JONAS 0s ninivitas creram em...

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Programa de Assessoria A Pastoral JONAS 0s ninivitas creram em Deus * I , * i -.._ Milton Schwantes --_ osaicos da iblia CEDICentroEcum8nicodeDocumenta~hoe Informa~l?;~ Av. Higien6polier 983-01238-S6oPaulo-SP* Pone: (011) 825-5544 RuaSantoAmaro, 129-22211-RiodeJaneiro-RJ-Pone: (021)224-6713

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Programa de Assessoria A Pastoral

JONAS 0s ninivitas creram em Deus

* I , * i

-.._

Milton Schwantes --_

osaicos da iblia

CEDICentroEcum8nicodeDocumenta~hoe In forma~ l? ;~ Av. H i g i e n 6 p o l i e r 9 8 3 - 0 1 2 3 8 - S 6 o P a u l o - S P * Pone: ( 0 1 1 ) 825-5544

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ttMosaicos da Bibl iaw rehe textos do campo biblico que circulam entre colaboradores e participantes da produqBo de conhecimentos do Programa de Assessoria h Pastoral.

Todos os textos poder2io ser reproduzidos ou utilizados em outras publicaq6est desde que se j am creditados: o(a) autor(a), o Programa de Assessoria. 5 Pastoral e o CEDI.

EdiqBo e Revisgo: Milton Schwantes

Paulo Roberto Garcia

Jane Falconi F. Vaz

DigitaqBo: Marcia Marisa Veloso

Capa: Marta Cerqueira L. Guerra

JONAS - "OS NINIVITAS C R E W EM DEWS"

Mil ton Schwantes

Surpresas

Cada leitura de Jonas traz surpresas. Este livro assemelha-se a um poqo. Quanto mais Bgua voc@ tira, mais aparece. o segredo da fonte: Suas forqas estZio escondidas debaixo da terra. Por isso, ela 6 inesgot6vel. Quando voc@ a llatingell em sua superficie, retirando um balde, 6 como se a estivesse llprovocandoll, a fazer jorrar mais sgua, boa, limpa, cristalina, fresquinha. Este 6 o jeito de Jonas, uma novela profetica que nZo termina no tiltimo capitulo. B I P r ~ ~ ~ ~ a t l para leituras sempre novas. At6 irrita, em seu final, quando conclui perguntando: ItE n3o hei de eu ter compai~So?~~

Por certo, ainda nZo ser6 desta vez que iremos esgotar este livro de Jonas. NSo iremos desvendd-lo em seus derradeiros segredos, nem rasps-lo de todas as surpresas.

Pelo contrSrio, ao abrir este Jonas nos dispomos a surpresas, a descobrir facetas que nem sonhdvamos que existissem. Enveredamos pelos trilhos da aventura profgtica. Vamos, pois, de surpresa em surpresa...

0s tempos clamavam por sobressaltos

E os tempos nSo eram para menos. Reclamavam por posturas surpreendentes.

Com Jonas estamos mais ou menos no ano 400 a. C. Tempos dificeis estes.

0 Irnpgrio Persa era senhor da situaq8o. E o era h6 bem mais de s6culo. Em 539 a.C, o imperador persa Ciro assumira o controle da Babil6nia. Pouco mais tarde o Impgrio se expandira at6 o Egito.

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Enfim, incorporara todo o Oriente. E a Palestina estava decididamente incluida neste projeto de dominaqZo internacional.

0s persas n%o eram tZo brutais como seus antecessores, os assirios e os babil6nios. De certo modo, ucivilizaramll a dominaq%o, admitindo algumas liberdades, em especial religiosas, a seus sdditos. Ainda assim a explora~do era implacdvel. 0 sistema provincial persa inclusive aperfeiqoou a arrecadaqao de tributos. Acelerou e aprofundou a exploraqSo. A pobreza marcava as vidas: I1Tomamos dinheiro emprestado ate para o tributo do rein (Neemias 5.4).

