JOÃO GOMES DA SILVA| ADMInIStrADOr DA SOGrAPE … · No final de cada dia o dia temos de saber...

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15 DE JANEIRO DE 2015 p.12 EMPRESAS & MERCADOS JOÃO GOMES DA SILVA| ADMINISTRADOR DA SOGRAPE VINHOS PARA A ÁREA DO MARKETING E VENDAS “O mercado das comunidades é tudo menos clássico e antiquado” A SOGRAPE nasceu da vontade e ousadia de um grupo de amigos que percebeu de modo especial o difícil ambiente económico de 1942 e apostaram no sentido visionário de Fernando Van Zeller Guedes, desenvolvendo um projeto que se viria a transformar no maior grupo vitivinícola português. Entrevistamos João Gomes da Silva, atual administrador com responsabilidade na área das vendas e marketing da principal produtora de vinhos em Portugal, que nos falou da empresa responsável por alguns dos maiores sucessos vínicos do mundo. É muito fácil ou muito difícil ser responsável de marketing de uma empresa destas? Em primeiro lugar, é um traba- lho extraordinariamente desafian- te e motivador. É fácil, no senti- do em que a empresa tem em si mesma, não só a genética que lhe é dada pelo facto de ter nascido exatamente com a criação de uma grande marca MATEUS, mas tam- bém porque inclui no seu portefólio outras importantes referências do sector de vinhos em Portugal. Te- mos à nossa disposição uma ma- téria-prima da qual mais ninguém se pode orgulhar tanto em Portugal. Não obstante, é ao mesmo tempo difícil, porque a responsabilidade é obviamente muito grande e a to- dos os níveis, seja nas marcas com características de grande consumo, seja nas marcas que têm um ca- rácter icónico sob o ponto de vista premium da sua notoriedade. Dito isto se calhar vivo um bocadinho entre estes dois mundos, e é isso que torna a função num desafio tão aliciante. A SOGRAPE, neste momento, pode dizer-se que é um fenómeno à escala mundial... Eu penso que é claramen- te um fenómeno global, na medi- da em que as nossas marcas de origem portuguesa estão hoje pre- sentes em mais de 120 mercados. Aliás, se tomarmos MATEUS como exemplo e virmos que para além de uma forte presença internacional a marca disfruta de um importante reconhecimento à escala mundial, maior a razão para a considerarmos um verdadeiro fenómeno. E porque presença e reconhecimento não são a mesma coisa, o grande desafio passa agora não só por continuar a aumentar a distribuição daque- las marcas, cuja presença é menos globalizada ou menos generaliza- da, mas principalmente por cons- truir imagem e notoriedade. A internacionalização da SO- GRAPE ultrapassou a distribui- ção. Estão na produção também. A SOGRAPE VINHOS é a em- presa produtora em Portugal, mas realmente o grupo tem, hoje em dia, cinco origens diferentes, es- tando portanto a produzir tam- bém em Espanha, na Argentina, no Chile e na Nova Zelândia. Em Portugal, cobrimos, praticamente, todas as regiões. A SOGRAPE VI- NHOS está presente no Vinho Ver- de, Douro, Dão, Bairrada e Alente- jo, com marcas tão emblemáticas como Gazela, Casa Ferreirinha e Porto Ferreira, Grão Vasco e Quin- ta dos Carvalhais, Mateus e Herda- de do Peso, só para citar algumas. Do ponto de vista da distribuição, a empresa mãe possui atualmente unidades de negócio em Portugal, Inglaterra, Estados Unidos, Brasil, Angola e Ásia-Pacífico Neste momento, o grupo terá quantas referências exportáveis? Numa perspetiva global, são 28 marcas, mas se olharmos a Portu- gal contamos mais de uma deze- na, que se multiplica depois por inúmeras referências, todas elas exportáveis, no sentido em que nenhuma delas existe com uma vo- cação estritamente nacional e to- das são pensadas numa realidade internacional. Quanto é que fatura a SOGRA- PE VINHOS? A SOGRAPE VINHOS fatura, neste momento – ano de 2014 – entre 120 e 130 milhões de euros. E a fatia da exportação, percentualmente? Para a Sogrape Vinhos, Portu- gal não chega a pesar 30 por cento, o que corresponde a uma posição muito confortável e muito ligada, aliás à tradição e génese da pró- pria empresa. A Sogrape nasceu com MATEUS e a ambição de ven- der ao mundo um vinho português de qualidade. A Sogrape em Portugal só ven- de 30 por cento da sua produção e o resto vai para fora. Como se con- segue cumprir um objetivo destes? A presença internacional da SOGRAPE está relacionada com a sua própria génese. Em 1942, quando nasce a Sociedade Comer- cial dos Vinhos de Mesa de Portu- gal, nasce com a criação de MA- TEUS e o objetivo de explorar os mercados internacionais, naquela época em particular, com um gran- de enfoque no mercado brasileiro, pois em período de guerra na Euro- pa não era fácil explorar mercados por cá. A empresa e a marca nas- cem, portanto, com uma clara vo- cação internacional, vocação essa que nunca se perdeu. O grande mo- tor de crescimento da Sogrape e de MATEUS é internacional. Claro que o mercado português é importante, e é aliás, o nosso mercado base. Afinal, é aqui que as marcas da So- grape Vinhos nascem e são criadas. Com a exceção da MATEUS, todo o portfólio da empresa é lançado no mercado português em primeiro lu- gar. MATEUS é que é, pela sua gé- nese histórica, uma marca eminen- temente internacional, que nos traz também um desafio, pois à medi- da que vamos ocupando um espa- ço natural nos mercados interna- cionais, o crescimento é também mais difícil e exigente. A SOGRAPE está em inúmeras regiões, isso não é um “handicap” para um mercado de vinhos que está muito habituado a relacionar origens com produtores? Eu diria que o facto de traba- lharmos marcas é fundamental. Na Sogrape Vinhos não vendemos es- tritamente vinhos, nós vendemos as marcas, os nomes, a personali- dade que esses vinhos refletem. E isso faz-se, respeitando aquilo que é a identidade e as características próprias e distintivas de cada uma delas, que se traduz nos mais va- riados elementos, desde a conce- ção do vinho enquanto produto, à equipa enológica, até à equipe de gestão. Depois, termina obviamen- te com uma enorme preocupação ao nível da atividade comercial, pois tem de haver uma comunica- ção muito específica e uma enorme clareza quanto ao produto e mar- ca em causa. A força comercial da SOGRAPE VINHOS está preparada para vender um vinho do Dão, como Grão Vasco, tal como está prepara- da para vender um vinho do Dou- (...) para grande surpresa minha, o mercado das comunidades é tudo menos clássico e antiquado (...) (...) Na minha experiência de pouco mais de um ano na SOGRAPE, achei extraordinário encontrar um mercado internacional para vinhos portugueses que é muito diferente daquilo que eu pensava (...) (...) Nos Estados Unidos, Suíça, Alemanha e França, encontrei uma comunidade de portugueses e de descendentes de portugueses verdadeiramente integrada no meio local, por isso são uma das ferramentas mais poderosas e modernas que as marcas portuguesas possuem (...)

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15 de janeiro de 2015p.12 eMPreSaS & MerCadoS

JOÃO GOMES DA SILVA| ADMInIStrADOr DA SOGrAPE VInHOS PArA A ÁrEA DO MArKEtInG E VEnDAS

“o mercado das comunidades é tudo menos clássico e antiquado” a SoGraPe nasceu da vontade e ousadia de um grupo de amigos que percebeu de modo especial o difícil ambiente económico de 1942 e apostaram no sentido visionário de Fernando Van Zeller Guedes, desenvolvendo um projeto que se viria a transformar no maior grupo vitivinícola português. entrevistamos joão Gomes da Silva, atual administrador com responsabilidade na área das vendas e marketing da principal produtora de vinhos em Portugal, que nos falou da empresa responsável por alguns dos maiores sucessos vínicos do mundo.

