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CAPÍTULO 2 • PSICOLOGIA SOCIAL UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 4º PERÍODO 125 O processo de socialização: indivíduo, sociedade e cultura 2 Introdução Ao estudarmos o primeiro capítulo deste caderno, vimos que o foco da Psicologia Social é estudar o comportamento de indivíduos no que ele é influen- ciado socialmente. Estudamos que nós nos tornamos sociais quando nascemos, ou até mesmo antes, devido nossas condições históricas. Mas como isso acontece? Em todos os momentos da nossa vida, diante da nossa formação filogenética e ontogenética, somos influenciados pelos meios sociais. Então, não podemos dizer que o homem é um ser isolado. Somos seres individualizados e, ao mesmo tempo, coletivos, somos influenciados pela sociedade a partir das relações cultu- rais. Por isso, estudar o processo de socialização, os agentes socializadores e a cultura e o conceito de identidade social é de fundamental importância para você compreender os problemas sociais que ocorrem atualmente na nossa sociedade. Então, convido você a conhecer um pouco mais sobre nós mesmos! O propó- sito deste capítulo é levá-lo a compreender a relação indissociável entre indi- víduo, sociedade e cultura; e a entender o que é identidade social, a partir do processo de socialização do indivíduo. Para que você tenha um excelente êxito, especialmente neste capítulo, é preciso ter noção do que foi apresentado anteriormente, especificadamente o objeto de estudo da Psicologia Social, a partir de uma perspectiva histórico-so- cial, visto que ela é uma ciência que se preocupa em estudar a interação social que envolve o pensamento que também é social. Caso ainda tenha dúvidas sobre esse assunto, sugerimos que retome aos nossos estudos do capítulo um, e que faça uma pesquisa na internet sobre esse assunto no sitio <www.psicologia.com.pt>. A compreensão desses conceitos é importante, pois neste estudo, começaremos a ampliar nossas discussões a respeito da temática e perceberemos que, desde que somos concebidos, interagimos movidos por uma inadiável necessidade humana. Para compreender o porquê dessa necessidade, deveremos estudar os agentes socializadores que contribuem para o nosso processo de socialização e formação da personalidade, bem o conceito de identidade social. 2.1 O indivíduo: ser social Cada indivíduo, ao nascer, segundo Strey (2002, p. 59), “encontra-se num sistema social criado através de gerações já existentes e que é assimilado por

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  • CAPTULO 2 PSICOLOGIA SOCIAL

    UNITINS SERVIO SOCIAL 4 PERODO 125

    O processo de socializao: indivduo, sociedade e cultura 2

    Introduo

    Ao estudarmos o primeiro captulo deste caderno, vimos que o foco da Psicologia Social estudar o comportamento de indivduos no que ele inuen-ciado socialmente. Estudamos que ns nos tornamos sociais quando nascemos, ou at mesmo antes, devido nossas condies histricas. Mas como isso acontece?

    Em todos os momentos da nossa vida, diante da nossa formao logentica e ontogentica, somos inuenciados pelos meios sociais. Ento, no podemos dizer que o homem um ser isolado. Somos seres individualizados e, ao mesmo tempo, coletivos, somos inuenciados pela sociedade a partir das relaes cultu-rais. Por isso, estudar o processo de socializao, os agentes socializadores e a cultura e o conceito de identidade social de fundamental importncia para voc compreender os problemas sociais que ocorrem atualmente na nossa sociedade.

    Ento, convido voc a conhecer um pouco mais sobre ns mesmos! O prop-sito deste captulo lev-lo a compreender a relao indissocivel entre indi-vduo, sociedade e cultura; e a entender o que identidade social, a partir do processo de socializao do indivduo.

    Para que voc tenha um excelente xito, especialmente neste captulo, preciso ter noo do que foi apresentado anteriormente, especicadamente o objeto de estudo da Psicologia Social, a partir de uma perspectiva histrico-so-cial, visto que ela uma cincia que se preocupa em estudar a interao social que envolve o pensamento que tambm social. Caso ainda tenha dvidas sobre esse assunto, sugerimos que retome aos nossos estudos do captulo um, e que faa uma pesquisa na internet sobre esse assunto no sitio . A compreenso desses conceitos importante, pois neste estudo, comearemos a ampliar nossas discusses a respeito da temtica e perceberemos que, desde que somos concebidos, interagimos movidos por uma inadivel necessidade humana. Para compreender o porqu dessa necessidade, deveremos estudar os agentes socializadores que contribuem para o nosso processo de socializao e formao da personalidade, bem o conceito de identidade social.

