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Jardim Japonês shakkei 78 78 Jardins Zen - Século XIII No século XIII aparecem os Jardins Zen, onde os Jardins são inertes, com pouca presença de material vegetal, minimalistas e cheios de significado. A presença de arquétipos é a sua base. Vive de símbolos, partindo destes para contemplação e meditação. Aqui uma Rocha ou uma árvore, representam um mundo diferente, um mundo perfeito, ao contrário da Natureza. Cada árvore ou rocha no Jardim Zen representa bodhisattva, a areia representa o mar ou o macrocosmos. As pontes num Jardim Zen, não têm destino, não têm fim, assim como não existem caminhos, todo o significado do desenho e introduções num Jardim Zen é para levar um indivíduo à introspecção, à meditação, à procura da verdade última, a atingir o estado Satori. A água enquanto elemento real e presente não tem lugar num Jardim Zen, aparecendo apenas representada por gravilha ou seixo, ocupando um papel muito importante. Os Jardins Zen muitas vezes incluem uma pedra lisa e baixa, onde um monge pode praticar zazen ou meditação, podemos ainda encontrar uma pedra em forma de barco flutuando num oceano de areia. Esta imagem representa um barco celestial que de acordo com a mitologia Japonesa, desceu à terra dos céus, trazendo os sete Deuses da boa fortuna. O conjunto das três pedras do Monte Horai pode ser facilmente distinguida das outras pela representação de criaturas sagradas como as tartarugas, onde numa pedra das mais pequenas da trilogia aparece talhada a cabeça de uma tartaruga. A primeira pedra a ser disposta num espaço é a maior, a mais importante e mais bonita. Esta representa buda e apresenta-se envolvida por azaleas que quando são talhadas e em floração sugerem a descida de buda sobre nuvens, acompanhado por bodhisattvas pedras de pequenas dimensões que evolvem a primeira. A presença da vegetação (ser animado) que envolve a pedra (ser inanimado), ilustra as diferenças e fluxos entre estes, sendo um tema muito recorrente no Jardim Zen. Os principais elementos num Jardim Zen são assim a areia ou gravilha, representando água com a sua ondulação, a pedra e a vegetação, que pode ou não estar presente. Se a vegetação estiver presente é de forma discreta como musgo ou sebes muito trabalhadas,

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Jardins Zen - Século XIII No século XIII aparecem os Jardins Zen, onde os Jardins são inertes, com pouca presença

de material vegetal, minimalistas e cheios de significado. A presença de arquétipos é a sua

base. Vive de símbolos, partindo destes para contemplação e meditação. Aqui uma Rocha

ou uma árvore, representam um mundo diferente, um mundo perfeito, ao contrário da

Natureza.

Cada árvore ou rocha no Jardim Zen representa bodhisattva, a areia representa o mar ou

o macrocosmos. As pontes num Jardim Zen, não têm destino, não têm fim, assim como não

existem caminhos, todo o significado do desenho e introduções num Jardim Zen é para

levar um indivíduo à introspecção, à meditação, à procura da verdade última, a atingir o

estado Satori. A água enquanto elemento real e presente não tem lugar num Jardim Zen,

aparecendo apenas representada por gravilha ou seixo, ocupando um papel muito

importante.

Os Jardins Zen muitas vezes incluem uma pedra lisa e baixa, onde um monge pode

praticar zazen ou meditação, podemos ainda encontrar uma pedra em forma de barco

flutuando num oceano de areia. Esta imagem representa um barco celestial que de acordo

com a mitologia Japonesa, desceu à terra dos céus, trazendo os sete Deuses da boa

fortuna.

O conjunto das três pedras do Monte Horai pode ser facilmente distinguida das outras

pela representação de criaturas sagradas como as tartarugas, onde numa pedra das mais

pequenas da trilogia aparece talhada a cabeça de uma tartaruga.

A primeira pedra a ser disposta num espaço é a maior, a mais importante e mais bonita.

Esta representa buda e apresenta-se envolvida por azaleas que quando são talhadas e em

floração sugerem a descida de buda sobre nuvens, acompanhado por bodhisattvas pedras

de pequenas dimensões que evolvem a primeira. A presença da vegetação (ser animado)

que envolve a pedra (ser inanimado), ilustra as diferenças e fluxos entre estes, sendo um

tema muito recorrente no Jardim Zen.

