Itinerante Nº 4

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Por Trilhos da República

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ais um tema incontornável... De forma posi-tiva ou negativa, ninguém !ca indiferente às comemorações dos 100 anos da República, pelo que aqueles dias de Outubro de 1910 e os tempos conturbados que se lhes seguiram signi!caram de mudança no país e na vida de cada um. A partir dessa data, nada !cou

como antes!A Itinerante não podia, pois, deixar de a assinalar, abor-

dando o tema nas vertentes do Conhecer, Caminhar e Conviver, para o ajudar a “sentir” o que ainda guardam os locais onde se deram alguns dos maiores acontecimentos relacionados com a República: vamos caminhar por Lisboa e Ericeira relembrando a data da sua implantação, por Vinhais na “reconquista monárquica”, por Fátima e Tancos evocando dois acontecimentos marcantes para o povo português duran-te a 1ª Guerra Mundial e por Braga no !nal da conturbada 1ª República.

Fazemos o enquadramento histórico do 5 de Outubro de 1910 pela mão do nosso consultor cientí!co – Lourenço Pereira Coutinho –, que nos ajuda a entender as razões que levaram à Implantação da República em Portugal. Trazemos--lhe ainda a história e estórias à volta de temas e pessoas liga-dos à República: entre outros, falamos-lhe sobre José Relvas, sobre o “regicida” de Sidónio Pais, apresentamos dois teste-munhos do embarque da família real na Ericeira e conversa-mos com Eduardo Nobre acerca da sua fascinante colecção.

Numa apresentação inédita, mostramos-lhe uma das pri-meiras bandeiras da República e contamos-lhe a sua história, até hoje desconhecida, que nos chega directamente do Porto, dos acontecimentos de 31 de Janeiro de 1891.

Não esquecemos um bom remate: 5 bons locais para conviver, descansar, recordar os últimos 100 anos e pensar nos próximos!

One more extremely relevant subject... Positively or negatively, nobody is indi"erent to the celebrations that mark the 100 years of the implantation of the republic and to what those days in October 1910 and the turbulent times that followed have meant in terms of the changes they brought to the life of the country and its people. From that day on nothing remained the same as before!#erefore Itinerante could not help but mark it, approaching this subject from the Knowing, Walking and Socializing angles to help you "feel" what the places where some of the major events connected with the Republic happened still keep: we will walk from Lisbon to Ericeira and remember the date of its implantation, we will go through Vinhais in the "monarchic re-conquest", we will stroll about Fátima and Tancos remembering two striking events to the Portuguese people during the First World War and through Braga at the end of the turbulent First Republic.We take a look at the historical framework of the 5th October 1910 guided by our scienti!c consultant Lourenço Pereira Coutinho, who helps us understand the reasons that led to the implantation of the republic in Portugal. We bring you stories that deal with subjects and people connected with the republic: among others, about José Relvas, about the man who assassinated Sidónio Pais, two accounts of people who witnessed the royal family embarking in Ericeira and an interview with Eduardo Nobre about his fascinating collection.In a unique presentation, we show you one of the !rst $ags of the Republic and tell you its story, a story that comes directly from Porto, from the events of January 31st, 1891.And for a nice ending, 5 good places to socialize, rest, remember these last 100 years and think about the next ones!

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Propriedade e Edição:Itinerante - Divulgação Histórica e Cultural, crl.NIPC 508951500Morada (Sede/Redacção):Rua Abranches Ferrão, 23-3º, 1600-296 [email protected]

Direcção:Nuno Gama Nunes

Redacção:José Constantino Costa (coordenador CONHECER) - [email protected] Gama Nunes (coordenador CAMINHAR) - [email protected] Vaz (coordenador CONVIVER) - [email protected] OliveiraDuarte Vilar Frederico GonçalvesMiguel Ângelo (cartoon)

Tratamento de imagem:Luís Ribeiro - [email protected]

Tradução:Casimira AlbuquerqueMaria João Batalha Reis

Joana OliveiraSusana Gama

Web Design:CoreFactor - IT Consulting & Design

Publicidade:[email protected]

Assinaturas:[email protected]

Impressão:

Rua Pêro Escobar, 212680-574 Camarate

Distribuição:Logista Portugal

Tiragem:8.000 exemplares

Periocidade:Quadrimestral

Registo ERC nº 125763Depósito Legal nº 301328 / 09ISSN nº 1647-4082

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CORREIO DOS LEITORES 04

MOMENTOS CAMINHEIROS 14

EU QUERO CONSERTAR MEU CADILLAC! 24

UMA BANDEIRA DA REPÚBLICA 26

À CONVERSA COM EDUARDO NOBRE 34

CARTOON 48por Miguel Ângelo

ESTANTE 32

ERICEIRA – TERRA DO EMBARQUE 28

CONHECER

E O CULPADO É O FURTADO! - UM CONTO SOBRE A REPÚBLICA 44por João Carlos Campos

O CINCO DE OUTUBRO 16por Lourenço Pereira Coutinho

JOSÉ JÚLIO DA COSTA — O "REGICIDA" DE SIDÓNIO PAIS 20por Alberto Franco e Paulo Barriga

A CORAGEM DE UM REPUBLICANO ILUSTRE 40por Joaquim Moedas Duarte

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DE VINHAIS À RIBEIRA DE LADRÕES E CIDADELHA53DO BOM JESUS A BRAGA57DE MONSANTO A FÁTIMA61DA GOLEGÃ A TANCOS65MICRO-TRILHO ERICEIRA70POR LISBOA COM A 1ª REPÚBLICA73DE ALVOR A PORTIMÃO77INFORMAÇÕES SOBRE OS TRILHOS82

PORTO SEGURO84

UM REPASTO COM TEMPO88UM CONVINCENTE BOBO DA CORTE86

BLOCO DE NOTAS93

A SIMPLICIDADE DA BOA COZINHA90UM BICENTENÁRIO VIVO89

CAMINHAR

CONVIVER

OS TEMPOS DA HISTÓRIA92 por Duarte Vilar

52 LOCALIZAÇÃO DOS TRILHOS

POR TRILHOS DA REPÚBLICA 50 por Lourenço Pereira Coutinho

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Ericeira N38º 57' 53.0'' W9º 25' 05.0''

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O SACO DAS NOVIDADES, MANTIDO SOB PRESSÃO, ABRE-SE E O TEMPO PARECE CURTO PARA AS ABARCAR

!"!#$%"&'()!*$+#*,"&por MARIA LETRA

!!"agora, se os senhores se calarem por um bocadinho, poderão ouvir o ruído da água a cair – diz o guia turístico, ao chegar com o seu grupo de turistas mesmo à beira das cataratas do Niagara.

Nas caminhadas em grupo podemos distinguir várias fases em termos de dinâmica de movimento, energia

global, interacção humana, etc. A todas estas fases conseguimos associar níveis de ruído diferentes. A ideia é que, se alguém conseguisse medir a evolução do ruído de vários grupos em caminhada, iria certamente obter curvas globamente muito semelhantes.

Após o encontro inicial em que os caminhei-ros se abraçam, festejando aqui e ali a chegada de todos e de cada um, a caminhada começa ale-gremente ruidosa. Todos têm muito que contar, as conversas cruzam-se, sobrepõem-se, curtas, rápidas – o saco das novidades, mantido sob pressão, abre-se e o tempo parece curto para as abarcar a todas. – “E agora, se os caminheiros se calarem um bocadinho, poderão ouvir a banda musical da vila que nos está a acompanhar até sairmos da vila". É nesta altura que nos lembramos da dita anedota. Daí o nome dado a esta fase inicial – a fase Niagara!

A certa altura, as pequenas novidades já foram todas contadas e sobram as novidades de peso, aquelas que se contam com pormenores repenicados, que se ouvem atentamente e que suscitam perguntas interessadas. Inva-riavelmente, em cada sub-grupo há alguém que chegou de uma viagem maravilhosa e cheia de peripécias, alguém que esteve envolvido nalgum processo complicado, alguém com alguma história que interessa a todos os outros... Esta é a fase Palestra que, felizmente para os habitantes das redondezas, é muito menos ruidosa que a fase Niagara.