    2.1 O indivduo: ser social

    Cada indivduo, ao nascer, segundo Strey (2002, p. 59), encontra-se num sistema social criado atravs de geraes j existentes e que assimilado por

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    meio de inter-relaes sociais. O homem, desde seus primrdios, conside-rado um ser de relaes sociais, que incorpora normas, valores vigentes na famlia, em seus pares, na sociedade. Assim, a formao da personalidade do ser humano decorrente, segundo Savoia (1989, p. 54), de um processo de socializao, no qual intervm fatores inatos e adquiridos. Entende-se, por fatores inatos, aquilo que herdamos geneticamente dos nossos familiares, e os fatores adquiridos provm da natureza social e cultural.

    Reita

    Lembre-se: personalidade um somatrio sincrtico, resultante da ao dos fatores hereditrios/genticos (constituio fsica, caracteres morfolgicos e fsico-qumicos) e dos ambientais (interao entre as pessoas e o mundo, que envolve os hbitos, valores, capacidades, aspiraes, etc.), ou seja, diz res-peito totalidade daquilo que somos (PISANI, 1996, p. 14). Ento, a nos-sa personalidade reconhecida diante do papel que ns representamos, por meio das nossas aes. E as nossas condutas produto de socializao.

    O homem um animal que depende de interao para receber afeto, cuidados e at mesmo para se manter vivo. Somos animais sociais, pois o fato de ouvir, tocar, sentir, ver o outro fazem parte da nossa natureza social. O ser humano precisa se relacionar com os outros por diversos motivos: por necessi-dade de se comunicar, de aprender, de ensinar, de dizer que ama o seu prximo, de exigir melhores condies de vida, bem como de melhorar o seu ambiente externo, de expressar seus desejos e vontades.

    Essas relaes que vo se efetivando entre indivduos e indivduos, indivduos e grupos, grupos e grupos, indivduo e organizao, organizao-organizao, surgem por meio de necessidades especcas, identicadas por cada um, de acordo com seu interesse.

    Vivemos em diversos grupos (familiares, de vizinho, de amigos, de trabalho) nos quais interagimos e crescemos. Os mais diversos grupos sociais inuenciam na vida do indivduo.

    O indivduo tem, para si, claras as caractersticas que o diferencia dos demais, como seus fatores biolgicos, seu corpo fsico, seus traos, sua psiqu que envolve emoes, sentimentos, volies, temperamento. Todavia, o indivduo, como objeto de estudo da psicologia social e da sociologia, considerado, segundo Ramos (2003, p. 238), da seguinte maneira:

    indivduo dentro dos seus padres sociais, vive em sociedade, como membro do grupo, como pessoa, como socius. A prpria conscincia da sua individualidade, ele a adquire como membro

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    do grupo social, visto que determinada pelas relaes entre o eu e os outros, entre o grupo interno e o grupo externo.

    Entende-se por grupos internos o grupo de famlia, da escola. So os gru-pos de igualdade de atitudes, de opinies. J os grupos externos correspon-dem a grupos no qual no pertencemos, como por exemplo, as famlias que passam nas ruas, que encontramos em clubes sociais e esportivos, etc.

    Ento, quando estudamos sobre o indivduo, percebemos a forma como ele organiza o seu pensamento, seu comportamento. Assim, iremos concluir que essa construo e organizao ocorrem, a partir do contato que tem com o outro. Por isso, temos a necessidade de estudar no s o indivduo enquanto ser social, mas este inuenciado por padres culturais diante da sociedade em que vive, pois a cultura fornece regras especcas. Assim, para compreendermos o indivduo e a sociedade, precisamos entender a cultura qual pertencemos.

    2.1.2 Cultura

    O indivduo, enquanto ser particular e social, desenvolve-se em um contexto multicultural, em que temos regras, padres, crenas, valores, identidades muito diferenciadas. Assim, a cultura torna-se um processo de intercmbio entre indi-vduos, grupos e sociedades.

