Jezabel em tiatira. apocalipse 2.18 a 29. Compilação de angela natel

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Compilação realizada por Angela Natel a respeito de Apocalipse 2:18-29, com base em pesquisa em dicionários, enciclopédias bíblicas, comentários bíblicos e materiais exegéticos, a fim de identificar, da melhor e mais fiel maneira, o real sentido de 'Jezabel' neste texto, combatendo o falso ensino a respeito da existência de um suposto 'espírito de Jezabel'. Dessa forma, pretende-se realizar um conserto da época e de todas as vezes que se ensinou erradamente a respeito desta doutrina, e busca-se corrigir o erro através da divulgação de material de confiança, que se restrinja ao significado do texto bíblico somente, sem deduções, invenções ou manipulações da imaginação humana. www.angelanatel.wordpress.com lioness-tocadaloea.blogspot.com guardiadaverdade.blogspot.com https://www.facebook.com/pages/Angela-Natel/137128436426391

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JEZABEL EM TIATIRA - APOCALIPSE 2.18-29

Compilação de Angela Natel

“Ao anjo da igreja em Tiatira escreva: Estas são as palavras do Filho de Deus,

cujos olhos são como chama de fogo e os pés como bronze reluzente.

Conheço as suas obras, o seu amor, a sua fé, o seu serviço e a sua

perseverança, e sei que você está fazendo mais agora do que no princípio.

No entanto, contra você tenho isto: você tolera Jezabel, aquela mulher que se

diz profetisa. Com os seus ensinos, ela induz os meus servos à imoralidade

sexual e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos.

Dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua imoralidade sexual, mas ela

não quer se arrepender.

Por isso, vou fazê-la adoecer e trarei grande sofrimento aos que cometem

adultério com ela, a não ser que se arrependam das obras que ela pratica.

Matarei os filhos dessa mulher. Então, todas as igrejas saberão que eu sou

aquele que sonda mentes e corações, e retribuirei a cada um de vocês de

acordo com as suas obras.

Aos demais que estão em Tiatira, a vocês que não seguem a doutrina dela e

não aprenderam, como eles dizem, os profundos segredos de Satanás, digo:

não porei outra carga sobre vocês;

tão-somente apeguem-se com firmeza ao que vocês têm, até que eu venha.

Àquele que vencer e fizer a minha vontade até o fim darei autoridade sobre as

nações.

"Ele as governará com cetro de ferro e as despedaçará a um vaso de barro"

Eu lhes darei a mesma autoridade que recebi autoridade de meu Pai. Também

lhe darei a estrela da manhã.

Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.”

(Apocalipse 2:18-29 - NVI)

“A cidade menos importante entre as sete mencionadas no livro, Tiatira

era um centro urbano comercial situado no rio Lico (não é o mesmo de

Colossos e Laodiceia), a 64 quilômetros a sudeste de Pérgamo pela estrada de

Sardes. Quase nada foi escrito sobre a cidade nas fontes antigas, visto que a

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moderna cidade de Akhishar está em seu lugar, poucas escavações

arqueológicas têm sido feitas ali. Consequentemente, sabemos menos sobre

Tiatira do que sobre as outras cidades da Ásia Menor. Ela foi fundada no

terceiro século a.C., como um posto militar, por Seleuco I (embora tivesse

existido ali um pequeno povoado antes), a fim de ser uma cidade-tampão para

se proteger de seu vizinho, Lisímaco. Pérgamo assumiu o controle de Tiatira

em 262 a.C. e Roma, em 190 a.C. Por ser uma estratégica cidade de fronteira

durante o primeiro século de sua vida, ela experimentou sofrimento e

devastação causados pelas forças invasoras.

Apesar de as revoltas terem diminuído devido à presença dos romanos a

partir de 190 a.C., Tiatira ainda era militarmente estratégica, portanto, foi

frequentemente perturbada por políticas locais.

Até o primeiro século a.C. a cidade teve pouca paz, mas quando a pax

romana finalmente chegou, Tiatira estava bem situada nas rotas comerciais

para aproveitar as oportunidades de comércio e de manufatura. No tempo em

que a carta foi escrita, a cidade era relativamente desconhecida, mas estava a

caminho da prosperidade, alcançada no segundo e terceiro séculos. Tiatira era

especialmente conhecida pelo seu grande número de associações de classe

(as guildas). A maioria das cidades no mundo greco-romano concentrava-se

nessas associações, mas, em Tiatira, elas tinham importância especial (as

mais frequentemente mencionadas nas inscrições eram as dos sapateiros, dos

produtores e vendedores de roupas tingidas e dos artesãos de cobre). Hermer

(1986: 107-8) acredita que isso ocorria porque, em toda sua história, os

negócios proviam uma função auxiliar para os militares em Tiatira, que era uma

cidade com guarnição. Cada profissional (mercadores, curtidores de couro,

oleiros, padeiros, trabalhadores com lã e com linho, vendedores de roupas,

diversos metalúrgicos etc) fazia parte de uma ‘associação’ e, ainda que isso

não fosse obrigatório, poucas pessoas trabalhavam por conta própria, pois as

associações eram centros da vida social e do comércio. De fato, tanto física

quanto socialmente, elas eram o coração da vida civil. As cidades tendiam a se

organizar em quarteirões, e cada associação controlava sua região de

‘quarteirões’. Lídia, uma ‘vendedora de tecidos de púrpura’ e possivelmente

patrocinadora da igreja em Filipos (At.16:12-15), veio de Tiatira, conhecida por

suas tintas de tecidos. A vida religiosa dessa cidade também era influenciada

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por essas associações profissionais, pois cada uma tinha o próprio deus (ou

deusa) padroeiro, e muitas de suas festas tinham um caráter religioso. A

pressão sobre os cristãos para participarem da vida idólatra do povo estava

provavelmente ligada às associações, já que suas festas eram o centro da vida

social (e comercial) da cidade. A recusa em delas participar implicava a perda

tanto da simpatia quanto dos negócios.

