Joias Crioulas
-
Upload
anna-oliveira -
Category
Documents
-
view
287 -
download
4
Embed Size (px)
description
Transcript of Joias Crioulas

1
J o i a s C r i o u l a sC o l e ç ã o M u s e u C a r l o s C o s t a Pi n t o
simone Trindade Vicente da silva
Puls
eira
s de
crio
ula
tipo
copo
em
our
o. A
cerv
o M
useu
Car
los C
osta
Pin
to. F
otóg
rafo
s: A
níba
l Gon
dim
e S
érgi
o Be
nutt
i

Distribuição Gratuita – Venda Proibida.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
12-08952
Índices para catálogo sistemático: 1. Museu Carlos Costa Pinto : Salvador : Bahia :Joias crioulas : Catálogo da coleção739.27098142
CDD-739.27098142
Silva, Simone Trindade Vicente da Joias crioulas / Simone Trindade Vicente daSilva. -- São Paulo : Instituto Victor Brecheret,2012. -- (Coleção Museu Carlos Costa Pinto)
ISBN: 978-85-98879-05-5
Bibliografia. 1. Joias - Salvador (BA) - Exposições 2. MuseuCarlos Costa Pinto, (Salvador, BA) I. Título.II. Série.

simone Trindade Vicente da silva
CAIXA Cultural São Paulode 4/8/12 a 23/9/12
CAIXA Cultural Curitibade 30/10/12 a 23/12/12
Instituto Victor Brecheret2012
apresenta
J o i a s C r i o u l a sC o l e ç ã o M u s e u C a r l o s C o s t a Pi n t o

4
Correntão de crioula em ouro com bolas lisas e
confeitadas. Bahia, século XVIII. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.

5
a CAiXa foi criada em 1861, no Rio de Janeiro, por D. Pedro II, cujo
conhecimento artístico e consciência da valorização do patrimônio histórico das nações foram
decisivos na consolidação de sua atuação como estadista. Essa postura abriu as portas do país
para o intercâmbio com a cultura mundial e chamou a atenção para a importância desses atos
na criação de nosso patrimônio e identidade.
Nos seus mais de 150 anos de existência, por meio do patrocínio às artes e do incentivo à
cultura,aCAIXAatuanareafirmaçãodaidentidadenacionalepromoveprojetosdevalorização
das tradições brasileiras. A CAIXA surgiu pautada por esses valores e trabalha na promoção
do debate e no fortalecimento da nossa cultura. Com patrocínio às artes e incentivo às
manifestações tradicionais e contemporâneas, suas ações são cada vez mais importantes
para a compreensão e o resgate de nossa história.
De acordo com essa diretriz, a CAIXA promove a exposição Joias Crioulas, produzida pelo
Instituto Victor Brecheret. Esta mostra traz parte da coleção do Museu Carlos Costa Pinto,
em Salvador (BA), que reúne o maior acervo destas peças em museus. As joias de crioulas são
uma manifestação artística notável no contexto do Brasil colonial e imperial, onde a aparência
demarcava as posições sociais. Exóticas, exuberantes e majestosas, essas joias demonstram
osvaloresdessaépocae sãoaafirmaçãode identidade, liberdadeeprestígiodealgumas
mulheres negras num contexto demarcado por condições adversas e preconceitos.
Caixa Econômica Federal

