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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA IVONALDO LACERDA DA SILVA REPRESENTAÇÃO ICONOGRÁFICA EM DOIS MOMENTOS: Século XX e XXI em João Pessoa João Pessoa - PB 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

IVONALDO LACERDA DA SILVA

REPRESENTAÇÃO ICONOGRÁFICA EM DOIS MOMENTOS: Século XX e XXI em

João Pessoa

João Pessoa - PB

2010

IVONALDO LACERDA DA SILVA

REPRESENTAÇÃO ICONOGRÁFICA EM DOIS MOMENTOS: Século XX e XXI em

João Pessoa

Monografia apresentada ao Curso de Graduação

em Geografia da Universidade Federal da

Paraíba como requisito parcial para a obtenção

do título de bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Ms. Paulo Roberto de Oliveira Rosa

João Pessoa - PB

2010

IVONALDO LACERDA DA SILVA

REPRESENTAÇÃO ICONOGRÁFICA EM DOIS MOMENTOS: Século XX e XXI em

João Pessoa

Monografia apresentada ao Curso de Graduação

em Geografia da Universidade Federal da Paraíba

como requisito para a obtenção do título de

bacharel em Geografia, aprovada pela seguinte

banca examinadora:

_______________________________________________

Professor Ms. Paulo Roberto de Oliveira Rosa

(Orientador)

_______________________________________________

Professora Dra. Maria Nilza Barbosa Rosa - UNIPE

(Examinadora)

_______________________________________________

Professor Nivalson Fernandes de Miranda - IHGP

(Examinador)

João Pessoa-PB, ____/_____/2010

Aos meus pais, dedico

AGRADECIMENTOS

Ao grande Prof. Paulo Rosa por acreditar e confiar na minha capacidade e incentivar de

todos os meios (disponibilizando equipamentos e ferramentas para pesquisa em campo), fazendo

possível a concretização desta pesquisa.

A toda Equipe LABEMA que acompanhou e ajudou desde o início.

Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.

- Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? – Pergunta Kublai Khan.

- A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra – responde Marco -, mas pela curva do arco

que estas formam.

Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta:

- Por que falar das pedras? Só o arco me interessa.

Polo responde:

- Sem pedras o arco não existe. (Italo Calvino, 1998)

RESUMO

A cidade de João Pessoa que foi fundada em 1585 possui um enorme legado de edificações e

ruas históricas que vão desde o período colonial até a atualidade. O objetivo do trabalho é

realizar um exercício comparativo através de imagens obtidas em momentos distintos - Século

XX e as imagens obtidas em 2009, procurando entender as mudanças que decorreram durante o

tempo de uma imagem a outra. Para tanto foram utilizadas fotografias antigas de vários acervos,

trabalho de gabinete com bibliografia especializada, bem como, realizado trabalho de campo

onde procurou-se capturar imagens da mesma paisagem e mesmo ângulo. A partir do método

comparativo perceberam-se que houve um crescimento populacional e uma mudança na

dinâmica da cidade. Com as observações feitas foi possível estabelecer uma relação de

temporalidade sobre um objeto e que nos deu condições de estudar os processos de readequação

urbana e cultural.

Palavras-chave: Fotografia. João Pessoa. Temporalidade.

RESUMÉN

La ciudad de Joaõ Pessoa, fundada en 1585, posee un gran legado de edificaciones y calles

históricas que va desde el periodo colonial hasta la actualidad. El objetivo del trabajo es realizar

un ejercicio comparativo a través de imágenes obtenidas en momentos distintos -Siglo XX y las

imágenes obtenidas en 2009- buscando entender los cambios que ocurrieron en el tiempo de unas

imágenes a las otras. Para ello fueron utilizadas fotografías antiguas de varios acervos y talleres

con bibliografías especializadas, así como trabajo de campo donde se buscó capturar imágenes

del mismo paisaje y ángulo. A partir del método comparativo se percibe que hubo un

crecimiento de la población y un cambio en la dinámica de ciudad. Con las observaciones hechas

fue posible establecer una relación de temporalidad sobre un objeto, lo que nos dio condiciones

para estudiar los procesos de readecuación urbana y cultural.

Palabras-llaves: Fotografía, João Pessoa, Temporalidad.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Município de João Pessoa 22

Figura 2 – Expansão urbana em 1940 23

Figura 3 - Rua Nova, Rua Marquês do Herval e atualmente Avenida General Osório 25

Figura 4 - Rua Nova atual Avenida Gal. Osório em 1877 26

Figura 4.1 – Avenida Gal Osório (antiga Rua Nova) em 2009 26

Figura 4.2 – Avenida Gal Osório (antiga Rua Nova) em 2009 (colorida) 26

Figura 5- Maneira de se vestir nos anos 20 28

Figura 6 - Rua Nova, 1920 30

Figura 6.1 – Av Gal Osório, 2009 30

Figura 6.2 – Av Gal Osório, 2009 (colorida) 30

Figura 7- Rua direita Atual Duque de Caxias, com a antiga Ladeira do Rosário, atual

Guedes Pereira, no ano de 1929.

32

Figura 8 - Antiga Rua da Baixa, atual Duque de Caxias , 1942. 33

Figura 8.1 - Antiga Rua da Baixa, atual Duque de Caxias, 2009. 33

Figura 8.2 – Atual Rua duque de Caxias, (colorida)2009 33

Figura 9 – Fachada do palácio do governo, antiga igreja da Conceição 1878 35

Figura 9.1 – Palácio do Governo, 2009 35

Figura 9.2 – Palácio do Governo, 2009 (colorida) 35

Figura 10 – Coreto da Praça Comendador Felizardo leite, 1916, atual Praça João Pessoa 38

Figura 10.1 – Praça João Pessoa, 2009 38

Figura 10.2 - Praça João Pessoa, 2009. (colorida) 38

Figura 11 – Praça João Pessoa, 1934 40

Figura 11.1 – Praça João Pessoa, 2009 40

Figura 11.2 - Praça João Pessoa, 2009 (colorida) 40

Figura 12 – Aspecto da Praça da Independência, 1934 43

Figura 12.1 - Praça da Independência, 2009 43

Figura 12.2 - Praça da Independência, 2009 (colorida) 43

Figura 13 - Vista do Viaduto Dorgival Terceiro Neto sobre a Rua Miguel Couto. 2009 45

Figura 14 – Avenida Guedes Pereira, anos 50 47

Figura 14.1 – Avenida Guedes Pereira, 2009 47

Figura 14.2– Avenida Guedes Pereira, 2009 Colorida) 47

Figura 15 – Avenida Guedes Pereira, esquina com a Rua Duque de Caxias. Anos 50 49

Figura 15.1 – Avenida Guedes Pereira, esquina com a Rua Duque de Caxias, 2009 49

Figura 15.2 - Avenida Guedes Pereira (colorida) 49

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 11

1 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL.......................................................... 12

1.1 As categorias geográficas................................................................................ 12

1.2 A paisagem enquanto categoria de análise geográfica........................................... 13

1.3 A paisagem urbana................................................................................................. 14

1.4 Perspectiva histórica e a dinâmica na paisagem urbana de João Pessoa................. 15

1.4.1 Ruas da cidade de João Pessoa: passado e atualidade.......................................... 17

2 METODOLOGIA..................................................................................................... 19

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................. 22

3.1 João Pessoa o cenário hoje a partir da modernidade imagética............................. 22

3.2 As praças de João Pessoa em dois tempos............................................................ 37

3.3 As intervenções no traçado original da cidade....................................................... 45

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 50

REFERÊNCIAS........................................................................................................... 51

APÊNDICES................................................................................................................ 53

INTRODUÇÃO

A cidade de João Pessoa foi fundada pelos portugueses no ano de 1585, e desde então, foi

iniciada a sua formação a partir de ruas e edificações que seguiam o estilo da época. Com o

crescimento urbano e as alterações temporais, passou a agregar vários estilos arquitetônicos que

até os dias de hoje se mantêm como registro de épocas passadas, mesmo com a crescente

degradação. Através de imagens pretéritas e atuais, coletadas de diversos pontos da cidade,

podemos observar como eram no passado e como estão atualmente.

