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Você é Feliz?Sermão escrito por

J.C.Ryle

Primeiro Bispo da Dioceseda Igreja da Inglaterra em Liverpool

E publicado posteriormente comoo Décimo Capítulo do livro

Religião Prática com o título de “Felicidade”

“Feliz é o povo que tem por Deus o SENHOR” SALMOS 144:151.

LEITOR

Você tem visto a questão que dá título para essesermão, agora escute essa história.

Um infiel, certa vez, estava se dirigindo a umamultidão a céu aberto. Ele estava tentando persuadi-las de que não havia Deus, nem diabo, nem céu, nem

1 (Nota do Tradutor) Este versículo é uma tradução literal da versão inglesa usada

por Ryle. As passagens seguintes usaram a versão ARA, que traduz este trecho

como “Bem-aventurado o povo a quem assim sucede! Sim, bem-aventurado é o

povo cujo Deus é o SENHOR.” Salmos 144:15

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inferno, nem ressurreição, nem juízo final, nem vidaapós a morte. Ele as aconselhou a jogar fora suasBíblias, e a não se importarem com o que as outraspessoas dissessem. Ele as recomendou a pensar comoele, e ser como ele. Ele falou corajosamente. Amultidão ouviu atentamente. Era “o cego guiando ooutro cego”. Ambos estavam caindo no barranco(Mateus 15:14).

No meio do discurso, uma pobre idosarepentinamente passou pelo meio da multidão indoaté o lugar onde o homem estava em pé. Ela ficoudiante dele. Ela olhou para a face dele. “Senhor,” eladisse, em voz alta, “Você está feliz?”. O infiel olhoupara ela desdenhosamente, e não a deu resposta.“Senhor,” ela disse novamente, “Eu lhe peço queresponda à minha pergunta. Você está feliz? Vocêquer que joguemos fora nossas Bíblias. Você nosordena a não acreditar no que as pessoas dizem sobrereligião. Você nos aconselha a pensar como você, eser como você. Agora, antes que aceitemos o seuconselho, nós temos o direito de saber o que de bomteremos com ele. As suas excelentes noções dereligião te dão tanto conforto? Você mesmo se sentefeliz?”

O infiel parou, e tentou responder à questão damulher idosa. Ele gaguejou, se embaralhou, se

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inquietou e se esforçou para explicar o que ele queriadizer. Ele tentou muito mudar de assunto. Ele disseque ele “não veio para pregar sobre felicidade”. Masnão adiantou nada. A mulher idosa se agarrou aoponto dela. Ela insistiu em conseguir uma respostapara sua questão, e a multidão ficou do lado dela. Elapressionou-o bastante com seu inquérito, e nãoaceitava nenhuma desculpa. E, no fim, o infiel foiobrigado a deixar sua posição e se esgueirardespercebidamente para a confusão da multidão. Elenão pôde responder à questão. Sua consciência não odeixava: ele não se atreveu a dizer que ele estava feliz.

A mulher idosa demonstrou grande sabedoriaao perguntar aquela questão. O argumento que elausou pode parecer bem simples, mas na realidade éum dos mais poderosos que pode ser empregado. Éuma arma que tem mais efeito em algumas mentesque o mais elaborado raciocíno de Butler, Paley ouChalmers. Sempre que um homem começa a ternovas visões de religião, e pretende recusar o antigoCristianismo bíblico, ele também levará para casa aquestão da mulher idosa em sua consciência.Pergunte a este se suas novas visões fazem ele sesentir confortável interiormente. Pergunte-lhe se elepode dizer, com honestidade e sinceridade, que estáfeliz. O grande teste da fé de um homem e de suareligião é “Ela o faz feliz?”

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Deixe-me agora, afetuosamente, convidar todoleitor a considerar a matéria deste texto. Deixe-meavisar-te a se lembrar de que a salvação de sua alma,e nada menos, está estreitamente ligado ao assunto.O coração não pode estar reto perante Deus e nãosaber nada de felicidade. O homem ou a mulher nãopode estar num estado seguro de alma e nada sentirde paz dentro de si.

Há três coisas que eu me proponho a fazer,em ordem, para esclarececer o assunto da felicidade.Eu peço uma atenção especial a cada uma delas. E euoro que o Espírito de Deus aplique tudo isso às almasde todos que lerem este texto.

I. Permita-me apontar algumas coisas quesão absolutamente essenciais à toda felicidade.

II. Permita-me expor alguns erros comunssobre o caminho para ser feliz.

III. Permita-me apresentar o caminho para serverdadeiramente feliz.

I. Em primeiro lugar eu tenho de apontaralgumas coisas que são absolutamente essenciais atoda felicidade.

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Felicidade é o que toda a humanidade querobter: o desejo dela está profundamente plantado nocoração humano. Todos os homens naturalmentedesgostam da dor, a angústia e o desconforto. Todosos homens naturalmente têm fome e sede defelicidade. Assim como o homem doente deseja asaúde e o prisioneiro de guerra a liberdade, assimcomo o viajante desidratado em países quentes desejaa fonte refrescante, ou o explorador polar coberto degelo o sol se levantando no horizonte, do mesmomodo o pobre homem mortal deseja ser feliz. Mas,infelizmente, quão poucos têm considerado o que elesrealmente dizem quando falam de felicidade! Quãovagas e indistintas e indefinidas são as ideias damaioria dos homens sobre este tema! Eles pensamque alguns são felizes, quando, na realidade, sãomiseráveis; eles pensam que alguns são tenebrosos etristes, quando, na realidade, estes sãoverdadeiramente felizes; eles sonham com umafelicidade que, na realidade, nunca satisfaria o quesuas naturezas desejam. Permita-me tentar hojeiluminar um pouco o assunto.

Verdadeira felicidade não é perfeita liberdadede angústia e desconforto. Nunca se esqueça disso. Sefosse assim, não haveria qualquer felicidade nomundo. Tal felicidade seria para os anjos que nuncacaíram, e não para homens. A felicidade que eu estou

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investigando é tal que uma criatura pobre, moribundae pecaminosa pode esperar obtê-la. Toda nossanatureza está contaminada pelo pecado. O malabunda no mundo. Doença, e morte, e mudança estãodiariamente fazendo seu triste trabalho por todos oslados. Em um estado tal como este, a maior felicidadeque o homem pode atingir na terra tem de sernecessariamente algo misturado. Se nós esperamosencontrar qualquer felicidade literalmente perfeitadeste lado da tumba, nós esperamos algo que nãoiremos encontrar.

Verdadeira felicidade não consiste em risadas esorrisos. A face é, muitas vezes, um pobre indicadordo homem interior. Há milhares que riem alto e são,quando acompanhados, tão alegres quanto umgafanhoto, mas no privado são desgraçados emiseráveis, e quase sempre com medo de ficaremsozinhos. Há centenas que são graves e sérios no seucomportamento, cujos corações estão cheios de umasólida paz. Um poeta dentre nós contouverdadeiramente como os sorrisos valem pouco:

“Um homem pode sorrir e sorrir eainda ser um vilão”

E a eterna Palavra de Deus nos ensina que“até no riso tem dor o coração” (Provérbios 14:13).

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Não me fale de faces meramente sorridentes erisonhas: eu quero ouvir de algo maior do quequando eu pergunto se um homem está alegre. Umhomem verdadeiramente feliz indubitavelmente vaimuitas vezes mostrar sua felicidade em seusemblante; mas um homem pode ter uma face bemalegre e, mesmo assim, não estar tão feliz.

De todas as coisas decepcionantes da terranada é mais decepcionante do que mera alegriajovial e diversão. É um espetáculo vazio e oco,completamente desprovido de substância erealidade. Ouça ao palestrante brilhante naSociedade, e marque os aplausos que ele recebeu deacompanhantes admirados: siga-o até seu quartoprivado, e você provavelmente o achará mergulhadonuma melancolia desanimada. Coronel Gardinerconfessou que até quando ele pensava estar maisfeliz, na verdade, ele, na maioria das vezes, desejavaser um cão. Olhe aquela bela mulher sorridente nobaile, e você pode supor que ela nunca soube o que éser infeliz; veja-a no dia seguinte na casa dela, evocê pode, provavelmente, achá-la de mau humorconsigo mesma e com todos os outros. Oh não:diversão mundana não é uma felicidade real! Hácerto prazer nela, eu não nego. Há uma excitaçãoanimal nela, eu não questiono. Há uma temporáriaelevação do espírito nela, eu livremente cedo. Mas

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não a chame pelo nome sagrado da felicidade. Amais bela das folhas cortadas presa no solo não fazum jardim. Quando o vidro é chamado de diamante,e o latão de ouro, então aí, e não antes daí, o povopode rir e sorrir e serão merecedores de seremchamados de homens felizes2.

