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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE MATERIAIS
PPGEM
JAIRO ALBERTO BLANCO MARTINEZ
COMPARAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE POR FADIGA DE
CONTATO DE ENGRENAGENS FABRICADAS EM AÇO AISI 4140 E FERRO
FUNDIDO NODULAR AUSTEMPERADO
DISSERTAÇÃO
CURITIBA
2011
JAIRO ALBERTO BLANCO MARTINEZ
COMPARAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE POR FADIGA DE
CONTATO DE ENGRENAGENS FABRICADAS EM AÇO AISI 4140 E FERRO
FUNDIDO NODULAR AUSTEMPERADO
Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação
em Engenharia Mecânica e de Materiais da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná para obtenção do titulo de
Mestre em Engenharia
Área de concentração: Engenharia de Materiais
Orientador: Prof. Dr. Carlos Henrique da Silva
CURITIBA
2011
-
III
BLANCO, J.,COMPARAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE POR FADIGA DE CONTATO DE
ENGRENAGENS FABRICADAS EM AÇO AISI 4140 E FERRO FUNDIDO NODULAR AUSTEMPERADO,
2011, Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e
de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 123p.
RESUMO
O ferro fundido nodular austemperado tem atraído consideravelmente a atenção nos últimos anos
devido a seu potencial para substituir os aços tratados termicamente para muitas aplicações na
engenharia. No conjunto dessas aplicações, as engrenagens de transmissão de potência ocupam um lugar
de destaque. Por isto, há a necessidade de desenvolver estudos em relação à utilização e o desempenho
de engrenagens fabricadas em FFNA. Esta dissertação tem como objetivo fazer um estudo comparativo da
resistência ao desgaste por fadiga de contato de engrenagens fabricadas em dois tipos de FFNA e o aço
AISI 4140, utilizando uma máquina de ensaios de fadiga de contato, a qual funciona com o princípio de
recirculação de potência.
Os ensaios de fadiga de contato foram realizados com engrenagens modificadas do tipo-C, em
dois estágio de carga: 135 N.m (running-in) e 302 N.m (pitting). Os ensaios foram lubrificados com óleo de
base natural ISO VG 100 e foi monitorada a temperatura do banho de óleo. Para compreender os
fenômenos envolvidos durante os ensaios foi realizada uma caracterização mecânica (ensaio de tração,
impacto e dureza) e metalográficas dos materiais.
Ao final dos ensaios foi possível identificar os mecanismo de danos decorrente do contato entre as
superfícies mediante o uso de microscopia eletrônica de varredura. Ao caracterizar a distribuição e
acumulação dos danos ao longo dos flancos ativos dos dentes, permitiu-se estabelecer uma taxa de danos
por número de ciclos, a qual foi utilizada como parâmetro na comparação dos materiais estudados.
Igualmente foram realizadas análises detalhadas de rugosidade e das trincas sub-superfíciais com o
objetivo de caracterizar o mecanismo de degradação da superfície e propagação e trincas dos materiais.
Os resultados experimentais mostraram que o FNAB apresentou o melhor desempenho à fadiga
de contanto, tendo menor taxas de danos de todos os ensaiados neste trabalho, este comportamento foi
influenciado fundamentalmente pela propriedade de energia absorvida ao impacto.
Palavras-chave: Aço AISI 4140, FFNA, Fadiga de contato, FZG.
IV
BLANCO, J.,COMPARAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE POR FADIGA DE CONTATO DE
ENGRENAGENS FABRICADAS EM AÇO AISI 4140 E FERRO FUNDIDO NODULAR AUSTEMPERADO,
2011, Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e
de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 123p.
ABSTRACT
The austempered ductile iron (ADI) has attracted considerable attention in recent years due to its
potential to replace the heat-treated steel for many applications in engineering. In all these applications, the
power transmission gears occupy a prominent place. Therefore, there is a need to develop studies on the
use and performance of gears made of ADI. This dissertation aims to make a comparative study of
resistance to contact fatigue wear of gears manufactured from two types of ADI and AISI 4140 steel, using
a testing machine contact fatigue, which works on the principle of recirculating power .
The contact fatigue tests were performed with modified gear type-C, two stage load: 135 Nm
(running-in) and 302 Nm (pitting). The tests were lubricated with oil ISO VG 100 natural base and was
monitored the temperature of the oil bath. To understand the phenomena involved during the testing was
performed a mechanical characterization (tensile test, impact and hardness) and metallographic materials.
At the end of the test was possible to identify the pitting ou spalling resulting from contact between
the surfaces by using scanning electron microscopy. The characterizing of the distribution and accumulation
of damage over the active flanks of the teeth, allowed to establish a rate of damage per number of cycles,
which was used as a parameter in the comparison of the materials studied. Were also carried out detailed
analysis of roughness and subsurface cracks in order to characterize the mechanism of degradation of
surface and crack propagation.
The experimental results showed that FNAB showed the best performance to contact fatigue, has a
lower damage rates of all tested materials in this work, this behavior was primarily influenced by the
toughness.
Keywords: AISI 4140 steel, ADI, Contact Fatigue, FZG.
V
SUMARIO
RESUMO ....................................................................................................................................................... III
ABSTRACT ................................................................................................................................................... IV
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................................... VIII
LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................................... XI
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...................................................................................................... XIII
LISTA DE SÍMBOLOS ................................................................................................................................ XIV
1 INTRODUÇAO ..................................................................................................................................... 16
2 Revisão Bibliográfica ............................................................................................................................ 18
2.1 Engrenagens ............................................................................................................................... 18
2.1.1 Nomenclatura das engrenagens ........................................................................................... 19
2.1.2 Contato entre dentes de engrenagens .................................................................................. 20
2.1.3 Esforços aplicados em engrenagens .................................................................................... 23
2.2 MATERIAIS PARA ENGRENAGENS .......................................................................................... 24
2.2.1 Aços forjados ........................................................................................................................ 25
2.2.2 Aços fundidos ....................................................................................................................... 26
2.2.3 Ferro fundido ......................................................................................................................... 28
2.2.3.1 Ferro Fundido Cinzento - FFC ...................................................................................... 28
2.2.3.2 Ferro fundido Nodular - FFN ......................................................................................... 30
2.2.4 Ferro fundido nodular austemperado - ADI ........................................................................... 32
2.2.4.1 Classificação dos ADIs ................................................................................................. 33
2.2.4.2 Microestruturas do ADI ................................................................................................. 34
2.2.4.3 Tratamento térmico de austêmpera .............................................................................. 35
2.2.4.3.1 Austenitização ........................................................................................................... 35
2.2.4.3.2 Transformação isotérmica ......................................................................................... 36
VI
2.2.4.3.3 Janela do processo.................................................................................................... 37
2.2.4.3.4 Influência da temperatura de austêmpera ................................................................. 38
2.2.4.3.5 Influência dos elementos de Liga .............................................................................. 40
2.2.4.4 FFNA aplicados a engrenagens .................................................................................... 42
2.2.4.5 Propriedades do ADI ..................................................................................................... 43
2.3 TRATAMENTO TÉRMICO EM ENGRENAGENS ....................................................................... 44
2.3.1 Introdução ............................................................................................................................. 44
2.3.2 Têmpera por indução ............................................................................................................ 45
2.3.2.1 Métodos de Tempera por indução ................................................................................ 46
2.3.2.2 Tempera e revenido ...................................................................................................... 47
2.3.2.3 Profundidade e dureza da camada endurecida ............................................................ 47
2.4 MODOS DE FALHA DE ENGRENAGENS .................................................................................. 48
2.4.1 Classificação dos modos de falha de engrenagens .............................................................. 48
2.4.2 Danos por fadiga ................................................................................................................... 50
2.4.2.1 Fadiga por flexão .......................................................................................................... 50
2.4.2.2 Fadiga de contato ......................................................................................................... 52
2.5 ENSAIO DE DESGASTE TIPO "FZG" ........................................................................................ 53
3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................................... 56
3.1 MATERIAIS ................................................................................................................................. 56
3.2 FABRICAÇÃO DAS ENGRENAGENS ........................................................................................ 61
3.3 CARACTERIZAÇÃO DOS DENTES ........................................................................................... 63
3.3.1 Perfis evolvental modificado ................................................................................................. 63
3.3.2 Medição de rugosidade ......................................................................................................... 63
3.4 ENSAIO DE FADIGA DE CONTATO .......................................................................................... 66
3.4.1 Equipamento ......................................................................................................................... 66
VII
3.4.2 Seleção do óleo lubrificante .................................................................................................. 67
3.4.3 Montagem do tribômetro FZG-LASC .................................................................................... 68
3.4.4 Condições de carregamento ................................................................................................. 70
3.4.5 Tempo e temperatura de ensaio. .......................................................................................... 70
3.4.6 Metodologia do ensaio .......................................................................................................... 71
3.5 ANÁLISE METALOGRÁFICA ...................................................................................................... 74
3.5.1 Preparação das amostras ..................................................................................................... 74
3.5.2 Microdureza .......................................................................................................................... 76
3.6 Condições de contato no perfil do dente ..................................................................................... 77
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................................... 79
4.1 Resistência ao desgaste ............................................................................................................. 79
4.2 Caracterização de danos ............................................................................................................. 82
4.3 Propagação de trincas na sub-superfícies .................................................................................. 90
4.4 Comparação AISI 4140 x FNAB .................................................................................................. 97
4.4.1 Rugosidade média em pinhões ............................................................................................. 97
4.4.2 Espessura de filme e coeficiente de atrito .......................................................................... 101
4.4.3 Pressão de contato de Hertz ............................................................................................... 103
5 CONCLUSÕES .................................................................................................................................. 104
6 SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................................................... 106
7 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 107
APÊNDICE A – Ensaios mecânicos ........................................................................................................... 110
APÊNDICE B – Perfis ................................................................................................................................. 116
APÊNDICE C – Condições de contato ....................................................................................................... 118
VIII
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1. Nomenclatura de engrenagens (dos Santos, 2003) .................................................................... 20
Figura 2.2. Posições da área de contato entre os dentes de uma engrenagem ao longo de um flanco ativo
de um dente reto ........................................................................................................................................... 20
Figura 2.3. Pontos característicos sobre a linha de engrenamento. ............................................................. 22
Figura 2.4. Pontos da linha de engrenamento. ............................................................................................. 22
Figura 2.5. Esforços aplicados em dentes de engrenagens (DAVIS, 2005) ................................................. 23
Figura 2.6. Camada cementada em dente de engrenagem (, 0,6%C, 0,37% de Mn, Si-1.6 e Cr-3.6)
(DAVIS,2005) ................................................................................................................................................ 25
Figura 2.7. Grafita laminar em uma matriz perlitica de ferro fundido cinzento (DAVIS,2005). ...................... 29
Figura 2.8. Micrografia de FFN: (a)Grafita esferoidal, sem ataque, em matriz de ferro fundido a 75x e (b)
com ataque quimico (picral) a 300x. O ataque revela que a matriz é composta de ferrita em volta dos
nódulos de grafita rodeado por uma matriz perlítica. (DAVIS,2005). ............................................................ 31
Figura 2.9. Comparação de propriedades mecânicas de nodulares austemperados com outras classes de
ferros fundidos nodulares (Guesser, 2009) ................................................................................................... 31
Figura 2.10. Relação entre Custo e Limite de Escoamento .......................................................................... 33
Figura 2.11. Efeito da microestrutura e de variáveis de processo sobre as propriedades mecânicas em
ferros fundido nodulares austemperados (Guesser, 2009). .......................................................................... 34
Figura 2.12. Microestrutura de ferro fundido nodular austemperado. Nódulos de grafita, matriz de ausferrita.
1000X. (Guesser, 2009) ................................................................................................................................ 34
Figura 2.13. Ciclo do tratamento de austêmpera (HAYRYNEN, 2002). ........................................................ 35
Figura 2.14. Influência da temperatura de austenitização nas propriedades mecânicas do FFNA
(KOVACS, 1991) ........................................................................................................................................... 36
Figura 2.15. Representação esquemática da janela de austêmpera (BALZER, 2003) ................................. 38
Figura 2.16. Janela de processo como uma função da temperatura de austêmpera para temperatura de
austenitização de 900 ºC (ELLIOTT, 1997). ................................................................................................. 39
Figura 2.17. Diagrama TTT mostrando o efeito da adição de cobre e de molibdênio na temperabilidade de
ferro fundido nodular não ligado. (MAGALHÃES, 1995), .............................................................................. 40
IX
Figura 2.18. Diagrama TTT de um FFNA ligado para diferentes teores de molibdênio (3.3%C, 2.6% Si,
0.3%Mn) (MAGALHÃES, 1995). ................................................................................................................... 41
Figura 2.19. Resistência à fadiga de contato determinados engrenagens produzidas em diversos tipos de
materiais (GUESSER, 1985)......................................................................................................................... 43
Figura 2.20. Resistência à fadiga por flexão determinados engrenagens produzidas em diversos tipos de
materias (Guesser, 1985) ............................................................................................................................. 44
Figura 2.21. Custos para a fabricação de uma engrenagem. (DAVIS, 2005) ............................................... 44
Figura 2.22. Métodos básicos têmpera por indução de engrenagens (RAKHIT, 2000) ................................ 46
Figura 2.23. Superfícies de fratura visíveis de uma coroa de FFNA, na qual ocorreu a ruptura de três
dentes por defeito de fadiga de flexão. (MAGALHÃES 2002). ...................................................................... 51
Figura 2.24. Precença de pitting em um dente de uma engrenagen helecoidal (DAVIS,2005) .................... 52
Figura 2.25. Perfis de dentes do pinhão e coroa de engrenagens: (a) FZG tipo A e (b) FZG tipo C.
(MAGALHÃES 2002). ................................................................................................................................... 55
Figura 3.1. Macrografia e micrografia do pinhão de aço AISI 4140 dente C.(a) camada temperada, (b)
microestrutura da camada temperada (martensíta, ataque nital, (c) microestrutura da camada temperada
(martensíta), (d) microestrutura do núcleo do dente ..................................................................................... 60
Figura 3.2. (a) Ferramenta utilizada no processo de shaving, (b) superfície do flanco dos dentes após
processo de shaving (Koda, 2009). .............................................................................................................. 61
Figura 3.3. Identificação dos corpos-de-prova. ............................................................................................. 62
Figura 3.4. Marcações dos dentes das engrenagens. .................................................................................. 62
Figura 3.5. Controle dimensional. (a) imagem de um perfil projetado; (b) desenho teórico de um perfil de
engrenagem tipo C. ...................................................................................................................................... 63
Figura 3.6. Direção axial das medições de rugosidade do flanco dos dentes. .............................................. 64
Figura 3.7. Perfis de rugosidade em estado de fornecimento: (a) AISI 4140 (b) FNAB e (c) FNAN. ............ 65
Figura 3.8. Componentes do tribômetro FZG-LASC. .................................................................................... 66
Figura 3.9. Vista superior do tribômetro FZG-LASC. .................................................................................... 69
Figura 3.10. Metodologia de ensaio de fadiga de contato utilizando o tribômetro FZG-LASC. ..................... 72
Figura 3.11. Sistema utilizado para aquisição de imagens. .......................................................................... 73
Figura 3.12. Medição de área afetada por pitting usando o Solid Edge. ....................................................... 73
X
Figura 3.13. Cortes para metalografia e medição de dureza e microdureza: (a) primeiro corte radial (b)
cortes axiais. ................................................................................................................................................. 74
Figura 3.14. Esquema de montagem de amostras em baquelite. ................................................................. 75
Figura 3.15. Esquema das quatro regiões de medições de microdureza realizadas. ................................... 76
Figura 4.1. Taxa de dano (A%/ciclos) dos materiais estudados ................................................................... 81
Figura 4.2 – Engrenagem de FANB com dente fraturado. (a) vista lateral mostrando a presença de pitting,
(b) superfície de fratura do dente. ................................................................................................................. 83
Figura 4.3. Danos superficiais no FNAN após ensaio ................................................................................... 84
Figura 4.4. Danos superficiais no FNAB após ensaio ................................................................................... 86
Figura 4.5. Danos superficiais no aço AISI 4140 após ensaio ...................................................................... 88
Figura 4.6. Trincas próximas á superfície de contato dos dentes de engrenagens (amostra com ataque
químico de Nital 3%). (a) FNAB e (b) FNAN. ............................................................................................... 96
Figura 4.7. Rugosidade média dos flancos em função do número de ciclos. ............................................... 98
Figura 4.8. Altura média das asperezas dos flancos em função do número de ciclos. ................................. 99
Figura 4.9. Espaçamento entre picos das asperezas dos flancos em função do número de ciclos. ........... 100
Figura 4.10 – Parâmetro de filme () ao longo do perfil do dente do pinhão. (a) Após o período de running-
in, (b) após o 6º estágio de pitting. .............................................................................................................. 102
Figura 4.11 – Coeficiente de atrito () ao longo do perfil do dente do pinhão. (a) Após o período de running-
in, (b) após o 6º estágio de pitting. .............................................................................................................. 102
Figura 4.12 Máxima pressão de Hertz ao longo do perfil do dente do pinhão para o AISI 4140 e FNAB. .. 103
XI
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1. Elementos Básicos de Engrenagens (Pezzano e Klein, 1957) .................................................. 21
Tabela 2.2. Composição química de aços para endurecimento de superfícies, (DAVIS,2005). ................... 27
Tabela 2.3. Mínimas durezas e resistência à tração requerida para ferro fundido cinzento (ASTM A48). .... 29
Tabela 2.4. Propriedades mecânicas requeridas para ferros fundidos nodulares. (ASTM A 536) ................ 30
Tabela 2.5. Classificação dos FFNAs (ASTM 897-90). ................................................................................. 33
Tabela 2.6. Elementos de ligas recomendados para FFNA (HAYRYNEN, 2002) ......................................... 40
Tabela 2.7. Freqüências de correntes recomendadas para tempera por indução (RAKHIT, 2000) .............. 46
Tabela 2.8. Freqüências de correntes versus profundidade da camada (RAKHIT, 2000) ............................ 47
Tabela 2.9. Nomenclatura dos modos de falhas de engrenagens recomendado pela AGMA ...................... 49
Tabela 2.10. Terminologia usada para descrever os mecanismos de falha por fadiga de contato.
(DAVIS,2005) ................................................................................................................................................ 53
Tabela 2.11. Principais características geométricas de engrenagens FZG. (MAGALHÃES 2002). .............. 55
Tabela 3.1. Composição química dos ferros fundidos utilizados nos ensaios de fadiga de contato de
engrenagens. (% peso) ................................................................................................................................. 57
Tabela 3.2. Microestruturas dos ferros fundidos nodulares .......................................................................... 58
Tabela 3.3. Caracterização dos nódulos dos ferros fundidos nodulares. ...................................................... 59
Tabela 3.4. Composição química nominal do aço AISI 4140 (% em peso)..... Error! Bookmark not defined.
Tabela 3.5. Valores de propriedades mecânicos dos materiais ensaiados ................................................... 61
Tabela 3.6. Parâmetros utilizados nas medições de rugosidade .................................................................. 64
Tabela 3.7. Parâmetros de rugosidade das engrenagens no estado de fornecimento. ................................ 65
Tabela 3.8. Principais elementos do equipamento FZG-LASC e suas funções. ........................................... 67
Tabela 3.9. Propriedades do óleo ISO VG 100 ............................................................................................. 68
Tabela 3.10. Estágios de cargas utilizados no ensaio de fadiga de contato ................................................. 70
Tabela 3.11. Tempos para inspeção visual dos flancos dos dentes para cada material............................... 71
XII
Tabela 3.12. Parâmetros utilizados na politriz semi–automática. ................................................................. 75
Tabela 3.13. Parâmetros para as medições de microdureza ........................................................................ 77
Tabela 3.14. Dados de entrada do sistema .................................................................................................. 77
Tabela 3.15. Características da análise do sistema ...................................................................................... 78
Tabela 3.16. Rugosidade média Ra (m) do perfil dos dentes após as etapas de running-in e pitting 6. .... 78
Tabela 4.1. Resultados dos ensaios de fadiga de contado em engrenagens. .............................................. 79
Tabela 4.2. Propagação de trincas sub-superficiais nos dentes das coroas (corte radial) em três diferentes
regiões: adendo, diâmetro primitivo e dedendo ............................................................................................ 91
Tabela 4.3. Propagação de trincas sub-superficiais nos dentes dos pinhoes (corte radial) em três diferentes
regiões: adendo, diâmetro primitivo e dedendo. ........................................................................................... 92
Tabela 4.4. Propagação de trincas sub-superficiais nos dentes das coroas (Corte Axial) em três diferentes
regiões: adendo, diâmetro primitivo e dedendo. ........................................................................................... 94
Tabela 4.5. propagação de trincas sub-superficiais nos dentes dos pinhões (Corte Axial) em três diferentes
regiões: adendo, diâmetro primitivo e dedendo. ........................................................................................... 95
XIII
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ASM American Society for Metals ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ASTM American Society for Testing and Materials AGMA American Gear Manufacturers Association ADI Ferro Fundido Nodular Austemperado AISI American Iron and Steel Institute BCIRA British Cast Iron Research CAD Computer Aided Design DAMEC Departamento Acadêmico de Mecânica DIN Deutsche Ingenieur Normen EHD ou EHL Regime de Lubrificação Elastohidrodinâmica FFC ferros fundidos cinzentos FFNA Ferro Fundido Nodular Austemperado ADI 1 Ferro Fundido Nodular Austemperado ADI 2 Ferro Fundido Nodular Ferrítico/Perlítico FFN Ferro fundido nodular FZG Forschungsstelle für Zahnräder und Getriebebau HB Dureza Brinell HRc Dureza Rockwell C HPSTC highest point of single tooth contact ISO International Standard Organization LASC Laboratório de Superfície e Contato LFS Laboratório de Fenômenos de Superfície LPSTC lowest point of single tooth contact MC Macroscopia MO Microscopia Ótica MEF Método dos Elementos Finitos MEV Microscopia Eletrônica de Varredura PHC Pressão Hertziana de Contato PPGEM Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais - SAE Society of Automotive Engineers UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná
XIV
LISTA DE SÍMBOLOS
σy Limite de escoamento
a Distancia entre eixos A Direção da força de Rolamento
A Alongamento A% Área danificada
A%/N Taxa de danos b Largura
b Comprimento do contato axial C Cabeça do dente
c Compressão
C ɣ Teor de carbono da austenita retida De Diâmetro externo
Di Diâmetro interno
Dp Diâmetro primitivo
e Espessura do dente
E Módulo de elasticidade f Pé do dente
F Carga
h Altura do dente
hmin Espessura mínima do filme lubrificante
I Relação de transmissão
J Joules
λ Parâmetro de filme lc Comprimento de corte
LE Limite de escoamento lm Comprimento de medição
LR Limite de resistencia
m Coeficiente de atrito M Módulo
N Número de ciclos
Ø cp Diâmetro do corpo de prova
P Carga transversal (lb) ao filme de lubrificante p Passo
R Direção da força de atrito R Rolamento
R´ Raio de curvatura equivalente
XV
Ra Rugosidade média
Raeq Rugosidade média equivalente
Req Raio de curvatura equivalente Rk Rugosidade do núcleo do perfil
Rmax Rugosidade máxima
Rpk Rugosidade média dos picos acima da área de contato do perfil
Rq Rugosidade quadrática
Rvk Rugosidade média dos vales
Rz Rugosidade média dos cinco maiores picos
s Cisalhamento
SR Escorregamento máximo
T Tração
Tr Torção
U Velocidade média V Vão do dente
Vr Velocidade de rolamento
Wl Carga específica em N/mm X1 Desvio de geração (Pinhão)
X2 Desvio de geração (Coroa)
Xc Fator de recobrimento Xɣ Fração volumétrica da austenita
XL Tipo de Lubrificante Z1 Número de dentes
α Ângulo de pressão
αw Ângulo de pressão corrigido
ζ Coeficiente pressão-viscosidade.
