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Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A.
ANÁLISE DA DUREZA E MICROESTRUTURA FORMADA APÓS ENSAIO DE TEMPERABILIDADE “JOMINY”
Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo - 13.278-181
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Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 09 de março de 2009
Douglas Antunes de Souza Prof. Ms. Maurício de Carvalho Silva Curso: Engenharia Mecânica FACULDADE POLITÉCNICA DE JUNDIAÍ ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.
RESUMO
Este projeto terá por finalidade analisar a dureza e microestrutura que se formam nos corpos-de-prova, feitos em dois tipos de aço com elementos de liga e quantidade de carbono diferente, sendo estes SAE1020 e SAE4340, após serem ensaiados termicamente utilizando a metodologia Jominy da extremidade temperada, que objetiva verificar a temperabilidade do material. Obtendo os resultados dos ensaios o dispositivo denominado equipamento "Jominy", construído no projeto de iniciação cientifica do ano que se precede pelo mesmo autor, poderá ser validado cientificamente, sendo este o principal objetivo deste projeto. Para a analise dos resultados serão plotados gráficos, após os ensaios "Jominy" e de dureza, curvas Dureza X Distância "Jominy", para os dois materiais selecionados, e confrontados com os encontrados nos materiais acadêmicos hoje disponíveis. Também serão analisadas a microestrutura e dureza formada, após o ensaio, da região interna dos corpos-de-prova e justificada cientificamente. Espera-se com isso realizar um projeto prático com muitos fundamentos teóricos e densos de informações cientificamente comprovadas e ensaiadas, podendo gerar com isso, um material que possa auxiliar na realização do ensaio "Jominy" e no crescimento do conhecimento dos alunos na qual se interessar por engenharia mecânica e mais especificamente pela matéria de materiais.
Palavras-Chave: Temperabilidade, Jominy, dureza, microestrutura, materiais.
ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008
736 Análise da dureza e microestrutura formada após ensaio de temperabilidade “Jominy”
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1. INTRODUÇÃO
As propriedades mecânicas e desempenho em serviço de um metal ou liga metálicas
dependem da sua composição química, estrutura cristalina, histórico de processamento e
dos tratamentos térmicos realizados. De forma simplificada, os tratamentos térmicos
podem ser descritos como ciclos de aquecimento e resfriamento controlados (em material
metálico) que causam modificações na microestrutura e propriedades mecânicas dos
mesmos [1, 2].
Entretanto, esta mudança de propriedades mecânicas, principalmente em relação
ao tratamento térmico denominado têmpera, ocorre de maneira diferente para cada
material. E é a partir disso que se define a temperabilidade dos aços como sendo a
capacidade ou habilidade de aumento de resistência mecânica (por exemplo, aumento da
dureza) através da formação de martensita (que é uma microestrutura que apresenta
dureza elevada). Uma liga que possui alta temperabilidade forma martensita não apenas
na sua superfície, mas em elevado grau também em todo o seu interior e comprimento
[3,4].
Os métodos mais utilizados para avaliar a temperabilidade de um aço são o
ensaio de temperabilidade Grosmann (método que consiste na têmpera de diversos
corpos-de-prova, do mesmo material, porém de diâmetros diferentes, submetendo-os à
análise metalográfica e/ou ensaios de dureza com a finalidade de determinar o diâmetro
crítico) e o Ensaio Jominy [3, 4]. O ensaio Jominy também chamado de ensaio de
resfriamento da extremidade foi desenvolvido por Jominy e Boegehold, e é atualmente um
dos testes mais utilizados na prática industrial para a avaliação da temperabilidade. Como
será visto adiante, ao resfriar o corpo-de-prova a partir de uma extremidade têm-se,
portanto, diferentes taxas de resfriamento ao longo do comprimento deste corpo-de-prova.
E o conceito básico é que se a dureza for homogênea ao longo de todo comprimento, a
temperabilidade do material é elevada. Mas, se a dureza na extremidade oposta ao
resfriamento diminuir muito, a temperabilidade do material ensaiado é baixa.
2. OBJETIVO
Sendo assim, o objetivo deste projeto foi dividido em duas partes: a) projeto e construção
de um equipamento de ensaio Jominy (ensaio destinado à avaliação da temperabilidade de
aços); b) validação do equipamento construído através de ensaios de corpos-de-prova SAE
1020 e SAE4340, uma vez que as curvas de este material são largamente difundidas na
literatura e serão utilizadas para calibrar o equipamento. A primeira etapa deste projeto
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(construção do equipamento) já foi finalizada e o equipamento está alocado no Laboratório
de Materiais da Faculdade Politécnica de Jundiaí (FPJ).