0 Templo estava restaurado. Fora reconstruido em 515 a.C., sob os auspicios persas. Jerusalgm estava reedificada. A Lei de Moisgs estava em pleno vigor. Neemias e Esdras haviam-no possibilitado, em torno de 450 a.C., ambos a serviqo dos persas. Templo, Lei e Jerusalem estavam consolidados. Davam alguma identidade ao povo, mas simultaneamente o mantinham integrado e submisso ao poderio persa. Eram I1facas de dois gumestl - garantiam a nacionalidade e, simultaneamente, nZo competiam com o imperialismo persa. L6gic0, quando usada, esta "faca de dois gumesu acabavam por afirmar os interesses persas e os de seus aliados em JerusalGm.

De fato, era hora de surpresas. Pois, s6 estas poderiam romper com este acordo tdcito entre Templo , Lei e Jerusalem, por um lado, e Imperio, por outro lado. Jonas entra nesta brecha. Aposta em novas perspectivas.

Em seu tempo, em torno do ano 400 a.C., outros tambgm o faziam.

Penso no livro de Joel que poderia provir do mesmo ambiente. Em linguagem quase apocaliptica anuncia a irrupqZo do novo, do Espirito da liberdade para I1escravos e escravas" (Joel 2,28 = 3,2).

Aponto para o livro de Rute. Nele, a alternativa nZo vem de Jerusalem, mas da roqa e das mulheres. 0 Messias vir6 de Belgm! Estard na tradiqZo de uma estrangeira, Rute, mulher fora do Zimbito da lei, do Templo, de Jerusalem!

E, em especial, a sabedoria. J6 levanta seu protest0 desde o sofrimento do justo. Eclesiastes (Coglet) denuncia o trabalho vazio e alienado. Cantares canta do amor e da sensualidade, muito sem leis e sacralismos. Estas obras dos s5bios sZo severas criticas aos que acreditavam-se tranquilos, porque estao acomodados a leis e sacrificios, a dogrnatismos e Templo.

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Jonas insere-se nesta tradiqao critica. fi uma espgcie de novela critica que recorre & memdria dos profetas, para atualizd-10s ao context0 de 400 a.C,. quando era hora para sobressaltos.

Seu jeito de contar

0 livro apresenta seus conteddos dentro de um estilo bastante apurado. 0 jeito de narrar 6 cuidadoso, 6 estudado. Enf im, 6 sdbio.

Chama a atenqBo que, no inicio, temos uma exposiqBo do problerna (1,l-3). E, no final, os acontecimentos desembocam em perguntas (4,9-10). Quem assim conta, conhece seu oficio. Sabe contar.

0 livro permite observaqdes ainda mais pormenorizadas do estilo de seus autores. Viamos que 1,l-3 expde o assunto. Faz Ss vezes de abertura. A ela segue o epis6dio no mar, a cena' corn os marinheiros, rica em detalhes e mindcias (1, 4- 16).

Em 2,1.11+3,1-3a, outra vez temos uma espBcie de exposiqSo. Com poucas palavras, o narrador conduz Jonas das entranhas do peixe atit a grande cidade. Ai, em Ninive, novamente nos sBo apresentados detalhes e mindcias. Temos outra cena (3,3b-lo), desta vez com o povo no palco.

Temos, pois, duas exposiqbes que d8o o cendrio: 1,l-3 e 2,1.11+3,1-3a. A primeira conduz a n6s, leitoras e leitores, ao navio, a segunda S grande cidade de Ninive. A estas exposiqdes seguem cenas especificas: A primeira tem marinheiros como personagens principais (14-16) a segunda o povo da metr6pole (3,3b-10).

Em 2,2-10 (Almeida 2,l-9), a exposiqBo B interrompida por uma oraqBo, feita por Jonas nas entranhas do peixe. Este salmo "retardatt a exposiqBo. NBo 6 acaso, que muitos entendem haver sido a oraqBo introduzida S narrativa, quando esta j6 estava concebida.

A Gltima cena B diferente das anteriores (4,l-11). N80 tern exposigBo.

De saida lanqa sua questdo ItJonas desgostou-se extremamente e ficou iradol1 ( 4 1 ) Agora, este Jonas & personagem central, antes estivera no porBo do navio, nas entranhas do peixe, nas ruas da grande cidade. Agora estd no centro, cheio de desgosto e raiva. Percebemos logo: o capitulo 4 B urn ponto alto.

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0 jeito do livro mostra que os sdbios que o contavam conheciam seu oficio. Sabiam contar histerias, com arte, com surpresa.

