Jornal Contramão Edição 26

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UNA - Ano 6 - BELO HORIZONTE - Outubro - Novembro 2013 Distribuição Gratuita JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA 26 DESMILITARIZAÇÃO O país precisa de duas polícias? Reportagem especial aborda a necessidade de manter o efetivo de policiais militares

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Edição 26 do Jornal-laboratório Contramão, do curso de Jornalismo Multimídia, do Centro Universitário UNA.

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UNA - Ano 6 - BELO HORIZONTE - Outubro - Novembro 2013Distribuição Gratuita JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA

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DESMILITARIZAÇÃO

O país precisa de duas polícias? Reportagem especial aborda a necessidade de manter o efetivo de

policiais militares

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contramão2 Outubro/Novembro de 2013

EXPEDIENTENúcleo de Convergência de Mídias (NuC) do curso de Jornalismo Multimídia do Instituto de Comunicação e Artes (ICA) - Centro Universitário UNA. Reitor: Átila Simões. Diretor do ICA: Lélio Fabiano dos Santos. Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Piedra Magnani da Cunha. NuC/Coordenação: Reinaldo Maximiano Pereira (MTb 06489) e Jorge Rocha. Diagramação: Tiago Magno. Supervisão: Reinaldo Maximiano Pereira e Jorge Rocha.Revisores: Roberto Alves Reis e Piedra Magnani da Cunha. Estagiários: Alex Bessas, Aline Viana, Diego Gurgel, Fernanda Fonseca, Gabriel Amorim, Heberth Zschaber, João Alves, Juliana Costa, Luna Pontone e Tiago Magno.Tiragem: 2.000 exemplares. Impressão: Sempre Editora

EDITORIAL

contramao.una.br

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Ilustração: Diego GurgellFoto: Heberth Zschaber

UNA - Ano 6 - BELO HORIZONTE -Abril - Maio 2013Distribuição Gratuita JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA

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UNIVERSOS

MALDITOS

hitchcock & zé do caixão:

Foto da capa

Em 13 de maio de 2013, uma equipe do Contramão e da UNA.TV, composta pelos re-pórteres Alex Bessas e Juliana Costa, pela cine-grafista Fernanda Kalil e o repórter fotográfico João Alves, o Tupi, entrevistou o jornalista e escritor Geneton Moraes Neto. Na ocasião, o escritor divulgava o livro Dossiê Drummond e o documentário Garrafas ao mar no projeto Sempre um papo, no Palácio das artes, em 14 de maio.

Geneton Moraes Neto recebeu a equipe no mezanino de um hotel da região centro--sul de BH e conversou com os repórteres por mais de 60 minutos. A entrevista foi publicada no CONTRAMÃO ONLINE, em 16 de maio e versou sobre os desafios do jornalismo na con-temporaneidade. Neto não poupou críticas às narrativas “robotizadas” em prática nas reda-ções e defendeu a urgência de “ressuscitar o jornalismo minimamente autoral”.

Durante a entrevista exclusiva, Geneton Moraes Neto foi fotografado por Tupi que ti-nha por pauta produzir uma galeria de fotos dos bastidores para a fanpage do CONTRA-MÃO, no Facebook. A mesma pauta seria pos-ta em prática no Sempre um papo. Na palestra, o jornalista mencionou, de forma elogiosa, a equipe de universitários que o entrevistou na noite do dia anterior e solicitou ao Tupi as fo-tografias para seu acervo pessoal, no que foi prontamente atendido. O jornalista foi capa da edição 23 do CONTRAMÃO.

Em agosto de 2013, Geneton Moraes Neto entrou em contato com a redação solicitando ao João Alves que encaminhasse uma das foto-grafia que ele havia escolhido para a orelha de deu novo livro Dossiê 50. A obra reúne depoi-mentos dos 11 jogadores titulares da Copa de 1950. A foto foi publicada no livro (com crédito para “João Alves/Jornal Contramão”).

Em 26 de novembro, o nosso Tupi recebeu do jornalista e escritor (via sedex) um exem-plar autografado do Dossiê 50. O texto do autó-grafo diz: “Para João - fotógrafo de olhar afia-do - com meus votos de sucesso na profissão. Um abraço Geneton Moraes Neto”.

A alegria estampada no rosto do nosso estagiário que, em 7 de setembro de 2013, foi agredido na cabeça, em meio às manifestações e confrontos na avenida Amazonas, em Belo Horizonte, é o reflexo da opção do Contramão de sair da redação e praticar de forma cons-ciente a reportagem multimídia.

O Núcleo de Convergência de Mídias (NuC), que abriga as duas versões do jornal-la-boratório, vem se firmando como um espaço de qualificação profissional e produção inin-terrupta de notícias no âmbito universitário. Esse caráter laboratorial garantiu ao NuC o re-conhecimento no 4º Simpósio de Ciberjornalis-mo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande. Naquela ocasião, produtores laboratoriais e pesquisa-dores, de todo o país, tentavam elucidadar os caminhos do Jornalismo Multimídia, mas ape-nas o NuC mostrou uma metodologia de tra-balho que tem por modelo a News Diamond, um modelo de construção de uma webnotícia factual, introduzida nos círculos acadêmicos por Andre Deak a partir da proposição de Paul Bradshaw.

Nós, orientadores e estagiários do NuC, o espaço de visibilidade do curso de Jornalismo Multimídia, nos orgulhamos do que fazemos, sem vaidade, apenas pela vontade enérgica de fazer e fazer bem. O ano de 2013 se encerra com a felicidade imensa ver esse sorriso do nosso repórter fotográfico. Parabéns, Tupi, esse méri-to é todo seu e você mais que ninguém merece esse presente neste ano difícil que passamos.

Foto do CONTRAMÃO ilustra livro de Geneton Moraes Neto

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contramão 3Outubro/Novembro de 2013ESPORTES

Depois de 64 anos sem sediar uma Copa do Mundo, 2014 será o ano em que o Brasil re-ceberá novamente as melhores seleções do fu-tebol mundial em campo. Ao todo, 12 cidades contam com novos estádios, recentemente re-formados, e que abrirão as portas para os mi-lhares de torcedores que virão. Pela segunda vez, Belo Horizonte receberá novos visitantes para assistir aos 6 jogos da primeira fase, um da semifinal.

A capital mineira tem vivido dias de preparação para a Copa do Mundo. Durante o evento de 6 de outubro, os embaixadores que representarão a cidade foram apresenta-dos publicamente. Ao todo, são onze craques escolhidos a dedo, representando o futebol mineiro e brasileiro. São eles: Dadá Maravi-lha, Éder Aleixo, Gilberto Silva, Julio Baptis-ta, Luizinho, Nelinho, Paulo Isidoro, Piazza, Reinaldo, Ronaldinho Gaúcho e o argentino Sorin. Eles foram agraciados com braçadeiras e troféus que os empossavam simbolicamente no novo “cargo”.