3. METODOLOGIA
3.1. Material necessário
Para a realização deste ensaio, será necessário ter a disposição os seguintes materiais:
1 forno câmara para tratamento térmico de austenitização
2 dispositivos para proteção contra descarbonetação (opcional)
1 dispositivo Jominy para têmpera
1 torno convencional (pode-se solicitar usinagem de terceiros)
1 retificadora plana(pode-se solicitar usinagem de terceiros)
1 durômetro de bancada com capacidade de 250Kgf
1 penetrador cone de diamante com 120° de conicidade
1 dispositivo para medição de dureza dotado de movimento transversal
graduado em 1/16” (1,6mm)
1 amostra de aço do material à der ensaiado (32,0 mm x 100 mm)
3.2. Procedimento
Inicialmente é necessário ligar o forno se configurá-lo para atingir 900° C. Esse é o
primeiro procedimento pois o forno demora em torno de uma hora para atingir essa
temperatura. Este tempo pode ser utilizado para regulagem do equipamento para
realização do ensaio.
Durante o aquecimento do forno faça a regulagem do equipamento Jominy da
seguinte forma:
Pegue um corpo-de-prova e coloque no equipamento. Deixe o bico de saída de
água concentrico com o corpo-de-prova, ou seja, dividindo o mesmo centro. Agora
verifique a distância entre o bico e o corpo-de-prova. Esta medida deve ter 25.4 mm. Para
isso utilize um paquímetro.
Caso não esteja com esta medida regule o suporte do corpo-de-prova através dos
parafusos laterais. Para isso utilize uma chave de boca número 10. Caso a medida esteja
correta não há necessidade de regulagem podendo assim ir para o próximo passo.
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Após a regulagem coloque a alavanca de acionamento na posiçao OFF, ou seja
protegendo o corpo-de-prova do jato de água que irá sair do bico. Esta alavanca de
acionamento deve estar a 10mm do corpo-de-prova para que não atrapalhe no momento
do ensaio. Caso ela não esteja, regule sua altura atraves dos parafusos que fazem sua
fixação no suporte do corpo-de-prova. Feito isso abra o registro lentamente. A água
atingirá a face infeiror da alavanca de acionamento e formará uma “concha” com esta
água. Esta “concha” projetará um circulo na chapa que faceia do bico de saida de água,
denominada de chapa de regulagem da vazão. Este circulo deve ter um diâmetro de
180mm conforme indicado nesta chapa de regulagem da vazão.
Com este último procedimento é finalizado a regulagem do equipamento.
Assim que o forno atingir 900° C, utilize uma o par de luvas e a tenaz e coloque o
corpo-de-prova dentro do forno. CUIDADO, o forno estará a uma temperatura muito
elevada que pode provocar queimaduras muito grave. Ao colocar o corpo-de-prova a
temperatura do forno sofrerá uma queda, tanto pela presença do corpo-de-prova quanto
pela abertura do mesmo.
Depois de colocado o corpo-de-prova dentro do forno aguarde até ele atingir 900°
C novamente. Assim que esta temperatura for atingida comece a cronometrar. O corpo-de-
prova permanecerá dentro do forno por trinta minutos.
Acione o registro com a alavanca de acionamento na posiçao OFF, retire o corpo-
de-prova que foi utilizado na regulagem a deixe o equipamento próximo do forno.
Completado os trinta minutos abrá o forno e retire o corpo-de-prova utilizando a
tenaz e o par de luvas e coloque-o rapidamente no equipamento Jominy. Rapidamente
coloque a alavanca de acionamento na posição ON. A água atingirá a face inferior do
corpo-de-prova. CUIDADO não fique próximo a equipamento neste momento e
ATENÇÃO o tempo gasto para retirar o corpo-de-prova e acionar a alavanca na posição
ON dever ser o mínimo posível para que o corpo-de-prova não muita temperatura ao estar
em contato com a temperatura ambiente.
Assim que o corpo-de-prova for colocado no equipamento, comece a cronometrar.
Durante dez minutos o ensaio deve ser realizado.
