João Cabral de Melo Neto o poeta do rigor e a poesia contemporânea.
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João Cabral de Melo João Cabral de Melo NetoNeto
o poeta o poeta do rigordo rigor
e a poesia e a poesia contemporâncontemporân
eaea
O universo de João
Cabral de Melo Neto:
Ele tem um lado popular que se chama João Cabral e tem um lado aristocrático que se chama Melo Neto. Então, ele é, um
pouco, todo este universo conflituadouniverso conflituado e passou quarenta anos tentando resolver
este conflito.
(Décio Pignatari)
amáquina
dopoema
E as vinte palavras recolhidasnas águas salgadas do poetae de que se servirá o poeta
em sua máquina útil.
Vinte palavras sempre as mesmas
de que conhece o funcionamento,
a evaporação a densidademenor que a do ar.
(“A lição da poesia”)
René Magritte
Psicologia da
composição
(1947)
“contra a poesia dita profunda”
o lugarlugar de CabralCabral na literatura brasileiraliteratura brasileira
A poesia de João Cabral de Melo Neto é um marco dentro da
literatura brasileira. Sua obra desencadeia uma revolução formal das mais importantes na história da poesia do nosso país e representa a maturidade das conquistas estéticas
mais radicais do século XX.
Joan Miró
o curso de uma poética antilírica
Opondo-se ao principal curso da curso da poética nacionalpoética nacional que sempre fora
sentimental, retórica, ornamental, João Cabral de Melo Neto constrói uma
poesia não-lírica, não-confessional, presa à realidade e
dirigida ao intelectodirigida ao intelecto.
[poema visual de Joan Brossa]
Joan Brossa, poeta frugal,que só come tomate e pão,que sobre papel de estivacompõe versos a carvão,nas feiras de Barcelona
[...]antes buscava, Joan Brossa,
místico da aberração,buscava encontrar nas feiras
sua poética sem razão.(“Fábula de Joan Brossa”)
sob signo da negatividade
Dize que levas somente
coisas de não:fome, sede, privação.
(“Morte e vida severina”)
A poesia de João Cabral de Melo Neto pode ser
dividida em dois módulos distintos,
propostos pelo próprio poeta ao publicar o livro Duas Águas
(1956). Uma água construtiva e
outra participante.
Sobre fotografia de Tiago Santana
A primeira água seria formada pelos poemas experimentais, arquitetônicos, feitos para poetas
e que versam sobre o próprio fazer poético.
A água participante volta-se para a problemática social do homem do nordeste e é formada por obras como "O
cão sem plumas" e "O rio" que são poemas longos sobre os miseráveis habitantes dos manguezais do rio
Capibaribe. Apesar do mesmo rigor estético das obras construtivistas, atingem com mais facilidade o leitor comum, pois lidam com problemas universais do ser
humano: a fome, a miséria, as diferenças sociais.
o sonho do engenheiroo sonho do engenheiro
Esta folha brancame proscreve o
sonhome incita ao versonítido e preciso.
(Psicologia da composição)
o arquiteto Le Corbusier
Não pensei em fazer literatura engajada ou não engajada. Eu fazia o poema pensando em fazer bem o pensando em fazer bem o
poemapoema. O que se pode chamar de literatura engajada, na minha poesia, são os temas da secatemas da seca, da miséria miséria
do Nordestedo Nordeste.
São os temas dos romancistas do São os temas dos romancistas do NordesteNordeste,
temas que estão presentes em todaa literatura nordestina.
(João Cabral de Melo Neto)
Apesar de ser primo, pelo lado paterno, do poeta
Manuel Bandeira e, pelo lado materno, do
sociólogo Gilberto Freyre, até os 15 anos de
idade Cabral não havia demonstrado interesse pela literatura mas, sim
por futebol.
O Carlos Drummond de Andrade, quando eu o li ainda no
Recife, foi uma revelação. Eu tenho a impressão de que eu escrevo poesia porque eu li o primeiro livro dele Alguma
Poesia. Foi ele quem me mostrou que ser poeta não significava ser sonhador, que a ironia, a prosa
cabiam dentro da poesia. (João Cabral de Melo Neto)
o menino
de engenh
o noespelho
dorio
um menino bastante guenzo
de tarde olhava o riocomo se filme de cinema;
via-me, rio, passarcom meu variado cortejode coisas vivas, mortas,
coisas de lixo e de despejo;viu o mesmo boi mortoque Manuel viu numa
cheia,viu ilhas navegando,
arrancadas das ribeiras.(“O Rio”)
Uma das principais temáticas de João Cabral é a reflexão do próprio fazer
poético. Sua poesia é auto-explicativa e ninguém melhor do que ele mesmo,
através de sua obra, se analisou.
Fotografia de Tiago Santana
uma poesiapoesia sem plumasplumas
“João Cabral aprendeu que a pior alienação do escritor é aquela que,
buscando acusar uma condição miserável, não sabe fazer da linguagem um recurso
mínimo de nomeação, sem as plumas inadequadas da escrita auto-suficiente.”
