JORNAL-LABORATÓRIO DO QUARTO ANO DE JORNALISMO … · O trânsito e o transporte público na...

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JORNAL-LABORATÓRIO DO QUARTO ANO DE JORNALISMO DA FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO DA UNISANTA ANO XVI - N° 123 - MAIO 2011 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - SANTOS (SP) A solução é o transporte público Caos viário: CARINA SELES CARINA SELES FOTOS: CARINA SELES

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JORNAL-LABORATÓRIO DO QUARTO ANO DE JORNALISMO DA FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO DA UNISANTA

ANO XVI - N° 123 - MAIO 2011 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - SANTOS (SP)

A solução é o transporte público

Caos viário:

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Thaís Cardim O presidente da Companhia de

Engenharia de Tráfego (CET) de Santos, Rogério Crantschaninov, garante que pouco pode fazer para aliviar o martírio de quem utiliza o transporte público diaria-mente. Crantschaninov, que consi-dera o uso de coletivos como a so-lução para melhorar o trânsito da Cidade, assegurou que o aumento do número de ônibus nas ruas ele-varia ainda mais a tarifa cobrada nos coletivos. Além disso, afirmou que não identifica essa necessi-dade nas vias. “Há até três vezes mais lugares disponíveis do que passageiros utilizando o transpor-te público em Santos”, disse, em entrevista a alunos do 4° ano de Jornalismo da Universidade Santa Cecília.

“Não há solução a curto prazo para o trânsito”, diz Crantschaninov

Quando questionado sobre a superlotação dos coletivos, o pre-sidente da CET afirmou que não vê ninguém circulando ‘pendura-do’ nos ônibus. “Uso o circular 29 e não encontro problemas. As vezes venho em pé, mas não reclamo”, observou. Porém, para ele, não há

luz no fim do túnel para quem uti-liza o transporte coletivo em ho-rários de pico. “Quem circula nesse horário sempre terá a qualidade do serviço prejudicada. É assim no mundo inteiro”, justifica.

No momento, segundo o presi-dente da CET, existem duas saídas para desafogar o trânsito: aguar-dar o projeto do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) sair do papel ou fugir dos horários de pico. Ao ser questionado sobre como reali-zar essa última façanha, já que a maior parte da população utiliza ônibus para chegar ao trabalho ou à escola, Crantschaninov não soube responder, mas reiterou que conforto não seria a prioridade de quem utiliza esse tipo de transpor-te. “O custo é sempre o fator mais relevante”, garantiu.

Prata da casa

Edição e diagramação: Joana RibeiroPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 2

EXPEDIENTE - Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação da UNISANTA - Diretor da FaAC: Prof. Humberto Iafullo Challoub - Coordenador de Jornalismo: Prof. Dr. Robson Bastos – Responsáveis Prof. Dr. Adelto Gonçalves, Prof. Dr. Fernando De Maria, Prof. Francisco La Scala Júnior e Prof. Marcio Calafiori. Design Gráfico e diagramação: Prof. Fernando Cláudio Peel, Fotografia: Prof. Luiz Nascimento – Redação, fotos, edição e diagramação: alunos do 4º ano de jornalismo – Primeira página: Nathalia Pio - Fotografias da Capa: Carina Seles – Editora de arte: Joana Ribeiro – Coordenador de Publicidade e Propaganda: Prof. Alex Fernandes - As matérias e artigos contidos nesse jornal são de responsabilidade de seus autores. Não representam, portanto, a opinião da instituição mantedora – UNISANTA – UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA – Rua Oswaldo Cruz, nº 266, Boqueirão, Santos (SP). Telefone: (13) 32027100, Ramal 191 – CEP 11045-101 – E-mail: [email protected]

Análise do professorO trânsito e o transporte público na região só tendem a piorar. A constatação sintetiza am-

bos os textos dos alunos-repórteres tomando como referência a entrevista do presidente da CET, Rogério Cranstschaninov, que reconhece a falta de soluções a médio prazo. Enfim, paciência é um substantivo mais apropriado para sintetizar o triste cenário. Até quando os usuários poderão aguardar? Eis a questão. (Fernando De Maria)

IVAN DE STEFANO

EDITORIAL

Rogério Crantschaninov, presidente da CET

Segundo a CET, usuários devem fugir dos horários de pico dos ônibus

Ônibus cheios, cena comumdas pela CET estão na implanta-ção de corredores de ônibus, como os que já existem nas avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias. “Estamos estudando a possibilida-de destes projetos no Canal 2 e na Rua João Pessoa, pois estima-se que esse recurso diminua em até 30% o tempo de percurso”, expli-ca. Além dos corredores, a CET é otimista quando a chegada do VLT, que promete solucionar boa parte dos problemas.

CAmPAnhA A CET está divulgando atual-

mente a campanha institucional Faixa Viva, a qual incentiva os motoristas a pararem após sina-lização manual do pedestre. Isso desde que ele esteja na faixa de travessia em local que não seja semaforizado.

Correção — Por lapso da reda-ção, na reportagem “Literatura: ins-piração que veio da beira do cais”, publicada na página 16 da edição nº 122, de abril de 2011, o nome do escritor Ranulpho Prata (1869-1942) saiu grafado de maneira errada como Ranulpho Alves.

Glenda PolettoFormado em 2005, o ex-aluno

da UNISANTA, Leonardo Ribeiro, diz que, na verdade, foi o Jorna-lismo quem o escolheu. Na ado-lescência, Leo disputava circui-tos regionais e nacionais de surfe amador e, por conta disso, tinha uma agenda repleta de viagens. Em uma dessas etapas, ele co-nheceu o profissional de uma TV comunitária do Guarujá. Acabou recebendo uma proposta para produzir uma matéria para ser veiculada durante um programa esportivo.

“Adorei a idéia e resolvi me

aperfeiçoar. Foi então que aten-tei para a possibilidade de fazer um curso superior em Jornalismo, pois acredito que seja fundamen-tal a formação acadêmica para a concepção de um profissional”, diz.

Para ele, o Jornalismo é uma área complexa que não pode ser

Leonardo Ribeiro: ‘escolhido’ pelo jornalismo

Aline Porfírio

Sair de casa sem enfrentar pro-blemas com o transporte na Re-gião é algo cada vez mais difícil. As queixas sobre ônibus lotados, atraso no itinerário e trânsito in-tenso crescem assim como o nú-mero de veículos na Cidade, que saltou 30% em uma margem de 10 anos, chegando hoje aos 272.139 mil veículos. O presidente da CET, Rogério Crantschaninov, conver-sou sobre esse assunto em entre-vista coletiva aos alunos do 4º ano de jornalismo da Unisanta.

Segundo ele, a CET desenvolve diversas medidas para amenizar o problema, mas que solução mes-mo, será difícil de ser encontrada. Crantschaninov explica que a fro-ta de coletivos em Santos é com-patível ao número de usuários

para que, dessa forma, haja uma tarifa justa a ser cobrada. “Se au-mentarmos a frota destes veículos, é necessário que um público maior passe a utilizá-los. Caso contrário, a tarifa sofrerá ajuste, se tornan-do mais cara. E, visto que 30% dos passageiros da Cidade não pagam tarifa devido a idade ou algum tipo de deficiência, isso se torna di-fícil de entrar em prática”.

Quando questionado sobre os horários de pico, Crantschaninov confessou que a única solução é que o usuário altere sua rotina, pois as linhas de coletivos trabalham com reforço máximo durante os horá-rios de pico, dos quais acontecem na parte da manhã, a partir das 7 horas; no almoço, a partir das 11h30; no final da tarde, às 18 horas; e nas saídas das universidades, às 22h30.

Algumas das soluções aponta-

tência dos professores em expor a necessidade do estudo teórico. Atualmente, ele faz pós-gradua-ção na ECA-USP: “Sem o estudo teórico, o profissional estará in-completo”.

O jornalista trabalha hoje como assessor de comunicação da Associação Brasileira de Ter-

minais e Recintos Alfandegados e dos terminais portuários Tecondi e Termares: “Antes, eu era re-pórter de um programa da TV Bandeirantes que cobria o setor de transportes. Foi então que co-nheci a economista e empresária Agnes Barbeito,que me convidou a trabalhar nas empresas que ela dirige”.

O jornalista afirma que o mer-cado de trabalho está aberto para o ótimo profissional. “Não basta ser bom naquilo que se faz, tem que ser ótimo.

