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JORNAL-LABORATóRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA FACINTER – ANO IV – NúMERO 19 – CURITIBA, MAIO DE 2012 Sentimentos da arte As aventuras, os sentimentos e a vida de George Sada, um homem que se entregou à arte (p. 4) A rua como arte Na contramão do preconceito, a arte do grafite se insere cada vez mais no cenário curitibano (p. 14) Uma história pouco contada Entre as novas construções, a capital paranaense ainda preserva a arquitetura original da histórica estação ferroviária (p. 6) Foto: Leonardo Akira Foto: Gustavo Saulle Foto: Claudia Bilobran Jesuítas, piratas e lendas povoam o imaginário popular em torno dos subterrâneos de Curitiba (p. 6 e 8) Em busca dos túneis secretos Foto: Natanael Chimendes

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jornal-laboratório do curso de jornalismo da Facinter – ano iv – número 19 – curitiba, maio de 2012

Sentimentos da arteas aventuras, os sentimentos e a vida de George sada, um homem que se entregou à arte (p. 4)

A rua como artena contramão do preconceito, a arte do grafite se insere cada vez mais no cenário curitibano (p. 14)

Uma história pouco contadaentre as novas construções, a capital paranaense ainda preserva a arquitetura original da histórica estação ferroviária (p. 6)

Foto: leonardo akira

Foto: Gustavo saulle

Foto: claudia bilobran

jesuítas, piratas e lendas povoam o imaginário popular em torno dos subterrâneos de curitiba (p. 6 e 8)

Em busca dos túneis secretos

Foto: natanael chimendes

Número 19 – Maio de 20122 MARCO ZERO

não restam dúvidas que as mulheres vêm conquistan-do dia após dia um espaço

mais significativo na sociedade brasileira. Apesar desses avanços, ainda falta muito para atingir a tão sonhada igualdade entre homens e mulheres. Discriminadas duran-te décadas, elas sofreram com a passagem de uma época que nem sequer lhe dava o direito ao voto.

No Brasil, o voto, por exem-plo, foi concedido às mulheres em 1932. No entanto, apenas podiam votar as mulheres casadas e, mes-mo assim, com a autorização de seus maridos. Solteiras e viúvas só tinham acesso ao privilégio caso comprovassem renda própria.

Em 1934, por ocasião da apro-vação da Constituição Federal, fo-ram eliminadas as restrições. No entanto, o voto feminino tornou--se obrigatório apenas para as que ocupassem cargos públicos.

Somente na alteração do docu-mento, em 1946, a obrigatorieda-de do voto feminino foi instituída para valer, evidentemente depois de muitas lutas para que isso fos-se possível, somando apenas 66 anos de obrigatoriedade do voto feminino no Brasil. Pouco tempo, mas o suficiente para levantar uma bandeira a favor da representação feminina na democracia do país.

Hoje temos uma mulher no topo da hierarquia no Brasil: Dil-ma Rousseff. A governante tem grandes desafios pela frente: en-frentar a tradição de um país que até então só teve governantes do sexo masculino, o preconceito e o machismo e conquistar avan-ços pelos quais as brasileiras vêm lutando ao longo das últi-mas décadas.

É inegável que, se a participa-ção feminina aumentasse de for-ma significativa no Parlamento, muitas mudanças ocorreriam nos

processos de decisão das políticas públicas e sociais em benefício da igualdade de gêneros.

Contudo, segundo o IBGE, o Brasil possui aproximadamente 4 milhões de mulheres a mais do que homens. Número expressivo que, se fosse refletido na igualdade de cadeiras dentro do Congresso Na-cional, significaria acelerar o lento processo de equiparação dos gêne-ros, tendo em vista a dificuldade de afastar os valores tradicionais incorporados na coletividade na-cional, imposta somente pelas de-cisões tomadas por homens.

A discussão não está na subs-tituição de homens por mulheres, de maneira alguma, pois estaría-mos propondo uma inversão de discriminação. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), no Brasil, a baixa proporção de mulheres ocupando cadeiras no Congresso Nacional foi motivo de cobrança dos peritos que fa-zem parte do Comitê das Nações Unidas para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação con-tra a Mulher (Cedaw).

No Brasil, hoje, as mulheres já atuam em postos-chave da admi-nistração federal, começando pela

presidente e pelo número histórico de dez ministras que fazem parte de seu governo. Apesar disso, a atual bancada feminina na Câmara Federal representa apenas 8,77% do total da Casa, com 45 deputa-das. No Senado, de um total de 81 lugares, apenas 12 são ocupados pelo sexo feminino.

Vale criticar o sistema de cotas da legislação eleitoral brasileira de 1997, que exigiu uma porcen-tagem de 30% de mulheres nas candidaturas dos partidos. É desle-al a concorrência contra 70% dos homens, e ainda há muitas pesso-as que perguntam o porquê de as mulheres não se candidatarem. A cota não estimula a participação das mulheres na política brasileira e traz uma possibilidade remota de acesso.

Um exemplo da lentidão das conquistas femininas é o projeto de lei 371/11, que visa equipa-rar o salário das mulheres ao dos homens que exercem a mesma função, prevendo ainda uma mul-ta de até cinco vezes a diferença salarial para a empresa que não cumprir a lei. O projeto, que se-ria sancionado no mês de março deste ano, voltou ao plenário, a pedido de um homem.

opinião

Ao Leitor Neste mês de maio, o jornal Mar-co Zero discute os mistérios subter-râneos que rondam os túneis curiti-banos, uma matéria especial sobre lendas, arqueologia e muita história. Há também: uma entrevista com o ator, professor e artista George Sada, revelando sua paixão pelo mundo da arte, um depoimento emocionante de uma sobreviven-te do naufrágio do navio Bateau Mouche e um pouco da história do Museu Ferroviário. Conheça o novo cenário curi-tibano que está sendo preenchido com grafite, transformando as ruas da capital em incríveis exposições e uma resenha sobre o livro “A Sombra do Vento”, de Carlos Luiz Záfon. Arte, história, suspense, emoção e cidadania se mesclam nesta segunda edição do ano. Ótima leitura!

Keity marques

ExpedienteO jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter)

Coordenador do Curso de Jornalismo: Tomás Barreiros

Professores responsáveis:Roberto Nicolato e Tomás Barreiros

O jornal Marco Zero foi premiado como melhor jornal-laboratório do Paraná no 16º Prêmio Sangue Novo, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná.

Edição•Emanoela Merlin•Ian Perussolo•Keity Marques•Luana Mendes•Paula Vilas Boas

Diagramação•Aryadne Ronqui•Clarissa Brandolff Gindri•Janile da Silva Ramos•Mahara Paola de Souza•Natanael Lucas Chimendes•Tatiane Varela Barca

Projeto gráfico: Matias Peruyera

FacinterRua do Rosário, 147CEP 80010-110 – Curitiba-PRE-mail [email protected] 2102-7953 e 2102-7954.

O que você acha da libe-ração de bebidas alcoóli-cas nos estádios?

Keity marques

A luta contra o tempodepois de 80 anos, as mulheres têm direito ao voto e o governo do país

“Acho irracional liberar bebidas al-coólicas nos estádios, pois acredi-to que vai gerar graves problemas, contando que a segurança brasileira é muito precária. Além de prejudi-car quem bebe, prejudica também quem vai nos está-dios com a família, crianças e mesmo quem está ali somente para prestigiar os jogos.” David de Souza,24 anos, estudante

“Por ser um evento muito gran-de, eu não concordo, trará mais violência e ocasiona-rá muitos estragos. Sou contra!”Juliana Francine de Paula, 23 anos, secretária

“Não concordo. A violência já é grande quando não têm liberação de bebi-das, com a liberação o número de problemas irá aumentar com toda certeza. Totalmente contra.”Gívani Rover,27 anos, recepcionista

Foto: shutterstock

Número 19 – Maio de 2012 3MARCO ZERO

no Brasil, o uso da bicicle-ta vem ganhando espaço, com implantações de ci-

clofaixas, mas ainda não é o sufi-ciente, pois os trajetos são curtos, e motoristas e ciclistas disputam o mesmo asfalto, o que muitas vezes resulta em acidentes com mortes.

Em Curitiba, a faixa vermelha pintada no asfalto ainda é desco-nhecida por pelo menos 35% dos curitibanos. Em pesquisa feita com o público, muitos não conheciam ou não souberam responder sobre a finalidade dela, outros acharam que seria apenas mais uma faixa de lazer igual a da ciclovia. Mas o que muitos ainda desconhecem é que uma das principais finali-dades da faixa é a conscientiza-ção do motorista em relação ao ciclista, a ponto de substituir o automóvel pela bicicleta não só como lazer mas como um sis-tema mais econômico e menos poluente na capital paranaense.

Para o cicloativista Danilo He-rek, o papel da bicicleta na socie-dade tem uma importância enor-me, mas ela ainda é tratada com desdém principalmente pelo poder público, que insiste em manter o foco no lazer e não no trans-porte. Uma coisa é certa: não é o caso de esperar que seja apenas uma moda passageira, porque ela veio para ficar, por uma simples razão: a necessidade urgente de uma mobilidade mais sustentável.

A bicicleta tem o papel de in-terferir diretamente na qualidade de vida das pessoas e da cidade. Segundo Herek, a bicicleta não polui, não faz barulho, custa mui-to pouco e traz excelentes bene-fícios para a saúde do ciclista e, o principal, torna a cidade mais humana”. De carro, as pessoas vão de um ponto a outro dentro de um casulo, isoladas do mundo, e de bicicleta o trajeto oferece vá-rias possibilidades e facilidades.

Na opinão de Herek, nada mu-dou após a implantação da ciclo-faixa. “A ciclofaixa da Marechal Deodoro é simplesmente ridícu-la e não cumpre nenhum papel a não ser o de propaganda eleitoral.

Existe uma câmara técnica no Ins-tituto de Pesquisa e Planejamen-to Urbano de Curitiba (Ippuc) que discute esses assuntos e tem a participação dos ciclistas, mas essa ciclofaixa foi feita da noi-te para o dia, sem critério, sem consultar ninguém, e não cumpre o papel de educar, como foi dito pela Prefeitura”. Ele afirma ain-da que criar um circuito de lazer no meio de prédios no centro da cidade é uma piada de mau gosto.

