Jornal Identidade nº 2

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Identidade Jornal do curso de Comunicação Social do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix AGOSTO-2011 N°2 Brincadeiras tradicionais E mais... Brincar na rua ainda é um dos passatempos prediletos das crianças e adolescentes de Belo Horizonte O que faz um vereador? página 6 O poder das redes sociais página 2 Caminhada nas praças página 7 Cultura: feijão tropeiro página 3 Engarrafamentos em BH página 5 Crianças se rendem às brincadeiras de rua, mas tecnologia ganha espaço Editorial Depois de muito suor, chega às suas mãos a segunda edição do Jornal Identi- dade, produzido por discentes e docen- tes do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Há uma clara evolução nas pautas, diagramação, matérias e fo- tos, o que demonstra que este veículo de comunicação está se consolidando junto à comunidade acadêmica. Contu- do, o jornal não ficará restrito aos muros do Centro Universitário. Com temas do cotidiano, pretende se tornar referên- cia para as pessoas que desejam uma leitura agradável e com compromisso de apontar fatos tendo a verdade como horizonte. Quer ajudar a fazer este jor- nal? Escreva para o e-mail publicado no Expediente. Vamos buscar, juntos, uma sociedade melhor. Foto: Emanuelle Diniz Brincar na rua de queimada, pique, bambolê e futebol continua sendo um dos principais passatempos das crianças e adolescentes da região metropolitana de Belo Horizonte. Mesmo com a presença cada vez mais maciça das novas tecnolo- gias nas residências e escolas, esta “turmi- nha” não abre mão da tradição que passa de geração para geração. Orgulhosos, os adultos contabilizam os ganhos trazidos pelas brincadeiras de rua. Flávio Rodrigues garante que a relação entre as crianças contribui para socialização, educação e cultura da garotada. Contudo, é inevitável a presença das novas tecnologias no coti- diano dos brasileiros. Neste cenário, quais são os pontos positivos e negativos desta nova realidade? Leia a matéria completa nas páginas 8 e 9. Entrevista exclusiva Uma parceria entre os cursos de Co- municação Social do Izabela Hendrix e o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais culminou em um evento com a presença do jornalista Rodrigo Vianna (foto). Ele falou sobre as aventuras dos 22 anos de profissão. Páginas 10 e 11. Jornal_Identidade_23.08.indd 1 25/08/2011 16:06:03

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IdentidadeJornal do curso de Comunicação Social do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix A G O S T O - 2 0 1 1 N ° 2

Brincadeiras tradicionais

E mais...

Brincar na rua ainda é um dos passatempos prediletos das crianças e adolescentes de Belo Horizonte

O que faz um vereador?página 6

O poder das redes sociaispágina 2

Caminhada nas praçaspágina 7

Cultura: feijão tropeiropágina 3

Engarrafamentos em BHpágina 5

Crianças se rendem às brincadeiras de rua, mas tecnologia ganha espaço

Editorial

Depois de muito suor, chega às suas mãos a segunda edição do Jornal Identi-dade, produzido por discentes e docen-tes do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Há uma clara evolução nas pautas, diagramação, matérias e fo-tos, o que demonstra que este veículo de comunicação está se consolidando junto à comunidade acadêmica. Contu-do, o jornal não ficará restrito aos muros do Centro Universitário. Com temas do cotidiano, pretende se tornar referên-cia para as pessoas que desejam uma leitura agradável e com compromisso de apontar fatos tendo a verdade como horizonte. Quer ajudar a fazer este jor-nal? Escreva para o e-mail publicado no Expediente. Vamos buscar, juntos, uma sociedade melhor.

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Brincar na rua de queimada, pique, bambolê e futebol continua sendo um dos principais passatempos das crianças e adolescentes da região metropolitana de Belo Horizonte. Mesmo com a presença cada vez mais maciça das novas tecnolo-gias nas residências e escolas, esta “turmi-nha” não abre mão da tradição que passa de geração para geração. Orgulhosos, os adultos contabilizam os ganhos trazidos pelas brincadeiras de rua. Flávio Rodrigues garante que a relação entre as crianças contribui para socialização, educação e cultura da garotada. Contudo, é inevitável a presença das novas tecnologias no coti-diano dos brasileiros. Neste cenário, quais são os pontos positivos e negativos desta nova realidade? Leia a matéria completa nas páginas 8 e 9.

Entrevista exclusiva

Uma parceria entre os cursos de Co-municação Social do Izabela Hendrix e o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais culminou em um evento com a presença do jornalista Rodrigo Vianna (foto). Ele falou sobre as aventuras dos 22 anos de profissão. Páginas 10 e 11.

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Infraestrutura é desafio para PNEs

Atualmente é muito veiculado na mídia notícia sobre vagas de emprego para portadores de necessidades espe-ciais (PNEs). O mercado de trabalho vem contratando cada dia mais pessoas que, mesmo com algumas limitações, não desistem e vão em busca de realizações no mercado de trabalho.

Mas após terem superado o precon-ceito e a falta de oportunidade, os PNEs (que hoje chegam a ser mais de 24,5 milhões de brasileiros) acabam se de-parando com outros desafios. Em pleno século XXI os portadores de necessida-des especiais ainda encontram obstácu-los para se locomover, seja nas grandes metrópoles ou em cidade de porte mé-dio ou pequeno.