    A partir do momento em que faz uso da linguagem, o indivduo se encontra em um processo cultural, que, por meio de smbolos, reproduz o contexto cultural que vivencia. Strey (2002) aponta que o indivduo tanto cria como mantm a sua cultura presente na sociedade. Cada sociedade humana tem a sua prpria cultura, caracterstica expressa e identicada pelo comportamento do indivduo. Segundo Strey (2002, p. 58), o homem tambm um animal, mas um animal que difere dos outros por ser cultural. Para ele, a cultura refere-se ao conjunto de hbitos, regras sociais, intuies, tipos de relacionamento interpessoal de um determinado grupo, aprendidos no contexto das atividades grupais.

    Assim, no podemos considerar a cultura como algo isolado, mas como um conjunto, integrado de caractersticas comportamentais aprendidas. Essas caractersticas so manifestadas pelos sujeitos de uma sociedade e comparti-lhadas por todos. Com isso, a cultura refere-se ao modo de vida total de um grupo humano, compreendendo seus elementos naturais, no naturais e ideol-gicos. Segundo Ramos (2003, p. 265), as culturas penetram o indivduo [...] da mesma forma que as instituies sociais determinam estruturas psicolgicas [...] o homem pensa e age dentro do seu ciclo de cultura.

    BenildeRealce

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    Partindo desses princpios, devemos considerar o indivduo como sujeito ativo no contexto cultural. Ele tem a liberdade de tomar decises, por meio de novas interpretaes. Ele recebe a informao e constri, criativa e coletivamente, um processo cultural voltado poca histrica atual que vivencia. Ele mesmo cons-tri suas regras, por meio das atividades coletivas, podendo alter-las, da mesma forma que afetado por elas. Podemos considerar a cultura como uma herana social, que transmitida por ensinamento a cada nova gerao.

    Portanto, devemos conhecer a realidade cultural do indivduo para compre-ender suas prticas, costumes, concepes e as transformaes que ocorrem na sua vida. E nessa realidade sociocultural que o indivduo se socializa. Sua personalidade, suas atitudes, opinies se formam a partir dessas relaes scio-cultural, em que controla e planeja suas prprias atividades.

    Assim, Savoia (1989, p. 55) garante que o processo de socializao consiste em uma aprendizagem social, atravs da qual aprendemos compor-tamentos sociais considerados adequados ou no e que motivam os membros da prpria sociedade a nos elogiar ou a nos punir. Da a necessidade de estu-darmos os agentes socializados do processo de socializao. Veja!

    2.2 Agentes socializadores do processo de socializao

    Bom! Vimos que ns fazemos parte de diversos grupos sociais e que por meio desses grupos que o nosso processo de socializao ocorre. Temos, ento, como agentes socializadores, de acordo com Savoia (1989), trs grupos: a famlia, a escola (agentes bsicos) e os meios de comunicao em massa.

    O primeiro contato que o ser humano tem, ao nascer, a famlia: primeira-mente, com a me, por meio dos cuidados fsicos e afetivos, e, paralelamente, com o pai e os irmos, que transmitem atitudes, crenas e valores que inuenciaro no seu desenvolvimento psicossocial. Num segundo momento, tem a interferncia da escola. Geralmente, nessa fase, o indivduo j traz consigo referncias de compor-tamentos, de orientao pessoal bsica, devido ao contato inicial com a famlia.

    J os meios de comunicao em massa so considerados como agente socializador, diante das inovaes tecnolgicas na atualidade histrica, porm nem sempre eles tm conscincia do seu papel no processo de socializao e na formao da personalidade do indivduo. Na famlia e na escola, existe uma relao didtica e, com a TV, a relao diferente, visto que a comunicao direta e impessoal (SAVOIA, 1989).

    O processo de socializao ocorre durante toda a vida do indivduo (SAVOIA, 1989); por isso, esse processo dividido em etapas:

    socializao primriat : ocorre na infncia com os agentes socializadores citados anteriormente, que exercem uma inuncia signicativa na formao da personalidade social;

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    socializao secundriat : ocorre na idade adulta. Geralmente, nessa etapa, o indivduo j se encontra com sua personalidade relativamente formada, o que caracteriza certa estabilidade de comportamento. Isso faz com que a ao dos agentes seja mais supercial, mas abalos estru-turais podem ocorrer, gerando crises pessoais mais ou menos intensas. Nesse momento, surgem outros grupos que se tornam agentes socializa-dores, como grupo do trabalho;

    socializao terciriat : ocorre na velhice. Pela prpria fase de vida, o indivduo pode sofrer crises pessoais, haja vista que o mundo social do idoso muitas vezes se torna restrito (deixa de pertencer a alguns grupos sociais) e montono. Nessa fase, o indivduo pode sofrer uma dessocia-lizao, em decorrncia das alteraes que ocorrem, em relao a crit-rios e valores. E, concomitantemente, o indivduo, nesta fase, comea um novo processo de aprendizagem social para as possveis adaptaes a nova fase da vida, o que implica em uma ressocializao.