Completado os dez minutos, retire o corpo-de-prova, utilizando o par de luvas
pois ele ainda estará muito quente, e coloque-o em um balde com água. Deixe ele lá por
vinte minutos até que seja atingida a temperatura ambiente, para que seja posível pega-ló
com as mãos.
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Depois que o corpo-de-prova estiver frio, à temperatura ambiente, retire a
camada formada de carbonetos e leve o corpo-de-prova para ser usinado. Faça dos
rebaixos de 5mm separados em 180° C.
Realizada a usinagem, faça a marcação das distância Jominy com uma caneta ou
marcador.
Realize o teste de dureza e em todas as distâncias Jominy e anote no formulário
que se encontra disponível com os responsáveis pelo laboratório da faculdade. Este
formulário foi desenvolvido especialmente para o ensaio Jominy e nele é possível traçar a
curva de temperabilidade.
4. DESENVOLVIMENTO
Para diversas aplicações de engenharia, torna-se necessário aumentar a resistência
mecânica de peças de aço logo após algum processo de fabricação (ex: conformação,
usinagem e etc.) específico. Depois que uma peça tenha sido, por exemplo, conformada ela
pode ser endurecida pelo tratamento térmico denominado têmpera (que será descrito a
seguir). A partir da Fig. 1, pode-se compreender o efeito que diferentes tratamentos
térmicos podem promover nas propriedades mecânicas de um aço, neste caso um aço AISI
1040. Esta figura apresenta um diagrama Tensão vs. Deformação para o aço AISI 1040 para
5 (cinco) tratamentos térmicos distintos: a) temperado; b) temperado e revenido a 200ºC
por 1 hora; c) temperado e revenido a 400ºC por 1 hora; d) temperado e revenido a 600ºC
por 1 hora; e) recozido. Observa-se, portanto, que em um único aço (mesma composição
química), podem ser obtidas propriedades mecânicas muito diferentes realizando-se
diferentes tratamentos térmicos.
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Figura 1. Aço AISI 1040 submetido a diferentes tratamentos térmicos [1].
A têmpera objetiva a formação de uma fase chamada martensita que é dura e
frágil. A têmpera caracteriza-se por um resfriamento rápido (alguns segundos) a partir de
uma temperatura onde exista 100% de austenita, essa temperatura dependerá da
composição do aço. A têmpera é habitualmente realizada utilizando água, salmoura ou
óleo. Isso dependerá da composição do aço. O revenimento é um tratamento térmico
realizado logo após a têmpera. Esse tratamento térmico causa alívio de tensões na peça
temperada, que tem por conseqüência uma diminuição de resistência de mecânica e
também um aumento na ductilidade (capacidade de deformação plástica) e na tenacidade
(capacidade que um material tem em absorver energia, por exemplo, até a sua fratura). Os
tratamentos térmicos de recozimento podem objetivar a diminuição do encruamento
(mecanismo de aumento de resistência por deformação plástica, por conseqüência do
aumento de discordâncias) e causar uma diminuição de dureza do material metálico [2, 3].
Entretanto, esta mudança de propriedades mecânicas, principalmente em relação
ao tratamento térmico de têmpera, ocorre de maneira diferente para cada material e é a
partir disso que se define a temperabilidade dos aços, como sendo a capacidade ou
habilidade para a formação de martensita.
4.1. Definição de temperabilidade e microestruturas formadas
Para o melhor entendimento dos tratamentos térmicos e da temperabilidade de aços,
apresenta-se abaixo uma breve descrição do diagrama Fe-C. De maneira geral, a maior
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parte dos diagramas de fases são constituídos admitindo condições de equilíbrio e são
utilizados para compreender e prever muitos aspectos do comportamento dos materiais. O
diagrama Fe-C (apresentado na Fig. 2) é aquele normalmente utilizado para o estudo dos
aços e dos ferros fundidos, materiais de extrema importância para a indústria metalúrgica
e mecânica. As ligas ferrosas são os materiais compostos a base de ferro. Tanto os aços
como os ferros fundidos têm como composição base o ferro e carbono. Definem-se aços
como sendo ligas compostas por ferro e teores de carbono de até 2% em peso. Já os ferros
fundidos, possuem teores acima de 2% em peso de carbono. Usualmente os teores de
carbono são sempre inferiores a 2% nos aços e superiores a 2% nos ferros fundidos [1-6].
Figura 2. Diagrama Fe-C [2].
