Jornal DCE UFRJ 2015.1

5
JORNALDODCE ENEGRECERAUFRJ,COMCORTESNÃODÁ! Jornal do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ | n 7 | ano 4 | Gestão Quero Me Livrar Dessa Situação Precária | Calourada 2015.1 Que mude a UFRJ, e não a nossa cor!

description

 

Transcript of Jornal DCE UFRJ 2015.1

Page 1: Jornal DCE UFRJ 2015.1

JORNAL DO DCE

ENEGRECER A UFRJ, COM CORTES NÃO DÁ!

Jornal do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ | nº7 | ano 4 | Gestão Quero Me Livrar Dessa Situação Precária | Calourada 2015.1

Que mude a UFRJ, e não a nossa cor!

Page 2: Jornal DCE UFRJ 2015.1

2 3| Jornal do DCE da UFRJ - Março - Calourada Calourada 2015.1 - Março - Jornal do DCE da UFRJ |

BEM-VINDOS, CALOUROS! Qual é a cara da UFRJ?Calouras e calouros, sejam bem-vindos

a UFRJ! Nesta calourada, o jornal do DCE Mário Prata preparou uma edição com o ob-jetivo de contextualizá-los frente às temáti-cas sociais que dizem respeito a nossa univer-sidade. Sabemos que, todos os dias, diversas lutas e movimentos são pertinentemente travados nos espaços da UFRJ. Assim, sem deixar de dar devida atenção e visibilidade à pluralidade de pautas que hoje existe, opta-mos por enegrecer a situação.

O jornal, preparado com muito afinco por estudantes de diversos cursos e uni-dades, busca tratar de um assunto que, por vezes, é relegado dentro das universidades públicas, espaços física e hierarquicamente dominados por pessoas brancas. Por isso nós, negros e negras da UFRJ, propomos, mais que uma pergunta, uma confrontação: qual é a cara da UFRJ?

Por mais que, através de um sistema histórico de racismo, continuem a nos fechar os portões da universidade, a dizer que não pertencemos, nós existimos e resistimos, seja aos pingados dentro das salas de aula, seja na quase total ausência no corpo do-cente, seja na maioria nos cargos terceiriza-dos. Queremos fazer parte da universidade

Parabéns por ingressarem na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a maior universidade do país. O Diretório Central dos Estudantes da UFRJ, o DCE Mário Prata, entidade que busca rep-resentar e organizar os alunos de graduação, está preparando di-versas atividades para você conhecer mais da nossa universidade, do Rio de Janeiro e do movimento estudantil. Serão debates, palestras, festas para você comemorar seu ingresso na UFRJ e se integrar com outros estudantes, além de discutir e conhecer o que está acontecendo dentro e fora do ambiente de estudos.

O DCE é o órgão estudantil que representa todos os estu-dantes da universidade. Na UFRJ, ele ganhou o nome de Mário Prata durante a redemocratização, quando reconquistamos o di-reito de nos movimentar politicamente dentro da universidade. Mário Prata foi um estudante da UFRJ, presidente do DCE, que durante a luta contra a ditadura deu o que de mais precioso tinha para que pudessemos, hoje, nos organizar e lutar: a própria vida. Infelizmente, ele não foi a única vítima da ditadura na UFRJ.

Nossa universidade, apesar de todos os problemas, está na vanguarda dos movimentos sociais e na luta dos es-tudantes. Cientes disso, escolhemos, para a calourada de 2015.1, a pauta racial. Pauta esta que está diretamente atrela-da a atual realidade da universidade: crise financeira aprofun-

dada pelo corte de 7 bilhões do governo federal. Isso, além de ter gerado o atraso do início das aulas, ameaça a permanência de milhares de estudantes, principalmente os cotistas, e a dig-nidade de milhares de trabalhadores e servidores da UFRJ.