6
uma fantástica exposição das joias e dos ornamentos das negras e mulatas
da Bahia que, alforriadas ou não, exibiam luxo e riqueza, causando espanto tanto pela
originalidade e singularidade nos seus desenhos como, também, pela condição de vida e
participação na vida cotidiana. Trabalhando na casa de seus senhores, como amas de leite ou
na faina geral, passavam a ser incorporadas ao status das famílias com que viviam e, assim,
tinham que usar adornos e joias que exprimissem o nível socioeconômico de seus senhores.
Leis e regulamentos severos impunham, porém, restrições às formas e aos materiais dessas
joias diferenciadas.
Com origem próxima às joias populares portuguesas, as joias de crioulas conseguiram criar
um padrão estético e de beleza autêntica, que resistiu às condições degradantes da sociedade
escravocrata e patriarcal e às leis repressivas de seu tempo. Tão fortes e tão belas, essas joias
de crioulas são hoje uma preciosidade histórica e um tesouro valioso, o que torna imperioso o
seu descobrimento por nós brasileiros da era da internet e da globalização.
O Instituto Victor Brecheret (IVB) tem muito orgulho em trazer esta preciosa mostra das joias
de crioulas que compõem o acervo do Museu Carlos Costa Pinto, de Salvador, para serem
devidamente apreciadas pelos brasileiros, que agora descobrem as belezas e o potencial de
seu país e o futuro e a grandeza de sua história.
Victor Brecheret Filho
Presidente
IVB - Instituto Victor Brecheret

7
Crioula. Lindemann. Fotografia(cartão-postal).Bahia, 1905. Coleção particular.

8

9
APresenTação
Inaugurado em 5 de novembro de 1969, o Museu Carlos Costa Pinto propicia um inesquecível
retrato da Bahia colonial e imperial. Fruto de amor e dedicação, o Museu é a concretização
do sonho do casal Carlos e Margarida Costa Pinto. Seu acervo de artes decorativas conta com
3.175 peças. Entre as suas coleções, as joias de crioulas, em ouro e prata, singulares adereços
usados outrora pelas negras baianas, causam curiosidade e fascínio, sendo o maior conjunto
reunido em museus.
A exposição Joias Crioulas, produzida pelo Instituto Victor Brecheret, sob o patrocínio da
CAIXA, é uma oportunidade para que, através do acervo do Museu Carlos Costa Pinto, façamos
umareflexãosobreanossahistóriaearte.Estacoleçãoéumtestemunhodonossopassado,
dasrelaçõessociaiseeconômicasquefizerampossívelessaexpressãoartísticaímpar.Asjoias
de crioulas são insígnias de poder, que pertenceram a algumas mulheres negras no contexto
da Bahia colonial e imperial. Cada exemplar conta essa história de vida, composta de trabalho,
sacrifício, alegrias e tristezas, sonho e esperança. Convidamos a todos para ver essas joias com
umnovoolhar,procurandoentenderosseussignificadosetentandovisualizaraspessoaspor
trás do objeto. E, quando forem à Bahia, visitem o Museu Carlos Costa Pinto, em Salvador, e
reencontrem esta coleção.
Bárbara Carvalho dos Santos
Superintendente do Museu Carlos Costa Pinto
Gaiaku Luiza (1909-2005), que inspirou a música “O que é que a Bahia tem”, de Dorival Caymmi. Cartão-postal, Bahia. Coleção Fundação Instituto Feminino da Bahia.

10
Joias de crioulas em ouro: pulseira tipo copo e correntão com bolas lisas e confeitadas e roseta. Bahia, séculos XVIII e XIX. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.

11
através dos séculos, as joias têm sido cobiçados objetos de desejo, representando
distinção social, riqueza, hierarquia, honraria, acessórios de sedução e até fervorosos emblemas
dedevoçãoreligiosaeamorosa.Asjoiassãoreflexosdeumaépoca,deumestilodevida,deuma
classe social, expressão de gostos, sonhos, ambições e, por isso, elas estão sujeitas aos caprichos
do tempo, às oscilações dos valores estéticos, afetivos, sociais e econômicos. Cada exemplar
dessa arte efêmera que escapou à desmontagem, à mutilação ou à modernização estilística é um
precioso testemunho histórico.
Entre todos os exemplares de joias produzidos no Brasil no período colonial e imperial, causa
grande fascínio e surpresa um grupo especial conhecido como joias de crioulas. Essas peças
despertam inúmeras indagações. A quem se refere o termo crioula? Quem eram essas mulheres
negras e mulatas que ostentavam tamanho luxo? Como conseguiam adquirir essas joias? Quem as
produzia? Por que são diferentes das joias das senhoras ditas brancas? Essas questões só podem
ser respondidas compreendendo-se o contexto histórico do Brasil, e em especial da Bahia, nos
séculos XVIII e XIX.
Ao lado da indumentária, acessórios e joias eram símbolos de status social e, como tal, seu uso era
regulamentado através de leis suntuárias explicitamente segregativas. As demarcações existiam
na Europa desde a Antiguidade, variando conforme a mudança na eleição de materiais e formas
considerados nobres e, portanto, destinados exclusivamente às camadas dominantes. Segundo a
historiadora Silvia Hunold Lara (2000, p. 179-80), havia toda uma tradição legislativa portuguesa e
dispositivos legais que regiam o vestuário, para o controle e a manutenção das distinções sociais.
As Cartas Régias, os pareceres do Conselho Ultramarino e as Pragmáticas de 1677 e de 1749 visaram
controlar as regras do trajar. Algumas normas eram extensivas a todo o mundo português: Portugal
esuascolônias.Outraseramespecíficas.

