Jornal Brasil Atual - Zona Oeste 03

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Jornal Regional da Zona Oeste de São Paulo www.redebrasilatual.com.br ZONA OESTE nº 3 Janeiro de 2011 O que exigem os afrodescendentes para poder miscigená-la CIDADANIA EDUCAçãO Como alunos, pais e mestres transformam a Escola Amorim Lima, no Butantã Pág. 6 REVOLUçãO SILENCIOSA A Prefeitura ameaça destruir a paz de um bairro Pág. 2 BUTANTã VELHOS NA PRAÇA Mosquito continua atazanando o pessoal da Zona Oeste Pág. 7 DENGUE ATAQUE EM MASSA Passageiros relatam o horror de viajar num trem da CPTM Pág. 3 TRANSPORTE FIM DE LINHA CIêNCIA CARA-PáLIDA DISTRIBUIçãO GRATUITA FOTO: ANDREA REGO BARROS FOTO: LEONARDO BRITO FOTO: LEONARDO BRITO FOTO: DIVULGAÇÃO FOTO: DIVULGAÇÃO

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ataque em massa butantã educação Velhos na praça fim de linha Pág. 6 Pág. 7 Pág. 2 Pág. 3 nº 3 Janeiro de 2011 A Prefeitura ameaça destruir a paz de um bairro Mosquito continua atazanando o pessoal da Zona Oeste Jornal Regional da Zona Oeste de São Paulo www.redebrasilatual.com.br distribu ição Passageiros relatam o horror de viajar num trem da CPTM foto: leonardo britofoto:diVulgaçãofoto:diVulgação foto: andrea rego barros foto: leonardo brito

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Jornal Regional da Zona Oeste de São Paulo

www.redebrasilatual.com.br Zona oeste

nº 3 Janeiro de 2011

O que exigem os afrodescendentes para poder miscigená-la

cidadania

educação

Como alunos, pais e mestres transformam a Escola Amorim Lima, no Butantã

Pág. 6

revolução silenciosa

A Prefeitura ameaça destruir a paz de um bairro

Pág. 2

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Velhos na praça

Mosquito continua atazanando o pessoal da Zona Oeste

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Passageiros relatam o horror de viajar num trem da CPTM

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expediente rede brasil atual – Zona oesteeditora gráfica atitude ltda. – diretor de redação Paulo Salvador editor João de Barros redação Marina Amaral e Leonardo Brito (estagiário) revisão Malu Simões diagramação Leandro Siman telefone (11) 3241-0008tiragem: 15 mil exemplares distribuição gratuita

editorial

logotipo do p. i. g. partido da imprensa golpista

A formação de uma ciência nacional, miscigenada como seu povo, patina ao não oferecer aos negros o conhecimento de alta plumagem. O acesso dos afrodescendentes ao univer-so científico é ainda limitado a algumas cabeças que, além de pensantes, têm de vencer desafios que já deviam estar superados: O preconceito racial, a ausência de políticas pú-blicas para fazê-los vencer esse desafio e a dificuldade que têm de acesso à educação de qualidade são três exemplos ri-síveis – e contundentes – de como anda a passos lentos essa caminhada. Isso explica por que o ensino superior público tem apenas 0,4% de docentes negros ou pardos.

Mas é também da educação que nos vem um belo exem-plo. A Escola Amorim Lima, no Butantã, juntou pais, alunos e mestres e revolucionou a arte de ensinar. Lá, as paredes não dividem as classes e o controle da aprendizagem está nas mãos dos alunos! Um belo exemplo para ser seguido por quem acha que o sonho não morreu, que vale a pena ousar.

