Jornal foco

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A FORÇA QUE SEGURA O TEATRO Com os sucessivos cortes na Cultura, o teatro em Portugal tem vindo a ser umdos mais afetados. O jornal Foco falou com 3 companhias do Porto e tentou perceber como é que sobrevivem. | p.2 /3 Entrevista a Richard Zimler “Quando acabo um livro, fico completamente esgotado“ QUART 18 DEZ 2013 | Ficha técnica: Carminda Soares, Mafalda Oliveira, Maria Soares, Ricardo Alves www.jornalfoco.weebly.com Os jardins secretos de Simone de Oliveira | p.14 Cavaco acredita num entendimento com Angola O Presidente da Repúbli- ca, Aníbal Cavaco Silva, disse hoje estar conven- cido que Portugal e An- gola têm “uma vontade muito séria de manterb e reforçar os laços de coo- peração”. | p.5 Dulce Félix: “Tenho muito orgulho em mim” | p.11 Rodrigo Leão: “Estou-me completamente nas tintas para os prémios” | p.15 Professor na área de jornalismo, mas mais conhecido como novelista de romances históricos, Zimler falou com o jornal Foco sobre o novo livro, e sobre o estado da nação. | p.12/13 Rui Rio não se vai candidatar à liderança do PSD | p.4

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A FORÇA QUE SEGURA O TEATROCom os sucessivos cortes na Cultura, o teatro em Portugal tem vindo a ser umdos mais afetados.O jornal Foco falou com 3 companhias do Porto e tentou perceber como é que sobrevivem. | p.2 /3

Entrevista a Richard Zimler“Quando acabo um livro,

fico completamente esgotado“

QUART 18 DEZ 2013 | Ficha técnica: Carminda Soares, Mafalda Oliveira, Maria Soares, Ricardo Alves

www.jornalfoco.weebly.com

Os jardins secretos de Simone de Oliveira | p.14

Cavaco acredita num entendimento com AngolaO Presidente da Repúbli-ca, Aníbal Cavaco Silva, disse hoje estar conven-cido que Portugal e An-gola têm “uma vontade muito séria de manterb e reforçar os laços de coo-peração”. | p.5

Dulce Félix: “Tenho muito orgulho em mim” | p.11

Rodrigo Leão: “Estou-me completamente nas tintas para os prémios”| p.15

Professor na área de jornalismo, mas mais conhecido como novelista de romances

históricos, Zimler falou com o jornal Foco sobre o novo livro, e sobre o estado da

nação. | p.12/13

Rui Rio não se vai candidatar à liderança do PSD | p.4

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A FORÇA QUE SEGURA O TEATRO

QUART 18 DEZ 2013 | Ficha técnica: Carminda Soares, Mafalda Oliveira, Maria Soares, Ricardo Alves

A força que

Com os sucessivos cortes na Cultura, o teatro em Portu-gal tem vindo a ser um dos mais afetados. Não só vêm reduzidos os apoios, como também não têm público.O jornal Foco falou com 3 companhias do Porto e ten-tou perceber como é que (sobre)vivem.

Em Portugal o teatro tem preço. Com o setor da cultura cada vez mais afetado pelas constantes re-duções no orçamento de Estado, o teatro inflaciona num país que tem as menores taxas de participação em actividades culturais da União Europeia. Em Agosto de 2013, a Direção Ge-ral das Artes, que coordena e exe-cuta as políticas de apoio às Artes, publicou a listagem dos apoios a entidades culturais. Algumas com-panhias de teatro sediadas no Porto viram o subsídio reduzido.

É o caso do Teatro de Marione-tas do Porto, que dos 114 mil euros atribuídos em 2012 recebeu apenas cerca de 83 mil euros este ano. Isa-bel Barros, diretora artística, diz que o novo valor não é suficiente para manter a companhia: “É um estrangulamento enorme porque isso implicou muitas alterações e toda uma nova forma de trabalhar. Não do ponto de vista da nossa plasticidade que tanto nos define, mas sim de toda a dinâmica de tra-balho. Por exemplo, nós fazíamos duas criações por ano e a partir des-te momento só conseguimos fazer uma.” Este apoio será de quatro anos o que significa que até 2016 o teatro de marionetas tem, pelo menos, um

subsídio garantido. Subsídio esse que terá de se dividir por despe-sas, consideradas por Isabel Barros, enormes: “Em termos de estrutu-ras, temos dois espaços alugados: o Teatro de Belmonte e o Museu de Marionetas. Os dois espaços são no Centro Histórico do Porto e são um peso grande. Temos ainda uma equipa permanente, que neste momento já está reduzida a 5 pes-soas. É o mínimo. Depois temos as pessoas que contratamos em cada nova criação, por exemplo: os mú-sicos, as pessoas que fazem os figu-rinos, as pessoas que trabalham nas oficinas, os técnicos.” Fundado em 1988, o Teatro de Marionetas que se orgulha de ser uma das poucas companhias de teatro do Porto com um núcleo permanente de atores tem ainda a despesa extra de construção de ma-rionetas. De peça para peça tudo é feito de novo e nenhuma marione-ta é destruída para dar lugar a ou-tra: “Cada criação é uma criação. É tudo feito de raiz em função de cada projeto. Há mesmo um traba-lho a esse nível, com uma oficina de construção, muito elaborado”, diz Isabel Barros. O Teatro de Marionetas do Porto é um espaço de invenção que exi-ge, nas palavras de Isabel Barros, “muito bons atores com competên-cias para estarem presentes

como um ator sem marionetas e ainda um grande desenvolvimento de uma técnica de manipulação”. A marioneta é mais do que um acessório. É ela que, ligada ao ator como se fossem um só, distancia o

público da realidade e o transpor-ta para outros lugares. À frente da companhia há 3 anos, Isabel Barros acrescenta ainda que: “O Teatro com Marionetas é um espaço com mais possibilidades e não deixa nunca de ser teatro.”

Sem Marionetas, mas também com dificuldades, temos o Teatro Bruto. Criada em 1995, a compa-nhia de teatro sediada no Porto é também subsidiada pelo Estado. Mas também a eles lhes aplicaram a tesoura da crise. Em 2012 sofreram um corte de 38% no apoio recebido em relação a 2011, que supostamente se man-teria por dois anos, mas que foi re-duzido para cerca de 51 mil e 600 euros. Agora em 2013, receberam cerca de 47 mil euros, valor que se vai manter até 2014 se não houverem mudanças. Ana Luena, directora artística do Teatro Bruto, conta que tem sido um ano um pouco difícil:

“Bastante aliás. De repente deixa-mos de receber quase metade do dinheiro que estávamos a receber há dois anos atrás. Questionámo-nos de que forma é que se pode so-breviver tanto financeira como

ideologicamente a um contexto como o que estamos a viver neste momento. Isto acontece em todas as áreas, sendo que na área da cul-tura eu sinto que os cortes são um pouco maiores. São cerca de 50%. Por isso mesmo estamos a repensar

De repente deixamos dereceber quase metade do dinheiroque estávamosa receber há dois anos atrás.

O Teatro com Marionetas é um espaço com mais possibilidades e não deixa nunca de serteatro.

2/ DOSSIER

Por: Carminda Soares, Mafalda Oliveira, Maria Soares

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questões de estrutura, de tipo de espetáculos. Acaba por mexer com tudo.” O Teatro Bruto é um teatro que gosta de fazer de raiz. Privilegiam a encenação de textos originais o que tem proporcionado o surgimento de novos dramaturgos: “A nós in-teressa-nos desafiar escritores que nunca tenham escrito para teatro, ou seja, que sejam de outra área da literatura para que tenham a sua primeira experiência com o Teatro Bruto e assim podermos também desenvolver a escrita dramática em Portugal. A nós interessa-nos des-bravar território e terreno virgem.” A música é outra característica que os diferencia em relação aos outros. A dar vida à maior parte da peças, Ana Luena diz que a música acaba por ser mais uma “personagem ou interveniente direta e ao vivo.” Claro que trabalhar de raiz tem os seus custos: “Em média gastamos cerca de 25 mil euros por peça, se for com quatro atores. O texto origi-nal também se paga. Depois ainda

temos desenho de luz, cenografia, figurinos, atores, músico. E há ain-da uma série de coisas à volta que não se vê: os técnicos de luz e som, os transportes, divulgação, produ-ção dos cartazes, designer gráfico, registo do espetáculo, fotografias de cena, produtora. Ainda é bas-tante gente. É uma equipa grande.” E o apoio da DGArtes não é suficiente para todas estas despesas, já que o Teatro Bruto produz cerca de duas a três peças por ano. Por esta razão a companhia procura outro tipo de parcerias. Têm beneficiado de apoios privados, que muitas vezes não são financeiros, mas apenas a prestação de um serviço de forma gratuita. A CP e a STCP, por exemplo, apoiam na divulgação dos projectos, o que ajuda a trazer público às salas de teatro. A companhia de Teatro Bruto tem sede na Fábrica Social. E é lá que apresentam as suas criações e que trabalham com os grupos da comunidade. Mas este ano vão mudar-se: “Para ter um espaço é preciso

ter uma equipa. Nós tivemos que reduzir à equipa porque tivemos cortes. Infelizmente não estávamos a ter o retorno financeiro, a nível de bilheteiras, nem de visibilidade. Ao fim de três anos percebemos que se calhar sair daqui e ir para a Baixa

do Porto, tentar dinamizar espa-ços diferentes, neste momento faz provavelmente mais sentido para o nosso projeto.” Apesar das dificuldades, Ana Lue-na diz que gosta do que faz: “Gos-to de ver e gosto de fazer, mas não faço teatro para mim, só faz sentido se tiver público. A mim preocupa-me essa questão do público e tenho pensado sobre isto e trabalhado para ter público. Sinto que há pes-soas que nunca viram teatro e por isso têm uma ideia preconceituosa do teatro. Sinto que há uma espécie de divórcio do teatro”

E entre reduções e cortes, há ainda quem não tenha direito a nada. A companhia de Teatro Musgo, sediada no Porto, é uma delas. De portas abertas desde 2011, a Musgo não tem qualquer apoio financei-ro e logístico por parte do Estado: “Nós somos uma companhia não subsidiada, não temos absoluta-mente nada, só temos o nome, o logótipo e vontade de trabalhar”, diz Joana Moraes, diretora artística. Candidataram-se o ano passado ao apoio da DGArtes, mas o pedido foi-lhes negado. O único apoio que tiveram até então foi atribuído pela

Fundação Gulbenkian à peça El Dorado, num concurso a jovens en-cenadores: “Foi um pequeno apoio mas que foi muito grande para nós. Três mil euros é um valor muito simbólico no custo de uma produ-ção. Nós com esta peça tivemos ain-da gastos na ordem dos 1000 euros porque tivemos de comprar mate-rial elétrico. Tentamos reduzir ao máximo as despesas, mas o proble-ma é pagar o trabalho porque nós trabalhamos muito tempo, muitas horas e esse trabalho, supostamen-te, tem de ser remunerado.” Mas não é. Na Musgo onde trabalham quatro atores fixos, não existe sa-lário. A única remuneração vem do que sobra das bilheteiras. 30% a 40% já está destinado ao espaço em si, o restante vai para as despesas existentes. Os atores são os últimos da lista e ficam com o que sobra, que, segundo Joana “Não é uma re-muneração, é uma gratificação.” Gilberto Oliveira é um dos atores fundadores da Musgo, mas traba-lha noutros sítios e projetos porque trabalhar apenas na Musgo não dá para viver.Para ele o teatro tem uma impor-tância lúdica e de reflexão essencial para a sociedade: “E acho que nós na Musgo juntamos isso, partindo do lúdico com um sentido de hu-mor que eu acho que nos caracte-riza, mas que permite ao público fazer uma reflexão bastante forte.” Mas esta importância ainda não lhe é dada. Falta um maior número de apoios, falta uma maior atenção, falta divulgação. E diz ainda que o valor do Orçamento de Estado des-tinado à cultura talvez chegasse se fosse melhor distribuído. Gilberto é ator, o único da família e também o único empregado. Em Portugal o teatro vai-se segu-rando naqueles que vivem e traba-lham para o palco e para a cultura. E espera-se que esses não percam a força e o deixem cair.

