Jornal Câmbio - Edição 1

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EDIÇÃO 1 - 12/03/2014 PETCOM/UFC NÃO DESLIGAMOS Jornalismo Tradicional vs Mídia alternativa Movimentos de mídia independente ganharam força nas manifestações de junho. Entre balas de borracha e gás lacrimogênio, um embate coadjuvante surgiu: jornalismo tradicional x mídias alternativas. Por Igor Cavalcante editorial Um novo jornal E sta é a primeira edição do Jor- nal Câmbio. Nosso objetivo é ser um lugar para a prática livre dos estudantes do Curso de Jornalismo. No momento, por incrível que pareça, não há um espaço para o exercício do jornalismo impresso fora das dis- ciplinas e laboratórios. A participação nesse Jornal é completamente aberta e poderá ser tanto fixa quanto por meio de contribuições. Os estudantes estão convidados a fazer parte da produção, ou enviar artigos, resenhas, crônicas, charges e outros conteúdos opinativos. A criação do Jornal Câmbio é do Pro- grama de Educação Tutorial da Comu- nicação (PETcom). O PET tem o obje- tivo de suprir demandas dos cursos de Jornalismo e Publicidade em questões de ensino, pesquisa e extensão. Nós já criamos o PETV, que tem sido um sucesso na prática do telejornalismo, mas continuava a falta do jornalismo impresso, que por sinal já existiu com o antigo “Jabá”. Essa edição de estreia ainda foi feita somente por membros do PET, mas agora que o projeto está lançado, que- remos a sua participação. A circulação será mensal e a cobertura pretende ser bastante diversificada. Existe uma relação com a localidade, com foco em temas relacionados à UFC, aos cursos de Comunicação e ao Benfica, mas se pode cobrir praticamente qualquer assunto relevante. Política, cultura, ci- dade, tecnologia, isso e muito mais você poderá encontrar em nosso jornal. Interessado? Junte-se a nós, estamos te esperando pra compor essa equipe. Pedro Borges Editor-colaborativo [email protected]

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Jornal experimental do PETCom.

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EDIÇÃO 1 - 12/03/2014 PETCOM/UFC

NÃO DESLIGAMOS

Jornalismo Tradicional vs Mídia alternativa

Movimentos de mídia independente ganharam força nas manifestações de junho. Entre balas de borracha e gás

lacrimogênio, um embate coadjuvante surgiu: jornalismo tradicional x mídias

alternativas.Por Igor Cavalcante

editorial

Um novo jornal

Esta é a primeira edição do Jor-nal Câmbio. Nosso objetivo é ser um lugar para a prática livre dos

estudantes do Curso de Jornalismo. No momento, por incrível que pareça, não há um espaço para o exercício do jornalismo impresso fora das dis-ciplinas e laboratórios. A participação nesse Jornal é completamente aberta e poderá ser tanto fixa quanto por meio de contribuições. Os estudantes estão

convidados a fazer parte da produção, ou enviar artigos, resenhas, crônicas, charges e outros conteúdos opinativos. A criação do Jornal Câmbio é do Pro-grama de Educação Tutorial da Comu-nicação (PETcom). O PET tem o obje-tivo de suprir demandas dos cursos de Jornalismo e Publicidade em questões de ensino, pesquisa e extensão. Nós já criamos o PETV, que tem sido um sucesso na prática do telejornalismo, mas continuava a falta do jornalismo impresso, que por sinal já existiu com o antigo “Jabá”. Essa edição de estreia ainda foi feita somente por membros do PET, mas

agora que o projeto está lançado, que-remos a sua participação. A circulação será mensal e a cobertura pretende ser bastante diversificada. Existe uma relação com a localidade, com foco em temas relacionados à UFC, aos cursos de Comunicação e ao Benfica, mas se pode cobrir praticamente qualquer assunto relevante. Política, cultura, ci-dade, tecnologia, isso e muito mais você poderá encontrar em nosso jornal. Interessado? Junte-se a nós, estamos te esperando pra compor essa equipe.