Uma no cravo, outra na ferradura. Pois não é que a Pre-feitura quer nos impor um corredor viário, uma tal Operação Vila Sônia? Caso seja implantado, vai ser trânsito e fumaça pra todo lado, acabando com a área verde do Parque da Pre-vidência. Será que a Prefeitura quer nos impor uma cruel-dade comparável apenas à do Estado, que nos faz andar nos trens da CPTM? Aí a dose é dupla!

butantã

Fumaça, trânsito, aridezA luta contra o complexo viário que vai destruir um bairro

Cercada por condomínios de apartamentos populares e situada em frente a uma es-cola, a Praça Elis Regina – no número 1500 da Avenida Corifeu de Azevedo Marques – é ponto de encontro de apo-sentados que passam o tempo jogando baralho ou dominó. A região é cortada por grandes vias de trânsito, como a pró-pria Corifeu, que vai até Osas-co, e a Rodovia Raposo Tava-res. Em 2005, a notícia de que a Prefeitura tinha um projeto que ameaçava a praça caiu fei-to uma bomba no bairro.

“Estava prevista uma obra viária enorme, uma interven-ção brutal, com grande impac-to na paisagem e na vida do bairro” – conta a geógrafa Pa-trícia Yamamoto, uma das fun-dadoras do movimento Butantã Pode! (dizer não ao túnel-ave-nida). “Tudo estava ameaçado: as áreas verdes, o Parque da Previdência, o lençol freático. E os moradores sequer tinham sido consultados” – lembra.

Os moradores lutam para impedir a concretização do projeto, realizando shows mu-

sicais na praça, assembleias com as associações de bairro, e audiências na Prefeitura, que até acenou com a mudança no traçado do túnel, sem se com-prometer de fato. Mesmo que o novo traçado poupasse a pra-ça, a sobrevivência do Parque Previdência, na outra ponta do túnel, continuaria em risco.

“Consultamos urbanistas, geólogos e todos disseram que, na profundidade em que o tú-nel seria construído, a nascente que existe no parque secaria e o lençol freático seria rebaixado

a ponto de matar as árvores em cinco anos” – explica Marcelo Coutinho, diretor da Amapar, Associação dos Moradores do Parque Previdência.

O projeto visa criar um sis-tema viário que vai de Itapevi – no extremo oeste da região metropolitana – às estações de metrô da linha amarela Butan-tã e Morumbi/Vila Sônia. “Isso significa um corredor viário com tráfego de 3 milhões de viagens por dia, uma obra que modifica todo o seu entorno” – destaca Marcelo.

O projeto pretende ligar a avenida Corifeu de Azevedo Mar-ques à Eliseu de Almeida, por meio de um túnel sob a Rodo-via Raposo Tavares e o Parque da Previdência – a maior área verde da região com nascente e mata atlântica preservada. Uma avenida passaria em cima da Praça Elis Regina.

operação Vila sônia

Associações de bairro e or-ganizações da sociedade civil encontram-se em maio para con-tar o que pensam e fazem diante dos problemas da cidade, deba-

Fórum cidade de são Pauloter soluções e fazer propostas de ação para resolvê-los no Fórum Social da Cidade de São Paulo. Mais informações no www.forumsocialsp.org.br

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trens da cPtM

Passageiros da estação agoniaA inacreditável viagem diária de milhões de paulistanos

estação da luz: o povo espera a chegada do trem

A estação Francisco Mo-rato, da Companhia Paulis-ta de Trens Metropolitanos (CPTM), na Zona Oeste, às 6h23 da manhã, está lotada. Parada obrigatória para quem vem de Jundiaí, Várzea Pau-lista, Campo Limpo Paulista e Botujuru e está a caminho de São Paulo, ela passa por obras de ampliação e modernização – o percurso de Jundiaí até

Morato tem 21,5 km e dura 35 minutos. Na plataforma, o empurra-empurra leva alguns passageiros além da linha de segurança amarela. Estreita e perigosa, qualquer esbarrão mais forte pode ser fatal.

Edilson José, 43 anos, fun-cionário das Casas Bahia de Pirituba, ensina: "Somente se enfiando nesse tumulto, você consegue espaço para entrar

no trem”. O trem chega. Api-nhado. Ninguém respeita o desembarque dos passagei-ros, pois o medo de perder o trem é maior. Há uma surda batalha entre quem quer sair e quem quer entrar. Neuza Fernandes, 72 anos, aposen-tada, desce do trem indigna-da: “Que falta de educação, as pessoas não respeitam nem os idosos.”

