Jornal da Vila Tibério - n01 - outubro de 2005

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1 Outubro de 2005 Ribeirão Preto, Outubro de 2005 - ano I - nº 1 Saraiva: 42 anos de dedicação A revitalização da “Coração de Maria” O Botafogo da Vila Tibério

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Jornal da Vila Tibério, bairro da zona oeste de Ribeirão Preto, tiragem de 10 mil exemplares com circulação tambéms na Vila Amélia, Jardim Santa Luzia, Jardim Antártica, além de parte do Sumarezinho e Monte Alegre

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1Outubro de 2005

Ribeirão Preto, Outubro de 2005 - ano I - nº 1

Saraiva: 42 anosde dedicação

A revitalização da“Coração de Maria”

O Botafogo daVila Tibério

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2 Outubro de 2005

Feitiço da Vila Edson José de Senne (Edinho)

Em meados da década de 1960,quando nós chegamos a RibeirãoPreto o saudoso Geraldo Gusmão– notável public relations da Imo-biliária Bandeirantes – estava pre-parando uma equipe de vendedo-res para o lançamento de um lotea-mento no bairro Sumarezinho.

A primeira orientação que oGegê deu aos corretores era a deque nós encontraríamos algumaspessoas, de certa forma, resisten-tes com relação a investimentos naVila Tibério, local pouco simpáticoa uma parcela de ribeirão-pretanos.Mas que por outro lado, em com-pensação, os que gostavam da Vilagostavam apaixonadamente e queseria fácil negociar com eles. Nãodeu outra. Curiosamente, um dosprimeiros clientes que nós visita-mos foi o Silva, antigo centro-avan-te do Botafogo, que depois brilhouno Flamengo, no Corinthians e emalguns clubes do exterior. Quandoeste viu no “mapa”, onde ficava oloteamento, não hesitou em esco-lher e comprar dois terrenos dizen-do, todo sorridente, que ele morriade amores por dois lugares no mun-

do: o Rio de Janeiro e a Vila Tibério.Deve ter sido a partir dessa épo-

ca que nós passamos a observaros encantos e os feitiços caracte-rísticos da “Vila”. A primeira coisaque notamos, com interesse, é queos terrenos das casas eram enor-mes e em quase todos os quintaisera comum encontrar-se uma pe-quena horta, um pé de limão cravo,algumas laranjeiras e um ou doispés de jabuticaba. Depois, fascina-dos, observamos que era difícil en-contrar uma residência que não ti-vesse um pé de manacá florindo nojardim. Nosso coração roceiro eprovinciano começou a se engala-nar.

Uma outra característica regis-trada foi que, à noitinha e até altashoras, o pessoal da Vila costumavaficar sentado nas calçadas prosean-do animadamente e contando his-tórias e fofocas que animavam asrodas de amigos e vizinhos do bair-ro. Nas noites mais frias, muitasvezes eles chegavam a fazer umafogueirinha com gravetos e, senta-dos à sua volta, desfrutavam osaconchegos da prosa e da amiza-de. Um fato curioso é que nem mes-mo as famosas novelas da TV con-

Informativo mensal com circulação na Vila Tibério.Tiragem: 5 mil exemplares

E-mail: [email protected]: 3966-1829 / 3610-4890

Editores:Fernando Braga - MTb 11.575 / Inês Zaparolli - MTb 38.923

Impresso na Gráfica Verdade Editora Ltda.Rua Coronel Camisão, 1184 - Ribeirão Preto - SP

Espaço do Leitor

No processo de criaçãodo jornal ouvimos as opiniõesde diversas pessoas sobrecomo é morar na Vila Tibé-rio, o que tem de bom, o quefalta, qual seu maior atrativo,o que precisa melhorar. Den-tre as várias queixas que se-rão abordadas futuramente,mencionou-se a falta de um

espaço para reunir pessoasque querem aprender ou en-sinar alguma atividade. Cro-chê, tricô, pintura em tecido,artesanato, corte e costura ebordado trazem satisfaçãopessoal para quem faz e tam-bém pode ser um complemen-to do salário. Onde podere-mos conseguir esse espaço?

Área cultural e de lazerPor recomendação médica, estética ou simplesmente so-

cial, as caminhadas no começo ou final do dia transformaramas ruas e avenidas em pistas.