O principal deus adorado em Tiatira era Apolo, o deus sol e filho de Zeus

(ligado ao deus sol Tirimnos, da Lídia). Havia pouca – se é que havia –

adoração ao imperador (apesar de alguns suporem que isso ocorresse porque

Apolo era também o deus padroeiro do imperador, que era tido como um ‘filho

de Zeus’). A população era diversificada, constituída de várias nacionalidades.

Ainda que tenhamos pouco registro da presença judaica na cidade, o fato de

que Lídia era ‘temente a Deus’ (At.16:14) pode indicar uma pequena população

judaica em Tiatira (caso ela tenha se convertido ali). A maior parte da adoração

estava ligada ao templo de Apolo (havia também um templo de Ártemis e um

santuário de Sambate, uma das sibilas) ou às associações de classe.”1

“Tiatira (atual Akhisar), cidade da província da Ásia, na fronteira da Lídia

e da Mísia, não tem uma história ilustre e é poucas vezes mencionada pelos

escritores antigos. Foi fundada por Selêuco I (311-280 a.C.) como posto militar

avançado. As moedas indicam que, por estar situada numa estrada importante,

que ligava dois vales de rios, Tiatira foi cidade-fortaleza por muitos séculos.

Sua antiga divindade era uma figura Anatólia em forma de guerreiro armado

com um machado de batalha e montado num cavalo de guerra. Uma curiosa

moeda retrata uma divindade feminina com uma coroa militar provida de

seteiras.

A cidade de Tiatira era um centro de comércio, e seus relatos preservam

referências a companhias de comércio em maior número que os de qualquer

outra cidade asiática. Lídia, que Paulo encontrou em Filipos, proveniente de

Tiatira, era uma vendedora de ‘púrpura’, produto da raiz de uma planta tintorial

(At.16:14). É curioso encontrar outra mulher, Jezabel, apelidada assim por

causa da princesa que com o casamento selou a parceria comercial de Acabe

com os fenícios e que liderava um partido liberal na igreja de Tiatira (Ap. 2: 20-

1 Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, pp.167-168.

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24). A oferta de sociedade nas companhias comerciais induzia os cristãos de

Tiatira a serem transigentes e a abrir a porta para muitas tentações. Tiatira

exerceu um papel significativo na história posterior da igreja.” 2

“Tiatira sediava um culto maior a Apolo, filho de Zeus e divindade

associada à profecia e ao sol. O imperador era ligado a Apolo e pode ter sido

cultuado em Tiatira como manifestação terrena dele. Embora o trabalho em

bronze não fosse privilégio de Tiatira, alguns estudiosos também destacam a

associação dos trabalhadores em bronze daquela cidade”.3

“As associações de profissionais detinham considerável poder e

combinavam algumas das características dos atuais sindicatos trabalhistas

com elementos religiosos. Cada associação possuía sua própria divindade

protetora, festas e festivais sazonais. Para atuar em determinadas áreas de

trabalho, era preciso pertencer a uma associação e participar de suas reuniões

e cerimônias. As reuniões ocorriam, com frequência, em templos pagãos onde

animais eram oferecidos a deuses e depois consumidos pelos membros da

associação. Para os cristãos, tais práticas representavam, evidentemente, um

dilema. Se não participassem dessas festas e cerimônias, não poderiam

trabalhar. Se participassem, seriam infiéis ao Senhor”.4

2:18 – “Esse trecho é o único lugar no livro em que o título ‘Filho de

Deus’ é usado [...] e a razão mais provável é a centralidade que Apolo, filho de

Zeus, ocupa em Tiatira. É Jesus, não Apolo, o verdadeiro Filho de Deus (isso

também explica a citação de Sl.2:9 em Ap.2:27. Esse título é comum no

evangelho de João [...], implicando a majestade e divindade, e fornece uma

importante mensagem a esta fraca igreja para que se concentre no verdadeiro

‘Filho de Deus’. [...] A descrição do ‘metal que brilha’ remete a uma das

principais associações profissionais da cidade. [...] O ‘metal brilhante’ [...] era

uma liga de cobre e zinco, um tipo de metal mais puro e mais refinado

produzido pela associação de metalurgia local para o exército de Tiatira. Assim

há aqui provavelmente mais uma oposição ao deus padroeiro local Apolo, ali

retratado, muitas vezes como deus guerreiro montado sobre um cavalo e

2 Bíblia de estudo arqueológica NVI, nota de Apocalipse 2.18-29 da página 2049.

3 Comentário Bíblico Atos – Novo Testamento. Craig S. Keener. Belo Horizonte: Editora Atos, 2004,

p.795. 4 Comentário Bíblico Africano. Tokunboh Adeyemo. São Paulo: Mundo Cristão, 2010, p.1591.