Acredito em algumas condi-ções para conquistar o seu espaço: competência, comprometimento, seriedade e atualização”.

desempenhada por qualquer um. “Não basta saber escrever bem, é necessário en-tender as regras e os limites da profissão”.

Das experiências que teve durante o curso, a que mais o marcou foi a insis-

Espera nos pontos de ôni-bus, demora para encontrar uma vaga para estacionar e atrasos no trabalho já fazem parte da vida da maioria dos santistas. O próprio pre-sidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET/Santos), Rogério Crantscha-ninov, admitiu em entrevista na UNISANTA que o trânsito e o transporte público preci-sam de melhorias.

Houve um aumento de 29 mil veículos, em dez anos, na frota da Cidade. Passou de 242.548, em 2000, para 272.139, atualmente. De acor-do com o IBGE, em 2010 a proporção de moradores na Cidade ficou em 2,12 por veí-culo. Isso explicaria as compli-cações no trânsito.

Apostar na melhoria da mobilidade urbana seria a solução para o problema. Convencer os que utilizam o carro a usar o ônibus seria o grande desafio. Mas o fato é que o poder público não oferece propostas viáveis para favorecer a mobilida-de urbana.

A CET aconselha a po-pulação a utilizar o trans-porte público fora dos horários de pico, a fim de evitar os ônibus lotados. Ora, o “conselho” só tra-duz uma postura irreal. É como se o cidadão pudes-se se dar ao luxo de mu-dar o horário de entrada no trabalho. A impressão que fica é que os técnicos de transporte e de trânsito não conhecem a realidade vivida nos ônibus, rotineiramente, pelos milhares de usuários.

Distante da realidade

JULIANA CARRASCO

Leonardo Ribeiro, jornalista formado pela Unisanta

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Edição e diagramação: Ana Flora ToledoPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 3

Ivan De StefanoA cada semana, um santista

morreu nas ruas da Cidade, vítima de acidente de trânsito e atropela-mento. Ao todo, foram 51 vítimas fatais em 2010, sendo mais da meta-de por atropelamentos (26). E neste contexto, 14 envolveram a terceira idade. Proporcionalmente, porém, os números são mais favoráveis que há uma década. Em 2000, foram 73 vítimas fatais, para uma frota 12% menor. Os números são referentes a levantamento realizado pela Com-panhia de Engenharia de Tráfego de Santos (CET).

O ano passado registrou um to-tal de 367 vítimas de acidentes de trânsito. Cento e duas tinham mais de 60 anos, representando 28% do total de atropelamentos (333). Dos 26 pedestres vítimas fatais do trânsito santista, 14 deles eram idosos, número 40% maior do que os de 2009, que indicavam dez mortes envolvendo a terceira idade.

Para a CET, o dado é preocupan-te. Esses acidentes acontecem pelo fato de os idosos não respeitarem a faixa de pedestres, além de se arris-carem ao atravessar as ruas em mo-mentos perigosos, passando em fren-te a veículos maiores como ônibus e caminhões.

Visando amenizar a situação e alertar a população, a companhia lançou no início do mês de maio a campanha Vovô no Trânsito mos-tra sua maturidade. O programa leva informações à terceira idade por meio de cinema e palestras, com o objetivo de diminuir o número de atropelamentos.

Em uma parceria inédita, a CET e o Cine Roxy promovem exibição de um filme educativo nas salas dos cinemas, mostrando o comportamento correto dos idosos no trânsito, conscientizando e sensibilizando também os mais no-vos a auxiliá-los nas travessias. A vei-culação do vídeo é feita sempre antes do filme principal, em duas salas do Roxy Gonzaga (Avenida Ana Costa, 443) e uma do Roxy Pátio Iporanga (Avenida Ana Costa, 465).

Santos registra uma morte por semana no trânsito

Há uma década, foram 73 vítimas fatais; em 2010, houve queda de 30% nas mortes

Além do vídeo, os idosos também serão abordados em locais que cos-tumam frequentar como centros de convivência, bailes, supermercados, entre outros. A conscientização será feita por meio de palestras e da distri-buição de 10 mil cartilhas em lugares que desenvolvem atividades com a terceira idade.

Entre os locais que já receberam o programa estão o Recanto de Idosos Mãezinha Joana, no Campo Grande; o projeto Vovô Sabe Tudo, no José Menino; o projeto Movimente-se com a Música e a Dança, do Centro Co-munitário Arco Íris, no Bom Retiro; e os centros de convivência Vida Nova, no José Menino, e Isabel Garcia, na Encruzilhada. A campanha não tem prazo para terminar.

FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA

De acordo com levantamen-to realizado pela companhia em 2010, os radares ajudam a mini-mizar os problemas de trânsito e a reduzir a velocidade de veículos nas ruas de Santos.

Segundo a CET, dos cerca de 221 milhões de registros de veícu-los que passaram pelos 22 radares da Cidade em 2010 (média de 18 milhões de veículos/mês), 104 mil foram autuados (média de 8 mil veículos autuados/mês). Ou seja, a cada 10 mil veículos que passam por fiscalização eletrônica, menos de cinco (4,7%) são multados. To-das as multas ocorrem por avanço de sinal vermelho ou ultrapassa-

gem da velocidade máxima per-mitida na via.

Atualmente, são 23 pontos fiscalizados eletronicamente na Cidade. O último radar foi insta-lado no dia 1º de abril na Ave-nida Perimetral (Centro / Ponta da Praia), na altura da curva do Monumento ao Trabalhador Por-tuário.

Ainda segundo levantamento, houve um aumento de 29 mil ve-ículos, em dez anos, na frota da Cidade, passando de 242.548 veí-culos, em 2000, para 272.139 veí-culos, atualmente. Deste número, 144.075 são carros, mais de 66 mil motocicletas e cerca de 20 mil ca-minhões. Os ônibus representam 652 veículos nas ruas santistas.

Os idosos são as principais vítimas fatais no trânsito santista.

Falta de atenção ao atravessar é um dos principais motivos

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1. Av. Martins Fontes (Saboó, em frente à Trans-

portadora Sancap): 50 km/h

2. Av. Martins Fontes (Saboó, em frente à EMEF

Maria Patrícia). Fiscaliza avanço de sinal vermelho.

3. Av. Presidente Wilson com a Av. Pinheiro Machado (José Menino): 50 km/h

4. Av. Bartolomeu de Gus-mão (Ponta da Praia, próxi-mo à Rua Professor Carlos de Campos): 50 km/h

5. Av. Bartolomeu de Gusmão (Aparecida, em frente à Fonte do Sapo): 50 km/h

6. Av. Bartolomeu de Gusmão (Aparecida, em

Localização dos radares e limite de velocidade frente ao McDonald’s). Fiscaliza avanço de sinal vermelho.

7. Av. Governador Mário Covas Jr. (Estuário, em frente ao armazém 35): 60 km/h

8. Av. Governador Mário

Covas Jr. (Ponta da Praia, em frente à Praça Cons. Sinimbu, entre R. Cipriano Barata e Av. Afonso Pena): 60 km/h

9. Av. Afonso Pena (Aparecida, entre R. Lacerda Franco e R. Alexandre Martins): 50 km/h

10. Av. Francisco Glicé-rio com a Av. Ana Costa (Gonzaga): 50 km/h

11. Av. Pinheiro Machado (Marapé/Vila Belmiro, na altu-ra do “curvão”): 50 km/h

12. Av. Nossa Senhora de Fátima (Areia Branca/ZN, em frente ao Cemitério Areia Bran-ca): 50 km/h

13. Av. Vicente de Carva-lho com a Rua Pindorama (Boqueirão): 50 km/h

14. Av. Waldemar Leão com a Av. Rangel Pestana (Jabaquara): 50km/h

15. Lombada eletrônica - Av. Epitácio Pessoa (Embaré, próximo à R. Álvaro Alvim): 40km/h

16. Lombada eletrônica - Av. Conselheiro Nébias (Boqueirão, entre as Ruas Azevedo Sodré e Minas Gerais): 40 km/h

17. Rua Conselheiro Lafayete, entre as Ruas Álvaro Alvim e Cas-tro Alves (Embaré): 50km/h

18. Av. Nossa Senhora de Fátima, próximo ao nº 366 (Santa Maria, na altura do SESI) - Fiscaliza avanço de sinal vermelho.