O traçado urbano guarda em si momentos da história da cidade, se um lugar se mantém

vivo, não é necessariamente porque ele está sendo preservado, ou tampouco porque quer

preservar a arte arquitetônica, ou a memória deste lugar, seja ele uma casa, uma rua ou uma

praça. Portanto, há que se preservar e conservar as mais singulares e, ao mesmo tempo, múltiplas

expressões artísticas ao nosso dispor. Pensando assim, este trabalho elege como objeto de estudo

algumas ruas e praças da cidade de João Pessoa.

As ruas e praças que foram escolhidas para esta pesquisa, mantêm a preservação na sua

arquitetura original ou sofreram pouca descaracterização. Sendo assim, foram utilizadas algumas

imagens no intuito de se comparar, sob o aspecto social e urbano, e ainda a estrutura física a sua

utilização através do tempo.

Dessa forma, procuramos entender as mudanças que decorreram durante o hiato do tempo

de uma imagem a outra. Podemos dizer como Koury (2001, p. 8) que o “sentido dos usos da

imagem enquanto objeto ou enquanto instrumento ainda é difuso no dia-a-dia daqueles que a

utilizam, necessitando de uma sistemática e de um balanço que provoquem uma discussão

teórico-metodológica e uma definição conceitual mais rigorosa”.

O registro fotográfico é considerado o espelho do real, como afirma Dubois (1993), ou

seja, é a representação mais perfeita ou mais próxima do real, dessa forma, as imagens obtidas

em tempos pretéritos assumem um reconhecido valor histórico sendo importante como registro e

assim permitem extrair delas informações que nos farão compreender o espaço urbano

construído, permitindo então uma análise para compreensão das relações na paisagem urbana.

1 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL

1.1 As categorias geográficas

A geografia geralmente se utiliza de categorias para fundamentar seus estudos e

pesquisas. Neste estudo as categorias geográficas utilizadas são: paisagem, espaço, lugar,

território, cidade.

O conceito paisagem é de extensão abrangente, envolvendo a concepção dos elementos

naturais e da busca do homem sobre o ambiente natural até a de ordem antrópica, mais centrada

na questão cultural e no sujeito observador.

Para Claude Levy Strauss (2000), a paisagem é tudo o que é visto pelo observador e este

lhe dá o sentindo que melhor lhe aprouver. Já a categoria espaço passa a ter concepções mais

amplas em que a Geometria faz suas principais alusões. O espaço apresenta sempre uma

característica particular das formas geométricas, que são definidas pelo relevo. Noutra

concepção, já envolvendo a questão de valores, em que o sujeito se apropria para lhe dar um

sentido econômico (SANTOS, 1999, p. 45). Segundo Tuan (1983), vivemos no espaço e este nos

dá a sensação de liberdade, como a planície nos dá o sentido de espaciosidade.

O conceito de lugar tem sido alvo de várias interpretações, o lugar vai muito além do

espaço físico e de paisagens repletas de elementos. Portanto, o conceito de lugar amplia-se

profundamente diante das novas visões desenvolvidas por aqueles que se debruçaram sobre ele

mediante as perspectivas marxistas e humanísticas da geografia recente. Expressando

singularidade e globalidade, e materializando a construção de identidades individuais e coletivas,

o lugar passa a representar muito mais do que um espaço que circunda o corpo

Yi-Fu-Tuan (1983) considera o lugar, como sendo a “segurança”, assim sendo os

planejadores evocam o sentido amalgamado pelo tempo dando um sentido de movimento e de

vida.

De acordo com Broek (1981, p. 16), a Geografia estuda dois tipos de lugares. Primeiro, o

lugar como área específica, singular, identificada como tal pelo nome que lhe é dado. Segundo, o

tipo de “lugar” como os planaltos, desertos e as áreas metropolitanas.

Já o termo Território refere-se ao espaço, transformado em lugar apropriado. De acordo

com Calmon (1982, p.179), o “território passa a ser a base física, [...] onde ocorre a validade de

sua ordem jurídica [...] tornando-se inviolável pela consagração religiosa, pelo culto dos mortos,

pelo santuário”.

Por fim o termo cidade, que passa a ser, junto com o meio rural, objeto construído no

espaço, criando lugares culturais. De acordo com Ferreira (1987, p. 105), cidade “é um complexo

demográfico formado concentração populacional, dada a atividades de caráter mercantil,

industrial, cultural”.

Broek (1981 p. 63) define a cidade, em termos de sua incorporação, como insatisfatório

nas condições presentes do crescimento urbano. Nem é a alta densidade demográfica um bom

critério de definição, porque em alguns subúrbios estadunidenses têm menos habitantes por

metro quadrado do que áreas agrícolas da China, por exemplo. As cidades podem ser

distinguidas segundo sua função predominante, como a de comércio, administração, transporte,

manufatura e serviços socioculturais como educação, recreação, centro médico, dentre outros

serviços.

1.2 A paisagem enquanto categoria de análise geográfica

Rougerie (1971, p. 7) anuncia que “uma paisagem constitui um todo, percebido através

de vários sentidos, e cujas relações são causais [...]”. Esse conceito pode ser complementado

seguindo os preceitos de Dolfuss. Segundo o autor, a paisagem “é formada de elementos

geográficos que se articulam uns com relação aos outros” (DOLFUSS, 1973, p. 13).

A organização dos elementos no espaço, em seu conjunto é vista como um coletivo

denominado de paisagem, nesse caso podemos então proceder da leitura de cada indivíduo que

está contido nesse conjunto para então podermos lhe dar um sentido.

A análise abordada neste trabalho estabelece uma relação de elementos não muito

visíveis contidos nas representações imagéticas, mas que, na sua insignificância podem ser

consideradas relevantes.

Os elementos contidos na paisagem nos permitirão destacar os detalhes e procedermos a

devida comparação, saindo então da análise para a analogia.

1.3 A paisagem urbana

A cidade é um espaço inventado e vem se aperfeiçoando desde a pré-história; é um

ambiente construído a partir de modificações estabelecidas na superfície e tem servido como

espaço e lugar de proteção e segurança efetivas para as populações que aí se estabelecem.

A cidade é fruto da experiência do homem em se fixar à terra, no entanto a cidade não se

restringe à idéia de abrigo, é também um ambiente propício à elaboração de uma intricada teia de

organização social. Essa é a grande diferença do espaço urbano para o espaço rural, pois o

ambiente rural traz uma concepção de bucolismo, ou ainda, do lugar que abastece de víveres os

habitantes da cidade.

A cidade de João Pessoa vem evoluindo-se e junto com as demais cidades do mundo vem

também inovando, tanto na sua organização quanto na sua estampa arquitetônica, formando

então uma paisagem peculiar e singular com recantos bucólicos ainda hoje.

Nesse sentido podemos fazer a relação com a obra A cidade e as serras, de Eça de

Queiroz (1994), depara-se com o diálogo entre Jacinto (citadino) e Zé Fernandes (homem do

campo). O autor imprime aí uma relação dialética em que a valorização da cidade moderna e do

campo é mostrada com suas nuances bucólicas, antagônicas à modernidade, inventada nas

cidades. Assim, pode-se ver a crítica que faz a personagem Zé Fernandes em relação à cidade.

É curioso! Mas a basílica em cima não nos interessou, abafada em tapumes e

andaimes, toda branca e seca, de pedra muito nova, ainda sem alma. E Jacinto,

por um impulso bem Jacíntico, caminhou gulosamente para a borda do terraço,

a contemplar Paris. Sob o céu cinzento, na planície cinzenta, a cidade jazia, toda

cinzenta, como uma vasta e grossa camada de caliça e telha. E, na sua

mobilidade e na sua mudez, algum rolo de fumo, mais tênue e ralo que o

fumeardum escombro mal-apagado, era todo o vestígio visível da sua vida

magnífica (grifei).

Então chasqueei risonhamente o meu Príncipe. Aí estava, pois a cidade, augusta

criação da humanidade! Ei-laaí, belo Jacinto! Sobre a crosta cinzenta da Terra

uma camada da caliça, apenas mais cinzenta! No entanto ainda momentos antes

a deixáramos prodigiosamente viva, cheia um povo forte, com todos os seus

poderosos órgãos funcionando, abarrotada de riqueza, resplandecente de

sapiência, na triunfal plenitude do seu orgulho, como Rainha do Mundo coroada

de Graça. E agora eu e o belo Jacinto trepávamos a uma colina, espreitávamos,

escutávamos e de toda a estridente e radiante civilização da cidade não

percebíamos nem um rumor nem um lampejo!... (grifei).

