J. W. Rochester - Vampirismo

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    | 1P g i n a ROCHESTER, J. W. (Esprito).Romance de uma rainha vol.2 . psicografado por W. Krijano-wski.FEB, pp 299-303.

    Vampirismo

    O que vou escrever provocar na mor parte dos meus leitores, um sorriso irnico, aqueles que dese- jam apenas o enredo do romance passaro sem ler, por essa dissertao: sei isso, porque falar seriamen-te em vampirismo, em nossa poca positiva, no fcil tarefa. A cincia oficial, que apenas quer co-nhecer o que o bisturi pode sondar, nega a existncia dos vampiros, e os fatos indiscutveis ocorridosem diferentes pases, tm sido vituperados, negados ou silenciados, e bem assim outros fenmenos nomenos positivos, os quais apesar disso, se impem pouco a pouco, ateno dos sbios, porque o fato um argumento brutal que no se pode eternamente suprimir.

    Dito isto, creio do meu dever explicar o melhor que possa, aos meus leitores espritas, o fenmenodo vampirismo, pouco aprofundado ainda, se bem que sendo um fato natural sempre existiu, tanto na

    poca de Hatasu quanto nos tempos modernos.Que o corpo evolui, se transforma e progride, e bem assim a alma, fato conhecido. Nas diversascondies dos trs reinos, e enfim, na humanidade, a alma desenvolve-se e progride, o perisprito, seuinseparvel companheiro, adapta-se s diversas condies, conservando-se fielmente em si, at s maisfinas nuanas, a marca de todas as transformaes sofridas. Na composio qumica do perisprito soencontradas todas as substncias, o reflexo de todos os instintos, qualidades e pendores do ser duranteas inmeras existncias e transformaes atravs do mineral, do vegetal, e do animal, e, enfim, do -homem, o ser mais perfeito conhecido sobre a Terra. O tomo indestrutvel lanado pela fora criadorano turbilho do Espao, e representando apenas um princpio vital, reveste-se imediatamente de umDUPLO etreo, intermedirio entre a centelha divina e a parte material - o corpo. Esse intermedirio o agente principal que pe em vibrao as funes da alma, isto , a vida da alma se produz pela vidamaterial sobre esse tecido (invisvel para vs) constitudo por milhares de fios luminosos de indescrit-vel tenuidade.

    De igual modo que nas clulas da cera se condensa o mel, assim sobre o perisprito condensam-seos elementos e suas substncias compostas. "Alma vestida de ar", disse um grande sbio e poeta gentil,para indicar a composio do nosso corpo, o qual, desde que o Esprito dele se desprende, presa dapodrido e se decompe em seus elementos primitivos. Uma regra sem exceo estipula que depois daalma vem o perisprito, depois do perisprito o corpo, isto , as substncias que podem, de acordo comimutvel lei, aglomerar-se sobre o tecido fludico.

    Assim, o perisprito de um molusco s pode atrair na sua condensao material, substncias gelati-nosas, e somente pelo trabalho davida o ser adquire e se apropria de novas foras de calor eltrico, asquais, em prxima condensao, tornaro o perisprito do molusco de outrora apto a formar um corpomais perfeito.

    Falei no calor, esse grande agente universal de toda a vida, ao qual quase se podia dar o nome de -Deus, to potente sua ao, e com o qual se depara em toda parte para onde se voltam os olhares.Em toda parte, efetivamente, onde o crebro do sbio esquadrinha, ele encontra o calor, a fonte da vi-da: est posto nas entranhas da Terra e encoberto nas nuvens. O calor funde toda matria, amalgama,solda de maneira indestrutvel; o calor une a alma matria e dela a separa; esse elo o trao luminoso

    visvel pelos sonmbulos clarividentes.O grande calor queima tanto quanto o fogo e o frio intenso produz a mesma sensao de queima-dura; quanto mais calor existe na cratera perispiritual, mais desenvolvidos a alma e o corpo. Tudo que pesado, preguioso, carece de calor e pertence a um grau inferior de desenvolvimento; todo ser e

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    | 2P g i n a mesmo todo planeta, mais trabalhado pelo calor vivificante, distingue-se por um grau superior de ativi-dade e desenvolvimento intelectual. Enfim, a perfeio no se resume, em si, apenas na concepo deque o Esprito, desembaraado de toda substncia material, torna a ser falha pura e regressa ao focode onde saiu, cego, para a ele tornar, inteligente, e servir ao Criador, que se separa de ns, porm ja-mais rompe o elo que nos liga Ele e que, atravs de todos os sofrimentos e vicissitudes da depurao,deve conduzir-nos cedo ou tarde, a esse centro divino.

