Jornal da Facom nº20
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COMUNICAO
Jornalismo VIP: os ricos na fita
Pg. 06 e 07
Jornal Laboratrio da Faculdade de Comunicao da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA) N 20 - Maio de 2009
Rafa
el M
artin
s
Pg. 14 a 17
Incndio na UFBA alerta para improvisos
CIDADE
Brigadas dos cinemas: quem j viu?
Pg. 09
EDUCAO
Cad os laptops dos BI?
Pg. 12 e 13
MODA
Modelos negras esto em alta
Pg. 18
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2Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
Jornal Laboratrio da Faculdade de Comunicao
da Universidade Federal da Bahia
Endereos:
Rua Baro de Geremoabo, s/n, Campus de Ondina
CEP. 40.170-115 Salvador/[email protected]
Editorao eletrnicaFernando Duarte
Assistentes de edio/ MonitoresAndr CerqueiraBrbara Lisiak
Carlos Eduardo OliveiraEgidilson SantanaFernando Duarte
Filipe CostaSavana Caldas
Assistente de fotografiaFrederico Fagundes
Secretria de RedaoCamila Queiroz
SubeditoraGabriela Vasconcellos
Editor ResponsvelMalu Fontes, professora
DRT-BA 1.480
Produo da disciplina Oficina de Jornalismo Impresso, semestre 2009.1:
Ana Margarida Almeida, Camila Queiroz, Carol dAvila,
Felipe Dieder, Frederico Fagundes, Gabriela Vasconcellos,
Giacomo Degani, Guilherme Vasconcelos, Iali Moradillo, Joseane Bispo, Julien Karl,
Livia Montenegro,Luis Fernando Lisboa, Maitane Roa,
Mariana Almofrey, Mariana Sebastio,Nelson Oliveira, Paloma Ayres, Paula Amor, Paula Boaventura, Rafael Freire, Raiza Tourinho,
Rebeca Caldas, Renato Cordeiro, Rodrigo Wanderley, Verena Paranhos,
Victor Gazineu, Victor Soares
Diretor da Facom (2005-2009)Professor Giovandro Ferreira
Reitor da UFBA (2006-2010)
Professor Naomar Almeida Filho
Tiragem: 5.000 exemplares
ExPEDIENTE/ EDITORIAL
O primeiro semestre do penltimo ano da d-cada ser marcado, no contexto da Universidade Federal da Bahia, pela implan-tao das primeiras turmas dos Bacharelados Interdisciplina-res, os Bis, marcos da chamada UFBA Nova, e por uma trag-dia acadmica, fsica, estrutural, financeira e, por que no dizer, pessoal, para centenas de alunos e professores de graduao e ps: o incndio que, no dia 21 de maro, destruiu todo o quarto andar do Instituto de Qumica, transformando em lixo labo-ratrios e trabalhos de pesquisa que vo exigir anos para a volta normalidade.
Em uma tentativa de apresen-
tar os mais diferentes aspectos que nortea-ram o incidente, sem precedentes na UFBA, este primeiro nmero do Jornal Laboratrio produzido pelos alu-nos da Oficina de Jor-nalismo Impresso no semestre 2009.1, busca trazer ao leitor os dife-rentes personagens e cenrios envolvidos na tragdia. Uma vez que, imediatamente aps o episdio, no existiam respostas prontas para explicar o que, de fato,
isolada ou coletivamente, levou ao incndio, a iniciativa mais recomen-dada para a cobertura jornalstica era traar um panorama da con-juntura da unidade, seus persona-gens e suas instalaes, bem como apontar conseqncias e medidas adotadas aps a ocorrncia. Essa foi a estratgia usada pelos alunos envolvidos na produo da matria de capa deste exemplar.
Levando-se em conta o fato de o jornalismo opinativo hoje ex-perimentar um boom em diferentes suportes, o JF busca aliar ao exer-ccio da apurao e da reportagem, algum espao para a opinio, seja atravs dos textos de professores-colunistas, seja atravs da seo faconistas, em que alunos exercitam opinies e crticas.
Numa tentativa de falar da prpria imprensa, buscando sair da mxima de que a imprensa no cobre a si mesma, o JF traz tam-bm nesta edio a verve de seus reprteres sobre o que chamam de jornalismo crasse A, um segmento em franca emergncia em Salva-dor, comprometido at a medula com o colunismo social paroquial e kitsch.
Alm disso, h a picardia da coluna Pimenta, produzida com a colaborao de todos os alunos da disciplina, e, neste semestre, o registro de impresses capturadas pelo olhar estrangeiro, de quem v a Bahia com o ineditismo impos-svel para quem aqui vive, nesse caso o de duas alunas intercambis-tas que, neste semestre, compem a Oficina de Jornalismo Impresso: a basca Maitane e a portuguesa Ana Margarida.
Sempre em busca de um olhar que se aproxime mais das bordas do que do centro e comprometido em extrair dos alunos perspectivas crticas e distanciadas do jornalis-mo assptico, burocrtico e sisudo que muito se v no campo profis-sional, esta edio do Jornal Labo-ratrio da Facom apresenta ao leitor mais uma tentativa de fugir s armadilhas do mais do mesmo. Se ainda no foi desta vez, um dia, quem sabe, o desafio de no fazer jornalismo de plstico ser plena-mente contornado.
UFBA NOVA, TRAGDIA E OUTROS OLHARES
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3Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
cone da vez, Obama vendePresidente dos EUA multiplica-se em souvenirs de todos os tipos e preos
Carol davila Mariana SebaStio
Sim, ele, Barack Obama. O atual presidente dos Es-tados Unidos no garantiu s um dos cargos mais respeita-dos no cenrio poltico, mas tam-bm virou celebridade mundial. Conquistou a populao estadu-nidense e serviu de inspirao para a populao de Salvador, ali mesmo no Pelourinho. Ao entrar no centro histrico, no Terreiro de Jesus, os visitantes se depa-ram com uma barraquinha onde se vendem camisas de diversas cores com o rosto do presidente estampado. Andando mais um pouco, Obama tambm j se mis-tura entre as pinturas de baianas e mes-de-santo nos quadros vendidos nas galerias. L est ele pintado em frente Casa Branca, em tons de azul e vermelho e em outra estampa mais curiosa, o presidente dos Estados Unidos aparece correndo de bala perdida. Mas porque Salvador aderiu a essa
Obamania? O que um presi-dente de um pas to polmico faz servindo de logomarca para os soteropolitanos?
Ricardo Miranda, artista plstico de 34 anos, um dos res-ponsveis por essa moda. O seu ateli repleto de pinturas com o rosto de Obama. H quadros de tamanhos diversos e o prprio artista recebe os visitantes com um sorriso do presidente estam-pado na camisa, parecendo at um uniforme do local. Em pou-cas palavras, Miranda conta que j vendeu mais de 30 pinturas desse novo lder e acredita que a razo do sucesso seja a grande identifi-cao do povo com o presidente: Obama um lder negro e Sal-vador uma cidade negra. uma vitria contra a desigualdade que existe. Torna-se um estmulo: se ele pode, eu posso. Ricardo Miranda j teve outras experin-cias com grandes personalidades. Comeou pintando Che Gue-vara e Martin Luther King, e h algum tempo resolveu fazer algo diferente no Pelourinho, por isso
comeou a vender a imagem de Obama. Sou capitalista, tambm aproveito o momento da febre para vender meus quadros, ex-plica, equilibrando a necessidade de vender a sua arte com a espe-rana que deposita: A economia dos Estados Unidos rege a to-dos. Ns aqui esperamos a reso-luo dos problemas por Barack Obama, tenho muita esperana nele.
Apesar da febre, nem todas as galerias aderiram Obamania. Quando se pergunta a outros vendedores do Pelourinho so-bre a existncia de artefatos que fazem referncia ao presidente, todos sabem da febre do Barack Obama. Tambm fiquei sur-preendido com o fenmeno, revela o artista plstico Srgio, um italiano de 58 anos que tambm artista plstico. Srgio, como ele mesmo assina nas suas produes artsticas, entende que Obama uma grande esperana principal-mente por ser negro, mas no ali-menta idias romnticas sobre o assunto. A desmedida esperana dos brasileiros ingnua, j que existem interesses particulares nos Estados Unidos que, mais cedo ou mais tarde, podem no atender a todas as expectativas, analisa Srgio quando revela que no par-tiu dele a idia de produzir esses quadros, mas faz isso porque o mundo est interessado.
Unanimidades no pelourinho tambm aderiram Obamania. o caso de Clarindo Silva, 66 anos, nomeado Rei Momo no carnaval 2008 e dono do tradicional res-taurante Cantina da Lua, que de-posita seu sonho em Obama e por isso vende camisas com a mais famosa estampa. Admirador fer-renho do presidente, Clarindo se v representado por ele: Toro e
me identifico por ele pela questo da origem negra. Ele conseguiu mobilizar o mundo inteiro com seu carisma. O comerciante diz que a aceitao muito boa, e no dia da posse improvisou um stand na frente do seu restaurante para venda de adereos. Clarindo afirma que a principal razo da confeco das camisas o desejo de passar a idia de Obama, da esperana e de um mundo melhor para os seus filhos, mas lembra que o lucro tambm importante: Se eu falasse que nossa proposta tambm no ganhar dinheiro eu seria leviano. Vamos ter tam-bm em breve bons, canecas e cinzeiros. Desta maneira, os ar-tistas e os comerciantes criativos aproveitam a poca da moda para obter lucro. As pinturas so ven-didas na mdia de preo entre R$ 70 e R$ 120 e as camisas a partir de R$ 25. Apesar dos artefatos serem vendidos em Salvador, os vendedores afirmam que quem mais compra so os turistas, prin-cipalmente os estadunidenses: Os estrangeiros tem uma me-lhor situao econmica e valo-rizam mais meu trabalho, mas se chegar um baiano interessado eu fao um preo mais baixo, diz o pintor Ricardo Miranda.
Sobre o fim dessa moda, os comerciantes dizem que tudo depende do que Obama realizar enquanto estiver na presidncia, mas garantem seu espao mesmo se ele no realizar os desejos dos quatro cantos do mundo. Para os vendedores, o importante ter opinio poltica, transform-la em moda nas ruas e dinheiro no bolso, aproveitando qualquer eventualidade, como analisa Ricardo Miranda: Se Obama morre agora, vende mais. Porque ele morre como heri.
Carol dAvila
Obama figura como cone em quadros e outros objetos
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4Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
A burocracia perdoaInmeros prefeitos baianos so acusados de irregularidades com fundos da educao, mas poucos so penalizados
Julien Jatobrenato Cordeiro
Quem foi prefeito de um dos 417 municpios baianos entre 2001 e 2004, j pode comprar o champanhe. No fim do ano, prescreve o prazo para apresen-tao de denncias de irregularidades durante este perodo de mandato. O que ficou debaixo do tapete, por l mesmo, ficar. Podem ser licitaes que no foram cumpridas, contas que no foram prestadas, obras no erguidas ou uma srie de outras coi-sas que podem levar os chefes de e-xecutivos municipais a entrar no Ca-dastro de Responsveis com Contas Julgadas Irregulares (Cadirreg), atua-lizado periodicamente pelo Tribunal de Contas da Unio e composto, quase totalmente, por prefeitos.
Um balano do primeiro trimes-tre deste ano aponta que um em cada trs citados nesta lista, aqui na Bahia, teve pelo menos uma conta condenada envolvendo verbas rece-bidas do Ministrio da Educao. No ano passado, a pasta repassou 6,85 bilhes de reais para prefeituras de todo o Brasil, atravs do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE). Foram recur-sos voltados para ajudar na melhoria do ensino, mas que nem sempre se transformaram em transporte esco-lar, merenda ou livro didtico.
