Jean Piaget

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Jean Piaget Especialista em psicologia evolutiva e epistemologia genética, filósofo e educador, Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 09 de agosto de 1886, e morreu em Genebra a 16 de setembro de 1980. Desde criança interessou- se por mecânica, fósseis e zoologia. Enquanto terminava seus estudos secundários, trabalhou como assistente voluntário do Laboratório do Museu de História Natural, de Neuchâtel, sob a direção de Paul Godet, especialista em malacologia. Com a morte de Godet, em 1911, continuou trabalhando no laboratório e escreveu vários trabalhos, alguns publicados pelo Museu de História Natural de Genebra, na Lamarck Collection e na Revue Suisse de Zoologie. Ao lado da formação científica em biologia, sentiu-se igualmente atraído pelo que chamou de " demônio da filosofia". Através de seu padrinho, Samuel Cornut, tomou conhecimento da obra de Henri Bergson, especialmente com L'Evolution créatrice (1905), da qual recebeu profunda influência. A filosofia bergsoniana permitiu-lhe imprimir nova direção em sua formação teórica, conciliando sua formação científica com suas disposições especulativas. Licenciou-se em 1915, dedicando-se depois à leitura de Immanuel Kant, Herbert Spencer, Auguste Comte e, na área de psicologia, de William James, Theodore Ribot e Pierre Janet. Por outro lado, sua formação lógica deveu-se a

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Jean Piaget

Jean Piaget

Especialista em psicologia evolutiva e epistemologia gentica, filsofo e educador, Jean Piaget nasceu em Neuchtel, Sua, em 09 de agosto de 1886, e morreu em Genebra a 16 de setembro de 1980. Desde criana interessou-se por mecnica, fsseis e zoologia. Enquanto terminava seus estudos secundrios, trabalhou como assistente voluntrio do Laboratrio do Museu de Histria Natural, de Neuchtel, sob a direo de Paul Godet, especialista em malacologia. Com a morte de Godet, em 1911, continuou trabalhando no laboratrio e escreveu vrios trabalhos, alguns publicados pelo Museu de Histria Natural de Genebra, na Lamarck Collection e na Revue Suisse de Zoologie. Ao lado da formao cientfica em biologia, sentiu-se igualmente atrado pelo que chamou de " demnio da filosofia". Atravs de seu padrinho, Samuel Cornut, tomou conhecimento da obra de Henri Bergson, especialmente com L'Evolution cratrice (1905), da qual recebeu profunda influncia. A filosofia bergsoniana permitiu-lhe imprimir nova direo em sua formao terica, conciliando sua formao cientfica com suas disposies especulativas. Licenciou-se em 1915, dedicando-se depois leitura de Immanuel Kant, Herbert Spencer, Auguste Comte e, na rea de psicologia, de William James, Theodore Ribot e Pierre Janet. Por outro lado, sua formao lgica deveu-se a Arnold Reymond. Nessa poca, escreveu " Esboo de um neopragmatismo" (1916) e, entre 1913 e 1915 tomou contato com os trabalhos de Max Wertheimer e Wolfang Kohler, da escola gestaltista de Berlin. Registrando-se na diviso de cincia da Universidade de Neuchtel, dela recebeu o ttulo de Doutor em Cincias (1918), seguindo depois para Zurique, onde estudou nos laboratrios de psicologia de G.F.Lipps e estagiou na clnica psiquitrica de E. Bleuler. Foi nesse perodo que tomou contato com as obras de S. Freud e C. Jung. Ediane Conceio

Em 1919 ingressou na Sorbonne, onde estudou psicopatologia com Henri Piron e Henri Delacroix. Simultaneamente, estagiou no hospital psiquitrico de Saint' Anne e estudou lgica com Andr Lalande e Ln Brunschvicg. Recomendado por Theodore Simon para trabalhar no laboratrio de psicologia experimental de Alfred Binet, fez pesquisas com o teste de Burt em crianas parisienses e crianas deficientes mentais no hospital da Salpatriere, onde pesquisou a formao do nmero na criana, em colaborao com A. Szeminska. Em 1923, assumiu a direo do Instituto Jean Jacques Rousseau, de Genebra, passando a estudar, sistemticamente, a inteligncia. Desde 1921, lecionou em vrias universidades da Europa, alm de proferir conferncias nos USA, recebendo ali o ttulo de doutor honoris causa. Tambm recebeu esse ttulo da Universidade de Paris, onde lecionou. Esteve no Rio de Janeiro em 1949, como professor-conferencista, recebendo da Universidade do Brasil (hoje UFRJ) o ttulo de doutor honoris causa. Em 1955, com o auxlio financeiro da Fundao Rockfeller, fundou em Genebra o Centro Internacional de Epistemologia Gentica. Jean Piaget foi o responsvel por uma das maiores contribuies no campo da psicologia cientfica contempornea, na rea especfica do comportamento cognitivo. As aplicaes de sua teoria do desenvolvimento encontram-se muito difundidas, no campo pedaggico e na explicao da evoluo da conduta cognitiva. Sua teoria pode ser classificada em duas reas principais: a que procura explicar a formao da estrutura cognitiva, tema central em sua psicologia evolutiva, e a que se desenvolve em torno da epistemologia gentica