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empunhando um machado de guerra de lâmina dupla. É Jesus o verdadeiro

guerreiro divino e seu poder logo será experimentado pela igreja”.5

Jezabel: “esposa de Acabe, rei de Israel (874-853 a.C.), era filha de

Etbaal, rei dos sidônios. Foi uma devota de Baal-Melcarte, o deus da Fenícia (1

Reis 18:19). Encorajou Acabe a construir santuários para o culto a esse deus e

trouxe centenas de sacerdotes e profetas dessa religião para Israel. Ela

perseguia os profetas do Senhor, e mandava matar aqueles que falassem

contra seus atos de idolatria (1 Reis 18:4). Seu principal oponente era o profeta

Elias (1 Reis 18:21-46). Quando Jeú ascendeu ao trono, limpou a casa de

Acabe do reino. Jezabel foi lançada da torre do palácio e atropelada pela sua

carruagem. Os cães lançaram-se sobre seu corpo, não deixando nada para ser

enterrado (2 Reis 9:30-37).

Em Apocalipse 2 o nome Jezabel é dado a uma profetisa ou a um grupo

da igreja em Tiatira que encorajava a idolatria e a imoralidade. Evidentemente,

esse nome já era um símbolo de apostasia” (A.W.W.)6

“O nome Jezabel tornou-se símbolo de alguém que encorajava falsas

crenças e adoração (não era o nome verdadeiro de uma mulher; ninguém

batizaria sua filha com o nome de uma mulher tão infame – 2 Reis 9:22). [...]

eles pecaram tolerando esses erros e permitindo que fossem disseminados.

Eram culpados por permitir que a igreja fosse comprometida e por não

protegerem os fracos na fé. Os ensinamentos de Jezabel, como a prostituta da

Babilônia (Ap.17) levaram os cristãos a se envolverem em idolatria espiritual e

fornicação. A Jezabel foi dada a oportunidade de se arrepender, mas se ela

não o fizesse, ela e seus seguidores seriam destruídos”.7

“A ‘Jezabel’ bíblica não era profetiza, mas o nome aparece aqui com as

implicações relacionadas a essa significação (para falsa profetiza, cf. Ne.6:14;

Ez. 13:17-19). Jezabel tinha a seu serviço novecentos profetas (1 Reis 18:19),

e induziu o povo de Deus à idolatria [...] Ela foi acusada de prostituição, uma

acusação realmente negativa contra a esposa de um rei (o termo

provavelmente tinha sentido espiritual, significando alguém que desviou Israel

5 Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, pp.169-170.

6 Dicionário Bíblico Wycliffe (Charles F. Pfeiffer, Howard F. Vos e John Rea), Rio de Janeiro: CPAD, 2009,

p. 1051. 7 The IVP Women’s Bible Commentary. Catherine Clark Krueger and Mary J. Evans. USA: IVP, 2001,

p.822, tradução de Angela Natel.

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de seu compromisso com Deus), e de bruxaria, sem dúvida nenhuma por seu

envolvimento clandestino em cultos pagãos (2 Reis 9:22). Como meretriz, ela

se torna o protótipo do império iníquo dos capítulo 17 e 18.

Alguns estudiosos acreditam que Tiatira era uma das cidades asiáticas

com um oráculo da Sibila; esse culto tencionava envolver profetizas no estilo

grego, e suas formas literárias acabaram sendo usadas pelo judaísmo da

Diáspora. Os oráculos sibilinos judeus podem, de qualquer forma, ter

influenciado o estilo e pensamento de ‘Jezabel’. Fontes cristãs posteriores

mencionam com frequência as profecias da Sibila.

As concessões ao pecado aqui (como em 2:14) talvez estejam

relacionadas com o culto imperial, embora tais concessões fossem menos

destacadas em Tiatira do que em algumas cidades previamente mencionadas.

Sabe-se que o culto imperial, na Ásia Menor, empregou algumas sacerdotisas

no primeiro século; mas mesmo que Jezabel defendesse alguma concessão

semelhante com o culto, é improvável que ela tivesse alguma credibilidade

junto aos cristãos enquanto atuasse como sacerdotisa do culto.”8

“A líder desse movimento é uma ‘mulher’ [...] ‘que se diz profetisa’. Em

outras palavras, ela afirma que seu ensino é uma mensagem direta de Deus. É

possível que a expressão signifique que seu ensino não era sistemático ou

formal, mas se dava por meio de oráculos (‘profecias’) e pronunciamentos. O

dom da profecia era essencial para a igreja primitiva, e os profetas eram

contados entre os líderes (Ef.4:11; 1 Co.12:28). As mulheres tinham permissão

para profetizar (1 Co. 11:5) e eram reconhecidas entre os profetas (At.21:9). Ao

mesmo tempo, havia muitos falsos profetas no AT (a própria Jezabel tinha

cerca de novecentos – 1 Rs.18:19).

Até hoje nunca houve uma identificação definitiva dessa mulher, apesar

das várias tentativas propostas. Com base numa variante textual, alguns [...] a

tem identificado como ‘sua esposa, Jezabel’, isto é, a esposa do líder da igreja

de Tiatira. Porém, tanto a variante como essa possibilidade são improváveis

[...]. Outros têm sugerido que ela era Lídia, a vendedora de roupas de púrpura

de Tiatira, pois tinha a experiência de negociante para entender a pressão

econômica que levou a esse movimento.Todavia, essa é uma razão muito frágil

8 Comentário Bíblico Atos – Novo Testamento. Craig S. Keener. Belo Horizonte: Editora Atos, 2004,

p.795.