Para ser verdadeiramente feliz, os maioresdesejos do coração humano precisam serencontrados e satisfeitos. Os requerimentos de suacuriosamente forjada constituição precisam sercontentados. Não deve haver nada nele que grite“Dê-me, dê-me,” e não obtenha resposta e grite emvão. O cavalo e o boi são felizes enquanto estiveremquentes e cheios. E por quê? É porque eles estãosatisfeitos. Uma pequenina criança parece alegrequando está vestida, alimentada e bem nos braços2 Cervantes, autor de Don Quixote, numa época em que toda a Espanha estava

rindo de sua obra humorística, estava sobrecarregado com uma grande nuvem de

melancolia.

Moliére, o primeiro dos escritores cômicos franceses, acarretou a seu círculo

doméstico uma tristeza tal que nenhuma prosperidade mundana poderia afastar.

Samuel Foote, o notável escritor do século passado, morreu com um coração

partido.

Theodore Hooke, o brincalhão escritor de novelas, que poderia fazer com que

todos gargalhassem, disse de si mesmo em seu diário, “Eu estou sofrendo uma

constante depressão de espírito, que nenhum que me vê na sociedade sonharia

com.”

Um abatido estranho consultou sua saúde com um médico. O médico o aconselhou

a manter seu espírito elevado indo ouvir ao grande autor cômico daqueles dias.

“Você deveria ir e ouvir Matthews. Ele te faria bem.” “Aliás, senhor”, continuou o

monólogo, “Eu sou o próprio Matthews!”--- Pictorical Pages (Páginas Pictóricas)

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de sua mãe. E por quê? É porque ela está satisfeita.E é do mesmo jeito com o homem. Seus maioresdesejos precisam ser encontrados e satisfeitos antesque ele possa ser verdadeiramente feliz. Todos elesprecisam ser preenchidos. Não pode haver um vão,nem lugares vazios, nem ânsias não supridas. Atéentão ele nunca será verdadeiramente feliz.

E quais são os principais desejos do homem?Tem ele um corpo somente? Não: ele tem algo mais!Ele tem uma alma.

Tem ele faculdades sensuais somente? Nãopode ele fazer nada mais do que ouvir, ver, cheirar,provar e sentir? Não: ele tem uma mente pensante euma consciência! Não tem ele alguma consciênciade qualquer outro mundo além daquele no qual elevive e move? Ele tem sim. Há uma voz, ainda quepequena, dentro dele que constantemente se fazouvida: “Esta vida não é tudo! Há um mundoinvisível: há uma vida além do túmulo.” Sim! Éverdade. Nós fomos assombrosamente emaravilhosamente feitos. Todo homem o sabe: todoo homem o sente, se eles só falassem a verdade. Écompletamente sem sentido pretender que a comidae o vestuário e somente as coisas terrenas podemfazer o homem feliz. Há desejos da alma. Há desejosda consciência. Não pode haver verdadeira

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felicidade até que esses desejos sejam satisfeitos.

Para ser verdadeiramente feliz um homemprecisa ter fontes de júbilo que não sãodependentes de nada deste mundo. Não há nadasobre a terra que não esteja selado com a marca dainstabilidade e da incerteza. Todas as coisas boasque o dinheiro pode comprar são para nada mais doque um instante: ou elas nos deixam ou nós somosobrigados a deixá-las. Todas as mais doces relaçõesna vida são passíveis de ter um fim: a morte pode vira qualquer dia e cortá-las fora. O homem cujafelicidade depende inteiramente das coisas daqui debaixo é como aquele que constrói sua casa na areia,ou que apoia seu peso numa cana fina.

Não me conte da sua felicidade se ela sesustenta diariamente nas incertezas da terra. Suacasa pode ser rica em confortos; sua esposa e suascrianças podem ser tudo o que você queria; seusganhos podem ser abundantemente suficientes parasatisfazer todos os seus desejos. Mas, oh, lembre-sede que, se você não tiver nada mais do que isso paraconsiderar, você está perante a beirada de umprecipício! Seus rios de prazer podem em um diaqualquer secarem. Seu gozo pode ser profundo esincero, mas ele é terrivelmente temporário. Ele nãotem raiz. Ele não é verdadeira felicidade.

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Para ser realmente feliz, um homem precisaser apto para olhar para todos os lados semsentimento desconfortáveis. Ele precisa ser apto aolhar atrás para o passado sem medos culposos; eleprecisa ser apto para olhar ao redor de si semdescontentamento; ele precisa ser apto a olhar parafrente sem um pavor ansioso. Ele precisa ser apto ase sentar e pensar calmamente sobre coisaspassadas, presente e vindouras, e se sentirpreparado. O homem que tem um lado fraco em suacondição, um lado que ele não gosta de olhar ouconsiderar, esse homem não é realmente feliz.

Não me conte da sua felicidade, se você não éapto a olhar firmemente ou para trás ou para frentede você. Sua posição presente pode ser relaxada eprazerosa. Você pode encontrar muitas fontes degozo e júbilo na sua profissão, no lugar onde vocêhabita, na sua família e nos seus amigos. Sua saúdepode ser boa, seu espírito pode ser bem alegre. Maspare e pense silenciosamente sobre sua vidapassada. Você pode refletir calmamente em todas asomissões e comissões dos anos que se foram? Comovocê aguentará a inspeção de Deus? Como você vairesponder acerca delas no último dia? E depoisolhar para frente, e pensar nos anos que ainda virão.Pense no fim certo para o qual você se apressa;pense na morte; pense no juízo. Pense na hora em

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que você vai se encontrar com Deus face a face;Você está pronto? Você está preparado? Você podeolhar para essas coisas vindouras sem se alarmar?Oh, esteja bem certo de que se você não pode olharconfortavelmente para qualquer época menos opassado, a sua felicidade é uma pobre coisa irreal!Ele é nada mais do que um sepulcro caiado, justo ebelo por fora, mas com ossos e corrupção pordentro. É meramente uma coisa do dia, como aaboboreira de Jonas. Não é a real felicidade.

Eu pergunto aos meus leitores para fixar nasmentes deles um relato das coisas essenciais àfelicidade, o qual eu tentei dar. Tirem dos seuspensamentos as muitas noções erradas correntesdesse assunto como moeda falsificada. Para seremverdadeiramente felizes, os desejos da alma e daconsciência precisam ser satisfeitos; para serverdadeiramente feliz, o seu gozo precisa estarfundamentado em algo mais do que este mundopode te dar; para ser verdadeiramente feliz, vocêprecisa ser apto a olhar para todo lado, — acima,abaixo, atrás, adiante — e sentir que tudo está certo.Essa é a real, autêntica e genuína felicidade: essa é afelicidade que eu tenho em mente quando eu teexorto a notar o assunto deste texto.

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Pare agora e considere bem se você conhecequais são os primeiros princípios da verdadeirafelicidade. Até que você os conheça, você não écapaz de examinar a solene pergunta: "Você é feliz?"

II. Em segundo lugar, permita-me exporalguns erros comuns sobre o caminho para serfeliz.

Muitos pensam que há muitas estradas quelevam à felicidade. Em cada uma dessas estradasmilhares e dezenas de milhares de homens emulheres estão continuamente viajando. Cada umaé a fantasia de que, se ele conseguisse alcançar tudoo que quer, ele seria feliz. Cada fantasia de que, seele não tiver sucesso, o problema não está naestrada, mas sim em sua própria falta de sorte e deuma fortuna favorável. E todos semelhantementeparecem ignorantes de que eles estão caçandosombras. Eles começaram na direção errada: elesestão buscando aquilo que nunca pode ser achadono lugar em que procuram.

Eu vou mencionar por nome algumas dasprincipais ilusões sobre felicidade. Eu o farei emamor, caridade e compaixão às almas dos homens.Acredito que é uma obrigação pública advertiracerca de trapaças, charlatões e impostores. Oh,

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quanto de problema e angústia eu salvaria os meusleitores, se eles apenas acreditassem no que eu voudizer!

