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Jesus, onde estás? Estou aqui! O símbolo como expressão da fé Símbolos da fé cristã Formação de educadores da fé Centros sociais, Escolas e Paróquias

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Jesus, onde estás? Estou aqui!

O símbolo como expressão da fé

Símbolos da fé cristã

Formação de educadores da fé

Centros sociais, Escolas e Paróquias

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A. A dimensão simbólica

A condição simbólica é constitutiva do ser humano, é a matriz ou o «grau ze-

ro» da linguagem que lhe permite apropriar-se do mundo e da realidade, ou

seja, trazê-los à sua presença, fazê-los humanos. O ser humano dá novo senti-

do às relações e objectos, transformando-os em significantes. E deste modo

constitui o mundo do sentido.

Os símbolos na vida de todos os dias

Na antiguidade grega, chamava-se symbolo a dois bocados de uma mesma pe-

ça de cerâmica que era partilhada por dois amigos quando faziam um contra-

to. Assim, quando eles se encontravam, a associação dos dois bocados certifi-

cava o contrato que os ligava: o símbolo era o sinal do laço que os unia.

Um símbolo é um objecto que reúne, que liga, que nos liga ao sentido que da-

mos à nossa existência quotidiana, levando-nos para lá do objecto, da palavra,

do gesto.

Simbólico diz respeito àquelas realidades que, possuindo já o seu próprio sig-

nificado, conduzem interiormente a pessoa até outra realidade correlativa,

mas escondida.

A linguagem simbólica será, então, a que guia a pessoa de um nível de signifi-

cação a outro, um olhar e aproximação à realidade que é tão real como o olhar

do cientista, do economista ou do historiador, que procuram objectivar a reali-

dade para a compreender. Através do olhar simbólico, os objectos deixam de

ser coisas para se transformar em sinais que evocam situações, provocam re-

miniscências e com-vocam para o sentido que incarnam e expressam.

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B. O símbolo e o rito como linguagem da fé

«Quando fizeres o sinal da cruz, fá-lo bem feito. Não seja um gesto acanhado e

feito à pressa, cujo significado ninguém sabe interpretar. Mas uma cruz verda-

deira, lenta e ampla, da testa ao peito, dum ombro ao outro. Sentes como ela

te envolve todo? Recolhe-te bem. Concentra neste sinal todos os teus pensa-

mentos e todos os teus afectos, à medida que o vais traçando da testa ao peito

e dum ombro ao outro. Senti-lo-ás então a penetrar-te todo, corpo e alma. A

apoderar-se de ti, a consagrar-te, a santificar-te. Porquê? É o sinal da totalida-

de, o sinal da redenção. Nosso Senhor remiu todos os homens na cruz. Pela

cruz santifica o homem todo até à última fibra do seu ser. Por isso o fazemos

antes da oração, para que nos recolha e ponha espiritualmente em ordem; fixe

em Deus o nosso pensamento, coração e vontade. Depois da oração, para que

permaneça em nós aquilo que Deus nos deu. Nas tentações, para que Deus nos

fortaleça. No perigo, para que Ele nos proteja. No acto da bênção, para que a

plenitude da vida divina penetre a alma, a torne fecunda e consagre quanto ne-

la há. Pensa nisto sempre que fazes o sinal da cruz. É o sinal mais santo que

existe. Fá-lo bem: devagar, amplo, conscientemente. Envolverá então todo o teu

ser, corpo e alma, pensamento e vontade, sentido e sentimentos, actos e ocupa-

ções, e tudo nele ficará robustecido, assinalado, consagrado na força de Cristo,

em nome de Deus uno e trino». (R. GUARDINI, Sinais Sagados)

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I. A Palavra e o Rito

Todo o nosso mundo interior, que é o pensar, o querer e o sentir, só pode expri-

mir-se, dizer-se, fora de nós e ser transmitido aos outros pela palavra e pelos

sinais. No entanto, a palavra é já um sinal, e o sinal é também, em certo modo

palavra. Ambos dizem, ambos significam o que está dentro de nós e que nós

queremos exprimir para o transmitirmos aos outros.

a) A palavra

A palavra é a expressão vocal que damos ao nosso pensamento. Antes de ser

voz na boca, a palavra já existia no pensamento. A palavra é, de facto, o primei-

ro processo, processo maravilhoso, de nos exprimirmos. Mas a sua experiência

dirige-se mais diretamente à inteligência. Procura em primeiro lugar comuni-

car ao outro o nosso pensamento. Apenas precisa da língua de quem fala e do

ouvido de quem ouve. Apesar de maravilhoso, a palavra, por si só, é um meio

um tanto austero, por vezes até fatigante. O canto amplia a palavra e como que

faz desabrochar, em música, toda a riqueza sonora que já nela andava contida.