Hem, Jacinto? Onde estão os teus armazéns servidos por mil caixeiros?... Tudo

se fundiu numa nódoa parda que suja a Terra.

Sim, é talvez tudo uma ilusão... E a cidade a maior ilusão! (QUEIROZ, 1994,

76-77).

Esse diálogo apresenta o confronto entre a cidade e o campo, talvez numa luta hercúlea

de hierarquia que está mais no topo dos valores humanos, das inovações das invenções urbanas

ou no bucolismo do campo.

Depreende-se daí que a paisagem urbana torna-se um cenário com as nuances das

invenções humanas, e em muitos casos essas nuances são desprezadas pelo tamanho de sua

significância, gerando então o desprezo por elas. A invenção da cidade como espaço de liberdade

para a criação e novas invenções, nos permite observá-la e vê-la não apenas como um espaço

acinzentado, mas sim como um lugar que expressa emoção na sua criação.

1.4 Perspectiva histórica e a dinâmica na paisagem urbana de João Pessoa

A cidade como invenção não se encerra em uma limitação, quando isso ocorre é porque

existe um processo de perfeição e aí não há mais espaço para (re) invenções, pois já está pronta e

acabada. O ritmo constante de crescimento pode gerar a dissonância entre as estruturas sociais e

a estrutura urbana, portanto diminuir essa dissonância é essencial para que a cidade seja

considerada como um sistema complexo, onde há a dicotomia entre nascimento e

envelhecimento, coexistindo em proporções quase iguais, porém em alguns casos ainda é

possível ver a morte da cidade.

A história da cidade é uma história de invenções e reinvenções de vida, de estilos de vida,

de arranjos sociais, econômicos permeados pela política, por prostituição, pela violência e por

toda uma gama de corrupção. É também na cidade que ocorrem as relações culturais intrínsecas

às áreas urbanas, considerando que as residências são próximas umas das outras (ruas, bairros,

edifícios), ou ainda os pólos geradores de comércio, bancos, alimentação, ócio, saúde etc. Nesse

sentido a cidade é palco de atividades ligadas à imaginação humana, à produção e difusão da

estrutura simbólica que o ser humano produz.

Da cidade Parahyba, depois Felipéia da Nossa Senhora das Neves até a atual João Pessoa,

passou por várias modificações socioeconômicas. Como marca dessa situação tem-se o antes e o

depois da vinda da Família Real para o Brasil. Em 1810 a Paraíba é consagrada autônoma da

Capitania de Itamaracá, adquirindo assim capacidade de se autogerir. Desse momento em diante

a Paraíba fica vinculada à força de Pernambuco -, pois o sertão foi bastante vinculado à

Capitania de Itamaracá e à Zona da Mata - e ao o centro na cidade da Parahyba, que irradiando

forças para o interior dá condições para a criação da cultura paraibana.

Assim, a atual cidade de João Pessoa surge com a intenção de assegurar à Capitania da

Paraíba segurança, estabelecendo aí um sítio urbano na porção ao norte de Pernambuco,

protegendo-se de ataques. A cidade localiza-se cerca de 15 km a oeste do litoral, numa altitude

de 50 a 60 metros tendo ainda os rios Paraíba e Sanhauá como limites a oeste. O que também

corrobora a intenção de uma cidade protegida é que esse sítio foi estabelecido distante do mar e

da foz do rio Paraíba, o que demonstra a preocupação em manter-se como cidade guardada de

ataques.

A instalação da cidade de Parahyba não favoreceu a demarcação urbana, pois sua

principal intenção era definir o Estado da Parahyba como sendo independente de Pernambuco.

Assim a demarcação do sítio urbano, bem como a instalação de equipamentos básicos foi

deixada em segundo plano e só fins do século XVIII e início do século XIX a cidade passou a ser

denominada de Paraíba, constituiu-se como sendo um centro urbano a partir do parcelamento do

solo, desmembrado em glebas (sítios), posteriormente em lotes, comprados por senhores de

engenho, latifundiários, comerciantes e homens livres. A cidade começa então a tomar forma,

bairros surgem e ela prospera como centro urbano.

O assentamento da capital se deu pela instituição de um núcleo administrativo, político,

militar e religioso; talvez este o mais importante, pois se deve às ordens religiosas (Jesuítas,

Carmelitas, Franciscanos e Beneditinos), o principal elemento para o desmembramento e

povoamento da Parahyba.

A partir da venda de terras pela igreja é que a Parahyba obteve a posse sobre o solo, em

princípio formando sítios chamados de sesmarias de chãos. Provavelmente a igreja tenha

contribuído para o processo do parcelamento do solo, porque o sítio urbano e as cercanias eram

divididos entre as quatro ordens: ao Norte da Rua Direita pertencia aos Franciscanos, ao Sul aos

Jesuítas, a Leste estavam as terras pertencentes aos Carmelitas e a Oeste as terras que pertenciam

a Ordem Beneditina, ficando no centro deste quadrilátero as residências (sobrados) dos mais

abastados e ainda dos senhores de engenho que vinham em tempos festivos ou em período de

reuniões políticas.

Aos poucos, as pessoas comuns iam comprando ou arrendando parcelas do solo,

vendendo depois aos homens livres, aos pobres ou simplesmente aos de baixa renda, tendo início

a constituição dos bairros da capital.

Desta maneira a capital Parahyba adquire uma morfologia urbana peculiar, pois já nasce

cidade. Surgida para a defesa torna-se o centro administrativo em fins da Era colonial,

adquirindo características novas no período do Império e na República passa ser uma cidade com

todos os equipamentos urbanos necessários. A cidade de João Pessoa se organizou e se

modificou para manter o que é inerente à cidade, a proteção aos habitantes e permitiu a

organização do espaço enquanto dinâmica cultural, político e social em todos os períodos

históricos de alterações político-administrativas até a República.

1.4.1 Ruas da cidade de João Pessoa: passado e atualidade

Em uma leitura rápida das ruas do Centro de João Pessoa, observamos que ainda restam

exemplares da arquitetura colonial e imperial, devido à forte descaracterização ocorrida

principalmente ao longo do Século XX pelo advento das novas propostas urbanísticas

decorrentes da ruptura do antigo para o moderno. Porém, através de imagens mostradas em

períodos distintos, vamos acompanhar o desenvolvimento e mudanças de algumas das principais

ruas de João Pessoa.

Entr autores há controvérsias em relação à formação da rua da Areia. Alguns dizem que

ela foi a primeira rua da cidade, enquanto outros afirmam que ela foi a segunda ou terceira.

Horácio de Almeida (apud AGUIAR, 1993, p. 229) afirma que

No lugar da cidade, construiu-se uma capela provisória, situada na

colina, acima do forte, no mesmo local onde hoje se ergue a Catedral.

Entre a capela e o forte corria a ladeira que depois se chamou Ladeira

de São Francisco. Foi essa, com efeito, a primeira rua que teve a

cidade. A segunda foi aberta em frente à Catedral e tomou o nome de

Rua Nova.

Em contrapartida, Juliana Carvalho (1996, p. 59 apud TINEM) escreve:

A Rua Nova foi a primeira propriamente dita na cidade de João

Pessoa – embora haja controvérsia sobre esta matéria, ela foi o

primeiro espaço público linear continuamente edificado da cidade.

Sua formação marca o início do núcleo Cidade Alta.

De acordo com as afirmações acima citadas, a primeira rua de fato, com todas as

configurações e características urbanas, foi a Rua Nova. Mesmo com algumas intervenções

ocorridas durante os quatro séculos de existência, a sua configuração corresponde ao traçado

geral do espaço colonial brasileiro, herança da ocupação portuguesa, tais como: relativa

regularidade, afastando-se do tabuleiro de xadrez perfeito da ocupação espanhola, como também,

da irregularidade da cidade medieval.

2 METODOLOGIA

Para se estabelecer uma pesquisa é necessário partir do elemento motivador, daquele que

gerou a pesquisa, para isso se utiliza do rigor proporcionado pela metodologia, processo que

define como a pesquisa será feita e ainda quais as técnicas a serem utilizadas para que o trabalho

seja concebido.

Este trabalho é um exercício comparativo entre algumas imagens da cidade de João

pessoa no século XIX e XX e as imagens atuais, obtidas em 2009.