É um erro extremo supor que status egrandeza sozinhos podem dar felicidade. Os reis egovernantes deste mundo não são necessariamentehomens felizes. Eles têm problemas e cruzes, dasquais ninguém sabe senão eles próprios; eles veemmilhares de maldades, as quais não podem serremediadas por eles; eles são escravos trabalhandoem correntes de outro, e possuem menos liberdadedo que qualquer um do mundo; eles têm fardos eresponsabilidades postas sobre eles, as quais são umpeso diário em seus corações. O imperador RomanoAntonino frequentemente dizia que “o poderimperial era um oceano de misérias.” A RainhaElizabeth, quando ouviu uma ama de leite cantando,desejou ser nascida como muitos parecidos com aama. Nunca o nosso grande Poeta escreveu umapalavra mais verdadeira do que quando ele disse,

“Inquieta está a cabeça que veste umacoroa.”

É um erro total supor que as riquezas sozinhaspodem dar felicidade. Elas podem habilitar umhomem a comandar e possuir tudo, menos a paz

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interior. Elas não podem comprar um espíritojubiloso e um coração leve. Há cuidado em consegui-las, e cuidado em mantê-las, cuidado em usá-las, ecuidado em gastá-las, cuidado em juntá-las, ecuidado em espalhá-las. Era um homem sábio o quedizia que “dinheiro” era apenas outro nome para“problema” e que as mesmas palavras em Inglês quecompõem “acres” também compõem “preocupação”.3

É um erro total supor que o aprendizado e aciência sozinhos podem dar felicidade. Eles podemocupar o tempo e a atenção de um homem, mas nãopodem realmente fazê-lo feliz. Aqueles queaumentam conhecimento muitas vezes “aumentamtristeza” quanto mais eles aprendem, tanto mais elesdescobrem sua própria ignorância. (Eclesiastes 1:18).Não está no poder das coisas na terra ou embaixo daterra “ministrar para uma mente envenenada”. Ocoração quer algo assim como a cabeça: a consciêncianecessita de comida tanto quanto o intelecto. Todo oconhecimento secular do mundo não dá ao homemgozo e prazer, quando ele pensa na enfermidade, e namorte, e na tumba. Eles que escalaram o mais alto,têm frequentemente se achado solitários,insatisfeitos e vazios de paz. O sábio Selden, no fimda sua vida, confessou que tudo que aprendeu nãolhe deu tanto conforto quanto quatro versos de Paulo

3 (N. do T.) As palavras em Inglês são “acres” e “cares”.

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(Tito 2:11-14).

É um erro total supor que a ociosidade sozinhapode dar felicidade. O trabalhador que levanta àscinco da manhã e vai trabalhar fora o dia todo numafria vala de barro geralmente pensa ao passar pelaporta de um homem rico “Que coisa boa deve serestar sem trabalho algum para fazer”. Pobrecamarada! Ele pouco conhece o que pensa. A maismiserável criatura na terra é o homem que não temnada para fazer. Trabalho para as mãos e trabalhopara a cabeça é absolutamente essencial para afelicidade humana. Sem isso a mente se alimenta desi mesma, e todo o homem interior se torna enfermo.O maquinário interno vai funcionar, e, sem nadacomo objeto de trabalho, vai muitas vezes sedesintegrar em pedaços. Não havia ócio no Éden.Adão e Eva tinham de “cultivá-lo e guardá-lo”. Nãohaverá ócio no céu: “os seus servos o servirão”. Oh,esteja bem certo de que o homem mais preguiçoso domundo é o mais verdadeiramente infeliz! (Gênesis2:15; Apocalipse 22:3)

É um erro total supor que busca a de prazerese divertimento sozinhos podem dar felicidade. Detodas as estradas que um homem pode tomar com ofim de ser feliz, está aqui é a mais completamenteerrada. De todos os cansativos, chatos, sem graça e

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inúteis caminhos de gastar a vida, este excede todos.Pensar em uma criatura moribunda, com uma almaimortal, esperando felicidade em festejar e deleite emdançar e cantar, em vestir e visitar, em bailar e jogarcartas, em corridas e feiras, em caçar e atirar, emmultidões, em gargalhadas, em barulho, em música,em vinho! Com certeza esta é uma visão que faz odiabo rir e os anjos chorarem. Até uma criança nãobrinca com seus brinquedos o dia todo. Ela precisa decomida. Mas quando homens e mulheres madurospensam em encontrar felicidade em um rodízioconstante de divertimento eles afundam bem mais doque uma criança.

Eu coloco diante de todo leitor deste texto esseserros comuns sobre o caminho de ser feliz. Eu lhepeço para marcá-los muito bem. Eu lhe avisoclaramente contra esses pretensos atalhos parafelicidade, embora tão cheios quanto possam estar.Eu lhe digo que se você fantasia que qualquer umdeles pode lhe liderar à verdadeira paz, você estácompletamente enganado. Sua consciência nunca sesentirá satisfeita; sua alma imortal nunca se sentirásuave; todo o seu homem interior vai se sentirdesconfortável e sem saúde. Pegue qualquer umadessas estradas, ou pegue-as todas, e se você nãotiver nada mais para olhar, você nunca achará afelicidade. Você pode viajar de novo e de novo e de

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novo, e o objeto desejado vai parecer tão distante emcada estágio da vida quanto quando você começou.Você é como alguém derramando água numa peneiraou pondo dinheiro numa bolsa furada. Você tambémpode tentar fazer um elefante feliz alimentando-ocom um grão de areia por dia assim como tentasatisfazer seu coração com status, riquezas,aprendizado, ócio ou prazer.

Você duvida da verdade de tudo que eu estoudizendo? Eu lhe desafio a fazê-lo. Então vamos nosvirar ao grandioso Livro da experiência humana e leralgumas linhas destas solenes páginas. Você terá otestemunho de algumas testemunhas competentes dogrande assunto que eu peço a sua atenção.

Um rei será a sua primeira testemunha: euestou falando de Salomão, o Rei de Israel. Nóssabemos que ele tinha poder, sabedoria, riqueza,excedendo qualquer governador de seus tempos. Nóssabemos que, por sua própria confissão, ele tentou ogrande experimento de quanto as coisas deste mundopodiam fazê-lo feliz. Nós sabemos, do registro de suaprópria mão, o resultado desse curioso experimento.Ele o escreve pela inspiração do Espírito Santo para obenefício do mundo inteiro no livro de Eclesiastes.Nunca, é claro, esse experimento foi feito sobcircunstâncias tão favoráveis: nunca ninguém tinha

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tanta chance de sucesso quanto o rei judeu. Mas qualé o testemunho de Salomão? Você tem suas palavrasmelancólicas: “tudo era vaidade e correr atrás dovento”. (Eclesiastes 1:14).

Uma famosa dama francesa será a nossapróxima testemunha: eu falo da Madame dePompadour4. Ela foi amiga e favorita de Luís XV. Elatinha influência ilimitada na Corte da França. Elapodia ter tudo que o dinheiro pode comprar. Mas oque ela mesma diz? “Que situação é a dos grandes!Eles só vivem no futuro e só são felizes na esperança.Não há paz na ambição. Eu estou sempre abatida, emuitas vezes tão injustificadamente. A gentileza dorei, o respeito dos cortesãos, a assessoria das minhasdomésticas e a fidelidade do meu grande número deamigos, motivos como esse, que me deveriam fazerfeliz, não me afetam mais. Eu não tenho maisinclinações para tudo que já me agradou. Eu fizminha casa em Paris ser magnificamente mobiliada:bem, me agradou por dois dias! Minha residência emBellevue é charmosa: eu sozinha não pude suportá-la.Pessoas benevolentes me relatam todas as notícias eaventuras de Paris: eles acham que eu escutei, masquando eles terminam eu lhes pergunto o que4 Jeanne-Antoinette Poisson, Marquise de Pompadour (Paris, 29 de dezembro

de 1721 — Versalhes, 15 de abril de 1764), mais conhecida como Madame de

Pompadour, foi uma cortesã francesa e amante do Rei Luís XV da França

considerada uma das figuras francesas mais emblemáticas do século XVIII.