Ediane Conceio

A TEORIA BSICA DE JEAN PIAGET

Jos Luiz de Paiva Bello

Desde muito cedo Jean Piaget demonstrou sua capacidade de observao. Aos onze anos percebeu um melro albino em uma praa de sua cidade. A observao deste pssaro gerou seu primeiro trabalho cientfico. Formado em Biologia interessou-se por pesquisar sobre o desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos. As teorias de Jean Piaget, portanto, tentam nos explicar como se desenvolve a inteligncia nos seres humanos. Da o nome dado a sua cincia de Epistemologia Gentica, que entendida como o estudo dos mecanismos do aumento dos conhecimentos. Conceitos fundamentaisno desenvolvimento da inteligncia

A hereditariedade: herdamos um organismo que amadurece em contato com o meio ambiente, uma srie de estruturas biolgicas que favorecem o aparecimento das estruturas mentais. Como conseqncias inferiram que a qualidade da estimulao interferir no processo de desenvolvimento da inteligncia. A adaptao: possibilita ao indivduo responder aos desafios do ambiente fsico e social. Dois processos compem a adaptao, ou seja, a assimilao (uso de uma estrutura mental j formada) e a acomodao (processo que implica a modificao de estruturas j desenvolvidas para resolver uma nova situao). Os esquemas: constituem a nossa estrutura bsica. Podem ser simples, como por exemplo, uma resposta especfica a um estmulo - sugar o dedo quando ele encosta-se aos lbios, ou, complexos, como o modo de solucionarmos problemas matemticos. Os esquemas esto em constante desenvolvimento e permitem que o indivduo se adapte aos desafios ambientais. A equilibrao das estruturas cognitivas: o desenvolvimento consiste em uma passagem constante de um estado de equilbrio para um estado de desequilbrio. um processo de auto- regulao interna.

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A assimilao e a acomodao so mecanismos do equilbrio. De acordo com as possibilidades de entendimento construdas pelo sujeito, ele tende a assimilar idias, mas, caso estas estruturas no estejam ainda construdas, acontece um esforo contrrio ao da assimilao. H uma modificao de hipteses e concepes anteriores que vo ajustando-se quilo que no foi possvel assimilar. o que ele chama de acomodao, onde o sujeito age no sentido de transformar-se em funo das resistncias colocadas pelo objeto do conhecimento.

O desequilbrio , portanto fundamental, pois, o sujeito buscar novamente o reequilbrio, com a satisfao da necessidade, daquilo que ocasionou o desequilbrio.

A inteligncia para Piaget se constri na medida em que novos patamares de equilbrio adaptativo so alcanados. Piaget concluiu sua obra explicitando qual o motor pelo qual este equilbrio se processa, mas, alm disto, Piaget estudou exaustivamente a gnese das estruturas cognitivas nas crianas da sua comunidade. Piaget aborda a inteligncia como algo dinmico, que decorre da construo de estruturas de conhecimento que, enquanto vo sendo construdas, vo se instalando no crebro. A inteligncia, portanto, no aumenta por acrscimo e sim por reorganizao. Para ele o desenvolvimento da inteligncia explicado pela relao recproca existente com a gnese da inteligncia e do conhecimento. Piaget criou um modelo epistemolgico com base na interao sujeito - objeto. Pelo modelo epistemolgico o conhecimento no est nem no sujeito, nem no objeto, mas na interao entre ambos.