É muito fácil ou muito difícil ser responsável de marketing de uma empresa destas?

em primeiro lugar, é um traba-lho extraordinariamente desafian-te e motivador. É fácil, no senti-do em que a empresa tem em si mesma, não só a genética que lhe é dada pelo facto de ter nascido exatamente com a criação de uma grande marca MaTeUS, mas tam-bém porque inclui no seu portefólio outras importantes referências do sector de vinhos em Portugal. Te-mos à nossa disposição uma ma-téria-prima da qual mais ninguém se pode orgulhar tanto em Portugal. não obstante, é ao mesmo tempo difícil, porque a responsabilidade é obviamente muito grande e a to-dos os níveis, seja nas marcas com características de grande consumo, seja nas marcas que têm um ca-rácter icónico sob o ponto de vista premium da sua notoriedade. dito isto se calhar vivo um bocadinho entre estes dois mundos, e é isso que torna a função num desafio tão aliciante.

A SOGrAPE, neste momento, pode dizer-se que é um fenómeno à escala mundial...

eu penso que é claramen-te um fenómeno global, na medi-da em que as nossas marcas de origem portuguesa estão hoje pre-sentes em mais de 120 mercados.

aliás, se tomarmos MaTeUS como exemplo e virmos que para além de uma forte presença internacional a marca disfruta de um importante reconhecimento à escala mundial, maior a razão para a considerarmos um verdadeiro fenómeno. e porque presença e reconhecimento não são a mesma coisa, o grande desafio passa agora não só por continuar a aumentar a distribuição daque-las marcas, cuja presença é menos globalizada ou menos generaliza-da, mas principalmente por cons-truir imagem e notoriedade.

A internacionalização da SO-GrAPE ultrapassou a distribui-ção. Estão na produção também.

a SoGraPe VinHoS é a em-presa produtora em Portugal, mas realmente o grupo tem, hoje em dia, cinco origens diferentes, es-tando portanto a produzir tam-bém em espanha, na argentina, no Chile e na nova Zelândia. em Portugal, cobrimos, praticamente, todas as regiões. a SoGraPe Vi-nHoS está presente no Vinho Ver-de, douro, dão, Bairrada e alente-jo, com marcas tão emblemáticas como Gazela, Casa Ferreirinha e Porto Ferreira, Grão Vasco e Quin-

ta dos Carvalhais, Mateus e Herda-de do Peso, só para citar algumas. do ponto de vista da distribuição, a empresa mãe possui atualmente unidades de negócio em Portugal, inglaterra, estados Unidos, Brasil, Angola e Ásia-Pacífico

neste momento, o grupo terá quantas referências exportáveis?

numa perspetiva global, são 28 marcas, mas se olharmos a Portu-gal contamos mais de uma deze-na, que se multiplica depois por inúmeras referências, todas elas exportáveis, no sentido em que nenhuma delas existe com uma vo-cação estritamente nacional e to-das são pensadas numa realidade internacional.

Quanto é que fatura a SOGrA-PE VInHOS?

a SoGraPe VinHoS fatura, neste momento – ano de 2014 – entre 120 e 130 milhões de euros.

E a fatia da exportação, percentualmente?

Para a Sogrape Vinhos, Portu-gal não chega a pesar 30 por cento, o que corresponde a uma posição muito confortável e muito ligada, aliás à tradição e génese da pró-pria empresa. a Sogrape nasceu com MaTeUS e a ambição de ven-der ao mundo um vinho português de qualidade.

A Sogrape em Portugal só ven-de 30 por cento da sua produção e o resto vai para fora. Como se con-segue cumprir um objetivo destes?

a presença internacional da

SoGraPe está relacionada com a sua própria génese. em 1942, quando nasce a Sociedade Comer-cial dos Vinhos de Mesa de Portu-gal, nasce com a criação de Ma-TeUS e o objetivo de explorar os mercados internacionais, naquela época em particular, com um gran-de enfoque no mercado brasileiro, pois em período de guerra na euro-pa não era fácil explorar mercados por cá. a empresa e a marca nas-cem, portanto, com uma clara vo-cação internacional, vocação essa que nunca se perdeu. o grande mo-tor de crescimento da Sogrape e de MaTeUS é internacional. Claro que o mercado português é importante, e é aliás, o nosso mercado base. Afinal, é aqui que as marcas da So-grape Vinhos nascem e são criadas. Com a exceção da MaTeUS, todo o portfólio da empresa é lançado no mercado português em primeiro lu-gar. MaTeUS é que é, pela sua gé-nese histórica, uma marca eminen-temente internacional, que nos traz também um desafio, pois à medi-da que vamos ocupando um espa-ço natural nos mercados interna-cionais, o crescimento é também

mais difícil e exigente.

A SOGrAPE está em inúmeras regiões, isso não é um “handicap” para um mercado de vinhos que está muito habituado a relacionar origens com produtores?

eu diria que o facto de traba-lharmos marcas é fundamental. na Sogrape Vinhos não vendemos es-tritamente vinhos, nós vendemos as marcas, os nomes, a personali-dade que esses vinhos refletem. E isso faz-se, respeitando aquilo que é a identidade e as características próprias e distintivas de cada uma delas, que se traduz nos mais va-riados elementos, desde a conce-ção do vinho enquanto produto, à equipa enológica, até à equipe de gestão. depois, termina obviamen-te com uma enorme preocupação ao nível da atividade comercial, pois tem de haver uma comunica-ção muito específica e uma enorme clareza quanto ao produto e mar-ca em causa. a força comercial da SoGraPe VinHoS está preparada para vender um vinho do dão, como Grão Vasco, tal como está prepara-da para vender um vinho do dou-

(...) para grande surpresa minha, o mercado das comunidades é tudo menos clássico e antiquado (...)

(...) na minha experiência de pouco mais de um ano na SoGraPe, achei extraordinário encontrar um mercado internacional para vinhos portugueses que é muito diferente daquilo que eu pensava (...)

(...) nos estados Unidos, Suíça, alemanha e França, encontrei uma comunidade de portugueses e de descendentes de portugueses verdadeiramente integrada no meio local, por isso são uma das ferramentas mais poderosas e modernas que as marcas portuguesas possuem (...)

15 DE JANEIRO DE 2015 p.13EMPRESAS & MERCADOS

(...) O SISAB PORTUGAL, é para mim uma montra muito importante daquilo que é a indústria de alimentação e bebidas portuguesa e, portanto, uma ferramenta muito importante de construção de imagem e contacto para as marcas que se querem projetar internacionalmente (...)

ro, como Esteva ou Vinha Grande, sabendo que isso implica aborda-gens perfeitamente distintas. Aliás, pensando no nosso portefólio de Vi-nhos do Porto as três marcas que adquirimos mantiveram todas elas a sua identidade e personalidade, e todas elas têm uma gestão com-pletamente distinta. Neste contex-to, mais do que estarmos em todo o lado, o importante para a soma de várias marcas é a vantagem de uma grande empresa e conseguir-mos trabalhar a individualidade de cada uma delas.

Há essa noção em termos de marketing de quem é que bebe os vinhos da SOGRAPE?

Não só há uma noção muito clara, como há uma necessidade imperiosa de que essa informação seja realmente muito evidente. Sem isso, tudo se baralha. É fundamen-tal sabermos quem é o nosso con-sumidor. Quem é o consumidor em Portugal, nos mercados externos, para que tipo de vinhos… Quem é que queremos atingir, quem é que gosta de nós e quem é que não gos-ta. No final de cada dia o dia temos de saber quem são as pessoas para quem queremos vender.