Nós somos uma companhia não subsidiada, não temos absolutamente nada, só temos o nome, o logótipo e vontade de trabalhar

DOSSIER /3

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segura o teatro

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4/ POLÍTICA

O secretário-geral do PSD, Matos Rosa, remeteu hoje para o Governo a gestão do dossiê da reforma do IRC, afirmando que os sociais-democratas trabalharão para que haja “um bom fim”.“Esse é um dossiê que está do lado do Governo. Entre partidos, traba-lharemos sempre para que haja um bom fim e seja aprovada esta reforma que é muito importante para o país”, afirmou Matos Rosa à Lusa.O secretário-geral do PSD falava à saída de uma reunião com a Confederação do Turismo, que decorreu na sede social-democrata, em Lisboa, entre cerca das 10:30 e as 12:00. A maioria parlamentar, PSD e CDS, voltou a adiar, pela segunda

vez, o debate e a votação da reforma do IRC, que ficou agendado para hoje.Na quarta-feira foi reprovada a proposta do PS de baixar para 12,5 por cento o IRC para os primeiros 12500 euros de lucros, medida que os socialistas defendem que beneficiaria as pequenas e médias empresas. Em primeiro lugar, o PS pretende que qualquer descida da taxa de IRC fique dependente da redução do IVA da restauração, gás, eletricidade e da sobretaxa do IRS, não baixando também o valor real das receitas fiscais em sede de IRC. Na evolução das taxas de IRC, pelo contrário, o Governo pretende avançar com uma redução para o intervalo entre 17 por cento e 19 por cento em 2016, algo considerado “inaceitável” pelos socialistas, já que “se desconhece a situação das finanças públicas para os próximos anos” e quando, ao mesmo tempo, o

executivo “não prevê para o mesmo período qualquer redução em sede de IVA e de IRS”. A segunda exigência de fundo dos socialistas passa pelo fim da proposta do Governo que propõe a eliminação da dupla tributação económica e isenção de tributação de mais-valias, fixando como limiar para acesso a detenção de uma participação de cinco por cento pelo período mínimo de 12 meses. Em contraponto, a bancada socialista entende que essa eliminação da dupla tributação deve ter em conta as participações sociais, requerendo-se uma participação mínima de 10 por cento. Para o PS, a opção por uma participação inferior a 10 por cento, tal como sustenta o executivo, não assegura esse objetivo e acaba por abarcar situações de pura especulaçãofinanceira.

PSD diz que reforma do IRC está nas mãos do GovernoPor: Lusa

Rui Rio não se vai candidatar à liderança do PSD

O ex-presidente da Câmara do Porto Rui Rio rejeitou a possibilidade de se candidatar à liderança do PSD. Só em “circunstâncias especiais”, explicou.

“Não estou para aí virado. Acho que não vou estar para aí virado nunca, a não ser em circunstâncias especiais”, afirmou Rui Rio e acrescentou que não faria sentido neste próximo se-mestre alguém vir perturbar o traba-lho que está a ser feito pela liderança de Passos Coelho. Rio apenas admite avançar no futuro para a chefia do Governo ou até à Presidência quando a sua vontade “não mandar mais que a vontade dos outros”. Questionado sobre eventuais ex-pectativas de militantes no partido, Rio respondeu: “Não sei se o PSD está à minha espera ou não”, defen-dendo que o primeiro-ministro deve terminar a tarefa que tem pela frente. O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, também já afirmou que não tenciona colocar o lugar de presi-dente do PSD à disposição no curto prazo, confirmando que vai recan-

didatar-se: “Eu não tenciono colocar o meu lugar à disposição no curto prazo. Tenciono, antes pelo contrário, apresentar a minha recandidatura à liderança do PSD dentro de muito pouco tempo”. Com a tomada de posse do novo presidente da Câmara do Porto, Rui Rio deixou a autarquia após 12 anos e três mandatos. Vários analistas ti-nham apontado a liderança do PSD como a próxima etapa política de Rui Rio e António Costa Pinto chegou mesmo a avançar a hipótese da Presi-dência da República para o presiden-te da Câmara do Porto.

Rio afastou, no entanto, essa pos-sibilidade, afirmando antes mesmo de terminar o seu mandato de presi-dente da Câmara Municipal do Porto que espera “ter uma vida mais bem paga e mais tranquila”. O ex-autarca garantiu que isso só não aconteceria numa “situação em que possa não ter margem de ma-nobra para seguir aquilo que era o rumo que eu queria e ter de o alterar em parte, em nome de um interesse patriótico, da minha própria credi-bilidade ou de não defraudar a con-fiança das pessoas”, explicou à RTP.

Carvalho da Silva diz que não vai criar movimento Manuel Carvalho da Silva negou neste sábado, em declarações à agência Lusa, estar a participar na dinamização de um movimento unitário que congregue forças e apoios políticos e que poderá vir a constituir uma força eleitoral nas próximas eleições europeias de Maio.

Empordef nega contas do deputado de Viana sobre preço dos terrenos dos ENVC O presidente da Empordef garante que a Martifer vai pagar ao Estado pela subconcessão dos terrenos dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), contestando os valores avançados pelo deputado municipal do CDS-PP de Viana do Castelo, Carlos Freitas.

Seguro pede um “novo rumo para Portugal com a marca da solidariedade” António José Seguro pediu um novo rumo para o país com a “marca da solidariedade”, um “novo compromisso do Estado Social, porque “Portugal tem futuro” e defendeu um “Governo forte com voz própria e firme na União Europeia”

Lusa

Por: Carminda Soares

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Durante a sua estada, o chefe de Estado português reuniu-se com diversos governantes, entre os quais o vice-presidente angolano. “As autoridades de Angola estão informadas e sabem que, nos termos da Constituição Portuguesa, os nossos tribunais gozam de independência, agora não podemos

Primeiro-ministro convidou Paulo Rangel para cabeça-de-lista

Por: Lusa

O eurodeputado social-democrata Paulo Rangel foi convidado por Pedro Passos Coelho para enca-beçar a lista da maioria às eleições europeias em 2014, num encontro em Lisboa, na sexta-feira passada, con-firmou à agência Lusa fon-te do PSD.

Segundo a Lusa, o presidente do PSD e primeiro-ministro e o chefe da dele-gação social-democrata no Parlamen-to Europeu reuniram-se em Lisboa para discutir as eleições europeias de maio do próximo ano e Passos Coelho fez o convite a Rangel, para

liderar a lista da atual maioria. Em 2009, os dois partidos apresen-taram listas autónomas, com Paulo Rangel cabeça-de-lista pelo PSD e Nuno Melo pelo CDS-PP, sendo que, ao todo, os sociais-democratas elegeram oito eurodeputados e dois

O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, disse hoje estar convencido que Portugal e Angola têm “uma vontade muito séria de manter e reforçar os laços de cooperação”, após um encontro em

Joanesburgo com o vice-Presidente angolano, Manuel Vicente. Cavaco Silva esteve hoje durante cerca de sete horas em Joanesburgo, onde, com mais de cinquenta chefes de Estado e de governo, assistiu ao memorial a Nelson Mandela, o histórico líder sul-africano falecido na quinta-feira.

Por: Lusa

POLÍTICA /5é permitir que as instituições portuguesas possam ser usadas como instrumentos de luta política em Angola”, disse Cavaco Silva. “A luta política em Angola é feita pelos angolanos e eu não tenho a menor dúvida que as instituições democráticas portuguesas estão determinadas e não vão deixar que alguém tente utilizá-las para a luta política que se trava num país como Angola ou Moçambique, onde irão ocorrer eleições no futuro”, acrescentou. Hoje, o Presidente português encontrou-se com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, com o qual, disse, analisou a questão da Guiné-Bissau “Portugal e Timor-Leste querem que as eleições ocorram antes da cimeira da CPLP, não depois de março (de 2014), por forma a que possa ser levantada a suspensão e que o Presidente possa estar presente em Díli”, disse. Também a questão da Guiné-Equatorial, que quer aceder ao estatuto de membro pleno da CPLP, foi abordada no encontro de Cavaco Silva com Xanana Gusmão. “Não queremos que se chegue a uma situação semelhante aquela com que nos encontrámos em Maputo (em 2012) o assunto tem que ser esclarecido antes de Díli, e não posso acrescentar mais nada”, disse o Presidente português.

Cavaco acredita num entendimento com Angola

democratas-cristãos. No sábado passado, fonte oficial do CDS-PP disse à Lusa que Nuno Melo voltará a ser o número um do partido às europeias de 2014. Questionado pela Lusa em Estras-burgo sobre a sua continuação no

Parlamento Europeu, Paulo Rangel recusou fazer comentários, remeten-do para a posição de Passos no Con-selho Nacional de terça-feira, de que o partido, “até ao Congresso, não tem rigorosamente nada a dizer sobre listas” e que essas “só serão tratadas com os novos órgãos eleitos». A Lusa tentou contactar o presi-dente do PSD sobre esta informação, através do gabinete de imprensa do partido, que respondeu não haver nenhum comentário a fazer e que o tema das europeias só será abordado em março. Nas eleições europeias, marcadas para 25 de maio de 2014, os portu-gueses irão escolher os 21 eurodepu-tados que vão representar Portugal até 2019, menos um eurodeputado que nas eleições de há cinco anos, devido à recomposição do Parlamen-to Europeu acordada na sequência da adesão da Croácia à União Europeia.

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Primeiro-ministro convidou Paulo Rangel para cabeça-de-lista

6/ SOCIEDADE

Quentes e boas. Quentinhas. O pregão ouve-se pelas ruas do Porto, enquanto os vendedores, atrás das suas bancas ambulantes, se ocupam em assar dúzias e dúzias de castanhas. À saída de S. Bento encontramos Tina do Américo. Vende castanhas há mais de 20 anos, sempre no mesmo lugar: à porta da estação. Pergunta-mos o segredo de uma boa castanha assada, mas se o há, Tina do Américo não desvenda. Já Domingos Mota, com 35 anos de experiência na profissão, não hesita em revelar o seu toque especial: “ O segredo é usar sal marinho porque se for sal cristalizado não faz fumo e não branqueia as castanhas.” Ali na esquina, onde a 31 de Janeiro e a Sá da Bandeira se tocam, Domingos queixa-se que vendeu pouca castanha. “Pouca, muito pouca. Sabe que a crise quando toca toca a todos. Também se não fosse o turista mais valia desistir”, diz Domingos. Mas castanha que é castanha vem embrulhada em papel de jornal ou lista telefónica. Apesar das novas regras impostas pela ASAE que o proíbem, Tina do Américo garante que o freguês não quer outra coisa: “Fui obrigada a arrumar o cartucho porque querem as listas. É mais tradicional.” Uma dúzia de castanhas dois euros. Apesar de comprarem pouco, ninguém se queixa do preço, porque o sabor compensa. Cátia Silva é uma delas. Tem 24 anos e é fã de castanhas, não apenas no S. Martinho mas durante todo o ano. Concorda que as castanhas são boas enroladas no jornal porque para além de ser mais tradicional, é a favor da reutilização do papel. Entre comprar na rua e fazer em casa, Cátia hesita: “A nível económico prefiro fazer em casa. A nível de sabor prefiro comer na rua porque são muito melhores e e é bom estar a passear e a comer umas castanhas quentinhas” Em épocas de S. Martinho, ninguém conhece provérbios, nem Cátia, nem Domingos e muito menos Tina que diz estar sempre a vender e que não tem tempo para essas coisas. A verdade é que, com provérbio ou sem provérbio, em dia da S. Martinho come-se castanhas mesmo sem vinho.