Sorin era o único estrangeiro entre os “embaixadores”e se mostrou bem empolgado com missão concedida. “É a nossa imagem no mundo, convidando as pessoas da Espanha, da França, da Alemanha, Itália, onde tive a oportunidade de jogar, para conhecer esse lu-gar que eu escolhi para viver”, declarou.

Os embaixadores da copa belo-horizonti-nos ou não, têm a tarefa de realizar ações que promovam a cidade. Entre suas funções, tam-

bém se encontram incentivar o turismo nos pontos mais famosos do município, a atração de eventos e negócios para o crescimento local e contribuir para que os moradores da cidade se sintam bem representados por eles.

Minas em focoO governador Antonio Anastasia mani-

festou contentamento com os jogadores esco-lhidos. “Desde o casamento da princesa Kate e do príncipe William, eu não via tantos reis reunidos”, disse o governador, referindo-se à importância dos “embaixadores”. Ele, tam-bém, não deixou de pontuar a boa fase que o futebol mineiro tem passado durante todo o ano de 2013. “Vivemos um momento extraor-dinário no futebol mineiro nesse ano. O Atlé-tico, campeão da Libertadores, e o Cruzeiro com uma campanha maravilhosa, na certeza de que o campeonato será obtido em breve. Não tenho dúvidas que o ano que vem será muito especial”, declarou Anastasia.

O prefeito de Belo Horizonte também es-teve presente e não deixou de mostrar a sua expectativa para promover a cidade com a ajuda dos embaixadores. “O evento é impor-tante na medida em que nós associamos a tra-dição, a herança, a bela história desses craques com a divulgação de Belo Horizonte, como a divulgação de Minas Gerais”, declarou Mar-cio Lacerda.

Mas apesar de toda essa expectativa, ele afirmou que a cidade ainda não está pronta

para a Copa do Mundo 2014. “Tem ainda uma série de ações nas quais estamos trabalhando. É um trabalho permanente e ainda tem obras em andamento para serem concluídas nos próximos meses. Segundo o governo federal, que acompanha o andamento das cidades, nós estamos bem preparados e eu estou otimista”.

Homenagens Para lidar a contento com um evento es-

portivo dessa importância, a cidade precisa de novos voluntários. Como uma forma de incentivo, dois deles que atuaram em diferen-tes épocas foram homenageados durante o evento: Maria das Graças Pinho Tavares, vo-luntária na Copa das Confederações de 2013, e Elmo Cordeiro, na Copa de 1950, quando atuou como gandula, ainda aos 12 anos. Ma-ria das Graças foi bem esclarecedora sobre a definição de voluntário: “é uma pessoa que se dispõe a dar um pouco do seu tempo para uma causa na qual ela acredita”.

Canção para BHBelo Horizonte terá uma nova trilha so-

nora para o mundial de 2014. Cláudio Ventu-rini e Márcio Borges, da banda 14 BIS, foram os convidados para escrever uma canção es-pecialmente para o evento da FIFA. Nomeada como “Sou BH”, a melodia apresenta diver-sas características de Minas Gerais como um todo e mostra o jeito de ser especial do minei-ro. Além disso, a música convida os ouvintes para conhecer BH e seus atrativos.

Embaixadores da Copa de 2014 em BHA cerimônia de apresentação foi marcada por muita expectativa

dos representantes escolhidos e dos políticos do estadoLuna Pontone (2º período) - Jornalismo Multimídia

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Convidados, homenageados e políticos de Minas Gerais se reúnem em cerimônia no Mineirão para apresentação dos embaixadores de BH

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contramão4 Outubro/Novembro de 2013 CULTURA

Considerado o maior complexo cultu-ral do país, inaugurado em 2010, o Circuito Cultural Praça da Liberdade foi criado com a transferência da sede do governo de Minas Gerais para a Cidade Administrativa. O pro-jeto foi desenvolvido pelo Governo de Minas, com a Secretaria de Cultura, em parceria com empresas privadas.

Com o projeto já em mãos, os antigos pré-dios das diversas secretarias que compunham o entorno da praça foram reformados. Hoje, a cidade conta com espaços que buscam refletir a diversidade cultural de acervos históricos e artísticos no entorno da Praça da Liberdade.

Mas será que o previsto para os museus e arquivos realmente cumprem com suas proposições? Para averiguar essa questão, o CONTRAMÃO fez um tour pelos prédios que compõem o Circuito Cultural, nos dias 13 e 14 de novembro.

A interatividade é presente dentro e fora dos espaços do Circuito. A empresa que criou todo o projeto do Circuito Cultural desenvol-veu um aplicativo para celular e tablet para ga-rantir ao visitante uma maior visibilidade do local. O aplicativo conta com informações so-bre os espaços que o integram, com fotos, ví-

deos, e textos descritivos sobre cada espaço, e claro, a programação completa dos próximos eventos que ocorrerão no Circuito.

Além disso, é possível fazer uma visita virtual ou um audio tour entre todas as salas dos espaços, através do aplicativo ou pelo site(www.circuitoculturalliberdade.com.br). Dentro de todos os espaços do Circuito, há painéis interativos. Porém, estes painéis não funcionam como deveriam, não carregando as informações que o visitante espera encontrar, mas segundo a assessoria do Circuito estes to-tens de informação estão sendo reprojetados.

O projeto conta com diversos parceiros, como o grupo EBX, que patrocina diretamente o Museu das Minas e do Metal. Outro parceiro do Circuito é a Vale que, dentro do Memorial Minas Gerais Vale, tem um espaço totalmente voltado para o patrimônio cultural e histórico do estado.

Os espaços

Arquivo Público Mineiro é a instituição cultural mais antiga do Estado e permanece com o caráter inicial de preservar os docu-mentos mais importantes para a história de Minas Gerais.

Porém, os visitantes nem sempre têm acesso a todos os documentos, uma vez que são documentos muito antigos. Não possui nem loja e nem lanchonete por se tratar de um arquivo, mas é um dos únicos espaços do Cir-cuito que tem estacionamento próprio e gra-tuito para os visitantes.

Todos os arquivos são etiquetados com as devidas informações. Logo na entrada, há um guia com as principais informações do es-paço. O acesso pode ser feito por escadas ou rampas. Por ter documentos muito antigos, o odor presente no local é forte, e os banheiros estavam com a limpeza precária, mas segun-do a assessora do local, Paula Amorim, a lim-peza dos banheiros é feita duas vezes ao dia e disse que a repórter foi ao local pouco antes da revisão às 14h.