A imagem, neste estudo, nos “permite descobrir e percorrer diversos caminhos e nos

sintonizarmos com eles, podendo nos aproximar do nível da recepção crítica e do julgamento de

seu valor (ROSA, 2008, p.11). As imagens, portanto, ganham sentido no conjunto e objetivam

comunicar uma idéia. Assim, com base no aparato teórico-conceitual anteriormente apresentado,

acredita-se que é possível imprimir uma discussão, com base na análise que se propõe a seguir.

Para efeitos metodológicos, a análise é apresentada em quatro etapas:

A primeira diz respeito à observação e coleta de imagens que representam a cidade de João

Pessoa no século XIX e XX contemplando a configuração da paisagem.

a) A segunda etapa preocupa-se com as imagens em que se destacam suas respectivas

representações por meio da localização de determinados ângulos.

b) Na terceira etapa fotografam-se, quando possível, os mesmos lugares coletados

anteriormente procedendo-se à comparação entre as imagens antigas da cidade de João

Pessoa e as atuais, observando e destacando o que foi mudado em termos de espaço.

c) Propõe-se na quarta etapa um exercício analítico de Cidade sem passado, filme de

Michael Verhovem. Apesar de sua exibição em vídeo já contar com 20 anos, o filme não

perdeu sua força estética de leitura da relação espaço-imagem. Priorizar este filme

significa interpretar formas e imagens que se estruturam a partir dos elementos que

compõem a paisagem.

A representação de um dado fenômeno em um momento específico do tempo requer a

busca dos procedimentos de uma pesquisa documental, de modo que neste estudo o fenômeno

transformações urbanas, visto através das fotografias, ocupa um momento histórico e só tem

acesso a esse momento recorrendo-se aos arquivos.

Assim, para realização da pesquisa documental de logradouros públicos foi inicialmente

feita uma visita preliminar ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba -

IPHAEP, onde foi possível localizar informações técnicas (número de lote, quadra, casa, função

social etc) sobre os logradouros, previamente através de fichas de cadastro, processos judiciais

dos inquilinos, imagens antigas, alvarás de funcionamento, petição para reformas interna/

externa e demolição, plantas, croquis e mapas de áreas tombadas e da ocupação do uso do solo

urbano. Ainda no IPHAEP, foi verificado o acervo da literatura histórica dos lugares

selecionados, visando dar subsídio maior na confecção do trabalho.

Após a identificação das imagens pretéritas dos logradouros e documentos históricos

importantes, se utilizou de fotocópia dos documentos. Aqueles que estavam com o estado de

conservação crítico foram usadas câmeras fotográficas das marcas Nikon D60, Cásio Exilim 7.2

Mega Pixels e Olympus para capturar as imagens do acervo pesquisado.

Na identificação das imagens pretéritas dos logradouros com valores de significância para

o olhar fotográfico foram usados arquivos dos sítios da internet, o banco de dados do LABEMA

(Paulo Rosa), arquivos da Prefeitura Municipal de João Pessoa, catálogos e livros para uma

melhor análise e comparação em relação ao que mudou na forma como observada e capturada -

através de imagens - a cidade no passado e atualmente.

Foram selecionadas imagens em momentos distintos, tanto as que representam o passado

como as atuais; algumas voltadas exclusivamente para a arquitetura e outras com indivíduos

humanos, analisando-se o comportamento social do período em que a imagem foi obtida, tais

como as festas tradicionais,o estilo de vestimenta que era usada na época, a estrutura urbana em

que a cidade se encontrava, os serviços públicos, o comércio, o tipo de residências, a vida

cultural e diversão.

Com as imagens pretéritas previamente selecionadas, foram feitas saídas em campo para

registro dos logradouros das fotos antigas, preferencialmente do mesmo ângulo da foto original,

para uma comparação dos aspectos estilísticos da arquitetura, urbanos sociais e culturais e assim

inferir sobre as mudanças ocorridas através do tempo.

Nas imagens atuais os equipamentos usados foram: câmeras das marcas Canon Power

Shot A-430, Cásio Exilim 7.2 Mega Pixels e Nikon D60. Seguiu-se a mesma ordem do tipo de

fotografia do acervo; algumas mostrando o cotidiano da cidade, dando preferência às pessoas e

ao seu comportamento tais como a utilização do espaço urbano que é destinado na atualidade,

enquanto outras fotos, focalizando a riqueza arquitetônica e histórica do local.

Foram selecionados vários momentos e dias para fotografarmos determinados locais. Em

alguns, foram em dois (2) momentos: quando não havia pessoas (horário não comercial), carros

que pudessem interferir no objeto fotografado e em momentos que havia pessoas e carros para

fazer uma correlação ao tipo de transporte, comportamento social e uso do solo urbano que

existia no passado e o que há na atualidade.

Nas imagens pretéritas as aéreas que foram encontradas nos acervos pesquisados, como

não havia disponibilidade de um transporte aéreo, a solução encontrada para compensar foi

capturar imagens da cobertura dos edifícios mais altos da região central, que ofereceram vista

panorâmica para o objeto de pesquisa. Para as imagens recentes ficarem com os ângulos

semelhantes às originais, utilizamos recursos que os equipamentos de última geração

proporcionam, juntamente com softwares que existem disponíveis na atualidade, lembrando que

a manipulação foi efetuada apenas em relação à saturação, cor, brilho, contraste e corte. Não

intervindo diretamente sobre a imagem.

Outro aspecto de relevante importância em um trabalho de cunho cultural é a história do

coletivo visto e contado individualmente, ou seja, a história oral transmitida pelas pessoas que

participaram dos eventos pesquisados. Na conversa com os moradores antigos dos locais

pesquisados procuramos manter o assunto relacionado ao que era no passado – tipos de

frequentadores, como utilizam o local, os costumes da época – e o que é atualmente, assim tem-

se uma visão do lugar de quem ali vive. Ou seja, uma visão diferente daquela que foi mostrada

nas imagens, uma visão de dentro para fora e não ao contrário, diferente do que é geralmente

mostrado.

Neste estudo o filme Cidade sem passado, de Michael Verhovem entra como pano de

fundo, aproveitando-se a passagem de um momento (sem cor) para o outro, a partir da inserção

de cores. O filme se inicia em tons de cinza, porém quando a personagem faz o salto, tornando-

se adulta e com forte obstinação para dar prosseguimento à pesquisa, o filme apresenta-se em

cores.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 João Pessoa o cenário hoje a partir da modernidade imagética

A política do Estado da Paraíba fragmentou seu território em 223 municípios. O

município de João Pessoa (Figura 1) ficou com pouca área rural, praticamente não há o espaço

de produção rural, pois a mancha urbana foi crescendo e a cidade, como não tem vocação

agrícola, sempre se viu em meio às questões administrativas. Essa mancha ia tomando conta da

pequena área que foi estabelecida como município gerando assim um lugar com a modernidade

urbana e valorizando o bucolismo do campo. Possivelmente saudades de algo que não conheceu

efetivamente.

Figura 1 – Município de João Pessoa

Fonte: SEPLAN, PMJP, 1998

A cidade de João Pessoa já chega hoje ao mar, porém na sua história ela veio das

margens do rio Sanhauá/ Paraíba a Oeste, subindo das margens do rio na planície flúvio-marinha

até os tabuleiros onde os primeiros bairros foram assentados e onde se encontra a Lagoa Sólon

de Lucena numa pequena depressão, depois seguindo para Leste. Em 1940 a cidade já tinha

avançado muito, conforme está apresentado na planta notificando-se as projeções de vias e

bairros como o da Torre (Figura 02).

Figura 2 – Expansão urbana em 1940

Fonte: Acervo da PMJP, 2007

Rosa (2008, p.17) observa que “A cidade de João Pessoa como outras cidades brasileiras

se beneficiam de ter sobre seu solo áreas de construções seculares ou somente com construções

relevantes à memória do povo, ou seja, são bens culturais materiais ou tangíveis”. Sendo assim,

as áreas relacionadas ao Centro Histórico da cidade compõem um dos redutos de grande valor

histórico/ cultural como ruas que ainda preservam os traços do passado, juntamente, com as suas

vetustas edificações.