Quentes e boas são as castanhas do Porto

Irene Guia esteve no Campo de Refugiados do Ruanda durante 3 anos a fazer voluntariado. A “necessidade” de ajudar além-fronteiras mudou a sua vida. Só não regressa para dar lugar a outros de viver a experiência.

A vontade de ir para um Campo de Refugiados “foi aparecendo como necessidade”. Irene estudava Teolo-gia em Roma, na Universidade Gre-goriana e teve acesso ao Padre Pedro Arrupe, criador do “Serviço Jesuíta aos Refugiados”, uma organização in-ternacional da Igreja Católica que tem como missão «Acompanhar, Servir e Defender» os refugiados, deslocados à força e todos os migrantes em

situação de particular vulnerabilida-de.. Segundo Irene, “o JRS é conhe-cido internacionalmente como uma ONG especialista em educação nos campos de refugiados. Esta organização “mexeu com o meu coração. Era um desafio que Deus me punha”, explica a irmã. Foi quando estudava em Roma, nos anos 80, que sentiu a vontade e começou a pedir. O desejo só se concretizou em 2006. Na altura era diretora do Colégio do Porto e sentia que aquela vontade não estava descansada.

O dia-a-dia num campo de refugia-dos

“Acorda-se e deita-se com o sol. Lá é fácil.” Acorda-se por volta das 5h30 da manhã e regressa-se a casa quando o sol se põe, por questões de segurança. Ainda que o JRS não cumpra tão religiosamente a regra, segundo a irmã. Em Kiziba, no Rwanda, Irene foi responsável por

todos os programas da JRS num campo com 17 mil pessoas, das quais 70% eram mulheres e crianças. A JRS trabalhava com a educação. Além de empregar habitantes dos campos para desempenhar as funções que pudessem, davam formação profis-sional a mais velhos. “Alguns eram analfabetos e queriam aprender, por exemplo, costura ou eletricidade”. Havia também o serviço aos mais vulneráveis como doentes, doentes mentais ou idosos. No primeiro ciclo havia 4200 crianças e no terceiro ciclo 1200. Faziam ainda formação com raparigas e rapazes que tivessedede-sistido da escola, ou por caso de gra-videz ou para trabalharem. No Ruanda, havia, segundo a irmã, recrutamento de crianças sol-dado: “crianças que desapareciam da noite para o dia, porque alguns gru-pos iam lá buscá-los. Havia um silên-cio muito grande nas famílias.” Além disso era importante saber viver com tiroteios não muito longe do campo, “onde os corredores das casas eram os sítios mais seguros.” Pela seguran-ça nos Campos de Refugiados estão os polícias dos próprios países. Irene explica ainda que a maioria dos refugiados tem grandes histórias de vida. “Nós não temos noção do que pessoas com 15 anos já passa-ram. A maioria das miúdas já tinham sido violadas e raptadas várias ve-zes.” No Ruanda, a violação é crime com pena até aos 25 anos. “O proble-ma é chegar a provar a violação”. Ao fim dia e após a experiência fica “a certeza de que Deus é fiel. É pre-ciso estar nas situações que parecem negar Deus para chegar lá e perceber que Ele está presente. O mais gratifi-cante é poder tocar Deus -vivíssimo na morte. Paradoxal? Nem pensar.”

Irene: Missionária Sem Fronteiras

Dos oito bombeiros falecidos no verão de 2013 devido aos incêndios florestais, cinco eram jovens. Na ver-dade, dos cerca de 28 mil no ativo re-gistados no Recenseamento Nacional dos Bombeiros Portugueses, 36% (10 064) têm menos de 30 anos, segundo dados recolhidos a 5 de Setembro pela Autoridade Nacional de Protec-ção Civil. Uma profissão que acarreta perigos constantes continua a cativar os jovens. Carlos é exemplo disso mesmo. Tem 23 anos e não sabe di-zer ao certo quantas horas dedica ao Quartel dos Bombeiros Voluntários do Porto por semana. Há três anos no ativo, o que é certo é que, de cinco em cinco dias, faz piquete, ou seja, passa a noite no quartel a trabalhar. Carlos Pereira é estudante de Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e garante

“Não vou sair daqui o melhor es-tudante de engenharia civil. Uma pessoa, sendo bombeiro, dá muito à casa. Uma das minhas maiores dificuldades é depois dos piquetes vir para as aulas. Não são rentáveis e acabo por estar aqui quase como presença.” Apesar das dificuldades em con-ciliar o estudo com o voluntariado, Carlos mantém o espírito do volun-tariado na sua ação como bombeiro. O estudante tem um gosto especial pelas ações na área da saúde porque “é a área que permite conhecer a realidade das pessoas. Ir a casa das pessoas e falar com elas é a atividade mais interessante para mim.” Neste quartel quem conhece os alunos é o professor. O formador de Carlos Pereira chama-se Luís Silva. Trabalha no INEM e é o 2º Coman-dante dos Bombeiros Voluntários do Porto. O formador acredita que o

que motiva os jovens que estão nos bombeiros é “a ideia por ajudar o próximo, porque a maioria das pes-soas que aqui vem diz que quer fazer voluntariado. Há várias formas de o fazer, mas os Bombeiros são uma al-ternativa que encontram para pode-rem prestar ajuda à população.” Ao amor à farda e a vontade de ajudar junta-se a força psicológica. Luis Silva diz que, para ser bom-beiro, é essencial distinguir a vida pessoal da profissional, e ter força psicológica para aguentar os esforços necessários, mas sempre no sentido de ajudar o próximo. Carlos Pereira acrescenta que é necessário tempo livre e “força para não desistir”, já que, segundo ele, “as pessoas não têm noção do tempo e a energia que são despendidos aqui, são tantos que às vezes parece que estamos num estado de dormência.”

Carlos, o soldado nos tempos livresPor: Mafalda Oliveira

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Por: Mafalda Oliveira

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ECONOMIA /7

O excedente comercial da Zona Euro atingiu em Outubro 17.200 milhões de euros, valor que compara com os 9600 milhões do mesmo período de 2012, segundo os dados divulgados pelo gabinete estatístico da União Europeia (UE) nesta segunda-feira.

Na análise aos 28 Estados-membros, as primeiras estimativas para Outubro apontam para um excedente comercial internacional de 4300 milhões de euros, valor que compara com o défice de 10.200 milhões no período homólogo. Na mesma nota, o Eurostat indica que reviu em baixa os valores do excedente comercial internacional da zona euro relativos a Setembro, de 13.100 milhões de euros, para 10.900 milhões. Os dados para os 28 Estados-membros também

foram corrigidos, passando de um excedente de 600 milhões, para um défice de 700 milhões. Os dados do Eurostat referem que Portugal registou entre Janeiro e Setembro um défice comercial de 6700 milhões de euros, inferior

Após se apurar que a Martifer tinha ganho a subconcessão dos espaços dos estaleiros da ENVC, já se previa que o resultado fosse o despedimento colectivo dos trabalhadores. No passado dia 10 essa decisão foi anunciada formalmente em Diário da República, autorizando o governo uma “organização de recursos humanos e eventual redução de efectivos”

A concessão do terreno e equipamentos à Martifer começa já em Janeiro, momento em que a empresa porá em prática a “necessidade de liquidar a empresa”,

elas palavras do Ministro da Defesa Nacional José Pedro Aguiar Branco. A Martifer está ainda obrigada a criar 400 postos de trabalho, para os quais entrevistará com prioridade os efectivos despedidos da ENVC. A Martifer pagará uma renda de 415 mil euros por ano, mas todas as dívidas do estaleiro serão assumidas pelo Estado. No primeiro semestre de 2013 os ENVC haviam já acumulado um passivo de 264 milhões de euros, encontrando-se sem financiamento por recurso à banca já desde 2012. Depois de as encomendas de cruzeiros para a Venezuela não terem chegado a bom porto, foi a recusa dos ferries construídos para a região autónoma dos Açores que declarou a derrota final dos estaleiros. O último navio construído zarpou dos estaleiros esta Segunda-feira. Tratava-se de um navio de patrulha encomendado por Paulo Portas para a Marinha, parte de uma encomenda de dois – uma encomenda que originalmente era composta por

oito navios, seis dos quais foram cancelados. Este foi o último dos mais de 220 navios construídos ao longo de 69 anos pelos ENVC. O “Figueira da Foz” partiu rumo à Base Naval de Lisboa, no Alfeife. Entretanto, o Presidente da Câmara de Viana de Castelo já assegurou o transporte para a manifestação que os

trabalhadores têm agendada para dia 18 de Dezembro, frente à residência oficial do Primeiro Ministro. O socialista José Maria Costa afirma que “esta luta é pela dignidade e pelo direito ao trabalho daqueles que ao longo dos últimos 69 anos ajudaram a construír uma empresa de referência da construção naval nacional”.

aos 8100 milhões registados no mesmo período de 2012. O gabinete estatístico indica ainda que as exportações portuguesas caíram 3,5% entre Setembro e Outubro, enquanto as importações aumentaram 1,9%. Na zona euro, as exportações

Excedente comercial dos países europeus está a aumentar

cresceram 0,2% entre Outubro e Setembro, enquanto as importações diminuíram 1,2%. No conjunto da União Europeia, as exportações aumentaram 0,5% e as importações caíram 0,8%.

Governo avança com despedimento colectivo nos estaleiros de Viana do Castelo

Por: Público com infografia de Ricardo Alves

Por: Lusa

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descrito por dirigentes da equipa de negociação como “chantagem”, e que Yanukovich está a tentar “evitar a todo o custo reformas necessárias para a realização do acordo”. Entretanto, a contestação dentro da Ucrânia mantém um tom elevado. Uma reunião do Presidente com membros da oposição no dia 13 de Dezembro foi descrita como uma farsa pelos líderes presentes,

Foi no passado Domingo que a União Europeia decidiu retirar-se das negociações para o acordo comercial com a Ucrânia. Štefan Füle, o comissário que chefia a equipa de negociação Europeia, comentou através da sua conta no Twitter que as exigências do executivo são irrealistas e “não têm base na realidade”.

Durante a última semana o comissário esteve em negociações com o vice-primeiro ministro, Serhiy Arbuzov, de forma a tentar concluír o acordo violentamente disrompido pelo Presidente Yanukovych. Na raíz do abandono das negociações por parte da UE estará o valor de 20 mil milhões de euros exigido pela Ucrânia com vista à modernização da economia. Este valor já foi

acusando Yanukovich de não considerar nenhuma das exigências apresentadas. Quanto aos protestos nas ruas da capital, no último Sábado assistiu-se a uma demonstração de força dos opositores do regime. Foram convocadas para o fim da tarde desse dia duas manifestações com menos de um quilómetro de distância: uma a favor do Presidente, e outra a exigir a sua demissão. No entanto a manifestação pró-governamental cedo dissipou, enquanto que a multidão da oposição se manteve durante a noite na Praça da Independência. Noutro sinal visto como uma vitória das manifestações, o Presidente Yanukovich já suspendeu de funções o presidente da câmara de Kiev e o vice-ministro da segurança interna. Outros apenas apontam para isto como uma tentativa de apaziguamento sem grandes consequências.

União Europeia suspende conversações com a Ucrânia

tou medidas para reduzir os custos da produção, baixou o juro e desva-lorizou o câmbio e mesmo com todas essas intervenções, a economia brasi-leira não cresceu conforme o espera-do. O resultado disso foi o chamado “PIBINHO”, com a queda do desem-penho de setores básicos como a agri-cultura, que antes havia crescido 2,9% e caiu para 2,3%. Andaram para trás também Indústria, 0,8%, e o setor de serviços que sofreu uma queda de 2,7% para 1,7%, e, ainda assim, foi o único setor que ainda se manteve com alta, segundo Wander. O economista acredita que para a meta ser alcan-çada não dependeria apenas do go-verno brasileiro e que hoje qualquer

Ações de fôlego curto. É assim que o Economista e Mestre em Administração Financeira Wander Malta define as últimas iniciativas do governo brasileiro para alavancar o crescimento econômico no país.