19. Av. Presidente Wilson com a Alameda Rivaldo Jus-to (José Menino): 50 km/h

20. Av. Afonso Pena, pró-ximo aos números 254 e 292 (Embaré): 50km/h

21. Av. Rangel Pestana, próximo ao nº 140: 50km/h

22. Av. Presidente Wilson, entre as ruas Marcílio Dias e Quintino Bocaiúva: 50km/h

23. Av. Perimetral (sentido Centro/Ponta da Praia), pró-ximo ao Monumento ao Tra-balhador Portuário: 40km/h

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Edição e diagramação: Ana Flora ToledoPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 4

Mayra RamosO número de veículos cres-

ceu mais de 100% na Baixada Santista, em quase uma déca-da, segundo o Departamento Nacional de Trânsito. Em 2001, eram 308.673 veículos circulan-do na região. Hoje, são 619.474. Reflexos disso: congestionamen-tos, falta de vagas para esta-cionar, poluição atmosférica, entre outros problemas. Diante desse quadro, quais as soluções para o futuro do trânsito na Baixada Santista?

O Primeira Impressão con-versou com dois especialistas: o secretário municipal de De-senvolvimento Estratégico e ex-presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Márcio Lara, e Laurindo Jun-queira Filho, que foi secretá-rio municipal de Transportes de Campinas e presidente da CET em Santos e, atualmente, é superintendente de Planeja-mento da São Paulo Transpor-tes-SPtrans (Ex-CMTC). Ambos concordam que investir na me-lhoria do transporte público é a melhor solução. Mas as opiniões sobre o VLT, por exemplo, são diferentes.

Junqueira destaca que o Porto de Santos cresce cerca de 10% ao ano, há quase duas décadas. Isso significa o triplo do crescimento do Brasil. “En-quanto não forem viabilizadas outras saídas o porto e a cidade estarão sendo mais sobrecar-regados. Enquanto não forem abertas saídas pelo lado do Pa-cífico e pelos rios da Amazônia, os fluxos de exportação (soja, açúcar, milho, álcool, café etc.) e de importação (insumos agrí-colas, como tratores e máqui-nas, adubos e fertilizantes etc.) estarão fluindo principalmente por Santos. Se essa tendência trará mais riqueza para os san-tistas, trará também mais carros e mais movimento nas ruas”.

Segundo ele, o transporte por caminhões que hoje supre o porto, deveria passar a ser fei-to por trens. “Quando eu nasci (em Santos), logo após o fim da segunda guerra, 100% do trans-porte do porto era feito por fer-

rovia. Hoje, apenas 15% a 20% e isso é um desastre anunciado para o País e para a cidade”. Ele acha um absurdo que 15 mil caminhões desçam e subam a Serra diariamente. “Isso é mui-to caro, ambientalmente inde-sejável, porque agride os seres vivos e consome energias cada vez mais escassas. O petróleo e o gás que tiraremos das pro-fundezas da Bacia de Santos deveriam estar sendo destina-dos a fins mais nobres do que alimentar motores”, defende.

Junqueira acredita que, para fugir a essa dificuldade, Santos terá que optar por transporte coletivo público de qualidade, superior à atual, de modo a

atrair o usuário do automóvel. “Santos terá que construir uma linha de metrô leve do tipo mo-notrilho”. Mas não é a do VLT a que Junqueira se refere. Para ele, é preciso substituir esse pro-jeto por um de metrô leve, mo-derno e sustentado sobre um elevado com inserção cênica, como já ocorre em mais de 50 cidades do mundo. “O gover-no Alckmin está agora a rever o projeto do VLT e há pressões muito fortes para substituí-lo por corredores de ônibus. Se as-sim vier a ser feito, será a mes-mice de sempre que será insta-lada em nossa cidade. Santos tem que ser olhada para frente e do alto, de onde a linda pai-

Número de veículos dobra na região em 10 anos

Especialistas defendem que investimento no transporte público é a solução

sagem pode ser revelada de for-ma ainda mais soberana. Chega de poluição do ar, de congestão viária, de demoras escaldantes em ônibus desconfortáveis”.

LINHA TRONCAL Lara, por sua vez, acredi-

ta que para melhorar o des-locamento das pessoas é ne-cessário implantar sistema integrado de transporte com qualidade, conforto e segu-rança. Para ele, este sistema consiste na implantação de uma linha troncal entre São Vicente e o centro de Santos, uti l izando veículos leves sobre tri lhos, ou VLT que são bondes modernos testados e uti l izados nas modernas cidades da Eu-ropa e América do Norte. “Já foi projetado pelo governo de São Paulo conjuntamente com as prefeituras de Santos e São Vicente, com o apoio dos de-mais prefeitos da Baixada em reunião do Condesb. Cerca de 73% dos motoristas consulta-dos deixariam o carro na ga-ragem quando este s i stema est iver funcionando (pesqui-sa IPAT)”, af irma o secretá-rio prevendo dois anos para a operação do s i stema.

Dezembro de 2001Bertioga 4.251Cubatão 18.838Itanhaém 10.251Guarujá 40.936Mongaguá 3.903Peruíbe 7.966Praia Grande 26.752Santos 156.524São Vicente 39.252

Fevereiro de 2011Bertioga 13.092Cubatão 42.975Itanhaém 24.171Guarujá 96.043Mongaguá 11.815Peruíbe 20.808Praia Grande 83.295Santos 240.051 *São Vicente 97.854

Total da frota de veículos

Fonte: Departamento Nacional de Trânsito

Medidas da CET procurammelhorar a fluidez do trânsito

Confira algumas ações da CET para melhorar a fluidez: — Faixa exclusiva para a circulação de ônibus na Av. Ana Costa e faixa preferen-cial na Av. Cons. Nébias. A primeira proíbe o estacio-namento e a circulação de veículos de passeio na faixa da direita da avenida, das 6 às 9 horas no sentido praia/Centro e das 17 às 20 horas no sentido Centro/praia. Já a da Conselheiro Nébias (Cen-tro/praia) é uma faixa prefe-

rencial, que proíbe o estaciona-mento de veículos das 17 às 20 horas, mas permite comparti-lhar no mesmo espaço ônibus e veículos, desde que respeitada a preferência ao transporte co-letivo. A idéia é reduzir os car-ros das ruas, fazendo com que as pessoas migrem do transpor-te individual para o transpor-te de massa, que polui menos e ocupa menos espaço no viário.

— Proibição de estacionamen-to de veículos em vias movimen-tadas, sobretudo em horários de

pico. A faixa destinada ao esta-cionamento funciona como mais uma “pista” para o tráfego. Há restrições de estacionamento nos Canais 2, 3, avenidas da praia, Conselheiro Nébias e Ana Costa.

— Programa Transporte So-lidário - voltado aos estudantes das várias unidades de ensino, baseia-se em três eixos: - caro-na solidária entre amigos que estudam nas mesmas escolas ou nas proximidades; - uso do ôni-bus seletivo, que ampliou os ho-rários da manhã para atender

aos alunos do período matu-tino; - e maior utilização do transporte escolar (“peru-as”). Para este último, a CET treinou os motoristas escola-res, construiu facilidades de tráfego para os veículos nos corredores e adotou unifor-mes (coletes) para facilitar a identificação do serviço ca-dastrado, entre outros.

— Implementação de rede cicloviária que já atingiu 20 km de extensão e há outros 7 km em construção.

A frota atual congestiona as vias públicas e prejudica o deslocamento urbano.

Para especialistas a alternativa é investir em transporte público eficiente

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* De acordo com a CET, existem 272.139 veículos na Cidade

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Edição e diagramação: Manuella Tavares e Ana Flora ToledoPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 5

Tráfego de caminhões prejudica a circulação na Zona Noroeste

A Avenida Nossa Senhora de Fátima, que garante o acesso a sete bairros da região, é uma das vias mais afetadas pelo tráfego pesado e intensos congestionamentos

Sinalização facilita a vida dos turistas

Gabriela Pomponet

O trânsito de Santos piora a cada dia por causa do excesso de veículos. A Avenida Nossa Senhora de Fáti-ma é uma das principais vias da ci-dade e uma das mais afetadas por essa situação. Nos horários de pico, aqueles de movimento intenso de veículos, o congestionamento piora.