Como que a necessitarem de um período “digestivo” de tantas novi-

dades e peripécias interessantes, os caminheiros vão-se fechando a pouco e pouco ao ruído humano, caminhando consigo próprios, apreciando a paisagem e os pequenos movimentos da vida selvagem que os rodeia, entrando naquela a que se pode chamar de fase Zen. A paz do caminho ajuda à introspecção: – “Qual o sentido da minha vida?”, – “Que relação poderei estabelecer entre o Princípio da Morfogénese Inorgânica Final e o Big Bang?", – "O que vou comprar hoje para o jantar?",– "Qual a ideia do Rui quando comprou aqueles óculos??". Nesta fase só um sonómetro muito sensível conseguiria medir algum ruído.

Enquanto os caminheiros mais intelectuais e introspectivos dão largas à sua actividade cerebral transcendente, outros há que aproveitam esta fase mais calma para apren-derem. Não há grupo que não tenha pelo menos uma pessoa que sabe imenso sobre algum assun-to, seja ele associado ao caminho – !ora, geologia, História – ou sem nada a ver com ele – equita-ção, energias alternativas, dissipação e equilibra-ção da coisa pública – por mais inverosímil. Basta escolhermos. –"Ora bem, hoje estou virado para a fauna. Fauna... Fauna.... Deixa cá ver... Claro!

A Isabel!", – "Não, a mim não me apetece fauna. Hoje acordei com vontade de saber quais os efeitos da reacção química do composto poliamídico dos cascos das motas de água na hiper-astrogénese dos bivalves... Dizes que o Gastão é expert?... Óptimo! Até logo!". É a fase Pedagogia que, para alguns sub-grupos, pode estender-se por quase todo o passeio. Em termos de ruído é semelhante à fase Palestra.

Outras fases se poderiam ainda identi"car em qualquer caminhada de grupo, embora não tragam novidades em termos de ruído. Destaca-se a fase Lamúria, por exemplo, em que os caminheiros, estafados e doridos, já deixaram de encontrar qualquer beleza na paisagem, qualquer interesse na mais mirabolante história de viagem, e que só conseguem pensar em duas coisas: o duche e o sofá! – "Aihhh", – “Ohhhh”, – “Uihhhh”.

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"#de Outubro de 1910, Palácio de Belém.

Era noite de gala. Pela primeira vez, um rei de Portugal recebia o"cialmente um Che-

fe de Estado do Brasil. Nas salas e corredores, o português adocicado misturava-se com o europeu, ouviam-se discursos da praxe e palmas de circunstância.

O ambiente nos salões de Belém e nas ruas de Lisboa era porém mais tenso que o habitual. Antes do começo do banque-te, o presidente do ministério aproximou-se do rei e informou--o de que a revolução ia sair para a rua nessa noite. O rei cumpriu o programa mas mandou apres-sar o jantar. Depois dos brindes,

despediu-se do Marechal Hermes da Fonseca, o recém-eleito presi-dente do Brasil, e voltou para as Necessidades.

Pelo caminho, procurou razões para dominar a ansiedade. D. Manuel visitava regularmente os regimentos da capital, conhecia a maioria dos seus o"ciais superio-res e não os imaginava a conspirar contra o trono. E sem o apoio do exército, a revolução, de que tanto se falara durante todo o verão de 1910, não poderia então passar de um acto desgarrado de meia dúzia, a que facilmente se poria cobro.

D. Manuel chegou ao Palácio das Necessidades em poucos minutos. Animava-o a expectativa de um telefonema eminente de Teixeira de Sousa, o presidente do

Ministério, trazendo-lhe a notícia do controlo da rebelião e do dese-jado regresso à normalidade.

Naquele momento, o Rei estava longe de imaginar que, dois dias depois, Portugal seria já uma República...

Para perceber o que se passou em Outubro de 1910, importa recuar até aos primeiros anos do regime saído da guerra civil que opôs liberais e absolutistas.

Entre 1834 e 1851, o país consumiu-se numa luta sem tré-guas entre dois modelos constitu-cionais: o que defendia um regime centrado no parlamento, que admitia o rei como "gura decora-tiva (modelo previsto na Consti-tuição de 1822), e o adepto de um regime baseado na "gura do Rei,

!e 5th October

Soon after the republic was proclaimed, a provisional government was formed that included some of the best known republican "gures of the propaganda times. Most of the country, who had witnessed the fall of the monarchy with amazement, was hoping to understand the changes that the new Republic would bring. But in spite of the good intentions of many, little changed for the better.

“Almost all the main republican promises of the propaganda times were not ful"lled. Universal su#rage went on being no more than a mirage. Against what was expected, electoral laws issued during the "rst phase of the Republic were restrictive and prevented the participation of monarchic, catholic and also socialist forces.Education for everybody was also a chimera and one of the areas where the republicans failed utterly. $e republic (and chie!y Afonso Costa) was

por LOURENÇO PEREIRA COUTINHO

Foi na Rotunda que se concentraram os revolucionários republicanos, no dia 4 de Outubro de 1910.PT/AMLSB/AF/FRA/000018

5 de Outubro de 1910, Praça do Município, em Lisboa. O povo aclama a proclamação da República.PT/AMLSB/AF/JBN/000444

Tropas monárquicas estacionadas no Rossio por ocasião do 5 de Outubro de 1910.PT/AMLSB/AF/LSM/000252

O des"le cívico, nos tempos "nais da Monarquia, era uma das formas de protesto favoritas dos republicanos. Reconhecem-se, nesta foto, Bernardino Machado, António José de Almeida, Augusto Soares e Afonso Costa.PT/AMLSB/AF/LIM/002934

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que exercia a função moderadora, e delegava no seu governo a exe-cutiva (modelo previsto na Carta Constitucional de 1826).

Depois de dezassete anos de permanente guerra civil, acabou por triunfar, em 1851, o modelo da Carta de 1826. Teoricamente, este conferia amplos poderes

políticos ao Chefe de Estado, in-terpretados de diferentes formas pelos cinco reis constitucionais portugueses.

Após 1851, a maioria dos defensores dum “parlamentarismo puro” integrou-se no regime da “Regeneração”. Durante décadas, esta monarquia liberal foi relati-vamente consensual, descontando algumas crises políticas e vários ataques ao Rei, quase sempre alimentados por jogos partidários.

A monarquia liberal da Carta possibilitou algum desenvol-vimento económico, aboliu a pena de morte, criou o primeiro código civil e tornou Portugal um país mais tolerante, onde existia liberdade de imprensa, liberdade política e religiosa.

O Partido Republicano Portu-guês (PRP) foi fundado durante esta fase, no ano de 1876. Na al-tura, os republicanos portugueses eram in!uenciados pelo positivis-mo, defendiam o municipalismo e eram vagamente iberistas. A República permanecia uma utopia di"cilmente concretizável, muito

menos através de uma revolução.

As décadas seguintes alteraram este estado de coisas.

Nos anos 90 do século XIX os horizontes nacionais tornaram-se mais sombrios. O Ultimato britâ-nico de 1890, resultado de uma má gestão dos equilíbrios coloniais, fez emergir teses catastro"stas e as inevitáveis arengas demagógicas de quem não tinha a responsabilidade de exercer o poder.

A isto juntou-se a crise "nanceira e a incapacidade de renovação do sistema partidário, preso aos dois partidos que iam alternando no poder: o regenera-dor e o progressista.

Foi neste período difícil que decorreu o reinado de D. Carlos, um soberano de espírito liberal

mas que não quis conformar--se com as debilidades de que o sistema dava mostras.

Fazendo uso dos seus poderes constitucionais, mantendo-se, pois, dentro da legalidade, o rei não só moderou como interveio no equilíbrio político. Na última fase do seu reinado, procurou uma

recomposição partidária que per-mitisse renovar o regime e decidiu apostar em João Franco.

Este projecto, que teve a opo-sição dos partidos “tradicionais” e do partido republicano, acabou no dia 1 de Fevereiro de 1908, quan-do D. Carlos e o príncipe Real D. Luís Filipe foram assassinados no Terreiro do Paço.