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Fonte: Guia Curricular de Matemtica, vol. 1, p. 30

1 - A inteligncia para Piaget o mecanismo de adaptao do organismo a uma situao nova e, como tal, implica a construo contnua de novas estruturas. Esta adaptao refere-se ao mundo exterior, como toda adaptao biolgica. Desta forma, os indivduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exerccios e estmulos oferecidos pelo meio que os cercam. O que vale tambm dizer que a inteligncia humana pode ser exercitada, buscando um aperfeioamento de potencialidades, que evolui "desde o nvel mais primitivo da existncia, caracterizado por trocas bioqumicas at o nvel das trocas simblicas" (Ramozzi-Chiarottino apud Chiabai: 1990: 3).

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2 - Para Piaget o comportamento dos seres vivos no inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento construdo numa interao entre o meio e o indivduo. Esta teoria epistemolgica (epistemo = conhecimento; e logia = estudo) caracterizada como interacionista. A inteligncia do indivduo, como adaptao a situaes novas, portanto, est relacionada com a complexidade desta interao do indivduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interao, mais inteligente ser o indivduo. As teorias piagetianas abrem campo de estudo no somente para a psicologia do desenvolvimento, mas tambm para a sociologia e para a antropologia, alm de permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada em suas descobertas.

3 - No existe estrutura sem gnese, nem gnese sem estrutura (Piaget). Ou seja, a estrutura de maturao do indivduo sofre um processo gentico e a gnese depende de uma estrutura de maturao. Sua teoria nos mostra que o indivduo s recebe um determinado conhecimento se estiver preparado para receb-lo. Ou seja, se puder agir sobre o objeto de conhecimento para inser-lo num sistema de relaes. No existe um novo conhecimento sem que o organismo tenha j um conhecimento anterior para poder assimil-lo e transform-lo. O que implica os dois plos da atividade inteligente: assimilao e acomodao. assimilao na medida em que incorpora a seus quadros todo o dado da experincia ou struturao por incorporao da realidade exterior a formas devidas atividade do sujeito (Piaget, 1982). acomodao na medida em que a estrutura se modifica em funo do meio, de suas variaes. A adaptao intelectual constitui-se ento em um "equilbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodao complementar" (Piaget, 1982). Piaget situa, segundo Dolle, o problema epistemolgico, o do conhecimento, ao nvel de uma interao entre o sujeito e o objeto. E "essa dialtica resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas, empiristas, genticas sem estrutura, estruturalistas sem gnese, etc.... e permite seguir fases sucessivas da construo progressiva do conhecimento" (1974: 52).

4 - O desenvolvimento do indivduo inicia-se no perodo intra-uterino e vai at aos 15 ou 16 anos. Piaget diz que a embriologia humana evolui tambm aps o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas. A construo da inteligncia d-se, portanto em etapas sucessivas, com complexidades crescentes, encadeadas umas s outras. A isto Piaget chamou de construtivismo seqencial.

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A seguir os perodos em que se d este desenvolvimento motor, verbal e mental.

A. Perodo Sensrio-Motor - do nascimento aos 2 anos, aproximadamente. A ausncia da funo semitica a principal caracterstica deste perodo. A inteligncia trabalha atravs das percepes (simblico) e das aes (motor) atravs dos deslocamentos do prprio corpo. uma inteligncia iminentemente prtica. Sua linguagem vai da ecolalia (repetio de slabas) palavra-frase ("gua" para dizer que quer beber gua) j que no representa mentalmente o objeto e as aes. Sua conduta social, neste perodo, de isolamento e indiferenciao (o mundo ele).

B. Perodo Simblico - dos 2 anos aos 4 anos, aproximadamente. Neste perodo surge a funo semitica que permite o surgimento da linguagem, do desenho, da imitao, da dramatizao, etc.. Podendo criar imagens mentais na ausncia do objeto ou da ao o perodo da fantasia, do faz de conta, do jogo simblico. Com a capacidade de formar imagens mentais pode transformar o objeto numa satisfao de seu prazer (uma caixa de fsforo em carrinho, por exemplo). tambm o perodo em que o indivduo d alma (animismo) aos objetos ("o carro do papai foi 'dormir' na garagem"). A linguagem est a nvel de monlogo coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem que respondam as argumentaes dos outros. Duas crianas conversando dizem frases que no tm relao com a frase que o outro est dizendo. Sua socializao vivida de forma isolada, mas dentro do coletivo. No h liderana e os pares so constantemente trocados. Existem outras caractersticas do pensamento simblico que no esto sendo mencionadas aqui, uma vez que a proposta de sintetizar as idias de Jean Piaget, como por exemplo, o nominalismo (dar nomes s coisas das quais no sabe o nome ainda), superdeterminao (teimosia), egocentrismo (tudo meu), etc.