Na avenida trafegam carros, motos, caminhões, ônibus e bici-cletas disputando um espaço para circular. Ônibus, querendo desviar de caminhões que estão na faixa da direita, acabam trafegando no meio da pista. Caminhões costu-ram o trânsito podendo ocasionar acidentes. Os motociclistas procu-ram qualquer brecha para passar. Não há ciclovia no local. E os car-ros andam lentamente, tendo que desviar de todos esses obstáculos. A confusão marca o trânsito nessa via que é a principal da Zona No-roeste e é uma das ligações entre Santos e São Vicente.

O técnico em instalação elétri-ca, Francisco de Lima Santos, cru-za a avenida de carro para ir do trabalho, localizado no Centro de Santos, até sua residência na Vila São Jorge. “Todos os dias enfrento o trânsito na avenida, sempre por volta das 18 horas e levo cerca de 45

minutos. Quando não tem trânsito, em horários fora do pico, faço o ca-minho em 15 minutos. Percebo que os principais pontos de congestio-namento são próximos aos acessos da Alemoa, no começo da avenida, chegando até o Sesi. A solução seria a proibição da circulação dos ca-minhões nos horários de pico, fazer um corredor exclusivo para ônibus e uma ciclovia ”.

A avenida garante o acesso a sete bairros da Zona Noroeste e tem três cruzamentos importantes, o das avenidas Martins Fontes e Jovino de Melo e o da Rua Haroldo de Ca-margo. O trânsito na via é conside-rado crítico na altura da Rua Boris Kaufmann, que faz ligação com a marginal da Anchieta. O tráfego de caminhões é intenso no local, mas isso se deve ao grande número de transportadoras na área e proxi-midade com o Porto.

Mas, não são apenas os moto-ristas que sofrem com os inúmeros congestionamentos. Os passageiros dos ônibus também. É o caso da co-ordenadora de tributos fiscais, Elia-na Siqueira, que depende do trans-porte público para trabalhar. Ela conta que já se atrasou várias vezes no por conta dos caminhões que circulam no local. “Sempre tem ca-minhões próximo ao Sesi e às vezes

eles ficam manobrando para entrar nas empresas e acabam criando um caos. Já vi muitos quebrarem ou se envolverem em acidentes, ocasio-nando congestionamentos. Tem que ter muita paciência”, recomenda.

TRAVESSIA PERIGOSA A avenida é perigosa para ser

atravessada fora da faixa de pedes-tres em razão da movimentação de veículos. A aposentada Elia Macedo de Oliveira faz cursos no Sesi e vai à

pé de sua casa, que fica na Cane-leira. “Tem bastante faixa na ave-nida, mas mesmo assim acho muito perigoso atravessar próximo ao Sesi por causa dos caminhões que não respeitam os pedestres e mano-bram bruscamente. A CET deveria dar orientações para que esse tipo de situação não aconteça. Já vi pe-destres e ciclistas passarem por situ-ações complicadas próximo à Rua Júlia Ferreira de Carvalho, onde muitos caminhões passam”.

Julia MagalhãesA empresária paulistana Cintia

Natoli, de 25 anos, vem à Cidade todos os anos durante as férias de verão, desde quando era criança, na companhia dos avós. “Entrar na Cidade ultimamente está sendo uma via sacra, pois há excesso de veículos e caminhões. Tirando isso, sempre foi muito tranquilo trafegar em Santos, mesmo sendo uma época de grande movimento. Fiz um cruzeiro no carnaval do ano passado e foi bem fácil chegar ao terminal de passageiros, com todo o caminho sinalizado”, diz.

Segundo a Companhia de Engenharia e Tráfego (CET), os turistas que chegam a Santos já têm diversas opções de trajeto para chegar ao Terminal de Cruzeiros Marítimos Giusfredo Santini — Concais. A instalação de placas indicativas na Praça José Bonifácio e Rua Braz Cubas, completando o roteiro de acesso ao porto pela Avenida Perimetral, já está concluída. A sinalização viária já estava instalada na Praça Mauá, Rua Frei Gaspar e Avenida São Francisco.

O projeto com a colocação de duas placas antes do Elevado Aristides Bastos Machado: uma indicando o terminal de cruzeiros via porto e, a outra, via praias também já foi concluída. Dessa forma, caso os motoristas não disponham de tempo, poderão subir pelo elevado, seguir pela Avenida São Francisco, contornar a Praça José Bonifácio e seguir pela Rua Braz Cubas para alcançar a Avenida Perimetral e, daí, o terminal de passageiros.

O trajeto para o Concais via praias continua, com placas indicando a rota pelo túnel, Avenida Pinheiro Machado (Canal 1) e retorno pela

Avenida Siqueira Campos (Canal 4) para alcançar o porto. Os outros três roteiros disponibilizados pelo programa, dependendo do tempo disponível até o embarque, envolve o Canal 2 e retorno pelo Canal 4, ou canais 1 e 2 seguindo pela orla até alcançar a Avenida Mário Covas.

Anete Antunes, que também é empresária em São Paulo, começou a frequentar a Cidade há apenas alguns anos. Ela gostou tanto que não voltou mais para a capital. Agora, vende os livros de sua editora pela Internet. “Sempre gostei de Santos, mas vinha muito pouco. Gostava, principalmente, desse bairro onde fixei residência, a Ponta da Praia. Santos tem vida própria, inclusive cultural e não depende necessariamente de turistas”, diz. Quanto ao trânsito, Anete conta que só começou a prestar atenção nele depois que passou a ser uma moradora. “Tendo em vista o trânsito de São Paulo, qualquer lugar é um paraíso”, brinca. “De fato, aqui é tudo muito perto. Achei bem rápido o trânsito no Canal 6

Avenidas portuárias estão cada vez mais perigosas para os pedestres

quando vim para cá nas primeiras vezes. Também acho fácil localizar-se na Cidade, basta usar o porto, a orla e até o centro como referências. Aqui não tem segredos”, conclui.

Mas não é só o turismo de lazer que movimenta o tráfego em Santos. Muitos vêm diariamente à Cidade para trabalhar ou estudar. Esse é o caso da estudante universitária do curso de enfermagem, Karina Kocinas, que mora em Guarujá. A principal reclamação da estudante é a travessia de balsas. “Eu vou a Santos de carro e, dos dois lados a organização da fila nas avenidas principais é uma bagunça! Muita gente fura, ninguém sabe ao certo qual faixa está liberada para o tráfego e quais estão sendo usadas exclusivamente para a fila. E tenho outra reclamação: na avenida da praia de Santos, muitas placas e semáforos estão encobertos por árvores! Eu me confundo muito!”

Por meio de nota, a CET diz que está revitalizando a sinalização de trânsito dos cruzamentos da

Ponta da Praia. O programa inclui pintura da sinalização de solo, desgatada pela ação do tempo, novas placas de trânsito e troca das que estão deterioradas. As avenidas Samuel Augusto Leão de Moura e Bartolomeu de Gusmão, bem como a Avenida Epitácio Pessoa receberão pintura especial com material elastoplástico, que tem maior durabilidade em relação à tinta comum e permite maior visibilidade aos motoristas.

Outra estudante universitária que mora em Guarujá, Giovanna Fabris de Lima, acha que muita coisa poderia melhorar no trânsito de Santos. A universidade em que ela estuda fica na Avenida Conselheiro Nébias. Segundo ela, é impossível não se atrasar para a aula. “Junte centenas de carros indo na mesma direção e na mesma hora, e você estará preso no trânsito! E agora tem radares ao longo da avenida, como se já não bastassem os semáforos, tem um a cada quadra! Ainda não sei dizer se os corredores de ônibus ajudam ou atrapalham no trânsito!”, desabafa.

Segundo a CET, a faixa preferencial no local funciona nos dias de semana, sempre das 17 às 20 horas. Os usuários transportados são os das nove linhas municipais, três intermunicipais e três seletivas. O objetivo é reduzir o tempo de viagem e melhorar a fluidez do trânsito nos horários de pico. Devido à largura da Conselheiro Nébias, a faixa permite compartilhar no mesmo espaço ônibus e veículos, desde que respeitada a prioridade aos veículos de massa. Os semáforos já estão reprogramados, a fim de melhorar o trânsito. A empresa também concluiu a sinalização, com instalação de placas e sinalização de solo.