Um caso ocorrido neste ano foi a denncia do ex-prefeito de Serra do Ramalho, no oeste baiano. Alberto Ansio Souto Godoy acusado de no prestar contas de 276 mil reais repassados pelo FNDE. No sa-bemos um centavo do que ele fez com esse dinheiro. No h um docu-mento sequer, afirma o procurador Rafael Costa, que atua no Ministrio Pblico Federal de Barreiras.
Em outras vezes, os documen-
tos existem, mas so considerados irregulares, como aconteceu com o ex-prefeito de Itaparica, Rai-mundo Nonato do Sacramento, cuja gesto rece-beu 99 mil reais do Programa de Alimentao Es-colar (PNAE), ainda no primeiro ano de mandato, em 2001. Os poucos documen-tos apresentados, alm de irregula-res, no compro-vam a vinculao dos gastos com a execuo do PNAE, declara a pro-curadora Juliana Moraes, em nota do Ministrio Pblico baiano. Sa-cramento falou reportagem do JF que a prestao foi encaminhada ao Tribunal de Contas dos Municpios e est em ordem, e minimiza o pro-blema ao fato de auditores do Fundo considerarem que a merenda, basea-da em biscoito e suco em p, no era bem aceita pelos alunos. Suco se d para uma criana at em casa, por exemplo, argumenta o ex-ad-ministrador e atual procurador do municpio, que tem uma escola que leva o nome dele.
As irregularidades tambm po-dem tomar parte da chamada he-rana maldita, conhecida ainda como poltica da terra arrasada, que consiste em deixar a mquina pblica em frangalhos para o pr-ximo gestor, quando ele faz parte de um grupo poltico adversrio. Pelo menos, o que alega o atual pre-feito de Itacar, no sul da Bahia. De acordo com Antnio de Anzio, no havia informaes sobre a condio
da mquina pblica, quando estava no comando do antecessor, Jarbas Barbosa Barros. A situao foi realmente delicada. No havia nada. Fizemos at um relatrio para o Tri-bunal de Contas da Unio, conta Antnio. O antecessor no tinha feito a prestao de contas do uso de recursos para o transporte esco-lar, o que tornou necessrio contatar o FNDE para renegociar o prazo. Jarbas Barros negou as acusaes reportagem do JF, dizendo que o prefeito atual no reconhece melho-rias do transporte escolar das quais se vale neste mandato. No clima de guerra entre prefeitos e ex-prefeitos, perdem os estudantes.
No existe uma idia do que pblico, o gestor muitas vezes no disponibiliza os papis para seu sucessor. Em outras situaes o sucessor no presta contas devida-mente e pode prejudicar seu ante-cessor e sua prpria gesto. O in-teresse pblico, nesses casos, no levado em conta, desabafa a procu-radora Juliana Moraes. Na mesa do
escritrio, ela tinha uma considervel pilha de papis, divididos em quatro classificadores sobrecarregados. Toda a papelada dizia respeito a uma nica ao cvel em curso. A procu-radora trabalha em mais de 150 pro-cessos. Fazemos um mutiro para atender a demanda (de casos de ir-regularidades), nosso objetivo no deixar que nenhum deles prescreva. Estamos em um ano crtico. Em 2010, a gente no pode mais ajuizar ao de improbidade com relao a gestores de mandatos cumpridos de 2001 a 2004. De acordo com Juliana Moraes, os processos so analisados e atendidos com antecedncia, mas a maioria deles acaba sendo apresenta-da no ltimo ano. Os motivos apon-tados so a sobrecarga de trabalho e os trmites legais necessrios, que envolvem outras instituies. Uma nica irregularidade, desde a denn-cia at as possveis penalidades, pode envolver o Ministrio Pblico, a Controladoria Geral da Unio, o Tri-bunal de Contas da Unio, o Tribu-nal Regional Eleitoral, a Justia Fe-
Julien Karl
Como no h o que cozinhar, o lanche trazido de casa distribudo na sala
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5Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
deral e o prprio FNDE. Tudo comea com a denncia,
que pode partir dos auditores do Fundo, do TCU, da CGU ou do prprio cidado. J as punies po-dem chegar perda do cargo, proi-bio para contratar e, em casos considerados mais extremos, a sus-penso dos direitos polticos, algo considerado muito raro pelas fontes de diversas autarquias procuradas pela reportagem do JF. Na maior parte dos casos, os prefeitos lidam com as aes de improbidade en-trando com sucessivos recursos at que se passem os cinco anos que su-cedem os mandatos em que ocorreu a notificao. E a, esto prontos pra outra, e que venha 2012, com todos os fundos federais que as gestes tm direito.
o caso do ex-prefeito Edson Velasquez, afastado pelo poder ju-dicirio em 2003 e que teve o man-dato cassado pela Cmara Municipal de Vera Cruz. O Ministrio Pblico questiona a falta de prestao de contas do repasse de 72 mil reais do Programa de Adequao Fsica de Prdios Escolares (PAPE), fruto de um convnio firmado com o FNDE em 2002. Ele ainda responde a seis aes cveis pblicas e quatro denn-cias do Ministrio Pblico Estadual. Das quatro condenaes com o
nome do ex-administrador munici-pal no Cadastro de Irregularidades do TCU, trs envolvem verbas fe-derais para educao. Edson Velas-quez tambm acusado de utilizar recursos do Fundo de Manuten-
o e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio (FUNDEF). Ele teria destinado uma parte do repasse para pagar uma dvida contrada pela ci-dade, no valor de 260 mil reais, com a Caixa de Peclios, Penses e Mon-tepios (Capemi), empresa que dis-ponibiliza planos de emprstimos e previdncia privada para servidores municipais. A reportagem do JF no conseguiu contatar o ex-prefeito.
Alguns administradores citados no Cadirreg reclamam quando o repasse federal cortado de imedi-ato, sob o argumento de que esto envolvidos em irregularidades de menor relevncia, como por exem-
plo, um erro de preenchimento de formulrio. Mas para o auditor-chefe do Fundo Nacional de Desenvolvi-mento da Educao, Gil Pinto Loja Neto, o problema que isso leva ao prejuzo. preciso conhecer a lei,
tem que saber o que est assinando ou est herdando. Ele reconhece que alguns tm dificuldade em lidar com a burocracia que envolve o uso de recursos do FNDE. Tem de tudo, desde fraude at problemas bsicos. (...) O grande problema que eu vejo a falta de capacitao, a ausncia de tcnicos que verifiquem a execuo dos programas.
Neste sentido, o Ministrio da Educao fez uma cartilha para os gestores, disponvel pela internet, para auxiliar o uso da verba. Segun-do Loja Neto, o controle da aplica-o dos recursos tambm pode ser feito online atravs do Sistema Inte-grado de Monitoramento Execuo
e Controle do Ministrio da Educao. O SIMEC possibilita verificar a topo-grafia de um espao onde se pretende construir uma unidade de ensino, e pela no-conformidade do terreno, condenar a obra antes mesmo que come-ce. Os mecanismos de controle empregados pela autarquia, que incluem a visita aos municpios com suspeita de irregularidade, permitem fiscalizar a apli-cao de 20% dos recur-sos do FNDE, assinala Loja Neto.
No municpio de Itaparica, uma diretora de escola primria relata
que a refeio oferecida , por ve-zes, a primeira ou nica consumida pela criana ao longo do dia, dada a carncia de algumas famlias. Freqentemente, pais e professores organizam-se para combater essa carncia com alimentos trazidos de casa. Dificuldades como esta acabam colaborando para o abandono esco-lar. O abandono do aluno, em al-guma medida, reflete um abandono anterior, pondera o coordenador de disseminao de informao do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) na Bahia, Joilson Souza. Ele cita a Pesquisa de Evaso Escolar, relatrio desenvolvido em 2002 pela Superintendncia de Estu-dos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). O estudo aponta que a falta de atratividade do centro de ensino um dos diversos fatores que leva um estudante a deixar a escola. A pesquisa tomou por base a capital baiana, mas Souza acredita que os dados ajudam a entender a situao vivenciada nas escolas do interior, entre outras coisas, no que diz res-peito logstica. A logstica um fa-tor complicador, sobretudo, no meio rural. A criana que vive por l de-pende muito mais do transporte, das garantias de que poder ter acesso escola. Temos relatos de municpios que no ofertam transporte escolar, e quando ofertam, por vezes, no possuem condies mnimas para transportar crianas.
Mais do que um problema de gesto ou oramentrio, as carn-cias vivenciadas pelos estudantes baianos intensificam prejuzos so-ciais que comeam cedo, na pr-es-cola. Ns j temos observado um atraso escolar aqui na Bahia desde o primeiro ano do ensino fundamen-tal, algo em torno de 50% de todo o contingente escolar. Isso vai se agravando at as primeiras sries do ensino fundamental e mdio, ava-lia Souza. H reflexos no nvel de empregabilidade, no perodo maior de dependncia que o aluno ter em relao sua famlia. A sociedade como um todo acaba pagando um preo muito alto, completa.
Julien Karl
Enquanto uns comem, outros olham
Estamos em um ano crtico. Em 2010, a gente no pode mais ajuizar ao de improbidade com relao a
gestores de mandatos cumpridos de 2001 a 2004Juliana Moraes, Procuradora do MP
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6Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
Jornalismo Crasse ALuxo, glamour e sofisticao, com muita qualidade... Mas no para qualquer um
luiS Fernando liSboaPaloMa ayreS
Eu acho que todo mundo deveria ser rico, porque to bom, gente!, j diria Narcisa Tamborindeguy, uma das mais conhecidas so-cialites brasileiras. Em Salvador, existe um mundo paralelo que partilha da mesma opinio e do mesmo modelo de vida. Para os habitantes desse mundo, o im-portante ter luxo, classe e bom gosto. E o que mais interessa saber das ltimas novidades com glamour, beleza e sofisticao.
a, ento, que programas televisivos e publicaes locais se
debruam sobre essas persona-lidades - que de conhecidas no tm nada e falam das mincias dos seus estilos de vida. Aqueles que esto fora desse mundo, e so muitos, s desfrutam, de longe, o modus vivendi de uma high-society cada vez mais segregada deles, formando o seu prprio conceito de sociedade.
Esses produtos miditicos consagram a modernizao dos estilos de vida das elites. O nme-ro de veculos comunicacionais voltados para a classe A sotero-politana tem tido um expressivo aumento nos ltimos anos. Publi-caes, programas, sites e colunas de jornais narram um lado da cap-ital baiana, que no condiz com a
verdadeira realidade do resto da populao. Sites como o Bahia Vitrine, Michelle Marie e Balaco-bako; revistas como a GoWhere Bahia Style e Destaque, e programas de televiso, como Nomes, Fama e Sucesso, Dinamite e Tudo AV so expostos para o pblico em geral, mas falam a lngua daqueles que no apenas consomem o que neles apresentado, como tam-bm so os protagonistas sorri-dentes e aparentemente felizes, iluminados pelos flashes das m-quinas e pelas luzes das cmeras.
Eles acontecem no caf soaite
Esses produtos miditi-cos prestam-se manuteno daqueles modelos ideais de vida, baseados no sucesso e no bem-estar, o que afirma o jornalista formado pela UNI-BH, Alexan-dre Alvarenga, na sua monografia intitulada Coluna Social. Alm disso, eles tm a funo decisiva na produo dos personagens que atuam nesses modelos, atravs da escolha das pessoas que apa-recero ou no naquela determi-nada publicao ou programa.