A calourada desse período foi pensada e construída pelos negros e negras que constroem o DCE e coletivos auto organiza-dos da UFRJ. Foram mais de 400 anos de escravidão, são 180 anos de Malês e até hoje o povo negro sofre com a marginaliza-ção. Entendemos que é fundamental ocupar os espaços com esse debate dentro e fora universidade. Esse é um passo importante pra desconstrução da invisibilidade da qual pretas e pretos são vítimas todos os dias na UFRJ. Enegrecer a UFRJ é popularizar e democratizar a universidade, não é só colocar negros e negras dentro dela, é prover alimentação, transporte e alojamento, é pro-mover pesquisa e extensão, é garantir salários aos terceirizados.

Diante disso, O DCE da UFRJ convida a todos, calou-ros e calouras, a participarem da programação da caloura-da de 2015.1. Ela foi preparada com intuito integrar vocês à vida cultural e política da maior universidade do país. Ter-emos rodas de conversas, saraus, jongo, funk, rap, capoei-ra e, principalmente, muita luta! Vem construir com a gente uma calourada enegrecida, plural e livre de opressões!

e poder dizer que somos, também, a cara da UFRJ. Queremos poder ter acesso a ela e nela permanecer. Queremos olhar pros nos-sos colegas e professores e ver mais gente da nossa cor. Queremos que as mulheres negras se sintam livres de assédio e da hiperssexu-alização ao circular nos campus. Queremos que os terceirizados tenham todos seus di-reitos garantidos, de forma que seus filhos possam estudar e ter acesso à universidade.

Dessa forma, dando ênfase na temáti-ca racial, o Jornal do DCE traz, através de reportagens, matérias, artigos e informes, um amplo acervo sobre a vida acadêmica e política que acontece na UFRJ. Convidam-os a todas e a todos a participarem dos de-bates, movimentos e ocupações que afetam diretamente a nossa rotina. É de extrema importância que estejamos inteirados dos processos administrativos, que tenhamos voz na reitoria, que cobremos respeito pela nossa cor, identidade de gênero e orientação sexual, que cobremos nossas bolsas, salári-os, alojamentos, transportes, bandejões. Por nenhum direito a menos! Machismo, racis-mo, homo-lesbo-bi-transfobia não passarão! Boa leitura.

Jornal do DCE

Expediente:Gestão 2015

Quero me livrar dessa situação precária

Tiragem30.000 exemplares

EdiçãoMarço - 2015

Programação VisualSara Ramos

DCE UFRJ - Mário PrataAv. Pasteur, 250 - Urca

Rio de Janeiro - RJ

Colaborou: Anita Guerra, Flora Castro, Gabryel Henrici, Helena Martins, Isabela Reis,

Julia Portes, Lucas Batal, Luiza Foltran, Mayara Gomes, Pedro Paiva,

Raphael Almeida, Renan Carvalho, Robson Araujo, Sara Ramos.

Mário Prata

Estudantes organizam ato pelo bandejão “A PV também quer bandejar!” no dia 18 de março, em frentes ao DCE.

Editorial

EECUNVem aí o I Encontro de Estudantes e Co-letivos Universitários Negros – EECUN, de 7 a 9 de maio, na UFSCar. O EECUN é um encontro autônomo, público e in-dependente. Mais informações pelo site universitariosnegros.blogspot.com.br/

[email protected]/dce.ufrj

Esta é uma publicação do Diretório Central dos Estudantes da

UFRJ - Mário Prata, entidade máxima de representação do

corpo discente da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Page 3: Jornal DCE UFRJ 2015.1

4 5| Jornal do DCE da UFRJ - Março - Calourada Calourada 2015.1 - Março - Jornal do DCE da UFRJ |

O acesso ao ensino supe-rior é extremamente elitizado, tem suas portas escancaradas para quem possui dinheiro para pagar os melhores colégios e pré-vestibulares e portas tranca-das para quem precisa trabalhar para complementar a renda fa-miliar e sobreviver à falência da educação pública básica. Essa sobrevivência tem cor: preta.

“Ser negra e estar na uni-versidade pública é ser o az-arão, de ter contrariado as estatísticas, de ter contrari-ado a realidade, misturado com uma sensação de ter passado a perna na vida, com a vivên-cia da rejeição nos espaços, na própria estrutura da universi-dade, nos horários, nos colegas de curso. É a sensação de es-tar no lugar errado”, declarou Mariana Araújo, 22 anos, es-tudante de Ciências Sociais.