A multidão empurra to-dos para dentro do trem. Carolina Ferreira, 36 anos, dona de casa e mãe de Gui-lherme Ferreira, 8 anos, es-tudante e deficiente físico, tem o olhar apreensivo, pen-sa em como irá embarcar o filho e sua cadeira de rodas. Ela procura um espaço nos vagões destinados aos por-tadores de deficiência, o primeiro e o último. O filho tem consulta com hora mar-cada no hospital que fica próximo da estação Carrão, do Metrô. Depois de perder dois trens, um passagei-ro solidário comunica aos seguranças da estação que ela está com dificuldades para embarcar. Os segu-ranças afastam as pessoas e, enfim, embarcam mãe e filho. “Faço essa maratona sempre que ele tem de ir ao

cadeirante no tremmédico, porque em Morato não tem hospital” – explica Carolina.

Dentro do trem, as pes-soas se juntam, se espre-mem. Cada um se encaixa como pode. Quem vai des-cer logo fica bem perto da porta, abraçado à barra de ferro do vagão. Todos se-guem sem alegria no rosto. Muitos viajam com os fo-nes de ouvido ou lendo um livro. Daniel Moreira, 24 anos, estudante de admi-nistração, explica por que suporta o trem . “Não tenho carro, e ir de ônibus para o Centro da Cidade talvez fosse pior. O percurso é an-gustiante, mas fazer o quê? É o que temos” – relata.

Carolina desce com Gui-lherme na cadeira de rodas e embarca na linha vermelha em sua maratona até o hospital.

trem e metrô, a dose duplaA cada nova estação, um

sofrimento. As pessoas entram no trem quase sem espaço al-gum. O trem segue explodindo de gente até a estação Palmei-ras/Barra Funda. Entre 2007 e 2010 o número de passageiros aumentou de 2,3 milhões para 5 milhões, juntando CPTM e

Metrô. Em 2009, 75 trens fo-ram incorporados à frota – 44 do Metrô e 31 da CPTM – e outros 34 foram reformados.

O esgotamento do siste-ma fica claro na plataforma da Barra Funda: o sufoco de ter de enfrentar outra fila, a do Metrô, é pior. Francisco Morato: trem traste dúvida atroz: há gente demais ou trens de menos?

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Jaraguá

Peruscaieiras

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Francisco Morato

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cidadania

a cor (ainda branca) da ciência brasileira

“os negros são pobres porque são discriminados”

nosso homem na nasa

Para miscigená-la é preciso uma política pública que combata o preconceito racial Por Cida de Oliveira

De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimen-to Científico e Tecnológico (CNPq), nos últimos dez anos a produção científica nacional passou de 10 mil para mais de 30 mil estudos publicados em revistas especializadas interna-cionais. Mas os afrodescenden-tes não foram contemplados nesse salto: racismo, ausência de políticas públicas, dificul-dade de acesso à educação de melhor qualidade e baixa au-toestima inibem a presença de

negros em carreiras científicas. O físico Ernane José Xavier Costa, da Faculdade de Zootec-nia e Engenharia de Alimentos da USP de Pirassununga (SP), coordenou um simpósio sobre A População Negra na Ciên-cia e na Tecnologia. Para ele, as pesquisas são “feitas por brancos e para brancos”. Em Angola, onde participa de um projeto com uma universidade local, ele ouviu de um africa-no que era o primeiro cientista brasileiro negro visto por lá.