Placas distribuem o tráfego e ajudam

motoristas que não conhecem a Cidade

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CARINA SELES

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VLT precisa ser integrado ao sistema de ônibus

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Aline Della TorreO Ministério das Cidades, na pá-

gina 1 de sua publicação “Manual de BRT”, diz que o Bus Rapid Transit se encontra entre um dos mecanismos de custo mais eficientes para as ci-dades desenvolverem rapidamente um sistema de transporte público que possa se expandir por uma rede completa, bem como promover um serviço veloz e de excelente qualida-de. Ainda em seus primeiros anos de aplicação, o conceito de BRT oferece o potencial para revolucionar a for-ma do transporte urbano.

A publicação do Ministério das Ci-dades define o BRT como um sistema de transporte de ônibus que propor-ciona mobilidade urbana rápida, con-fortável e com custo eficiente através da provisão de infraestrutura segrega-da com prioridade de passagem, ope-ração rápida e frequente.

No prefácio dessa mesma publica-ção, o ministro de Estado das Cidades do governo Lula, Márcio Fontes de Al-meida, diz que o BRT pode ser de duas a vinte vezes mais barato do que a de sistemas de capacidade semelhantes, como o do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Na página 6 da publicação do Ministério das Cidades consta que em geral o BRT custará entre um milhão e oito milhões de dólares por quilôme-tro.

Sobre a implantação do VLT em Santos, José Marques Carriço, arqui-teto e urbanista há 28 anos, diz que o governo estadual trata desta ques-tão sem o mínimo respeito à técnica. “Nunca fez um estudo de viabilidade econômica de ambos os sistemas (VLT e BRT) para balizar sua decisão de im-plantar o VLT. Sem um estudo assim, mais detalhado, é puro achismo optar por um ou outro. Contudo, pelo custo e pelas características anunciadas do projeto estadual de VLT, penso que o BRT ou mesmo ônibus elétricos biar-ticulados, outra opção muito interes-sante e menos poluente, podem ser melhores escolhas e muito mais viá-veis economicamente”, analisa Carri-

ço, também arquiteto da Prefeitura de Santos há 22 anos.

“Não dá é para esperarmos mais uma década para vermos um sistema de transporte metropolitano eficiente ser implantado na Baixada Santista, pois o trânsito regional, diário, está caótico e isto prejudica milhares de trabalhadores que se deslocam, so-bretudo para Santos”, diz.

A solução para o trânsito, segundo Carriço, é desestimular radicalmen-te o uso de automóveis particulares. “Deve-se investir pesado em trans-porte coletivo de qualidade, além de melhorar a operação do tráfego, com mais semáforos inteligentes”, finaliza.

Luiz Antonio de Paula Nunes, doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo e professor da UNISANTA nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Design de Interiores, conta que a cidade de São Paulo também possui ônibus em vias segregadas (os famosos corredo-res), mas o sistema conhecido como Transmilênio, em Bogotá, na Colôm-bia, é uma referência internacional e

Curitiba é reconhecida mundialmente como uma das pioneiras na implan-tação desse tipo de sistema (BRT): “Suas estações ‘tubo’ ficaram famosas tanto pelo design inovador quanto pelo fato de permitir a cobrança an-tecipada e a integração entre linhas, dentre outras qualidades”.

Nunes, também coordenador do NEPONT (Núcleo de Estudos Portu-ários e Marítimos) explica que cada um tem suas características especí-ficas. “O VLT pode ser uma solução paisagística mais integrada, por isso o vemos em áreas centrais de algumas cidades. Já o BRT é mais interessante para ligar partes distantes, em espa-ços já segregados”.

Segundo o urbanista, o VLT deve-ria ligar os principais polos de origem e destino de passageiros, mas não é o que ocorre com o VLT projetado. “Em termos regionais, ele liga uma parte de São Vicente a uma parte de San-tos, mas o percurso que faz dentro da cidade de Santos não atinge, prati-camente, nenhum grande pólo de atração. Está relativamente distante

do Gonzaga e do Centro, apenas tan-gencia o Porto”, observa. “Isso exigirá que as linhas locais de transporte co-letivo em Santos façam o transporte dos usuários, papel que cabe hoje aos ônibus intermunicipais, os quais serão eliminados, sobrecarregando o sistema santista. Talvez um projeto amplo de BRT, associado ou não ao VLT, que integre com mais agilidade essas áreas ao sistema, fosse uma saída mais inte-ressante, em especial para o santista”, acrescenta.

Para Nunes, só há uma solução para o trânsito de Santos: planeja-mento e investimento no transporte público. “Um sistema viário que pri-vilegie o transporte coletivo, em de-trimento do transporte individual, e um sistema de transporte público integrado, com frequência de ope-ração e veículos confortáveis, que possam transportar com dignida-de o usuário, é a única saída para evitar o caos do trânsito e oferecer uma cidade mais sustentável e com melhor qualidade de vida para seus habitantes”, finaliza.

Para o engenheiro Érico Manoel de Almeida, além do transporte adequado, a velocidade das principais avenidas de Santos deveria subir para 80 Km/h

Vias mais rápidas são as soluções para o trânsito, diz especialista

Soraya LúciaO Veículo Leve sobre Trilhos

— VLT é uma das soluções para diminuir o trânsito, de acordo com o engenheiro eletricista e ex-se-cretário de Transporte de São Vi-cente, Érico Manoel de Almeida. Segundo ele, a aceleração elétri-ca deixa o VLT muito mais rápido que o ônibus, além de ser maior. Por isso, consegue transportar um número maior de passageiros em menor tempo. Ao contrário do me-trô, o custo do VLT será mais bara-to, já que o trajeto planejado não requer desapropriações de casas.

Almeida ressaltou também que a velocidade das principais vias de-veria subir para 80 Km/h, diminuir a quantidade de semáforos e ter radar apenas onde é necessário, como portas de escolas, por exem-plo. A Avenida Conselheiro Nébias, que há pouco tempo aderiu à faixa exclusiva para ônibus, aumentou 50% a capacidade do trânsito de veículos. Para Almeida, porém, a

via poderia ser mais bem aprovei-tada. “Se diminuir meio metro do canteiro central e estreitar as cal-çadas em um metro, as ruas terão 10,5 metros de largura, e a capaci-dade de trânsito da via aumenta-rá 100%”, afirmou. Com isso, cada faixa que normalmente comporta 2.200 veículos por hora, comporta-rá 4.400 e se a velocidade subir, não haverá mais congestionamentos.

“Caso isso ocorra, os pedes-tres terão que atravessar em pontos estratégicos, com espaça-mento de um ponto para outro um pouco maior. Tudo isso dimi-nui a qualidade de vida, contu-do melhora o trânsito”, explicou.

Em relação ao rodízio de car-ros, Almeida garante que é uma alternativa ruim, porque as pesso-as compram um segundo carro e isso faz com que as vias continuem atravancadas. Em São Paulo, por exemplo, onde o rodízio existe desde 1997, número de veículos é de sete milhões para 17 milhões de habi-tantes e com isso os carros continu-

am parados nos engarrafamentos. “Enquanto as pessoas estão para-das em congestionamentos, cai a produtividade do trabalho, a pro-dutividade econômica e a Cidade passa a ser antieconômica”, disse.

Segundo o engenheiro, outro problema grave é o fato de que hoje em dia as prefeituras da re-gião permitem que prédios altos sejam construídos, o que significa um volume maior de moradores, ultrapassando o número limite de 2.300 habitantes por quadra. Isto cria conflitos de coleta de lixo, saneamento básico, segurança e trânsito também, pois com o pre-ço baixo dos veículos, a população tem facilidade para adquirir esse bem. Portanto, cresce o número de pessoas, de carros e motos, mas as ruas que continuam com a mes-ma largura desde o século passado.

Na opinião de Almeida, para atender o crescimento popula-cional deveria se aumentar a quantidade e a qualidade dos transportes coletivos, para que a

população deixe o carro em casa e o utilize somente para passeios.

O ônibus biarticulado é uma op-ção, mas segundo ele, as empresas de transporte não aderem, porque o governo não exige e porque a tarifa dos passageiros está baixa: ”Então, as empresas não investem. O governo e as prefeituras têm que se empenhar para desenvolver pro-jetos de melhoria do transporte e colocar isso logo em prática”, disse.

Já sobre o congestionamento na entrada de Santos, o engenheiro destacou que foi provocado pe-las empresas que movimentam as cargas, que faz com que os veículos cheguem antes de o contêiner des-carregar e os caminhões acabam ficando na rua: “Essas empresas não investem em áreas de estacio-namento e pegaram áreas do re-troporto para estocar contêineres”.