A representatividade de negras e negros na universi-dade tem aumentado, porém, infelizmente, o local onde mais nos encontramos não é nos cur-sos de graduação. “Posso con-tar em uma única mão os que entraram comigo. E este fato não acontece só com os estu-dantes, mas também com os professores. Temos uma negra como vice-diretora, além dela, mais ninguém”, indignou-se Vanessa Vieira, de 21 anos. “Vejo mais presença dos meus semelhantes nas partes da lim-peza, varrendo corredores, limpando janelas, salas, ban-heiros. Nada além disso. Ob-servar essa situação dói”, rela-tou a estudante de arquitetura.

Isso também é notado na outra ponta do cenário. “Vejo mais pessoas brancas, claro. Os terceirizados têm mais ne-

gros, alunos têm mais bran-cos, mas professor negro eu nunca vi ali no CT”, contou Kelly Santos, trabalhadora ter-ceirizada da limpeza no Cen-tro de Tecnologia, no Fundão.

Isso mostra quanto o rac-ismo está enraizado na nossa sociedade. Refletindo-se em sua face mais mortal nas chacinas que acontecem nas favelas, na militarização da vida dos mais pobres, na repressão policial

que atinge de maneira muito mais brutal o povo preto, mas que também se perpetua na universidade - e na UFRJ não é diferente. “Na universidade, es-critores negros não são reconhe-cidos, como em nenhum espa-ço”, contou Renata dos Santos, de 19 anos, estudante de Ciên-cias Sociais e integrante do co-letivo negro Carolina de Jesus.

Esse coletivo é um dos di-versos espaços auto-organiza-dos de negros que têm surgido para lutar por uma universidade mais plural e democrática. Eles fomentam o debate racial com o intuito de pautar e lutar pelas demandas do povo negro, e acol-her os estudantes para que não se sintam isolados num novo ambiente que ainda é majori-tariamente branco, elitizado e excludente. “Não é fácil mesmo.

bas da educação pública. Isso fez com que universidades fed-erais de todo país entrassem em crise financeira. “O cenário fica pior com uma reitoria que compra o discurso do governo federal: não entregou o bande-jão da Praia Vermelha, tentou cortar bolsa acesso permanên-cia, direitos dos estudantes e só não conseguiu devido à mo-bilização que lotou o Consuni. Isso sem falar do alojamento... A crise existe e não é pequena”, explicou o estudante de GPDES.

Diversos desafios ainda es-tão por vir, afinal fazem apenas 13 anos desde que o primeiro modelo de cota racial foi imple-

mentado. O povo negro vem sendo criminalizado, empurrado para os empregos pouco valoriza-dos, sendo, consequentemente, a parcela da população que mais morre assassinada e que não consegue chegar ao ensino su-perior. Neste cenário, o protago-nismo negro nas lutas estudantis é imprescindível, para mudar a sociedade e dar visibilidade a sua causa. “É fundamental a par-ticipação dos estudantes nos pro-cessos de mobilização para que a luta avance e que nenhum direito seja retirado”, completou Lucas.

Desta forma, a presença do povo negro na universidade vai deixar de ser uma exceção.

O estudante Robson Araújo, de 21 anos, da Faculdade Na-cional de Direito (FND) e da Diretoria de Negros e Negras do DCE, falou sobre o avanço da luta na questão racial. Para ele, os negros e negras devem

A gente tem que provar o tempo todo que podemos ser iguais e até melhores. Infelizmente, nós precisamos provar isso tripla-mente”, disse Daniel Walassy da Silva, de 21 anos, que faz Comu-nicação Social. Natural de Baca-bal no interior do Maranhão, ele é um dos tantos estudantes que vieram de fora do estado devido às políticas de cotas e o ENEM.

A estrutura da universi-dade também não foi feita para contemplar os estudantes que precisam trabalhar. Os horários de funcionamento da institução, como xerox, secretária, bibliote-cas, funcionam como mais um processo de seleção onde os que são rejeitados são em sua maio-ria os negros e negras, que trab-alham para se manter na UFRJ. “Não me sinto integrada. E esse ‘não’ não é meu. É um ‘não’ que a UFRJ diz na minha cara todos os dias. Quando eu entro na co-ordenação do meu curso dizem pra mim “não, eu não posso te atender, porque o horário de at-endimento é esse” e quando eu digow que esse é o meu horário de trabalho, que só posso estar lá naquele momento continuam me dizendo não”, disse Mariana.