A palavra tende espontaneamente a ganhar corpo, a tornar-se visível, a encar-

nar. E foi assim que o Filho de Deus encarnou. Não bastava que Ele fosse Pala-

vra. Convinha que a Palavra Se fizesse carne, se tornasse sinal que não falasse

apenas à inteligência dos homens, mas que lhe entrasse pelos olhos, Se tornas-

se Palavra visível e não apenas audível, e capaz de ser tocada pelas mãos huma-

nas.

A palavra é elemento fundamental na vida da Igreja, mas tende a encontrar

continuidade e complementaridade nos sinais: os ritos.

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b) O rito

A palavra rito pode ter vários sentidos. A

palavra é, em certo modo, sinal. Mas o ri-

to, o sinal-acção, pertence a uma outra or-

dem, diferente da palavra. Enquanto a pa-

lavra fala sobretudo à inteligência e comu-

nica uma noção, uma ideia, o sinal dirige-

se principalmente à sensibilidade e des-

perta o afecto. A palavra faz nascer no

outro um pensamento; o sinal gera nele

um sentimento, toca-lhe na afectividade, diria mesmo, fala-lhe ao coração.

Coração não exclui aqui inteligência, o pensamento, o equilíbrio mental, mas

dilata esse pensamento, abre o interior do homem ao que está para além do

âmbito do pensar; leva-o a querer, impele-o a amar. O sinal diz mais do que a

simples palavra, diz aquilo que a palavra não consegue exprimir. Faz compre-

ender, não apenas com a inteligência, mas com o homem todo.

Palavra e rito, duas maneiras do homem se exprimir e de se comunicar, que

se completam, que se prolongam uma na outra, que fazem caminhar desde o

dizer ao fazer, desde o pensar ao sentir, desde o possuir na inteligência até ao

comungar no coração.

Numa perspectiva sociológica, os ritos – que são uma forma de símbolos – são

momentos nos quais uma comunidade se representa a si mesma, revive as

suas próprias convicções, crença e valores, olha-se como a um espelho, procla-

ma, celebra e confirma o seu próprio programa.

Através dos ritos, símbolos, sinais, passamos do dizer ao fazer, da palavra dita

à palavra feita. Todo o sinal, pelo facto de o ser, ultrapassa sempre o seu as-

pecto imediato. Se vejo um sinal de trânsito na estrada, por exemplo, um tri-

ângulo de vértice para baixo, não me fico a dizer: «aquilo é um triângulo em

tal posição». Isso é o que ele é materialmente como figura geométrica. Mas se

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o entendo como sinal, entendo também o que ele quer significar, e digo: «vai

aparecer uma estrada com prioridade sobre esta em que eu vou e, por isso,

vou tomar as devidas precauções». Aquele triângulo não é apenas uma figura

geométrica; é um sinal de trânsito. Mas é um sinal convencional. Tem aquela

significação porque assim se combinou que fosse. É um sinal que apenas ser-

ve para fornecer uma informação; por si mesmo não realiza coisa alguma.

Mas se eu chegar a Fátima e vir uma família a descer o recinto com uma vela

acesa na mão, compreendo que se trata também de um sinal, mas não pura-

mente convencional, nem de um sinal para informar. Ele é um sinal proclama-

tivo do estado de alma da família, no caso de uma atitude de fé, que não po-

de ficar escondida no coração, mas que quer ser dita e proclamada para ex-

primir mais do que um instrumento de iluminação (a vela). Quer proclamar

uma atitude de fé e de acção de graças. E se aquela família for a cantar ou re-

zar, aquelas palavras desfazem qualquer equívoco: aquele sinal é um sinal sa-

grado.