O MATEUS continua a ser o vi-nho mais vendido da SOGRAPE?

Falando em volume, MATEUS é, de facto, a marca que mais ven-de da Sogrape Vinhos

Há outra maneira de medir o sucesso?

Sim há valor, há margem de contribuição, há muitas formas de avaliar a performance de uma mar-ca. Mas a verdade é que do pon-to de vista de perceção da notorie-dade, Mateus continua claramente a ser um líder em Portugal e no mundo.

Quais são os cinco grandes vi-nhos do SOGRAPE?

Essa é uma pergunta impossí-vel de responder, mas eu explico porquê. Voltando a esta noção do consumidor e voltando também à questão da personalidade das mar-cas, aquilo que a SOGRAPE VI-NHOS se orgulha é que cada pro-duto, cada marca e, depois, cada vinho individualmente foi muito bem pensado, desde a vinha que se cultiva para esse efeito, natural-mente, até ao desenho enológico que, mais tarde, esse produto irá ter na adega e a campanha de co-municação que, em conjunto, irão fazer daquele o vinho perfeito para um determinado momento. E por-tanto, é sempre injusto fazer uma seleção. Claro que a minha respos-ta poderia recair sobre os vinhos mais caros mas a verdade é que os grandes vinhos são todos aqueles cuja aceitação é positiva por par-te do consumidor. Talvez do ponto de vista de marketing esta seja até a melhor definição. Dito isto, gran-des vinhos da Sogrape devem ser todos porque se não fossem já cá não estavam.

Qual é o segredo da SOGRA-PE para a concepção das marcas?

Tomemos o exemplo dos vinhos do Douro, e em particular da CASA FERREIRINHA, que é não só uma marca com prestígio e notoriedade, mas um símbolo internaci onal do que de melhor se faz em Portugal, respeitado por críticos e consumi-dores de todo o mundo. Enquan-to uma das nossas marcas prioritá-rias, Casa Ferreirinha, é realmente um foco muito importante, tanto em Portugal como nos mercados externos, que se trabalham man-tendo um respeito escrupuloso e, às vezes até um pouco insano, por aquilo que são as suas caracterís-

ticas, pelos elementos que a cons-truíram e lhe deram força. Afinal, falamos da marca que é pioneira nos vinhos de mesa do Douro, cria-dora daquilo que é provavelmente o maior mito da vinicultura portu-guesa o BARCA VELHA. Um per-fil clássico, mas que é capaz de inovar e acompanhar tendências de consumo sem violar essa ma-triz que lhe está na origem, e digo isto porque não nos podemos es-quecer que o BARCA VELHA nas-ce em 1952 quando o seu criador decide fazer uma inovação.

Imagine que tenho 30 anos e quero impressionar os meus ami-gos com um bom vinho que tenho lá em casa. O que é que eu bebo da SOGRAPE?

Eu diria o seguinte: se é um jo-vem de 30 anos não é, com certeza, um jovem que nunca bebeu vinho ou que está a iniciar-se nesta arte. Teve certamente oportunidade de provar alguns vinhos de entrada de gama, simples e fáceis de beber e, portanto, presume-se que já terá ul-trapassado essa fase da descoberta e que o que quer agora é impres-sionar os seus amigos, na medida em que agora tem um apartamento

que é seu, finalmente saiu de casa dos pais e se calhar até começou a cozinhar. Para os apreciadores do Douro, se beber um PAPA FIGOS ou se beber um VINHA GRANDE, da Casa Ferreirinha, vai seguramente e sem ofender a sua carteira, im-pressionar os seus amigos favora-velmente. Se for uma pessoa que prefere um vinho mais elegante, mais leve, no sentido em que há uma estrutura menos marcada pelo calor, um vinho da gama da QUIN-TA DOS CARVALHAIS, do Dão, é uma escolha muito acertada. Par-tindo para o Alentejo, claramente um TRINCA BOLOTAS ou um CO-LHEITA BRANCO da Herdade do Peso são também boas escolhas. Mas é óbvio que o contexto é muito importante. Se o almoço for no ve-rão, estiver um dia de calor e quiser que os seus amigos tomem alguma coisa até antes de se sentarem à mesa, o MATEUS SPARKLING não podia ser uma escolha melhor. E, depois, à mesa um MORGADIO DA TORRE acompanha qualquer prato que qualquer jovem abaixo dos 30 anos tenha cozinhado.

Imaginemos agora o caso de um senhor que já tem perto de 70 anos, o que lhe aconselharia?

Se calhar aqui é que estava a pensar no Vinho do Porto, mas das grandes descobertas que o jovem de 30 anos provavelmente pode fa-zer é, exatamente, que o vinho do Porto se adapta extraordinariamen-te bem à ocasião de festejo com os amigos. Eu até diria que o Vi-nho do Porto é mais recomendá-vel para essa pessoa, que quer exa-tamente surpreender os amigos e apresentar-lhes uma proposta ir-reverente. Dependendo dos esti-los, um tawny da SANDEMAN ou um Porto Ferreira DONA ANTÓNIA duas opções que podem fazer a di-

O que é que torna o BARCA VELHA um vinho mítico? O que é que o torna tão especial?

Eu diria que há várias coisas que o tor-nam especial. BARCA VELHA é um vinho que ainda hoje é produzido no respeito pela forma como foi criado e, portanto, revela acima de tudo uma capacidade para man-ter um padrão de qualidade muito cons-tante ao longo dos últimos 60 anos, refle-tida numa decisão solitária que o enólogo Luís Sottomayor, responsável pela equipe do Douro, toma relativamente aos lotes em garrafeira. É também um vinho que é mui-to especial nessa tradição, porque nos dias que correm em que o mundo vive à pres-sa, é muito raro encontrarmos outros vi-nhos que são envelhecidos durante 6/7/8 ou mais anos antes de serem lançados no mercado. É um vinho que quando se deci-

de comercializar apresenta já característi-cas muito diferentes da esmagadora maio-ria de vinhos que existe no mercado. Não se pede ao consumidor de BARCA VELHA que compre um vinho enquanto novo e es-pere que ele desenvolva as suas potencia-lidades. BARCA VELHA é um vinho que quando é lançado está em pleno momento áureo, ainda que tenha potencial para se desenvolver positivamente durante muitos mais anos. A natureza e a arte do homem farão com que o número de colheitas des-ta qualidade se mantenha ou que diminua, sendo que há um cuidado extremo para que todo o processo possa conduzir a um resul-tado de excelência.

Outro dos pontos que tornam BARCA VELHA tão especial é o facto de ter sido o primeiro. Foi o primeiro grande vinho de qualidade do Douro. Com uma curiosidade

acrescida… é que olhando para a gama da CASA FERREIRINHA, ao contrário das outras gamas que normalmente come-çam por baixo e vão construindo a ima-gem por cima, a CASA FERREIRINHA co-meçou pelo topo. Foi só depois de Barca Velha que foram lançados vinhos como Es-teva, Vinha Grande, Callabriga ou Quinta da Leda, e mais recentemente Papa Figos.

Quanto é que pode valer uma garra-fa de 2004?

Na Sogrape Vinhos já não há Barca Ve-lha 2004, e o valor de mercado não é nem pode ser controlado por nós.

A empresa, obviamente, não tem res-ponsabilidade por isso.

É um vinho que neste momento já não temos para comercialização.

o excelentíssimo Barca Velha...

ferença. Até porque, mais impor-tante do que escolhê-los é servi-los como eles devem ser apresentados para que possam ser devidamente apreciados. Nem em casa do se-nhor de 70 anos se deve servir um Vinho do Porto à temperatura am-biente, a não ser que seja um dia frio de inverno e o vinho estives-se à janela à espera de vir para a mesa. O jovem provavelmente vai servi-lo mais fresco, e quem sabe em cocktails, o senhor de 70 anos deve guardá-lo para o final da re-feição, mas no final do dia, o que importa é o prazer que temos nos vinhos que consumimos.