Centro de Arte Popular Cemig: é um es-paço voltado para cultura de raiz, mantendo um grande acervo de obras de diversos artis-tas mineiros. O local é completamente arejado. Para fazer a visita com monitores é necessário agendar anteriormente.

A lojinha é repleta de artefatos mineiros, com o preço dentro da faixa acessível ao pú-blico. O Café ainda está para ser instaurado,

Revivendo o Circuito CulturalUm panorama do maior complexo de Cultura de BH

Por Aline Viana (4º período) e Luna Pontone (2º período) - Jornalismo Multimídia

Foto: Heberth Zschaber

Os museus e centros do Circuito Cultural Praça da Liberdade passaram por uma “avaliação” de estrutura e programação feita pelo Contramão

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contramão 5Outubro/Novembro de 2013CULTURA

mas ainda sem previsão para inauguração. Os banheiros são extremamente limpos e bem cuidados.

As exposições são temporárias. Assim como a grande maioria dos espaços, tem um guia informando aos visitantes as programa-ções dos próximos dias e meses. O acesso ao local é feito por escadas, mas há elevadores dentro do local para pessoas com necessida-des especiais.

Centro Cultural Banco do Brasil: O mais novo espaço do circuito veio com o intuito de promover atividades nas áreas de artes plás-ticas, artes cênicas, música e programas edu-cativos. O CCBB conta com o Programa Edu-cativo que promove ações para os deficientes visuais e auditivos, além de cadeiras de rodas disponíveis.

Para quem quiser fazer uma visita moni-torada, é necessário verificar o horário em que estas visitas vão acontecer. Todas as exposi-ções são temporárias. Apesar de não ter loja, ao lado do café tem uma livraria repleta de obras de diversos escritores do Brasil.

Espaço do Conhecimento UFMG: com recursos tecnológicos avançados, o museu é dinâmico e cheio de abordagens lúdicas e interativas. Para fazer as visitas guiadas são disponibilizadas para grupos fechados ou es-colas e é necessário agendar previamente. As-sim como a maioria dos espaços do Circuito, o local não tem estacionamento próprio. As vi-sitas aos ambientes expositivos é gratuita, mas

para visitar o planetário é necessário pagar uma taxa de R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia).

O acesso aos andares é feito por dois ele-vadores. Os banheiros são, extremamente, limpos e bem cuidados. Assim como a maio-ria dos espaços do Circuito, o local também possui guarda-volumes.

Memorial Minas Gerais Vale: é o espa-ço mais interativo do Circuito e ainda tem uma sala destinada a computadores para os visitantes que quiserem utiliza-los e todas as exposições tem as etiquetas com as devidas informações.

O café do local conta com uma parede com diversas cachaças de Minas Gerais. O banheiro é pequeno e individual. Apesar das escadas, o acesso para os deficientes pode ser feito pelos elevadores panorâmicos.

Museu das Minas e do Metal: Popular-mente conhecido como o “Prédio Rosa da Pra-ça da Liberdade”, o local tem como objetivo mostrar a riqueza dos minerais e dos metais presentes em todo o espaço de Minas Gerais.

De todos os espaços do Circuito, o Mu-seu das Minas e do Metal é o único que possui uma taxa de entrada no valor de R$ 6,00 (in-teira) e R$ 3,00 (meia). As visitas monitoradas precisam ser agendadas previamente por e--mail ou por telefone.

O espaço tem lojinha e café, ambos num espaço bem organizado. Há acessibilidade para os deficientes, incluindo cadeiras de ro-

das disponíveis.

Museu Mineiro: Apesar de estar a um quarteirão da Praça da Liberdade, o museu integra o Circuito Cultural e reúne um acervo de documentos históricos de forma material em ocasiões importantes para o estado.

Todas as visitas ao museu são guiadas, não só por monitores mas também por segu-ranças para garantir que as peças não sejam tocadas. Apesar de não ter loja e nem café, o local possui uma livraria vasta.

Os banheiros são bem cuidados e limpos. Não há um guia exclusivo só com informações do Museu Mineiro, apenas do Circuito Cultu-ral como um todo. É p único espaço que não possui guarda volumes.

Novos ambientes

Segundo a assessora de imprensa do Cir-cuito Cultural, Leticia Bessa, nos próximos anos serão inaugurados mais seis espaços no Circuito, Centro de Referência de Economia Criativa Sebrae Minas, Casa Fiat de Cultura, Centro de Ensaios Abertos, Escola de Moda e Design da UEMG, Inhotim Escola e Museu do Automóvel.

Porém, nenhum desses espaços tem pre-visão de inauguração, uma vez que alguns projetos ainda estão para serem aprovados. A Casa Fiat de Cultura é o mais próximo de ser inaugurado, com previsão para 2014.

Sim

Regular

Gratuito

Agendada

Boa

Gratuito

Horáriosdeterminados

Boa

Gratuito

Não

Boa

R$ 6,00*

Não

Regular

Gratuito

Sim

Boa

R$ 6,00*

Sim

Boa

Gratuito

Arquivo Público

Centro de Arte Popular

Centro Cultural BB

Conhecimento UFMG

Memorial Vale

Minas e Metal

Museu Mineiro

Visitas monitoradas

Loja

Café

Vagas

Banheiros

Preço

Etiquetas c/ informações

Programas ou guias

Interatividade

Acessibilidade

Guarda volumes

Exposições temporárias

* Espaço do Conhecimento UFMG: o acesso ao planetário é pago. Minas e Metal: acesso gratuito às quintas-feiras e no último domingo do mês

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contramão6 Outubro/Novembro de 2013 CIDADES

Morte a céu aberto

Por Alex Bessas e Gabriel Amorim (2º período) - Jornalismo Multimídia

A Patrulha Fiscaliza BH iniciou suas ações no dia 1 de novembro e a operação visa autuar infrações referentes à faixas, cartazes, lixo fora do horário, bota-fora, obstáculos no logradouro, panfletos e camelôs. Segundo a Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos os artesãos de rua não serão alvos da fiscalização. A Patru-lha Fiscaliza BH atuará para coibir, entre ou-tras irregularidades, a ação de camelôs, que é proibida pelo Código de Postura. Os artesãos estão amparados por uma liminar judicial, portanto, não são alvo de ação fiscal.