12
Vista da Bahia – Passeio Público de Salvador. Abraham Buvelot (1814-1888). Óleo sobre tela, século XIX.
Coleção particular, São Paulo, SP, Brasil.
no Brasil, a principal preocupação era com o excessivo luxo no vestir das negras e
mulatas, principalmente as escravas. Várias reclamações e leis proibitivas ao uso de artigos de luxo,
comotecidosfinosejoias,estavampresentesnoperíodocolonial.Haviaumacodificaçãovisual
imposta a essas mulheres, como existia para as camadas populares na metrópole portuguesa.
Contudo, algumas situações burlavam essas determinações. Mucamas e amas de leite, convivendo
diretamente com a família, estabeleciam muitas vezes laços afetivos com suas senhoras e seus
senhores. Nos cortejos familiares para visitas, idas a missas e festividades, acompanhavam seus
proprietários vestidas com trajes e adornos, emprestados ou próprios, como forma de ostentação
social destes. Neste caso, geralmente vestiam-se e ornavam-se como as suas senhoras brancas.
As joias de crioulas não eram usadas por todas as negras e mulatas crioulas, indicando ter sido
expressão de status social e/ou da condição de alforriada numa sociedade senhorial, escravocrata e
patriarcal. É preciso entender as relações estabelecidas neste regime que possibilitaram a libertação
(alforria) e o enriquecimento. Os escravos não trabalhavam só na lavoura e nas casas. Nas cidades,
eles realizavam uma série de atividades como negros ao ganho, comercializando mercadorias ou
oferecendo serviços nas ruas, com a obrigação de entregar aos seus senhores um valor diário ou
semanal preestabelecido. A quantia restante pertencia ao escravo, que almejava a sua liberdade.
Nessa situação estavam as mulheres negras e mulatas que trabalhavam nas ruas e dominavam o
comércio de alimentos mesmo após a sua libertação.

13

14
Bastante próximas das joias portuguesas populares,
as denominadas joias de crioulas são a expressão singular da criação de
artigos de luxo diferenciados para as classes inferiores. Essas joias foram
elaboradas especificamente para o uso demulheres negras emulatas
crioulas (nascidas no Brasil), em ocasiões festivas, conforme atestam
adocumentação iconográficaeos relatosdeviajantesestrangeirosno
período. Elas aparecem junto com os trajes crioulos festivos: a roupa
de baiana e o traje de beca. Este era de uso mais restrito, cerimonial, de
solenidades como as procissões religiosas e a Quaresma, enquanto o
outro era como um traje domingueiro, de ir à missa.
Alguns estrangeiros e viajantes oitocentistas registraram essa situação.
James Wetherell, vice-cônsul inglês honorário, que permaneceu em
Salvador por 15 anos, entre 1842 e 1857, relata esse costume em ocasiões
festivas descrevendo as joias usadas com o traje de beca:
Os braços são cobertos de pulseiras de coral e de ouro, etc.; o
pescoço e o peito carregados de colares e as mãos de anéis –
sobretudo aquela que mais frequentemente se acha fora das
dobras do chale.
Um grande molho de chaves pendurado numa correia de
prata na qual são também colgadas umas moedas de prata,
um dente de porco ou de tubarão montado em prata, e
diversos outros amuletos são amarrados num dos lados do
vestido... (1972, p. 79-80).
Crioula da Bahia com roupa de baiana. J. Melo editor. Fotografia (cartão-postal), 1904-1915.
Arquivo Museu Carlos Costa Pinto.