Para o caso dos aços, na temperatura ambiente, o diagrama Fe-C apresenta
algumas possibilidades de microestruturas sendo a mais comum composta de ferrita
proeutetóide (formada acima de 723º C) e perlita (lamelas de ferrita formada abaixo de
723º C e cementita). As composições de ferrita proeutetóide e de perlita podem variar,
alterando assim a resistência mecânica dos materiais. Quanto maior a porcentagem de
perlita, maior será a resistência mecânica. Entretanto, quando se objetiva uma resistência
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mecânica maior do que a máxima obtida com uma dessas microestruturas, torna-se
necessário submeter o material à tratamentos térmicos pertinentes.
O diagrama de fase apresentado é representativo de condições ideais de
resfriamento, ou seja, de equilíbrio termodinâmico. Entretanto, na prática a condição ideal
de equilíbrio do resfriamento lento, que determina a formação da microestrutura, nem
sempre é mantida. Por razões econômicas, na prática existe pressa em se realizar o
resfriamento, e ao mesmo tempo garantir o tipo de microestrutura desejado. A relação
entre a temperatura e o tempo (história) do resfriamento para obter determinada
microestrutura é o que se denomina tratamento térmico. A base para o estudo dos
tratamentos térmicos é a cinética. Introduz-se uma importante variável, o tempo, que
permitirá a construção de um novo tipo de diagrama, denominado TTT (Temperatura,
Tempo, Transformação). O diagrama TTT (Fig. 3) é similar ao diagrama de fase, e permite
mapear transformações de difusão de estado sólido (dependentes de tempo) e
transformações rápidas, que ocorrem por outros mecanismos (independentes de tempo).
Este diagrama é obtido a partir da temperatura eutetóide (patamar de 723º C do diagrama
Fe-C), resfriando-se rapidamente o material até uma determinada temperatura e
mantendo-se esta temperatura constante até que ocorra a transformação da austenita
(como visto nos diagramas de equilíbrio, a austenita é instável abaixo da temperatura
eutetóide). Assim a transformação da austenita ocorre isotermicamente.
Figura 3. Diagrama TTT [2].
A temperabilidade é um termo utilizado para descrever a habilidade de uma liga
de ser endurecida pela formação de martensita. Uma liga que possui alta temperabilidade
forma martensita não apenas na sua superfície, mas em elevado grau também em todo o
seu interior [3,4]. Desta forma a temperabilidade é habitualmente definida como sendo a
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capacidade de um aço formar martensita na têmpera. E isso acontece se o resfriamento for
rápido o suficiente para que se evite qualquer percentual de transformação de perlita ou
bainita. Por exemplo, se a linha de resfriamento passar pelas linhas início de
transformação (1%) e final de transformação (100%) da Fig. 3, a microestrutura resultante
pode ser a perlita o a bainita mencionadas. Mas, se o resfriamento for rápido o suficiente
(evitando esta região) ter-se-á o início da transformação da austenita em martensita (Ms),
conforme sugerido na Fig. 3. Como a martensita não possui estrutura cúbica e todo o
carbono permanece em solução sólida, o escorregamento não ocorre facilmente e,
portanto, a martensita torna-se dura, resistente e frágil. Esse aumento na dureza é da
maior importância em engenharia, já que permitiu a obtenção de um aço extremamente
resistente à abrasão e deformação [3, 4].
Os fatores que afetam a temperabilidade de um modo geral são os mesmos que
influenciam sobre a posição das curvas nos diagramas isotérmicos ou de transformação
contínua, isto é, tamanhos de grãos austeníticos, homogeneidade da austenita e
composição química. A temperabilidade dos aços é aumentada pela presença de elementos
de liga aproximadamente na seguinte ordem ascendente: níquel, silício, manganês, cromo
molibdênio, vanádio e boro.
Os elementos que formam carbonetos – cromo, molibdênio e vanádio – exigem
que os aços que os contém sejam aquecidos para austenitização a temperaturas mais
elevadas, antes do resfriamento necessário para produzir endurecimento. Pois, a parcela
sob a forma de carboneto não se apresenta inicialmente dissolvida na austenita. Assim,
uma temperatura de austenitização mais elevada possibilita que essa dissolução se
processe de modo a garantir o eficiente endurecimento do aço após o resfriamento.