Na Vila fica difícil seguir as orientações, as ruas de trânsi-to intenso, calçadas mal cuidadas e medo de assaltos deixamboa parte dos moradores em casa. Não existe uma área cul-tural e de lazer onde as pessoas possam se reunir, caminhar,expor seus trabalhos, ficar mais perto do verde e conversar.

EditorialPergunta que surgem quan-

do aparece um jornal: quem estápor trás e a que interesses estãoservindo ou será apenas umamaneira de ganhar dinheiro?

Foram várias as circunstân-cias que nos levaram a lançaresse periódico.

Somos uma parceria queteve sua infância na Vila Tibé-rio e mesmo mudando para ou-tros bairros, as raízes ficarampor aqui.

A Vila é um dos poucosbairros de Ribeirão que saberesguardar suas tradições eseus costumes. Aqui o vizinhonão é um estranho, a calçada ea rua são extensões da casa,por isso devem ser conserva-das limpas; o cafezinho é ofe-recido a todas as visitas e osapelidos de infância conti-nuam por toda vida. As cadei-ras na calçada já são raras de-vido aos furtos e à televisãoque levou as pessoas paradentro de casa. Seus habitan-tes orgulham-se de sua histó-ria e estão sempre prontos arememorar o passado, quandolhe pedem para contar algumfato.

Nesta empreitada quere-mos fazer um jornal do bairro enão um jornal de bairro, semcompromisso com a comunida-de. Não servimos a nenhumpoder político ou religioso e es-tamos abertos a todos quequeiram participar.

Divulgar o comércio e osprestadores de serviço, relataros problemas do bairro e, prin-cipalmente, ser um canal poronde todos possam se expres-sar e serem ouvidos.

seguiam tirar o povo das calçadas.O enredo de suas próprias vivên-cias pareciam mais fascinantes.

Passamos a observar, também,que os moradores da Vila, ao con-trário de outros bairros, não de-monstravam ambições exibicionis-tas. Nos pareceu sempre um povosimples, alegre e muito festivo. Da-queles que comemoram com folia efogos as vitórias de seus clubes, odia da padroeira ou qualquer outropequeno acontecimento. Todos pa-recendo estar de bem com a vida econtentes com as dádivas que estalhes proporciona. Pequenos comer-ciantes, bancários, ferroviários, vi-ajantes comerciais, funcionários daAntártica, funcionários públicos,feirantes, ninguém aparentementeatrelado a sonhos mirabolantes deostentação e riquezas.

As grandes emoções ou osgrandes momentos sempre ficaramconcentrados no futebol ou, de vezem quando, num outro espetáculoqualquer. Mas em suas tardesquentes nunca faltou um bom cho-pe e muita cerveja gelada. Agora oque nunca poderia faltar na Vila: umchurrasquinho domingueiro, umaboa pizza napolitana, e aquelas su-culentas macarronadas da mama.

Curiosamente, o bairro nunca setornaria um setor chique, repleto demansões e prédios suntuosos.Manteria, ao longo dos anos, ca-racterísticas mais simples e tradici-onais, mais ao gosto de sua classemédia ou classe média baixa.

Por tudo isso, um vínculo cadavez mais forte foi nos unindo. Derepente, notamos que a maioria denossos amigos mais chegados ti-nha também algum tipo de envolvi-

mento com a Vila. Foi brotando daía convicção de que ali era o lugaronde nós também haveríamos demorar. Estávamos já, de certa for-ma, enfeitiçados por sua magia.

E a Vila Tibério da CervejariaAntártica, do Caneca de Prata, daEstação Mogiana, do Colégio San-tos Dumont, do Estádio Luiz Perei-ra, da Via do Café, do Bar do Vicen-te, da USP, do Hospital das Clíni-cas, da Faculdade de Medicina, doPonto Chic, da Praça Coração deMaria, da Câmara Municipal, daRodoviária, da Igreja Nª Sª do Ro-sário, das quermesses de SantaLuzia, da Costelaria 1212, da Canti-na da Elaine e tantos outros encan-tos novos e antigos, nos envolveu,ao longo de quase trinta anos deconvivência. Cada vez mais fasci-nados por esta beleza rude, incrus-tada no oeste de nossa querida Ri-beirão Preto.