ηo Viscosidade absoluta do lubrificante
ν Coeficiente de poisson
-
16
1 INTRODUÇAO
O ferro fundido nodular austemperado (em inglês ADI – Austempered Ductile Iron) é o resultado
do tratamento térmico de austêmpera em ferro fundido nodular, representando a classe de ferros fundidos
com as melhores combinações de valores de resistência mecânica e alongamento. Este material tem sido
utilizado para aplicações envolvendo impacto e desgaste (suporte de mola de caminhão e componentes de
transporte em mineração de carvão) ou ainda em aplicações com necessidade de resistência à fadiga e
desgaste, como as engrenagens (GUESSER e GUEDES, 1997).
Assim, o ADI tem atraído consideravelmente a atenção nos últimos anos devido a seu potencial
para substituir os aços tratados termicamente para muitas aplicações na engenharia. Entre suas
propriedades mecânicas se destacam a alta resistência e ductilidade, elevada resistência ao desgaste e
uma alta resistência à fadiga. Sua tenacidade à fratura é comparável a dos aços de médio e baixo carbono,
temperados e revenidos. Além disso, tem a vantagem de menor custo de matéria-prima, menor custo de
produção, baixa densidade, melhor usinabilidade e maior capacidade de amortecimento do que o aço-liga
a substituir.
A produção de ADI é baseada em ciclos de tratamento térmicos relativamente curtos e não requer
equipamentos complexos, sendo o consumo energético menor que o necessário para tratar termicamente
um aço de uso tradicional para fabricação de engrenagens. Estimam-se economias superiores a 50% na
redução dos custos energéticos associados à sua produção (HARDING, 1984 apud MAGALHÃES, 1995).
Em aplicações mecânicas, o ADI permite o uso de óleos lubrificantes de menor qualidade, devido a seu
baixo coeficiente de atrito. Também sua grande capacidade de amortecimento de vibrações, faz com que
engrenagens de ADI sejam mais silenciosas comparadas às de aços convencionais.
Atualmente desenvolvimento está sendo focado em posicionar o ADI como um material com vasto
campo de aplicações. Assim, autores como MARTINS (2011) comparou a perda da eficiência de
engrenagens fabricadas em ADI e em aço 20MnCr5 cementado, operando em diferentes velocidades
e cargas, lubrificado por diferentes tipos de óleos industriais. Já PUTATUNDA (2002) correlaciona as
condições de tratamento térmico e características microestruturais resultantes, tais como o teor
de austenita e o teor de carbono na austenita , para determinas os fatores que influenciam na tenacidade
à fratura deste material.
17
O LASC (Laboratório de Superfícies e Contato) da UTFPR tem como objetivo estudar a mecânica
do contato, contando com o tribômetro FZG-LASC para ensaio de engrenagens. O projeto “Estudo do
fenômeno de fadiga de contato utilizando equipamento de ensaio tribológico com engrenagens do tipo”
“power recirculation rig”, teve início em 2006, quando os alunos, Fábio Koda (mestrando do PPGEM) e
Gustavo Garbuio Brandalise (bolsista PIBIC), desenvolveram uma metodologia de ensaio capaz de
provocar os danos tradicionais nas superfícies das engrenagens (BRANDALISE, 2007)
No ano 2009, no trabalho de dissertação do aluno Fabio Koda, “Estudo da fadiga de contato em
engrenagens cilíndricas de dentes retos”, foram feitos estudos comparativos entre engrenagens de FFNA e
aço AISI 8620. Durante a análise dos resultados observou-se a necessidade de melhor compreensão das
características do FFNA (composição química, microestruturas e propriedades mecânicas).
Por esta razão no mesmo ano se teve início do trabalho “Influência das condições de tratamento
de austêmpera nas propriedades de ferros fundidos nodulares utilizados na fabricação de engrenagens”
pela aluna Elisa Seeling de Oliveira (bolsistas PIBIC). O trabalho teve como objetivo compreender as
características mecânicas do FFNA, utilizado nos ensaios de fadiga de contato em engrenagens, bem
como uma análise das possíveis influências dessas características nos danos causados pela fadiga,
relacionando as variáveis do processo de austêmpera com as microestruturas e as propriedades
mecânicas obtidas. Além de diferentes condições do tratamento térmico foram utilizadas também
diferentes composições químicas de ferro fundido, para avaliar a influência dos elementos de liga na
obtenção do FFNA
A partir dos resultados obtidos do trabalho anterior, se determinou a composição e o ciclo de
austêmpera para a fabricação de engrenagens de FFNA que foram ensaiadas por fadiga de contato no
tribômetro FZG-LASC neste trabalho. Deste modo, este trabalho apresentará o desenvolvido de um estudo
sobre fadiga de contato em engrenagens, com o objetivo de caracterizar resistência aos fenômenos de
pitting e spalling em engrenagens fabricadas em aço AISI 4140 temperado por indução e ferros fundidos
nodulares austemperados.
18
2 Revisão Bibliográfica
2.1 Engrenagens
As engrenagens são elementos de máquinas que transmitem movimento rotatório e potência,
mediante o contato sucessivo de seus dentes, constituindo-se em um método econômico de transmissão,
particularmente, se os níveis de potência e precisão são altos. Engrenagens têm sido usadas por mais de
três mil anos (DUDLEY, 1994) e são elementos importantes em todos os tipos de máquinas utilizadas nos
tempos atuais. As áreas de aplicação para as engrenagens são diversas e incluem, para citar alguns:
Engrenagens pequenas e de baixo custo para brinquedos;
Engrenagens para equipamentos de escritórios;
Engrenagens para eletrodomésticos;
Engrenagens para o setor automotivo e transporte;
Engrenagens aeroespaciais;
Engrenagens para indústria de petróleo e gás.
As engrenagens são formadas por duas rodas dentadas, das quais a maior se denomina coroa e a
menor pinhão. Este conjunto promove a transmissão de movimento rotativo desde um eixo de uma fonte
de energia (um motor de combustão interna ou motor elétrico) até outro eixo, situado a certa distância, que
tem que realizar um trabalho. Desta forma a roda que está conectada à fonte de energia é conhecida com
engrenagem motora e a outra roda conectada ao eixo que recebe o movimento do eixo motor denominam-
se engrenagem conduzida. Se o sistema é formado por mais de um par de engrenagens, denomina-se
trem de engrenagens.
Distintos materiais são utilizados na fabricação das engrenagens, entre os quais se destacam os
aços liga, os ferros fundidos, bronze, alumínio e materiais sintéticos (polímeros). Devido ao constante
rolamento e deslizamento entre as superfícies em contato, as engrenagens estão expostas a desgaste,
motivo pelo qual são endurecidas mediante tratamentos térmicos de endurecimento superficial, como é o
caso da cementação nos aços. Outra medida para evitar o desgaste é a lubrificação do par em contato.
Além de refrigerar os materiais em contato, também favorece a transmissão do movimento a velocidades
elevadas (MAAG,1963)
19
Dentre dos vários tipos de engrenagens existentes, um dos mais comuns são as engrenagens
cilíndricas de dentes retos, segundo SHIGLEY e MISCHKE (2008) este tipo de engrenagens são utilizadas
geralmente para velocidades periféricas de até 5m/s, quando o nível de ruído não constitui um fator
importante. Elas estão disponíveis em muitos tamanhos comerciais e apresentam um custo de produção
menor que outras engrenagens, especialmente se são fabricadas em pequenas quantidades.
Na atualidade, os métodos de desenvolvimento de mecanismos constituídos por engrenagens têm
avançado de forma considerável. Assim, por exemplo, pode-se encontrar aplicações aéreas, nas quais se
utilizam engrenagens com materiais leves, sob condições de elevadas cargas e velocidades.
Adicionalmente, as técnicas de análise estrutural, baseadas na aplicação de Métodos de Elementos
Finitos, permitem resolver os problemas de tensões e esforços dinâmicos, assim como o cálculo das
freqüências de ressonâncias para este tipo de engrenagens (DAVIS, 2005)
2.1.1 Nomenclatura das engrenagens
Esta seção tem como objetivo rever alguns dos termos utilizados na indústria das engrenagens, com o
objetivo de descrever o design e a geometria das mesmas. A Figura 2.1 apresenta esquematicamente a
nomenclatura de engrenagens.
Note-se que apenas os termos mais comuns são apresentados na Figura 2.1. Para informações
mais detalhadas sobre a nomenclatura das engrenagens, pode ser encontrada em diversas normas
publicadas pela American Gear Manufacturers Association (AGMA), especificamente na AGMA 1012-F90,
"Gear Nomenclature, Definitions of Terms with Symbols.” Na Tabela 2.1 são explicados os elementos
básicos das engrenagens, a simbologia adotada neste trabalho e o significado de cada elemento.
20
Figura 2.1. Nomenclatura de engrenagens (dos Santos, 2003)
2.1.2 Contato entre dentes de engrenagens
Em engrenagens de dentes retos, o contato ocorre em forma de um retângulo que atravessa todo
o flanco dos dentes, como mostra a Figura 2.2. Este contato ocorre sobre a superfície evolvental, e as
velocidades relativas entre as superfícies, geometria e força normal variam em todo instante. Danos
superficiais nos dentes é o resultado interação dos fatores anteriores citados na hora do contato, assim
como também, a potencia transmitida, a geometria das engrenagens, as propriedades dos materiais,
lubrificantes e finalmente o números de ciclos de solicitação. Denomina-se engrenagem motora à roda que
impõe o movimento, sendo a outra roda chamada de engrenagem movida.
Figura 2.2. Posições da área de contato entre os dentes de uma engrenagem ao longo de um flanco ativo de um dente reto
21
Tabela 2.1. Elementos Básicos de Engrenagens (Pezzano e Klein, 1957)
(Simbologia) Significado Explicação e cálculo
(De) Diâmetro externo É o diâmetro máximo da engrenagem. De = M (Z + 2).
(Di) Diâmetro interno É o diâmetro menor da engrenagem, também chamado de diâmetro de pé de dente ou diâmetro de dedendo.
(Dp) Diâmetro primitivo É o diâmetro intermediário entre De e Di. Seu cálculo exato é Dp = De – 2M.
(C) Cabeça do dente É à parte do dente que fica entre Dp e De, também chamada de adendo.
(f) Pé do dente É à parte do dente que fica entre Dp e Di, também chamada de dedendo.
(h) Altura do dente É a altura total do dente. h = 2,25 x M.
(e) Espessura de dente É à distância entre os dois pontos extremos de um dente, medido ao longo do Dp.
(V) Vão do dente É o espaço entre dois dentes consecutivos. Não é a mesma medida de e.
(p) Passo circular Medida que corresponde à distância entre dois dentes consecutivos, medida à altura do Dp. p = π. M
(M) Módulo Dividindo-se o Dp pelo número de dentes (Z), teremos um número que se chama módulo (M). Esse número é que caracteriza a engrenagem e se constitui em sua unidade de medida. O módulo é o número que serve de base para calcular a dimensão dos dentes.
( ) Ângulo de pressão Ângulo formado pela tangente comum às engrenagens em movimento e linha de ação do engrenamento.
O contato entre os dentes inicia-se na linha do diâmetro de base (ponto A da Figura 2.3) e termina no
ponto sobre a linha de diâmetro externo (ponto B) para a engrenagem motora, e vice-versa para a
engrenagem movida, dando origem à linha de engrenamento. O ponto I esta situado no diâmetro primitivo
e ocorre rolamento puro entre as superfícies.
22
Figura 2.3. Pontos característicos sobre a linha de engrenamento.
Segundo Imrek e Düzcükoglu (2006), nos ponto A e B da linha de engrenamento, a carga
suportada no dente é metade da magnitude, o que significa que mais de um dente estão em contato. Como
o engrenamento não é constante, há necessidade de definir os pontos C e D, os quais representam os
pontos no qual se inicia e termina o contato de apenas um só dente.
O ponto D é conhecido como HPSTC, highest point of single tooth contact e representa o
ponto mais alto de contato de apenas um dente, e fica acima da linha de diâmetro primitivo. Já o ponto C
se define como LPSTC lowest point of single tooth contact e representa o ponto mais baixo sobre o qual se
encontra em contato apenas um dente, localizado abaixo da linha de diâmetro primitivo. A Figura 2.4
mostra os pontos que definem o contato com um dente só.
Figura 2.4. Pontos da linha de engrenamento.
23
2.1.3 Esforços aplicados em engrenagens
Os esforços básicos aplicado em um dente de uma engrenagem são apresentados na Figura 2.5.
Muitas vezes, uma combinação de dois ou três tipos esforços são aplicados ao mesmo tempo. Geralmente
os esforços são de tração, compressão, torção e cisalhamento e podem se apresentar também
movimentos de rolamento ou deslizamento+rolamento na flancos dos dentes das engrenagens.
(a)
(b)
Figura 2.5. Esforços aplicados em dentes de engrenagens (DAVIS, 2005)
Para engrenagens de dentes retos, à medida que o dente se move ao longo do perfil de contato, uma
ação de deslizamento e rolamento tem lugar na interface do perfil. No diâmetro primitivo (DP), as tensões
são provocadas por rolamento puro. Acima do DP, há ação de rolamento e deslizamento, mas desta vez o
deslizamento será na direção oposta ao rolamento. É importante ressaltar que a ação sobre o perfil do
dente de contato é exatamente o mesmo que o dente carregado mas na ordem inversa (ver Figura 2.5- b).
Quando há uma lubrificação correta, não ocorrerá nas duas superfícies o problema da ação do
deslizamento. No entanto, na superfície irregulares, lubrificação insuficiente, dureza inadequada da
superfície, temperaturas elevadas e presenças de partículas estranhas (em geral provenientes do
desgaste), contribuirão para uma ruptura do filme de lubrificante durante o contato deslizante. Durante todo
o instante de contato entre os dentes das engrenagens, há uma tensão de tração na raiz do dente no lado
carregado e uma tensão de compressão na raiz do dente no lado oposto.
24
2.2 MATERIAIS PARA ENGRENAGENS
Uma grande variedade de ferros fundidos, materiais sinterizados, ligas de metais não ferrosos e
plásticos são utilizados para a fabricação de engrenagens. Mas os aços, devido à sua elevada resistência
e um custo relativamente baixo, são os materiais mais amplamente utilizados para fabricação de
engrenagens (DAVIS, 2005).
As maiorias das engrenagens são feitas de aços carbono e baixa liga. Em geral, os aços
selecionados para as aplicações das engrenagens devem satisfazer duas exigências básicas, que nem
sempre são compatíveis:
as que envolvem a fabricação e processamento e
o serviço a ser prestado ( solicitação mecânica)
O requisito de fabricação e processamento inclui usinabilidade, forjabilidade e a resposta a
tratamentos térmicos. Já os requisitos de serviços estão relacionados com a capacidade da engrenagem a
executar satisfatoriamente as condições de cargas para a qual foi concebida e, portanto, abranger todos os
requisitos de propriedades mecânicas, incluindo resistência à fadiga e resposta ao tratamento térmico.
(CHIRONS, 1967)
Uma dureza superficial adequada é uma exigência básica fundamental. Uma série de fatores
devem ser considerados para a fabricação de engrenagens com aços para endurecimento superficial:
Uma alta pressão de contato no dente pode gerar trincas na superfície;
Um núcleo não muito endurecido, não oferecerá um apoio adequado para a camada
endurecida; (capacidade de sustentação de carga)
Tensões de compressão na camada endurecida aumentam a sua resistência á fadiga,
enquanto, uma camada com alta dureza fornece uma elevada resistência ao desgaste;
Quanto menor seja a dureza do núcleo, mais elevadas são as tensões residuais de tração na
camada endurecida, e aumenta com a espessura da camada.
A seguir serão apresentados alguns dos tipos de materiais mais empregados para a fabricação de
engrenagens.
25
2.2.1 Aços forjados
Aço forjado é o termo genérico aplicados aos aços carbono e aço liga, que foram processados
para uma aplicação específica. Em geral, existem dois tipos de aços forjados para a fabricação de
engrenagens, o primeiro são os aços para endurecimento de superfícies e o segundo grupo são os aços
para endurecimento total. No primeiro grupo de aços podemos encontrar aços próprios para os processos
de cementação, nitretação e carbo-nitretação, que se caracterizam por ter um teor de carbono geralmente
não superior a 0,25% C. Estes aços são na maioria das vezes utilizados quando se precisa de grande
resistência ao desgaste, corrosão e fadiga em superfícies submetidas a intenso rolamento.
As superfícies geradas devem ser suficientemente dureza elevada para resistir ao desgaste e com
profundidade suficiente para evitar a ocorrência de fissuras. No caso dos dentes, a profundidade da
camada não deve exceder um sexto da espessura da base do dente (DOANE, 1989). A Figura 2.6 mostra
a estrutura típica de um aço de engrenagem cementado.
Figura 2.6. Camada cementada em dente de engrenagem (, 0,6%C, 0,37% de Mn, Si-1.6 e Cr-3.6) (DAVIS, 2005)
Alguns aços, padronizados pela SAE e AISI para cementação e usados para fabricação de
engrenagens são:
Aços carbono: 1015, 1018, 1020, 1022, e 1025;
Aços para usinagem facil: 1117 e 1118;
Aços liga: 4020, 4026, 4118, 4320, 4620, 4820, 5120, 8620, 8720 e 9310.
Em relação ao processo de endurecimento superficial por nitretação, geralmente são utilizados
aços de médio teor de carbono (temperado e revenido) que contem fortes elementos formadores de
26
nitretos, tais como alumínio, cromo, vanádio e molibdênio. Mas as camadas nitretadas mais duras são
conseguidas utilizando uma classe de aço liga (aços Nitralloy) que contem cerca de 1% Al. Quando estes
aços são nitretados, o alumínio forma partículas de AIN, as quais deformam a rede da ferrita e dificultam a
movimentação de discordâncias. (DOWLING, 1995)
Continuando com a classificação dos aços forjados, temos segundo grupo denominado, aços de
endurecimento total, que em virtude do seu elevado teor de carbono, dentes de engrenagens feitas nestes
aços possuem um núcleo com maior resistência do que engrenagens cementadas. No entanto, estes
engrenagens não são tão resistentes ao desgastes com são as engrenagens cementadas. A dureza na
superfície destas engrenagens pode variar de 300 a 575 HB, podendo ser endurecida pelos processos de
têmpera por indução ou têmpera por chama.
São tipicamente utilizados aços SAE-AISI tipos 1035, 1040, 1045, 1050, 1137, 1141, 1144 e 1340
para lograr camadas não muito profundas. Estes aços são resfriados em água, e são adequados para
engrenagens que exigem apenas forças leves e resistência ao impacto.
Para camadas mais profundas, é necessário aços com mais elementos de ligas, o que permite
maior temperabilidade do material e como conseqüência uma maior resistência do mesmo. São
comumente utilizados aços SAE-AISI 4140, 4042, 5140, 8640, 3140, 4140, 8740, 6145, 9840 e 4340. Estes
aços com características de maior temperabilidade e um teor de carbono de 0,35 a 0,50% são adequados
para engrenagens que exigem alta resistência ao desgaste e uma elevada capacidade de transmissão da
carga. Na Tabela 2.2 lista as composições de aços para endurecimento de superfície.
2.2.2 Aços fundidos
Aços fundidos são produzidos vazando aço liquido, na composição desejada, em um molde de
configuração desejada e permitindo que o aço solidifique. O material do molde pode ser de silicone, areia
de cromita, areia de olivina, grafite, metal ou cerâmica. A escolha do material do molde depende do
tamanho, complexidade, custo e precisão dimensional da fundição. Embora, o acabamento superficial e
precisão dimensional das peças variam de acordo com o tipo de molde, as propriedades do aço fundido
não são afetadas significativamente. (DAVIS, 2005).
27
Tabela 2.2. Composição química de aços para endurecimento de superfícies, (DAVIS, 2005).