Os principais elementos num Jardim Zen são assim a areia ou gravilha, representando

água com a sua ondulação, a pedra e a vegetação, que pode ou não estar presente. Se a

vegetação estiver presente é de forma discreta como musgo ou sebes muito trabalhadas,

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que adquirem formas concretas. A presença dos limites do espaço sob forma de vedações

rígidas é muito importante, criando contenção, calma e dando lugar à introspecção.

Areia

A areia ou gravilha branca utilizada no Jardim Zen, substituí a água, evocando um espaço

de calma e pureza. A areia branca sempre foi utilizada para demarcar os locais sagrados.

Assim sendo a areia evoca uma dimensão espiritual num jardim sem referir nenhuma

religião específica.

As áreas num Jardim de areia ou gravilha representam elementos misteriosos que

permitem a divagação da mente. A reflexão e claridade originada pela areia branca cria um

contraste com a vegetação e rochas, ajudando a manter a composição viva.

55. A presença da areia nos Jardins Zen

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A areia pode representar um rio, um lago ou mesmo um oceano, pode criar uma

sensação de espaço aberto um espaço muito pequeno. A areia é preferível á utilização da

água por razões de custos e porque a areia é uma abstracção institucionalizada sugerindo

água nos jardins Zen.

Nos jardins a areia usada não era areia do mar, mas sim areia originada da

decomposição de gravilha de granito, de granulometria entre 3 a 8 mm de diâmetro. Se

muito fina, a areia pode voar com o sopro do vento, além que de não mantém o desenho

do pavimento. A cor da areia deve ser verificada quando se compra, a seco e a molhado.

A sub camada da areia deve ser bem nivelada, se apresentar grandes irregularidades,

deve apresentar drenagem suficiente para que o espaço não fique alagado com as chuvas.

Os desenhos marcados no chão tradicionalmente sugerem ondas, de formas naturalistas

ou estilizadas. A areia é utilizada desta forma simbolizando o movimento continuo da água.

A largura das ondas pode simbolizar a calma de um rio ou lago quando estreitas, ou as

ondas agitadas do oceano se mais largas.

56. Areia representando uma cascata seca no Jardim

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As linhas concêntricas podem encontrar-se na envolvência de uma rocha ou no meio de

nada, simbolizando uma folha que acabou de cair à água.

Uma cascata num jardim seco é representada por uma pedra apenas ao nível da areia,

uma ilha pode ser também um pedaço de terra, mas é mais comum a utilização de uma

simples pedra, muito baixa. Uma ribeira seca ou uma cascata são elementos que sugerem a

existência de água noutras alturas e que agora se encontra seco, devendo dar a impressão

que a qualquer altura pode voltar a correr água pela cascata, que às primeiras chuvas ela

começa a correr.

Num jardim seco, onde a areia representa um lago, ou um rio, estes são também alvo de

desenho segundo princípios referidos anteriormente para o desenho destes.

Jardim do Chá O Jardim do Chá é um Jardim para ser vivido, habitado, é um espaço bastante mais

complexo formalmente do que o Jardim Zen, menos depurado. Embora o Jardim Zen

simbolicamente seja mais elaborado, de significações muito mais amplas e abrangentes.

57. Desenhos na Areia. 1.Redemoinho; 2.Ondas concêntricas; 3.Corente do Rio; 4.Pequena queda de água; 5.Onda de um rio largo; 6.Ondas de rio estilizadas.

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O jardim do chá apresenta inúmeros elementos no seu desenho, alguns já apresentados,

tal como a presença da água sob forma de lagos e rios, rochas, vedações, cordas, portões

de madeira, material vegetal muito diverso. Outros foram introduzidos apenas nesta fase tal

como: Lanternas de pedra, Bacias de água, caminhos pedonais formais e bem marcados,

“stepping stones”, pontes, pérgolas e varandas.

Caminhos e “Stepping Stones” Os caminhos no jardim japonês não têm apenas uma função de transportar um indivíduo

de um ponto para outro, têm ainda uma função de divagação, de transporte da mente por

caminhos e pontos de vista diferentes.