    Todo esse processo de socializao que os seres humanos vivenciam est ligado cultura do indivduo, como tambm a uma estruturao de comportamentos, medida que aprendemos e os internalizamos. Essa estruturao e atribuio de signicados ocorrem por meio da interao com os outros. Isso faz com que crie-amos expectativas sobre esses comportamentos diante do grupo social, desenvol-vendo papis sociais, pois o processo de socializao pode ser visto tambm como um processo pelo qual cada indivduo congura seu conjunto de papis.

    2.2.1 Papis sociais

    Ao nascer, j temos alguns papis prescritos como idade, sexo ou posio familiar. medida que adquirimos novas experincias, ampliando nossas rela-es, vamos nos transformando, adquirindo outros papis que so denidos pela sociedade e cultura (SAVOIA, 1989). Em cada grupo no qual relacionamos, deparamo-nos com normas que conduzem as relaes entre as pessoas, algumas so mais sutis, outras mais rgidas. So essas normas que caracterizam essencial-mente os papis sociais e que produzem as relaes sociais (LANE, 2006).

    Reita

    Quais so os papis que voc adquiriu ao longo da sua histria de vida? Voc a mesma pessoas de quando nasceu? Fazer uma restrospectiva da sua histria pode ajudar a voc a elucidar essas questes, alm de reconhecer sua trajetria de vida, suas experincias que foram importantes no seu processo de socializao e formao da personalidade. Perceber que, ao longo do tempo, adquiriu vrios papis sociais, com novas responsabilidades tambm sociais, como por exemplo: os papis prossionais, os papis de estudante.

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    Entende-se que os papis que adquirimos nas nossas experincias e relaes vo designar o modelo de comportamento que caracteriza nosso lugar na socie-dade. Esses papis podem ser objetivos ou subjetivos. Em relao a isso, Savoia (1989, p. 57) assevera que

    Outro aspecto do papel social que ele pode ser objetivo aquilo que os outros esperam de ns, ou subjetivo -, como cada indi-vduo assume os papis de modo mais ou menos el aos modelos vigentes na sociedade. Quando esses dois aspectos no coin-cidem, podem transformar-se em obstculo na interao social.

    Isso signica que a objetividade e a subjetividade conguram-se como um processo dialtico de desenvolvimento da congurao social, dinmico, e est em constante interao na vida do indivduo, como ser histrico, capaz de promover transformaes sociais, visto que o desempenho do papel nunca solitrio.

    Porque desempenhamos vrios papis sociais (de lha(o), pai ou me, patro ou empregado), estes podem se cruzar por meio de uma situao divergente gerando conito de papis. Essas incompatibilidades podem ocorrer por diferentes motivos, como, por exemplo, o conito de valores, que Pisani (1996, p. 140) cita: um cientista pode perceber que seus valores religiosos no se coadunam com a experincia de laboratrio que precisa desenvolver. O que se percebe que o conito de papis pode variar quanto intensidade, diante da importncia que se d a cada papel de conito, o que pode provocar perturbaes na pessoa.

    Alm disso, dependendo do papel que o indivduo exerce, ele adquire um lugar na sociedade que denominado de status, que, juntamente com os papis sociais, determinam sua posio social (PISANI, 1996). Ento, papel o compor-tamento, a ao, enquanto que o status o prestgio que se adquire. Savoia (1989, p. 60) arma que o papel o comportamento que os outros esperam de ns e o status o que acreditamos ser. Nesse sentido, os papis que desempe-nhamos e os status que acreditamos ter, diante da sociedade, explicam nossa indi-vidualidade, nossa identidade social e conscincia de-si-mesmo que adquirimos, a partir das nossas relaes sociais. Assunto esse que abordaremos a seguir.