Aço Condição
Tensão Máxima de Tração
Tensão de Escoamento Alogamento
% Estricção
% Dureza MPa Ksi Mpa Ksi Aço carbono
1015 Laminado a quente 345 50 190 27,5 28 50 101
Laminado a frio 385 56 325 47 18 40 111
1018 Laminado a quente 400 58 220 32 25 50 116
Laminado a frio 440 64 370 54 15 40 126
1020 Laminado a quente 380 55 205 30 25 50 111
Laminado a frio 420 61 350 51 15 40 121
1022 Laminado a quente 425 62 235 34 23 47 121
Laminado a frio 475 69 400 58 15 40 137
1025 Laminado a quente 400 58 220 32 25 50 116
Laminado a frio 440 64 370 54 15 40 126
1040 Laminado a quente 525 76 290 42 18 40 149
Laminado a frio 585 85 490 71 12 35 170
1045
Laminado a quente 565 82 310 45 16 40 163 Laminado a frio 625 91 530 77 12 35 179
Recozido, Laminado a frio 585 85 505 73 12 45 170 Esferoidizado, Laminado a frio 650 94 500 72,5 10 40 192
1117 Laminado a quente 425 62 235 34 23 47 121
Laminado a frio 475 69 400 58 15 40 137
1118 Laminado a quente 450 65 250 36 23 47 131
Laminado a frio 495 72 420 61 15 40 143
Aço de baixa liga
4130
Normalizado a 870°C 670 97 435 63 25,5 59,5 197 Recozido a 865°C 560 81 460 67 21,5 59,6 217
Temperado em água desde 855°C
e Revenido a 540°C 1040 151 979 142 18,1 63,9 302
4140
Normalizado a 870°C 1020 148 655 95 17,7 46,8 302 Recozido a 815°C 655 95 915 60 25,7 56,9 197
Temperado em água desde 845°C
e Revenido a 540°C 1075 156 986 143 15,5 56,9 311
4150
Normalizado a 870°C 1160 168 731 106 11,7 30,8 321 Recozido a 830°C 731 106 380 55 20,2 40,2 197
Temperado em óleo desde 830°C
e Revenido a 540°C 1310 190 1215 176 13,5 47,2 375
4340
Normalizado a 870°C 1282 186 862 125 12,2 36,3 363 Recozido a 810°C 745 108 470 68 50 30 217
Temperado em óleo desde 800°C e Revenido a 540°C
1207 175 1145 166 45,9 45,9 352
5140
Normalizado a 870°C 703 115 470 68 22,7 59,2 229 Recozido a 830°C 570 83 290 42 28,6 57,3 167
Temperado em óleo desde 845°C
e Revenido a 540°C 972 141 841 122 18,5 58,9 293
8620 Normalizado a 915°C 635 92 360 52 26,3 59,7 183
Recozido a 870°C 540 78 385 56 31,3 62,1 149
8630
Normalizado a 870°C 650 94 425 62 23,5 53,5 187 Recozido a 845°C 565 82 370 54 29 58,9 156
Temperado em água desde 845°C
e Revenido a 540°C 931 135 850 123 18,7 59,6 269
8740
Normalizado a 870°C 931 135 605 88 16 47,9 269 Recozido a 815°C 696 101 415 60 22,2 46,4 201
Temperado em óleo desde 830°C
e Revenido a 540°C 1225 178 1130 164 16 53 352
9310 Normalizado a 890°C 910 132 570 83 18,8 58,1 269 HRB
Recozido a 845°C 820 119 450 65 17,3 42,1 241 HRB envelhecido 6 mm 2169 315 2135 310 7,7 35 55,1 HRB
28
No entanto, o aço fundido não apresenta efeitos de direcionalidade nas propriedades mecânicas
que são típicas de aços forjados. Essa característica não-direccional das propriedades mecânicas nos aço
fundido pode ser vantajosa quando as condições de serviço envolvem carregamento multidirecional.
O aço fundido, utilizado para engrenagens, são em geral, modificações dos aços padronizados
SAE-AISI. Comumente pode-se encontrar aços de endurecimento total como 1045, 4135, 4140, 8630,
8640 e 4340, e por tratamento termoquímicos (endurecidos superficial) os 1020, 8620 e 4320. As
composições de alguns aços fundidos são selecionadas pelo produtor de aço a fim de alcançar as
propriedades especificadas (DAVIS, 2005).
2.2.3 Ferro fundido
Os ferros fundidos são essencialmente ligas de ferro que contêm mais de 2% C e 1-3% Si.
Grandes variações nas propriedades podem ser conseguidas através da alteração do equilíbrio entre o
carbono e o silício, ligando-os com vários outros elementos metálicos ou não metálicos, e variando os
processos de fusão, fundição e tratamento térmico. Dois tipos de ferros fundidos são utilizados para a
fabricação de engrenagens: ferro fundido cinzento e ferro fundido nodular.
2.2.3.1 Ferro Fundido Cinzento
Os ferros fundidos cinzentos (FFC), referem-se à ampla classe ligas ferrosa normalmente
caracterizada por uma microestrutura de grafite lamelar em uma matriz de ferro (Figura 2.7). O FFC é em
essência uma liga de ferro, silício, manganês e carbono, que normalmente contêm de 2,5 a 4% de C, 1 a
3% de Si, e em caso de se desejar uma microestrutura especial, pode ter adições de manganês, com
teores tão baixos como Mn 0,1% em FFC ferrítico e altos, Mn 1,2%, em FFC perlíticos. Enxofre (S) e
fósforo (P) estão também presentes em pequenas quantidades, como impurezas residuais.
29
Figura 2.7. Grafita laminar em uma matriz perlitica de ferro fundido cinzento (DAVIS, 2005).
FFC utilizados para engrenagens são classificados pela sua resistência à tração (utilizando a
unidade de tensão em ksi) na norma ASTM A 48. Como mostrado na Tabela 2.3, estes ferros variam da
classe 20 (resistência à tração mínima de 138 MPa ou 20 ksi) para a classe 60 (resistência à tração
mínima de 414 MPa ou 60 ksi). Pode-se supor que com o aumento da resistência à tração, outras
propriedades como resistência ao desgaste, capacidade para ser usinado com um acabamento fino e
módulo de elasticidade também aumentem.
Tabela 2.3. Mínimas durezas e resistência à tração requerida para ferro fundido cinzento (ASTM A48).
Classe ASTM
Dureza Brinell
Resistência à tração MPa Ksi
20 155 140 20 30 180 205 30 35 205 240 35 40 220 275 40 50 250 345 50 60 285 415 60
FFC tem sido muito utilizado como material de engrenagem (DUDLEY, 1994). O ferro fundido
apresenta baixo custo, boa usinabilidade e pode ser obtido facilmente em qualquer forma desejada
requerida por uma engrenagem.
Engrenagens de ferro fundido geralmente mostram elevada resistência ao desgaste e muitas
vezes são menos sensíveis às insuficiências de lubrificação que as engrenagens de aço. O ferro fundido
apresenta também a qualidade de amortecimento.
30
Em contra-partida, os dentes de engrenagens de ferro fundido têm cerca de 3/4 da capacidade de
transmissão de carga na superfície em relação á uma engrenagem de aço com o mesmo diâmetro primitivo
e largura da face. Em relação a sua capacidade de resistência à flexão a relação é cerca de 1/3. (DAVIS,
2005).
2.2.3.2 Ferro fundido Nodular
O ferro fundido nodular (FFN), também conhecido com ferro fundido de grafite esferoidal, se
caracteriza por apresentar a grafite em forma de esferas. A Figura 2.8 apresenta micrografias de um FFN
sem ataque químico (Fig. 2.8a) onde pode se observar o formato da grafita esferoidal. Por causa dos
aditivos introduzidos antes da fundição do ferro fundido, a grafite cresce como esferas, em vez de qualquer
uma das formas de flocos características do ferro fundido cinzento. O FFN apresenta uma resistência
mecânica mais elevada e tem maior alongamento do que o ferro cinzento. No FFC, as grafitas em forma de
flocos atuam como concentradores de tensão, reduzindo a sua resistência ao impacto e resistência à
fadiga. Já os nódulos no FFN, provocam um menor efeito de concentrador de esforços, o que conduz a
uma ductilidade suficiente para apresentar alongamentos na faixa de 2 a 15%, dependendo da classe. A
resistência à fadiga do FFN pode aproximar-se do aço com valores de dureza equivalentes.
A maioria das especificações para o FFN utilizados para engrenagens se baseiam na suas
propriedades. Ou seja, resistência e/ou dureza é especificado para cada classe. Conforme demonstrado na
Tabela 2.4, a ASTM designa o grau de ferro fundido nodular incorporando os números que indicam a
resistência à tração (novamente na unidade ksi), Limite de Escoamento (ksi) e alongamento em
porcentagem (%).
Tabela 2.4. Propriedades mecânicas requeridas para ferros fundidos nodulares. (ASTM A 536)
Grau ASTM
Tratamento térmico recomendado e microestrutura
Dureza Brinell
Tensão Máxima de Tração
Tensão de Escoamento
Elongação em 50 mm,
(2in), % min MPa Ksi MPa Ksi
60-40-18 Recozido ferrítico 170 max. 415 60 275 40 18
65-45-12 Estado bruto ou
Recozido ferrítico-perlítico 156-217 450 65 310 45 12
80-55-06 Normalizado ferrítico-perlítico 187-255 550 80 380 55 6
100-70-03 Temperado e revenido perlítico 241-302 690 100 485 70 3
120-90-02 Temperado e revenido martensítico - 830 120 620 90 2
31
(a)
(b)
Figura 2.8. Micrografia de FFN: (a)Grafita esferoidal, sem ataque, em matriz de ferro fundido a 75x e (b) com ataque quimico (picral) a 300x. O ataque revela que a matriz é composta de ferrita em volta dos
nódulos de grafita rodeado por uma matriz perlítica. (DAVIS, 2005).
O FFN pode ser utilizado em seu estado bruto de fundição, ou pode ser tratado termicamente para
atingir uma ampla gama de níveis de resistência e de dureza. Os Tratamentos térmicos mais comuns são o
recozimento, a normalização seguida de têmpera, têmpera seguida de revenido, e também a austêmpera.
Na Figura 2.9 pode-se comparar a resistência e a ductilidade do ferro fundido nodular em estado bruto com
ferros fundidos nodulares tratados termicamente. Os níveis de dureza em FFN podem variar desde 160 HB
até valores superior a 300 HB.
Figura 2.9. Comparação de propriedades mecânicas de nodulares austemperados com outras classes de ferros fundidos nodulares (Guesser, 2009)
32
2.2.4 Ferro fundido nodular austemperado
O ferro fundido nodular austemperado , ou em inglês ADI (Austempered Ductile Iron), é o resultado
do tratamento térmico de austêmpera do FFN, representando a classe de ferros fundidos com as melhores
combinações de valores de resistência e alongamento (HARDING, 1984). Na Figura 2.9 verifica-se que o
ADI apresenta combinações de limite de resistência (L.R.) e alongamento muito superiores às dos
nodulares comuns. Esta combinação de propriedades permite então a utilização de ADI para aplicações
envolvendo solicitações intensas. (GUESSER, 2009)
A substituição de peças convencionalmente fabricada em aços por ADI tem como resultados
diversas vantagens, as quais têm promovido fortemente a aceitação destes materiais na indústria,
especificamente na indústria automotiva. A primeira razão econômica para uso do ADI é que o material de
base (ferro nodular) é mais barato que o aço, a segunda é que os ADIs são materiais de fundição, assim,
os produtos podem ser moldados, deixando os componentes com dimensões muito próximas das finais,
diminuindo consideravelmente uma quantidade de operações de usinagem, ferramentas e meios de
produção. O que resulta em uma significativa redução de custos do processo de produção quando são
comparados aos processos convencionais de usinagem de aço (HARDING, 1986.)
Segundo HARDING, 1986, outra vantagem significativa do uso deste material é o custo do seu
tratamento térmico, que é muito inferior ao dos tratamentos que são efetuados nos aços. A redução dos
custos associados a estes tratamentos podem atingir até cerca de 60% (HARDING, 1986). Normalmente
são utilizados equipamentos mais simples e as temperaturas utilizadas são mais baixas que as
temperaturas para endurecimento de aços.
A Figura 2.10 mostra a relação entre o custo de vários materiais e seu limite de escoamento,
mostrando que o ADI oferece-se como a melhor opção.
33
Figura 2.10. Relação entre Custo e Limite de Escoamento (DUCTILE IRON DATA FOR DESIGN ENGINEERS, 2007)
MAGALHÃES (2002) comenta que o ADI possui uma grande capacidade de amortecimento e tem
menor peso especifico que o aço, sendo 10% menos denso. Estas duas propriedades são de grande
importância para a maioria das aplicações. Engrenagens fabricadas neste material, por exemplo, são mais
leves e mais silenciosas que engrenagens de aço
2.2.4.1 Classificação dos ADIs
Os ADIs são classificados em classes de acordo com as suas propriedades mecânicas. A Tabela 2.5
apresenta a classificação segundo a ASTM.
Tabela 2.5. Classificação dos ADIs (ASTM 897-90).
Classe Limite de Resistência
(MPa)
Limite de Escoamento
(MPa)
Alongamento (%)
Energia de Impacto
(J)
Dureza (HB)
1 850 550 10 100 269 – 321
2 1050 700 7 80 302 – 363
3 1200 850 4 60 341 – 444
4 1400 1100 1 35 388 – 477
5 1600 1300 - - 444 – 555
As propriedades mecânicas dos ADIs são influenciadas principalmente pelas variáveis apresentadas
na Figura 2.11 (GUESSER, 2009). Portanto, a partir da escolha das variáveis do processo de tratamento
térmico podem-se obter as propriedades mecânicas desejáveis para uma determinada aplicação.
34
Figura 2.11. Efeito da microestrutura e de variáveis de processo sobre as propriedades mecânicas em ferros fundido nodulares austemperados (Guesser, 2009).
2.2.4.2 Microestruturas do ADI
O ADI apresenta uma matriz de ausferrita, obtida como o tratamento térmico de austêmpera. A
ausferrita é composta por finas agulhas de ferrita acicular e austenita estável (DUCTILE IRON DATA). A
Figura 2.12 apresenta um exemplo da microestrutura característica de um ADI.
Figura 2.12. Microestrutura de ferro fundido nodular austemperado. Nódulos de grafita, matriz de ausferrita. 1000X. (Guesser, 2009)
O ADI também é comumente chamado de “ferro nodular bainítico”, mas esta expressão não é a
adequada para ser designada para o ADI, já que não é usual que nestes materiais exista a presença de
bainita. A ferrita bainítica é constituída por ferrita acicular e carbonetos, este ultimo forma-se quando é
ultrapassado o tempo de austêmpera adequado, e assim, a ausferrita se transforma em bainita, originando
a precipitação de carbonetos.
35
2.2.4.3 Tratamento térmico de austêmpera
O tratamento térmico de austêmpera é constituído de uma etapa de austenitização, seguido de um
resfriamento até uma temperatura de austêmpera, etapa na qual se produz a transformação isotérmica e
finalmente um resfriamento final ate temperatura ambiente. A Figura 2.13 apresenta um diagrama
esquemático do ciclo do tratamento de austêmpera.
Figura 2.13. Ciclo do tratamento de austêmpera (HAYRYNEN, 2002).
2.2.4.3.1 Austenitização
Etapa na qual o material é aquecido até a temperatura de austenitização, normalmente entre 815 ºC e
950ºC, dependendo da composição química do material. O objetivo é alcançar uma homogeneização
progressiva do carbono na austenita, uma dissolução dos carbonetos existentes no material e diminuir a
microsegregações de elementos de ligas. (DODD, 1989)
Com o aumento da temperatura de austenitização se incrementa o teor de carbono na austenita, o que
resulta em tempos mais longos para se transformar em ausferrita, atrasando a primeira etapa do processo
de transformação. Outro efeito das altas temperaturas é que antecipa o inicio da segunda etapa de
transformação, resultando na presença considerável de martensita, a qual se formar nas regiões de
contorno de grão da austenita. Vale ressaltar que isto não é desejável para obter as propriedades
mecânicas mais adequadas.
Por outro lado, um prolongamento desta etapa conduz a um tamanho excessivo de grão, o que
provoca uma redução na ductilidade e tenacidade do material. (DODD, 1989). No entanto, a prolongação
do tempo ajuda a reduzir as micro-segregações de elementos de ligas presente no material. Assim, deve-
se ter um equilíbrio entre estes fatores para determinar o tempo desta etapa do tratamento.
36
A Figura 2.14 mostra como as variações de temperatura de austenitização afetam diretamente a
resistência a tração, ao impacto e a dureza do FFNA (KOVACS, 1991)
Figura 2.14. Influência da temperatura de austenitização nas propriedades mecânicas do FFNA (KOVACS, 1991)
O resfriamento após a etapa de austenitização tem que ser suficientemente rápido para evitar a
formação de perlita. Usualmente é realizado em banho de sais, o qual deve provocar uma extração rápida
e uniforme do calor em toda a peça a tratar.
2.2.4.3.2 Transformação isotérmica
É a etapa do tratamento na qual ocorrem as transformações microestruturais do material. É realizada
após a austenitização, e posteriormente é feito um resfriamento rápido até uma temperatura da ordem de
250º a 450ºC. O objetivo desta fase é permitir que a austenita se transforme isotermicamente em
ausferrita. Deste modo, o tempo necessário dependerá da quantidade de austenita que se pretende
transformar, da temperatura selecionada, da dimensão dos componentes e dos tipos de elementos de liga
presente no material (HARDING, 1986).
O processo de austêmpera pode ser dividido em dois estágios (BALZER, 2003). No estágio I a
austenita ( ) se decompõe em ferrita acicular ( acicular ) e na austenita de alto carbono ( alto carbono),
formando assim a ausferrita. A reação correspondente ao estagio I de transformação é descrita pela
Equação 2.1.
carbonoaltoacicular Equação 2.1
37
Neste estágio, a formação de ferrita ocorre pelo processo de nucleação e aumento do tamanho de
placas na interface grafita-austenita e nos contornos de grão. Simultaneamente ao crescimento a ferrita
libera carbono, que se aloja em solução sólida na austenita, a qual pode se saturar em função do tempo do
estágio. A saturação da austenita em carbono pode atingir valores entre 1,8% e 2,2% (MAGALHÃES ,
2002), o que reduz a temperatura de transformação martensítica (Ms), mantendo esta austenita saturada
estável à temperatura ambiente.
Com a manutenção do material à temperatura de austêmpera se da início ao segundo estágio de
transformação, o qual se caracteriza por decompor a austenita saturada de carbono em ferrita e
carbonetos, conforme como é descrito na equação 2.2. Esta microestrutura não é desejada já que o
material perde qualidade em suas propriedades mecânicas como a resistência à tração e a ductilidade.
carbonetosacicularcarbonoalto
Equação 2.2
Como já foi descrito a cima, a microestrutura desejada do ADI é a ausferrita, formada por ferrita
acicular e austenita de alto carbono. Esta é obtida no intervalo de tempo, entre o fim do estágio I e o inicio
de estágio II, este período é conhecido como janela do processo. (BALZER, 2003).
2.2.4.3.3 Janela do processo
A janela do processo é o intervalo que separa os dois estágios de transformação da austenita, no qual
se deve completar o estágio I, mas se deve evitar o início do estágio II. Neste intervalo é onde são obtidas
as melhores propriedades mecânicas do ADI e é mostrado esquematicamente na Figura 2.15. Quando o
tempo de tratamento é menor que t1 o estágio I não se completa, o que provoca insuficiente difusão do
carbono na austenita para estabilizar esta fase, e durante o resfriamento até a temperatura ambiente a
austenita não estável se transformará em martensita. A formação da martensita irá aumentar a resistência
e a dureza, mas diminuirá a ductilidade e tenacidade significativamente. (Ductile Iron Data for Design
Engineers) Para tempos maiores que t2 a austenita de alto carbono se decompõe formando carboneto,
fragilizando o metal.
38
Figura 2.15. Representação esquemática da janela de austêmpera (BALZER, 2003)
Em conclusão, tanto a martensita obtida para tempos curtos, quanto os carbonetos, gerados devido há
tempos longos, diminuem a ductilidade e a tenacidade do material. Portanto a escolha correta do tempo de
tratamento é muito importante para que se obtenham as propriedades desejadas. (SEELING, 2009)
Existe uma grande dificuldade para a obtenção de peças em ADI com espessuras variáveis, já que
pode acontecer que nas partes mais delgadas haja ocorrido o fechamento da janela do processo, e em
partes mais grossas ainda não ter completado o estágio I de reação (TARTERA,1985, apud
BLAZER, 2003).
2.2.4.3.4 Influência da temperatura de austêmpera
A temperatura de austêmpera determina a microestrutura final da matriz, por conseguinte, as
propriedades mecânicas finais do ADI. As faixas típicas de temperaturas utilizadas são 240 – 400ºC
(HAYRYNEN, 2002).
Para temperaturas mais altas de austêmpera, é formada a chamada ausferrita superior, que é
caracterizada por ser uma microestrutura grosseira com grande quantidade de austenita retida e sem
presença de carbonetos, o que produz um ADI com excelente ductilidade e propriedades mecânicas. Já na
faixa de temperaturas mais baixas, a microestrutura resultante é denominada ausferrita inferior, a qual é
mais refinada, apresentando maior quantidade e mais finas agulhas de ferrita, dando origem assim a um
39
material com elevada resistência mecânica e ao desgaste. Segundo GUEDES (1996), a temperatura de
transição que separa os dois tipos de ausferrita (superior e inferior) estaria em torno de 350 ºC .
Em tratamento com temperaturas acima de 350 ºC é pouco provável a formação de carbonetos,
devido à grande velocidade de difusão e solubilidade do carbono na austenita. Apresenta-se um 20% a 40
% austenita enriquecida em carbono, e o tamanho grande das agulhas de ferrita é atribuído, segundo
Putatunda (1998), ao maior engrossamento dos grãos de austenita em temperaturas mais elevadas. As
agulhas de ferrita em nucleação crescem até encontrar uma barreira, que são os contornos de grão da
austenita durante as fases iniciais.
Em temperaturas de austêmpera inferiores a 350ºC ocorre precipitação de carbonetos na interface
ferrita – austenita, devido à pouca difusão do carbono na austenita, provocando um elevado teor deste
elemento na ferrita, que como tempo faz precipitar carbonetos nas próprias placas de ferrita, sobrando
pouco carbono para enriquecer a austenita residual .
A temperatura utilizada na austêmpera tem grande influência na janela do processo. O aumento da
temperatura reduz a faixa de tempos para que o estágio 1 se complete, como pode ser visto na Figura 2.16
A partir de certa temperatura pode ocorrer o fechamento da janela de austêmpera, tornando impossível a
obtenção das propriedades ótimas acima dessa temperatura.
Figura 2.16. Janela de processo como uma função da temperatura de austêmpera para temperatura de austenitização de 900 ºC (ELLIOTT, 1997).
40
2.2.4.3.5 Influência dos elementos de Liga
Os principais elementos de liga para ADI são apresentados na Tabela 2.6. Estes elementos alteram
e/ou deslocam as regiões de formação dos diferentes produtos de transformação da austenita. Isto
possibilita a obtenção de matriz ausferrítica com menores velocidades de resfriamento; fato este muito útil
para peças de grande espessura.
Tabela 2.6. Elementos de ligas recomendados para FFNA (HAYRYNEN, 2002)
Limite recomendado (% em peso)
Manganês Máxima seção > 13mm – 0,35 Máxima seção < 13mm – 0,50
Cobre 0,80 máx. Níquel 2,00 máx.
Molibdênio 0,30 máx.
