João - parte 1

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Parte I

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Parte I

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Evangelho de João

Parte 1

Silvio Dutra

DEZ/2015

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A474 Alves, Silvio Dutra João./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 333p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Evangelho. 3. Comentário Bíblico. I. Título.

CDD 230.226

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Sumário

João 1............................................................ 5 João 2............................................................ 27 João 3............................................................ 35 João 4............................................................ 46 João 5............................................................ 67 João 6............................................................ 78 João 7............................................................ 94 João 8............................................................ 113 João 9............................................................ 129 João 10.......................................................... 143

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João 1

Jesus O Verbo e a Luz Divinos

“1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

2 Ele estava no princípio com Deus.

3 Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele

nada do que foi feito se fez.

4 nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.

5 E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não

a compreenderam.”. (João 1.1-5)

A palavra “verbo” do texto foi traduzida

do original grego “logos”, que significa

“palavra”.

Mas, como “verbo” é palavra indicadora de

ação, a maior parte das traduções da língua

portuguesa traz “verbo” em vez de “palavra”.

Ambos podem ser usados e estão corretos, mas

“palavra” define melhor o pensamento de João

ao usar o referido termo para se referir à Pessoa de Jesus, porque certamente ele tinha em

mente demonstrar que Jesus foi quem tomou

parte na criação ao lado de Deus e do Espírito

Santo, sendo a Palavra que tudo criou, porque é dito que o mundo foi criado pela Palavra de

Deus, uma vez que Ele disse em cada ato da

criação: “haja” ou “faça-se”.

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“Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e

todo o exército deles pelo sopro da sua boca.” (Sl

33.6).

“Pela fé entendemos que os mundos foram

criados pela palavra de Deus; de modo que o

visível não foi feito daquilo que se vê.” (Hb 11.3).

“Pois eles de propósito ignoram isto, que pela

palavra de Deus já desde a antiguidade existiram

os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste;” (II Pe 3.5).

Ao fazer uso da palavra Verbo, João a associou

aos atos da criação dos céus e da terra, conforme se vê no verso 3.

Ao identificar Jesus como sendo o Logos, a

Palavra, ou Verbo eterno, podemos também considerar que a mente eterna de Deus foi

revelada a nós por meio dele.

Os pensamentos puros, perfeitos e conhecedores de tudo o que há em Deus, são

inerentes a Cristo e Ele os revelou a nós.

É somente por meio dele que os selos do livro da

vida são removidos para que os mistérios da

verdade sejam revelados a nós.

Se Ele não tivesse se manifestado ao mundo nós

permaneceríamos nas trevas quanto a esta vida

do Espírito Santo, que se manifesta nos que têm

fé nele.

Vida de poder espiritual e de comunhão em

amor celestial.

Vida de frutos e dons espirituais que são

comunicados entre aqueles que têm sido

vivificados pela luz de Cristo, a qual, quando

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permanecemos nela, faz com que a vida de

Cristo se manifeste em nós.

Neste sentido, pode-se dizer então que Cristo é a

fonte mesma da qual procede toda a Palavra que sai da boca de Deus, sendo que Ele mesmo é

Aquele por quem se expressa esta Palavra.

Daí ter dito que a Palavra que Ele proferia não

provinha dele próprio, mas do Pai, isto é, tudo o

que o Pai expressa pela Palavra, Ele o faz por meio do Filho, de maneira que João havia

apreendido este ensino e verdade de Jesus aos

apóstolos em seu ministério terreno, e pôde

compreender que o mundo foi feito pela Palavra liberada pelo próprio Cristo, daí dizer que Ele é a

Palavra (Verbo) pela qual todas as coisas foram

feitas, e que sem Ele nada do que foi feito se fez

(v. 3); isto é, o Pai nada fez sem a participação de Cristo.

Somente Jesus tem as palavras de vida eterna.

Pedro teve este reconhecimento que é dele que

emana a palavra que dá vida aos pecadores (Jo 6.68), e a experiência comprova isto em todos os

testemunhos de conversão.

“Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou

pela palavra da verdade, para que fôssemos

como que primícias das suas criaturas.” (Tg 1.18).

“tendo renascido, não de semente corruptível,

mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a

qual vive e permanece.” (I Pe 1.23).

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Os textos destacados acima de Tiago e Pedro

revelam o ato da nova criação espiritual pela

Palavra.

Esta Palavra é a verdade, e Jesus disse também ser esta verdade, que liberta e dá vida.

Há então, poder e ação envolvidos nesta Palavra,

aqui referida pelo apóstolo, e a que é citada em

todas as passagens bíblicas que se referem a ações de criação, de salvação, de santificação, e

de tudo o mais que dependa da liberação do

poder pela Palavra de Cristo.

Por isso Jesus havia dito que as suas palavras são espírito e vida (Jo 6.63). E também que o homem

não vive somente de pão, mas de toda palavra

que procede da boca de Deus (Mt 4.4), porque é

pela palavra de ação poderosa, que novas criaturas com a vida que procede do céu são

geradas.

É também, pela prática da sua palavra, isto é, tê-

la em devida consideração e vivendo segundo o seu poder, que se tem a vida solidamente

firmada num fundamento inabalável (Mt 7.24).

Era com a sua palavra de ordem que Jesus

expulsava demônios e curava enfermos, e que ainda o faz através daqueles que nele creem (M

8.16).

É por isso que as palavras de Jesus jamais

passarão porque são eternas assim como Ele é

eterno (Mt 24.35).

Desta forma, crer de fato em Jesus é permanecer

nele, e permanecer nele é permanecer portanto

na sua palavra; e como esta palavra é a vida

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eterna, aquele que a guarda jamais morrerá

eternamente (Jo 8.31; 51; 14.24).

Como Jesus é santo, é a sua Palavra que nos

santifica (Jo 15.3; 17.17).

Foi por isso que a Igreja Primitiva tinha poder

para pregar o evangelho, porque eles viviam e

pregavam somente a Palavra (At 4.29, 31; 5.20;

6.2, 7; 8.4, 25;10.44; 11.14; 12.24; 13.5, 44, 48, 49; 14.3, 25; 15.35, 36; 16.32; 17.11; 18.5, 11; 19.10, 20;

20.32).

A fé é gerada por se ouvir a Palavra (Rom 10.17).

Nós vemos nas palavras de Paulo em I Cor 1.17; 2.1, 4, 13; I Tes 1.5 que a pregação desta Palavra

viva é muito mais do que simplesmente

exposição verbal de conceitos teológicos, ou de meras citações bíblicas, mas a liberação da

porção da verdade, conforme está revelada nas

Escrituras, em exposição, com palavras

ensinadas pelo Espírito, no poder do Espírito, conforme esta é revelada pelo mesmo Espírito

ao coração e mente do pregador (Ef 6.19):

“Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de

palavras, para não se tornar vã a cruz de

Cristo.” (I Cor 1.17).

“E eu, irmãos, quando fui ter convosco,

anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui

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com sublimidade de palavras ou de

sabedoria.” (I Cor 2.1).

“A minha linguagem e a minha pregação não

consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de

poder;” (I Cor 2.4).

“as quais também falamos, não com palavras

ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo,

comparando coisas espirituais com

espirituais.” (I Cor 2.13).

“porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e

no Espírito Santo e em plena convicção, como

bem sabeis quais fomos entre vós por amor de

vós.” (I Tes 1.5).

Esta Palavra já existia antes que houvesse

mundo, antes da existência do tempo

cronológico, ao que João chama de “no

princípio” mostrando que era, que é e sempre será.

Cristo sempre esteve em coexistência com o Pai.

Ele estava, está e sempre estará com Deus. De

maneira que crer em Cristo é crer em Deus Pai, porque o Pai e o Filho coexistem em perfeita

unidade e são inseparáveis.

Somente Jesus estava qualificado para efetuar a

nossa redenção porque Ele conhece perfeitamente a nossa constituição total, de

espírito alma e corpo porque Ele nos criou,

assim como todas as coisas.

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Ele deve receber, portanto a nossa adoração

também como Criador, e não apenas como

Salvador e Senhor.

João afirma no verso 4 que a vida estava em

Cristo, e que esta vida era a luz dos homens.

A luz condenará as obras infrutíferas das trevas

naqueles que permanecem no pecado, porque

fará a exposição do que se ocultava nas trevas:

“Mas todas estas coisas, sendo condenadas, se

manifestam pela luz, pois tudo o que se

manifesta é luz.” (Ef 5.13).

É pela luz da revelação divina que o pecado pode

ser condenado ou extirpado.

João nos diz que a vida está em Jesus, e que esta vida era a luz dos homens; isto é, somente

quando a vida poderosa de Jesus se manifesta

em alguém, é que tal pessoa poderá vir para a luz

de Deus e conhecer a Deus e compreender as coisas espirituais e divinas.

Assim, fora de Cristo, não há esta possibilidade, porque vida e luz para os homens procedem

dele, e ambas são inseparáveis.

A vida eterna que nós necessitamos para escapar da morte eterna está somente em Cristo

Jesus, e é nele portanto que devemos buscá-la, e

João nos indica o meio de obtê-la, a saber, por

meio da Palavra e pelo andar na luz.

É a luz de Cristo que ilumina o nosso

entendimento e espírito para compreendermos

as Escrituras.

Elas permanecem como um livro fechado para

nós até que Cristo abra o nosso entendimento e

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se revele ao nosso espírito para que possamos

compreendê-las; como fizera com os dois

discípulos no caminho de Emaús, aos quais lhes

abriu o entendimento para compreenderem tudo o que estava escrito acerca dele nas

Escrituras.

Não foi João quem conceituou Jesus como luz, pois Ele próprio fizera tal afirmação acerca de Si

mesmo durante o seu ministério terreno,

confirmando aquilo que as Escrituras do Velho

Testamento afirmam sobre Ele, especialmente de que Ele seria luz para os gentios. (Mt 4.16; Jo

3.19; Jo 8.12)

Jesus o Autor de Toda Vida - João 1

“6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.

7 Este veio para testemunho, para que

testificasse da luz, para que todos cressem por ele.

8 Não era ele a luz, mas para que testificasse da

luz.

9 Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo

o homem que vem ao mundo.

10 Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.

11 Veio para o que era seu, e os seus não o

receberam.

12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o

poder de serem feitos filhos de Deus, aos que

creem no seu nome;

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13 Os quais não nasceram do sangue, nem da

vontade da carne, nem da vontade do homem,

mas de Deus.

14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do

Pai, cheio de graça e de verdade.”

O apóstolo diz que João Batista havia sido

enviado por Deus para dar testemunho da luz, não da sua luz, mas da fonte da verdadeira luz

que é Cristo.

João Batista veio para testificar da luz, clamando

no deserto para que todos cressem nAquele que é a luz e que é a única que pode iluminar a todo

homem que chega à existência neste mundo.

Fora dele há somente trevas e morte. Mas os que

estão nele encontram luz e vida.

Jesus criou o mundo, e se manifestou ao mundo,

mas o mundo não pode conhecê-lo, senão

aqueles que vêm para a sua luz (v. 10).

Este testemunho de João que ele havia

aprendido diretamente do próprio Cristo de ser

Ele o criador do mundo, acaba com todo o

debate acerca da divindade de Jesus, porque ninguém, a não ser somente um ser divino

poderia ter criado o mundo.

João usa o verbo no passado “estava no mundo”,

ao se referir ao Senhor, porque vários anos já haviam se passado desde que Ele havia

ressuscitado e subido ao céu, quando João

escreveu este seu evangelho.

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Então ele está dizendo do que havia visto acerca

do ministério terreno de Jesus, e especialmente

da sua rejeição pelos judeus, rejeição esta que

continuaria ocorrendo por causa do endurecimento deles.

A nação de Israel se recusou a receber ao Senhor, mas todos aqueles que dentre os

judeus, e todos os gentios, que O têm recebido,

a estes Ele tem dado o poder de se tornarem filhos de Deus, pela simples fé nele,

pela qual alcançam o arrependimento, a

justificação, a regeneração, a santificação e a

glorificação que são por meio dele (v. 12).

Estes que são tornados filhos de Deus, foram

regenerados pelo Espírito Santo, conforme a vontade de Deus em relação a eles, e não por

nascimento natural (laços de sangue), nem da

vontade da carne, nem da vontade do homem.

Não foi por um planejamento dos desejos e nem da vontade da alma do homem que alguém é

transformado num filho de Deus, mas pelo seu

exclusivo poder e vontade (v. 12, 13).

Foi para este propósito que Jesus (o Verbo)

encarnou e veio a este mundo tendo habitado

entre os homens, e manifestado aos seus discípulos a sua glória como Filho unigênito de

Deus Pai, estando cheio de graça e de verdade.

Jesus não deixou de ser o Verbo e a Luz quando

encarnou.

Muitos haviam permanecido no batismo de João

e não avançaram, além disto, e assim não

chegaram a conhecer a verdadeira luz da qual o

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próprio João veio dar testemunho, com a luz da

fonte que é Cristo que ardeu no próprio João por

um breve tempo, no seu curto ministério no

deserto. João não era o Noivo, mas o amigo do Noivo. Não era o Príncipe, mas o seu precursor.

Não era a luz, mas o reflexo da luz. O próprio João

reconheceu que não era ele que deveria ser seguido, mas o Cristo do qual ele dava

testemunho.

De igual maneira, nós não devemos ser

seguidores e adoradores dos ministros do

evangelho, mas somente dAquele para o qual eles devem apontar, que é Cristo. Eles não são

nossos senhores, e nem têm domínio sobre a

nossa fé, mas são apenas ministros por meio de

quem nós cremos porque deram testemunho da luz como mordomos na casa de Deus.

Ninguém deve se deixar conduzir por uma fé

cega nos homens, por mais santos que eles

sejam, porque não são eles aquela luz que veio ao mundo e pela qual os homens recebem uma

nova vida de Deus, mas temos que dar atenção e

receber o testemunho deles porque são

enviados pelo próprio Deus como testemunhas da luz que dá vida aos homens.

Se João Batista tivesse fingido ser ele próprio a

luz, ele não teria sido uma testemunha fiel da luz

de Jesus.

Aqueles que usurpam a honra e a glória de

Cristo terão que prestar contas a Deus do mau

uso que fizeram da mordomia deles.

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João Batista Testificou da Graça e Verdade de

Jesus - João 1

“15 João testificou dele, e clamou, dizendo: Este

era aquele de quem eu dizia: O que vem após

mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu.

16 E todos nós recebemos também da sua

plenitude, e graça sobre graça.

17 Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a

verdade vieram por Jesus Cristo.

18 Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o

revelou.”

O apóstolo havia dito nos versos anteriores que

João Batista havia dado testemunho da luz, e

aqui ele começa a mostrar qual foi o testemunho que ele havia dado, conforme a

palavra que Deus havia revelado a ele acerca de

Cristo.

João Batista disse que Jesus viria após ele, mas

que já existia antes dele ter vindo ao mundo, e que era dele que nós recebemos da sua

plenitude e graça sobre graça (v. 15, 16).

A razão disto é que Ele não veio nos trazer a Lei

como fora dada a Moisés, mas a graça e a

verdade do evangelho, pelas quais somos salvos e transformados em novas criaturas (v. 17).

Jesus é a expressa imagem de Deus Pai, porque é

da mesma essência que Ele, de maneira que o

Deus invisível, que ninguém nunca havia visto,

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foi revelado por meio do seu Filho unigênito (v.

18).

Jesus se manifestou cheio de graça e de verdade

para poder repartir da sua plenitude dando-os

como dons aos homens. Ele tem toda a suficiência de graça e de verdade para salvar os

pecadores e torná-los semelhantes a Ele

próprio.

Nós devemos então olhar para Jesus com os

olhos da fé, da maneira que convém ser olhado, isto é, como alguém que está completamente

cheio de toda graça, virtude, verdade, dons,

enfim, tudo o que for necessário para o nosso

aperfeiçoamento espiritual, e para que tenhamos um viver em verdadeira vitória

perante Ele, recebendo dele toda a provisão que

necessitamos.

Ele está cheio de graça e de verdade e os que

esperam nele não terão falta alguma.

Ele é uma fonte inesgotável, e o Espírito que nos

tem dado é um rio de águas vivas que flui para a eternidade e cujas águas jamais se esgotarão.

Por isso, nunca devemos ficar satisfeitos e imóveis com a medida de graça que tivermos no

presente, porque somos chamados a avançar de

medida de graça sobre graça até à perfeita maturidade em Cristo Jesus.

O apóstolo Paulo havia experimentado abundantemente desta fonte e viu que sempre

havia muito mais para ser experimentado, e

assim ele falou de uma graça superabundante,

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de uma suprema riqueza da graça inescrutável

de Cristo (Rom 5.20; Ef 1.7; 2.7; 3.8).

É, graça sobre graça para fazer avançar a própria

graça na nossa vida, e não propriamente para

atender a desejos caprichosos terrenos.

Das nossas necessidades terrenas Deus cuidará,

mas elas não podem nos melhorar e aperfeiçoar

um só milímetro, por isto a graça é concedida

para que sejamos revestidos da plenitude de Deus em nosso próprio ser.

Uma graça é para melhorar, confirmar e

aperfeiçoar outra graça.

Nós somos transformados à imagem divina de

glória em glória.

De um grau de graça glorioso para outro (II Cor

3.18).

Por isso se diz que àquele que tem, ser-lhe-á

dado mais, porque onde há a verdadeira graça

ela será aumentada por Deus, e tanto mais,

quando for mais abundante (Lc 8.18; Tg 4.6).

João Testificou que Jesus é o Messias - João 1

“19 E este é o testemunho de João, quando os

judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e

levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu?

20 E confessou, e não negou; confessou: Eu não

sou o Cristo.

21 E perguntaram-lhe: Então quem? És tu Elias?

E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu:

Não.

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22 Disseram-lhe pois: Quem és? para que demos

resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de

ti mesmo?

23 Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto:

Endireitai o caminho do Senhor, como disse o

profeta Isaías.

24 E os que tinham sido enviados eram dos

fariseus.

25 E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que

batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?

26 João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com

água; mas no meio de vós está um a quem vós não conheceis.

27 Este é aquele que vem após mim, que é antes

de mim, do qual eu não sou digno de desatar a

correia da alparca.

28 Estas coisas aconteceram em Betânia, do

outro lado do Jordão, onde João estava

batizando.” (João 1.19-28)

Nos versos 15 a 18 nós vimos o testemunho geral

que João dava de Jesus, e aqui nestes versos 19 a 28 nós temos registrado o testemunho que ele

deu em certa ocasião quando os judeus lhe

enviarem sacerdotes e levitas de Jerusalém para

lhe perguntarem quem ele era (v. 19).

João confessou que não era o Cristo.

Que ele não era o grande profeta prometido desde Moisés (Dt 18.18).

Disse também que não era o profeta Elias, que

eles pensavam que voltaria à terra por causa da

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profecia de Malaquias 4.5; que era de fato uma

referência a João Batista sob o codinome de Elias

(Mt 17.10-13), mas isto não significava que João

fosse de fato Elias.

Ele viria no mesmo tipo de espírito e poder do

profeta Elias, conforme o anjo preanunciou o nascimento de João a seu pai Zacarias (Lc 1.17).

João disse aos sacerdotes e levitas que ele era

aquele do qual havia falado o profeta Isaías.

A voz que clama no deserto: Endireitai o

caminho do Senhor. Ele mostrou a eles que o

seu ministério estava apoiado nas Escrituras.

Aqueles sacerdotes e levitas que eram fariseus

não retrucaram a resposta que João lhes dera, mas questionaram ainda por que ele batizava, já

que não era o Cristo, nem Elias e nem o profeta.

João lhes respondeu que ele batizava com água,

mas já se encontrava entre os judeus Alguém

que eles não conheciam, e que viria após ele,

apesar de ser antes dele (até mesmo de Abraão e de tudo e de todos) do qual ele disse

humildemente não ser digno sequer de lhe

desatar a correia da sua sandália.

Este serviço era prestado pelos escravos de mais

baixa categoria aos seus senhores.

Deste modo João testificou a respeito da

dignidade dAquele que veio anunciando.

É dito que na ocasião que João proferiu estas

palavras ele se encontrava na cidade de Betânia,

do outro lado do Jordão, onde estava batizando.

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Esta Betânia não era a mesma que ficava

próxima de Jerusalém, porque é dito que ficava

do outro lado do rio Jordão, cidade esta que era

chamada também de Betabará.

Era de se esperar que aqueles que tanto se dedicavam ao estudo das Escrituras, que fossem

eles os primeiros a reconhecerem a vinda de

João Batista e do próprio Cristo.

No entanto, a grande maioria deles não chegou

a conhecê-lo apesar do testemunho das Escrituras acerca deles, e a própria

manifestação deles entre os judeus.

Isto comprova que é possível Deus estar se

manifestando e operando em nosso meio, e

ainda assim não ser percebido e conhecido por muitos que estiverem dentre aqueles aos quais

Ele estiver se manifestando.

Os escribas e fariseus formaram a própria ideia

deles sobre o reino do Messias, e elaboraram o

seu próprio sistema para a justificação do pecado, de maneira que não se submeteram à

justiça de Deus revelada em Cristo.

O orgulho lhes impediu de renunciarem às suas

convicções para que pudessem ser convencidos

pela verdade de Deus.

Eles não podiam entender que o reino não

consiste em palavras e que nem vem em aparência visível porque é um reino espiritual

que se manifesta espiritualmente.

Assim, não podiam discernir as coisas do

Espírito e permaneciam cegos.

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Os Primeiros Discípulos de Jesus - João 1

“37 E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e

seguiram a Jesus.

38 E Jesus, voltando-se e vendo que eles o

seguiam, disse-lhes: Que buscais? E eles disseram: Rabi (que, traduzido, quer dizer

Mestre), onde moras?

39 Ele lhes disse: Vinde, e vede. Foram, e viram

onde morava, e ficaram com ele aquele dia; e era

já quase a hora décima.

40 Era André, irmão de Simão Pedro, um dos

dois que ouviram aquilo de João, e o haviam

seguido.

41 Este achou primeiro a seu irmão Simão, e

disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo).

42 E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás

chamado Cefas (que quer dizer Pedro).”.

“43 No dia seguinte quis Jesus ir à Galileia, e

achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me.

44 E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.

45 Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei,

e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.

46 Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa

boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê.

47 Jesus viu Natanael vir ter com ele, e disse

dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem

não há dolo.

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48 Disse-lhe Natanael: De onde me conheces tu?

Jesus respondeu, e disse-lhe: Antes que Filipe te

chamasse, te vi eu, estando tu debaixo da

figueira.