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disseram. Em poucas palavras, eu não vivo: eu morriantes da hora. Eu não tenho interesse neste mundo.Tudo conspira para amargar a minha vida. Minhavida é uma morte contínua;” A este testemunho eunão preciso adicionar nenhuma palavra. (Sinclair’sAnecdotes and Aphorisms, p. 33.)5

Um famoso escritor germânico será nossapróxima testemunha: eu falo de Goethe. É bem sabidoque ele foi quase idolatrado por muitos durante suavida. Suas obras foram lidas e admiradas pormilhares. Seu nome foi conhecido e honrado, emqualquer lugar que o alemão fosse falado por todo omundo. E, apesar do louvor do homem, o qual eleceifou tão abundante colheita, era totalmente incapazde fazer Goethe feliz. “Ele confessou, quando tinhacerca de oitenta anos de idade, que ele não podia selembrar de estar realmente feliz como estado demente nem por algumas semanas seguidas; e que,quando ele desejou se sentir feliz, ele teve deperscrutar sua autoconsciência.” (Ver Sinclair’sAnecdotes and Aphorisms, p. 280.) 4

Um nobre6 e poeta inglês será nossa próximatestemunha: eu falo de Lorde Byron. Se já houve umhomem que deveria ser feliz de acordo com o padrão

5 (N. do T.) A tradução do título deste livro de 1860 é Anedotas e Aforismos de

Sinclair.

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do mundo, este homem era Lorde Byron. Ele começoua vida com todas as vantagens da classe e posiçãoinglesas. Ele tinha esplêndidas habilidades e poderesda mente, as quais ele cedo descobriu e estava prontopara honrar. Ele tinha uma suficiência de meios paragratificar qualquer desejo lícito, e nunca conheceunada parecido à real pobreza. Humanamente falando,nada parecia impedi-lo de gozar a vida e ser feliz. Masé um fato notório que Byron era um homemmiserável. Miséria se destaca em seus poemas:miséria pula das letras. O cansaço, a saciedade, odesgosto e o descontentamento aparecem de todos osjeitos. Ele é um terrível aviso de que classe, título efama literária, sozinhos, não são suficientes para fazerum homem feliz.

Um homem da ciência será a nossa próximatestemunha: eu falo de Sir Humphry Davy. Ele foi umhomem eminentemente bem sucedido no tipo de vidaque escolheu, e merecidamente. Um filósofo distinto,o inventor da famosa lâmpada de segurança que levaseu nome, e que tem preservado tantos pobresmineiros da morte por grisu7, um Baronete do ReinoUnido e Presidente da Sociedade Real; sua vidainteira parece uma contínua carreira de prosperidade.6 (N. do T.) O original é “peer” que provavelmente significa um membro de

qualquer um dos cinco graus de nobreza na Grã-Bretanha e na Irlanda (duque,

marquês, conde, visconde e barão).

Fonte:http://dictionary.reference.com/browse/peer?s=t

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Se aprendizado somente fosse o caminho para afelicidade, esse homem pelo menos deveria ter sidofeliz. Mas o que foi o real registro dos sentidos deDavy? Nós o temos no seu próprio diário melancólicona parte mais adiantada de sua vida. Ele se descreveem duas doloridas palavras: “Muito miserável!”.

Um homem de humor sagaz e do prazer seránossa próxima testemunha: eu falo de LordChesterfield. Ele falará de si mesmo: suas própriaspalavras em uma carta serão seu testemunho: “Eutenho visto a boba rodada de negócio e prazer, e estoufarto de tudo isso. Eu tenho gozado todos os prazeresdo mundo, e consequentemente conheço suafutilidade, e não me arrependo de perdê-los. Eu osavalio com seu real valor, que na verdade é muitobaixo; enquanto que aqueles que nunca osexperimentaram sempre os superestimam. Eles sóveem seu gozo por fora, e ficam deslumbrados comseu brilho; mas eu tenho estado nos bastidores. Eu vitodas as grossas folias e as sujas cordas que exibem emovem a espalhafatosa máquina e eu tenho visto echeirado as velas de sebo que iluminam toda adecoração para a surpresa e admiração da ignoranteaudiência. Quando eu reflito no que eu vi, no que eu

7 A lanterna ou lâmpada Davy é uma lanterna de segurança inventada pelo cientista

cornualhês Humphry Davy para evitar as explosões causadas pela ignição do

metano em minas de carvão.

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ouvi e no que eu fiz, eu não consigo me persuadir deque toda a pressa frívola no alvoroço e o prazer domundo tenham qualquer realidade. Eu olho tudo oque passou como um daqueles sonhos românticos queo ópio ocasiona e eu de jeito nenhum desejo repetir anauseante dose por amor a esse sonho fugitivo.” Essasfrases falam por si mesmas. Eu não preciso adicionaruma palavra sequer.

Os homens de Estado e políticos queinfluenciam os destinos do mundo devemmerecidamente ser nossas últimas testemunhas. Maseu evito, em caridade cristã, trazê-los para frente. Fazo meu coração doer quando eu passo os meus olhossobre a lista de nomes famosos na história inglesa epenso quantos deles despedaçaram suas vidas numaluta sem fôlego por lugar e distinção. Quantos dosnossos grandiosos homens morreram de coraçõespartidos, desapontados, desgostosos, e provados comfalha constante! Quantos deixaram registrada algumaconfissão humilhante de que na plenitude de seupoder eles estavam ansiosos por descanso, como umaáguia enjaulada por liberdade! Quantos dos quais omundo está aplaudindo como “donos da situação” quesão, na realidade, pouco melhores do que os escravosnas galés, acorrentados ao remo e inaptos a setornarem livres! Aliás, há várias tristes provas, tantoentre os vivos quanto entre os mortos, de que ser

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grande e poderoso não é ser necessariamente feliz.

Eu penso que é muito provável que os homensnão acreditem no que estou falando. Eu sei algumascoisas sobre o engano do coração no assunto defelicidade. Há poucas coisas que o homem é tãoresistente a acreditar quanto às verdades que eu agoratrago adiante sobre o caminho de se ser feliz.Acompanhe-me enquanto eu digo algo mais.

Venha e fique comigo durante alguma tarde nocoração da cidade de Londres. Vamos observar asfaces dos mais ricos homens deixando suas casas denegócio no final do dia. Alguns deles valem centenasde milhares: alguns deles são dignos de milhões delibras. Mas o que está escrito no semblante dessessérios homens que vemos sair da Lombard Street e daCornhill, do Banco da Inglaterra e da Bolsa deValores? O que significa essas delineações nos sulcosde tantas bochechas e tantas sobrancelhas? O quesignifica esse ar de pensamentos profundos presenteem cinco de cada seis que encontramos? Ah, essascoisas contam uma séria história. Elas nos contamque é preciso algo mais do que ouro e notas bancáriaspara fazer o homens felizes.

Venha agora e fique comigo perto das Casas doParlamento, no meio de uma ocupada sessão. Vamos

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olhar as faces dos Peers e dos Commoners8, cujosnomes são familiares e conhecidos por todo o mundocivilizado. Lá você pode ver num bom final de tardede maio os mais poderosos homens de Estado naInglaterra indo para um debate, como águias parauma carcaça. Cada um tem o poder de bem ou mal emsua língua que é temeroso contemplar. Cada um podedizer coisas antes que o sol da tarde se ponha quepodem afetar a paz e a prosperidade das nações econvulsionar o mundo. Ali você pode ver os homensque seguram as guias do poder e do governo; ali vocêpode ver os homens que estão diariamenteprocurando uma oportunidade de arrebatar essasguias de suas mãos e governar em seu lugar. Mas oque suas faces nos contam enquanto eles se apressampara seus lugares? O que pode se aprender de seusemblante aflito? O que se pode ler em tantas testasfranzidas que parecem tão distantes e afundadas empensamento? Elas nos ensinam uma solene lição. Elasnos ensinam que se precisa algo mais do que grandezapolítica para fazer os homens felizes.

Venha agora e fique comigo na parte maiselegante de Londres, na alta temporada. Vamosvisitor Regent Street ou o Pall Mall, Hyde Park ouMay Fair. Quantas caras de feirantes e equipamentos

8 (N. do T.) Designa os integrantes, respectivamente, da Casa dos Lordes e da Casa

dos Comuns, as duas câmaras do Parlamento Britânico (de Wikipédia).

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esplêndidos nós veremos! Quantos vamos contar emuma hora que parecem possuir os presentes maisseletos do mundo, beleza, riqueza, alta classe social,moda, e tropas de amigos! Em quantos semblantesnós leremos fadiga, insatisfação, descontentamento,angústia, ou infelicidade tão claros como se tivessemescritos com uma caneta! Sim: é uma liçãohumilhante para aprender, mas é muito saudável. Épreciso algo mais do que classe, moda e beleza parafazer as pessoas felizes.