Os elementos de liga promovem um aumento na temperabilidade do material, evitando a formação de
perlita durante o resfriamento. No diagrama TTT do FFNA, as curvas são deslocadas para a direita com o
incremento dos elementos de liga, tal como é mostrado na Figura 2.17. Outro efeito dos elementos de liga
está no aumento da janela do processo, pois causam uma separação do final do estágio I e o início do
estágio II da reação de austêmpera (BALZER, 2003).
Figura 2.17. Diagrama TTT mostrando o efeito da adição de cobre e de molibdênio na temperabilidade de ferro fundido nodular não ligado. (MAGALHÃES, 1995),
Segundo BALZER (2003), os elementos de liga presentes no ADI podem ser divididos em dois grupos.
O primeiro grupo pode ser encontrado à esquerda do ferro (Fe) na Tabela periódica e são formadores de
41
carbonetos. Este grupo no qual se destacam o manganês, cromo, molibdênio e vanádio, segregam nos
contornos das grãos, gerado áreas ricas nesses elementos.
Silício, níquel, cromo, alumínio fazem parte do grupo II de elementos, e estão localizados ao lado
direito do ferro (Fe) na Tabela periódica e não formam carbonetos. Estes elementos segregam na interface
grafita/metal e também nas dendritas.
Adições de molibdênio influenciam na separação das áreas de reação perlítica e bainítica como é
mostrado na Figura 2.18. Isto permite obter uma estrutura ausferrítica em secções de diâmetros maiores.
Com adições 0,5 % deste elemento, garante-se a não formação de perlita no material, já valores acima
deste, pode gerar, por segregação, carbonetos eutéticos nos contornos das células de solidificações
(MAGALHÃES, 1995),
Figura 2.18. Diagrama TTT de um FFNA ligado para diferentes teores de molibdênio (3.3%C, 2.6% Si, 0.3%Mn) (MAGALHÃES, 1995).
O cobre tem uma influência menor que o molibdênio, sendo necessárias quantidades maiores
deste elemento para ter efeitos semelhantes ao do molibdênio. É importante acrescentar que o cobre não
evita a obtenção de perlita, por mais que seja aumentada a participação deste elemento na liga.
É possível também obter microestruturas ausferríticas com adições de níquel, mas estas devem
ser efetuadas em teores maiores que as de cobre. Altas porcentagens de níquel evita a formação de perlita
em componentes de grandes dimensões.
O teor de manganês influencia na temperabilidade do material, mas dever ser limitado a um
máximo de 0,6% devido a sua forte tendência à segregação e a formar carbonetos intercelulares na
estrutura.
42
O silício permite a formação de uma estrutura ausferrítica. O silício se concentra junto às células
eutéticas e inibe a formação de carbonetos no período de transformação isotérmica. Aumentando o teor de
silício de 2,4 para 3,8%, eleva-se também a resistência à tração, o limite de elasticidade e a resistência
mecânica, permanecendo quase que inalterado o alongamento (BALZER, 2003).
2.2.4.4 ADI aplicados a engrenagens
Desde meados dos anos setenta do século passado, as principais empresas produtoras de ADI,
começaram aplicar este material em componentes comercializados comumente, sobretudo em
componentes da indústria do automóvel. Nos EUA os veículos Pontaic passaram a ser equipados a partir
de 1977 com algumas engrenagens fabricadas em ADI, após teste satisfatórios realizados em taxis de três
cidades diferentes do pais. Desde 1982 a empresa General Motors adotou este material para engrenagens
que equipavam carrinhos e outros veículos. Também a Cadillac aplicou no seus modelos de tração
traseira engrenagens em ADI ( HARDING, 1984 apud MAGALHÃES, 1995)
Em estudos realizados na China, foi realizado uma extensa avaliação de desempenho em serviço de
engrenagens de ADI. Foram instaladas milhares de engrenagens em dez tipos de caminhões, trabalhando
em diferentes estradas e condições de tempo, por aproximadamente sete anos. Muitas engrenagens
estavam trabalhando em caminhões que haviam percorrido mais de 100.000 km, se apresentando, na
época de inspeção em boas condições, não tendo sido relatado qualquer tipo de falha no serviço
YICHENG (1981 apud GUESSER 1985).
A Cummings Engine Co. usou ADI em diversos componentes de motores diesel fabricados pela
empresa (bomba de óleo, bomba de combustível entre outros). Como resultado do intercâmbio entre esta
empresa e a George Fisher (Suíça), a Getrag (alemã) e a Lemont & Getrag (EUA) mais de 150.000
engrenagens fabricadas em FFNA se encontravam em serviço em setembro de 1985. As engrenagens
produzidas substituíram modelos fabricados em aço 4140 (endurecido por indução) e em aços AISI 1022
(forjado e cementado) (MAGALHÃES,1995).
Na França, a Renault desenvolveu testes que contemplaram o ADI tratado a 235ºC em substituição do
aço 17CD4 (Cr-Mo). Concluiu-se que, devidamente tratado com “shoot-peening”, o material era adequado
para a fabricação de pinhões onde fosse requerida uma capacidade de carga mediana (HARDING,1986
apud MAGALHÃES, 1995).
43
2.2.4.5 Propriedades do ADI
Com estudos satisfatórios de substituição de aços por ADI em diferentes aplicações, em especial em
componentes como engrenagens, foi necessário determinar valores de propriedades mecânicas relevantes
para possibilitar projetar esta classe de engrenagens em ADI. É sabido que estas propriedades dependem
da qualidade do material base, dos elementos de liga, tratamento térmico e tratamentos mecânicos
aplicados ao material.
JOHANSSON (1977) realizou ensaios para determinar a resistência à fadiga por flexão e de contato
em engrenagens produzidas em vários materiais. Foram utilizados ferros fundidos nodulares, dentre deles
o austemperado, além de aços fundidos e forjados.
Um trabalho semelhante foi desenvolvido pela British Cast Iron Research (BCIRA), também com
objetivo de fornecer informação para fabricação de engrenagens em ADI (HARDING, (1984 apud
MAGALHÃES, 1995) Os resultados obtidos nos trabalhos citados acima são apresentados nas figuras 2.19
e 2.20 .
Figura 2.19. Resistência à fadiga de contato determinados engrenagens produzidas em diversos tipos de materiais (GUESSER, 1985)
Como é mostrado na Figura 2.19, o ADI apresenta uma resistência à fadiga de contato superior às
outras classes de ferros fundidos nodulares, aços fundidos, aços não ligados e de baixa liga. Também se
pode observar que o ADI tem resultados semelhantes a alguns aços forjados nitretados. No que se refere à
resistência á fadiga por flexão (aspecto também muito importante para engrenagens), a Figura 2.20 mostra
44
que o FFNA tem um comportamento similar a aços forjados cementados e nitretados e bem superior que
outros ferros fundidos nodulares.
Figura 2.20. Resistência à fadiga por flexão determinados engrenagens produzidas em diversos tipos de materias (Guesser, 1985)
2.3 TRATAMENTO TÉRMICO EM ENGRENAGENS
2.3.1 Introdução
O tratamento térmico é um dos passos mais importantes na fabricação de engrenagens, sua
contribuição é de vital importância para o controle dos custos, durabilidade e confiabilidade. Como é
mostrado na Figura 2.21, o tratamento térmico representa cerca de 30% do custo na produção de uma
engrenagem, e se não for compreendido e controlado devidamente, pode ter um impacto significativo em
todos os aspectos do processo de fabricação da engrenagem.
Figura 2.21. Custos para a fabricação de uma engrenagem. (DAVIS, 2005)
45
Dentre os diversos tipos de tratamentos térmicos e termoquímicos realizados em engrenagens,
para melhorar alguma característica específica, pode-se citar: recozimento, normalização, alívio de
tensões, tempera, cementação, nitretação e tempera superficial. Devido á importância da têmpera
superficial realizada pelo método da indução, serão apresentadas a seguir algumas características deste
tratamento superficial.
2.3.2 Têmpera por indução
Quando se deseja endurecer uma engrenagem apenas na superfície, sem alterar a composição
química das camadas superficial, é comum a utilização do processo de têmpera por indução. É possível
fazê-lo por um aquecimento muito rápido, utilizando o princípio da indução eletromagnética por um curto
período, condicionando assim a superfície para endurecimento por têmpera, desde que o aço usado
contenha carbono suficiente para responder ao endurecimento. (RAKHIT, 2000)
Neste processo, o aquecimento rápido é gerado por indução eletromagnética, quando uma
corrente de alta freqüência é passada através de uma bobina em torno de uma engrenagem. A
profundidade da zona aquecida se estende dependendo da freqüência da corrente e da duração do ciclo
de aquecimento. Por causa de um fenômeno elétrico chamado efeito pelicular (skin effect), a profundidade
da área aquecida é inversamente proporcional à freqüência utilizada. Isso significa que quanto mais fina
seja a camada a ser endurecida, maior a freqüência de corrente é necessária. (RAKHIT, 2000)
O tempo necessário para aquecer as camadas superficiais para além da faixa de transformação do
material é questão de poucos segundos. No final do ciclo de aquecimento, o aço geralmente é temperado
por jatos de água que passa através das bobinas indutor seletivo e, portanto, o endurecimento, é realizado
através de um design adequado das serpentinas ou blocos do indutor. (RAKHIT, 2000)
Uma grande variedade de materiais podem ser endurecidos por indução, incluindo aços carbono e
liga (fundidos e forjados), aços inoxidáveis, martensíticos, e ferros fundidos nodular, maleável e cinzento.
Geralmente, os aços com teor de carbono entre 0,35 e 0,50% são adequados para têmpera por indução.
Os aços-liga com mais de 0,5% de carbono são suscetíveis a gerar trincas (RAKHIT, 2000) Alguns dos
materiais de engrenagem mais comuns, que oferecem camadas aceitáveis e boas propriedades do núcleo
após o endurecimento por indução, são aços AISI 1040, 1050, 4140, 4340, 5150.
46
2.3.2.1 Métodos de Tempera por indução
Existem dois métodos básicos têmpera por indução de engrenagens: o endurecimento por bobina
de indução e endurecimento dente a dente (ou por contorno). No endurecimento por bobina é usado um
indutor circular, e os dentes são endurecidos das pontas para baixo. Este método é geralmente limitado
para engrenagens com passo diametral inferiores a 51/" ( módulo = x mm). Já os parâmetros de diâmetro
máximo (De) e a largura da face do dente (F) são os principais limitantes do processo, que depende do
diâmetro das bobinas e da capacidade de kW do equipamento.
Figura 2.22. Métodos básicos têmpera por indução de engrenagens (RAKHIT, 2000)
O método de endurecimento por contorno pode ser aplicado a quase qualquer tamanho de
dente.No entanto, para as engrenagens com passos diametrais aproximadamente de 161/" ( módulo = x
mm) e menores, este método não produz resultados satisfatórios. Em tais casos, o método da bobina de
indução é o mais recomendado.
Conseguir uma adequada temperatura superficial é um passo critico do processo da tempera por
indução, que vai depender da precisão do aquecimento. Este último fator vai depender de um rigoroso
controle de parâmetros como o design da bobina, a entrada de calor e tempo de ciclo. Um baixo
aquecimento tem como resultado uma baixa dureza e pouca profundidade da camada desejada. O
superaquecimento pode causar trincamento. Para um aquecimento eficaz, as freqüências utilizadas para
diferentes passos diametrais de engrenagens são apresentadas na Tabela 2.7.
Tabela 2.7. Freqüências de correntes recomendadas para tempera por indução (RAKHIT, 2000)
Passo diametral Freqüência (KHz)
20 500-1000
10 300-500
8 300-500
6 10-500
4 6-10
2 6-10
47
2.3.2.2 Tempera e revenido
Após o aquecimento por indução, o calor da peça deve ser removido de forma rápida e uniforme
para obter a dureza desejada. A tempera é feita em um meio de resfriamento, capaz de produzir uma
dureza aceitável, mas evitando o trincamento. Usualmente são utilizados com meio de resfriamento a
água, o óleo solúvel, os polímeros, o óleo e o ar. Para o método de bobina de indução, geralmente as
peças são temperadas em um anel refrigeração ou em um meio de refrigeração agitado. Já no método de
endurecimento por contorno, o equipamento consta de um sistema de refrigeração seguido do indutor, mas
também as engrenagens podem ser submersas em um meio de resfriamento.
O revenimento é executado somente quando especificado. No entanto, é uma boa prática revenir
após a têmpera para aumentar a resistência e reduzir a tensão residual e a susceptibilidade a trincas.
2.3.2.3 Profundidade e dureza da camada endurecida
Ao longo do endurecimento superficial por indução, deve-se ter presente dois parâmetros
importantes que são: a freqüência e a densidade de potência de energia elétrica e o tempo de duração;
estes acabam controlando a dureza da superfície e profundidade da camada. A dureza superficial também
é função do teor de carbono, elementos de liga, massa da engrenagem e parâmetros específicos da
tempera.
Geralmente a dureza atingida está na faixa de 53 a 55 HRc. A dureza do núcleo é estabelecida
pela têmpera e revenido antes do endurecimento por indução. A Tabela 2.8 mostra as profundidades das
camadas normalmente obtidas com o processo de têmpera por indução.
Tabela 2.8. Freqüências de correntes versus profundidade da camada (RAKHIT, 2000)
Freqüência, KHz Profundidade da camada, mm (in)
3 3,81 (0,150)
10 1,52 - 2 (0,06 – 0,08)
500 0,51 - 1 (0,02 – 0,04)
1000 0.25 – 0.51 (0.01 – 0.02)
48
2.4 MODOS DE FALHA DE ENGRENAGENS
Engrenagens podem falhar de muitas maneiras diferentes. Com exceção de um aumento no nível
de ruído e vibração; muitas vezes não há como perceber os danos e a propagação destes até que uma
falha total ocorra. Em geral, cada tipo de falha deixa indícios característicos nos dentes da engrenagem, e
uma análise detalhada geralmente fornece informação suficiente para estabelecer a causa da falha. Apesar
da variedade de maneiras em que as engrenagens falham, devido á grande preocupação no
dimensionamento destes componentes, falhas no serviço de engrenagens são relativamente raras
(ALBAN, 1985)
2.4.1 Classificação dos modos de falha de engrenagens
Os modos de falha de engrenagens podem se classificadas de diferentes maneiras. A Tabela 2.9,
desenvolvida pela AGMA, apresenta uma classificação com 36 diferentes modos de falha em
engrenagens, optou-se por manter os termos técnicos em inglês, por serem eles mais representativos no
momento e estão dívidas em sete grandes categorias:
Desgaste
Deformação plástica
Fadiga de contato
Ruptura (trincas)
Fratura
Fadiga por flexão
Trincamento
MERRIT (1971), em seu estudo “Gear Engineering”, apresenta vinte e cinco motivos pelos quais os
dentes de uma engrenagem pode se deteriorar quando esta em serviço. Entre os motivos mais importantes
se destaca as condições reais de funcionamento da engrenagem, que ao longo do funcionamento superam
as perspectivas para quais foi projeta, tendo como causas erros na concepção, onde não se teve presente
possíveis vibrações imprevista e/ou sobrecargas no sistema.
49
Tabela 2.9. Nomenclatura dos modos de falhas de engrenagens recomendado pela AGMA
Categoria Modos de falha
Wear Adhesion Abrasion Polishing Corrosion Fretting Corrosion Scaling Cavitation Erosion Elictrical Discharge Rippling (a)
Scuffing Mild Scuffing Moderate Scuffing Severe Scuffing
Plastic deformation Indentation Cold Flow Hot Flow Rolling Tooth hammer Rippling (a) Ridging Burr Root Fillet Yielding Tip-to-root interference
Contact Fatigue Pitting(macropitting) Initial Progressive Flake Spall
Micropitting Subcase fatigue
Cracking Hardening craks Grinding craks Rim and web cracks Case/core separation Fatigue cracks
Fracture Brittle fracture Ductile Fracture Mixed mode fracture Tooth shear Fracture after plastic deformation
Bending Fatigue Low-eyele fatigue
High-eyele fatigue
Root Fillet cracks
Profile cracks
Tooth end cracks
ALBAN (1985) classificou as falhas de engrenagem em quatro grupos:
Fadiga: contato superficial (pitting e spalling), contato de rolamento, flexão e fadiga térmica;
Impacto: Flexão, cisalhamento, lascamento e torção;
Desgaste: Abrasivo e Adesivo;
Ruptura: Externa e interna.
50
Errichello (1992) classificou as falhas de engrenagem em dois grandes grupos:
Falhas relacionadas pela falha na lubrificação (incluem sobrecarga e flexão);
Falhas relacionadas com a presença de lubrificação (incluem fadiga Hertziana, desgaste e
scuffing).
Considerando que neste trabalho o tipo de dano estudado está relacionado com o fenômeno da
fadiga, serão apresentadas a seguir informações sobre este tipo de dano, muito comum nas engrenagens.
2.4.2 Danos por fadiga
A fadiga é uma redução gradual da capacidade de carga do componente, pela ruptura lenta do
material, conseqüência do avanço infnisitesimal das fissuras que se formam no seu interior. As cargas
variáveis, sejam cíclicas ou não, fazem com que ao menos alguns pontos, apresentem deformações
plásticas também variáveis com o tempo. Estas deformações levam ao material a uma deterioração
progressiva, dando origem a uma trinca, a qual se propaga até atingir um tamanho critico suficiente para a
ruptura final do componente. (1,Apostila fadiga)
2.4.2.1 Fadiga por flexão
As origens das falhas por fadiga por flexão são normalmente imperfeições na superfície da raiz do
dente (marcas de usinagem) ou inclusões não metálicas presentes próximos á superfície. Para aços
carbono, geralmente usado para a fabricação de engrenagens, quando a trinca chega a seu tamanho
crítico, ela se propaga fragilmente e provoca a fratura na raiz do dente da engrenagem
Este tipo de falha tem uma natureza progressiva e resultam da propagação de trincas provocadas
pela indução de tensões que ultrapassam o valor limite de resistência à fadiga do material, podendo ser
muito inferiores à própria tensão de cedencia do material (MAGALHÃES 2002).
Também é possível que as trincas sejam geradas por sobrecargas aplicadas inesperadamente na
engrenagem, igualmente pode ser provocadas por tensões cisalhantes subsuperficiais, neste caso a trinca
é gerada no interior do material, quase sempre devido pequenos defeitos da estrutura metalúrgica do
51
material. Finalmente outros fatores que podem determinar a ocorrências desta trincas são um mal
dimensionamento da engrenagem, erro de alinhamento entre os dentes, defeitos no perfil do dente
causando uma deficiente distribuição de carga.
MAGALHÃES (2002) apresenta na Figura 2.23, a superfície de fratura de três dentes de uma
engrenagem de ADI. Distingue-se a presença de um defeito metalúrgico (rechupe) (1) que se estende em
uma extensão superior à da largura da base de um dente, o defeito intercepta o pé do dente I (2) e,
provavelmente foi o local de iniciação da trinca de fadiga por flexão. Nas zonas escuras (3) a trinca teve um
crescimento progressivo e finalmente a zonas claras (4), onde ocorreu a ruptura final dos dentes, a fratura
é predominantemente frágil. Este exemplo mostra como pode ser grave a presença de defeitos na matriz
do um material, neste caso ADI, sobretudo quando estes se situam em zonas críticas dos dentes das
engrenagens.
Figura 2.23. Superfícies de fratura visíveis de uma coroa de ADI, na qual ocorreu a ruptura de três dentes
por defeito de fadiga de flexão. (MAGALHÃES 2002).
52
2.4.2.2 Fadiga de contato
A fadiga de contato é um defeito pontual que ocorre em uma superfície sujeita à tensões hertzianas
alternadas, produzidas sob condições controladas de rolamento e deslizamento em condições de carga
(HYDE, 1996). Além de trincas, a fadiga de contato pode provocar em alterações microestruturais,
incluindo alterações no teor de austenita retida, alívio ou intensificação de tensões de residuais e
transformação martensítica.
Quando o deslizamento se impõe ao rolamento, as forças tangenciais e o gradiente térmico, causado
pelo atrito, alteram a magnitude e distribuição das tensões na região da área de contato, o que faz com que
os esforços cisalhantes alternados aumentem em magnitude e sejam movido para mais perto da superfície.
Deste modo, a iniciação de trincas de fadiga de contato em dentes de engrenagens, que são sujeitas a
quantidades significativas de deslizamento, encontram-se próximas ás superfície do material. Estas trincas
se propagam em um ângulo raso até a superfície, e a formação de pites (pits) são o resultado da junção de
varias trincas que se conectam até a superfície. Se o “pitting” for grave, a resistência à flexão do dente
pode ser reduzida até o ponto em que uma fratura pode ocorrer.
O pitting mostrado na Figura 2.24 é um termo geral que inclui formas de fragmentação e outros danos
macroscópicos na superfície do material, causados pela fadiga de contato hertzianas. Este tipo de dano é o
resultado do crescimento de trincas subsuperfíciais, que podem ter sua origem na superfície ou
subsuperfície do material.
Figura 2.24. Precença de pitting em um dente de uma engrenagen helicoidal (DAVIS, 2005)
53
Além de ser umas das principais causas de danos ou desgaste em engrenagens, a fadiga de
contato é também muito importante em muitos outros sistemas mecânicos, como rolamentos e cames
(HARDING, 1986). A Tabela 2.10 apresenta uma terminologia utilizada pela indústria de engrenagens, para
descrever a aparência da fratura de fadiga de contato em componentes defeituosos.
Tabela 2.10. Terminologia usada para descrever os mecanismos de falha por fadiga de contato. (DAVIS, 2005)
Categoria Mecanismo de fadiga
Pitting Pitting Pitting inicial Pitting destrutivo Spalling Scabbing Shelling
Micropitting Microspalling Frosting Glazing Peeling
2.5 ENSAIO DE DESGASTE TIPO "FZG"
A máquina de ensaio tipo FZG é um equipamento concebido pelo instituto FZG, da universidade
Técnica de Munique, Alemanha. Tem como objetivo permitir teste de óleos lubrificantes com a finalidade de
avaliar a capacidade de carga destes últimos na proteção da superfície de dentes de engrenagens. Com
algumas modificações nos estágios de carga e de velocidade de ensaio, também é possível estudar o
comportamento de diversos materiais, desde que se garanta a semelhança entre as condições dos
ensaios.