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para fundamentar tal identificação. Alguns estudiosos (Alford) têm, portanto,

interpretado ‘Jezabel’ como uma referência puramente simbólica ao movimento

como um todo, em vez de remeter a determinada pessoa, mas a linguagem

aqui aponta de modo mais provável para um líder específico. [...] Vários

exegetas argumentam a favor da sibila Sambate, que tinha um santuário fora

da cidade. Ela seria então uma profetisa pagã de grande influência, devida ao

desenvolvimento do sincretismo na igreja de Tiatira. Há evidência, de que

alguns pensadores judeus haviam emprestado o estilo dos oráculos sibilinos, o

que poderia ter influenciado o movimento nicolaíta em Tiatira, também a partir

de uma orientação sincrética. Embora seja intrigante, Hemer (1986: 117-19) já

demonstrou que os dados estão abertos para discussão. A origem sibilina de

Jezabel não passa de uma possibilidade interessante. Concluindo, nenhuma

identificação certa para ‘Jezabel’ pode ser feita. Somente podemos especular

que era uma mulher cujas declarações proféticas fizeram dela a líder do

movimento (mais provavelmente nicolaíta, como em Éfeso e em Pérgamo) em

Tiatira, ainda que deSilva (1992: 294) creia que Jezabel fosse provavelmente

uma mulher de alta posição, que abriu sua casa para os profetas nicolaítas e

os sustentava.”9

“Jezabel incitou o rei Acabe a fazer concessões e a ‘prostituir-se’ através

da adoração a Baal (1 Rs.16:31,32; 21:25,26; 2 Rs.8:18; 9:22). Da mesma

forma, os falsos mestres na igreja argumentavam que era permissível algum

grau de participação nos aspectos idólatras da cultura de Tiatira. Embora a

adoração a Baal e alguns cultos pagãos na época de João incluíssem a

fornicação literal, a ênfase aqui é na fornicação espiritual, apoiada por 2

Rs.9:22 LXX (tradução grega do Antigo Testamento, chamada Septuaginta),

em que porneia (‘imoralidade’) é aplicada a Jezabel para enfatizar seus

esforços em conduzir Israel à idolatria sincretista (1 Rs16:31,32). A equação do

verbo porneuo e porneia, em 2:20 e 21, com o verbo moicheuo (‘cometer

adultério’) mostra que um conceito espiritual mais abrangente está incluído,

uma vez que em 2:22 isso conota claramente o sentido metafórico dos crentes

casados com Cristo, mas que flertam em intercurso espiritual com os deuses

pagãos. O sentido espiritual de porneia como adoração a ídolos é atestado na

9 Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, pp.172-173.

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LXX (tradução grega do Antigo Testamento, chamada Septuaginta) e também

em Sabedoria de Salomão 14:12 (‘A invenção dos ídolos foi o começo da

prostituição [porneia]’, CNBB), Salmos 105:39 (106:39, TP), Isaías 47:10 e

Naum 3:4. A nuança espiritual é também corroborada à luz do uso figurado que

João faz de porneuo (e termos relacionados) em outras passagens do livro (13

vezes fora do capítulo 2, em contraste com o sentido literal: apenas em 9:21;

21:8; 22:15, embora até mesmo os dois últimos sejam questionáveis).”10

“Jezabel [...] foi uma rainha idólatra e imoral, que lutou contra o profeta

escolhido por Deus, assim desafiando e negando a autoridade espiritual

legítima, na comunidade religiosa. Jezabel era filha de Etbaal, rei de Sidom [...]

que fora sacerdote de Astarte, tendo obtido o trono ao assassinar seu

antecessor, Feles. [...]

Ela foi mulher em quem, junto com os hábitos licenciosos e desabridos

de uma rainha oriental, uniam-se as mais ferozes e duras qualidades, inerentes

à antiga raça semita. [...] A louca licenciosidade da vida dela e o fascínio

mágico de suas artes e do seu caráter, tornaram-se proverbiais na nação. [....

Jezabel chegou ao extremo de procurar eliminar completamente os

profetas de Yahweh, e teria obtido sucesso, se muitos deles não se tivessem

ocultado (ver 1 Reis 18:13). Estabeleceu a adoração a Baal, o deus-sol. Além

de Baal, as divindades fenícias também receberam seus altares. Astarte

(Astarote), equivalente a Vênus, na Fenícia, tornou-se divindade proeminente,

sendo provável que a própria Jezabel fosse sacerdotisa desse culto imoral.

Quatrocentos sacerdotes ou profetas se vincularam a essa seita, recebendo

apoio da parte da rainha. Um gigantesco santuário foi edificado em Samaria

para adoração a Baal, suficientemente amplo para conter todos os adoradores

desse culto, no reino do norte. Contava com quatrocentos e cinquenta

sacerdotes. [...]

Jezabel, a prostituta religiosa e ardorosa promotora da idolatria tornou-

se um símbolo apto para o surgimento do gnosticismo na igreja cristã, porque

era um culto estrangeiro, essencialmente uma religião misteriosa oriental, mas

que procurava apresentar-se como se fora a verdadeira fé cristã, mediante a

mistura com o cristianismo, o que sucedeu em diversas localidades.

10

Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento. G. K. Beale e D. A. Carson. São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 1334.

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9

Normalmente, o gnosticismo promovia a imoralidade, supondo que assim

ajudava na eventual destruição da matéria, através do abuso contra o corpo.

Para os mestres gnósticos, o corpo não era algo ‘indiferente’ apenas, para ser

usado como o indivíduo bem entendesse, mas também era algo que tinha de

ser ativamente corrompido, especialmente mediante vícios sexuais. [...] Supõe-

se que os nicolaítas e os seguidores de Balaão eram grupos que faziam parte

do movimento gnóstico geral. Essa heresia, corrupta em suas crenças e em

suas práticas, assediou a igreja cristã por nada menos de cento e cinquenta

anos.