Após a adoção de medidas in-tervencionistas, como o aumento do juro, os reajustes dos preços e a compra de moeda para a valoriza-ção do dólar, o Brasil tenta reverter o quadro de maior pressão inflacionária vistos nos primeiros dois meses de 2013. E, para Wander, a intenção principal de tudo isso é compen-sar o que não foi feito no passado. Especializado em acompanhar a conjuntura econômica e financeira do país, Wander atua há mais de 20 anos em uma multinacional do se-tor industrial. O economista afirma que o Brasil precisa dar uma andada na questão do crescimento. Para ele, em 2013 o PIB irá crescer 3% e não al-cançará a esperançosa meta de mais de 4% perseguida pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Pelos da-dos, 3% já é um número que o mer-cado está assimilando melhor. Temos que levar em consideração que no próximo ano acontecerão eventos atípicos. Cálculos afirmam que 1,5% desse crescimento deriva da Copa do Mundo, então se tirássemos o efei-to deste, teríamos um crescimento

apenas um pouco maior que 2012”. Algumas medidas, como as de-sonerações feitas pelo governo são alternativas para acelerar esse pro-cesso. Por outro lado, os reajustes de preços e a inflação têm causado desconforto. Com o intuito de agir rapidamente, o Banco Central pode iniciar um novo ciclo de aperto mo-netário. Wander questiona essa me-dida e diz que ainda não está claro que isso pode acontecer. O objetivo seria o combate à inflação que tem ficado acomodada em um patamar de 6% em 2013. “É um número que, se compararmos com a economia de países desenvolvidos, é alto”. Nos últimos meses o governo ado-

variável macroeconômica nos países do 1º mundo interfere diretamente no Brasil, por ser uma economia global. “O que passamos no último ano já foi difícil, vejo que agora é que vamos co-meçar a evoluir. O governo precisa dar prioridade ao combate da ineficiência do custo Brasil”. O economista afirma que o país tem sido incompetente ao perder importações do setor agrícola, que obteve uma safra recorde no ano passado. Ele faz referência ao fato de a China ter cancelado os pedidos por falta de transporte. “Existem portos internacionais que trabalham 24 horas por dia, enquanto o Brasil funciona apenas durante 8 horas diárias. Pre-cisamos de artifícios para tornar mais ágil o processo produtivo”, revela. Wander Malta prevê ainda que em 2014 o governo não tomará medidas fortes e que irá procurar fazer com que a economia volte a crescer para ter o que mostrar nas próximas elei-ções. Ele diz que, para manter a po-pularidade do governo, grandes res-trições monetárias serão evitadas. “O governo, principalmente o PT, perdeu uma grande oportunidade de fazer al-gumas reformas que precisam aconte-cer na nossa economia. Por exemplo, precisaríamos de uma reforma previ-denciária, uma reforma tributária e uma reforma até mesmo política para que as pessoas sofressem menos com as circunstâncias que vemos.” Para ele, a Copa do Mundo e as Eleições no próximo ano irão manter a econo-mia em um patamar pelo menos mais equilibrado, não só por ser uma ne-cessidade do governo, mas sim pelos próprios acontecimentos.

“O governo brasileiro precisa dar prioridade ao combate da ineficiência do custo”

Por: Lusa

Por:Fernanda Paula

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AFP

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económicas que dividem a União Europeia, e sendo que Wolfgang Schauble se mantém como ministro das Finanças, a política neste novo mandato deverá ser a mesma que foi conduzida até agora. Ao todo, os sociais-democratas da SPD ficam com 6 pastas num governo de 16, obtendo para além das já mencionadas as pastas do Ambiente, Justiça e Família. Os democratas-cristãos de Merkel ficam ainda com os ministérios do Interior, Saúde e Educação. Outra novidade é a possibilidade do ministério da Defesa ser desta vez assumido por uma mulher, Ursula von der Leyen da CDU. Angela Merkel tomará posse do executivo e formalmente investirá o seu governo na próxima Terça-feira.

Estão concluídas as negociações para o novo governo de Angela Merkel, tendo os sociais-democratas da SPD ficado com a tutela do ministério da Economia e o ministério dos Negócios Estrangeiros. Sigmar Gabriel, líder do partido social-democrata, deverá ser o novo vice-chanceler. Wolfgang Schauble mantém-se como ministro das Finanças. O acordo para o novo governo foi aprovado com 75% dos votos em referendo interno dos membros do SPD, um partido de esquerda e onde até recentemente havia algumas

vozes a questionarem se o seu lugar não seria na oposição. O anúncio dos resultados das negociações chega apenas duas semanas após a apresentação final do acordo de coligação, que prevê instituir pela primeira vez o ordenado mínimo na Alemanha e introduzir a reforma antecipada. Entre as plataformas anunciadas está ainda a intenção de abandonar a energia nuclear a favor de energias renováveis e a redução de emissões de carbono em 40%. Este é um diploma que tem sido amplamente debatido na sociedade alemã e que muitos questionam se será de todo possível. O governo anunciado hoje indica que serão os novos parceiros de coligação a chefiar esta transição energética. No entanto, nada de novo foi anunciado no que toca às questões

Novo governo em coligação da chanceler Angela Merkel anunciadoPor: Lusa

file:///C:/Users/Mafalda%20Oliveira/Desktop/816106.jpg Papa Francisco diz que não fica ofendido quando lhe chamam marxista

Cameron quer que selfie com Obama no Memorial de Mandela seja leiloado O primeiro-ministro britâncio David Cameron , pediu à homóloga dinamarquesa para não apagar fotografia e, em vez disso, sugeriu que a leiloasse, para que o dinheiro seja entregue a instituições de

Papa Francisco diz que não fica ofendido quando lhe chamam marxista .O líder de igreja católica assegura que não é marxita, mas afirma que não se sente ofendido quando o dominam como tal. O Papa Francisco mostra-se preocupado com a “tragédia da fome no mundo.”

Tiroteio em liceu no Colorado faz pelo menos um ferido grave Um ataque a tiro num liceu de Denver, no estado do Colorado, nos EUA, deixou um estudante ferido com gravidade. O atirador, que era um aluno da escola, foi encontrado morto, avançou a polícia, em conferência de imprensa, acrescentando que este provavelmente se suicidou.

seio social chileno. A sucessora de Piñera foi eleita numa coligação de centro-esquerda, e uma das suas principais plataformas foi a de uma reforma da educação financiada por uma subida de impostos sobre as empresas. Anunciou também que iria iniciar uma revisão da constituição, que muitos cidadãos ainda afirmam não ser suficientemente sólida para restabelecer os danos sociais sofridos durante o regime de Pinochet. Com uma oposição cerrada a estas medidas, Bachelet precisava de uma ampla maioria para tentar implementá-las. Estas eleições atraíram bastantes atenções por ser um duelo entre duas mulheres com um passado partilhado. Bachelet e Matthei conheciam-se desde infância, tendo as duas crescido na mesma base militar onde os pais estavam afectos.

Foi no passado Domingo pelas 22:50, hora de Lisboa, que foram anunciados os resultados das eleições gerais do Chile, dando a vitória a Michelle Bachelet. Os resultados não podiam ser mais claros: 62% votaram na candidata socialista, seguida de longe pela conservadora Evelyn Matthei com

apenas 38%. É assim anunciado veredicto dos chileno numa corrida eleitoral pouco usual: com duas candidatas femininas na corrida. Bachelet já havia cumprido um mandato entre 2006 e 2010, altura em que perdeu as eleições para Sebastian Piñera. Após uma série de eventos que afectaram a estabilidade do país que governava – entre eles dois terramotos e o evento global dos mineiros encurralados – a contestação contra Piñera subiu de tom até culminar nos protestos estudantis do inverno de 2011-2012. Estes protestos apontavam a necessidade de maior investimnto na educação pública como o seu objectivo, mas eventualmente a sociedade em geral acabou por aderir para denunciar também a grande desigualdade económica no

Michelle Bachelet vence as eleições o Chile

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DRPor: Lusa

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Catarina Monteiro nos Europeus de Natação

Por: Carminda Soares

Catarina Monteiro tem 20 anos e frequenta o curso de Bioengenharia na Uni-versidade do Porto. Tiran-do isso já ganhou 10 me-dalhas de ouro e este ano garantiu a presença nos Europeus de Natação.

No passado dia 10 de Novembro Catarina Monteiro conseguiu os mínimos de acesso para o Campeo-nato Europeu em piscina curta. A estudante da Universidade do Porto conseguiu a marca de 2:10.48 nos 200 metros mariposa no Open do Campeonato Nacional da Bélgica, em Gent, superando os 2:10.79 exi-gidos e o anterior máximo pessoal de 2:12.21. Apesar de se ter inscrito, Catarina não estava a contar bater o seu próprio record pessoal: “Tanto eu, como o meu treinador tínhamos

pensado numa época mais calma. Tentar focar-me mais nos treinos, li-bertar um bocado a pressão e ir para as provas sem objetivos. Eu no iní-cio do ano inscrevi-me para partici-par no campeonato da Bélgica com o intuito de fazer o mínimo para o campeonato de europa, mas fui para lá sem grandes compromissos, se der dá de não der não dá. Mas coisas correram da melhor maneira e foi uma surpresa enorme.” b Catarina pratica natação desde os três anos de idade, mas foi aos 18 que integrou a parte de competição do Clube Fluvial de Vilacondense. Depois de experimentar um sem número de desportos a natação foi a eleita por ser a modalidade que dava para “libertar mais energia”. A fazer onze treinos por semana, Catarina passa tanto tempo dentro de água como fora. Para além destes treinos na água, ainda faz dois de ginásio e duas a três horas por se-mana de trabalho funcional. E ainda

existe o curso de bioengenharia: “A certa altura temos de fazer al-gumas opções, não dá para querer tudo. Neste momento a minha opção passa por tentar fazer o curso em mais um ano, do que os cinco anos previstos, fazendo me-nos duas ou três cadeiras em cada semestre, de maneira a conciliar com as idas aos treinos e várias provas.” A nadadora do Clube Fluvial de Vilacondense vai com-petir nos duzentos e cem metros

mariposa. O objetivo é ficar nos dezasseis primeiros. Na natação o sonho é participar nos Jogos Olímpicos do Brasil: “Agora o grande objetivo é sem dúvida os jogos olímpicos de 2016, passando por Campeonatos da Europa e Campeonatos do Mundo que hajam até lá. E depois penso em acalmar um pouco. Não digo desistir da natação porque era uma mudança muito grande, mas abrandar.”

O Tribunal de Viana do Castelo está a julgar um caso em que dois surfistas daquele concelho são acusados do crime de ofensas à integridade física, mútuas, por terem chocado no mar ao disputar a mesma onda.