Sem dGvida B importante ir percebendo estas e outras facetas da arte narrativa de Jonas. Mas n%o me parece que seja oportuno partir dela nas reuni5es de estudo biblico. A dificuldade principal, vejo na ora~%o do capitulo 2. Serd necessdrio tematiz6-la a parte, num dos encontros. Por isso, recomendo seguir a orientagZo da ItBiblia de Jerusa16mt1 e da ttBiblia na Linguagem de HojeI1 que apresentam um titulo para cada capitulo, isto 6 , proponho quatro encontros de estudo biblico. Em cada encontro, 6 enfocado um capitulo.

Isso n%o corresponde propriamente h arte narrativa do livro. Mas esta poderd ir sendo detectada durante as leituras e os trabalhos do circulo biblico. Poder-se-ia concluir com pequenas observa~bes sobre a beleza do texto.

88Foram entZio tornados por um grande temor para com o Senhoraa

(capitulo 1)

0 capitulo 1 o capitulo 3 t6m enfases semelhantes. Em ambos Jonas, o profeta, atua. D6 seu recado. Em 1,9 atravgs de sua confissZo: ttSou hebreu, e temo ao Senhoru. E, em 3,4 atravgs de sua ameaGa: "Ainda quarenta dias, e Ninive ser6 subvertidall. Nos dois casos, Jonas 6 portador, 6 proclamador de relevantes conteiidos. Mas, a rigor, nSo os entende. NZo sabe interpret&-10s. Outros sZo os interpretes: no capitulo 1 os marinheiros, no capltulo 3 o povo de Ninive.

Esse me parece ser o nticleo do capitulo 1: os hermeneutas (0s explicadores) da prof ecia s%o os marinheiros:

Jonas conhece a "palavra do Senhorl' (1,l). Sabe a quem dirigi-la: grande cidade de Ninivel1 (1,2) . Identif ica-se at6 como bom hebreu e temente a Deus ( 1 9 ) At6 mesmo reconhece que a tempestade tem sua causa nele e em sua fuga ( 1 1 2 ) Sim, Jonas sabe das coisas. Mas faz tudo ao contrdrio.

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0s marinheiros se viram como podem. Em meio ao,perigo, "clamavam cada um a seu Deusw (1,5). E v%o aliviando o navio de sua carga. Quando a sorte identifica Jonas como culpado, ficam tlpossuidos de grande temortt (1,O). Reconhecem a seriedade da situaqbo, diante da qua1 Jonas dormia. Mas este seu Itgrande temortt nbo os leva h soluqbo mais fdcil. Jogar Jonas ao mar. NZo, vZo h luta contra as ondas, "esforqando- se por alcanqar a terraM ( 1 1 3 ) Querem salvar a vida de Jonas, este fujBo que pde a vida de todos em perigo. E quando, afinal, t6m que aliviar sua carga tambgm de Jonas, fazem-no pedindo perdbo ( 1 1 4 ) diante da calmaria que se estabelece, se convertem. Passam a temer o Senhor, isto 6, aderem ao Deus de Jonas. E ate oferecem sacriffcio. Fazem seus votos (1,16) . Tornam-se hebreus (1,9) !

0s.marinheiros mostram entender que o Deus do profeta o que Infez o mar e a terratt. Na luta pela sobrevivencia, em meio h fbria do mar, passo a passo, captam a Itpalavra do Senhortl. Eles se tornam o que Jonas -deveria ser! Assumem ares de profetas!

Em torno de 400 a.C. (mas nb0 s6 naqueles tempos), isso terd causado tttempestades". fi possivel que marinheiros - estes pagbos, estrangeiros, impuros e irnorais - tornem-se hermeneutas dos caminhos de Deus? Pode isso? Teria essa gente condiqdes de temer ao Senhor? Seriam dignos de oferecer sacrificios? As elites de Jerusalgm, os senhores de Lei e Templo, terbo desabado em Ittempestadett e furor .ao serem deparados com esta primeira cena de nosso livrinho. A indignaqao nbo terd sido pequena.