49 Natanael respondeu, e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus; tu és o Rei de Israel.

50 Jesus respondeu, e disse-lhe: Porque te disse:

Vi-te debaixo da figueira, crês? Coisas maiores

do que estas verás.

51 E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os

anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho

do homem.”.

Nós temos nestes versos 37 a 42 o registro da

forma como André e Pedro se tornaram discípulos de Jesus.

André havia seguido ao Senhor depois do

testemunho que havia ouvido João dar a respeito

dele, quando passava por eles.

Tendo Jesus mostrado onde morava a André e

ao outro discípulo de João que estava com ele, ambos passaram aquele dia em sua companhia.

André se apressou a contar a Pedro que havia

achado o Messias, e levou Pedro até a casa de

Jesus, onde este lhe deu o apelido de Pedro (do

hebraico Cefas, e do grego Petros), porque o seu nome era Simão, que significa caniço.

Este Pedro vem do grego petros, que significa

pedra, e não petra, cujo significado é rocha.

Quando Jesus disse mais tarde a Pedro (Petros)

que edificaria a sua igreja sobre aquela pedra

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(petra, rocha), estava falando de si mesmo, e não

de Pedro, porque o original grego nos ajuda a

entender o significado das palavras diferentes

que Jesus usou naquela ocasião: petros para Pedro, e petra, para Si mesmo.

Nós vimos nos versículos 37 a 41 do primeiro

capítulo de João, que André foi quem conduziu

Pedro a Jesus.

Na passagem dos versos 43 a 51 nós vemos que

foi Filipe que conduziu Natanael a Ele.

Este é o modo de se propagar a fé, através do nosso testemunho acerca de Cristo a outros, e

nos esforçando para levá-los a conhecerem ao

Senhor.

Não está em nós o poder de dar tal

conhecimento do Senhor às pessoas.

É Ele próprio que se revela a elas, como fizera com Natanael.

Filipe era da mesma cidade de Pedro e André, e é dito no texto que Jesus o achou e disse-lhe para

que O seguisse.

O verdadeiro cristianismo consiste em seguir a

Cristo, porque Ele disse que onde Ele estiver ali

devem estar também os seus servos.

Quando Filipe disse a Natanael que havia encontrado aquele sobre o qual Moisés e os

profetas haviam falado nas Escrituras, e que era

Jesus, filho de José, da cidade de Nazaré, esta

menção à naturalidade de Jesus fez com que Natanael apresentasse a objeção que fizera

quanto ao fato de que Jesus pudesse ser de fato o

Messias sendo de Nazaré, porque não havia,

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25

segundo o seu entendimento das Escrituras,

nenhum profeta de Deus que tivesse sido

levantado na região da Galileia.

No entanto, ele desconhecia que Jesus não

nascera na Galileia, mas em Belém de Judá.

Jesus não era natural de Nazaré, mas de Belém.

Ele residiu por muito tempo em Nazaré, mas

havia nascido em Belém, fato que Natanael

desconhecia.

As próprias Escrituras testificavam que o Messias nasceria em Belém.

Mas apesar da objeção de Natanael, Filipe o conduziu assim mesmo a Jesus.

Natanael ficou maravilhado com o fato de Jesus ter declarado que estava com o seu olhar sobre

ele, quando se encontrava fora do alcance da sua

vista, sentado debaixo de uma figueira.

Ele creu imediatamente e disse que Jesus era de

fato, o Filho de Deus e Rei de Israel.

O Senhor se agradou da manifestação da fé de

Natanael nele, ainda que diante de uma única evidência do seu poder, que lhe havia

manifestado.

Mas, para mantê-lo firme na sua convicção

disse-lhe que ele veria coisas ainda maiores do

que aquela, e que daquele momento em diante ele viria o céu aberto e os anjos de Deus subindo

e descendo sobre o Filho do homem.

Jesus tem sempre muito mais para realizar

sobrenaturalmente com o seu poder, de

maneira que aqueles que se aproximam dele

Page 26: João - parte 1

26

possam ter a fé deles cada vez mais fortalecida e

confirmada.

Page 27: João - parte 1

27

João 2

O Primeiro Milagre de Jesus

“1 E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em

Caná da Galileia; e estava ali a mãe de Jesus.

2 E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas.

3 E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não

têm vinho.

4 Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu

contigo? Ainda não é chegada a minha hora.

5 sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto

ele vos disser.

6 E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma

cabiam dois ou três almudes.

7 Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E

encheram-nas até em cima.

8 E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala.

E levaram.

9 E, logo que o mestre-sala provou a água feita

vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água),

chamou o mestre-sala ao esposo,

10 E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o

vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o

inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.

11 Jesus principiou assim os seus sinais em Caná

da Galileia, e manifestou a sua glória; e os seus

discípulos creram nele.” (João 2.1-11)

Page 28: João - parte 1

28

O terceiro dia ao qual o autor do evangelho se

referiu foi em relação ao dia em que Jesus retornou da tentação do deserto, e quando

passou por João Batista; sendo que no primeiro,

foi seguido por André; no segundo recebeu a

Natanael, no relato que lemos no capítulo anterior, e agora, no terceiro dia depois de ter

alcançado a André, Pedro, Filipe e Natanael,

Jesus se dirigiu a um casamento na cidade de

Caná da Galileia porque fora convidado para a festa com seus discípulos.

É dito que Maria, sua mãe, encontrava-se presente.

Provavelmente poderia ter sido o casamento de

algum parente de Maria ou então ela deveria

privar de intimidade com aquela família, o que

se pode inferir da sua intervenção junto a Jesus e aos serventes quando o vinho acabou.

Segundo o relato de João, até esta altura nós podemos deduzir que os discípulos de Jesus, que

estiveram na festa e que presenciaram o

milagre da transformação da água em vinho, eram André e o outro discípulo de João Batista, o

qual o nome não foi citado neste evangelho;

Pedro, que seguiu Jesus juntamente com ele;

Pedro, Filipe e Natanael.

Segundo João, este foi o primeiro sinal feito por

Jesus que manifestou a sua glória perante os seus discípulos, que tiveram por confirmado

com aquele milagre que Ele era de fato o

Messias.

Page 29: João - parte 1

29

Jesus não havia sequer começado a pregar a sua

doutrina.

O evangelho não havia ainda sido proclamado

publicamente, senão em privado a estes poucos discípulos que haviam se reunido a Ele naquele

curto espaço de três dias.

Como os milagres teriam principalmente a

função de confirmar que Ele era de fato o Messias, dando testificação à Palavra que seria

pregada, então o Senhor teve uma atitude

reservada em mostrar a Maria que os milagres

que Ele faria não tinham o propósito de serem exibições caprichosas do seu poder, mas sinais

que seriam concedidos pelo Pai, pelo poder do

Espírito, para marcarem o seu ministério.

Jesus não fez seu primeiro milagre em Jerusalém, mas num lugar distante e obscuro de

Israel, porque Caná ficava na Galileia, no

território da tribo de Aser.

Isto demonstra claramente que Ele não estava buscando honra de homens, e todos os seus

ministros deveriam seguir o seu exemplo nisto.

A sua doutrina e milagres seriam colocados

mais à disposição dos humildes galileus do que dos rabinos orgulhosos e preconceituosos de

Jerusalém.

O Senhor não necessitava ter ordenado aos

serventes que enchessem as seis talhas com

água até a borda para produzir vinho.

Ele poderia tê-las enchido ainda vazias, mas para

evidenciar que realizaria de fato um milagre

porque aqueles serventes e os discípulos

Page 30: João - parte 1

30

testemunharam que haviam sido enchidas com

água, não haveria como afirmar que aquelas

talhas já continham vinho caso Jesus as

enchesse estando vazias.

Apresentamos a nossa água a Cristo com fé e Ele

a transforma em vinho.

Apresentamos o nosso pouco e Ele transforma

em muito.

Apresentamos nossas tristezas e Ele as

transforma em alegria; nossas enfermidades

em saúde, nossas maldições em bênçãos.

Tudo lhe é possível.

Aquilo que Ele nos dará é excelente, assim como o vinho que Ele fez era de qualidade superior a

todo o vinho que já tinha sido servido naquela

festa.

Jesus Repreende o Comércio no Templo - João 2

“12 Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram

ali não muitos dias.

13 E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

14 E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores

assentados.

15 E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas;

e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e

derribou as mesas;

Page 31: João - parte 1

31

16 E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui

estes, e não façais da casa de meu Pai casa de

venda.

17 E os seus discípulos lembraram-se do que está

escrito: O zelo da tua casa me devorará.

18 Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isto?

19 Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei.

20 Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis

anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?

21 Mas ele falava do templo do seu corpo.

22 Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos,

os seus discípulos lembraram-se de que lhes

dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra

que Jesus tinha dito.” (João 2.12-22)

Ao sair de Caná, Jesus se dirigiu com Maria e seus discípulos para Cafarnaum, e permaneceu

ali alguns dias, (é possível que Jesus tenha ido à

residência de Pedro, o qual apesar de ser natural

de Betsaida, residia em Cafarnaum - Mt 17.24,25); tendo subido depois para Jerusalém

para a festa da páscoa; porque importava que

cumprisse todas as ordenanças da Lei, inclusive

as cerimoniais, de maneira que cumprindo toda a Lei foi achado inculpável diante de Deus, de

maneira que pudesse morrer no lugar dos

pecadores, carregando sobre Si a culpa deles.

Page 32: João - parte 1

32

Ele cumpriu a própria Lei, que Ele instituiu e

deu a Moisés, para que fosse cumprida pelos

homens.

Chegando ao templo ele açoitou com um

azorrague os cambistas e vendilhões, que

haviam estabelecido um comércio no templo de

Jerusalém, para obterem lucro financeiro para si e para os sacerdotes, que exploravam os

serviços deles.

Em vez de homens de Deus aqueles sacerdotes haviam se transformado em meros políticos e

comerciantes.

Jesus mostrou que estava comissionado de

autoridade divina para fazer o que havia feito porque quando foi interpelado pelos judeus que

sinal Ele faria para lhes mostrar que tinha a

autoridade do Messias para fazer aquilo, lhes disse que o sinal seria que em três dias ele

levantaria o templo caso eles o derrubassem,

mas Ele lhes falava da ressurreição do seu

próprio corpo como o sinal dado do céu de que Ele era de fato divino.

Mas pensaram que Ele se referia ao templo de

Herodes que foi construído durante 46 anos,

pelos acréscimos e embelezamentos que foram acrescidos ao templo dos dias de Zorobabel,

depois que os judeus retornaram de Babilônia.

Jesus respondeu aos seus interpeladores com uma parábola relativa à sua ressurreição, de

maneira que lhes disse a verdade de uma

maneira que não poderiam compreender.

Page 33: João - parte 1

33

Eles não estavam buscando conhecer a verdade,

mas desqualificá-lo.

Ao exercer juízos corretivos sobre as coisas que

se faziam no templo nosso Senhor santificou o

nome de Deus e manifestou publicamente que a vontade dele nada tinha a ver com aquele

comércio, ao contrário há um juízo dele sobre

todos aqueles que fazem da sua santa religião uma ocasião para ganho mundano.

O templo de Jerusalém era uma instituição

divina, porque existia por uma ordenação de

Deus para o Velho Testamento.

Esta ação de Jesus despertou contra ele o ódio e

inveja dos sacerdotes do templo e os seus discípulos se lembraram do Salmo 69.9, que era

uma referência ao zelo do qual Jesus estava

completamente tomado pela casa de Deus.

Jesus é zeloso da sua Igreja que é o templo vivo

no qual Deus habita e habitará para todo o sempre.

Ele tem zelo por esta casa espiritual viva e tudo

fará para purificá-la mais do que ao templo de

pedra de Jerusalém.

Jesus Sabe o Que é a Natureza Humana

Pecaminosa - João 2

“23 E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que

fazia, creram no seu nome.

24 Mas o mesmo Jesus não confiava neles,

porque a todos conhecia;

Page 34: João - parte 1

34

25 E não necessitava de que alguém testificasse

do homem, porque ele bem sabia o que havia no

homem.”. (João 2.23-25)

Jesus não se confiou a muitos que haviam

professado ter crido nele por causa dos muitos

milagres que Ele havia feito em Jerusalém.

O evangelista diz que Jesus não confiava neles

porque sae que a natureza terrena de todas as

pessoas é pecaminosa, e pode muito bem disfarçar uma confiança e fidelidade que na

verdade não existem.

A muitos que declararam ter crido em Jesus; Ele

lhes disse que evidenciariam terem crido pela

prática da sua Palavra (Jo 8.31).

Não se pode dizer que os sinais que Jesus havia

feito em Jerusalém foram em vão por causa

destes falsos cristãos, uma vez que muitos outros foram convencidos posteriormente,

vindo a se converter por causa dos sinais que

haviam visto Ele fazer em Jerusalém, como por

exemplo os galileus que tinham subido à festa da páscoa e que deram boa acolhida ao Senhor

quando Ele retornou de Jerusalém para a

Galileia (João 4.43).

Page 35: João - parte 1

35

João 3

Jesus Veio Salvar e Não Condenar

“1 E havia entre os fariseus um homem,

chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.

2 Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe:

Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais

que tu fazes, se Deus não for com ele.

3 Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na

verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.

4 Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem

nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a

entrar no ventre de sua mãe, e nascer?

5 Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te

digo que aquele que não nascer da água e do

Espírito, não pode entrar no reino de Deus.

6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.

7 Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos

é nascer de novo.

8 O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz,

mas não sabes de onde vem, nem para onde vai;

assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

9 Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?

10 Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de

Israel, e não sabes isto?

Page 36: João - parte 1

36

11 Na verdade, na verdade te digo que nós

dizemos o que sabemos, e testificamos o que

vimos; e não aceitais o nosso testemunho.

12 Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes,

como crereis, se vos falar das celestiais?

13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no

céu.

14 E, como Moisés levantou a serpente no

deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;

15 Para que todo aquele que nele crê não pereça,

mas tenha a vida eterna.

16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira

que deu o seu Filho unigênito, para que todo

aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo,

não para que condenasse o mundo, mas para

que o mundo fosse salvo por ele.

18 Quem crê nele não é condenado; mas quem

não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.

19 E a condenação é esta: Que a luz veio ao

mundo, e os homens amaram mais as trevas do

que a luz, porque as suas obras eram más.

20 Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz,

e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.

21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a

fim de que as suas obras sejam manifestas,

porque são feitas em Deus.”

Page 37: João - parte 1

37

Os sinais que Jesus havia feito em Jerusalém e a

sua pregação do evangelho haviam impactado profundamente a um dos líderes dos fariseus

chamado Nicodemos.

Jesus falou sobre o novo nascimento do Espírito

a Nicodemos, e ele não pôde discernir as coisas

que Jesus lhe disse porque são celestiais e espirituais, e Nicodemos tentou compreendê-

las apenas com a sua mente natural.

Como lhe faltou a necessária iluminação do

Espírito Santo, Jesus lhe disse que ele não estava

compreendendo as suas palavras porque não

estava aceitando pela fé o testemunho que Ele estava dando da verdade acerca da iluminação e

operação necessária do Espírito Santo para que

as pessoas possam receber uma nova natureza celestial (regeneração) de maneira que possam

ver o reino de Deus.

Este reino é espiritual e pode ser discernido

somente espiritualmente pela iluminação e

instrução do Espírito Santo ao nosso espírito.

Para confirmar esta verdade, quando

Nicodemos pensou que Jesus estava falando de um novo nascimento natural, deste mundo,

nosso Senhor lhe disse que a carne somente

pode gerar carne, e que estava falando, portanto

de um novo nascimento do espírito, o qual só pode ser gerado pelo Espírito Santo.

Nicodemos estava convencido de que a obra de

Jesus era de Deus, porque de outro modo não

poderia fazer os sinais que estava fazendo.

Page 38: João - parte 1

38

Ele chamou Jesus de Rabi, reconhecendo que

era Mestre.

No entanto, deve ter temido até aquele

momento, que os fariseus soubessem que Ele tinha ido a Jesus, e por isso talvez tenha ido ter

com Ele à noite.

Isto explica em muito a dificuldade que ele teve

para ser instruído pelo Espírito quanto às coisas que Jesus lhe falava.

Nicodemos disse que reconhecia que Jesus era

Mestre, mas não disse que sabia que era o

Messias, ou Filho de Deus porque lhe faltou tal ajuda do Espírito, porque ninguém pode

reconhecer e dizer que Jesus é o Senhor a não

ser pelo Espírito.

Mas, Jesus deve ter vislumbrado a sinceridade

daquele homem, apesar de todas as suas cautelas humanas, e também a possibilidade de

uma conversão futura, diante de maiores

evidências acerca do evangelho e da sua Pessoa divina, tanto que o Senhor não lhe falou por

parábolas e lhe disse as verdades centrais do

evangelho de maneira muito direta, para ajudá-

lo a um ato de entrega completa a Ele.

Devemos lembrar que este diálogo aconteceu quando o ministério de Jesus estava

começando, e Ele viria ainda a ensinar e a fazer

muitas coisas pelo poder do Espírito.

Dentro de aproximadamente três anos, Jesus iria para a cruz, e Nicodemos poderia

testemunhar acerca das palavras que o Senhor

lhe havia ensinado.

Page 39: João - parte 1

39

É bem possível que ele tenha se convertido na

ocasião da morte de Jesus, porque nós o

encontramos não somente defendendo o

Senhor perante o Sinédrio quando haviam enviado guardas para prendê-lo, como também

acompanhou de perto a sua crucificação, tendo

levado consigo cerca de cem libras de uma mistura de mirra e aloés para colocar no corpo

do Senhor, depois que o tiraram da cruz (João

7.50; 19.39).

Jesus também disse a Nicodemos que este novo

nascimento do Espírito não é feito com base na exclusiva vontade do homem, muito pelo

contrário, pela exclusiva vontade do Espírito

Santo, porque tal como o vento, Ele sopra aonde

quer, e o homem não tem qualquer domínio para alterar as correntes dos ventos que sopram

sobre a terra, porque isto foi fixado por Deus.

De igual maneira, os que nascem do Espírito,

como o evangelista já havia afirmado no primeiro capítulo deste evangelho, não nascem

do sangue e da carne, isto é, da vontade do

homem, senão da vontade de Deus.

Até porque todos os homens foram feridos pela

picada mortal do pecado, e somente o olhos da fé podem contemplar o Cristo crucificado para

sermos curados da morte espiritual e eterna, tal

como o contemplar a serpente de bronze no

deserto nos dias de Moisés foi o único remédio provido por Deus para curar os israelitas da

morte física por causa do veneno das serpentes

abrasadoras que vieram sobre eles como

Page 40: João - parte 1

40

manifestação do seu juízo, por causa do pecado

que eles haviam praticado.

A serpente é uma criatura que foi amaldiçoada

por Deus e por isso Jesus fez a comparação, não que Ele seja uma serpente, mas porque Ele se fez

voluntariamente, por amor de nós, maldição no

nosso lugar, porque está escrito na Lei que todo

aquele que for pendurado em madeiro é maldito de Deus.

Assim Cristo se fez maldição por nós para que

pudéssemos ser livrados da maldição e sermos

abençoados por Deus, recebendo o Espírito Santo.

Deste modo, Jesus, na presente dispensação da

graça, não veio para julgar e condenar o mundo,

mas para salvar aqueles que do mundo, o contemplam pela fé, crucificado pelos nossos

pecados.

Antes que Jesus se manifestasse, todo o mundo,

especialmente as nações gentias, encontravam-se em completa treva espiritual, sem o

conhecimento do verdadeiro Deus, e sem

qualquer esperança de salvação.

Daí Jesus ter afirmado de Si mesmo ser Ele

próprio a luz que dá vida ao mundo que se encontra morto no pecado (João 8.12).

A luz de Cristo manifestada através do

evangelho está destinada a brilhar em todo o

mundo, e não com o brilho fosco da Antiga Aliança, como ocorria nos dias do Velho

Testamento, basicamente apenas no território

de Israel.

Page 41: João - parte 1

41

A base da condenação será este fechamento de

olhos para a luz porque o livramento da

condenação é simplesmente pelo ato de fé e

arrependimento que consiste em vir para a luz.

Deus está perdoando gratuita e livremente a

todo e qualquer que venha para a luz.

Ele está salvando por pura graça e não por nenhuma qualificação especial ou obra dos que

são salvos.

Por isso Jesus disse que aqueles que praticarem

a verdade do evangelho, virão para a luz, para que a suas obras sejam manifestas, porque elas

serão feitas em Deus.

Mas aqueles que praticam o mal, odeiam a luz e não virão para a luz para que as suas obras não

sejam reprovadas.

João Testificou a Supremacia de Jesus - João 3

“22 Depois disto foi Jesus com os seus discípulos

para a terra da Judeia; e estava ali com eles, e batizava.

23 Ora, João batizava também em Enom, junto a

Salim, porque havia ali muitas águas; e vinham

ali, e eram batizados.

24 Porque ainda João não tinha sido lançado na

prisão.

25 Houve então uma questão entre os discípulos de João e os judeus acerca da purificação.

26 E foram ter com João, e disseram-lhe: Rabi,

aquele que estava contigo além do Jordão, do

Page 42: João - parte 1

42

qual tu deste testemunho, ei-lo batizando, e

todos vão ter com ele.

27 João respondeu, e disse: O homem não pode

receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.

28 Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas sou enviado

adiante dele.

29 Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que lhe assiste e o ouve, alegra-

se muito com a voz do noivo. Assim, pois, já esta

minha alegria está cumprida.

30 É necessário que ele cresça e que eu diminua.

31 Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra.

Aquele que vem do céu é sobre todos.

32 E aquilo que ele viu e ouviu isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho.

33 Aquele que aceitou o seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro.

34 Porque aquele que Deus enviou fala as

palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida.

35 O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou

nas suas mãos.

36 Aquele que crê no Filho tem a vida eterna;

mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.”

Ao deixar Jerusalém Jesus se dirigiu com os seus

discípulos para a região da Judeia, que ficava ao

norte de Jerusalém, e ao sul de Samaria.

Page 43: João - parte 1

43

Naquela ocasião estava fazendo convertidos que

estavam sendo batizados não propriamente por

Ele, mas pelos apóstolos conforme afirmado em

João 4.2.

Próximo do lugar em que Jesus se encontrava,

João Batista estava também batizando na

localidade de Enom, próximo de Salim.

Alguns pretenderam argumentar com João que somente ele tinha o direito de batizar nas águas

para a purificação dos pecados; julgando que

Jesus e os seus discípulos estavam se

intrometendo na missão divina que João havia recebido para cumprir.