Venha depois e caminhe comigo por algumaquieta freguesia do campo da feliz Inglaterra. Vamosvisitar algum canto isolado da nossa bela e velha mãe-pátria, bem distante das grandes cidades e dadissipação da elegância e dos conflitos políticos. Háfreguesias rurais onde não há ruas, nem casaspúblicas, nem bares, onde há trabalho para todostrabalhadores, e uma igreja para toda a população, euma escola para todas as crianças, e um ministro doEvangelho para cuidar de todo o povo. Claramente,você dirá, nós iremos encontrar felicidade ali!Claramente alguma freguesia como essa tem de serverdadeiras moradas de paz e gozo! Vá dentro de umadessas casas de campo que parecem quietas e vocêserá brevemente desiludido. Aprenda a históriapeculiar de cada família e você rapidamente irámudar de ideia. Você irá logo descobrir que

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maledicência, mentira, calúnia, inveja, ciúmes,orgulho, preguiça, bebedeira, extravagância, luxúria equerelas mesquinhas podem assassinar a felicidadeno campo até tanto quanto na cidade. Sem dúvidauma vila rural afigura-se bonita na poesia, e parecelinda nas pinturas; mas na sóbria realidade a naturezahumana é a mesma coisa ruim em qualquer lugar.Aliás, é preciso algo mais do que a residência numaquieta freguesia campestre para fazer qualquer filhode Adão um homem feliz!

Eu sei, isso são coisas antigas. Elas foram ditasmil vezes antes sem efeito, e eu suponho que serãoditas sem efeito de novo. Eu não quero uma maiorprova da corrupção da natureza humana do que aobstinação em procurar felicidade onde felicidade nãopode ser encontrada. Século após século homenssábios têm deixado registradas as suas experiênciassobre o caminho de se ser feliz. Século após século osfilhos dos homens vão achar que sabem o caminhoperfeitamente bem, e não precisam ser ensinados.Eles jogam aos ventos nossos avisos; eles seapressam, cada um, a sua passagem favorita; elesandam na vã sombra, e se inquietam a si mesmos emvão, e acordam quando é tarde demais para saber quesua vida foi um grande erro. Seus olhos estão cegos:eles não verão que suas visões são infundadas edesapontadoras como uma miragem no deserto

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africano. Como o viajante cansado nesses desertos,eles pensam que estão se aproximando de um lago deáguas refrescantes; como o mesmo viajante, elesencontram, para seu desânimo, que esse lagofantasioso era uma esplêndida ilusão de ótica e queeles ainda estão desamparados no meio das quentesareias.

Você é uma pessoa jovem? Eu rogo a vocês aaceitarem o afetuoso aviso de um ministro doEvangelho, e não procurem felicidade onde felicidadenão se pode achar. Não a procurem nas riquezas; nãoa procurem na classe e no poder; não a procurem noprazer; não a procurem no aprender. Todas essas sãobrilhantes e esplêndidas fontes: suas águas são doces.Uma multidão está em pé perto delas, a qual não irádeixá-las; mas, oh, lembre o que Deus escreveu emcada uma dessas fontes, “Quem beber desta águatornará a ter sede” (João 4:13). Lembre-se disso e sejasábio.

Você é pobre? Você é tentado a fantasiar que sevocê tivesse o lugar do homem rico você seria umpouco feliz? Resista à tentação e lance-a para trás devocê. Não inveje seus vizinhos ricos: seja contentecom aquelas coisas que você tem. Felicidade nãodepende de casas ou terras; sedas e cetins não podemfechar a angústia do coração; castelos e corredores

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não podem prevenir ansiedade e preocupação vindo asua porta. Há tanta miséria montando e dirigindo ascarruagens quanto há andando a pé: há tantainfelicidade em casas forradas quanto em chaléshumildes. Oh, se lembre dos erros que são comunsacerca da felicidade, e seja sábio!

III. Permita-me agora, em último lugar,apresentar o caminho para ser realmente feliz.

Há um caminho certo que dirige à felicidade, seos homens pelo menos o tomassem. Nunca houveuma pessoa que viajou por este caminho e perdeu oobjeto que queria atingir.

É um caminho aberto a todos. Não é necessárioriquezas, nem classe, nem aprendizado em questão decaminhar nele. É para o servo assim como é para osenhor: é para o pobre assim como é para o rico.Ninguém é excluído a não ser aqueles que se excluem.

É o único caminho. Todos que já estiveramfelizes, desde os dias de Adão, viajaram por ele. Nãohá uma estrada exclusiva da realeza para a felicidade.Reis precisam estar contentes de ir lado a lado com ossujeitos mais humildes, se eles querem ser felizes.

Onde está este caminho? Onde está essa

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estrada? Escute, e você irá ouvir.

O caminho de se ser feliz é ser real, completo everdadeiramente de coração um cristão. A Escriturao declara: experiência o prova. O homem convertido,o crente em Cristo, a criança de Deus, ele, e elesomente, é o homem feliz.

Parece simples demais para ser verdade: parece,à primeira vista, uma receita tão clara que não deveser acreditada. Mas as maiores verdadesfrequentemente são as mais simples. O segredo quemuitos dos mais sábios da terra têm falhadototalmente para descobrir é revelado aos maishumildes crentes em Cristo. Eu repitodeliberadamente, e desafio o mundo provar ocontrário: o verdadeiro cristão é o único homem feliz.

O que eu quero dizer quando falo do verdadeirocristão? Será que eu falo de todo mundo que vai àigreja ou à capela? Será que falo de todos queprofessam um credo ortodoxo e encurva sua cabeça àcrença? Será que falo de todos que professam amar oEvangelho? Não, por certo! Eu falo de algo bemdiferente. Nem todos que são chamados de cristãossão cristãos. O homem que eu tenho em mente é ocristão em coração e em vida. Ele que foi ensinadopelo Espírito a realmente sentir seus pecados, ele que

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realmente descansa suas esperanças no Senhor JesusCristo, e em Seu sacrifício, ele que nasceu de novo erealmente vive uma vida espiritual e santa, ele cujareligião não é um mero casaco de domingo, mas umpoderoso princípio que restringe e governa todos osdias de sua vida, ele é o homem de quem eu faloquando eu falo do cristão verdadeiro.

O que eu quero dizer quando falo que overdadeiro cristão é feliz? Ele não tem dúvidas nemmedos? Ele não tem ansiedades nem problemas? Elenão tem angústias e preocupações? Ele nunca sentedor nem derrama lágrimas? Longe de mim dizerqualquer coisa desse tipo. Ele tem um corpo fraco efrágil como os outros homens; ele tem afeições epaixões como qualquer outro nascido de mulher: elevive num mundo cheio de mudanças. Mas no fundode seu coração ele tem uma mina de sólida paz e gozosubstancial que nunca se exaure. Essa é a verdadeirafelicidade.

Será que eu estou dizendo que todos os cristãosverdadeiros são igualmente felizes? Não, nem por ummomento! Há bebês na família de Cristo bem comohomens velhos; há membros fracos do corpo místicobem como outros fortes; há cordeiros tenros bemcomo ovelhas. Há não só os cedros do Líbano, mastambém o hissopo que cresce na parede. Há graus de

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graça e graus de fé. Aqueles que têm mais fé e graçatêm mais felicidade. Mas todos, mais ou menos,comparados aos filhos do mundo, são homens felizes.

Será que eu estou dizendo que todos reais everdadeiros cristão são igualmente felizes emqualquer tempo? Não, nem por um momento! Todostêm seus fluxos e refluxos de conforto: alguns, como omar Mediterrâneo, quase insensivelmente; alguns,como a maré em Chepstow9 de cinquenta ou sessentapés10 por vez. A saúde de seu corpo não é sempre amesma; suas circunstâncias terrenas não são sempreas mesmas; as almas dos que amam os enchem, àsvezes, com especial ansiedade: eles próprios às vezessão sobrecarregados por alguma falta e andam emtrevas. Eles às vezes perdem para inconsistências epecados assediadores e perdem seu senso de perdão.Mas, como uma regra feral, o verdadeiro cristão temuma profunda reserva de paz dentro dele, que atéquando está mais vazia não está inteiramente seca.11

9 (N. do T.) Chepstow é uma cidade no País de Gales por onde passa o rio Wye que

possui uma das maiores variações de maré do mundo. Fonte:

http://en.wikipedia.org/wiki/Chepstow#Geography

10 (N.do T.) Cinquenta ou sessenta pés correspondem a 15,24 m ou 18,288 m.