Carlos Augusto Sant’ Anna Guimarães é pesqui-sador da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife. Em sua vida acadêmica, Carlos não encontrou 20% de pretos e pardos nem lembra de ter tido professores desse gru-

Filho de pai feirante e mãe artesã, o físico Cláudio Elias da Silva, professor do Instituto de Física da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), cresceu na Baixada Fluminense. Seu currí-culo inclui cursos na Europa e quase dois anos como pesquisa-dor na Agência Espacial Ame-ricana, a Nasa. “Adolescente, eu via o preconceito quando o menino negro queria namorar a menina branca” – conta. O es-tudo virou aliado na superação dessa desvantagem: “Passei a dar aulas de reforço para uma

de Medicina, Ciências Bio-lógicas e Engenharia, portas para pesquisas em biotec-nologia, células-tronco e nanotecnologia. “Os negros são pobres porque são dis-criminados, e não discrimi-nados porque são pobres.”

a pobreza e o racismo, segundo carlos sant’anna, impedem o acesso dos negros à carreira científica

o físico cláudio elias: “racismo só nos estados unidos”

po. Há três pesquisadores ne-gros entre os mais de 100 que atuam na fundação em que tra-balha. Muito poucos.

A questão racial brasileira traz implicações sociais, eco-nômicas e psíquicas, que ge-ram dois grupos de indivíduos:

os superiores e os inferiores. “Quando cruza com um ne-gro, com um pardo, o branco logo pensa tratar-se de bandido. Por quê? Porque ele carrega na consciência o dogma de que o branco é bom; o negro, mau, sem cultura, não pode estar em

determinados espaços, como a iniciação científica e a seleção para mestrado e doutorado. É preciso romper essa ideologia racista” – afirma.

Para ele, o preconceito é uma barreira a ser superada por pretos e pardos em cursos

menina bonita, que só olhou pra mim depois que soube que eu era bom em matemática” – lembra. Admirado, Cláudio es-tudou ainda mais. Fez colégio técnico, deu aulas em cursinho e entrou na universidade onde hoje leciona. Depois fez mestra-do, doutorado e estudou na Itá-lia. Racismo, mesmo, só sentiu nos Estados Unidos. “Um en-genheiro trabalhava na mesma sala e só falava comigo quando havia reuniões. Além de negro, eu era o latino-americano que ameaçava seu emprego.”

No ensino superior público brasileiro, 0,4% dos docentes são pretos e pardos.

Se nada for feito, a projeção para os próximos 170 anos é que esse percentual

atinja, no máximo, 1%

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cotas: “positivo, mas insuficiente”

a química que transformou a menina em cientista

o voo da negra

invenções de cientistas negros

Com base num estudo que fez para a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a quí-mica Denise Alves Funga-ro, do Instituto de Pesqui-sas Energéticas e Nucleares

Com a ajuda dos pais, fez cursinho e ingressou no Ins-tituto de Química da USP. “Ter me destacado nos estu-dos me nivelou aos demais colegas. Por isso, nunca me senti discriminada.”

Filha de tapeceiro, a mu-lher negra Sonia Guimarães rompeu dois preconceitos de uma vez – de gênero e cor – e foi a primeira mulher a lecio-nar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), onde chegou em 1993.

Hoje, Sonia Guimarães divide seu tempo entre os laboratórios e a gerência de um projeto de um dispositivo estratégico para a defesa das fronteiras no Instituto de Ae-ronáutica e Espaço.

Fluente em línguas es-

Paulino de Jesus Francisco Cardoso, vice-presidente da As-sociação Brasileira de Pesqui-sadores Negros e pró-reitor da Universidade Estadual de San-ta Catarina (UESC), acha que o sistema de cotas é “positivo mas insuficiente”, uma vez que a adesão ao sistema é orienta-ção de governo e universidades, e não política de Estado. “De 150 a 200 alunos entraram pelas cotas na UESC, o que é muito pouco” – diz ele. Graduado em História pela Universidade Fe-deral de Santa Catarina (UFSC), com mestrado e doutorado pela PUC-SP, Paulino conta que os únicos negros que vê na facul-dade são africanos.

trangeiras, com graduação na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mestrado na USP e doutorado em Bo-lonha, Itália, a física foi re-cebida com desconfiança por parte dos militares.

