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Anais da XI Jornada de Iniciação Científica da UFRRJ v. 11, n. 2, p. 209-212, 2001 209 Biologia reprodutiva do caranguejo Pachygrapsus transversus (Gibbes, 1850) (Crustacea, Decapoda, Grapsidae) da Praia de Ibicuí-RJ Daniele A. Campos 1 & Lídia M. Y. Oshiro 2 1. Bolsista PIBIC/CNPq/UFRRJ, Discente do Curso de Ciências Biológicas; 2. . Professora Adjunto 4, DPA/IZ/UFRRJ. Estação de Biologia Marinha (UFRRJ), Rua Sereder S/N., Itacuruçá, Mangaratiba, RJ, 23 860-000, E-mail: oshiro@ ufrrj,br. Palavras-chave: Pachygrapsus transversus, reprodution, Grapsidae, Praia de Ibicuí, Rio de Janeiro. Abstract The objective of this work was to obtain some knowledge about the P. transversus crab reproduction. The sampling was mode monthly from Mar/00 to Jul/01 in the intertidal zone at the Ibicuí Rock Beach. The total crabs collected were 502 individuals being 235 males, 170 females and 97 ovigerous female crabs. The ovigerous female crabs were found during every months of the sampling, but from Dez/00 to Mar/ 01 occurred the major frequency of the ovigerous female, indicating the reproduction period. The carapace width of the ovigerous female was between 8.5 to 20.0 mm.The number of eggs laid was about 540 to 5,273 and the average number of eggs were 1,770. The eggs size was between 200 to 380 µm, and their average size was 280 µm. Introdução Pachygrapsus transversus (Gibbes, 1850) é uma espécie com distribuição geográfica bastante ampla: Pacífico Oriental (da Califórnia até o Perú), Atlântico Oriental (Ilhas do Cabo verde até Angola), Mar Mediterrâneo e Atlântico Ocidental (leste dos EUA, Antilhas, costa norte da América do Sul, Brasil e Uruguai). No Brasil, ocorre na ilha Trindade e desde o Ceará até o Rio Grande do Sul (MELO, 1998). Na Baía de Sepetiba, especialmente no costão rochoso da praia de Ibicuí, localizada no Município de Mangaratiba/RJ, esse caranguejo é muito abundante, sendo muito freqüente a observação destes, se alimentando de algas, sobre as rochas. São animais bastante ariscos e difíceis de serem coletados, pois a qualquer movimento se escondem no interior das frestas das pedras. Em relação à bioecologia do gênero, foram realizados os trabalhos com Pachygrapsus gracilis (Saussure, 1858) no Rio Grande do Sul (SOUZA & FONTOURA, 1993), com Pachygrapsus maurus (Lucas,1846) em Portugal e com P. transversus realizados no Panamá (ABELE et al ., 1986) e no Brasil, nos Estados do Ceará (FURTADO-OGAWA, 1977), e São Paulo (FLORES et al., 1994; FLORES & NEGREIROS-FRANSOZO, 1998, 1999a e 1999b). Portanto, este trabalho teve como objetivo contribuir para o conhecimento da bioecologia dessa espécie, uma vez que ocorrem em abundância, e não há dados de estudo especificamente no Estado do Rio de Janeiro. Material e Métodos Os caranguejos foram coletados mensalmente, no período de Março/2000 a Julho/2001 no costão rochoso da Praia de Ibicuí. As amostragens foram efetuadas mensalmente, consultando-se a tábua de marés (DHN, 2000 e 2001), nas marés baixas, na região entre-marés. Os animais foram retirados da superfície das rochas, por entre as frestas e do interior de cracas com o auxílio de pinças e luvas. Os caranguejos coletados foram colocados em sacos pláticos, etiquetados, levados para o laboratório da Estação de Biologia Marinha e congelados para serem processados posteriormente. O procedimento seguinte consistiu na separação dos indivíduos por sexo e na obtenção dos dados biométricos, com o uso de um paquímetro. Foram medidos a largura e o comprimento da carapaça. De cada fêmea ovígera, uma pequena amostra aleatória de 20 ovos foi medida com a utilização de uma ocular micrométrica do microscópio estereoscópico, com o aumento de 50x, para obter o tamanho médio dos ovos. Posteriormente, os pleópodos com a massa de ovos foram retirados das fêmeas ovígeras, sendo os ovos dissociados em solução de 100% de hipoclorito de sódio. Os ovos foram agitados durante alguns