15
O dr. Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), médico professor da
Faculdade de Medicina da Bahia e fundador da Medicina Legal da Bahia,
um dos pioneiros dos estudos africanos no Brasil, narra que:
As negras ricas da Bahia carregam o vestuário à baiana de
ricos adornos. Vistosos braceletes de ouro cobrem os braços
até ao meio, ou quase todo; volumoso molho de variados
berloques, com a imprescindível e grande figa, pende da cinta
(1988, p. 119).
Já na primeira metade do século XX, o prof. Menezes de Oliva, que foi
professor do então recém-fundado curso de museus no Museu Histórico
Nacional do Rio de Janeiro, recordando suas memórias de infância na
Bahia, cita:
Lembrei-me, então, de algumas ex-escravas que conheci em
menino, na casa de meus avós, quando em dias de procissão
vinham visitar Sinhá Velha, os braços cheios de pulseiras,
onde não raro se via a efígie de D. Pedro II, o pescoço a
cair de cordões de ouro e na cintura, por baixo do pano da
Costa de cores vivas, pencas e mais pencas de barangandãs
(1957, p.45).
Crioulas da Bahia com traje de beca. Fotografia (cartão-postal). Bahia, século XIX.
Arquivo Museu Carlos Costa Pinto.

16
As joias de crioulas foram uma expressão ímpar na joalharia brasileira. Segundo a maioria dos autores, essa arte é tipicamente
baiana. A Bahia foi o grande centro de produção e comercialização desses exemplares, confeccionados nos séculos XVIII e XIX.
Em 1848, James Wetherell (1972, p. 42) citou que, em Salvador,
As joalharias oferecem sempre um lindo espetáculo: quase todas se acham instaladas numa mesma rua: a Rua dos Ourives.
É realmente curioso para um inglês observar aquela enorme mostra de condecorações das mais diversas Ordens, cruzes
e emblemas de nobreza, misturados com objetos de ouro e ornamentos de coral de feitio muito primitivo, tais como
pulseiras, colares, brincos etc., muito procurados pela população preta.
Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, festejo do dia 15 de agosto de 2011. Cachoeira,
Bahia. Fotografia Jomar Lima da Conceição.
Esse relato indica que os mesmos ourives que
produziam joias eruditas para a população branca
confeccionavam as joias ao gosto da “população
preta”, como as joias de crioulas, e o mesmo
estabelecimento atendia às duas clientelas.
As joias de crioulas caíram em desuso na segunda
metade do século XX. As regras do Antigo Regime
foram progressivamente desconstruídas e
substituídas pelos ideais burgueses. Novos valores
se consolidaram. Já não havia mais sentido para
essa expressão simbólica. As únicas remanescentes
a ainda usá-las, junto aos trajes festivos e já
incorporando outras joias e materiais, são as devotas
da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte,
composta exclusivamente de mulheres negras, na
cidade de Cachoeira, Bahia, durante a festividade de
sua patrona, em agosto.

17
Correntão de crioula em ouro, bolas confeitadas, comcrucifixorelicário.Pulseiradecrioulaemourocom bolas confeitadas. Bahia, século XVIII. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.