Fonte: http://www.metric-conversions.org/pt/comprimento/pes-em-metros.htm

11 Eu uso as palavras, “como uma regra geral” atento. Quando um crente cai em

tal horrível pecado como aquele de Davi, seria monstruoso falar dele sentir paz

interior, um homem que professava ser um verdadeiro cristão me falou que estava

num caso assim, —antes de dar qualquer evidência de mais profundo e mais

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O verdadeiro cristão é o único homem felizporque sua consciência está em paz. Aquelemisterioso testemunho para Deus, o qual é tãomisericordiosamente colocado dentro de nós, écompletamente satisfeito e está em descanso. Ele vêno sangue de Cristo um lavar completo de toda culpa.Ele vê que por meio do sacrifício e morte de Cristo,Deus agora pode ser justo e justificador do ímpio. Elenão mais morde e alfineta e faz seu possuidortemeroso dele mesmo. O Senhor Jesus Cristoencontrou amplamente todos os seus requerimentos.A consciência não está mais como inimiga doverdadeiro cristão, mas é sua amiga e conselheira.Portanto, ele está feliz.

O verdadeiro cristão é o único homem feliz,porque ele pode se sentar quietamente e pensarsobre sua alma. Ele pode olhar para trás e para antesdele, ele pode olhar dentro dele e em volta dele, esentir, “tudo está bem.” Ele pode pensar calmamentena sua vida que passou e, por mais que seus pecadossejam muitos e grandes, tem conforto que eles foramtodos perdoados. A justiça de Cristo cobre tudo, assimcomo o dilúvio de Noé ultrapassou as mais altascolinas. Ele pode pensar calmamente sobre as coisasque virão, e ainda não se amedrontar. Enfermidade é

humilhante arrependimento, — eu deveria sentir grandes dúvidas se ele já

experimentou alguma graça.

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dolorosa; morte é solene; o dia do juízo é uma coisaterrível: mas tendo Cristo por ele, ele não tem nada atemer. Ele pode pensar calmamente sobre o SantoDeus, cujos olhos estão em todos os seus caminhos, esentir, “Ele é meu Pai, meu Pai reconciliado em CristoJesus. Eu sou fraco; Eu sou inútil: mas em Cristo eleme considera Sua cara criança e se compraz.” Oh, quebendito privilégio é ser apto a pensar, e não estaramedrontado! Eu posso entender bem a queixa tristedo prisioneiro no confinamento solitário. Ele tinhacalor, comida e trabalho, mas não estava feliz. E porquê? Ele disse, “Ele era obrigado a pensar.”

O verdadeiro cristão é o único homem feliz,porque ele tem fontes de felicidade inteiramenteindependentes deste mundo. Ele tem algo que nãopode ser afetado pelas doenças e pelas mortes, porperdas privadas e calamidades públicas, a “paz deDeus que excede todo o entendimento.” Ele tem umaesperança depositada para ele no céu; ele tem umtesouro que traça e ferrugem não podem corromper;ele tem uma casa que nunca pode ser destruída. Suaamorosa esposa pode morrer, e seu coração pode serachar em dois; suas queridas crianças podem sertiradas dele, e ele pode ficar sozinho neste mundofrio; seus planos terrestres podem ser riscados; suasaúde pode falhar: mas em todo esse tempo ele temuma porção que nada pode atingir; Ele tem um Amigo

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que nunca morre; ele tem possessões além do túmulo,das quais nada pode privar dele: suas fontes inferiorespodem falhar, mas suas fontes superiores nuncasecarão. Isso é real felicidade.

O verdadeiro cristão é feliz, porque ele está naposição correta dele. Todos os poderes de seu serestão direcionados aos fins certos. Suas afeições nãoestão configuradas para as coisas de baixo, mas paraas coisas de cima; sua vontade não está curvada àautoindulgência, mas está submissa à vontade deDeus; sua mente não está absorta em futilidadesmiseráveis e perecíveis. Ele deseja um emprego útil:ele desfruta o luxo de fazer o bem. Quem não conhecea miséria da desordem? Quem não provou odesconforto de uma casa onde tudo e todos estão emlugares errados, as coisas últimas primeiro e as coisasprimeiras por último? O coração do não convertido éjustamente igual a tal casa. A graça põe tudo nocoração na posição certa. As coisas da alma vêm emprimeiro e as coisas do mundo vêm em segundo.Anarquia e confusão cessam: paixões rebeldes nãomais levam os homens a fazer o que é certo aos seuspróprios olhos. Cristo reina sobre o homem inteiro ecada parte dele faz seu trabalho adequado. O novocoração é o único coração realmente leve, porque ele éo único coração que está em ordem. O verdadeirocristão encontrou o seu lugar. Ele deixou seu orgulho

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e interesse próprio; ele se senta aos pés de Jesus, eestá com a mente certa: ele ama a Deus e ama aohomem, e então é feliz. No céu todos seremos felizesporque todos faremos a vontade de Deusperfeitamente. Quanto mais um homem chega pertodesse padrão, mais feliz ele será.

A clara verdade é que sem Cristo não háfelicidade neste mundo. Somente Ele pode dar oConsolador que permanece para sempre. Ele é o sol;sem Ele os homens nunca se sentirão quentes. Ele é aluz; sem Ele os homens sempre estarão nas trevas. Eleé o pão; sem Ele os homens sempre estarão famintos.Ele é a água da vida. Sem Ele os homens sempreestarão com sede. Dê-lhes o que quiser, coloque-osonde lhes agradar, brinde-os com todos os confortosque possam imaginar, não faz diferença. Separe-o deCristo, o Príncipe da Paz, e o homem não poderá serfeliz.

Dê a um homem um interesse sensível emCristo, e ele vai ser feliz apesar da pobreza. Ele vai tecontar que ele não quer nada que é realmente bom.Ele está provido: ele tem riquezas em possessão eriquezas em reversão; ele tem carne para comer que omundo não conhece; ele tem amigos que nunca odeixarão nem o desampararão. O Pai e o Filho vêm aele, e fazem morada nele: o Senhor Jesus ceia com

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ele, ele com Cristo (Apocalipse 3:20).

Dê a um homem um interesse sensível emCristo, e ele vai ser feliz apesar da enfermidade. Suacarne pode gemer, e seu corpo pode estar desgastadocom dor, mas seu coração vai descansar e estar empaz. Uma das mais felizes pessoas que eu já vi foi umajovem mulher que tinha sido desesperadamentedoente por tantos anos com uma doença de coluna.Ela estava num sótão sem fogo; o sopé de palha nãoestava nem dois pés sobre sua cabeça12. Ela não tinhaa menor esperança de recuperação. Mas ela estavasempre se regozijando no Senhor Jesus. O espíritotriunfou fortemente sobre a carne. Ela estava feliz,porque Cristo estava com ela.13

Dê a um homem um interesse sensível emCristo, e ele vai ser feliz apesar das abundantescalamidades públicas. O governo desse país pode cairem confusão, rebelião e desordem pode virar tudo deponta a cabeça, leis podem ser pisadas debaixo dos

12 (N. do T.) Dois pés correspondem a 0,6096 metros.

Fonte: http://www.metric-conversions.org/pt/comprimento/pes-em-metros.htm

13 John Howard, o famoso filantropo cristão, em sua última jornada disse, “Eu

espero que eu tenha fontes de contentamento que não dependam de um particular

local em que eu habito. Uma mente corretamente culta, sob o poder da religião e os

exercícios de disposições benéficas, fornece uma base de justificação pouco

afetada por aqui e alis,” nunca perdendo o Sacramento da Ceia do Senhor. Mas

você não vê nelas as marcas de paz que eu venho descrevendo.

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pés; justiça e equidade podem ser ultrajados;liberdade pode ser jogada no chão; poder podeprevalecer sobre o certo: mas ainda seu coração nãoirá falhar. Ele vai se lembrar de que o reino de Cristoum dia vai ser estabelecido. Ele vai dizer, como oantigo ministro escocês que viveu sem se moverdurante o tumulto da primeira revolução francesa:“Está tudo bem: vai ser bom para o justo”.

Eu sei muito bem que Satã odeia a doutrina queeu estou me esforçando para pressionar sobre vocês.Eu não tenho dúvida de que ele está enchendo suamente com objeções e raciocínios, e persuadindo-o deque eu estou errado. Eu não tenho medo de encontraressas objeções face a face. Vamos trazê-las para frentee ver quais são.

Você pode me dizer que “você conhece muitaspessoas religiosas que não são tão felizes” Você os vêatender diligentemente à participação do cultopúblico. Você sabe que eles nunca perdem oSacramento da Ceia do Senhor. Mas você não vê nelasas marcas de paz que eu tenho descrito.