Como retrata o jovem Mário, no fil-me “Adeus Ano Velho”, os portadores de necessidades especiais sofrem com a falta de planejamento do nosso país. Esta situação pode ser comprovada em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. O espaço público, que deveria ser par-ceiro dos deficientes físicos, acaba se tornando um grande inimigo. As ruas deveriam ser um lugar onde os porta-dores de necessidades especiais pudes-se transitar com segurança. Mas como? Basta dar uma volta pela região central da capital mineira para comprovar que elas são cheias de buracos, não são si-nalizadas, não possuem rampas e nem todos os pontos de ônibus possuem cadeiras.

Se para pessoas sem nenhum tipo de deficiência o transporte público é precário, imagine para quem possui li-mitações. Por dia, 1,4 milhão de pessoas utilizam ônibus na capital mineira. Infe-lizmente nem todos os ônibus que tran-sitam na capital são adequados para os portadores de necessidades especiais e em muitas vezes esse transporte deixa seu usuário esperando muito tempo. Falta segurança, estrutura e investi-mento. São esses os fatores necessários para adequar o país aos portadores de necessidades especiais. Somente assim eles viverão com dignidade.

O advento da Internet coloca o jornalis-ta diante de um dilema: permanecer com a velha forma de se comunicar ou se adaptar à multimídia para ser um profissional capaz de usar adequadamente os recursos dispo-níveis na Internet? É certo que as novas tec-nologias deixam os profissionais mais ver-sáteis, contudo há clara perda de qualidade do que é produzido devido à falta de filtros, edição e conhecimento técnico e teórico dos produtores de informação.

As redes sociais podem ser considera-das um novo poder. Ao fazer uma escolha de grande importân-cia democrática, por exemplo, alguns ve-ículos com alcance nacional se rendem à manipulação. Já as redes sociais tem uma voz mais plural, abrin-do espaço para a opi-nião de todos. Não se pode ver a sociedade apenas com os olhos da “velha” mídia, pois é possível enxergar mais profundamente com os olhos da própria população.

O interesse pelas redes sociais ganha tamanha proporção, que até mesmo pes-soas que não são jornalistas se utilizam delas para comunicar fatos importantes (mesmo sem a devida técnica de apuração e criação). Foi o que ocorreu nas eleições para cadeira de presidente no Brasil, em 2010. Na tentativa de colocar os eleitores contra a candidata Dilma Rousseff, foram lançados assuntos polêmicos nas redes sociais (como aborto), mas a própria presi-dente tratou de desmenti-los.

A Internet propicia às pessoas a opor-tunidade de expressar ideias. Essa é uma forma de ampliar a liberdade de expressão. Porém, até agora esta nova dinâmica teve alguns resultados caóticos. Cada um expõe suas ideias e seu ponto de vista e nã o existe um controle de qualidade nos conte-údos. Os blogs, campeões de acesso, nem sempre trazem o conteúdo necessário para uma boa pesquisa. Todavia, quem quer conhecer o ponto de vista de um determi-nado segmento pode utilizar o ambiente

como uma boa fonte de informação. Uma pergunta fica no ar: “ser blogueiro é mes-mo uma profissão?”.

O blog pode não ser um meio para ganhar a vida, mas é possível fazer uma comunicação de qualidade e atrair mais pessoas para debater. Talvez ele

não seja mesmo capaz de divulgar tantos fatos novos, assim como afirmou o jornalis-ta Rodrigo Vianna, durante o debate reali-zado no dia 27 de abril, no Centro Univer-sitário Metodista Izabela Hendrix. O evento aconteceu em parceria com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais. Se por um lado os blogs comentam notícias relevantes para a população, por outro não possuem repórteres para cobrir os fatos ao in loco. Resta saber se, daqui para frente, os blogs não só ganharão espaço pelos co-mentários da construção coletiva mas tam-bém pela qualidade da informação presta-da à sociedade.

O poder das mídias sociais

Por Maria Cleoni Neves

Por Alcione Inácio

Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix - Curso de Comunicação Social

Reitora: MÁRCIA AMORIM; Pró-Reitora Acadêmica: MÁRCIA AMORIM; Pró-Reitor Administrativo: FABIANO DAL FORNO; Coordenadora do Núcleo de Artes e Tecnologia: JOSANA MATEDI; Coordenador do curso de Comuncação Social: LUIZ LANA; Jornalista responsável e edição: SANDER NEVES - MTB (RS): 23.164; Revisão: SANDER NEVES e estudantes MARÍLIA SOLDATELLI BRITTO e MARINHA LUIZA.Professores do curso de Comunicação Social: ALEMAR RENA, ANA CLARA, DANIEL RAMOS, EDILEIDE BAUSEN, FABRÍCIO MARQUES, FILIPE FREITAS, IVAN SATUF, LEONOR CAMPOS, LUIZ LANA, PEDRO MARRA E SANDER NEVESProjeto Gráfico e Diagramação: EMANUELLE DINIZ, JUNIOR STAMBASSIImpressão: Lastro Editora Gráfica Ltda.

Idexpediente

Agência Experimental Conceito agenciaconceito.metodistademinas.edu.br www.metodistademinas.edu.br

Arte: Emanuel le Diniz

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Id cultura3

A culinária mineira, tão elogiada e di-versificada, se destaca por sua origem. Um exemplo é o feijão tropeiro, que rece-beu este nome por ter sido preparado pe-los cozinheiros das tropas que conduziam o gado durante o período colonial bra-sileiro. Naquela época, o transporte das mais diversas mercadorias era feito a ca-valo ou em lombos de burros. Os homens que guiavam os animais eram chamados tropeiros. Até a metade do século 20, eles viajavam de uma ponta a outra de Minas Gerais conduzindo gado. O feijão misturado à farinha de man-dioca, torresmo, linguiça, ovos, alho, ce-bola e tempero tornou-se um prato bási-co do cardápio dos tropeiros. Daí a origem do nome: feijão tropeiro. A preparação desses pratos em ambientes modestos é baseada nos produtos de “fundo de quin-tal”. O porco, a galinha, o quiabo, a couve, o fubá: esses elementos despertaram o espírito criativo dos mineiros que, ao mis-turar ingredientes e temperos, criaram uma comida típica, rica e variada. Ingre-dientes, temperos e formas são caracte-rísticas próprias do feijão tropeiro, mas há um ponto que merece destaque: o cheiro. Para muitas pessoas ele está diretamente ligado às emoções e às memórias.

