Jean Baudrillard

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Educação e Sociedade em Rede Atividade 3 Jean Baudrillard Fonte da imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Baudrillard Nome: Jean Baudrillard. Nascimento: 27 de julho de 1929 em Reims, França. Morte: 6 de março de 2007 (aos 77 anos) em Paris, França. Principais áreas de interesses: Estudos Culturais, Sociologia, Antropologia, Política, Comunicação, Fotografia, Literatura. Ocupações: Sociólogo, filósofo, poeta e fotógrafo. Questões principais: Impacto da comunicação e dos meios de comunicação na sociedade e na cultura contemporâneas; Impacto do desenvolvimento da tecnologia na sociedade contemporânea; Papel do Homem no ambiente atual em que se desenvolve; Infoxicação promovida pela sociedade tecnocrática atual; Provocador nato de questões que decorrem da sua atualidade e dos fenómenos a que assiste. Frase de referência: "Livre do real, você pode fazer algo mais real que o real: o hiper-real.” (BAUDRILLARD, 1981 Pincipais obras: O Sistema dos Objetos (1968); A Sociedade de Consumo (1970); Por uma Crítica da Política Económica do Signo (1972); O Efeito Beaubourg: implosão e dissuasão (1977); À Sombra das Maiorias Silenciosas (1978);

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Educação e Sociedade em Rede

Atividade 3

Jean Baudrillard

Fonte da imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Baudrillard

Nome: Jean Baudrillard.

Nascimento: 27 de julho de 1929 em Reims, França.

Morte: 6 de março de 2007 (aos 77 anos) em Paris, França.

Principais áreas de interesses: Estudos

Culturais, Sociologia, Antropologia, Política, Comunicação, Fotografia, Literatura.

Ocupações: Sociólogo, filósofo, poeta e fotógrafo.

Questões principais:

Impacto da comunicação e dos meios de comunicação na sociedade e

na cultura contemporâneas;

Impacto do desenvolvimento da tecnologia na sociedade contemporânea;

Papel do Homem no ambiente atual em que se desenvolve;

Infoxicação promovida pela sociedade tecnocrática atual;

Provocador nato de questões que decorrem da sua atualidade e dos fenómenos a que

assiste.

Frase de referência:

"Livre do real, você pode fazer algo mais real que o real: o hiper-real.” (BAUDRILLARD, 1981

Pincipais obras:

O Sistema dos Objetos (1968);

A Sociedade de Consumo (1970);

Por uma Crítica da Política Económica do Signo (1972);

O Efeito Beaubourg: implosão e dissuasão (1977);

À Sombra das Maiorias Silenciosas (1978);

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Da Sedução (1979);

Simulacros e Simulação (1981);

América (1988);

Cool Memories I (1990);

A Transparência do Mal: Ensaio sobre os fenómenos Extremos (1990);

A Troca Impossível (1999);

O Lúdico e o Policial (2000);

De um Fragmento ao Outro (2003).

Na perspetiva do autor, vivemos uma realidade que já não é real, mas sim uma projeção do real

patrocinada pelos meios de comunicação, designada de hiper-real.

Ao aprofundar conceitos como imaginário, virtualidade, simulação, simulacros verificamos que o

autor reflete sobre a sociedade em que vivemos num estilo desafiante e provocador e é este tom

irónico e crítico que o caracteriza.

Ele não visa desmoronar o já existente, mas antes criticar e refletir sobre a realidade, mesmo

que esta não seja um real efetivo.

Nas suas obras aborda as questões do hiper-real, da influência da informação massiva e

deturpada e as suas implicações na sociedade contemporânea ao se desenvolverem referenciais

que não são baseados na própria realidade. O autor aponta, assim, na obra Simulacros e

Simulação (1981) três estágios de simulacros, que demonstram a evolução das sociedades até

ao estágio atual. Estes estágios demonstram claramente a reprodução de signos e informação.

Esta infoxicação (intoxicação informativa em que vivemos) que os meios de comunicação

difundem está sobremaneira ligada à Cibercultura, ao dilúvio informacional que analisámos

noutra atividade.

Apontaria a sua ironia na expressão “a imagem do homem sentado, contemplando num dia de

greve sua tela de televisão vazia, constituirá no futuro uma das mais belas imagens da

antropologia de nosso século” (Baudrillard, 1999). Esta metáfora da tela direciona-se para a falta

de sentido que encontra naquele que recebe a mensagem de forma passiva e inerte. O autor

projeta a sua ideologia na virtualização da imagem, que acaba por distanciar os acontecimentos

reais. Contudo, não se pense que a visão dele é anti meios de comunicação de massa, antes

pelo contrário. Encontro aqui, na sua visão, uma consciência de que não são os meios de

comunicação que mobilizam ou direcionam as massas, até porque o autor nunca os

responsabiliza pelos males do mundo contemporâneo. Serão os meios tecnológicos ou o uso

que deles tem sido feito?