Mas Sonia Guimarães che-gou, viu e venceu. E lamenta que o Estatuto da Igualdade Racial não preveja cotas para negros em universidades, em-presas e candidaturas políti-cas. “Assim fica mais difícil os negros conseguirem os melhores empregos.”

sonia derrubou dois preconceitos de uma vez – de gênero e cor – e acabou no ita

Paulino cardoso quer uma política de estado para os negros

(Ipen), em São Paulo, diz que dos 6 mil doutores titulados a cada ano no Brasil, 1% é ne-gro e menos de 1% das pes-quisas focalizam assuntos de interesse dessa população.

Com pós-doutorado pela

Universidade de Coimbra, Portugal, e sete prêmios pela pesquisa sobre tratamento de água poluída, Denise atribui seu ingresso na carreira cien-tífica à educação pública de qualidade, à renda familiar

adequada e à oferta de bolsa de pós-graduação. “Desde pe-quena quis ser cientista.” Fi-lha de zelador, ela morava no Centro da Cidade e frequenta-va um colégio público de refe-rência, o Caetano de Campos.

A Associação Brasileira de Pesquisadores Negros detectou, entre 705

entrevistados, que 82% têm formação em ciências humanas – Educação,

Sociologia, História, Letras, Geografia

invenção inventor ano

Extintor de incêndio T. Marshal 1872

Guitarra Robert F. Fleming 1886

Elevador Alexander Miles 1887

Geladeira J. Standart 1891

Cortador de grama J.A. Jaburr 1899

Freio automático a ar G. T. Woods 1902

Máscara contra gás Garrett Morgan 1914

Semáforo Garret Morgan 1923

Câmbio automático Richard Spikes 1932

Ar-condicionado Frederick M. Jones 1949

Telefone celular Henry T. Sampson 1971

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educação

revolução na escola. com o apoio de pais e mestres

a reputação da amorim: uma baita escola pública

A Amorim Lima, no Butantã, mostra o poder da comunidade no compromisso de educarAo cruzar o portão da

EMEF Amorim Lima, na Praça Elis Regina, no Butantã, perce-be-se que se está numa escola diferente. De cara, num jardim acolhedor, há grande variedade de plantas. Adiante, vê-se um hall iluminado com crianças reunidas em torno de um vivei-ro. Elas observam o movimen-to do bicho-pau, que balança como folha seca ao vento. “Essa é a fêmea, o macho está lá no fundo, que nós acompa-nhamos desde pequenininha” – explica a loirinha. “Você já viu um bicho-pau grande como esse? – pergunta o menino miúdo de olhos vivos.

A curiosidade é a marca da

turminha. Ao perceber o bloco de anotações e a câmara foto-gráfica, outro pergunta: “Vocês estão fazendo uma reporta-gem?”. À resposta afirmativa, devolve: “Vocês devem saber muita coisa”. E pede: “Me diz alguma coisa em inglês”. Entra-mos na brincadeira, rodeados de crianças “perguntadeiras”.

Adiante, sentadas em roda, quatro meninas tomam lanche. Estão fora do refeitório, mas ninguém diz nada. Elas aca-bam, jogam os descartáveis no lixo e pedem papel-toalha à agente escolar para limpar as carteiras. A autonomia dos alunos, objetivo pedagógico da escola, dispensa a rigidez de

regras, como mostram as me-ninas, que agora empilham as carteiras limpas em um canto.

Há cinco anos, a Amorim Lima vive essa experiência pe-dagógica, única na educação pública do país. As paredes que isolavam as turmas – e os pro-fessores – foram derrubadas e o controle da aprendizagem pas-sou para os alunos. Agora, os salões – um do Fundamental I e outro do II – são ocupados por uma centena de estudantes reu-nidos em grupos menores para estudar, sob a orientação de três ou quatro professores. Só as au-las de Matemática continuam com o esquema tradicional de lousa e giz.

Alunos do 3º ano en-tram sem medo na sala da diretora, Ana Elisa Siqueira, excitados com o programa noturno: um acampamento montado no jardim da escola – depois do jantar haverá um ateliê ao ar livre de constru-ção de lampiões de papel.