ÁGUA NA BOCA Se alguém sente um “cheirinho” bom de comida, como o aroma de um tropei-ro suculento, fica com água na boca. Ou melhor: saliva, já que o cérebro manda produzi-la na expectativa de “matar” a fome logo, logo. “O cheiro faz com que te-nhamos apetite. Se a comida estiver chei-rosa, lógico que estaremos com vontade de nos alimentar. O cheiro é o principal”, afirma a nutricionista Kênia Leize. A cozinheira Maria José da Silva tem 33 anos de profissão. Quando questio-nada sobre qual segredo para realizar as delícias da culinária mineira, diz que os temperos são ingredientes provocadores com aromas agradáveis. “Nada de tem-peros industrializados. Os segredos são os temperos caseiros (alho, sal, cebola, folha de louro e pimenta) e também amor e a dedicação na elaboração dos pratos”, ensinou.

Tradição, odor e saborFeijão tropeiro, prato típico de Minas Gerais,

conquista até paladares internacionais

Por Alcione Inácio

Mineiros que almoçam fora de casa geralmente encontram o feijão tropeiro no cardápio

A variedade da culinária mineira é desta-que em qualquer almoço ou jantar, seja dentro ou fora do estado. Além do feijão tropeiro e feijoada, outros pratos típicos são o frango com quiabo, canjiquinha com costelinha, tutu à mineira, arroz de forno, entre outros. Mas a culinária mineira se destaca tam-bém no que se refere à sobremesa. Pode--se citar: Romeu e Julieta (goiabada com queijo), arroz doce, angu doce, pé-de--moleque, doce de leite e outros. O que fazer diante de tantas tentações? Apro-veitar os cheiros, as sensações e tudo mais que elas oferecem. PALADAR INTERNACIONALA haitiana Thamar Pierre, que está há cer-

ca de dois anos no Brasil, conta que no seu país de origem há pratos parecidos com os que tomam as mesas de Minas Gerais. Ela confessa que é apaixonada pela comida mineira e revela: “o prato que mais me agrada é a feijoada”. Prato este que se resume à junção de feijão preto, lombo de porco, toucinho defumado, orelha de porco, pé de porco, costelinha de porco, linguiça calabresa, e os tem-peros tradicionais (alho, cebola, folha de louro e sal). Sobre os aromas, Pierre ob-serva: “O cheiro da comida mineira provo-ca água na boca, de tão gostoso que é”. A nutricionista Leize acredita que estran-geiros gostam tanto da comida mineira por ser muito saborosa, variada e ter um “temperinho” bom.

Água na boca: o prazer de comer doces e salgadosFo

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Id educação

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Somos amigos?Por Marinha Luiza

Segunda-feira, oito horas da manhã. Toca o sinal para o início das aulas. Esqueça as maçãs na mesa do professor e tratamen-tos formais. Os alunos agora chamam os professores pelo nome ou simplesmente por você. É a relação amigável entre edu-cadores e estudantes que cada vez mais passa a fazer parte da rotina educacional.

Para a educadora Ludimila Rodrigues, que leciona em uma associação para de-ficientes e pessoas em situação de risco social, a amizade entre ela e os alunos é fundamental. “Pessoas com deficiência intelectual só se permitem o processo de aprendizado quando se sentem seguros, e a amizade aluno/educador facilita esse pro-cesso”, ponderou.

A universitária Jéssica Faria acha que as aulas tendem a fluir melhor com pro-fessores que estejam abertos a um relacio-namento amigável, mas pensa que o meio termo seria o ideal. “Professores mais ‘sérios’ acabam impondo certa aversão as suas au-las, mas professores amigos demais deixam a aula correr muito solta, prejudicando a compreensão do conteúdo”, comentou.

Essa amizade é positiva, mas algumas vezes gera no aluno a sensação de poder se beneficiar com o professor. Rodrigues con-ta que já passou por essa situação. “Um alu-no, percebendo que eu tinha uma relação de amizade com outros da mesma turma, tentou se aproximar de mim com a inten-ção de se beneficiar com as notas no final do curso. Mas isso é exceção, não a regra”.

Relação entre professor e aluno requer cuidado

A relação entre professores e estudantes vem se transformando gradativamente nas últimas décadas

A aluna do ensino médio, Letícia Fer-ry, confessa que já foi beneficiada em sua amizade com um professor. “Já fui aprova-da em um bimestre mesmo sem ter feito nada”. Jéssica Faria também passou por isso enquanto estava no ensino médio. “Na uni-versidade ainda não recebi nenhum tipo de benefício, mas no ensino médio aconteceu algumas vezes”, admite.

A psicóloga Jussara Oliveira acredita que falta de maturidade e insegurança sejam alguns dos aspectos que levam o professor a abandonar uma postura hierár-quica. “Muitas vezes o professor não se re-conhece neste papel e passa a conduzir as aulas tentando se aproximar ao máximo do aluno. Esta insegurança não quer dizer que ele não detenha o conhecimento da maté-ria, apenas mostra uma necessidade de se sentir mais seguro, menos vulnerável se ele se torna amigo do aluno”, disse.