Segundo fontes ligadas ao setor de Fisca-lização do Espaço Urbano, a PBH tenta der-rubar a liminar que permite que pessoas em situação de rua possuam materiais como col-chões, carrinho de supermercado e outros ele-mentos que possam prejudicar o direito de ir e vir dos demais cidadãos. A declaração é coe-rente com o discurso da coordenadora do Co-mitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política para a População de Rua, Soraya Romina, durante a reunião orgão, realizada no dia 13 de junho. Na ocasião, a coordenado-ra do comitê afirmou que a PBH aceita o direi-to da população de rua ficar na rua, mas não

o de se estabelecer. “Os objetos que possam obstruir o trânsito – colchões, por exemplo – deverão ser recolhidos”, informou na época.

ViolênciaBelo Horizonte, uma das capitais que vai

sediar, no próximo ano, a Copa do Mundo de Futebol, é o cenário de uma série de assassi-natos de pessoas em situação de rua, de acor-do com lideranças de movimentos sociais. O técnico cientista social do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos (CNDDH), Pe-dro Gonçalves, revela que desde que a medi-ção passou a ser feita – em abril de 2011 – já foram registrados 107 homicídios, sendo que deste somatório, 26 aconteceram neste ano.

Para a agente da Pastoral de Rua, Claude-nice Rodrigues Lopes, o espanto com o núme-ro de assassinatos não se deve ao fato de terem aumentado, mas pela visibilidade possível a partir dos dados coletados pelo CNDDH, desde 2011. Claudenice Lopes pontua que a Pastoral de Rua, em parceria com outras enti-dades, tem se articulado no sentido de que os homicídios sejam investigados e que os culpa-dos sejam punidos. “A impunidade banaliza a violência”, afirma. De acordo com Gonçalves,

o próprio CNDDH não sabe mensurar se hou-ve crescimento no número de homicídios, por se tratar apenas de dados recentes.

Políticas públicasO Comitê de Acompanhamento de Políti-

cas para População de Rua tem um grupo des-tinado a discutir o enfrentamento da violência física ou institucional contra as populações de rua e catadores de material reciclável. O gru-po integra representantes da sociedade civil, do poder público e ex-moradores de rua e é dirigido por Soraya Romina.

No campo institucional, a advogada do CNDDH, Maria do Rosário, esclarece que, muitas vezes, estas pessoas deixam de ter acesso a serviços públicos por não possuírem residência fixa. Para ela, é preciso que o po-der público ofereça propostas garantidoras de processos de saída e desburocratize servi-ços, para que não sejam negados a esta parce-la vulnerável da população. “As vagas [para moradia] são ínfimas. Há um albergue para 400 pessoas, fora das especificações do SUS, tem um abrigo para 80 e uma república para 10. Isso para uma população de cerca de duas mil pessoas”, informa a advogada. “Deve-se

Foto: João Vitor Fernandes

Para o CNDDH as vagas em instituiçoes públicas são insuficientes, na capital mineira, e é necessário desburocratizar o acesso aos serviços sociais

Desde 2011, BH, registra mais de 100 casos de homicídios de pesso-as em situação de rua

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contramão 7Outubro/Novembro de 2013CIDADESFo

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Informações desatualizadas: o censo de 2005 indica existir cerca de 1174 pessoas em situação de rua em BH, mas o número pode ser de duas mil

pensar em políticas de moradia que atendam a essas populações. [...] Duas saídas possíveis são o programa de aluguel social e a amplia-ção do número de repúblicas”, sugere.

Ainda no campo das políticas públicas, a PBH, através da Secretaria Adjunta de Assis-tência Social, inaugurou em outubro a Unida-de de Atendimento Institucional de Pós-Alta Hospitalar. Localizado na rua Além Paraíba, 181, no bairro Lagoinha, a unidade irá atender usuários da região nordeste de BH. Com ca-pacidade de acolher até 20 pessoas de ambos os sexos por até 30 dias, o objetivo é prestar atendimento continuado à pessoas em situa-ção de rua.

Segundo estimativas não oficiais da Pas-toral de Rua, há, aproximadamente, duas mil pessoas vivendo nas rua da capital mineira. O crescimento é sensível quando comparado com o último censo, realizado em 2005, que indicava existir cerca de 1174 pessoas nesta situação.

A Prefeitura planeja realizar outro censo até o final deste ano. Maria do Rosário acredita que essa população só poderá ser atendida se forem criados Centros de Referência em cada regional da cidade, ficando abertos 24 horas. Hoje, existe apenas um, no bairro Barro Preto, que funciona apenas na quarta-feira a tarde.

HigienizaçãoEm outubro, um grupo de ativistas reali-

zou o 1º Piquenique Solidário do AMOR (Ato a favor dos Moradores de Rua) – Lourdes, que marcou o repúdio da sociedade às declarações do presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro de Lourdes (Amalou), o empresário Jeferson Rios, ao jornal Estado de Minas. Ele revelou orientar os moradores e comerciantes a não doarem alimentos, agasa-lhos ou dinheiro para pedintes.

Em outra ocasião, na semana anterior a realização da Copa das Confederações em Belo Horizonte, no mês de junho, ativistas de movimentos sociais acusaram a PBH de ado-tar medidas higienistas contra moradores de rua. Na ocasião o Instituto Helena Greco de Direitos Humanos (IHG/BH) se manifestou através de uma nota de repúdio à repressão contra a população em situação de rua. Lê-se na nota emitida no dia 12 de junho: “Belo Ho-rizonte mantém sua terrível tradição de gru-pos de extermínio e de grupos de policiais a paisana que reprimem moradores de rua pa-trocinados por empresários.”.

No dia seguinte, 13 de junho, foi a vez da PBH lamentar a violência: “A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte vem a público externar sua completa indignação diante da violência praticada contra moradores em situ-

ação de rua nos últimos dias, na capital mi-neira, culminando, lamentavelmente, com a morte de duas pessoas na cidade.”.

Na época, a cientista social Rita Boechat revelou que pessoas ligadas aos movimen-tos sociais acreditavam que os moradores em situação de rua eram submetidos à remoção forçada em razão dos eventos esportivos na cidade. A Secretaria Municipal Extraordinária da Copa do Mundo (SMECOPA) desmentiu as denúncias: “O que a Prefeitura de BH faz é um trabalho social junto com as populações de rua. Existem leis, e a prefeitura as cumpre. Elas determinam que não podem acontecer remoções forçadas, todo mundo tem o direito de ir e vir”.

A assessora Raquel Bernardes classificou a denúncia de “boato oportunista”. O impasse chegou ao Ministério Público, que mediou um acordo entre a PBH e o CNDDH em que ficou estabelecido que nenhuma ação agressiva de retirada da população de rua poderá aconte-cer.

As denúncias ganharam eco no Facebook, ambiente em que foi criado o Grupo de Mo-nitoramento de Ações Higienistas que visa a realização de rondas noturnas para assegurar o direito das populações em situação de rua evitando que aconteçam atos como a remoção forçada. O grupo continua ativo.