Símbolo significa literalmente «pôr junto». Mas mais que pôr juntos significa

voltar a pôr juntos. Símbolo não cria unidade, mas restabelece-a. Assim como

o homem necessita, para a unidade do seu ser, espiritualizar o que é corporal,

pela mesma razão necessita «corporalizar» o que é espiritual. O símbolo per-

mite que o homem reúna em si algumas realidades associadas mas separadas

pela sua diversa natureza.

II. Função do símbolo

No simbolismo encontramos uma nova relação com a realidade e, sobretudo,

descobrimos uma possibilidade de comunicar e de nos comunicarmos com o

que nos rodeia, muito mais profundamente do que nos é possível de outro mo-

do.

O simbolismo religioso é a expressão da necessidade mais íntima da pessoa

humana de transcender os limites do próprio eu e de abrir-se a novas experi-

encias dificilmente sistematizáveis a nível racional. O homem não é somente

um ser individual e racional, mas também um ser social e simbólico que, por

causa da sua corporeidade e da sua natureza social, se exprime com palavras e

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gestos e capta a realidade também através destes dois factores.

a) Relação entre palavra e rito na vida de Jesus

Na véspera da sua morte, falou prolongadamente com os discípulos, disse-lhes

belíssimas palavras, das mais comoventes, e tão íntimas que os discípulos senti-

ram o coração a abrir-se-lhes, a ponto de Lhe dizerem: «Agora falas abertamen-

te e já não usas linguagem enigmática» (Jo 16,29). Parece que a palavra teria

sido bastante. E, depois, toda aquela tragédia da prisão, da condenação à mor-

te, da crucifixão, parece ter sido bastante para eles nunca mais esquecerem

aqueles momentos. Todavia, Jesus, que era a Palavra, mas feita carne, tomou o

pão, tomou a taça com vinho, deu graças, entregou-lhes e disse: «Fazei isto em

memória de Mim» (Lc 22, 19). Não bastava a palavra, não bastava que eles

soubessem; era preciso que fizessem. Além da palavra era necessário o rito,

para que a palavra se não calasse após ter sido dita, mas ficasse a ecoar, a ser

vista, presenciada, tornada, comida e bebida, para ser mais interiorizada e

fosse mais fundo do que a inteligência; era preciso que ela fosse entendida e

guardada no coração. O rito completa a palavra.

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C. Os símbolos da Fé

I. Luz | Círio Pascal | velas

Na liturgia, as luzes e as velas que se acendem querem significar que Deus é a

nossa luz, Aquele que nos arranca das trevas. A liturgia da vigília pascal exprime

-o fortemente. Um fogo arde à entrada da igreja, fogo no qual se acende o círio

pascal, símbolo de Cristo Ressuscitado. E do círio pascal, a luz é transmitida pe-

la assembleia, de vela em vela, de pessoa a pessoa. Quando se acende uma ve-

la numa igreja, ou quando rezamos com uma criança, tendo uma vela acesa, fa-

zemo-la entrar em todo o mistério de Deus que é luz.

II. Cruz

A cruz é o símbolo primordial dos cristãos. Contudo

só a partir do século IV é que ela se foi convertendo,

a pouco e pouco, no símbolo preferido para repre-

sentar Cristo e o seu mistério de salvação. Foi com a

descoberta da verdadeira cruz de Cristo, em Jerusa-

lém no ano 326, por Santa Helena, mãe do impera-

dor Constantino, que foi crescendo a atenção dos

cristãos relativamente à cruz. As primeiras represen-

tações pictóricas e esculturais da cruz mostram um

Cristo glorioso, com uma túnica larga e com coroa

real: está na cruz, mas é vencedor, é O Ressuscitado.

Só mais tarde, com a espiritualidade da Idade Mé-

dia, se representará Cristo no seu estado de dor e de sofrimento.

A cruz é uma verdadeira cátedra a partir da qual Cristo nos anuncia a grande li-

ção do cristianismo. A cruz resume toda a teologia sobre Deus, sobre o mistério

da salvação em Cristo, sobre a vida cristã: apresenta-nos um Deus transcenden-

te, mas próximo; um Deus que quis vencer o mal com a sua própria dor; um

Cristo que é Juiz e Senhor e simultaneamente Servo, que quis chegar à total en-

trega de Si mesmo, como imagem plástica do amor e da condescendência de

Deus; um Cristo que na Sua Páscoa – morte e ressurreição – deu ao mundo a

reconciliação e a Nova Aliança entre a humanidade e Deus. Esta cruz ilumina a

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nossa vida, dá-nos esperança. Ensina-nos o caminho. Assegura-nos a vitória de

Cristo pela renúncia a si mesmo e compromete-nos a seguir o mesmo estilo de

vida para chegar à nova existência do Ressuscitado.