Na sua opinião, a ciclofaixa da Marechal Floriano está atrasada e também estava sendo feita errada. Tiveram que paralisar a obra e alar-gar a ciclofaixa, que tinha apenas 70 cm de largura (a mesma largura

de uma bicicleta padrão). “Quando estiver pronta nos dois sentidos e os ligeirinhos pararem de invadir a ciclofaixa, aí poderemos dizer o que mudou”, salienta. Para Herek, o trânsito também não melhorou e não vai melhorar enquanto não houver uma mudança cultural

E isso, de acordo com ele, cabe ao Estado, incentivando o uso do transporte coletivo, oferecendo um serviço de qualidade, criando infraestrutura para transporte al-ternativo não motorizado e, o que é mais difícil, utilizando o “trafic calminig”, que é a criação de uma série de restrições aos veículos particulares. Esse processo já é re-alidade há anos, principalmente na

Europa, e deu muito certo. “Ando de bicicleta desde sempre e me lo-comovo com ela diariamente. Cos-tumo dizer que quando vou de car-ro vou rosnando e quando vou de bicicleta vou assoviando. Essa foi a mudança que a bicicleta me cau-sou, uma melhora significativa no meu humor. Curitibanos sempre gostaram de copiar os europeus, porq ue parar agora?”, conclama.

Em relação ao trânsito, pode-se dizer que está acontecendo uma mudança lenta e contínua, mas se restringe aos veículos particulares, pois os motoristas profissionais de ônibus e táxis se sentem donos das ruas e vêem a bicicleta como um estorvo. “O desrespeito é cri-minoso a ponto de jogar o carro para cima dos ciclistas. A melhor maneira de mudar isso é conscien-tizar o motorista de que em cima de uma bicicleta vai uma pessoa que poderia muito bem ser seu familiar”, destaca o cicloativista. “É essa a pergunta que devemos nos fazer quando dirigimos um veículo motorizado: se fosse meu filho na bicicleta, eu passaria tão perto quanto passo dos outros ci-clistas?” Para ele, é uma simples questão de respeito à vida, já que o confronto entre carros e bicicle-tas é covarde, desigual e ilegal. O artigo 58 do CTB deixa claro: bicicletas têm preferência sobre os veículos motorizados. Os mo-toristas deveriam conhecer melhor a lei antes de “tirar finas” dos ci-clistas. “Isso é humanizar a cida-

de, e é isso que a bicicleta faz”.O Ippuc informa que há um

projeto para aumentar os quilô-metros da ciclofaixa, que passará a ter 15 km entre idas e voltas. Para esse trajeto, que irá do cen-tro de Curitiba ao Parque Barigüi, é necessário ter mais agentes de trânsito e mão de obra da pre-feitura. O intuito da ciclofaixa, segundo o Ippuc, é a conscien-tização em relação ao ciclista, mas para isso o Instituto conta com uma grande campanha, ain-da sem previsão para ir a público.

As opiniões se dividem entre os motoristas. Para a professo-ra Cristina Correia, a implanta-ção da ciclofaixa é uma forma de conscientizar o ser humano quan-to a qualidade de vida e de bem--estar. Ela não acha a bicicleta um estorvo. Outro motorista, que não quis revelar sua identida-de, ao contrário, reclama que “a bicicleta é sim um atrapalho no trânsito, dificulta as passagens de carros e deixa tudo mais lento”.

david d’visant

cidadania

Que faixa é essa?a luta pelo espaço entre ciclistas e motoristas em curitiba

motoristas e ciclistas: uma luta diária por espaço e conscientização

Herek: a bicicleta não polui, não faz barulho, custa muito pouco e traz excelentes benefícios para a saúde

Fontes:Instituto de Pesquisa e Pla-

nejamento Urbano de Curi-tiba (Ippuc): (41) 3250-1464

Urbs: ( 41) 3320-3000 www.urbs.curitiba.pr.gov.br

Cicloativismo:www.cicloativismo.com

Foto: david d’visant

Foto: david d’visant

Número 19 – Maio de 20124 MARCO ZERO

perFil

Filho de pai seresteiro e mãe que sonhava em ser atriz de rádio, a arte esteve presente

na vida de George Sada desde o começo. Sempre muito bem hu-morado, o ator, professor, autor, sonoplasta, figurinista, maquia-dor de espetáculo, cenógrafo, di-retor de teatro e psicólogo é o fun-dador da Cena Hum Academia de Artes Cênicas e peça fundamental no desenvolvimento do teatro na cidade de Curitiba. Em conversa com o Jornal Marco Zero, Sada falou sobre sua trajetória artísti-ca, deu dicas para futuros atores e discorreu sobre a realidade do teatro na cidade.

Quando você decidiu que gosta-ria de seguir a carreira no teatro?

É uma história longa, mas va-mos lá! Desde pequeno, havia na minha família muita influência da arte. Meu pai era engenheiro civil e seresteiro. Ele tocava vio-lão em casa, nas festas e reuniões familiares. Minha mãe dizia para mim que tinha tentado ser atriz de rádio, mas não conseguiu. Depois tentou ser bailarina, mas meu avô não deixou. Essa ques-tão do artístico sempre foi muito incentivada dentro de casa. Volta e meia, frequentávamos ballet e teatro, apesar de que, por se tra-tar de uma época de ditadura mi-litar, o teatro era algo um pouco mais preocupante ou temeroso de se falar, porque se dizia que era um ambiente onde a marginali-dade acontecia. Quando prestei vestibular, meus pais me deram completa abertura sobre o que eu queria fazer da minha vida, mas eu decidi fazer Psicologia. Me formei em Psicologia, mas no ano seguinte resolvi entrar no curso de Artes Cênicas da PUC, e lá minha carreira começou. Aí eu mergulhei e me apaixonei pelo teatro! Larguei meu consultório de Psicologia para fazer teatro. Foi uma trajetória em que o teatro chegou até mim.

Qual a lembrança mais antiga que você tem sobre sua vida no teatro?

Com quatro anos de idade, subi

no palco para cantar “Eu vou pra Maracangalha” em uma apresen-tação da pré-escola! Depois dis-so, teve uma coisa que não sei se dá para chamar de teatro, talvez fossem jogos teatrais, mas é uma lembrança muito boa que tenho da minha infância, quando ia para Camboriú. Nos éramos em quatro irmãos ate então, e uma coisa que fazíamos era nos reunirmos em uma noite, e a coitada da nossa fa-mília tinha que assistir o show que criávamos. Teve uma vez que fi-zemos o Tarzan e enchemos a sala de árvores. E eu fazia a Chita! E a família tinha que aplaudir no final. Todo semestre, fazíamos isso. Um irmão escrevia o texto, outro esco-lhia as roupas, eu geralmente era o coadjuvante, porque era o menor dos quatro. Acho que foram essas coisas que incentivaram minha vida no teatro.

Qual é a sua maior realização profissional?

Ah, eu acho que é a Cena Hum! A Cena Hum foi uma coi-sa que surgiu em Curitiba em 1995. Não existiam escolas de teatro ainda na cidade, apenas espaços teatrais. Muitas crianças não tinham onde fazer teatro, e a Cena Hum foi a primeira escola mesmo. Às vezes, as pessoas me dizem que isso aconteceu porque sou perseverante, mas na verdade sou mesmo é teimoso, porque foi isso que fez a Cena Hum nascer e permanecer até hoje.

Você esteve na Suíça ministran-do cursos de interpretação no Ballet Maurice Béjart em 2010 e 2011. Como foi essa experiência?

Eu achei engraçado, porque quando recebi o convite pensei: “Ih, erraram de e-mail!” Pensei que não era pra mim, que era para outra pessoa, mas era pra mim mesmo! Foi uma experiên-cia muito doida, porque chegou o convite para eu dar um curso de teatro para aproximadamen-te 40 bailarinos de diversos paí-ses. Foi uma situação única para mim, porque de alguma forma eu coloquei lá na Europa um pouco do que a gente faz aqui e trouxe para cá uma experiência nova para o processo de formação do ator. Hoje não consigo mais pen-sar na questão de ser ator ou ser bailarino ou ser cantor. São todos

simplesmente artistas. E eu trou-xe isso para cá, essa ideia de for-mar artistas como um todo. Além disso, ter ido para lá resultou em uma quebra total da minha autoi-magem. Até então, eu achava que eu era aqui de Curitiba apenas e hoje noto que é possível você fa-lar sobre arte e teatro em todo o mundo. Fui dar o curso sem nem falar francês direito. No final, já estava falando com um japonês, ele em japonês e eu respondendo em português, e a gente se enten-dia pelo olhar. Uma experiência inusitada, muito legal.

Na sua opinião, o que o Brasil poderia aprender com outros países a respeito da valorização da arte?

Eu fui jantar com o diretor do ballet e ele disse que existem dois locais no mundo em que a arte pode ser salva: o Brasil e a China. Fiquei surpreso com isso. Acho que o que a gente pode aprender com eles é o respeito à história. A compreensão e valorização da história da arte faz com que você entenda esse processo e perceba que a vida é efêmera e somos ape-nas poeira perto de tudo o que já aconteceu e continua acontecen-do. Em compensação, eles podem aprender conosco sobre emoção e sentimento. Nós somos muito emocionais e afetivos, e disso eu sentia muita falta lá!

O que você sente antes da estreia de uma peça sua?

Cada estreia é como um filho, é diferente. É uma mistura de senso de responsabilidade e exposição, porque, quando você estreia um espetáculo, está se expondo, ex-pondo seu conhecimento, seu sen-so estético, sua forma de pensar a

vida. E está expondo as pessoas que estão a sua volta e seguem seu direcionamento. Isso é muita responsabilidade, mas ao mesmo tempo é recompensador, é uma etapa cumprida.