4.2. Contextualização do ensaio Jominy
O procedimento padrão utilizado no processo do ensaio Jominy consiste em: um corpo-de-
prova cilíndrico, de 25 mm de diâmetro por 100 mm de comprimento é aquecido até a
temperatura austenítica (em torno de 900ºC por 30minutos) e, em seguida, por meio de um
dispositivo adequado dirige-se um jato de água, sob condições controladas de vazão,
pressão e temperatura, contra uma das extremidades. Esse dispositivo é composto por um
suporte para o corpo-de-prova na parte superior e por um sistema de resfriamento com
água na parte inferior, conforme esquematizado na Fig.4. Isto propicia que as diferentes
regiões do corpo-de-prova tenham também diferentes taxas de resfriamento [1, 2].
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Figura 4. Desenho esquemático que mostra o funcionamento básico do ensaio proposto.
A extremidade inferior do corpo-de-prova será resfriada rapidamente pela água
corrente, o que não ocorre com a parte superior. Após o resfriamento do corpo-de-prova,
este é retificado e são feitas medidas de dureza ao longo de seu comprimento. A medida
de dureza feita é Rockwell C (HRC). A dureza é sempre maior junto à base do corpo-de-
prova, onde as taxas de resfriamento são mais elevadas, conforme esquematizado pela Fig.
5. Para os primeiros 12,8 mm, as leituras de dureza são tiradas em intervalos de 1,6 mm a
partir da extremidade que recebeu o jato de água. Enquanto para os demais 38,4 mm as
leituras são tomadas a cada 3,2 mm [1 – 7].
Figura 5. Desenho esquemático que mostra a maneira na qual serão obtidos os resultados deste ensaio.
Se o aço apresentar dureza elevada, mesmo em taxas de resfriamento mais baixas,
significa que o aço apresenta elevada temperabilidade. Acontece que com a diminuição da
taxa de resfriamento, haverá mais tempo para o carbono se difundir e, portanto, a
formação de uma maior porção da perlita será favorecida. Sendo que esta fase ainda pode
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aparecer juntamente com martensita e bainita. Dessa forma, um aço que é muito
endurecível irá apresentar grandes valores de dureza ao longo de distâncias relativamente
longas; um aço de baixa temperabilidade apresentará baixos valores de dureza ao longo
do comprimento do corpo-de-prova. Isto pode ser visto na Fig. 6 que mostra este
comportamento para três ligas distintas entre elas a liga SAE 8640, a SAE 4042 e também a
SAE 1040 [1]. Apesar da composição química ser diferente (diferentes elementos de liga),
estes aços apresentam a mesma quantidade de carbono, no caso, 0,40%C. Vale ressaltar
que cada liga de aço possui a sua própria curva de temperabilidade. Por isso que, algumas
vezes, torna-se conveniente relacionar a dureza à taxa de resfriamento, em vez de
relacioná-la à localização até a extremidade temperada de um corpo-de-prova Jominy
típico [1-7].
Os resultados do ensaio permitem comparar a temperabilidade de diferentes aços
e também servem como uma maneira de avaliar o aço recebido (controle de qualidade).
Para o caso específico deste projeto, os resultados obtidos serão utilizados para aferição do
equipamento construído.
Figura 6. Curvas de dureza para ensaio Jominy para três aços de engenharia de diferentes liga, entretanto,
todos eles contendo 0,40% de carbono.
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5. RESULTADOS
A seguir será apresentado o ensaio “Jominy” que foi realizado com o equipamento
construído. Para a realização do ensaio foram utilizados dois corpos-de-prova. Um
SAE1020, pouco temperavel, e um SAE4340, que apresenta boa temperabilidade.
5.1. Ensaio "Jominy”
Na Figura 7 temos os dois corpos-de-prova aquecidos à temperatura de austenitização
para a realização do ensaio. Estes corpos-de-prova encontram-se a 900°C. Nesta
temperatura ocorre a formação da austenita, que a fase de onde se originam as outras, tais
como, bainita, cementita, perlita, martensita, etc. O tempo médio em que os mesmos
ficaram nesta temperatura foi de aproximadamente trinta minutos. É importante ressaltar
que durante o aquecimento do forno e dos corpos-de-prova o mesmo deve se encontrar
devidamente fechado e que não necessariamente tem-se que aquecer os dois corpos-de-
prova ao mesmo tempo.
Figura 7. Forno aquecendo os corpos-de-prova.
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Depois de decorrido aproximadamente os trinta minutos um dos dois corpos-de-
prova e retirado do forno com uma tenaz e colocado no equipamento Jominy em
funcionamento. A Figura 8 apresenta o corpo-de-prova nos primeiros segundos do ensaio.