“No futuro as pessoas acabarão se adequando a novos estilos de vida, como trabalhar em casa, para não perder tempo dentro de seus automóveis”, concluiu o engenheiro.

Melhorias no transporte público são necessárias antes da criação do VLT

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Edição e diagramação: Nathalia PioPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 7

Patrícia Rosseto

O panorama geral na opinião dos taxistas a respeito do trânsito na Baixada Santista é negativo. Entre as principais reclamações, estão a falta de solidariedade entre os próprios motoristas, a falta de investimento dos órgãos públicos e o mau relacionamento da categoria com os funcionários da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) que atuam nas ruas.

Milton Albino, taxista há 12 anos e motorista desde 1970, diz que o primeiro obstáculo é a falta de educação dos motoristas. “Todo mundo vive estressado,querendo levar vantagem, sem dar passagem para outros veículos. Parece que isso faz parte da cultura em Santos, diferentemente do motorista paulistano, por exemplo”, afirma. “Além disso, existe a prática de estacionar os carros em qualquer lugar, até sobre faixa de pedestres. Isso demonstra falta de solidariedade”, acrescenta.

Albino acredita que os faróis de Santos deveriam ser sincronizados, para que houvesse fluxo no trânsito. Ele pede a implantação da Onda Verde, denominação dada à sincronizaçao de semáforos, de modo que o resultado seja o controle do fluxo em uma via.

Outro grande problema para Albino em sua rotina é conseguir estacionar o veículo. “Em centros comerciais, os proprietários e funcionários dos estabelecimentos comerciais estacionam nas vagas, ficando lá o dia todo, assim como moradores de edifícios sem garagem ou que dispõem de apenas uma vaga, mas têm mais de um carro”, diz.

Para ele, a solução é repensar a situação do trânsito em Santos como um todo. “Com os novos investimentos e o crescimento da Cidade, ficará impossível dirigir aqui”, prevê. “Nos últimos dois mandatos em Santos, os prefeitos só taparam buracos”.

Para Albino, não tem havido planejamento por parte da Prefeitura. “Proibir estacionamento em algumas ruas, como a Carvalho de Mendonça, fechar os canais para aumentar as ruas e melhorar o transporte coletivo são algumas medidas que poderiam melhorar o trânsito”, sugere, reivindicando também que os ônibus voltem a ter cobradores.

Para o taxista Gil Alves Portela, um problema a ser solucionado é quanto as vagas de estacionamento exclusivas para taxistas que são ocupadas por carros particulares. “Dessa maneira, os taxistas são obrigados a estacionar em vagas comuns e são multados”, diz. “Aliás, os taxistas são o alvo preferido da CET”, reclama.

Outro dilema para ele é que o motorista santista, de modo geral, não dá passagem. “É impressionante: em finais de semana, fica pior e, quando chove, ninguém se mexe no trânsito, fica praticamente impossível”, enfatiza.

Portela cita a cobrança de taxa-extra para corridas aos

Taxistas reivindicam mudanças no trânsito

Profissionais de Santos, São Vicente e Guarujá reclamam da falta de investimento nas vias públicas

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morros que foi retirada em 2008. “Quando subimos os morros, há um desgaste dos carros e gasto maior de combustível. Se compararmos o valor de uma corrida no plano e outra para os morros de Santos, vemos a diferença direta no gasto em combustível”, argumenta.

Para Portela, as ruas da Cidade estão com a pavimentação em más condições, especialmente no bairro Marapé, Canal 1 e rua Carvalho de Mendonça. “Muitas faixas de sinalização, como a faixa de pedestres, estão apagadas, mas, mesmo assim, Santos ainda é uma das melhores cidades da região em trânsito”, ressalva.

SÃO VICENTE

Fábio Alves dos Santos, diretor-tesoureiro da Associação Rádio-Táxi de São Vicente, diz que a grande dificuldade da categoria é quanto à falta de espaço para estacionar. “Quando temos de estacionar junto

à calçada, ligamos o pisca-alerta e aguardamos o passageiro, que, às vezes, por algum motivo, demora para entrar ou descer do veículo. Quando isso acontece, somos punidos injustamente.”

Santos declara que a Associação Rádio-Táxi já sugeriu que a Secretaria de Transporte e Manutenção Viária de São Vicente (Setram) autorize o taxista a colocar duas rodas do carro na calçada para não interromper o fluxo do trânsito. “No centro, as ruas ainda são muito estreitas e cheias de buracos. Frequentemente, quando o motorista tenta desviar, acaba provocando acidentes”.

Outra reivindicação de Santos é que a Prefeitura organize melhor o trânsito no centro, especialmente nas ruas XV de Novembro e Martim Afonso. De acordo com ele, há um grande desrespeito, pois, os caminhões de carga e descarga e os comerciantes não respeitam

o trânsito. “No supermercado Fiel Barateiro, param até três caminhões. Este lugar é um ponto estratégico, é caminho de ônibus, vans e carros”, diz.

O diretor também reclama da pouca eficiência dos agentes de trânsito. “Quando passamos pela Praça Barão, vemos uma roda de marronzinhos, com até oito agentes parados. Resumindo: eles só são eficientes na hora de multar. Há agentes que fazem até 600 multas ao mês”, reclama.

GUARUJÁ

Em Guarujá, de acordo com o taxista José Leandro Filho, não existem grandes problemas, já que, em geral, o trânsito é tranqüilo, excetuando as épocas de temporada. Para ele, um investimento mais adequado seria em manutenção. “É preciso pintar as faixas com material de melhor qualidade, para que não seja necessário fazer a manutenção de seis em seis meses”, diz.

Leandro chama a atenção para outros problemas da cidade que, segundo ele, são conhecidos por todos, como o excesso de caminhões, sem documentação. “São caminhos que trafegam com motores desregulados e poluem a cidade”, diz.

Ele acrescenta que a fiscalização para o transporte coletivo “pirata” é inexistente. “Incluem-se aqui os moto-táxis e as vans que ficam nas ruas em frente à Rodoviária oferecendo viagens para São Paulo”, diz.

Outro motivo para a dificuldade do taxista, de acordo com Leandro, é o despreparo dos agentes de trânsito e guardas municipais na aplicação de multas. “Eles deveriam estar mais voltados para a educação no trânsito.

Na verdade, os guardas municipais deveriam estar cumprindo a função principal deles que seria cuidar do patrimônio público e não do trânsito da cidade”, afirma.

Para os taxistas, a ação dos agentes da CET deve estar

voltada para a educação no trânsito.

Motoristas defendem alterações no trânsito nas cidades de

Santos, São Vicente e Guarujá

PATRICIA ROSSETO

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Para motoboys, pressa é o problemaSegundo profissionais da categoria, a agilidade pedida para os fretes

é a responsável pelos abusos e desrespeito cometidos no trânsito

Michael GilA pressa é a razão da procu-

ra e das críticas aos motoboys. A afirmação é do presidente do Sindicato dos Motoboys e Mo-tociclistas da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindimoto), Paulo César Barbosa. Ele dis-se que o fato de ter de correr contra o tempo — exigência dos contratantes — torna o tra-balho desses profissionais, que movimentam R$ 770 milhões por mês apenas em Santos, um risco ao trânsito. Os dados são do próprio sindicato.

Barbosa reconheceu que os motoboys realmente abusam por causa da tensão de ter de fazer as entregas em um prazo muitas vezes curto. “Isso é real. Há abusos porque a caracte-rística do serviço é a agilida-de. Mas sabemos que isso não justifica algumas ações”, pon-derou.

Os profissionais concordam com a posição do presidente sindical. Douglas Martins, que hoje é fiscal de trânsito, mas já foi motoboy, disse que os motofretes são a única forma de viabilizar o envio e o rece-bimento de correspondências em grandes cidades. “Há van-tagem em contratar um mo-toboy, pois o que se oferece é, justamente, velocidade e dina-mismo”. Segundo o Departa-mento Nacional de Trânsito, a frota nacional de motocicletas aumentou 8,4% em 2010, tota-lizando 64,8 milhões de veícu-los. Não existem dados da CET em relação ao número de mo-tos em Santos.

De acordo com o estudo Mapa da Violência, divulga-do pelo Instituto Sangari, de 1998 a 2008, o total de aciden-tes com motos cresceu 754%, o que resultou em aumento no número de mortes, que passou de 1.047 casos para 8.939 no mesmo período. Essa realidade pode ser justificada por causa do aumento da frota desse tipo de veículo. Segundo a institui-ção, nos dez anos estudados, o aumento de motocicletas, em todo o País, cresceu 368,8%.