Um caminho curvo permite a visualização apenas até ao ponto onde curva, à medida que

se ultrapassa a curva, uma nova vista é revelada. Os caminhos podem ser utilizados para

ligar ou separar elementos em composições. A largura do caminho pode ter várias funções

de perspectiva, de dirigir o olhar num determinado sentido, criando fluxo e uma forma de

viver o jardim, assim como o criador o concebeu.

Os materiais a utilizar em caminhos podem ser vários, de terra batida, gravilha, lasca ou

pedra. As pedras a utilizar em “stepping stones” podem ser de vários tipos dispersas e

cortadas naturalmente, regulares dispostas no pavimento próximas umas das outras de

uma forma geométrica ou mais orgânica.

“Stepping Stones” foram primeiramente concebidos para os Jardins do Chá, de forma a

criar caminhos e não perder o aspecto natural da plantação; quando cobertos por musgo

ou plantas rasteiras os “stepping stones” são bem sucedidos em criar uma fronteira entre

o que é caminho e o que é vegetação. Esta forma de caminho transporta as pessoas para

dentro do jardim e não pelo jardim a fora.

58. Diferentes formas de construir um caminho de Stepping Stones.

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Os Caminhos em “Stepping stones” tiveram em primeiro lugar uma função decorativa,

ganhando mais tarde um caracter mais funcional que não deve ser esquecido. Existe beleza

num instrumento que tem um sentido, assim sendo um caminho que passa perto demais de

uma sebe, que não tem fim, pedras que se encontram distantes demais ou muito redondas

em cima perdem a sua função.

As pedras a utilizar em “stepping stones” devem ser lisas em cima e sem apresentar

buracos que retêm a água da chuva. De tamanhos entre os 20 e 30 cm e 10 cm de altura,

enterradas saindo para a superfície entre 3 e 9 cm. A disposição destas deve apresentar as

arestas desencontradas de formas agradáveis. As pedras devem estar afastadas entre si no

máximo de 10 cm entre cada ou 50 cm entre centros.

Para diminuir a ideia que as pedras (se muito grandes) podem dar de pavimento

compacto podem alternar-se pedras maiores com pedras mais pequenas. Se se utilizarem

pedras com um eixo longitudinal marcado, este não deve seguir o eixo do caminho, de

forma a não marcar muito o percurso continuo, e enfatizar mais cada espaço.

O cruzamento entre caminhos não deve formar ângulos

rectos, sendo preferível a utilização nos espaços de

convergência ou divergência uma pedra maior que faz a

ligação. Nestes encontros podem criar-se pequenos

canteiros, ou a presença de uma lanterna ou qualquer

elemento decorativo pode amenizar esta impressão.

No desenho dos caminhos principais, mais formais,

podem utilizar-se desenhos geométricos com os

“stepping stones”, em detrimento da gravilha ou musgo.

Estes caminhos são utilizados nos pontos de chegada a

casa ou a um templo.

59. Cruzamento entre caminhos.

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Os caminhos podem não ter o seu fim em lagos, rios, ou

entradas, podem continuar por eles atravessando o rio ou

entrando pela habitação.

Pontes As pontes podem ser construídas de variadas formas,

podem ser compostas por pedras dispostas em forma de

“stepping stones”, podem ser de pedra continua, de

madeira ou bambu coberta com terra natural.

Ao longo dos tempos várias formas de pontes foram

utilizadas, dependendo do efeito que se pretende criar, do

tamanho do jardim, da função e carga exigidas para cada

ponte.

A um nível mais prático a ponte tem uma função de

transporte de um lado para o outro de um rio ou forma de

água, real ou abstracta, mas a ponte pode adoptar um

número de funções variadas, tal como de equilíbrio de

volumes perto de uma queda de água, pode conferir uma

ideia de estabilidade e repouso, de ligação à outra margem

ou pode indicar uma direcção visual preferencial.

Uma ponte em “stepping stones”, é utilizada em situações mais naturalistas, em que o

percurso em questão não é muito longo, e para travessias onde as cargas exigidas são

pequenas.

