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Jamais te Esquecerei

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Projeto gráfico e editoração eletrônica

TSA

Revisão TSA

Capa

Lidiane Arsenio

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança real é mera coincidência. Todos os direitos desta obra são exclusivos das autoras.

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Jamais Te Esquecerei

Olho para as flores secas caídas ao chão. Um dia elas foram mágicas e tão poderosas como o amor dentro de mim. Mas tudo mudou... E eu não estava preparada para isso... O frio chegou de uma maneira que eu não esperava, parece que nada consegue aquecer o meu coração. Até minhas lágrimas estão frias... Abri os olhos, sentindo aquilo que há muito tempo ocultava de mim mesma. Assim como as rosas mostravam a sua beleza, meu coração se abria para um mundo de possibilidades... Eu amo você! É apenas o que sei. Confesso, tenho medo do que vou passar até chegar a você. Mas apenas uma coisa eu sinto, de uma forma que nunca senti... Jamais te esquecerei!

Joice Lourenço

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Autoras e seus contos

Rita M. Cardoso – Eternas recordações............ 07

Denise Belitato – Fotografias.............................. 23

Lidiane Arsênio – Tempo demais ...................... 36

Grachi Rocha – Quem sabe um dia................... 49

Joice Lourenço – O valor de uma promessa..... 59

Renata Martins – O poder de um olhar............. 83

Gleize Costa – A ilha dos amores....................... 105

Neiva Meriele – Olhos de esmeralda.................. 117

Ka Guimarães – Meu respirar.............................. 129

Biografia................................................................... 147

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Eternas Recordações

Por Rita Maria

Já faz muito tempo. Mas, mesmo assim, parece que não se transcorreu nem mesmo um minuto. Parece que foi ontem!, penso, enquanto o vento agita suavemente o meu cabelo. Ainda posso ouvir sua risada suave e divertida em algum lugar distante, atraindo-me magneticamente. Sorrio de uma forma melancólica e sinto uma lágrima deslizar tranquilamente pela minha face.

— Tudo aconteceu rápido demais — sussurro, minha voz não passa de um silvo morno.

Olho fixamente para as ondas que batem fortemente contra as pedras, e tudo me vem de uma só vez... Agito um pouco a cabeça, tentando manter os pensamentos no tempo presente. No entanto, meus olhos são atraídos para uma imagem completamente perfeita que tira momentaneamente o meu fôlego e concentração.

Vejo alguém caminhando lentamente na minha direção: ele sorri e fala algo que não consigo compreender, continua caminhando e estende a mão, chamando-me. Tento alcançá-lo, mas algo acontece em seguida... A imagem dele, aos poucos, desvanece, e percebo que nada foi real.

Era uma miragem apenas, concluo tristemente. Dói! Cada lembrança, cada pedacinho de memória

escondida até mesmo de mim... Elas retornam... Mais vivas e naturais do que nunca.

E recordo-me do nosso último dia juntos.

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A chuva cai tranquilamente lá fora. Escuto seu barulho rítmico e vejo suas gotas límpidas pela vidraça da janela. O céu está totalmente pintado em um azul escuro e lúgubre. O frio é suportável, mas, de alguma forma, estou tremendo... Cada célula do meu corpo se mantém em um torpor intenso desde a trágica notícia. É como estar presa dentro de um sonho ruim, esperando por um despertar que nunca acontecerá. Estou tentando ser forte, levar a vida de forma aceitável, tranquila. Porém, a tempestade é mais forte do que eu, ela está vencendo... Consumindo-me aos poucos. E estou prestes a desistir, mas não posso. Somente por ele, permito manter-me de pé, respirando.

Sinto novamente que as lágrimas estão querendo cair, vir à tona, mas as seguro firme. Fecho os olhos, respiro fundo e volto para a vida real... para minha encenação de naturalidade e aceitação.

Obrigo-me a deixar os meus pensamentos pessimistas e autodepressivos dentro de uma pequena gaveta no meu coração, é preciso.

Viro-me quando ouço passos e sinto um olhar intenso cair sobre mim.

— Eduardo! — exclamo calmamente com um suspiro, porém, sentindo uma torrente de medo dentro de mim. Reprimo-a. Tento sorrir, mas sei que não me saio muito bem. “Você é uma péssima mentirosa!”, ele sempre afirmou, com razão. — O que está fazendo de pé? Deveria estar descansando.