Como é fazer teatro em Curitiba?O ponto forte é que o ator curi-

tibano tem mais disciplina que em outros lugares. Além disso, acho que a gente não faz teatro ape-nas por pura produção comercial. Outra coisa é que hoje tem mais gente frequentando o teatro, e isso é muito bacana, porque você for-ma um público com senso crítico mais apurado. Sobre os pontos negativos, como já dizia Paulo Leminski, há o terrível antropo-fagismo curitibano. Às vezes, você luta em uma selva de pedra. Infelizmente, não existe, acredi-to eu, um compartilhamento das ações. Existe uma concorrência, e quando alguém começa a se proje-

tar mais, ao invés de os outros se agregarem e darem continuidade a isso, parece que há um prazer em tentar derrubá-lo. Então, a luta fica muito exaustiva, não só no mercado de trabalho, mas dentro da própria classe artística, e isso é um absurdo.

Qual é seu conselho para quem deseja seguir carreira no teatro?

Vá. Faça. Meu maior conse-lho é: se apaixone pelo teatro. Se apaixone pela arte. Sempre digo que a gente não pode viver sem a arte. Quando a gente não tem a arte dentro de nós, a gente morre. Tenha a certeza de que com a arte você vai viver em crise, mas é a crise que o coloca em movimento.

Se você tivesse que descrever a palavra “teatro” em uma frase, qual seria?

A vida que eu escolhi.

clarissa brandolff

A vida e a arte de George SadaHistória, sentimentos e opiniões de um homem que vive para a arte

George sada: abandono da profissão de psicólogo para dedicação completa ao teatro

sempre digo que a gente não pode viver sem a arte. Quando a gente não tem a arte dentro de nós, a gente morre.

Foto: Gustavo saulle

Número 19 – Maio de 2012 5MARCO ZERO

maria de Fátima Almeida Gomes, de 50 anos, foi uma sobrevivente do Ba-

teau Mouche, navio que estava a caminho de Copacabana e afun-dou no dia 31 de dezembro de 1988, nas proximidades do morro do Pão de Açúcar, na entrada da Baía de Guanabara, no Rio de Ja-neiro, faltando aproximadamente 15 minutos para o reveillón. Fáti-ma nasceu em Salvador (BA), mas estava morando com seu marido em Madri, na Espanha, quando decidiu passar o ano novo no seu país de origem com alguns amigos que disseram que aquela noite se-ria maravilhosa e inesquecível.

Inesquecível realmente foi. O embarque foi no pier do restau-rante Sol e Mar, zona Sul do Rio, e Maria de Fátima lembra exata-mente tudo o que aconteceu na-quela noite. “Os corpos estavam com a barriga muito estufada, pois as pessoas tinham comido e be-bido muito, e a maioria ainda be-beu litros e litros da água salgada; parece que foi um pesadelo. Foi como nascer de novo”, relata.

Ela diz não guardar nenhum objeto como lembrança, que tudo foi parar no fundo do mar, e que quem a salvou foi Deus, mas quem a tirou da água foi um pescador, seu Jorge, e dois garotos, a quem, em reportagem ao Fantástico, da Rede Globo, em 2009, voltou para agradecer por sua vida. Vinte anos depois da tragédia, o sonho de Fá-tima ainda era encontrá-los, mas não tinha nenhum tipo de conta-to que pudesse ajudá-la. Então, o “Fantástico” a levou até o Rio de janeiro, próximo ao local onde a embarcação afundou. Ela pode en-tão agradecer pessoalmente o pes-cador e os dois garotos.

Maria de Fátima mora hoje no bairro Vista Alegre, em Curi-tiba, com as filhas Cindy Okino e Meysi Okino. Ela é esteticista e, apesar de não guardar nenhum objeto como lembrança, em mo-mento algum mostrou-se resisten-te ao falar dos fatos que lhe suce-deram com o naufrágio do Bateau Mouche. Ela recebeu a equipe do

Marco Zero na sala de sua casa, onde contou a sua história. “Na-quela noite que era para ser de alegria, eu era a última da lista e fui a última a entrar naquele na-vio. Estava com um vestido azul, única pessoa vestida com essa cor no meio dos 142 tripulantes. Per-cebi na entrada que ele estava su-perlotado, e desde que saimos não consegui “relaxar’’, pois sempre tive muito respeito pelo mar, já que meu pai me ensinou isso des-de criança, pois era pescador’’.

Ela disse ainda que naque-la noite ventava muito. “Isso era também motivo de preocupação, pois perto da meia-noite ouvi o barulho de louças caindo devido à agitação do mar, que balançava muito o navio. Eu estava no ba-nheiro quando vi a água entrando e não pude acreditar que aquilo realmente poderia acontecer. Subi

correndo as escadas e vi tudo ba-gunçado. Era inacreditável o que estava acontecendo”.

Depois disso, ainda relatou: “O barco virou, e a água estava mui-to fria. Lembro das pessoas que seguravam em mim e dos gritos pavorosos de outras morrendo. Naquele momento, um filme da minha vida passou em questão de segundos em minha cabeça”.

Apesar da história triste, Fá-tima conta que todos os dias 31, principalmente em dezembro, tem uma lembrança triste, mas ao mesmo tempo muita gratidão por estar viva.

Kellen ribeiro

A vida à prova d’águasobrevivente do bateau mouche conta sua história

“Fui a última a entrar naquele navio”, declara maria de Fátima.

Foi um pesadelo. Foi como nascer de novo

Foto: Kellen ribeiro

O naufrágio do Bateau Mouche

No réveillon de 1988-1989, o Bateau Mouche naufragou, cau-sando a morte de 55 pessoas entre as 142 que estavam a bordo. O barco era de propriedade de uma empresa que tinha nove sócios.

O Rio de Janeiro promovia sua festa oficial de réveillon na praia de Copacabana, com fogos de artifício clareando a noite, mas alheio à tragédia que acontecia muito próximo dali.

O barco já havia contornado o Pão de Açúcar, seguindo para Copacabana, quando seus ocupantes foram surpreendidos por on-das enormes. Logo após, balançando muito, o barco adernou para a direita. Era o caos. O mar, cada vez mais agitado, fazia entrar água pelas vigias, inundando o convés inferior. O Bateau Mou-che prosseguiu assim mesmo. Às 23h45, com a casa de máquinas cheia de água, os motores pararam. Foi nesse horário que todas as pessoas se dirigiam à proa do navio para ver o show de fogos, o que contribuiu para o naufrágio.

Descontrolado, o barco se inclinou para a direita e emborcou, espalhando seus passageiros no mar. Pessoas em outros barcos que estavam nas imediações, ouvindo os gritos, foram ajudar, jogando bóias e coletes salva-vidas, iluminando a área e recolhendo pesso-as. Durante vários dias, trabalhou-se no resgate de corpos.

A notícia abalou a cidade. Criou-se um clamor público, com a mídia induzindo a opinião pública contra os proprietários do barco.

O resultado da perícia do barco apresentou uma série erros: su-perlotação, porque a capacidade máxima seria de 80 passageiros; o convés superior tinha peso excessivo, por causa de camada de cimento e aço, duas caixas d’água e outras peças móveis; a bomba de esgoto funcionavam mal; as vigias estavam mal vedadas. Em 18 de julho e 28 e 29 de dezembro de 1988, dois dias antes do naufrágio, o barco fora vistoriado pela Capitania dos Portos - du-rante todo esse tempo, as falhas descritas já existiam, sem que a Capitania fizesse qualquer advertência.

detalhe do barco bateau mouche: o resgate dos corpos durou vários dias

divulgação

Número 19 – Maio de 20126 MARCO ZERO

trilHas do tempo

o Museu Ferroviário de Curitiba foi inaugura-do em 1982, anexo ao

Shopping Estação.Seu acervo contém mais de

600 peças, como relógios, tele-fones e telégrafos que eram uti-lizados na estação e objetos do interior dos trens, como baga-geiros, fechaduras e luminárias da época.

O espaço ainda possui uma locomotiva a vapor em expo-sição, evidenciando um retrato da vida naquele século, além de uma coleção histórica formada por recortes de jornais e livros sobre as ferrovias.

Em 1997, com a conces-são do espaço ocupado pela antiga(Rede Ferroviária Fede-ral Sociedade Anônima (RFF-SA), foi inaugurado um shop-ping em Curitiba, com o nome de Estação Plaza Show (em referência à antiga Estação Fer-roviária de Curitiba).

Trata-se de um espaço que buscou preservar o patrimônio da capital do Paraná, guardan-do raízes de uma Curitiba de grandes realizações que não devem ser esquecidas pelas ge-rações futuras. Daí a importân-cia da conservação do Museu Ferroviário de Curitiba, dentro do então novo local de entrete-nimento e lazer.

Será que os frequentado-res do local sabem o motivo do nome escolhido: “Shop-ping Estação”? A estudante Ana Ferreira, de 24 anos, diz que não sabia da existência da antiga Estação Ferroviária e achou que o nome vinha da aparência do shopping center. Já Eunice Borges, de 87 anos, lembra como funcionava a Es-tação Ferroviária: “Era uma época muito boa. Aqui era um ponto inicial para se chegar em Curitba e um ponto final para aqueles que queriam ir embo-ra. Eu passava a maioria dos

meus dias observando a movi-mentação”, diz.

Outra frequentadora, Fer-nanda Abreu, de 47 anos, lem-brou que ali era uma antiga Estação Ferroviária e declarou que gostaria muito de trabalhar no museu, pois seu avô traba-lhou na antiga estação ferro-viária e ela tem uma boa lem-brança do local. Parentes dela sempre visitam o museu.

O local é bastante visitado por turistas, estudantes e pú-blico em geral, que vão lá para apreciar a beleza da cultura preservada no museu e relem-brar o passado da cidade.

tamyres barbosa de oliveira

Uma história que é pouco lembradasaiba mais sobre o museu Ferroviário de curitiba

a antiga estação ferroviária de curitiba abriga o museu Ferroviário

o museu Ferroviário fica dentro do shopping estação, local de uma antiga estação ferroviária

Você já tinha visto esta placa antes?

Talvez você passe em frente a ela todos os dias, mas não tenha reparado nela.

Esta placa se encontra no Museu Ferroviário de Curiti-ba, localizado no Shopping Estação.