O apelo pela imagem nesses veculos torna-se a melhor forma de vender o padro de vida dos ricos e bem sucedidos. A foto-grafia praticamente indispen-svel na produo e manuten-o daqueles modelos ideais de vida, explica Alvarenga. A re-vista GoWhere Bahia Style um exemplo de como as fotografias tm o poder de estimular o de-sejo naqueles que nunca tero o que a classe alta tem. A publica-o comeou em So Paulo, h 15 anos, sempre voltada para o segmento de luxo, diz Patrcia Magalhes, jornalista responsvel pela editoria da publicao na Ba-
hia. De acordo com a jornalista, a GoWhere mostra jias, roupas, automveis importados e tecno-logia, com o que h de melhor nestes produtos. As reportagens vo desde a descrio de um spa na Praia do Forte, que faz ms-caras faciais de ouro e diamante com caviar, at a dos carros mais caros do mundo.
Outro exemplo de como o elemento visual importante na construo da aura sofisticada destes veculos de comunicao a abertura do programa Nomes, apresentado pela jornalista Luzia Santhana. A vinheta d destaque imagem de Luzia, onde ela faz poses numa cadeira giratria, com roupas diversas, com toda sua graa, simpatia e espontanei-dade. O programa, antes chama-do Todos os Nomes, entrevista pes-soas de destaque na Bahia e no Brasil. Depois de uma pertinente consulta numerolgica, o nome do programa passou a se chamar somente Nomes. Luzia afirma que no seu programa ela fala sobre tudo aquilo que a interessa. Prin-cipalmente de luxo, j que segun-do ela, todo mundo gosta.
Enquanto a plebe rude da ci-dade dorme...
Para Alexandre Alvarenga, esse jornalismo quer enfocar uma determinada camada social e tambm aquelas pessoas con-sideradas VIPs (sigla em ingls para very important person, que significa pessoa muito impor-tante), ou seja, os fatos figura-ro como notcia no por sua relevncia jornalstica, mas pela importncia relativa da pessoa retratada, para aquela determi-nada faixa de pblico para qual o colunismo se volta.
A GoWhere Bahia Style de-
Acervo pessoal - Alessandro Macedo
Luzia Santhana uma expoente do gnero
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7Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
claradamente uma revista direcio-nada para sociedade classe A de Salvador, desde a elaborao das matrias at a distribuio das re-vistas. Da tiragem de 30 mil exem-plares, 18 mil so distribudas para uma lista de contatos especficos, que incluem clientes de alto pa-dro. A inteno maior a dis-tribuio direcionada, entretanto ns tambm vendemos a revista em bancas, esclarece Patrcia, que v um contnuo crescimento no mercado do luxo em Salvador. Fizemos uma pesquisa, na qual verificamos que as classes A e B se interessam cada vez mais em saber sobre artigos de luxo, mui-tas pessoas com grande poder aquisitivo esto chegando ci-dade.
O colunista baiano Michel Telles trabalha h 10 anos para o jornal Tribuna da Bahia e possui um site que enfoca os bastidores da alta sociedade de Salvador, chamado Balacobako, e um pro-grama na Piat FM, de mesmo nome. Para ser pauta da minha coluna ou site tem que ter acima de tudo algum contedo que in-teresse ao meu leitor. Eu recebo muitas coisas, mas muitas delas so fteis. Eu sempre gosto de colocar o ftil com o til, diz Michel, que no deixa de ressal-tar o valor que as pessoas lhe do pela sua inteligncia e influncia no eixo Rio - So Paulo. Para ele, tem gente que s faz coluna com futilidade, e ele, ento, segue na direo contrria. Eu coloco de tudo, mas essa parte de futilidade infelizmente as pessoas adoram, desabafa o colunista.
Para o programa Fama e Suces-
so, exibido na TV Salvador e apre-sentado por Jorge Pedra, o mais importante so os eventos. Em seguida, essencial dar destaque s pessoas que esto neles, sem-pre com muito glamour, bele-za, sofisticao e boa msica, para colocar essas pessoas para cima, de acordo com o prprio apresentador. Ao invs do to uti-lizado termo sociedade, Jorge Pedra prefere utilizar a expresso jet set, para representar a classe dos endinheirados, dos novos ricos e emergentes.
Ao assistir o programa, pode surgir a leve impresso de que Jorge Pedra tenta imitar algum jornalista e apresentador de TV que faz j paz parte do imaginrio popular. Mas quanto a isso, ele enftico: O meu programa totalmente diferente do Amaury Jr., at a maneira como eu me ex-presso. Apesar da negativa de Pedra, impossvel no classifi-car o programa deste como a verso local do seu colega paulista. Basta observar a trilha sonora ultrapassada, de ambas as produes, embora o apresentador da RedeTV goze de melhor apuro na parte tcnica e es-ttica de seu programa.
Luzia Santhana, apre-sentadora do programa Nome, afirma sem preocupaes que o forte do seu programa o luxo. No entanto, ela acredita que o programa atende a todas as classes sociais. Mesmo as que no podem adquirir os produtos exibidos nos programas. Luzia garante que o pblico se inter-essa, sim, por luxo: Por que as
pessoas gostam das novelas da Globo? Para ver o ncleo rico. As pessoas gostam de ver rique-za, beleza. Tem gente que s gosta de ver misria, notcias ru-ins. A populao se sente atrada pelo luxo, sonha em um dia ter bastante dinheiro, satisfazer suas vontades, como viajar, que o desejo de todo mundo, resume a jornalista.
Ainda sobre o pblico, Luzia se baseia numa pesquisa feita por sua equipe, que mediu a audin-cia do programa, na qual 53% das pessoas que assistem ao Nomes so de classe A e B. No entanto, ela acredita que as outras classes tambm so espectadoras do pro-grama. At Neide, a empregada l de casa, adora o programa, os vizinhos dela tambm assistem, prestam ateno nas roupas e, principalmente, adoram quando eu levo Carlinhos Brown.
Champanhe em vez de cacha-a
O que j se sabe que o foco desses produtos miditicos so as celebridades, artistas e os ricos com seus luxos. Mas, talvez, seja o uso da palavra sociedade o fator que gera alguns problemas a essa roda cheia de classe. Patrcia,
da GoWhere Bahia Style, concorda que h um conceito de sociedade que engloba todos os cidados, mas, em outro contexto, a so-ciedade, segundo ela, com-posta principalmente pelas fam-lias abastadas e tradicionais, que fazem parte do miti baiano. Afinal de contas, basta ter uma conta bancria acima de cinco dgitos, e um reconhecido braso familiar para ingressar nessa rea-lidade paralela de glamour.
Jorge Pedra tambm formula o seu prprio conceito social: Quando eu digo alta socie-dade, eu no falo s dos ricos. Os garons, as cozinheiras tam-bm fazem parte. Eles vo aca-bar se encontrando no mesmo meio. Pedra, portanto, no acredita que, em Salvador, exista tanto preconceito ou diferenas sociais.
Tem a sociedade de pessoas normais e a sociedade de pes-soas anormais, explica o colu-nista Michel Telles. Para ele, as pessoas anormais so aquelas que precisam sair nos jornais e consumir roupas de grifes to-dos os dias, sendo, portanto, fteis. Tem muita gente pirada e que no consegue ficar sem sair no jornal nenhum dia. Eles formam essa sociedade que no
tem o que fazer, s quer saber de festa, no tem inteligncia nenhuma e s quer saber de comprar roupas de grifes e desfilar em coquetis da cidade, confidencia o jornalista. Mas esse pblico no dei-xa de ser protagoni-sta das suas notinhas e dos seus balacobakos.
Eu no uso muito o termo so-ciedade baiana e nem o uso ter-mo VIP. Porque para mim VIP significa Viado Impossibilitado de Pagar. Mesmo assim, eles seguem o conselho do cantor Ronaldo Rosed: escolhem os melhores vestidos e vo, porque a festa nunca vai acabar.
Eu no uso muito (...) o termo VIP. Porque para mim VIP significa Viado
Impossibilitado de PagarMichel Telles
Acervo pessoal
Banner do site de Jorge Pedra na internet
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8Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
Msica caribenha Chris Combette estria no pas levando pluralismo cultural Praa Tereza Batista
FeliPe dieder
Gnero que costuma ser reservado a tudo que no se enquadra nas categori-zaes j estabelecidas do mercado fonogrfico, a chamada world music muitas vezes nos brinda com artistas que misturam de modo inconsistente uma verdadeira profuso de refern-cias. No foi isso o que se viu, porm, no show de Chris Combette, que se apresentou pela primeira vez no Bra-sil no dia 19 de maro, na Praa Tere-za Batista, no Pelourinho. Natural da Guiana Francesa, o cantor desfilou um repertrio repleto de elementos caribenhos fortemente influenciado pela msica pop.
Chris Combette subiu ao palco s 20h30 acompanhado por Georges Mac (percusso) e Eric Bonheur (gui-tarra e efeitos). Visivelmente emocio-nado, chegou a arriscar um esperei muito, muito por esse momento em portugus. Ao longo de duas horas, tocou sua msica caribenha cosmo-polita cantada em ingls, francs, es-panhol e dialeto creoulo. Os ritmos so variados: se Mo Kontan To
salsa, La Danse de Flore pura bossa nova. O fio condutor das canes so as melodias ao mesmo tempo elaboradas e assobiveis.
Mesmo com a chuva que caa, a praa foi aos poucos sendo tomada por um pblico diversificado. medi-da que o repertrio avanava, chama-va a ateno o quanto msica genui-namente feita para danar e lirismo podem (e devem) caminhar juntos. Ao sair do show de Chris Combette, no difcil dar alguma razo aos sau-dosistas de planto quando afirmam que a ax-music de hoje j no mais como a que se fazia. Talvez l pelos idos anos 80, as razes do gnero que sinnimo de carnaval baiano estives-sem mais expostas.
A apresentao s terminou ao fim do primeiro bis por conta do horrio o pblico pediu e Chris queria tocar mais, mas encerrou o show se desculpando pela limitao do tempo. Mesmo com a boa recep-tividade, a maioria dos presentes no conhecia seu trabalho. Era o caso de Cleber Barros, 22, que se mostrou satisfeito: acho muito importante esse intercmbio e resgate de culturas
latinas. fundamental para a unifica-o de nossas manifestaes, desta-cou. Chris Combette tocou ainda no Teatro Molire na sexta-feira, 20, e em Recife no sbado, 21.
HistricoChris Combette tido como
um dos principais responsveis pela introduo da msica centro-ameri-cana na Frana. Nascido em 1955 na Guiana Francesa, ele se mudou ainda jovem para a ilha de Martinica, no Caribe. No comeo dos anos 70, comeou a fazer parte de bandas lo-cais. Em 1975 foi para Paris, onde concluiu sua formao em matemti-ca. Retornou para Martinica e s em meados da dcada de 80 se instalou novamente na capital francesa. Em 1990, comeou sua carreira solo. Hoje, mora na Guiana Francesa.
O cantor, que tem trs lbuns lan-ados Full South (1994), Salamb (1996) e La Danse de Flore (2003) -, conversou com o Jornal da Facom sobre o comeo na msica, viagens, e influncias. Leia a entrevista a seguir.
JF - Quais suas primeiras lem-branas do contato com a msi-ca? Fui atrado pela msica cedo. Meus irmos mais velhos tocavam violo e logo tratei de reproduzir o que eles faziam. JF - Li que voc j conheceu mui-tos lugares. Existe algum pelo qual voc tenha um apreo espe-cial? Sem dvida, Madagascar. um pas fasci-nante, cheio de graa em meio grande mi-sria que o assola.