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contramão8 Outubro/Novembro de 2013 SEGURANÇA

DESMILITARIZAÇÃO:

Foto : Heberth Zchaber

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contramão 9Outubro/Novembro de 2013SEGURANÇA

No dia 7 de Setembro de 2013, manifestantes voltaram às ruas de Belo Horizonte reivindicando, assim como nas Jornadas de Junho, melhorias na saúde, educação e segurança pública. Diferente das manifestações ocorridas anteriormente, a ação re-pressora da polícia chegou a ser comparada, em re-des socais, como “tática de guerra”. Em todo o país, foram presos 335 pessoas e na capital mineira 16 manifestantes ficaram detidos durante uma semana, sob acusação de formação de milícia armada e cor-rupção de menores.

O recrudescimento das ações de repressão dos policiais durante manifestadões e casos como o do policial militar (que postou uma foto em seu perfil do Facebook, onde ele aparece com o cassetete que-brado e os dizeres “foi mal, fessor”, em alusão a re-preensão da PM a manifestação dos professores do Rio de Janeiro) deram força aos protestos dos movi-mentos sociais. A questão central reforçada em to-dos os debates era - e ainda é - a desmilitarização da Polícia Militar, tema que já esteve em voga em diversos outros momentos da história do Brasil, mas nunca com tanta intensidade como agora.

Três projetos que tratam da desmilitarização tramitam no Congresso Nacional. O primeiro é o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 430/2009 do deputado Celso Russomano (PP-SP), e o segun-do é a PEC 102/2011, do senador Blairo Maggi (PR--MT). Ambas visam criar uma polícia estadual e destituir as polícias Militar e Civil. O terceiro é o PL 4471/2012 do deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que trata da mudança de artigos do Código Penal Brasi-leiro.

A advogada do Coletivo Margarida Alves, Cla-ra Moreira, afirma que os movimentos sociais sem-pre são vistos como “caso de polícia”. Ainda segun-do Clara, a desmilitarização é algo que precisa ser discutido com urgência. “Se pensarmos que em todo o processo de construção de exclusão da história bra-sileira a violência através de diversas forças policiais foi e é um fator comum, percebe-se que a desmilita-rização da polícia está não só entre os principais te-mas reivindicados pelos movimentos sociais, como pela população em geral”, explica.

Para o especialista em Estudos de Criminalida-de e Segurança Pública da UFMG, Robson Sávio, a PM guarda resquícios de uma polícia violenta e vol-tada para a repressão social. “Historicamente, a Polí-cia trabalha muito mais com a repressão do que com a prevenção” esclarece.

Já Ricardo Siqueira, assessor do Deputado João Leite, presidente da Comissão de Segurança Pública da ALMG, afirma desconhecer o assunto. Ainda se-gundo o assessor a comissão não recebeu nenhum material sobre a violência policial durante as mani-festações.

Segurança PúblicaPara Clara Moreira, a reforma policial, além de

diminuir gastos traria maior transparência para a população. Para a advogada, a possibilidade de ter uma polícia unificada e fiscalizada pela sociedade seria um grande passo para a construção de um es-paço democrático.

Para além da reforma policial, Robson Sávio defende uma reforma mais ampla na segurança pú-blica. “É preciso uma reforma do sistema de justiça criminal brasileiro. Temos que ter uma reforma do sistema penitenciário e de medidas sócio-educati-vas. Este modelo que temos já deu provas que não é compatível com nossa sociedade”, declara Sávio.

ExperiênciasA Scotland Yard, polícia metropolitana de Lon-

dres, funciona na perspecitava de ciclo completo, ou seja, faz todo o processo de investigação, preven-ção repressão. Segundo o especialista em estudos de criminalidade e segurança pública da UFMG, a Scotland Yard teve seu início com uma perspectiva militar. “Porém, com o passar do tempo, foi se trans-formando em uma polícia que garante e defende os direitos do cidadão”, explica Sávio, mostrando um possível modelo a ser seguido no Brasil.

Ainda segundo Sávio “No Brasil temos uma laranja divida ao meio, que são as duas polícias, e dentro delas existem outras divisões. Isto siguinifica dizer que elas nunca vão conseguir trabalhar como uma coisa só.”

POPULAÇÃO E ESPECIALISTAS QUESTIONAM A

NECESSIDADE DA PM

Por Hemerson Morais e João Vitor Fernandes (5º período) - Jornalismo Multimídia

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contramão10 Outubro/Novembro de 2013 CIDADES

O número cada vez maior de manifes-tantes que cobrem o rosto em protestos levou a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) a debater a prática que assusta as autoridades políticas e de segurança pública. Em resposta às empreitadas populares que se tornaram mais intensas após as jornadas de junho e julho de 2013, dois projetos de lei que proíbem o uso de máscaras em manifestações foram colocados em votação na Casa Legisla-tiva.

O primeiro deles, de autoria do deputado Sargento Rodrigues (PDT), estabelece sanção para quem desrespeitar a proibição e compa-recer a eventos com aglomeração de pessoas trajando máscaras, vendas ou qualquer co-bertura que oculte a face. No mesmo sentido, está a proposição do deputado Fábio Cherem (PSD), que traz requisitos para a realização de reuniões públicas para manifestação do pen-samento.

Na exposição de motivos do PL 4.474/13, Sargento Rodrigues explica que “o projeto em questão tem o propósito de coibir atos de violência praticados por vândalos que se es-

condem atrás de máscaras”. Para o deputado: “infiltrados entre os verdadeiros manifestan-tes, encontram-se criminosos que, com os ros-tos cobertos por máscaras ou qualquer outro objeto que assegure seu anonimato, praticam atos violentos contra a polícia e patrimônios público e particular”.

Autor do PL 4.516/13, o deputado Fábio Cherem acredita que as pessoas que cobrem o rosto já saem predispotas a cometer excessos. “Eu nunca vi ninguém quebrar uma vitrine ou fazer algo de forma agressiva, nessas manifes-tações, com o rosto descoberto. Se a causa é nobre e o interesse é público, por que a cara tampada?”, indaga. Cherem ressalta que não é objetivo do projeto refrear as vozes populares. “Pelo contrário, o projeto serve para garantir que pessoas ordeiras exerçam o seu direito à livre manifestação em segurança, em um am-biente pacífico, sem quebradeira nem violên-cia” garante.

Sanções e medidasPara quem burlar a lei, o PL 4.474/13

prevê multa, condução à identificação crimi-

nal e monitoramento permanente em eventos semelhantes. De acordo com o texto original, as sanções serão aplicadas mediante processo administrativo. Segundo o advogado e pro-fessor de Direito Penal, Rafael Soares, um dos grandes problemas do projeto está nas san-ções previstas além da multa.