    2.3 Identidade social e conscincia de si mesmo

    Se algum perguntar a voc sobre quem voc, o que responderia? E se perguntassem sobre a sua identidade, como a deniria?

    Procure responder esses questionamentos, antes de dar continuidade a leitura do captulo. E a? Parou para pensar?

    Agora pergunto: j nascemos com a nossa identidade denida?

    Se procurar responder esses questionamentos, voc perceber que no to simples respond-los. Existem vrios

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    UNITINS SERVIO SOCIAL 4 PERODO 131

    fatores que precisamos discutir e conhecer. Ento, vamos mergulhar nessas pginas que nos ajudaro no somente a compreender os outros, mas a ns mesmos. Vamos l!

    Dar a resposta de quem sou eu fazer uma representao da nossa identidade. Mas preciso analisar como se d esse processo. Muitas vezes, tendenciamos responder a esse questionamento, falando das nossas caracte-rsticas fsicas, sexo, caractersticas da personalidade, signo, idade, prosso, etc. Ento, para entendermos esse processo de auto-conhecimento, a psico-logia construiu o conceito de identidade, que para Sawaia (2006, p. 121) tem valor fundamental da modernidade e tema recorrente nas anlises dos problemas sociais.

    Quando pensamos em conceito de identidade, logo pensamos em imagens, representaes, conceito de si mesmo, como se o indivduo se reco-nhecesse identicando traos, imagens, sentimentos, como parte dele mesmo. Mas esse conceito produzido a partir das relaes que mantemos com os outros (LANE, 2006).

    A partir do momento em que reconheo o outro, reconheo a mim mesmo como um ser nico particular. Essa diferenciao geralmente ocorre com a me, que o primeiro outro com quem temos contato. Nesse momento, por meio das relaes, comeamos a construir nossa identidade. E, medida que adqui-rimos novas experincias ampliando nossas relaes sociais, vamos nos transfor-mando, adquirindo novos papis.

    Ento a identidade algo mutvel em permanente transformao. um processo que se d desde o nascimento do ser humano at sua morte. Por isso, podemos dizer que a nossa identidade est em constante mudana. Lane (2006, p. 22) enfatiza que apenas quando formos capazes de [...] encontrar razes histricas da nossa sociedade e do nosso grupo social que explicam por que agimos hoje da forma como o fazemos que estaremos desenvolvendo a cons-cincia de ns mesmos. Isso nos faz entender que a conscincia de si pode alterar a identidade social, na medida em que interrogamos os papis que desempenhamos e suas funes histricas (LANE, 2006). Essa conscincia reconhecer quem sou eu enquanto indivduo, enquanto integrante de um grupo social, a partir das relaes do meu ser social. Isso s ser possvel, a partir do momento em que tenho o outro como referncia. Sawaia (2006) arma que essa conscincia no pode ser conscincia em si, mas para si e para o outro.

    E Myers (2000) rearma isso, quando diz que o autoconceito que o indi-vduo adquire de si mesmo decorre das experincias sociais vivenciadas, que inuem no papel que ele desempenha nos julgamentos sobre si e sobre outras pessoas e as diversidades culturais. Nesse sentido, percebemos que a cons-truo da nossa identidade se da por meio das relaes sociais, dos papis que desenvolvemos.

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    Saiba mais

    Para aprofundar um pouco mais a respeito dessa temtica, acesse o endere-o online: e leia o artigo: Identidades: questes conceituais e contextuais. Esse artigo traz um dilogo terico realizado por uma discente do curso de Psicologia e uma docente do Departamento de Psicologia Social e Institucional da Univer-sidade Estadual de Londrina, promovendo uma discusso a respeito da con-cepo da identidade ao longo da histria, como uma construo social.

    O indivduo constri a sua histria, como um ser individualizado e, ao mesmo tempo, social. Esse processo de transformao pode trazer angstia, dvidas o que pode gerar uma crise de identidade, diante da contradio que o indivduo vive, entre a necessidade de se padronizar para ser aceito em um grupo e a necessidade de se destacar como nico (SAWAIA, 2006). Essa crise geralmente percebida na transio da infncia para a adolescncia, em que o indivduo passa por diversas transformaes tanto fsicas, como psicolgicas e sociais. Mas isso pode ser supe-rado a partir da tomada de conscincia e das relaes que mantm com o outro.