O presidente do Sindimoto disse que não é apenas os mo-toboys que abalam o trânsito. Para ele, outros condutores criam problemas nas ruas por causa do desrespeito. “Muitos não seguem as leis. Ônibus, motos, carros, todos causam problemas e riscos”, argumen-tou. Para tentar atenuar os acidentes envolvendo motoci-cletas, a Prefeitura de Santos criou uma lei, que será aplica-da a partir de julho, que visa dar mais garantia e segurança aos profissionais. Eles passarão a ser regularizados, farão cur-sos e usarão placas de cor ver-melha, que representa aluguel. Os motoboys também terão de cumprir com algumas deter-minações, como vestir coletes e capacete com faixas reflexivas, além de ter número de regis-tro. Barbosa acha que, assim, os acidentes envolvendo a ca-tegoria devem diminuir. “Com a lei, esperamos diminuir os

problemas e creio que teremos maior segurança para traba-lhar”.

Economia Apesar de mostrar proble-

mas de trânsito, o município santista não segue a mesma tendência dos estudos citados acima. O último levantamento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) aponta redu-ção no número de acidentes e mortes na cidade. Segundo o órgão, em 2008 foram registra-dos 2.954 acidentes em boletins de ocorrência, diminuindo em 2009 para 2.811 e fechando 2010 com 2.740. Quanto às mortes, em dois anos, houve redução de 50%. Foram 32 de 2008 e 16 ano passado.

Apesar dos problemas e re-clamações que a categoria gera, os dados do sindicato da catego-ria comprovam que o serviço de motoboys é muito procurado e, por isso, tem grande importân-cia na economia. Tendo apenas Santos como parâmetro, os pro-

fissionais transportam, em mé-dia, 12 mil documentos, 35 mil entregas do tipo delivery e 30 mil jornais e revistas. Além dis-so, cada trabalhador percorre, mensalmente, de quatro a seis mil quilômetros. Barbosa disse que o preço médio do frente no município santista é R$ 10,00. Assim, o valor movimentado chega a R$ 770 milhões/mês.

‘a EntrEga é para ontEm’

“Se eu vou estar bem, não importa. O que vale é a enco-menda chegar segura e no pra-zo”. Esse é o problema da vida profissional de Luciana Bistrat-tini, de 35 anos, que trabalha com motofretes há sete anos. Ela gosta do que faz. Afinal, foi o jeito que encontrou de ganhar a vida, de se sustentar. Mas ela sabe e afirma que reconhece que sua vida tem, muitas vezes, o valor de R$ 10,00, R$ 15,00 ou qualquer outro valor que custe o frete.

Luciana, quando estava per-to dos 30 anos, não conseguia

emprego. Vendo nas motos e na velocidade uma saída, apostou em trabalhar dessa forma.

Deu certo, e ela continua até hoje. Foram seis anos tra-balhando por conta, sem qual-quer tipo de registro em car-teira ou seguranças que as leis trabalhistas concedem aos em-pregados.

Ela percebeu que os riscos e a pressa seriam seus colegas enquanto estivesse na estra-da. Precisava andar rápido, já que essa era a exigência, mas muitos medos habitavam den-tro de seu capacete. “Se eu ca-ísse, ficaria sem trabalhar. Se a moto quebrasse, eu perdia clientes. Não podia errar e isso me deixava tensa”, revelou.

Cerca de 12 horas pilotando sua moto pelas ruas da Bai-xada. Em alguns momentos, Luciana Bistrattini se sentia cansada. Não via família, ami-gos, não tinha lazer, tudo para chegar, no final do mês a R$ 1,5 mil.

Apesar de ganhar relati-vamente bem, ela reconhece que havia horas em que não aguentava mais. “Eu dava um come back (enganava) nos meus chefes, dizendo que a moto quebrava ou que eu es-tava doente.

Não podia dizer a verdade, se não os clientes não me cha-mavam mais, não me contra-tavam mais”, justifica, dizendo ainda que já passou dias em que não curtia que amava, já que subia na moto às 8 e só desligava o motor por volta da meia-noite.

Hoje, Luciana está registra-da e tem maior segurança no trabalho. “Ganho menos, mas é melhor. Se acontecer alguma coisa comigo ou com o equipa-mento de trabalho (motocicle-ta), meus direitos estão garan-tidos”, ponderou.

De qualquer modo, ela re-conhece que mudaria de pro-fissão, se tivesse a certeza de que teria emprego. Está cansa-da da pressa e de ter que viver para ontem, pois sempre escu-ta isso:

“A entrega é para ontem”. Quer viver o hoje, talvez até o amanhã.

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MARIANA BEDA

MARIANA BEDA

As buzinas constantes têm justificativa, os motoboys precisam

correr para atender as necessidades de quem anda de carro.

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Edição e diagramação: Manuella TavaresPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 9

Ônibus sem cobrador trava corredor exclusivo

Passageiros defendem a volta dos cobradores para agilizar o

trânsito pelos corredores

Pâmela IsisA implantação de faixas nas

avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias para uso dos ônibus, das 6 às 9 e das 17 às 20 horas, está em funcionamento desde junho de 2009 e abril deste ano, respectivamente. A medida foi criada com a intenção de melhorar o trânsito nos horários de pico e também tornar o percurso dos ônibus mais rápido e incentivar assim o seu uso por parte da população.

Em ambas as avenidas, no horário sinalizado, os carros devem evitar trafegar e, principalmente, estacionar nas faixas exclusivas

e preferenciais para os ônibus, uma de cada lado das avenidas. Simultânea à criação das faixas ou corredores surgiu a preocupação se realmente são respeitadas e se estão mesmo favorecendo o trânsito.

O motociclista Marcos Vinícius Manso diz que a criação da faixa exclusiva para os ônibus na Avenida Ana Costa é positiva, mas ainda precisa ser mais respeitada pelos motoristas para que o trânsito flua melhor. “Muitos não respeitam a faixa quando estão com pressa e, por vezes, acabam atrapalhando o tráfego dos coletivos. Isso sem contar que nós, motoristas e motociclistas, também somos prejudicados

quando precisamos entrar em alguma rua que nos obrigue a atravessar a faixa exclusiva. Acaba sendo uma verdadeira missão impossível”, reclama.

O taxista Paulo Roberto Pantel diz que a faixa de ônibus não atrapalha em nada o seu trabalho. Muito pelo contrário. Isso porque as faixas podem ser usadas pelos taxistas quando estão com passageiros. Mas segundo Pantel existem medidas que poderiam torná-las ainda mais eficaz: “A faixa exclusiva para ônibus ajuda a desafogar o trânsito, mas existem motoristas que não respeitam e querem fazer ultrapassagem por

ela. É só abrir uma brechinha que eles querem passar na frente dos ônibus. Já estes acabam formando uma fila, pois além de dirigir, o motorista tem de fazer o papel do cobrador, aí congestiona tudo”.

Pantel não é o único que acha que os cobradores fazem falta e que agilizariam muito para que os ônibus ficassem menos tempo parados formando imensas filas nas faixas exclusivas. José Augusto dos Santos afirma que a volta dos cobradores facilitaria muito o trabalho dos motoristas, que ao contrário do que dizem precisam sim dirigir e cobrar. “A criação da faixa exclusiva ou preferencial é boa, mas só isso não adianta muita coisa. Muitos motoristas ainda não respeitam as sinalizações, sem contar que, além de dirigir, o condutor tem de cobrar. Se existissem os cobradores, os ônibus demorariam menos nos pontos e as filas seriam menos constantes. Mesmo com o cartão-transporte muita gente ainda utiliza dinheiro para pagar a passagem no ônibus”.

O estudante universitário Rodrigo Oliveira que passa pela Avenida Conselheiro Nébias bem no horário de pico diz que a faixa preferencial ajudou a melhorar o tráfego dos circulares, principalmente por ser proibido estacionar. Segundo ele, existem dias em que a lentidão é inevitável. “Os cobradores seriam essenciais para que os ônibus não ficassem tanto tempo parados nos pontos. Aparentemente, as faixas ou corredores de ônibus ajudaram a melhorar o trânsito, mas só isso não é suficiente, ainda existe muito a ser feito”, reclama.