Os factos, segundo a acusação deduzida pelo Ministério Públi-co (MP), consultada pela agência Lusa, remontam à tarde do dia 24 de Novembro de 2012, na Praia do Cabedelo, na margem esquerda da cidade de Viana do Castelo, quando ambos estavam na água, numa zona bastante procurada para a prática de surf. O caso envolve o actual presi-dente da Surf Clube de Viana, João Zamith, de 38 anos, um dos mais conhecidos surfistas e dirigentes associativos desportivos na região. Do outro lado está Ricardo Forte, de 37 anos, igualmente um dos mais experientes surfistas do concelho e empresário local. Diz a acusação, após queixas

apresentadas por ambos, que estes “decidiram apanhar uma onda numa zona muito próxima” e “em sequên-cia diferenciada”. Quando Ricardo Forte “deslizava na sua prancha na crista de uma onda” surgiu João Zamith “em sentido contrário, pre-parando-se para apanhar a referida onda”. “Nesse momento, cada um deles assentou em manter o rumo, sem se desviar, pelo que embateram com as respectivas pranchas um con-tra o outro”, lê-se ainda na acusação. O choque acabou por provocar fe-rimentos diversos nos dois surfistas,

que necessitaram de receber assistên-cia médica, e danos avaliados em 70 euros numa das pranchas. Em terra, ambos envolveram-se ainda numa troca de acusações, com ameaças de parte a parte. O surfista João Zamith responde em tribunal por um crime de ofensa à integridade física simples e outro de dano, provocado na pran-cha do colega Ricardo Forte, que, por sua vez, está acusado pelo MP do mesmo crime de ofensa à integridade física simples. Nesta terça-feira, na segunda ses-são do julgamento, o tribunal ouviu

várias testemunhas, nomeadamente outros surfistas, em que nenhum disse ter presenciado os factos, apeli-dados na gíria da modalidade “drop in”, ou “interferência” - de outro sur-fista - durante o momento em que a onda está a ser surfada. Uma das testemunhas, ex-presi-dente da Federação Portuguesa de Surf, recordou que “ninguém rouba ondas” porque as “ondas são de todos”, mas admitiu que os dois ti-nham “experiência suficiente” para evitar o choque. Guilherme Bastos acrescentou que, em dez anos de federação, só se recorda de outros dois casos seme-lhantes, fora de competição, numa outra praia de Viana do Castelo e em Aveiro. Em competição, disse ainda, é “frequente” a ocorrência destas “interferências” durante a prática de surf, cabendo depois a decisão sobre eventuais infracções a um júri consti-tuído por quatro pessoas. “Agora imagine a minha posição, que sou só uma a decidir”, ironizou a juíza, que criticou o facto de ambos os surfistas não se terem entendido fora do tribunal. O caso tem ainda uma terceira sessão de julgamento agendada para o mês de Dezembro.

Surfistas que chocaram na mesma onda decidem caso em tribunalPor: Lusa

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Daniel Rocha Arquivo: Público

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Dulce Félix: “Tenho muito orgulho em mim”

No passado dia 8 de De-zembro, Dulce Félix con-quistou o bronze nos eu-ropeus de corta-mato. O terceiro lugar em Belgrado foi a confirmação que a portuguesa era a melhor expectativa nos 20.ºs cam-peonatos europeus de crosse. Dulce Félix conta as suas esperanças, ambições e orgulhos.

Por: Mafalda Oliveira

Djokovic promete treino “estilo rambo” para bater Nadal em 2014

O sérvio Novak Djokovic revelou esta sexta-feira que o “principal objectivo para 2014 é vencer o número um do mundo”, Rafael Nadal, em Roland Garros e recuperar a liderança do ranking mundial de ténis, perdida este ano para o es-panhol.

“Vou treinar estilo ‘Rambo’ para voltar à liderança do ranking. Tenho muitos objectivos para 2014 o maior deles é tentar bater Rafa [Nadal] em Roland Garros”, disse o número dois do mundo. O tenista sérvio, que se

encontra na Argentina para disputar, no domingo, um jogo de exibição com Nadal, considerou que “as der-rotas no Grand Slam [com Nadal] fo-ram duras”. “Sentei-me com a minha equipa para discutir formas de me-lhorar. Tenho a certeza de que essa estratégia valeu a pena”, explicou. Novak Djokovic, que acabou o ano no segundo lugar do ranking ATP, atrás de Nadal, terminou por duas vezes (2011, 2012) a temporada como líder mundial e nunca venceu em Roland Garros, principal torneio de terra batida. Já o espanhol finalizou a temporada como número um por três vezes (2008, 2010, 2013) e detém o recorde de títulos em Roland Gar-ros, segundo torneio do Grand Slam da temporada (oito: 2005, 2006, 2007, 2008, 2010, 2011, 2012 e 2013).

Por: Lusa

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Em cinco anos conquistei cinco medalhas individuais. Tenho que estar feliz.

A vimaranense garantiu em Belgra-do a sua quarta medalha indivi-dual consecutiva no certame, de

longe o melhor desempenho luso no conjunto das seis provas realizadas. “Cada vitória é o resultado de muitos anos de esforço, pois não é a treinar durante meia dúzia de meses que se chega ao pódio.” A atleta acredita que a medalha já era esperada, “No entanto, se fosse a de ouro, acho que teria mais impacto. A medalha de ouro no corta-mato é a única que me falta no meu curricu-lum”. Dulce Félix sente que a sua vitória foi reconhecida, mas “Claro que não como o futebol. O futebol é sempre mais reconhecido que a nossa modalidade. ”Em cinco anos, a corredora conquistou cinco medalhas individuais. Ainda assim, admite que quando treinava no Vizela, nunca pensou chegar tão longe. A paixão pela corrida começou ainda na esco-

la, onde encontrou no atletismo uma forma de “sair um bocado de casa para estar com os meus amigos.” É só em 2008 é que aposta no atletismo a tempo inteiro. A atleta trabalhava numa fábrica e tornou-se impossível conciliar o emprego com os treinos. “Toda a gente me apoiou para eu dei-xar o trabalho. Diziam que eu tinha futuro no atletismo. Logo após isso surgiram os bons resultados.” Atualmente treina todos os dias cerca de 3 três horas e meia. “Para estarmos no topo, o atletismo ocupa muito tempo.”, conta a vimaranense. Antes das grandes corridas, tal qual uma artista que sobe a um palco, Dulce Félix ainda fica nervosa. Mas o tiro de partida é o suficiente para esquecer tudo e concentrar-se. Du-rante as provas os pensamentos são

sempre positivos. “Penso que vou conseguir, que o treino correu bem, que eu treinei para isto… Quando dou por ela, a maratona já está quase concluída. A sua inspiração vem de nomes portugueses no atletismo, como Fernanda Ribeiro, Rosa Mota ou Manuela Machado. “São poten-ciais fora de série. Têm mais é que nos motivar”. O ponto mais alto na

vida da atleta foi, para já, ter-se sa-grado campeã da europa em Helsín-quia. Antes da prova, Dulce Félix sa-bia que poderia trazer uma medalha para Portugal porque já conhecia as adversárias. Mas nunca esperou que fosse a de ouro. “Só quando cortei a meta é que realmente vi que conse-gui.” “Naquele momento sente-se o prazer do dever comprido. Todos os esforços são recompensados naquele momento.” Quanto a 2014, por ser ano de campeonato europeu, Dulce Félix que ir à pista defender o seu título de campeã da europa. “Vou à luta. Sei que é difícil, porque toda a gente treina para o mesmo. Toda a gente quer ganhar uma medalha. Mas eu também quero. “. Dos Jogos Olímpi-cos no Brasil a ambição é maior do que a de 2012. A atleta minhota quer vencer a maratona. “Quero fazer melhor do que o que fiz em 2012”.

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Lusa

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Considera-se um escritor português ou um escritor americano?Os dois (risos) – os rótulos já não me interessam muito. São úteis para bibliotecários e catalogadores, mas o meu objectivo é escrever um excelente romance. Quanto a classificar o romance, já me é indiferente.

Disse que gostava de escrever sobre Portugal, mas isso será ainda mais verdade neste último livro do que no resto da sua obra. Há aqui uma mudança de tom, passou dos romances históricos para desenhar cenários mais contemporâneos. Porquê, e porquê agora?Eu não tenho uma estratégia para a minha carreira, não penso na sequência dos assuntos que vou abordar. Surge-me uma ideia, uma imagem. Fico obcecado, fascinado, e escrevo então o livro. Tal como foi neste caso. A personagem principal do meu novo livro, o inspector-chefe Henrique Monroe que nasceu nos Estados Unidos e se mudou para Portugal aos 14 anos, é uma pessoa que me fascina. Na sua maneira de ser, no transtorno dissociativo de identidade que ele sofre, adoro a relação que desenvolve com o irmão mais novo. Nada disto é estratégia, foi só uma personagem que me surgiu.

O detalhe do transtorno dissociativo de identidade foi então a ideia à volta do qual começou a escrever o romance?Exactamente. Estava numa livraria em Nova Iorque, na Terceira Avenida, quando me deparei com um livro de psicologia sobre transtornos insólitos. Comecei a ler, e deparei-me com este transtorno que antigamente

era designado por personalidades múltiplas. Decidi ler mais sobre o assunto, inclusive casos reais e surgiu-me a ideia de um polícia com um alter ego muito perspicaz, sensível e com muita intuição, e pareceu-me uma ideia genial para um policial. Modéstia à parte, claro. O livro é capaz de ser terrível, abominável, mas a ideia é muito boa. Este é um transtorno que aparece muitas vezes em pessoas que foram abusadas na infância. Este alter ego é uma forma da criança se poupar a si própria desta violência – por um lado é maravilhoso, ver uma defesa despontar assim, mas por outro lado há muitas ramificações difíceis. Viver com outra pessoa num mesmo corpo, é difícil, não se conseguem manter relações estáveis.

Na trama de A Sentinela, o Richard acaba por ter um segundo tema: a crise que o país atravessa.Sim, decidi colocá-lo a investigar um crime em Lisboa, o homicídio de um abastado construtor civil, e a partir daí o envolvimento na crise moral e económica em Portugal. Monroe acaba por ter que lidar com símbolos disso. O crime que ele está a investigar, este homicídio, recorda-o

da sua infância, mexe com as suas emoções e identidade. Mas também obriga Monroe a reconhecer que estamos numa fase muito difícil neste momento, numa crise ecónomica, psicológica e moral. O dilema para Monroe é o seguinte: sendo ele um polícia, o dever dele é defender a ordem na sociedade. Devia ele continuar a defender a ordem numa sociedade corrupta?

Alguém nessas condições estaria a subscrever a acção das autoridades...Ele chega a essa conclusão, que se calhar não é a melhor opção. Embora isso evidentemente lhe vá criar muitos problemas, pois a vocação dele é proteger os outros, adora ser polícia e não imagina fazer outra coisa.

Isso seriam raízes para uma ideia revolucionária, em última instância?Eu não vou revelar o final do livro porque afinal é um policial (risos) mas sim, levanta questões básicas para todos nós. Como é

que nós queremos participar na nossa sociedade. Queremos apoiar uma lide corrupta, queremos fazer parte desse sistema, queremos simplesmente ser mais uma peça na máquina ou vamos criar uma ruptura? Para o cidadão comum esta última escolha é sempre mais difícil, há muito a arriscar. E actualmente para os jovens é ainda mais difícil encontrar sequer um lugar na sociedade.

Prosseguindo essa reflexão, temos casos que se verificam regularmente de abusos nas mais altas esferas do poder sem nenhuma consequência aparente para quem as comete. Ao nível geopolítico, temos situações como os EUA a espiarem até os seus próprios aliados sem se verificar algum tipo de resposta. Nestas condições, poder-se-à dizer que vivemos ainda em democracia?Isso é uma excelente pergunta. Eu acho muito difícil manter uma democracia quando os tribunais não funcionam. O sistema de justiça é

Entrevista a Richard Zimler

“Quando acabo um livro, fico completamente esgotado“Nascido em 1956 em Nova Iorque, é através do companheiro Alexandre Quintanilha que em 1990 Richard Zimler se radica em Portugal, mais concretamente no Porto. Já foi professor na área de jornalismo, mas é mais conhecido como novelista de romances históricos. Falamos com ele sobre o novo livro, e sobre o estado da nação.

Eu acho muito difícil manter uma democracia quando os tribunais não funcionam.

Por: Ricardo Alves

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tão básico a qualquer democracia, mas não está a funcionar. Quando perdemos a confiança nele, estamos numa sociedade em que a democracia realmente não funciona. E, ainda por cima, o fossoentre os mais ricos e os mais pobres em Portugal é muito grande. Já não me lembro exactamente do lugar,mas Portugal está entre o top10 entre os países desenvolvidos em termos de discrepância de rendimento entre ricos e pobres. Isso é abominável. Normalmente a nossa definição de democracia não tem a ver com economia, mas eu já cheguei à conclusão que uma democracia sem justiça económica talvez não seja uma democracia. É uma questão muito importante para a geração jovem.