Pedro [email protected]

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resenha

O que está dentro da carne Lançado mês passado, o primeiro disco solo de Juçara Marçal, Encarnado, dá prosseguimento ao esti-lo desenvolvido dentro do trio Metá Metá. É a guitarra de Kiko Dinucci, seu companheiro de banda, que des-cortina a primeira faixa do registro, “Velho Amarelo”. Os traços da cultura afro-brasileira continuam pre-sentes, em faixas como “Odoya” (com letra em iorubá, de autoria de Juçara) e “Canção Pra Ninar Oxum”.

As faixas são de compositores variados, unificando-se pela interpretação de Juçara, que ressalta o impacto das letras incisivas que falam, sobretudo, da morte. É notável sua releitura de “Damião”, canção gravada originalmente por Douglas Germano, que faz referên-cia à história real de Damião Ximenes Lopes, paciente psiquiátrico que morreu em 1999 numa casa de repouso em Sobral, vítima de violência física dentro da instituição. Acompanhada pela guitarra de Dinucci e o sax-ofone de Thiago França, Juçara entoa uma reden-ção dos impotentes às forças esmagadoras: “Dá neles, Damião!/ Dá sem dó nem piedade/ E agra-dece a bondade e o cuidado/ De quem te matou”.

O estilo das músicas vão da sonoridade quase noise de “Ciranda do Aborto” ao samba de cavaquin-ho “João Carranca”. A influência da Vanguarda Pau-lista na música de Juçara se explicita no cover de “E o Quico?”, de Itamar Assumpção. O álbum também conta com regravações de Tom Zé (“Não Tenha Ódio No Verão”’) e Siba Veloso (“A Velha da Capa Preta”).

O disco está disponível para download gratu-ito no site http://www.jucaramarcal.com/.

artigo

Tinha uma árvore no meio do caminho O que é uma árvore, diante da necessidade de ir e vir em quatro rodas? E se forem 90, só umas a mais para dar espaço a milhares e milhares de bípedes que teimam em se locomover motorizados? Umas 200, 300 árvores ao chão, tudo bem também, afinal, o objetivo é promover a bendita “mobilidade urbana”. O discurso que envolve a criação de ruas, viadutos e túneis é normalmente bem recebido pela maior parte da chamada grande mídia, afinal coincide com o ideal de vida feliz da classe mé-dia, baseado na matriz “carrão-iPhone-apartamento na regional 2-shopping”. E fica um discurso sedutor, que arranca ainda por cima bons votos, afinal é melhor um prefeito que “faz” do que um ecochato que só empata a vida dos bons cidadãos que, por um acaso, têm carros.

Deixando de lado a ironia, apesar da evidente simpatia com a classe média, não é papel dos meios de comu-nicação e muito menos do bom jornalismo restringir um debate desses a um maniqueísmo vulgar que coloca em lados opostos o direito de ir e vir e o direito de preser-var a natureza, como se uma coisa se opusesse à outra.

O papel do bom jornalismo nessa hora é problema-tizar tudo, questionar soluções e empecilhos, trazer à baila discussões sofisticadas e atualizadas sobre mo-bilidade e convivência com o meio ambiente, mostrar exemplos de outras cidades, tanto das que se afunda-ram no trânsito mesmo depois de abrir todo tipo de túnel e viaduto, como daquelas que decidiram inovar, incentivando as caminhadas e o transporte coletivo.

E não me venham com a desculpa de que se está sim pensando no transporte público, ao se prever a criação de corredores de ônibus em mais avenidas... Sem árvores nas ruas, nossa cidade, já muito quente, tende a ficar insuportável, e como pobre não merece ônibus com ar-condicionado, não será agora que essa realidade irá mudar. E quem puder, vai mesmo é com-prar um carro, ou pelo menos uma moto, pra deixar de ser humilhado pelo poder público e se iniciar no sonho dourado da vida da classe média, a vida de quem pode se mover motorizado, ainda que a 35 km/h.