Então, João se apressou em desfazer o equívoco,

lhes explicando que ele era apenas o amigo do

Noivo. A noiva de Cristo é a Igreja e João afirmou que ela não lhe pertence senão a Cristo. Ele

estava alegre em ser apenas o amigo do Noivo.

Não havia nenhuma intromissão de ministérios,

mas uma clara definição de papéis de alguém que estava a serviço de Deus e que era terreno

(João) e de Alguém para o qual existem todos os

ministérios terrenos, e que é do céu (Cristo).

Aqueles que haviam tomado partido de João

contra Jesus, ainda que bem-intencionados necessitariam nascer de novo para que

pudessem entender que era a Jesus que eles

deveriam seguir e servir.

Eles precisavam avançar do batismo de João para o batismo de Cristo. De uma visão natural

do reino de Deus para uma visão espiritual que

poderiam ter somente estando em Cristo.

Page 44: João - parte 1

44

Por isso João tratou de lhes ensinar a verdade

relativa à sua missão que era apenas a de

apontar Cristo aos homens para que pudessem

ser salvos e ter vida eterna nele.

João sabia que o ofício que havia recebido do céu

era temporário, e não eterno como o de Cristo.

Assim o seu ministério diminuiria cada vez

mais, e o de Cristo aumentaria e jamais cessaria.

Ele fez questão de ressaltar que o testemunho

que estava dando agora já havia sido dado por

ele antes, a respeito de Jesus, de maneira que

não cabiam aquelas colocações que seus discípulos estavam fazendo contra o batismo do

Senhor, porque na verdade, importava que

fossem batizados por Ele.

Os discípulos de João estavam vendo a Cristo e seus apóstolos como rivais de João.

Nós devemos ter cuidado para não dividirmos o

reino de Deus e a obra do evangelho por causa

das nossas preferências pessoais a favor de

pessoas e denominações.

Todos aqueles que são verdadeiramente de

Deus e que estão fazendo uma obra verdadeira

que procede dele, fazem parte do mesmo corpo

e deveriam evitar este espírito dos discípulos de João, e seguir o exemplo do mestre deles, que se

apressou em instruí-los quanto à unidade que

há no reino de Deus, entre os diversos

ministérios diferentes que o próprio Deus estabeleceu pelo seu próprio poder.

Apesar de muitos terem rejeitado as palavras

celestiais e verdadeiras que Jesus estava

Page 45: João - parte 1

45

pregando, no entanto, outros aceitariam o seu

testemunho destas coisas celestiais e divinas,

confirmando que Deus é verdadeiro, pela

transformação e poder que seriam operados em suas próprias vidas, conforme a doutrina que

Jesus estava pregando, especialmente as da

justificação, redenção, regeneração e santificação.

Jesus não havia recebido uma medida do

Espírito Santo, como os profetas do Velho

Testamento e todos os demais servos de Deus,

porque sendo divino, habitou nele toda a plenitude do Espírito Santo, em todos os

poderes e dons divinos, e isto explica a

onisciência de Jesus em seu ministério terreno

como comprovou no caso de Natanael, da mulher samaritana, da moeda no ventre do

peixe e em muitas outras ocasiões.

Realmente o Espírito Santo habitava em Jesus de

uma maneira singular, e por isso João disse que Ele não havia recebido de Deus Pai o Espírito por

medida (v. 34).

Foi do agrado do Pai que toda a plenitude

habitasse no Filho, e por isso Lhe sujeitou todas as coisas; de maneira que a vida eterna é obtida

somente pela fé no Filho de Deus, e todos

aqueles que se mantêm rebeldes contra Cristo,

a ira de Deus permanece sobre eles.

Page 46: João - parte 1

46

João 4

Jesus Vai da Judeia para a Galileia

“1 E quando o Senhor entendeu que os fariseus

tinham ouvido que, ele, Jesus, fazia e batizava mais discípulos do que João

2 (Ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os

seus discípulos),

3 Deixou a Judeia, e foi outra vez para a Galileia.”

(João 4.1-3)

No capítulo anterior (3) nós vimos no verso 22

que Jesus havia entrado na Judeia depois da festa em Jerusalém, e agora ele havia deixado a Judeia

cerca de quatro meses antes da colheita, como é

dito no verso 35 deste quarto capítulo, de modo

que isto é computado de modo a se entender que Jesus tinha permanecido na Judeia cerca de seis

meses.

Aqueles que se convertiam com a pregação de Jesus na Judeia eram batizados nas águas, não

propriamente pelo próprio Jesus, mas pelos

seus discípulos.

O próprio João batizava os seus discípulos porque batizava como um servo, mas o batismo

de Jesus era feito pelos apóstolos porque estes

batizavam como servos daquele que era

também o Senhor do próprio batismo de João.

É dito que Jesus havia feito e batizado mais

discípulos do que João, e isto certamente não

Page 47: João - parte 1

47

somente naquela ocasião, mas muito mais do

que João tivesse feito em todo o tempo do seu

ministério, porque dos milagres, as curas, a

palavra pregada pelos próprios lábios do Senhor, somente se poderia esperar um tal

resultado, melhor do que o realizado através de

qualquer homem.

Quando os fariseus o souberam, que multidões

estavam se convertendo e sendo batizadas, isto gerou uma grande inveja neles. Eles estavam

certamente contentes com o fato de João ter

sido aprisionado, e pensavam que estavam

livres de qualquer competição, mas agora surge um incômodo muito maior para eles na pessoa

do próprio Jesus.

O sucesso do evangelho sempre suscitará uma

grande fúria naqueles que são seus inimigos.

Como o Senhor seria perseguido duramente até

mesmo à morte, e como não era ainda chegada a sua hora, pois havia muita coisa ainda a ser

realizada em seu ministério, Ele decidiu deixar a

Judeia e retornar à Galileia novamente.

E como na Galileia não havia tantos religiosos

como em Jerusalém com uma grande concentração de escribas e fariseus, Ele seria

menos importunado lá.

O Evangelho Vence o Preconceito - João 4

Isto aprendemos especialmente na narrativa

relativa ao encontro de Jesus com a mulher

samaritana, conforme registrado no quarto

Page 48: João - parte 1

48

capítulo do evangelho de João, capítulo 4,

versículos 4 a 42:

Versículos 4 a 26

“4 E era-lhe necessário passar por Samaria.

5 Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada

Sicar, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu

filho José.

6 E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte.

Era isto quase à hora sexta.

7 Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-

lhe Jesus: Dá-me de beber.

8 Porque os seus discípulos tinham ido à cidade

comprar comida.

9 Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que

sou mulher samaritana? (porque os judeus não

se comunicam com os samaritanos).

10 Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu

conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria

água viva.

11 Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com

que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a

água viva?

12 És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus

filhos, e o seu gado?

13 Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que

beber desta água tornará a ter sede;

Page 49: João - parte 1

49

14 Mas aquele que beber da água que eu lhe der

nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se

fará nele uma fonte de água que salte para a vida

eterna.

15 Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha

aqui tirá-la.

16 Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e

vem cá.

17 A mulher respondeu, e disse: Não tenho

marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não

tenho marido;

18 Porque tiveste cinco maridos, e o que agora

tens não é teu marido; isto disseste com verdade.

19 Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.

20 Nossos pais adoraram neste monte, e vós

dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve

adorar.

21 Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora

vem, em que nem neste monte nem em

Jerusalém adorareis o Pai.

22 Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o

que sabemos porque a salvação vem dos judeus.

23 Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em

espírito e em verdade; porque o Pai procura a

tais que assim o adorem.

24 Deus é Espírito, e importa que os que o

adoram o adorem em espírito e em verdade.

Page 50: João - parte 1

50

25 A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que

se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos

anunciará tudo.

26 Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.”

Quando Jesus se dirigia da Judeia para a Galileia

seria necessário passar por Samaria, e havia

aqui um povo misto que era o resultado da união de israelitas com os povos que o rei da Assíria

havia deixado lá depois do cativeiro das dez

tribos, cerca de 722 a.C.

Eles adoravam somente o Deus de Israel para o

qual eles haviam erguido um templo no monte Gerizim, em competição com o templo de

Jerusalém.

Havia grande inimizade entre eles e os judeus, e

foi por isso que os samaritanos não queriam dar pousada a Jesus numa outra ocasião, porque o

seu aspecto era como o de quem ia a Jerusalém

(Lc 9.52,53).

Tal era a inimizade entre eles que os judeus quando queriam ofender alguém chamavam a

pessoa de “este samaritano”.

É importante frisar que não era ainda o

momento de se pregar o evangelho em Samaria ou em qualquer região dos gentios porque como

o próprio Jesus afirmou, o seu ministério

terreno seria junto à circuncisão, isto é, junto às

ovelhas perdidas da casa de Israel, porque importava que o evangelho fosse primeiro

pregado a eles, e em face da rejeição deles, seria

estendido aos gentios.

Page 51: João - parte 1

51

Então o que ocorreu com a mulher de Samaria e

com aqueles que viriam a se converter através

do testemunho dela, foi uma migalha que havia

caído da mesa do Mestre, tal como ocorrera com a mulher sirofenícia.

E, passando por Samaria rumo à Galileia, Jesus parou numa das cidades de Samaria de nome

Sicar, porque ali havia uma fonte, e Ele estava

cansado e sedento em razão da viagem.

Nós vemos nisto, que Ele era verdadeiramente

homem e estava sujeito às fraquezas e

necessidades comuns da natureza humana.

Vemos também, que Ele era pobre, senão

estaria fazendo a sua viagem a cavalo ou em carruagens, mas como sempre, Ele viajava a pé.

Quando Jesus chegou em Samaria, os discípulos

haviam ido à cidade comprar comida, mas Jesus ficou ali junto à fonte de exausto que estava.

Nisto veio uma mulher de Samaria pegar água na fonte.

Mas foi certamente pela Providência divina que ela foi inspirada a buscar água naquela hora do

dia em que o sol estava muito forte.

O Pai estava atraindo a pecadora ao Filho para

que fosse salva.

Jesus começou a sua conversa com a mulher samaritana pedindo-lhe que lhe desse de beber.

Ele fez isso nem tanto pela sua própria necessidade mas pelo seu desejo de

recompensar aquela mulher pela oportunidade

que estava lhe dando de servi-lo.

Page 52: João - parte 1

52

A mulher não se negou a atender ao pedido de

Jesus, mas estranhou que Ele apesar de ser um

judeu estivesse falando com ela, por ser

samaritana.

Os judeus afirmavam que os samaritanos não

teriam nenhuma parte na ressurreição e os

excomungavam e os amaldiçoavam em nome

de Jeová, e diziam que nunca comeriam nada das mãos de um samaritano, porque era o

mesmo que estar comendo carne de porco.

Então a mulher estranhou que um judeu (Jesus)

estivesse lhe pedindo de beber.

Ela ficou perplexa com o fato de Jesus não ter

agido da maneira preconceituosa dos judeus.

Ele não rejeitou se aproximar dela pelo fato de

ter uma religião diferente da dele, como teria feito qualquer outro judeu.

Estas disputas religiosas podem endurecer de

tal modo o coração que os homens são afastados

da verdadeira religião que nos ordena amar os

nossos inimigos, amar o nosso próximo, ser misericordiosos para com todas as pessoas.

Então Jesus renunciou à objeção dela quanto à

questão religiosa entre os judeus e samaritanos

e nos deixou um exemplo nisto porque muitas diferenças são melhor curadas sendo

desprezadas, e evitando-se entrar em disputas

acerca delas.

Jesus conduziria aquela mulher à conversão sem esquentar o debate em torno do assunto de

que a adoração dos samaritanos era cismática

(embora o fosse), mas revelando a própria

Page 53: João - parte 1

53

ignorância dela e imoralidade, e

consequentemente a sua necessidade de um

Salvador, porque Deus tem imposto o dever ao

homem que Ele criou de que este seja santo, e que tenha coberta a sua dívida de pecados, e não

é possível se chegar a isto sem um Salvador.

Jesus iria ajudar aquela mulher samaritana a ver

que Ele não era simplesmente um judeu cansado de sua viagem, mas o Messias do qual

ela havia ouvido falar que viria ao mundo.

Ele lhe disse que havia um dom de Deus que ela

ignorava, e Ele falava de si mesmo, porque Ele é o dom de Deus aos homens, do qual dependem

todos os demais dons, inclusive o próprio dom

do Espírito Santo, porque se Ele não tivesse

morrido na cruz, o Espírito não poderia ser dado.

A mulher o tinha visto como um simples judeu

viajante, mas Ele revelaria a ela que havia muito

mais em relação a Ele que ela não sabia, e além

do que se via apenas na aparência.

Jesus é o dom de Deus, a riqueza do amor de

Deus trazida a nós, e o tesouro mais rico de tudo

que possa haver de bom para nós, e um tesouro

que nos é dado gratuitamente sem que seja exigido qualquer mérito ou trabalho da nossa

parte.

É um grande privilégio poder ter este presente

de Deus que nos é oferecido, e ter uma

oportunidade de abraçá-lo.

Com o que disse acerca do dom de Deus, Jesus

mostrou à samaritana que se ela O conhecesse

não lhe teria dado uma resposta tão rude.

Page 54: João - parte 1

54

Mas, como aqueles que desejam conhecer a

Cristo terão que procurá-lo, ainda que Ele esteja

muito próximo deles, tal como aquela mulher

samaritana, Ele continuaria em seu diálogo com ela para poder facilitar o encontro que a

transformaria numa filha de Deus.

É exatamente isto que Ele continua fazendo até

hoje, para que possa ser achado por aqueles que

O buscam.

Ele lhes ajuda na sua cegueira e morte espiritual por causa do pecado para que possam vir a

enxergar e a viver, de modo que possam se

comunicar com Deus e adorá-lo em espírito,

tendo uma vez sido vivificados pela vida eterna que há em Cristo, o dom de Deus aos pecadores,

para que possam sair do estado de completa

incomunicabilidade com as coisas espirituais,

celestiais e divinas em razão da separação que foi ocasionada pelo pecado original.

Então Jesus diz à mulher que caso ela O conhecesse, porque é Ele que é o dom de Deus,

Ele lhe daria água viva.

Jesus estava então prometendo uma fonte

espiritual que jorra continuamente no interior

dos que O conhecem.

Uma fonte que sacia completamente a sede da alma, porque as graças e os confortos do Espírito

Santo satisfazem à alma, porque somente esta

água viva pode satisfazer às necessidade da

alma.

Nada mais poderá saciá-la.

Page 55: João - parte 1

55

Jesus dará o Espírito Santo a todo aquele que lho

pedir.

É por isso que Ele disse à samaritana que o faria

caso ela lhe pedisse água viva.

Mas, a mulher não entendeu que Ele falava de

coisas espirituais, e pensou que ele estivesse se

referindo a uma fonte de água natural que

fluísse continuamente, e que ela era o proprietário dela.

Ela falou da impossibilidade dele fazê-lo, porque não era maior do que o patriarca de todos os

judeus (Jacó) que havia deixado aquele poço

como herança a eles.

Como boa conhecedora da região, ela devia

saber que não havia nas cercanias um poço

melhor do que aquele tal a sua grande

profundidade.

Como Jesus poderia cavar mais fundo do que

aquilo? Como ele poderia tirar água de uma fonte escondida para ela, a não ser cavando

muito?

De onde ele tiraria tais águas?

Ela, como a maioria das pessoas, não consegue enxergar que Cristo tem o poder de abrir fontes

onde bem Lhe aprouver.

Ele pode fazer todo o bem quiser tanto em relação ao mundo natural; quanto ao espiritual,

porque é o criador e sustentador de todas as

coisas.

Além disso, nós não precisamos saber de onde

procede a fonte da vida que Ele nos concede,

Page 56: João - parte 1

56

porque esta fonte se encontra escondida nele

próprio.

Para nós basta sabermos que Ele é a fonte, e não

é necessário saber como é que fluem todas as

bênçãos através desta fonte para nós.

Então Jesus lhe disse que a água do poço de Jacó

era uma provisão que satisfazia necessidades passageiras, de modo que a água natural

necessita ser bebida toda vez que se tem sede.

Mas há uma água espiritual que extingue a sede

espiritual definitivamente, de modo que a

pessoa não mais morrerá de sede pelo temor de que esta água venha a lhe faltar futuramente,

porque esta água, diferente da natural, jamais

falha ou falta, e será provida pela eternidade

afora.

Apesar de Jesus ter dito à samaritana que a água viva que Ele lhe estava oferecendo era uma

fonte para a vida eterna, ela continuou

pensando apenas no que era natural e material

e lhe pediu então que lhe desse daquela água para que não tivesse mais o trabalho de ter que

ir àquele poço para buscar água.

Então Jesus começaria a trabalhar diretamente

na vida daquela mulher, derrubando as

fortalezas da sua alma para que ela pudesse receber a verdade.

Ele sabia que ela era uma pessoa sedenta de vida, mas estava tentando satisfazer esta sede da

maneira errada pois já se encontrava no seu

sexto relacionamento conjugal.

Page 57: João - parte 1

57

Ela estava buscando no homem aquilo que

somente pode ser achado em Deus, a saber,

descanso e paz para a nossa alma.

Jesus, conhecedor deste fato, por revelação

espiritual, fez com que aquela mulher

entendesse que Ele era mais do que um simples judeu viajante.

Quando a mulher samaritana manifestou interesse em receber a água prometida, ainda

que não estivesse entendendo que Ele lhe falava

de realidades espirituais, Jesus pediu que ela fosse chamar o seu marido, e que viesse com ele

à sua presença.

A mulher foi sincera em dizer que não tinha

marido, e Jesus não somente confirmou que ela

não havia casado com o homem com que ela se

relacionava, como também havia tido cinco maridos antes dele.

Isto gerou na mulher a convicção de que Jesus era um profeta, conforme ela mesma declarou.

Assim, o Senhor lhe ensinaria que o Messias procederia de Israel, e não de Samaria, como

também lhe mostraria que a questão da

verdadeira adoração não dependeria mais do

lugar certo para adorar, com a sua chegada, como era exigido na Antiga Aliança (no templo

de Jerusalém), porque a Nova Aliança ampliaria

totalmente a questão do lugar certo da adoração

do templo de Jerusalém, para o próprio corpo do adorador, porque toda adoração deve ser em

espírito, uma vez que Deus é espírito, e também

em verdade, porque Deus é a verdade.

Page 58: João - parte 1

58

Versículos 27 a 42

“27 E nisto vieram os seus discípulos, e

maravilharam-se de que estivesse falando com

uma mulher; todavia nenhum lhe disse: Que

perguntas? ou: Por que falas com ela?

28 Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à

cidade, e disse àqueles homens:

29 Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o

Cristo?

30 Saíram, pois, da cidade, e foram ter com ele.

31 E entretanto os seus discípulos lhe rogaram,

dizendo: Rabi, come.

32 Ele, porém, lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis.

33 Então os discípulos diziam uns aos outros:

Trouxe-lhe, porventura, alguém algo de comer?

34 Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a

vontade daquele que me enviou, e realizar a sua

obra.

35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses até

que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai

os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa.

36 E o que ceifa recebe galardão, e ajunta fruto

para a vida eterna; para que, assim o que semeia

como o que ceifa, ambos se regozijem.

37 Porque nisto é verdadeiro o ditado, que um é

o que semeia, e outro o que ceifa.

Page 59: João - parte 1

59

38 Eu vos enviei a ceifar onde vós não

trabalhastes; outros trabalharam, e vós

entrastes no seu trabalho.

39 E muitos dos samaritanos daquela cidade

creram nele, pela palavra da mulher, que testificou: Disse-me tudo quanto tenho feito.

40 Indo, pois, ter com ele os samaritanos,

rogaram-lhe que ficasse com eles; e ficou ali

dois dias.

41 E muitos mais creram nele, por causa da sua

palavra.

42 E diziam à mulher: Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos

ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente

o Cristo, o Salvador do mundo.”.

Logo depois que Jesus revelou à samaritana que

Ele era o Messias, os seus discípulos chegaram

e ficaram admirados que Ele estivesse conversando com uma mulher, e ainda por cima

samaritana.

Jesus não agiria em nome dos costumes de

Israel e nem discriminaria a ignorância dos

samaritanos, mas lhes falaria como se fosse um deles para poder salvá-los.

E vendo os bons motivos, como sempre havia no

Senhor deles, os discípulos não ousaram lhe

perguntar sobre o que estava conversando com

a samaritana, e esta deixou até mesmo de lado o cântaro de água porque a água viva que estava

agora nela a impulsionou a dar testemunho

acerca de Jesus como sendo o Messias esperado.

Page 60: João - parte 1

60

Ela já tinha esta convicção no seu coração de que

Ele era o Messias, mas colocou para os seus

conterrâneos que eles o constatassem por si

mesmos vindo a ter com Ele.

Por isso ela falou com eles na forma de

pergunta: “Vinde, vede um homem que me

disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é

este o Cristo?” (v. 29), como a dizer: “já que Ele me disse tudo quanto tenho feito, como poderia

deixar de ser o Cristo que nós aguardamos?”

O Senhor sabia que o Pai atrairia outros a ele ali

naquela região de Samaria, e por isso se recusou a comer ainda que os discípulos insistissem com

Ele, porque sabiam o quanto estava faminto,

tanto quanto eles.

Mas Jesus se recusou terminantemente a fazê-lo porque sabia que havia ainda muito trabalho

a fazer pela pregação do evangelho aos

samaritanos que viriam ao seu encontro por

causa do testemunho da samaritana.

Ela havia deixado a água para trás para cuidar

dos interesses do reino de Deus, e o Mestre dela

estava deixando também a necessidade de se

alimentar fisicamente por causa da sede e fome espiritual que seria saciada de muitos com a

conversão deles pela Palavra de salvação que o

Senhor lhes anunciaria.

Jesus fez a honra de se fazer conhecido à

samaritana, e agora ela estava dando-Lhe a honra de fazê-lo conhecido a outros.

A samaritana se tornou uma missionária na sua

cidade.

Page 61: João - parte 1

61

Jesus havia desvendado a condição da vida

interior pecaminosa da samaritana para que ela

pudesse conhecer a sua real condição perante

Deus que exige santidade daqueles que dele se aproximam.

Jesus não somente fez o diagnóstico da doença

como prescreveu a ela o remédio, a saber, o

arrependimento e a fé nele, para que ela

recebesse a água viva que Ele havia prometido.

Foi a isto que ela certamente se referiu quando disse aos samaritanos da cidade que o Senhor

havia dito a ela tudo quanto ela havia feito.