Segundo ela, é preciso manter o equi-líbrio na relação aluno/professor. “Quando o professor consegue uma relação ami-gável com o aluno permite que ele tenha mais liberdade para conversar e tirar suas dúvidas. Contudo, se aluno e professor pas-sam a compartilhar de suas intimidades, a relação de autoridade/hierarquia pode ficar balançada”. A psicóloga diz ainda que existem vários professores que frequentam outros ambientes com os alunos, sem que isso prejudique sua imagem. “Tanto o alu-no quanto o professor nunca devem perder a compostura”, finalizou.

Alunos do ensino superior dizem que qualidade de ensino está mais mercado-lógica, porém afirmam que o aprendiza-do dependem cada vez mais de si pró-prio. Em pesquisa realizada pela revista inglesa Times Higher Education, o Brasil não possui nenhuma instituição de ensi-no entre as 100 melhores universidades do mundo. Apesar da democratização do ensino, a melhoria do nível da edu-cação não é notável e alunos mineiros discutem a relação do nível do ensino como os critérios mercadológicos em-pregados pelas instituições em busca de cada vez mais alunos. Tornou-se comum ver na TV propa-gandas de vestibulares agendados. Instituições que mesclam metodologia tradicional com métodos alternativos, além de inúmeros financiamentos para a democratização do estudo. A jornalis-ta Gabriela Vilaça acredita que as uni-versidades privadas funcionam como verdadeiras empresas e tem os interes-ses puramente mercadológicos. “Os pro-fessores são despreparados e as mensa-lidades cada vez mais caras”. Já o estudante de ciências sociais Le-onardo Souza relaciona os problemas enfrentados na academia com a crise mercadológica de sua própria área. “Os baixos salários resultam em baixa pro-cura nos vestibulares”. Porém, Leonardo e Gabriela concor-dam que o aluno de uma instituição privada não é menos preparado que o aluno de instituição pública, para o mercado de trabalho. Segundo eles, a questão de infraestrutura é meramente relativa e o que mais influencia a prepa-ração do aluno é o seu próprio esforço e persistência.

INEP Segundo dados do Instituto Nacio-nal de Estudos e Pesquisas educacionais Anísio Teixeira (INEP), em 1991, o núme-ro de cursos para graduação no Brasil era de 4.908. Em 2007, o número era de 23.448, um aumento de 447,75% em 16 anos. O aumento do número de cursos é reflexo também da demanda entre pes-soas que querem fazer um curso supe-rior. Atualmente existem 56 instituições de ensino superior em Belo Horizonte nos cursos manhã, tarde e noite, além de cursos com ensino a distância (EAD). 52 dessas instituições são privadas.

Ensino cada vez mais mercadológico

Por Danilo Viegas

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Id geral

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Uma cena comum nos horários de pico em Belo Horizonte é a lentidão do trânsito. Seja nas ruas de grande circulação (aveni-das) que ligam as regiões da cidade ou nas ruas de porte médio que ligam bairros, mo-toristas de veículos particulares e passagei-ros de ônibus e táxi diariamente enfrentam engarrafamentos e procuram formas de se distrair enquanto estão parados, já que é um tempo que ficam impotentes.

Neste cenário de caos, existe uma parte da população que corre enquanto o trânsito está impedido: os vendedores ambulantes. Eles começam a trabalhar no momento em que os carros param, seja vendendo balas, raquetes elétricas que matam pernilongos, pipas, bandeiras de time ou guarda-chuvas. Tem também aqueles que pedem uma mo-eda, os entregadores de folder e toda uma população que enxergou uma forma de ganhar dinheiro em cima das longas horas perdidas no trajeto da casa para o trabalho. Há ainda os cobradores de ônibus, que são testemunhas dos passageiros cansados e motoristas irritados.

Cecília Patrícia Esteves Dias, designer, de 32 anos, enfrenta um trânsito diário de uma hora e meia a duas horas para che-gar ao trabalho. Ela sai da região de Ven-da Nova, norte da capital, todos os dias às 6h20 da manhã e às vezes nem consegue chegar a tempo na empresa que inicia o expediente às 8h, no bairro de Lourdes, re-gião centro-sul de Belo Horizonte.

A alternativa que Cecília busca para aproveitar o tempo presa no trânsito é ouvir música, mas explica que observa pessoas procurando outras formas de se distrair. “Vejo muitas pessoas lendo jornal, a maioria dormindo, por que em uma hora e meia não tem o que fazer”. Quanto a utili-zar internet, diz que prefere ler e-books na tela do celular, do que interagir nas redes sociais.

Às 18h, Cecília deixa o trabalho para enfrentar mais 1h30 de trânsito de volta para casa. Um dia de trabalho dificilmente restringe-se somente às 8 horas exigidas pela legislação. Sem considerar o horário de almoço, normalmente para quem mora longe do local de trabalho, são mais duas horas de trânsito antes e depois do expe-diente, ou seja, metade de um dia é desti-nada a uma rotina que envolve trabalho.

Por Marilia Soldatelli Britto

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Entre as filas e o comércioEngarrafamentos viram “fonte de renda “ para ambulantes

Nem aos sábados os motoristas que transitam pela Cristóvao Colombo escapam dos engarrafamentos

Criatividade é arma para passar o tempoO cobrador de ônibus e estudante de

publicidade, Silvanio Dias, de 29 anos, conta como é trabalhar 7 horas do dia dentro de um veículo que faz parte do cenário caótico que é o trânsito. O ônibus 6340 vem da região metropolitana de Belo Horizonte, Ribeirão das Neves, bair-ro Florença, segue pela BR-040, continua pela Via Expressa até o Shopping Oiapo-que, no Centro.