Mencionou várias vezes a situação dos jovens portugueses. Como vê a situação da emigração como saída para os jovens licenciados que não conseguem emprego?Eu acho que cada pessoa tem

que escolher as suas próprias opções conforme os seus desejos, capacidades e possibilidades. Custa ver tantas partidas, mas é capaz de ser a melhor solução, porque simplesmente não há emprego aqui. Por outro lado, temos que lutar para dar uma volta a esta situação. Tenho pouca confiança no governo actual, mas eles não vão estar lá para sempre. Temos uma vantagem muita grande em Portugal: é um país relativamente pequeno, com apenas 10 milhões de habitantes. Seria possível mudar o

rumo muito rapidamente e muito significativamente. Isso já não seria o caso dos EUA, onde nasci. Mudar o rumo de 300 milhões de habitantes é uma manobra gigantesca. Eu acredito que o tamanho de Portugal é uma vantagem, e que daqui a um par de anos, com novo governo e mais confiança do público, talvez seja possível mudar o nosso rumo radicalmente. Criar mais emprego e mais confiança.

Mas com o Banco Central Europeu e com o FMI a manter uma vigilância constante, não acha que os ventos da mudança nos estão a afastar dessa direcção e a aproximar-nos de outra onde até o redesenho da Constituição é posto como hipótese?Eu penso que nunca nos poderemos afastar demasiado dessas instituições, mas por outro lado também não podemos abdicar da nossa responsabilidade como uma entidade única, uma democracia individual. Eu penso que o nossogoverno é mais papista do que o

Papa, ou seja, tomou medidas que nem as organizações internacionais recomendavam para Portugal. É algo que eu não percebo muito bem, seguir este rumo independentemente dos resultados desastrosos que se verificam. Temos uma taxa de desemprego de 16,5% neste momento, mas eu já fiz os cálculos e se os 400 000 emigrantes tivessem ficado por cá, o valor seria na ordem dos 24,5%. E isto vai continuar a subir, a não ser que haja muita emigração.

Isso já foi uma receita dada aos jovens pelo seu próprio governo: emigrar caso não conseguissem emprego.Pois, isso é diabólico! É uma política muito estranha, recomendar que os próprios cidadãos abandonem o país, é um conselho que não se espera ouvir de um governo.

O Richard já disse que não tem uma visão muito estratégica sobre a sua carreira. Mas sendo este novo livro o primeiro a ser editado pela Porto Editora, há novos projectos, novas ideias planeadas?Sim, tenho vários projectos. Tenho um livro para crianças que já acabei de escrever, e neste momento o grande artista português Júlio Pomar está a completar as ilustrações. Se ele completar as ilustrações antes do fim do ano, vamos lançá-lo em Abril do ano que vem. Ainda não estou a escever um novo romance, porque não tenho energia. Quando acabo um livro fico completamente esgotado.

Passa sempre por essa exastão no fim do seu processo criativo?De facto. No meu processo começo com uma imagem, ou uma ideia. Depois parto para a pesquisa, que leva entre 6 meses a um ano, um processo que é ainda mais essencial quando estou a escrever um romance histórico. Como o foi para os Anagramas de Varsóvia, por exemplo. Li tudo o que consegui encontrar sobre Varsóvia em 1940, e só quando senti que tinha uma visão bastante clara da cidade e da vida quotidiana das pessoas nela é que comecei a escrever. Esta fase leva entre dois a três anos. Este último, A Sentinela, levou-me dois anos e meia. Entre seis a oito horas de escrita por dia. Já não consigo fazer muitos dias de dez a doze horas de escrita por dia, como cheguei a fazer quando era mais jovem. Nesta altura fico bastante isolado, não falo com muita gente. É um processo intenso, de escrita e re-escrita, até que eu sinta que cada cena seja cativante, sólida, e que faça a história flua bem. Escrever é muito complexo.

É uma política muito estranha, recomendar que os próprios cidadãos abandonem o país, é um conselho que não se espera ouvir de um governo.

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“Imaginam que sou a Simone. Bem, não tenho outro nome”. Foi assim que Simone de Oliveira deu o mote à apresentação do livro “Força de Viver”, escrito na primeira pessoa a partir de conversas com a jornalista Patrícia Reis.

“Não deve ter sido fácil sentar-se em minha casa durante tantos dias, apanhar o meu jeito de falar e as minhas histórias.” Em 208 páginas cntam-se muitas histórias. Histórias que resultam em: “Talvez dar umas gargalhadas. Talvez deitar uma lágrima ou outra. Talvez perceber que a vida das pes-soas nem sempre é boa e nem sempre é má.”, explica a cantora. Do alto dos seus 75 anos, Simone conta que não sente saudades das histórias que viveu, pois estão bem vivas dentro de si. Publicar o livro foi uma forma de “pôr os pontos nos is”. Mas não em todos. A atriz admite que muito ficou por contar. “Há coisas que são nos-sas. São jardins secretos. Não vale a pena falar demais. Não quero tirar a ilusão às pessoas. Elas põem nas vidas das figuras públicas toalhas que não existem. Vamos guardar essa toalha como uma coisa bonita. Deix-emos que essa toalha de estrelas con-tinue a existir sobre nós todos.” Na contracapa lê-se que Simone de Oliveira tem o dobro do sangue dos outros. Patrícia Reis, a escrito-

ra, relata que a cantora tem “Uma história de vida que é uma lição, um pano encharcado nas trombas, uma miséria, uma montanha russa.” Já Simone diz: “as pessoas ‘acusam-me’ de ter muita força. Não sei se é bem verdade. Brincando com uma frase do Carlos do Carmo: A idade dá muito conhecimento, mas também dá muitas dores.” A vida de Simone deu mesmo um livro. “Dava vários.”, conta. Mas se em vez de ter um livro para contar a sua vida, Simone só tivesse uma frase, seria: “Amai-vos uns aos out-ros”.

Nem só de Força vive Simone O livro é só um pretexto para uma conversa que se revela longa, inti-mista e divertida. Afinal, trata-se da vida de Simone. 55 anos “de mala na mão”, numa vida que se revelou lon-ga mas nunca pesada. “Eu costumo dizer que só não me doem as pesta-nas, mas de resto sou feliz”. Afinal, o que dá força a esta lenda viva? A atriz revela que a sua família e amigos mais próximos (“conto-os

com uma mão”) são os seus alicerc-es. Fora do livro onde é personagem principal, na vida real, Simone de Oliveira tem as personagens se-cundárias como personagens princi-pais. “São os meus filhos e os meus netos. E a memória sempre do meu pai e da minha mãe. Se eu sou algu-ma coisa como pessoa, devo-o aos meus pais.” “Na força há sempre medo.” Mas Simone responde-lhe de frente: “O meu medo faz-me andar para a frente. O meu medo não me faz fi-car em casa fechada e dizer “eu não vou porque tenho medo”. O medo vem atrás de mim e eu já estou em Espanha, percebe? (risos)”. As rugas “representam tudo que eu chorei ou ri. Eu não critico quem quer mudar a cara, mas eu não sou capaz. Acho que ia olhar para mim e não ia saber onde estava a minha alma.” A atriz garante que viveu tudo que queria viver intensamente e que quer contin-uar a fazê-lo. “É sinal que estou viva. E se há coisa que eu gosto, é de viver. Mesmo quando está tudo empacado que só apetece desatar à bofetada … ai se eu pudesse!”

Os jardins secretos de Simone de OliveiraPor: Mafalda Oliveira

“Desfado” considerado o mehor disco do ano. O jornal “The Sunday Times” considerou “Desfado” o melhor disco de World Music 2013. O álbum de Ana Moura ficou à frente de nomes como Leyla McCala, Kobo Town, ou Ry Cooder.

Bilhetes para o regresso de Monty Python esgotam em 43,5 segundos Eles bem disseram, em tom de brincadeira, que iam ficar ricos com o regresso. A verdade é que os bilhetes esgotaram em tempo recorde. Foram acrescentadas mais quatro datas mas também para essas

Maria João Pires na corrida aos Grammys A pianista portuguesa foi novamente nomeada para os prémios de música norte-americanos Grammy, na categoria de melhor intérprete a solo. A cerimónica realiza-se a 26 de Janeiro, em Los Angeles.

Ser músico profissional é o sonho de muitos, mas não é atingido por todos. Tiago Santos é exemplo dos que sonharam e conseguiram: da Orquestra do Youtube para a Orquestra Mundial.

A estudar música desde os 7 anos, Tiago, agora com 24, não hesitou quando teve de escolher o violino: “Gostava de aprender um instrumen-to. Achei o violino interessante e tive curiosidade em aprender”. A partir daí, a música passou de hobby a objetivo. O jovem músico entrou para o curso de Música da Es-cola Superior de Artes Aplicadas de

Castelo Branco e com apenas 20 anos tornou-se no primeiro português a fazer parte da Orquestra Sinfónica do YouTube. “Foi uma experiência nova, muito positiva para mim, porque me permitiu sair de Portugal e encon-trar novos músicos, novas pessoas”, conta. Apesar de ter concorrido com mais de três mil músicos de 70 países, Tiago sempre teve esperança de ser um dos selecionados. A sua estadia em Nova Iorque e a oportunidade de tocar no Carnegie Hall permitiu-lhe perceber a diferença de como a mú-sica clássica é vista em Portugal e no resto do mundo: “Na América é ób-vio que a música clássica é valorizada de uma maneira diferente e faz parte da formação inicial. Mas penso que em Portugal está a tentar-se construir o mesmo”, sublinha.Tiago Santos

participou ainda na Orquestra de Jo-vens da União Europeia: “Fiz provas durante três anos, ou seja em 2009 já era a terceira vez que eu concorria. E nesse mesmo ano calhou também fazer parte dessa orquestra.”

À conquista de um lugar na Orquestra Mundial Agora, conquistou um lugar na Orquestra Mundial - com mais seis jovens portugueses -, que integra músicos de 54 países sob a orientação do maestro Josep Vicent. O objetivo é promover a interculturalidade e a solidariedade através da música e em 2012-2013, atua na América do Norte, África e Europa..

Por: Carminda Soares

Tiago Santos já chegou à Orquestra Mundial

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CULTURA /15

Rodrigo Leão conta já com uma longa carreira na música. Compositor de sucesso, que procura satisfação pessoal e não prémios, Rodrigo falou-nos de como se apaixonou pela música, da sua relação com o cinema e do que ainda lhe falta fazer.

Nunca estudou música. Aprendeu a tocar guitarra e piano sozinho. No entanto conseguiu construir uma carreira como compositor. Foi teimosia ou amor à música? Foi um pouco as duas coisas. Foi amor à música e persistência. Acho que é importante acreditar naquilo que queremos fazer. Isso é o mais importante. A verdade é que eu começo a ser músico nos inícios dos anos 80, onde surgiram muitos músicos que não tinham estudos académicos. A música pop baseava-se nas ideias, na construção de canções. A maior parte dos músicos não sabiam escrever pautas. O meu grande interesse foi compor, poder compor, poder criar. Desde muito cedo, desde que me deram uma guitarra para as mãos (com 12 anos), a minha vontade era tentar fazer alguma coisa que fosse minha e não aprender as músicas que na altura muita gente queria aprender: as músicas dos Pink Floyd ou dos Beatles.

É por essa razão, por nunca ter estudado música, que para si compor é algo intuitivo, como já disse várias vezes?  Claro. Sim, eu julgo que sim. Talvez precisamente pelo facto de eu não ter estudos, de não ser um virtuoso (uma pessoa para ser um grande técnico, um grande virtuoso tem que estar 8 ou 9 horas por dia a tocar, a tocar, a tocar). E eu sigo a intuição, ou seja, procuro aqueles momentos em que acho que pode haver ali alguma coisa que valha a pena trabalhar para tentar construir uma canção ou uma música

instrumental. Há muitas coisas que eu componho que depois não chego a usar, há outras que ficam ali uns tempos e eu não sei bem o que lhes hei-de fazer mas depois mais tarde aproveito-as, e há outras que vão surgindo, e é as que eu gosto logo, porque as trabalho no momento. Portanto vou seguindo sempre a intuição, claro.