A mulher convenceu os samaritanos a

conversarem com Jesus não para satisfazerem à

curiosidade deles, mas para constatarem por si

próprios que Ele era de fato o Messias pelas coisas que diria a eles, e pelo poder que havia

nas suas palavras.

Toda aquela maravilhosa pesca de homens fez

com que Jesus se esquecesse do seu próprio

cansaço e fome, e certamente Ele foi fortalecido em sua fraqueza física, pelo Espírito Santo, para

realizar o trabalho que deveria fazer para a

glória do Pai, cumprindo a sua missão de

Salvador do mundo.

O trabalho que Jesus fazia para o Pai era a sua comida e bebida.

A mulher samaritana havia feito o trabalho de evangelização que os próprios discípulos não

haviam feito em Samaria, e agora, cabia a eles,

firmar aqueles discípulos na verdade e orientá-

Page 62: João - parte 1

62

los sobre o modo como deveriam viver para o

inteiro agrado de Deus.

Assim, eles estariam ceifando as almas que a

mulher samaritana havia plantado com o seu

testemunho e evangelização.

Para esta colheita de almas não há necessidade de se esperar meses como ocorre com a colheita

de cereais.

O campo estará sempre pronto para ser ceifado

porque Deus não somente nos prometeu uma colheita todos os anos, mas todos os meses,

semanas e dias.

Sempre é tempo de se colher na sua lavoura

espiritual.

Tal foi a alegria da salvação entre os

samaritanos que eles insistiram que Jesus permanecesse entre eles, e o Senhor se

permitiu permanecer ali ainda dois dias.

Nós lembramos que ele estava a caminho da

Galileia, mas Ele sempre se deterá onde quer

que haja alguém que o hospede em seu coração.

Assim, foi preanunciada naqueles samaritanos a boa recepção que os gentios dariam ao Senhor

e à Palavra do evangelho, diferentemente da

grande maioria dos judeus, para os quais Ele

viera, e que o estavam rejeitando e que ainda rejeitariam.

Deus iria provar então, que um verdadeiro

israelita não é conhecido pela circuncisão do

prepúcio, mas pela circuncisão do coração.

Page 63: João - parte 1

63

A Cura do Filho de um Nobre João 4

“43 E dois dias depois partiu dali, e foi para a

Galileia.

44 Porque Jesus mesmo testificou que um profeta não tem honra na sua própria pátria.

45 Chegando, pois, à Galileia, os galileus o

receberam, vistas todas as coisas que fizera em

Jerusalém, no dia da festa; porque também eles tinham ido à festa.

46 Segunda vez foi Jesus a Caná da Galileia, onde

da água fizera vinho. E havia ali um nobre, cujo

filho estava enfermo em Cafarnaum.

47 Ouvindo este que Jesus vinha da Judeia para a

Galileia, foi ter com ele, e rogou-lhe que

descesse, e curasse o seu filho, porque já estava

à morte.

48 Então Jesus lhe disse: Se não virdes sinais e milagres, não crereis.

49 Disse-lhe o nobre: Senhor, desce, antes que

meu filho morra.

50 Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o homem creu na palavra que Jesus lhe disse, e

partiu.

51 E descendo ele logo, saíram-lhe ao encontro

os seus servos, e lhe anunciaram, dizendo: O teu

filho vive.

52 Perguntou-lhes, pois, a que hora se achara

melhor. E disseram-lhe: Ontem às sete horas a

febre o deixou.

Page 64: João - parte 1

64

53 Entendeu, pois, o pai que era aquela hora a

mesma em que Jesus lhe disse: O teu filho vive;

e creu ele, e toda a sua casa.

54 Jesus fez este segundo milagre, quando ia da

Judeia para a Galileia.” (João 4.43-54)

Jesus teve uma grande acolhida entre os

samaritanos, mas importava pregar o evangelho

em todas as partes de Israel, e por isso ele partiu

dois dias depois para a Galileia.

Ele não retornou para Nazaré, cidade onde

residiu até começar o seu ministério, porque

havia testificado que um profeta não tem honra

na sua própria terra, entre aqueles que conviveram com ele, porque sempre o olharão

como mero homem e não enxergarão a

comissão e a autoridade divina que recebeu do

alto para ministrar com poder.

Por isso os ministros do evangelho não devem

se aplicar em permanecer em lugares em que

não sejam respeitados e não recebam a devida honra que lhes é devida, por estarem

comissionados por Deus para fazer a sua obra.

Mas na Galileia Jesus foi bem acolhido pelos galileus não como mero homem, mas como

profeta, porque haviam visto as coisas que Ele

havia feito em Jerusalém, quando lá estiveram

na festa da páscoa.

Quando chegou em Caná da Galileia, pela

segunda vez, porque lá estivera antes quando

transformou água em vinho; veio ao seu

Page 65: João - parte 1

65

encontro um nobre de Cafarnaum cujo filho

estava à morte.

Cafarnaum estava situada ao lado de Betsaida e

Corazim, cidades endurecidas para o evangelho, e Jesus não havia recebido a devida acolhida

deles.

Talvez o motivo de ter se recusado a descer com

o nobre, para visitar seu filho em Cafarnaum, tenha sido o de que já teria sacudido a poeira dos

seus pés em relação àquela cidade, conforme

vemos nos evangelhos sinópticos.

No entanto, o Senhor não se negou a curá-lo diante da súplica humilde do seu pai.

Ele não iria à cidade, mas atenderia àqueles que

daquela cidade lhe procurassem com fé.

Assim Jesus curou aquele enfermo à distância, e

quando o pai chegou em casa encontrou-o perfeitamente são, e os seus servos

confirmaram que a hora em que ele foi

restabelecido foi justamente a hora em que

Jesus havia liberado a sua palavra de ordem para que ele fosse curado.

Jesus deixou evidenciado para aquele nobre,

antes de curar o seu filho, que crer nele para a

salvação é mais importante do que receber dele um sinal ou maravilha.

O milagre da cura seria uma maravilha e um

sinal que Ele operaria, mas não é efetivamente o

melhor caminho para se crer nele, porque há muitos falsificadores e enganadores espalhados

por Satanás, pelo mundo afora, que também

realizam sinais e maravilhas para enganar os

Page 66: João - parte 1

66

incautos, mantendo-os na incredulidade deles

em relação à Palavra de Deus, na qual importa

crermos para sermos salvos.

É dito que o nobre e toda a sua casa creram

diante da evidência da cura, mas não podemos

atestar acerca da qualidade da fé deles, isto é, se foi a fé que salva, ou simplesmente fé para ser

curado, tal como a dos judeus das cidades que

creram para serem curados mas que não se arrependeram dos seus pecados, de maneira

que receberam a justa repreensão de Jesus,

dizendo-lhes que Sodoma e Gomorra achariam

menos rigor no juízo do que tais cidades (Mt 10.15; 11.24).

Muitos procuram Jesus apenas para serem aliviados de suas aflições, de suas

circunstâncias difíceis, mas lhe negam a honra

que é devida de ser servido e adorado como

Senhor.

Mas temos que reconhecer que há muitos que

são como Tomé, os quais creem com fé salvadora, mas somente se virem sinais e

prodígios.

O Senhor, julga mais bem-aventurado que se

creia sem ver, porque isto honra a sua Pessoa,

por uma fé que não necessita de evidências para

crer na sua Palavra.

Afinal, a essência da fé não é a

convicção daquilo que vemos, mas daquilo que não vemos; e também não é a incerteza do que

esperamos; mas a plena certeza de que o Senhor

é fiel e cumprirá tudo o que tem prometido.

Page 67: João - parte 1

67

João 5

A Cura do Enfermo do Tanque de Betesda

“1 Depois disto havia uma festa entre os judeus,

e Jesus subiu a Jerusalém.

2 Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das

ovelhas, um tanque, chamado em hebreu

Betesda, o qual tem cinco alpendres.

3 Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e paralíticos, esperando o

movimento da água.

4 Porquanto um anjo descia em certo tempo ao

tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali

descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.

5 E estava ali um homem que, havia trinta e oito

anos, se achava enfermo.

6 E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que

estava neste estado havia muito tempo, disse-

lhe: Queres ficar são?

7 O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho

homem algum que, quando a água é agitada, me

ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce

outro antes de mim.

8 Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda.

9 Logo aquele homem ficou são; e tomou o seu

leito, e andava. E aquele dia era sábado.

10 Então os judeus disseram àquele que tinha

sido curado: É sábado, não te é lícito levar o leito.

Page 68: João - parte 1

68

11 Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele

próprio disse: Toma o teu leito, e anda.

12 Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que

te disse: Toma o teu leito, e anda?

13 E o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, em razão de

naquele lugar haver grande multidão.

14 Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-

lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para

que não te suceda alguma coisa pior.

15 E aquele homem foi, e anunciou aos judeus

que Jesus era o que o curara.

16 E por esta causa os judeus perseguiram a

Jesus, e procuravam matá-lo, porque fazia estas

coisas no sábado.” (João 5.1-16)

Deus havia proibido aos israelitas, debaixo da

Antiga Aliança, que se fizesse no dia de sábado

atividades que visassem ao lucro e interesse próprios ou aquelas coisas que se fazem

habitualmente nos demais dias da semana, de

maneira que houvesse uma atitude de coração

voltada para a consagração do dia do descanso à sua adoração.

No entanto, nunca foi o Espírito da lei de Moisés,

impedir a realização de qualquer tipo de ação neste dia, conforme os fariseus estavam

ensinando o povo nos dias de Jesus.

Eles confundiram consagração com ociosidade

total, criando um preceito humano que nunca

estivera sequer no pensamento de Deus.

Page 69: João - parte 1

69

Jesus nunca descumpriria qualquer preceito da

Lei que Ele mesmo havia dado a Moisés, porque

importava que fosse em tudo obediente

perfeitamente à Lei, para que pudesse morrer no lugar dos pecadores.

Mas depois da sua morte e ressurreição Ele

revogaria a Antiga Aliança pela inauguração da

Nova Aliança no seu sangue, e consequentemente os preceitos civis e

cerimoniais da Lei de Moisés, inclusive as

prescrições relativas ao Sábado sagrado dos

judeus, seriam revogados.

Era de se esperar que Deus manifestasse a sua

misericórdia especialmente no dia que havia

separado para a adoração do seu nome como

Criador de todas as coisas.

Por isso o nome daquele tanque era Betesda, que

significa casa da misericórdia, porque nele

eram operadas curas por um anjo que descia de

tempos e tempos e agitava a sua água, e o primeiro que entrasse no tanque quando a água

estava sendo agitada, era curado.

Por muito tempo aquele homem que Jesus

curou tentava entrar no tanque, mas como necessitava da ajuda de alguém que lá o

colocasse, sempre entrava alguém antes dele.

Não é dito que o próprio paralítico que Jesus

curou havia se arrependido dos seus pecados,

ou se teve fé apenas para ser curado fisicamente.

Jesus havia se retirado porque havia uma grande

multidão junto ao tanque, e quando o que fora

Page 70: João - parte 1

70

curado foi interpelado pelos judeus sobre quem

lhe tinha ordenado a carregar o seu leito em dia

de sábado, ele lhes disse que não sabia quem era

aquele que lhe havia curado, porque Jesus já havia se retirado.

No entanto, quando Jesus o encontrou no

templo, disse-lhe que ele estava são, mas que

não pecasse mais para que não lhe sucedesse

alguma coisa pior do que aquela enfermidade que ele carregou por 38 anos (v. 14).

Mesmo depois de ter recebido tal advertência do Senhor, o que fez aquele homem?

Ele correu para delatar Jesus aos judeus, de

maneira que estes passaram a procurar o

Senhor com o intuito de matá-lO, porque

segundo eles, ele estava quebrando o sábado.

É bom lembrar que o diabo entrou em Judas

justamente quando Jesus lhe deu um bocado de pão.

Um gesto que deveria gerar amor e gratidão, gerou em Judas inveja e ódio pelo Senhor a

ponto de desejar matá-lo pelas mãos dos judeus;

razão pela qual o traiu inspirado por Satanás.

Os Judeus Intentam Matar Jesus - João 5

“17 E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até

agora, e eu trabalho também.

18 Por isso, pois, os judeus ainda mais

procuravam matá-lo, porque não só

quebrantava o sábado, mas também dizia que

Page 71: João - parte 1

71

Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a

Deus.

19 Mas Jesus respondeu, e disse-lhes: Na

verdade, na verdade vos digo que o Filho por si

mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o

faz igualmente.

20 Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o

que faz; e ele lhe mostrará maiores obras do que

estas, para que vos maravilheis.

21 Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e

os vivifica, assim também o Filho vivifica

aqueles que quer.

22 E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo;

23 Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai

que o enviou.

24 Na verdade, na verdade vos digo que quem

ouve a minha palavra, e crê naquele que me

enviou, tem a vida eterna, e não entrará em

condenação, mas passou da morte para a vida.

25 Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz

do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.

26 Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo,

assim deu também ao Filho ter a vida em si

mesmo;

27 E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é

o Filho do homem.

Page 72: João - parte 1

72

28 Não vos maravilheis disto; porque vem a hora

em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão

a sua voz.

29 E os que fizeram o bem sairão para a

ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para

a ressurreição da condenação.

30 Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é

justo, porque não busco a minha vontade, mas a

vontade do Pai que me enviou.” (João 5.17-30)

Jesus respondeu àqueles judeus que intentavam

matá-lo porque havia curado um paralítico

junto ao tanque de Betesda num sábado, e que lhe havia autorizado a carregar o seu leito, que

os motivos deles de honrarem a Deus não eram

corretos, porque não estavam honrando a Ele

que havia sido enviado pelo Pai.

Quem não honrar o Filho não pode estar

honrando verdadeiramente ao Pai, porque este

tem determinado receber toda a honra dos homens através da honra que deve ser dada a

seu Filho, Jesus Cristo.

Eles estavam agindo com base em preceitos e tradições de homens que anulavam a verdade

da Palavra de Deus.

Eles não chegaram a reconhecer o Filho porque

não estavam buscando verdadeiramente a Deus, tal como os discípulos do Senhor, porque

estes desejavam de fato viver segundo a verdade

de Deus.

Page 73: João - parte 1

73

O discurso de Jesus não era contra eles, mas a

favor de uma genuína conversão.

Se eles lhe dessem ouvidos, muitos deles

poderiam se arrepender dos seus pecados e

chegarem ao conhecimento da verdade, pela revelação do Espírito.

Mas enquanto estivessem endurecidos em suas próprias convicções, sem se submeterem às

palavras do Senhor, permaneceriam nas trevas

em que sempre estiveram.

Eles estavam errando no princípio mais básico

que pode conduzir alguém à conversão que é o reconhecimento da divindade de Jesus.

Por isso ficaram ainda mais furiosos contra Ele

quando declarou que Deus era seu Pai e que todo

o trabalho que Ele realizava era em perfeita

harmonia e conjugação com a vontade do Pai; de maneira que rejeitar o que Ele fazia era o mesmo

que rejeitar o que o Pai estava fazendo.

Jesus disse àqueles judeus endurecidos que eles

não deveriam ficar maravilhados com o fato de

ter curado um paralítico, porque Ele tem toda a

autoridade para fazer obras ainda maiores, como ressuscitar e vivificar os mortos.

Além disso, o julgamento moral relativo ao

pecado para condenação eterna, ou para a vida

eterna foi também dado pelo Pai ao Filho (v. 22 a

27); de maneira que não deveriam ficar admirados, achando que Ele era digno de morte

por ter curado um paralítico no dia de sábado, e

ter-lhe ordenado que carregasse o seu leito,

Page 74: João - parte 1

74

contrariando assim a tradição de homens

estipulada pelas autoridades judaicas.

Deus Pai e Deus Filho podem conceder a vida

eterna aos homens porque ambos têm vida em

si mesmos, sendo a fonte de toda vida espiritual.

Não há verdadeira vida eterna fora do Pai e do Filho, porque é deles que recebemos esta vida (v.

26).

Jesus Defende a sua Autoridade - João 5

“31 Se eu testifico de mim mesmo, o meu

testemunho não é verdadeiro.

32 Há outro que testifica de mim, e sei que o

testemunho que ele dá de mim é verdadeiro.

33 Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu

testemunho da verdade.

34 Eu, porém, não recebo testemunho de

homem; mas digo isto, para que vos salveis.

35 Ele era a candeia que ardia e alumiava, e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo

com a sua luz.

36 Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para

realizar, as mesmas obras que eu faço,

testificam de mim, que o Pai me enviou.

37 E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou

de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem

vistes o seu parecer.

38 E a sua palavra não permanece em vós,

porque naquele que ele enviou não credes vós.

Page 75: João - parte 1

75

39 Examinais as Escrituras, porque vós cuidais

ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim

testificam;

40 E não quereis vir a mim para terdes vida.

41 Eu não recebo glória dos homens;

42 Mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus.

43 Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a

esse aceitareis.

44 Como podeis vós crer, recebendo honra uns

dos outros, e não buscando a honra que vem só

de Deus?

45 Não cuideis que eu vos hei de acusar para

com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em

quem vós esperais.

46 Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis

em mim; porque de mim escreveu ele.

47 Mas, se não credes nos seus escritos, como

crereis nas minhas palavras?” (João 5.31-47)

Aqueles judeus haviam presenciado a evidência

de um milagre realizado pelo Senhor em

alguém que seguramente não havia sido curado

por ter entrado no tanque de Betesda, porque eles sabiam que há 38 anos aquele homem o

tentava com insucesso.

Eles o tinham agora perfeitamente são diante

deles, e nem com isso creram em Cristo.

Eles tiveram agora a oportunidade de ouvir um

discurso sobre a sua missão na terra, que foi

proferido com autoridade e com a unção do

Page 76: João - parte 1

76

Espírito, e nem assim eles se deixaram

convencer da sua missão e pessoa divina.

O próprio testemunho de Moisés poderia

prevalecer contra aqueles judeus no dia do

juízo, porque eles afirmavam fazer o que faziam

por serem seguidores de Moisés. Mas se isto fosse verdadeiro eles teriam seguido a Cristo,

porque tudo o que Moisés ensinou, inclusive

nas sombras cerimoniais da Lei, apontava para Cristo. Eles seriam justamente condenados no

dia do Juízo.

Jesus nunca procurou a sua própria honra e

glória em tudo o que fez, pregou e ensinou,

senão somente a glória e honra do Pai. Todos os

seus servos devem seguir o seu exemplo nisto, não buscando honra e glória para si mesmos.

É em testemunho de verdadeira humildade, estando esvaziados de nós mesmos, que

glorificamos ao Senhor, e receberemos honra e

glória de Deus, e não propriamente dos homens,

que muitas vezes até mesmo nos odiarão e perseguirão.

Aqueles judeus haviam resistido a Cristo e à sua doutrina, mas receberiam de braços abertos aos

falsos mestres e pastores, como seus pais

haviam feito no passado, e como eles estavam

fazendo agora com o ensino errôneo dos escribas e fariseus.

Eles deveriam ter cuidado porque não se fazem estas coisas opcionalmente, como se Deus nos

tivesse dado o direito de escolher a doutrina que

mais nos agrade, se a dele ou a dos homens;

Page 77: João - parte 1

77

porque haverá um juízo sobre o modo pelo qual

vivemos, e que sempre está baseado naquilo em

que nós cremos e realmente amamos.

Se não for ao Senhor e à sua Palavra, estamos

definitivamente arruinados porque teremos

que enfrentá-lo no dia do Juízo para uma condenação eterna, como Jesus havia alertado

aqueles judeus que estavam endurecidos em

suas tradições e falsas convicções teológicas.

No entanto, o problema deles como o de

qualquer outra pessoa não é simplesmente o fato de crerem numa doutrina que seja oposta à

de Cristo, mas a cobiça dos seus próprios

corações por fome de glória e honra pessoal, em

vez de viverem exclusivamente para a honra e glória de Deus, conforme o próprio Senhor

afirmou no verso 44.

Page 78: João - parte 1

78

João 6

Aprendendo Lições na Multiplicação dos Pães e

dos Peixes

“1 Depois disto partiu Jesus para o outro lado do

mar da Galileia, que é o de Tiberíades.

2 E grande multidão o seguia, porque via os

sinais que operava sobre os enfermos.

3 E Jesus subiu ao monte, e assentou-se ali com os seus discípulos.

4 E a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima.

5 Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que

uma grande multidão vinha ter com ele, disse a

Filipe: Onde compraremos pão, para estes comerem?

6 Mas dizia isto para o experimentar; porque ele

bem sabia o que havia de fazer.

7 Filipe respondeu-lhe: Duzentos dinheiros de

pão não lhes bastarão, para que cada um deles

tome um pouco.

8 E um dos seus discípulos, André, irmão de

Simão Pedro, disse-lhe:

9 Está aqui um rapaz que tem cinco pães de

cevada e dois peixinhos; mas que é isto para

tantos?

10 E disse Jesus: Mandai assentar os homens. E

havia muita relva naquele lugar. Assentaram-se,

pois, os homens em número de quase cinco mil.

11 E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças,

repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos

Page 79: João - parte 1

79

pelos que estavam assentados; e igualmente

também dos peixes, quanto eles queriam.

12 E, quando estavam saciados, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram,

para que nada se perca.

13 Recolheram-nos, pois, e encheram doze

alcofas de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido.

14 Vendo, pois, aqueles homens o milagre que

Jesus tinha feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao

mundo.”

Cinco pães e dois peixes representam todos os

nossos poucos recursos que são multiplicados

nas mãos de Cristo.

Ao ter ordenado que fossem recolhidas as

sobras, o Senhor nos ensinou a sermos

econômicos e a preservamos os seus dons e

bênçãos.

Nós não podemos fazer um mau uso ou

desperdiçarmos ainda que sejam as sobras

daquilo que Ele nos tem dado, e que temos reconhecido que temos recebido dele por causa

do seu grande poder e amor.

Em todas as oportunidades Jesus procura

ocasião para provar a fé dos seus discípulos, tal como fizera com eles no monte perguntando a

Filipe onde comprariam pães para alimentar

toda aquela multidão.

Page 80: João - parte 1

80

Quando Jesus fez tal pergunta a Filipe Ele já

sabia o que haveria de fazer, mas queria abrir a

visão dos seus apóstolos para buscarem sempre

nele as respostas para todas as necessidades que se apresentassem diante deles, especialmente

quando estivessem no seu serviço.

Filipe ainda pensava nas possibilidades

humanas e naturais porque respondeu que eles

não tinham nem de longe o dinheiro necessário para comprar uma tão grande quantidade de

alimento.