Na máquina FZG é possível realizar testes de scuffing, de pitting ou de micropitting, conforme a
aplicação desejada. A resistência á estes tipos de danos, sob condições de carga e tempo determinados,
permitem comparar e fazer uma classificação da eficácia dos óleos lubrificantes testados. Igualmente,
nestes ensaios pode-se estudar o desempenho de materiais que serão usados para fabricação de
engrenagens, já que as condições de funcionamento desde elementos mecânicos são praticamente
impossíveis de simular em máquinas de ensaios mais simples como os tradicionais tribômetros pino-
contra-disco ou disco-disco (MAGALHÃES 2002).
54
Entre os vários ensaios normalizados, para o estudo de engrenagens, destacam-se
Ensaio de scuffing A/8.3/90: Teste normalizado (DIN 51345) para óleos de engrenagens. É
um dos ensaios mais comuns para determinar a capacidade protetora de diferentes
lubrificantes quando são submetidos a diferentes estados de carregamento. O par de
engrenagens é testado por estágios de carga sucessivos de 15 minutos, a carga aplicada
aumenta a cada estágio, assim como a pressão de contato. Uma inspeção visual é realizada
nos dentes, com o objetivo avaliar e quantificar a área da superfície de trabalho do dente que
foi afetada por scuffing ou adesão.
Ensaio de fadiga de contato C/8.3/90: Denominado de ensaio para identificar a ocorrência de
pitting ou spalling. A lubrificação é feita por imersão em óleo lubrificante sem aditivos e a
temperatura do óleo é controlada ao longo do ensaio. O ensaio começa com um período de
amaciamento (running-in) sob carga baixa; e depois o ensaio transcorre com o estágio de
carga mais elevada até atingir o critério de dano. O critério de falha mais comum se baseia na
quantidade de área afetada por pitting em relação á área ativa do flanco de um dente do
pinhão. (MAGALHÃES, 2002).
Geralmente são utilizados dois tipos de engrenagens: as do tipo A (indicadas para ensaios de scuffing)
e as do tipo C (adequadas para ensaios de pitting ou micropitting). Cada jogo de engrenagem é constituído
por um pinhão com 16 dentes e por uma coroa com 24 dentes. A Tabela 2.11. apresenta as principais
características geométricas destas engrenagens.
As engrenagens tipo A, Figura 2.25a, propiciam a ocorrência de adesão entre as superfícies, já
que devido ao perfil dos seus dentes é provocada elevadas taxas de deslizamento entre as superfícies o
que promove uma elevação na temperatura na área de contato, e assim, a superfície de trabalho dos
dentes tende a apresentar danos por scuffing em períodos de tempos relativamente curtos.
55
Tabela 2.11. Principais características geométricas de engrenagens FZG. (MAGALHÃES 2002).
O formato do perfil dos dentes das engrenagens tipo C geram grandes pressões Hertzianas na
região de contato; e se caracteriza por manter equilibradas as velocidades de deslizamento desde o início
até o fim do engrenamento. Estas características fazem com que a fadiga de contato seja o mecanismo de
falha predominante . A Figura 2.25b apresenta o perfil deste tipo de engrenagem.
Tipo A
(a)
Tipo C
(b)
Figura 2.25. Perfis de dentes do pinhão e coroa de engrenagens: (a) FZG tipo A e (b) FZG tipo C. (MAGALHÃES 2002).
56
MATERIAIS E MÉTODOS
Este capítulo será dividido em seis partes, as quais descrevem os procedimentos utilizados no
desenvolvimento deste trabalho.
1. Materiais. Apresenta os materiais utilizados, tratamentos térmicos efetuados e os valores de
propriedades mecânicas como: limite de resistência à tração (LR), dureza (HRc) e resistência
ao impacto;
2. Fabricação das engrenagens. Descreve o processo de usinagem utilizado para a fabricação
das engrenagens e o procedimento para identificação destas;
3. Caracterização dos perfis dos dentes. Caracterização do estado de recebimento das
engrenagens: acabamento superficial e controle geométrico dos perfis dos dentes.
4. Ensaio de pitting. Descreve-se: ensaio de fadiga de contato, montagem do equipamento,
procedimentos efetuados e metodologia de ensaio.
5. Análise metalográfica. Apresenta a análise sobre as superfícies do contato após ensaios,
descrição da preparação das amostras para análise microscópica e observação da
propagação de trincas.
6. Condições de contato no perfil do dente. Apresenta a metodologia utilizada para uma
melhor compreensão do regime de lubrificação ao longo do perfil dos dente nos ensaios
(pressão de Hertz, parâmetro de filme e coeficiente de atrito).
2.6 MATERIAIS
Os materiais utilizados na fabricação das engrenagens estudadas neste trabalho são de duas famílias
tradicionalmente empregadas para este fim, a saber:
Ferros Fundidos
o Ferro Fundido Nodular Austemperado – ADI 1
o Ferro Fundido Nodular Ferrítico/Perlítico – ADI 2
Aço Liga
o Aço AISI 4140, temperado por indução.
57
Observação: Neste trabalho também serão apresentados o desempenho de resistência à fadiga de
contato dos materiais utilizados no trabalho de dissertação de Koda (2009). As engrenagens fabricadas
com estes materiais foram submetidas ás mesmas condições de ensaio e de acabamento superficial. Estes
materiais são:
Ferro fundido nodular austemperado – ADI K: Austenitização por duas horas a uma
temperatura de 890ºC, seguido de uma austêmpera por duas horas a 290ºC.
Aços AISI 8620 cementado: cementação sólida por 16 horas a 880ºC, seguido de têmpera em
óleo a 130ºC e, finalmente, revenimento a 200ºC por duas horas.
Todos os ferros fundidos nodulares (FFN) foram produzidos pela empresa TUPY S.A. pelo processo de
fundição contínua. O ferro fundido nodular ferrítico/perlítico é um material tradicional de produção e recebe
a nomenclatura interna na Tupy de FE45012. O material dos FFN é fornecido em barras de seção circular
com diâmetro de 130 mm e comprimento de 1880 mm. A composição química fornecida pelo próprio
fabricante está apresentada na Tabela 3.1.
Tabela 0.1. Composição química dos ferros fundidos utilizados nos ensaios de fadiga de contato de engrenagens. (% peso)
C Mn S Cu Mg Si P Cr Mo Ceq*
ADI 1 2,83 0,4 0,009 0,6 0,025 2,35 0,055 0,024 - 3,64
ADI 2 3,00 0,2 0,007 0,1 0,049 2,50 0,040 0,039 - 3,85
ADI K 3,15 0,23 0,008 0,7 0,037 2,25 0,042 0,029 0,295 3,91
* Ceq: carbono equivalente
As engrenagens de dos materiais ADI 1 e ADI 2 foram usinadas e submetidas a um tratamento
térmico de austêmpera na empresa Wieser & Pichler Ltda. O tratamento consistiu de uma austenitização a
900ºC por 2 horas, a seguir, uma austêmpera a 270ºC por 2 horas. A microestrutura dos ferros fundidos
nodulares após tratamento térmico de austêmpera é apresentada na Tabela 3.2
Note-se na Tabela 3.2, a qual apresenta imagens das microestruturas dos materiais ensaiados (com e
sem) ataque, que a microestrutura do ADI 1 é composta por nódulos de grafita e ausferrita inferior, ou seja,
ferrita acicular em uma matriz de austenita. Distingue-se que não foi identificada a presença de carbonetos
na microestrutura deste material. Já a microestrutura do ADI 2 é constituída de nódulos grafita e uma
matriz ferrítica e perlitica (máximo 5% de carbonetos dispersos)
58
Tabela 0.2. Microestruturas dos ferros fundidos nodulares
Ferro Fundido Nodular Ferrítico/Perlítico
(FNAN)
Ferro Fundido Nodular Austemperado
(FNAB)
Sem
Ataque
Com ataque de Nital 10%
por 10 segundos.
MEV
1000 X
59
A Tabela 3.3 apresenta a caracterização dos nódulos para cada um destes materiais segundo a norma
ASTM A 247, que inclui a porcentagem de nodularização, a área de grafita, a quantidade e o tamanho dos
nódulos.
Tabela 0.3. Caracterização dos nódulos dos ferros fundidos nodulares.
Material Nodularização
(%)
Área de grafita
(%)
Quantidade
(Nód. / mm2)
Tamanho (%)
8 7 6 5
ADI 1 96 8 431 37 38 5 -
ADI 2 97 8 415 40 54 5,5 0,5
As engrenagens de aço 4140 foram usinadas na empresa Wieser & Pichler Ltda, as mesmas foram
endurecidas por têmpera por indução. Foi utilizado para os pinhões a têmpera por indução dente a dente
ou por contorno, já para as coroas utilizou-se o método de têmpera por bonina, dado o tamanho das
mesmas. A Figura 3.1 apresenta as características microestruturais e da camada temperada do aço AISI
4140.
Com o intuito de relacionar propriedades mecânicas com os resultados dos ensaios de fadiga de
contato dos materiais, foram feitos ensaios mecânicos com a finalidade de obter valores de dureza, limite
de resistência, alongamento, módulo de elasticidade e energia absorvida de impacto.
As características dos ensaios mecânicos foram:
Ensaios de tração segundo a norma DIN 50125, utilizando uma máquina universal de ensaios
de materiais EMIC. Um ensaio para cada material foi feito;
Ensaios de impacto em corpo-de-prova tipo Charpy para os materiais FNAB,FNAN e 4140,
usando uma Maquina Universal de impacto Charpy Testor Amsler Wolpert tipo pw30/15.
Foram feitos 5 corpos-de-prova para cada material;
Ensaios de dureza (Rockwell C) foram desenvolvidos em uma máquina de Dureza Wolpert,
utilizando um identador cônico de diamante 120º e uma carga de 150 Kgf. Foram realizadas
12 medições para cada material.
60
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 0.1. Macrografia e micrografia do pinhão de aço AISI 4140 dente C.(a) camada temperada, espessura 1,5mm , (b) microestrutura da camada temperada (martensíta, ataque nital, (c) microestrutura
da camada temperada (martensíta), (d) microestrutura do núcleo do dente
Todos os equipamentos usados nos ensaio mecânicos pertencem ao Laboratório Metalúrgico e
Mecânico da empresa TUPY S.A.. A Tabela 3.5 apresenta um resumo dos resultados obtidos após ensaios
mecânicos.
61
Tabela 0.4. Valores de propriedades mecânicos dos materiais ensaiados
*dados calculados por interpolação ** dados da literatura
(www.matweb.com) ◊ materiais utilizados no trabalho de Koda (2009)
2.7 FABRICAÇÃO DAS ENGRENAGENS
As engrenagens foram fabricadas utilizando o processo de usinagem por fresamento (fresadora
horizontais). Foi realizado um acabamento superficial por meio de uma operação chamada shaving, na
qual uma ferramenta em forma de engrenagem, mas com ranhuras na superfície dos dentes, promove um
acabamento final mais adequado aos ensaios de fadiga de contato. O objetivo deste acabamento é
melhorar a distribuição de carga e produzir um menor desgaste na superfície dos dentes. A Figura 3.2 (a)
mostra a ferramenta utilizada no processo de shaving, e a Figura 3(a) apreenta a superfície dos dentes de
engrenagens após acabamento por shaving.
(a)
(b)
Figura 0.2. (a) Ferramenta utilizada no processo de shaving, (b) superfície do flanco dos dentes após processo de shaving (Koda, 2009).
Em relação à geometria dos perfis dos dentes das engrenagens utilizadas em neste trabalho, foram
utilizadas as dimensões propostas pelo ensaio de fadiga de contato C/8.3/90, na qual são usadas
engrenagens tipo C (FZG-C). As características de este tipo de engrenagens já foram mencionadas acima
na Tabela 2.11.
LR
(MPa)
Alongamento
(%)
Módulo de Elasticidade
(GPa)
Dureza Rockwell C
(HRc)
Energia absorvida de impacto
(J)
ADI 1 1273 3,5 186,9 37,1 ± 1,1 5,8 ± 1,1 ADI 2 938 6,8 186,4 30,8 ± 1,6 9,1 ± 0,8 4140 2040* 7,6* 205* 57,0 ± 0,9 4,5 ± 0,9
ADI K ◊ 1546 2,1 -- 41± 1 --
8620 ◊ 1225** 14,6** 205** 38, ± 2 --
62
Nos ensaios de desgaste realizados, foram utilizados três jogos de engrenagens para cada material,
totalizando 9 (nove) pares de engrenagens. Para identificação das engrenagens no trabalho, foi adotada
uma nomenclatura que é melhor explicada com um esquema de codificação dos corpos-de-prova
apresentada na Figura 3.3.
Figura 0.3. Identificação dos corpos-de-prova.
Como exemplo desta codificação pode-se citar:
Código: ADI 1 – 3
Interpretação: Engrenagem de ferro fundido nodular austemperado, terceiro corpo-de-prova.
Finalmente, os dentes das engrenagens também foram identificados, com o fim de manter uma
referência para que as engrenagens sempre iniciem o contato em um mesmo par de dentes, assim,
marcações alfanuméricas na lateral do dente, feitas com uma caneta vibratória, foram utilizadas para ter
uma maior organização na caracterização das superfícies dos dentes após cada etapa do ensaio. Na
Figura 3.4, mostra-se como foram nomeados os dentes das engrenagens, as coras (24 dentes) com
números de 1 à 24 e os pinhões (16 dentes) com letras de A à P.
Figura 0.4. Marcações dos dentes das engrenagens.
ADI 1 = Ferro Fundido Nodular Austemperado
ADI 2 = Ferro fundido Nodular Ferrítico
4140 = Aço SAE 4140
Número do corpo de prova
1, 2, ou 3
-
63
2.8 CARACTERIZAÇÃO DOS DENTES
2.8.1 Perfil evolvental modificado
Com a finalidade de verificar os perfis das engrenagens tipo C, no estado de recebimento, as essas
foram colocadas no projetor de perfis Henri Hauser AS tipo 215K serie 244, disponível no Laboratório de
Metrologia do Departamento Acadêmico de Mecânica (DAMEC) da UTFPR. Assim, foi possível gerar uma
imagem do perfil dos dentes com um aumento de 10 vezes.
A certificação da forma correta do perfil dos dentes das engrenagens foi feita pela comparação do perfil
teórico, obtido no software Solid Edge V19, sobreposto á imagem do dente obtida no projetor de perfil.
Desta forma, conseguiu-se fazer um controle geométrico indireto dos perfis dos dentes. A Figura 3.5
mostra uma imagem de um dente projetado e o desenho de um perfil teórico.
(a)
(b)
Figura 0.5. Controle dimensional. (a) imagem de um perfil projetado; (b) desenho teórico de um perfil de engrenagem tipo C.
2.8.2 Medição de rugosidade
Para a caracterização da rugosidade dos dentes quando do recebimento do fornecedor, foram feitas
medições sobre o flanco dos dentes no sentido axial, tal como é mostrado na Figura 3.6, na região do
adendo, diâmetro primitivo e dedendo. O equipamento utilizado foi o rugosímetro modelo Surtronic 25
(Taylor Robson), com apalpador de diamante de raio da ponta de 5 µm, do Laboratório de Superfícies e
Contato (LASC-UTFPR). As condições de medições são apresentadas na Tabela 3.6.
64
Figura 0.6. Direção axial das medições de rugosidade do flanco dos dentes.
Para a medição de rugosidade foram escolhidos aleatoriamente cinco dentes de cada pinhão (B, E, I, N e
P) e de cada coroa (2, 6, 13, 18 e 23). Com objetivo de entender os fenômenos de desgaste por fadiga de
contato nas engrenagens, foi feito um acompanhamento dos parâmetros de rugosidade nos flancos da
superfície de contado dos dentes.
Tabela 0.5. Parâmetros utilizados nas medições de rugosidade
Parâmetros Valor
Comprimento de medição – lm 4,0 mm
Comprimento de corte – lc (cut-off) 0,8 mm
Filtros - filtro polinomial de 2° grau
- filtro gaussiano (0,8 mm)
Os Parâmetros Rz, Rvk e Rq foram utilizados para relacionar altura picos com o desgaste dos dentes,
adicionalmente Rq foi utilizado para determinar o parâmetro de espessura de filme. O parãmetro Ra foi utilizado
para o acompanhamento da rugosidade média da superfície, e finalmente, o parâmetro Rsm estabeleceu o
espaçamento entre picos das asperezas a cada etapa do ensaio.
A Tabela 3.7 apresenta os valores médios dos parâmetros de rugosidade e na Figura 3.7 são
apresentados os perfis de rugosidade para o estado de fornecimento para todos os materiais. O processo de
fabricação para os três (3) tipos de materiais utilizados conseguem atingir uma rugosidade parecida, diminuindo
a influencia que pode ter o acabamento final das superfícies (shaving) na fadiga de contato.
65
Tabela 0.6. Parâmetros de rugosidade das engrenagens no estado de fornecimento.
Ra
(m)
Rq
(m)
Rz
(m) Rsm
(pico/mm)
Rvk
(m)
AISI 4140 1,0 ± 0,4 1,2 ± 0,5 5,9 ± 2,4 0,15 ± 0,03 1,7 ± 1,0
ADI 1 1,0 ± 0,1 1,3 ± 0,2 6,8 ± 0,6 0,05 ± 0,01 1,5 ± 0,4
ADI 2 1,3 ± 0,1 1,7 ± 0,1 8,8 ± 0,7 0,06 ± 0,01 2,0 ± 0,5
(a)
(b)
(c)
Figura 0.7. Perfis de rugosidade em estado de fornecimento: (a) AISI 4140 (b) ADI 1 e (c) ADI 2.
66
2.9 ENSAIO DE FADIGA DE CONTATO
2.9.1 Equipamento
Para a realização dos ensaios de fadiga de contato em engrenagens foi utilizado o tribômetro FZG-
LASC. A Figura 3.8 mostra uma vista geral deste equipamento. Este equipamento foi projetado, fabricado e
montado no laboratório de Superfícies e Contato (LASC-UTFPR) durante o desenvolvimento da
dissertação de mestrado de Koda (2009).
No entanto, dada a dificuldade para o controle da temperatura do banho de óleo lubrificante durante os
ensaios, neste trabalho foi incorporado à esta máquina um sistema de refrigeração, baseado na circulação
de água em um circuito fechado formado por um reservatório de água, bomba, trocador de calor, válvulas,
rotâmetro, mangueiras e tubulações de PVC.
Figura 0.8. Componentes do tribômetro FZG-LASC.
67
Para ter um maior entendimento do tribômetro FZG-LASC, na Tabela 3.8 são apresentadas as funções
dos principais elementos mecânicos mostrado na Figura 3.8.
Tabela 0.7. Principais elementos do equipamento FZG-LASC e suas funções.
Elemento Função
(1) Eixo 1 Eixo movido. É dividido em duas seções e possui o sistema de aplicação de carga.
(2) Eixo 2 Eixo motor (motriz), ligado ao eixo do motor.
(3) Caixa de teste Receberá os pares de engrenagens a serem estudados.
(4) Caixa motora Utiliza engrenagem de aço AISI 8620 e não é monitorada nem aberta durante os ensaios.
(5) Motor elétrico Produzir e transmitir movimento rotacional capaz de vencer a força do contato das engrenagens e conseguir uma velocidade constante durante os ensaios.
(6) Peso morto Massa para provocar o torque no eixo.
(7) Barra de alavanca Transmite o torque para o eixo 1 (movido)
(8) Alavanca de travamento Fixar uns dos lados do eixo 1, enquanto é aplicado o torque (T1) no outro lado do eixo.
(9) TICs Monitoramento da temperatura.
(10) Respiro Alívio da pressão interna das caixas de engrenagens.
(11) Transformação trifásico Transformar a voltagem de 220 V, disponível na rede elétrica da UTFPR, para 380 V, valor necessário na entrada do inversor de frequencias do motor.
(12) Trocador de calor Auxílio na refrigeração da água do sistema.
(13) Reservatório de água Tanque destinado a armazenar água do sistema de refrigeração.
(14) Bomba de água Promover a recirculação de água no sistema de refrigeração.
(15) Rotâmetro Controle da vazão de água no sistema de refrigeração.
(16) Resistências elétricas Elevar a temperatura do óleo lubrificante.
2.9.2 Seleção do óleo lubrificante
O óleo lubrificante utilizado no trabalho foi o ISO VG 100, que é um fluido que apresenta em sua
composição óleo básico mineral, sem aditivos que evitam o desgaste e a corrosão das peças lubrificadas.
As propriedades importantes do lubrificante são apresentadas na Tabela 3.9.
68
Tabela 0.8. Propriedades do óleo ISO VG 100
Propriedades Valor Unidade
Densidade relativa a 20/4ºC 0,887 -
Ponto de fulgor (VA) 264 ºC
Ponto de Fluidez -15 ºC
Viscosidade a 40 ºC 96,4 cSt
Viscosidade a 100 ºC 11,03 cSt
Índice de viscosidade 99 -
Índice de acidez total 0,31 mgKOH/g
2.9.3 Montagem do tribômetro FZG-LASC
A montagem do tribômetro pode ser dividida em três etapas: montagem da caixa motora; montagem da
caixa de teste e aplicação da carga. Como já foi mencionado na Tabela 3.8, a caixa motora é uma caixa
fixa, na qual foi colocado um jogo de engrenagens de aço AISI 8620 cementados e não foi aberta, nem
monitorada, ao longo de todos os ensaios realizados.
A montagem da caixa motora deve seguir os seguintes passos:
1. Limpar as paredes e interior da caixa, removendo qualquer sujeira ou excesso de óleo,
especialmente nas áreas na qual será colocado a junta (papelão hidráulico).
2. Passar na superfície limpa o vedante de silicone para garantir a vedação.
3. Colocar papelão hidráulico sobre o vedante ainda úmido e deixar secar.
4. Colocar anéis de latão em ambos os eixos para garantir o contato total entre os flancos dos dentes
do pinhão e a coroa.
5. Inserir as chavetas nos respectivos eixos.
6. Aquecer as engrenagens até uma temperatura de 90ºC, com auxilio de um aquecedor indutivo
(este ajuste com interferencia evita movimento axial das engrenagens).
7. Colocar a coroa, previamente aquecida, no eixo 2 (eixo motor).
8. Colocar o pinhão no eixo 1 (eixo movido). Neste passo, deve ser levada em consideração a
numeração dos dentes das engrenagens, já que para o início de uma nova etapa de ensaios os
dentes em contato devem ser os mesmo que a etapa anterior.
9. Fechar a caixa com a tampa lateral utilizando 7 parafusos. Apertar os parafusos em ordem
cruzada.