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  • Anais da XI Jornada de Iniciao Cientfica da UFRRJ

    v. 11, n. 2, p. 209-212, 2001209

    Biologia reprodutiva do caranguejo Pachygrapsus transversus (Gibbes, 1850)(Crustacea, Decapoda, Grapsidae) da Praia de Ibicu-RJ

    Daniele A. Campos1 & Ldia M. Y. Oshiro2

    1. Bolsista PIBIC/CNPq/UFRRJ, Discente do Curso de Cincias Biolgicas; 2.. Professora Adjunto 4, DPA/IZ/UFRRJ.Estao de Biologia Marinha (UFRRJ), Rua Sereder S/N., Itacuru, Mangaratiba, RJ, 23 860-000, E-mail: oshiro@ufrrj,br.

    Palavras-chave: Pachygrapsus transversus, reprodution, Grapsidae, Praia de Ibicu, Rio de Janeiro.

    Abstract

    The objective of this work was to obtain someknowledge about the P. transversus crabreproduction. The sampling was mode monthly fromMar/00 to Jul/01 in the intertidal zone at the Ibicu RockBeach. The total crabs collected were 502 individualsbeing 235 males, 170 females and 97 ovigerous femalecrabs. The ovigerous female crabs were found duringevery months of the sampling, but from Dez/00 to Mar/01 occurred the major frequency of the ovigerousfemale, indicating the reproduction period. Thecarapace width of the ovigerous female was between8.5 to 20.0 mm.The number of eggs laid was about540 to 5,273 and the average number of eggs were1,770. The eggs size was between 200 to 380 m,and their average size was 280 m.

    Introduo

    Pachygrapsus transversus (Gibbes, 1850) umaespcie com distribuio geogrfica bastante ampla:Pacfico Oriental (da Califrnia at o Per), AtlnticoOriental (Ilhas do Cabo verde at Angola), MarMediterrneo e Atlntico Ocidental (leste dos EUA,Antilhas, costa norte da Amrica do Sul, Brasil eUruguai). No Brasil, ocorre na ilha Trindade e desdeo Cear at o Rio Grande do Sul (MELO, 1998). NaBaa de Sepetiba, especialmente no costo rochosoda praia de Ibicu, localizada no Municpio deMangaratiba/RJ, esse caranguejo muito abundante,sendo muito freqente a observao destes, sealimentando de algas, sobre as rochas. So animaisbastante ariscos e difceis de serem coletados, poisa qualquer movimento se escondem no interior dasfrestas das pedras. Em relao bioecologia dognero, foram realizados os trabalhos comPachygrapsus gracilis (Saussure, 1858) no Rio

    Grande do Sul (SOUZA & FONTOURA, 1993), comPachygrapsus maurus (Lucas,1846) em Portugal ecom P. transversus realizados no Panam (ABELEet al., 1986) e no Brasil, nos Estados do Cear(FURTADO-OGAWA, 1977), e So Paulo (FLORESet al., 1994; FLORES & NEGREIROS-FRANSOZO,1998, 1999a e 1999b). Portanto, este trabalho tevecomo objetivo contribuir para o conhecimento dabioecologia dessa espcie, uma vez que ocorremem abundncia, e no h dados de estudoespecificamente no Estado do Rio de Janeiro.

    Material e Mtodos

    Os caranguejos foram coletados mensalmente, noperodo de Maro/2000 a Julho/2001 no costorochoso da Praia de Ibicu. As amostragens foramefetuadas mensalmente, consultando-se a tbua demars (DHN, 2000 e 2001), nas mars baixas, naregio entre-mars. Os animais foram retirados dasuperfcie das rochas, por entre as frestas e do interiorde cracas com o auxlio de pinas e luvas. Oscaranguejos coletados foram colocados em sacosplticos, etiquetados, levados para o laboratrio daEstao de Biologia Marinha e congelados paraserem processados posteriormente. O procedimentoseguinte consistiu na separao dos indivduos porsexo e na obteno dos dados biomtricos, com ouso de um paqumetro. Foram medidos a largura eo comprimento da carapaa. De cada fmea ovgera,uma pequena amostra aleatria de 20 ovos foimedida com a utilizao de uma ocular micromtricado microscpio estereoscpico, com o aumento de50x, para obter o tamanho mdio dos ovos.Posteriormente, os plepodos com a massa de ovosforam retirados das fmeas ovgeras, sendo os ovosdissociados em soluo de 100% de hipoclorito desdio. Os ovos foram agitados durante alguns