A Vila é uma cidadeindependente,

Que tira samba mas não quertirar patente...

Nós te curtiremos sempre, que-rida Vila Tibério!

Mas não poderíamos deixar desaudar também os Campos Elíseos,a Vila Virgínia, o Jardim Paulista, oIpiranga, a Vila Seixas, o Alto doSumaré, a Ribeirânia e todos osoutros recantos da cidade.

Como diria Noel Rosa, a Vila nãoquer abafar ninguém! Só quer mos-trar que faz samba também!

* Educador, autor do livro“No Tempo dos Araçás Floridos”

Centro comunitário

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3Outubro de 2005

ADiretoria da ACI -Associação Comer-cial e Industrial daVila Tibério - está empenhada em recupe-

rar a praça Coração de Maria,que nos últimos tempos temafastado os moradores, devidoà presença de desocupados e aomau-cheiro proveniente dagrande quantidade de pombosque lá se instalaram.

No domingo, dia 25 de se-tembro, mesmo sob a chuva,Marinho Muraca, Nancy Ap-probato, José Luiz Bissoli, José

“Dia da Praça” pretende revitalizar a “Coração de Maria”Carlos Spanghero, Jair Fernan-des Cabrine, Sílvio César Ca-margo, Rose – Secretária daACI, Tânia Muraca e DorotéiaCastígio , presidente da Associ-ação de Moradores de Vila Ti-bério e Adjacências, e váriosvoluntários, munidos de pás, en-xadas, carriolas e rastelos reti-raram os galhos e as folhas se-cas, recolheram o lixo e lava-ram as alamedas da praça.

Na próxima etapa, estão pre-vistos o conserto e a pintura dosbancos, do playground, incluin-do a troca de areia, reparos no

piso e plantio de arbustos e flo-res.

O trabalho foi animado peloGrupo de Capoeira do MestreMonteiro com a presença deGaivota e Chumbinho.

Os voluntários e a ACI –Vila Tibério contaram com oapoio do Daerp, da Base Comu-nitária Móvel e da empresaLeão Leão, que enviou funcio-nários e material.

A ACI – Vila Tibério divul-gará a nova data para continui-dade dos serviços e conta coma colaboração de voluntários.

rias, supermercados, restaurantes,lanchonetes, médicos, dentistas,enfim um pouco de tudo para queseus moradores não precisem per-correr grandes distâncias.

A ACI – Associação Comerciale Industrial da Vila Tibério – foi cri-ada há três anos, numa reivindica-ção dos empresários que sentirama necessidade de uma distrital queatendesse aos interesses do bair-ro.

Em entrevista ao Jornal daVila, Marinho Muraca, presidenteda ACI - Vila Tibério, eleito em abrildeste ano, informou que o próximopasso é buscar a participação deempresas junto à Associação, se-jam micros, pequenas ou médias,mostrando a importância da atua-ção em conjunto.

Outra tarefa para a nova direto-ria é fazer o mapeamento das em-presas: localização, porte, tipo deatividade; conhecendo a área deatuação melhora o atendimento.

Na sede da ACI da Vila, o movi-mento deve aumentar. Já houve pa-lestras sobre Motivação e sobre aProposta da Lei Geral de Micro ePequena Empresa, projeção de fil-mes para a 3ª Idade, em ação con-junta com o Posto de Saúde da ruaGonçalves Dias. Segundo Muraca,“é preciso trazer a comunidade eseus representantes para conhecero papel que direção da ACI - VilaTibério pretende desempenhar etambém levar informações aos em-presários”.

O que poderia ser um aspectopositivo, a proximidade da Vila Ti-bério com o centro da cidade, tor-nou-se um pesadelo para os comer-ciantes que tentaram se instalar navila. Essa dependência do centrosó diminuiu com o deslocamentodo centro de compras para osshopping center e a mudança dehábitos de compras.