69
10. Limpar o eixo para o acoplamento tipo mandíbula e encaixar a conexão de borracha.
11. Encaixar o acoplamento no eixo do motor.
12. Encaixar o motor no eixo 2, usando o acoplamento.
13. Fixar o motor na base da mesa, utilizando 4 parafusos.
A partir deste ponto, deve-se montar a caixa de teste. Praticamente são seguidos os mesmo passos
descritos para a caixa motora, mas deve-se omitir os últimos 4 passos (10, 11, 12 e 13). Para o
fechamento das tampas superiores das caixas, motora e de teste, deve-se adotar o seguinte procedimento:
1. Limpar as tampas das caixas, retirando o máximo de óleo possível, em especial nas áreas que
ficarão em contato com caixas;
2. Passar vedante de silicone nas superfícies limpas;
3. Fechar as tampas com os 6 parafusos;
4. Verificar se os respiros estão livres para a passagem de gases durante o ensaio.
Após a realização das duas etapas anteriores, se procede à aplicação das cargas ou torque, que tem
como objetivo provocar uma pressão de contato nas faces dos dentes das engrenagens. Para facilitar a
compressão do sistema de aplicação de carga, a Figura 3.9 mostra a vista superior do tribômetro, na qual
se apresenta os elementos deste sistema.
Figura 0.9. Vista superior do tribômetro FZG-LASC.
Note-se da Figura 3.9 que o sistema é composto por quatro elementos básicos, o eixo 1 (movido), o
qual esta divido em duas partes denominadas eixo 1(a) e eixo 1(b), e dois flanges (fêmea e macho) que
são usados para unir os eixos e fixar o torque no sistema. O procedimento para aplicação das cargas tem
os seguintes passos:
70
1. Encaixar a alavanca de travamento no flange macho. A finalidade é travar o eixo 1(b) e evitar
qualquer movimento rotacional.
2. Encaixar a barra de alavanca no flange fêmea.
3. No extremo da barra de alavanca colocar o porta pesos e logo após as massas
correspondente a cada estágio de carga.
4. Verificar se o flange fêmea apresenta um deslocamento angular em relação ao flange macho,
já que pela adição das massas, o flange fêmea tende a girar no seu próprio eixo.
5. Unir os dois flanges por meio de três parafusos.
6. Retirar as massas do porta pesos.
7. Retirar as alavancas dos flanges.
2.9.4 Condições de carregamento
O tribômetro FZG-LASC foi projetado para permitir a aplicação de 12 (doze) estágios de carga
estabelecidos na norma ASTM D 5182-97. No entanto, neste trabalho foram seguidos os procedimentos
padronizados pelo instituto FZG (FZG, 1992) para a ocorrência de pitting no flanco das engrenagens.
Neste procedimento são aplicados dois estágios de carga: running–in e pitting. A Tabela 3.10 apresenta as
condições de carga para estes estágios.
Tabela 0.9. Estágios de cargas utilizados no ensaio de fadiga de contato
Código do
estágio de
carga
Torque
(N.m)
Pressão de Hertz
no diâmetro
primitivo (MPa)
Massas*
(kg)
Running–in 6 135,3 929 5,97
Pitting 9 302,0 1386 22,96
* Massa que deve ser colocada no porta peso no momento de aplicar a carga no tribômetro FZG-LASC.
2.9.5 Tempo e temperatura de ensaio.
O tempo de para o período de running–in foi de duas horas a uma temperatura de 60 ºC. Para o
estágio de pitting, que é realizado a uma temperatura de óleo de 90 ºC, o tempo de estágio depende do
critério de falha; que para este trabalho se estabeleceu em 8% da área ativa total dos dentes do pinhões
71
danificados por pitting. Este critério de falha foi o mesmo adotado por Koda (2009), pois neste trabalho será
feita uma análise comparativa entre os materiais estudados neste trabalho (ADI 1, ADI 2 e 4140) e os
materiais estudados por Koda (2009).
Inicialmente, foram programadas inspeções visuais a cada 4 horas, mas após a primeira bateria de
ensaios este tempo foi redefinido para cada material ensaiado, com o objetivo de fazer um
acompanhamento com maior precisão da evolução dos danos por pitting. Na Tabela 3.11 são
apresentados os tempos definidos para inspeção visual no estágio de pitting para cada material.
Tabela 0.10. Tempos para inspeção visual dos flancos dos dentes para cada material.
Material Tempo para inspeção
visual (horas)
ADI 2 1
ADI 1 8
AISI 4140 8
Para o controle da temperatura do óleo lubrificante na caixa de teste, foram utilizados:
para o aquecimento um resistor do tipo tubular com 1000 Watts, o qual é controlado por meio
de um TIC;
para o resfriamento uma tubulação de cobre, com água circulante e imersa no óleo
lubrificante.
2.9.6 Metodologia do ensaio
A Figura 3.10 mostra o fluxograma da metodologia utilizada nos ensaio de fadiga de contato das
engrenagens. Esta metodologia possibilitou o estudo dos parâmetros de rugosidades e da ocorrência de
danos nos flancos após cada estágio e assim promover um comparativo das engrenagens em relação à
resistência ao pitting.
Após cada etapa do ensaio foi necessário realizar uma limpeza dos corpos de provas. Foram utilizados
escova de cerdas de Nylon®, esponja macia, um produto de limpeza desengordurante comum, água e
álcool. Esta atividade teve como objetivos a remoção de resíduos do processo de fabricação ou óleos das
etapas anteriores, deixando assim a área do flanco do dente pronta para atividades seguintes (fotografia e
medição de rugosidade).
72
Figura 0.10. Metodologia de ensaio de fadiga de contato utilizando o tribômetro FZG-LASC.
A aquisição das imagens dos flancos dos dentes foi realizada mediante um sistema desenvolvido neste
trabalho, mostrado na Figura 3.11. Este sistema garante a repetibilidade do processo, ou seja,
posicionando corretamente a engrenagem no suporte, as faces dos dentes estarão sempre na mesma
posição em relação à câmera. O sistema de iluminação utiliza dois refletores com lâmpadas alógenas de
150 W e a câmera utilizada é a DSC-H9 (marca Sony).
73
Figura 0.11. Sistema utilizado para aquisição de imagens.
A quantificação da área afetada pelo dano de pitting, é obtida a partir de imagens das superfícies dos
dentes. Utilizando um software de CAD, Solid Edge V19, foram inseridas cada uma das imagens dos
dentes no módulo Solid Edge Draft (desenho), e usando a ferramenta desenho de curvas se contorna as
áreas afetadas por dano de pitting, tal como é ilustrado na Figura 3.12. A área ativa do dente está
apresentada nesta mesma Figura em cinza. Após a delimitação das áreas, estas foram medidas e a sua
relação determinou a área afetada por pitting. Este procedimento foi realizado em todos os dentes
danificados de cada engrenagem.
Figura 0.12. Medição de área afetada por pitting usando o Solid Edge.
74
Este procedimento é importante já que estabelece a porcentagem de área afetada de cada dente e o
percentual médio dos danos de todo o componente, estes dois resultados são importantes para o critério
de finalização do ensaio discutido no item anterior.
Após a realização dos ensaios, uma etapa de caracterização metalográfica foi realizada para a
observação das superfícies de trabalho pós-ensaio, análise da propagação de trincas das amostras e
finalmente caracterização do desgaste observado sobre as superfícies
2.10 ANÁLISE METALOGRÁFICA
2.10.1 Preparação das amostras
Para análise metalográfica dos corpos-de-prova, após ensaio, foram realizados cortes nas
engrenagens em uma máquina de serra horizontal marca FRANHO modelo FM-500 do Laboratório de
Usinagem (DAMEC-UTFPR), isto foi feito com o objetivo extrair dentes do cubo das engrenagens para seu
posterior estudo. Uma vez feita a extração dos dentes, estes foram cortados na direção axial e radial
utilizando uma máquina de corte por precisão Miniton Struers do Laboratório de Integrado de Materiais
(LIM-DAMEC-UTFPR). Este procedimento está esquematizado na Figura 3.13 e auxiliará a discussão dos
resultados.
(a)
(b)
Figura 0.13. Cortes para metalografia e medição de dureza e microdureza: (a) primeiro corte radial (b) cortes axiais.
75
A seção radial A-A foi utilizada para obter os perfis de dureza, microestruturas dos materiais,
quantificação de nódulos e estudo de profundidades de trincas. Já as seções axiais B-B, C-C e D-D, que
representam cortes axiais na região do adendo, diâmetro primitivo e dedendo respectivamente, só foram
utilizadas para complementar o estudo de profundidade e propagação das trincas.
Na montagem das amostras para análise em baquelite dos cortes axiais e radial de cada dente, foi
utilizado o esquema apresentado na Figura 3.14, desta forma não se perde a referências dos fenômenos
de desgastes apresentados nas superfícies.
Figura 0.14. Esquema de montagem de amostras em baquelite.
Após as amostras serem embutidas, foi feito lixamento seqüencial nas amostras utilizando lixas de
granulométrica 80, 220, 320, 400, 600 e 1200. Em seguida é feito um polimento dividido em duas fases, a
primeira delas foi um polimento em pasta de alumina de 1 μm, de maneira convencional em politriz manual.
Logo após foi feito um polimento em uma politriz semi-automática modelo EcoMet 250Grinder-Polisher do
LIM-DAMEC. Considerando que a preparação metalográfica de ferros fundidos não é muito dominada,
optou-se por apresentar os parâmetros de ajuste deste equipamento na Tabela 3.12.
Tabela 0.11. Parâmetros utilizados na politriz semi–automática.
Pano Granulação
- diamante (m)
Tempo
(min.)
Força
(N)
Rotação
(rpm)
Sentido do
Cabeçote
Sentido do
pano
MD - Sat 3 μm 8 30 150 Horário Anti-horário
MD - Dur 1 μm 8 30 150 Horário Anti-horário
76
Para análise metalográfica, foi utilizado um microscópio Olympus BX51M e um analisador de imagens
Imagem – Pro Plus Versão 4.0. Inicialmente foi realizada a análise da profundidade e do sentido de
propagação das trincas em baixo da superfície carregada do dente da engrenagem. Foram analisadas as
regiões do adendo, diâmetro primitivo e dedendo. Isto foi feito para um só dente de um pinhão e uma coroa
de cada material usado nos ensaios. Tanto os dentes estudados como as engrenagens analisadas, foram
selecionadas aleatoriamente.
Com o intuito de revelar como foi propagação das trincas na microestrutura do material, as amostras
foram atacadas quimicamente com Nital 2% por 3 minutos. Isto ajudou a identificar as fases preferenciais
de propagação de trincas na matriz do material.
2.10.2 Microdureza
Os perfis de microdureza foram feitos nos cortes radiais das amostras, nos flancos de cada dente.
Quatro regiões foram selecionadas para a realização das medições das microdureza, três no flanco do
dente que sofreu carregamento e uma no flanco não carregado, esta última região apresentando ainda as
condições de recebimento do material. Na Figura 3.15 são apresentadas as regiões nas quais foram feitas
varreduras de microdureza após a finalização dos ensaios
Figura 0.15. Esquema das quatro regiões de medições de microdureza realizadas.
Para as medições de microdureza foi utilizado o equipamento Shimadzu HMV do laboratório de
materiais da UTFPR. O espaçamento das indentações foi de 0,2 mm até uma profundidade de 2,5 mm,
sendo a primeira indentação a 0,05 mm da superfície do flanco. Os parâmetros de medições das
microdureza são apresentados na Tabela 3.13.
77
Tabela 0.12. Parâmetros para as medições de microdureza
Parâmetro
Equipamento Shimadzu HMV
Carga 1 kg
Tempo 10 segundos.
Indentador Vickers
Numero de amostra 3
2.11 Condições de contato no perfil do dente
Para a determinação da pressão máxima de Hertz (PH), parâmetro de filme () e coeficiente de atrito
() ao longo do perfil dos dentes das engrenagens foi utilizado o programa computacional desenvolvido no
Laboratório de Superfícies e Contato (LASC) por Muraro e Reisdorfer (2010) em trabalho de conclusão do
Curso de Engenharia Industrial Mecânica da UTFPR.
Para o cálculo destes parâmetros utiliza-se o valor da rugosidade média do dente (adendo/diâmetro
primitivo/dedendo) e o detalhamento dos modelos utilizados por este programa computacional está
apresentado no Apêndice C.
A análise das condições de contato no perfil dos dentes foi implementada para a comparação entre as
engrenagens fabricadas em ADI 1 e AISI 4140.
O programa computacional, denominado de EngCalc, foi alimentado com as condições de trabalho
desenvolvidas durante os ensaios e estão apresentadas nas Tabelas 3.14,3.15 e 3.16
Tabela 0.13. Dados de entrada do sistema
Dado Valor Unidade
Número de dentes do pinhão 16 -
Número de dentes da coroa 24 -
Módulo 4,5 mm
Ângulo de pressão 20 °
Torque de entrada 302 N.m
Rotação de entrada 1450 rpm
Largura do dente 14 mm
Viscosidade do Lubrificante 14,59 cSt
Densidade do Lubrificante 840,00 kg/m3
Coeficiente Pressão-Viscosidade 1,12 x 10-4 in2/lbf
* óleo lubrificante utilizado: ISO VG 100 Mineral (equivalente ao AGMA 3) á 90oC
78
Tabela 0.14. Características da análise do sistema
Característica Informação FNAB 4140
Rugosidade no Recebimento
(valores médios de Ra)
Ra pinhão (m)
Ra coroa (m)
1,02 ± 0,12
1,00 ± 0,12
0,98 ± 0,39
0,95 ± 0,23
Material Coeficiente de Poisson (-)
Módulo de Elasticidade (GPa)
0,27
166
0,29
205
Tipo de engrenagem Modificada
Modificações no perfil xpinhão = 0,1817 xcoroa = 0,1715
Processo de fabricação Cortador Circular
Fator de recobrimento (Xc) Sem Recobrimento (XC = 1)
Tipo de Lubrificante Óleo Mineral Puro (XL = 1)
Função de compartilhamento de
carga
F/2 - F - F/2
Tabela 0.15. Rugosidade média Ra (m) do perfil dos dentes após as etapas de running-in e pitting 6.
running-in pitting 6
pinhão coroa pinhão Coroa
ADI 1 0,60 0,72 0,44 0,49 AISI 4140 0,72 0,66 0,67 0,74
79
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Resistência ao desgaste
Após da realização de cada etapa dos ensaios de fadiga de contato nas engrenagens, as imagens dos
flancos dos pinhões foram analisadas com a finalidade de quantificar a área afetada por pitting e/ou
spalling. Os ensaios foram interrompidos apenas quando se atingiu 8% da área ativa total do pinhão
danificada por pitting. Na Tabela 4.1 se apresenta a porcentagem de área danificada pelo número de ciclos
de trabalho para todos os pinhões de cada material.
A Tabela 4.1 também apresenta o tipo de dano que provocou a interrupção do ensaio, pois neste
trabalho foi possível identificar a presença de danos por pitting, mas também spalling e fratura de algum
dente na raiz.
Tabela 3.1. Resultados dos ensaios de fadiga de contado em engrenagens.
Materiais Pinhão Horas de Ensaio
Área Danificada (A%)
Número de ciclos (N)
Taxa de dano (A%/N)
Média Desvio padrão
ADI 1
1 4 17 348.120 4,9E-05
5,7E-05 9,0E-06 2 2 9,6 174.060 5,5E-05
3 2 11,6 174.060 6,7E-05
ADI 2
1 20 12,8 1.740.600 7,4E-06
3,4E-06 3,5E-06 2* 24 3,6 2.088.720 1,7E-06
3* 16 1,5 1.392.480 1,1E-06
4140
1 28 10,8 2.436.840 4,5E-06
4,2E-06 4,3E-07 2 28 9,1 2.436.840 3,7E-06
3* 16 6,3 1.392.480 4,5E-06
ADI 1 10 9,6 870.300 1,1E-05
1,1E-05 2,4E-07 2 10 9,9 870.300 1,1E-05
8620 2 84 8,3 7.310.520 1,1E-06 1,1E-06 -
* Ensaios interrompidos devido a fratura na raiz do dente
Com a finalidade de estabelecer um parâmetro para comparar os diferentes materiais aqui estudados,
em relação a sua resistência à fadiga de contato, foi estabelecida uma taxa de dano que relaciona a
porcentagem de área danificada por pitting do pinhão (A%) e números de ciclos de ensaio (N). Os valores
das taxas são apresentados na Tabela 4.1 para cada corpo-de-prova. Assim mesmo, também foi calculada
a taxa média para cada material, junto com seu desvio padrão.
80
Adicionalmente na Tabela 4.1 são apresentados os resultados dos ensaios de fadiga de contato
realizados no trabalho de dissertação de KODA (2009), em engrenagens fabricadas em ADI e aço
AISI 8620. As composições químicas e tratamentos térmicos realizados nestes materiais foram descritos
no item 3.1.
Note-se da Tabela 4.1 que nos ensaios com ADI 2, somente um pinhão ultrapassou o 8% de área
danificada necessária para interromper o ensaio, os outros dois corpos-de-prova sofreram falhas por
fratura na raiz dos dentes, provocando assim a interrupção prematura do ensaio. No momento da fratura os
pinhões (ADI 2-2 e ADI 1-3) apresentavam 3,6% e 1,5% de área danificada com 2.088.720 e 1.392.480
ciclos respectivamente.
Em relação ao ADI 1, nota-se que todos os pinhões ultrapassaram o critério de falha. De início, por se
desconhecer o comportamento deste material sob fadiga, foi realizado no primeiro ensaio (AD1-1), um
estágio de pitting com duração de 4 horas. Após a caracterização se determinou que a área afetada por
danos de pitting foi de 17 %. Dado que a evolução dos danos foi muita rápida, e não foi possível fazer um
acompanhamento adequado dos danos neste primeiro ensaio, se estabeleceu para os últimos dois
ensaios, nos pinhões ADI 1-2 e ADI 1–3, o tempo de ensaio de pitting fosse de duas horas, ou seja,
174.060 ciclos, tendo como resultado uma área afetada por pitting de 9,6 % e 11,5 % respectivamente.
Finalmente o aço AISI 4140 ultrapassou o critério de falha depois de 28 horas de ensaio de pitting, ou seja,
após aproximadamente 2.500.000 de ciclos. No terceiro corpo-de-prova (4140-3) houve fratura na raiz de uns
dos dentes, interrompendo o ensaio após 16 horas e apresentando 6,3% de área ativa total danificada por
pitting.
A Figura 4.1 mostra a taxa de danos média para cada material, note-se que dos materiais ensaiados, o
FNAN teve o pior desempenho a resistência à fadiga contato, tendo uma taxa de danos 16 vezes maior
que a reportada pelo ADI 2 e 13 vezes maior apresentada para o aço 4140. Este comportamento do ADI 1
pode ser explicado pela sua dureza superficial de 30,8 HRc (Tabela 3.3), a menor dureza entre todos
materiais ensaiados.
Adicionalmente, este comportamento pode ser atribuído ás condições de tratamento térmico realizado
nos corpos-de-prova do ADI 1, (austêmpera por duas horas a 270 ºC) as quais não foram suficientemente
adequadas para obter uma microestrutura ausferrítica neste material, resultando uma microestrutura
ferrítica/perlítica. Ressalta-se assim, que este material que tem uma composição química tradicional para
aplicações diversas, realmente não é o mais adequado para aplicações onde uma estrutura ausferrítica é
necessária.
81
Figura 3.1. Taxa de dano (A%/ciclos) dos materiais estudados
Por outro lado, os materiais AD1 2 e 4140 apresentaram uma taxa de danos similar, sendo a taxa
deste último levemente superior. Este resultado indica, que as propriedades mecânicas tais como dureza,
alongamento e o limite de resistência, parecem ter menor influência na comparação da resistência à fadiga
de contato destes materiais. Não obstante, a propriedade de energia absorvida por impacto (RI), sendo a
capacidade de um material absorver energia até a sua fratura, pode ter sido o fator principal para o
aceitável desempenho do ADI 2 nos ensaios. Os resultados dos ensaios Charpy (Tabela 3.3) mostraram
que o ADI 2 (5,8 J) apresenta uma maior capacidade de absorver energia comparado com o AISI 4140 (4,5
J), por conseguinte, a resistência à propagação de trincas e posterior remoção de danos é menor em uma
microestrutura martensítica do que a combinação de nódulos de grafita em uma matriz ausferrítica.
Segundo Putatunda (2002) a tenacidade á fratura dos ferros fundidos nodulares austemperados está
fortemente influenciada pela sua microestrutura. A relação entre limite de escoamento ( y ), fração
volumétrica da austenita ( X ) e o teor de carbono da austenita retida ( C ) na matriz, contribuem com a
tenacidade à fratura nestes materiais. Estes três fatores dependem das temperaturas de austenitização e
austêmpera, de tal modo que uma otimização destes parâmetros permite a obtenção de ferros fundidos
com alta tenacidade à fratura.
5,7E-05
1,1E-05
4,2E-06 3,4E-06 1,1E-06
0,E+00
1,E-05
2,E-05
3,E-05
4,E-05
5,E-05
6,E-05
7,E-05
FNAN ADI 4140 FNAB 8620
Taxa
de
dan
o (
A%
/N)
ADI 1 ADI 2
82
Igualmente, Putatunda (2002) estabeleceu uma relação na qual a tenacidade à fratura é proporcional à
relação y ( X . C )1/2. Com dados de materiais estudados pelo mesmo autor, que possuíam similaridade
como o ADI 2, tanto em composição química quanto no tratamento térmico efetuado, estabeleceu-se que a
tenacidade à fratura do ADI 2 é aproximadamente de 60 MPa . m . Este valor está acima dos valores de
tenacidade à fratura encontrados para aço AISI 4140 temperado por indução, que apresenta em média 48
MPa . m ( AMERICAN SOCIETY FOR METALS, 2002)
Dos materiais estudados por Koda (2009) o ADI apresentou uma taxa de dano maior que o AD1 2 e o
4140, resultado que mostra a evolução e avanços no desenvolvimento de ferros fundidos nodulares
austemperados para aplicações de fadiga de contato. O melhor desempenho comparativo, continuou
sendo o aço AISI 8620 cementado e temperado, o qual ultrapassou o 8% da área ativa danificada por
pitting após 7.300.000 ciclos aproximadamente, apresentando a menor taxa de dano de todos os materiais
ensaiados.