O Partido Republicano foi justamente o que mais bene"ciou com a crise política do "nal do reinado de D. Carlos. No início do século XX, os republicanos praticamente não tinham expres-são, nem eleitoral, nem junto da opinião pública. A partir de 1906, começaram a ganhar peso polí-tico, graças à adesão de antigos monárquicos, como Bernardino

NO INÍCIO DO SÉCULO XX, OS REPUBLICANOS PRATICAMENTE NÃO TINHAM EX-PRESSÃO. FOI A

PARTIR DE 1906 QUE COMEÇARAM A GANHAR PESO POLÍTICO, GRA-ÇAS À ADESÃO DE ANTIGOS MONÁRQUICOS, COMO BERNARDI-NO MACHADO, E AO REGRESSO À POLÍTICA DE TRI-BUNOS COMO ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA

O anticlericalismo foi uma das principais “bandeiras” dos republicanos portugueses. Aqui, Afonso Costa, na altura Ministro da Justiça, assina a Lei da Separação da Igreja do Estado.PT/AMLSB/AF/FRA/000021

Grupo de pessoas durante a Primeira República.PT/AMLSB/AF/ACU/001212

Teó"lo Braga e Eusébio Leão, nesta altura, respectivamente Presidente do Governo Provisório e Governador Civil de Lisboa, acompanhados de outras individualidades republicanas, passeiam pelo Largo de São Julião, em Lisboa. PT/AMLSB/AF/ACU/001231

O Directório do Partido Republicano Português, em Outubro de 1910. Da esquerda para a direita: Joaquim Ribeiro de Carvalho, jornalista, Marinha de Campos, o"cial da Marinha, José Barbosa, Eusébio Leão, José Relvas, Malva do Vale e Inocêncio Camacho.PT/AMLSB/AF/JBN/000447

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por ALBERTO FRANCO e PAULO BARRIGA

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!arvão é uma pequena localidade do concelho de Ourique, a meio caminho entre o Alentejo interior e o Alentejo litoral. Da estação de Garvão partiu, na noite inverno-sa de 9 de Dezembro de 1918, o lavrador José Júlio da Costa,

para cumprir em Lisboa uma missão muito especial.

Nos seus 25 anos, José Júlio tinha boa pre-sença, braço forte e língua a!ada. Mal entrou

no comboio, começou a desfazer no Presidente da República, Sidónio Pais. Que Sidónio era um talassa, que era cobarde, que se tinha rendido à padralhada… Estes comentários indispõem os restantes passageiros, mas o acusador não se cala, e até ao Barreiro atenaza os viajantes com os seus ditos.

A temeridade de José Júlio da Costa vinha de longe. Com 17 anos incompletos, encontra-mo-lo na Rotunda ao lado de Machado Santos e da arraia-miúda que implantou a República.

Anos depois luta em Moçambique, Timor e Angola, militar no exército português contra os alemães, cobiçosos das nossas possessões afri-canas. Actos de bravura no combate de Naulila, em 18 de Dezembro de 1914, valem-lhe um louvor na folha de serviços.

Regressa a Garvão, sua terra natal, inchado de vaidade e nostálgico do cheiro a pólvora no campo de batalha. Tão nostálgico que pede que o integrem no Corpo Expedicionário Portu-guês, para continuar na Flandres a luta contra o

José Júlio da Costa era guitarrista e cavaleiro tauromáquico amador.©Joaquim Pereira da Costa

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inimigo germânico. A pretensão é recusada. Revoltado, José Júlio sai do exército e casa-se com a sua conterrânea Maria do Rosário Pereira, mais velha que ele e dona de terras a precisarem de adminis-tração. O combatente de Naulila faz por esquecer a farda, vestindo a peliça de lavrador alentejano.

Mas o hábito não faz o mon-ge, e José Júlio não se prende ex-cessivamente ao trabalho. É ami-go da estúrdia, caçador, tocador de guitarra em feiras e desa!ador de perigos. Sem entender nada de toureio a cavalo, apresenta-se em 1917 numa tourada na feira

de Beja. Colhido violentamente, quase morre esmagado contra a trincheira. Outras vezes, o excêntrico mete-se com a sua motocicleta pelos caminhos mais acidentados, em velocidades que assustam.

José Júlio, já se disse, bateu-se nas barricadas da Rotunda, na massa anónima de militares e civis que garantiu a vitória do ideal republica-no. O alentejano de Garvão amava a República desde que, na mercearia da sua mãe, escutava os ferroviários da estação da Funcheira denegri-rem a realeza e reclamarem uma ordem nova, mais justa e fraterna. O !lho de Maria Gertru-des, Júlio, impregna-se de teorias anarquistas, positivistas e anticlericais. Lê Tolstoi, Darwin, Kropotkine, Malatesta… Dele dirá o jornalista monárquico e sidonista Rocha Martins que "se atochava de todas as extravagâncias pessima-mente traduzidas das bibliotecas vermelhas e se repastava no sumo acre e tóxico dos jornais revolucionários demagógicos".

O 5 de Outubro representa a concretiza-ção dos sonhos juvenis de José Júlio da Costa.

Adere incondicionalmente ao novo regime, preza António José de Almeida, Afonso Costa e outros fundadores da República. Nos seus escritos, compara Afonso Costa ao marquês de Pombal, "este expulsando os Jesuítas e aquele decepando a Igreja". Os ideais agigantam-se na sua mente impulsiva, capaz de amar e de odiar ao ponto mais extremo. A República, a trindade jacobina da Liberdade, Igualdade e Fraternida-de, triunfariam em Portugal – nem que para tal fosse necessário voltar a puxar pelas armas.

Oito anos decorridos sobre a proclamação re-publicana, a situação política tinha-se modi!ca-do sensivelmente. Em 5 de Dezembro de 1917, uma revolta militar encabeçada por Sidónio Pais tomou o poder e iniciou um novo ciclo do regi-me nascido a 5 de Outubro. A auto-denominada República Nova, che!ada por um "Presidente-

-Rei", queria-se livre dos vícios dos partidos tradicionais, de bem com a Igreja e com os sindicatos operários, que detestavam Afonso Costa – o "racha sindicalistas".

As paradas militares, com Sidónio garbosamente montado no seu cavalo, tornam-se um dos espectáculos favoritos dos lisboe-tas, que assim procuram esquecer o agravamento do custo de vida e a terrível epidemia que ceifa a vida de milhares de portugueses – a pneumónica.

Embora isolado em Garvão, entregue às guitarradas e às bravatas africanas, José Júlio da Costa não deixa de acompanhar os acontecimentos políticos. E, naturalmente, desilude-se com a derrocada do jacobinismo, com o exílio de Afonso Costa e com as procissões que voltam em força às ruas de Lisboa. Desloca-se à capital para con!rmar presen-cialmente o que lê nos jornais, "ver e ouvir os republicanos nos cafés de cavaco". O clima não podia ser mais diferente. Na Brasileira e no Gelo tinham acabado as discussões políticas e as noitadas conspirativas. "Nin-guém falava", escandaliza-se José Júlio. "A polícia, armada de espingardas, pistolas e cavalos--marinhos prendia as línguas, que só podiam dizer ‘presidente’ e ‘papa’".

O namoro entre o operaria-do e a República Nova não durou muito. O desatendimento das reivindicações e a inces-sante degradação das condições de vida levam a União Operária Nacional a marcar uma greve geral para o dia 18 de Novembro de 1918.

É no Alentejo que a greve regista maior ade-são. No concelho de Odemira esboça-se mesmo um movimento de ocupação de terras, com ori-gem na aldeia de Vale de Santiago, onde existia uma comunidade anarquista, a Comuna de Luz, fundada por António Gonçalves Correia, que difundia princípios que iam desde a justiça social até ao vegetarianismo e ao naturismo…

Durante quatro dias, largas dezenas de tra-balhadores rurais do Vale de Santiago ocupam propriedades e dividem o recheio do principal celeiro da localidade. Acossados por forças da GNR e do exército, os amotinados refugiam-se num local conhecido por Cerro Alto, onde são cercados pelas autoridades.

JOSÉ JÚLIO DA COSTA ADERE INCONDICIONALMENTE AO NOVO REGIME, PREZA ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA, AFONSO COSTA E OUTROS FUNDADORES DA REPÚBLICA.