Como define o mercado das comunidades?

Na minha experiência de pou-co mais de um ano, com a SOGRA-PE, achei extraordinário encontrar um mercado internacional para vi-nhos portugueses que é comple-tamente diferente daquilo que eu pensava. Nós costumamos pen-sar nas comunidades portuguesas como comunidades muito tradicio-nais – aquela imagem que tínha-mos da geração de 50/60 – e, hoje em dia o que se encontra, e que eu encontrei nos Estados Unidos, Suíça, Alemanha e França, é uma comunidade de portugueses e de descendentes de portugueses, de segunda e terceira geração, extraor-dinariamente integrada no meio lo-cal, mas ao mesmo tempo, verda-deiramente distinta, no sentido em que estas pessoas são claramente portugueses ou de origem portu-guesa mas são também provavel-mente uma das ferramentas e um dos embaixadores mais poderosos e modernos que as marcas portu-guesas possuem. Portanto, para grande surpresa minha, o merca-do das comunidades é tudo menos clássico e antiquado.

SOBRE O SISAB PORTUGAL

15 DE JANEIRO DE 2016p.16 FRANÇA - PARIS

ENTREVISTA COM JOSÉ CORREIA, CEO DA J’OCÉANE

“A dimensão não é importante. Para mim, o importante é o equilíbrio e a estabilidade...”

José Correia, CEO da J’Océane

(...) decidi lançar a J’Océane em abril de 1991. Sozinho, sem ordenado durante um ano, depois um pequeno ordenado durante 5 anos. Foi muito difícil (...)

Como é que veio para França?Vim para França com os meus pais em 1969. Tinha 11 anos. Fiz a es-colaridade primária aqui em Fran-ça, começou por ser muito duro porque voltei ao início e comecei por ter aulas com alunos de 6 anos, mas fui começando a falar francês e com o passar do tempo fui subindo de ano em ano muito rápido. Aca-bei por fazer um curso de contabi-

Desde a sua criação, em 1991, a J’Océane tor-nou-se uma referência incontornável na comer-cialização de peixes e mariscos em Paris. José Correia, 58 anos é o empresário nasci-do em S. Pedro de Merelim, Braga responsá-vel pela criação desta empresa que processa por mês mais de 1000 toneladas do peixe ser-vido nos melhores restaurantes de Paris e fatu-ra anualmente cerca de 80 milhões de euros.Dos 3.500m² das modernas infraestrutu-ras de frio em pleno coração do maior merca-do de produtos frescos do mundo, o Mercado Internacional de Rungis, a J’Océane tem cres-cido com os seus fornecedores e clientes, mas também com uma equipa de 120 colaborado-res que trabalham 24 sobre 24 horas desde a aquisição do produto até à sua entrega.

lidade e gestão. No início foi difícil encontrar traba-lho, mas acabei por encontrar na área da contabilidade numa empre-sa que trabalhava com chocolate artesanal. Trabalhei nesta empre-sa durante 6 anos. Ao fim de seis anos percebi que o chefe da conta-bilidade ia ter ainda muitos anos de atividade antes de se reformar im-possibilitando-me de progredir na carreira até então. Não havia gran-de futuro ali.Por essa altura, comprei o Fígaro e vi um anúncio de uma empre-sa aqui no mercado de Rungis que procurava um contabilista. Res-pondi a esse anúncio e o incrível é

que isto acabou por ser uma coin-cidência porque estive para não ir à entrevista uma vez que tive que decidir se ia à entrevista ou para o trabalho. Mas deu-se um click e foi aí que tomei coragem e decidi vir. Se tivesse decidido não vir, prova-velmente, não estaria aqui hoje. Foi aí que tudo começou.

(...) Hoje, 75% dos nossos pro-dutos são entregues todos os dias, todas as noites e todas as manhãs a cerca de 1000 restaurantes em toda a região de Paris (...)

Entretanto comecei a trabalhar, a empresa era pequena, estava a co-

meçar também, tinha um movi-mento muito baixo e quando eu saí, 6 anos mais tarde, essa empresa já tinha um movimento muito grande que eu ajudei a criar. Fiz na altura várias viagens com o meu patrão a Portugal e a vários países de África e foi aí, ainda em 1985 que come-cei a trabalhar com Portugal, ain-da Portugal tinha direitos de alfân-dega para o peixe, antes de entrar para a União Europeia. Mais tarde comecei a procurar fornecedores e clientes em Paris, comecei a fazer um pouco de tudo na empresa uma vez que gostava do contato huma-no para além da contabilidade e foi então que decidi lançar a J’Océane

em abril de 1991.Sozinho, sem ordenado durante um ano, depois um pequeno ordenado durante 5 anos. Foi muito difícil.

(...) Inspiro-me nas minhas raí-zes. Tenho aqui colaboradores que partilham as mesmas raízes que eu, são raízes profundas do nosso país (...)

Ia todos os dias ao aeroporto bus-car peixe num camião velhinho, ia entregar peixe para os clientes no mercado e depois recondicionava--o, calibrava-o e fazia a entrega nos restaurantes de Paris, e ainda trata-va da contabilidade... Só dormia 3

15 DE JANEIRO DE 2016 p.17PELO MUNDO

horas por dia. Foi muito trabalho. Fazia tudo na empresa.

Onde é que começou a J’Océane?Foi no mercado de Rungis, mas era um pequeno escritório, sem espaço nenhum. Não tínhamos meios, abri a empresa sem capital. Cada franco que ganhava ia para o banco para equilibrar a empresa financeiramente.

(...) O peixe aqui não se atra-sa porque é processado logo na hora. Chega aqui à meia-noite. É calibrado, cortado, transformado, pesado e recondicionado em pe-quenas caixas e às 4, 5 da manhã está a ser entregue (...)

E hoje quais são os destinos dos produtos da empresa?Hoje, 75% dos nossos produtos são entregues todos os dias, todas as noites e todas as manhãs a cer-ca de 1000 restaurantes em toda a região de Paris, destina-se apro-ximadamente 40% a restaurantes de cozinha francesa, 40% de co-zinha japonesa, uma parte signifi-cativa do nosso negócio e 20% de venda direta no mercado a peixa-rias. Tudo é trabalhado nos nos-sos laboratórios. Tudo é trabalhado nos nossos laboratórios. Se o estu-do de um determinado restaurante é para que um filete de robalo pese 200 gramas, isso tem que ser exa-tamente cumprido. A qualidade é muito importante para nós.O pedido do cliente, normalmente chefs de cozinha, alguns de reno-me internacional, temos até chefs com 3 estrelas Michelin, é cumpri-do rigorosamente. O corte do pei-xe, o calibre, tudo vai exatamen-te como pretendido e entregamos tudo de madrugada diretamente no frigorífico do cliente em caixas de 3 ou 4 quilos. O cliente quando chega de manhã ao seu restaurante ou à sua cozi-nha tem tudo preparado de ante-mão. Poupa imenso tempo, espaço

e custos em mão de obra. Ter o pei-xe todo preparado e poder contar com a experiência dos nossos técni-cos torna tudo muito mais simples. E é claro que isso paga-se.Com tantas encomendas como é que não há atrasos na entrega dos produtos nos restaurantes?O peixe aqui não se atrasa porque é processado logo na hora. Che-ga aqui à meia-noite. É calibrado, cortado, transformado, pesado e recondicionado em pequenas cai-xas e às 4, 5 da manhã está a ser entregue em alguns dos mais fa-mosos restaurantes de Paris. Não perdemos tempo. Temos cerca de 120 empregados que o garantem. Temos colaboradores de várias na-cionalidades, mas os portugueses estão em maioria.