18
Pente em tartaruga escura e ouro. Bahia, século XIX. Dimensões: 11,1 x 11,7 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
o Museu Carlos Costa Pinto
possui a maior coleção de joias
de crioulas existente em museus,
possibilitando, por sua qualidade
e diversidade, uma apreciação do
universo desses objetos. As joias de
crioulas diferem das joias eruditas das
senhoras brancas quanto a dimensão,
peso, qualidade do material, formato e
decoração. As joias de crioulas são de
grandes proporções, embora quase
sempre sejam ocas, em sua maioria
em ouro, profusamente decoradas
e usadas em quantidade (profusão
de colares, anéis em todos os dedos,
muitas pulseiras).
Há uma tipologia específica das joias
de crioulas: pentes, brincos, correntão
de crioula, colar de aliança ou grilhões,
abotoaduras em rosetas, pulseira
copo, pulseira de placas, pulseira de
bolas, pulseira de cilindros e bolas,
anel e penca de balangandãs.
Embora os trajes festivos sejam
geralmente acompanhados de um
torso na cabeça, em alguns registros
iconográficos é possível verificar a
presença de pentes ou travessas
no cabelo. Estes são largos, com
dentes em tartaruga encimados por
decoração cinzelada em ouro.
TiPoloGiA

19
Os brincos tipo argola ou pitanga são em ouro, liso ou
cinzelado, em formato circular ou oval, guarnecidos dos
materiais mais diversos: coral, ágatas rosadas do Paraguaçu,
turquesas, cornalinas, tartaruga etc. Segundo Solange
Godoy (2006, p. 71), “os brincos tinham no seu uso um
significado simbólico de proteger a cabeça através dos
orifícios mais expostos aos espíritos malignos”.
Par de brincos de crioula em ouro e coral. Bahia, século XIX. Dim.: 2,7 x 2,1 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Par de brincos de crioula em ouro e pedra azul. Bahia, século XIX. Dim.: 2,1 x 2,0 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Par de brincos de crioula em ouro e pedra verde. Bahia, século XIX. Dim.: 3,0 x 2,0 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Par de brincos de crioula em ouro e cornalina. Bahia, século XIX. Dim.: 2,0 x 3,3 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.

20
O correntão de crioula típico é composto de bolas confeitadas
(conhecidas em Portugal como contas de “olho de perdiz”,
decoradas com filigrana), ocas, primitivamente enfiadas em
cordões. As bolas também podem ser lisas ou gomiladas.
Correntões
Correntão de crioula em ouro, com bolas lisas e confeitadas e roseta com pedra vermelha. Bahia, século XIX. Dim.: 55,5 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Correntão de crioula em ouro com bolas lisas e decoradas e cruz. Bahia, século XIX. Dim.: 63,7 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.

21
Correntão de crioula em ouro com bolas lisas e confeitadas. Bahia, século XVIII. Dim.: 40,4 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Correntão de crioula em ouro tipo de alianças ou grilhões lisos e estampados. Bahia, século XVIII. Dim.: 110,5 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Correntão de crioula em ouro filigranado. Bahia, século XVIII. Dim.: 48 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Alguns exemplares são rematados com uma borla e trazem pendentes pombas do Espírito Santo, rosetas e/ou
cruzes,crucifixos.Umavariantesãooscolarescompostosdecoraisemformadecilindrosocosebolasdecoradas
(confeitadas, lisas, gomiladas etc.). Outro tipo de correntão, o colar de alianças ou de grilhões, consiste no
encadeamento de elos em formato de anéis lisos ou decorados, que se interpenetram.

22Abotoaduras em ouro. Bahia, século XIX. Dim.: 3,3 x 6,5 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
abotoadurasAs abotoaduras, utilizadas nas mangas curtas da camisa bordada denominada camisú, eram
geralmente decoradas com grãos de ouro revestindo toda a superfície circular da peça.

23
Pulseiras
Pulseiras de crioula tipo copo em ouro. Bahia, século XVIII. Dim.: 10,5 x 9,0 e 7,2 x 9,2 cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
As pulseiras de crioulas podem ser de quatro tipos: copo; de placas; de bolas; de cilindros e
bolas. A pulseira tipo copo é um bracelete cilíndrico que se assemelha formalmente a um copo.
Traz geralmente como elemento decorativo centralmedalhões com figura feminina em perfil
semelhanteacamafeus,numanítida influênciaclassicista.Afiligranacompletaadecoraçãoda
peça, envolvendo e conectando os medalhões.