A primeira rua que surgiu em João pessoa, de fato, com todas as configurações e

características urbanas é a Rua Nova. Mesmo com algumas intervenções ocorridas durante os

quatro séculos de existência, a sua configuração corresponde ao traçado geral do espaço colonial

brasileiro, herança da ocupação portuguesa, tais como: relativa regularidade, afastando-se do

tabuleiro de xadrez perfeito da ocupação espanhola, como também, da irregularidade da cidade

medieval.

Desde a sua criação, a Rua Nova mudou de nome; no Período Republicano

homenagearam o gaúcho a General Manuel Luis Osório que participou de diversos conflitos

armados, passando a ser chamada de Rua Marquês do Herval – Título nobiliárquico de Osório –

Passou a ser chamado de General Osório (Figura 2).

Rua Nova

Figura 3 - Rua Nova, Rua Marquês do Herval e atualmente Avenida General Osório

Fonte: Google Earth, 2009

Em 1877 a Rua Nova não possuía pavimentação, o urbanismo e a infra-estrutura em

relação à atualidade era precária. A mudança só veio ocorrer no início do Século XX quando a

Cidade Alta continuava a ser ocupada e valorizada pela classe média (Figura 3).

Figura 4 - Rua Nova atual Avenida Gal. Osório em 1877.

Fonte: Acervo PMJP

Figura 4.1 – Avenida Gal Osório (antiga Rua Nova) em 2009

Data: 2009

Figura 4.2 Avenida Gal Osório (antiga Rua Nova) em

2009 (colorida)

Com calçadas largas no seu trecho principal, a Rua Nova (figura 4) foi palco de

várias mudanças desde a sua abertura. Um fato social que vem acontecendo há muitos anos é a

famosa festa da Padroeira da Cidade, conhecida como a Festa das Neves, que ocorre sempre fins

do mês de julho e vai até o dia 5 de agosto, data que coincide com o aniversário de fundação da

cidade. Outro acontecimento que marcou a rua foi que, na época da grande seca do ano de 1877

as calçadas que ficavam próximas do Mosteiro de São Bento, ficaram ocupadas por centenas de

flagelados que esperavam por socorro.

Na cidade de João Pessoa, as pessoas sempre deram muito valor à religião, tradição e

costumes (AGUIAR, 1993). A Igreja Católica era considerada importante na cidade, um grande

exemplo disso é a grande quantidade de igrejas importantes em pouco espaço de tempo e

território.

Nessa época havia distinção entre as pessoas que circulavam pelas ruas após as 22 horas

sendo consideradas boêmios e malfeitores, e as pessoas ditas decentes além de ter hora para não

circularem pelas ruas eram pessoas que se valiam da tradição e bons costumes. A forma de se

vestir também era diferente observamos nas fotografias de época uma elegância importada da

Europa, o que por sua vez não condiz com o próprio porte da cidade bem como com o clima (ver

figura 5) Assim as concepções da memória preservada nas fotografias têm sua implicação na

apreensão e elaboração da realidade permitindo uma leitura possível sobre as ruas da cidade de

João Pessoa como espaço urbano construído.

Figura 5- Maneira de se vestir nos anos 20

Fonte: Walfredo Rodriguez, 1929

No início do Século XX (Figura 6) foram iniciadas algumas mudanças em toda João

Pessoa, por sua vez a Rua Nova sofreu diversas intervenções urbanas desde a pavimentação,

alinhamento das calçadas, esgotamento sanitário, eletrificação, paisagismo dentre outras que

foram inseridas no cotidiano da rua que na época era habitada pela classe alta e média da cidade.

Atualmente a Rua Nova, de acordo com um levantamento realizado pela Prefeitura de

João Pessoa no ano de 2003, o uso residencial continua em apenas 17% das edificações e

ocupadas por famílias de baixa renda, o oposto que acontecia no passado quando era formada

pela classe alta e média da cidade. O comércio e os profissionais liberais predominam na rua,

ocupando 54% das edificações, seguidos pelo uso religioso (Catedral, Igreja e Mosteiro de São

Bento) e instituições trabalhistas (sindicatos), totalizam 18%. Com a utilização dos imóveis que

mantêm a arquitetura original, contribuem para a conservação parcial do cenário da rua.

A parte degradada da rua, tais como, ruínas, imóveis vazios e os que foram derrubados

apenas para servirem de estacionamento, correspondem a 11% do ambiente da rua.

Com o crescimento da cidade, algumas áreas da rua passaram a fazer parte do

estacionamento rotativo da cidade, denominado de “zona azul”, já que os imóveis não possuem

garagens para os proprietários e clientes. Vejamos como estão hoje tais ruas:

Figura 6 - Rua Nova, 1920

Fonte: Walfredo Rodriguez

Figura 6.1 – Av Gal Osório, 2009

Figura 6.2 – Av Gal Osório, 2009 (colorida)

Rua Direita

A Rua Direita, atualmente denominada Rua Duque de Caxias, faz parte do grupo das

primeiras ruas que originaram a Cidade Alta. Desde o ano de 1639 já existia edificações escassas

ao longo do seu trajeto. A Rua Direita teve em sua origem, inicialmente, um caráter habitacional

destinada a pessoas que pertenciam à classe alta e média da cidade. Ela está inserida no que

podemos chamar de núcleo urbano propriamente dito; a Cidade Alta, onde se localizavam as

habitações, atividades administrativas e eclesiásticas.

Segundo Aguiar (1993, p 217)

A Rua Duque de Caxias era dividida em três seções:

primeira, a Rua Direita, que correspondia ao trecho

entre o Largo de São Francisco até o Beco do Hospital

(hoje Avenida Miguel Couto); segunda, Rua da Baixa

– da Igreja da Misericórdia à esquina do Caminho das

Cacimbas (atual Avenida Guedes Pereira) e a terceira,

- a Rua São Gonçalo, Direita de São Gonçalo ou do

Colégio – da esquina do Caminho das Cacimbas ao

Largo da Igreja do Colégio.

A (Figura 7) retrata a cidade de João Pessoa (na época denominada Parahyba), no ano de

1929, com destaque para a atual Rua Duque de Caxias, no trecho que era conhecido como Rua

Direita. Observa-se que na época a sua utilização era destinada, em sua maioria, para uso

residencial com alguns sobrados que no térreo havia comércio e na parte superior moravam os

proprietários dos estabelecimentos comerciais, respectivamente com as suas famílias.

Figura 7- Rua direita Atual Duque de Caxias, com a antiga Ladeira do Rosário, atual Guedes Pereira,

no ano de 1929. Fonte: Walfredo Rodriguez

A parte da rua conhecida na época como “Rua da Baixa” corresponde ao declive que tem

início na Igreja da Misericórdia e vai até a Praça Vidal de Negreiros. Atualmente já foi nivelado

e a parte mais baixa ficou apenas para a via expressa e túnel/viadutos. Vejamos:

Figura 8 - Antiga Rua da Baixa, atual Duque de

Caxias , 1942.

Fonte: Walfredo Rodriguez

Figura 8.1 - Antiga Rua da Baixa, atual Duque

de Caxias, 2009.

Figura 8.2 – Atual Rua duque de Caxias,

(colorida)2009

Como se pode ver na (figura 8) nos remete ao tempo que a cidade possuía como

principal meio de transporte público o bonde. Não existiam, praticamente, automóveis na cidade,

sendo sinônimos de status, pois apenas os ricos possuíam. A imagem, como se pode perceber, foi

capturada durante horário comercial, pois há alguns transeuntes e revelam alguns costumes da

época como o uso de roupas sociais. Nada de bermudas ou trajes curtos, ou sem roupa na parte

superior (para os homens); para as mulheres, não era visto como uma “dama da sociedade” que

elas usassem calça comprida ou minisaia.

Na figura que foi obtida em 2009 percebemos que há uma transformação no

comportamento dos transeuntes, por exemplo, que andam de bermuda e com um estilo mais

despojado, contrastando com o passado onde se vê pessoas com mais elegância usando peças

mais tradicionais, seguindo a tendência de roupas sociais da época.

Na imagem oito é mostrada o Palácio do Governo, antigo convento dos Jesuítas, logo

após, o Lyceu Paraibano e atualmente a Faculdade de Direito da UFPB. Como podemos observar

a cidade ainda não possuía cobertura de energia elétrica no ano de 1878. De acordo com a

imagem mostrada, ainda não existia no período energia elétrica – a iluminação pública foi

iniciada em 1822 e era proveniente através dos lampiões com azeite de mamona. A rua era mais

estreita, mal cuidada e suja. Vê-se a igreja da Conceição entre o Palácio da Redenção que

posteriormente foi demolida no governo do Presidente João Pessoa, atualmente abriga o

mausoléu de João Pessoa.