Quanto à identificação criminal, Soares adverte que não se trata de pena ou sanção. “O procedimento de identificação criminal se aplica apenas aos casos em que há imprecisão no tocante à identificação civil de uma pessoa suspeita, acusada ou condenada pela prática de algum crime. A Assembleia Legislativa de Minas não pode e nem poderia tipificar como crime o uso de máscaras em protestos, porque não tem competência para tanto. Sendo assim, incabível qualquer identificação criminal para quem simplesmente porte ou use a máscara.”, esclarece.

Em relação ao monitoramento permanen-te em eventos análogos, o advogado avalia a disposição como muito abstrata. “Trata-se de algo completamente genérico que dificulta até mesmo a crítica, já que a redação do disposi-

Baile de máscaras

Por Fernanda Fonseca (2º período) - Jornalismo Multimídia

Dois projetos de lei a respeito da legalidade dos “manifestantes mascarados“ tramitam na ALMG

Foto: Heberth Zschaber

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contramão 11Outubro/Novembro de 2013CIDADES

tivo inviabiliza a compreensão da natureza e funcionamento da medida, absolutamente ilegal na forma como foi proposta.”, pondera. “Ainda que pudesse se admitir tal medida, o que não me parece aceitável, qual será o prazo de sua duração? Serve para todos os tipos de eventos? O que são eventos análogos? Quem irá monitorar a pessoa e como isso será fei-to?”, questiona.

Livre manifestaçãoO projeto de lei protocolado pelo depu-

tado Fábio Cherem dispõe que “a pessoa com a face oculta deverá, imediatamente, retirar a máscara, venda ou cobertura congênere, apresentar identificação civil e, sendo o caso, aguardar orientação quanto à forma de proce-der no evento”.

Para o especialista em Direito Penal, Ra-fael Soares, o PL 4.516/13 pretende disciplinar o comportamento das pessoas nas manifesta-ções e se espanta com o conteúdo do disposi-tivo: “O policial irá nos dizer como devemos proceder no evento? Hoje se proíbem as más-caras. Amanhã os bonés. Depois podem ser as camisetas de times de futebol, até se chegar aos símbolos e bandeiras de partidos políticos como ocorreu na ditadura militar”, relembra.

O autor da proposta entende que ela for-nece instrumentos para que a segurança pú-blica cumpra o que a Constituição estabelece: “A Constituição prevê em seu art. 5º, inciso IV, que qualquer manifestação é permitida, desde que não seja anônima. Essa norma não é algo que a Assembléia de Minas está inven-tando. Ela já existe de forma explícita e tem que se fazer valer”, esclarece.

Porém, o especialista em Direito Penal

aponta que a regulamentação do dispositivo é desnecessária. “A manifestação de pensa-mento é livre e está amparada por uma norma constitucional de eficácia plena, que não care-ce de regulamentação por lei infraconstitucio-nal”, assegura. Vedação ao anonimato

Os legisladores mineiros se utilizam do artigo constitucional que garante a livre ma-nifestação do pensamento e veda o anonimato para justificar os projetos de lei que proíbem a utilização de máscaras em protestos. Mas qual é a correta interpretação deste dispositivo?

Para o mestre em Teoria do Direito, Ipo-jucan Ayala, o anonimato nasceu no direito estadunidense com o objetivo de evitar per-seguição e supressão de ideias. “No nosso or-denamento jurídico, a vedação ao anonimato serve para proteger o direito à honra, para que a pessoa não seja caluniada, injuriada ou di-famada sem que saiba de onde partiu a ofen-sa”, revela. “A vedação não serve para que o Estado conheça os manifestantes de forma a repreendê-los e pressionar suas lideranças”, completa.

Segundo o advogado Rafael Soares, as polêmicas medidas de proibição de máscaras não possui justa causa porque as situações que querem coibir não derivam diretamente do exercício da liberdade de expressão. “[Nas manifestações] ninguém está a cometer agres-sões decorrentes da liberdade de expressão. Logo, não estamos falando, ao proibir másca-ras, de regulamentação do dispositivo consti-tucional que veda o anonimato, porque essa proibição constitucional é restrita a este tipo de situação”, explica.

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contramão12 Outubro/Novembro de 2013 CIDADES

O trânsito na capital mineira é o terceiro pior do país, perdendo apenas para Rio de Ja-neiro e São Paulo, conforme aponta a publica-ção do Observatório Urbano das Metrópoles, do Instituto de Bem-Estar Urbano (IBEU). O documento indica que a principal causa para transtornos como a lentidão do deslocamento e engarrafamentos é a opção preferencial do brasileiro pelo transporte individual.

Entre as maiores metrópoles, Belo Hori-zonte foi a que registrou o maior crescimen-to relativo no número de automóveis nos dez anos considerados nesta análise, com um per-centual de crescimento superior, inclusive, a média nacional. O estudo mostra ainda que em 2001, a frota da metrópole era de 841.060 veículos e, com um aumento de 108,5%, atin-giu a marca de 1,7 milhão em 2011. Na metró-pole mineira, foram acrescentados - em média - a cada ano 91.235 veículos.

Para o movimento Tarifa Zero BH, a aposta no transporte coletivo é a única solu-

ção para a fluidez no trânsito da capital, com-promisso que foi assumido pela BH Trans em 18 de março de 2011, conforme publicação do decreto de Lei Municipal nº 10.134. Outro compromisso firmado pela BH Trans é o Pla-no de Mobilidade Urbana de Belo Horizonte (PlanMob-BH), desenvolvido para atender ao disposto na Lei Federal n.º 12.587, de 03 de janeiro de 2012, que instituiu as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana.

Neste documento, um dos objetivos des-tacados é tornar o transporte público mais atrativo que o individual. Segundo nota en-viada pela assessoria de comunicação da ins-tituição “a mobilidade urbana foi destacada [no Plano Estratégico de Belo Horizonte para 2030] como um dos principais desafios a se-rem superados para a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento urbano em bases ambientalmente sustentáveis”.

O Tarifa Zero BH vê os esforços da BH Trans como insuficientes, tanto que o grupo -

em constante diálogo, através da Assembléia Popular Horizontal (APH) de BH - criou seu próprio projeto de emenda de Lei Orgânica, que institui a gratuidade do transporte pú-blico, apresentado no dia 21 de setembro. O economista e ex-candidato a vereador pelo PSOL, André Veloso, fez um panorama histó-rico desta luta e cita que um dos fundadores e primeiro presidente da BH Trans, João Luiz, tinha estudos no sentido de tornar o transpor-te coletivo gratuito, pauta que caiu no final da década de 90.