Mas Jesus não perguntou quanto seria

necessário de dinheiro para comprar o

alimento, mas onde eles comprariam.

Não seria comprado na terra, mas no céu.

O recurso viria do alto pela realização de um

milagre de multiplicação daquilo que eles tivessem.

Tal como fora feito no passado com a farinha da viúva de Sarepta por Elias, e com o azeite da

botija, por Eliseu, na casa da mulher do profeta

que havia morrido endividado.

André deu um passo além de Filipe, mas ainda

permaneceu na visão das possibilidades terrenas e humanas, e não conseguiu dar o salto

da fé, porque procurou investigar se havia entre

eles na multidão alimentos que pudessem ser

repartidos entre todos, mas ficou desencorajado ao ver que apenas um rapaz tinha cinco pães e

dois peixinhos, e questionou Jesus dizendo o que

seria aquilo para tantas pessoas?

Page 81: João - parte 1

81

Mas, a busca de solução de André não seria

inteiramente frustrada, porque ainda que ele

dissesse o que era aquilo para tantos, seria

justamente a partir daqueles poucas pães e peixes que toda a multidão de cinco mil pessoas

seria alimentada.

Filipe havia cruzado os braços ao ver o tamanho

do problema e estava completamente certo pela

lógica dos homens que o melhor a fazer seria

reconhecer que aquele problema era de solução impossível em face dos recursos que eles

possuíam.

Mas, Deus não age segundo a lógica dos homens e então como discípulo de Cristo, Filipe estava

completamente errado segundo o método

divino, que opera segundo a nossa fé, e não

segundo os nossos recursos.

André demonstrou que não tinha ainda uma fé

grande no Senhor, mas ao menos tentou se esforçar para solucionar o problema que Ele

havia proposto, e foi honrado apesar da sua

pequena fé.

Cristo sempre honrará os nossos esforços em

prol do seu reino, ainda que não saibamos as

coisas grandiosas que Ele fará para atender às

nossas presentes necessidades, e resolver aquilo que Ele mesmo nos solicitou.

Jesus fará o milagre mas nós temos que nos esforçar para achar a solução.

Nós temos que trabalhar para obter o nosso pão.

Page 82: João - parte 1

82

Ele multiplicará os nossos recursos e os

abençoará, mas nós temos que nos esforçar para

obtê-los.

André, Filipe e os demais discípulos haviam

aprendido de maneira muito prática, para o

crescimento da fé deles, que não há impossíveis para o Senhor.

Eles estavam até aquele ponto ainda

endurecidos e haviam esquecido o milagre da transformação da água em vinho nas bodas de

Caná; tinham presenciado a cura de muitos

enfermos e endemoninhados, tanto como

aquela multidão que havia seguido Jesus até o monte, por estarem vendo como Ele curava os

enfermos.

Mas com este milagre Ele revelou a eles a sua onipotência divina, porque nunca se viu antes

tantos sendo alimentados com apenas cinco

pães e dois peixes.

Ao servirmos ao Senhor, sejam quais forem as

nossas necessidades, devemos descansar no

fato de que Ele é poderoso para realizar tudo

aquilo que Ele tiver solicitado a nós para fazer em seu nome.

Jesus Caminhou Sobre as Águas - João 6

“15 Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir

arrebatá-lo, para o fazerem rei, tornou a retirar-

se, ele só, para o monte.

16 E, quando veio a tarde, os seus discípulos

desceram para o mar.

Page 83: João - parte 1

83

17 E, entrando no barco, atravessaram o mar em

direção a Cafarnaum; e era já escuro, e ainda

Jesus não tinha chegado ao pé deles.

18 E o mar se levantou, porque um grande vento

assoprava.

19 E, tendo navegado uns vinte e cinco ou trinta

estádios, viram a Jesus, andando sobre o mar e

aproximando-se do barco; e temeram.

20 Mas ele lhes disse: Sou eu, não temais.

21 Então eles de boa mente o receberam no

barco; e logo o barco chegou à terra para onde iam.

22 No dia seguinte, a multidão que estava do

outro lado do mar, vendo que não havia ali mais do que um barquinho, a não ser aquele no qual

os discípulos haviam entrado, e que Jesus não

entrara com os seus discípulos naquele

barquinho, mas que os seus discípulos tinham ido sozinhos

23 (Contudo, outros barquinhos tinham chegado de Tiberíades, perto do lugar onde

comeram o pão, havendo o Senhor dado graças).

24 Vendo, pois, a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, entraram eles

também nos barcos, e foram a Cafarnaum, em

busca de Jesus.

25 E, achando-o no outro lado do mar, disseram-

lhe: Rabi, quando chegaste aqui?

26 Jesus respondeu-lhes, e disse: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos

sinais que vistes, mas porque comestes do pão e

vos saciastes.

Page 84: João - parte 1

84

27 Trabalhai, não pela comida que perece, mas

pela comida que permanece para a vida eterna,

a qual o Filho do homem vos dará; porque a este

o Pai, Deus, o selou.” (joão 6.15-27)

Depois de ter multiplicado os cinco pães e dois peixes Jesus se retirou da multidão e foi sozinho

para o monte.

Ele se antecipou à ação daquelas pessoas porque

sabia que tentariam proclamá-lo rei de Israel, e isto despertaria não somente uma visão

incorreta à natureza do seu reino, que não é

política, como também precipitaria novas

perseguições contra Ele pelo falso argumento de que era um subversivo.

Além disso, não é deste modo que Ele deseja ser

honrado, a saber, com a motivação incorreta, porque o que aquelas pessoas desejavam

realmente não era se submeterem à sua

autoridade divina, para um governo no coração,

mas se livrarem do domínio do Império Romano, e também, como o próprio Senhor lhes

dissera, não por terem reconhecido que Ele era

o Messias, pelos sinais que haviam visto Ele

fazer, mas porque haviam comido dos pães e dos peixes e se fartaram.

Ao cair da tarde os discípulos foram para o mar

da Galileia para atravessá-lo para o outro lado, em direção a Cafarnaum, e como Jesus não

apareceu, decidiram fazer a travessia sem Ele, e

sendo escuro enfrentaram uma tempestade no

Page 85: João - parte 1

85

meio do mar, porque soprava um vento muito

forte.

O Senhor veio ter com eles andando por sobre as

águas do mar, e não sabendo que se tratava de Jesus que vinha na direção deles, temeram, mas

o Senhor lhes tranquilizou revelando-se a eles; e

puderam chegar em segurança ao outro lado;

porque conforme vemos no complemento desta passagem nos evangelhos sinópticos Jesus havia

ordenado ao mar que se acalmasse.

Jesus caminhou sobre o mar tempestuoso para

nos mostrar que Ele tem domínio sobre as tempestades que atingem as nossas vidas e pode

nos manter em perfeita segurança no meio

delas.

Jesus é o Rei dos reis, mas não necessita ser entronizado pelos homens, nem pelos anjos,

porque foi o próprio Pai que Lhe fez Senhor de

tudo e de todos.

Conhecendo o que estava no coração deles, e o motivo pelo qual lhe estavam procurando, Jesus

lhes repreendeu dizendo que não o faziam não

pelos sinais que haviam visto, mas por causa da

comida grátis, e que eles deveriam trabalhar para obter o sustento deles, mas não

simplesmente pelo sustento material que

estavam buscando nele, mas pelo alimento que

permanece para a vida eterna, o qual Ele lhes daria de boa vontade, caso O buscassem da

maneira certa.

Page 86: João - parte 1

86

Provisão Espiritual Garantida - João 6

“28 Disseram-lhe, pois: Que faremos para

executarmos as obras de Deus?

29 Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus

é esta: Que creiais naquele que ele enviou.

30 Disseram-lhe, pois: Que sinal, pois, fazes tu,

para que o vejamos, e creiamos em ti? Que

operas tu?

31 Nossos pais comeram o maná no deserto,

como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do

céu.

32 Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na

verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do

céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.

33 Porque o pão de Deus é aquele que desce do

céu e dá vida ao mundo.

34 Disseram-lhe, pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão.

35 E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele

que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.

36 Mas já vos disse que também vós me vistes, e

contudo não credes.

37 Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que

vem a mim de maneira nenhuma o lançarei

fora.

38 Porque eu desci do céu, não para fazer a

minha vontade, mas a vontade daquele que me

enviou.

Page 87: João - parte 1

87

39 E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que

nenhum de todos aqueles que me deu se perca,

mas que o ressuscite no último dia.

40 Porquanto a vontade daquele que me enviou

é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele,

tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.

41 Murmuravam, pois, dele os judeus, porque

dissera: Eu sou o pão que desceu do céu.

42 E diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo

pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz ele:

Desci do céu?

43 Respondeu, pois, Jesus, e disse-lhes: Não

murmureis entre vós.

44 Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me

enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no

último dia.

45 Está escrito nos profetas: E serão todos

ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que

do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.

46 Não que alguém visse ao Pai, a não ser aquele

que é de Deus; este tem visto ao Pai.

47 Na verdade, na verdade vos digo que aquele

que crê em mim tem a vida eterna.

48 Eu sou o pão da vida.

49 Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram.

50 Este é o pão que desce do céu, para que o que

dele comer não morra.

51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se

alguém comer deste pão, viverá para sempre; e

Page 88: João - parte 1

88

o pão que eu der é a minha carne, que eu darei

pela vida do mundo.

52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer?

53 Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade

vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não

tereis vida em vós mesmos.

54 Quem come a minha carne e bebe o meu

sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.

55 Porque a minha carne verdadeiramente é

comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.

56 Quem come a minha carne e bebe o meu

sangue permanece em mim e eu nele.

57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu

vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta,

também viverá por mim.

58 Este é o pão que desceu do céu; não é o caso

de vossos pais, que comeram o maná e

morreram; quem comer este pão viverá para

sempre.

59 Ele disse estas coisas na sinagoga, ensinando

em Cafarnaum.” (João 6.28-59)

É dito que Jesus disse as coisas que proferiu a

partir do verso 28, na sinagoga em Cafarnaum.

É possível que João tenha feito um arranjo associando este discurso ao que Jesus havia

debatido com os galileus de Tiberíades que lhe

haviam seguido até Cafarnaum, porque

Page 89: João - parte 1

89

encerrou o seu discurso com eles falando de

trabalho de Deus e para Deus.

João registrou que quando Jesus estava

ensinando na sinagoga de Cafarnaum lhe

perguntaram o que deveriam fazer para executar as obras de Deus.

Como há muito pensamento envolvido no fato de se julgar que a obra de Deus é para atender às

nossas necessidades materiais, Jesus disse que a

obra de Deus consiste em ter fé nele, porque foi a Ele que Deus Pai encarregou de fazer a sua

obra na terra.

Então é em associação com Cristo, pela fé nele,

que se pode fazer efetivamente a obra de Deus.

Eles haviam perguntado pelo modo como

deveriam fazer a obra de Deus, mas na verdade

queriam que Deus trabalhasse para eles.

Não havia neles uma verdadeira disposição de

servir ao Senhor, porque pediram que fizesse um sinal demonstrando que era enviado de

Deus tal como foi o caso de Moisés, através de

quem Deus havia dado o maná ao povo de Israel

no deserto.

Jesus lhes disse que aquele não era um sinal da vida eterna celestial que somente Ele pode dar,

porque aquele pão não era celestial, não era o

pão vivo que dá vida eterna, mas um alimento

natural que foi provido de maneira sobrenatural por Deus para tão somente suprir as

necessidades dos israelitas de alimento

material.

Page 90: João - parte 1

90

Então nada havia da vida do céu no maná que os

israelitas consumiram por quarenta anos.

Se eles achavam que o maná era uma grande

evidência para se ter fé em alguém como tendo

sido enviado por Deus, quão maior evidência

não era o próprio Jesus, como o pão da vida que havia sido enviado pelo Pai para dar vida eterna

àqueles que nele creem?

Mas eles não podiam enxergar isto porque não

creram nele.

Se tivessem crido, como os apóstolos, teriam

visto que Ele próprio é o maior sinal e evidência

que podemos ter da parte de Deus, porque passa

a viver em nós, dando-nos a vida do céu, em testificação com o nosso espírito (v. 36).

Eles queriam esta vida, mas sem se entregarem

a Cristo. Sem crerem verdadeiramente nele.

Não é possível ter vida eterna sem Cristo,

porque Ele próprio é a vida eterna.

Jesus não estava buscando o favor e o aplauso

dos homens.

Ao contrário veio fazer o maior dos favores

àqueles que necessitam de salvação para poderem ser resgatados da condenação eterna e

serem feitos filhos de Deus.

Desta maneira, nenhum dos que Lhe foram dados pelo Pai se perderá, mas serão

ressuscitados no último dia (v. 39).

Aqueles que enxergam com os olhos da fé que

Jesus é o pão vivo que desceu do céu e que dá

vida, creem nele, e terão vida eterna; e seus

Page 91: João - parte 1

91

corpos serão ressuscitados no último dia da

dispensação da graça (v. 40).

Estas palavras de Jesus deram ensejo a uma

grande murmuração dos judeus, porque havia

dito que era o pão que tinha descido do céu, e eles sabiam que Ele era filho de José e de Maria.

Como poderia ter descido do céu?

A história da encarnação de Jesus foi mantida

em segredo até ser registrada pelos apóstolos

nos evangelhos.

Importava que estas coisas fossem ocultadas aos

judeus e que fossem ensinados por parábolas, porque Deus não pretende ser servido e

conhecido por evidências externas, mas por um

conhecimento íntimo da sua pessoa, por

revelação do Espírito.

Assim, não é pela mera decisão do homem que Ele chegará a conhecer a Deus, mas por um ato

do próprio Deus em atraí-lo à salvação em seu

Filho, tal como fizera com o centurião Cornélio

(v. 44).

Jesus deu a sua carne como sacrifício na cruz

para que pudéssemos ter vida eterna.

Se Ele não tivesse se oferecido como sacrifício por nós, jamais poderíamos participar da sua

vida, por causa dos nossos pecados.

Como os judeus entenderam erroneamente que

Jesus estava falando literalmente de se comer da

sua carne, ele reforçou ainda mais o erro deles dizendo que não deveriam somente comer a

carne, como também beber o seu sangue,

porque ofereceria a sua própria vida para que

Page 92: João - parte 1

92

tivéssemos vida eterna estando nele e sendo

alimentados espiritualmente por Ele.

Os Que Abandonaram Jesus - João 6

“60 Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo

isto, disseram: Duro é este discurso; quem o

pode ouvir?

61 Sabendo, pois, Jesus em si mesmo que os seus discípulos murmuravam disto, disse-lhes: Isto

escandaliza-vos?

62 Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do

homem para onde primeiro estava?

63 O espírito é o que vivifica, a carne para nada

aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.

64 Mas há alguns de vós que não creem. Porque

bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram

os que não criam, e quem era o que o havia de

entregar.

65 E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for

concedido.

66 Desde então muitos dos seus discípulos

tornaram para trás, e já não andavam com ele.

67 Então disse Jesus aos doze: Quereis vós

também retirar-vos?

68 Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da

vida eterna.

69 E nós temos crido e conhecido que tu és o

Cristo, o Filho do Deus vivente.

Page 93: João - parte 1

93

70 Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os

doze? e um de vós é um diabo.

71 E isto dizia ele de Judas Iscariotes, filho de

Simão; porque este o havia de entregar, sendo

um dos doze.” (João 6.60-71)

O discurso que Jesus fez por causa de uma pergunta que lhe foi feita na sinagoga de

Cafarnaum pelos judeus quanto ao que

deveriam fazer para realizarem as obras de

Deus, precipitou as reações que são citadas nestes versos 60 a 71.

Até aquele momento muitos estavam seguindo

Jesus qualificando-se a si mesmos como seus discípulos.

Mas a grande maioria estava seguindo aos seus próprios interesses egoístas e não propriamente

ao Senhor.

Todavia, os verdadeiros cristãos seguirão sempre ao Senhor, ainda que Ele lhes pergunte

se não pretendem deixá-lo, como fizera com os

doze.

Page 94: João - parte 1

94

João 7

A Incredulidade dos Irmãos de Jesus

“1 E Depois disto Jesus andava pela Galileia, e já

não queria andar pela Judeia, pois os judeus

procuravam matá-lo.

2 E estava próxima a festa dos judeus, a dos

tabernáculos.

3 Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judeia, para que também os teus

discípulos vejam as obras que fazes.

4 Porque não há ninguém que procure ser

conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se

fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.

5 Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.

6 Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o

meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto.

7 O mundo não vos pode odiar, mas ele me odeia

a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más.

8 Subi vós a esta festa; eu não subo ainda a esta

festa, porque ainda o meu tempo não está cumprido.

9 E, havendo-lhes dito isto, ficou na Galileia.

10 Mas, quando seus irmãos já tinham subido à

festa, então subiu ele também, não

manifestamente, mas como em oculto.

11 Ora, os judeus procuravam-no na festa, e

diziam: Onde está ele?

Page 95: João - parte 1

95

12 E havia grande murmuração entre a multidão

a respeito dele. Diziam alguns: Ele é bom. E

outros diziam: Não, antes engana o povo.

13 Todavia ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.”

Sabendo do grande risco de morte que pairava

sobre Ele na Judeia, Jesus decidiu permanecer

por algum tempo na Galileia, desde a Páscoa em que curara o paralítico junto ao tanque de

Betesda, a qual era celebrada no primeiro mês

judaico, até a festa dos Tabernáculos que era

celebrada no sétimo mês; ocasião em que também concorria um grande número de

judeus a Jerusalém, vindos de todas as partes do

mundo, sendo propícia para se dar testemunho

do evangelho a muitos deles.

Não foi por medo que Jesus não permaneceu em

Jerusalém, mas por prudência, porque não era

ainda chegada a sua hora de morrer na cruz.

Veja que a luz do evangelho é levada para longe

daqueles que se esforçam para extingui-la, e que Jesus não permanecerá onde não for bem

recebido.

Aprendemos do mesmo exemplo de Jesus que

não devemos permanecer Lhe servindo onde

não sejamos bem recebidos, porque não somente o nosso testemunho será inócuo, como

também nos cumularemos de muitas dores

desnecessárias.

Page 96: João - parte 1

96

Jesus não se importou em se unir às pessoas

obscuras da Galileia, apesar de pertencer a Ele a

honra de estar sentado na cadeira de Moisés em

Jerusalém, recebendo honra de todos os judeus.

O diabo usou os próprios irmãos de Jesus para

tentá-lo a ir pública e manifestamente a

Jerusalém para fazer as suas obras, para que

fosse visto pelos seus discípulos; de maneira a que se expusesse e fosse preso e morto antes de

cumprir tudo o que ainda deveria fazer.

Eles haviam dito isto com ironia porque até

aquela altura ainda não criam nele.

O próprio Tiago que escreveu a epístola que leva

o seu nome, viria a crer nele somente depois da

evidência da sua ressurreição (I Cor 15.7).

Ele suportou tudo isto pacientemente porque

sabe que a carne não pode entender os mistérios do reino de Deus, e assim, enquanto se

permanece na carne é impossível entender as

coisas do Espírito.

Não sabemos se os irmãos de Jesus estavam conscientes dos riscos que Lhe aguardavam em

Jerusalém por causa do grande ódio dos judeus

por Ele, a ponto de que até mesmo os judeus da

dispersão e de outras partes da Palestina terem temido indagar por Ele manifestamente, para

que não fossem entregues aos judeus da Judeia,

que queriam matá-lo.

Mas se estavam ou não conscientes disto o Senhor lhes respondeu que não subiria com

eles à festa porque não era um momento

oportuno para Ele, porque estava sendo odiado

Page 97: João - parte 1

97

por aqueles judeus, que eram do mundo, por ter

testificado contra as más obras deles.

Todavia, quem do mundo odiaria os seus irmãos

incrédulos?

Eles não podiam testificar contra a

incredulidade sendo eles próprios incrédulos, e

assim não granjeariam naquela condição o ódio de ninguém, e portanto poderiam ir para

Jerusalém no tempo que bem lhes aprouvesse.

Assim Jesus foi ocultamente para a festa

somente depois que seus irmãos subiram a

Jerusalém.

Ele sabia que havia judeus da dispersão e de

outras partes da Palestina procurando por Ele e assim não perderia a oportunidade de lhes

pregar o evangelho.

Pouco devemos nos importar com o

testemunho que o mundo der a nosso respeito

porque será sempre um testemunho falho,

como o que os judeus deram de Cristo porque alguns diziam que ele era bom, e outros que não

era bom, e que enganava o povo.

Eles viam a Jesus apenas como homem e não

tinham um julgamento apropriado, não

somente relativo à sua divindade como também à obra espiritual que Ele realizava no poder do

Espírito.

Page 98: João - parte 1

98

Jesus Repreendeu a Incredulidade dos Judeus -

João 7

“14 Mas, no meio da festa subiu Jesus ao templo, e ensinava.

15 E os judeus maravilhavam-se, dizendo: Como sabe este letras, não as tendo aprendido?

16 Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me

enviou.

17 Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela

mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou

se eu falo de mim mesmo.

18 Quem fala de si mesmo busca a sua própria

glória; mas o que busca a glória daquele que o

enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.

19 Não vos deu Moisés a lei? e nenhum de vós observa a lei. Por que procurais matar-me?

20 A multidão respondeu, e disse: Tens demônio; quem procura matar-te?

21 Respondeu Jesus, e disse-lhes: Fiz uma só

obra, e todos vos maravilhais.

22 Pelo motivo de que Moisés vos deu a

circuncisão (não que fosse de Moisés, mas dos pais), no sábado circuncidais um homem.

23 Se o homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja quebrantada,

indignais-vos contra mim, porque no sábado

curei de todo um homem?

24 Não julgueis segundo a aparência, mas julgai

segundo a reta justiça.

Page 99: João - parte 1

99

25 Então alguns dos de Jerusalém diziam: Não é

este o que procuram matar?

26 E ei-lo aí está falando abertamente, e nada lhe

dizem. Porventura sabem verdadeiramente os

príncipes que de fato este é o Cristo?

27 Todavia bem sabemos de onde este é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde

ele é.

28 Clamava, pois, Jesus no templo, ensinando, e

dizendo: Vós conheceis-me, e sabeis de onde sou; e eu não vim de mim mesmo, mas aquele

que me enviou é verdadeiro, o qual vós não

conheceis.

29 Mas eu conheço-o, porque dele sou e ele me

enviou.

30 Procuravam, pois, prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele, porque ainda não era chegada

a sua hora.

31 E muitos da multidão creram nele, e diziam:

Quando o Cristo vier, fará ainda mais sinais do

que os que este tem feito?