Gonçalves Correia acreditava que o homem se libertaria pela bondade e pela partilha. ©Natércia Gonçalves Correia

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!oão da Silva… Nome vulgar! Quantos não terão já existido? Milhares, certamente muitos milhares! Mas poucos, seguramente muito poucos, devem ter enviado cartas para o Ministério da Guerra e recorrido aos tribunais, chegando mesmo ao Supremo Tribunal da Justiça, por causa de “avarias” no carro! É estranho... Parece mesmo impossível que um assunto tão trivial chegue a tão altas instâncias, mas aconteceu com um João da Silva e é dele e

da vida atribulada do seu automóvel que lhe vou falar! Se calhar até o conheceu... Se vivia em Lisboa, nos anos 20, 30 do século passado, pode mesmo ter recorrido aos seus serviços... Está curioso em saber a história do João da Silva? Óptimo.

Sei em que está a pensar: o que é que um pacato cidadão, pro-prietário e chau!eur do carro automóvel “Cadillac número S dois mil quinhentos e catorze”, residente na Rua da Rosa, em Lisboa, bom pai de família – concordará comigo que para ter 24 !lhos (não é gralha; é mesmo vinte e quatro!) tem que se ser um bom pai de família... – fez, ou melhor, o que é que lhe !zeram (ele é queixoso!) para recorrer até ao Supremo Tribunal da Justiça? Simples! Na opinião dele, enquanto prestava serviços relevantes à nação, estragaram-lhe o carro e ninguém assumiu o pagamento da avaria! É também relevante saber que este João da Silva, segundo a revista ABC de 17 de Maio de 1928, era “um dedicado servidor das ideias conservadoras” e, por isso, ao que consta, sempre que lhe cheirava a conspiração contra a 1ª República, ele e o seu Cadillac estavam na linha da frente...

Aconteceu, por exemplo, em Março de 1925! A referida revista ABC conta pormenorizadamente o que se passou: “Por muito atentas

que estivessem as sentinelas do Quartel General da 1ª divisão do exército naquela madrugada velada de 5 de Março de 1925, certa-mente não reparavam nas contínuas voltas que um automóvel de força ia dando em redor do casão das Necessidades. E o auto, guiado pelo velho pro!ssional do volante João Silva, (...) passara uma, duas, três vezes pela porta das armas. Até que foi quedar-se ao cimo da calçada, encoberto com o palacete onde morou, durante largo tempo, o ilustre diplomata americano Sir Coronel "omas Birch.”

Esta tentativa de golpe envolveu vários o!ciais monárquicos – o capitão João Gonçalves da Cal e os alferes Martins de Lima, Portugal da Silveira, Egas Mendes de Carvalho, Sebastião Fernandes e José Nazaré – que tentaram apossar-se do Quartel General da guarnição militar de Lisboa, mas, como sabe, não resultou: “saíram livremente e

foram tomar o auto – o Cadillac nº S 2514 – que continuava encoberto com o palacete onde estava instalada a Legação Americana.” (revista ABC, de 24 de Maio de 1928). Claro que não foi por ter falhado esta tentativa de golpe que João da Silva recorreu ao STJ... Até porque não aconteceu nada ao seu Cadillac!!

O “caso” passou-se alguns meses mais tarde. A 28 de Maio de 1926! Exacto, foi mesmo nesse dia! E porquê? Porque foi João da Silva, ao volante do seu Cadillac nº S 2514 que levou o general Gomes da Costa até Braga. A viagem decorreu sem incidentes, mas no regresso as coisas complicaram-se. No processo, Gomes da Costa, no documento que escreveu a 28 de Fevereiro de 1929, em defesa de

JOÃO DA SILVA ERA UM “DEDICADO SERVIDOR DAS IDEIAS CONSERVADORAS.”

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!!"de Janeiro de 1890. Um memorando do governo britânico exige que Portugal retire as tropas que se encontravam no vale do rio Chire. O Governo de Portugal cedeu ao Ultimato Inglês e as nossas pretensões de ocupar a região compreendida entre Angola e Moçambique, o célebre Mapa Cor-de-Rosa, foram por água abaixo. Venceu o plano inglês do Cabo ao Cairo à vontade portuguesa de

costa à contra costa.

O povo português !ca indignado. Os republicanos encontram na atitude da monarquia uma demonstração de fraqueza. Há mesmo

quem fale em traição nacional e culpe o rei de ser conivente com os interesses britânicos. É chegada a hora da mudança e a 31 de Janeiro de 1891, no Porto, rebenta a revolução.

A revolta tem início às 3 da manhã, com a reunião, no Campo de Santo Ovídio, dos regimentos de Caçadores 9 e Infantaria 10 e de uma companhia da Guarda Fiscal.

Os revoltosos descem a Rua do Almada, até à Praça de D. Pedro, a actual Praça da Liberdade. De todo o lado acorre gente. Da varanda do antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, Alves da Veiga proclama a Implantação da República.

Com fanfarra, foguetes e vivas à República, a multidão decide

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subir a Rua de Santo António, hoje Rua 31 de Janeiro, até à Praça da Batalha. Mas, no topo da rua, posicionada na escadaria da igreja de Santo Ildefonso, impedindo a passagem, estava a Guarda Municipal. As tentativas para que se junte à revolução são infrutíferas. A certa altura, ao que parece, vindo da multidão, ouve-se um tiro. A Guarda dispara vitimando militares revoltosos e simpatizantes civis. É o caos. Uma das balas da Guarda Municipal atinge o porta estandarte da bandeira verde-rubra “PÁTRIA E LIBERDADE”. A bandeira não pode ser abandonada, não pode ser capturada! Um dos revoltosos, José de Azevedo, comerciante no Porto, democrata e republicano, recolhe a bandeira, protege-a e guarda-a!

A !ag for the Republic

"e date is the 11th January 1890: a memorandum of the British Government demands that Portugal should withdraw its troops on the valley of the river Chire. "e Portuguese Government gave in to the English Ultimatum and our purposes of occupying the area between Angola and Mozambique, the famous “pink map”, failed. "e English plan from Cape to Cairo won over the Portuguese claim from the Atlantic to the Indian Ocean."e Portuguese are outraged. "e Republicans !nd the king’s attitude a sign of weakness. Some even talk of national treason and blame the king for conniving with the British interests. It’s time for a change and the revolution breaks out on the 31st January 1891 in Oporto ."e rebellion begins at 3 o’clock a.m. when the Cavalry 9 and Infantry 10 Regiments meet a Fiscal Guard unit at Campo de Santo Ovídio. "e rebels walk down Rua do Almada to reach Praça de D. Pedro, now Praça da Liberdade. People swarm all over the place. Alves da Veiga !nally declares Portugal to be a Republic from the balcony of the old Oporto City Hall.Amidst fanfare, !rework rockets and cheers to the Republic, the crowd goes up Rua de Santo António, now Rua 31 de Janeiro, towards Praça da Batalha. But, at the top of the street, on the staircase of Santo Ildefonso Church, the Municipal Guard was blocking the way. "e attempts to make them join the revolution were useless. "en a shot is heard seemingly from the crowd. "e Guard open !re and kill some rebellious military and civilian supporters. It’s chaos, one of the Municipal Guard’s bullet hits the standard bearer holding the green and red #ag “FATHERLAND AND FREEDOM”. "e #ag must not be abandoned, it mustn’t be captured! One of the rebels, José de Azevedo, a merchant in Oporto, a democrat and republican, picks up the #ag, protects and keeps it.

A Itinerante agradece a José Augusto de Azevedo Veloso, neto de José de Azevedo, a oportunidade que nos deu para mostrar esta bandeira, verdadeira relíquia e símbolo de um período conturbado da História de Portugal. Muito obrigado!

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5 de Outubro de 1910 – Por efeito da proclamação da República, embar-cou no porto da Ericeira a Família Real Portuguesa.Este facto só vem verdadeiramente narrado num folheto publicado pelo Sr. José Jacob Bensabat, o!cial

da Marinha de Guerra e que então era Delegado Marítimo na Ericeira. O título do referido folheto é «A Verdade dos Factos».Tudo o mais que, acerca do assunto, se publicou, principalmente na imprensa diária, vem recheado de fantasias.