    A objetividade e subjetividade so fundamentais para o processo de cons-truo da nossa identidade. A experincia humana se objetiva na realidade criando singularidades (hbitos, tradio) e as instituies so subjetivadas, por meio da introjeo pela socializao.

    A psicologia social crtica busca a compreenso da relao individual social, por meio dessa interao indivduo/sociedade, visto que a identidade do indivduo se d por meio dessa relao, considerando o indivduo com a sua histria particular como um ser de transformaes.

    A atividade do indivduo a sua realizao concreta, e a expresso da sua subjetividade diante da denio papeis exercidos por ele. Ela subjetiva (envolve afeto de um eu individual) e objetiva (contato com o mundo exterior). Nesse processo o indivduo constri o seu mundo, da mesma forma que constri a si mesmo, sua identidade, suas relaes, suas experincias vivenciadas.

    Para nalizar este captulo, importante que voc tenha compreendido que ns construmos o nosso eu, a partir do contexto social e cultural e que ns somos formados pelo processo de aprendizagem e de socializao, pela conscincia coletiva. O jeito como voc se expressa, comunica, anda reete o contexto social que vive ou que viveu. As interaes sociais que estabelecemos so denominadas pela cultura existente. Ento, podemos compreender que, por meio do estudo do processo de socializao, poderemos entender os fenmenos psicossociais do indivduo e da cultura presente na sua histria. Mas, tambm temos que lembrar

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    UNITINS SERVIO SOCIAL 4 PERODO 133

    que os padres comportamentais e as normas geralmente no se aplicam a todos os sujeitos de uma mesma sociedade. Essas diferenciaes esto vinculadas ao sexo, idade, s caractersticas individuais, s necessidades de cada indivduo, aos sub-grupos internos em toda sociedade. Cada cultura registra o indivduo, com a sua marca. Isso o inuencia na estruturao da sua personalidade que decorrente de uma combinao orgnica, dos padres de sua cultura e de suas experincias individuais em contato com o mundo fsico e social, como tambm inuencia na sua identidade social. Contudo, o indivduo um ser nico, possuidor da sua individualidade, porm, modelado pela cultura, pela sociedade que vive.

    Bom, voc j conhece como o indivduo se socializa, mas no podemos parar por a. Temos muito, ainda, a saber sobre a inuncia do ambiente social sobre os nossos comportamentos e atitudes. Ento, no prximo captulo, estuda-remos o quanto o ambiente social importante no nosso processo de aprendi-zagem e de socializao, visto que essas inuncias podem ser favorveis ou desfavorveis para o desenvolvimento humano. At l!

    Resumo

    Vimos, neste captulo, que o ser humano, na verdade, fruto das relaes sociais. Ao mesmo tempo em que ele individual, tambm coletivo, pois vive em um processo constante de transformao, desde o nascimento at sua morte, por meio de interaes grupais (famlia, vizinho, trabalho), sendo inuenciados por padres culturais. A cultura fornece regras, padres, crenas, etc., que so aprendidas no contexto das atividades grupais. Ento, a partir dessa realidade scio-histrica que nos socializamos. Por isso, tambm estudamos os agentes socializadores do processo de socializao que so: famlia, a escola e os meios de comunicao em massa. E medida que nos socializamos, que ampliamos nossas relaes, vamos tambm adquirindo novos papeis sociais e status que determinam nossa posio social na sociedade. A partir da compreenso desses fenmenos sociais, temos condies de explicar por que somos do jeito que somos e entender a nossa identidade social. Mas vimos que tudo isso depende da capacidade de termos conscincia de si-mesmo, que tambm adquirimos, a partir das relaes sociais e dos papeis que desenvolvemos.

    Atividades

    1. Comente a frase a seguir, com argumentos tericos, a partir do que foi estu-dado no captulo 1 desta apostila.

    O indivduo um ser inseparvel da sua cultura e da sociedade em que vive.

    Lembre-se: escreva sua resposta e socialize com os colegas; por meio da web-in-teratividade compartilhe suas consideraes com os professores da disciplina.

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    2. Analise as armativas que seguem, relativas aos agentes socializadores do processo de socializao.