A igreja e o Palácio da Redenção pertenciam aos Jesuítas, com o passar do tempo

ocorreram algumas reformas que interferiram no seu estilo original, principalmente depois da

grande reforma efetuada pelo então presidente João Pessoa.

Figura 9 – Fachada do Palácio do Governo, antiga

igreja da Conceição 1878

Fonte: Walfredo Rodriguez

Figura 9.1 – Palácio do Governo, 2009

Figura 9.2 –, Palácio do Governo, 2009 (colorida)

Pode-se ver na (figura 9) a diferença na arquitetura do Palácio da Redenção e da

Faculdade de Direito: a imagem antiga mostra ainda que não havia sido construído o relógio

sobre a torre. O traçado urbano melhorou com a construção de calçadas padronizadas, ao menos

a fiação aérea está discreta, sem poluir muito a paisagem, isso significa que o visitante que passa

no local poderá observar e melhor se remeter ao passado do lugar.

Na primeira metade do Século XX, a cidade passa por uma grande reforma urbana e a

Rua Direita é a vitrine da nova imagem, juntamente com os costumes que os habitantes da cidade

almejam adotar. A Rua Direita passa a abrigar espaços de lazer, como por exemplo, o tradicional

Cine Rex, praças, bares e o tradicional carnaval de rua (iniciado em fins do Século XIX).

Antes de ser transferido para a Rua Direita, o carnaval era celebrado na Rua da Areia.

Com o advento do automóvel aconteceu a mudança e o carnaval transformou-se. O carro passou

a fazer parte da festa, compondo o desfile, que deram origem a era do corso*.

De acordo com Almeida (apud AGUIAR, 1993, p. 97):

A Rua Direita parece ter sobrevivido para servir de amostra até certo

ponto capaz de simbolizar o que havia de melhor na apresentação

urbanística da capital da Província, bastando a quem se detiver em sua

contemplação minuciosa, com o faro de historiador, recuar a

imaginação há doze décadas

*Corso carnavalesco, ou simplesmente corso, é o nome que os passeios das sociedades carnavalescas do

século XIX adquiriram no início do século XX, no Rio de Janeiro, após uma tentativa de se reproduzir do

país as batalhas de flores características dos carnavais mais sofisticados da virada do século, como, por

exemplo, o da cidade de Nice, no sul da França.

A brincadeira consistia no desfile de carruagens enfeitadas – e, posteriormente, de automóveis sem

capota. Fonte: wikipedia

3.2 As praças de João Pessoa em dois tempos

As manifestações culturais, de acordo com Rosa (2008, p.14) surgem em um povo a

partir do sentimento de valorização sobre os objetos e símbolos que representem sua cultura [...]

formadores da memória cultural coletiva” (ROSA, p. 14) a partir da necessidade de valorizar a

cultura local foi que surgiram as praças para congregar as pessoas para vários tipos de atividades.

Em João Pessoa as praças também são ambientes de congregação e manifestação cultural,

seja ela arquitetônica e/ou política. Sob essa ótica, visualizam-se duas praças construídas no

século XIX e XX, mostrando que tais ambientes são palco de interações culturais. Vejamos:

Figura 10 – Coreto da Praça Comendador Felizardo

leite, 1916, atual Praça João Pessoa

Fonte Walfredo Rodriguez

Figura 10.1 – Praça João Pessoa, 2009.

Figura 10.2 - Praça João Pessoa, 2009. (colorida)

A Praça João Pessoa, (figura 10) inicialmente denominada de “Jardim Público”, foi

construída, por volta de 1870, pelo então vice-presidente da província, Padre Galvão. Antes do

Jardim, o local era conhecido como o Largo do Colégio, devido ao estabelecimento educacional

que os Jesuítas até o momento de sua expulsão, em 1760. Segundo Aguiar (1993), o Jardim

Público, teve grande significado na vida social da cidade e representou um espaço de lazer laico,

não mais sob a tutela e vigilância da igreja, que até o momento ordenava os festejos e seu modo

de ocupação da mesma.

No passado o acesso ao Jardim Público era supervisionando por um funcionário. Além da

divisão por sexo, existia também uma divisão por classes que não se misturavam. A hierarquia

social era estruturada a partir dos círculos do coreto; apenas a classe alta e média frequentava o

espaço. Para assistir as retretas, os governantes e graduados ficavam junto ao coreto, a classe

média, os funcionários públicos e estudantes ficavam mais atrás, já as massas populares ficavam

além das grades que cercavam o “Jardim Público”. Seguem-se algumas imagens:

Figura 11 – Praça João Pessoa, 1934

Fonte: DVOP

Figura 11.1 – Praça João Pessoa, 2009

Figura 11.2 - Praça João Pessoa, 2009 (colorida)

Desde que o Estado assumiu a ocupação da praça, as mudanças eram vistas de forma

mais nítida; no lugar da Igreja o Palácio; no lugar do adro, o jardim; em vez das ladainhas, as

polkas, retretas e dobrados das bandas oficiais.

No ano de 1929 o então presidente do Estado João Pessoa reformou a antiga Praça

Comendador Felizardo, que antes era composta por coreto, bancos, toda gradeada e com quatro

portões de acesso. Após a reforma, foram subtraídos não apenas da praça, mas também do seu

entorno a Igreja da Conceição – localizada entre o Palácio da Redenção e o então Lyceu, antigo

Colégio e residência dos Jesuítas, atual Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba

(UFPB). – Depois de 1930 foram retiradas as grades e os quatro portões que cercavam o jardim

(os portões foram transferidos e colocados no Cemitério do Senhor da Boa Sentença, onde

permanecem até os dias atuais).

A partir da mudança e com a vitória da revolução de Outubro de 1930, foi construído um

monumento denominado Altar da Pátria e a praça passou a ser frequentada por populares local

onde eram realizadas as manifestações cívicas.

Com a morte de João Pessoa no ano de 1930, em sua homenagem a praça passou a ser

chamada Praça João Pessoa, onde até hoje permanece. Além da denominação, a praça também

recebeu a sua estátua. A Praça ainda abriga as sedes dos Três Poderes do Estado da Paraíba: a

Assembléia Legislativa, o Governo Estadual (Palácio da Redenção) e o Tribunal de Justiça, além

da antiga Faculdade de Direito da UFPB. (figura 11)

Praça da Independência

A Praça da Independência (figura 12) localizada no bairro do Tambiá, foi inaugurada no

ano de 1922 durante as comemorações do centenário da independência brasileira. Foi a partir da

praça que se iniciou a construção da Avenida Epitácio Pessoa, principal artéria que liga o centro

às praias. Além da área verde, a praça é composta por um obelisco e um coreto e no seu entorno

havia alguns sobrados, dentre eles, destaca-se para a residência onde viveu o presidente João

Pessoa – Que emprestou o seu nome à cidade após o seu assassinato no ano de 1930, a sua morte

foi o estopim que provocou a Revolução de 1930.

Até os dias de hoje, a Praça da Independência mantém uma excelente arborização e o seu

traçado original. No interior da praça, as alamedas continuam com calçadas em “terra batida”

sem usar o concreto ou as famosas pedras portuguesas. Seguem-se algumas imagens:

Figura 12 – Aspecto da Praça da Independência, 1934

Fonte: Walfredo Rodriguez

Figura 12.1 - Praça da Independência, 2009

Figura 12.2 - Praça da Independência, 2009 (colorida)

A conjuntura urbana atual da praça em relação ao passado, fisicamente foram poucas ou

praticamente inexistente; já na ocupação e uso da praça e arredores ocorreu uma mudança total.

Antes a região era usada apenas para o uso residencial, os casarões e sobrados, que na época

tornaram símbolo de elevado status social predominavam na área. Com o crescimento das

atividades comerciais não durou muito essa predominância, várias lojas se instalaram no local e

as famílias que possuíam um alto poder aquisitivo, se mudaram para a nova avenida que era

aberta na cidade, a Avenida Epitácio Pessoa. A cidade já estava caminhando em direção as

praias.

A região era uma importante ligação da cidade com as praias. A linha de bonde passava

ao lado da praça, que na época se chamava Rua Cruz do Peixe (onde atualmente se encontra no

museu da Energisa - PB).