— Já descansei o suficiente — ele afirma, abrindo um sorriso e caminhando na minha direção, em seguida, coloca os braços em volta de mim. — Estou entediado, e você me deixou sozinho naquela cama enorme, assistindo àquele filme chato. — Sua risada é terna e verdadeira. Como pode estar tão tranquilo? Como consegue fazer piada em um momento tão crítico? Questiono-me, sentindo um nó apertar brevemente a minha garganta. Engulo em seco

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rapidamente, desfazendo-o. Seus braços, de alguma maneira, ainda me são reconfortantes, protegem-me... quando era eu quem deveria estar fazendo isso. Mas sou tão fraca, inútil. — O que está fazendo?

— Um chá — respondo apenas. Em seguida, abro um mínimo sorriso quando o percebo fazer um careta de desaprovação.

— Não gosto nem um pouco de chá — ele resmunga, fitando-me demoradamente.

— Está frio — digo e recebo apenas uma imagem de olhos sendo rolados, belos olhos azuis-acinzentados... que estão partindo, definitivamente. — Não quero que pegue um resfriado — afirmo. Parcialmente, era o que eu realmente queria dizer. Mas, o meu argumento completo, seria: “Não quero que morra, não quero que me deixe... por favor!” — Seria mais sensato se voltasse pra cama, eu levo o chá em seguida.

Com um suspiro pesado, ele fala: — Não está tão frio assim, e quer saber de uma

coisa? — Percebo que ele está hipnotizado, vendo a água da chuva escorrer lentamente pela vidraça da janela. Seus olhos parecem mais distantes do que pude perceber antes. Eu conhecia esse olhar enigmático, convivo com ele quase minha vida inteira, sei que ele está preocupado. Mas não com ele — como seria natural — é exclusivamente comigo. Eu sei, mas nada digo. — Acho que prefiro um chocolate quente, é mais digerível. — Ele ri. Eu rolo os olhos. — Admita, Aline, você também odeia chá — ergue levemente as sobrancelhas. Não posso deixar de sorrir.

Muitas pessoas passam a sua vida inteira tentando encontrar o grande amor da sua vida. Alguém para dividir momentos inesquecíveis e únicos. Alguém especial... Por sorte, eu não tive esse problema, nós não tivemos. Nos conhecemos desde sempre. E sabíamos exatamente como cada um pensava e agia.

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“Vocês são perfeitos juntos!”, era o que todos à nossa volta sempre diziam. E estavam certos.

— Então, o que acha? — perguntou, tirando-me dos meus devaneios.

— O que acho sobre o quê? — O chocolate quente, amor. — Ele aproxima o

rosto do meu e toca levemente seus lábios macios nos meus. — Parece tão dispersa. Onde estão seus pensamentos?

— No único lugar que poderiam, em você! — afirmo, recebendo mais um beijo.

— Tudo vai ficar bem — ele fala, segurando o meu queixo com o polegar. — Você vai ficar bem!

— Mas você não! — Minha voz falha, ele me abraça...

Meus olhos estão fixos nas ondas que quebram ferozmente à minha frente. Mas, seu som ensurdecedor, parece-me apenas um sussurro incoerente e distante, sem significado algum.

Três meses... Este era o tempo que lhe restava de vida. Cada minuto contado, esvaindo-se lentamente como a areia que cai de uma ampulheta de vidro.

Enquanto o médico explicava os detalhes da doença e o tratamento — não uma cura, suas palavras foram incisivas: “qualidade de vida” — durante todo esse tempo, a única coisa que eu conseguia sentir era: o nada. O chão simplesmente desaparecera. Eu me sentia oscilando entre um mundo paralelo e a realidade... Flutuando no vácuo. Até que os meus olhos caíram sobre os dele, no entanto, senti o meu medo sendo refletido neles, desviei o olhar, trancando-me novamente no nada.

Um câncer. Como era possível? Eduardo sempre fora saudável. Sempre adorou esportes. Mas não era só um câncer. Era um que estava em estágio avançado... Um câncer terminal.

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Fui forçada a retornar para a sala branca, gélida e sufocante, quando ouvi Eduardo falar:

— Nada de exames, nem hospital. Prefiro passar meus últimos momentos em casa, ao lado da minha esposa — sua voz era decidida e firme. Não consegui falar nada, o médico me olhou como se o meu marido tivesse tomado a melhor decisão que podia.