Atualmente o trevo de Ribeirão das Neves, no km 511 da BR-040, sentido Sete Lagoas está em obras para recapeamento do asfalto, o que dificulta a vida dos mora-dores da região para se deslocarem até o Centro da capital. “Normalmente demora cerca de duas horas pra chegar até o cen-tro”, conta Silvanio.

Dentro do ônibus, o cobrador diz que o clima é mais de descontração, “o pes-soal conversa alto, até brincando, para passar o tempo. Tem gente que dorme dentro do ônibus, escuta música, e até

quem puxa conversa com o cobrador ou com o motorista”.

Silvanio confessa que na parte da fren-te do ônibus, destinada aos idosos, são poucas as pessoas que são solidárias. “Tem gente que finge que está dormindo. Mas há casos e casos, uns dizem que é responsa-bilidade do motorista e do cobrador falar para dar lugar, mas a gente acaba não fa-lando pra evitar gerar uma situação ruim”.

Como alternativa para passar o tempo dentro do ônibus, o cobrador conta que na linha de ônibus em que trabalha ainda não possui os textos informativos, e suge-re: “acho que deveria ter um jornalzinho ou alguma coisa para poder auxiliar os passageiros e incentivar a leitura”.

Procurado via e-mail em 9 de junho, o Coordenador do Observatório de Mo-bilidade Urbana da BHTrans não deu retorno conforme solicitado pela repor-tagem do jornal Identidade até o fecha-mento desta edição.

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Id política6

Papel do Poder LegislativoVocê já se perguntou quanta influên-

cia os trabalhos da Câmara de Vereadores exercem em sua vida? O quanto as decisões dos vereadores interferem no dia a dia? Muitas pessoas desconhecem a importân-cia do vereador e qual papel ele desenvolve no município em que atua.

O Poder Legislativo é importante pois desenvolve parte das leis da sociedade. Dessa maneira, para que o Poder Judiciá-rio julgue os conflitos e o Poder Executivo administre o município é necessário que o Poder Legislativo discuta e vote leis em be-nefício da comunidade.

A Câmara de Vereadores é a responsá-vel pela elaboração e votação de leis que interessam especificamente a cidade. Cada município tem um número limitado de ve-readores, de acordo com o número de ha-bitantes da cidade. O mínimo é de nove e o máximo de 55 vereadores.

Mesmo tendo tanta importância para o município, o papel dos vereadores mui-tas vezes é ignorado pelos cidadãos, que não sabem – ou sabem pouco – da atua-ção do legislativo. Uma coisa é consenso geral: o vereador é uma figura importante na resolução de problemas exclusivos das cidades e um canal importante para levar as reivindicações da comunidade ao Poder Executivo. “O papel do vereador é resolver os problemas da cidade, olhar os bairros, a necessidade do povo e levar até o prefeito para resolver”, diz Cleusa, moradora de Bru-madinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) sobre a atuação dos ve-readores.

DESINTERESSE?Essa ideia de que o vereador leva as ne-

cessidades do povo ao prefeito é um pen-samento comum entre os cidadãos. “O ve-reador pede ao prefeito para fazer as obras, indica ao prefeito o que precisa ser feito no município”, afirma Najib Prado, morador do município de Mário Campos. Prado confes-sa que nunca foi a uma reunião da Câmara de Vereadores do município onde mora há décadas.

Muitas pessoas também nunca foram a

Por Douglas Maciel

População precisa acompanhar o cotidiano dos legisladores para facilitar na escolha durante a eleição

uma reunião da Câmara de Vereadores de sua cidade. Muitas vezes por desinteresse ou mesmo por desconhecer a agenda de reuniões do plenário. “Eu nunca fui a uma reunião da câmara, penso que aqui nin-guém sabe quando tem reunião, eu tam-bém nunca tive vontade de ir assistir”, diz Tiago Jesus, morador do município de Má-rio Campos.

LEIUm detalhe que poucas pessoas pare-

cem conhecer sobre os vereadores é o ca-ráter legislativo da sua função. O vereador faz e vota leis. A função de fiscalizador tam-bém é pouco conhecida entre as pessoas. “O papel do vereador é fiscalizar o prefei-to, fazer e aprovar projetos. Eles tem uma função muito importante desde que atuem com honestidade”, esclareceu Ademar Ma-ciel, de 65 anos, morador de Brumadinho.

Uma das várias funções dos vereado-res é participar das Comissões Permanen-tes de Inquérito (quando houver) e julgar o prefeito e também os próprios colegas de plenário quando cometem infrações político-administrativas. Também é papel do vereador votar e discutir a Lei Orçamen-tária Anual dos municípios, a qual contém a

previsão de receita e fixa as despesas para o ano seguinte.

De toda maneira percebe-se que parte dos brasileiros possui uma visão minimalis-ta do papel dos vereadores e do Poder Le-gislativo. Para tentar reverter este quadro, câmaras municipais investem em sites com informações sobre o papel e atuação dos vereadores. Porém muitas pessoas desco-nhecem a existência deste novo canal de comunicação. “Eu nunca entrei no site de uma câmara municipal, desconheço sua existência e nunca vi divulgação de nenhu-ma desses sites”, diz Tiago Jesus, que afirma acessar a internet todos os dias

COMPOSIÇÃOA Câmara é formada basicamente de

uma mesa diretora, composta por Presi-dente, Vice-Presidente e 1º e 2º Secretários. Eles dirigem as reuniões e são eleitos por votação entre os vereadores para manda-tos de dois anos, podendo haver reeleição.