Com essa transformação na segmentação urbana, muitas mansões foram fechadas,

deixadas como relíquias, vendidos ou alugados aos empresários para montarem seus negócios.

Com a mudança de utilização, as belas casas sofreram uma acentuada descaracterização

deixando-as irreconhecíveis e por vezes, demolindo-as.

O hábito da população começou a mudar. Antes praça era lugar de passeios e encontros, o

coreto ajudava muito, era lá que as donzelas e os rapazes divertiam-se. Atualmente o local serve

de passagem e para caminhadas, com o aumento da violência e a falta de investimentos em

segurança pública, a praça perdeu o clima bucólico que havia no passado.

3.3 As intervenções no traçado original da cidade

A partir da década de 1970 com o crescimento da cidade e o surgimento das zonas de

expansão, assiste-se ao processo de transformação, principalmente a decadência não apenas das

ruas, mas também de todo o Centro Histórico.

Com a construção do Viaduto Dorgival Terceiro Neto (1974-1978) (figura 13) que

liga a Cidade alta com a Cidade Baixa ocorreu uma alteração significativa na paisagem do lugar

e acabou trazendo uma modernização que alguns anos depois mostrou-se maléfica destoando das

demais construções vizinhas, comprometendo o traçado colonial e acelerando o processo de

decadência da área.

Figura 13 - Vista do Viaduto Dorgival Terceiro Neto sobre a Rua Miguel Couto. 2009

Fonte: Ivonaldo Lacerda

Atualmente, a Rua Nova de acordo com um levantamento realizado no ano de 2003, o

uso residencial continua em apenas 17% das edificações e ocupadas por famílias de baixa renda,

o oposto ao que acontecia no passado quando era formada pela classe alta e média da cidade. O

comércio e os profissionais liberais predominam na rua, ocupando 54% das edificações, seguidos

pelo uso religioso (Catedral, Igreja e Mosteiro de São Bento) e instituições trabalhistas

(sindicatos), totalizam 18%. A utilização dos imóveis mantendo a arquitetura original, contribui

para a conservação parcial do cenário da rua.

A parte degradada da rua, tais como, ruínas, imóveis vazios e os que foram derrubados

apenas para servirem de estacionamento, correspondem a 11% do ambiente da rua.

Com o crescimento da cidade, algumas áreas da rua passaram a fazer parte do

estacionamento rotativo da cidade, denominado de “zona azul”, já que os imóveis não possuem

garagens para os proprietários e clientes. Vejamos:

Figura 14.2 – Avenida Guedes Pereira, 2009 (colorida)

Figura 14 – Avenida Guedes Pereira, anos 50

Fonte: Walfredo Rodriguez

Figura 14.1 – Avenida Guedes Pereira, 2009

A Avenida Guedes Pereira passou por transformações desde o seu surgimento. No início,

a avenida chamava-se Ladeira do Rosário porque ficava quase em frente a antiga igreja que

pertencia a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens de Cor, demolida nos anos 20.

Ela se iniciava no antigo Caminho das Cacimbas e terminava próximo ao Rio Sanhauá, onde

cacimbas para abasteciam a população. Após a demolição da igreja e algumas desapropriações

foi construída a Praça Vidal de Negreiros.

No início dos anos 70, com a modernização, expansão e a verticalização da cidade foi

construído o viaduto Damásio Franca, seguindo a tendência das diversas cidades do mundo após

a Segunda Guerra, que tinha como objetivo a recuperação de áreas dos antigos centros que havia

sido bombardeados e/ou considerados em decadência. Citamos como exemplos marcantes desse

período: áreas na cidade de Coventry (Inglaterra), Rotterdam (Holanda) e Berlim (Alemanha),

sendo esses novos planos baseados nos preceitos defendidos nos Congressos de Arquitetura

Moderna e na Carta de Atenas.

De acordo com a (figura 14), a intervenção urbana ocorrida na Avenida Guedes Pereira

transformou completamente o local. Antes era uma ladeira, passava transporte público (bonde

elétrico), a praça era palco das manifestações sociais, e na época o local era usado pelos

intelectuais da sociedade paraibana para conversarem no fins de tarde.

Atualmente, os carros passam sob a praça através de um túnel feito após uma recente

reforma. O local serve como centro de compras aberto, centenas de pessoas circulam dia-a-dia,

com hábitos e costumes diferentes. (figura 15)

Figura 15 – Avenida Guedes Pereira, esquina com a Rua Duque de

Caxias. Anos 50

Fonte: Walfredo Rodriguez

Figura 15.1 – Avenida Guedes Pereira, esquina com a Rua Duque de

Caxias, 2009

Figura 15.2 - Avenida Guedes Pereira (colorida)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este trabalho foi possível observar que ocorreu uma mudança acentuada no

crescimento e desenvolvimento nos logradouros históricos visitados. O desenvolvimento não

acompanhou o crescimento da cidade, ao contrário, em alguns pontos não houve

desenvolvimento, mas retrocesso e decadência, vista na arquitetura.

Quando as imagens foram analisadas pelo mesmo ângulo em períodos distintos no modo

monocromático, as diferenças entre o passado e presente ficaram mais destacadas. As ruas com

um urbanismo inspirado nas cidades européias tinham glamour, charme e elegância, visto nos

postes de ferro com detalhes e sem fiação aérea, ruas sem poluição visual, calçadas

padronizadas, espaço exclusivo para o transporte público (na época os bondes sobre os trilhos),

arborização planejada e bem distribuída pelas ruas. Até mesmo a população parecia se comportar

de um modo diferente, com indumentária tradicional de estilo europeu, e havia o hábito de

frequentar as praças, observado não só nas imagens, bem como na história oral obtida com

moradores.

Com o crescimento populacional e com a mudança de comportamento cultural, houve a

mudança do paradigma de cidade colonial (séc. XVI ao XVIII) para cidade industrial a partir do

final do século XIX, para então uma cidade pautada no paradigma do consumo a partir dos anos

de 1960. Hoje a arquitetura contida nas ruas estudadas e nas praças parece não ter mais um efeito

estético aos transeuntes, pois o cotidiano não nos permite doar um tempo para admirações.

Documentar em fotografias o mesmo lugar do mesmo ângulo não é criar redundância de

informação, mas sim estabelecer um elemento que permite a análise da mudança nos processos

urbanos, bem como estabelecer uma relação de temporalidade sobre um objeto. Isso nos dá,

condições de estudar os processos de readequação urbana e cultural, e também a decadência das

edificações no sentido de proporcionar a preservação urbana.

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Ed., João Pessoa: Grafset, 1993. 354p.

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DA-AV-CENTRAL. acessada em 05/12/2009

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1981. 154p.

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Cidade de João Pessoa – Álbum de Memória. Acervo Museu Walfredo Rodriguez (1871-

1942) 1 ed. João Pessoa: Moura Ramos

DOLFUSS, Olivier. Análise geográfica. Tradução de Heloysa de Lima Dantas. São Paulo:

Coleção Saber Atual. Difusão Europeia do Livro, 1973

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Campinas, SP: Papirus, 1993.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro-

RJ: Nova Fronteira, 1987

HARTSHORNE, Richard. Propósitos e natureza da geografia. Tradução de Thomaz

Newlandes neto: 2. ed., São Paulo: HUCITEC: Edição Universidade de São Paulo, 1978.

KOSSOY, Boris. Fotografia e história. 2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

KOURY, Mauro G. P. (org.) Imagem e memória: ensaios em antropologia visual. Rio de

Janeiro: Garamond, 2001.

QUEIROZ, Eça. A cidade e as serras. 2 ed. São Paulo: Núcleo, 1994

ROSA, Conrad Rodrigues. Preservação urbana da Rua da areia: representação fotográfica em

catálogo. Monografia (Especialização em Artes visuais. Senac, 2009.

ROUGERIE, Gabriel. Geografia das paisagens. Tradução de Heloysa de Lima Dantas. São

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-------------. Topofilia. Tradução de Livia de Oliveira. São Paulo: DIFEL, 1983.

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Pessoa: UFPB, 2006. 304 p

Uma cidade sem passado. Direção de Michael Verhoeven. Produção de Sentana Filmproduktion

-Filmverlag der Autoren. Alemanha, 1989. VHS (92 min), color.