Quando cumpre bem seu papel, o jornalismo tem o po-tencial de sacudir uma situação, colocar a sociedade em ebulição para ter condições de tomar decisões de modo consciente. Quando não, cumpre a função inversa, de cri-ar uma cortina de fumaça sobre o real, confundir as dis-cussões e reduzi-las a uma luta rala entre o bem e o mal.

Breno [email protected]

Kamila [email protected]

expediente

reportagem Igor Cavalcantecolaboradores Amanda Alboino, Breno Reis, Giu Ba-tista, Igor Cavalcante, Kamila Fernandes, Pedro Borges, Rochelle Guimarãeseditor colaborativo Pedro Borgesrevisão Pedro Borges e Rochelle Guimarãesdesign gráfico Amanda Pierroni e Rochelle Guimarãesdiagramação Rochelle Guimarães apoio e realização PETCOM/UFCcontato https://www.facebook.com/PETComUFC

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sobre ser mulher

Polônia Voltando ao Brasil de viagem, tinha um dia e uma noite em escala em Varsóvia, a capital da Polônia. Pelo pouco tempo que havia para maiores plane-jamentos, decidi simplesmente andar a esmo, tentar ver e absorver o máximo possível de tudo que acon-tecia ali, naquelas poucas horas de que dispunha.

Tive a oportunidade de ser um observador por ex-celência. Longe da realidade da rotina e sem out-ras preocupações, pude dedicar a totalidade do meu tempo para ser um simples expectador. Como é prazeroso poder olhar de fora, meio que desco-lado do tempo alheio. É como ver um filme, mas em que se pode alterar, a qualquer momento, ao bel-prazer.

Hospedado perto do centro, não fui muito longe. As ruas e calçadas eram largas, bem cuidadas, havia prédios antigos de uma arquitetura bem caracterís-tica e uma quantidade razoável de pessoas circulava.

Ao ver a beleza e a estrutura do local é difícil acreditar que se trata da mesma cidade que não pas-sava de ruínas há 70 anos, quando bombardeada pe-los nazistas. Reconstruída após a guerra, Varsóvia ainda tem um ar histórico, principalmente quando se olha para o imponente Palácio de 42 andares construído por Stálin durante o período da influência comunista.

Era o fim do verão, num sábado. Durante a tarde, vi mães passeando com os filhos, gente correndo no parque, uma menina esperando pelo namorado na grade do shopping, duas amigas conversando em um café. Enfim, coisas banais, mas as quais por estarem a milhares de quilômetros de casa, parecem pertencer a outro mundo. Em tudo, devo confessar, o que mais me impres-sionou foram as mulheres, tão lindas quanto seus no-mes: Monika, Aleksandra, Dominika, Oliwia, Agniesz-ka, Magda, entre tantas outras. Um tipo de beleza por mim antes desconhecida. E aos montes, em qualquer lugar. Loiras, morenas, ruivas, jovens, de meia idade. Quando falam inglês, então, são irresistíveis, com um sotaque típico e certamente o mais sexy do universo. Elas têm um olhar distante, com uma certa seriedade, o qual parece a um passo de se desmontar num sorriso.

No fim da tarde, sentado num balcão de um café, atrás de uma vidraça, voltado pra rua, vejo a movimentação. Algum tempo depois, passam duas meninas de braços dados, olho para a de cá, de cabelo preto e olhos azuis, insisto mais alguns segundos, até que ela retribui. Sorrio, e ela também, caminhando ao mesmo tempo e inclinan-do a cabeça durante os três ou quatro longos segundos.

Ela se volta para a amiga rapidamente, como quem fez uma travessura. A distância e a diferença, em suas mais variadas formas, parecem bobagens no momen-to de uma troca de olhares, onde parecemos nos co-municar tão bem, mesmo do outro lado do mundo.