Sentidos simbólicos de ‘Jezabel’.

1. Não há que se duvidar que alguma seita gnóstica e licenciosa é

representada por esse título.

2. É possível que ‘Jezabel’ tenha sido uma mulher real, líder de um

partido amoral, dentro da igreja de Tiatira, e líder da própria igreja.

Não é provável que esse tenha sido o seu nome real. Não obstante,

ela era uma ‘Jezabel’.

3. Também é provável que o ‘culto ao imperador’ seja visto aqui como

algo que desempenhava papel em tudo isso. É razoável a suposição

de que a Jezabel de Tiatira não hesitava em opinar favoravelmente

acerca da adoração ao imperador, chegando mesmo a encorajar os

crentes a participarem desse tipo especial de idolatria, juntamente

com outras formas que eram uma praga no mundo antigo.

4. Notemos que Jezabel era uma profetisa. Ela imitava os dons

espirituais, provavelmente mediante as artes mágicas e o

demonismo. Desse modo, ela representa a imitação satânica dos

dons espirituais.

5. O nome dela é símbolo da corrupção moral e espiritual da igreja,

sobretudo quando o pecado obtém império tal que é ‘tolerado’ ou até

é ‘oficialmente aprovado’ pela igreja local.

6. Profeticamente falando, Jezabel simboliza o paganismo radical que

invadiu a cristandade [...] quando [...] a igreja foi vencida pelas

práticas licenciosas, incorporando muitas formas de paganismo.

7. O nome de Jezabel, pois, representa o adultério físico e espiritual, e

um adultério tolerado e até mesmo encorajado nos limites interiores

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do que se chama de igreja cristã. Os perigos e as corrupções por ela

simbolizados são ‘internos’, afetando o coração mesmo da igreja, e

não ameaças externas.

8. Na situação local de Tiatira, quando foi escrito o livro de Apocalipse,

é provável que as ‘guildas comerciais’, que requeriam a ‘refeição

comum’, naturalmente de caráter pagão, estivessem pressionando a

igreja a ‘aceitar’ a falsa moralidade pagã. A Jezabel de Tiatira,

provavelmente, era a principal figura da igreja que promovia a

‘transigência mediante o comércio’.

9. Várias tentativas têm sido feitas para identificar o caráter histórico

real, referido no presente texto. Ela não pode ter sido uma sibila

caldaica em Tiatira, porquanto essa Jezabel se achava no seio da

igreja, e não fora dela. Alguns supõem que ela tenha sido a esposa

do principal pastor da igreja, ou do bispo daquela região. Nada pode

ser dito, com qualquer confiança, a respeito disso.

10. Alguns intérpretes pensam que ela simboliza a ‘Roma apóstata’, a

igreja de Roma. Mas, na verdade, ela era um elemento corruptor que

operava dentro da igreja, mas não era a própria igreja. Lembremo-

nos de que a igreja de Tiatira foi elogiada quanto a certos

particulares; não era totalmente má, e nem totalmente apóstata.

Pode-se observar que o culto imoral representado por Jezabel (o

gnosticismo religioso) era ‘odiado’ em Éfeso (ver Ap.2:6), tolerado em Pérgamo

(ver Ap.2:15,16); mas era ativamente promovido como posição oficial, em

Tiatira (ver Ap.2:20-24). A lição espiritual que há nisso é óbvia. Todo o mal que

não nos aborrece, a princípio pode ser ‘tolerado’, depois ‘aceito’, e, finalmente,

‘promovido oficialmente’.

‘profetisa...’ [...] os dons espirituais não se limitavam a homens, na igreja

primitiva. [...] Jezabel representava a imitação satânica dos dons proféticos.

Provavelmente ela era psiquicamente dotada, e talvez fosse inspirada pelos

demônios. Isso ter-lhe-ía dado a autoridade de que ela precisava para

promover o seu culto licencioso.

‘a si mesma’ – ela era profetisa ‘autonomeada’, mas as forças malignas

que a usavam lhe davam uma aparência de autoridade. As suas ‘credenciais’,

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seja como for, eram estranhas à igreja. Era usurpadora que usava o seu poder

para destruir a igreja.

[...] a doutrina de Jezabel era extremamente liberal. Particularmente, ela

não via defeito no adultério. Seduziu a vários homens da igreja, e, com mão de

ferro, prendia a homens com sua imoralidade. Mas o versículo também indica

que essa ‘fornicação’ [...] também fazia parte da adoração pagã das divindades

que ela promovia, tal como no caso da Jezabel original. Na qualidade de

representante do gnosticismo, ela ensinava que é bom que um homem abuse

de seu corpo mediante os excessos espirituais, já que isso ajuda no sistema do

mundo, em sua tentativa de destruir a matéria. Os gnósticos chegavam ao

extremo de dizer que os anjos se punham perto deles (embora em forma

invisível), encorajando-os a participar de todas as formas de imoralidade, a fim

de que obtivessem ‘experiência’. Era mediante tal ‘experiência’ que obtinham o

‘conhecimento’, o qual, para eles, era o meio mesmo da salvação. Tolamente

imaginavam que pode-se abusar do corpo, sem prejudicar o espírito. Não

consideravam a verdade que um homem é corrupto tanto no corpo como no

espírito. O pecado é algo que cativa e corrompe a personalidade inteira, e não

meramente a porção física do ser.