(João Alexandre Barbosa)
a medida da poesiapoesia, a medida da vidavida
podeis aprender que o homem
É sempre a melhor medida.Mais: que a medida do
homemnão é a morte mas a vida.
(“Pregão turístico do Recife”)
aa temática do lirismo lirismo amorosoamoroso:erotismo a palo seco
Tua sedução é menosde mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentroou por detrás da fachada.
Seduz pelo que é dentro,ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentrode suas paredes fechadas.
(“A mulher e a casa”)
É de fruta do Nordestetua epiderme;
mesma carnação douradasolar e alegre.
Frutas crescidasno Recife relavado
de suas brisas.(“Jogos frutais”)
O Homem pra mim é, precisamente, o homem sofredor do Nordeste. O homem que me interessa é o cidadão miserável, do nordeste cujo futuro, menos
miserável, está ligado ao desenvolvimento do Brasil.
(João Cabral de Melo Neto)
Bandeirinhas de Alfredo Volpi
Alfredo Volpi (1896-1988) foi um pintor ítalo-brasileiro, considerado como um dos
artistas mais importantes do Modernismo Brasileiro. Uma das suas características
são as bandeirinhas e os casarios.
Grande colorista, explorou composições magníficas, de grande impacto visual.
Na década de 1950, evoluiu para o abstracionismo geométrico, de que é
exemplo a série de bandeiras e mastros de festas juninas.
Os concretistas:história de uma
vanguarda
O Concretismo realiza uma “literatura de
exportação”, como a sugerida por
Oswald de Andrade no Manifesto da Poesia Pau-Brasil.
características da poesia concreta
abolição do versonão-linearidade
uso construtivo dos “brancos”ausência de sinais de pontuação
“pluvial/fluvial”, de Augusto de Campos
poesia concretao projeto verbivocovisual
Ao trabalhar de forma integrada o som, a visualidade e o sentido das palavras, a poesia concreta propõe novos modos de fazer poesia, visando a uma ‘arte geral da palavra’. A expressão verbivocovisual sintetiza essa proposta que, desde os anos 1950, foi colocada em prática pelos poetas Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, desdobrando-se até hoje, ao longo de mais de cinco décadas de produção em suportes e meios técnicos diversos – livro, revista, jornal, cartaz, objeto, lp, cd, videotexto, holografia, vídeo, internet.
contextoconcretista
Concebida no calor do empreendimento mais geral de construção de um Brasil moderno, como um projeto em desenvolvimento, esta poesia coloca em jogo formas renovadas de sensibilidade e de experiência. Alarga, ao mesmo tempo, os parâmetros de discussão de poesia, ultrapassando o âmbito literário.
O Brasil viveu da década de 1950 até 1964 um período de euforia política e econômica. Essa foi a época do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), que
empreendeu uma política econômica industrial e desenvolvimentista.
Plano Piloto de Brasília
Hélio Oiticica, 1958
plano piloto para poesia concreta (1958) Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos
poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas. dando por encerrado o ciclo histórico do verso (unidade rítmico-formal), a poesia concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural. espaço qualificado: estrutura espaciotemporal. daí a importância da idéia de ideograma, desde seu sentido geral de sintaxe espacial ou visual até o sentido específico de método de compor baseado na justaposição direta – analógica, não lógico-discursiva – de elementos.
ideograma: apelo à comunicação não-verbal. o poema concreto comunica a própria estrutura:
estrutura conteúdo. o poema concreto é um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos
subjetivas. seu material:a palavra (som, forma visual, carga semântica).
Augusto de Campos
Ligia Clark
A construção de Brasília, a geração de novos empregos na indústria e no comércio, a
ampliação do consumo, tudo isso criou uma atmosfera ingênua de euforia entre as pessoas.
“sem forma revolucionárianão se pode fazer poesiapoesia revolucionária revolucionária”
(maiakóvski)
graças ao concretismoconcretismo, não só um certo gosto gráfico pela página
impressa, mas os ideogramas, o uso do neologismo, do plurilingüismo, entraram na vida quotidiana do Brasil
(o jornal, o anúncio publicitário).
Hélio Oiticica
o concretismo: poema-ícone
Os poetas concretos, a exemplo de João Cabral de Melo Neto, pregam o fim da poesia intimista
e o desaparecimento do eu-lírico, além de
uma concepção poética baseada na
geometrização e visualização da
linguagem.
os poetas concretos apontam
como seus precursores:
Gregório de MatosSousândrade
Oswald de AndradeJoão Cabral de Melo Neto
MallarméApollinaire
Ezra PoundJames Joyce
Parangoléde Hélio Oiticica(veste Caetano
Veloso)
Estes slides foram montados a partir de trechos das seguintes fontes:
Português: linguagens: volume 3. Capítulo 7(“Tendências da literatura contemporânea”, p. 408).
http://www.poesiaconcreta.com/http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/index.htm
Augusto de Campos