Várias pessoas passam pelo shopping, porém mui-tos não sabem que ali era uma estação ferroviária, um local de chegada e de partida da Curitiba de antigamente. Horário de funcionamento:

Terça a sábado: 10h às 18hDomingo: 11h às 19hSegunda: não abre

aqui era um ponto inicial para se chegar em curitba e um ponto final para aqueles que queriam ir embora

Fotos: tamyres de oliveira

Número 19 – Maio de 2012 7MARCO ZERO

Deadline e o Relógio do Solos curitibanos sabem onde fica o relógio do sol na praça tiradentes? sabem que ele existe? e afinal, que horas são?

trilHas do tempo

Deadline. É o fim da linha. É o prazo final. Os em-presários usam muito essa

palavrinha. Os jornalistas também. Falando neles, imagine que você é um jornalista e precisa escrever uma matéria sobre um tal de “re-lógio de sol”. Permita-me ser mais específico: você é jornalista, preci-sa fazer uma matéria sobre o tal do relógio de sol, mora em Curitiba (cidade das quatro estações em um dia), e seu deadline está se apro-ximando.

Sinceramente, eu preferia ter ido fazer uma matéria sobre inci-dência de cáries em cães hidrófo-bos. Seria mais fácil as coisas da-rem certo.

Em primeiro lugar, eu nunca tinha sequer ouvido falar que na praça Tiradentes havia o bendito de um relógio de sol. Eu nem ao menos sabia o que era um relógio de sol (e olha que sou neto de re-lojoeiro!).

A única coisa que eu sabia é que o tal relógio fica entre a loja Xi-quita e a Pernambucanas. Esse era todo o meu conhecimento sobre o relógio de sol. Brilhante.

Cheguei na praça Tiraden-

tes, me aproximei da Xiquita e fiquei olhando pra cima, como quem tenta avistar um Ovni. Não vi nenhum relógio. Na calçada, tampouco (sim, porque imaginei se o relógio não poderia ser uma daquelas rosa dos ventos, sabe?). Perguntei então para um senhor que ali passava:

- O senhor sabe onde fica o re-lógio de sol?

- Você quer saber que horas são? – me perguntou.

- Não, não, o re-ló-gio de sol. Quero tirar uma foto dele e...

- São meio dia e vinte. Agradeci o doido e resolvi fu-

çar por conta própria. Entre a Xi-quita e a Pernambucanas, entre a Xiquita e a Pern...

Ah, ali estava. O que a preguiça não faz, não

é? Alguns passinhos para o lado, e avistei o relógio. E devo dizer que foi simpatia à primeira vista.

O relógio está localizado um pouco à esquerda da loja Xiquita, acima e no meio de três janelas de um pequeno prédio histórico de Curitiba. A fachada é branca (ou, melhor dizendo, já foi branca).

No blog “circulando por Curi-tiba”, há uma informação sobre o prédio: Farmácia Stellfeld, a pri-meira de Curitiba, aberta em 1857 por Augusto Stellfeld, situava-se na Santa Casa de Misericórdia.

Em 1866, o estabelecimento foi transferido para a Praça Tiraden-tes, na quadra em frente à catedral.

A primeira coisa que tentei fa-zer, evidentemente, foi tentar ver as horas no relógio de sol. Não tive sucesso. Na parte de cima do relógio, pode-se ler a data (1857), único número ali que ficou claro para mim.

De resto, uma confusão só: o 12 lá embaixo, o 1 à esquerda, o 6 na ponta superior esquerda, o 7 na outra ponta, e eu lá embaixo, com cara de bobo. Para mim, pareceu mais fácil montar o cubo mágico de Rubik do que decifrar as horas no relógio de sol.

Senti-me um completo ignoran-te, mas tentei atribuir essa sensa-ção à falta de ponteiros no relógio. Os ponteiros, presumi, devem ser as sombras projetadas pelo sol

ao incidir diretamente sobre o re-lógio. O céu nublado, apesar do calor tórrido, não ajudou. Preferia um tempo mais aberto, mas, en-fim, é o deadline, é o deadline...

Para concluir minha missão, es-colhi aleatoriamente algumas pes-soas por ali para saber o que elas pensavam sobre o relógio de sol (implicando que elas soubessem da existência dele).

Eliseu Gaiser é taxista e costu-ma rondar a praça Tiradentes todos os dias. Ele sabia perfeitamente que havia um relógio de sol ali na praça, mas não exatamente onde. Apontei o relógio para ele, e ele ficou olhando, curioso...

- Mas que horas são? – pergun-tou.

- Pois é. – respondi, frustrado. – Também não sei.

- Peraí. – disse ele e tirou o ce-

lular do bolso. – Meio dia e trinta cinco.

- Ah, muito obrigado. É por isso que dizem que em

Curitiba você tem que se esforçar para ser esquisito.

Já Carlos Alvez, gari (e aqui vou parafraseá-lo), comentou que sim, sabe do relógio de sol, mas não consegue entender o troço.

Tive vontade de abraçá-lo e di-zer: “Eu também não, Carlos, eu também não!”

Luana Aragão, estudante da oi-tava série, me disse que o pai já ha-via lhe mostrado o relógio quando ela ainda era criança. Na opinião dela, o relógio é mais interessante do que útil.

Concordei. É um patrimônio histórico. Um elo com o passado, muito antes da era dos celulares e relógios digitais. Um relógio (aparentemente) pouco conheci-do pelos curitibanos. Você passa por ele despercebido, seu olhar está focado em outras coisas: o itinerário dos ônibus, as pessoas, o som da catedral, as pessoas, as promoções da Xiquita, as pesso-as. Você passa pelo relógio solar e não se dá conta de que ele está ali e do quanto ele faz parte desta cidade.

Em suma, ele é como o Dal-ton Trevisan. Só que um pouco menos confuso.

Foto: claudia bilobran

diego Gianni

Número 19 – Maio de 20128 MARCO ZERO

túneis secretos, tesouros es-condidos, piratas. Poderia se tratar de um roteiro de

cinema holywoodiano, mas esses elementos fazem parte da cultura e da história de Curitiba. Lendas sobre os subterrâneos da cida-de não faltam no folclore local. Mas em 1962 um jovem provou que nem tudo era fantasia quan-do fotografou um túnel existente no bairro Vista Alegre das Mer-cês, próximo de onde fica hoje o bosque Gutierrez.Porém, somente no início deste ano as fotos foram divulgadas.

Key Imaguire, o primeiro a do-cumentar a existência de um túnel subterrâneo em Curitiba, é hoje ar-quiteto, mestre e doutor em história.

Imaguire foi levado ao túnel por amigos que já sabiam de sua existência, uma vez que este era conhecido pelas crianças do bair-ro que faziam do terreno vazio um lugar para brincar. No local onde ficava a entrada da construção subterrânea, encontrava-se apenas uma estrutura já desmanchada do que teria sido uma casa de madei-ra. Quem não soubesse do conteú-do do subsolo dificilmente teria a atenção atraída para o local.

A entrada do túnel ficava quase no mesmo nível do solo. Passan-do por ela, chegava-se a uma sala onde havia um alçapão. Afastan-do-lhe a tampa de ferro, podia-se descer pelo que era propriamente o túnel. Como o espaço era pe-queno, Key Imaguire e seus ami-gos tiveram que percorrê-lo de joelhos e de costas, assim como o lance de escadas que vinha logo

após. A passagem levava a outro cômodo de teto abobadado, onde se podia ficar em pé tranquila-mente. No local, havia vestígios do que teria sido um fogão à lenha com prateleiras de tijolos, ligado a uma chaminé que se projeta-va acima do solo, indicando que aquela não era somente uma pas-sagem subterrânea, mas um local de permanência. O que intriga o arquiteto, no entanto, é o fato de haver além dessa última câmara um corredor que parece ter sido interrompido abruptamente, por uma parede mais nova que as ou-tras. Para ele, a estrutura feita de tijolos maciços e ferro de antigos trilhos de trem é obra de alguém que entendia bem os processos de construção e sabia o que estava fazendo, pois as técnicas utili-zadas na obra não eram simples, descartando assim a possibilidade de um trabalho amador.

Quando as fotografias foram tiradas, já se podiam perceber vestígios de escavação no local, que segundo Imaguire, não são frutos da degeneração do tempo e sim da ação humana. Talvez de caçadores de tesouros, em busca do ouro dos jesuítas. O terreno onde fica o bosque Gutierrez já era também conhecido pela lenda do pirata Zulmiro, um inglês que teria escondido ali, em um com-plexo de túneis, os frutos de suas pilhagens.

“Provou-se por meio dessas fotografias que existiu de fato um túnel no bairro Mercês em Curitiba, porém, as perguntas que continuam sem respostas a respeito da descoberta são por

Os mistérios embaixo do chão curitibano construções subterrâneas guardam um pedaço da história ainda não resgatada de curitiba

Fotos tiradas por Key imaguire, na década de 1960, revelam a estrutura do misterioso túnel

palco de cenas históricas, o clube concórdia abriga um túnel

déborah de Franco abrahão

os túneis existiram, a minha crença nisso vai até esse ponto

allyson dolenga

Foto: allyson dolenga

Fotos: Key imaguire

especial

Número 19 – Maio de 2012 9MARCO ZERO

da cidade invadindo e depredan-do as propriedades pertencentes a alemãs, italianos e japoneses. O Clube Concórdia foi um desses lugares. Zélia aponta a janela do ceiro andar, que fica de frente para a entrada do clube, e conta: “Um piano foi jogado dali, partidas de futebol foram disputadas dentro dos salões de baile. Foi um verda-deiro quebra-quebra, e é possível que o túnel do Concórdia tenha sido construído como rota de fuga para os imigrantes que se sentiam ameaçados nesse período.”

Apesar de existir realmente, no porão do Clube Concórdia, a en-trada do que parece ser um túnel, ela está gradeada e ninguém nunca se atreveu a percorrê-la. Portanto, se há ali uma passagem e até onde ela chega, é ainda um mistério.

Segundo o presidente do Con-córdia, Fredi Humphreys, essa passagem nunca foi explorada: “Há muito tempo temos conhe-cimento dessa entrada. A sede do clube foi construída em 1912, e essa passagem pode ser até mais antiga. Ela segue por uns dois metros, mas ninguém nunca a percorreu, e não sabemos se ela é interrompida mais adiante. O túnel está localizado na frente do clube, embaixo do bar, e parece seguir em direção à Igreja do Ro-sário. Uns dizem que vai terminar na Sociedade Garibalde, outros dizem que não.