Foi a partir dessas transforma-ções que o comércio e os presta-dores de serviços resolveram seinstalar perto de seus consumido-res. As atividades econômicas naVila são bem diversificadas, aten-dendo principalmente os seus mo-radores com agências bancárias, lo-jas de roupas, calçados, presentes,material para construção, assistên-cia técnica, borracharia, oficinasmecânicas, marcenarias, serralhe-

Vila Tibério, um mercadopara consumo próprio

Marinho Muraca,presidente da distrital da ACI

A Vila Tibérioainda pode serconsiderada umbairro tranqüilo,em comparaçãocom outros bair-ros. É o que afirmao delegado do 3o

Distrito Policial naVila Tibério, dr.Cláudio José Otoboni. Para elehá somente um ponto crítico dedifícil resolução: a área que seestende do Parque EcológicoMaurílio Biagi, passa pela Rodo-viária, Pronto Socorro e PraçaSchmidt, chegando até o prédioda Cervejaria Antárctica. Esteespaço concentra pessoas comproblemas de alcoolismo, prosti-tuição e drogas. É o divisor daVila com o centro e via de acessopara os bairros da zona Oeste.

Prevenção ainda é a melhorforma de combate aos furtos

Na Vila Tibé-rio, o que deve serfeito é se prevenircada vez mais con-tra a violência quevem crescendoem toda a cidade.A tranqüilidadeoutrora desfruta-da cedeu espaço à

atenção redobrada. Ao sair decasa, mesmo que seja para ir atéa esquina, deve-se trancar oportão e fechar as janelas, nãousar jóias, mesmo de pequenovalor, não levar o dinheiro na mãoe evitar fazer grandes retiradasde agências bancárias, atitudesque atraem para pequenos fur-tos.

Infelizmente, os tempos desossego se foram, afirma o dr.Otoboni.

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4 Outubro de 2005

OBotafogo foi fundado ofi-cialmente no dia 12 deoutubro. Corria o ano de

1918 e na Vila Tibério havia trêstimes de futebol: o Ideal, o Ti-berense e o União Paulistano.Nas disputas contra as equipesda cidade a Vila muitas vezessaía perdendo, pois os craquese a torcida se dividiam.

Um grupo do Ideal propôs aformação de um único time, maisforte e com torcida numerosa.No primeiro encontro participa-ram os dirigentes FranciscoOranges, Pedro, José e JoãoAguiar e os jogadores Júlio Péde Ferro e Antônio Cardoso. Di-zem que no final de acalorada dis-cussão sem um nome para o timeum dos diretores declarou comraiva que botaria fogo nos docu-mentos e que encerraria por aí oprocesso de fusão. A ameaçateria servido de inspiração paranomear o novo time. Tambémpesava sobre a escolha ser oBotafogo do Rio um dos timesmais famosos do Brasil.

Foi com a ajuda dos mora-dores da Vila, dos funcionáriosda Cervejaria Antarctica e daCompanhia Mogiana de Estra-da de Ferro que foi comprado omaterial esportivo.

Já na primeira partida, emFranca, o Botafogo ganhou por1 a 0, mas foi em 1927 que otime sagrou-se Campeão do In-terior.

Em 1956, Centenário de Ri-beirão, o Botafogo foi o cam-peão da disputa na cidade; le-vou a Taça dos Invictos, em tro-féu concedido pelo jornal “AGazeta Esportiva”, com 19 par-

tidas sem derrota. E sua primeiragrande conquista, subir para aDivisão Especial, onde jogariacom os grandes times.

Com as vitórias no Campe-onato Paulista, o Botafogo so-nhava em conquistar outroscampos. Com uma boa equipee colaboradores que se dedica-vam totalmente ao clube, saiupara fazer a América.

Em 1962 foi ao Uruguai e àArgentina, onde disputou 14 jo-gos, venceu nove, empatou trêse perdeu dois. Quando a dele-gação chegou no aeroporto,teve desfile em carro de bom-

beiros e a Vila virou uma festa.Embalado com o sucesso da

campanha, dois anos mais tar-de, seguiu para a América Cen-tral, onde venceu 11 jogos e so-freu 3 derrotas. O time venceuo Torneio Pentagonal do Méxi-co. De “Pantera da Mogiana”passou a “Pantera das Améri-cas”.

O estádio Luís Pereira comsuas arquibancadas de madeirae a estrutura ultrapassada já nãoacomodava mais os torcedores.

Em um terreno amplo e defácil acesso, a opção foi a mu-dança para Ribeirânia, em 1968.