24
Pulseiras de crioula, de placas, em ouro e cilindros. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Pulseiras de crioula, de placas, em ouro e coral. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Pulseiras

25
Pulseiras de crioula em ouro, de bolas confeitadas. Bahia, século XVIII. Acervo
Museu Carlos Costa Pinto.
Pulseira de crioula de cilindros de coral e bolas lisas em ouro. Bahia, século XIX. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
A pulseira de placas é composta de chapas
retangulares decoradas com motivos fitomorfos
ou efígies masculinas ou femininas. Segundo
Oliveira (1948, p. 30), durante a menoridade de
D. Pedro II, eram comuns as pulseiras com efígie do
imperador menino. As partes são conectadas entre si
através de elos ou cilindros, no mesmo metal da peça,
ou em coral ou pedra colorida encastoados.
A pulseira de bolas, como os correntões, é composta
de bolas confeitadas e/ou lisas. Há ainda a pulseira
formada por cilindros ocos de coral e bolas.
Pulseiras

26Abotoaduras em ouro. Bahia, século XIX. Dim.: 3,3 x 6,5cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
anéis
Aiconografiademonstraqueosanéiseramusadosemtodososdedos
das mãos pelas crioulas. Em formato circular, em ouro geralmente com
decoração cinzelada, podiam conter pequenas pedras.
No que se refere à decoração, as joias de crioulas não trazem elementos
africanos, evocam figuras greco-romanas e europeias, ornamentos
fitomorfos,efígiedeD.JoãoVI,D.PedroIeD.PedroII.Hámuitotrabalho
emfiligrananaspulseirasenasbolasditasconfeitadasdoscorrentões.
Estes se assemelham à joalharia popular portuguesa ainda existente no
norte de Portugal, na região do Minho.
Anéis em ouro. Bahia, século XIX. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.

27
As pencas de balangandãs não eram tão frequentes quanto as
demais joias. Há poucos relatos e registros iconográficos delas.
Esses adereços místicos, em sua maioria confeccionados em prata,
eram usados por algumas negras baianas na região da cintura/
quadris. Esses objetos são constituídos por três partes: corrente
(quefixaoadornoàusuária),naveougalera(partearticulada,com
abertura lateral, que agrupa os elementos pendentes) e elementos
pendentes (diversidade de amuletos, talismãs e objetos decorativos).
A nave era fundida, vazada, recortada e cinzelada, variando em
dimensões e decoração. Os elementos pendentes, geralmente
também em prata, tornam cada penca de balangandãs única, visto
que a sua combinação é fruto de escolhas pessoais, trajetórias de
vida.Entreosmais frequentesestãoafiga,a chave,amoeda,o
cilindro, a romã, o cacho de uvas, o peixe e os dentes de animais,
remetendo a diferentes tradições e crenças.
Penca de balangandãs em prata com 40 peças sem corrente. Bahia, século XIX. Dim.: 13,0 x 17,5 cm (nave). Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Penca de balangandãs em prata com 31 peças e corrente. Bahia, século XIX. Dim.: 9,2 x 16,3 cm (nave). Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Balangandãs

28Abotoaduras em ouro. Bahia, século XIX. Dim.: 3,3 x 6,5cm. Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Em sua maioria amuletos (elementos de proteção) e talismãs (elementos propiciatórios), cada peça
deumapencadebalangandãstrazsignificadosmágicos.Afiga,representaçãodoatosexual,éum
poderoso amuleto contra o mau-olhado ou o quebranto. A chave, comumente de cofres e sacrários,
é uma insígnia de poder, que funciona como proteção para “fechar o corpo”. As moedas são usadas
para atrair riqueza. A romã, o cacho de uva e o peixe são associados como signos propiciadores de
fartura, fecundidade e riqueza. Os dentes de animais evocam a força, as qualidades desses seres,
Penca de balangandãs em prata com 27 peças e corrente. Bahia, século XVIII. Dim.: 14,3 x 18,6 cm (nave). Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Balangandãs