Foi desta forma que Jaime Lobo e Silva regis-tou no livro “Anais da Vila da Ericeira” o que aconteceu a 5 de Outubro de 1910.Joaquim Veríssimo Serrão, no prefácio à edição da Liga dos Amigos da Ericeira, comemorati-

ocasião e fazer parte desse grupo.’– ‘O Dr. sabe que eu nunca fui político; servi a monarquia e agora sirvo a república.’– ‘Sim, mas isto para você, devido à situação, talvez seja vantajoso.’Depois de mais uma troca de palavras eu perguntei:– ‘A que horas é?’– ‘Às duas horas, em minha casa.’– ‘Está bem, a essa hora lá estarei.’À hora aprazada dirigi-me a casa do Dr. Figueiredo Cardoso; e quando lá cheguei, ao primeiro golpe de vista, vi algumas pessoas que estavam para fazer parte do grupo a fotografar, as mesmas pessoas que, quando El-Rei, tempos antes, havia vindo à Ericeira, em visita o!cial, eu havia visto seguindo o cortejo, desde o Jogo da Bola até São Sebastião, de chapéu na mão, dando vivas a El-Rei e à monarquia.

va dos 80 anos do embarque da Família Real, é também peremptório no que diz sobre o opúsculo de Bensabat: “(…) sem dúvida [é] a mais pungente e viva [fonte histórica] que !cou sobre o termo da monarquia.”É um facto. É um relato muito curioso e inte-ressante mas que não se restringe ao embarque da Família Real. Conta, por exemplo, como tudo se passou a propósito de uma fotogra!a que juntou os republicanos ericeirenses. Vale a pena transcrever:

“(…) Alguns dias depois da implantação da república, encontrando-me eu com Figueiredo Cardoso [republicano da velha guarda, então nomeado administrador do concelho de Mafra], este disse-me: – ‘Os republicanos da Ericeira vão tirar uma fotogra!a em grupo e você podia aproveitar a

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28

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29

Como é de supor !quei um pouco mais anima-do. O fotógrafo José Maria da Silva, que tinha a sua fotogra!a à entrada da vila, na estrada de Sintra, preparou tudo e tirou a fotogra!a ao grupo de que eu também !z parte. Despedi-me então de Figueiredo Cardoso e mais pessoas e retirei-me.Qual não foi o meu espanto quando vi nos jor-nais de Lisboa a reprodução da fotogra!a com isto escrito: ‘Grupo de revolucionários republi-canos da Ericeira.’.Fiquei desanimado e a razão é simples: Nunca na minha vida fui revolucionário, monárquico ou republicano, nem tão pouco, durante os 14 anos que residi na Ericeira, me constou que houvesse na localidade revolucionários deste ou daquele partido.”

António Batalha Reis (1901-1982), no dia 5 de Outubro de 1910, estava de férias na Ericeira. Ainda não tinha 10 anos, mas não se esqueceu do que viu. Muitos anos mais tarde, já reforma-do, registou em dezenas de blocos os momentos marcantes da sua vida. O embarque da Família Real foi um deles:

“Foi do mirante do Parque de Santa Marta que segui, sôfrego de curiosidade, o embarque real. Imagens tremendas que se me gravaram na retina imperecivelmente. O 5 de Outubro foi um acontecimento político que me perturbou muito, embora eu já estivesse um tanto prepa-rado, porque, depois do assassinato do Rei e do Príncipe, a coisa pública passara a ter para mim algum signi!cado, embora confuso. Já sabia que um rei podia morrer e que, nesse caso, era substituído por outro rei; já sabia que era pos-sível haver atentados malévolos e mortíferos; já sabia que podia haver desordem… mas a polícia repunha tudo na ordem – pelo menos

Origem: Arquivo-Museu da Santa Casa da Misericórdia da Ericeira

"El-Rei conservou-se sempre de pé dentro da barca até fóra do porto, e como houvesse um bom razo, a barca, em pouco tempo, estava fóra da pancada do mar." (in Bensabat)

Ericeira: Embarkment Land

On the 5th October 1910 António Batalha Reis (1901-1982) was on holidays in Ericeira. He was not yet 10 years old but he didn’t forget what he witnessed on that day. Many years later and already retired, he wrote down on several notebooks the signi!cant moments of his life and the embarkment of the Royal Family was one of them.“From the belvedere in Santa Marta Park I watched the royal embarkment with eager curiosity and those awesome images were for ever engraved in my mind. Although I was somewhat prepared for it, the 5th October was a political event that upset me much because, after the murders of the King and the Prince, public a$airs began to have a meaning for me, though a blurred one. I already knew a king might die and that he would then be replaced by another one, I already knew there might be wicked and murderous assaults, I already knew turmoil might happen…but the police would restore order – at least it had been so after the murder of King Carlos, the police had arrested lots of people and had killed the murderers – and life went on as usual.But I couldn’t accept that the King might be deported the same way Mme. Ferryt or Melle Pauline, my schoolmistresses used to throw out my naughty school mates. For me, the king was well-behaved and as untouchable as perfect. However, not all people thought like that...We were still in Ericeira that year when the news arrived: ’a revolution broke out in Lisbon’, ‘there are hundreds of dead people’, ‘the Royal Palace was bombed’. Excitement rose till next day it was rumoured that the Royal Family was in Mafra to embark in Ericeira. Actually the yacht D. Amélia hove to at sea since early in the morning but as near land as possible. What a commotion! Castro Pereira was asked for horses for envoys to

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Etapa 1. As ORIGENS, na zona do Palácio de Queluz

ITINERANTE: Comecemos pelo prin-cípio... Quando é que começou esta sua aventura de ser coleccionador?EDUARDO NOBRE: Há quase 50 anos! Uma vida a coleccionar... Nasci em Carregal do Sal, perto de Viseu, e aí com os meus 12, 13 anos, quando vinha do colégio, para cortar caminho, passava pelo estaleiro de um ferro velho e tudo aquilo me interessava. E assim comecei a usar a semanada que o meu pai me dava para comprar peças soltas de armas antigas. Recordo que uma das primeiras coisas que comprei... já não a tenho... foi uma coronha esculpida com uma cabeça de veado com olhos de vidro. Era só a madeira, sem fecharias e sem canos... Hoje sei que era parte de uma espingarda belga, muito exportadas

para a América do Sul que gostava das coisas muito enfeitadas, mas nessa altura era só um mistério fascinante! Depois veio para Lisboa...Vim para estudar História e trabalhar em rádio, mas um longo serviço militar com comissão em Angola interrompeu ambos. No regresso voltei à rádio e, mais tarde, a trabalhar como criativo numa agência de publicidade. Estive 30 anos na publicidade... Mas nunca deixei de adquirir peças. Como viajava muito visitava mercados e antiquários por toda a Europa. Bem diferente de Carregal do Sal... Há sempre um momento em que se passa de juntar a coleccionar. Quando é que sentiu esse momento? É um facto. O que distingue um do outro é o conhecimento e a paixão. Comigo, a paixão cresceu em adolescente, percorrendo tudo o que era casa de velharias e ferro velho. Estou a falar da década de 60... Nessa altura, havia homens, chamados ajuntadores, que percorriam as aldeias da Beira Alta, procu-rando tudo o que era antigo. Um dos mais activos passava pela quinta a mostrar-me peças. Adquiri-lhe uma carabina antiga que ele garantia ter pertencido ao famoso João Brandão, o terror das Beiras, personagem que estudei para melhor conhecer a arma. E esse é o momento; quando, para além da paixão, aparece o querer conhecer, o interesse em saber. Nessa altura deixa-se de ser ajuntador para se passar a ser coleccionador.E a arma do João Brandão?Também já não a tenho. Mas cheguei a visitar uma família que dizia ter a cama do João Brandão e eu con!rmei. A cama tinha a marca que fazia o parafuso do fecho quando a carabina, pendurada na cabeceira, oscilava.Já vamos falar sobre a sua colecção... Fica para a próxima etapa. Para si, o que é colec-cionar? Coleccionar, seja qual for a temática, é um acto de entrega, um empenhamento contínuo. Ver crescer uma colecção, em volume e em qualidade, identi!car, estudar, comparar... É tarefa de uma vida! Um coleccionador é um conservador de património. Então e o Estado? Qual é o papel do Estado?O Estado não pode tudo guardar e tudo adquirir. O Estado não tem verbas para asse-gurar o que já está à sua guarda, quanto mais para adquirir o que vai aparecendo... Portanto os coleccionadores, de certo modo, suprem o Estado porque vão preservando peças...As colecções do Estado são públicas, vêem-se... As colecções privadas estão