Hoje o Botafogo possui um dosmaiores estádios particulares dopaís, com capacidade para 50mil torcedores.

O “Luís Pereira” passou aser o Poliesportivo, com quadrasde vôlei, basquete, campo defutebol, piscinas e playground,freqüentado pelas famílias daVila Tibério e região.

Muitos torcedores acreditamque com a mudança o time per-deu sua alma aguerrida. No ve-lho Luís Pereira, os “times gran-des” tremiam ao entrar emcampo para enfrentar o Bota-fogo e sua apaixonada torcida.

O Botafogo da Vila TibérioO Botafogo viveu momentos de glória no velho “Luís Pereira” e mais do quea lembrança de times combativos, de várias épocas, fica a saudade de uma

torcida vibrante e de gente que fez do Botafogo seu idealDois bons momentos

do Botafogo:à esquerda, o time

vice-campeão em 1955,na foto com Oscar Berti,

Pavão, Wilsinho,Fonseca, Machado eNino; Tico, Amorim,

Brotero, Neca eFernando, quando

perdeu para aFerroviária na final esubiu no ano seguinte;

à direita, o time de1964 com Veríssimo,Expedito, Ditinho,

Berguinho, Carluccie Maciel; Zuíno,Alex, Antoninho,Adalberto e Gaze

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5Outubro de 2005

José Fernando Chiavenato *

Aquele sujeito alto, extremamente loiro,de passos largos e gestos extravagantes foimeu primeiro contato com o futebol. Tinhaeu a franzinice dos cinco ou seis anos, setetalvez, e ele, religiosamente, me apanhava àporta de casa - ali, na modesta Luiz da Cunha,em pleno coração da Vila Tibério - e literal-mente me carregava nos ombros até o velho edeselegante campo do Luiz Pereira, onde oBotafogo se fazia temido em todo o Brasil. Ocampo hoje é um poliesportivo e o sujeitoalto, extremamente loiro, de passos largos egestos extravagantes, é agora um senhor decabelos brancos, que se move com dificulda-des e fala com a simpatia de sempre. Nadatem de extravagante, a não ser suas muitashistórias do futebol.

Há anos, décadas, mesmo, não lhe tinhanotícias. Ponce foi um exímio centro-avanteque ajudou a formar um dos melhores e maiscompetentes times que o Botafogo já pensouem ter. Tornou-se mais que um bom vizinho,serviu-me como ídolo. O primeiro, talvez.Morava próximo de casa, aos fundos de umimenso corredor, e convivia pacificamente como sucesso e com a molecada que o idolatrava.Ponce foi campeão com o Botafogo, em 1956.Fez gols em campos esburacados, enfrentou aira doméstica dos zagueirões, experimentoucontusões mal-curadas e sempre soube imporum futebol elegante e de resultados. Foi comPonce que aprendemos - eu, Ézio, Nardinho ealguns outros - a conviver com os grandes everdadeiros craques. Gente como os irmãosJulião - o Antônio e o Benedito - o goleiroMachado, Henrique, Dicão, Norberto, Zuíno...No velho Luiz Pereira “descobrimos” que abola de meia virava “capotão” e que usar chu-teiras não era pecado.

Depois que o Botafogo mudou-se para azona sul, o futebol perdeu também seu me-lhor endereço. A modernidade foi cruel eimpiedosa com os novos craques. Muitos fa-bricados, outros inúteis, poucos merecida-mente consagrados. Estabeleceu-se que fute-bol e dinheiro deveriam caminhar juntos. Aca-baram-se os zagueirões, os campos esburaca-

dos e as contusões mal-resolvidas. O futeboltornou-se científico demais, adquiriu víciosmodernos, manias insuperáveis e trans-formou-se em marketing puro. Os craquesnem mesmo se dão ao trabalho de jogar bola.Correm, apenas. Alguns, nem mesmo isso.

Ponce, lógico, não consegue entender es-sas regras da modernidade. Afinal, foi apenascampeão e artilheiro em outras épocas; atuouao lado de Pelé, Luizinho, Canhoteiro, Baza-ni; fez gols memoráveis em Félix, Gilmar, La-ércio... e hoje freqüenta um bairro de perife-ria, onde mora há quase dez anos. Ainda traznas canelas as marcas das chuteiras “inimi-gas”. Restaram-lhe duas diversões, as incon-táveis histórias que tem para contar sobre ofutebol e a periódica visita que faz à filha emSão Joaquim da Barra. Nada de fortuna e ne-nhum sinal de marketing.