Uma vez disse numa entrevista, depois de já ter iniciado a sua carreira a solo, “Sei que nunca poderemos ser como os Madredeus”, referindo-se ao sucesso da banda. Sente que os Madredeus foram um projecto que jamais se poderá superar?  Sem dúvida. Penso que os Madredeus foram o projecto mais importante nos últimos 30 anos em Portugal. E penso eu que o grande êxito que muitos cantores têm tido ultimamente lá fora, deve-se muito ao trabalho que os Madredeus fizeram. Abriram portas para todos esses cantores. Não há dúvida nenhuma. É evidente que a Amália era muito conhecida em muitos países, mas nunca houve um grupo em Portugal que tivesse o percurso que os Madredeus tiveram, a fazerem 50 concertos por ano, em todos os cantos do mundo.

E não sente essa vontade de ser o Rodrigo a superar? Não, não. Acho que não há de forma alguma entre nós, pelo menos entre esta “família de músicos” como eu gosto de chamar (nós conhecemo-nos há mais de 30 anos e fizemos tantos projectos, como a Sétima Legião, Os Madredeus, Os poetas, O golpe de Estado...) penso que não há aqui nenhuma inveja, ou nenhuma necessidade de tentar ser melhor, ou vender mais discos que o outro. Nós estamos concentrados naquilo que queremos fazer, independentemente do êxito que possamos ter com determinados trabalhos. Acho que o mais importante é uma satisfação pessoal, acima de tudo, para nós próprios. Para mim como compositor

e para todos os músicos e produtores que trabalham comigo e se envolvem comigo nestes projectos.

Não toca para prémios. Não, de forma alguma. Estou-me completamente nas tintas para os prémios (risos). Acho que é uma grande seca ter que ir não sei aonde, buscar uma estatueta qualquer… Acho que não tem significado. Quer dizer, é evidente que tem algum significado. Tudo bem. Quer dizer que a minha música chegou a mais pessoas. Mas não é de todo o mais importante.

O Rodrigo tem uma forte ligação ao cinema, porque já compôs bandas sonoras para vários filmes (como “O mordomo” e a “Gaiola Dourada”). Compor para imagens é mais difícil ou até facilita porque acaba por ter uma fonte de inspiração directa?  Sim, por vezes, de facto facilita. Penso que o mais importante, quando estamos a compor para a imagem, é identificarmo-nos com o argumento e sentirmos o que o realizador pretende musicalmente do trabalho, perceber exactamente que universo ou que direcção temos de seguir. E a partir daí torna-se mais fácil. Eu lembro-me de muitas cenas que compus, por exemplo, para O Mordomo, músicas que encaixaram logo à primeira, outras que ao fim de seis, sete, oito tentativas não encontrávamos a música certa para aquele momento.

No cinema, a música é uma personagem fundamental? Eu acho que sim. Obviamente que depende do tipo de filme e do tipo cinema. Mas eu acho que.... Não quer dizer que não haja um grande filme

que não tenha música. Mas penso que a música é uma personagem muito importante no cinema.

Para além de compor para filmes, sei que é um apaixonado por cinema e que nas horas livres gosta de assistir a um bom filme. Tem um realizador favorito? Tenho vários. Como Charles Chaplin, Visconti, Truffaut, David Lynch, Pedro Almodóvar. Penso que não há assim um... Eu gosto de cinema muito diferente, essencialmente de cinema europeu. Mas também gosto de algum cinema americano. Gosto de muitas variantes de cinema.

Acabou de fazer os coliseus, Lisboa e Porto, nos passados dias 23 e 24 de Novembro. Como correram? Correram bastante bem. Nós, quase todos os anos, fazemos no mês de Novembro um coliseu de Lisboa e um coliseu do Porto. Desta vez, começamos por Lisboa e depois fomos ao Porto. Eu acho que o do Porto foi bastante melhor do que o de Lisboa. O público foi melhor e nós também tocamos melhor. Foi a apresentação de grande parte das músicas que eu compus ao longo deste último ano para filmes. Com uma formação diferente, com mais um quarteto de cordas e um trio de sopros. E acabou por ser um concerto diferente do habitual. Para quem vai ver é importante haver estas mudanças.

Gosta de tocar ao vivo? Gosto muito. Neste momento, gosto muito de tocar ao vivo. Acho que é um contacto com o público que é importante. Quando estamos em estúdio a tentar compor para um disco, é um processo em que estamos fechados durante um mês a gravar melodias. O tocar ao vivo é muito mais espontâneo.

O que é que ainda lhe falta fazer? Eu acho que me falta fazer muita coisa. A música é um universo infinito de possibilidades, de misturar estilos de música diferentes. Penso que é essencial para mim continuar a ter esta energia de querer compor, de quer mostrar as músicas que faço às pessoas, de tocar ao vivo. Isso acho que é muito importante.

Rodrigo Leão: “Estou-me completamente nas tintas para os prémios”

CULTURA /15

Por: Maria Soares

Penso que os Madredeus foram o projecto mais importante nos últimos 30 anos em Portugal.

O tocar ao vivo é muito mais espontâneo.

DR

Page 16: Jornal foco

“As fantásticas aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy” é o terceiro e último livro de banda desenhada de Filipe Melo. Músico a tempo inteiro, a escrita é mais uma das suas paixões da qual não abdica.

“As fantásticas aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy” são o último livro da trilogia de banda desenhada de Filipe Melo. O vídeo promocio-nal, com mais de 1 milhão e meio de visualizações, mostra-nos uma falsa reportagem onde aranhas gigantes invadem Lisboa: “surgiu-me a ideia de fazer uma espécie de tributo, muito humilde, à guerra dos mundos de H. G. Wells e depois do Orson Welles. Queríamos muito fazer a nossa pequena versão disso, mas nunca imaginávamos que aquilo tivesse um décimo das visualizações que teve no youtube”. Apesar do número de visualizações, a partici-pação do jornalista João Moleira no vídeo foi alvo de críticas, pelo facto dos jornalistas não poderem partici-par em acções de publicidade. Filipe Melo também respondeu a isso: “O João Moleira participou gratuita-mente no vídeo e queria fazer parte de uma coisa de ficção. Nós temos jornalistas que escrevem ficção. Para mim, não é assim tão diferente, ele não está a dar uma falsa notícia, nem está a fazer publicidade. Quer dizer, é um livro de banda desenhada e nós temos de ser altamente criativos para conseguir que as pessoas leiam

Filipe Melo: “A banda desenhada ainda é vista como uma arte menor”

Por: Carminda Soares

o nosso livro. Eu acho que foi por isso que ele decidiu alinhar de forma completamente gratuita e por sim-patia e amor ao projeto. Desta forma, qualquer coisa de negativa que vá na direcção dele é triste, deixa-me triste”. Escrita por Filipe Melo, ilustrada pelos argentinos Juan Cavia e San-tiago Villa, esta trilogia veio trazer mais leitores à banda desenhada. Algo que não foi propositado: “Nun-ca foi o nosso objetivo mudar nada. Nós limitamo-nos a fazer uma coisa em que realmente acreditávamos e empenhamos todos os nossos esfor-ços não só em fazer o melhor livro que conseguíssemos mas também em fazer com que esse livro chegasse às pessoas.” Apesar do sucesso de “As Aventu-ras de Dog Mendonça e Pizzaboy”, a B.D continua a ser um mercado pequeno. Para Filipe isso acontece, porque ainda existe um preconceito para com a banda desenhada: “Por-que ainda é visto como uma coisa para minorias e muitas vezes as pessoas tem uma relação mais direta com a literatura ou o cinema ou o teatro. A banda desenhada ainda é vista como uma arte menor. Muitas

vezes é vista como uma forma de entretenimento para crianças. E já há muito tempo que esse passo foi ultrapassado.” Filipe Melo é músico, mas cresceu rodeado de livros, não fosse a mãe uma das fundadoras da Texto Edi-tora. Desde cedo se apaixonou pela escrita e da escrita para cinema foi parar à banda desenhada. O terceiro e último livro já está à venda e foi um dos destaques da Amadora B.D 2013. É neste livro que termina a histó-ria das aventuras e desventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy. Porquê três livros? “Eu diria que é porque acredito muito no número 3, isto é, a história tem um princípio, um meio e um fim. E sendo uma estrutura de 3 atos esta não foge à regra.” Filipe diz gostar do facto de terminarem por aqui e, acima de tudo, está orgulho-so com o resultado final: “Mesmo que apareçam oportunidades de a continuar, eu acho que não vai ser boa ideia, porque isso é alterar uma coisa que acho que está boa e poderia sempre piorar. Prefiro arriscar em coisas novas do que numa que já está acabada.”

Crítica: About time

Por: Mafalda Oliveira

Se pudesses viajar no tempo, o que farias? Talvez fizesses como Tim: viajar no tempo para refazer o que não conseguiu fazer bem à primeira tentativa – o falhanço de um beijo no ano novo ou um engate que não re-sultou. Ou então não. Mas deixemos de lado o conceito. É o que menos importa. É só uma forma de nos fa-

zer pensar em assuntos mais impor-tantes como: o quão difícil pode ser viver o momento, a desilusão de não conseguir mudar os outros, ou mu-dar o destino. Mas em About Time, para que nem tudo soe muito sério, o filme inclui tentações como um cati-vante romance que prende do início ao fim e ainda um sentido de humor que vai do lamechas ao doce. Domhnall Gleeson é Tim, simpá-

tico e amoroso, daqueles rapazes que embaraçosamente gaguejam. No dia do seu aniversário, o seu pai – um companheiro que também viaja no tempo, representado pelo grande e essencial Bill Nighy, de robe e sem-pre zen – revela-lhe a notícia de que os homens da família podem

viajar no tempo. Mas nesta família há muito mais do que isso. Há uma mãe sentimental (Duncan) e uma irmã exagerada (Wilson), que, ao longo do filme, vai mostrando sinais que pres-sagiam alguma quebra no futuro.

Rachel McAdams é Mary, uma ame-ricana com um talento: transforma os joelhos de Tim em gelatina, meta-foricamente, claro. Ela é uma estrela brilhante na sua vida, com franja. O filme caminha a passo lento, vagaroso e durante quase uma dé-cada. Perdendo o ritmo ou não, é a oportunidade de saborear a vida com personagens extraordinárias e simultaneamente normais, vendo-as a crescer. Como escritor e diretor, Richard Curtis construiu uma carreira for-te que conta com audiências fiéis (de Notting Hill ou de Love Ac-tually). About Time, tão cheio de compaixão e de mensagens eternas, é algo diferente. Saí do cinema com vontade de me apaixonar, abraçar uma criança, ligar aos meus pais, e retirar meia dúzia de coisas que disse sem pensar. No fim, entre uma lágri-ma e uma gargalhada, fica a indeci-são: quero viver os dias duas vezes? Talvez use a segunda para apreciar a beleza que nos rodeia. Ou então, como diria Mãe West, “You only live once, but if you do it right, once is enough.”

16/ CULTURA

Saí do cinema com vontade de me apaixonar, abraçar uma criança, ligar aos meus pais, e retirar meia dúzia de coisas que disse sem pensar.