C. Perodo Intuitivo - dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente. Neste perodo j existe um desejo de explicao dos fenmenos. a idade dos porqus, pois o indviduo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento continua centrado no seu prprio ponto de vista. J capaz de organizar colees e conjuntos sem, no entanto incluir conjuntos menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por exemplo). Quanto linguagem no mantm uma conversao longa, mas j capaz de adaptar sua resposta s palavras do companheiro.

Ediane ConceioOs Perodos Simblicos e Intuitivos so tambm comumente apresentados como Perodo Pr-Operatrio.

D. Perodo Operatrio Concreto - dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente. o perodo em que o indivduo consolida as conservaes de nmero, substncia, volume e peso. J capaz de ordenar elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando ento o mundo de forma lgica ou operatria. Sua organizao social a de bando, podendo participar de grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia. J podem compreender regras, sendo fiis a ela, e estabelecer compromissos. A conversao torna-se possvel (j uma linguagem socializada), sem que, no entanto possam discutir diferentes pontos de vista para que cheguem a uma concluso comum.

E. Perodo Operatrio Abstrato - dos 11 anos em diante. o pice do desenvolvimento da inteligncia e corresponde ao nvel de pensamento hipottico-dedutivo ou lgico-matemtico. quando o indivduo est apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. , finalmente, a abertura para todos os possveis. A partir desta estrutura de pensamento possvel a dialtica, que permite que a linguagem se d a nvel de discusso para se chegar a uma concluso. Sua organizao grupal pode estabelecer relaes de cooperao e reciprocidade.

5 - A importncia de se definir os perodos de desenvolvimento da inteligncia reside no fato de que, em cada um, o indivduo adquire novos conhecimentos ou estratgias de sobrevivncia, de compreenso e interpretao da realidade. A compreenso deste processo fundamental para que os professores possam tambm compreender com quem esto trabalhando. A obra de Jean Piaget no oferece aos educadores uma didtica especfica sobre como desenvolver a inteligncia do aluno ou da criana. Piaget nos mostra que cada fase de desenvolvimento apresenta caractersticas e possibilidades de crescimento da maturao ou de aquisies. O conhecimento destas possibilidades faz com que os professores possam oferecer estmulos adequados a um maior desenvolvimento do indivduo. Ediane ConceioAceitar o ponto de vista de Piaget, portanto, provocar turbulenta revoluo no processo escolar (o professor transforma-se numa espcia de tcnico do time de futebol, perdendo seu ar de ator no palco). (...) Quem quiser segui-lo tem de modificar, fundamentalmente, comportamentos consagrados, milenarmente (alis, assim que age a cincia e a pedagogia comea a tornar-se uma arte apoiada, estritamente, nas cincias biolgicas, psicolgicas e sociolgicas). Onde houver um professor ensinando... a no est havendo uma escola piagetiana! (Lima, 1980: 131).

O lema o professor no ensina, ajuda o aluno a aprender, do Mtodo Psicogentico, criado por Lauro de Oliveira Lima, tem suas bases nestas teorias epistemolgicas de Jean Piaget. Existem outras escolas, espalhadas pelo Brasil, que tambm procuram criar metodologias especficas embasadas nas teorias de Piaget. Estas iniciativas passam tanto pelo campo do ensino particular como pelo pblico. Alguns governos municipais, inclusive, j tentam adot-las como preceito poltico-legal. Todavia, ainda se desconhece as teorias de Piaget no Brasil. Pode-se afirmar que ainda limitado o nmero daqueles que buscam conhecer melhor a Epistemologia Gentica e tentam aplic-la na sua vida profissional, na sua prtica pedaggica. Nem mesmo as Faculdades de Educao, de uma forma geral, preocupam-se em aprofundar estudo nestas teorias. Quando muito oferecem os perodos de desenvolvimento, sem permitir um maior entendimento por parte dos alunos.

Referncias Bibliogrficas:

CHIABAI, Isa Maria. A influncia do meio rural no processo de cognio de crianas da pr-escola: uma interpretao fundamentada na teoria do conhecimento de Jean Piaget. So Paulo, 1990. Tese (Doutorado), Instituto de Psicologia, USP. 165 p.

LIMA, Lauro de Oliveira. Piaget para principiantes. 2. ed. So Paulo: Summus, 1980. 284 p.

PIAGET, Jean. O nascimento da inteligncia na criana. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. 389 p.

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