32 Os fariseus ouviram que a multidão murmurava dele estas coisas; e os fariseus e os

principais dos sacerdotes mandaram servidores

para o prenderem.

33 Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda um pouco de

tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou.

34 Vós me buscareis, e não me achareis; e onde

eu estou, vós não podeis vir.

35 Disseram, pois, os judeus uns para os outros:

Para onde irá este, que o não acharemos? Irá

Page 100: João - parte 1

100

porventura para os dispersos entre os gregos, e

ensinará os gregos?

36 Que palavra é esta que disse: Buscar-me-eis,

e não me achareis; e: Aonde eu estou vós não podeis ir?”

O problema básico dos judeus de Jerusalém para

reconhecerem a autoridade de Jesus continua sendo o mesmo problema de muitos na própria

Igreja ainda em nossos dias.

Eles achavam que a autoridade de Deus passa

obrigatoriamente por instituições de ensino regulares com atestação de colação de grau

pelos homens.

Quando ficaram maravilhados com o

conhecimento de Jesus das Escrituras, eles ficaram ao mesmo tempo resistentes pelo fato

de não tê-las aprendido nas escolas rabínicas e

de não ter autorização expressa dos rabinos para

se dedicar aos assuntos relativos à religião.

Não somente Jesus, como João Batista e os

apóstolos não estiveram debaixo do ensino

deles para poderem exercer o ministério que

haviam recebido de Deus, porque eles não estavam honrando verdadeiramente ao Senhor

e à sua Palavra.

A doutrina de Deus é conhecida fazendo-se a sua

vontade (v. 17).

A doutrina do evangelho foi revelada nas

Escrituras do Velho Testamento, mas estava

escondida aos religiosos de Israel porque todas

Page 101: João - parte 1

101

as coisas ditas em relação ao Messias estavam

encobertas pelo véu do Velho Testamento.

É somente no próprio Cristo e na forma direta e clara como Ele expôs o evangelho que este véu é

retirado, de maneira que se possa ver

claramente aquelas coisas sobre as quais Deus

havia falado através de Moisés e dos profetas do Antigo Testamento.

Então não seria nenhum rabino que poderia

ensinar a Cristo o que era o evangelho

preanunciado por Deus desde Abraão, e revelar quem era Aquele que pisaria a cabeça da

serpente, conforme Deus havia dito a Adão.

Somente aqueles que têm aprendido e ouvido da parte de Deus podem falar em seu nome.

Aqueles judeus estavam vendo Jesus como um

mero professor de religião.

Um homem envolvido no ministério de ensino

para as escolas rabínicas, e não um general

celestial com a incumbência de formar soldados

para guerrearem contra os poderes das trevas que aprisionavam até mesmo a muitos destes

que estavam se opondo ao Senhor e

pretendendo matá-lo.

Jesus não estava buscando a glória do

reconhecimento de ser um grande mestre entre

os homens, mas a glória de Deus Pai, realizando

a obra que Lhe havia designado para cumprir (v. 18).

Para que eles queriam mais um mestre da Lei se

eles não cumpriam a Lei?

Page 102: João - parte 1

102

Como podiam então pretender matar o Senhor

com a aprovação do Sinédrio, pelo falso

argumento dele ter quebrado a Lei curando

aquele paralítico do tanque de Betesda num dia de sábado?

Diante da afirmação do Senhor de que eles não

guardavam a Lei, eles dissimularam e disseram

que Ele estava endemoninhado para fazer uma tal afirmação de que eles pretendiam matá-lo,

pelo motivo de ter quebrado o sábado.

Na verdade eles não estavam procurando tirar-

lhe a vida por motivo de zelo religioso. Aquilo era apenas um pretexto para agradarem os

governantes e autoridades judaicos.

Circuncidar no sábado era lícito, mas curar não?

Circuncidar era lícito, mas salvar não?

Afinal que pecado Jesus havia cometido então?

Que julgamento era portanto aquele que eles

estavam fazendo? Era segundo a reta justiça?

Não.

Era segundo a conveniência deles e segundo a

aparência, daquilo que lhes parecia ser a quebra

da Lei sem que fosse de fato.

Então alguns daqueles judeus de Jerusalém se indignaram ainda mais contra o Senhor e

disseram ironicamente que não entendiam

como os principais líderes de Israel permitiam

que Ele continuasse falando abertamente.

Para instigar os sacerdotes a zelos, perguntaram

ironicamente se por acaso teriam eles

reconhecido afinal que ele era o Cristo?

Page 103: João - parte 1

103

Para se justificarem fizeram questão de dizer

que no que tocava a eles bem sabiam que ele não

podia ser o Messias, porque sabiam onde ele

tinha nascido e vivido; e por uma afirmação teológica que não sabemos de onde eles a

sacaram, porque não consta nas Escrituras,

afirmaram que quando o Cristo se manifestasse ninguém saberia de onde ele é.

Ao contrário, a profecia diz claramente que o Messias nasceria em Belém Efrata.

Eles afirmaram que sabiam onde Jesus tinha

nascido e vivido, no entanto eles não conheciam

de fato de onde Ele viera, porque foi enviado

desde o céu pelo Pai, o qual nenhum deles conhecia.

Eles viram a Cristo, mas também não O conheceram como importa ser conhecido, isto

é, em espírito.

Quando Jesus falou da sua verdadeira

proveniência no templo, tentaram prendê-lo,

mas ninguém pôde lançar mão dele, porque não era ainda chegada a sua hora de ser preso e

morto.

Seu testemunho ousado e corajoso debaixo de

toda aquela perseguição e os sinais que fazia,

levaram muitos a crerem nele, e julgavam que seria impossível que um outro fosse o Cristo,

porque não poderia fazer mais sinais do que

aqueles que Jesus já havia feito.

Quando os fariseus ouviram a multidão fazer tal

afirmação acerca dele, de ser o próprio Messias,

Page 104: João - parte 1

104

eles se uniram aos principais sacerdotes para

que fossem enviados guardas para prendê-lo.

Sabendo disto Jesus lhes disse que permaneceria neste mundo com os judeus

ainda por mais um pouco de tempo, porque iria

voltar para Aquele que Lhe havia enviado.

Quando isto acontecesse o procurariam, mas

não poderiam mais achá-lo, porque para onde

Ele iria, eles não poderiam ir.

Certamente, o céu não é lugar para incrédulos, conspiradores e perseguidores do próprio

Cristo.

Eles pensaram que Ele se retiraria dos termos de Israel para ensinar os judeus da dispersão que se

encontrava entre os gregos, e aos próprios

gregos.

E ficaram a indagar entre si qual era o significado da palavra que lhes havia dito que

eles O buscariam mas não O achariam, e que

onde ele estaria eles não poderiam ir.

O Rio de Água Viva - João 7

“37 E no último dia, o grande dia da festa, Jesus

pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem

sede, venha a mim, e beba.

38 Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios

de água viva correrão do seu ventre.

39 E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito

Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não

ter sido glorificado.

Page 105: João - parte 1

105

40 Então muitos da multidão, ouvindo esta

palavra, diziam: Verdadeiramente este é o

Profeta.

41 Outros diziam: Este é o Cristo; mas diziam outros: Vem, pois, o Cristo da Galileia?

42 Não diz a Escritura que o Cristo vem da

descendência de Davi, e de Belém, da aldeia de

onde era Davi?

43 Assim entre o povo havia dissensão por causa

dele.”. (João 7.37-43)

Jesus comprovou com estas palavras de João 7.37-43, que realmente não veio condenar, mas

salvar o mundo na presente dispensação da

graça. Porque, em face de tanta oposição que

estava sofrendo, seria de se esperar que Aquele que recebeu do Pai toda autoridade no céu e na

terra para exercer juízos em seu nome,

trouxesse uma palavra de condenação ou

correção, e não um convite para a salvação, e ainda por cima por pura graça.

Era o último dia da festa dos Tabernáculos e as

pessoas estariam voltando para as suas casas.

Então Jesus aproveitou a oportunidade para lhes deixar um forte apelo em suas consciências para

que viessem a se converter a Ele, ainda que

soubesse que apenas alguns dentre eles se

converteriam de fato.

É a Cristo e somente a Ele que se deve ir com fé

no coração para que se receba o Espírito Santo

como um dom para habitar em nós para sempre.

Page 106: João - parte 1

106

Somente os que têm fome e sede de justiça, da

justiça do reino de Deus, podem vir a Cristo para

serem saciados.

Por isso Ele não disse simplesmente que

viessem beber a água viva todos os que a

desejassem, mas apenas os que têm sede.

Esta sede é, sobretudo por uma vida santa,

porque a água do Espírito nos purificará dos

nossos pecados, para sermos santos e

inculpáveis como Cristo.

Importava que Jesus fosse glorificado no céu

pela obra de redenção que realizou na terra,

para que o Espírito Santo pudesse ser

derramado como um dom em todas as nações.

Jesus sabia que Israel estaria endurecido para

tal recepção, conforme havia sido profetizado

desde o Velho Testamento (Is 65.1,2), e conforme eles estavam demonstrando durante

todo o seu ministério terreno, mas os gentios

viriam a beber da água que eles haviam

rejeitado.

Enquanto os gentios estariam dando glórias e

aleluias, transbordando na alegria do Espírito,

os judeus continuariam debatendo acerca de ser Cristo ou não o Profeta prometido desde

Moisés (Dt 18.18), e se fosse o Messias como

poderia ser da Galileia, porque a muitos deles

ficou ocultado propositalmente pelo Senhor as circunstâncias que envolveram o seu

nascimento em Belém, e pensavam que Ele

havia nascido em Nazaré, onde viveu, apesar de

Page 107: João - parte 1

107

conhecerem pelas Escrituras que o Messias

nasceria em Belém.

Jesus se tornou para eles, conforme afirmam as Escrituras, uma rocha de escândalo e de

tropeço, em vez de ser a rocha eleita e preciosa

de salvação para aqueles que nele creem.

Não é por meio de discussão e debates sobre a

Lei, e ainda sobre todas as Escrituras que se

chega a conhecer a Cristo, mas por um ato de entrega espiritual, pessoal e voluntária a Ele,

confiando completamente nele para que seja o

nosso Salvador e Senhor.

As graças do Espírito Santo são como as águas

vivas de uma fonte porque estão sempre em

movimento e em constante renovação, e jamais

terminam.

Não são águas paradas de um poço ou cisterna.

Esta água salta para a vida eterna, e é por isso que Jesus disse à mulher samaritana que ela

jamais teria sede se bebesse desta água, porque

é como água de uma fonte, só que é uma fonte

que nunca se esgotará e que continuará saciando a nossa sede por toda a eternidade.

Sem esta água espiritual não é possível ter vida espiritual eterna.

Nem mesmo vida por alguns dias.

Não há de fato nenhuma vida espiritual se não

tivermos esta água viva, que é o Espírito Santo,

fluindo no nosso interior.

Jesus disse que o fluir deste rio de água viva

estava citado nas Escrituras do Velho

Testamento.

Page 108: João - parte 1

108

Dentre estas Escrituras salta à vista o texto de

Ezequiel relativo ao rio que procede do trono de

Deus e que vai aumentando de volume cada vez

mais, e que gera vida por onde quer que ele passe (Ez 47.1-12).

Estas águas do Espírito são também derramadas

como chuva conforme afirmam as Escrituras (Is

44.3; Joel 2.28; Zac 12.10).

Os judeus deixaram o manancial de águas vivas

para cavarem cisternas quebradas que não

podem reter as águas (Jer 2.13), e fizeram isto por

se firmarem na própria justiça deles, e naquilo que pensavam ser a justiça das obras da Lei, Lei

esta que eles quebravam de todas as maneiras e

formas, e não confiaram na justiça de Cristo

para que fossem justificados, e assim recebessem a promessa da habitação do Espírito

Santo.

Mas, todos aqueles que têm o Espírito Santo

trabalhando neles tal como a água, lhes purificando, pela fé, dos seus pecados,

amolecendo seus corações para receberem a

Palavra da vida, e sendo alimentados pela água

para crescerem e frutificarem espiritualmente; pode-se dizer destes, que estão de fato

transbordando no Espírito Santo, conforme

Cristo havia prometido para todos aqueles que

cressem nele.

Este transbordamento fluirá do ventre deles,

isto é, do seu interior, do seu espírito, como um

rio poderoso de água viva, especialmente na

Page 109: João - parte 1

109

pregação e ensino do evangelho, transmitindo

vida a muitos.

Nenhum Outro Fala Como Ele - João 7

“44 E alguns deles queriam prendê-lo, mas

ninguém lançou mão dele.

45 E os servidores foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus; e eles lhes

perguntaram: Por que não o trouxestes?

46 Responderam os servidores: Nunca homem algum falou assim como este homem.

47 Responderam-lhes, pois, os fariseus:

Também vós fostes enganados?

48 Creu nele porventura algum dos principais

ou dos fariseus?

49 Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.

50 Nicodemos, que era um deles (o que de noite

fora ter com Jesus), disse-lhes:

51 Porventura condena a nossa lei um homem

sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que

faz?

52 Responderam eles, e disseram-lhe: És tu

também da Galileia? Examina, e verás que da

Galileia nenhum profeta surgiu.

53 E cada um foi para sua casa.”. (João 7.44-53)

Os guardas que tinham saído da parte dos fariseus e dos principais sacerdotes para

prenderem Jesus, retornaram a eles perplexos

afirmando que nunca tinham ouvido alguém

Page 110: João - parte 1

110

falar com tanta autoridade e poder como o

Senhor.

Eles temeram lançar mão dele para não

receberem nenhum juízo severo da parte de Deus, tal como havia sucedido com aquelas duas

guarnições dos capitães de cinquenta que

tinham saído a mando do rei de Israel para

prenderem Elias, e que haviam sido consumidos pelo fogo que veio da parte de Deus sobre eles.

Os próprios fariseus e sacerdotes estavam

procurando um estratagema para pegarem o

Senhor, conforme veremos nos capítulos seguintes, mas não tentariam fazer nada

diretamente contra Ele, primeiro por temerem

aqueles do povo que haviam crido nele, e

aqueles que estavam considerando que Ele fosse de fato realmente o grande Profeta e o

Messias.

Eles conspirariam fortemente contra Ele entre

si e às ocultas.

Os fariseus estavam muito seguros do falho

conhecimento que eles tinham das Escrituras, e

na sua cegueira por causa do ódio e inveja que

tinham de Cristo, não podiam enxergar a verdade.

Eles consideravam o povo maldito porque não

tendo o conhecimento que eles julgavam ter das

Escrituras, acabaram crendo em Cristo, apesar

deles estarem afirmando que Jesus estava enganando o povo.

Não foi sem razão que Jesus falou duramente

contra a hipocrisia dos escribas e fariseus, que

Page 111: João - parte 1

111

sendo guardiões das Escrituras, usavam-nas

contra os propósitos de Deus, por causa dos

próprios interesses carnais e egoístas deles.

A maioria dos escribas e fariseus estava

perseguindo a Cristo por motivo de inveja e de

falso zelo religioso, porque desejavam manter o status de únicos guias espirituais do povo de

Israel, e para fins políticos na preservação da

estima que tinham alcançado junto ao povo.

Outros, como Paulo, que viria a se converter

mais tarde perseguiram ao Senhor e seus discípulos por motivo de ignorância e pensando

estarem fazendo de fato um grande serviço a

Deus, tentando suprimir aqueles que eles

pensavam estar agindo contra a Lei de Moisés.

Quando Nicodemos, que era um dos principais

dos fariseus se levantou para defender Jesus dizendo que a lei não permitia que alguém fosse

condenado sem que primeiro fosse ouvido, para

que se defendesse das coisas contra as quais

estava sendo acusado; os demais fariseus lhe perguntaram com ironia se por acaso ele,

Nicodemos, era também natural da Galileia,

para estar defendendo um Galileu como Jesus,

uma vez que segundo o exame que eles fizeram das Escrituras nunca nenhum profeta havia sido

levantado por Deus na Galileia.

No entanto, eles não sabiam que Jesus não havia

nascido na Galileia, mas na cidade de Belém,

que ficava na Judeia.

Os fariseus faziam esta afirmação de modo

impactante dizendo que não havia sido

Page 112: João - parte 1

112

levantado nenhum profeta na Galileia, para

enganarem o povo, uma vez que é bem certo que

eles sabiam que Jonas era de Gate-Efer, e Naum

um eclosita, ambos da Galileia. Assim, a afirmação deles era falsa.

Mas, de todo modo, eles foram apanhados por

Deus na própria sabedoria deles, para que

permanecessem endurecidos crendo numa verdade aparente que lhes convinha, para não

admitirem que Jesus fosse de fato o Messias.

Eles precisavam de um argumento para

justificar o seu endurecimento, e se não encontrassem um eles o inventariam, assim,

Deus lhes confundiu fazendo com que Jesus

nascesse de uma família que residia em Nazaré,

na Galileia, mas cujos ancestrais eram naturais da cidade de Belém, onde tiveram que se

recensear por decreto de César Augusto, para

que Jesus lá nascesse dando cumprimento às

Escrituras.

Jesus sabia que dificilmente teria governantes e

fariseus do seu lado porque a abnegação e o

carregar diário da cruz seria uma lição muito

dura para que eles cumprissem em seu orgulho e presunção.

Por isso o evangelho é destinado aos pobres de

espírito, aos mansos e quebrantados de coração,

porque somente estes se autonegam e carregam a cruz voluntariamente, para fazerem

não a sua própria vontade, mas a do Senhor.

Page 113: João - parte 1

113

João 8

Jesus e a Mulher Adúltera

“1 Jesus, porém, foi para o Monte das Oliveiras.

2 E pela manhã cedo tornou para o templo, e

todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se,

os ensinava.

3 E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma

mulher apanhada em adultério;

4 E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato,

adulterando.

5 E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam

apedrejadas. Tu, pois, que dizes?

6 Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem

de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.

7 E, como insistissem, perguntando-lhe,

endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre

vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.

8 E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.

9 Quando ouviram isto, redarguidos da

consciência, saíram um a um, a começar pelos

mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a

mulher que estava no meio.

10 E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe:

Mulher, onde estão aqueles teus acusadores?

Ninguém te condenou?

Page 114: João - parte 1

114

11 E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe

Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não

peques mais.” (João 8.1-11)

Era de se esperar que Jesus retornasse para a

Galileia, em face da forte perseguição que

estava sofrendo em Jerusalém, no entanto, Ele

se retirou temporariamente para o monte das Oliveiras. Havia passado a noite fora da cidade,

mas retornou ao templo logo na manhã do dia

seguinte, onde ensinava o povo que vinha ter

com Ele.

Os escribas e fariseus queriam encontrar um

meio de arranjar uma acusação formal contra

Ele para que pudesse ser condenado à morte.

Então pensaram em pegá-lo numa afirmação

contra a Lei de Moisés.

Assim, lhe trouxeram uma mulher que havia

sido apanhada em flagrante de adultério, e

pediram que Ele desse o veredicto para aquele

caso, uma vez que Moisés ordenou na Lei que os adúlteros fossem mortos por apedrejamento.

Percebendo a intenção deles de terem um

motivo para Lhe acusarem e não propriamente a mulher, Jesus não lhes deu qualquer resposta,

e continuou escrevendo com o dedo na terra.

Mas como insistiam na pergunta, Ele afinal lhes disse que o primeiro a lançar pedra contra a

adúltera deveria ser aquele que entre eles

estivesse sem pecado.

Page 115: João - parte 1

115

Ouvindo isto eles se retiraram, e Jesus disse à

mulher que assim como os seus acusadores não

a haviam condenado Ele também não a

condenaria, mas ordenou-lhe que fosse e que não pecasse mais.

Jesus veio inaugurar uma Nova Aliança, a

aliança da graça, que revogaria a aplicação,

entre os israelitas, das penas legais da Antiga Aliança contra determinadas transgressões da

Lei de Moisés.

A graça do evangelho havia derrubado o

preconceito nacionalista e religioso, conforme vimos na narrativa da mulher samaritana no

quarto capítulo, e agora, a graça estava se

manifestando para livrar da condenação da

penas legais que haviam na Antiga Aliança. A não condenação da mulher adúltera era uma

demonstração prática desta realidade.

As Palavras e Obras de Jesus Testificam da sua Divindade - João 8

“12 Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu

sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.

13 Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu testificas

de ti mesmo; o teu testemunho não é

verdadeiro.

14 Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu

testifico de mim mesmo, o meu testemunho é

verdadeiro, porque sei de onde vim, e para onde

Page 116: João - parte 1

116

vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem

para onde vou.

15 Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém

julgo.

16 E, se na verdade julgo, o meu juízo é

verdadeiro, porque não sou eu só, mas eu e o Pai

que me enviou.

17 E na vossa lei está também escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro.

18 Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de

mim testifica também o Pai que me enviou.

19 Disseram-lhe, pois: Onde está teu Pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem a

meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim,

também conheceríeis a meu Pai.

20 Estas palavras disse Jesus no lugar do tesouro, ensinando no templo, e ninguém o

prendeu, porque ainda não era chegada a sua

hora.”. (João 8.12-20)

Como o estratagema dos escribas e fariseus

havia falhado ao Lhe terem trazido a mulher

apanhada em adultério, Jesus continuou

ensinando abertamente no templo, e, aproveitou a oportunidade para reafirmar a

verdade que não veio a este mundo para julgá-

lo, para estabelecer um juízo de morte sobre

aqueles que não O conhecem e que se encontram mortos em seus pecados, mas para

salvá-los, conforme nós podemos deduzir do

modo como Ele tratou com a mulher adúltera.

Page 117: João - parte 1

117

Assim, Ele lhes declarou mais uma vez que era a

luz do mundo, a luz que dá vida a todo aquele que

O seguir.

Os fariseus replicaram tentando anular o testemunho do Senhor acerca da verdade,

especialmente quanto ao fato de que Deus

estaria se tornando longânimo e gracioso com

todos os pecadores, na nova dispensação que Ele afirmava ter vindo inaugurar, dizendo que o

testemunho dele não era verdadeiro porque

testificava de Si mesmo.

Mas o Senhor não deixou de dar a devida

resposta dizendo que podia testificar de Si mesmo porque sabia de onde veio e para onde

iria, de maneira que os fariseus não podiam

formular qualquer julgamento sobre a sua

pessoa, uma vez que não sabiam de onde Ele viera nem para onde iria.

Eles não podiam fazer tal julgamento, porque

não tinham o Espírito para fazer um julgamento

verdadeiro sobre Jesus.