[...] Os profetas falsos não são apenas aqueles que sustentam doutrinas

falsas. Podem ser pregadores do evangelho, cujas próprias vidas pessoais,

devido à sua imoralidade, desviam as pessoas. Existem ‘ateus práticos’, que

são totalmente ortodoxos em sua doutrina e em sua pregação.

O evangelho destituído de imperativo moral. Oito livros do NT foram

escritos para combater o gnosticismo, o qual anunciava uma mensagem

destituída de requisitos morais. Esses livros são Colossenses, as três epístolas

pastorais, as três epístolas joaninas e Judas. A epístola aos Efésios, o

evangelho de João e este livro de Apocalipse também fazem oposição a essa

heresia, embora não tenham sido escritos primariamente para combater tal

heresia. [...]

[...] influência de Jezabel [...] encorajava um culto pagão que envolvia

tanto a imoralidade como a idolatria, em conexão com o ‘culto ao imperador’,

mas separado deste último. Os excessos sexuais tornaram-se parte da

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‘adoração’ daquela igreja. A Jezabel do AT ensinava e praticava tanto a

imoralidade quanto a idolatria [...].”11

“Os profetas gozavam de alto conceito na igreja primitiva, e são

mencionados em relacionamento estreito com os apóstolos (1Co.12:28;

Ef.4:11). Em Rm.12:6 a profecia é o primeiro da lista dos dons do Espírito. A

função principal do profeta não era a de predizer acontecimentos futuros,

apesar de isto fazer parte (At.11:27); ele era antes um mestre inspirado. Não

nos esqueçamos que a igreja primitiva não possuía o Novo Testamento, como

nós, com seu relato inspirado das palavras e dos atos de Cristo, o significado

da sua morte e ressurreição. Para suprir em parte esta necessidade de ensino

confiável o Espírito Santo iluminava profetas para comunicar a palavra de

Deus. Paulo nos dá um relato extenso da função dos profetas em 1 Co. 14.

Junto com os apóstolos os profetas eram o veículo humano para a revelação

da verdade divina (Ef.3:5). Esta Jezabel dizia ser profetisa, com revelações

especiais da parte de Deus que a qualificavam como mestre com autoridade. É

óbvio que ela era membro da igreja e que procurava seguidores entre os

cristãos de Tiatira. [...]

O problema em Tiatira era uma tolerância que não era sadia. Eles

reconheciam a existência de uma profetisa falsa; reconheciam também o

caráter maléfico de seu ensino, mas em sua tolerância se negavam a lidar com

ela. [...] Aqui temos uma igreja com muito e crescente amor e fé, que tolera

falsos profetas em seu próprio prejuízo.

[...] O erro desta Jezabel é o mesmo dos nicolaítas em Pérgamo:

adaptação completa aos costumes pagãos. O problema em Tiatira era tão

grave porque a filiação às corporações de comércio envolvia a participação em

refeições no estilo dos pagãos, que muitas vezes levavam à imoralidade.”12

“Tratava-se tanto de práticas imorais pessoais, como parte do culto da

seita gnóstica. Era algo tanto espiritual quanto físico. [...] Provavelmente,

Jezabel era mulher de grande intelecto e encanto pessoal e talvez dotada de

grande força de caráter. No entanto, usava seus talentos para a maldade e a

perversão. Seu nome significa ‘casta’; mas seu caráter era o oposto disso.

11

O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo – volume 6 – R. N. Champlin, Ph.D. São Paulo: Hagnos, 2014, pp.520-521. 12

Apocalipse: introdução e comentário. George Ladd. São Paulo: Série Cultura Bíblica – Vida Nova, 2011, p.41.

Page 13: Jezabel em tiatira. apocalipse 2.18 a 29. Compilação de angela natel

13

Lembremo-nos, porém, que ela representa certa ‘forma’ de cristão – aquele

cujo evangelho não tem imperativo moral, ou seja, um evangelho falso.”13

“Os seguidores de Jezabel são também chamados ‘filhos’ dela, e a

tribulação deles implicará sua morte, que também foi o castigo de Jezabel e

dos setenta filhos de Acabe por causa do crime cometido contra Nabote por

incitação de Jezabel (1 Reis 21:17-29; 2 Reis 9:30-37; 10:1-11 [...]”14

“Textos judaicos falam de filhos gerados de união ilícita sendo julgados,

mas filhos aparecem aqui num sentido figurado [...]; discípulos eram às vezes

chamados de ‘filhos’. Textos judaicos normalmente retratavam a onisciência de

Deus e algumas vezes o chamam de ‘Aquele que sonda corações e mentes’

(com base em descrições dele no Antigo Testamento); aqui essa característica

de Deus se aplica a Jesus. Deus deu aos falsos profetas a oportunidade de se

afastarem da sua falsidade e ouvirem a verdadeira palavra do Senhor (Jr.

23:22,23).”15

“Simbolicamente, todas as pessoas e igrejas locais que permitem a

instauração da moralidade pagã em suas vidas, são exemplificadas em Jezabel

de Tiatira. Tais indivíduos e igrejas cometem adultério espiritual.”16

“Os lojistas e artesãos arriscavam perder seus rendimentos quando

recusavam associar-se às companhias, cujos encontros consistiam de

refeições dedicadas às divindades patronas. [...] Aspectos da veneração ao

imperador também afetavam quase todas as companhias. [...] Essa situação,

provavelmente, contribuiu com o apelo de Jezabel. Os falsos profetas

afirmavam oferecer ‘profundos segredos’ (v.24) e assim enganavam e

corrompiam o povo de Deus, defendendo a participação na vida comercial e

cívica locais, não obstante o inevitável compromisso com o paganismo.”17

“Sempre que os cristãos se recusavam a participar das festas, visto que

tal envolvimento comprometeria sua fé, enfrentavam a ira da população pagã, e

isso tinha repercussões econômicas, caso perdessem seus empregos. [...]