guardadas...Isso não é bem assim... É longo o historial de doações de colecções privadas e mesmo a sua transformação em museus públicos. Quando me pedem, empresto peças para exposições e foi o caso recente do Museu da República, do Palácio da Pena ou do Museu dos Coches. Neste, duas interessantes exposições, uma sobre a Rainha Dona Amélia e outra sobre o Rei D. Carlos, em 2008, no centenário do Regicídio, tinham peças minhas. Foi um pri-vilégio emprestar peças e, no caso da última, ser co-autor do respectivo catálogo.E depois há os meus livros... E esse é um dos aspectos com que eu valorizo a minha colecção: utilizo as peças para os ilustrar. Só em quatro títulos [Ver Biogra!a de Eduardo Nobre] estão cerca de 1500 peças... Esta é também uma forma de partilhar a colecção...Está na hora de partirmos para outra etapa...

Etapa 2. A COLECÇÃO, no Palácio das Necessidades

Ao pensar nas 1500 peças que estão nos seus livros, ao vê-lo transportar este quadro enorme, questiono-me sobre a dimensão da sua casa... A colecção está espalhada por vários locais... Mas o que eu tenho em maior quantidade são documentos e fotogra!as; entre 10 a 12 mil, que estão guardados em caixas ou pastas, o que rentabiliza o espaço... Mais difíceis de arrumar são os milhares de livros que dão suporte ao conhecimento técnico e histórico destas temáticas. Sobre armaria os razoáveis 2.000 títulos, sobre história de Portugal e de todas as Famílias Reais da Europa, pelo menos seis vezes mais...Tudo relacionado com armas, Casa Real e Família Real... Como é que nasceu o inte-resse nestas temáticas?Foi o estudo de peças de armaria, os homens que as construiram e usaram e as épocas que atravessaram que me levou a descobrir a História e a gostar de documentos históricos... Daí, os grandes temas da minha colecção serem a armaria antiga e os documentos e memorabi-lia referentes à Casa Real e à Família Real.Para mim, guardar objectos e documentos relacionados com a Casa Real e a Família Real foi uma forma de coleccionar iconogra!a representativa da História de Portugal. É uma linha dinástica que representa oito séculos de História de um país que é dos mais antigos da Europa. Provavelmente haverá muito poucos portugueses que desconhecerão quem foi D. Afonso Henriques ou D. Carlos I, mas quan-tos saberão quem foi o segundo presidente

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–!apaz! Chega aqui!Olhou à volta na

esperança que estivesse mais alguém! Estava sozinho...

— Sim! És tu! Anda cá!

Avançou receoso. Era Machado Santos quem o chamava. Reconheceu-o das foto-gra!as que tinha visto em jornais. Era um dos chefes dos republicanos. Estava com ar cansado, desiludido, o cabelo desalinhado. O dia estava quase a despontar.

— Conheces bem Lisboa? — Machado Santos aproveitou para se encostar a uns toros de madeira.

— Sim. — Respondeu num sussurro quase inaudível.

— Fala mais alto. Como é que te chamas?

Tudo tinha começado cerca da uma hora da madrugada do dia 4 de Outubro de 1910. No início correu como planeado: submeteram os Regimentos de Infantaria 16, em Campo de Ourique, e Artilharia 1, em Campolide mas logo depois surgiram os problemas; os apoios faltaram e não conseguiram atacar o Palácio das Necessidades, residência da Família Real, nem o Quartel do Carmo, onde estava a Guarda Municipal. A solução foi concentrar as forças e seguir para a Rotunda, no cimo da Avenida. Estavam aqui barricados desde as três da madrugada. Que decepção... Machado Santos sabia que o Quartel dos Marinheiros, em Alcântara, estava com a revolução mas, como as Necessidades conti-nuavam nas mãos dos monárquicos, estava a ser atacado e a única preocupação era a sua própria defesa. Tantas expectativas defrau-

dadas... As forças monárquicas estavam a concentrar-se no Rossio e a qualquer mo-mento iriam atacar. A situação começava a ser desesperada. Os o!ciais revoltosos tinham decidido abandonar a Rotunda e só Macha-do Santos !cou.

— Francisco, senhor.— Quantos anos tens?Tinha catorze anos. Mas era grande, olhos

vivos, matreiros. Já trabalhava; era marçano. Aprendera a ler e a escrever vendo os papéis que apareciam na mercearia e os jornais velhos que apanhava no regresso a casa. Era esperto e o Sr. Furtado, o merceeiro, percebeu isso desde logo e pouco tempo depois já o deixava aviar alguns fregueses.

!"#"$%&'()#"!"#"*%+,()#-.por JOÃO CARLOS CAMPOS

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Page 26: Itinerante Nº 4

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!%+0"$Por Lisboa com a Primeira República

Percurso urbano

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à Ribeira de Ladrões e Cidadelha

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113,2 km

4h30

520 m

Vinhais

Sim|Yes

Sim|Yes

Mapas/Maps IGeoE:Folha nº 23

7 10/ Rating

ITINERANTE

CLASSIFICAÇÃO

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53

Page 28: Itinerante Nº 4

*7)5%/.$%+)8)-%07%-$)*7)!$*-97+)7)#%*$*7!.$Este é um percurso emblemático da resistência Monárquica, com início e !m no local onde foi hasteada a bandeira azul e branca, em plenas comemorações do 1º aniversário da República, 5 de Outubro de 1911.O percurso inicia-se frente à Câmara Municipal de Vinhais, com a subida da encosta por onde Paiva Couceiro e as suas forças militares atacaram – Alto da Corujeira. Segue-se depois para Rio de Fornos, a partir de onde se acompanha a bonita Ribeira de Ladrões. No regresso, acompanha-se a Ribeira pela outra margem, sobe-se ao Parque Biológico e depois à Cidadelha, de onde se pode observar a bonita paisagem do alto dos seus 1021 m e visitar as ruínas de um antigo Castro. A partir deste ponto, o trilho faz toda a descida até Vinhais, no início por um bosque de carvalhos e outras espécies folhosas. Um percurso muito bonito no extremo do Parque Natural de Montesinho, que acompanha parcialmente os percursos marcados PR3 VNH e PR6.

! "A partir da Albergaria, vai-se para a primeira à direita, sempre a subir, vira-se à direita na bifurcação e depois à esquerda na seguinte. Segue-se por estrada de terra por entre castanheiros, com a Ribeira de Ladrões do lado direito. Depois de muito subir, segue-se para a direita num cruzamento de estradas de terra. Numa bifurcação em que a esquerda sobe e a direita desce, toma-se a direita. Passa-se a ribeira para a outra margem e começa-se a subir. Nas bifurcações seguintes segue-se à direita, direita e esquerda. No cruzamento segue-se em frente e à esquerda na estrada de alcatrão, até ao Parque Biológico.

# !O trilho inicia-se na Câmara Municipal de Vinhais, pela rua em frente. Sobe-se na direcção do Alto da Corujeira, segue-se pela esquerda depois da Escola Secundária, depois à direita quando se entronca com outra estrada, também de alcatrão. Passa-se a zona industrial pela esquerda e na curva da estrada à esquerda, segue-se em frente por estrada de terra a descer. Sempre em frente, chega-se à N316 e segue-se para a direita até Rio de Fornos.

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" $Volta-se um pouco para trás, até se tomar a estrada de terra batida à esquerda, frente a um pequeno parque de autocarros. Segue-se sempre em frente, pela estrada principal de terra batida, até ao Alto da Cidadelha, com o seu antigo Castro e a paisagem muito bonita.