"Ao Senhor pertence a libertag5o8I

(capitulo 2 )

0 capitulo 2 vai paralelo ao capitulo 4. No capltulo 2, Jonas fala desde Itas entranhas do peixett (2,2). No capltulo 4, argumenta sentado debaixo de uma ttenramadatl - uma cobertura de ramos de drvores (4,5). Num encontra-se em perigo extremo, j6 com os Nferrolhosn fechados atrds de si (capitulo 2). Noutro deseja morte para si: "porque melhor me 6 morrer do que vivertt (4,3) .

A diferenqa estd em que o capitulo 4 vai marcado pela insatisfaq%o. Ao contrdrio o capitulo 2. que Q o clamor desde a "angbstiatl (2,3). 0 capitulo 4 desemboca em crltica a Jonas. 0 capitulo 2 numa sonora confissZo: l8Ao Senhor pertence a liberta9bott (2,lO) .

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0 salmo do capitulo 2 incorpora Jonas na tradiq3o dos sofredores, dos empobrecidos. Desde a nangtistiall (2,3) , desde as "profundezasW ( 2 , 4 ) , desde os I1f errolhostl j6 fechados (2,7), clamam ao Senhor, na esperanva da libertaqao, apesar de toda dor, apesar de que a "vida j6 estd desfalecidaIt (2,8). Esta linguagem encontra-se em muitos outros salmos (S1 120!). Uma vez na angdstia, no abismo, nas entranhas de um peixe Jonas recorre & tradiq8o dos sofredores, para sobreviver.

Chama a atenq8o que atraves de sua oraqao Jonas aproxima-se muito dos marinheiros. Estes, no final do capitulo 1, eram apresentados como pessoas tementes ao Senhor, oferecendo sacrificios e fazendo promessas. o que tambgm se pode dizer de Jonas: Ele que se dizia temente ao Senhor (1, 9) , mas que fazia tudo ao contrdrio deste temor, mostra-se como um temente atraves das-palavras do salmo, com a ajuda das tradiqdes dos sofredores e pobres que est8o na base das palavras de sua oraqgo. Ele promete sacrificios no Templo, logo que liberto das garras da angdstia. Promete pagar os votos feitos (2,lO). De fato, este Jonas da ora~3o desde as entranhas da morte 6 muito semelhante a urn marinheiro! Que surpreendente inversso! Jonas, este hebreu temente, tern marinheiros estrangeiros como seu modelo.

m m O ~ n in iv i tas creram e m Deusm8

(capitulo 3 )

Este capitulo 3 certamente corre paralelo ao capitulo 1. L6 o cendrio era formado pelo navio, aqui pelas ruas da grande cidade de Ninive. L6 os marinheiros foram entendendo de mod0 cada vez mais profundo o Deus I1que fez o mar e a terra1@, aqui um circulo cada vez maior de pessoas 6 atingido pela palavra profgtica. Ld, no final, ate marinheiros se tornam hebreus, aqui, no final, at6 animais "se convertem".

No capitulo 3, a atenq3o recai, pois, novamente sobre a reaq3o h profecia, sobre quem 'faz a interpreta~ao da Palavra, n3o sobre esta ou seu profeta, bem 5 semelhanqa do capitulo 1.

0 an6ncio profetico 6 de poucas palavras. f3 brevlssimo: "Ainda quarenta dias, e Ninive serd de~truida~~ (3,4). No hebraico, sao apenas cinco palavras! Israel jamais teve profeta que fosse t8o escasso em palavras! S6 cinco!

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E ndo parece que Jonas se dedique com determinaqdo 5 sua tarefa. Afinal, para percorrer a grande cidade eram necessdrios I1tr6s diasI1 (3,3). Jonas se dd por satisfeito com um dia (3,4) . Durante este percurso ia comunicando seu andncio, sua ameaqa 5 cidade. Quem fez chegar a profecia ao restante da cidade, obviamente ndo foi Jonas. 0s pr6prios ninivitas propagaram a profecia. Completaram a obra de Jonas.

De fato, os ninivitas sdo, para o capitulo 3, bem mais interessantes que o profeta Jonas. E a maioria dos versiculos justamente enfoca o povo da grande cidade (3,5- 9!).

A populaqdo 6 a primeira a reagir (3,5). Toma posiqao frente as ameaqas prof&ticas, anunciadas por Jonas. C r e convoca para o jejum. Isso significa que a reaqZo dos cidaddos 6 plena e completa. Ndo 6 parcial. Realiza tudo o que 6 necessdrio.