Na obra A Transparência do Mal (1990), destaca-se que as novas tecnologias da informação e

da comunicação confrontam o indivíduo diariamente com a hiper-realidade, desenvolvendo nele

angústias, dúvidas e medos.

Poderíamos também indagar sobre as questões levantadas na obra A Sociedade de Consumo

(1970), que denotam as questões da sociedade cultural, refletindo sobre a questão de

consumidores de signos, de estilos culturais, que, mais uma vez, giram à volta de todo um

simulacro, de toda uma visão que não é real, mas hiper-real, bem mais atraentes que o próprio

real.

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Assim, “ nesta passagem a um espaço cuja curvatura já não é a do real, nem a da verdade, a

era da simulação inicia-se, pois, com uma liquidação de todos os referenciais (…)” (Baudrillard,

1981).

Efetivamente, Jean Baudrillard reflete bastante sobre a visão da sociedade da época e com os

desafios que ela se depara.

Neste sentido (e confesso que a visão do autor é genial, mas complexa), Baudrillard identifica

que o ser humano já não cria o seu próprio olhar pelo mundo, pois este é criado pelos meios de

comunicação.

Partindo deste pressuposto, analisando vários exemplos, Baudrillard aborda a questão do hiper-

real e suas implicações na perda do referencial por parte da humanidade. Para ele a humanidade

já não tem origem nela mesma. É um real que já não pertence ao domínio do real, mas do hiper-

real. Assim, “o real é produzido a partir de células miniaturizadas, de matrizes e de memórias,

de modelos de comando – e pode ser reproduzido um número indefinido de vezes a partir

daí” (Baudrillard, 1981).

Para ele, a simulação baseia-se do princípio de equivalência, opõe-se à representação. Interessa

aqui referir que "Dissimular é fingir o que não se tem. Simular é fingir ter o eu não se tem.” (pág.

9). Por outro lado, o simulacro nunca mais pode ser trocado pelo real, “(…) mas trocando-se a si

mesmo, num circuito ininterrupto cujas referência e circunferência se encontram em lado

nenhum” (Baudrillard, 1981). O simulacro estabelece o confronto entre o virtual e o real.

Ora, ciente desta distinção, e consciente de que vivemos na era de simulacros, são tecidas

críticas aos meios de comunicação, nomeadamente à televisão, “aí se vê o que o real nunca foi,

sem a distância que faz o espaço respetivo e a nossa visão em profundidade. Gozo da simulação

microscópica que faz o real passar para o hiper-real” (Baudrillard, 1981). A televisão é a

“verdadeira solução final para a historicidade de todo o acontecimento (…)” (Baudrillard, 1981).

Explicitada esta implosão de sentido, os meios de comunicação transformam o real em hiper-

real e é aqui que começa a simulação. Mas, à frieza do que acontece é acrescentado um perfume

poético, pois “a simulação é eficaz, nunca o real” (Baudrillard, 1981). Este é o chamamento, o

atrativo destes meios, destas tecnologias que transformam a realidade num "verniz" (Baudrillard,

1981), que faz com que as pessoas tenham "vontade de tomar tudo, pilhar tudo, comer tudo,

manipular tudo" (Baudrillard, 1981).

Baudrillard identifica três estágios de simulacro:

Simulacros naturais (da Antiguidade ao Renascimento);

Simulacros produtivos(Revolução Industrial);

Simulacros de simulação (Era digital).

Na nossa sociedade os signos são pura simulação (tecnologia de informação, genética). Nesta

era, a televisão simula a realidade através de imagens que mascaram a distância entre o real e

o imaginário. Ao potenciar o simulacro, embelezam, enfeitam e adornam o real. Ao produzirem

o hiper-real, este torna-se um real mais real que o real e mais interessante. São intensificadas

as cores, são fascinadas as formas e os espetáculos.

A mediação passa a ser feita por meios de simulações, mediada por tecnologias. Os meios de

comunicação já fazem algo mais que informar, refazem o mundo e promovem-no num

espetáculo. Para o autor, esta revolução é uma evolução normal, pois passamos a viver na

tecnologia, num mundo mais próximo e conectado. Denota-se que na perspetiva do autor a

revolução tecnológica desenvolve-se numa expansão contínua.

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A integração das novas tecnologias de comunicação caminha na direção da verdadeira

democratização do acesso, que será muito mais que uma simples compra destes

dispositivos. Assim, apesar de ter uma forma de pensar complexa, demonstra visões holísticas,

globalizantes e otimistas face a esta revolução tecnológica. Se refletirmos sobre realidade virtual,

ou mundos virtuais como o Second Life, entre outras aplicações, seria impossível não refletirmos

nas visões de Baudrillard.

A virtualidade do real é também objeto de reflexão do autor, que aparece com um novo sentido. Entenda-se realidade virtual seja por exemplo um computador que temos em casa e a virtualidade do real será o futuro que por intermédio se poderá alcançar.