Nunca a instituição recebeu qualquer proposta da Prefeitura ou do Patrimônio Histórico para que a construção fosse estudada. Diante dessa possibilidade, Humphreys declara: “Como presidente do clube, tenho no momento outras prioridades. Se recebêssemos uma proposta de estudo dessa cons-trução, teríamos que avaliá-la. Se essa passagem estivesse localizada mais na parte de fora, seria mais simples, mas onde está afetaria muito a estrutura do clube.

Entre as histórias que ao lon-go dos anos vêm se formando no imaginário dos curitibanos, está a existência de túneis em vá-rios lugares da cidade. Há quem diga que túneis ligam o Colégio Estadual do Paraná ao Shopping Muller, a Igreja da Ordem ao Convento do Rosário, e haveria outros ainda na Catedral da Praça Tiradentes, na Sociedade Garibal-di e no Colégio Marista. Porém, essas histórias por enquanto não passam de lendas urbanas, visto que nada foi encontrado.

A arqueóloga Claudia Inês Parellada considera possível que túneis tenham realmente existido no centro da cidade: “Era preciso haver um sistema de escoamen-to sanitário, e para isso deveriam existir galerias subterrâneas”.

Segundo ele, os túneis podem estar relacionados a essas gale-rias iniciais que tiveram vários usos ao longo do tempo. “Em Curitiba, houve alguns conflitos como a Revolução Federalista, por exemplo, e essas galerias podem ter sido usadas como es-conderijo ou passagem. Isso não seria difícil, principalmente nas áreas mais altas”.

Quanto à realização de um es-tudo mais aprofundado em busca dos túneis de Curitiba, o diretor do Museu Paranaense, Renato Car-neiro Júnior, declara: “E se for? O que interessa? Quando fica no território da lenda, não tem senti-do desperdiçar tempo e dinheiro com isso”.

Imaginação, lendas, construções misteriosas, rotas de fuga formam esse pedaço de um passado da cidade de Curitiba que, ao longo dos anos, vai se perdendo no tempo. Indícios de túneis em Curitiba existem. O túnel fotografado por Key Imaguire e a construção inexplorada do Clu-be Concórdia são fragmentos dessa história que, ao que parece, por algum tempo ainda não será total-mente contada aos curitibanos.

Os mistérios embaixo do chão curitibano construções subterrâneas guardam um pedaço da história ainda não resgatada de curitiba

palco de cenas históricas, o clube concórdia abriga um túnel

uma parede aparentemente mais nova bloqueia a saída do túnel

quem e por que motivo esses tú-neis foram feitos.” Key Imaguire diz que na História costuma-se dizer que sem documento não há história. “Eu tenho um docu-mento que são as fotografias que fiz de algo que eu vi. Sei que os túneis realmente existiram, e a minha crença nisso vai até esse ponto. Mas o que eram esses tú-neis, quem fez e por que é ape-nas suposição mesmo”, afirma.

Muitas teorias surgiram acerca dos túneis encontrados, além da lenda do pirata Zulmiro, que os teria feito para esconder um te-souro. Há ainda quem acredite que a construção é obra de padres je-suítas. Imaguire, no entanto, não considera essas hipóteses possí-veis pelo simples fato de não ha-ver nada que comprove a presença do primeiro em Curitiba. Quanto à ordem religiosa, apesar de mui-to poderosos no mundo inteiro, os jesuítas tinham poder mais políti-co, e sua riqueza era baseada em posses de terras,fazendas e outras propriedades, não em ouro e prata.

Em determinado momento da história, o poder desses religiosos começou a ser também motivo de uma série de inimizades. Todo o movimento de rejeição contra a Igreja Católica no século XVI era projetado com grande força na imagem dos jesuítas. A ordem foi banida do Brasil em 1629.

A teoria de Key Imaguire é que os túneis tenham sido feitos por doentes que sofriam de hansení-ase. Ele baseia seu pensamento em evidências e documentos que comprovam a existência de um le-prosário na região.

“A minha suposição é de que se tratava de um esconderijo de le-prosos. Embora, que eu saiba, isso nunca tenha existido no Brasil,

principalmente em Curitiba, hou-ve a prática de persegui-los, pois eles eram expulsos das cidades a pedradas. As pessoas não queriam esses doentes, pois a doença era considerada altamente contagiosa, e existia uma incidência bastante grande aqui na região. Por aí eu encontro uma teoria possível”, su-gere o arquiteto e historiador.

No Clube Concórdia, localiza-do no centro histórico de Curiti-ba, próximo ao Largo da Ordem, também foi encontrada uma cons-trução subterrânea. A jornalista e apresentadora do programa “Nos-sa história” da Rádio Educativa AM, Zélia Sell, esteve com a equi-pe de reportagem do Marco Zero no Clube e mostrou no chão da sala onde fica o buffet a marca do alçapão que seria uma das entradas de um túnel.

Ela conta que, na época da Segunda Guerra Mundial, os imi-grantes alemães, considerados “inimigos do eixo”, sofreram per-seguições por parte do governo de Getúlio Vargas. Com o torpedea-mento de navios brasileiros pelos alemães, a situação se agravou, e a própria população se ergueu con-tra os imigrantes.Em 1942, a “Ga-zeta do Povo” noticiou que cerca de 10 mil pessoas se reuniram na praça Osório e saíram pelas ruas

jesuítas, leprosose piratas

existiu de fato um túnel no bairro mercês em curitiba, porém as perguntas continuam sem respostas

Foto: allyson dolenga

Fotos: Key imaguire

o clubeconcórdia

Zélia sell, apresentadora do programa “nossa História”

Foto: allyson dolenga

explorando as, possibilidades

Número 19 – Maio de 201210 MARCO ZERO

O Indiana Jones curitibanoAlgumas paixões surgem de repente, com outras, já nascemos. O que fez despertar em Marcos Juliano o interesse em desbravar os túneis de Curitiba foi um livro que leu na infância. Mal sabia que anos mais tarde estaria entre os personagens característicos da capital paranaense. Já são mais de cinco anos explorando e contando a história dos túneis da cidade. Nomeado pela imprensa paranaense como “Indiana Jones curitibano”, ele concedeu entrevista sobre seu trabalho de exploração dos túneis curitibanos.

Quando surgiu o interesse em conhecer os túneis? Há quanto tempo você se embarca nessa aventura?

Fui lobinho, escoteiro e sênior e desde pequeno sempre gostei de explorar. O que me despertou a curiosidade para esses túneis foi um livro do século 18, do explorador inglês Harold T. Wilkins, que mencionava uma grande rede de túneis subterrâneos cortando a América do Sul inteira. Falava muito por cima de um ramal dessas ramificações que passava pelo estado do Paraná em direção ao Li-toral e descia para Santa Catarina. Inclusive falava sobre uma das entradas serem em Ponta Grossa, passando por Curityba (na grafia antiga) e descendo para Joinville (SC). Isso foi o gatilho que me levou a fazer uma grande pesquisa por Curitiba inteira atrás de no-tícias sobre a existência de túneis subterrâneos, mesmo porque eu sabia da lenda urbana de que existiam túneis no centro da cidade e em outros lugares antigos.

Faz cinco anos que me dedico a essas pesquisas arqueológicas, e descobri coisas extraordinárias sobre o assunto.

O mistério que cerca os túneis é o que o motiva?

Sim, a possibilidade de existir um complexo de túneis subter-râneos em Curitiba é, em si, um grande tesouro turístico para a cidade e uma aventura que merece ser vivida e trazida à tona, para que todos os curitibanos conheçam um pouco mais da sua história.

Existe algum túnel sobre o qual você descobriu alguma infor-mação inédita?

O complexo subterrâneo das Mercês é um achado arqueo-lógico formidável! Ninguém fazia uma idéia mais concreta de quem construiu aqueles túneis. Nas minhas pesquisas, encon-trei indícios de que os jesuítas construíram esse complexo sub-terrâneo, uma espécie de caixa-forte na cidade de Curitiba.

Na sua visão de “caçador de informações”, por que a história oficial dos túneis se perdeu com o tempo?

Como é uma história muito antiga, e são muitos pontos para serem amarrados, as pessoas que conheciam algum trecho foram morrendo, e o segredo foi se perdendo também. Eu mesmo fico impressionado com o que eu imaginava saber quando comecei a pesquisar e com o que eu sei hoje. O túnel que existe no Clube Concórdia, que é de uma época que podemos situar entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, é um exemplo desse passado que se apaga.

Para fazer uma apresentação da Casa Cor (evento anual de arquitetura e design), eles fecharam a passagem de acesso ao túnel, tive de pedir autorização para poder abrir novamente. Caso eu não fizesse isso, o passado estaria se apagando.

Sua pesquisa é praticamente feita de maneira independente. Você já tentou pedir algum tipo de patrocínio para ampliar suas explorações?

No ano que vem, pretendo apresentar um projeto para a Câmara de Vereadores, para iniciar uma escavação no Bosque Gutierrez, em uma das entradas desses túneis jesuítas que hoje está obstruída. O potencial turístico que existe na exploração racional dessa estrutura de subsolo é de nível internacional.

Você se considera, assim como o personagem do filme, um aventureiro ou um explorador?

Sim, me considero um cientista e explorador, e meu sonho é poder realizar escavações arqueológicas e descobertas no mundo inteiro, viver essas grandes aventuras.

marcos juliano: “sinto que a cada dia fico mais perto de resolver esse mistério”

especial

Lendas subterrâneasÉ comum surgirem com o tempo histórias acerca de um acon-tecimento cujos dados são contraditórios. No caso dos túneis que existem em Curitiba, não é diferente. Por não haver uma versão oficial de sua história, são inúmeros os “causos” so-bre os subterrâneos. Mesmo não comprovada sua veracidade, as lendas são curtas, intrigantes e surreais. Confira algumas:

O pirata ZulmiroDe ascendência britânica, seu nome era Sulmmers, mas era conhe-cido como pirata Zulmiro. Não se sabe o motivo de sua chegada ao Brasil, mas aqui conquistou terras, entre elas no bosque Gutierrez, nas Mercês. Viu nos túneis já construídos do bosque uma forma de esconder sua riqueza. Essa é uma das lendas mais famosas em torno dos subterrâneos. Já houve tentativas de abrir tais passagens para buscar os tesouros, mas nada foi encontrado.