Das insensatas diferenças de gênero

Mais uma segunda-feira. Ops, não. Hoje o almoço no RU é de graça, pelo dia da mulher. Não só, tem até sobremesa especial de chocolate. Não foi difícil, porém, escutar o primeiro reclame quando se percebe que o mimo é restrito às mulheres. Nunca vou entender esse tipo de distinção. Não sou a primeira (e certamente não serei a última) a sentir aquele incômodo que revira as víceras quando vê esse tipo de separação - não só cafona como preconceitusa - de gênero como uma característica natural. Nascer com um corpo com determinado sexo não diz do meu gênero, diz de genética. Meu gênero eu construo.

Eu sou, nxs somxs e você que se sentiu mulher na fila do RU nessa segunda somxs e seremos exatamente aquilo que decidimos ser.

crônica

reclame

Amanda [email protected]

Pedro [email protected]

Rochelle Guimarã[email protected]

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A desocupação da comuni-dade Alto da Paz, no úl-timo dia 20 de fevereiro, foi marcada pelo con-fronto entre moradores e

policiais. Os militares cumpriam uma decisão judicial que ordenava a des-ocupação da área para a construção de um conjunto habitacional para as famílias do Serviluz. A imprensa es-teve presente no local ao longo do dia. Nos principais jornais impressos e telejornais de Fortaleza, o confronto na desocupação ganhou destaque. Na internet, um dos vídeos de maior cir-culação foi o produzido pelo Coletivo Nigéria. No vídeo, além da gritaria, da violência e das tentativas em vão de resistência por parte da população diante do forte aparato militar, uma cena chama atenção: um dos mora-dores, ferido durante o confronto, acu-sa jornalistas de diversas emissoras presentes no local de manipularem imagens. A população se solidariza e também engrossa o coro contra os repórteres. Em meio aos gritos e âni-mos exaltados, a defesa de um dos jor-nalistas: “aqui é mídia independente”. Esse caso é apenas uma amostra. Durante as manifestações populares, em junho de 2013, a força de movi-mentos independentes como o Co-

letivo Nigéria cresceu, tornando-se uma das principais fontes de infor-mações. Grandes canais de televisão perderam força e tiveram sua he-gemonia abalada. Os princípios da cobertura foram incessantemente questionados e renomados repórteres foram rechaçados pelas ruas. As notícias, entrevistas e relatos agora vinham de outra fonte, de quem es-tava na rua, entre os manifestantes, não do alto dos helicópteros. A in-formação valorizada agora, vista como objetiva, com princípios e va-lores do jornalismo, era aquela sem filtro, sem edição, em tempo real. Foi então que a imprensa bra-sileira saiu às ruas. Na era digital, onde chovem acusações de que os jornalistas não saem das redações, foi para a rua que repórteres se vi-ram obrigados a ir. Entre policiais e manifestantes, sob gritos de “mídia burguesa”, “manipuladora” e “gol-pista”, o jornalismo brasileiro se de-parou com uma nova realidade e en-controu também uma parte de si que até então não era muito conhecida. A mídia alternativa brasileira passou a ser mais conhecida a par-tir das manifestações de junho de 2013, mas a sua atuação no Brasil é histórica. Atuaram, ao longo do

Igor [email protected]

“Na prática jornalistica, você sempre escolhe ver os fatos a partir de um ponto de vista, a partir do con-junto de valores objetivos e subjetivos do jornalista e do veículo que trabalha. Muitas vezes, o discurso da ‘imparcialidade’ é usado para fundamentar um tipo de jornalismo que privilegia as vozes dos setores que não tem interesse em trazer uma real mudança social.”