29
Penca de balangandãs em prata, com 31 peças e corrente. Bahia, século XIX. Dim.: 9,0 x 13,5 cm (nave). Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
transferindo-as para seus usuários humanos e agindo como elementos de proteção. A reunião de
elementos mágicos é a essência da penca de balangandãs. Sua combinação torna cada uma delas
única, visto que é fruto de escolhas pessoais, e cada elemento compõe a gramática de sua linguagem
comunicativa, remetendo a uma postura diante da vida, referenciada por um conjunto de crenças
que lhe dão sentido.
Balangandãs

30
Usadas nas mangas curtas da camisa bordada dos trajes festivos de
crioula. Geralmente de formato circular, com a superfície decorada com
grãos de ouro.
Em formato circular, em ouro geralmente com decoração cinzelada, podia
conter pequenas pedras. Era usado em todos os dedos das mãos.
Contaemouro,decoradacomaplicaçõesdefiligranaemformade
círculos concêntricos. Em Portugal, é conhecida como contas de Viana,
sendo seu nome tradicional “contas de olho de perdiz”, devido ao
efeito visual produzido.
Brinco tipo argola ou pitanga. A forma mais característica é circular,
convexa, guarnecida por diversos materiais, como coral, ágata, cornalina,
tartaruga etc.
GlossÁrio
ABoToADurAs
Anel
BolA ConFeiTADA
BrinCo De CrioulA

31
Tipo de correntão de crioula. Formado pelo encadeamento de elos em
formato de anéis lisos ou decorados, que se interpenetram.ColAr De AliAnça
ou GrilHÕes
Tipo de joia de crioula. O correntão típico é composto de bolas ou
contas confeitadas. Estas podem também ser lisas ou gomiladas. Alguns
exemplares trazem pendentes borla, pomba do Espírito Santo, roseta e/ou
cruzes,crucifixos.
CorrenTão De CrioulA
Adereço místico, em sua maioria confeccionado em prata, usado por
certas negras e mulatas, até a primeira metade do séc. XX, na região da
cintura/quadris.
PenCa De BAlAnGAnDãs
Parte superior em ouro com decoração cinzelada, dentes em tartaruga.PenTe

32
Pulseira composta de cilindros e bolas, geralmente dispostos de
forma alternada.PulseirA
ForMADA Por CilinDros e BolAs
Peça das joias de crioula composta de chapas retangulares
decoradas com motivos fitomorfos ou efígies. As partes são
conectadas entre si por elos ou cilindros no mesmo metal, ou em
coral ou pedra colorida encastoados.
PulseirA De PlACas
Bracelete cilíndrico que se assemelha a um copo. Traz geralmente
comoelementodecorativocentralmedalhãocomfigurafeminina
deperfil.Decoraçãocomumenteemfiligrana.
PulseirA TiPo CoPo
Pulseira composta de bolas confeitadas e/ou lisas.PulseirA De BolAs