Outro aspecto das dificul-dades enfrentadas no dia a dia da universidade é a assistência estudantil, muito necessária para os estudantes provenientes de cotas. “A assistência estudan-til da UFRJ está em crise. Uma crise que afeta principalmente os estudantes negros e pobres que entram na universidade por meio da política de cotas.” expli-cou Lucas Moraes, de 20 anos, estudante de Gestão Pública para Desenvolvimento Econômico e Social. “Há muito tempo o movi-mento estudantil da UFRJ vem traçando lutas através de atos e debates dentro do Consuni no sentido de ampliar e fortal-ecer a assistência estudantil.”

O governo federal du-rante a campanha usou o lema “Pátria Educadora”, mas na prática cortou 7 bilhões de ver-

A CARNE MAIS BARATA DO MERCADO É A CARNE NEGRAHá um mês, assistimos os apelos da

presidente Dilma para que dois brasileiros presos na Indonésia não fossem conde-nados à pena de morte. Pouco tempo de-pois, 13 jovens foram assassinados em Salvador – BA, no Bairro do Cabula, logo após a polícia receber uma denúncia de que trinta pessoas planejavam assaltar um banco. Quem tem o direito de defesa?

A seletividade é um dispositivo in-trínseco ao sistema penal. A elaboração das leis tem um recorte racial e a criminal-ização não previne nada, ela só serve pra manter o domínio do Estado sobre certos grupos sociais. O crime é um modelo pelo qual se pretende naturalizar o exercício de dominação, e esse exercício de poder só se faz possível por meio do racismo. O au-mento do encarceramento, por exemplo, não está relacionado com a diminuição da violência nas cidades. Os processos de criminalizações, além de servirem a domi-nação do Estado, geram “empregos úteis” que vão desde os carcereiros, passando pe-los custos/lucros que cada presidiário gera, e até à manutenção da produção bélica.

“Pesquisa publicada prova: prefer-encialmente preto, pobre, prostituta pra polícia prender. Pare, pense: porque? Porque?” – GOG. Essas duas frases do rap-per GOG definem a situação atual das per-

iferias da maioria das nossas cidades, em especial as do Rio de Janeiro. Os números são assustadores: 77% dos nossos jovens mortos são pretos e pretas; destes, 95% são homens. Não precisamos pensar muito para entender que o que ocorre é um ex-termínio da juventude negra, uma política de estado que tem um objetivo muito claro.

A polícia, braço armado do Estado, entra nas comunidades, não com o intuito

de desarticular e acabar com o tráfico de dro-gas, mas sim de manter uma política de hi-gienização das cidades. Para tal, utiliza-se de mecanismos legais como o auto de resistência pra condenar e assassinar os negros e negras.

Mas então, o que isso tem a ver com a UFRJ e o DCE?

É importante entender que a universi-dade não está descolada da realidade que a cerca. O nosso maior campi, localizado na Ilha do Fundão, se encontra nas proximi-dades do Complexo da Maré, atualmente ocupado por forças militares regulares. For-ças militares essas que, através da política do medo, coagem os moradores locais, impedem os seus direitos de ir e vir, inva-dem suas casas e tratam manifestações da comunidade na base da bala e da força.

Além disso, a universidade dialoga di-retamente com a comunidade, em uma via de troca de mão dupla. Se quisermos con-struir uma UFRJ verdadeiramente plural e democrática, não podemos admitir que a seletividade do Estado mate os jovens negros e negras, condenando vidas e exterminando uma parcela majoritária da população. Nen-huma morte a mais, o povo negro resiste!

cada vez mais ocupar os espa-ços da universidade: “Vai ter cabelo black sim, vai ter tur-bante, vai ter samba, e vão ter pretas e pretos na UFRJ porque viemos para ficar. Que mude a UFRJ e não a nossa cor!”