cia vinda da população surgia ap-enas de uma “minoria de vândalos”. A ida à linha de frente por quem não estava acostumado teve suas con-sequências. A rejeição popular impe-dia jornalistas de grandes veículos de exercerem suas atividades, e da polícia vinha a violência democrática, atingindo a todos: manifestantes, criminosos e trabalhadores. Um dos casos mais chocantes, entretando, aconteceu no último dia 06 de fe-vereiro, quando Santiago Andrade, cinegrafista da TV Bandeirantes, foi morto por um rojão disparado por um dos manifestantes. Segundo a As-sociação Brasileira de Jornalismo In-vestigativo (Abraji), até a morte dele, havia 117 casos de violência contra jornalistas durante as manifestações. Questionado sobre como a morte do cinegrafista afeta a atuação dos jornalistas, Yargo, que esteve na linha de frente filmando muitos protestos em Fortaleza, afirmou que “a tragédia da morte do Santiago deveria servir para um maior rigor na proteção e no preparo dos jornalistas e profissionais nas coberturas de zonas de conflito.” O uso da internet como plataforma, como já falado, releva a independên-cia sobre os meios de comunicação tradicionais, quebra a hegemonia de

Um dos gritos de (des)ordem que mais se ouviu durante as manifes-tações de junho foi: “Ei, Globo, o povo não é bobo!”

Quantas versões tem um mesmo fato?

“As notícias, entre-vistas e relatos agora vinham de outra fon-te, de quem estava na rua, entre os mani-festantes, não do alto dos helicópteros.”

reportagem

sistemas vigentes e torna o aces-so, assim como a produção, algo democrático. Isso, entretanto, acaba expondo e dando falsas impressões sobre a ação da imprensa e do uso da internet para fins jornalísticos. Parte da crise da profissão é jus-tamente nesse ponto. O descarte teórico do jornalismo é praticado até mesmo por profissionais formados na área. “Jornalismo se aprende na rua”, dizem. A mídia independente, por outro lado, engloba tanto profis-sionais formados na área, quanto esses que se julgam jornalistas ap-enas por repassarem informações. A imprensa, seja ela de grandes veículos ou de correntes alter-nativas, defende interesses com-erciais, ideológicos e culturais. Enquanto a grande mídia mas-sifica o assassinato do cinegrafista Santiago Andrade, a mídia alterna-tiva se distancia e tenta defender apenas a ideologia de certos grupos. Ao mesmo tempo, enquanto a mídia independente intensifica suas críti-cas sobre a ação violenta da polícia militar, a grande mídia parece só ter olhos para a minoria de vândalos.

tempo, em prol da independência, a favor da república, contra Var-gas, e tentavam escapar da censura para criticar os governos militares. Atualmente, a postura não é difer-ente, foi o que afirmou Yargo Gur-jão, membro do Coletivo Nigéria. “O mito da ‘imparcialidade’ é uma dos primeiros fundamentos questio-nados na própria faculdade de jor-nalismo. Muitas vezes, o discurso da ‘imparcialidade’ é usado para fundamentar um tipo de jornalismo que privilegia as vozes dos setores que não tem interesse em trazer uma real mudança social ao país”. O uso da internet em todas es-sas iniciativas é indispensável,

dado, não somente ao mundo cada vez mais conectado, mas também ao papel desempenhado pela rede como ferramenta, permitindo o de-senvolvimento desse tipo de ação e atuando de maneira democrática como plataforma para a livre ini-ciativa e aceitação do público. Sem poder ou recursos para cri-ar uma grande emissora, muitos jovens saíram às ruas portando apenas celulares e fizeram algo que parecia distante: colocaram a grande imprensa novamente na lin-ha de frente, na zona de confronto. A diferença entre as imagens divul-gadas pela imprensa nas primeiras manifestações populares e aquelas divulgadas no auge dos protestos, quando ela passou a ser questionada, acusada de manipuladora e parcial, é evidente. As imagens aéreas da polícia combatendo os vândalos não parecem em nada com as imagens captadas na segunda quinzena de junho, com repórteres e cinegrafistas nas ruas tomadas por manifestantes e cercadas de policiais. A imprensa que pedia a retomada das ruas pe-las forças de segurança, agora evi-denciava a truculência dos militares sobre os manifestantes e os jornal-istas, além de destacar que a violên-