33
referênciasARAÚJO, Emanuel. A arte da sedução: sexualidade feminina na colônia. In: PRIORI, Mary Del (Org.). História das mulheres no Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1997, p. 45-77.
BARROS, Sigrid Porto de. A condição social e a indumentária feminina no Brasil Colônia. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, n. 8, p. 117-154, 1947.
ESCOREL, Silvia. Vestir poder e poder vestir: o tecido social e a trama cultural nas imagens do traje negro, RiodeJaneiro–séculoXVIII.2000.206f.Dissertação(MestradoemHistóriaSocial)–InstitutodeFilosofiaeCiências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
GODOY, Solange. Círculo das contas: joias de crioulas baianas. Salvador: Fundação Museu Carlos Costa Pinto, 2006. 108 p.
LARA, Silvia Hunold. Sedas, panos e balangandãs: o traje de senhoras e escravas nas cidades do Rio de Janeiro e de Salvador (século XVIII). In: SILVA, Maria Beatriz da (Org.). Brasil: colonização e escravidão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 177-191.
OLIVA, Menezes de. A santa do pau oco e outras histórias. Rio de Janeiro: Laemmert, 1957, p. 47-53.
OLIVEIRA, Octávia Côrrea dos S. Ourivesaria Brasileira. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v. 9, p. 22-37, 1948.
RODRIGUES, Raimundo Nina. Os africanos no Brasil. 7. ed., São Paulo: Nacional; Brasília: Universidade de Brasília, 1988. 283 p.
SILVA, Simone Trindade V. Referencialidade e representação: um resgate do modo de construção de sentido nas pencas de balangandãs a partir da coleção Museu Carlos Costa Pinto. 2005. 203 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Escola de Belas Artes, Universidade Federal da Bahia, Salvador.
SOUSA, Gonçalo de Vasconcelos e. A joalharia em Portugal: 1750-1825. Porto: Civilização, 1999. 262 p.
WETHERELL, James. Brasil: apontamentos sobre a Bahia – 1842-1857. Salvador: Banco da Bahia, 1972.

34
Ficha técnica
agradecimentos
PRODUÇÃOInstituto Victor Brecheret
INSTITUTO VICTOR BRECHERET
DIRETOR-PRESIDENTEVictor Brecheret Filho
DIRETORA-VICE-PRESIDENTECidô Brecheret
DIRETOR ADMINISTRATIVOFernando Brecheret
DIRETORA-SECRETÁRIAMaria Lúcia Junqueira
DIRETORA-TESOUREIRADalmacia de Arruda Campos
DIRETORA DE PROJETOSAna Maria Gonçalves
CURADORIA
SUPERINTENDENTE DO MUSEU CARLOS COSTA PINTOBárbara Maria Teles Carvalho dos Santos
GESTORA ADMINISTRATIVA DO MUSEU CARLOS COSTA PINTOSimone Trindade V. da Silva
TEXTOSSimone Trindade V. da Silva
EQUIPE DE APOIO DO MUSEU CARLOS COSTA PINTO
ANALISTA CULTURALMercedes Rosa
COORDENADORA CULTURALLícia Greco
MUSEÓLOGAAnna Thereza Santos de Melo
FOTOGRAFIAS Aníbal Gondim e Sérgio Benutti
FOTOGRAFIAS DA IRMANDADE DA BOA MORTE Jomar Lima da Conceição
ILUSTRAÇÕES DO GLOSSÁRIO Liege Galvão
ORGANIZAÇÃOCidô Brecheret
PRODUÇÃO EXECUTIVAArte Sobre Arte Produções ArtísticasMaria Clara Perino
EXPOGRAFIAIvanei da SilvaEddie Sampaio
PROJETO GRÁFICOCtrl+d Comunicação
DIREÇÃO DE ARTEAlexandre Reibaldi
DIAGRAMAÇÃOAnna Flávia OliveiraFernanda Grof
PRODUÇÃO GRÁFICAGabriel RossoJorge Frederico Bellini
Maria Denise Silva; Sonia Bastos, Ana Maria Azevedo e Maria Aparecida França e França – Fundação Instituto Feminino da Bahia; Alessandra Rosso, Roberta Saraiva e Patricia Guilhoto; Déa Márcia Federico e Tanira Fontoura – Memorial Mãe Menininha do Gantois; aos colecionadores particulares.

Presidenta da RepúblicaDilma Vana Rousseff
Ministro da FazendaGuido Mantega
Presidente da Caixa Econômica FederalJorge Fontes Hereda

36
Produção Patrocínio
CAIXA Cultural São PauloPraça da Sé, 111
Terça-feira a domingo, das 9h às 21hTel.: (11) 3321-4400
www.caixa.gov.br/caixacultural
CAIXA Cultural CuritibaRua Conselheiro Laurindo, 280Terça a sábado das 9h às 20h
Domingo das 10h às 19hTel.: (41) 2118-5114
Dis
trib
uiçã
o G
ratu
ita –
Ven
da P
roib
ida.