WIKIPEDIA:http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_carnavalesca_%28Brasil%29#Corso_carna

valesco acessado em 23/12/2009.

APÊNDICES

Roteiro/cronograma de imagens

Imagem Roteiro/ cronograma Relatório

Praça João Pessoa.

Tirada pela manhã em

dia de semana.

Coreto da antiga Praça Felizardo

Leite em 1916, atual Praça João

Pessoa. A imagem foi capturada

durante um evento público. Há

cadeiras e um palco ao lado direito

da foto.

Praça João Pessoa.

Foto a ser tirada pela

manhã e em dia não

comercial.

Atual Praça João Pessoa, a foto

data de 22/11/1934, logo após a

reforma. Vêem-se poucas árvores,

transeuntes e a ausência de

qualquer tipo de transporte. Na

época já existia a fiação para o

bonde elétrico.

Arquidiocese da

Paraíba e Igreja e

Convento das

Carmelitas.

Local a ser visitado

durante a manhã

Conhecida também como Praça do

Bispo, o conjunto arquitetônico é

composta pela igreja de Nossa

Senhora do Carmo e a capela de

Santa Tereza D'Ávila, formando o

Conjunto Carmelita.

Imagem Roteiro/ cronograma Relatório

Colégio Nossa

Senhora das Neves.

Pelo turno da manhã

em dia de semana.

Imagem do tradicional Colégio

Nossa Senhora das Neves em 1920,

quando admitiam alunos do sexo

masculino.

Há alunos com uniforme da época

em frente ao colégio que

atualmente é a Faculdade de

Ciências Médicas da Paraíba.

Rua General Osório

com vista para a

Catedral

Metropolitana.

Antiga Rua Marquês do Herval,

depois Rua Nova e atual Rua

General Osório. A foto é do ano de

1877 e a rua não havia passado por

uma reforma.

Rua General Osório Rua Nova, atual General Osório

iniciando o processo de

urbanização.

Imagem Roteiro/

cronograma

Relatório

Rua General Osório.

Visitação pela manhã

e, de preferência, no

dia de domingo.

Antiga Rua Nova no ano de 1940.

Apresentando uma significativa

mudança no urbanismo, tais como:

postes no canteiro central,

saneamento básico, arborização de

ambos os lados, entre outros.

Rua General Osório –

Convento de São

Bento. Período da

manhã

Convento de São Bento no ano de

1903.

Convento de São

Bento

Fachada do convento de São Bento

no ano de 1929.

A rua estava sofrendo intervenção

urbana do governo com obras.

Imagem Roteiro/

cronograma

Relatório

Rua Peregrino de

Carvalho em direção

à Igreja da

Misericórdia.

Melhor horário para

visitar: em dias sem

movimento por volta

das 9h30min.

Antigo Beco da Misericórdia, Atual

Rua Peregrino de Carvalho. A

Fotografia é do ano de 1877.

Rua Peregrino de

Carvalho.

Horário de visita:

durante a semana pela

manhã.

Antigo Beco da Misericórdia no ano

de 1931. Observamos um maior

movimento na rua, padronização de

calçadas e arborização.

Rua Duque de

Caxias.

Horário sugerido:

pela tarde durante a

semana.

Rua Duque de Caxias onde

atualmente existe um “calçadão” para

pedestres. A foto mostra as pessoas e

os carros da época com destaque para

o prédio onde funcionou o jornal A

União.

Imagem Roteiro/

cronograma

Relatório

Avenida Guedes

Pereira, esquina com

a Rua Duque de

Caxias.

O melhor horário para

registrar é no período

da tarde em dias de

semana.

Fachada inicial do Paraíba Palace

Hotel antes da intervenção urbana

dos anos 70. O transporte mais

comum era o bonde elétrico como

mostra a foto. Detalhe para o guarda

de trânsito orientando o movimento

de pessoas e veículos nas ruas.

Avenida Guedes

Pereira, sentido Praça

Aristides Lobo.

A ser registrado em

um domingo pela

manhã

Avenida Guedes Pereira nos anos 50,

com canteiro central, postes especiais

para alimentar o bonde com

eletricidade e ausência de veículos.

Avenida Guedes

Pereira.

durante a semana

Avenida vista do terraço situado no

Paraíba Palace Hotel.

Imagem Roteiro/

cronograma

Relatório

Avenida Guedes

Pereira.

Pela manhã em dia de

semana.

A antiga Ladeira do Rosário iniciava

em frente à Igreja do Rosário

(demolida) e era o caminho mais

curto para as cacimbas que

abasteciam d'água boa parte da

cidade. As cacimbas existiam na

região onde atualmente fica a Rua

Padre Azevedo, ao lado do Quartel

do 1º BPM, estendendo-se até o

Terminal Rodoviário de Passageiros.

Avenida Guedes

Pereira.

Entre o antigo prédio dos Correios e

Telégrafos e a Praça Pedro Américo.

Avenida Guedes

Pereira e Praça

Aristides Lobo

À direita o Grupo Escolar Tomaz

Mindello e, mais adiante, o prédio

onde, nos anos 1960/1970,

funcionavam a Assembléia Estadual,

Secretaria de Agricultura e Loteria

do Estado da Paraíba.

Imagem Roteiro/

cronograma

Relatório

Praça Pedro

Américo no período

da manhã em final

de semana.

Praça Pedro Américo em 1910,

antigo campo do Diogo e Praça Cel.

Bento da Gama.

Praça Pedro

Américo.

Pela manhã e sem

movimento

Praça Pedro Américo vendo-se ao

fundo o quartel e Teatro Santa

Roza. (1912).

Imagem Roteiro/ cronograma Relatório

Praça da

Independência.

Melhor horário: a

partir das 11 horas.

Coreto da Praça da Independência

com detalhe para o bonde.

Relatório nº 01

Tema: João Pessoa em Dois Tempos Data:

Equipe: Ivonaldo, Ramon e Tito Período: manhã e tarde

Assunto: Visita ao Parque Solon de Lucena e Centro Histórico de João Pessoa

Primeira saída de campo não oficial com o

objetivo de conhecer a atual configuração

urbana e registrar ângulos do panorama atual da

cidade com a participação de Ramon Rodrigues

e Tito Garcez.

A visita teve início no Parque Solon de Lucena,

conhecido popularmente como Lagoa. A mesma

estava em reforma para substituir à calçada e

drenagem das águas.

O segundo lugar a ser visitado foi a Rua

Visconde de Pelotas – Uma das mais antigas da

capital – que estava com o trânsito caótico

devido ao crescimento da cidade e a falta de

planejamento urbano. Observamos um intenso

comércio na região que algumas décadas atrás

eram destinadas a residências de pessoas

importantes.

Na mesma avenida encontram-se o casarão de

azulejo, a Igreja do Carmo, a Diocese da Paraíba

e outras construções históricas preservadas.

Figura 1 Arquidiocese da Paraíba e Igreja do

Carmo

Seguimos em direção ao Centro Cultural São

Francisco que começou a ser erguido no ano de

1589 e hoje é considerada uma jóia do barroco

brasileiro.

Figura 2 Largo do Convento São Francisco

Em seguida fomos à Casa da Pólvora, que foi

concluída no ano de 1710 e atualmente faz parte

do acervo histórico da capital, funcionando

como um espaço para exposição de fotos e

museu fotográfico.

Figura 3 Interior da Casa da pólvora. Detalhe

para a exposição com fotos de Cuba

Outra parada obrigatória foi na Rua General

Osório, antiga Rua Nova com suas casas antigas

e, em sua maioria, preservadas. São atualmente

utilizadas por empresas que prestam serviços,

como clínicas, pousadas e bares.

Após uma breve pausa para o almoço, seguimos

em direção ao bairro Tambiá. O bairro é bastante

antigo e os moradores, em sua maioria,

pertenciam à aristocracia da cidade. Ainda hoje

existem alguns casarões erguidos, alguns em

perfeito estado de conservação e outros a

precisar de restauração.

Ainda no mesmo bairro, está situado o Parque

Arruda Camera, conhecido pela maioria da

população como a “Bica”. No local existe um

parque que preserva resquícios da Mata

Atlântica, um mini zoológico e a fonte Tambiá,

que durante muito tempo abasteceu a população

da cidade.

O Largo e Igreja de São Pedro Gonçalves foi

outro lugar onde estivemos.