As pontes em madeira

podem ser curvadas,

perfeitamente horizontais,

ou cobertas com terra

natural. As pontes em

madeira curvadas, tornam-

se mais pesadas, adquirem

60. Diferentes formas de Stepping Stones

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um porte muito pesado, são utilizadas em jardins maiores onde

possam ser admiradas de longe. Estas são geralmente

coloridas. No Japão estas pontes foram muito utilizadas nos

séculos X e XI, dos jardins com lagos e ilhas, da classe

aristocrática em Kyoto.

Outras formas de pontes de madeira foram utilizadas por esta época e posteriormente. A

ponte de madeira linear ou em zig-zag. Estas pretendem criar um reflexo na profundidade

do lago. Onde haviam plantações de Lírios e Íris, a ponte em zig-zag era a favorita, por ser

muito baixa permite as pessoas circularem mesmo perto destas. Este tipo de pontes é por

vezes chamado de pontão ou passadiço.

Outro tipo de pontes utilizadas para formas naturalistas, é a ponte em bambu coberta

com terra e areia. Esta adapta-se a espaços rústicos e não deve ter corrimões ou qualquer

tipo de protecção.

As pontes referidas são elementos utilizados em espaços mais amplos e variados. Para

espaços mais pequenos, menos complexos ou jardins secos, onde

pontes de madeira poderiam apresentar-se desproporcionadas, utilizam-

se pontes mais simples compostas de pedras inteiras apoiadas em

blocos de pedra de diferentes alturas nas extremidades. 62. Pontes em Pedra

61. Diversas formas de pontes de madeira.

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Bacias de Pedra Tradicionalmente as bacias de pedra são utilizadas e concebidas para lavar as mãos e a

boca nos Jardins do Chá num acto de purificação. A humildade existente no acto envolve a

purificação da mente ao mesmo tempo que a purificação do corpo. As bacias de água

devem ser utilizados em qualquer jardim em que o conceito exija a introdução de um

elemento de água mas as dimensões do espaço não permitam o desenho de um lago.

As bacias hoje detêm essencialmente um sentido decorativo, embora não devem perder o

seu sentido prático, apresentado nos locais dispostos e aparecendo associados a uma peça

de bambu, desenhada para verter água sobre as mãos – hishaku.

As bacias podem ser desenhadas sob várias formas tradicionais. A mais comum é a Ume

com a forma das pétalas de crisântemos, outra é a natsume uma bacia alta e cilíndrica,

algumas apresentam o desenho de uma moeda, outras são ainda decoradas com

caracteres chineses em volta da bacia. No templo de Ryoan-ji em volta da bacia existe uma

inscrição dizendo: “O mais importante é saber estar satisfeito”.

Existem ainda bacias rectangulares ginkakuji que apresentam um padrão entrançado em

três dos lados da bacia. Outras bacias quadradas têm relevos de budas, sugerindo o

passado em que peças antigas dos templos maçons eram recuperadas e usadas como

bacias de água nos jardins do chá.

63. Bacias de pedra

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A bacia é colocada perto de um poço colector da água que sai da bacia – chamado

“oceano” e o buraco por onde se dá a drenagem está coberto de pedras. Quanto maior a

bacia, maior deve ser esta área colectora.

A disposição e envolvência das bacias mais uma vez envolve arranjos de pedras

tradicionais chamados tsukubai. No lado oposto à bacia, coloca-se uma pedra lisa, grande

o suficiente para que um adulto se mantenha em pé confortavelmente. Para a direita desta

pedra dispõe-se uma outra bacia, mais pequena que a primeira, para que em tempos frios

se possa ter água quente. À esquerda da bacia principal deve ser disposta uma pedra

pouco mais alta, onde se coloca uma lanterna para as noites de cerimonias. Por vezes é

posta uma pedra alta, ou um arbusto por trás da bacia principal, criando uma sensação de

segurança.

As bacias são um elemento unificador da habitação e do jardim, por essa razão são

geralmente colocadas perto das varandas e entradas.

Lanternas de Pedra Os caminhos e estradas que levavam aos santuários Xínto e templos Budistas, sempre

foram animados por lanternas de pedra doadas pelos crentes, muitas destas lanternas são

ainda acesas com velas nas cerimónias.