Assim o julgamento deles era segundo o homem, segundo a vista, segundo o dizer de

Jesus, um julgamento segundo a carne, que

jamais poderá discernir as coisas espirituais,

porque estas se discernem no Espírito.

Eles não podiam entender, porque Jesus não estava julgando ninguém na dispensação da

graça, verdade que somente pode ser entendida

em espírito e não na carne.

Page 118: João - parte 1

118

Nosso Senhor disse que todos os seus juízos

eram verdadeiros já que não julgava segundo a

carne, mas segundo Deus, pelo Espírito.

Assim, não era verdade que somente Ele

testificava de Si mesmo, porque o Pai também

testificava juntamente com Ele, confirmando a

sua Palavra com os sinais e milagres poderosos que nenhum outro havia feito antes dele.

Neste debate de Jesus com os fariseus Ele deixou de modo bastante claro a importância de se ter

o Espírito e de se andar no Espírito para que se

possa conhecê-Lo e a Deus Pai, porque este

conhecimento é de experiência real em espírito, e é somente em espírito que se pode conhecer a

Deus, porque Ele é espírito, e daí se dizer que

importa ser adorado em espírito e em verdade.

Os fariseus não conheceram a Jesus em espírito,

e como poderiam conhecer também a Deus?

O fato de terem sido chamados por Jesus de ignorantes de quem era Deus, como eram de

fato, deve ter acendido ainda mais o ódio dos

fariseus e o desejo de matá-lO, no entanto

ninguém prendeu o Senhor porque não era ainda chegada a sua hora.

A Longanimidade Infinita de Jesus - João 8

“21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu retiro-

me, e buscar-me-eis, e morrereis no vosso

pecado. Para onde eu vou, não podeis vós vir.

Page 119: João - parte 1

119

22 Diziam, pois, os judeus: Porventura quererá

matar-se a si mesmo, pois diz: Para onde eu vou

não podeis vir?

23 E dizia-lhes: Vós sois de baixo, eu sou de cima;

vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.

24 Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou,

morrereis em vossos pecados.

25 Disseram-lhe, pois: Quem és tu? Jesus lhes

disse: Isso mesmo que já desde o princípio vos disse.

26 Muito tenho que dizer e julgar de vós, mas

aquele que me enviou é verdadeiro; e o que dele

tenho ouvido, isso falo ao mundo.

27 Mas não entenderam que ele lhes falava do

Pai.

28 Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis quem eu

sou, e que nada faço por mim mesmo; mas falo

como meu Pai me ensinou.

29 E aquele que me enviou está comigo. O Pai

não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.

30 Dizendo ele estas coisas, muitos creram

nele.” (João 8.21-30)

A grande misericórdia de Deus para com os seus

inimigos (Rom 5.10) está plenamente

manifestada nestas palavras de Jesus, porque Ele alertou os seus confrontadores do que lhes

ocorreria caso não cressem que Ele havia sido

enviado pelo Pai para salvar os pecadores.

Page 120: João - parte 1

120

Eles morreriam eternamente nos seus pecados

porque é somente pela fé nele que os nossos

pecados podem ser perdoados por Deus, e

sermos reconciliados com Ele, deixando de ser seus inimigos, por causa da natureza

pecaminosa que temos, e portanto, sermos

livrados da sua ira que haverá de se manifestar no juízo na condenação eterna daqueles que não

tiveram seus pecados perdoados por causa da fé

em Cristo.

Mesmo tendo continuado a zombarem do

Senhor depois de lhes ter dito que não poderiam

ir para onde Ele iria (céu), caso não tivessem os

seus pecados perdoados, Jesus continuou lhes advertindo de maneira que chegassem ao

arrependimento para que fossem salvos;

especialmente pelo fato de lhes ter revelado que

poderiam saber quem Ele era depois que o levassem à cruz.

Muitos deles poderiam então lamentar e se arrependerem dos seus pecados, porque o

Espírito Santo seria derramado para produzir

neles este convencimento.

O tom de voz de Jesus ao dizer estas palavras não

deve ter sido áspero, mas muito terno e

convincente, demonstrando todo o seu amor e paciência, apesar de estar sendo tão duramente

contraditado, e com isto muitos creram nele.

No entanto, Jesus colocou à prova a qualidade da fé destes que creram como veremos a partir do

verso 31, e eles revelaram que não era a fé

genuína, porque ao lhes ser dito que a fé seria

Page 121: João - parte 1

121

verdadeira se eles permanecessem na sua

Palavra, eles não demonstraram estar dispostos

a isto.

A verdadeira fé que salva gera contrição no

nosso coração ao vermos com os olhos da fé

Jesus crucificado e sofrendo por carregar os nossos pecados sobre Si na sua morte na cruz.

E esta fé verdadeira nos moverá a amar ao

Senhor e à sua Palavra.

Há também muito de sentimentos envolvido em

nossa salvação. Ela não é um ato frio de

assentimento intelectual a uma verdade. A fé não é uma mera aceitação intelectual de um

fato, mas todo um trabalho que é realizado em

nós para mudar o nosso coração de pedra num

coração de carne. É uma transação espiritual real de experiência do cristão com o seu Senhor

e Salvador.

Estas palavras de Jesus deixam estas verdades declaradas de modo muito implícito. Ele

declarou que muito teria que falar contra

aqueles judeus e julgá-los por causa dos seus

pecados, mas não o faria condenando a nenhum deles porque recebeu o mandamento do Pai de

vir a este mundo para salvá-lo e não para

condená-lo, enquanto durar a dispensação da

graça, até que Ele volte.

Page 122: João - parte 1

122

Jesus o Libertador - João 8

“31 Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele:

Se vós permanecerdes na minha palavra,

verdadeiramente sereis meus discípulos;

32 E conhecereis a verdade, e a verdade vos

libertará.

33 Responderam-lhe: Somos descendência de

Abraão, e nunca servimos a ninguém; como

dizes tu: Sereis livres?

34 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em

verdade vos digo que todo aquele que comete

pecado é servo do pecado.

35 Ora o servo não fica para sempre em casa; o

Filho fica para sempre.

36 Se, pois, o Filho vos libertar,

verdadeiramente sereis livres.

37 Bem sei que sois descendência de Abraão;

contudo, procurais matar-me, porque a minha

palavra não entra em vós.

38 Eu falo do que vi junto de meu Pai, e vós fazeis

o que também vistes junto de vosso pai.

39 Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de

Abraão, faríeis as obras de Abraão.

40 Mas agora procurais matar-me, a mim,

homem que vos tem dito a verdade que de Deus

tem ouvido; Abraão não fez isto.

41 Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe,

pois: Nós não somos nascidos de prostituição;

temos um Pai, que é Deus.

Page 123: João - parte 1

123

42 Disse-lhes, pois, Jesus: Se Deus fosse o vosso

Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e

vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele

me enviou.

43 Por que não entendeis a minha linguagem?

Por não poderdes ouvir a minha palavra.

44 Vós tendes por pai ao diabo, e quereis

satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi

homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando

ele profere mentira, fala do que lhe é próprio,

porque é mentiroso, e pai da mentira.

45 Mas, porque vos digo a verdade, não me

credes.

46 Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes?

47 Quem é de Deus escuta as palavras de Deus;

por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus.” (João 8.31-47)

Não é simplesmente por se dizer que se crê em

Cristo que somos de fato seus discípulos, porque

a evidência da verdadeira fé será vista no fato de amarmos e guardarmos a sua Palavra,

perseverando em permanecer nela.

É por esta perseverança em permanecer na Palavra que se conhece a verdade, e a libertação

do pecado, dos poderes das trevas e do mundo.

Jesus disse expressamente àqueles judeus que todos eles eram escravos do pecado, assim

como todos os homens que não foram

libertados por Ele.

Page 124: João - parte 1

124

O Senhor lhes disse isso porque afirmaram que

não eram servos de ninguém, por serem

descendentes de Abraão.

Apesar disso o Senhor lhes disse que sendo

escravos do pecado, não podiam ficar para

sempre na casa de Abraão, que é a casa de Deus, mas o Filho de Deus é senhor sobre esta casa e

nela permanecerá para sempre, e assim

somente Ele pode libertar os que são escravos do pecado, para que sejam verdadeiramente

livres da condenação e do afastamento eterno

de Deus.

Jesus lhes disse que apesar de serem

descendentes de Abraão, segundo a carne,

viviam na contradição de um comportamento totalmente diferente do patriarca, que foi

inteiramente obediente a Deus e que fez a sua

obra.

Abraão havia recebido a Deus, quando se

manifestou a ele em pessoa em Manre, com

grande amor, temor e reverência.

No entanto, eles O estavam recebendo agora, na

pessoa do seu Filho, com o intuito de matá-lo, apesar de serem da descendência de Abraão,

porque não se sujeitavam à sua palavra; coisa

que o próprio Abraão jamais teria feito, porque

era sensível à voz de Deus e teria reconhecido ao Senhor, assim como Lhe haviam reconhecido os

apóstolos.

Jesus estava lhes falando das coisas que havia

visto junto ao Pai, assim como aqueles judeus

estavam fazendo o que haviam visto junto ao pai

Page 125: João - parte 1

125

deles, que era o diabo; apesar de alegarem que

eram filhos de Abraão, mas não eram, porque

não faziam as obras de Abraão.

Os verdadeiros filhos de Abraão fazem as obras

de Abraão, que são as obras de Deus; porque é dito que Abraão é pai de todos os que creem

verdadeiramente em Deus.

Os judeus tinham a convicção de que eram

filhos de Deus pelo simples fato de serem da descendência de Abraão, porque Deus lhe havia

prometido ser o Deus da nação que faria a partir

do seu descendente, ignorantes do fato de que

sem Jesus, todas as pessoas estão debaixo do senhorio do Arqui-Inimigo de Deus, até que

sejam livradas, por meio da fé em Cristo.

Jesus veio destruir as obras do diabo e

transportar do reino das trevas e do domínio de

Satanás para Deus e para o reino da luz, aqueles que estavam escravizados ao Inimigo.

O Mal Nada Tem a Ver com Jesus - João 8

“48 Responderam, pois, os judeus, e disseram-

lhe: Não dizemos nós bem que és samaritano, e

que tens demônio?

49 Jesus respondeu: Eu não tenho demônio,

antes honro a meu Pai, e vós me desonrais.

50 Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue.

51 Em verdade, em verdade vos digo que, se

alguém guardar a minha palavra, nunca verá a

morte.

Page 126: João - parte 1

126

52 Disseram-lhe, pois, os judeus: Agora

conhecemos que tens demônio. Morreu Abraão

e os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a

minha palavra, nunca provará a morte.

53 És tu maior do que o nosso pai Abraão, que

morreu? E também os profetas morreram. Quem te fazes tu ser?

54 Jesus respondeu: Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me

glorifica é meu Pai, o qual dizeis que é vosso

Deus.

55 E vós não o conheceis, mas eu conheço-o. E,

se disser que o não conheço, serei mentiroso

como vós; mas conheço-o e guardo a sua palavra.

56 Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia,

e viu-o, e alegrou-se.

57 Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens

cinquenta anos, e viste Abraão?

58 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos

digo que antes que Abraão existisse, eu sou.

59 Então pegaram em pedras para lhe atirarem;

mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.”

(João 8.48-59)

Para um juízo carnal todas as verdades do

evangelho são loucura, como foi, por exemplo, para os judeus dos dias de Jesus crerem e

aceitarem que Ele existia antes mesmo de

Abraão; que Ele tinha descido do céu; e que pelo

Page 127: João - parte 1

127

simples fato de crer nele e guardar a sua Palavra

não se morreria mais eternamente.

No entanto, os judeus foram muito além do seu juízo carnal de pensarem que tudo isto era uma

loucura, porque chegaram ao extremo de

afirmar que Jesus estava possuído de demônios

para afirmar tais coisas; embora seja difícil de admitir que mesmo alguém estando na carne,

não poderia negar a autoridade, amor,

sabedoria e unção do Espírito que fluíam de

Jesus quando Ele falava.

Assim, era muito grave o pecado daqueles

judeus que resistiram ao Senhor até o ponto

extremo de chamá-lo de Belzebu, o maioral dos demônios, como se vê em Mt 10.25.

No entanto, estas coisas continuariam

acontecendo contra os discípulos do Senhor, que ainda que cheios do mesmo amor do

Espírito pelos pecadores, seriam perseguidos

por muitos debaixo do mesmo tipo da dura e

falsa acusação que haviam dirigido contra o Senhor em seu ministério terreno.

Como o Senhor não confirmou que os

judeus eram verdadeiros filhos espirituais de

Abraão, por simples condição de descendência natural, então se revoltaram por causa do

orgulho nacional e passaram a acusar Jesus de

samaritano, porque odiavam os samaritanos.

Se alguém que nasceu em Israel, como era o

caso de Jesus, não abraçava a causa nacional de

Israel, então eles o consideraram como sendo

Page 128: João - parte 1

128

um estrangeiro, e da nacionalidade daqueles

que eram seus inimigos.

Quando se forma unidade por se vestir a camisa

desta ou daquela nação, ou até mesmo congregação, não se pode experimentar a

verdadeira unidade que é fundada na verdade e

no espírito, e não em laços de sentimentos

nacionalistas, raciais, tribais, ou de qualquer outra natureza.

Enquanto afirmamos a nossa unidade, segundo

os homens, não podemos conhecer a que

procede do Espírito de Deus que derruba toda barreira racial, social, ou de qualquer outro tipo.

O Espírito Santo desfaz as inimizades e abre o

coração do cristão a estar receptivo para

abençoar qualquer pessoa.

Jesus estava proclamando a verdade aos judeus

e se esforçando para que chegassem ao

verdadeiro conhecimento de Deus que livra da

morte e que dá vida eterna, mas não somente o rejeitaram como se voltaram furiosamente

contra Ele a ponto de terem pegado em pedras

para matá-lo.

No entanto, o Senhor não deixou de proclamar a verdade, e nem a sua Igreja deve parar de

proclamá-la a par de todas as perseguições que

possa vir a sofrer, conforme Jesus orientou os

seus discípulos no décimo capítulo de Mateus.

Deus deve ser honrado pela honra que é dada ao Filho, especialmente por se guardar a sua

Palavra.

Page 129: João - parte 1

129

João 9

A Cura de Um Cego de Nascença

“1 E, passando Jesus, viu um homem cego de

nascença.

2 E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo:

Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?

3 Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus

pais; mas foi assim para que se manifestem nele

as obras de Deus.

4 Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando

ninguém pode trabalhar.

5 Enquanto estou no mundo, sou a luz do

mundo.

6 Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego.

7 E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que

significa o Enviado). Foi, pois, e lavou-se, e

voltou vendo.” (João 9.1-7)

Este homem não era cego de nascença por

motivo de algum juízo de Deus contra algum

pecado específico dos seus pais, e muito menos dele próprio, uma vez que era cego desde o seu

nascimento.

A soberania e autoridade de Deus havia trazido

aquele homem naquelas condições a este

Page 130: João - parte 1

130

mundo, para o propósito de ser curado por Jesus

durante seu ministério terreno.

Jesus veio dar vista aos cegos.

Àqueles que se encontram em trevas

espirituais, por causa do pecado original de Adão, que sujeitou toda a raça humana à morte

espiritual, que é a separação de Deus.

Foi principalmente para destruir o poder desta

morte espiritual, e consequentemente da morte

eterna que se segue à mesma, e que é a

separação definitiva e irremediável de Deus, que Jesus veio a este mundo.

Para demonstrar este seu poder sobre a

cegueira espiritual que é resultante da morte espiritual, Jesus curou aquele cego de nascença,

porque este mal das trevas espirituais, todo

homem traz consigo desde o seu nascimento,

não por causa de algum pecado específico daqueles que o geraram, mas em razão da morte

espiritual que entrou no mundo por causa do

pecado de Adão.

A cegueira física daquele homem seria curada

quando fosse removido o lodo que Jesus colocou

nos seus olhos, que foi feito com a saliva da sua própria boca e com o pó da terra.

De igual modo, a cegueira espiritual é curada

quando o pecador é lavado dos seus pecados, e quando é removida a maldição que foi proferida

contra Adão e sua descendência pela boca do

próprio Deus.

Page 131: João - parte 1

131

Somente Deus pode remover a maldição que Ele

pronunciou contra toda a humanidade, por

causa do pecado original.

Isto acontece, quando o homem é lavado pelo lavar renovador e regenerador do Espírito

Santo.

Jesus poderia ter curado aquele cego

diretamente sem usar qualquer recurso para ser aplicado aos seus olhos.

Mas, certamente queria nos deixar algum

ensinamento espiritual através daquilo que

fizera para curá-lo.

Ninguém pode ver o mundo natural se não tiver uma visão física saudável e sem a luz natural.

Ninguém pode ver o mundo espiritual invisível

sem uma visão de fé saudável e sem a luz

espiritual de Cristo.

Este é o grande ensinamento desta passagem

porque aquele homem não foi somente curado

da cegueira física, como também da espiritual,

porque ele se converteu a Jesus conforme podemos concluir da sua adoração ao Senhor e

do testemunho vigoroso que deu acerca dele na

presença dos líderes religiosos de Israel.

Enquanto os escribas e fariseus estavam debatendo violentamente com Jesus para

tentarem desqualificá-lo como tendo sido

enviado de fato por Deus a este mundo, o

que era cego de nascença se submeteu ao Senhor e Lhe obedeceu sem nada contestar

naquilo que Lhe foi ordenado, e por sua

obediência a Ele obteve não somente a cura da

Page 132: João - parte 1

132

sua cegueira como também a salvação da sua

alma.

O Testemunho do Cego de Nascença - João 9

“8 Então os vizinhos, e aqueles que dantes

tinham visto que era cego, diziam: Não é este

aquele que estava assentado e mendigava?

9 Uns diziam: É este. E outros: Parece-se com ele. Ele dizia: Sou eu.

10 Diziam-lhe, pois: Como se te abriram os

olhos?

11 Ele respondeu, e disse: O homem, chamado

Jesus, fez lodo, e untou-me os olhos, e disse-me:

Vai ao tanque de Siloé, e lava-te. Então fui, e lavei-me, e vi.

12 Disseram-lhe, pois: Onde está ele?

Respondeu: Não sei.

13 Levaram, pois, aos fariseus o que dantes era

cego.

14 E era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe

abriu os olhos.

15 Tornaram, pois, também os fariseus a perguntar-lhe como vira, e ele lhes disse: Pôs-

me lodo sobre os olhos, lavei-me, e vejo.

16 Então alguns dos fariseus diziam: Este

homem não é de Deus, pois não guarda o sábado.

Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles.

17 Tornaram, pois, a dizer ao cego: Tu, que dizes

daquele que te abriu os olhos? E ele respondeu:

Que é profeta.

Page 133: João - parte 1

133

18 Os judeus, porém, não creram que ele tivesse

sido cego, e que agora visse, enquanto não

chamaram os pais do que agora via.

19 E perguntaram-lhes, dizendo: É este o vosso

filho, que vós dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora?

20 seus pais lhes responderam, e disseram: Sabemos que este é o nosso filho, e que nasceu

cego;

21 Mas como agora vê, não sabemos; ou quem

lhe tenha aberto os olhos, não sabemos. Tem

idade, perguntai-lho a ele mesmo; e ele falará

por si mesmo.

22 seus pais disseram isto, porque temiam os judeus. Porquanto já os judeus tinham resolvido

que, se alguém confessasse ser ele o Cristo,

fosse expulso da sinagoga.

23 Por isso é que seus pais disseram: Tem idade,

perguntai a ele mesmo.

24 Chamaram, pois, pela segunda vez o homem

que tinha sido cego, e disseram-lhe: Dá glória a

Deus; nós sabemos que esse homem é pecador.

25 Respondeu ele pois, e disse: Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego,

agora vejo.

26 E tornaram a dizer-lhe: Que te fez ele? Como

te abriu os olhos?

27 Respondeu-lhes: Já vo-lo disse, e não ouvistes;

para que o quereis tornar a ouvir? Quereis vós

porventura fazer-vos também seus discípulos?

Page 134: João - parte 1

134

28 Então o injuriaram, e disseram: Discípulo

dele sejas tu; nós, porém, somos discípulos de

Moisés.

29 Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés,

mas este não sabemos de onde é.

30 O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto,

pois, está a maravilha, que vós não saibais de

onde ele é, e contudo me abrisse os olhos.

31 Ora, nós sabemos que Deus não ouve a

pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e faz a sua vontade, a esse ouve.

32 Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de

nascença.

33 Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer.

34 Responderam eles, e disseram-lhe: Tu és nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós? E

expulsaram-no.

35 Jesus ouviu que o tinham expulsado e,

encontrando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de

Deus?

36 Ele respondeu, e disse: Quem é ele, Senhor,

para que nele creia?

37 E Jesus lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele

que fala contigo.

38 Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou.” (João

9.8-38)

O problema básico com os escribas e fariseus foi e sempre será o mesmo que há com todos

aqueles que são dirigidos pela carne e não pelo

Espírito.

Page 135: João - parte 1

135

Mesmo líderes que tenham sido constituídos

por Deus para dirigir o seu povo, como era o caso

dos sacerdotes e governantes de Israel, serão

achados em forte oposição a Ele e à sua vontade caso andem segundo os seus próprios

interesses, sem se sujeitarem ao Senhor, para

governar os seus corações, estando purificados pelo seu poder e Palavra.

Assim, em vez de darem a destra de comunhão

àqueles que se converterem a Deus, estes

líderes carnais, que são dirigidos pela própria

vontade, e não pelo Espírito do Senhor, os perseguirão e os odiarão como os fariseus

fizeram com o cego de nascença que Jesus havia

curado.

Deste modo, confessar publicamente que Jesus era o Messias estava custando o preço da

expulsão da sinagoga pelos judeus.

Isto equivalia ao ato de ser excomungado da

igreja antiga.

O cego de nascença que foi curado por Jesus

pagou este preço não para ser curado, porque já

havia sido, mas para consagrar sua vida a Deus,

porque estava decidido em praticar e defender a verdade e a justiça do evangelho.

Sabendo que ele havia sido expulso da sinagoga

Jesus foi ao seu encontro e lhe perguntou se ele

cria no Filho de Deus, e o cego pediu ao Senhor

que lhe mostrasse quem era Ele para que nele cresse.

Naquele momento Jesus se revelou ao cego

dizendo que era Ele próprio, e certamente

Page 136: João - parte 1

136

também operou nele de tal maneira que ele

chegou a ter o reconhecimento espiritual desta

verdade, e se converteu naquela mesma hora,

tendo adorado ao Senhor confessando a sua fé nele.