DR

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CULTURA /17

Madalena Santos tem 25 anos e é um jovem talento da Literatura. Sabe que é cada vez mais difícil editar livros em Portugal, mas não quer deixar de tentar. Tem apenas 25 anos e conta já com quatro livros publicados num país em que “a escrita não alimenta”. Madalena Santos começou a escrever aos 12 anos, e hoje é a única autora portuguesa a publicar na coleção 1001 Mundos, das Edições ASA. Foi em 2006 que a jovem escrito-ra publicou o seu primeiro livro, “O Décimo Terceiro Poder”, e inaugurou a saga “As Terra de Corza”, de um romance histórico-fantástico, que culminou no 4.º volume. A narrativa passou-se num “espaço completamente inventado”, mas que tem uma estrutura muito ba-seada na Europa”, diz. Também a época é desfasada do tempo, mas influenciada por momen-tos muito específicos da história mun-dial, desde a Idade Média ao início da Industrialização. Esta saga já terminou para a escritora, ainda que qualquer um a possa reviver, mas Madalena não pára e está atualmente a escrever um novo

enredo. O leitor português “fica de pé atrás” com as obras de autores nacionais Apesar de ser “sempre um túmulo antes de acabar um livro”, não resistiu a desvendar-nos um pouco da nova história. “Cada capítulo é começado pela história de um agricultor que se vai cruzando com as personagens e com o enredo principal. Num tom jocoso e, por vezes, dramático, vou contar a história desse agricultor, que será uma grande metáfora a tudo o que vai acon-tecer, em cada capítulo, às personagens principais”, alicia. Quase a terminar a obra, que deverá ser lançada ainda este ano, Madalena admite que atualmente é muito difícil editar um livro em Portugal. “As coisas estão mais complicadas porque as editoras estão muito menos ousadas, jogam mais pelo seguro, apostam em best-sellers que já vêm com uma máquina de marketing preparada e não estão com vontade de apostar em novos autores,” explica. No entanto, a jovem acredita que a literatura fantástica em Portugal tem qualidades para competir com os grandes nomes internacionais. Falta o apoio “não só das editoras, mas também do público”, garante. “Nota-se que o leitor português fica sempre um

bocadinho com o pé atrás quando vê que o livro foi escrito por um portu-guês”. Ainda assim, nem o preconceito a impediu de, em 2010, manter-se quatro semanas consecutivas no TOP 10 d’Os Mais Vendidos da FNAC, com o último volume da saga. Escrever é quase um “trabalho pro bono”, em Portugal Ligada aos livros desde sempre, não se lembra do primeiro que leu, mas recorda-se que do primeiro que escol-heu para ler. Foi o “Dentes de Rato”, de

Madalena Santos: “A escrita em Portugal não alimenta”

Agustina Bessa-Luís, que primeiro a conquistou. A infância recheada de liv-ros e o facto de ter começado a escrever em tenra idade, fizeram com que, para Madalena, escrever já faça parte dela. “Não me concebo de outra maneira senão a escrever. Preciso desse escape. É uma evasão ao dia a dia”, afirma. Por enquanto, Madalena Santos vai continuar a fazer o que gosta. Apesar de lhe ocupar muito tempo e, em Portugal, a literatura ser mais um “trabalho pro bono” do que propriamente um em-prego, é sem dúvida o passatempo que lhe dá mais prazer.

Por: Maria Soares

A Formula 1, apesar de mov-er paixões e milhões, nunca esteve particularmente bem servida no grande ecran. Talvez por uma produção com esse tema exigir grande orçamento, talvez por Hol-lywood (e os EUA) em geral não ter grande afinidade com o desporto, preferindo o stock car racing de Daytona.

Os poucos filmes que se destacam a lidar com este meio apenas usam a F1 como um cenário exótico para histórias mais pessoais.Um bom filme que se aproximasse às emoções vividas no tarmac era há já muito aguardado – e Ron Howard aca-ba de o entregar. O director americano é conhecido pela sua inconsistência, sendo tão provável tornar um dos seus filmes numa viagem soporífica como trazendo à audiência aquela química

especial só possível com uma equipa a trabalhar em sintonia.É de facto esta última instância que se verifica em Rush – desde a montagem ágil, que nos faz sentir as forças G de cada curva até aos planos apertados que nos transportam para o pequeno cockpit dos carros. Todos estes recursos são mobilizados à maxima eficiência na memorável reconstituição de um Grande Prémio no Japão debaixo de uma tempestade tropical, onde a in-tempérie e as relações em jogo na pista contribuem para cenas verdadeira-mente opressivas.Ao contrario do que até agora tinha acontecido com a Formula 1, a história dos protagonistas acaba por ficar com o lugar do pendura. Ostensivamente um filme sobre a rivalidade entre James Hunt e Nikki Lauda, a química entre estes dois pilotos acaba porn ão ser muito bem traduzida para o ecrã – possivelmente com dolo do guião, da autoria de um Peter Morgan (Frost/Nixon, The Special Relationship) que provavelmente estaria mais à vontade

num filme austere sobre política. Chris Hemsworth e Daniel Bruhl acabam por trazer protagonistas suficientemente agradáveis para não nos importarmos

de serem eles a fazer a ponte entre grandes prémios. E a mítica rivalidade entre Lauda e Hunt tem aqui uma digna homenagem.

Crítica: RushPor: Ricardo Alves

Sofia Remualdo

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Só estou bem aonde não estou

Houve tempos em que onde quer que estivésse-mos, bastava olhar para o canto da Europa e logo víamos Portugal. Houve tempos em que era fácil amar o nosso país. Hoje já não vale a pena. É mais fácil partir sem olhar para trás e sem pensar no que poderia ter sido diferente se ao menos tivessemos lutado mais um bocadi-nho.

Já dizia António Variações: “…só estou bem onde não estou”. Mudam-se os tempos, mas pare-ce que não se mudam as vontades: o número de portugueses a querer sair do país é cada vez maior. Por mais que Portugal seja a nação valen-te e imortal, já não se está bem aqui e o que não falta é vontade de ir da-qui para fora e para bem longe. Mas como António Variações raramente se engana: só se está bem aonde não se está. E se aqui esta insatisfação com o aumento dos impostos, a falta de emprego e o espírito derrotista varre o país, lá fora faz-nos falta o nosso tão amado Portugal, com os nossos vinhos e o nosso mar salgado. E não

há meio de nos decidirmos se vamos ou ficamos, se ficamos ou vamos. Até Passos Coelho anda indeciso. Primeiro empurra os Portugueses para o estrangeiro, agora diz que lhe dói ver os jovens a sair do país à procura de oportunidades. E que dor! Senhor primeiro-ministro também a nós nos dói, mas são outras coisas. Dói-nos os bolsos, dói-nos a cabeça, dói-nos a alma, dói ter de sair de Por-tugal

e não ter mais nada para dizer ou fa-zer senão um encolher de ombros. E a maior de todas as dores é acre-ditar que, lá longe, vamos ser felizes, quando no nosso íntimo já sabemos que não o vamos ser porque não dá para ser feliz quando não podemos es-tar connosco, nem sermos nós. Quan-do não podemos estar no nosso lugar. Houve tempos em que o futuro era

Por: Carminda Soares

Rumores com asas

Em Portugal, a cultura não tem lugar na rotina dos portugueses. Segundo o relatório do Euro-barómetro, os portugueses são dos cidadãos da União Europeia com menores taxas de participação em actividades culturais. O Secretário de Estado da Cultu-ra, Jorge Barreto Xavier, diz que os números “não nos ficam bem”. Não ficam, para mais quando Portugal não é um país sem talento. Não faltam artistas com capacidade e vontade de fazerem mais e melhor. Falta sim, a capacidade de a cul-tura se fortalecer, não apenas finan-ceiramente, mas em termos sociais.Vivemos num país onde o Estado vai auxiliando um sector prestes a ruir. Os subsídios culturais, ainda assim limitados, são uma solução inefici-ente e imprópria. A solução para a cultura tem de ser permanente e eficaz, de maneira a criar-se um sector cultural forte e independente. E essa solução passa por uma ed-ucação virada para a cultura, uma educação que motive já nas escolas os alunos à prática cultural. Essa solução passa pela criação de uma sociedade que reconheça o sector cultural como parte fundamental na intervenção social, na formação das mentalidades e na internaciona-lização de um país.Ir ao teatro, ao ballet, à ópera tem de deixar de ser em dias de festa e passar a ser um costume. A cultura tem de ganhar lugar na fila da frente da importância social.

Foi no prestigiado programa de informação 60 minutes que Jeff Bezos, o CEO multimilionário da Amazon, anunciou que a sua empresa pretendia fornecer um serviço de entrega através de drones dentro de cinco anos. Esta “revelação” acabou por ser o destaque da grande reportagem, tendo a notícia sido replicada à escala global assim que se tornou pública – sempre sendo tratada como um novo desenvolvimento da Amazon, e não como apenas uma ideia. Na verdade, o projecto de Bezos é quase impraticável. A questão jurídi-ca é o entrave maior: a utilização do

Editorial

espaço aéreo em cidades é densamen-te regulado mesmo no que toca ao uso de naves pilotadas por humanos – no que toca a drones automáticos, essa questão nem se pondera sequer levantar. As implicações são imensas: em caso de falha do equipamento, não há especialistas presentes capa-zes de tentar corrigir a situação nem minimizar os danos resultantes. E em caso de danos, como será apurada a responsabilidade da empresa? Esta também será responsável pelos danos causados por uma queda do drone causada por terceiros? A mera noção deste sistema de distribuição pareceu já aguçar o apetite de vários caçado-res furtivos que a apelidaram de “tiro ao prato com prémio”. E ainda nem sequer entramos na questão financei-ra – um sistema assim seria eficiente a nível de custos? A baixa autonomia

destes aparelhos implicaria a insta-lação de vários mini-aeroportos por cidade. Claro que Jeff Bezos e a adminis-tração da Amazon estão cientes de todas estas implicações. Antes de lançaream o seu serviço de entrega no próprio dia – um serviço que usa transportes automobilizados convencionais – a companhia testou todos os prós e contras em apenas uma cidade durante exactamente cinco anos. Um projecto desta en-vergadura difícilmente seria testado em menos do que o dobro desse tempo. A única razão para Bezos ter revelado a ideia da entrega por drones terá sido sem grande mar-gem de dúvida a de reúnir tempo de atena para a sua companhia a tempo do Cyber Monday, um dia anual de saldos específicamente criado para os

negócios online nos Estados Unidos com vista às compras de Natal.No entanto, os meios de comunicação não hesitaram, em massa, a noticiar este facto como um serviço real a ser desenvolvido em breve. Concerteza que em todas estas redacções havia uma consciência de que aqui apenas se serviam s interesses de marketing da Amazon. Mas a questão é que os interesses comerciais dos media também estavam a ser servidos. Um enquadramento ponderado desta notícia não traria tantas visitas aos websites que a noticiassem primeiro. O clickfarming, ou seja, o critério de tornar uma notícia online tão sensacionalista quanto possível de forma a se tornar viral, nunca foi tão aparente e tão embaraçoso como neste caso.

Por: Ricardo Alves

A cultura sem lugar no interesse social

18/ OPINIÃO

Por mais que Portugal seja a nação valente e imortal, já não se está bem aqui e o que não falta é vontade de ir daqui para fora e para bem longe.

construído aqui bem perto, e em que não precisávamos de ir longe para sermos felizes. Houve tem-pos em que onde quer que estivés-semos, bastava olhar para o canto da Europa e logo víamos Portugal. Houve tempos em que era fácil amar o nosso país. Hoje já não vale a pena. É mais fácil partir sem olhar para trás e sem pensar no que po-deria ter sido diferente se ao menos tivessemos lutado mais um boca-dinho. Partir e esqueçer o quanto o amamamos, zangados com um país que tinha os sonhos nas mãos, mas não os soube agarrar. Assim é bem mais fácil. E pode ser que quando nos tivermos esquecido da angústia e humilhação e só nos conseguirmos lembrar das coisas boas, voltemos também sem olhar para trás. Pode ser que esta ferida cure e voltemos a ser portugue-ses, a sentirmo-nos portugueses. Mas enquanto não nos zangamos o suficiente, vamos chorando por ter que sair ou fugir do nosso Por-tugal. Vamo-nos lamentando por não poder sonhar na terra que é nossa e que ninguém nos pode tirar. Agora querer um futuro, forte e promissor, já parece um sonho im-possível. E quere-lo com Portugal bem perto isso é demais. O pior não é ter de partir, é ter de partir quando se quer ficar.

DR