JF - Suas canes trazem baga-gens culturais distintas. De que modo voc absorve aspectos to dspares para a sua msica? Cresci na Martinica e os grupos de msica dos colgios em que toquei reproduziam to-
dos os sucessos das redondezas: de Trinidad, Cuba, Haiti, Jamaica e do Brasil. Eu ouvia todas essas canes e hoje natural que essas influncias se misturem minha msica. To-das essas msicas so a minha msica.
JF - Voc nitidamente influ-enciado pela bossa nova. Quais msicos brasileiros te inspira-ram? Na adolescncia, a msica brasileira me to-cou profundamente. Eu escutava canes de Gilberto Gil e de outros artistas. O violo do Baden Powell, seja em bossa nova ou samba... esses ritmos me influenciaram deci-sivamente. Qualquer que seja a cano que eu intrprete, h sempre um momento em que o Brasil a perpassa.
JF - Voc morou em Paris. Como se deu o contato da sua msica com a cultura francesa? Ela foi bem aceita por l?Paris uma cidade com uma vida cultural to intensa que tudo pode ser bem aceito se o produto oferecido for bem trabalhado e trans-mitir emoo. H espao para tudo. JF - Voc foi professor de matemtica. Esse tipo de conhe-cimento, por mais distante que possa parecer, exerce influncia na sua msica? Talvez. Alunos numa sala de aula podem representar um pblico como qualquer outro. Alm disso, lecionar to apaixonante quanto estar no palco. Acho que essa prtica me ensinou muito sobre como me apresen-tar. JF - Existe previso de lanamen-to de um novo disco? Estou trabalhando com um arranjador de Miami e espero poder apresentar novas can-es em breve. JF - Voc retornar ao Brasil? Durante anos eu sonhei em vir para c. Meu sonho foi realizado. Espero que ele se repita o mais breve possvel.
Felipe Dieder
Chris Combette desfilou repertrio de salsa, reggae e bossa nova em duas horas de show
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9Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
E se pegar fogo?O JF adverte: em caso de incndio no cinema, corra!
CaMila QueirozPaula aMor
Nossa brigada de in-cndio estar a postos para qualquer even-tualidade!. Ser? Voc j pensou nos riscos que corre quando vai ao cinema? Numa comunidade do Orkut chamada Brigada de In-cndio nos cinemas!, um participante questiona: Se nunca ningum viu uma brigada de incndio nos cine-mas...o q me garante q ela est l? [...] a gente corre risco! Se no tivesse problema no precisaria de seguro...Ser q compensa ir aos cinemas hj em dia? Tendo em vista o alto risco q ns corremos? Esta-mos pagando para morrer? (sic).
A equipe JF foi atrs dos briga-distas e descobriu o que acontece-ria se um cinema pegasse fogo. No final desta matria, voc vai desco-brir que o melhor a fazer rezar antes de sair de casa. As brigadas de incndio existem (em alguns cinemas), mas no podemos con-tar com elas.
J aconteceu?Ana Carolina Mrola, estudante
de administrao da Universidade Federal da Bahia, diz j ter presen-ciado um princpio de incndio no cinema. Em 2007, fui ao Cine-mark com uma amiga. Faltando 30 minutos para terminar o filme, sentimos um cheiro de queimado, e todos ficaram nervosos sem sa-ber o que fazer, principalmente porque ningum do cinema veio nos orientar. Apareceu um fun-cionrio explicando que eles no sabiam o que tinha acontecido. Para Fernando Ferreira, responsvel pela manuteno do Cinemark do Salvador Shopping, a fumaa teria vindo da chamin da loja Burger
King, que fica prxima dos condi-cionadores de ar da sala de exi-bio...
Brigada de IncndioNos cinemas, a brigada de in-
cndio formada pelos prprios funcionrios - bilheteiros, gerentes, colaboradores da limpeza e opera-dores de cabine e no por bom-beiros. Cada um desempenharia um papel e ocuparia uma posio estratgica no caso de incndio. Aps receberem treinamento, os brigadistas deveriam ser capazes de operar os equipamentos de se-gurana, a caminhar no escuro em salas com muita fumaa e a realizar primeiros socorros. Porm nem todos os cinemas de Salvador tm uma brigada de incndio - e os que tm apresentam uma estrutura de-ficiente.
Podemos confiar?!O Cineplace Itaigara, o cine-
ma do Shopping Center Lapa e o UCI Aeroclube no tm uma brigada de incndio, nem ofere-cem orientao mnima aos seus funcionrios. A gente nunca teve essas coisas [brigada de incndio], nenhum tipo de treinamento. No tem nem bombeiro do shopping. um absurdo, mas a realidade, revela Adriana Sousa, gerente do Cineplace Itaigara. J no Cen-ter Lapa, a gerente Leide Lima, quando questionada sobre o que fazer no caso de um incndio no cinema, responde sorrindo: Cor-rer!.
No temos um pessoal pre-parado para ficar em uma sala es-perando por um incndio. Porque no acontece sempre, ento quem tem que ficar preparado realmente so os funcionrios de todas as reas, explica Leandro Sales, ge-rente jnior do Multiplex Igua-
temi. Segundo ele, todos devem receber treinamentos tericos e prticos. No entanto, estes treina-mentos duram aproximadamente quatro horas, o que no garante a eficincia e o preparo dos fun-cionrios para lidar com incndio.
No Multiplex Iguatemi, cada um teoricamente tem uma fun-o: o gerente responsvel por acionar a equipe de bombeiros do shopping e aos demais funcionri-os, dentre outras tarefas, cabe orientar a evacuao das pessoas pelas sadas de emergncia. O fun-cionrio Atade Andrade, no en-tanto, no hesita em dizer que na verdade, cada um tem uma fun-o, mas na hora do pnico, todo mundo corre.
Nas salas do Shopping Barra, os funcionrios so orientados, porm nunca receberam treina-mento prtico nem possuem fun-es especficas em caso de incn-dio. Eles sabem como funciona, mas a gente nunca fez simulao, afirma a gerente Nolia Santana. Sabem mesmo?
No Cinemark, a situao curio-
sa. Fernando Ferreira conta com orgulho que a equipe dispe de uma cartilha de segurana. Se acontecer alguma coisa, os fun-cionrios que no sabem como agir abrem a cartilha, olham o que aconteceu e leem o procedimen-to. Imagine o cinema pegando fogo e todos os funcionrios reu-nidos em uma sala escolhendo quem ler as instrues em voz alta se que todos j no esta-riam bem longe dali. Vale pena ressaltar que Fernando era o nico brigadista presente no local dentre os dez que compem a equipe. Ain-da bem que o material das corti-nas prova de fogo e que h um bombeiro do shopping nas proxi-midades do cinema...
Os gerentes alegam que nunca houve casos de incndio nas sa-las de exibio: O risco de um cliente tocar fogo numa poltrona, no carpete ou na cortina abaixo da tela. muito difcil, graas a Deus, garante Sales, gerente do Multiplex Iguatemi. Mas, como diz o sbio ditado popular, me-lhor prevenir do que remediar...
Paula Amor
Na hora do pnico, todo mundo corre
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10Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
Centenrio das discrdiasAs divergncias sob e sobre as estruturas da Praa Centenrio
rodrigo FiuSaviCtor gazineu
A praa da avenida Centenrio, inaugurada com alarde em setembro de 2008, causou uma am-pla mudana na rotina de alguns mo-radores da regio. Construda sobre o Rio dos Seixos, a obra custou R$ 28,5 milhes e conta com quiosques, ciclovias, parques infantis, pistas de cooper e jardins bem arborizados. Contudo, a beleza arquitetnica e paisagstica da praa esconde grandes problemas scioambientais.
Como uma alternativa de lazer, o local foi bem aceito pela maioria das pessoas. Durante toda a semana, crianas, adultos e idosos utilizam o espao para caminhar, andar de bici-cleta, fazer exerccios e conversar. Aqui maravilhoso, no tenho do que reclamar, afirma Cristina Gen-til, 60, moradora do Jardim Apipe-ma. Alm disso, a intensa movi-mentao de pessoas neste espao permite que todos sintam-se mais
seguros para aproveitar o espao at mesmo em horrios mais tardios. De acordo com a moradora Snia Paranhos, 61, a avenida Centenrio era um local muito propcio para o uso de drogas, mas agora esta prti-ca, apesar de ainda existir, diminuiu consideravelmente.
A praa do apartheidA Praa Centenrio liga bairros
com realidades sociais distintas: a Barra e o Calabar. O espao pblico tem chamado a ateno por reunir pessoas de classes completamente diferentes. Como dizia o baiano Cas-tro Alves, a praa do povo como o cu do condor. Seguindo a mxima do poeta, o povo realmente tomou conta e transformou a praa num espao de diverso para toda a famlia. A convivncia entre ricos e pobres, contudo, parece no ser das mais harmoniosas. J h boatos de que o local se tornou palco para conflitos envolvendo os distantes vizinhos.
Apesar de frequentadores como
Cleonilda Conceio, que defende a praa como um ambiente de todos desde que haja respeito mtuo, h quem analise a situao de forma diferente: A praa dividida sim. O lado Sul (regio da Barra) dos ricos e o lado Norte (Calabar) do povo mais humil-de., afirma Isac Lima, 23 anos. Depoimentos como estes confirmam os boatos de que estaria ocorrendo, de fato, um apartheid velado na Pra-a Centenrio. Quem quiser mais sossego e tranquilidade, tem que ir pra zona sul porque
os moradores do Calabar so desor-deiros e mal educados, afirma Jean Siu, 25 anos, residente do Alto das Pombas. A situao confirmada por Cleide de Jesus, moradora do Cala-bar: O pessoal daqui (zona norte), at que leva as crianas pra brincar no lado da Barra, mas o povo de l muito dificilmente traz seus filhos pra brin-car aqui- conclui.
O que ficou para debaixo do ta-pete
A construo da Praa Cen-tenrio foi realizada pela Prefeitura Municipal de Salvador, com recur-sos do Ministrio da Integrao Nacional, comandado pelo baiano e morador do Jardim Brasil (regio bem prxima praa) Geddel Vieira Lima, para fornecer uma alternativa de lazer para os soteropolitanos. Sob a promessa de resolver os pro-blemas de alagamentos ocorridos em perodos de chuva, o Rio dos Seixos foi completamente coberto e, para a efetivao do projeto, teve que passar por um grande processo
de macrodrenagem gerenciado pela Superintendncia de Urbanizao da Capital (Surcap). Alm disso, foram realizados procedimentos de dragagem, escavao e revesti-mento e a implementao de pistas de concreto ao longo de 1,5 km de extenso.
Procurado pela equipe do JF, o chefe do Setor de Meio Ambiente do GEMAT (Gerncia do Meio Ambiente e Apoio Tcnico), Joo Deway, afirmou que todo esse pro-cesso melhorou muito a qualidade de vida na regio. Antigamente ha-via o acmulo de resduos slidos e o lixo das comunidades prximas era, em parte, despejado no rio. Ag-ora que est coberto, no tem mais como isso acontecer, afirma.
Da mesma forma, o gelogo e gerente do Meio Ambiente do GE-MAT, Frederico Rossiter, diz que a poluio do local, alm de causar mau cheiro, atraia inmeros mosqui-tos para a regio, facilitando, desta forma, a transmisso de doenas para os residentes. O projeto envolveu, dentre outras coisas, a questo da hi-giene, diz Rossiter.