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06 07aniversários

PETCom faz aniversário de 5 anos Implantado em março de 2009 sob a tutoria do Prof. Dr. Riverson Rios, o Programa de Educação Tutorial da Comunicação (PETcom) comemora os 5 anos com uma pequena festa no ventão no dia 12 de março. A ação também foi usada para o lan-çamento do jornal Câmbio, o mais novo projeto do grupo. Um veículo que busca impulsionar a práti-ca livre dos estudantes em jornalismo impresso. Após 4 anos e meio com o professor Riverson, o PETcom recentemente começou uma nova fase, re-cebendo uma nova tutora: a professora Kamila Fer-nandes. Ela fala sobre a nova experiência de fazer parte do programa. “Não é fácil aliar pesquisa, en-sino e extensão em um só projeto, mas o desafio apre-sentado pelo PETCom é muito prazeroso. E, acima de tudo, uma missão que nos permite aprender algo novo todos os dias, a partir da interação entre alunos desses dois cursos fascinantes, Jornalismo e Publi-cidade, que atuam com o mesmo objetivo, inovar e

acrescentar à comunidade acadêmica uma reflexão de quali-dade a respeito da comunicação produzida em nosso meio. O objetivo do PETcom, como muitos já devem ter ouvido, é aliar pesquisa, ensino e extensão em atividades que mel-horem os cursos de Jornalismo e Publicidade. Um ponto inter-essante do programa é que de apesar da separação das duas antigas habilitações em Comunicação Social, ele ainda man-tém os dois cursos em atividades conjuntas. Nós organizamos as Semanas de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda, a Semana de Descomunicação (Descom), o Ciclo de Jornalismo Especializado, o PETV, o Escambo, entre outros projetos. Para fazer parte do PETcom, basta esperar os editais de seleção que ocorrem pelo menos uma vez ao semes-tre. Nós temos 16 bolsistas, entre eles 12 remunerados e 4 não-remunerados. A estudante de jornalismo Letícia Alves, recém ingressa no PETcom, fala sobre suas expectativas e visões acerca do programa. “Desde que entrei no curso, na semana de recepção, quando nos apresentam os proje-tos, o PET me chamou atenção. Participei de vários eventos organizados pelo PET e eles foram muito importantes pra minha formação. Então decidi tentar entrar no projeto, por acreditar que dentro dele poderia aprender ainda mais.”.

mudanças de currículo

Comissão discute novo projeto pedagógico para o Curso de Jornalismo da UFC Uma Comissão de Reforma Curricular está discutindo um novo projeto pedagógico para o Curso de Jornalis-mo da UFC. A comissão é composta pelos professores Edgard Patrício, Jamil Marques, Kamila Fernandes, Ronaldo Salgado e Ricardo Jorge, e representação dis-cente. Os cursos de graduação em jornalismo têm até 2015 para adequarem seus projetos pedagógicos às normas das novas Diretrizes Curriculares Nacion-ais para o Curso de Jornalismo (DCN), homologadas em setembro de 2013 pelo Ministério da Educação. As DCN estipulam a equidade entre cargas horárias de eixos teóricos e práticos, a preparação para a ativi-dade autônoma e a inclusão de assessoria na formação profissional. Sobre o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), as DCN determinam que o trabalho deve ser

“desenvolvido individualmente” e, caso seja uma mono-grafia, “sobre temas relacionados à atividade jornalística”. A estrutura curricular vigente no Curso de Jornalismo da UFC é de 2011, baseada em projeto pedagógico de 2006. Algumas das novas determinações das DCN já estão in-clusas nele, como a obrigatoriedade do estágio curricu-lar supervisionado e a carga horária total mínima de três mil horas (a UFC já exige o cumprimento de 3152 horas). O professor Edgard Patrício diz que as novas diretrizes es-tão relacionadas à discussão sobre a autonomia do Curso de Jornalismo – não mais uma habilitação do Curso de Comuni-cação Social – e, consequentemente, da profissão jornalís-tica. Segundo o professor, a questão central a ser trabalhada é a convergência, já que a estrutura do curso ainda se seg-menta em linguagens midiáticas com fronteiras demarcadas. Ao longo do ano passado, a Comissão de Reforma Curricular organizou três workshops abertos ao público que reuniram profissionais ligados a empresas jornalísticas, recém-for-mados, graduandos e professores do curso para discutir os rumos do jornalismo e nortear o novo projeto pedagógico. Além das discussões de caráter nacional, o professor Edgard ressalta a importância do debate sobre as es-pecificidades locais do jornalismo. “Tem que ver que o ambiente não é homogêneo. Uma discussão de es-trutura curricular no Ceará é diferente de outros esta-dos. Tem que estar atento às demandas do mercado”.