A freira e o padre no subterrâneoNo interior do Paraná, uma garota chamada Gertrude fica descon-solada quando seu namorado, Paulo, é enviado pela mãe a um se-minário em Curitiba. Ela decide vir para a capital e se tornar freira para ficar próxima de seu amado. Quando o casal se reencontra tempo depois, logo começam a se ver às escondidas em um tú-nel descoberto por ele, que ligava a igreja da Ordem ao Convento do Rosário. Gertrude engravida, e o romance é descoberto. Havia uma freira chamada Agda que conhecia o romance e invejava o amor do casal. Certo dia, com o pretexto de evitar o escândalo, explodiu o túnel onde Paulo e Gertrude estavam, matando os dois. Porém, em sonho, Agda, uma semana depois, viu Gertrude e, no dia seguinte, ao visitar o túnel, percebeu que ele estava intacto e lá se encontrava o espírito de Gertrude, que lhe disse: “Ficarei aqui por muitos e muitos anos”. Tempos depois, Agda enlouque-ceu. Terminou seus dias no Hospital Nossa Senhora da Luz.

Passagens secretas

Algumas das passagens subterrâneas teriam o objetivo de facilitar reuniões secretas de alguns grupos religiosos. Mais uma lenda não comprovada.

Túneis de concórdiaEsta lenda é parcialmente comprovada: existem de fato dois tú-neis no clube Concórdia, no Centro de Curitiba. Eles poderiam ter servido rota de fuga, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Além disso, seriam uma ligação até o bairro Mercês.

A freira das galerias subterrâneasMarcelo era um garotinho, quando certo dia ele encontrou uma es-pécie de passagem secreta nas proximidades do Shopping Muller. Ao entrar, ficou admirado com sua extensão. Ele estava embarcando numa aventura. Porém, ao tentar sair daquele subsolo, não encon-trava mais a saída. O medo tomou conta dele, até uma mulher che-gar próximo - era uma freira: “Calma, menino”, disse ela. “Quero volta para casa”, chorava o menino. A freira lhe disse: “Meu nome é Gertrude, siga-me e lhe mostrarei a saída...” Ao avistar a claridade, o menino agradeceu e viu a mulher se afastar para dentro do túnel: “Por que você não sai também?” “Eu não pertenço a esse mundo, apenas ajudo as crianças que se perdem, como você. Eu estava grávida no dia que morri neste lugar...” disse Gertrude. A lenda diz que o espírito da freira sempre salva crianças perdidas nas galerias.

Foto: divulgação

Número 19 – Maio de 2012 11MARCO ZERO

esporte

leonardo pollis

os amantes do esporte que, por falta de tempo, não podem desfrutar tanto o

quanto querem de seus momentos de lazer nos dias úteis aproveitam as horas vagas aos fins de semana para colocar em dia tudo aquilo que não fazem durante a semana. Nas praças e parques espalhados pelo centro Curitiba, nota-se facil-mente um grande número de atle-tas. O objetivo da grande maioria é manter um bom preparo físico e eliminar o sedentarismo, o que, com a correria do dia a dia, torna--se às vezes muito difícil.

Em uma das principais praças públicas do centro de Curitiba, a Oswaldo Cruz, localizada em frente ao Shopping Curitiba, al-guns atletas relatam os problemas da rotina de compromissos que encurtam cada vez mais o tempo de lazer.

O analista de sistemas Leandro Miranda de Araújo, de 31 anos, morador do bairro Portão, sempre costuma se reunir com seus ami-gos aos finais de semana para jo-gar basquete em uma das quadras disponíveis. Segundo o esportista, a praça, que foi reformada há pou-co tempo, principalmente a quadra coberta, reconstruída há menos de dois anos, está em situação precá-ria quanto à manutenção. O atleta diz que os próprios usuários cui-dam do local e mostra um remendo feito pelos usuários na quadra para tapar um grande buraco que havia surgido, sem contar as goteiras que caem da cobertura e deixam o piso escorregadio e perigoso para quem utiliza a quadra.

A segurança na praça foi apon-tada como boa, pois a presença da Guarda Municipal é rotineira no local. Os guardas contam ain-da com um posto do 12° Batalhão da Polícia Militar. Segundo a em-presária Albanir Gaier Fracaro, de 49 anos, e seu esposo Luiz Car-los, de 50 anos, administrador, que residem no centro da cidade e frequentam as praças há oito anos, há muitos pontos da Oswal-do Cruz que estão descuidados. O casal possui uma loja na Rua 24 de

Maio. Eles moram bem perto da praça e convivem com essa rotina diariamente, costumam sair juntos e praticar exercícios físicos e uma caminhada.

Luiz, sempre que possível, aproveita para jogar futebol com os amigos. Com a implantação da nova ciclovia, que funciona um domingo ao mês, o casal passou a ter agora mais uma opção de lazer no centro, mas tiveram opiniões distintas quanto à novidade. Ela acredita que a ciclovia é um bom começo para quem anda de bicicle-ta poder ganhar espaço no trânsito. Já ele acha que o projeto foi mal elaborado e que deveria ser criada uma ciclovia para que aqueles que utilizam esse meio de transporte diariamente possam se locomover. Segundo o administrador, uma ci-clovia que funciona uma vez ao mês não tem muita utilidade, sem falar que a faixa foi feita do lado errado e em mão única.

Um grupo de seis mulheres que formam um time de basquete e sempre se reúne aos finais de se-mana para jogar na praça Oswaldo

Cruz comenta que a falta de manu-tenção da praça afeta principalmen-te o sistema de iluminação. Quando anoitece, fica muito escuro, pois metade da iluminação do local não funciona como deveria, reclamam as atletas. Apesar das críticas quan-to à manutenção da praça, a estu-dante de Relações Públicas Cíntia Ribas, de 30 anos, participante do grupo, acredita que Curitiba está aprendendo a aproveitar melhor suas áreas verdes, e esse é o cami-nho certo para que os parques e pra-ças sejam valorizados. A mais nova da turma é a estudante Gabriele Goulart, de 20 anos. A mais velha é a gerente empresarial Andréia Ca-vallire, de 40 anos.

Atletas de fim de semanamoradores do centro aproveitam tempo livre aos fins de semana para praticar esportes

time se reúne aos finais de semana e deixa de lado a diferença de idade em prol da mesma paixão, o basquete

Prática de atividades

físicas apenas nos fins

de semana tem riscosleonardo pollis

Segundo o fisioterapeuta de empresas Welington Borges, de 24 anos, a prática de exercícios, mesmo que só aos fins de semana é muito bem-vinda, pois ajuda a evitar o sedentarismo precoce. Mas ele alerta quanto à importância de se alongar to-dos os dias, pois isso não requer tanto tempo e faz uma grande diferença para o corpo. Claro que se alongar de maneira incorreta não adianta, aliás, é pior, pois pode ocasionar sérias lesões, diz o fisioterapeuta. Segundo ele, as pessoas que só se exercitam aos finais de semana também correm um grande risco de sofrer al-gum tipo de problema cardíaco se não estiveram aptas à prática esportiva. Para evitar que isso ocorra, Welington recomenda que o atleta procure um profissional da saúde e faça exame ao menos uma vez ao mês. Ele defende a importância da ginástica laboral nas empresas e garante que as empresas que beneficiam seus fun-cionários com essa atividade ganham em produção.

albanir e luiz carlos Fracaro, moradores, comerciantes e esportistas do centro da cidade, frequentam a praça

a falta de manutenção da praça afeta principalmente o sistema de iluminação

Fotos: Willian Gomes

CABE NO BOLSO

Esportes gratuitos na

Praça Osvaldo Cruz

A Praça Osvaldo Cruz, localizada na região central de Curitiba, oferece diversas opções para a prática gratuita de esportes no local, entre elas, natação, futsal e voleibol. Por ser muito procurada, há al-gumas regras a serem seguidas, como a frequência para as atividades.

Dentro da praça, há uma academia ao ar livre, com os mesmos equi-pamentos de ginástica encontrados nos bairros de Curitiba. Para parti-cipar da natação, é preciso ligar agendando as aulas, que são três por semana, sempre gratuitas.

Segundo a administração da praça, cerca de 500 pessoas praticam esportes diariamente no local. A segurança é feita pela Guarda Mu-nicipal.

Infraestrutura: quadra poliesportiva, ginásio coberto, pista de atletismo, piscina, pista de caminhada, sala de ginástica, sala de gi-nástica artística, sala de musculação.

Atividades: ginástica e musculação para a terceira idade, alonga-mento, ginástica e musculação para adultos, natação, pilates, futsal, basquete, voleibol, ginástica rítmica para crianças e adolescentes.

Endereço: Rua Brigadeiro FrancoBairro: Centro - Curitiba-PR Telefone: 3321-2708 Fax: 3321-2723

Informações: de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h.

Willian Gomes

Número 19 – Maio de 201212 MARCO ZERO

cultura

por ser vinculado ao Cen-tro Cultural Teatro Guaíra (CCTG), o Teatro José Ma-

ria Santos está aberto a todos os tipos de espetáculos do estado do Paraná. As peças dos festivais apresentados atingem todas as idades e tipos de gostos. Entre os festivais que abriga, destaca--se o Festival de Curitiba, maior da área no Brasil. A casa recebe a programação do Fringe – mostra paralela do evento.

A demanda é grande, e, para conseguir dar conta de todos os espetáculos, a maratona de en-saios, montagens e desmonta-gens é intensa. “As peças apre-sentadas aqui são ótimas e nos tiram do mundo real”, elogia a estudante Aline Campos.

Em quesitos técnicos, o teatro possui uma infraestrutura muito boa, explica o diretor Gilber-to Tuyuty, pois é equipado com tudo o que é necessário para dar conforto aos espectadores e artis-tas que vêm fazer seu trabalho.

“Mesmo sendo um monumen-to tombado, não tem a atenção que deveria ter. As autoridades públicas também não dão o cré-dito e o apoio necessário às artes cênicas, que deveriam ser ensi-nadas e motivadas desde a mais tenra idade”, reclama o diretor do teatro, que afirma também que os brasileiros não dão o valor devido à sua cultura.