É importante observar que este homem havia

defendido a verdade ainda mesmo antes da sua

conversão.

Ele havia se posicionado em favor de Jesus, e

toda vez que alguém faz isto com sinceridade de

coração, o Senhor virá ao encontro desta pessoa;

e, no momento oportuno se revelará a ela, de maneira que venha a ser salva por Ele, como

fizera com o cego, depois de tê-lo curado de sua

cegueira física.

Os pais do cego temeram ser expulsos da sinagoga e perderam a oportunidade de darem

um testemunho de gratidão a Deus diante dos

fariseus pelo que Jesus havia feito ao seu filho.

Temeram confessar Jesus diante dos homens para não serem banidos da religião de Israel.

O temor de perder a religião fez com que eles

perdessem o céu.

Aqueles vizinhos, em vez de se alegrarem com o

fato de verem perfeitamente são o que fora cego desde o seu nascimento, e darem graças e

glórias a Deus, ao contrário, levaram-no à

presença dos fariseus, por motivo de um falso

zelo religioso e para protestarem fidelidade aos homens para agradarem-nos, porque a cura foi

realizada num dia de sábado, e eles sabiam

quanto os fariseus estavam odiando e

Page 137: João - parte 1

137

intentando matar Jesus, porque havia declarado

ser o Messias.

Além disso, estariam dando a eles mais um

reforço no argumento deles de que Jesus estava

quebrando a Lei de Moisés por realizar curas no

dia de descanso.

Se aqueles homens fossem de Deus e

estivessem no Espírito, teriam repudiado àqueles que tomassem a atitude que eles

estavam tomando, por causa da grande

falsidade, hipocrisia, e bajulação interesseira que havia naquilo tudo, debaixo do nome de se

estar sendo zeloso das coisas de Deus.

O grande fato é que diante da evidência daquele

grande milagre houve uma divisão de opiniões

entre os próprios fariseus, porque enquanto um

grupo sustentava que Jesus era pecador, porque quebrou o sábado, outros questionavam esta

afirmação, porque segundo eles, como poderia

um pecador fazer um milagre como aquele e

todos os demais que Jesus vinha fazendo? (v. 16).

Eles teriam que expulsar o cego da sinagoga

caso desse um parecer favorável a Jesus, e por isso lhe perguntaram o que ele julgava ser

aquele que lhe havia curado, e o cego afirmou

que era Profeta.

Mas seria ainda melhor, segundo eles, caso

conseguissem comprovar que ele estava

mentindo ao dizer que era cego e que foi curado, e assim mandaram chamar os seus pais, mas

estes confirmaram apenas que era de fato cego

de nascença, mas que nada sabiam quanto ao

Page 138: João - parte 1

138

modo como havia sido curado, porque temiam

serem expulsos da sinagoga, caso dissessem

que havia sido Jesus.

A grande verdade sobre a qual aquele que fora cego de nascença queria dar agora testemunho

era o próprio Jesus e ele havia determinado ser

seu discípulo, e sustentou este testemunho

quando foi duramente confrontado e ameaçado pelos fariseus; chegando mesmo a ironizá-los

quando lhes perguntou se pretendiam também

se fazer discípulos de Cristo, em face da

insistência das perguntas deles quanto ao modo como o Senhor lhe havia curado.

Quando os fariseus declararam serem apenas

discípulos de Moisés e não de Cristo porque não

sabiam de onde Ele era, o que fora cego deu o seguinte testemunho:

“30 O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto,

pois, está a maravilha, que vós não saibais de

onde ele é, e contudo me abrisse os olhos.

31 Ora, nós sabemos que Deus não ouve a

pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e

faz a sua vontade, a esse ouve.

32 Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de

nascença.

33 Se este não fosse de Deus, nada poderia

fazer.”.

É principalmente diante da oposição e perseguição que se deve dar testemunho

corajoso da verdade, porque isto traz muita

glória para Deus, e envergonhamos Satanás, que

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139

insiste fazer prevalecer a causa da mentira e do

engano.

Cristo deve ser confessado em todas as

circunstâncias, com amor, mansidão, paz e

longanimidade em nossos corações.

Seu nome nunca deve ser negado, para a glória

de Deus Pai.

É assim que testemunhamos que Deus é fiel e verdadeiro e que realmente enviou seu Filho a

este mundo para ser a luz dos homens.

Se temos a comprovação diante dos nossos olhos da maravilha que Deus está operando em

nosso meio, é nosso dever render-Lhe glórias de

todo o nosso coração, e não nos deixarmos

dominar por um coração endurecido, desconfiado, preconceituoso, tal como o dos

fariseus, de maneira que cheguemos até ao

ponto extremo mesmo de considerar uma obra

verdadeira de Deus como sendo de procedência do Maligno.

Os fariseus se julgavam santos a um ponto tão elevado que se achavam no direito de julgar os

próprios atos de Deus.

Tudo deveria estar conformado à visão estreita e preconceituosa deles.

Deus não poderia agir com liberdade e poder,

porque deveria continuar sendo, ao modo de ver deles, apenas o Deus legal, que havia dado

preceitos a Moisés para serem cumpridos pelos

homens.

Page 140: João - parte 1

140

Quando não deixamos que Deus seja Deus, nós

fazemos o papel de deus, e isto é algo

extremamente perigoso.

Jesus curou e ainda cura.

Somente Ele pode salvar pessoas da condenação

eterna e torná-los filhos de Deus.

Jesus É Senhor e somente Ele deve ser adorado.

Somente ele é o dono das nossas almas.

Ninguém tem direito de domínio sobre a nossa

fé senão somente Ele.

Jesus Repreende a Cegueira dos Fariseus - João 9

“39 E disse-lhe Jesus: Eu vim a este mundo para

juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os

que veem sejam cegos.

40 E aqueles dos fariseus, que estavam com ele,

ouvindo isto, disseram-lhe: Também nós somos

cegos?

41 Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso

o vosso pecado permanece.”

Com estas palavras Jesus confirmou qual havia sido o grande propósito de Deus com a cura do

cego de nascença, pois todos os homens são

cegos espirituais de nascença por causa do

pecado, e é somente pela luz de Cristo que eles podem ver o reino de Deus.

O modo de recuperar a visão é pelo

reconhecimento de que se é cego, de maneira

Page 141: João - parte 1

141

que se possa receber a iluminação do Espírito,

e ver as realidades celestiais, que são

discernidas somente em espírito.

O primeiro passo para a conversão é o reconhecimento da condição de que se é

pecador, conforme convencimento do Espírito

ao nosso espírito.

Não é apenas um reconhecimento, mental, intelectual, mas uma contrição de coração, uma

tristeza pelo pecado, que é produzida em nós

pelo Espírito Santo.

É a chamada tristeza segundo Deus que conduz ao arrependimento que dá vida.

Enquanto isto não acontecer ninguém pode

estar seguro da sua salvação.

Enquanto Cristo não for visto com os olhos da fé

como o sacrifício pelos nossos pecados, e não nos lançarmos completamente a Ele para

sermos perdoados e aceitos por Deus, não

podemos estar convictos de termos sido

curados de nossa cegueira espiritual, porque a cura nos permitirá enxergar Cristo como

Senhor, como Deus, como nosso Mediador,

como nosso Salvador.

Os fariseus não haviam experimentado nada disto, mas ainda assim pensavam que

conheciam perfeitamente a Deus.

Jesus disse que eles permaneciam condenados

em seus pecados, porque não admitiam que eram cegos espirituais como todos os demais

homens, e assim, eles não iam ao único médico

que poderia lhes curar da sua cegueira, porque

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achavam que enxergavam e não necessitavam

serem curados.

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143

João 10

Jesus o Bom Pastor

“1 Na verdade, na verdade vos digo que aquele

que não entra pela porta no curral das ovelhas,

mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.

2 Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor

das ovelhas.

3 A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua

voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz

para fora.

4 E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai

adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz.

5 Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz

dos estranhos.

6 Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não

entenderam o que era que lhes dizia.

7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade,

em verdade vos digo que eu sou a porta das

ovelhas.

8 Todos quantos vieram antes de mim são

ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.

9 Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará

pastagens.

10 O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a

destruir; eu vim para que tenham vida, e a

tenham com abundância.

Page 144: João - parte 1

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11 Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua

vida pelas ovelhas.

12 Mas o mercenário, e o que não é pastor, de

quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as

ovelhas.

13 Ora, o mercenário foge, porque é mercenário,

e não tem cuidado das ovelhas.

14 Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.

15 Assim como o Pai me conhece a mim,

também eu conheço o Pai, e dou a minha vida

pelas ovelhas.

16 Ainda tenho outras ovelhas que não são deste

aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho

e um Pastor.

17 Por isto o Pai me ama, porque dou a minha

vida para tornar a tomá-la.

18 Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder

para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi

de meu Pai.”

As ovelhas de Jesus devem viver reunidas no

aprisco de Deus.

Não são poucos os salteadores que atacam este

aprisco, mas eles nunca entram, por motivos óbvios, pela porta estreita do curral que é o

Senhor Jesus, porque não estão a seu serviço, e

nem sustentam a sua Palavra.

Page 145: João - parte 1

145

Jesus cuida das ovelhas e as alimenta com a

verdade para que tenham vida, a vida

abundante, vitoriosa, daqueles que estão bem

alimentados com as palavras da vida eterna.

Mas, os ladrões que atacam o aprisco têm

apenas o propósito de roubar, matar e destruir

as ovelhas, especialmente a vida espiritual

delas, porque estão a serviço de Satanás.

Jesus não é apenas a porta do aprisco de Deus,

porque ninguém pode entrar neste aprisco que

não é terreno, mas celestial, senão somente

aqueles que passam pela porta estreita que é o Senhor Jesus Cristo.

Afinal, ninguém pode ir ao Pai a não ser por Ele.

Além de ser a porta do aprisco das ovelhas Jesus

é também o Pastor delas, aquele que cuida das ovelhas e que as conduz verdadeiramente.

Elas conhecem somente a voz dele como sendo

a voz do seu Pastor, em cujas mãos estão as suas

almas.

Os pastores auxiliares do Supremo Pastor não são os proprietários do rebanho, e se não

falarem com a voz do Pastor dos pastores, as

ovelhas não lhes seguirão, porque reconhecem

e atendem somente a voz de Cristo.

Os fariseus, os escribas, os falsos profetas que

ministravam em Israel não conseguiram atrair

as ovelhas de Cristo porque eram ladrões e

salteadores, que não foram ouvidos pelas ovelhas do rebanho de Deus, as quais se

encontravam perdidas debaixo do ministério

corrompido deles.

Page 146: João - parte 1

146

No entanto, assim que Jesus se manifestou, Ele

passou a reunir as suas ovelhas que se achavam

dispersas, a começar pelos apóstolos, e desde

então, todas elas têm reconhecido a sua voz como sendo a do seu Pastor, e entrado pela Porta

estreita da salvação que é o próprio Jesus e a sua

Palavra.

Jesus é o bom Pastor porque deu a sua vida pelas ovelhas.

Este foi o preço que Ele pagou para poder

resgatá-las do poder do inferno e da morte e

para trazê-las em segurança para o céu.

Nenhum mercenário, como os escribas e

fariseus, e os falsos pastores, mestres e profetas

que exploram o rebanho do Senhor pode ter esta

mesma disposição de Jesus, de dar a vida pelas ovelhas.

Somente naqueles que estiverem realmente a

serviço de Jesus para apascentarem o seu

rebanho, poderá ser achado este mesmo sentimento que houve também no Senhor.

Como o interesse do pastor mercenário não é

pelo bem espiritual das ovelhas, senão explorá-

las para atender aos próprios interesses egoístas

deles de enriquecerem, e terem fama, e honra pessoal, então não é de se admirar que deixem o

rebanho desamparado quando o Inimigo as

ataca com o propósito de arrebatá-las e

dispersá-las.

Os pastores que são mercenários não terão

nenhum cuidado do rebanho nos dias difíceis, e

se aproveitarão do rebanho nos dias fáceis.

Page 147: João - parte 1

147

O mercenário não conhece as ovelhas e nem o

que é necessário para cuidar delas.

Mas Jesus não somente conhece as suas

ovelhas, como também é por elas conhecido.

O Senhor Jesus não tinha ovelhas somente no

aprisco de Israel, apesar de estar ministrando em seu ministério terreno somente a elas, mas

depois que o Espírito fosse derramado no

Pentecoste, Ele começaria a agregar num só rebanho as ovelhas do aprisco das demais

nações da terra.

Ele daria a sua vida pelas ovelhas, mas tinha o

poder tanto para dá-la, como também o poder de

tornar a tomá-la; porque o Pai havia lhe dado este mandamento de morrer e ressuscitar para

que as ovelhas pudessem também ser batizadas

na sua morte e ressurreição, para poderem

viver para sempre na presença de Deus.

A base do conhecimento que as ovelhas têm de Cristo é da mesma natureza do conhecimento

que há entre Ele e o Pai, isto é, espiritual e de

amor.

Jesus e a Cegueira dos Fariseus - João 10

“19 Tornou, pois, a haver divisão entre os judeus

por causa destas palavras.

20 E muitos deles diziam: Tem demônio, e está fora de si; por que o ouvis?

21 Diziam outros: Estas palavras não são de

endemoninhado. Pode, porventura, um

demônio abrir os olhos aos cegos?

Page 148: João - parte 1

148

22 E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e

era inverno.

23 E Jesus andava passeando no templo, no

alpendre de Salomão.

24 Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se

tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.

25 Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de

meu Pai, essas testificam de mim.

26 Mas vós não credes porque não sois das

minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito.

27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;

28 E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de

perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.

29 Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.

30 Eu e o Pai somos um.

31 Os judeus pegaram então outra vez em pedras

para o apedrejar.

32 Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por

qual destas obras me apedrejais?

33 Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te

apedrejamos por alguma obra boa, mas pela

blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes

Deus a ti mesmo.

34 Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na

vossa lei: Eu disse: Sois deuses?

Page 149: João - parte 1

149

35 Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem

a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não

pode ser anulada),

36 Àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao

mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou

Filho de Deus?

37 Se não faço as obras de meu Pai, não me

acrediteis.

38 Mas, se as faço, e não credes em mim, crede

nas obras; para que conheçais e acrediteis que o

Pai está em mim e eu nele.

39 Outra vez, pois, procuravam prendê-lo; mas

ele lhes escapou das mãos.

40 E retirou-se de novo para além do Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio; e ali

ficou.

41 Muitos foram ter com ele, e diziam: João, na verdade, não fez sinal algum, mas tudo quanto

disse deste homem era verdadeiro.

42 E muitos ali creram nele.”

Como os fariseus haviam protestado contra

Jesus por lhes ter dito que continuavam

condenados em seus pecados, por não

reconhecerem que eram cegos espiritualmente, e que estavam cheios de um

orgulho religioso que lhes impedia de

enxergarem a verdade de Deus, o Senhor

prosseguiu seu discurso para esclarecer o motivo porque eles não Lhe davam ouvidos,

obediência e adoração, como o cego que Ele

havia curado, que apesar de ser cego e viver na

Page 150: João - parte 1

150

mendicância havia reconhecido que Ele era o

Messias, enquanto os fariseus, como todo o

conhecimento que tinham da letra das

Escrituras não conseguiam enxergar que Jesus veio a este mundo da parte de Deus, para dar

cumprimento ás Escrituras que eles tanto

examinavam, e apesar disto nunca podiam encontrar a Deus.

Por que eles não podiam encontrar a Deus,

apesar de todo o exame que eles faziam da sua

Palavra escrita revelada?

Jesus explicou a razão ao falar da metáfora do

aprisco e das ovelhas no início deste capítulo décimo.

A razão de não poderem ter um verdadeiro

conhecimento de Deus era devida ao fato de não

serem do rol dos seus eleitos.

Eles não faziam parte do rebanho do Senhor, e assim por mais que eles estudassem as

Escrituras jamais poderiam chegar ao

conhecimento da verdade conforme ela está em

Deus, por um conhecimento experiencial e real em espírito, pela revelação do Espírito Santo a

eles.

Não somente eles estavam impossibilitados de

terem conhecimento da verdade, e deste modo

jamais viriam a conhecer a Cristo, como também se tornariam falsos pastores e mestres

que jamais poderiam ser ouvidos pelo

verdadeiro rebanho do Senhor.

Page 151: João - parte 1

151

Assim, como era de se esperar, estas palavras de

Jesus precipitaram uma nova divisão entre os

judeus (v. 19).

Muitos disseram que Jesus estava possuído de demônios e fora de si, e que não era digno de ser

ouvido.

Outros mais sensatos diziam que aquelas

palavras não podiam ser a de um endemoninhado, porque um demônio jamais

poderia abrir os olhos aos cegos, conforme Jesus

havia feito com aquele cego de nascença.

No entanto, como vimos antes, e conforme o Senhor havia afirmado, nada adianta ter um

parecer a respeito de Jesus, porque o que

importa é o parecer que Jesus tem acerca de nós,

convencendo-nos dos nossos pecados, para que possamos ser salvos e santificados por Ele e pela

sua Palavra.

Não devemos julgar a Palavra de Deus,

conforme os fariseus faziam, mas sermos julgados por ela.

Jesus proferiu estas palavras durante o período

da festa da dedicação, a qual durava oito dias, e

era celebrada anualmente, começando no dia 25

do mês de chisleu (dezembro) para comemorar a purificação do templo, o qual havia sido

profanado por Antíoco Epifânio, no período dos

macabeus.

Quando o Senhor passeava no templo, foi rodeado pelos Judeus no alpendre de Salomão, e

estes queriam que Ele fizesse uma afirmação

clara e direta se era de fato o Messias (Cristo).

Page 152: João - parte 1

152

Como eles queriam ouvir uma afirmação clara e

direta, o Senhor lhes mostrou que não era por

uma afirmação ou um sinal que poderiam

chegar a ter tal conhecimento, porque isto é possível somente para aqueles que fazem parte

do seu rebanho.

Como Ele havia dito, somente as suas ovelhas

podem ouvir a sua voz. Sem conversão é

impossível ouvi-la. Como Ele havia dito a Nicodemos, que se o homem não nascer de novo

do Espírito não pode ver o Reino de Deus.

Assim, se eles não estavam conseguindo crer

nele, apesar de lhes ter dito várias vezes que era

o Messias, e tê-lo comprovado através dos sinais

que fazia, confirmando as profecias do Velho Testamento acerca da sua Pessoa e das coisas

que Ele faria (como por exemplo Is 61.1-3); era

porque não eram suas ovelhas. Se tivessem sido

convertidos a Deus, poderiam ouvi-lo, mas não era este o caso.

Jesus lhes disse claramente que as suas ovelhas, como Ele já lhes havia dito, ouvem a sua voz e

porque Ele as conhece, elas O seguem (v. 27).

Os fariseus não suportaram ouvir esta verdade

porque o endurecimento deles comprovava que

não eram do rebanho de Cristo, e haveriam de

perecer eternamente. Então pegaram em pedras para tentar matá-lO.

Como eles se diziam filhos de Deus, Jesus perguntou-lhes por qual das boas obras que Ele

havia feito da parte de Deus Pai eles o

apedrejariam.

Page 153: João - parte 1

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Eles tentaram se justificar dizendo que não era

por nenhuma obra boa, mas porque havia

blasfemado dizendo que era Deus.

A atitude deles estava confirmando tudo o que

Jesus havia dito sobre eles.

Para se defender da acusação de blasfêmia que

Lhe dirigiram, Jesus usou o argumento da

própria Escritura, e citou o Salmo 82.6:

“Eu disse: Vós sois deuses, e filhos do Altíssimo,

todos vós.”

O verso posterior a este, do Salmo, é o seguinte:

“Todavia, como homens, haveis de morrer e,

como qualquer dos príncipes, haveis de cair.” (v.

7.

Para entendermos o teor destas palavras nós

temos que recorrer a Êx 22.8.

“Aos juízes não maldirás, nem amaldiçoarás ao

governador do teu povo.” (Êx 22.28).

No original hebraico a palavra para juízes é

“Elohim”, isto é, deuses, porque os magistrados

eram considerados no Velho Testamento como

representantes de Deus nos seus juízos sobre o povo de Israel, de maneira que eram designados

na Lei pela palavra Elohim, que é a mesma usada

para descrever a divindade, e que significa

pluralidade de majestades ou magistrados.

Assim, aqueles juízes (Elohim) corruptos de

Israel citados no Salmo 82.6, haveriam de ser julgados por Deus como homens, e eles cairiam

como qualquer outro governante e líder de

Israel.

Page 154: João - parte 1

154

Mas Jesus é Elohim justo e perfeito, e se aos

magistrados de Israel foi usada tal palavra nas

Escrituras para descrevê-los, pela honra que

deveriam dar ao seu cargo, quanto mais Jesus não era digno de usar tal título, porque não

somente tem o pleno direito ao título, como

efetivamente é Deus.

Não havia como eles negarem a divindade de Jesus, porque Ele fazia as mesmas obras de Deus

Pai.

Então ainda que aqueles judeus não fossem

capazes de conhecê-lo da maneira pela qual

convém ser conhecido, que é em espírito e em verdade, pelo menos eles deveriam crer nas

obras que Jesus fazia, de maneira que pudessem

saber e crer que de fato o Pai está nele, e Ele no

Pai.

No entanto, não lhe eram ouvidos e tentaram prendê-lo, mas Jesus escapou mais uma vez das

suas mãos.

Como a perseguição havia se tornado muito

intensa Ele deixou Jerusalém e retornou para o outro lado do Jordão onde havia começado o seu

ministério, quando foi batizado por João, tendo

permanecido por algum tempo naquele lugar.

Mas muitos dos que haviam ouvido suas

palavras foram ter com Ele e diziam que o testemunho de João acerca de Jesus era

verdadeiro, ainda que João mesmo não tivesse

feito nenhum sinal.

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155

O evangelista encerra este capítulo

simplesmente dizendo que muitos ali creram

nele.

Eles não haviam crido enquanto estavam em Jerusalém, mas haviam crido no deserto.

Enquanto na companhia dos endurecidos

fariseus, e no meio da oposição e perseguição

que eles fizeram a Jesus eles não puderam expressar a fé deles nele.

Mas ali no silêncio do deserto eles puderam

entender o caráter da sua missão e creram nele.

Ainda hoje, não é possível achar Jesus no meio

daqueles que se opõem abertamente a Ele.

É preciso sair do meio deles e buscá-lo com aqueles que adoram a Deus com um coração

sincero e puro.

Não acharemos Jesus na taberna, mas onde Ele

seja honrado e adorado.

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