Fincada no bairro onde está a Universidade de São Paulo, um terço dos alunos da Amorim é de família com renda mensal supe-rior a dez salários mínimos e 20% com renda inferior a três mínimos. Com isso, há troca de experiências de vida e saberes diferentes. A “mistura” recupera o senti-do da escola pública, sem barreiras sociais.

Nossas três graciosas

guias têm 9 anos de idade. Duas delas, Naomi e Sophia, fizeram pré-escola na rede pri-vada e vieram à escola públi-ca pela reputação da Amorim. Já Mariana segue os passos da família: mãe e tios estuda-ram nessa escola fundada em 1956, e no mesmo prédio des-

de 1968. “No tempo da minha mãe era diferente, tocava o sino, tinha prova todo mês” – conta a menina.

Na biblioteca, aberta aos estudantes, há uma seção de livros que os menores pegam livremente. Nas demais, se-paradas por temas e autores

e em ordem alfabética, uma bibliotecária orienta a encon-trar o material para as pesqui-sas, principal instrumento de aprendizado.

“A Amorim é inspirada na Escola da Ponte, lá de Portu-gal” – conta Naomi, balançan-do os cachinhos. E continua: “A

gente tem objetivos a atingir até o final do ano, divididos em três grupos – Vida, Nosso Mundo e Identidade e Alte-ridade. À medida que o alu-no ganha mais compreensão dos temas, a pesquisa evolui, e ele só é avaliado quando se sente pronto para isso”.

Mas vocês não se sentem perdidas, sem a matéria na lousa? “Não – explica Ma-riana –, a gente pergunta aos colegas; se eles não conse-guem ajudar, pedimos então a um professor do grupão.” Sophia completa: “Os tuto-res – cada professor tem a tu-toria de 20 crianças – olham o material individual toda semana e conversam com a gente sobre nosso progresso, nossas dúvidas” – diz.

crianças: escola sob nova direção

alunos e professores: um ensina o outro

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o peso da comunidade

De volta à sala da direção, a pedagoga Ana Elisa con-ta que optou pela escola em 1996, ao passar no concur-so para diretora. Ana já via a educação como uma tarefa co-letiva. Por isso, ela derrubou os alambrados da escola, abriu as portas para os alunos e suas famílias nos fins de semana e transformou a principal fes-ta da escola, a Junina, numa grande mobilização dos pais para celebrar a cultura brasi-leira: as músicas, brincadeiras e comidas típicas da festa fo-ram resgatadas com a contri-buição de uma mãe, especia-lista no tema.

Ana estava disposta a ou-vir os mais de 600 alunos e 50 professores da escola. Vieram as queixas das crianças: elas apanhavam, ficavam sem lan-che no recreio, nada faziam nas aulas vagas. Os professo-res, por sua vez, reclamavam da indisciplina e da falta de atenção em sala de aula.

Um grupo de mães, então, passou a frequentar a escola na hora do recreio, e outros projetos, como as oficinas de cultura brasileira, empolga-ram a comunidade e a aproxi-maram ainda mais da escola.

Uma comissão de pais diagnosticou o problema mais grave da Amorim, o de pro-fessores faltosos – pela lei, eles têm direito de faltar 76 dos 200 dias letivos e, embora apenas seis faltas sejam abo-nadas, alguns faltam até o li-mite para completar o salário dando aula em outras escolas. Por isso, quando a psicóloga e palestrante Rosely Sayão trou-xe um vídeo sobre a Escola da Ponte, todos se identificaram com o projeto político da esco-la – inclusão, democracia nas decisões e controle do aluno sobre o aprendizado – o méto-do do “grupão” tinha a vanta-gem de oferecer aulas em todo o período escolar, mesmo com a falta de professores.

Os pais pediram ajuda a Rosely para implantar o pro-jeto, mas a consultoria dela estava acima do orçamento da escola. Então, o presidente do Conselho, um cadeirante, foi à inauguração de um CEU e obteve da secretária de Educação, Maria Aparecida Perez, a promessa de que vi-sitaria a escola, o que aconte-ceu semanas depois.