As reuniões são realizadas em um Ple-nário. O Plenário é um espaço soberano onde o Poder Legislativo tem total autono-mia em seus trabalhos e decisões. Já o lu-gar onde os cidadãos ficam para assistir as reuniões é chamado de Assistência.

Descubra as funções de quem representa a população na Câmara Municipal

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Praça de Liberdade é opção para mineiros que gostam de manter a saúde com caminhada

Refúgio para caminhada

Por Ariane de Oliveira, Luis Felipe, Graziele de Oliveira

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A Praça da Liberdade, um ponto turís-tico de Belo Horizonte, é o local escolhi-do por diversas pessoas para a prática de exercícios físicos. Entre os preferidos, está a caminhada ao longo dos quase mil metros de percurso. A movimentação se intensifica à noite, período escolhido por aqueles que trabalham durante o dia e não dispõem de muito tempo para a prática de exercício físico.

Este é o caso de Aloísio Mourão, fre-quentador da praça há dez anos. Para Alo-ísio a Praça da Liberdade é um bom lugar para caminhar, pois possui segurança dia e noite, além de uma paisagem agradável composta pelo Edifício Niemeyer, Palácio

do Governo, Museus, entre outros. “Além da caminhada eu também pratico nata-ção”, comentou Aloísio. A caminhada pode parecer um exer-cício inofensivo, uma vez que não exige uma técnica inicial para começar a prati-car. Porém, se praticada de forma errada pode trazer malefícios para a pessoa, é o que afirma o coordenador de esportes da Prefeitura de Maringá, Carlos Gomes de Oliveira. “A intensidade do exercício, rou-pas inadequadas, falta de hidratação são fatores que podem comprometer a nos-sa integridade física”, alertou o professor. Confira ao lado algumas dicas.

Caminhar pela Praça da Liberdade é uma opção junto aos prédios da região Centro-sul da Capital

Utilize um calçado fechado adequado, de preferência um

tênis, porque ele irá absorver mais impacto contra o solo, evitando excesso de sobrecarga nas articula-ções e prevenindo lesões.

Use roupas leves, confortáveis, flexíveis e de cores claras. Isso

permitirá a regulação da tempe-ratura corporal, facilitando a troca de calor do corpo com o ambiente. Dispense roupas sintéticas que evi-tam a transpiração (nada de cintas ou plásticos atados ao corpo).

Nunca comece seus exercícios em jejum (isso não vai fazer

você perder mais peso e seu orga-nismo vai precisar de energia pra gastar), mas não quer dizer que deva exagerar no café ou almoço. Use o bom senso e coma alimentos de fácil digestão antes de sua cami-nhada.

Realize alongamentos antes e após a caminhada. Eles aju-

dam a evitar dores musculares e aumentar a flexibilidade.

Beba líquido antes, durante e depois da caminhada. Melhor

que só hidratar o corpo, também repõe os sais minerais perdidos du-rante a caminhada.

Antes de começar a caminhar procure por um médico (car-

diologista ou clínico geral), para que possam ser passadas as orien-tações necessárias e, se caso preci-sar, realizar alguns exames clínicos.

* As dicas foram passadas ao Jornal Identi-dade por Thaís Cristina, que é graduanda de Fisioterapia e estagiária na área da ortope-dia e saúde do trabalhador.

LEIA ABAIXO ALGUMAS DICAS QUE PODEM

AJUDAR NA HORA DE FAZER UMA CAMINHADA

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Id educação8

Tradição resiste ao tempo

Por Fabiana Braz e Jaqueline Karis

O mundo está em constante mudança. Muda-se o tempo, o espaço, as pessoas, as culturas. Surgem novos modelos sociais que transformam consideravelmente a so-ciedade. No entanto, existem coisas que são capazes de resistir ao tempo. Identi-ficada por tamanha alegria, risos, correria e muita energia, improviso e criatividade algumas brincadeiras de rua ainda preva-lecem em vários bairros de Belo Horizonte.

“Minha infância e toda minha adoles-cência foram passadas na mesma casa, brincando sempre na mesma rua, a rua Flor de Maio, na Vila Nossa Senhora de Fátima que ainda é o meu lugar de brincar, pois ando de bicicleta e bato uma bola”, diz Jes-sé Silva Barros de 23 anos, com um sorriso tímido no rosto.

Não há como praticar essas atividades nas ruas dos centros urbanos, porém, para os bairros vizinhos e a região metropolitana

da capital, a rua continua sendo um espaço lúdico, onde as crianças e adolescentes se reúnem para brincar de queimada, pique--esconde, amarelinha, corre cotia, bambo-lê e futebol. Jessé conta que os jogos que mais gostava eram: futebol, “roubA” ban-deira e polícia e ladrão.

ASFALTO?Há cerca de 10 anos as ruas da Vila Fá-

tima não tinham asfalto. O local onde Jessé brincava atraía não só as crianças e adoles-centes, mas também os adultos que joga-vam e brincavam, fincando varas de bam-bu no chão para fazer o gol e a rede para jogar vôlei, por isso que o espaço recebeu o nome de “campinho”, no qual se tornou referência da localidade.

O asfalto poderia impossibilitar tal cria-tividade, mas não foi obstáculo para acabar com as brincadeiras de ruas. As crianças

continuam brincando e improvisando. “O asfalto colaborou para que não nos sujás-semos tanto, pois com a terra ficávamos imundos de tanta poeira”, diz Jessé, sorrindo.