Não... Não... Não... Não é justo! Eu gritava histericamente de forma silenciosa. Três meses... Um tempo limitado que se passou rápido demais, dissipando-se como fumaça. Minha mente não conseguia processar nada do que estava acontecendo — Seja forte! — uma voz autoritária me dizia. — Mas como? — a frágil perguntava em desespero.

— Ali, vamos?! — A mão de Eduardo apertou a minha, transportando um calor particular, íntimo. Quando voltamos para casa, sentamos lado a lado no sofá, cientes de que algo estava errado.

— Era só uma febre boba — ele repetia pela milésima vez. — Nada mais, e agora...

Essas palavras foram o bastante para minha mente registrar de uma vez por todas o que realmente estava acontecendo. Ele iria morrer. O meu melhor amigo, o grande amor da minha vida, o melhor de mim... ia deixar de existir, para sempre.

— Não! — foi o que consegui dizer por fim, caindo em um choro descontrolado em seus braços. Nós dois choramos pelo o que pareceram horas. Ele me prometendo que tudo ficaria bem, e eu tendo a certeza de que não.

— Ok! Está pronto — falo, indo em direção ao armário para pegar duas canecas. Olho por alguns segundos para as letras “A” e “E” gravadas em cada uma delas, depois as coloco sobre a mesa. — Prefere beber aqui ou no quarto?

— Humm... Acho que prefiro uma garrafa térmica. — fala sorrindo, franzo o cenho em dúvida. — Onde estão as chaves do carro?

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— O quê? Onde você pensa que vai? — Sinto o pânico me percorrer. — Eduardo, está chovendo, está frio lá fora. Você não pode sair, não...

— Vou pegar um cobertor — avisa, saindo de encontro ao quarto e deixando-me estática no meio da cozinha. No que ele está pensando, Deus?! — Pronto, problema resolvido — diz, jogando as chaves na minha direção. — Você dirige!

— Não! — Minha voz sai sufocada, tensa. — Não vou a lugar algum com você nessa chuva, você...

Ele me interrompe. — Não vamos sair do carro, prometo. — Contorna

a mesa e beija a minha testa ternamente, pede baixinho: — Por favor!

Não tenho como dizer não. Depois de preparar tudo, entramos no carro e ligo o aquecedor no máximo. Mordo o lábio e olho fixamente para frente.

— Onde estamos indo? — pergunto pela primeira vez.

— Para a praia — responde simplesmente. Tento encontrar um argumento que o faça desistir

dessa ideia, dessa insanidade. Ele está fraco, com o sistema imunológico vulnerável. Um simples resfriado pode... Um toque reconfortante me traz de volta para a sua presença, uma mão. Eduardo entrelaça seus dedos nos meus, eles estão frios e frágeis. Ligo o carro e sigo em frente. Prometi que seria forte, prometi que faria qualquer coisa que o deixasse bem.

Algum tempo depois, estaciono no lugar onde ele indicou: de frente a um amontoado de pedras cinzas que brilhavam por causa da água da chuva que caía. Aquele é o nosso lugar preferido, onde muitos dos nossos momentos mais importantes estão gravados. Fico em silêncio por um minuto, contando as batidas do meu coração.

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— Eu sei que não está sendo fácil para você... essa situação — escuto-o falar com a voz controlada. — Mas quero que me prometa uma coisa. Eu quero que seja feliz, por mim, promete? — não desvio os olhos das pedras, não posso olhar para ele.

— Eu vou... tentar — falo, sentindo-me fraca. — Não quero que tente, quero que consiga. Você é

forte, Ali. Vai conseguir, eu sei disso — Olho para o meu lado direito e o vejo sorrindo. — Sabe de uma coisa engraçada em que eu estava pensando mais cedo? Lembra quando nos conhecemos, e a primeira coisa que eu falei quando te vi exatamente ali? — pergunta, apontando para as pedras. A imagem de uma garotinha sentada nelas com o queixo apoiado no joelho e abraçando-os firmemente, veio em minha mente.

— Você disse que, se eu olhasse por muito tempo para o mar, me tornaria uma sereia encantada. — Sorrio — Na hora, achei engraçado, mas não entendi.