    I. O processo de socializao ocorre at a fase adulta.

    II. Os agentes socializadores so: a famlia, a escola e os meios de comu-nicao em massa.

    III. Os agentes socializadores que mais exercem inuncia na formao da personalidade social so os agentes bsicos.

    IV. Os meios de comunicao de massa tm medida do alcance do seu papel no processo de socializao e na formao da personalidade do indivduo.

    Esto corretas, apenas, as armativas

    a) I e II c) II e III

    b) I e IV d) III e IV

    3. Analise as armaes a seguir.

    Os papis sociais que o indivduo desempenha e os status que ele acredita ter diante da sociedade explicam a individualidade do indivduo, a sua identidade e a conscincia de si mesmo.

    PORQUE

    Os papis que o indivduo adquire nas suas experincias e nas relaes vo designar o modelo de comportamento que caracteriza o seu lugar na socie-dade juntamente com os status que ele tambm adquire e que determina sua posio social.

    A esse respeito, possvel concluir que

    a) as duas armaes so verdadeiras, e a segunda justica a primeira.

    b) as duas armaes so verdadeiras, e a segunda no justica a primeira.

    c) a primeira armao verdadeira, e a segunda falsa.

    d) a primeira armao falsa, e a segunda verdadeira.

    4. A psicologia construiu o conceito de identidade que tem valor fundamental da modernidade e tema recorrente nas anlises dos problemas sociais, pois a identidade

    a) algo imutvel, mas importante para a compreenso dos comportamentos humanos.

    b) um processo isolado das aes coletivas que o indivduo mantm com o meio em que vive.

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    c) um processo que se d desde o nascimento at por volta dos 10 anos de idade, quando a personalidade est totalmente estruturada.

    d) um processo que est em permanente transformao e que contribui para o reconhecimento do eu enquanto indivduo e enquanto integrante de um grupo social, a partir das relaes sociais.

    Comentrio das atividades

    Ao realizar a atividade 1, por certo voc argumentou sobre a relao indisso-civel entre indivduo, sociedade e cultura, e sobre como somos seres ao mesmo tempo individualizados e sociais; que o homem um animal que depende de interao para receber afeto, cuidados, at mesmo para se manter vivo; que somos, do nascimento morte, inuenciados pela sociedade, pela cultura; entre outras coisas.

    J na atividade 2, se voc assinalou a alternativa (c) compreendeu o processo de socializao que ocorre durante a vida do indivduo, pois concluiu que esto corretas as armativas II e III: os agentes socializadores so a famlia, a escola e os meios de comunicao de massa, sendo que estes meios de comu-nicao, considerados agente socializador diante das inovaes tecnolgicas, no tm a medida do alcance de sua inuncia no processo de socializao e na formao da personalidade social do indivduo, uma vez que a comuni-cao direta e impessoal, enquanto que na famlia e na escola geralmente h uma relao didtica, por isso podem exercer maior inuncia na formao da personalidade social.

    Na atividade 3, se voc assinalou a alternativa (a) acertou e compreendeu a importncia dos papis sociais e dos status que so fundamentais para reco-nhecermos nossa identidade social. Adquirimos nossos papis sociais medida que nos relacionamos com os outros e ampliamos nossos contatos. Com isso, ganhamos status na sociedade que determina nosso lugar, nossa posio. Tudo isso nos ajuda a compreender nossa individualidade, nossa identidade e possi-bilita a tomada de conscincia de ns mesmos. Por isso, as duas armaes so verdadeiras e a segunda justica a primeira, o que torna as alternativas (b), (c) e (d) incorretas.

    Com relao atividade 4, esperamos que voc tenha assinalado a alter-nativa (d), o que demonstra que voc compreendeu a identidade social a partir do processo de socializao do indivduo. Certamente voc considerou que o processo identitrio algo mutvel de permanente transformao; que a identidade um processo social que se d por meio de interaes sociais que mantemos com as outras pessoas e ocorre desde o nascimento do indivduo at sua morte. Em vista disso, esto incorretas as alternativas (a), (b) e (c).

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    Referncias

    LANE, Silvia T. Maurer. O que psicologia social. 22. ed. So Paulo: Brasiliense, 2006.

    MYERS, David G. Psicologia Social. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

    PISANI, Elaine Maria. Temas de psicologia social. 2. ed. Petrpolis: Vozes, 1996.

    RAMOS, Arthur. Introduo psicologia social. 4. ed. Santa Catarina: UFSC, 2003.

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