Podemos então concluir que Pa-ris tem bons restaurantes para co-mer peixe?

Paris e os arredores de Paris tem das maiores concentrações de restaurantes no mundo e de tudo o que tem a ver com a relevante e amplamente reconhecida cozinha francesa. O peixe da França tam-bém é dos mais famosos do mundo. Há muita variedade e isso reflete-se na cozinha francesa e na qualidade de restaurantes em Paris.

(...) Paris e os arredores de Pa-ris tem uma das maiores concen-trações de restaurantes no mun-do (...)

Depois de tanto crescimento ainda tem algum sonho que queira ver concretizado?O meu sonho é continuar a cons-truir uma empresa sã e com cora-ção. Inspiro-me nas minhas raízes. Tenho aqui colaboradores que par-tilham as mesmas raízes que eu, são raízes profundas do nosso país. As recordações que temos de antes de emigrar, antes de haver internet, dos campos verdes, da água limpa a correr nos rios...as raízes foram

importantes para mim, para ter co-ragem e dinamismo. Para saber so-frer desde início. A dimensão não é importante, o im-portante é o equilíbrio e a estabili-dade, ter uma empresa com uma

dimensão de resultados que dê para pagar os encargos e para dis-tribuir uma parte do benefício pe-los 120 colaboradores e ainda tirar mais-valias para os seguros que são uma parte importante neste negó-

cio. Nós trabalhamos com seguros de crédito com os fornecedores da Noruega, por exemplo, no valor de um milhão e 200 mil euros. É pri-mordial haver estabilidade para po-der pagar aos fornecedores.

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15 DE JANEIRO DE 2016p.36 FRANÇA - PARIS

ENTREVISTA COM FREDERICO DOMINGUES, COORDENADOR DO ESCRITÓRIO DE REPRESENTAÇÃO DO CRÉDITO AGRÍCOLA EM PARIS

“Foi um desafio que considerei muito interessante, com o qual me identifiquei plenamente e decidi avançar. Acredito neste projecto...”

O Frederico nasceu em Portu-gal, cresceu na Suíça e agora está em França. Como é que isto aconteceu?

Nasci em Portugal e os meus pais decidiram emigrar para a Suíça quando tinha 16 meses. Na Suí-ça, passei a minha infância e fiz a minha escolaridade obrigatória, regressando a Portugal em mea-

Frederico Domingues tem 31 anos e é o coordenador do Escritório de Representação do Crédito Agrícola em Paris. Com Marc Jacinto, apoia diariamente centenas de portugueses residentes em França que optam pelos serviços deste respeita-do banco português. O Mundo Português foi conhecer este jovem que nasceu em Portugal, cresceu na Suíça e está hoje em dia à frente deste escritório em Paris, França.

dos de 1999. Em Portugal, fiz um percurso idêntico à generalidade dos jovens: completei os meus es-tudos em Leiria e Coimbra e ini-ciei a minha vida profissional na banca. Neste momento, encontro--me em Paris.A vinda para Paris deve-se a uma oportunidade que surgiu. Foi um desafio que considerei muito inte-ressante, com o qual me identifi-

quei plenamente e decidi avançar com a minha candidatura. Consi-dero-me ambicioso e acredito nes-te projecto. Estive quinze anos na Suíça, outros quinze em Portugal e encontro-me há ano e meio em Paris. (...) A vinda para Paris de-ve-se a uma oportunidade que surgiu. Foi um desafio que con-

siderei muito interessante, com o qual me identifiquei plena-mente e decidi avançar com a minha candidatura. Considero--me ambicioso e acredito neste projecto. Estive quinze anos na Suíça, outros quinze em Por-tugal e encontro-me há ano e meio em Paris (...)

Como é que decidiu vir para o Cré-dito Agrícola em França?

Já desenvolvia a minha activida-de profissional no seio do Grupo Crédito Agrícola, estando agrega-do à Caixa de Pombal, de onde sou natural. Sou funcionário bancário há nove anos. A evolução no seio da Caixa foi progressiva. Aquando da publicação de um concurso in-terno para o Escritório de Repre-sentação do Crédito Agrícola em Paris, candidatei-me imediata-mente, pois identificava-me com o projecto. E assim, juntamente com o meu co-lega Marc, passei a integrar a equi-pa representante do Grupo Crédito Agrícola em terras gaulesas. Ao longo destes anos fomos ad-quirindo um conjunto de com-petências que nos permite estar completamente integrados neste mercado, de forma a prestar um serviço de qualidade e com total transparência aos nossos clientes e potenciais clientes aqui residen-tes. Em Paris, procuramos funcio-nar como elo de ligação entre os clientes que residem em França e as respectivas agências em Por-tugal, tendo em conta as limita-ções inerentes a um Escritório de Representação.

Que tipo de clientes tem o Crédi-to Agrícola em França?

A nossa clientela é muito heterogé-nea. Sendo assim, na nossa cartei-ra de clientes residentes em França encontram-se jovens que entraram

recentemente na vida activa, refor-mados, empresários, entre outros. É também interessante sublinhar que somos frequentemente soli-citados por franceses que preten-dem investir em Portugal. (...) Ao longo destes anos fomos adquirindo um conjun-to de competências que nos permite estar completamente integrados neste mercado, de forma a prestar um serviço de qualidade e com total trans-parência aos nossos clientes e potenciais clientes aqui resi-dentes. Em Paris, procuramos funcionar como elo de ligação entre os clientes que residem em França e as respectivas agências em Portugal, tendo em conta as limitações ineren-tes a um Escritório de Repre-sentação (...)

Procuramos ir de encontro às ex-pectativas e necessidades dos nos-sos clientes, prestando todo o tipo de informação que pretendam e esclarecendo as suas questões e dúvidas. Contamos, com a nos-sa atividade, contribuir para mi-tigar os dois mil quilómetros que separam França de Portugal. Com esta forma de actuação no merca-do francês, pretendemos ir de en-contro aos valores do Crédito Agrí-cola, que assentem na solidez, na confiança, na proximidade e na simplicidade.

(...) Procuramos ir de en-contro às expectativas e neces-sidades dos nossos clientes, prestando todo o tipo de infor-mação que pretendam e escla-recendo as suas questões e dú-vidas. Contamos, com a nossa atividade, contribuir para miti-gar os dois mil quilómetros que separam França de Portugal. Com esta forma de actuação no mercado francês, pretende-mos ir de encontro aos valores

15 DE JANEIRO DE 2016 p.37FRANÇA - PARIS

Marc Jacinto, comercial e Frederico Domingues, coordenador do Escritório de Representação do Crédito Agrícola em Paris

do Crédito Agrícola, que assen-tem na solidez, na confiança, na proximidade e na simplici-dade (...)

É com base nesses valores que de-senvolvemos a actividade do Es-critório, ou seja, procuramos pro-mover a solidez do Grupo Crédito Agrícola, contribuindo para a cons-trução e solidificação da confiança que os clientes depositam em nós. Através do Escritório de Represen-tação, estamos mais presentes e mais próximos dos nossos clien-tes, o que permite simplificar a sua relação com o Crédito Agrícola.Como referido anteriormente, ob-serva-se uma evolução muito po-sitiva junto dos franceses, refor-mados e não reformados, que procuram e pretendem investir em Portugal. Estes clientes caracteri-zam-se por ter um poder de com-pra assinalável e o nosso país tem muito a oferecer. Portugal tem sol, praia, gastronomia, estabilidade politica, um custo de vida apetecí-vel, imensas oportunidades de ne-gócio no sector imobiliário e nós pretendemos aproveitar esta con-jugação de factores.