Figura 8. Corpo-de-prova nos primeiros segundos do ensaio.
Verificou-se que para a validade dos ensaios todos os corpos-de-prova ensaiados
devem ser submetidos as mesmas condições, sou seja, que estejam na mesma temperatura,
900° C, que o tempo decorrido entre retirar o corpo-de-prova do forno e colocá-lo no
equipamento seja aproximadamente igual, que a vazão de água que atingi a extremidade
inferior do corpo-de-prova seja a mesma e que esteja em temperatura ambiente.
Para verificação da temperatura o forno oferece um leitor digital na sua parte
frontal. Já a vazão deve ser regulada antes de se iniciar o ensaio. Na Figura 9 podemos ver
que ao atingir o corpo-de-prova o jato d’água toma a forma de uma “concha” projetando,
em vista superior, um círculo que deve ter o diâmetro de aproximadamente 180 mm. Isso
garante que a vazão é a mesmo durante o ensaio. Como realizar a regulagem desta vazão e
outros procedimentos para realização do ensaio é apresentado na seção “Materiais e
Métodos”.
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Figura 9. “Concha” formada garantindo a vazão durante os ensaios.
O tempo médio que o corpo-de-prova deve ficar no equipamento é de dez
minutos, sendo contados do instante em que a água atingi sua extremidade inferior.
Depois de decorrido os dez minutos o corpo-de-prova deve ser retirado pelo
aluno utilizando uma luva, que está disponível no laboratório de Materiais, pois ele ainda
estará muito quente na sua superfície. Para resfriamento total do corpo-de-prova, utilizou-
se um balde com água em que ele foi deixado de vinte a trinta minutos.
A Figura 10 apresenta o corpo-de-prova tendo sua dureza verificada por um
duromêtro. Este duromêtro apresenta um leitor analógico que montra a dureza que o
material apresenta. Os corpos-de-prova ensaiados passaram por esta verificação e a leitura
da dureza foi feita conforme as especificações de distancia que o ensaio Jominy requer.
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Figura 10. Teste de dureza dos corpos-de-prova.
Os dados obtidos neste teste de dureza foram anotados e plotados em um gráfico
que gerou duas curvas. Uma para o SAE1020 e outra para o SAE4340. A Figura 11 mostra
a dureza obtida em cada distância Jominy e a Figura 12 apresenta o gráfico “Dureza x
Distância Jominy” dos materiais ensaiados.
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Figura 11. Tabela com os valores de dureza.
Figura 12. Gráfico “Dureza x Distância Jominy” dos materiais ensaiados.
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A obtenção do gráfico é o resultado que se final do ensaio. Com ele podemos
verificar se o equipamento projetado está validado cientificamente, pois na Figura 12
temos o gráfico “Dureza x Distancia Jominy” apresentado na literatura base deste projeto.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dada a importância do assunto em relação a ensaios de materiais, acredita-se que a
utilização deste equipamento para elucidação dos conceitos de temperabilidade para os
alunos de engenharia desta instituição será de grande valia.
A grande vantagem do ensaio de temperabilidade Jominy reside na simplicidade
de sua execução aliada à possibilidade, de com um só ensaio, se caracterizar a resposta de
um aço a uma gama muito diversificada de velocidades de resfriamento, além disso,
permite obter uma reprodutibilidade de resultados muito boa;
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Um aço apresentará uma alta temperabilidade se após a têmpera apresentar uma
dureza elevada e homogênea ao longo de seu comprimento, pois isto indica que o grau de
penetração de têmpera é elevado.
REFERÊNCIAS CALLISTER, William D. Ciência e Engenharia de Materiais: uma introdução. Salt Lake City, Utah: Ltc, 1999. CANALE, Lauralice. Temperabilidade. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004. Centro de Informação Metal Mecânica. Materiais didáticos relacionados à disciplina de Materiais. Disponível em: <http://www.cimm.com.br>. CHIAVERINI, Vicente. Tecnologia Mecânica: materiais de construção mecânica. 2. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 1986. MACHADO, I. F. Tratamentos térmicos e de superfície. Notas de aula PMR2202. Escola Politécnica da USP, São Paulo. NORMA ASTM A255. Método de Ensaio Padronizado para Ensaio da Extremidade Temperada para a Endurecibilidade de Aços. (Standart Test Method for End-Quench Test for Hardenability of Steel). VAN VLACK, Lawrence Hall. Princípios de ciência e tecnologia dos materiais. Rio de Janeiro: Elsevier, 1984.