13

O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo – volume 6 – R. N. Champlin, Ph.D. São Paulo: Hagnos, 2014, p.522. 14

Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento. G. K. Beale e D. A. Carson. São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 1334. 15

Comentário Bíblico Atos – Novo Testamento. Craig S. Keener. Belo Horizonte: Editora Atos, 2004, p.795. 16

O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo – volume 6 – R. N. Champlin, Ph.D. São Paulo: Hagnos, 2014, p.523. 17

Bíblia de estudo arqueológica NVI, nota de Apocalipse 2.20 da página 2049.

Page 14: Jezabel em tiatira. apocalipse 2.18 a 29. Compilação de angela natel

14

Jezabel, possivelmente, ‘ensinou’ que não havia nada de errado com a

participação cristã nas festas e celebrações das associações, pois era apenas

uma questão civil. Como os ídolos nada eram, os cristãos não destruiriam sua

fé ao participar delas. Ela pode ter usado alguma forma de ensino paulino

sobre a liberdade cristã, semelhante a 1 Coríntios 8:4-8 [...] Em outras

palavras, o cristão é livre para comer carne oferecida a ídolos.

A resposta do Cristo é enfática. Em seu ensino, Jezabel [...] ‘seduz meus

servos’ [...] O verbo [...] é importante no livro, sendo empregado em outras

partes com referência a Satanás (12:9; 20:3,8,10), ao falso profeta (13:14;

19:20), ou à prostituta Babilônia (18:23) ‘enganando’ o mundo com idolatria e

imoralidade. Esse versículo é o único lugar no livro em que os cristãos são

‘seduzidos’; nas outras partes, são sempre os incrédulos. É possível que os

que caíram nesse ‘engano’ sejam considerados incrédulos, mas o uso de

‘meus servos’ torna essa suposição improvável. O verbo significa ‘seduzir’ uma

pessoa a pecar, levando-a ao engano. Braun (TDNT 6:234-49) observa três

características nas passagens apocalípticas judaicas e cristãs: sedução por

poderes malignos (e.g., o anjo das trevas), dualismo (luz versus trevas,

verdade versus engano) e escatologia (os falsos profetas afirmam ser

libertadores dos últimos dias). Há íntima conexão entre Apocalipse e o discurso

das Oliveiras nesse sentido, pois Jesus também profetizou sobre os ‘falsos

profetas’ e os ‘falsos messias’ que ‘enganariam’ muitos na igreja (Mc.13:5,6,22;

Mt.24:4,5,11,24). Jezabel é vista como uma força satânica (esse é o único

lugar no livro em que uma pessoa exerce seu poder terrível) reivindicando

autoridade do Espírito (como uma profetisa), mas desviando muitos ‘servos’ de

Deus para a heresia.”18

2:21 – “Devido à seriedade do erro, a única coisa que Deus pode lhes

dar é a oportunidade para ‘mudar’ suas atitudes (o sentido de ‘arrependimento’;

ver 2:5). [...] É provável que João ou algum outro líder já tivesse advertido

Jezabel (somente ela é mencionada aqui, mas o movimento todo é tratado por

meio dela), por declaração profética ou conforme 3 João 10 [...]. Em 1 Coríntios

14:29,32 (cf. 1Jo.4:1), os líderes deviam ‘testar’ as declarações proféticas para

determinar se vinham de Deus. Jezabel foi reprovada no teste, mas não

18

Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, p.174.

Page 15: Jezabel em tiatira. apocalipse 2.18 a 29. Compilação de angela natel

15

‘queria’ [...] se arrepender [...]. A disposição de Jezabel para participar das

práticas religiosas pagãs era ‘cometer adultério’ contra Deus.”19

2:22,23 – “Tiatira [...] havia se pervertido na cama da idolatria, agora

Deus iria ‘lançá-la’ [...] num tipo diferente de ‘cama’. Uma cama de dor. A

imagem ‘lançar em’ significa que Cristo infligiria tal sofrimento sobre ela. O uso

da doença como juízo era comum na Bíblia. [...]”20

‘Matarei os filhos dela’. “Portanto, ‘os que cometem adultério com ela’