Ponce é quase um símbolo do futebol queainda se decidia dentro de campo, onde ho-mens apaixonados dedicavam-se ao esportepelo prazer da disputa. Reencontrá-lo, apóslongos anos, em um domingo de pouco sol emuita cerveja, reconfortou-me a alma e inun-dou de alegria um pobre coração. Está maisvelho, menos loiro e nada extravagante. Umaespécie de viking aposentado. Para sorte nos-sa, lembra-se dos amigos fiéis, dos meninospobres da Vila Tibério e, sobretudo, do filhocaçula de “seo” Fernando, o sapateiro. Ao ladode Ézio, Saraiva, Mingo e Eduardo, sorvemoscada uma de suas histórias. Talvez devêsse-mos chorar em muitas delas. Preferimos rir edisfarçar a emoção.

Emoção que Mingo, um velho e queridoamigo, faz questão de demonstrar. Confessaque um texto caboclo e desinteressado sobre aVila Tibério lhe provocou lágrimas. Emocio-na-me ainda mais saber que pude tocar seucoração. Da mesma forma que Ponce, comdribles rápidos e gols certeiros, nos tocou atodos.

Crônica extraída do livro O Filho do Sa-pateiro, de José Fernando Chiavenato

* Jornalista,editor geral do Clube Verdade

O velho artilheiroSaraiva, profissionalismo ededicação ao Botafogo

Miguel Saraiva, que não aparentaseus quase 80 anos a completarneste sábado (8/10), tem sua his-

tória entrelaçada com a do Botafogo.No dia do aniversário do clube, em

1948, seu passe foi comprado, junto como de Pirata. Jogou até 1956.

Em 1964 foi contratado para ser mas-sagista do clube, onde realizou um traba-lho digno e profissional. Viveu alegrias etristezas, viajou com o Botafogo nas ex-cursões pela Argentina, Uruguai, Guate-mala e México, além de acompanhar osJuniores em torneio no Japão.

Sua casa na Martinico Prado foi pontode encontro de jogadores e torcedores.

Atuou até 1980, quando se aposen-tou. “Naquela época precisava se afas-tar para conseguir a aposentadoria”,afirma Saraiva. Mas em 1984 retornoutrabalhando como enfermeiro até 2002.Foram 42 anos de dedicação ao clube.

Casado com dona Glorinha, a Lila,desde 1949, com quem teve dois filhos,Antônio Fernando e Júlio César (faleci-do), tem dois netos e um bisneto, que sãoa sua alegria.

Saraiva exibetroféu conquistado

pelo Botafogo

Miguel Saraiva foi exemplo deprofissionalismo e dedicação

No começo dos anos 60 Dona Ana, antiga moradora daVila, teve um sonho: sua amiga Maria Neves, que haviafalecido recentemente, pedia para ajudar sua filha (a DirceCabeleireira) que enviuvara e estava trabalhando muito,com pouco tempo para olhar os quatro filhos. Dona Ana seaproximou e, sem pedir nada em troca, adotou a todos, sedeclarando a “vó torta”. A ela, que era uma botafoguenseapaixonada, toda minha gratidão. Fernando Braga

Homenagem a Dona Ana Cruz

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6 Outubro de 2005

CuriosidadesQuem foi Tibério?

João Franco de Moraes Octávio doou as terras da atualVila Tibério para seu genro, o agrimensor Tibério AugustoGarcia, que fez um loteamento de chácaras. Primeiro funcio-nários da Mogiana e depois, da Antarctica, compraram os pri-meiros lotes, formando o núcleo do que viria a ser o bairro.

Imperador na VilaDom Pedro II e

sua esposa, DonaThereza Cristina, fi-caram hospedadosem uma chácara daVila Tibério, quandoda sua passagempor Ribeirão. A casaera de Rodrigo Pereira Barreto e ficava no começo da ruaLuiz da Cunha. Durante muitos anos ali funcionou o ambulató-rio da Antártica, até que foi demolida na década de 1970.