(...) Tenho por hábito di-zer que podemos sempre fazer mais. Considero-me uma pes-soa insatisfeita por natureza e acredito que há sempre algo a melhorar. No entanto, conside-ro que a actividade desenvolvi-

da pelo Escritório ao longo des-te ano e meio é muito positiva; os resultados são muito satis-fatórios (...)

Onde podemos encontrar o Crédi-to Agrícola em França?

A nível de instalações físicas te-mos o escritório em Paris, mas tentamos não ficar só aqui. Ten-tamos dar a volta a tudo o que é periferia, fazemos várias ações de prospeção, contactamos com os clientes, participamos em vá-rios eventos para divulgar a marca Crédito Agrícola, o escritório e os nossos produtos.

Temos também desenvolvido uma rede de promotores de negócio, ao nível de França. Estamos, nes-ta fase, a contactar várias pesso-as, que estão bem integradas na comunidade portuguesa em vá-rios pontos. Nós achamos que é fundamental ter pelo menos uma pessoa a quem o cliente pode re-correr. No entanto, hoje em dia, tendo em conta as novas tecno-logias, facilmente temos contac-tado clientes que estão mais dis-tantes. Têm devolvido chamadas e nós tentamos aqui encontrar for-mas de resolver as situações. Em todo o caso, tentamos implemen-tar uma rede de promotores. Esta-mos numa fase inicial. No entan-to, nós temos disponibilidade para nos deslocar. Não há impeditivo.

Qual é o balanço deste primeiro ano e meio de atividade aqui?

Tenho por hábito dizer que pode-mos sempre fazer mais. Conside-ro-me uma pessoa insatisfeita por natureza e acredito que há sempre algo a melhorar. No entanto, con-sidero que a actividade desenvol-vida pelo Escritório ao longo des-te ano e meio é muito positiva; os resultados são muito satisfatórios. Temos feito um esforço para alterar a percepção dos jovens portugue-ses que se instalaram em França recentemente.

(...) O jovem português que reside em França procura um banco que lhe possa pro-porcionar os serviços bancá-rios que necessita no quotidia-no. Os portugueses residentes em França que chegaram com a primeira vaga de emigração nos anos 40 ou 50 procuravam manter a ligação a Portugal e um Escritório de Representa-ção era suficiente. Neste mo-mento, temos de nos adaptar e ir de encontro às necessidades e expectativas dos clientes (...)

O jovem português que reside em França procura um banco que lhe possa proporcionar os serviços bancários que necessita no quo-tidiano. Os portugueses residen-tes em França que chegaram com

a primeira vaga de emigração nos anos 40 ou 50 procuravam manter a ligação a Portugal e um Escritó-rio de Representação era suficien-te. Neste momento, temos de nos adaptar e ir de encontro às necessi-dades e expectativas dos clientes.Tendo em conta as limitações de um Escritório de Representação, devido ao modelo de atuação im-posto, temos de nos orientar para as oportunidades que o mercado francês nos oferece. Também temos de estar presentes, apoiar os nossos actuais clientes e fornecer toda a informação neces-sária aos franceses que têm ape-tência para se instalar em Portu-gal ou reformados portugueses que pensam em regressar a Portugal.

(...) Procuramos estar pre-sentes em diversos eventos organizados por organismos portugueses em Paris e nos de-partamentos limítrofes, com o objectivo de promover a mar-ca Crédito Agrícola, o Grupo, os seus produtos e serviços e a nossa presença em França. Ten-do em conta a evolução tecno-lógica, facilmente conseguimos estar em contacto permanente com clientes e conseguimos ir ao encontro das suas necessi-dades (...)

Tratando-se de um Escritório de Representação acaba por ter mui-ta atividade aqui em Paris?

A atividade do Escritório de Repre-sentação está repartida por várias áreas. A primeira assenta nas associações portuguesas, uma vez que estas se apresentam como elemento agre-gador da comunidade portuguesa, sendo locais de referência para o contacto com um amplo conjunto de pessoas num mesmo local. A segunda área diz respeito aos clientes particulares. Numa terceira área temos as em-presas, funcionando o Escritório como plataforma de ligação entre as empresas nossas clientes e as empresas francesas. Neste âmbi-to, organizámos recentemente, em colaboração com a Câmara de Co-mércio e Indústria Franco Portu-guesa, a primeira missão empre-sarial dirigida exclusivamente aos nossos clientes. Algumas empre-sas deslocaram-se a Paris e reu-niram com diversos empresários franceses, sempre acompanhados e apoiados pelos elementos do Es-critório de Representação. O fee-dback obtido foi muito positivo. Observámos uma grande receti-vidade por parte dos empresários franceses e acreditamos que des-tes primeiros contactos resultarão transacções comerciais entre as empresas nossas clientes e as em-presas francesas.A última área de actuação refere-se ao sector do imobiliário, fornecen-do informação vital sobre as opor-tunidades de negócio junto da co-munidade francesa e portuguesa que pretende investir em Portugal através da aquisição de um imó-vel. O Crédito Agrícola detém uma carteira de imóveis que podem sa-tisfazer as necessidades de inves-timentos dos actuais ou potenciais clientes. Gostaria de finalizar reforçando que o traço distintivo do Crédito Agrí-cola é a proximidade que mantém com os seus clientes, onde quer que eles se encontrem, pelo que em França está próximo daqueles que decidiram partir à procura de novos projetos e de uma vida me-lhor neste país.

(...) observa-se uma evo-lução muito positiva junto dos franceses, reformados e não re-formados, que procuram e pre-tendem investir em Portugal. Estes clientes caracterizam--se por ter um poder de com-pra assinalável e o nosso país tem muito a oferecer. Portugal tem sol, praia, gastronomia, es-tabilidade politica, um custo de vida apetecível, imensas opor-tunidades de negócio no sector imobiliário (...)

15 DE JANEIRO DE 2016p.40 EMPRESAS & MERCADOS

ENTREVISTA COM PAULO DIAS, PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA FÁBRICA DE CONSERVAS LA GONDOLA, SA

“A grande virtude da La Gondola, foi nunca ter abandonado os processos tradicionais de fabrico...”

Paulo Dias, Presidente do Conselho de Administração da FÁBRICA DE CONSERVAS LA GONDOLA no showroom da empresa.

Fale-me um pouco sobre a história da ‘La Gondola’...A La Gondola é uma das mais an-tigas fábricas de conservas portu-guesas. Foi fundada por italianos nos anos 30. Os italianos foram dos primeiros a instalarem-se na vila de Matosinhos, e a par dos gregos e dos espanhóis foram os respon-sáveis pelo arranque e desenvol-vimento da indústria conserveira nesta vila, produzindo as conser-vas pelo sal, as chamadas ancho-vas. A La Gondola tinha uma forte componente de produtos transfor-

A Fábrica de Conservas La Gondola é uma das mais antigas fábricas de conservas em Portugal. O seu nome criou, em todos os mercados onde está presente, uma reputação de excelência devido à qualidade dos produtos fabricados pelo método tradicional pré-cozido, com peixe exclusivamente fresco e no seu melhor momento de qualidade e sabor.

mados pelo sal. Actualmente a empresa tem capi-tal 100% português, fazendo parte de um grupo que desenvolve a sua actividade no sector das conservas, com uma forte vertente exportado-ra, mas sempre com o intuito de crescer no mercado interno.

Aqui, o peixe entra, é processado e vocês fazem tudo de A a Z?Exactamente. E a grande virtude da La Gondola, foi nunca ter abando-nado os processos tradicionais de fabrico.

(...) A La Gondola é uma das mais antigas fábricas de conser-vas portuguesas. Foi fundada por italianos nos anos 30. Os italia-nos foram dos primeiros a insta-larem-se na vila de Matosinhos, e a par dos gregos e dos espanhóis foram os responsáveis pelo arran-que e desenvolvimento da indús-tria conserveira nesta vila, produ-zindo as conservas pelo sal, as chamadas anchovas (...)