Pedro [email protected]

Breno [email protected]

As avenidas e ruas da capital cearense são utilizadas dem-ocraticamente por pedestres e motoristas. Ou quase isso. A acessibilidade de pessoas com deficiências físicas, visuais e auditivas é comprometida em muitos pontos da cidade. Basta circular por Fortaleza que podemos obser-var as poucas rampas de acesso nas calçadas, fal-ta de sinalização em braille, não adoção de bar-ras de apoio nas ruas, estrutura inadequada dos banheiros públicos entre outras medidas necessárias àqueles com algum tipo de dificuldade de deslocamento. Na contramão dos problemas de infraestrutura de Fortaleza, a Universidade Federal do Ceará (UFC), instituição que com-põe a área do Benfica, aderiu a Secretaria de Acessibilidade UFC para inserir ações inclusivas na Universidade. Desde 2011, a Secretaria trabalha para diminuir as diversas barrei-ras nos ambientes físicos, virtuais e pedagógicos da UFC.“Precisamos considerar acessibilidade em suas várias di-mensões: física, espacial, pedagógica, na perspectiva da tecnologia, no acesso à informação e comunicação”, diz a professora Vanda Magalhães Leitão, diretora da UFC Inclui.Sobre acessibilidade física, Vanda Magalhães afirma há

planos de ampliar a sinalização em braille nas portas para além do bloco do Centro de Humanidades I, como também implantar os mapas de localização adapta-dos no início das rotas de deslocamento nos Campus. O estudante de Psicologia Mauro Reis Albuquerque é cadeirante e estuda na UFC. Sobre as dificuldades de locomoção, que já enfrenta há 3 anos dentro da Uni-versidade, ele comenta: “Reclamar que o elevador não funciona não adianta de nada. O fato é que os eleva-dores cobrem, ou tentam cobrir, uma falha estrutural de lugares que não foram feito para o acesso de todos”. Procuramos a Regional IV, órgão municipal responsável pelas demandas do bairro do Benfica para pedir esclareci-mento sobre os projetos de acessibilidade da região. Eles alegaram que “não há projeto em execução, mas há estu-dos do gênero”. Os órgãos SEMAM e AMC, responsáveis pela infraestrutura nas vias e pela urbanização da cidade, respectivamente, não souberam responder a questão do canteiro na faixa de pedestres nem aos relatos de Mauro.

acessibilidade

entrega de alimentos

Doação de alimentos promovida pelo PETCom 50 kg de alimentos não perecíveis foram arrecadados du-rante a Semana de Descomunicação da UFC (Descom), que ocorreu no período de 10 a 12 de fevereiro. O evento promov-ido pelo PETCom acontece em todo início de semestre letivo no Centro de Humanidades II, sendo direcionado para os alu-nos recém ingressos nos cursos de Jornalismo e Publicidade. Para participar das oficinas propostas, os interessa-dos doaram 1 kg de alimento com uma taxa colabora-tiva em dinheiro. A Fraternidade Toca de Assis Casa São Pio Fortaleza foi à instituição escolhida para a doação. O trabalho desenvolvido é inspirado nos ensinamentos de São Francisco, em seu zelo eucarístico e amor aos pobres.

Giulianne [email protected]

A cada edição da Descom, uma instituição, ONG ou casa de apoio ganha ajuda e carinho do PETCom

Benfica: falta acessibilidade dentro e fora do Campus

Cruzamento entre as Avenidas Universidade e 13 de Maio e um dos tristes exemplos de falta de acessibilidade

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