A ESTRUTURA DA UFRJPRECISA MUDAR

Acima, erceirizados participam do Jantão, no dia 25 de outubro de 2014.Abaixo, estudantes em plenária contra o corte de bolsas, no dia 2 de março deste ano.

QUE MUDE A UFRJ E NÃO A NOSSA COR!

Pretas do Coletivo de Mulheres da UFRJ organizam cineclube sobre questão racial no dia 18 de novembro de 2014 no campus da Praia Vermelha, Urca.

Page 4: Jornal DCE UFRJ 2015.1

6 7| Jornal do DCE da UFRJ - Março - Calourada Calourada 2015.1 - Março - Jornal do DCE da UFRJ |

Terceirizados da empresa Qualitécnica sofrem com o descaso da Reitoria e do Governo Federal

UFRJ EM CRISE!

TRABALHADORA INFARTA EM

MANIFESTAÇÃOEm uma reunião ex-

traordinária do CONSUNI no dia 5 de março, alunos e trabal-hadores ocuparam o salão no-bre da reitoria para cobrar ex-plicações, mais uma vez, sobre o atraso dos pagamentos. Em meio a muito nervosismo, a tra-balhadora Michele Reis, de 42 anos e mãe de 4 crianças, sofreu um infarto e teve de ser levada ao Hospital Geral de Bonsuces-so. Ainda internada, em situa-ção mais estável, a trabalhadora está para ser despejada por con-ta dos atrasos de salário e de-nuncia as condições de trabalho. “O que acontece é um grande descaso com os terceirizados”, disse. Para ela a situação de precariedade acontece desde quando são contratados, usando material de baixa qualidade e sendo obrigado a ter como lo-cal de descanso lugares de alto risco a saúde, como os subso-los do Centro de Tecnologia e do Centro de Ciências da Saúde.

O ano de 2014 não foi fácil para os trabalhadores e trabal-hadoras terceirizados da UFRJ. Em abril de 2014, com os seus vencimentos atrasados em mais de 2 meses, cerca de 200 a 250 trabalhadores marcharam do Centro de Tecnologia em di-reção à Reitoria para cobrar

seus direitos. A questão dos atrasos e do assédio moral nes-sa categoria são uma constante, precarizando o fornecimento do serviço e a vida dessas categoria.

“Sofremos muita pressão e assédio da empresa. E às vezes, por conta disso, a união entre os trabalhadores é mui-

to complicada”, contou Tere-sinha, terceirizada do Centro de Tecnologia, no Fundão.

Com muita combatividade e indignados com sua situação, na qual sofrem humilhação e assédio para trabalhar sem se-quer receber seus vencimentos, os terceirizados invadiram a sala do Conselho Universitário e as Pró-Reitorias de Gestão e Governança. Na época, a cat-egoria conseguiu que seus sa-lários fossem pagos e um e-mail da UFRJ alertando a empresa para que cumprisse o contrato.

No entanto, como um dèjá vu, a Qualitécnica e a UFRJ, entre os meses de novembro a março de 2015, negligenciaram os contratos e o pagamento dos salários, deixando muitas trab-alhadoras e trabalhadores sem comida no prato. Esse quadro é uma vergonha para a uni-versidade que diz ser a maior do Brasil, e que ainda contém, em seu quadro de funcionári-os, trabalhadores em situações que beiram à semi-servidão. Terceirizados e estudantes lado a lado em ato no Consuni no dia 12 de março de 2015.

MEXEU COM UMA CALOURA? MEXEU COM TODAS AS VETERANAS!

Os semestres se iniciam e junto deles, as opressões to-mam proporções gigantescas dentro das universidades.Muito mais que a relação de hierarquia entre veteranos e calouros, as minorias, já acostumadas a so-frerem com a desigualdade fora do mundo acadêmico, agora sofrem dentro do espaço uni-versitário com a evidente rela-ção de poder. Trotes vexatórios, expondo mulheres, negros, ne-gras e lgbt’s têm sido cada vez mais comuns, mesmo com o avanço da luta dos oprimidos.

O espaço acadêmico tende a naturalizar opressões. As mul-heres são constantemente coag-idas, manipuladas a participa-rem de trotes com teor machista e humilhadas nesses processos.