O ativista e membro do Tarifa Zero BH relembra que o projeto de lei de autoria po-pular foi debatido de forma ampla e heterogê-nea durante cerca de dois meses. Inicialmente era um texto extenso, com cerca de 30 artigos, mas, por orientação da OAB, que prestou con-sultoria ao grupo, o projeto passou a ser mais enxuto (com apenas 8 artigos) e se tornou uma emenda que altera a redação da lei orgânica do município, evitando que fosse considerado

Transporte em BH é sinônimo de caosBH Trans e movimento Tarifa Zero buscam implementar modelos que solucionem os problemas de mobilidade urbana da capital

Foto: Heberth Zschaber

Por Alex Bessas (2º período) - Jornalismo Multimídia

Em 2001, a frota de veículos da capital era de 841.060 carros, em 2011, e esse número alcançou a marca de 1,7 milhão, um aumento de 108,5%

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contramão 13Outubro/Novembro de 2013CIDADES

inconstitucional.

O projeto institui, basicamente, que o transporte público deve ser gratuito para todo cidadão e que haverá um fundo munici-pal destinado ao cumprimento desta exigên-cia. Tal arrecadação deve ser necessariamente controlada pelo Conselho de Mobilidade Ur-bana, que deve ser formado em sua maioria pela sociedade civil organizada.

Veloso explica que o projeto poderia ser apresentado por algum parlamentar, mas que, por uma questão de mobilização e pres-são, a escolha é que a emenda represente o an-seio popular. Por se tratar de um projeto de lei de autoria popular, é preciso reunir 95 mil assinaturas para que seja encaminhado e co-locado em pauta. Fazendo pouco mais de um mês desde sua apresentação, estima-se que já tenha 10 mil assinaturas.

O Grupo de Trabalho (GT) de Mobilida-de Urbana da APH de Belo Horizonte encami-nhou uma nota à imprensa com denúncias a

respeito do transporte público encaminhadas ao Ministério Público do Estado. Entre as de-núncias estão a falta de transparência e irregu-laridade no processo licitatório, formação de cartel, quebra de sigilo no processo licitatório, irregularidade na execução contratual, des-tino dos créditos do cartão BHBUS não utili-zados no prazo correto e que são invalidados para o usuário e a desobediência das empre-sas quanto a determinação de que receitas adi-cionais sejam utilizadas para reduzir o preço da tarifa.

Há, também, a queixa quanto aos com-promissos contratuais não cumpridos, como é o caso do sistema de transporte inteligente, que devia ser implantado em 2001 e a exigên-cia da publicação dos produtos parciais da au-ditoria externa realizada pela empresa Ernst & Young, que também está prevista em con-trato.

Em meio às acusações de falta de trans-parência, a BH Trans lançou, em agosto deste

ano, no Portal de Transparência, a nota so-bre transporte coletivo, prestação de contas e planos de metas. Dos 12 links disponíveis na página da web, oito direcionam o visitante a uma página de erro. Entre os links quebrados, estão aqueles que incluem arquivos relaciona-dos aos consórcios Pampulha, BHLeste, Dez e Dom Pedro II e a planilha de custos elaborada em 2007, que definiu os parâmetros para a re-alização do processo de licitação de 2008.

O diretor-presidente da BH Trans, Ra-mon Victor, foi procurado pela reportagem para esclarecer os apontamentos pela APH e sobre os links quebrados do Portal de Trans-parência, mas até o fechamento da matéria não havia comentado as informações. Ainda em relação à transparência, Veloso faz criticas à resistência da BH Trans em disponibilizar os resultados parciais da auditoria externa, co-brada pelo GT de Mobilidade Urbana e pela bancada de oposição da Câmara dos Vereado-res.

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contramão14 Outubro/Novembro de 2013 EXPEDIÇÕES ICA

A 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo, realizada pela Associação Bra-sileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), ocorreu no Rio de Janeiro, entre os dias 12 e 15 de outubro, na Pontifícia Universidade Católica (PUC). A programação incluía cur-sos práticos, sessões de autógrafos e palestras com personalidades do jornalismo brasileiro e estrangeiro.

Foram realizados 100 painéis durante os quatro dias do simpósio. Dentre eles, “Os avanços e retrocessos institucionais”, tendo como palestrante o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, “Profissão: repórteres”, com os repórteres Caco Barcellos e José Hamilton Ribeiro, além de “Reportagem com câmera escondida”, li-derada por André Luiz Azevedo e Eduardo Faustini, ambos da TV Globo.

Entre ouvintes e palestrantes, passaram pelos corredores da universidade cerca de 1350 pessoas de 90 países, incluindo profissio-nais credenciados para a cobertura do evento. O Brasil, como anfitrião, foi o país com maior número de participantes (64%), seguido pelos Estados Unidos (5%) e Peru (3%). De acordo com a organização, o público estrangeiro foi

composto, basicamente, por profissionais. Dos brasileiros, 60% eram estudantes.

O diretor-executivo da Abraji, Guilherme Alpendre, comemorou o sucesso do evento e a satisfação do público: “O evento teve gran-de êxito. Foram mais de 1300 pessoas aqui na PUC durante os dias de Conferência. Embora, claro, eventuais superlotações tenham levado algumas pessoas a ficarem meio insatisfeitas. De uma forma geral, o congresso foi um gran-de sucesso”, enfatizou.

ConferênciasOcorreram também, simultaneamente,

três grandes congressos internacionais: o 8º Congresso Internacional da Abraji, a 8ª Glo-bal Investigative Journalism Conference e a 5ª Conferencia Latinoamericana de Periodismo de Investigación (COLPIN).

Alpendre ainda observou que “talvez esse congresso sendo feito no Brasil, vai colo-car o jornalismo brasileiro no foco das aten-ções das entidades internacionais e vai mos-trar como a Abraji estava certa em apostar no acesso às informações, no treinamento de repórteres e na implantação dessa cultura de

reunião de congresso para o fortalecimento do jornalismo”.

Mídia NinjaCriado em 2011, o coletivo Ninja – uma

sigla para Narrativas Independentes, Jornalis-mo e Ação – ganhou notoriedade nas manifes-tações que tomaram conta do Brasil no último mês de junho. Transformando seu conceito em realidade, com a prática de narrativas in-dependentes, jornalismo e ação, o grupo cha-mou a atenção dos “colegas” de mídia, mas, principalmente, do público brasileiro que acompanhou as recentes movimentações po-pulares.

Para relatar as experiências vividas na co-bertura de um dos principais eventos da his-tória do país, o jornalista e criador do grupo, Bruno Torturra, 34 anos, foi convidado a deba-ter o tema no painel “Cobertura dos protestos de junho”. O painel contou com participações de João Wainer, responsável pela TV Folha, e Bruno Paes Manso, jornalista d’O Estado de S. Paulo.