Já Flavio Lages Rodrigues, 38 anos, que brincou de “rouba” bandeira, queimada, entre outros, nas ruas do bairro Glória e Floramar, acredita que as brincadeiras con-tribuíram na sua socialização, educação e cultura, pois com elas aprendeu a ganhar, a perder, a tratar as pessoas da mesma forma, não importando a classe social, política, econômica ou até mesmo religiosa. A ex--professora infantil Juliana Ramos explica que as brincadeiras de rua são importantes por ocorrerem em espaço amplo, em gru-pos, e na maioria dos casos com crianças da mesma comunidade. “Isso fortalece os laços afetivos entre as crianças envolvidas e a criatividade estimulada e acumulada”, explica.

Brincadeira de rua atrai as crianças, mas perde espaço para tecnologia

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Segundo pesquisa realizada em 12 países pela Millward Brown Brasil, as crianças brasileiras de 4 a 12 anos passam cerca de 13 horas por semana conecta-dos na internet, na maioria dos casos, jo-gando ou praticando atividade similares.

Com isso, crianças e adolescentes tem deixado de lado o relacionamento inter-pessoal e optado por relacionamentos virtuais. Não é possível calcular o quanto isso é bom ou ruim nessa mudança de comportamento, já que o mundo é glo-balizado.

A ex-professora Juliana esclarece que as brincadeiras são muito importantes no desenvolvimento de uma criança, pois ajudam a desenvolver a linguagem, a cognição, a motricidade e a socialização. Ou seja, brincando a criança opera entre

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Jessé confessa que houve uma redu-ção muito grande de crianças brincando no “campinho”. “Antigamente tinha gente brincando aqui o dia inteiro, mas, infeliz-mente, parece que os meninos de hoje estão perdendo a inocência e estão pa-rando de brincar. Para mim as brincadeiras colaboraram para que eu ficasse longe dos problemas sociais”. Flávio acredita que os avanços tecnológicos substituíram as brin-cadeiras de rua. “Os computadores viraram a chave para diversão, relacionamentos e para uma ‘janela’ para o mundo”, analisa.

Hoje a maioria das ruas de Belo Hori-zonte permanece vazia, não só pela falta de inocência, mas pelo trânsito intenso, a vio-lência e os jogos eletrônicos que tem atra-palhado as crianças e jovens de aproveitar as divertidas tardes de brincadeiras e ami-zade com outros vizinhos. “Éramos felizes e tínhamos uma infância muito diferente das crianças de hoje, as pessoas não estão tão socializadas como antes”, compra Flávio.

o real e o imaginário. Imitar os adultos que a rodeia, imaginar ser um rei, um ani-mal entre outros, representa a realidade e afeto que apreende e fixa conceitos, re-gras e valores, por exemplo.

De acordo com a ex-educadora isso ajuda a criança apreender as regras, con-ceitos e valores. Entrar em contato com culturas diferentes do seu núcleo familiar estimula o seu desenvolvimento psico-motor e cria um vinculo afetivo ao lugar onde ocorreram as brincadeiras como um espaço mais largo da rua, praças e jardins.

“Como educadora sempre utilizei de jogos e brincadeiras, pois como resulta-do as crianças se divertiam, cumpriam o combinado e aprendiam o conteúdo do programa escolar”, complementa.

Novas tecnologias ganham cada vez mais espaçoBrincadeira de rua x trânsito

Brincadeiras de rua como futebol e “rouba” bandeira dividem espaço com as novas tecnologias: até quando as crianças conseguirão maner estas tradições?

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Em defesa do jornalismoO ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fa-

lou recentemente que o PSDB deveria se afastar do “povão” e se aproximar da classe média. Dentro deste plano de ação ele disse que seu partido deveria usar as redes sociais. Qual a sua opinião sobre o ocorrido?

Eu acho que o Fernando Henrique pro-pôs isso, utilizar essas ferramentas (redes so-ciais), que na campanha do candidato José Serra o PSDB soube utilizar muito bem tecni-camente, pois eles conseguiram levar a elei-ção para o segundo turno disseminando a dúvida. Ainda que a população não quisesse votar no Serra, agindo assim eles espalharam a dúvida em relação à Dilma e parte desses votos foi para a Marina. As redes sociais tive-ram um papel muito importante, eu acom-panhei isso de perto. Eles tinham dezenas de pessoas que entravam no Twitter e Facebook e utilizavam de todas as ferramentas possí-veis para fazer a campanha. Era uma coisa muito eleitoral e de terrorismos mesmo, pois mexeram com questões particulares. Não digo que foi a direção do PSDB ou o partido, mas gente próxima a campanha do Serra. Es-palharam boatos sobre a sexualidade da Dil-ma e da vida particular, foi uma baixaria da-

O jornalista Rodrigo Vianna compareceu ao Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, onde falou sobre os momentos importantes dos 22 anos de profissão

nada, acho que todo mundo acompanhou. O que o FHC está propondo agora e a

mesma ferramenta, mas de uma maneira po-litizada não só para aquela coisa imediata de ganhar o voto e disseminar o terror para tirar o voto do outro. É tentar estabelecer o deba-te político usando essa mesma rede, eu acho que esta sim e uma estratégia querente.

Qual a sua opinião sobre o PSDB se afastar do po-vão e se aproximar da classe média?