Nesse início de ano, em que a agenda acadêmica ai-

nda nem começou, algumas denuncias já tomaram forma.

Os relatos começam com coerção, aquele antigo discur-so do “se você não fizer, não vai se enturmar”, e passa por veterano adicionando e asse-diando calouras (relatos até de calouras que desistiram do

curso por esse fato) e o ápice chega em simulação sexual.

O objetivo de nenhum desses trotes é integrar, nenhum veterano espera que o calouro se sinta à vontade após ser humil-hado, ninguém deve passar por um processo que tende a refor-çar a hierarquia da sociedade e

humilhar, ofender e oprimir um gênero, raça ou orientação sexu-al. Nenhuma de nós deve aceitar e fazer algo que nos oprime pelo simples discurso de integração.

Nós não vamos nos integrar com quem nos oprime, porque quem nos oprime não é nosso aliado.

Tradições que são re-sponsáveis por opressão e co-erção de companheiras não devem ter continuidade!

O GT de Mulheres do DCE Mário Prata repudia e combate os trotes machistas e convida todas as calouras e veteranas para lutarem junto e denunciarem essa atividade que é responsável pela dor de tan-tas de nós. Lutemos por uma calourada livre de opressões!

MÁRIO, SAI DO ARMÁRIO!A vida não é fácil para estu-

dantes LGBT aqui na UFRJ. Ou-vimos piadinhas, xingamentos e ameaças. O espaço da universi-dade é negado, principalmente às pessoas trans, e somos obrigados a ficar em guetos, condenados à invisibilidade. Mulheres lésbi-

cas e bissexuais são submetidas a assédios e estupros corretivos (quando a violação acontece para “curar” sua orientação sexual). Somos expulsos por nos beijarmos e demonstrarmos nosso afeto como quaisquer out-ras pessoas. Além de serem ex-

Coletivo de Mulheres da UFRJ organiza interveção contra o machismo durante o Ato pelo Bandejão, no dia 25 de outubro, no campus da Praia Vermelha, Urca.

ANELEntre os dias 04 e 07 de junho, no estado de São Paulo,

vai rolar o 3º Congresso Nacional da ANEL, nosso fórum máximo de debates políticos e deliberações, encontro para unificar as lutas da juventude. Nele, vamos pensar propos-tas para organizar as próximas mobilizações, com o apoio de movimentos sociais, lideranças sindicais e populares, intelectuais e uma delegação internacional.

Nesse congresso todos podem chegar, dar sua opin-ião, votar e construir o movimento. Procure as entidades estudantis e os coletivos que vão participar do congresso e seja também um dos milhares de delegados que vão se eleger por todo o país. Não fique de fora! Mais informa-ções no Facebook: Anel On Line!

UNEA União Nacional dos Estudantes é uma entidade

histórica, que lutou contra a ditadura militar e a priva-tização da educação. Hoje, porém, a história é outra. A atual direção majoritária da entidade fez da UNE uma mera defensora de toda e qualquer política do governo federal (inclusive daquelas que privatizam e precarizam a universidade). Nós da oposição de esquerda (OE) repu-diamos essa direção e lutamos por uma entidade que de fato represente xs estudantes. Em junho teremos o con-gresso da UNE (CONUNE), o maior encontro estudantil do Brasil, e convidamos à todos que se juntem à OE nessa batalha, para que a UNE volte a estar do lado dos estu-dantes, que volte a ser perigosa.

terminadas do lado de fora, as pessoas trans têm sua identidade de gênero constantemente desle-gitimada por estudantes, pro-fessores e funcionários dentro da universidade. Vivemos uma transfobia institucional que ex-clui essas pessoas, exclusão essa que vai desde o acesso a educa-ção básica e até a própria estru-tura das universidades públicas. Enfim, não tá fácil pra gente!