Na liturgia a cruz preside à celebração – está colocada perto do altar ou sobre

ele - e encabeça a procissão de entrada na celebração da eucaristia.

III. Altar

Mesa sobre a qual é celebrada a Eucaristia. Por sua

vez, a Eucaristia é simultaneamente memorial da

última ceia de Jesus e da sua Páscoa: da entrega

até fim, na cruz, e da sua ressurreição. Assim, o al-

tar é designado mesa do banquete pascal (última

ceia) e mesa do sacrifício (entrega). A Eucaristia é

acção de graças e o altar é o lugar central dessa ac-

ção.

IV. Pão e vinho

A refeição é uma ocasião privilegiadas de encontro: para a família nuclear ou

para a família alargada. Os amigos encontram-se à volta de uma refeição. O

pão é partilhado à refeição. Por seu turno o vinho é a bebida festiva por exce-

lência: fala da alegria e da vitalidade e é considerado como o sinal da felicida-

de, prosperidade e fecundidade.

Na última ceia com os seus discípulos,

«Enquanto comiam, *Jesus+ tomou um pão e, depois de pronunciar a bênção,

partiu-o e entregou-o aos discípulos dizendo: «Tomai:

isto é o meu corpo.» Depois, tomou o cálice, deu gra-

ças e entregou-lho. Todos beberam dele. E Ele disse-

lhes: «Isto é o meu sangue da aliança, que vai ser der-

ramado por todos. Jesus partilhou o pão e o vi-

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nho» (Mc 14, 22-24).

Estamos no contexto da ceia pascal judaica que previa a bênção e partilha do

pão e do vinho entre os comensais.

Além do simbolismo que pão e vinho têm em si mesmos, os dois juntos – pão e

vinho – formam um binómio particularmente feliz para exprimir a doação de

Cristo aos fiéis na Eucaristia. Ambos são alimento para a vida, procedem do

mundo criado e do trabalho do ser humano, são dom de Deus e símbolo da ale-

gria do Reino (da presença de Deus entre nós) e da Vida Nova que Cristo nos co-

munica, assim como da fraternidade que congrega a Igreja.

Além disso, entre os dois há uma complementaridade muito expressiva que se

pode entender facilmente com uma mera justaposição de conceitos:

Pão Vinho acalma a fome

remete para o trabalho

assegura a subsistência

partilhado, expressa fraternidade

pode significar a entrega

sublinha a dimensão quotidiana

da vida

Cristo identificou-o com o Seu Corpo

comendo-o, unimo-nos a Cristo

mata a sede

provoca alegria

enche de inspiração

partilhado, fala de amizade

e de aliança

pode significar o sacrifício

sublinha a dimensão festiva da vida

Cristo identificou-o com o Seu sangue

bebendo-o, unimo-nos a Cristo

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V. Água | Pia baptismal

A água é o tesouro mais precioso do nosso planeta. Sem água não há vida. A

água mata a sede, lava e purifica; é fonte de vida para os campos, … De entre

os vários simbolismos da água nas diferentes culturas ou religiões, o mais co-

mum e espontâneo é o de purificação espiritual. A água converteu-se facil-

mente em sinal de pureza interior do ser humano.

No Baptismo cristão a água tem o significado de purificação, remete-nos para

o perdão dos pecados e é símbolo de vida e de mor-

te: da água emana a vida, mas também causa a mor-

te quando aparece com uma força incontrolável. O

acento é colocado na dimensão positiva, como fonte

de vida: renascer com Jesus Cristo para uma vida no-

va, sendo seu discípulo, assumindo o mesmo estilo

de vida dele, o que implica deixar de lado tudo o que

impede de assumir esse estilo de vida. Assim o ex-

pressa S. Paulo: «sepultados com Ele no Baptismo,

foi também com Ele que fostes ressuscitados, pela fé

que tendes no poder de Deus, que o ressuscitou dos

mortos» (Cl 2, 12). O gesto central do Baptismo que

exprime esta realidade é o banho, que no início da

Igreja constava de uma tripla imersão.