    Essa longa viagem, atravs dos trs reinos, deixa profundos sinais nos gostos, necessidades e instin-tos do homem, ser imperfeito, ainda bem prximo dessa animalidade que ele, no entanto, despreza, aponto de lhe negar uma alma, uma inteligncia, um direito sua proteo. que o orgulho de possuiruma vontade menos restrita, um mais largo horizonte, mais amplitude para os vcios, sobe ao crebrodo homem e lhe faz esquecer que ele apenas subiu um degrau na escala social da Criao, que ele foi oque so agora esses irmos inferiores, e que, na embriaguez e na satisfao de seu progresso, o homem,to orgulhoso do seu livre arbtrio e do dom da palavra, retrograda muitas vezes pelos sentimentos e pelos abusos, para mais baixo do que o bruto que ele menospreza. Sim, esquecido de todas as seme-

    lhanas de estrutura, de necessidade e de sentimentos que o ligam ainda e to estreitamente ao animal,o homem se considera senhor absoluto deste, soberano feroz dessas populaes mudas e sem defesa,entregues sua merc; o homem abusa cruelmente dos seus imaginrios direitos sobre esse irmo maisnovo, por isso que a inteligncia deste mais limitada e seus instintos mais aaimados pelas leis daNatureza.

    Tomemos alguns exemplos: a crueza, e assim a voracidade, do animal tem por meta a satisfao deuma necessidade ou a defesa; uma vez saciado ou ao abrigo de um ataque, ele no procura luta algu-ma. Mas, vede a que refinamentos esses dois sentimentos conduziram ao homem! A tortura fsica emoral, a avidez insacivel, enquanto houver algo a pilhar em seu redor, so apangio do homem; eletambm imaginou a traio, a morte em massa e o assassnio, enquanto que o animal luta corpo a cor-po; enfim, se a palavra falta ao animal, para mentir e dissimilar o pensamento, ele no tem muito quese queixar disso, e poucas virtudes existem sobre este mundo que o orgulhoso ser humano possa re-clamar por distino exclusiva.

    Voltando ao assunto que especialmente nos ocupa, lembrarei ao leitor a existncia de um animalchamado - vampiro, que, preferindo a noite ao dia, se atira s vacas, aos cavalos e tambm aos ho-mens, se os pode atingir, e lhes suga o sangue.

    Tendo em vista a tenacidade com que os instintos do animal se conservam no homem, este hbito,esta necessidade de sangue, permanece em estado latente na criatura, e se a educao, as circunstn-cias, a compreenso do mal no levarem o homem a dominar o instinto sanguinrio, que ainda vibraem seu perisprito, a necessidade bestial desponta e cria seres do gnero dos sugadores de sangue dandia, os quais so muito conhecidos, para que se possa negar a sua existncia. Mas, ningum tem pro-curado aprofundar o que pde inspirar a essa seita o rito selvagem que ela acoberta com um motivoreligioso, quando tal origem tem raiz em um estado particular do perisprito, adquirido pelo ser emsuas existncias vegetais e animais.

    Em conseqncia de diferentes causas, tais o terror, comoo moral, certo veneno, asfixia, seme-lhantes seres caem em um estado particular de letargia, com todas as aparncias da morte, e so enter-radas como se houvessem falecido. Um despertar em condies normais no se produz para essas enti-dades especiais, e a mor parte perece; mas, s vezes, em condies favorveis, tais cadveres aparentes

    aguardam apenas o claro da Lua para despertar, sob influncia da sua luz, para uma sinistra ativida-de. Todos aqueles cujo perisprito conserva alguma disposio ao vampirismo so lunticos, e muitasvezes sonmbulos videntes; sob a potente influncia da luz lunar, excepcional estado produz-se neles,mistura de lunatismo e de sonambulismo vidente, mas em grau bem mais extenso e mais elevado.

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    Todos os sentido desses estranhos letrgicos so de uma acuidade extraordinria: ouvem, vem, fa-rejam a distncias considerveis, e porque o corpo, ainda preso ao perisprito, age numa certa medida ea intervalos mais ou menos longos, tem necessidade de se reabastecer, o vampiro entrega-se pesquisade uma vtima humana, cujo sangue quente, sobrecarregado de fludo vital, dar-lhe- a nutrio indis-pensvel s condies de existncia e ao mesmo tempo satisfar os velhos apetites.

    O atade e as paredes no servem desgraadamente de obstculo para esse fantasma horrendo e pe-rigoso, porque para ele a Lua um auxiliar: ela absorve o peso do corpo e o desmaterializa at umgrau de expanso que permite ao vampiro atravessar portas, muros e outras coisas compactas.