Mas você está certo de que essas pessoas dasquais fala são verdadeiros crentes em Cristo? Vocêestá certo de que, com toda sua aparência de religiosa,elas são nascidas de novo e convertidas a Deus? Não é

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mais provável que elas não têm nada mais do que onome do Cristianismo, sem a realidade; e uma formade piedade, sem o poder? Aliás, você ainda tem deaprender que pessoas que podem fazer muitos atosreligiosos, mas que ainda não possuem religiãosalvadora! Um Cristianismo meramente formal,cerimonial, nunca irá fazer as pessoas felizes. Nósqueremos algo mais do que ir à Igreja, e ir aossacramentos, para ter felicidade. É preciso haverunião real e vital com Cristo. Não é o cristão formal,mas o cristão verdadeiro, que é o homem feliz.

Você pode me contar que “você conhece pessoasrealmente com mentes espirituais e convertidas quenão parecem felizes.” Você as ouve frequentementereclamando de seus próprios corações e gemendoacerca de sua própria corrupção. Eles parecem paravocê todas somente dúvidas, ansiedades e temores; evocê quer saber onde há felicidade nessas pessoas dasquais eu tenho tanto dito.

Eu não nego que há muitos santos de Deus taiscomo esses que você descreveu, e eu sinto muito porisso. Eu logo digo que há muitos crentes que vivemdebaixo de seus privilégios, e parecem nada conhecerde gozo e paz em crer. Mas você já perguntou a algumdesses se eles desistiriam da posição na religião queeles atingiram e voltariam ao mundo? Você já os

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perguntou, depois de todos seus gemidos, dúvidas, etemores, se eles pensam que seriam mais felizes seeles parassem de seguir firmemente a Cristo? Você jáos perguntou alguma dessas perguntas? Eu estoucerto de que se você o fizesse, os mais fracos e os maisbaixos dos crentes dariam uma só resposta, eu estoucerto de que eles falariam que iriam antes se agarrar asua pequena fagulha de esperança em Cristo do quepossuir o mundo. Eu estou certo de que eles todosiriam responder, “nossa fé é fraca, se nós temosalguma; nosso gozo em Cristo é próximo de nada:mas nós não podemos desistir do que temos. Aindaque o Senhor nos esmague, nós precisamos nosagarrar a Ele” A raiz da felicidade está profundamenteno coração de muitos dos crentes pobres e fracos,mesmo quando nem folhas nem pétalas são vistas!

Mas você irá me dizer, em último lugar, que“você não pode pensar que a maioria dos crentes éfeliz, porque eles são tão graves e sérios.” Você pensaque eles não possuem realmente está felicidade queeu venho descrevendo, porque seus semblantes não amostra. Você dúvida da realidade de seu gozo, porqueé muito pequeno para ser visto.

Eu posso facilmente repetir o que eu lhe disseno começo do texto, que uma face alegre não é umaprova certa de um coração feliz. Mas eu não o farei.

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Antes, irei lhe perguntar se você mesmo não pode sera causa porque os crentes parecem graves e sériosquando você os encontra? Se você mesmo não seconverteu, você com certeza não pode esperar queeles lhe observem sem angústia. Eles veem você nocaminho para a destruição e isso somente é suficientepara dar-lhes dor: eles veem milhares como vocêapressando-se para o choro, o gemer e o ai sem fim.Agora, é possível que esse olhar diário não os dê dor?Sua companhia, mui provavelmente, é uma causaporque eles são tão graves. Espere até você ser umhomem convertido antes de julgar sobre a gravidadenas pessoas convertidas. Veja eles em companhia comtodos que são um coração, e todos amam a Cristo, eaté onde a minha própria experiência vai, você não vaiencontrar pessoas tão verdadeiramente felizes quantoos verdadeiros cristãos.14

Eu repito a minha afirmação desta parte do meuassunto. Eu repito-a corajosamente, confiantemente,deliberadamente. Eu digo que não há felicidade entrehomens que possa ser comparada com aquela doverdadeiro cristão. Toda outra felicidade ao lado deleé a luz da lua comparada à luz do sol, e o latão ao ladodo ouro. Orgulhe-se, se você quiser, da risada e do

14 Quando o infiel Hume perguntou o Bispo Home por que as pessoas religiosas

sempre pareciam melancólicas, o sábio prelado respondeu, “A sua presença, Sr.

Hume, faria qualquer cristão melancólico,” —Sinclair’s Aphorisms. Página 13

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divertimento de homens não religiosos; zombe, sequiser, da gravidade e da seriedade, que aparece nocomportamento de muitos cristãos. Eu tenho olhadopara toda a matéria cara a cara, e eu não me movi. Eudigo que somente o verdadeiro cristão é o homemverdadeiramente feliz, e que o caminho para se serfeliz é ser um verdadeiro cristão.

E agora eu vou terminar este texto com umaspoucas palavras de clara aplicação. Eu tenho meesforçado para mostrar o que é essencial à verdadeirafelicidade. Eu tenho me esforçado para expor a faláciade muitas visões que prevalecem no assunto. Eutenho me esforçado para apontar, em palavras clarase inequívocas, o único lugar em que se pode achar averdadeira felicidade. Deixe-me acabar tudo isso porum afetivo apelo às consciências de todos em cujasmãos este volume possa cair.

(1) Em primeiro lugar, deixe-me suplicar atodo leitor deste texto a aplicar a seu própriocoração o solene inquérito: você é feliz?

Alto ou baixo, rico ou pobre, mestre ou servo,fazendeiro ou trabalhador, jovem ou velho, aqui está aquestão que merece uma resposta: você estárealmente feliz?

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Homem do mundo, você que não se importacom nada senão com as coisas temporais,negligenciando a Bíblia, fazendo um deus dosnegócios ou do dinheiro, preparando-se para tudomenos para o dia do juízo, fazendo esquemas eplanejando sobre tudo menos a eternidade: você éfeliz? Você sabe que não é.

Mulher tola, que tem jogado a vida forafutilmente em leviandade e frivolidade, gastandohoras após horas nesse frágil corpo que cedo vaialimentar os vermes, fazendo um ídolo do vestir e damoda, do entusiasmo e do louvor humano, como seesse mundo fosse tudo: você é feliz? Você sabe quenão é.

Jovem, você que tem estado encurvado aoprazer e a autoindulgência, tremulando de umpassatempo ocioso para outro como uma mariposasobre a vela, imaginando-se como esperto econhecedor, sábio demais para ser liderado porpessoas, e ignorante de que o diabo o tem cativo comoo boi que é levado ao matadouro: você é feliz? Vocêsabe que não é.

Sim: cada um de vocês, vocês não são felizes? Enas suas próprias consciências vocês sabem dissomuito bem. Vocês podem não admitir, mas é

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tristemente verdade. Há um grande vazio em cada umde seus corações, e nada vai enchê-los. Encha-o comdinheiro, aprendizado, classe, e prazer, e ainda vaiestar vazio. Há um dolorido lugar em cada uma desuas consciências, e nada vai curá-lo. Infidelidade15

não pode; pensamento livre não pode; Romanismonão pode: eles são todos remédios impostores. Nadapode curá-lo, mas o simples presente que você nãousou, o simples Evangelho de Cristo. Sim: vocês sãocom certeza um povo miserável!

Marque neste dia que você nunca vai ser felizaté você ser convertido. Assim como você podeesperar sentir o sol brilhar na sua face quando você dáas costas a ele, você também pode esperar se sentirfeliz quando você der as costas a Deus e a Cristo.

(2) Em segundo lugar, permita-me advertirtodos que não são verdadeiros cristãos da tolice deviver uma vida que não os pode fazer feliz.

Eu tenho pena de vocês do fundo do meucoração e iria de bom grado o persuadir a abrir seusolhos e ser salvo. Eu estou como o atalaia na torre doeterno Evangelho. Eu os vejo colher miséria para simesmos, e eu chamo vocês para pararem e pensarem,antes que seja tarde demais. Oh, que Deus mostre a

15 (N. do T.) Aqui Ryle fala da condição de “infiel” ao Cristianismo

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vocês suas tolices!

Vocês estão talhando cisternas para vocês,cisternas quebradas, que não podem reter águaalguma. Vocês estão desperdiçando seu tempo, força eafeições naquilo que vai dar nenhum retorno pelo seutrabalho; “gastando seu dinheiro naquilo que não épão, e seu trabalho naquilo que não satisfaz”16 (Is55:2). Vocês estão construindo Babéis de suaspróprias maquinações e são ignorantes de que Deusvai derramar contenda em seus esquemas paraprocurar felicidade, por causa da sua tentativa paraser feliz sem Ele.