O coordenador executivo do GAMBA (Grupo Ambientalista da Bahia), Rogrio Mucug, por sua vez, possui uma opinio dis-tinta. Segundo ele, o Rio dos Seixos consistia em um dos mais limpos da cidade e a sua cobertura foi um erro. A pavimentao do rio con-tribui com o aquecimento do clima local, pois a gua naturalmente um regulador trmico. Com o seu fechamento, a troca de calor ficou inviabilizada, aumentando a tem-peratura ambiente, sustenta. O ambientalista complementa afir-mando que a impermeabilizao do solo comprometeu a drenagem das chuvas torrenciais, alm do fato de que as formas de vidas existentes no rio tambm foram destrudas.
Rdorigo Fiusa
Placa sinaliza contradio na Centenrio
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11Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
Teoria sem prticaNa escola de Medicina Veterinria da UFBA, a extrema dependncia dos estgios compromete a formao
guilherMe vaSConCeloS raFael Freire
O dilema antigo. Qual o pa-pel da universidade? Na teo-ria, pelo menos, est tudo definido: formar profissionais qualifi-cados e cidados crticos. Na prtica, principalmente em pases subdesen-volvidos, parece difcil, praticamente impossvel, que as instituies de en-sino superior cumpram suas funes prioritrias. Os problemas vo desde a dificuldade em obter estgios e a precariedade estrutural at o desinte-resse dos prprios alunos.
No curso de Medicina Veterinria da UFBA (Universidade Federal da Bahia), por exemplo, as queixas so freqentes. Os objetivos da instituio formar profissionais capacitados e contribuir para o desenvolvimento re-gional dificilmente so atingidos em sua plenitude. Tanto os alunos quanto a direo da Escola concordam que h deficincias graves. Quando ques-tionado a respeito da estrutura da
faculdade, o aluno do 9 semestre, Fernando da Silva Nascimento, re-conhece a qualidade do corpo docen-te, mas aponta alguns problemas: A biblioteca uma vergonha. Os alunos das faculdades particulares tm livros em maior quantidade e mais atualiza-dos que os nossos. Nossos professo-res so limitados pela precria estru-tura da faculdade.
Outra reclamao bastante co-mum a falta de contato com animais de grande porte, uma vez que o Hos-pital universitrio atende, principal-mente, caninos e felinos e as matrias relacionadas a eqinos e bovinos, por exemplo, so escassas. A formao do aluno que deseja se especializar nessa rea passa a depender quase que ex-clusivamente dos estgios.
EstgiosComo o curso de Medicina Vete-
rinria essencialmente tcnico, os estgios desempenham papel muito importante na aquisio de conhe-cimento e desenvolvimento de habi-lidades prticas. Para receber o diplo-
ma, os estudantes de Veterinria tm, obrigatoriamente, que fazer estgios curriculares, os quais, segundo eles, no tm a durao necessria para pr em prtica os conhecimentos adquiri-dos. A soluo seriam, ento, os es-tgios extracurriculares aqueles que os alunos fazem por conta prpria. Entretanto, a falta de dilogo entre os estudantes e a direo/coordenao da escola evidente. A desinformao reina absoluta. De um lado, os alunos reclamam da dificuldade em con-seguir os estgios: Aqui os estgios so muito escassos. Para quem deseja seguir a rea de campo, a situao mais complicada ainda. Desconhe-o qualquer tipo de convnio que a faculdade mantenha, revela Lucas Cardoso Botelho, estudante do 10 Semestre.
Por outro lado, a direo da facul-dade alega que, muitas vezes, o pro-blema no est somente na limitao das vagas, mas tambm no despre-paro e desinteresse dos alunos. co-mum, por exemplo, segundo Maria Consuelo Ayres, coordenadora da
disciplina Estgio Supervi-sionado, vagas no serem preenchidas por falta de capacitao dos estudantes. Ser que existe interesse do aluno? Muitas vezes, ele no consegue estgio por falta de preparo e comodismo, rebate a coordenadora.
Para facilitar a interme-diao entre os alunos e as empresas que oferecem es-tgio, a instituio dispe do NEP (Ncleo de Extenso e Pesquisa), rgo respon-svel por coordenar e super-visionar os estgios extra-curriculares e os convnios firmados pela Universidade. Na prtica, entretanto, o NEP tem a sua eficcia comprometida pela deficin-
cia na divulgao de suas atribuies, falha que a prpria coordenadora dos estgios, Maria Celeste Viana, admite. Um dos nossos defeitos a falta de divulgao. A gente tem uma lista de convnios com instituies como ADAB (Agncia Estadual de Defesa Agropecuria da Bahia), Embrapa, Secretaria de Agricultura e vrias clnicas, mas no temos a cultura de fazer marketing daquilo que a facul-dade promove. Falta divulgar e infor-mar melhor.
Mercado versus formao geral A formao oferecida pelo curso
no d segurana aos profissionais recm-formados. Na hora de enfren-tar o mercado de trabalho, as opor-tunidades de aprendizado que no foram aproveitadas ou oferecidas pela faculdade fazem falta. H relatos de estudantes que retardam a concluso da graduao por ainda se sentirem inseguros em relao ao mercado. H tambm aqueles que depois de for-mados retornam faculdade em bus-ca de estgio. Existe muito receio de quem est se formando. O pessoal sai com muita insegurana para o mer-cado. l fora mesmo que a gente vai ter que aprender, afirma o estudante Lucas Botelho.
Para o diretor da escola, Carlos Roberto Frank, um equvoco espe-rar da Universidade uma formao profissional completa. Segundo ele, o aluno deveria sair do ensino superior com habilidades que lhe permitiro buscar e processar conhecimento dentro ou fora de sua especializao. As constantes mudanas no mercado seriam a razo pela qual a universi-dade no deve privilegiar a formao tcnica. A universidade prepara para o mercado? O mercado se transforma o tempo inteiro. Seria irresponsvel preparar os alunos para uma tendn-cia do mercado que amanh poder perder fora.
Rafael Freire
A estrutura precria limita a atuao dos professores e compromete o aprendizado
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12Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
Desafios da UFBA NovaSem prdio e sem laptops, o projeto do Reitor segue em implantao
FrederiCo FagundeSMariana alMoFrey
Um show de luzes e cores. Assim foi a recepo dos alunos dos Bacharelados Interdisciplinares (BIs), a nova co-queluche da Universidade Federal da Bahia. Enquanto calouros de algu-mas unidades ganharam apenas tinta, farinha e ovos ao entrar na UFBA, o IHAC - Instituto de Humanidades, Artes & Cincias Professor Mil-ton Santos, que funciona proviso-riamente no PAF III, organizou um evento nunca dantes visto na UFBA pr-REUNI, com iluminao non, clima lounge, msica e performances feitas por professores e alunos.
Os bacharelados, que tem a dura-o de trs anos, so cursos superi-ores de dois ciclos. Nos trs primei-ros semestres o aluno adquire uma formao geral dada pelo IHAC e os trs semestres restantes sero cursa-dos nas unidades da UFBA que aderi-ram ao REUNI e oferecem reas de concentrao para os BIs. Estas reas ainda no esto bem estrutu-radas, mas algumas j esto definidas, como Cinema e Vdeo, que ser ofe-recida pela FACOM, conta Albino Rubim, diretor interino do IHAC.
Nos corredores do PAF III, o cli-ma de empolgao. Quanto estru-tura, no h queixas: pelo contrrio. Somos a primeira turma e eles que-rem que a gente faa propaganda positiva, temos ar condicionado e at televiso de LCD em algumas salas, afirma Nti Uir, aluna do BI de Artes. Se perguntados sobre a es-trutura curricular do curso, a maioria declara estar satisfeita com os docen-tes e a proposta do curso. H mat-rias que quem v acha loucura, como Mudanas Climticas e Estudos da Contemporaneidade, mas tm
tudo a ver com o que a gente est vivendo hoje em dia, afirma Edmara Viana, aluna do mesmo BI.
Universidade capen-ga?
S quem alienado no sabe que h um d-ficit de estrutura imenso na UFBA, diz Jos Ta-vares Neto, diretor da Faculdade de Medicina. Segundo ele, o caminho percorrido pela univer-sidade foi contrrio a algo que qualquer dona de casa sabe: primeiro deve-se arrumar a casa, para depois ampli-la. O reitor Naomar Almei-da, porm, afirma que nunca teremos as condies ideais para crescer e no correta a idia de que a expanso est sendo feita sem condies suficientes, porque a UFBA possui uma enorme capaci-dade ociosa noite.
O que Tavares alega que no h equidade entre a nova unidade criada e as antigas. Exemplo disso a re-quisio de laptops pela UFBA, que seriam destinados apenas aos alunos dos Bacharelados Interdisciplinares. Perguntado sobre o assunto, o reitor esclareceu que, ao contrrio do que foi divulgado na imprensa, os laptops no seriam dados aos bacharelandos, o que proibido por lei, eles sero emprestados apenas nas dependn-cias do IHAC, no podem ser leva-dos para casa. Seriam usados durante as aulas, com ambientes virtuais das disciplinas, afirma. J Albino alega que preciso ter os laptops para de-pois saber que destino eles tero. Ele afirma, no entanto, que os aparelhos no sero utilizados durante as aulas.
Contradies parte, dos laptops
ainda no se viu a cor, muito menos o design exclusivo. Diante da de-sistncia da empresa do Plo de I-lhus com a qual a UFBA estava ne-gociando a aquisio dos aparelhos, a reitoria pediu ao MEC a aquisio de 150.000 notebooks atravs do pro-jeto Um Computador por Aluno. O Tribunal de Contas da Unio, porm, pediu vistas ao processo e suspen-deu a licitao em curso, o que fez parecer que os laptops eram ou um devaneio da reitoria, ou propaganda enganosa, como afirma o Saci Pere-r, personagem criado pelo profes-sor Menandro Ramos, da Faculdade de Educao, para criticar a Universi-dade Nova.
Os alunos, porm, no sentem falta dos laptops. Inajara Simes, es-tudante do BI de Humanidades des-taca que existem outras prioridades na UFBA. A reforma deveria ser mais homognea, So Lzaro est precrio e o Restaurante Universi-trio est parado, completa Nti. A questo da segurana, para os alu-
nos, est bem providenciada. Alm de iluminao nas trilhas, h rondas da Polcia Federal pelo campus de Ondina e esto sendo instaladas 477 cmeras. Nenhum caso de violncia dentro do campus foi reportado at agora, afirma Srgio Farias, vice-diretor. O fato das aulas de todos os Bacharelados estarem proviso-riamente concentradas no prdio do PAF III contribui com que os alunos e docentes do IHAC sintam-se mais seguros.
Perguntado sobre o que fazer quando o PAF III no comportar mais os alunos, o reitor no hesita: J estamos construindo o PAF V, atrs do PAF III, vocs j viram? A verdade que no se v nem uma p de cimento no local, porque sequer o matagal foi aparado. Quanto construo do prdio onde o IHAC deveria funcionar, no h sequer pro-jeto ainda. A previso de que o prdio esteja pronto em no mnimo dois anos. As coisas da Universi-dade demoram, tem que fazer licita-
Mariana Almofrey
Por enquanto laptops no PAF III s dos alunos
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13Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
o, esclarece Albino. No entanto, o nmero de vagas crescer em um ritmo muito mais acelerado que as obras. At 2011, dois mil alunos en-traro nos BIs a cada ano. Nesse ano entraram 900, mas esse nmero deve crescer gradativamente at l, afirma o diretor.