A atitude do rei (3,6-9) insere-se dentro da reaqdo da populaqdo de Ninive. fi verdade, as atitudes do soberano recebem um destaque especial em nossa narra~ao. Ocupam quatro versiculos (3,6-9)! Mas, apesar disso, o monarca age em meio a seu povo e em continuidade a ele. E ndo propde nada de novo. S6 reforqa o que a populaqdo fazia: Crer e jejuar!

Este rei de Ninive em nada se assemelha aos terriveis e sanguindrios imperadores assirios, que no 80. e no 70. s6culos tinham nesta cidade uma de suas residgncias. Estes eram poucos dados a convers6es e jejuns (Naum 2-3!). Assemelha-se muito antes aos imperadores persas, estes sim capazes de alguns arremedos religiosos (Isaias 45; Esdras 6,3-4). Aproxima-se a certas expectativas messisnicas dos tempos do livro de Jonas. Lembremo-nos estar em torno do ano 400 a.C.

Enfim, populaqZo, monarca e at& animais creem e convertem-se. A conversdo assume, aqui, grande dimensdo etica, como o ressalta o versiculo final (3,lO) : 18se converteram de seu mau caminhon1. N%o estd dito expressamente que I1maus caminhosI1 sdo estes. A luz da tradiqdo profetica dir-se-d que opressdo e justiqa perfazem estes "maus caminhosI1. Em todo caso, ndo se trata apenas de conversdo 6tica. Trata-se tamb6m da conversdo ao Deus de Jonas: I1creram em Deusw (3,5). 0s ninivitas aderem por completo h religiso do profeta, ainda que este nZo se dedique muito 5 sua tarefa de profetizar, de evangelizar: Gasta cinco palavras em um s6 dia!

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De fato, os ninivitas s%o os hermeneutas da profecia! S3o eles - pagZos, estrangeiros, moradores dessa terrivel cidade (Naum 2-3) - os que des-cobrem, des-vendam o sentido real e vital da I1palavra do Senhorml (Ill). Oh, Jonas, que hd contigo? Acorda!

eu nZo terei pena de Ninive, a grande cidade?"

(capitulo 4)

No capitulo 4, Jonas volta a ser um personagem importante, como no capitulo 2. Estes dois capftulos sso, de fato, paralelos. Em ambos, Jonas fala bastante.

Contudo, no capitulo 2. Jonas fora porta-voz da tradi~so, particularmente de sofredores e empobrecidos. Nas l1entranhas do peixew, se aliara aos que costumam ter que viver corn I1os f errolhos fechados atrds de sin (2,7) , os pobres .

No capitulo 4, Jonas 6 noutro'l. Aqui nSo estb na tradigao dos pobres. Representa a mentalidade dos senhores do Templo e dos donos da interpretag%o da lei. fi como se fosse um destes que, desde Jerusalem e seu templo, controlavam o povo de Deus, por volta do ano 400 a.C. Jonas se parece a um destes senhores, sentados a parte, observando de cima, descontentes com o andamento da histdria: desgostosos e irados (4 , 1) . Sua irrita~Bo deve-se h demora da irrupq%o da ira divina contra os pagaos. EstZo irados porque I1Deus 6 clemente e misericordioso, tardio em irar-se e grande em benignidadell (4,2). Esta gente dos altos escal6es religiosos de Jerusalem havia se apartado de tudo e todos (em especial apds as reforrnas de Esdras e Neemias, por volta de 450 a.C.) . Foram tendendo a reduzir a atuaq80 de Deus na histdria a sua a@o a partir da Lei e do Templo de Jerusalem. Sua diretriz poder% ter sido mais ou rnenos a seguinte: A misericbrdia de Deus para nds, seu jufzo contra os outros, os que n%o seguem a lei.

com este I1Jonasl1 que o capitulo 4 discute. Alibs, o livro todo questions este llJonasll irado com Deus e voltado a seus pr6prios interesses. E ai o capitulo 4 ocupa urn lugar todo especial. Nele temos o ponto alto da polemica contra este I1Jonas1l.