ImigrantesPor volta de 1900, imigrantes italianos se estabeleceram na

Vila Tibério não só nas residências como também no comércioe indústria. São os Aprobatto, Maraccia, Ferracini, Rissato,Toffano, Crispim, Della Rosa, Veloni, Delibo, Peracini, Spanó,Del Lama, Tiraboschi, Zampolo, Antoniazzi, Bordini, Pantoni,Fonzar, Fregonezi, Pezzuto, Brandani, Mortari, Tarozzo,Cauchick, Mazzeto, Bombonato, Chiavenato e muitos outros.Uma colônia italiana em Ribeirão.

O Jornal da Vila recomenda: Ruínas da Vila Antiga: formação e resistência de um espaço urbano - Poemas - André Bordini - Novo Saber Editora

Tesouros da VilaArtistas e escritores que enriquecem a nossa comunidade

O resultado é um mosaico que reúne folclore, histórias, costumes, lin-guagens, lendas, fatos.

Junte-se a esta colcha o retalho do lirismo e teremos como painel finalo retrato com todas as cores e nuances de um dos bairros mais tradicionaisde Ribeirão Preto. O microuniverso da Vila Tibério visto pela lente deaumento mais amorosa e talentosa que se poderia imaginar.

Rosana ZaidanJornalista e editora da EPTV

Quando a mula tordilha atravessava a porteira dacasa da Madrinha Tereza, trotando rápido para o ladodo nosso sítio, começava o corre-corre das meninas.Era o Zé Nunes! E pra elas se fosse o próprio Lúciferenfeitado não seria tão mal vindo! Quando avistavamo vulto inconfundível, com seu chapelão preto e suacapa de chuva, as meninas se enfurnavam no primeiroesconderijo. Às vezes, era no fundo do quintal, nas moitasde bananeira, no quartinho, atrás do monjolo e, quan-do dava tempo, debaixo da cama ou dentro do guarda-roupa. Escondidas elas choravam e rezavam até que,louvado seja Deus, o homem fosse embora.

Trecho da crônica A História do Zé Nunes

Você tem fotosantigas da Vila

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As fotos serão escaneadas edevolvidas. Será publicado o

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No tempo dos Araçás FloridosLivro de crônicas de Edson José de Senne (Edinho), já na segunda

edição, à venda na Livraria Paraler.

...O livro tocou-me profun-damente. O primeiro conto,sobre o avô – a escrita, anarrativa, o estilo – sentiGuimarães Rosa. E que pri-mor, que delícia o texto dasfigurinhas de futebol, a tia, omenino. Obra prima! Puraemoção!

Antônio BivarDramaturgo e escritor

Ruínas da vila AntigaLivro de poemas de André Bordini, à venda na Livraria Atlas.

O Jornal da Vila recomenda:No Tempo dos Araçás Floridos - Cronicas - Edson José de Senne (Edinho) - Edições C.L.A.

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7Outubro de 2005

Dicas de Lazer01- Alexandre02- Constantine03- A Família da Noiva04- As Branquelas05- Miss Simpatia 206- O Aviador07- Operação Babá08- 7 Segundos09- A Queda10- Assalto ao 13º DP

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Espaço JovemMoradores da Vila Tibério contam o que curtem na hora do lazer:

Mateus França:“gosto de iraos shows,micaretas,passear noshopping;ao clube,quando tem sol ebater papo naInternet, ficohoras;é D+”

Marina Rossi da Silva:“é super legal ficar na

calçada em frente àminha casa, conver-

sando com os amigos.Também papeio no

messenger, mas não étodo dia. Agora estou

curtindo muito o cursode inglês que comecei

esse semestre”

Camila e Luciano: “cachaça, música e conver-sa à toa e deixar o tempo passar”

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8 Outubro de 2005

Se essa rua fosse minha...Luiz da Cunha, uma rua dinâmica

Pouco se sabe sobre Luiz da Cunha Diniz Junqueira. Era osegundo filho de Ana Osório Diniz Junqueira e de FranciscoAlves da Cunha. Casou-se com Iria Alves Ferreira, que posteri-ormente ficou conhecida como a “Rainha do Café”, devido àimensa quantidade de pés de cafés cultivados. Tiveram seis fi-lhos, sendo o mais novo, Francisco da Cunha Junqueira, home-nageado com a avenida que leva seu nome.