3.2 Caracterização de falha
A fratura na raiz dos dentes de três, dos doze pinhões ensaiados, foi um tipo de falha que obrigou a
interrupção dos ensaio de fadiga de contato. As engrenagens de ADI 2 foram as que mais registraram este
tipo de dano: dois no total. A Figura 4.2 mostra um dente e o pinhão fraturado correspondente ao corpo-de-
prova ADI 2-2. Observa-se que as trincas se desenvolveram a partir do lado tracionado do dente, em uma
direção perpendicular á superfície e terminando no lado oposto.
O ADI 2 pode ser considerado um material dúctil–frágil, assim, sobre cargas induzidas durante os
ensaios de fadiga de contato podem ter superado a resistência à flexão dos dentes fraturados,
demonstrando que este material é frágil para os esforços de flexão nas condições em que as engrenagens
foram ensaiadas, no entanto, as superfícies desde dentes resistiram satisfatoriamente à fadiga de contato,
já que ao longo do ensaio não foi identificada grandes intensidades de pitting na superfície de contato.
Apesar do ótimo desempenho das superfícies, as fraturas apresentadas nas engrenagens do ADI 2,
mostram a necessidade de desenvolver estudos que possam garantir uma maior resistência à flexão de
engrenagens fabricadas neste material ao serem submetidas a grandes carregamentos.
83
(a
(b)
Figura 3.2 – Engrenagem de ADI 2 com dente fraturado. (a) vista lateral mostrando a presença de pitting, (b) superfície de fratura do dente.
Em relação aos danos nas superfícies, foram identificados dois tipos de danos:
Spalling: crateras de fadiga de grandes dimensões, e
Pitting: crateras pequenas e dispersas no flanco do dente.
Basicamente os danos por spalling se apresentaram nos pinhões de ADI 1 e ADI 2, enquanto que os
danos por pitting se manifestaram no aço AISI 4140 e no ADI 2.
As maiores crateras nas superfícies foram localizadas nos pinhões e coroas fabricadas em ADI 1, a
Figura 4.3 mostra o flanco ativo de um dente de um pinhão deste material, revelando grandes extensões
dos danos causados na superfície.
84
Figura 3.3. Danos superficiais no ADI 1 após ensaio
a
2
1
3 b
3
3
3
c 2
4
d
3
5
85
A Figura 4.3 (a) mostra laminas de material destacado (1) que formará um spalling (lascamento) na
superfície de desgaste no ADI 1, onde se observa a propagação de trincas através da matriz e nódulos de
grafita. Este modo de propagação encontrado nos FFN produz crateras bastante irregulares e que
dependendo do material pode chegar a ter grandes dimensões. Mecanismo semelhante foi encontrado por
Dommarco (1998) em estudo de fadiga de contato por rolamento.
Também é possível observar no fundo das crateras a presença de “marcas de praia (2)”, mecanismo
de desgaste que indica fratura por fadiga (DAS, 2005). Na Figura 4.3 (b), note-se a propagação das trincas
(3) tanto na superfície do material como nos fundo da cratera, assim mesmo, na Figura 4.3 (c), observa-se
como uma trinca (3) se propaga pela matriz por entre nódulos. Este fato é demonstrado por diversos
pesquisadores como Dommarco (1998) e Magalhães (2000), os quais mostraram que durante a etapa de
propagação das trincas, estas são fortemente influenciadas pela presença de nódulos, que fazem com que
haja mudanças contínuas da direção da trinca principal, ou podendo se multiplicar, originando assim várias
microtrincas que de propagam em direções diferentes formando uma rede.
Adicionalmente na Figura 4.3(c) nota-se cavidades provocadas pela remoção ou expulsão de nódulos
(4) próximos á superfície de desgaste. Este fenômeno é explicado por Magalhães (2002), no qual o
aspecto uniforme das arestas destas cavidades e o perfil ligeiramente cônico sugerem que partícula de
grafita teria sido removida de uma vez só, muito provavelmente devido à pressão de óleo que penetrou na
cavidade da grafita quando as primeiras trincas a ligaram à superfície.
Finalmente, constatou-se a presença de muitas regiões de material próximas de serem removidas da
superfície (5), tal como é mostrado na Figura 4.3 (d). Estas regiões mostram a presença de muita
deformação plástica e algumas trincas internas (3). Muitas destas partículas de desgaste, de dimensões
pequenas, após sua remoção da superfície, vão contaminar o lubrificante.
Seguindo com análises dos danos superficiais, as engrenagens fabricadas em ADI 2 também
apresentaram danos por spalling (em menores dimensões que o ADI 1) nos pinhões e pitting nas coroas,
mas em dimensões menores. Esta diferença de danos encontrados nas coroas e pinhão se deve ao fato
que estes últimos foram submetidos a maiores ciclos de carregamento devido à relação de transmissão.
As figuras 4.4 (a) e (b) apresentam os danos superficiais para coroas fabricadas em ADI 2. Nota-se
nestas figuras riscos paralelos (1) à direção de rolamento, provocados por um desgaste por deslizamento.
Segundo Magalhães (2002) este tipo de mecanismo de desgaste é típico nas zonas de elevado
deslizamento que ocorre nos flancos ativos dos dentes.
86
Figura 3.4. Danos superficiais no FNAB após ensaio
1 3
2
a
3
5
4
b
4
2
c 5
d
87
A origem deste riscos (figuras 4.4 a e b) correlacionam-se com a imposição de elevadas pressões de
contato e da interação mecânica que os picos mais salientes das asperezas de uma superfície efetuam
sobre a outra. Vale ressaltar que este mecanismo de desgaste conta também com auxílio de pequenas
partículas metálicas livres presentes na zona de contato. Estes riscos formados por mecanismos abrasivos
se diferenciam dos riscos formados por scuffing por apresentarem sulcos com um fundo bastante liso, em
contrapartida dos riscos por scuffing que apresentam morfologia bastante irregular no fundo dos sulcos
(Magalhães, 2002).
Observa-se na Figura 4.4 (a) a presença de um dano de pitting (2), o qual não abrange grandes
dimensões tanto na largura quanto na profundidade. Do mesmo modo, constata-se trincas superficiais em
formato circular (3), as quais acredita-se serem provenientes da presença de nódulos de grafita próximos à
superfície. Durante os estágios de solicitação, a película acima do nódulo pode ser rompida, surgindo
muitas microtrincas de pequenas dimensões dispersas pela superfície. Como consequência destas
microtrincas, se provoca uma exposição dos nódulos de grafita, que com a continuação dos ensaios, são
removidos da superfície provocando o surgimentos de cavidades (Magalhães, 2002). Para finalizar as
análises dos danos apresentados nas coroas do ADI 2, a Figura 4.4(b) mostra laminas de material
destacado (4) sendo contornado por trincas (5) superficiais, o que sugere que uma porção de material seria
removida com aplicação de ciclos adicionais.
Já os danos superficiais para pinhões de ADI 2 são apresentados na Figura 4.4 (c) e Figura 4.4 (d). É
possível notar que as crateras na superfície (2) são de maior largura e mais profundas que as
apresentadas nas coroas, por conseguinte estes danos foram classificados como spalling. Igualmente
observa-se a presença de mostra laminas de material destacado (4) e trincas presentes ao redor destes
últimos e outras na superfície de contato.
No aço AISI 4140 só se apresentaram mecanismos de desgaste por pitting, tanto nas coroas quanto
nos pinhões. Este tipo de danos pode ser observados na Figura 4.5.
88
Figura 3.5. Danos superficiais no aço AISI 4140 após ensaio
1
c
a
2
1
d
b
1
2
4
3
89
Atente-se da Figura 4.5 (a) e (b), as quais mostram os danos característicos das coroas, a presença
crateras poucas profundas (1) as quais de espalharam pelos flancos dos dentes.
Adicionalmente, observa-se muitas laminas de material destacado (2) ao longo da superfície do
material, caracterizados por trincas a seu redor (3). Todos os fenômenos anteriores podem também se
apresentaram nos pinhões deste material, Figura 4.5 (c) e Figura 4.5 (d)
Na Figura 4.5 (d) observa-se a presença de deformação plástica localizada (4) na parte mais inferior do
dedendo. Este mecanismo de dano ocorre devido á um menor valor de dureza superficial. Os valores
detalhados de dureza nos flancos dos dentes de todos os materiais estão apresentados no Apêndice A3.
90
3.3 Propagação de trincas na sub-superfícies
A observação das sub-superfícies dos dentes das engrenagens ensaiadas apresentou a presença de
grandes trincas que usualmente são associadas à remoção de material por meio de lascas (laminas).
Algumas dessas trincas atingiram dimensões consideráveis durante a sua propagação através da sub-
superfícies. A análise da propagação de trincas mostra que a matriz dos ferros fundidos nodulares
influencia no trajeto e propagação das trincas, apresentando uma forma irregular e tende apresentar
ramificações, sendo muitas vezes os nódulos de grafita responsável por este fenômeno.
Foi estudada a propagação das trincas em três regiões: dedendo, diâmetro primitivo e adendo. Nas
Tabelas 4.2 e 4.3 apresentam imagens das regiões com trincas na sub-superfície das coroas e pinhões,
respectivamente, dos materiais ensaiados. Vale ressaltar que as coroas sempre foram as engrenagens
movidas e os pinhões as engrenagens motoras. Nestas imagens são indicadas as direções da força de
atrito (A) e de rolamento (R) em cada região do dente, menos no diâmetro primitivo, onde só se tem o
movimento de rolamento puro. De forma idêntica, nas Tabelas 4.4 e 4.5 se apresentam a propagação das
trincas sub-superficiais observada nos cortes axiais feitos nos dentes (ver detalhes das regiões de corte na
Figura 3.13).
Ao se fazer uma análise das trincas encontradas nos três materiais ensaiados, pode-se estabelecer
que as trincas se apresentam em zonas muito próximas à superfície, fazendo com que muitas destas
trincas, com o transcorrer da etapa de propagação, conseguissem atingir a superfície, provocando a
remoção de material. Esta sequência é denominada de danos por pitting ou spalling. Por outro lado, a
grande maioria das trincas estão localizadas nas zonas que apresentaram mais danos nos dentes, ou seja,
na região do dedendo e próximo ao diâmetro primitivo.
Outro aspecto observado no processo de formação de microtrincas é a tendência em seguir uma
direção de propagação de, aproximadamente, 45º em relação ao sentido da aplicação da força de atrito.
Este fato é bem observado nas imagens do aço AISI 4140. Este resultado concorda com pesquisadores
como BARTZ (1973) e ZAFOSNIK (2007), que com base em investigações metalográficas de
engrenagens, mostraram que trincas superficiais pequenas foram observadas nos flancos dos dentes, as
quais aparecem com características de ângulo raso de até 45º em relação á superfície.
91
Tabela 3.2. Propagação de trincas sub-superficiais nos dentes das coroas (corte radial) em três diferentes regiões: adendo, diâmetro primitivo e dedendo
Coroa-Corte Radial
FNAN
FNAB
Aço AISI 4140
Dedendo
Diâmetro primitivo
Adendo
A
R
A
R
92
Tabela 3.3. Propagação de trincas sub-superficiais nos dentes dos pinhoes (corte radial) em três diferentes regiões: adendo, diâmetro primitivo e dedendo.
Pinhão-Corte Radial
FNAN
FNAB
Aço AISI 4140
Dedendo
Diâmetro primitivo
Adendo
A
R
A
R
93
Nos ferros fundidos nodulares, ADI 1 e ADI 2, o trajeto das trincas tende a conectar dois ou mais
nódulos, desenvolvendo-se paralelas à superfície, sendo que, provavelmente, a nucleação ocorre a partir
de nódulos de grafita situados na sub-superfície Hertziana, na interface entre o nódulo de grafita e a matriz
ou a partir da própria superfície (Guesser, 2009).
Segundo Magalhães (2002) o alinhamento de nódulos de grafita próximo da superfície podem criar
zonas de menor resistência na matriz, as quais se tornam susceptíveis à iniciação de trincas. No entanto, a
presença de nódulos de grafita tem influência no trajeto das trincas de fadiga, sendo que em muitos casos
estas são atraídas para os nódulos, os quais agem como elementos retardadores da sua progressão.
De outro modo, se os nódulos evitam a propagação acelerada das trincas, os mesmos também
contribuem em alguns casos à ramificação das trincas, fenômeno observado na região do diâmetro
primitivo das coroas (Tabela 4.2), na qual várias trincas principais apresentam ramificações de trincas em
sentido perpendicular à direção de propagação da mesma. A ocorrência de este fato depende muito do
tamanho e distribuição dos nódulos de grafita, assim como da dimensão das trincas e do estado de tensão
local (Magalhães, 2002).
Nas engrenagens de aço SAE 4140 verificou-se um menor número de trincas e sem grandes
profundidades, provocando danos de pouca magnitude, como se observou na caracterização dos danos
nas superfícies no item anterior. Adicionalmente, foram constatadas que as orientações das trincas ficaram
no mesmo sentido da força de atrito nas regiões do adendo e dedendo.
94
Tabela 3.4. Propagação de trincas sub-superficiais nos dentes das coroas (Corte Axial) em três diferentes regiões: adendo, diâmetro primitivo e dedendo.
Coroa-Corte Axial
FNAN FNAB Aço AISI 4140
Dedendo
Diâmetro primitivo
Adendo
95
Tabela 3.5. Propagação de trincas sub-superficiais nos dentes dos pinhões (Corte Axial) em três diferentes regiões: adendo, diâmetro primitivo e dedendo.
Pinhão-Corte Axial
FNAN
FNAB
Aço AISI 4140
Dedendo
Diâmetro primitivo
Adendo
96
Não foram encontradas fases preferências de propagação de trincas na sub-superfície dos dentes das
engrenagens. A Figura 4.6 mostra a propagação de trincas e sua ramificação na região do diâmetro
primitivo do corpo-de-prova ADI 2-1 (Figura 4.6a) e as trincas no dedendo do pinhão ADI 1-1 (Figura 4.6b).
(a)
(b)
Figura 3.6. Trincas próximas á superfície de contato dos dentes de engrenagens (amostra com ataque químico de Nital 3%). (a) ADI 2 e (b) ADI 1.
97
3.4 Comparação AISI 4140 x ADI 2
Considerando o desempenho global de resistência ao desgaste dos materiais AISI 4140 e ADI 2,
optou-se neste item, por fazer uma comparação mais detalhadas e profunda destes materiais quanto aos
seguintes parâmetros da região do contato:
Rugosidade dos flancos;
Parâmetro de filme;
Coeficiente de atrito e
Pressão máxima de contato.
3.4.1 Rugosidade média em pinhões.
Os parâmetros de rugosidade foram medidos em todas as engrenagens após cada etapa dos ensaios,
mas como já foi descrito anteriormente, foi feita uma análise dos parâmetros de rugosidade somente para
os pinhões. Os valores médios dos parâmetros de rugosidade foram coletados até 2.262.000 ciclos (26
horas de ensaio). Ressalta-se aqui que o termo “médio” utilizado neste item, refere-se á média da
rugosidade considerando as regiões de adendo, diâmetro primitivo e dedendo.
A Figura 4.8 mostra o comportamento médio do parâmetro de rugosidade Ra ao longo o ensaio de
fadiga de contato, o acompanhamento deste parâmetro forneceu-se uma indicação do acabamento
superficial médio dos flancos. Os pinhões de ADI 2 e AISI 4140 apresentavam um valor muito próximos de
Ra, 1,02 e 0,97 µm respectivamente. Após o término do período de running-in (174 x103 ciclos), os valores
Ra registraram um diminuição dos mesmos, tendo uma queda de 44% para o ADI 2 e 35% para o AISI
4140. Esta atenuação drástica da rugosidade média da superfície dos materiais, se deve muito
provavelmente à pressão de contato elevada imposta neste estágio de running-in, que tem como finalidade
um amaciamento da superfície para os ensaios subsequentes de pitting.
98
Figura 3.7. Rugosidade média dos flancos em função do número de ciclos.
Após o comportamento inicial do parâmetro Ra, este parâmetro permanece sem variações
significativas pelos seguintes 1.400x103 ciclos (16 horas) aproximadamente para os pinhões de AISI 4140,
já os pinhões de ADI 2 apresentam uma leve redução da rugosidade, a qual pode ser acatado como uma
tendência estável, considerando o desvio padrão dos valores médios do parâmetro Ra. Esta etapa de
estabilidade da rugosidade média dos materiais se deve ao fato de não se apresentar danos superficiais
significativos ao longo deste período de ensaios.
Finalmente, devido ao início das ocorrências de dano superficial nos pinhões de ambos os materiais,
os quais provavelmente se iniciaram após 1.550x103 ciclos (22 horas), o parâmetro médio Ra incrementou
seu valor, sendo este incremento de maior proporção para o AISI 4140. O comportamento do parâmetro de
rugosidade Ra no ADI 2 e AISI 4140 pode ser comparado à “curva da banheira” utilizada muito na área
engenharia de confiabilidade, que estuda a confiabilidade de sistemas de forma geral, durante o seu ciclo
de vida. Esta curva apresenta três etapas, sendo a primeira caracterizada pela alta taxa de danos
ocorridas em um curto período de tempo e que logo se estabiliza. Este período de estabilização do
sistema, segunda etapa, se distingue por apresentar falhas normais, inerente ao processo de
funcionamento. Na terceira e última etapa de funcionamento, a taxa de falhas cresce rapidamente com o
tempo, falhas se produzem por desgaste natural do componente devido ao transcurso do tempo e a
destruição muito rápida da região danificada ainda sofre a influência da piora intensa das condições de
mecânicas no contato.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
recebimento 174 870 1566 2262
Ru
go
sid
ade
méd
ia R
a (µ
m)
Número de ciclos x 103
FNAB
4140
ADI 2 ADI 2
99
Seguindo com a análise dos parâmetros médios de rugosidades, a Figura 4.8 apresenta o
comportamento dos valores médios do parâmetro de rugosidade Rz ao longo do ensaio de fadiga de
contato. Este parâmetro fornece a informação sobre a média das alturas máximas de uma superfície.
Observa-se na Figura 4.8 que o comportamento de Rz para o ADI 2, em forma geral, tende apresentar
uma redução com o aumento de números de ciclos. Segundo MAGALHÃES (2007) esta redução é devida
à ocorrência de desgaste leve na superfície e à remoção da maioria dos picos significativos na superfície.
O mesmo comportamento ocorre com o AISI 4140, mas este material experimenta uma elevação de Rz a
partir 1.600 x103 ciclos (após 18 horas de ensaio), isto ocorre provavelmente pelo aumento de danos na
superfície a partir dessa etapa, os quais acarretam consigo a geração de novas superfícies por
arrancamento de material associados à formação de micropitting nos flanco dos dentes. Isto faz com que
novos picos e vales mais profundos sejam medidos, e assim, aumentando assim o valor médio de Rz na
etapa final.
Figura 3.8. Altura média das asperezas dos flancos em função do número de ciclos.
Finalmente foi analisado o parâmetro RSm (espaçamento entre picos), que está relacionado com a
capacidade da superfícies de funcionar como um suporte (quanto menor o RSm, mais picos de asperezas
estarão suportanto a carga de contato, diminuindo assim as tensões de contato). A Figura 4.9 mostra o
comportamento do valor médio do parâmetro RSm ao longo do ensaio, percebe-se que com o aumento do
número de ciclos o valor de RSm aumenta, provocando uma redução da pressão de contato entre as
superfície, devido a remoção dos picos das asperezas com um aumento de picos suportando os esforços.
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
recebimento 174 870 1566 2262
Ru
go
sid
ade
mád
ia R
z (µ
m)
Número de ciclos x 103
FNAB
4140
ADI 2
100
A taxa de danos (%A/ciclos) é mais intensa no AISI 4140 especialmente na parte final do ensaio,
permitindo assim a aparição de novos picos de asperezas procedentes das novas superfícies geradas pela
remoção de material, justificando assim a queda do valor médio do parâmetro RSm na parte final do ensaio
para este material.
Figura 3.9. Espaçamento entre picos das asperezas dos flancos em função do número de ciclos.
A análise dos diferentes parâmetros de rugosidade permitiu estabelecer que o comportamento em
termos gerais é similar nos dois materiais, mas é evidente que o processo de degradação da superfície de
contato nos pinhões de AISI 4140 é mais prematuro que os pinhões de ADI 2, em outras palavras, a
manifestação de danos por micropitting acontece primeiro e de uma forma mais acelerada no AISI 4140. O
fato de ADI 2 apresentar uma maior ductilidade ajudou para que deformação e a posterior remoção das
asperezas da superfície acontecesse de uma maneira menos acentuada, retardando a remoção de
material da superfície de contato.
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
recebimento 174 870 1566 2262
Ru
go
sid
ade
Rsm
(es
paç
amen
to/m
m)
Número de ciclos x 103
FNAB
4140
ADI 2
101
3.4.2 Espessura de filme e coeficiente de atrito
Com os resultados anteriores, a comparação entre o comportamento à fadiga de contato entre as
engrenagens fabricadas em ADI 2 e AISI 4140 quando ensaiadas as mesmas condições, aponta um
melhor desempenho do ADI 2, devido muito provavelmente à combinação de uma matriz de alta
resistência mecânica (ausferrítica) com a presença de nódulos de grafita que podem retardar a propagação
das trincas.
Neste ponto, a literatura apresenta visões diferentes sobre o tema. Magalhães (2002) ressalta a
capacidade de redução da propagação da trinca pela presença dos nódulos, outros autores afirmam
também que os nódulos, por serem concentradores de tensão, são nucleadores de trincas.
Para fortalecer a hipótese do melhor desempenho do ADI 2, são apresentados os resultados de
espessura de filme e coeficiente de atrito ao longo da linha de contato (desde a raiz até o topo do dente),
para os pinhões dos materiais, antes e após os ensaios de fadiga de contato.
A Figura 4.10 apresenta os valores de parâmetro de filme (λ) ao longo do perfil do dentes na etapa de
running-in e no estágio final (pitting 6) para os materiais. Na primeira etapa do ensaio o parâmetro de filme
não era muito diferente entre os materiais, devido à similaridade entre os acabamentos superficiais, após a
rodagem do ensaio, este parâmetro foi se modificando, sempre dependendo do estado da superfície com o
passar dos ciclos. Perceba-se que o ADI 2 após o pitting 6 (2.262 x103 ciclos) teve um incremento
significativo de λ em todos os pontos do perfil do dente, este fenômeno ocorre devido remoção dos picos
mais elevados das asperezas o que diminui a rugosidade média da superfície, indicando assim que o ADI
2, ainda neste período, não experimentava elevadas taxas de danos.