Neste sentido, 6 interessante que a caracterlstica deste capitulo Q a da decidida contraposiqdo entre Jonas e Deus. No inlcio, esta contraposiqZo se d6 no ambit0 da oraqdo (4,2-4). Jonas queixa-se a Deus, por ser ele tdo misericordioso. E, por isso, pede para si a morte (4,2-3). Que ironia! A bondade de Deus torna-se insuportSve1 para Jonas! Prefere a morte bondade! Isso 6 possivel?!

Depois a contraposiqdo 6 enfocada no nivel das aqbes. o que marca boa parte dos versfculos: 4,5-8 (veja tambQm 4 1 ) Deus e Jonas agem de mod0 completamente diferente. Jonas sai da cidade e toma posiqdo de expectador, obviamente a espera do juizo que haveria de destruir a grande cidade (4,5) . Deus faz crescer uma planta para livrar seu profeta do desconforto do sol (4,6). E Jonas, enfim, se alegra (4,6). Que alivio: Este profeta fujdo, um tanto preguiqoso e bastante raivoso, tambem sabe alegrar-se. Esta Q a sua chance. Saber alegrar-se com a sombra das plantas! Mas, logo, destrdi a planta, nZo em quarenta dias, mas em poucas horas, pela fdria dos ventos orientais (4,7-8) . E 16 estd outra vez nosso Jonas a pedir a morte: IvMelhor me Q morrer do que viverl1 (4,8) .

A confrontaqdo final ocorre no nivel da discussdo, da argumentaqdo (4,8-10) . E razodvel essa tua ' ira?" (4,9, veja 4,4). Deus questions Jonas a partir da experiencia que acabara de ter com a planta. 0 profeta se compadecera da planta que murchara. A semelhanqa Deus nZo haveria "de ter compaixdo da grande cidadel1? A histdria termina com esta pergunta. A resposta Q 6bvia. A postura de Jonas, dessa gente cheia de si em torno do Templo e lei, est6 desautorizada. 0s caminhos do Deus "que fez o mar e a terra" sdo outros.

Justamente este dltimo capitulo, com suas contraposiqdes e sua veia argumentativa, mostra o quanto o livro de Jonas 6 obra dos s6bios. Jonas 6 profecia relida a luz da sabedoria. A voz profetica toma novo felego, nestes tempos pds-exllios, nesta interpretaqgo dos sAbios, estes irrequietos questionadores dos senhores de Jerusalem que achavam tZo gostoso acomodar-se ao Templo e Zi lei.

Este jeito dos sAbios, esta maneira cheia de ironia e de jeitosa tecnica narrativa, ndo combate o senhorio de frente. Ndo vai Zi luta em campo aberto. Antes trata de ir

" esvaziando a forqa dos senhores do jeito do cupim: Por debaixo, mas sempre ...

outras surpresas mais

Destaquei algumas das surpresas desse nosso livrinho. Muitas outras ficaram cobertas. Convidam para novas leituras. Jonas 6 um livro aberto para muitas novidades.

Seria interessante dar mais atenq3o ii sutil e eficiente ironia de que Jonas, passo a passo, 6 llvitimatl . Existe a1 uma ironia que liberta. N3o 6 acaso que a chance de convers30 para Jonas parece passar por aquele seu momento de alegria debaixo da planta que Deus fez crescer.

Nestes capitulos, a experigncia com Deus 6 algo realmente muito novo, inusitado. Aqui Deus n%o 6 nenhum conceit0 ou esquema fechado. Acontece na forma de experiencias corn novos horizontes.

Poder-se-ia destacar ainda mais, que justamente marinheiros e ninivitas s%o os que realizam sacrificios, votos e jejuns. Em torno de 400 a.~. , isso certamente fazia parte das pr6ticas usuais em Jerusalem. Surpreende que, em Jonas, um navio e as movimentadas ruas da grande cidade sejam os locais de sacriflcios, promessas, jejuns.

H6 mais surpresas. ..

(Anota~ees sobre o livro de Jonas corn vistas ao Dia da Blblia de 1991 sob o tema da ltEvangelizaq$olt)

Milton Schwantes Rua Faria de Lemos, 84 07090 - Guarulhos - SP Brasil

Milton Schwantes 6 pastor luterano em Guarulhos/SP, professor no Institute Ecumenico de Pds-graduaqzo em Ciencias da Religiao e assessor do Programa de Assessoria 5 Pastoral do Centro Ecumgnico de Documentaqzo e Informag30 - CEDI.