O destino dos egressosH trs caminhos para os alunos
formados pelos Bacharelados Inter-disciplinares: ingressarem no mer-cado de trabalho, fazerem uma ps-graduao j que os BIs so cursos superiores ou seguirem para os cur-sos tradicionais.
Anne Carneiro aluna do BI de Humanidades acredita que o mercado de trabalho possa abrir es-pao para os estudantes egressos dos BIs. No entanto, Inajara afirma que grande parte dos seus colegas so graduandos, pretendem ingressar ou j so formados nos chamados cursos de progresso linear. Isto
demonstra a desconfiana dos alunos quanto possibilidade de abertura do mercado para os futuros Bacharis Interdisciplinares. Todos os cole-gas com quem eu converso tem uma profisso em mente, afirma Thas Paixo, aluna de Humanidades.
Os alunos vo investir seu tempo e ficar com esse diploma na mo. Para fazer o que do ponto de vista prtico? questiona Telsforo Martinez, professor do Instituto de Geocincias. Ele afirma que no Bra-sil ainda no h demanda para esses bacharis. Isso muito bonito na Europa, nas universidades que o rei-tor cita, mas aqui no. O Brasil ainda no um pas que vende idias. Eu no vejo a implantao desses bacharelados como uma demanda necessria da sociedade, pondera.
Segundo o reitor, a ampliao de vagas, da forma como vem sendo feita na UFBA, seria uma demanda social. A universidade passou anos sem crescer, enquanto o setor priva-
do explodiu e a sociedade necessita de educao superior. Para Marti-nez, a criao dessas vagas estaria sendo feita para atender no uma de-manda da sociedade, mas uma ne-cessidade do Governo Federal: o que o governo quer dizer que in-seriu no sei quantas pessoas na uni-versidade, isso tudo vai virar nmero para campanhas polticas. Tavares Neto endossa o ponto de vista afir-mando que se trata de uma Bolsa Universidade.
Quando questionado sobre o mercado e o futuro profissional dos 900 estudantes que entraram esse ano nos BIs, o reitor reconhece que sua preocupao no o mercado de tra-balho e expe opinies particulares: eu acho incorreto, injusto e at triste se uma instituio que chamada de universidade se limite a dar formao profissional, se submeta ao mercado de trabalho. Mesmo que o reitor considere triste, com isto que a maioria dos estudantes est preocu-pada. Os supletivos chamados BIs so invenes desconectadas da reali-dade chamada mercado de trabalho. Quando essas pessoas conclurem, vo ser empregadas em qu?, ques-tiona Tavares Neto.
Supletivos ou no, a demasiada abrangncia e generalidade das aulas uma preocupao recorrente entre os alunos. Nos BIs voc adquire o conhecimento geral, completa Nti. Segundo o professor Telsforo, devi-do formao abrangente, os bacha-ris interdisciplinares perderiam o foco essencial a qualquer profisso: Toda profisso tem um foco. Para que serve um engenheiro, um ad-vogado, um dentista? Todo mundo sabe. Mas e os BIs?.
O reitor afirma que os alunos egressos do BI podem trabalhar em qualquer coisa. Esses alunos esto sendo de alguma maneira enganados. Primeiro porque no h mercado de trabalho definido, e segundo porque esse diploma no serve para nada. S serve no sistema universitrio. Esses alunos vo concorrer por vagas de mestrado com alunos de cursos regu-lares, que so limitadas pela CAPES.
Vai haver uma concorrncia brutal entre quem tem curso regular e esses do curso que foi inventado, diz o diretor da Faculdade de Medicina. E completa: Os alunos de Sade, por exemplo, no sero mdicos, nem enfermeiros, nutricionistas ou bio-qumicos. Existe uma coisa chamada mercado. Querer mud-lo j insani-dade.
Cotas para bacharis
Segundo resoluo aprovada pelo Conselho Universitrio (CONSUNI), dentro de trs anos, no mnimo 20% das vagas de cada curso regular sero reservadas para os concluintes dos BIs. Naomar explica que, a depender da demanda de alunos dos BIs por cursos tradicionais, seria feito um processo seletivo somente para esses bacharis a ser definido pela cmara de graduao.
Os problemas aparecem quando o prprio reitor e o diretor do IHAC reconhecem que grande parte dos alunos que cursam o BI de Sade tem inteno de estudar Medicina. Diante disto, a cota de 20% pode no ser su-ficiente. Temendo essa situao, o di-retor de Medicina, uma das unidades que no aderiu ao REUNI, alerta: quando entrarem os 20%, vai ha-ver um grupo que entrar na justia federal porque foi desprestigiado por isso ou aquilo e vai ser um caos.
Caso a cota exceda os 20%, a situao ficar ainda mais complica-da para quem planeja entrar pelo ves-tibular comum. Tavares Neto acres-centa ainda que a reserva de vagas injusta, porque vai favorecer um grupo de alunos com um diploma que no serve para nada na rea da Medicina em relao aos pr-vestibu-landos, que vo entrar em guerra civil por vagas.
Percebe-se que os problemas so muitos e, segundo o reitor, trata-se de um modelo em adaptao, plane-jado para os prximos anos. No h dvidas de que a expanso da univer-sidade uma necessidade social. Se o modelo que est sendo implantado o mais adequado e dar certo, so-mente o futuro dir.
Paula Amor
O reitor Naomar Almeida fala ao JF
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14Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
E o Instituto de Qumica pegou fogoIncndio coloca bombeiros em xeque e revela cultura do improviso
gabriela vaSConCelloSlivia Montenegro
O incndio ocorrido na tarde do dia 21 de maro no Insti-tuto de Qumica da Univer-sidade Federal da Bahia no destruiu apenas os laboratrios da unidade, equipados ao longo de dcadas com toda a sorte de dificuldades. Alm do prejuzo causado a centenas de alunos do prprio instituto, e dos cursos de graduao e ps de diversas unidades das reas de cincias exatas, biolgicas e de sade da universidade, o episdio deixou chamuscada a performance do Corpo de Bombeiros de Salvador e serviu de alerta para combater uma prtica comum para driblar a falta de infra-estrutura e manuteno de ins-
talaes de prdios pblicos: o jei-tinho e a cultura do improviso.
O edifcio, construdo h cerca de quatro dcadas, estava longe de ter estrutura suficiente para a incor-porao, ao longo do tempo, de cen-tenas de equipamentos sofisticados, de alta tecnologia e demandantes de consumo de energia em nveis muito acima do que se considera convencional. Neste contexto, o incndio envolve uma cadeia de prticas e cenrios que, lentamente, foram desenhando silenciosamente um desfecho que, por muito pouco, no se constituiu em uma tragdia maior.
Livia Montenegro
Professores e estudantes recolhem o que sobrou do incndio
nelSon oliveiraverena ParanhoS
Prejuzos
As cifras dos prejuzos, ora-dos na casa dos milhes, am-plamente divulgadas na imprensa no passam de especulaes. A reitoria afirmou que ainda no tem como contabiliz-los, mas deve fazer isso em tempo hbil para que a reconstruo comece nos prximos meses. Com esse intuito, o ministro da Cincia e Tecnologia, Srgio Rezende, pe-diu pessoalmente aos professores e diretores presentes, durante visi-ta ao instituto, que produzissem relatrios relacionando todos os prejuzos.
Dirceu Martins, diretor do Instituto de Qumica, revelou que a avaliao dos prejuzos vai
ser feita pelos coordenadores de laboratrios, atravs do sistema SISLAB, que registra as pesquisas cadastradas e os materiais utili-zados. Os pesquisadores tero que comprovar a compra de ma-teriais que no constam no siste-ma atravs de notas fiscais. Caso tenham sido queimadas, tero que pedir as cpias aos fornece-dores. Martins destacou ainda que, do universo de cerca de trs mil alunos que freqentavam o Instituto, no foram prejudicados somente alunos de Qumica, mas tambm dos cursos de Farmcia, Engenharia Qumica e Nutrio, de graduao, iniciao cientfica e ps-graduao.
Chuva cida
Apesar de o incndio ter atingido nove laboratrios do quinto an-dar, outras reas do prdio tambm foram prejudicadas. Segundo o pro-fessor Silvio Cunha, professor do Departamento de Qumica Orgnica, a gua usada para tentar apagar o fogo e a alta temperatura podem ter comprometido aparelhos nos ou-tros andares. A professora Cristina Quintela, coordenadora do Lablaser explicou que a reao entre as cinzas e a gua tem efeito semelhante ao da chuva cida, e pode destruir os equipamentos: se forem afetados, os equipamentos podem resistir por alguns dias, mas no semanas ou me-ses. Por isso, a professora planejava, assim que a entrada dos professores fosse liberada no prdio (o que acon-teceu na quarta-feira, 25), retirar os equipamentos e, com a ajuda de um tcnico, verificar quais ainda funcio-navam. Para guardar a memria das pesquisas, gravariam os contedos dos discos rgidos e entregariam aos seus respectivos donos.
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CIDADE
E o Instituto de Qumica pegou fogoIncndio coloca bombeiros em xeque e revela cultura do improviso
Nelson Oliveira
IQ permanece interditado aps incndio
Pesquisas perdidas
Os nove laboratrios incendia-dos eram especializados em catlise, processo que acelera as reaes qumicas e proporciona a progresso das pesquisas. Por isso, eram considerados os mais impor-tantes de toda a unidade. Sete deles eram dedicados apenas para a ps-graduao e concentravam toda a pesquisa de ponta realizada no pr-dio. A perda dos laboratrios deve desacelerar a produo acadmica dos estudantes. Segundo a profes-sora Cristina um tero dos artigos cientficos produzidos anualmente na Bahia so oriundos da facul-dade.
Parte dos professores afirmou que alguns experimentos podero nunca mais ser refeitos. Nesse sen-tido, Silvio Cunha aponta que a extenso da perda cientfica in-calculvel. A memria do experi-mento, o caderno de laboratrio, todas as anotaes foram queima-das. Ser necessrio refazer tudo, desde o incio. Em uma estimativa imprecisa, imagino que para voltar-mos ao estgio em que estvamos vamos demorar cerca de cinco a dez anos.
Por outro lado, Emerson Sales, um dos professores do departa-mento de Fsico-Qumica prejudi-cados, aponta que os prejuzos no
foram maiores porque muitas coi-sas j esto publicadas e difundi-das. O prejuzo acomete os pro-jetos que estavam em curso agora. Alguns dos meus orientandos passavam dois anos fazendo uma reao de catalisao, lamenta.
Raigenes da Paz Fiuza, que vai defender sua dissertao de mes-trado em abril, um dos alunos que teve parte de sua pesquisa perdida. Ele conta que perdeu parte dos materiais da pesquisa e no vai atingir o objetivo espera-do, mas de qualquer forma darei uma boa contribuio cientfica, diz. O aluno de ps-graduao foi o terceiro a chegar ao laboratrio onde o incndio comeou e aju-dou na evacuao do prdio, que tinha cerca de dez pessoas.
Bolsas-sanduche
Uma das provveis medidas anunciadas pelo minis-tro Srgio Rezende a criao de bolsas-sanduche para mestrado e doutorado. A deciso, de carter emer-gencial, deve ser tomada em parceria com as agncias reguladoras, CAPES e CNPQ, para que os estudantes possam concluir as pesquisas em outras instituies de ps-graduao nacionais. A pesquisa no est perdida. O mais importante o conhecimento que fica com cada um. Este um momento para fazer intercmbios, disse o ministro.