Procuramos trabalhar matérias-pri-mas 100% frescas, peixe do dia.

Daí o facto da La Gondola ter uma grande quantidade de referências e de espécies de pescado. Portugal sempre foi conhecido pelas conser-vas de sardinha, e é essa a bandeira que apresentamos ao mundo, mas ao mesmo tempo também temos outras espécies, como a cavala, o carapau, o polvo, as lulas, a truta, o salmão, as ovas de vários peixes ou o atum. Produzimos também os patés de pescado, que são produ-tos mais recentes, mas com uma penetração nos mercados bastante acentuada e muito apreciados pela

faixa etária mais jovem. Recente-mente introduzimos o peixe-espa-da preto, em que somos pioneiros e os únicos a trabalhar esta espécie.São muitas referências e isso tam-bém nos permite chegar a um maior número de consumidores.

(...) Procuramos trabalhar ma-térias-primas 100% frescas, pei-xe do dia. Daí o facto da La Gon-dola ter uma grande quantidade de referências e de espécies de pescado. Portugal sempre foi co-nhecido pelas conservas de sar-dinha, e é essa a bandeira que apresentamos ao mundo, mas ao mesmo tempo também temos outras espécies, como a cavala, o carapau, o polvo, as lulas, a truta, o salmão, as ovas de vários peixes ou o atum (...)

O vosso packaging é muito atracti-vo, muito moderno, dentro do sec-tor das conservas…É um sector muito tradicional e esta é também uma forma de nos destacar.Temos um grande cuidado com a apresentação das nossas marcas. Para isso, investimos em design de uma forma constante e faze-mos a apresentação de novos pro-dutos de uma forma muito regular, desde as conservas tradicionais às conservas que nós chamamos do século XXI, com novas apresenta-ções, com novos tipos de embala-gem. Uma particularidade da ima-gem das conservas La Gondola foi voltar ao passado, apresentando a lata empapelada com celofane, que se destaca no mercado com uma

15 DE JANEIRO DE 2016 p.41EMPRESAS & MERCADOS

apresentação vintage. Como apos-tamos na diferenciação, temos tam-bém uma gama de produtos bioló-gicos, acompanhando a tendência do consumo. A nossa fábrica está certificada para o efeito destacan-do a empresa face à concorrência.

(...) Temos um grande cuida-do com a apresentação das nos-sas marcas. Para isso, investimos em design de uma forma cons-tante e fazemos a apresentação de novos produtos de uma forma muito regular, desde as conservas tradicionais às conservas que nós chamamos do século XXI, com novas apresentações, com novos tipos de embalagem (...)

Os mercados externos como é que reagem? Vocês já exportam? Estão em vários países? Fale-me um pou-co dos países onde estão e dos que gostaria de alcançar.A La Gondola exporta para mais de 30 países, com destaque para o continente Europeu mas também para alguns países asiáticos e ame-ricanos, sendo reconhecida pela qualidade do produto, pela inova-ção, pelo design, e por conservar os métodos tradicionais no fabrico. A La Gondola nunca perdeu a tra-dição de trabalhar com peixe fresco e processado exclusivamente pelo método tradicional pré-cozido. Este é, efectivamente, um método que está em desuso e que muito pou-cas empresas o seguem. Pensamos que é uma das razões que contribu-íram para que a empresa resistisse, já que Matosinhos foi um pólo com quase 70 fábricas e neste momento são apenas quatro.

(...) A La Gondola exporta para mais de 30 países, com desta-que para o continente Europeu mas também para alguns países asiáticos e americanos, sendo re-conhecida pela qualidade do pro-duto, pela inovação, pelo design, e por conservar os métodos tradi-cionais no fabrico . A La Gondola nunca perdeu a tradição de traba-lhar com peixe fresco (...)

Qual é a sua opinião sobre o SISAB PORTUGAL? Tem ajudado a empresa, no sentido de arran-jar novos destinos de exportação?O SISAB PORTUGAL é uma mon-tra onde os fabricantes e os produ-tores nacionais têm a possibilidade mostrar a força e a qualidade dos nossos produtos. Penso que será a única feira mundial que concen-tra a produção de um determinado país, neste caso Portugal, e como é evidente sentimos que é uma das formas fáceis de chegar aos quatro cantos do mundo, gerando novos contactos e novas oportunidades.

Fale-me de algumas marcas da ‘La Gondola’... A ‘La Gondola’ trabalha, essencial-mente, a sua marca. É uma mar-ca onde temos investido muito e onde carregamos todo o nosso sa-ber, toda a qualidade. Sempre que temos algo que nos possa desta-car, concentramo-nos nessa mar-ca. A par também trabalhamos para outras marcas, seguindo a mesma linha de qualidade da ‘La Gondola’. Normalmente nos paí-ses para onde exportamos, traba-lhamos com as melhores marcas e com Clientes que querem manter padrões de qualidade e por essa via destacar as suas próprias marcas no mercado. Algumas destas mar-cas têm também produção no país de origem, mas procuram em Por-tugal a execução das conservas de sardinha à antiga portuguesa.

Como vê o futuro desta arte? Está a ganhar um novo fôlego desde há uns anos para cá? Qual é a sua opinião?Na minha opinião as conservas es-tão cada vez mais “na moda” e o seu potencial alimentar aliado à for-te tradição portuguesa no fabrico estão a fazer chegar este produto a mais consumidores. Apesar da industria passar por tem-pos difíceis pela redução da pesca da sardinha, sabemos que temos que contribuir para a sustentabili-dade da espécie em Portugal. Como consequência, a indústria, nomeadamente a ‘La Gondola’, co-

meçou a dar mais atenção a outras espécies que nunca tinham sido utilizadas nas conservas de peixe. Hoje, apesar de continuarmos a fa-zer as conservas pelo método tra-dicional pré-cozido, também pro-curamos preparações diferentes, molhos diferentes, para consumi-dores que querem comer peixe com sabores mais sofisticados.

(...) Normalmente nos países para onde exportamos, trabalha-mos com as melhores marcas e com Clientes que querem manter padrões de qualidade e por essa via destacar as suas próprias mar-cas no mercado. Algumas destas marcas têm também produção no país de origem, mas procuram em Portugal a execução das con-servas de sardinha à antiga por-tuguesa (...)

É muito importante referir a impor-

tância dos nossos colaboradores, nomeadamente as senhoras que processam o peixe e que têm um saber fazer que realmente impres-siona quem nos visita. Posso dizer que os fabricantes franceses, ita-lianos e espanhóis que nos visitam regularmente ficam impressiona-dos pelo modo como nós “arruma-mos” as sardinhas na lata. Muitos deles, essencialmente os mais an-tigos, dizem que já não se lembra-vam de ver trabalhar daquela for-ma. Esse know-how é o que nos distingue. Eu costumo dizer que abrir uma lata de sardinhas da ‘La Gondola’ é um regalo para os olhos. Quando se abre, vê-se que é quase um trabalho de ourivesaria. É um trabalho que, efetivamente, muito pouca gente o sabe fazer desta for-ma. O nosso grande capital são as pessoas que trabalham connosco. Actualmente a empresa está a fazer um investimento numa nova unida-

de industrial, exclusivamente para limpeza do atum. Esta nova linha de produção permitirá aumentar o portfolio de produtos e clientes, criando cerca de 70 novos postos de trabalho.