Um comportamento similar acontece com o coeficiente de atrito experimentado pelos pinhões dos
materiais durante a etapa de running-in e no estágio final (pitting 6). O modelo proposto por Michaelis
(1992) e utilizado neste trabalho para a determinação do atrito nos pontos do perfil dos dentes (ver
detalhes no apêndice C) depende diretamente da rugosidade média equivalente ( aEqR ), ou seja, do
parâmetro de rugosidade Ra das duas superfícies em contato.
102
(a) (b)
Figura 3.10 – Parâmetro de filme () ao longo do perfil do dente do pinhão. (a) Após o período de running-in, (b) após o 6º estágio de pitting.
Portanto, na etapa final do ensaio, as superfícies do AISI 4140 apresentavam danos por pitting ou
spalling, que provocaram o aumento do parâmetro Ra, e consequentemente um aumento no valor do
coeficiente de atrito. Já o ADI 2 ainda estava no processo de remoção de picos de asperezas e não
apresentava danos significativos na sua superfície, o que se traduz em um valor menor de atrito na parte
final do ensaio.
Considerando este comportamento diferente do coeficiente de atrito, acredita-se que esta alteração
nas condições de contato estão diretamente relacionadas com o desempenho quanto ao desgaste destes
materiais.
(a) (b)
Figura 3.11 – Coeficiente de atrito () ao longo do perfil do dente do pinhão. (a) Após o período de running-in, (b) após o 6º estágio de pitting.
ADI 2
ADI 2
103
Ao analisarmos em conjunto as Figuras 4.10 e 4.11, observa-se também que tanto o parâmetro de
filme quanto o coeficiente de atrito, apresenta-se mais severos na região do dendendo e diâmetro primitivo.
Este fato está de acordo com o desgaste mais intenso identificado nestas regiões.
3.4.3 Pressão de contato de Hertz
Por último foi analisado a diferença da pressão máxima de Hertz, às quais foram submetidos os
pinhões ao longo dos ensaio de fadiga de contato. A Figura 4.12 apresenta a pressão máxima de Hertz
para os dois materiais. É importante ressaltar que o modelo de pressão de Hertz não considera a
rugosidade, ou seja, na equação da pressão não entra a rugosidade dos corpos. Note-se também que as
regiões nas quais as pressões são maiores são no dedendo e diâmetro primitivo, sendo estas as zonas
mais desgastadas, apresentando os maiores danos de por pitting e/ou spalling.
A Figura 4.12 mostra que devido ás propriedades elásticas dos materiais, nas condições de ensaio, o
FNAB desenvolve menores valores de pressão de contato de Hertz ao longo de toda a superfície do dente
(desde a raiz até o topo). Novamente, este fato apresenta impacto direto na resistência ao desgaste destes
materiais.
Figura 3.12 Máxima pressão de Hertz ao longo do perfil do dente do pinhão para o AISI 4140 e ADI 2.
4,0E+08
6,0E+08
8,0E+08
1,0E+09
1,2E+09
1,4E+09
1,6E+09
1,8E+09
2,0E+09
65 70 75 80 85
Máx
ima
Pre
ssão
de
He
rtz
[Pa]
Posição diametral no pinhão [mm]
FNAB
4140
ADI 2
4140
104
4 CONCLUSÕES
Os Ferros Fundidos Nodulares Austemperados (FFNA) apresentam uma combinação de propriedades
mecânicas como resistência à tração e à fadiga, tenacidade e resistência ao desgaste, que ampliam o
campo dos ferros fundidos, particularmente em engrenagens, componentes nos quais são críticos os
requisitos de resistência à fadiga e ao desgaste.
Este trabalho pretendeu melhorar o conhecimento sobre o comportamento de engrenagens fabricadas
em FFNA, assim como também fazer uma comparação com engrenagens fabricada em um aços
tradicional, através da realização de ensaios à fadiga de contato, acompanhado de uma caracterização de
das superfícies de trabalho ao longo dos ensaios e análise do atrito e teoria elastohidrodinâmica.
Após ensaios, o tipo de falha predominante para os ferros fundidos nodulares (ADI 1 e ADI 2) foi
lascamento (spalling), que consistes na liberação de grandes escamas de fadiga da superfície do material.
Já por o aço AISI 4140 foram achadas formações de pequenas crateras superficiais conhecidas como
pitting.
A identificação da evolução dos danos anteriores nos flancos dos dentes das engrenagens através da
técnica de análise de imagens foi adequada, permitindo a quantificação dos danos de pitting e/ou spalling,
que foram usados para comparar a resistência a estas falhas entre os materiais estudados. Constatou-se
que maior parte dos danos se apresentou nas regiões do dedendo e adendo, sendo as regiões que
reportaram as maiores pressões de contato de Hertz. Igualmente com o acompanhamento dos diferentes
parâmetros de rugosidades, foi possível saber a evolução da superfície com o decorrer do ensaio,
permitindo estimar a ocorrências dos primeiros danos e o progresso dos mesmos ate o final do ensaio.
Ao caracterizar o desempenho de engrenagens fabricadas em FFNA, é importante ressaltar que as
variáveis que controlam a produção dos FFNA, são bastante influentes nas propriedades mecânicas
resultantes e a sua aplicação destes materiais em engrenagens. Foi o caso do material FNAN, que por
uma inadequada seleção de parâmetros do tratamento térmico, não foi possível obter uma microestrutura
ausferrítica no material, sendo esta a microestrutura indicada para engrenagens de ferros fundidos
nodulares em aplicações de transmissão de potencia.
105
O fato anterior ajudou a determinar que o tribômetro FZG-LASC, em ambiente laboratorial, tem a
capacidade de reproduzir ou simular adequadamente os mecanismos de desgaste que ocorrem em
engrenagens quando em funcionamento, já que o ADI 1 apresentou o pior desempenho à fadiga de contato
dos materiais ensaiados.
Por outro lado, o ADI 2 apresentou uma boa resistência ao desgaste superficial, a pesar constatar-se a
existência de grandes quantidades de microtrincas abaixo da superfície de trabalho dos dentes
observados. De fato, o fenômeno de pitting ocorreu quando os valores do parâmetro de filme (λ) foram
muito baixos, valores que, em ensaios realizados nas mesmas condições, conduziram a danos por pitting
mais rápido nas engrenagens fabricadas em aço AISI 4140, este fato concorda com a taxa de danos
calculada para os materiais, na qual este último material apresenta uma taxa de danos ligeiramente
superior ao ADI 2 ao longo do ensaio.
Adicionalmente das análises feitas de rugosidade superficial e coeficiente de atrito destes dois
materiais, confirma-se que o aço AISI 4140, após 2.262 x103 ciclos, apresentava um taxa de danos
acelerada, e novas superfícies estavam sendo geradas pela remoção de material, provocando
modificações na rugosidade media da superfície e consequentemente no atrito. Já o ADI 2 para o mesmo
numero ciclos, estava na etapa de remoção e deformação de picos das asperezas da superfícies,
evidenciado pelos poucos danos superficiais significativos e pelos valores dos parâmetros de rugosidades.
Ao relacionar a resistência à fadiga de contato dos materiais ensaiados com as suas propriedades
mecânicas, parece ser que a propriedade de energia absorvida ao impacto influenciou de maneira direta no
desempenho dos materiais nos ensaios. A camada temperada do aço AISI 4140 apresentava pouca
tenacidade para evitar a nucleação e propagação de trincas, em quanto, o ADI 2 pela combinação da
microestrutura ausferrítica, junto com os nódulos de grafita, apresenta valores maiores de absorção de
energia ao impacto o que contribui fundamentalmente na propagação de trincas na matriz do material.
Apesar da boa resistência à fadiga de contato do ADI 2, a fratura de dentes em dois dos três corpos-
de-prova ensaiados, revelou uma menor capacidade deste material a suportar esforços de flexão a
pressões de contato elevadas, o que aponta à não utilização do material em aplicações que apresentem
esforços de flexão elevados, capazes de promover a propagação de trincas na raiz do dente.
106
5 SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS
Análise do óleo após cada estagia do ensaio, com o intuito de correlacionar o tipo de desgaste, as
características do óleo e as formas dos debris.
Continuar com novas variantes metalúrgicas nos FFNA, aperfeiçoamento dos parâmetros de
austêmpera e composição química, visando aumentar a resistência às solicitações na quais
possam ser utilizadas as engrenagens fabricadas neste material.
Aplicar um tratamento superficial como “shoot-peening” com o objetivo de aplicar e tensões
residuais na superfície e avaliar seu comportamento em fadiga de contato
Realização de maior número de ensaios e a diferentes níveis de pressão e severidade contato,
com a finalidade de determinar a resistência à fadiga de contacto dos diferentes materiais
ensaiados.
Medição do níveis de vibração da maquina ao longo do ensaio.
107
6 REFERÊNCIAS
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AMERICAN SOCIETY FOR METALS. Failure analysis and prevention. In: Metals Handbook, vol. 11, p. 2909, 2002. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D5182 - 97: Standard Test Method for
Evaluating the Scuffing Load Capacity of Oils (FZG Visual Method). ASTM, 2008.
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Elementos de Liga Através de Ensaios Mecânicos d Metalográficos”Dissertação de mestrado, Universidade
Federal de Santa Catarina, 2003
BRANDALIZE, G. G., KODA, F.; SILVA, C. H. “Metodologia de ensaios tribológicos em engrenagens
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110
APÊNDICE A – Ensaios mecânicos
Foram realizados ensaio mecânicos de tração, impacto Charpy e durezas com o objetivo de
estabelecer as propriedades mecânicas dos materiais ensaiados neste trabalho. Os ensaios mecânico de
tração e de dureza foram feito após da finalização dos ensaios de fadiga de contato, já que os corpos-de-
prova necessários para efetuar os mesmos foram extraídos das engrenagens obrigando a destruição
completa do componente.
A.1 Ensaio de impacto Charpy
Foram realizados ensaio de impacto Charpy segundo a norma ASTM E 23, a temperatura ambiente, e
utilizando uma Maquina Universal de impacto Charpy Testor Amsler Wolpert tipo pw30/15, com um martelo
de 15 kg, do Laboratório Metalúrgico e Mecânico da empresa TUPY S.A. Foram feitos cinco corpos-de-
prova para cada material conforme à Figura A.1
Figura A.1. Desenhos do corpo de prova de impacto, baseado na norma ASTM E 23.
Os corpos-de-prova do aço AISI 4140 foi feita uma tempera total da peça, com o objetivo de atingir
uma dureza de aproximadamente 56-58 HRc, e garantir que os corpos-de-prova representaram condições
similares à camada temperada das engrenagens deste material. Após a tempera total a dureza média
atingida pelos corpos-de-prova foi de 55±0,9 HRc, seguidamente foi feito o entalhe nos mesmo.
A Tabela A.1 mostra os resultados do ensaio de impacto Charpy para todos os materiais.
111
Tabela A.1. Resultados de ensaio de impacto Charpy
Ensaio Charpy (J)
Material
Amostra ADI 1 ADI 2 4140
1 7,8 7,5 4,7
2 9,7 6 4,1
3 9,8 5,8 3,6
4 9,2 4,9 5,9
5 9,2 4,8 4,3
Média 9,14±0,8 5,8±1,1 4,52±0,9
Após ensaio foi feito uma análise fractográfica dos corpos-de-prova, nesta etapa só foram analisadas
as amostras dos ferros fundidos nodulares. A Figura A.2 apresenta com detalhe os mecanismos de fratura
de cada um dos materiais.
Figura A.2 - Mecanismos de fratura em ADI 1 e ADI 2..
112
A.2 Ensaio de tração
Ensaios de tração segundo a norma DIN 50125, foram realizados nos ferros fundidos nodulares, ADI 1
e ADI 2, utilizando uma Máquina Universal de Ensaios de Materiais Emic do Laboratório Metalúrgico e
Mecânico da empresa TUPY S.A. Utilizou-se uma coroa por cada material após de serem ensaiadas para
extrair os corpos-de-prova para este ensaio, para tal fim, foram realizados cortes nos componentes como
mostra a Figura A.3(a), após os cortes, os materiais extraídos (Figura A.3(b)) foram usinado conforme as
medidas apresentadas na Figura A.3(c).
(a)
(b)
(c) Figura A.3 - Detalhes das amostras.
A Tabela A.2 mostra os resultados do ensaio à tração dos ferros fundidos nodulares. Igualmente é
apresentado na Figura A.4 o diagrama tensão-deformação obtido por meio do ensaio de tração de cada
material.
Tabela A.2. Resultados do ensaio de tração.
Amostra Ø
Cp
LR
(MPa)
LE
(MPa)
A
(%)
Módulo de Elasticidade
(GPa)
ADI 2 5,98 1273 920 3,53 186,9
ADI 1 5,99 938 589 6,80 186,4
113
Figura A.4. Diagrama tensão deformação dos ensaios de tração realizados.
A.3 Macrodureza
Para obter informação da dureza na região de contato, foram realizadas varreduras de dureza nas
faces dos dentes, mas devido à incapacidade dos equipamentos de medição de dureza em superfícies
curvas, próprio da geometria das engrenagens tipo C, teve-se a necessidade de deixar a superfície de
contato de forma plana. Para tal fim, os dentes a serem estudados foram embitudos em baquelite, de tal
forma que a face na qual seriam feitas as medições ficasse do lado de fora.
Logo em seguida, foi removida parte da superfície de contato, utilizando lixas com granulométrica 80
até conseguir uma superfície totalmente plana. A Figura A.5 apresenta um esquema mostrando as partes
do dente a serem removidas pelo lixamento (vermelha) e a parte que ficara na baquelite, finalmente se
mostra como ficou a superfície após o lixamento.
ADI 1 ADI 2
114
Figura A.5. Esquema de montagem do dente para medição de dureza
Tendo a superfícies de contato totalmente plana, procedeu-se as medições de dureza, tipo Rockwell C
(HRc) utilizando um durômetro Wilson do laboratório de materiais da UTFPR, seguindo as direções de
varredura apresentadas na Figura A.6. Desta forma permitiu-se fazer um mapeamento da dureza ao longo
da superfície de contanto. Na Tabela A.3 são apresentados os parâmetros para fazer as medições de
dureza.
Figura A.6. Direções de varredura de dureza na superfície de contato.
a c b d
I
II
III
Baquelita
Superfície de contato
115
Tabela A.3. Parâmetros utilizados para as medições de dureza.
Parâmetros
Dureza Rockwell C (HRc)
Equipamento Wilson
Carga 150 kgf
Identador Cônico de diamante 120º
Numero de medições 12 por amostra
A Tabela A.4 à Tabela A.6 apresentam os resultados das varreduras de dureza na superfície de contato de
todos os materiais.
Tabela A.4. Durezas na superfície de contato do ADI 1
a b b d
I 33 31 29 29
II 30 30 30 29
III 33 33 32 31
Tabela A.5. Durezas na superfície de contato do ADI 2
a b b d
I 36 37 37 36
II 36 38 38 36
III 38 36 38 39
Tabela A.6. Durezas na superfície de contato do aço AISE 4140
a b b d
I 56 58 58 56
II 57 57 44 38
III 27 24 21 20
116
APÊNDICE B – Perfis
Na Tabela B.1 apresenta a avaliação dos perfis das engrenagens utilizadas nos ensaios, as imagens
mostram a comparação do perfil teórico, obtido no software Solid Edge V19, sobreposto á imagem do
dente obtida no projetor de perfil. Das coroas de ambos os materiais pode-se observar que o perfil
projetado do dente se ajusta adequadamente, tanto na largura como na altura, ao perfil teórico, o que
significa que estes componentes foram fabricados com o perfil apropriado indicado na Tabela 2.11 para
engrenagens tipo–C. No entanto, os perfis projetados dos pinhões apresentaram diferenças em relação ao
perfil teórico.
Tabela B.1. Perfis dos dentes das engrenagens.
ADI 1 ADI 2
Coroa
Pinhão
A principal diferença esta na altura dos perfis, os dentes dos pinhões tem uma altura maior que o dente
teórico, tal como é mostrado com mais detalhe na Figura B.1. Esta diferença de altura tem um valor
aproximado de 500 µm e optou-se por fazer os ensaios com este defeito dimensional dos pinhões, já que
não representava mudanças significativas na área de contato.
ADI 1-1
ADI 1-2
ADI 2-3
ADI 2-1
117
Figura B.1. Diferença de altura entre o perfil teórico e o perfil projetado dos dentes dos pinhões.
118
APÊNDICE C – Condições de contato
A seguir serão apresentados os equacionamentos para cálculo do parâmetro de filme, espessura de
filme e coeficiente de atrito em engrenagens.
C 1 – PARÂMETRO DE FILME
As engrenagens normalmente operam sobre regimes de lubrificação elasto-7hidrodinâmica (EHD). No
entanto, engrenagens também podem operar com regimes mistos ou lubrificação de contorno. O fator que
irá determinar quais dessas situações ocorrerá é o parâmetro de filme ( ), que é definido pela
Equação C.1.
2 2
1 2
c
q q
h
R R
Eq. C.1
sendo:
ch= a espessura de filme de lubrificante no centro da área de contato
1qRe 2qR
= as rugosidades médias Rms das duas superfícies contatantes
O denominador da Equação C.1 é denominado rugosidade superficial composta. Segundo Norton
(2005) o parâmetro de filme no centro da área de contato pode ser relacionada à espessura mínima do
filme minhna extremidade da pista de contato pela Equação C.2.
min
4
3ch h
Eq. C.2
A Figura C.1 apresenta a relação entre o parâmetro de filme e a vida relativa sob fadiga. Observa-se
que para h < 1 contato metal-metal irá ocorrer e existirá uma condição de lubrificação limite. Para valores
de > 1 começa a lubrificação elastohidrodinâmica. Para uma lubrificação EHD completa > 3.
Percebe-se que a migração de um regime de lubrificação limite ou de contorno para um regime de
lubrificação EHD pode dobrar a vida a fadiga de determinado componente, no entanto, valores muito
119
elevados para o parâmetro de filme ( > 4) podem gerar perdas significativas no que diz respeito ao atrito
viscoso.
Figura C.1. Vida relativa a fadiga em função da espessura específica de filme [FONTE: NORTON, 2004].
C. 2 ESPESSURA MÍNIMA DE FILME EM CONTATO NÃO-CONFORMES
A Equação C.3 definida por Downson e Higginson determina a espessura mínima do filme em um
contato EHD entre rolos cilíndricos.
' ' 0,54 0,7 0,130min ' ' ' '
2,65 ( ) ( ) ( )U P
h R EE R bE R
Eq. C 3
Sendo:
P = carga transversal (lb) ao filme de lubrificante
b = comprimento do contato axial (in),
U = velocidade média (in/s),
0 = viscosidade absoluta do lubrificante (Reyn) à pressão atmosférica e temperatura operacional,
120
'R = raio de curvatura equivalente,
= coeficiente pressão-viscosidade.
E o módulo de elasticidade efetivo pode ser definido pela Equação C.4
'
1 2
2E
m m
Eq. C.4
As constantes de material m1 e m2, são definidas pelas equações:
, Eq. C.5
, Eq. C.6
Sendo:
E1: E2 = Módulo de elasticidade (Pa)
1 : 2 = Coeficiente de poisson.
Com a Equação C.3 a espessura mínima de filme pode ser calculada para um conjunto de contato
não-conformante como um par de dentes de engrenagem, por exemplo, (NORTON, 2004).
C 3 ATRITO EM ENGRENAGENS
Engrenagens cilíndricas de dentes retos operam sobre condições de deslizamento e rolamento. Em
alguns locais ao longo do perfil em contato existirá o deslizamento e em outros o rolamento. O atrito entre
superfícies é uma das principais fontes de perda de potência em engrenagens, logo considerar os efeitos
do atrito em um projeto de desenvolvimento de engrenagens é de grande importância.
Existem diversos estudos que tratam do coeficiente de atrito, porém, encontrar dados referentes ao
atrito local não é uma tarefa simples. Dentre os modelos que descrevem o coeficiente de atrito para
engrenagens em contato, podemos destacar a equação da norma DIN 3990, a equação descrita pela ISO
6336 e o modelo proposto por Michaelis (1983).
2
11
1
1m
E
2
22
2
1m
E
121
O modelo proposto por MICHAELIS (1983) é apresentado na Equação C.7
0.2 0.25
0.05
0
1
0.171aEqL
MIC
eq R
RW
R V d
Eq. C.7
O modelo acima apresentado será utilizado para a modelagem de atrito nos pares engrenados deste
trabalho. Os parãmetros deste modelo são:
eqR é o raio de curvatura equivalente
1
1 2
1 1eq
i i
RR R
Eq. C.8
R1i e R2i são os raios de curvatura de pinhão e coroa no ponto
analisado e
LWé a carga específica em N/mm
cos
nL
wt
FW
b
Eq. C.9
nF é a força normal aplicada [N]
wt é o ângulo de pressão de funcionamento
b é a face do dente em contato [mm]
aEqR é a rugosidade média equivalente
1 2
1( )
2aEq a aR R R
Eq. C.10
1aRe 2aR
são as rugosidades Ra de cada uma das engrenagens.
RV é a velocidade de rolamento.
A velocidade de rolamento é perpendicular a linha de ação. Os cálculos da velocidade de rolamento
também podem ser realizados utilizando a Equação C.11.
122
2y
R y wtV Vseni
Eq. C.11
V é a velocidade tangencial de referência dada em m/s,
i é a relação de transmissão
y é um parâmetro adimensional sobre a linha de engrenamento que representa a
distância do ponto primitivo ao ponto de contato considerado. No ponto primitivo seu valor
considerado é zero.
Sabe-se que o atrito sofre também forte influência dos tipos de aditivos presentes no lubrificante e do
recobrimento protetivo aplicado em engrenagens.
Considerando-se esses fatores adicionais obtém-se a Equação C.12, sendo esta uma adaptação para
o modelo de Michaelis (1982). Com esta equação pode-se calcular o atrito para diversos pontos ao longo
da linha de contato.
0.2 0.25
0.05
0
1
0.171aEqL
MIC L C
eq R
RWX X
R V d
Eq. C.12
Sendo XL e XC são parâmetros referentes ao lubrificante e ao recobrimento respectivamente. Como as
engrenagens analisadas neste trabalho não apresentam grau de recobrimento, o fator XC recebe um valor
igual a um.
Para o fator XL deve-se verificar a composição dos lubrificantes utilizados. Neste trabalho XL = 1.