Essa história do “Povão” foi um ato falho tremendo, como um partido político pode dizer: “Vamos deixar de lado o povão, pois este já está perdido pelos nossos adversá-rios”. É uma redução e prova que o PSDB não tem política para esta classe. No fundo o que o Fernando Henrique quis dizer é que o Lula devido as origem dele ocupou este espaço de esquerda. Já a Dilma faz uma gestão ten-tando aglutinar também setores que estava contra o governo Lula, que era a classe mé-dia que tinha preconceito e que com Dilma não tem. Se ela agregar este centro, o PSDB vai ficar sem público. O que o FHC quis dizer foi isso, nós já perdemos o povo, então va-mos deixar de lado o povão e vamos brigar

Por Islano SantosFo

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O Fórum de Debates realizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, em parceira com o Centro Universitário Metodista Iza-bela Hendrix, recebeu no mês de abril o repórter especial da TV Record, Ro-drigo Vianna, para discutir o tema “O papel político do jornalista e as redes sociais”. Jornalista há 22 anos, já tra-balhou na Folha de São Paulo, TV Cul-tural e TV Globo, onde foi alvo de uma grande polêmica ao pedir demissão em meio à campanha eleitoral de 2006 para presidência da República. Naque-la época escreveu uma carta aberta denunciando as pressões sofridas para fazer jornalismo com certa distorção. Ganhador do Prêmio Vladimir Herzog em 2007, concilia o trabalho de repór-ter na Rede Record com o seu Blog Es-crevinhador. Antes de começar o deba-te e enfrentar a plateia acalorada de estudantes de comunicação, profissio-nais e apreciadores do seu trabalho, concedeu esta entrevista exclusiva ao Jornal Identidade.

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para ter esta outra aqui.As Redes Sociais melhoraram o jornalismo ou

serviram apenas para multiplicar a informação?Eu acho que elas fazem um contraponto

ao jornalismo tradicional, ou seja, faz a crí-tica do jornalismo. Existem vários episódios, pra citar um bem próximo de Minas, o que aconteceu com o Aécio Neves que deixou de fazer o teste do bafômetro no Rio de Janeiro e não foi divulgado por um grande jornal de Minas. A população tem o direito de saber o que os seus dirigentes andam fazen-do. Então nestes casos quando a mídia tradicional não divulga as redes sociais cumpre este papel, então não adianta as grandes mídias tentarem bloquear este tipo de informação.

No seu blog você diz que não existe neu-tralidade no jornalismo até por que você não é neutro. Quando está fazendo uma matéria política, você tem a liberdade de colocar sua posição na TV Record?

Eu não preciso colocar minha posição política em todas minhas matérias e na Re-cord eu tenho uma grande liberdade para propor pautas até maior do que em outras empresas que eu já trabalhei.

Qual a diferença da matéria feita para seu blog e para a Rede Record?

No meu blog eu posso dar minha opi-nião, na Record é um trabalho de reporta-gem, então importa mesmo minha opinião é sim a notícia e ela nunca vem neutra, um exemplo, você vai cobrir uma ocupação de terra. Você vai usar a palavra ocupação ou invasão? Você tem que escolher bem. A ma-neira de abordar os fatos e muito diferente dependendo do posicionamento que você

tenha. Uma coisa é ser neutro outra e ter honestidade intelectual, apesar de ter posi-ção, não vale mentir, não vale brigar contra os fatos.

O jornalista Ricardo Noblat criou um blog na época do Mensalão no Congresso para esclarecer a população sobre o ocorrido, já que muitas coisas não saíam na mídia tradicional. Qual a sua opinião sobre a transição do jornalista da mídia tradicional para o blog?

Na verdade o blog do Noblat já andou por vários lugares, agora está no G1, existem blogs associados a grandes corporações de comunicação aí eles seguem regras e pa-râmetros que existem em qualquer corpo-ração de mídia no mundo inteiro. No blog estes jornalistas têm uma liberdade maior de opinar do que um repórter da redação, neste caso funciona como se fosse uma co-luna do jornal. Existem outros blogs que são independentes como é o que eu faço que

não está vinculado a grandes corporações. Assim como Noblat eu também não tinha intimidade quando fiz e comecei a escrever no blog, foi o Azenha meu amigo que me

convenceu de fazer e depois que aprendi achei fácil.

Existe mediação no seu blog e qual a sua relação com os que acompa-

nham?Sou eu mesmo que faço com

a ajuda de uma jornalista recém formada, existe uma mediação dos

comentários até mesmo pra evitar ofensas, spam entre outras coisas. No

início eu tinha mais contatos com as pessoas (fãs e críticos) até gerava certo

debate. Agora que cresceu muito o blog, não dá mais para fazer isso, mas de vez

em quando em algum evento alguém se apresenta e fala que comentou no blog e

lembro. O legal da internet é que a pessoa lê o texto principal e os comentários. Então os comentários fazem parte da informação, por complementar, dar contraponto, criticar ou até mesmo por ser curioso e saber a opinião das pessoas, assim a informação acaba fican-do mais rica e completa.

Existe uma política de conduta que a Record pede?

Na Record nunca me pediram nada, quando entrei lá falei que iria fazer o blog e eles aceitaram, pois era um projeto pessoal. E quando entrei lá a única objeção foi não dar entrevista para outras emissoras. Mas eu tenho cuidado de quando eu estou viajando a trabalho de não antecipar a informação no blog e queimar a pauta que seria executada para a emissora.

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Público formado por estudantes de Comunicação Social marcou presença na palestra de Rodrigo Viana, realizada em parceria com Sindicato dos Jornalistas

“O legal da in-

ternet e que a pes-soa lê o texto principal

e os comentários. Então os comentários fazem par-

te da informação, por com-plementar, dar contraponto, criticar ou até mesmo por ser curioso e saber a opinião das pessoas, assim a infor-mação acaba ficando

mais rica e comple-ta”.

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