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    segundos na soluo e a seguir lavados em guacorrente e depois colocados em lcool 70%. Aamostra foi homogeneizada e retirou-se 3 sub-amostras de um ml, onde os ovos foram contados.Atravs da mdia das subamostras, foi estimado onmero total de ovos. Os ovos foram contadosutilizando-se uma cmara de contagem e umcontador manual, sob um microscpioestereoscpico. Das fmeas no ovgeras, foramretiradas a carapaa para a observaomacroscpica das gnadas, onde foram observadasa colorao e a espessura das gnadas, para verificaro estgio gonadal.

    Resultados e Discusso

    Um total de 502 exemplares de P. transversus foramcoletados no perodo de Mar/00 a Jul/01, sendo 235machos, 170 fmeas e 97 fmeas ovadas. Nosmeses de novembro/00, Abril/01 e junho/10 no foipossvel a realizao de coletas devido s mscondies meteorolgicas. A razo sexual obtida foide 1,1 (fmeas/machos) demonstrando uma ligeirapredominncia de fmeas na populao em relaoaos machos (Figura 1). Nos meses correspondentesa outono e inverno houve uma maior ocorrncia defmeas e na primavera e vero maior ocorrncia demachos, provavelmente isto se deve aocomportamento das fmeas na poca de reproduo,quando devem estar menos expostas ao ambienteexterno. As fmeas ovgeras foram encontradas aolongo de todos os meses de coleta. No perodo deDezembro/00 a Maro/01, houve uma maiorabundncia de fmeas ovgeras em relao s noovgeras (Figura 2), demonstrando o perodoreprodutivo dessa espcie.

    Figura 2. Pachygrapsus transversus. Distribuiomensal das fmeas ovgeras e no ovgeras duranteo perodo de mar/00 a jul/01 na Praia de Ibicu.

    Segundo CRANE (1947) apud ABELE et al. (1986),a reproduo ocorre ao longo de todo o ano noPanam e pelo menos de novembro a maro emCosta Rica. A largura total dos machos variou de6,7 a 23mm e nas fmeas no ovgeras de 5,2 a21,1 mm. A distribuio dos animais em classes detamanho apresentou predominncia de machos nasclasses de maior tamanho (Figura 3). ABELE et al(1986) encontraram uma amplitude de larguramxima de 17mm para essa espcie na Costa Ricae no Panam.

    05

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    Total de fmeas N de machos

    Figura 1. Pachygrapsus transversus. Distribuiomensal dos indivduos durante o perodo de mar/00a jul/01 na Praia de Ibicu.

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    No ovgeras Ovgeras

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    12.1-14

    14.1-16

    16.1-18

    18.1-20

    20.1-22

    22.1-24

    Classes de tamanho

    Nm

    ero

    de in

    div

    duos

    Fmeas no ovgeras Fmeas Ovgeras Machos

    Figura 3. Pachygrapsus transversus. Distribuio porclasses de tamanho dos indivduos coletados noperodo de mar/00 a jul/01 na Praia de Ibicu.

    As fmeas ovgeras do presente trabalho variaramde 8,5 a 20,0 mm na largura da carapaa,correspondendo respectivamente de 5,9 a 16,0 mmem comprimento da carapaa. J FLORES &NEGREIROS-FRANSOZO (1998) encontraramfmeas ovgeras que variaram de 4,5 a 16,8 mm nocomprimento da carapaa, em Ubatuba (SP). A

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    fecundidade mdia encontrada no presente estudo foide 1770 ovos, variando de 540 a 5273 ovos (Figura 4).As fmeas carregando nmero de ovos abaixo de 500ovos no foram consideradas neste trabalho, pelaprovvel perda da parte desses ovos. Este dado seassemelha ao encontrado por ALMAA (1987), queencontrou a fecundidade mdia de 1771 ovos para P.maurus, em fmeas que variaram de 6,2 mm a 11,75mm de largura da carapaa.

    Figura 5. Pachygrapsus transversus. Nmero mdiode ovos carregados de acordo com as classes detamanho das fmeas coletadas no perodo de mar/00 a jul/01.