O projeto progrediu. A evasão escolar acabou. Ape-sar da diferença de métodos e rotina com outras escolas da rede, a Amorim teve desem-penho satisfatório nas avalia-ções dos governos municipal e estadual. “Uma avó de alu-no, economista, analisou os resultados da Prova São Pau-lo e concluiu que, ao contrá-rio de muitas escolas que têm boas notas por causa de seus melhores alunos, na Amorim, todos os alunos estão na mé-dia. Educação é um processo coletivo” – pontua a diretora.

Parque da água branca

aquário didáticoObra de R$ 5 mi começa em março

O aquário do Parque da Água Branca, rebatizado Centro de Educação Am-biental, deixará de ser um espaço para observar peixes. Agora, quem o visitar apren-derá mais sobre espécies de água doce e salgada e dife-rentes ecossistemas do País.

Ao custo de R$ 5 mi-lhões, as obras começarão em março e vão durar oito meses. O imóvel onde hoje funciona o aquário será todo reformado. Será cons-truído também um novo prédio, com auditório para palestras, sala de pesqui-sa científica e cinco novos aquários. A água será de re-

uso, aquecida por energia solar. O centro terá dois de-ques, um para répteis e anfí-bios e outro para vegetação da Amazônia. “Os novos aquários vão mostrar a vida nos corais e seus animais, os peixes do Pantanal e os animais marinhos” – diz o arquiteto e autor do projeto Guilherme Wendel de Ma-galhães. “A meta é trazer pelo menos 26 novas espé-cies, além das 26 que temos atualmente” – conta Edison Kubo, diretor do Instituto de Pesca, parceiro da inicia-tiva. A seleção será feita em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente.

dengue

ela está aí de novo320 casos para cada 100 mil habitantes

Levantamento da Coor-denação de Vigilância em Saúde (Covisa) da Prefei-tura aponta que a cidade registrou 5.665 casos de dengue até o dia 27 de outu-bro. O número é mais que o dobro dos casos registrados em 2007 que foram 2.526.

A região do Butantã tem

maior incidência da doença, com 319,6 casos por 100 mil habitantes. Depois vem a Vila Sônia com 264,7 casos por 100 mil habitantes. O coefi-ciente médio da capital é de 51,2 por 100 mil moradores.

Segundo o médico Celso Francisco Granato, da Uni-versidade Federal de São Paulo (Unifesp), “áreas mais arborizadas, como o Butan-tã, têm tendência maior a ter mosquitos. A água se acumu-la nas plantas e em pequenos lagos, criando ambiente pro-pício para o inseto”.

a diretora ana elisa, o pátio do colégio e uma aula de ciências: novo modelo de escola

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Horizontal – 1. Roedor herbívoro, encontrado perto de rios e lagos; Oceano 2. Profecia, revelação; moradia 3. Lugar onde se cultiva a uva; Dança da periferia 4. Lavre; Ali; Ataque repentino de doença 5. Nome de antigo time de futebol de Niterói 6. Região do Piemonte, Itália; Tipo de verso; Nenhuma das anteriores 7. Letra que vem depois do eme; Para trás 8. H., nome de famosa joalheria, O que foi discutido numa reunião 9. Pedaço; Enche muito, abarrota; 10. Argola; Fim (pl.)

vertical – 1. Famosa praia carioca 2. Aves trepadores de grande porte, de bico grande e curvo (pl.); Atmosfera 3. Laço de consanguinidade ou de aliança 4. Instituto dos Consumidores de Remédios; Tipo de vinho 5. Voo, em espanhol; Escola de enfermagem 6. Unido por um pacto; Anfíbio da ordem dos anuros 7. Grande quantidade; Como os alunos tratam a faculdade de Odontologia 8. Estado amazôni-co; Observatório do Clima 9. Sorri; Rasteira 10. Títeres 11. Órgãos do voo das aves, dos morcegos e dos insetos; Um trecho de uma peça de teatro 12. Ganhar tudo; Pessoa exímia em qualquer atividade

Palavras cruzadasFoto síntese – Mercadão da laPa

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As mensagens podem ser enviadas para [email protected] ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.

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