Estrutura precria
Desde sua construo, em 1971, o prdio do IQ nun-ca passou por grandes reformas e, entre outros problemas, tem a fiao eltrica visvel em alguns pontos. Cristina Quintella, que juntamente com o professor Jorge Davi arrombou a porta do Laboratrio 519 na tentativa de apagar o fogo, denuncia que as paredes dos laboratrios incen-diados eram divisrias de frmi-ca, material inadequado para um laboratrio que abriga produtos inflamveis.
Segundo Lafaiete Almeida Cardoso, professor do Depar-tamento de Qumica Orgnica, um edifcio horizontal seria ideal para o Instituto: um prdio de no mximo dois pavimentos e estru-tura que comportasse motores
mais potentes, com fcil acesso e deslocamento. Essa discusso vinha acontecendo h dois anos, o novo modelo j tinha sido apro-vado, disse.
De acordo com Antonio Reis Cerqueira, mais conhecido como Reizinho, funcionrio do Instituto h quarenta anos, os laboratri-os passavam por manutenes, mas a estrutura do edifcio estava decadente. Chegou a esse estado porque o prdio foi construdo para atender a uma demanda de aproxi-madamente dez anos e, quatro d-cadas depois, ainda tem as mesmas estruturas, denuncia com indig-nao. Para ele, o patrimnio pbli-co vem sendo tratado com descaso e o ocorrido serve de exemplo para que as autoridades, a partir de en-to, passem a preserv-lo.
Chegou a esse estado porque o prdio foi construdo para atender a uma demanda de aproximadamente dez anos e, quatro dcadas depois, ainda tem as mesmas estruturas
Antonio Reis Cerqueira (Reizinho)
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Verbas Federais
O ministro Srgio Rezende, em visita feita ao IQ no dia 24 de maro, prometeu ajuda para a reto-mada das pesquisas e recuperao do prdio. Segundo ele, o MCT e-xercer papel de articulador entre as entidades subordinadas ao minis-trio, alm de Petrobras e Eletro-brs. Apesar da crise econmica internacional, ns temos recursos para investir na rea. Nesta hora, no tenho dvidas que no vai fal-tar apoio e solidariedade do presi-dente Lula, afirmou o ministro. Alm do apoio do MCT, a recons-truo do Instituto tambm rece-ber apoio do Ministrio da Edu-cao. A verba do REUNI ser usada para essa emergncia. Agora hora de reconstruir, disse o rei-tor da UFBA, Naomar de Almeida Filho. Dirceu Martins, diretor do IQ, acrescenta que importante tambm buscar apoio da bancada baiana no Congresso.
Segurana
Para Dirceu Martins, a segu-rana nos prdios da universi-dade tem que ser revista. Vamos repor os equipamentos perdidos e construir prdios com normas de qualidade e segurana, afirma. O professor Emerson Sales tambm defende que esta questo deve ser repensada, pois o prdio no tinha itens bsicos de segurana, como hidrantes. Na opinio de Reizinho, cada unidade deveria ter um en-genheiro de segurana para veri-ficar o crescimento dos institutos e adequar as necessidades dos cursos s instalaes.
O professor do Departamento de Qumica Orgnica, Silvio Cu-nha, contesta as especulaes de que os alunos no so prepara-dos para agir diante de incndios. Segundo ele, existe uma preo-cupao no Instituto relacionada
Cultura do improviso
Segundo o diretor do Ins-tituto, muitos professores comeavam projetos de pesqui-sa sem a autorizao do Depar-tamento. Martins afirma que esses professores instalavam novos equipamentos sem se preocupar com a possibilidade de sobrecarga no sistema eltri-co e contratavam empresas pri-vadas para realizar as instalaes por conta prpria. Nossa es-trutura estava ade-quada para a demanda atual, mas todos os dias os pesquisadores recebem novos aparelhos, atravs dos projetos que enviam para o CNPQ, assegura Dirceu Mar-tins. O diretor no sabe afirmar a quantidade de equipamentos que existia no prdio. No por omisso, mas porque no h um senso cooperativo. Todo mundo quer ser chefe de si prprio, complementa.
Desde 2007, foram feitas duas solicitaes para que a prefeitura do campus avaliasse a estrutura do prdio e as instalaes eltricas. So-mente a segunda foi atendida, mas apenas a situao estrutural do pr-dio foi avaliada.
Durante as semanas anteriores ao incndio, ocorreram sucessivas quedas de energia em todo o cam-pus de Ondina. Segundo o diretor, isso pode ter tido alguma relao com o incidente. Quando ocorrem quedas de energia, os equipamentos bifsicos ficam em uma fase s, o que faz com que eles desliguem e
queimem, ou fique ligado e ainda aquecendo. Neste segundo caso h um risco muito grande de aconteci-mentos como esse.
De acordo com a professora Cristina Quintella, por volta das nove da manh de sbado (dia do incndio) faltou luz por cerca de dez minutos. Ela no verificou se apenas uma fase estava ligada, espe-rou a energia retornar. No sei se as faltas de luz tm relao com o incndio, mas quando descobrimos o foco no laboratrio, o fogo pare-cia ter iniciado mais cedo, consi-dera.
segurana e os estudantes so instrudos a controlar pequenos incndios com extintores de p qumico. Na semana seguinte ao incndio, teramos um treinamento ministrado pelos bombeiros para os graduandos, exemplifica. Alm disso, o professor afirma que cada andar tem uma pessoa responsvel, treinada em brigada de incndio.
Andr Barreto, estudante do 5 semestre da graduao, confirma que desde o incio do curso os alu-nos so preparados para lidar com incidentes. Cunha acredita que, se o incndio tivesse ocorrido du-rante a semana, os prprios pro-fessores, estudantes de graduao e ps-graduao que estivessem no prdio, conseguiriam debel-lo, pois provavelmente as chamas te-riam sido notadas antes de tomar propores extensivas.
Nelson O
liveira
Ministro e Reitor em visita ao IQ
O corpo de bombeiros no estava preparado para lidar com gases explosivos e material inflamvelEmerson Sales
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Bombeiros
O corpo de bombeiros chegou ao local do incndio cerca de meia hora depois do incio, mas de acordo com o professor Sales, sua atuao no foi satisfatria. Alm da falta de hidrantes no campus, os bombeiros no tinham mscaras, nem qualquer outro equipamento que auxiliasse no combate a incn-dios dessa proporo. O corpo de bombeiros no estava preparado para lidar com gases explosivos e material inflamvel. O coronel res-ponsvel pela corporao no quis admitir que no tinha condies de apagar o incndio e mandou a brigada da Petrobras, que estava a caminho, voltar. Existem questes burocrticas nesses casos, precis-vamos de uma solicitao oficial dos Bombeiros.
O professor, que preferiu no revelar o nome do coronel respon-svel pela ordem, afirmou ainda que a ajuda da brigada de incndio do Plo Petroqumico de Camaari (que s chegou ao local por volta das 21h), foi fundamental para de-belar o incndio: No podemos chegar de peito aberto e enfrentar o fogo, ressalta Sales. Segundo um segurana do Instituto, com a chegada da brigada do Plo, em menos de uma hora o incndio foi controlado.
Aulas Tericas e Prticas
No que tange a realizao das aulas prticas da ps-graduao, a diretoria do IQ ava-lia buscar convnios com outras instituies de ensino do Brasil. J em relao graduao, Maria Luiza Corra, vice-diretora do IQ, afirma que as aulas tericas continuam acontecendo, porque so realizadas no Pavilho de Aulas da Federao (PAF). J as aulas prticas da graduao es-
to sendo organizadas por uma comisso designada pelo Dire-tor, que tenta concentr-las no campus de Ondina, fazendo uso dos laboratrios de Geocincias, Farmcia, Biologia, Politcnica e Fsica. A rea 1 e a Unifacs ofereceram os laboratrios, mas, para evitar o deslocamento dos alunos, estamos tentando reunir as prticas aqui mesmo, afirma Maria Luiza.
Nel
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Diretor do IQ e o funcionrio Reizinho lamentam o incndio
Alunos
Desde o ocorrido, assem-bleias vem sendo realiza-das para discutir o futuro das aulas prticas. Brbara Pinhei-ro, aluna do 5 semestre de Li-cenciatura em Qumica, afirma que h bastante discusso, en-tretanto no se chega a um de-nominador comum. Pensam muito na ps e em pesquisas, mas os alunos de graduao fi-cam de lado, critica Brbara. Segundo ela, a organizao de
outros laboratrios depende da mobilizao direta de cada turma, envolvendo professores e alunos.
De acordo com a aluna do 7 semestre de Bacharelado em Qumica, Fabiany Cruz, a avaliao prtica vai ser preju-dicada, apesar dos professores estarem correndo atrs de outros laboratrios. A expec-tativa que as aulas continuem em outros locais, mas depende da transferncia de equipamen-tos. No simples. Para ela, o contedo no vai ser to preju-dicado, pois o curso tambm tem grande demanda terica. Maria Luiza reconhece que, de alguma forma, as aulas sero prejudicadas: estamos tentan-do minimizar os prejuzos. Va-mos fazer de tudo para no es-tender o semestre.
BibliotecaA biblioteca do Instituto, que conta com o terceiro maior acervo sobre qumica do Brasil, tambm est localizada no quinto andar, mas no foi incendiada, por estar situada na parte de trs do prdio e ter pare-des de alvenaria. No entanto, sofreu ao do calor, fuligem e gua o que pode abreviar a vida til dos livros.
Solidariedade
Nesse momento de crise grande a solidariedade re-cebida. Segundo Emerson Sales, professores e alunos de outras universidades do Brasil inteiro tem ofertado ajuda. O telefone no pra de tocar. Ele informou ainda que a UNIFACS se solidarizou, disponi-bilizando seus quatro laboratrios de ps-graduao destinados catlise. Luis Pontes, Pr-reitor de Ps-graduao e Pesquisa da facul-dade, declarou que os laboratrios da universidade encontram-se disposio dos professores e alu-nos que tiveram pesquisas preju-dicadas. Para o ministro Srgio Rezende, este um momento em que professores e estudantes de-vem se unir. Toda a universidade deve tirar lies do acontecido e juntar foras. Vamos repetir o que tem dito o presidente Lula: vamos enfrentar a crise de frente.
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CIDADE
Ser negro est na moda?A recorrncia pela imagem de mulheres negras e campanhas publicitrias tem sido cada vez mais forte
luS Fernando liSboaMariana alMoFrey
Bancos, empresas diversas, grifes e milhares de propa-gandas eleitorais se apropri-aram da imagem do negro e no que-rem mais largar. Ao abrir uma revista, ou ligar televiso, principalmente na mdia local, comum ver mulheres negras protagonizando campanhas publicitrias de todo tipo. As propa-gandas do Governo do Estado so as que mais apresentam porta-vozes afro-descendentes. Geralmente, mu-lheres negras aparecem para falar so-bre as ltimas conquistas do governo, e para apresentar os ltimos nmeros de desenvolvimento. J as revistas
locais penduram em meninas negras acessrios que variam entre jias requintadas e adornos associados cultura afro-baiana. O discurso do apelo mul-ticulturalista e tnico tem sido utilizado de modo exaustivo.
bom pra venderTrs horas da tarde
de um domingo no Salvador Shopping, o que concentra a maior quantidade de lojas caras da cidade. Ob-servando-se uma delas, durante uma hora, o que se v so peruas e socialites num intenso frenesi. Por coincidn-cia ou no, todas elas so brancas. O fen-meno no isolado. Em outras grifes, o paradoxo ainda mais evidente: negras so vistas em editoriais e
campanhas publicitrias, apesar de no serem parte significativa do res-pectivo pblico-consumidor.