A RUA - A Luiz da Cunha conta com um comércio dinâmi-co, com muitas empresas estabelecidas há décadas. Num passeiopela rua vale conferir a variedade; para a garotada, encontram-se fraldas descartáveis para crianças e também adultos na BabyFraldas e bichos de pelúcia de todos os tamanhos na Bicholândia.É bom anotar, problemas com celular ou telefone fixo a Pezzuto

& Ubiali resolve, mas se precisar de reforma geral na instalaçãoelétrica pode contar com a Regional Materiais Elétricos.

Uma parada para olhar as novidades em roupas e acessóriosda Day Dami, e continuando com o passeio, a Farmácia Éticadispõe de genéricos e manipulados com preço justo. Vale espiaras ofertas e comprovar a cordialidade do Supermercado SantoAntônio. Procurando opções para presentear é só escolher noEmpório Amanda, que tem também roupas femininas.

Agenda? Na Papelaria Paiva você encontra artigos escola-res e para escritório. Reformar ou construir, uma chegada noDepósito São Francisco e está feito o negócio. O bichinho deestimação está doente, a Univet é um Centro especializado emcães e gatos. Leve até lá e depois volte às compras.

Sempre foi a principal rua da VilaQuando nos prepa-

rávamos para o fecha-mento desta edição, aTia Cida, com 80 anos euma memória prodigi-osa, conhecendo nossoprojeto, apareceu comanotações sobre a rua.Não teve jeito de nãoaproveitar:

“A rua Luiz da Cunha era aúnica ligação com o centro dacidade. Ali passava a linha férreada Mogiana, que depois virouFepasa. Na passagem de níveluma porteira era fechada quandoos trens passavam e quando fa-ziam manobras os carros eramobrigados a ficar numa longa filade espera e os pedestres podiamatravessar (correndo) por umapassagem subterrânea azulejadae malcheirosa.

Na Antarctica, filas enormesde caminhões lotavam a Luiz daCunha e a Castro Alves, para car-regar bebidas para várias cidadesde São Paulo e de outros Esta-dos.

Lembro das indústrias de mó-veis: a Tarozzo e a Cauchick, daFarmácia do Ticiano Mazzetto, daFarmácia Almeida, do grande far-

macêutico e que foivereador ArthurFranklin de Almeida.O dentista ChanaanPedro Além, quetambém foi verea-dor, tinha o bar Bo-tafogo, onde hoje éo Banespa.

O armazém Fre-gonezi, os irmãos Molin, o Pon-to de Táxi Coração de Maria, ondetem taxista que trabalha há maisde 40 anos, como o Santo Uzuelie o Juari Alves Lima. Cinema,eram os cines Vitória e Marro-cos, e quando passava filme doMazzaroppi a fila dobrava as es-quinas. Na praça Coração deMaria tinha um coreto com ban-da aos sábados. O Grupo Esco-lar Sinhá Junqueira era uma dasmelhores escolas da cidade, queteve como diretores Afra Bertol-di e Leo Vecchi e professoras ma-ravilhosas, além de serventesprestativos como “seo” Amâncio,dona Joana e “seo” Adilson.

Dos irmãos Pezzutto um já fa-leceu, mas ainda ficou o arma-zém e a oficina, além da loja decelulares. Barbeiros famososeram o Egídio Tamburus, já fale-

cido, e seu irmão Edson, queatenderam famílias inteiras. Apadaria dos irmãos Crispim, afarmácia Lorenzatto, do Chiqui-nho Lorenzatto, o mercado San-to Antonio, as farmácias DrogaRégia e Santa Terezinha.

Tinha o Bar Missões, que erada família Uzueli, a MarmorariaTarga, os Nacarato, tinha osBrandani, os Aprobatto, os Chia-venato, o Material de ConstruçãoSanches, o Instituto Pente deOuro, da Dirce Braga. O Ivo Ca-pretz era o melhor sapateiro daregião, onde hoje seu filho Cacátem uma lotérica.

Foi um tempo muito feliz”.Aparecida Reis

Moradora da Vila Tibériohá mais de 50 anos