As lanternas foram introduzidas no interior do jardim no século XVI, no Jardim do Chá, por

Sen-no-Rikyu, pois este admirava a luz distante que estas originavam, servindo dois

propósitos, o estético e prático, iluminando as pessoas pelos caminhos até uma cerimonia

do chá nocturna. Nos nossos dias a sua função é essencialmente decorativa, embora

devam ser posicionadas com o seu propósito original em mente.

64. Composição das Bacias de água.

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Existem quatro tipos principais de lanternas:

Tachi-gata: existentes em templos e santuários, com pé alto, geralmente de seis faces. Os

seus nomes derivam dos templos antigos onde o seu protótipo ainda se encontra. Estas

tendem a ser largas e com elaborados relevos. São dotados de grande pose e dignidade, e

aparecem dispostos numa entrada ou em caminhos. Podem aparecer associados a material

vegetal criando um bom contraste com a gravidade deste tipo de lanterna.

Ikegomi-gata: este tipo de lanterna apresentam um pé que se enterra completamente no

chão. São utilizados perto de vegetação pouco densa, perto de gravilha ou areia. A

simplicidade das suas formas torna-os apropriados para Jardins do Chá, perto de bacias de

água.

Oki-gata – sem pé nem base de suporte, geralmente disposto em cima de uma pedra lisa,

perto da água.

Lanterna assente em pernas: sem nome específico esta é a última forma de lanterna,

assente em duas, três, quatro ou mais pernas. Yukimi-gata é a mais conhecida. Muito

atractiva quando utilizada perto da água, para onde pode estar inclinada.

Uma outra variedade menos comum é o pagode, este pode ter entre três ou onze

andares, deste que seja um número impar. Existem vários estilos, alguns sem espaço quase

nenhum entre telhados e outros com espaço mas muito ornamentados, (estes de origem

chinesa). O melhor local para colocar um pagode alto será no fim de um jardim, criando a

ilusão de distância. Estes devem aparecer entre vegetação, para que não se apresentem

muito expostos.

65. 3 Lanternas tipo: 1.Tachi-gata; 2.Ikegomi-gata; 3. Yukimi-gata.

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Shishi-Odoshi O shishi-odoshi foi uma construção utilizada pelos antepassados para afastar os animais

eu pudessem danificar as colheitas. Era constituído por uma cana de bambu que vertia

água sobre outra cana, em equilíbrio sobre uma pedra. Quando a Segunda cana fica cheia

roda despejando a água voltando ao estado inicial e batendo na pedra causando um som

que assustaria os animais.

Estes elementos são utilizados por vezes nos jardins, pela sua dinâmica e mudança e

pela própria marcação de um compasso temporal. Este deve ser utilizado em espaços

grandes, pois com o tempo torna-se muito cansativo, além de que necessita de um

suplemento de água constante e sua drenagem.

66. Pagode

67. Shishi-Odoshi

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Pérgolas As pérgolas de Wisteria chinensis são hoje já comuns também no Ocidente. Nos jardins

japoneses estas glicínias são cuidadosamente podadas, para que a planta não exceda a

sua capacidade de nutrição, mantendo a sua floração a um máximo.

A presença da pérgola no jardim japonês é assumida pela atribuição de um espaço

próprio sem competição com outros elementos vegetais, e com a presença de um simples

banco sob esta. O pavimento utilizado é geralmente madeira em tacos ou ripado.

A pérgola causa uma situação de perspectiva e enquadramento de um ponto de vista,

assim sendo, deve a sua posição e enquadramento ser cuidadosamente pensada.

Varandas Tradicionalmente uma varanda faz parte de um templo ou de uma casa de chá, e é

extremamente importante a interface entre uma construção e um jardim. Uma varanda é

uma extensão de uma casa e é parte da área exterior. Na cerimonia do chá, era na varanda

que se faziam os preparativos para o visitante antes de entrar numa cerimonia do chá.

Uma varanda tradicional, é uma plataforma elevada, feita de ripado de madeira, de cor

escura, protegida do clima pela extensão do telhado. É o ponto prefeito de observação do

Jardim, sentado. A varanda tem um papel de enquadrar o exterior, de moldura, de

compreender as distâncias no jardim longínquo. A varanda origina ainda pelo

enquadramento um equilíbrio na composição.