O José Maria Santos acolhe todos os tipos de artes cênicas, desde artes circenses a musicais. Filho mais novo do Guaíra, é administrado pelo CCTG desde março de 1998 e abriu suas por-tas ao público em 27 de junho do mesmo ano.

O teatro dispõe de uma plateia de 177 lugares. O imóvel perten-ce ao governo do estado do Para-ná, sendo tombado pelo patrimô-nio histórico paranaense.

Nesses mais de 14 anos de trabalho ininterrupto, recebeu mais de 210 mil espectadores,

acolhendo por volta de 1.300 produções, em sua maioria pa-ranaenses. Vale também destacar que acolhe produções de grande parte do Brasil e da América do Sul, bem como norte-americanas e europeias.

Conforme o diretor, o teatro vem alcançando ocupação ordena-da com apresentações artítico-cul-turais, objetivando a difusão do teatro na comunidade paranaense em suas formas animadas, cêni-cas, música, dança e circo, além de fomentar a formação de plateia e dar oportunidade de ampliação do mercado de trabalho aos profissio-nais na área de produção.

marcela panek

o diretor Gilberto tuyuty é também um espectador assíduo do teatro

Onde a arte é bem-vinda a casa de espetáculo josé maria santos recebe vários festivais durante o ano

“Nós podemos fazer isso”,já diziam elas na década de 1940

eram meados de 1941, os Es-tados Unidos estavam em guerra, os homens foram

para o campo de batalha, e a eco-nomia do país ia de mal a pior. Sem mão-de-obra para movimen-tar a produção de suas indústrias e usinas, o governo americano se viu obrigado a ceder à força femi-nina e, por meio do movimento We can do it (Nós podemos fazer isso), encorajou as donas de casa e seus maridos a reconstruírem a economia de forma igualitária, expondo o potencial produtivo da mulher em plena década de 1940.

Portanto, acordar cedo, fazer café, preparar as crianças para a escola e chamar o marido para trabalhar tornaram-se funções se-cundárias. Ou seja, foi-se, ou pelo menos está em fase de ir, o tempo em que a mulher ficava somente com as tarefas consideradas mais fáceis, mais leves, justificando o estigma de sexo frágil, vindo des-de épocas muito mais machistas.

Com a ascensão da nova clas-se C, o crescimento do mercado de trabalho tornou-se visível. No país, de acordo com o Ministério

do Trabalho e Emprego (MTE), o percentual de mulheres empre-gadas passou de 40,5% em 2003 para 45,3% em 2011. Sim, ainda minoria entre os trabalhadores brasileiros, mesmo sendo o gênero em maior quantidade. Portanto, o aumento do número de mulheres que ocupam cargos culturalmente masculinos passa a ser uma conse-quência desse crescimento.

Segundo dados do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (Insper), o número de mulheres em cargos de advocacia, econo-mia e medicina cresceu cerca de 18%, enquanto nas engenharias, somente 5%. Porém, esses dados remetem às profissões que exi-gem formação superior. Números sobre a mão-de-obra feminina em profissões geralmente braçais ou estereotipadas ainda não são con-clusivos, mas, mesmo assim, elas estão lá.

A realidade de três dessas mu-lheres é apresentada aqui. A pri-meira é Lucimeri Guimarães, de 40 anos, que trabalha como balco-nista em uma loja de materiais de construção em Bocaiúva do Sul, na Região Metropolitana. Luci-meri já foi motorista de caminhão e condutora de ônibus coletivo e realizou diversos serviços em uma serraria. A balconista conta que

desde pequena se interessava pelo volante e que “botar as mangas de fora” é o que a faz se sentir bem. “Minha mãe às vezes se questiona se alguém me deu óleo diesel para beber”, conta, aos risos. Seu pri-meiro emprego foi de secretária, até que seu irmão abriu uma loja do mesmo segmento em que tra-balha agora e precisou de alguém para fazer as entregas. Ela foi en-tão para o volante. “Eu sempre gostei de dirigir. Meu irmão pre-cisava de alguém, então, fui. Sem-pre gostei do serviço bruto e não de ficar parada,” conta Lucimeri.

Ao ser questionada quanto ao preconceito e às dificuldades en-contradas em sua trajetória profis-sional, Lucimeri conta que a maio-ria das pessoas admirava a sua coragem em assumir uma carreta, porém, quando surgiu a oportuni-dade de trabalhar como motorista de ônibus, sofria com o descaso

os papéis profissionais entre homens e mulheres têm se invertido, mas a mudança ainda é lenta

rafael Giuvanusi nos últimos 24 dias das minhas férias, ganhei quase mais que o valor do meu salário

na Webveja também resenha “o escritor de praga” na revista Entreverboswww.entreverbos.com.br

Número 19 – Maio de 2012 13MARCO ZERO

jolos, aplicação de pisos e azule-jos, hidráulica e carpintaria.

O módulo oferecido pelas se-cretarias de Cidadania e Assis-tência Social e Trabalho, Empre-go e Renda surgiu devido à falta de mão-de-obra para suprir a de-manda do mercado imobiliário. No Brasil, estima-se que 170 mil mulheres trabalhem em constru-ção civil.

Porém, eis uma história um pouco diferente. Maria Regina Moleiro, de 31 anos, de Arau-cária, também na Região Metro-politana, tem em sua carteira de trabalho o cargo de governanta e, diferente de Lucimeri, exerce sua função diariamente, mas, quando tem tempo, ajuda o ex-sogro na construção civil. “Há nove anos faço isso, utilizo meu tempo li-vre para ajudá-lo e complemen-tar minha renda. Só nos últimos 24 dias das minhas férias, ganhei mais que o valor do meu salário”, conta Regina. Mãe de uma meni-na de nove anos, que também já a ajuda em suas empreitadas, a governanta conta que as pessoas se admiram ao vê-la junto com sua ex-sogra, que serviu como

exemplo, atuando em tal função. “Elas veem e gostam, pois tra-balho em uma coisa totalmente diferente da que já faço”, conta com orgulho.

Enfim, outra mulher a fazer jus ao sologa “We can do it” é Ana Paula, de 30 anos, aqui iden-tificada com um nome fictício exatamente pela função que de-sempenha. Ana é vigilante patri-monial, e ela e mais duas colegas dividem o posto de trabalho com 102 homens. Inicialmente, tinha curiosidade pela profissão, resol-veu fazer o curso para ingressar e, sem dificuldades, conseguiu o primeiro emprego, ao qual se apegou. “Eu fiquei curiosa para saber e depois que conheci me apaixonei, não pretendo mudar mais de profissão. Aqui, eu ga-nho muito mais do que se traba-lhasse de costureira ou recepcio-nista”, comenta.

Por falar em paixão, Ana, que é solteira, relata que, quando en-contra alguém para se relacionar, há certo estranhamento ao dizer sua profissão. “No começo, rola um pouco de ciúmes, pois o uni-verso ainda é muito masculino, apesar de exigir mais atenção e reação do que a força propria-mente dita”, ressalta.

Lucimeri, Regina e Ana são as faces do novo mercado de traba-lho no mundo globalizado, onde a competência profissional começa a ficar acima de qualquer estigma enraizado na cultura. Agora sem a boleia do caminhão, mas com a força necessária de um truck, Lu-cimeri encerra. “A profissão não é do homem, é de quem está dis-posto a desempenhá-la da melhor maneira possível”.

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do chefe imediato, que oferecia re-galias aos homens e a deixava em segundo plano. “Sempre ele preci-sava de mim e eu me dispunha a ajudar, mas, se eu precisasse dele, podia esperar um não”, lamenta.

Além da paixão, outro ponto que levou a balconista a trabalhar em funções tradicionalmente mas-culinas foi o salário. Segundo pes-quisa divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), o Amazonas é o único estado brasileiro em que as mulheres têm salários superio-res aos dos homens. “Com certe-za, eu ganhava mais do que nos trabalhos geralmente femininos”, lembra Lucimeri, que ainda pensa em voltar para o caminhão e viajar longas distâncias.

Construção eserviços de segurançaOutro caso que denota a nova

realidade é a abertura de um cur-so de construção civil para mu-lheres oferecido pela prefeitura de São Carlos, no interior de São Paulo. O curso profissionalizan-te, que teria 150 vagas, conta com 277 alunas inscritas, além de 140 que estão em uma fila de espera. Além desse curso, elas também poderão optar por mais duas modalidades entre pintura de paredes, assentamento de ti-

a profissão não é do homem, é de quem está disposto a desempenhá-la da melhor maneira possível

cartaz de j. Howard miller, contratado para ilustrar a campanha norte americana “We can do it!”, que buscava aliar a força feminina à economia estadunidense

divulgação

Número 19 – Maio de 201214 MARCO ZERO

cultura

o espaço urbano do centro de Curitiba sempre foi grande palco de manifes-

tação política e social e, de uns tempos para cá, também está se fortalecendo como local de ex-pressões, artísticas ou não, através das pichações e dos grafites.

As palavras pichação e grafite já remetem a termos pejorativos, e muitos fazem um pré-julgamento de seus sprays, pincéis e tintas. A pichação é o ato de escrever e rabiscar em muros, monumentos, asfalto das ruas, ou seja, qualquer lugar onde possa ser notada. Pode ser uma forma de protesto con-tra o sistema público, ou utiliza-da como insulto e demarcação de território entre grupos. Mas não deixa de ser poluição visual, con-siderada crime.

O grafite, diferente da picha-ção, se preocupa com a estética, com o belo, em passar uma mensa-gem social, cultural, ecológica. O grafite chegou ao Brasil por volta de 1970, vindo dos Estados Uni-dos, e com o toque brasileiro essa arte é considerada uma das melho-res do mundo.

Por apreciar o movimento gra-fite, o irmão de Eliana Bueno, responsável pelo estacionamento Serro Azul, há 16 anos deu autori-zação para que fosse feito um dos primeiros grafites na região cen-tral de Curitiba. Ela não deixou o gosto do irmão de lado e manteve a tradição de atualizar os trabalhos no muro do estacionamento. A preferência do irmão por esse tipo de arte passou para ela, que diz sempre ter gostado da mensagem, da manifestação social e da preo-cupação com a estética do grafite, além de evitar as pichações muito comuns no centro curitibano.