Antes, porém, em entrevista ao Jornal Contramão e a TV Una, Torturra contou sobre

Nos bastidores da notíciaCaco Barcellos, José Hamilton Ribeiro, Eduardo Faustini, André Luiz Azevedo e outros ícones da profissão, debateram, na PUC-Rio, os

rumos da reportagerm investigativa no Brasil.

No Rio: conferência reune jornalistas brasileiros e estrangeiros para debater os rumos da reportagem investigativa em diferentes mesas temáticas

Por Fernanda Fonseca, Mariana Lacerda, Robson Sales e Tiago Mattar (2º período) - Jornalismo Multimídia

Foto: Tiago Mattar

Page 15: Jornal Contramão Edição 26

contramão 15Outubro/Novembro de 2013EXPEDIÇÕES ICA

a relação da Ninja com o processo investigati-vo e desenhou o futuro do grupo afunilando com um trabalho ainda maior de investigação.

- O que a gente fez nos últimos meses eu não chamaria de investigativo, acho que foi muito mais o olhar subjetivo dentro das pró-prias manifestações. Acho que ele tem uma relação com o jornalismo investigativo na medida em que ele serve de matéria bruta, de ponto de partida e de levantar pautas que me-reçam investigação, aprofundamento de tem-po, de grana, de experiência - avaliou.

O jornalista destacou ainda as restritas possibilidades que o mercado oferece para quem quer iniciar uma investigação. Torturra revelou suas opiniões sobre a nova viabilida-de econômica do setor, abordando, a todo o momento no tópico sobre autofinanciamento.

- Eu tenho a impressão que a nova viabi-lidade econômica do jornalismo investigativo – impressão, isso é um chute meu – vai se dar muito mais pela reputação e pela qualidade do jornalista, do que de um grande veículo que já não tem mais interesse ou condição de financiá-lo - pontuou.

Bruno lembrou também do nascimento da Ninja, revelando que, a princípio, a ideia era produzir pautas investigativas, com a ca-pacidade de se organizar, se financiar e de buscar assuntos que a “mídia tradicional não aborda por variados motivos”. “Como Mídia Ninja a gente tem a intenção e já começamos a fazer reportagens mais investigativas”, asse-gurou.

ReportagensO jornalismo cumpre o seu papel quan-

do revela fatos de interesse público até então desconhecidos. Mas como levar a informação

até o seu destinatário de forma objetiva? Uma das respostas a essa pergunta foi tema do pai-nel que debateu o uso de câmeras escondidas em reportagens investigativas. O paradoxo de mostrar sem se expor permeou a discussão conduzida por André Luiz Azevedo e Eduar-do Faustini, ambos da TV Globo, com partici-pação de Fernando Molica, editor do jornal O Dia.

Para André Luiz Azevedo, a câmera es-condida é apenas uma forma de contar uma história.

- O grande repórter investigativo é aquele que a partir da fonte de investigação domina os mecanismos para transformar a informa-ção, que é um material bruto, em reportagem. Às vezes você tem uma denúncia importan-te, mas é preciso saber como transformar essa história em uma reportagem de televisão, como conseguir imagens e provas absoluta-mente ostensivas -, pondera.

Os limites éticos na utilização de câmeras escondidas também foram questionados. De acordo com Azevedo, “a ética é fundamental não só na reportagem investigativa, mas em todo trabalho jornalístico”. Ele defendeu a uti-lização do equipamento.

- A câmera em si não é ética ou antiéti-ca. A gente já viu erros grosseiros, totalmente antiéticos, feitos com papel e lápis, como tam-bém vimos trabalhos brilhantes feitos com a micro câmera, que pode ser usada de maneira ética, mas também pode ser utilizada de ma-neira antiética. O jornalista é quem deve fazer uma avaliação ética do que ele está fazendo e de como está fazendo.-

Na atividade investigativa, muitas vezes o interesse público da matéria se torna maior que a individualidade do seu autor. É o caso

de Eduardo Faustini, que recebeu a alcunha de “o cara sem cara da Globo” por nunca mos-trar o rosto nas reportagens que assina. “Eu consigo fazer meu trabalho por causa desta ocultação”, justifica o repórter. Para não ser descoberto durante suas investigações, Faus-tini desenvolveu algumas táticas: “É preciso ter domínio do meu corpo, não posso suar ou tremer. Eu estou vivendo aquele mundo e preciso incorporar da melhor maneira. Prefiro atrair a pessoa para um local em que eu tenha total controle”, revela.

Por trás das câmeras escondidas, as faces ocultas do jornalismo investigativo desmasca-ram criminosos, políticos e fraudadores. Se-gundo André Luiz Azevedo, “a importância de realizar esse trabalho está na satisfação de ver o resultado concreto de uma denúncia de corrupção, a grande alegria está em perceber que você recebeu uma informação em estado bruto e conseguiu transformá-la em reporta-gem”. Apesar de ser considerada uma ativida-de perigosa, Eduardo Faustini não tem dúvi-das sobre o futuro. “Sou apaixonado pelo meu trabalho, trabalharia até de graça”, atesta.

9º Congresso: volta a São PauloDe acordo com informações divulgadas

pela Abraji no último dia 22 de outubro, em 2014, o evento voltará à São Paulo e à Univer-sidade Anhembi Morumbi nos dias 24, 25 e 26 de julho.

Alguns eixos temáticos já foram definidos pela organização para essa edição: jornalismo de dados; direito de acesso a informações (pú-blicas e privadas) de interesse público; pro-cedimentos de investigação policial que in-teressam ao jornalismo; cobertura esportiva; cobertura eleitoral. A participação no evento voltará a ser feita por meio de inscrição prévia.

O jornalista Caco Barcellos participou da mesa sobre reportagem investigativa e foi um dos profissionais mais procurados pelos estudantes presentes

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contramão16 Outubro/Novembro de 2013 QUADRINHOS

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Ainda tenho

A primeira vez em que Johnny Cash falou comigo não foi de maneira direta. Havia essa canção sendo construída: ele a mostrava para alguém e eu estava ali.

Eu sabia que precisava lembrar de cada nota, de cada frase melódica, de cada estrofe daquela canção e que isso poderia ser a diferença entre a vida e a morte.

Uma parte falava sobre como é fácil sentir-se uma presa indefesa debaixo de um céu azul.

Demorou para que eu compreendesse que era uma forma de oração e essa com-preensão me levaria a um choro piedoso, tempos depois.

Ilustração: Diego Gurgell Texto: Jorge Rocha

as canções