Assim, o novo mundo trazido pelas tecnologias será próximo a uma utopia. No discurso otimista do autor, denota-se a utopia do cibermundo que apesar de não ser real, existe e modele o real. O autor refere que “O homem soube inventar máquinas que trabalham, deslocam-se, pensam melhor do que ele, ou em lugar dele. Nunca inventou uma que pudesse gozar ou sofrer em seu lugar. Nem mesmo que possa jogar melhor do que ele. Talvez isso explique a profunda melancolia dos computadores” (1999). Mas, "a simulação parte, ao contrário da utopia, do princípio da equivalência, parte da negação do radical do signo como valor, parte do signo como reversão e aniquilamento de toda referência” (1981).

Esse virtual apresenta-se como intemporal. “A simulação parte, ao contrário da utopia, do princípio de equivalência, parte da negação radical do signo como valor, parte do signo como reversão e aniquilamento de toda a referência. Enquanto a representação tenta absorver a simulação interpretando-a como falsa representação, a simulação envolve todo o próprio edifício da representação como simulacro” (1981).

A propósito de utopia, podemos analisar a perspetiva utópica que o autor atribui aos EUA, que se baseiam nos conceitos já neste debate de ideias identificados de hiper-realidade e simulacro. Poderíamos referir que a América é considerada como hiper-real, uma utopia, que nos deixa sonhadores, que se transforma em sonho realizado e realidade que é sonhada, criada virtualmente pela tecnologia.

Tanto Baudrillard como Virilio tecem fortes críticas aos meios de comunicação tecnológicos e às

formas como estes têm modelado a sociedade contemporânea. Contudo, enquanto Virilio

apresenta uma posição pessimista, ao denunciar a destruição da humanidade promovida pela

tecnologia, Baudrillard confere-lhe m otimismo evolutivo natural, que elimina distâncias e

contribui para um mundo hiper-real que fascina.

Os dois revelam consciência e espírito crítico face ao advento das tecnologias, mas há que

reconhecer toda a genialidade da perspetiva de Baudrillard.

Nos dias de hoje, vivemos com simulacros da realidade. Os adolescentes identificam-se com

personagens que não existem, mas que as estimulam a serem melhores.

É uma sociedade de consumo? Sim! Mas a beleza desta hiper-realidade fascina, romanceia,

conecta o mundo e impele-nos a superar-nos a todo o momento.

Quantos programas televisivos nos levam a competir? Vários!

Estes encontraram o mecanismo preciso para impelir as massas, mesmo não sendo reais. O

autor mostra aqui um fascínio na forma como a tecnologia dos meios de comunicação

transformaram a nossa perceção da realidade e do mundo, a forma da sua implosão do sentido.

A visão de simulacro do autor é complexa. Veja-se a exemplificação da ideia de mapa. Um mapa

torna-se mais real que o território em si. O território em si tem sempre algo que se está a perder,

enquanto o simulacro, o mapa, será o que restará sempre, esse é que é o verdadeiro real, hiper-

real. Esta ideia de simulação, que advém de Platão, é aqui apurada num sentido genial.

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Pensar na revolução tecnológica à moda de Baudrillard poderíamos levar a dizer que o mundo

real não necessita de telemóveis, de computadores, de emails, de cibermundo, de cibercultura.

Mas podemos viver nele? Não, já não vivemos nesse mundo real, antes numa hiper-realidade

que nos consome, que nos modela, mas que nos fascina e que nos caminha rumo à

conectividade constante.

Associo aqui o pensamento sobre religiões e no seu fundamento à forma da Vida de Pi, dirigido

por Ang Lee em 2012, baseado no livro de Yann Martel, uma maravilha técnica e uma

preciosidade cinematográfica destinada a tornar-se um clássico moderno.

No final do filme, Pi, a personagem central, conta uma versão diferente do relatado ao longo do

filme. Uma versão dolorosa, crua e horripilante. A verdadeira história fica ao critério de cada um,

mas uma é a alegoria da outra. Uma delas é real, mas certamente que a hiper-real é a que

fascina e leva os espectadores a fazerem a sua escolha. Essa é a que passa a ser o verdadeiro

real, até porque “precisamos de um passado visível, um continuum visível, um mito visível da

origem, que nos tranquilize sobre os nossos fins” (Baudrillard, 1981).

Numa entrevista a Baudrillard (1994), em Paris, o próprio referia:

“O virtual é a passagem total a uma realidade absoluta, uma forma de perfeição operacional do

mundo, válida para os meios de comunicação de massa, mas não só, e que põe fim à realidade

ou a ilusão do referencial e do sensível.”

Em suma, “a simulação é eficaz, nunca o real (…) é perigoso desmascarar as imagens já que

elas dissimulam que não há nada por detrás delas” (Baudrillard, 1981). Aponta para ago

direcionado ao sucesso.

Referências:

BAUDRILLARD, J. (1981). Simulacros e Simulação.

BAUDRILLARD, J. (1999). A troca impossível.