— Claro que não! Não tinha nenhum significado. — Sua gargalhada é leve. — Eu só queria me aproximar da bela garota de cabelos esvoaçantes que estava sentada nas pedras vendo as ondas.

— Bela garota? Ed, só tínhamos dez anos na época. — Mas eu já tinha certeza de que você era a mulher

da minha vida. — Ignora minhas sobrancelhas arqueadas e me conduz para mais perto dele. Coloca o cobertor em volta de nós dois e me abraça. Ficamos em silêncio, até eu sentir seu olhar novamente sobre mim.

— Por que você está me olhando assim? — Não sei. — Seus lábios estão puxados levemente

para o lado, em um sorriso maroto. — Gosto do seu sorriso. É como um pequeno sol que irradia energia e calor — ele afirma, eu não havia percebido que estava sorrindo até ele falar. O abraço mais forte, porém de um jeito contido. Ele parece um pouco melhor esta manhã, seus olhos têm um

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leve brilho impetuoso, seu rosto está corado, mas não muito, seu corpo está quente — que não seja febre, peço silenciosamente. No entanto, as últimas semanas foram difíceis. Ele é impossível! — Lembra a primeira vez que eu disse que te amava? — indaga, olhando fixamente nos meus olhos.

— É claro que lembro. Como poderia esquecer? Foi o melhor presente de aniversário da minha vida — falo e toco seu rosto.

Aos poucos, vislumbro a cena à minha frente, como se tivesse acontecido há alguns minutos apenas: dois adolescentes andando pela areia molhada da praia de mãos dadas, nenhum dos dois sabe exatamente o que o outro está pensando. Ou talvez saiba. De repente, o rapaz para e fica de frente para a garota, ele parece tenso, ela apenas o observa atentamente. Ele morde o lábio e desvia o olhar momentaneamente do dela, suas mãos ainda estão juntas, dedos entrelaçados. Ele respira fundo e volta a olhá-la profundamente, fala:

— Ali, eu gosto de você! — Aperta a mão dela e espera ansiosamente por alguma coisa. A garota o olha e fala com naturalidade:

— Eu também gosto de você. — Dá de ombros, sem perceber que algo dentro dela está diferente. Mas percebe que deve ter dito algo errado, porque ele franze a testa e fica vermelho.

— Não é isso. — Dessa vez, prefere olhar para os próprios pés. — Eu... amo você! — murmura. Então, ela entendeu, como se acabasse de ver a luz do dia pela primeira vez, o que aquela sensação de algo gelado no seu estômago significava. Essa sensação misteriosa estava presente sempre que ele se aproximava dela, e não era assim antes.

— Eu também amo você! — ela declara ansiosa. Ele sorri e a beija pela primeira vez.

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— Você sempre foi muito lenta para entender as coisas — Eduardo afirma, segurando minha mão contra o seu rosto. Ele não está com febre, suspiro, sentindo-me aliviada.

— E você, não? — falo em tom de desafio. — Não! Sei exatamente o que sinto, não me disperso

— declara. — Sempre que estou com você, perco completamente o fôlego — sussurra ao meu ouvido.

— Então, acho melhor me afastar. Não quero que você fique sem ar — falo sem conseguir conter um riso.

— Tarde demais! Já estou sem ar há... quanto tempo faz mesmo?

— Depende do que você estiver falando, exatamente.

— O pedido — responde com um leve suspiro. — Lembra como foi? — nossos olhares se encontram, parecem estar em lugares diferentes. Não, eles estão em uníssono, no mesmo pensamento. Era impossível não lembrar: a praia é a mesma, as mesmas pessoas, porém, agora, jovens adultos.

— Vem, Ali! — ele grita para ela, que está parada, de

braços cruzados, e uma expressão assustada no rosto. Ele se aproxima. — Qual é o problema?

— Você vai terminar comigo — dispara com a voz trêmula. — É isso, não é?

— O quê? — Agora é ele quem parece assustado, incrédulo diante da pergunta afirmativa. — Posso saber de onde surgiu essa ideia maluca?

— Você está estranho. — Seus lábios tremem. — Por que me trouxe até aqui?

— Eu já falei, é surpresa. — É sua única resposta. Pega a mão dela e tenta, novamente, levá-la consigo. — Vamos! — Mas ela permanece parada, completamente imóvel. — Aline!