O artista gráfico Silvio Rodolfo, juntamente com Marciel Conrado e Tri (Neiton Nunes), esteve em car-taz com a exposição “Diário Colo-quial” no Espaço de Arte Urbana,

na galeria Julio Moreira, no Largo da Ordem. Segundo ele, a exposi-ção teve como objetivo mostrar o cotidiano de uma forma diferente, de uma maneira que leva à refle-xão. Para ele, uma oportunidade de revelar seus trabalhos, conhecer mais pessoas no ramo da arte e di-vulgar sua arte. “Para a sociedade, foi muito interessante ter visitado a exposição para conhecer mais o grafite e a cultura que por meio dele se irradia. Uma maneira ainda de desmistificar um pouco o grafite com a pichação, pois ainda somos visto com maus olhos”, ressalta.

Geralmente, o grafite é pré-au-torizado pelo dono do muro em que a arte vai ser pintada, ao contrário da pichação, que geralmente é feita no calar da noite e no Brasil é con-siderada vandalismo e crime am-

biental, passível de detenção, multa ou serviços comunitários. Segundo a Prefeitura de Curitiba, as denún-cias contra pichações aumentaram 650% nos últimos nove anos e po-dem ser feitas para o telefone 153.

leonardo akira

As ruas como uma grande telana contramão do preconceito, a arte do grafite se insere cada vez mais nas ruas e na aceitação das pessoas em curitiba

painel no centro da cidade contra a construção da usina de belo monte no rio Xingu, no estado do pará

o grafite, diferente da pichação, se preocupa com a estética, com o belo, em passar uma mensagem social, cultural, ecológica

pichação polui centro comercial de curitiba

Fotos: leonardo akira

exposição de grafites de silvio rodolfo, marciel contado e tri (neiton nunes) na Galeria julio moreira, no largo da ordem

Hoje cedo, como de costu-me, saí de casa antes das sete da manhã para traba-

lhar e tentar pegar o ônibus que me levaria até o terminal. Lá pe-garia mais um e assim por diante. Mas, também como de costume, estava eu no ponto de ônibus (que acaba ficando pequeno com tanta gente que lá junto comigo) quando o primeiro “coletivo” apareceu e, claro, passou direto, pois estava lotado.

Quando tenho a sorte de en-trar em um deles, fico na porta sem ter muita opção de como me segurar naquele confortável ve-ículo que eu e milhares de pes-soas temos que pagar para usar. Ou seja, imaginem só se o trans-porte fosse gratuito, como seria? Tanto para quem vai trabalhar como para quem vai estudar ou para qualquer outro compromis-so, a viagem acaba se tornando cansativa e estressante. Antes mesmo de começar o seu dia de trabalho, você já está cansado e irritado. E ainda tem que aguen-tar piadinhas no ônibus, do tipo: “Quer espaço, quer conforto? Vai de táxi” ou “com licença, moça”. Dá vontade de responder: “Li-cença para onde, minha senhora?

Não consigo nem me mexer!” Um segundo ônibus surgiu e

passou direto novamente. Acredi-tem ou não, isso se repetiu mais ou menos cinco vezes, e é assim diariamente. Resultado: cheguei atrasada no serviço, de novo.

Mas tudo bem, o importante é que no domingo o valor da pas-sagem é R$ 1,00. Assim, dá para passear o dia todo de ônibus, pois, além de ser mais barato, não es-tão lotados e você pode escolher o banco que quiser para se sentar. Se perder um ônibus, não tem problema, pois logo aparece ou-tro, e seu domingo passeando em Curitiba será animado, relaxan-te e confortável, certo? Errado. Se durante a semana já é difícil, no domingo então é necessária muita, mas muita paciência para sair de casa e se arriscar a pegar o transporte coletivo na nossa ci-dade. Tudo bem, a passagem re-almente é mais barata, mas quan-to ao conforto e à quantidade de ônibus na linha, é vergonhoso. Se você não sabe o horário exato em que eles passam, o jeito é esperar, esperar e esperar.

Enfim, já é tarde e amanhã pre-ciso acordar cedo para trabalhar. Como vou de ônibus, acho que vou sair de casa um pouco mais cedo, vai que eu tenho a sorte de pegar um ônibus vazio. Ou então acabo tendo o azar de perder o pri-meiro, o segundo, o terceiro...

crÔnica

lígia dos santos

Coletivo mesmo!

Número 19 – Maio de 2012 15MARCO ZERO

a Sombra do vento, escri-to pelo espanhol Carlos Luiz Zafón, é um exemplo

de uma obra literária fantástica e merecidamente reconhecida, ultra-passando a marca de 6,5 milhões de exemplares vendidos e tradu-zido para mais de 30 línguas, A Sombra do Vento consagrou Zafón como uma das maiores revelações dos últimos tempos.

Marcado pelo final da Segunda Guerra Mundial, o livro começa em 1945, em Barcelona. Daniel Sempre, personagem principal da trama, está para completar 11 anos e já não se lembra do rosto da mãe, falecida quando ele era pequeno. Seu pai, ao ver o filho triste, dá um presente inesquecível a Daniel: leva-o ao Cemitério dos Livros Es-quecidos. Como é a primeira visita de Daniel a essa biblioteca secreta, ele tem o direito de escolher um li-vro, que irá ler e garantir que sua história nunca morrerá como tan-tas outras. O último exemplar de A Sombra do Vento, de um escritor desconhecido chamado Julian Ca-rax, é descoberto por ele, e naquela mesma noite ele praticamente o de-vora, apaixonado pela escrita desse homem misterioso.

Daniel cresce, os personagens e a narrativa crescem com ele. Ain-da em busca de informações sobre Julian Carax, ele se vê cercado de histórias que se conectam, pesso-as essenciais na vida de Julian que aparecem para contar, aos poucos, a vida do escritor e que se tornam essenciais para Daniel também. Entre elas, Fumero, vilão à altura dessa surpreendente história; Fer-min, personagem que aos poucos se torna indispensável; Nuria, peça fundamental e que guarda o maior segredo de todos; e Bea, que se tor-na a grande paixão de Daniel.

Quanto mais fundo Daniel entra na vida de Julian, mais fascinante e perigosa ela fica, tanto para ele quanto para as pessoas envolvi-

das de alguma forma nesse mar de histórias. E para completar todo o suspense, alguém está buscando e destruindo todos os exemplares dos títulos de Carax, sem nenhuma ex-plicação aparente. Livros que, ape-sar de todos os leitores se apaixo-narem profundamente, são pouco vendidos, sem receberem o valor que merecem.

Aos poucos, as peças de cada história se encaixam, e, ao chegar o grande final, quando tudo é escla-recido, o leitor esquece até de res-pirar para poder ler a incrível his-tória de Julian Carax e suas obras. O desfecho do livro por si só é tão magnífico quanto o próprio livro. Zafón nos mostra que um escritor não precisa ser renomado para pro-duzir uma obra de qualidade, e que muitas obras não são reconhecidas como deveriam.

Um livro cujo personagem de destaque são os próprios livros é o paraíso para qualquer pessoa apai-xonada por esse indescritível pra-zer que é a leitura.

“Cada livro que você lê tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que vive-ram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pe-las suas páginas, seu espírito cres-ce e a pessoa se fortalece.”

A Sombra do Vento.

aryadne ronqui

cultura

Um belo livro sobre livrosA Sombra do Vento se tornou um marco e uma homenagem aos livros TÁ NA WEB

A rede social Pinterest foi criada em março de 2010 nos Estados Unidos e em dois anos se tornou a terceira mais acessada do país, ultrapassando o número de acessos do LinkedIn, Tagged e Google+, ficando atrás apenas do Facebook e do Twitter. Mas qual o segredo desse sucesso repentino?

No início, o Pinterest se destacou por redirecionar usuários para roupas de loja on-line. O sucesso indica o gosto dos usuários por criar murais sobre tudo de que mais gostam: comida, bichos fofos, destinos turísticos, arte, coletando imagens da web para pendurar (pin) em suas paredes virtuais e segmentadas por assunto.

http://pinterest.com/

o que é legal para você?

“obrigado, mãe!”A agência de publicidade Protect & Gamble revelou sua maior campanha global para divulgar o

patrocínio da empresa nos Jogos Olímpicos de Londres 2012.Estrelando filmes sobre diversas línguas, em diversos países, o contexto geral dos vídeos roda em

cima do agradecimento ao esforço que todas as mães fazem para incentivarem seus filhos a alcançarem o sucesso.

A campanha acompanha belas cenas e trilhas para emocionar o espectador e assina com o slogan “Obrigado, mãe”. A direção é do cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu.

http://youtube/RoQ1iYREvgI

natanael chimendes

Foto

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Foto

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Foto: divulgação

Número 19 – Maio de 201216 MARCO ZERO

ensaio FotoGrÁFico

na Webveja também ensaio fotográfico “monumentos e suas representações” na revista Entreverbos.www.entreverbos.com.br

Contraste urbanoo “laranja” que se irradia no centro de curitiba

engraçada e irônica a vida. O manto da invisibilidade pública não permite que os

vejamos. No entanto, seu serviço prestado a nós é essencial. Eles estão em todas as ruas, embora poucas vezes os percebamos ou notemos o efeito do seu trabalho. O “laranja” se irradia no centro curitibano.

Ser gari ou ser artista, eis o lan-ce! Quando o lixo toma conta do que foi naturalmente limpo, é me-lhor tolhê-lo com a vassoura para que se torne limpo novamente.

A essas personagens, às quais seguramente poderíamos dar o tí-tulo de heróis, damos mísera im-portância. Como não exercitamos o direito de pensar, de criticar, te-mos a tendência de aplaudir nos-sos aliciadores, ou seja, os artistas, e julgar que eles, com suas mentes diminutas, são exemplos a serem seguidos. Quiçá um dia não dare-mos o devido valor para essas pes-soas cujo trabalho digno merecia reverências.

Enquanto isso, nos aborrece-mos com a sujeira das nossas ruas, mas não queremos levantar um dedo para removê-la. E quem está lá? O gari, cujo trabalho árduo é seu sustento, e em troca não pede mais do que pode ter, sem perder o sorriso do rosto e o brilho do olhar.

renato cruz

(texto e fotos)