(...) Na minha opinião as con-servas estão cada vez mais “na moda” e o seu potencial alimentar aliado à forte tradição portugue-sa no fabrico estão a fazer che-gar este produto a mais consumi-dores. Apesar da industria passar por tempos difíceis pela redução da pesca da sardinha, sabemos que temos que contribuir para a sustentabilidade da espécie em Portugal. Como consequência, a indústria, nomeadamente a ‘La Gondola’, começou a dar mais atenção a outras espécies que nunca tinham sido utilizadas nas conservas de peixe (...)

Neste Natal a Casa Angola In-ternacional doou 1,4 toneladas de produtos alimentares para as famí-lias mais desfavorecidas.

A par da sua actividade espe-cífica, a exportação, a Casa Angola Internacional, conforme nos confir-mou Rui Moreira, CEO da empre-sa, “ assume um claro compromis-so para com o desenvolvimento sustentado da sociedade em que se insere”.

Neste âmbito, a empresa tem apoiado algumas iniciativas que se revelem do interesse da sociedade

Casa Angola doa 1,4 toneladas de produtos alimentares

e possuam objectivos de inquestio-nável alcance social, desportivo ou cultural; acções estas desenvolvidas por instituições credíveis e especiali-zadas em cada área.

Este ano a empresa optou por doar ao Banco Alimentar Contra a Fome do Porto 1,4 Toneladas de pro-dutos alimentares para serem distri-buídos por esta instituição nos dias 21, 22 e 23 de Dezembro.

O Banco Alimentar do Porto re-colhe e distribui localmente produ-tos às muitas instituições que em Portugal lutam contra a fome. Es-

tas por sua vez, distribuem refeições já confeccionadas e cabazes de ali-mentos a pessoas comprovadamen-te carenciadas.

Segundo Rui Moreira “O traba-lho desenvolvido pelas instituições que lutam contra a fome é de ex-trema importância para milhares de pessoas em Portugal, por este moti-vo a Casa Angola entendeu associar--se com uma ajuda, na esperança de reconfortar o Natal a muitas famílias carenciadas”. Pequenos gestos, que farão certamente toda a diferença no Natal. Exemplos a seguir.

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15 DE JANEIRO DE 2016p.10 FRANÇA - CHOISY LE ROI

“Como todos, ao chegar aqui procurei trabalho. Vim para ficar dois meses nas vindimas e nunca mais voltei para Portugal…”

ENTREVISTA COM ABÍLIO LOURENÇO, PRESIDENTE DA SOCIÉTÉ MEGAL

Como é que surgiu a aventura de vir para França?

Estou em França há 35 anos. Como todos, ao chegar aqui procu-rei trabalho. Vim para ficar dois me-ses nas vindimas e nunca mais vol-tei para Portugal. Comecei a trabalhar nas obras. Aqui é muito difícil, faz muito mais frio, já folgava ao sába-do e ao domingo, mas sempre que o patrão precisava trabalhava, mesmo ao fim-de-semana.

Os emigrantes que vinham para aqui eram os mais pobres. Com pou-cos meios vinham para aqui e Portu-gal acabou por ficar mais rico com o dinheiro que estes emigrantes ganha-ram e investiram em Portugal. Hoje há muitas casas e apartamentos em Portugal compradas por emigrantes.

(...) Os emigrantes que vi-nham para aqui eram os mais pobres. Com poucos meios vinham para aqui e Portugal acabou por ficar mais rico com o dinheiro que estes emigran-tes ganharam e investiram em Portugal (...)

E a MEGAL? Quando é que deci-diu trabalhar por conta-própria?

Abri a empresa porque ganhava pouco dinheiro e não tinha nada a perder. Acho que se tivesse um bom salário na altura, nunca teria aberto a empresa. Muitos portugueses ga-nham bom dinheiro aqui e não pre-cisam de mais, já tem altos cargos, os que ganham pouco é que acabam por ter mais ambição. É preciso ter al-guma coragem para correr o risco de perder um salário e de não ganhar. Eu tinha a vantagem de ser casado e a minha esposa tinha uma loja, se corresse mal tinha sempre uma casa pelo menos.

Comecei a trabalhar por conta própria em 1988 e em 1994 abri a MEGAL. Nós compramos e ins-talamos produtos de cerâmica para construtores. Trabalhamos maiorita-riamente na região de Paris.

Tem muitos portugueses a traba-lhar aqui?

Já tive mais portugueses a traba-lhar comigo. Os portugueses que são bons trabalhadores têm sempre tra-

balho e não sei onde estão. Os por-tugueses hoje em dia não são como antigamente.

(...) É preciso ter alguma coragem para correr o risco de perder um salário e de não ga-nhar. Comecei a trabalhar por conta própria em 1988 e em 94 abri a MEGAL. Nós com-pramos e instalamos produtos de cerâmica para construto-res. Trabalhamos maioritaria-mente na região de Paris (...)

Eu penso que quando vim para França em 100 pessoas que vinham para cá, 75 conseguiam organizar a vida e entre os restantes 25 ainda ha-via 12 que se safavam também. Hoje já não é bem assim.

Há varias empresas de recruta-mento em Portugal que enviam para cá colaboradores que não sabem fa-zer praticamente nada e muitas das vezes trazem pouca vontade de traba-

lhar. Penso que não são todos, aten-ção, mas muitos são assim. Basica-mente, os que são bons funcionários encontram trabalho em todo o lado e muito facilmente, os outros não será bem assim.

Eu julgo que somos ainda uma comunidade muito bem vista aqui em França, os portugueses são bons profissionais.

Trabalha com algumas empre-sas de Portugal?

Nós trabalhamos com algumas empresas portuguesas, mas não so-mos nós que decidimos os produtos. Os clientes e os construtores esco-lhem o produto e quando fazemos o estudo para uma obra já sabemos o que vão querer comprar.

Os produtores portugueses, no que diz respeito à cerâmica, nunca trabalharam como os espanhóis. Os nossos preços não são tão competiti-vos como os dos espanhóis mas pare-ce-me que estamos no bom caminho.

(...) Basicamente, os que são bons funcionários encon-tram trabalho em todo o lado e muito facilmente, os outros não será bem assim. Eu julgo que somos ainda uma comu-nidade muito bem vista aqui em França, os portugueses são bons profissionais (...)

Há muita concorrência de mão--de-obra portuguesa aqui na área da construção?

Se há uma empresa que vem de outros países da comunidade euro-peia onde a mão-de-obra é mais ba-rata e traz os empregados de lá e pa-ga-lhes a preço de lá faz concorrência desleal porque declarando tudo no seu país tem menos custos sociais, fiscais e de mão-de-obra. Muitos fa-zem orçamentos baixos demais para ganhar as obras e depois acabam por não conseguir acabar as obras porque o dinheiro não chega para terminar.

Isto parece-me que está para aca-

bar, fala-se há mais de um ano que o governo francês está para aprovar, ou já aprovou, um decreto que obri-ga os empregados que vêm do es-trangeiro a receberem o mesmo orde-nado que os empregados daqui. Isto ajuda a acabar com a concorrência desleal e a degradação das condições do trabalho.

(...) Se há uma empresa que vem de outros países da comunidade europeia onde a mão-de-obra é mais barata e traz os empregados de lá e pa-ga-lhes a preço de lá faz con-corrência desleal porque de-clarando tudo no seu país tem menos custos sociais, fiscais e de mão-de-obra. Muitos fa-zem orçamentos baixos de-mais para ganhar as obras e depois acabam por não con-seguir acabar as obras porque o dinheiro não chega para ter-minar (...)

Abílio Lourenço numa das áreas de armazém da sede da MEGAL em Choisy Le Roi

Abílio Lourenço tem 52 anos e nasceu numa aldeia de Ponte de Lima, no Minho. A residir em França há mais de 35 anos é hoje presidente da Société MEGAL, uma empresa especializada no setor da construção e obras em geral sediada na região de Paris, em Choisy Le Roi onde emprega no grupo cerca de 42 colaboradores.