    Agradecimentos e Auxlio Financeiro

    Agradecemos a concesso da Bolsa de IniciaoCientfica (PIBIC/CNPq) para a primeira autora, sema qual este trabalho no teria sido realizado.

    Referncias Bibliogrficas

    ABELE, L.G; CAMPANELLA, P.J. & SALMON, M.,1986. Natural history and social organization of thesemiterrestrial grapsid crab Pachygrapsus transversus.J. Exp. Mar. Ecol., 104:153-170.

    ALMAA, C. 1987.Egg number and size inPachygrapsus maurus (Lucas, 1846) from Praia daLaginha (Faial, Azores islands). Inv. Pesq. 51 (Supl.1):157-163.

    DHN. Diretoria de Hidrografia e Navegao daMarinha do Brasil. 2000. Tbua das Mars. Porto deSepetiba, p.117-119.

    DHN. Diretoria de Hidrografia e Navegao daMarinha do Brasil. 2001. Tbua das Mars. Porto deSepetiba, p. 117-119.

    FLORES, A.A.V; FRANSOZO, A. & NEGREIROS-FRANSOZO, M.L. 1994. Estratgia reprodutiva dePachygrapsus transversus (Gibbes, 1850)(Crustacea, Brachyura, Grapsidae) no litoral nortedo Estado de So Paulo. Resumos. XX CongressoBrasileiro de Zoologia. Rio de Janeiro. p. 26.

    y = -18,377x + 2152,6R2 = 0,0777

    N=44

    0500

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    Largura da carapaa (mm)

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    Classes de tamanho (mm)

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    Figura 4. Pachygrapsus transversus. Nmero de ovosem relao largura de carapaa das fmeas ovgerascoletadas no perodo de mar/00 a jul/01 na Praia deIbicu.

    ABELE et al. (1986) encontraram as maiores fmeasde P. transversus carregando mais de 15000 ovosno Panam. Na figura 5 verifica-se que a quantidadede ovos aumenta em relao classe de largura dacarapaa, como ocorre com a grande maioria dosbraquiros. Na classe correspondente a 18,1-20 mm,houve um decrscimo na mdia de ovos, que podeser explicada pela provvel diminuio dapotencialidade reprodutiva das fmeas. A amplitudede tamanho dos ovos variou de 200 m a 380 m,apresentando o tamanho mdio de 280 m. JABELE et al. (1986) encontraram ovos variando de200 a 220 m para essa mesma espcie e ALMAA(1987) encontrou o tamanho mdio de 235 m paraovos de P. maurus.

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    FLORES, A.A.V. & NEGREIROS-FRANSOZO, M.L.1998. External factors determining seasonal breedingin a subtropical population of the shore crabPachygrapsus transversus (Gibbes, 1850)(Brachyura, Grapsidae). Invertbr. Reprod. Dev. 34 (2-3): 149-155.

    FLORES, A.A.V. & NEGREIROS-FRANSOZO, M.L.1999a. On the population biology of the mottled shorecrab Pachygrapsus transversus (Gibbes, 1850)(Brachyura, Grapsidae) in a subtropical area. B. Mar.Sci. 654 (1): 59-73.

    FLORES, A. & NEGREIROS-FRANSOZO, M.L.1999b. Allometry of the secondary sexual charactersof the shore crab Pachygrapsus transversus (Gibbes,1850) (Brachyura, Grapsidae). Crustaceana 72 (9):1051-1066.

    FURTADO-OGAWA, E. 1977. Notas bioecolgicassobre Pachygrapsus transversus (Gibbes, 1850) noEstado do Cear (Crustacea: Brachyura). Arq. Cinc.Mar., 17 (2):107-113.

    MELO, G.A.S. 1998. Malacostraca-Eucarida-Brachyura - Oxyrhyncha and Brachyrhyncha. In:YOUNG, P.S. (ed.). Catalogue of Crustacea of Brazil.Museu Nacional. 415-451. (Srie Livros n. 6).

    SOUZA, G.D. & FONTOURA, N.F. 1993. Estruturapopulacional e fecundidade de Pachygrapsus gracilis(Saussure, 1858) no molhe do Rio Tramanda, RioGrande do Sul, Brasil (Crustacea, Decapoda,Grapsidae). Com. Mus. Cinc. PUCRS. 52: 29-37.