Resumos 753
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 753-776
RESUMOS
APLICAÇÃO TÓPICA DE PAPAÍNA E A IMPORTÂNCIA DO MONITORAMENTO DO PROCESSO CICATRICIAL NO TRATAMENTO DE FERIDAS CRÔNICAS Sandra Fátima Guerra Profa. Esp. Ana Paula dos Santos Oliveira Profa. Ms. Maria Tereza Ap. Moi Gonçalves
CENTRO UNIVERSITÁRIO ANHANGUERA – LEME • CURSO: ENFERMAGEM
O estudo originou-se da necessidade de compreender melhor o processo de cicatrização de feridas crônicas sobre o efeito da papaína. Trata-se de um estudo qualitativo, com levantamento bibliográfico sistematizado da literatura nacional, no período de Fevereiro a Outubro de 2008, por meio de livros científicos, periódicos, dissertação de mestrado e base de dados disponíveis no site SciELO e LILACS entre o ano 1998 a 2008, sobre a eficácia da solução de papaína no tratamento de feridas crônicas. A papaína é um complexo de enzimas proteolíticas retirado do látex do mamão (Carica papaya). Constatou-se através das referências analisadas, que além de acelerar o processo de cicatrização de feridas crônicas, a papaína possui efeitos terapêuticos como antiinflamatório, bactericida, bacteriostático e bioestimulante desde que utilizada conforme as especificações, além de ter um baixo custo quando comparada aos demais produtos disponíveis no mercado. Portanto, o objetivo deste estudo é colaborar com a produção científica da enfermagem ao disponibilizar um material científico e específico sobre a papaína para a efetividade do tratamento. Além disso, o estudo enfatiza a importância do monitoramento do processo cicatricial e do planejamento da assistência ao portador de ferida crônica. Todavia, observou-se que há necessidade da ampliação de pesquisas científicas relacionadas ao uso da papaína no tratamento de feridas, pois são escassas as publicações nacionais referentes ao tema. Palavras-Chave: Papaína; Feridas crônicas; Processo de cicatrização; Curativos.
PORTADORES DA DOENÇA DE CHAGAS: SUA VIDA E ASSISTÊNCIA À SAÚDE Angélica Porto de Oliveira Luciane Feira Gomes Profa. Dra. Hedi Heckeler de Siqueira
FACULDADE ATLÂNTICO SUL • CURSO: ENFERMAGEM
A doença de Chagas é causada pelo protozoário Tripanossoma Cruzi que vive no tudo digestivo do barbeiro, que ao picar a pessoa pode transmitir a doença. A presente pesquisa objetivou conhecer como vivem e como são assistidas as pessoas portadoras da doença de Chagas nos municípios de Pinheiro Machado e Piratini/RS. A pesquisa é do tipo descrito, exploratório com abordagem qualitativa. A busca dos sujeitos realizou-se nas Unidades Básicas de Saúde. Os dados foram coletados através do método da entrevista semi-estruturada com dez sujeitos selecionados, aleatoriamente, entre os portadores cadastrados nas Unidades Básicas de Saúde nos dois municípios. Na análise dos dados utilizou-se o método da análise de conteúdo. Os resultados apontaram que a doença crônica de Chagas é de maior prevalência (72,7%) no sexo masculino na faixa etária de 50 à 59 (45,4%). Todos os participantes eram ex-residentes rurais e tiveram contato com o “barbeiro” em algum momento da vida. Procuraram, tardiamente, o médico, quando já apresentavam algum sintoma. Todos apresentam dor e/ou desconfortos que causam grandes limitações ao desenvolvimento das ações cotidianas, situação que abala o equilíbrio da sua saúde e interfere no seu estilo de vida. Ressalta-se que todos freqüentam as Unidades Básicas de Saúde cujo acolhimento se mostrou importante, pois manifestam ansiedade em torno de uma possível cura e precisam de medicação paliativa para a sintomatologia. Concluiu-se que a doença de Chagas configura-se num sério problema social e político que necessita de ações inter-setoriais para amenizá-la, mas ainda não é concretizada na prática. Palavras-Chave: Doença de Chagas; Estilo de vida; Assistência à saúde; Anos de vida ajustados por qualidade de vida.
CIÊNCIAS AGRÁRIAS, BIOLÓGICAS E DA SAÚDE