    Meus leitores espritas sabem, e numerosas sesses j provaram evidncia, que a passagem da ma-tria atravs da matria um fato: os transportes de frutas, de flores, de diversos objetos, e mesmo deanimais, no so raros, e isso em todas as condies de fiscalizao desejveis. Mas, porque o elo in-dissolvel liga os trs reinos e o homem, tambm uma lei rege os fenmenos: o que possvel para aflor, o fruto ou o metal, possvel igualmente para o homem, e, nas condies desejadas, pode o seucorpo, to bem como uma laranja ou uma charuteira atravessar, paredes.

    Deixando, pois, o lugar onde est sepultado, o vampiro se dirige, com infalvel preciso, aonde esta vtima escolhida, da qual, graas aos aguados sentidos, identifica, a distncia, a idade, o sexo e aconstituio; jamais atacar velhos ou enfermos (salvo a escassez absoluta de jovens e sos). Chegado junto da presa, o vampiro se abate sobre ela, fascinando-a com o olhar, e preferencialmente procuraatingir o corao, para sugar o sangue na fonte; mas, se a vtima est vestida, desvia-se para o pescoo,quase sempre descoberto, abre a artria e sorve todo o sangue, a menos que seja impedido. Mas, sepercebe aproximao de um vivo, foge (porque compreende perfeitamente que sua ao criminosa)na direo de onde veio. Guiando-se e servindo do mesmo rastilho de luz, regressa ao lugar de ondesaiu, tal qual o luntico retorna infalivelmente ao leito, se por nada for impedido. Ento, se est sufici-entemente saciado, recai na imobilidade por um tempo mais ou menos longo, at que, em uma noitede plenilnio, recomece a homicida peregrinao.

    Os vampiros femininos so mais raros que os masculinos, porque seus organismos, menos robus-tos, sucumbem mais freqentemente; os vampiros homens escolhem de preferncia para vtimas mu-lheres e crianas. Nos casos em que tais seres tm sido identificados, o instinto popular inspirou a idiade desenterrar o morto incriminado e cortar-lhe a cabea, ou espetar o inferior do corpo com um ferroem brasa. O processo selvagem, igual todo ato inspirado por paixes desenfreadas, mas, em princ-pio, atinge a meta, porque, uma vez avariado o corpo de modo irremedivel, os laos que o prendiamso destrudos, a letargia cessa, e a alma, e assim o corpo, retomam as condies ordinrias. Se a vio-lncia no interrompe o estado letrgico, este pode prolongar-se por muito tempo, e o vampiro vegeta-r nessas condies at que um acidente qualquer venha a destru-lo.

    Nos pases frios, o vampirismo ocorre muito raramente; nos mais aproximados do Equador, na n-dia principalmente, tem sua verdadeira ptria, terra misteriosa e estranha da qual muito pouco se son-dam os enigmas. Quem suspeita, por exemplo, de que existam por ali muitos vivos que se alimentam,quase exclusivamente, da fora vital dos seres que subjugaram e dos quais toda existncia se escoa numxtase embrutecido, dos quais todas as funes vitais e intelectuais so suspensas, porque um outro senutre da fora que as devia sustentar? Esses pobres entes so olhados com espanto e desdm, alvos demotejos, mas ningum desconfia que sejam as vtimas dum vampirismo cultivado por uma categoriade homens, sbios, alis.

    Em todas as direes, o homem esbarra com mistrios, em meios dos quais, peregrina, cego; toda anossa existncia uma luta durante a qual buscamos nas trevas, o porqu do passado, do presente e doporvir, e, entretanto, repelimos obstinadamente a chave do enigma que se nos oferece sob a forma dediversos fenmenos inexplicados.

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    Somente quando a muito orgulhosa Cincia de afastar do seu obstinadonon possumus , quandoabordar francamente o estudo das misteriosas foras da alma, das quais o magnetismo, a mediunidade,o hipnotismo so mnima parte, quando se desvendarem pouco a pouco, as ocultas leis que regem oUniverso, tudo se tornar claro, no haver mais milagres, nem feitiarias, e sim leis naturais e fatosdelas decorrentes.

    Antes de terminar esta nota sobre vampirismo, direi ainda algumas palavras sobre os vampiros in-conscientes, no mui numerosos, porm menos raros do que estes ltimos descritos. Sua origem amesma, mas, nestes, o instinto voraz, motivado pela composio do seu perisprito, manifesta-se in-conscientemente, por um fludo acre e devorante que exalam, e absorve as foras vitais dos que o cer-cam e, por assim dizer, os devora. Tais seres, habitualmente so pequenos, secos, nervosos, de olharpenetrante, de atividade febril e incessante; em seu redor tudo se torna mesquinho, fraco, doentio, eapenas eles, vampiros, gozam sade florescente; mas, no se lhes pode imputar o mal da destruio deseus prximos, pois a fora de que fazem uso inconsciente.