$ #Volta-se um pouco para trás e segue-se pela primeira estrada de terra à direita, mais estreita e junto a um pinhal. Vai-se para a esquerda (quase 180º) quando se entronca com outra estrada. A partir daqui segue-se sempre até ao !nal o PR3 VNH que está marcado. Numa bifurcação segue-se para a direita e continua-se sempre a descer, por estrada de terra com muitas pedras soltas. Noutra bifurcação segue-se para a direita e continua-se a descer. A estrada passa a piso de alcatrão. Segue-se sempre em frente, até chegar à N103, onde se segue para a direita até ao nosso destino.

"e trail begins opposite the Town Hall of Vinhais. "en it proceeds to Rio de Fornos from where it runs parallel to the charming Ribeira de Ladrões. On the return we also walk parallel to the Ribeira but on the other bank. "en we go up to the Biological Park and to Cidadelha: from the top of its 1021 metres height we’ll enjoy the beautiful landscape and visit the ruins of an ancient hillfort (“castro”). From there on the trail goes through a wood of oaks and other plant species all the way down to Vinhais. Situated at the end of the Natural Park of Montesinho, this is a very beautiful trail that runs in part parallel to the trails PR3 VNH and PR6.

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TRILHO PREPARADO COM O APOIO DA ASSOCIAÇÃO MONTESINHO VIVO

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Os mapas apresentados são extractos das folhas da Carta Militar de Portugal, do Instituto Geográ!co do Exército.

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CASA DA VILA Edifício construído por volta de 1930, pelo Tenente Horácio de Assis Gonçalves, Secretário de Salazar. A fachada sul terá aproveitado parte do Castelo de Vinhais (muralhas com origem no século XII) para sua edi!cação. A Torre Este da muralha medieval foi adaptada a uma capela. Nesta casa funciona hoje o Centro de Interpretação da Natureza do Parque Natural de Montesinho."e building was put up around 1930 by Salazar’s secretary, Lieutenant Horácio de Assis Gonçalves. "e southern façade must have taken part of the Castle of Vinhais (walls dating from the 12th century) to its construction. "e eastern tower of the medieval wall was embedded in a chapel.

# EDIFICIO CÂMARA MUNICIPAL DE VINHAISO Edifício dos Paços do Concelho de Vinhais é o antigo Convento de Santa Clara, de Freiras Clarissas, que remonta a !nais do século XVI e foi restaurado em meados do século XVII. O convento foi extinto em 1879 e pouco mais tarde ocupado pela Câmara Municipal."e Town Hall of Vinhais is housed in the old Claretian nuns convent of Santa Clara. It was built in the late 16th

century, restored in the middle 17th century and become extinct in 1879; some years later it housed the Town Hall.

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$ CIDADELHAO Alto da Cidadelha situa-se a 1021 metros de altitude, sendo um miradouro para a linda paisagem circundante, onde se pode avistar Vinhais. Neste local encontram-se as ruínas de um Castro de grandes dimensões. Este povoado forti!cado assenta em estruturas proto-históricas, provavelmente da Idade do Bronze. O Castro terá sido abandonado a partir do século I/II d.C.High Cidadelha is 1021 metres high thus providing a

stunning view over the surrounding landscape and over Vinhais. "e site includes the ruins of a huge hillfort. "is forti!ed hamlet stands on protohistoric structures probably dating from the Bronze Age.

! SOLAR DE RIO DE FORNOS Solar do Morgado de Rio de Fornos, situado à entrada de Rio de Fornos. Este edifício de !nal do século XVII é um solar rural de dois pisos, cuja fachada apresenta uma pequena escadaria e janelas sem varanda. Hoje é a Hospedaria do Parque Biológico de Vinhais."e mansion house of the Morgado of Rio de Fornos, situated at the entrance of Rio de Fornos, is a two-#oor

rural mansion house dating back to the late 17th century. "e façade has a small staircase and windows without a balcony. Nowadays it is the inn of the Biological Park of Vinhais.

" PARQUE BIOLÓGICO VINHAIS O Parque Biológico de Vinhais está situado no Viveiro Florestal de Prada, no Perímetro Florestal da Serra da Coroa, em pleno Parque Natural de Montesinho e a cerca de 3 km de Vinhais. Este bonito parque permite um contacto muito especial com a natureza muito rica da região (fauna, flora e geologia) bem como com a história e cultura da região. Possui ainda três núcleos: Alto e Castro da

Cidadelha, Barragem de Prada e Charca da Vidoeira."e Biological Park of Vinhais is situated in the Prada Arboretum, in the forest perimeter of Serra da Coroa, right in the Natural Park of Montesinho and about 3 kilometres from Vinhais. "e Park has three nuclei: High Cidadelha and Hillfort, Prada Dam and Vidoeira Swamp.

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Os mapas apresentados são extractos das folhas da Carta Militar de Portugal, do Instituto Geográ!co do Exército, na escala 1/25.000, série M888

TIPO | Circular ou não circular.TYPE Circular or non circular.

Circular: que termina no ponto de partida.Circular: it starts and ends at the same place.

Não circular: que não termina no ponto de partida.Non circular: it does not end at starting point.

DIFICULDADEDIFFICULTY

Muito baixa | Very low

Baixa | Low

Média | Moderate

Avaliação do nível de di!culdade física atribuído, resultante da avaliação do conjunto de características do trilho que in"uenciam a progressão: distância, ascensão total, tipo de piso, duração do esforço.Level of physical di#culty resulting from the assessment of the trail’s features that may in"uence the walking activity: distance, total ascent, type of terrain, e$ort duration.

|

Alta | High

Muito alta | Very high

CARACTERÍSTICASFEATURES

Não aconselhável em tempo invernoso.Not advised in winter weather.

Não aconselhável em tempo muito quente.Not advised in very hot weather.

Com muita lama em tempo de chuva.Very muddy in rainy weather.

Escorregadio em tempo de chuva.Slippery in rainy weather

Pouco arborizado, pouca sombra.Few trees, little shade.

Obrigatório o uso de botas - piso difícil, irregular.Boots are compulsory – hard, irregular surface.Desaconselhado o uso de calções/ saias - passa-gem por vegetação muito densa.Shorts / skirts not advised – passes through very dense vegetation.Paisagem muito bonita.Superb scenery.

DISTÂNCIA | Distância total a percorrer (Km).DISTANCE Total walking distance (Km).

DURAÇÃO | TIME

Duração média total, em função da distância e da di!cul-dade de progressão (horas e minutos).Total time required according to the distance and the di#culty level (hours and minutes).

ASCENSÃO TOTAL | TOTAL ASCENT

Total da ascensão efectuada, acumulado de todas as subidas (metros).%e total cumulative ascent (metres).

“A descrição dos trilhos não pretende ser exaustiva e o percurso pode ser alvo de alterações, pelo que podem ocorrer erros ou omissões. Os trilhos deverão ser percorridos com o mapa, uma bússola, e se possível com o GPS. A Itinerante não assume qualquer responsabilidade legal ou civil pelos leitores que percorram os trilhos apresentados.”

Existência (ou não) de WC público no trilho.Public toilets available/not available along the trail.

Existência (ou não) de locais de abastecimento no trilho.Refreshments available/not available along the trail.

OUTROS SÍMBOLOSOTHER SYMBOLS

INÍCIO E FIM DO TRILHO COM COORDENADAS GPSSTART AND END OF THE TRAIL WITH GPS COORDINATES

Formato Lat/ Lon hdddº mm’ ss.s’’Sistema de referência: WGS 84

Nome do local onde o trilho começa/termina.Name of the place where the trail starts/ends./

Os trilhos para GPS poderão ser descarregados a partir do siteGPS trails may be downloaded from

www.itinerante.pt

Localidade mais próxima.Nearest town.

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',Ericeira, vila piscatória de reconhecida beleza natural, nas-cida do e para o mar, com o seu casario branco ornado de azuis fortes, é merecidamente conside-rada, desde há muito, como uma das “Mecas” nacionais onde, sem

receio, se pode comer o que de melhor o mar oferece.