As bi, as gay, as trans e as sa-patão precisam se organizar e lu-tar contra a LGBTfobia na UFRJ! Garantir espaços seguros e ocupar com nossas cores todos os campi para termos o fim da violência, simbólica ou não. Precisamos lutar pelo devido respeito ao nome social (nome com as quais pessoas trans são chamadas e se

identificam e não seu nome de registro adequado ao gênero des-ignado ao nascer) que ainda não é garantido por completo, e final-mente precisamos de um encon-tro de todas as LGBT da UFRJ para que não só respondamos quando houver algum ataque, mas que estejamos presentes an-tes, desconstruindo todas as vio-lências e restrições que vivemos diariamente dentro e fora daqui.

O DCE Mário Prata tem o compromisso de auxiliar esse processo organizando encontros e reuniões de estudantes LGBT, lutando por nossos direitos na reitoria e apoiando todas as ini-ciativas que visem combater a homo-lesbo-trans-bi-fobia!

Diretoria de mulheres do DCE

Diretoria LGBT do DCE

Page 5: Jornal DCE UFRJ 2015.1

8 | Jornal do DCE da UFRJ - Março - Calourada

PARA ENEGRECER A UFRJ, COM CORTES NÃO DÁ!A presidente Dilma iniciou seu segundo mandato de-

clarando que o Brasil seria agora uma “Pátria Educado-ra”, mostrando que a educação seria a grande prioridade de seu governo. Pouco tempo se passou para perceber que a promessa ficaria apenas nas palavras. Os cortes anuncia-dos na educação que somam R$7bi para todo o ano, além do corte de 30% do repasse de verbas das universidades fede-rais, são reflexo da crise econômica e política que vive o país.

Nos últimos anos, o projeto de educação implemen-tado pelo governo garantiram a expansão do ensino superior privado através de empréstimos, financiamentos e isenções de impostos, o que fez com que hoje 70% das matrículas de en-sino superior estejam concentradas em universidades privadas.

As universidades públicas também se expandiram, mas com muito menos investimento do governo federal. Por isso passaram por um processo de precarização do trabalho, au-mento da terceirização, privatização das pesquisas e, cada vez mais, uma queda na qualidade do ensino, além de uma escas-sez gritante de políticas de permanência estudantil. Assim, a suposta “democratização da universidade” não passa de uma hipocrisia, já que na prática não garante que os estudantes pobres e negros concluam seu sonho de ter uma graduação.

Por tudo isso, o ano iniciou com condições caóticas nas universidades públicas. Falta dinheiro para pagamento de sa-lários dos funcionários terceirizados, contas de energia e água, gastos com papel e para manter as políticas de permanência es-tudantil. Na UFMG, por exemplo, foram reduzidos os gastos da limpeza e da segurança, além de não terem pagado a água e a luz.

Na UFRJ (e também na UFF) trabalhadores terceiriza-dos ficaram em situação análoga ao trabalho escravo, sen-do coagidos a trabalhar sem receber salários. A mobilização

Acima e abaixo: ato no Consuni, no dia 12 de março de 2015.

desses trabalhadores, com o apoio dos estudantes, fez com que as aulas fossem adiadas por falta de condições. Nessa se-mana, os salários começaram a ser pagos, fruto de muita luta!

No dia 12 de março, centenas de estudantes mobilizados, ainda em férias, ocuparam o Conselho Universitário da UFRJ contra o corte na Bolsa Acesso e Permanência (BAP), que foi uma conquista dos movimentos negro e estudantil. Essa crise recai, principalmente, sobre os trabalhadores negros, fun-cionários das empresas terceirizadas. Também atinge forte-mente a juventude pobre e negra, estudantes cotistas e bolsis-tas, que necessitam dos programas de assistência estudantil.

Mobilizações estudantis também se iniciaram na UFPB, UFMG, UNIFESP, UFRGS, UERJ, USP e mui-tos outros locais, além da greve geral do Paraná. É pre-ciso continuar mobilizando o conjunto dos estudantes da UFRJ e preparar a luta pela garantia dos nossos direi-tos, para barrar os cortes do governo federal e da reitoria.

Não seremos nós a pagar por essa crise! A luta segue, pois ainda há muito a conquistar! Não admitiremos nenhum di-reito a menos e assistência estudantil não é favor, é direito!

Cartaz de ato pelo bandejão, do dia 18 de novembro de 2014, na Praia Vermelha.