Programas e publicaes locais especializados em moda no dis-pensam a escolha de modelos afro-descendentes. De acordo com Ilana Strozenberg, professora da Escola de Comunicao da UFRJ, as grifes caras no buscam atrair o pblico negro, apenas recorrem s modelos negras para atingir o pblico que tem em dinheiro para comprar as peas, que quer se identificar com uma viso contempornea do mundo. Outros especialistas avaliam a mercantiliza-o da imagem do negro. De acordo com Antnia Garcia, pesquisadora do NEIM (Ncleo de Estudos In-terdisciplinares sobre a Mulher da
UFBA), a sociedade tem questionado os padres de beleza difundidos at hoje e, mesmo com mulheres negras aparecendo em propagandas, ainda grande a desigualdade racial no Brasil. Todos sabem que hoje esta negra considerada to linda, mas antes no era to linda assim, ressalta Antnia. Essa comercializao da imagem traz em si um processo contraditrio: imagine um banco, que o smbolo maior do capitalismo, utilizando a imagem negra. Ele no a utiliza pelo fato de acreditar que o negro igual ao branco, alerta Antnia, mas para efeito de marketing inclusivo que no se verifica nas relaes sociais.
chique e modernoA imagem do negro acrescenta
aos editoriais de moda o ideal de modernidade e de responsabilidade social. As grifes de luxo lucram com a imagem do politicamente correto e, com isso, agregam valor a sua marca, atraindo consumidoras endinheira-das. O negro realmente vende, mas vende para brancos.
As marcas ento absorvem esse padro e propagam a imagem das negras porque agora est interessante para a sociedade. Antnia Garcia es-clarece que eles vendem essa ima-gem porque fica bem na fita. Ou seja, com a inteno de agregar valores atravs da diferena e da concepo de que a beleza tem vrias cores, de que pode ser encontrada em vrios corpos, dando assim a idia de mo-dernidade, sofisticao e bom gosto, como afirma Ilana Stronzerberg.
Em Salvador, a demanda pelas modelos negras grande. De acor-do com Amaury Oliveira, booker da agncia de modelos Bi Produes, os clientes de fora, em geral, quando procuram modelos baianos, querem pessoas que tenham o perfil local, ou seja, negros. Por conta disso, mu-lheres e homens negros compem
50% do casting da sua agncia.A cultura afro e a imagem das
meninas negras so utilizadas como produto turstico, mas elas no se beneficiam disso. No vai ter um retorno coletivo, no faz parte desse padro, garante Antnia. As que se destacam so as negras mais vendveis, como pondera Dbora Monteiro, modelo e estudante de Publicidade. Pelo perfil do cliente a gente sabe o que ele quer: aquelas com o nariz mais fino e o cabelo me-nos cacheado, explica Dbora.
S na vitrineDe acordo com Antnia, no
podemos cair na iluso de que os preconceitos esto resolvidos pelo fato de termos negros e negras na mdia. Temos um cotidiano extrema-mente racista e discriminador em to-dos os espaos da sociedade. Mari-na Ferreira, integrante da Did, conta que a mdia recorre cada vez mais banda para mostrar a beleza negra. Um exemplo o editorial de moda publicado na edio de 28 de junho de 2008 da revista MUITO, no qual outra integrante da banda posa com jias, que chegam a custar mais de 30 mil reais. Todo mundo v a gente tocando com um sorriso no rosto e os cabelos estilosos, mas no sabe o que se passa por trs disso. Muitas vezes no temos nem dinheiro de transporte para ir s apresentaes, afirma Marina.
Para Dbora, as modelos negras baianas no devem se sentir melhor que ningum. iluso achar que modelo ganha muito, principalmente na Bahia. Aqui pior que nos outros estados, os modelos baianos no so valorizados. Pra qu deixar o sucesso subir a cabea e continuar morando no mesmo bairro?, questiona a modelo. ilusrio se deslumbrar e continuar vivendo a mesma vida de sempre.
Reproduo
Dbora Monteiro, modelo e estudante de publicidade, na campanha contra o Cncer de Mama
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19Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
O (Sub) Mundo no PelCentro de cultura internacional leva diversidade ao centro histrico de Salvador
raza tourinhorebeCa CaldaS
Em um casaro histrico amarelo, localizado numa estreita rua do Pelourinho, encontra-se o Centro Cultural do Bispo (CCB). Trata-se de um lugar singular, que abriga viajantes de diversos lugares, sendo em sua maioria artistas. Ponto de inter-cmbio cultural, uma alternativa a homogeneidade de cultura en-contrada no Centro Histrico.
Ideia central O espao foi fundado pelo fil-
sofo noruegus Reidar Kgelawp, 39, h pouco mais de dois anos. Ele veio a primeira vez ao Brasil fazer um curso de pintura em Cu-ritiba, cidade natal de um primo distante. Ao viajar pelo pas, viu no Centro Histrico de Salvador o lugar propcio para realizar uma antiga ideia sua: criar um ponto de encontro internacional de cultura.
Priorizando a diversidade de
forma acessvel, Rei-dar critica a tendn-cia predominante no Pelourinho, onde, segun-do ele, h um comrcio da cultura. muito feio, o nosso objetivo no o lucro, sustenta. E segue afirmando que no h espao para outras cul-turas no local, alm da afrodescedente.
No entanto, segundo Nattle Santiago, fun-cionria da Saltur, em-presa de turismo de Sal-vador, somente cinco de cada 100 turistas procuram atividades cul-turais tidas como alter-
nativas. Eles vm em busca do tradicional mesmo, assinala.
Singular e plural A palavra chave do Centro
a diversidade, afirma a paulista de 22 anos Daniela Barreto. Di-versidade de pases, culturas, ln-guas. Os hspedes do CCB so oriundos de diversas partes do mundo, chegam primeiro para se instalar e logo passam a trabalhar na organizao, discutir filosofias e expor sua arte. Nesse ambiente, a comunicao se d em portu-gus, incentivando os estrangeiros a dominarem a lngua.
O lugar querido pelos hs-pedes, que possuem motivaes diversas para estar l. A francesa Annick Gerin, 23, que j viajou pela Europa e pelas Amricas, expressa grande admirao pela cultura brasileira, principalmente pelas danas. Instalada no espao pela segunda vez, destaca que no existe muitos lugares como esse no mundo. J Daniela Barreto veio Bahia fugir do estresse de So Paulo e da presso da famlia,
quanto aprovao no vestibu-lar. Sua estadia no Centro j dura mais de um ano, e ainda no sabe quando vai voltar. Aqui, voc tem que se ligar, porque seno, no sai nunca. Entre eles, h um clima de trocas e cooperao. como se fosse uma famlia destaca Da-niel Frana, msico percussionis-ta, natural de Euclides da Cunha.
Reidar Kgelawp define o perfil dos hspedes como pessoas que tm a mente aberta e gostam de liberdade. Exemplo disso so os msicos do grupo uruguaio Cuar-teto Ricacosa. Dois deles, Camilo Vega e Martin Teixeira, ambos violonistas de 26 anos, disseram que h muito desejavam visitar a Bahia. Admiradores da msica a-frodescendente, querem conhecer a cultura e se apresentar por aqui. No entanto, antes de chegar, no havia nenhum show marcado. tudo feito na improvisao, se mantm atravs da venda de CDs e passando o chapu.
Apesar de abrigar hspedes, o Centro no considerado al-bergue, j que os moradores de-vem estar alinhados com o per-fil do lugar. mais como uma comunidade, define Reidar. Se-gundo ele, os hspedes pagam o quanto podem, at com trabalho, mas o site da instituio informa que uma temporada na casa custa cerca de US$ 600. J a situao le-gal dos estrangeiros, no to im-portante para a administrao do lugar. Isso eles tm que acertar com a Polcia Federal, descon-versa o fundador.
No mundo da lua...O Centro Cultural do Bispo
representado por uma lua, smbo-
lo feminino que inspira sensibili-dade e criatividade. Neste sentido, Reidar salienta que no preciso ser um artista consagrado, o im-portante desenvolver a imagina-o. Isso se comprova nas festas do Centro, onde h apresentaes musicais de estilos diferenciados e, s vezes exticos (como tribal). Pode at haver apresentaes de pouca qualidade, mas o que se preza a diversificao. Melhor que seja assim do que ser um sam-ba (msica comercial), por exem-plo, afirma o noruegus.
As festas acontecem geral-mente aos sbados e, alm de promover o intercmbio cultural, possibilitam a sustentabilidade do centro. O pblico destes eventos so moradores de Salvador e tu-ristas do Pelourinho, que sabem das festas atravs de panfletos produzidos pelos hspedes e pela divulgao boca-a-boca. O espao serve tambm para oferecer cur-sos de dana populao. Os pro-fessores so profissionais de Sal-vador, que pagam ao centro 25% do valor arrecadado nas aulas.
Comunidade da diferena. desta forma que se pode definir o Centro Cultural do Bispo, eviden-ciando que o Pelourinho pode, ao mesmo tempo, ser um lugar onde a cultura baiana se mostra ao mundo e a cultura do mundo se apresenta para a Bahia.
Rebeca Caldas
Atrs da fachada tm um mundo
http://www.centroculturaldobispo.com/
No s vender dana afro, capoeira, percusso
Reidar Kgelawp
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20Jornal Laboratrio - FACOM/UFBA - Maio de 2009
CIDADE
O que que a Bahia no tem?O que os turistas esperam diferente do que encontram quando chegam ao Estado
gabriela vaSConCelloSlivia Montenegro
O turismo da Bahia tem sido difundido pela Bahiatursa responsvel pela coordenao, exe-cuo de polticas de promoo e de-senvolvimento do turismo no Estado e a Secretaria do Turismo (Setur) de forma vigorosa nos ltimos tem-pos, com uma fora publicitria que vende a imagem de festas de grande destaque no cenrio baiano, como o Carnaval e recentemente o So Joo.
Esta propaganda um dos fa-tores que mais influncia o turista na hora de escolher o seu roteiro de viagem, como mostra o resultado de uma pesquisa, realizada em julho de 2008, pela Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas (Fipe), onde se verificou que 80% dos visitantes escolhem seus destinos atravs da in-ternet sites das cidades, de agncias de turismo, comunidades em sites de relacionamentos, etc.
Na Bahia, os locais mais visitados so: Salvador, Porto Seguro, Praia do Forte, Costa do Saupe, Morro de So Paulo, entre outros. De acordo com o superintendente da ABAV-BA (Associao Brasileira de agn-cias de viagem), Cludio Almeida, Salvador a terceira cidade que mais recebe turistas no Brasil. E, apesar deste dado, a cidade possui menos leitos aproximadamente 33.000 acomodaes para os visitantes do que, por exemplo, Porto Seguro, uma cidade menor, que possui mais de 40.000 leitos.
O perfil dos turistas que viajam para Salvador e para os outros locais do estado diferente em diversos as-pectos. Salvador recebe mais turistas interessados em viagens de negcio do que em lazer, como ocorre em ou-tros plos tursticos. O poder aquisi-tivo do visitante de Arraial dAjuda,
Trancoso, Praia do Forte, Costa do Saupe, Porto Seguro e Morro de So Paulo maior que aqueles que fre-quentam a capital baiana.
Vende-se, sim senhorEm 2008 foi intensificada uma
campanha para divulgar o So Joo da Bahia, mas mesmo assim a maior de-manda de turistas se voltou no para os municpios que realizam os tpicos festejos juninos, e sim para aqueles j conhecidos e frequentados durante o vero, como demonstra os dados de uma grande agnc