Fins-de-semana, períodos de férias e festivos, esta antiga vila da costa Oeste, com foral desde 1229, enche-se de forasteiros em demanda dos muitos restaurantes à procura do bom peixe e marisco. Não que não se encontre igualmente boa carne originária de produtores locais, mas é sem dúvida a oferta piscícola a mais emblemática e que melhor caracteriza a gastronomia ericeirense.

A escolha do restaurante torna-se, de facto, difícil, havendo-os para todas as bolsas.

A nossa recaiu sobre o restaurante Canastra, que se situa na pequena marginal que bordeja

a vila junto ao mar, a poucos metros do Largo das Ribas, sobranceiro à actual Praia dos Pesca-dores, outrora conhecida por Praia da Ribeira. Desta praia partiu para o exílio a família real portuguesa, a 5 de Outubro de 1910, na se-quência da Implantação da República.

A Canastra está instalada num edifício térreo, dividindo-se por duas pequenas salas interiores, ocupando ainda, quando o tempo o permite, dois espaços de esplanada. Um deles, situado no passeio fronteiriço, tem uma deslumbrante vista panorâmica sobre a costa, incluindo aquela praia.

Este restaurante, à semelhança de outros existentes na Ericeira, tem o peixe como espe-cialidade, confeccionando-o na grelha a carvão, em pratos tradicionais da Ericeira ou ainda, por encomenda, em Caldeirada.

Se for apreciador de peixe não se vai arre-pender!

No dia em que o visitámos, a lista de peixes, enumerada e transmitida de viva voz,

compunha-se de belos exemplares de pregados, linguados, robalos, douradas, garoupas e salmo-netes, que podem ser escolhidos no expositor à entrada. Optámos, face ao tamanho dos exem-plares em presença, por experimentar, primeiro, um linguado e depois um salmonete, qualquer deles, ainda assim, pesando meio quilo.

Enquanto esperávamos que os peixes grelhassem nas brasas, veio à mesa uma tra-vessinha com uns entreténs para amenizar o estômago onde constavam, para além da tradi-cional manteiga empacotada, uns fresquíssimos queijinhos frescos (de leite de vaca) produzidos na região, uma pasta de atum de confecção caseira, dentro do género sem reparos, e uma saborosa e bem apaladada saladinha de búzios a saber a mar, que depois de cozidos e fatiados foram misturados com cebola, pimentos verdes e vermelhos, tudo bem picadinho.

Uns suculentos camarões cozidos, de tama-nho médio, que se deixaram comer num ápice, completaram as entradas.

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A Safe Haven

Located on the street next to the sea that borders the village of Ericeira, a few metres away from Ribas square and overlooking the Praia dos Pescadores (Fishermen’s Beach), formerly known as Praia da Ribeira (Ribeira Beach), the Canastra restaurant is a safe haven for !sh lovers. %is beach was the point of departure of the Portuguese royal family when they were forced into exile due to the implantation of the republic on October the 5th, 1910.Weather permitting you can have a relaxed meal at the tables on the sidewalk right opposite the restaurant while enjoying the magni!cent view of the coast.Like other restaurants in Ericeira, the specialty of Canastra is !sh. You can eat it grilled over charcoal, in Ericeira traditional dishes or also in stew (on request).%e list of !sh courses that the owner orally presents includes turbot, sole, bass, dory, grouper and mullet.Before the main course, you may savour a whelk salad or boiled shrimps.%e desserts are a happy end of the meal. With a friendly, helpful and e#cient service, it deserves a visit. Table reservation advised.

INFORMAÇÕES

Itinerante Rating :

8 10/ Restaurante CanastraRua Capitão João Lopes, 8A2655-295 Ericeira

Contactos / Contacts: Telefone: +351 261 865 367FAX: +351 261 863 330

Horário de Funcionamento/ Working Hours:12h - 15h e 19h - 23hEncerra às 4.as feirasCloses on Wednesdays

Preço Médio / Average Price: 25! - 30!

Pagamento / Payment:Multibanco e Cartões de Crédito

Coordenadas GPS / Coordinates:N 38° 57' 44.3"W 9° 25' 07.5"

O linguado e o salmonete, grelhados no ponto com mestria, com um simples corte nos lombos, deram provas duma textura e fres-cura ímpares que já antevíramos no acto da selecção. As suas carnes carnudas, a soltarem--se da espinha e da pele, foram um deleite para o palato.

A compor a festa, a qualidade dos acom-panhamentos, de que se realçam uma gostosa salada russa, com os legumes cortados em cubinhos muito pequenos, e uma aveludada açorda de ovas, onde estas não se notavam mas em que o sabor não enganava, complementa-ram com perfeição o ingrediente principal.

Nas sobremesas, a oferta, restrita, desdo-brava-se em mousses de maracujá, manga e chocolate, bolo brigadeiro e tarte de maçã com pinhões e corintos, tendo-se provado esta última com agrado.

A lista de vinhos, não sendo extensa, con-templa as marcas mais habituais, com preços convidativos.

Este pequeno espaço informal e acolhedor, que se aconselha reserva de mesa, com um atendimento simpático e deferente, merece uma visita com tempo e, de preferência, bom tempo para desfrutar, igualmente, da beleza da costa ericeirense.

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Foi há muitos anos a primeira vez que ouvi falar dos Alpes. Na altura, o meu pai, que partilha o nome com a personagem histórica a que agora faço referência, tinha em casa uma banda desenha-da que retratava as aventuras de Aníbal, o grande general de Cartago.

O que mais me fascinou, nas repetidas vezes que aquelas pranchas de banda desenhada passaram pelas minhas mãos e olhos, foi a épica travessia da Cordilheira Alpina que o famoso general e o seu exército de homens e elefantes empreenderam há vinte e quatro séculos atrás, a caminho de Roma.

Hoje, nos Alpes, os elefantes de guerra foram substituídos por mulas de carga e as demandas são outras; ainda assim, não pude escapar a esta me-mória de infância quando há cerca de três meses iniciei o circuito pedestre que contorna o maciço do Monte Branco.

Podem ser diversas as razões que nos fazem caminhar. Todas elas, felizmente, mais pací!cas que as de Aníbal Barca. Para mim, em Julho, foi o convívio e a amizade que me levaram a trilhar, por sete dias, caminhos de França, Suíça e Itália. Desta feita, depois de anos a relatar as minhas experiên-cias de caminhada aos que me são mais próximos,

desa!ei a minha irmã para que se aventurasse a percorrer o seu primeiro grande trilho.

O Circuito do Monte Branco, em parte devido às cinco passagens de montanha efectuadas a altitudes entre os dois mil e os três mil metros, em parte devido ao consequente desnível acumulado (somatório do número de metros de ascensão e descensão), está classi!cado para caminheiros com experiência. Foi por isso com alguma ansiedade de ambos - a natural, da minha irmã, e a minha pela dela - que nos propusemos a este clássico do trekking de montanha.

Desta vez não será tão importante descrever a pai-sagem, dizer como é realmente bela; pre!ro deixar

as fotogra!as conduzir a imaginação de quem as vê para que esta se sinta tentada a ir.

Direi apenas que concluída que foi a viagem, à semelhança de outros caminhantes, recordamo-la no seu antes, durante e depois: os preparativos, os conselhos transmitidos, as histórias e pequenas peripécias que então nos !zeram sorrir e que agora nos fazem rir. Sobretudo, regressámos dos Alpes com uma amizade, já de si grande, reforçada.

Experimente também: convide alguém de quem goste para uma caminhada desa!ante, num local especial. Vai ver que não mais esquecerá os mo-mentos vividos juntos.

Tour du Mont Blanc: O caminho da amizadepor ANTÓNIO [email protected]

António Cruz é um apaixonado por viagens de aventura, tendo percorrido a pé alguns

dos mais belos trilhos do mundo, entre eles, o Caminho Inca até Machu Picchu, na

Cordilheira dos Andes; o Circuito do Mon-te Branco, atravessando os Alpes Franceses,

Suíços e Italianos; as Ilhas do Norte e do Sul da Nova Zelândia; e subido ao cume do

Kilimanjaro, em África.

Tour du Mont Blanc.

Fotogra!as de António Cruz

GRANDES TRILHOS DO MUNDO

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