[...] são aqueles membros da igreja que têm sido atraídos pelo seu ensino e por

suas práticas sincréticas, mas não foram tão longe quanto ela, isto é, ainda não

se ‘recusaram’ a se arrepender, de modo que aqui está sendo dada a eles a

mesma oportunidade que ela teve. É possível [...] que ‘com ela’ faça referência

a uma tolerância mais indireta deles com o ensino dela ou em seguir o exemplo

dela, em vez da participação direta nos pecados dela [...]. Em outras palavras,

essas pessoas estavam sendo atraídas para o círculo dela, mas não haviam se

tornado membros plenos.”21

“O pecado ainda é primordialmente de Jezabel, e as práticas se originam

de sua má influência. Isso não significa que eles não eram culpados, mas que

estavam seguindo a liderança dela. Essa é uma evidência adicional de que tais

pessoas formam um grupo distinto do grupo dos ‘filhos’ dela, em 2:23. [...] os

que estão totalmente dominados pela heresia (Jezabel e seus filhos) enfrentam

um severo juízo de doença e morte, enquanto os que não se converteram

totalmente experimentam ‘grande sofrimento’ somente se também se

recusarem a se arrepender”.22

2:24,25 - Quanto aos profundos segredos de Satanás, “o gnosticismo

posterior [...] ensinava que, para derrotar Satanás, era necessário entrar em

sua fortaleza, ou seja, ter profunda experiência com o mal”.23

“Os cultos chamados mistérios enfatizavam segredos profundos só

compartilhados com os iniciados.”24

19

Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, p.175. 20

Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, p.175. 21

Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, p.176. 22

Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, pp.177-178. 23

Bíblia de estudo arqueológica NVI, nota de Apocalipse 2.24 da página 2050. 24

Comentário Bíblico Atos – Novo Testamento. Craig S. Keener. Belo Horizonte: Editora Atos, 2004, p.795.

Page 16: Jezabel em tiatira. apocalipse 2.18 a 29. Compilação de angela natel

16

“O verbo pode significar ‘conhecer por experiência’ ou, mais

simplesmente, ‘perceber’ ou ‘crer’ em um conjunto de ensinamentos. [...] Há

duas opções aqui: (1) a expressão pode ser um comentário sarcástico sobre a

reivindicação de Jezabel de ‘conhecer as coisas profundas de Deus’

(cf.1Co.2:10), o que na realidade são ‘as coisas profundas de Satanás’ [...]; (2)

a expressão pode ser compreendida literalmente [...]. Jezabel pode ter

ensinado que os cristãos deveriam experimentar ‘as coisas profundas de

Satanás’, a fim de triunfar sobre elas. Nesse sentido, ela admitiria que as festas

das associações de classe e o ambiente pagão eram maus, mas declararia que

eles não tinham poder sobre o crente. Ela ainda teria ensinado que os cristãos

deveriam participar dessas atividades e experimentar as ‘profundezas’ do

paganismo, de modo a mostrar seu domínio sobre elas. A primeira opção é

mais provável, como verificado no paralelo em 2:9, em que os oponentes

judeus são chamados de ‘sinagoga de Satanás’. É interessante observar que

ambas as soluções têm sido associadas com o ensino gnóstico. No primeiro

sentido, ‘as coisas profundas de Deus’ seriam a gnose esotérica do

protognosticismo. No segundo, o termo remeteria a um grupo de gnósticos

libertinos, como os combatidos em 1 João (cf.1 Jo.1:8-10; 3:9), que

acreditavam que sua participação em atividades pecaminosas não seria

pecado por causa de seu ‘conhecimento’. É difícil decidir qual das opções é a

correta e, com a ausência de dados mais contundentes alguns estudiosos [...]

se contentam em deixar a questão em aberto. Mas a primeira opção é a

melhor, ainda que seja uma tentativa. [...] Os membros desse movimento

abominável haviam feito certas afirmações, mas Cristo deseja enfatizar (ao

colocar isso por último) que não há absolutamente nenhuma verdade em seus

ensinamentos. Ainda que aleguem saber as coisas profundas de Deus,

propõem, na verdade, as coisas profundas de Satanás.”25

“Resumindo, os verdadeiros crentes em Tiatira são ordenados pelo

Senhor a se manterem firmemente agarrados às verdades da fé contra os

falsos ensinamentos de Jezabel e dos outros nicolaítas”.26

“A única forma de ser vencedor é perseverar nas palavras (v.25) e nas

obras (v.26) de Jesus até o escaton. [...] No caso são as ‘obras’ de Jesus, em

25

Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, pp.179-180. 26

Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, pp.181-182.

Page 17: Jezabel em tiatira. apocalipse 2.18 a 29. Compilação de angela natel

17

contraste implícito com as ‘obras’ de Jezabel, em 2:22, e com as ‘obras’ de

todos os cristãos em 2:23. Apenas as obras de Cristo são a base para a vitória

cristã. As más obras de Jezabel ou as obras incompletas de cristãos individuais

são insuficientes. Além do mais, as palavras de Jesus (2:25) devem ser

praticadas [obras] (2:26). A crença necessariamente leva à ação. Essas ‘obras’

são especificadas em 2:19: amor, fé, serviço e perseverança. Os crentes de

Tiatira praticaram-nas no passado e, agora, devem concretizá-las ainda

mais.”27

“A estrela da manhã. [...] Como a maior parte do mundo greco-romano

acreditava que a vida é governada pelos astros, receber autoridade e exercitá-

la sobre uma das mais poderosas estrelas (símbolo da soberania entre os

romanos) era partilhar do governo de Cristo sobre a criação [...]”.28

“Também estamos lutando contra muitos movimentos doutrinários

heréticos e precisamos tomar uma posição firme. Devemos proteger a igreja de

líderes inescrupulosos, que guiam seus seguidores com o objetivo de construir

os próprios reinos e diluem a fé cristã para torná-la mais atraente ao mercado

secular. [...] muitos cristãos fazem concessões no seu andar com Cristo, a fim

de aumentar os seus ganhos ou manter seus empregos. O juízo de Cristo pode

cair sobre nossas igrejas do mesmo modo que caiu sobre a igreja de Tiatira.”29

27

Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, pp.182-183. 28

Comentário Bíblico Atos – Novo Testamento. Craig S. Keener. Belo Horizonte: Editora Atos, 2004, p.796. 29

Apocalipse: comentário exegético. Grant R. Osborne. São Paulo: Vida Nova, 2014, p.187.