VI. Bom pastor

O modelo mais vulgarizado para a representação de Cristo até ao século IV foi

o de Jesus Bom Pastor, mercê da sua profundidade simbólica.

Na Antiguidade, tal como nas sociedades primitivas, uma das principais fontes

de riqueza era a pastorícia, fonte de alimento e de matéria-prima para a con-

fecção de agasalhos. A relevância desta actividade e a afinidade de funções

suscitou a identificação entre a figura do dirigente do povo e a figura do pas-

tor. Tal como o pastor guia as suas ovelhas em busca das melhores pastagens

para assegurar o seu alimento e as defende dos ataques dos predadores, tam-

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bém o chefe de uma comunidade tem por missão proteger e assegurar o susten-

to de todos os seus membros.

Nas representações pictóricas e escultóricas paleocristãs a figura de Cristo apa-

rece como um jovem Pastor, normalmente vestido com uma túnica sem mangas

que lhe cobre apenas o ombro esquerdo, segurando com uma mão o bordão,

símbolo da condução. Preso à cintura ostenta o bornal. Na outra mão, nalguns

casos, tem um recipiente para ordenhar. Sustenta um cordeiro sobre os ombros,

que agarra com uma ou com as duas mãos. Nas pinturas, a figura do pastor é la-

deada por ovelhas e integra-se numa paisagem, representada de forma muito

sumária.

Para os cristãos primitivos o Bom Pastor converte-se na figura religiosa soberana

para sintetizar a ideia da salvação e figurar Jesus como o Messias Salvador. Ele é

o condutor e protector das ovelhas, identificadas como sendo os fiéis ou as suas

almas, a quem transmite os seus ensinamentos e alumia no caminho para a

eternidade. Um conteúdo simbólico que era facilmente descodificado pelos cris-

tãos, o que justifica a importância que este modelo iconográfico alcançou, apa-

recendo representado na maioria das catacumbas e sarcófagos. Existem igual-

mente alguns epitáfios com este tipo de figura, e aparecia também em meda-

lhões e lucernas da época, objectos móveis que contribuíram para a sua divulga-

ção. As poucas esculturas de vulto que chegaram até nós representam na maio-

ria o Bom Pastor. No Dicionário de Arqueologia Cristã e Liturgia são inventaria-

das 337 imagens do Bom Pastor.

Uma presença tão vasta que nos permite inferir que a figura do Bom Pastor no

período paleocristão ocupava a posição e importância que na actualidade é con-

sagrada à imagem de Cristo Crucificado.

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VII. Peixe

O peixe surgiu com tripla simbologia: na vertente semântica, ICHTHYS (peixe,

em grego) codifica uma frase que é uma máxima fulcral na espiritualidade cris-

tã – Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador; na sua simbologia material correspon-

dia à representação do próprio Cristo; mercê da sua vivência em ambiente

aquático a figura do peixe era também relacionada com o sacramento do bap-

tismo.

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D. Despertar a criança para a linguagem simbólica

O despertar da criança para a espiritualidade assenta inevitavelmente na sua

capacidade simbólica segundo o estádio de desenvolvimento em que se encon-

tra. A introdução à linguagem simbólica como expressão da sua interioridade

requer que lhe sejam proporcionadas experiências de deslumbramento, con-

templação ou celebração. Pela confiança a criança acredita e acredita para

além do que vê.

Os gestos, as figuras religiosas, as acções, os símbolos, tais como como o beijo,

a saudação, a postura gestual, a oferta, etc. são linguagem sensorial que a cri-

ança irá associando a atitudes básicas e relacionando com o espiritual e o reli-

gioso.

Para rezar, importa recorrer à expressão simbólica, a partir daquilo que a crian-

ça vive, de modo a que ela ligue a sua experiência de vida à sua experiência de

oração.

Familiarizar a criança com os símbolos da fé cristã introdu-la na linguagem bí-

blica, permite-lhe aproximar-se do mistério de Deus e entrar nas expressões

litúrgicas da Igreja.

Para esta iniciação, pode-se partir de alguns símbolos aos quais as crianças já

são sensíveis, como, por exemplo, o da luz. As crianças gostam do fogo, de

acender um fósforo, uma vela. Têm medo do escuro: à noite pedem que haja

um pouco de luz, para não ficarem na total escuridão. Elas sabem também que

a luz ilumina as trevas.

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