Acordem dos seus sonhos, eu suplico, e semostrem homens. Pensem na inutilidade de viveruma vida que vocês estarão envergonhados quandomorrerem, e em ter uma religião meramente nominal,que vai falhar quando vocês mais precisarem.

Abra seus olhos e olhe em volta para o mundo.Conte-me quem já foi realmente feliz sem Deus ouCristo ou o Espírito Santo. Olhe para o caminho emque você está viajando. Note as pegadas daqueles quepassaram antes de você: veja quantos saíram dela e

16 (N. do T.) A tradução foi feita da versão do autor, visto que a versão em

português não está satisfatoriamente igual.( “Por que gastais o dinheiro naquilo que

não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz?” Is 55:2 ARA)

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confessaram que estavam errados.

Eu o advirto claramente que se você não é umverdadeiro cristão você vai perder felicidade nomundo que é agora, como também no mundo que háde vir. Oh, acredite, o caminho da felicidade e ocaminho da salvação são um e o mesmo! O que seguirseu próprio caminho, e se negar a servir a Cristo,nunca será realmente feliz. Mas aquele que serve aCristo tem a promessa em ambas as vidas. Ele é felizna terra e ainda será feliz no céu.

Se você não é feliz neste mundo nem nopróximo, será tudo culpa sua. Oh, pense nisso! Nãoseja culpado de tamanha tolice. Quem não chorasobre a tolice do bêbado, do usuário de ópio e dosuicida? Mas não há tolice semelhante a doimpenitente filho do mundo.

(3) Em terceiro lugar, permita-me rogar atodos os leitores deste livro, que ainda não sãofelizes, a buscarem felicidade no único lugar quepode ser encontrada.

As chaves para o caminho da felicidade estãonas mãos do Senhor Jesus Cristo. Ele é selado eapontado por Deus o Pai para dar o pão da vida aosfamintos, e dar a água da vida aos sedentos. A porta

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que riquezas, status e aprendizado tem tanto tentadoabrir, e tentaram em vão, agora está pronta para seraberta para todo crente humilde que ora. Oh, se vocêquer ser feliz, venha a Cristo!

Venha a Ele, confessando que você está cansadodos seus próprios caminhos, e quer descansar, quevocê descobriu que não tem poder e força para fazerpor si santo ou feliz ou adequado para o céu, e nãotem esperança a não ser nEle. Conte tudo a Ele semreservas. Isso é vir a Cristo.

Venha a Ele, implorando-O a mostrar-lhe amisericórdia dEle, e conceder-lhe a salvação dElepara lavá-lo no Seu próprio sangue, e tirar fora todosos nossos pecados, para falar paz à sua consciência, ecurar sua perturbada alma. Conte a Ele tudo isso semreservas. Isso é vir a Cristo.

Você tem tudo para o encorajar. O próprioSenhor Jesus lhe convida. Ele proclama a você bemcomo aos outros: “vinde a mim, todos os que estaiscansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim,porque sou manso e humilde de coração; e achareisdescanso para vossa alma. Porque o meu jugo ésuave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30). Nãoespere por nada. Você pode se sentir indigno. Você

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pode sentir como se você não tivesse arrependido osuficiente. Mas não espere mais. Venha a Cristo.

Você tem tudo para o encorajar. Milhares têmcaminhado no caminho que você é convidado aentrar, e o acharam bom. Uma vez, como você, eles setornaram cansados de sua perversidade, e desejaramlibertação e descanso. Eles ouviram de Cristo, e deSua disposição para ajudar e salvar: eles vieram a Elepor fé e por oração, depois de muita dúvida ehesitação; eles O acham mil vezes mais gracioso doque eles esperavam. Eles descansaram nEle e foramfelizes: eles carregaram Sua cruz e provaram paz. Oh,ande em seus passos.

Eu imploro a você, pelas misericórdias, para vira Cristo. Já que você sempre será feliz, eu lhe rogo avir a Cristo. Expulse os atrasos. Acorde do seupassado de sono: levante-se, e seja livre! Venha aCristo neste dia.

(4) Em último lugar, permita-me ofereceralgumas sugestões para todos os cristãosincrementarem e promover a felicidade deles.

Eu ofereço essas dicas com modéstia. Eu desejoaplicá-las a minha própria consciência bem como àssuas. Você descobriu que o serviço a Cristo é feliz. Eu

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não tenho dúvidas de que você sentiu tal doçura napaz de Cristo que você iria de bom grado quererprovar mais dela. Eu estou certo de que essas dicasmerecem atenção.

Crentes, se vocês querem ter um aumento dafelicidade no serviço a Cristo, trabalhe todo ano paracrescer na graça. Atente-se acerca de ficar parado. Oshomens mais santos sempre são os mais felizes.Permita que seu alvo seja ser todo ano mais santo, —conhecer mais, sentir mais, ver mais a plenitude deCristo. Não descanse sobre a velha graça: não estejacontente com o grau de religião que você alcançou.Examine as Escrituras mais seriamente; ore maisfervorosamente; odeia mais ao pecado; mortifique aobstinação mais; torne-se mais humilde ao se achegarperto do seu fim. Busque mais comunhão pessoal edireta com o Senhor Jesus; lute mais para ser comoEnoque, — diariamente andando com Deus;mantenha sua consciência limpe de pecadospequenos; não entristeça o Espírito; evite discussões edisputas sobre matérias pequenas da religião: apoie-se mais firmemente sobre aquelas grandes verdades,sem as quais nenhum homem pode ser salvo. Lembree pratique essas coisas, e você será mais feliz.

Crentes se vocês querem ter um aumento dafelicidade no serviço de Cristo, trabalhem todo ano

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para serem mais agradecidos. Ore para que vocêpossa conhecer mais e mais do que é “regozijai-vosno Senhor” (Filipenses 3:1 ARC). Aprenda a ter umsenso mais profundo de sua própria miserávelpecaminosidade e corrupção, e ser maisprofundamente grato, porque pela graça de Deus vocêé o que é. Aliás, há muita reclamação e pouca ação degraças entre o povo de Deus! Há muita murmuração eambição pelas coisas que nós não temos. Há poucolouvor e benção pelas muitas imerecidasmisericórdias que nós temos. Oh, que Deus derramesobre nós um grande espírito de gratidão e louvor!

Crentes, se vocês querem ter um aumento dafelicidade no serviço de Cristo trabalhe todo anopara fazer mais o bem. Olhe a sua volta no círculo emque sua área está, e desenvolva-se para ser útil. Lutepara ser do mesmo caráter do que Deus: Ele não só ébom, mas também “fazes o bem” (Salmo 119:68).Aliás, há egoísmo demais entre crentes nos presentesdias! Há demais sentar perto do fogo para cuidar dasnossas próprias doenças espirituais, demais coaxarsobre os nossos próprios corações. Levante-se; e sejaútil ao seu dia e geração! Não há ninguém em todomundo para quem você possa ler? Não há ninguémcom quem você possa conversar? Não há ninguémpara quem você possa escrever? Não há literalmentenada que você possa fazer para a glória de Deus, e

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para o benefício de seus companheiros? Oh, eu nempenso nisso! Eu não posso pensar nisso. Há muitoque você pode fazer, se ao menos quisesse. Para asaúde de sua própria felicidade, levante-se e o faça,sem atrasos. O bravo e falante trabalhador cristão ésempre o mais feliz. O quanto mais você faz por Deus,mais Deus fará por você.

Leitor, peço-lhe que reflita sobre as coisas queeu tenho dito. Que você nunca descanse até que possadar uma resposta satisfatória a minha pergunta: vocêestá feliz? Leitor, se você é capaz de responder aminha pergunta de forma satisfatória, peço-lhe paraque nunca mais esqueça que uma grande decisão noserviço de Cristo é o segredo de uma grandefelicidade. O cristão descomprometido, e não opersistente, jamais deve esperar para provar pazperfeita. O CRISTÃO MAIS DECIDIDO SEMPRESERÁ O HOMEM MAIS FELIZ.

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FONTE:

Traduzido de http://www.tracts.ukgo.com/ryle_are_you_happy.doc e http://www.tracts.ukgo.com/ryle_happiness.doc

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público

ARE YOU HAPPY? e HAPPYNESS

Tradução: Guilherme Cordeiro Pires

Capa: Wellington Marçal

Projeto Ryle – Anunciando a Verdade Evangélica.

Projeto de tradução de sermões, tratados e livros do ministro

(1816-1900) para glória de Deus em Cristo Jesus, pelo poder do

de incrédulos de seus pecados.

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