tentar convencer o leitor; para isso, deve-se usar uma sólida

argumentação, citar exemplos, recorrer a opinião de especialistas, fornecer

dados, etc.

c. conclusão - em que se dá um fecho ao texto, coerente com o

desenvolvimento, com os argumentos apresentados.

Page 83: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

Quanto à linguagem, prevalece o sentido denotativo das

palavras e a ordem direta das orações. Também são muito

importantes, no texto dissertativo, a coerência das ideias e a

utilização de elementos coesivos, em especial das conjunções

que explicitam as relações entre as ideias expostas. Portanto,

a elaboração de um texto dissertativo não está centrada na

função poética da linguagem e sim na colocação e na defesa

de ideias e na forma como essas ideias são articuladas.

Quando se lança mão de uma figura de linguagem, ela deverá

sempre ser utilizada com valor argumentativo, como um

instrumento a mais para a defesa de uma determinada ideia.

Roseli Princhatti - http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/1430968 (16/05/2009 - 16:30)

Page 84: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

COESÃO E ARGUMENTAÇÃO

O fato de o ato de escrever ser um momento em

que aquele que escreve se vê sozinho frente ao

papel, tendo em mente apenas uma imagem de um

possível interlocutor, faz com que haja necessidade

de uma maior preocupação em relação à coesão.

Em geral, o aluno não sabe até que ponto deve

explicitar o que tenta dizer para que se faça

compreender. Entretanto, o "fazer-se compreender"

é um ponto central em qualquer texto escrito; a

coesão deve colaborar neste sentido, facilitando o

estabelecimento de uma relação entre os

interlocutores do texto. O que se busca não é um

texto fechado em si mesmo, impenetrável a

qualquer leitura e sim algo que possa servir como

veículo de uma interação entre os interlocutores.

Há ainda mais uma questão em que se deve

pensar na consideração das especificidades da

modalidade escrita – a argumentação. É através

dela que o locutor defende seu ponto de vista. A

argumentação contribui na criação de um jogo

entre quem escreve o texto e um possível leitor, já

que aquele discute com este, procurando mostrar-

lhe que tipo de idéias o levaram a determinado

posicionamento. Dito de outra maneira, ao

escrever um texto o locutor estabelece relações a

partir do tema que se propôs a discutir e tira

conclusões, procurando convencer o receptor ou

conseguir sua adesão ao texto.

Não se pode traçar uma distinção absoluta entre

coesão e argumentação: a coesão garante a

existência de uma relação entre as partes do texto

que tomadas como um todo devem constituir um

ato de argumentação. As duas noções contribuem

para a constituição de um conjunto significativo

capaz de estabelecer uma relação entre o sujeito

que escreve e seu virtual interlocutor.

É próprio da linguagem seu caráter de

interlocução. A escrita não foge a esse princípio,

ela também busca estabelecer uma relação entre

sujeitos. O texto deve ser suficiente para

caracterizar seu produtor enquanto um agente, um

sujeito daquela produção, ao mesmo tempo em que

confere identidade ao seu interlocutor. O texto,

enquanto totalidade revestida de significados,

acaba sendo um jogo entre sujeitos, entre locutor e

interlocutor.

Page 85: Ist-Rio - Língua Portuguesa (Apresentação)

PERGUNTAS

1)Procure no texto expressões que

expliquem o significado das palavras

SUJEITO e INTERLOCUÇÃO.

2) Na produção de textos escritos, há uma

maior preocupação em relação à coesão.

Quais são as causas disso?

3) Qual a importância do "fazer-se

compreender" nos textos escritos?

4) Releia atentamente o primeiro

parágrafo e responda: qual deve ser a

finalidade perseguida pelo produtor de

textos escritos?

5) Qual a importância da argumentação na

elaboração de textos escritos?

6) Como se relacionam coesão e

argumentação?

7) Retire do texto passagens que explicam

a frase: "É próprio da linguagem seu

caráter de interlocução" (último

parágrafo).

8) Explique a passagem: "O texto, enquanto

uma totalidade revestida de significados...".

9) Explique o que você entende por "jogo

entre sujeitos".

10) Releia atentamente o texto e responda:

a) Qual a relação de significado entre os dois

primeiros parágrafos do texto? Há alguma

palavra particularmente importante para o

estabelecimento dessa relação?

b) Qual a relação de significado entre o

segundo e o terceiro parágrafo?

c) Qual a relação de significado entre o

terceiro e o quarto parágrafo?

d) Qual seria o esquema básico das idéias

expostas no texto e do relacionamento entre

elas?

11) Quando você produz textos escritos

exerce conscientemente seu papel de sujeito

num ato de interlocução? Comente sua

atitude nessas situações.