As filas dos ônibus realmente atrapalham o trânsito, principalmente na Avenida Conselheiro Nébias onde a faixa é somente preferencial. Isso acaba congestionando e deixando a faixa mais lenta do que deveria. Em nenhuma das avenidas visitadas pela reportagem havia agentes da CET no período analisado.

Bruna Garcia O corredor de ônibus na

Avenida Ana Costa acaba de completar dois anos de operação. Implantado pela CET/Santos, a medida proíbe o estacionamento de carros na avenida, das 6 às 9 e das 17 às 20 horas. Tudo com o objetivo de incentivar o uso do transporte coletivo e melhorar a fluidez do trânsito em uma das principais vias da cidade, que tem extensão de três quilômetros.

O tráfego na Ana Costa ficou ainda mais complicado este ano, com a construção da ciclovia. As faixas ficaram estreitas e o trânsito, carregado. Por isso, a necessidade de tomar essas medidas. A restrição das 6 às 9 horas é sentido praia-centro, e das 17 às 20 horas, sentido centro-praia. Os dois trechos recebem entre três e cinco mil veículos todos os dias.

A medida agradou a maioria dos entrevistados, inclusive os motoristas de automóveis. Eles também acreditam que incentivar o uso de transporte coletivo é a melhor solução para evitar o caos no trânsito da cidade. Para quem vai de ônibus, a viagem ficou 25% mais rápida desde que a medida entrou em vigor.

Para o empresário Felipe Gonçalves, a medida é boa.

“Agiliza, facilitando o tráfego. Tanto é que os números comprovam isso”. Natasha Pereira, administradora, também concorda com a medida. “Carros parados nesse local e horário só piorariam a situação da via”. “A Ana Costa já é uma avenida estreita, principalmente agora com a ciclovia, então com carros estacionados fica praticamente inviável o fluxo nos horários de

Faixa na Ana Costa agrada motoristas

pico”, concorda a assessora Isabela Oliveira. Juliano Feijó, radialista, também é a favor. “Acho que foi uma medida certa da CET, porque no horário de pico a avenida fica lotada e o fluxo de carros é intenso”.

A maioria das reclamações quanto à proibição de estacionar na avenida foi em relação aos altos preços dos estacionamentos

particulares no local. “Acho a medida boa, mas os preços dos estacionamentos são abusivos; o motorista fica sem opção, pois tem pouco lugar para estacionar na rua”, diz o economista Diogo Pereira. Para evitar o abuso dos preços, o jeito é circular pela avenida fora dos horários de pico, e aí sim, estacionar tranquilamente na via.

Automóveis entram na faixa dos coletivos e prejudicam o fluxo nas principais avenidas

Faixa da Avenida Ana Costa para os ônibus

tem recebido elogios dos usuários

IVAN DE STEFANO

JULIANA FERNANDES

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Edição e diagramação: Ana Flora ToledoPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 10

Mariana AquilaPerfure o fundo do mar com

uma broca. Atravesse a cama-da pós-sal, a camada de sal e a do pré-sal para, finalmen-te, chegar ao “fundo do poço” e extrair um dos líquidos mais valiosos mundialmente, o pe-tróleo. A broca pode penetrar cerca de cinco a sete mil metros abaixo do nível do mar. Existem desafios, como a perfuração, ex-tração e a grande profundida-de, o que torna a exploração e produção muito mais complexa do que a tradicional. No Brasil, o pré-sal vem ganhando espa-ço e muitas áreas petrolíferas foram descobertas ao longo do Litoral, entre elas, a Bacia de Campos e a de Santos.

“A produção de petróleo nas camadas de pré-sal na Bacia de Santos teve início em 1º de maio de 2009, tendo sido um marco na indústria mundial. Antes desta data, uma longa atividade exploratória já vinha sendo conduzida por várias empresas, além da Petrobras, reforçando a correta decisão da quebra do monopólio na in-dústria do petróleo ocorrida em 1997”, explica Robson José Dou-rado, engenheiro civil e do pe-tróleo e coordenador do curso de Engenharia do Petróleo da Universidade Santa Cecília.

A Bacia de Santos possui 800 quilômetros de extensão, desde Santa Catarina até o Espírito San-to. O campo petrolífero mais próxi-mo da região é Merluza, localizado a 200 quilômetros de Santos.

“Estudos sinalizam que as di-visas advindas da exploração e produção de petróleo nas camadas do pré-sal permiti-rão alavancar o crescimento do País. Um exemplo disso é a perspectiva de o Brasil tornar-se um grande exportador de petróleo. Com este novo perfil, teremos um novo e importante papel na geopolítica mundial”, diz Dourado.

No fundo do marCom o início da exploração da camada de pré-sal, professor prevê aumento de

empregos, da arrecadação tributária e revitalização da indústria naval

As expectativas no aumento da economia na Região Metro-politana da Baixada Santista também são grandes. “Várias empresas já se instalaram na cidade e região da Baixada, sendo que muitas outras estão se programando para também implantarem suas filiais”, diz o professor. “Com a chegada des-tas empresas, certamente, a re-gião perceberá diversos benefí-cios, como geração de empregos, recolhimento de impostos (ou chamadas participações gover-namentais), revitalização da in-dústria nacional, como a naval, entre outros. Por meio de polí-ticas públicas adequadas e par-cerias com a iniciativa privada, não tenho dúvida que Santos e região vivenciarão um longo pe-ríodo de forte crescimento”.

A vinda de trabalhadores em busca de emprego é um fato es-perado. Macaé (RJ) é conheci-

da como “a capital do petróleo brasileiro”. Lá a procura foi tão grande que muitos trabalha-dores se instalaram na cidade e causaram uma favelização. “Discussões detalhadas sobre os erros e acertos ocorridos em ou-tras cidades que tiveram o sur-gimento de uma atividade pro-dutiva com a magnitude que é a indústria do petróleo podem ajudar a impedir que isso ocor-ra aqui. O poder público e a so-ciedade poderão mitigar mui-tos dos riscos de surgimento de diversos problemas”, acredita Dourado.

Especula-se também que a valorização do preço do me-tro quadrado esteja vincula-da à indústria petrolífera, mas essa é uma tese que o professor não defende. “Acho que o au-mento do custo dos imóveis na região não esteja relacionado exclusivamente às perspectivas

de crescimento em face da in-dústria do petróleo”, diz, ad-mitindo outras possíveis razões. “Temos exemplos em outras ci-dades ou outros Estados em que o crescimento do custo do me-tro quadrado é até superior ao que estamos vendo em Santos e que necessariamente não está vinculado à atividade explora-tória de petróleo”.

Questionado sobre chances de emprego, o professor faz uma recomendação: “Estudar, estudar e estudar. A qualifica-ção de mão de obra é um dos principais desafios na indústria mundial do petróleo e no Brasil não é diferente. Especializar-se em alguma área e buscar a proficiência em idiomas, além de aprimorar habilidades inter-pessoais são importantes pre-dicados para conseguir ótimas colocações no mercado de tra-balho”.

Coordenador do curso de Engenharia do Petróleo da Unisanta diz que Brasil

terá um novo papel na geopolítica mundial

Bruna GarciaO índice de desemprego em

Santos é de 12,1% da população economicamente ativa, segun-do a última pesquisa realizada pelo Núcleo de Pesquisas e Es-tudos Socioeconômicos (Nese), em setembro de 2010. O per-centual é inferior ao da Região Metropolitana de São Paulo. Os mais atingidos pelo desempre-go no município são jovens de 16 a 24 anos, principalmente as mulheres.

Nos últimos dez anos, a Ci-dade teve um decréscimo de mais de 10% no desemprego. A mesma pesquisa constatou que mais de 85% da população ati-va trabalham na Cidade, e o restante atua principalmente em São Paulo e Cubatão, en-

Desemprego em Santos já é menortre outras cidades da região da Baixada Santista. Trabalhos in-formais representam 33,6%, e formais, 66,4%.

Ao contrário do que muitos pensam, o Porto não emprega tanto quanto se imaginava em relação aos outros setores, re-presentando apenas 7,5% dos trabalhadores santistas. O que ocorre é que a atividade portu-ária, na verdade, reflete em em-pregabilidade em outras áreas de trabalho, principalmente em serviço. Este, sim, continua sen-do o setor que mais emprega na Cidade, seguido pelo comércio, com os percentuais de 43,6% e 20,4%, respectivamente, de acordo com o coordenador do Nese, Jorge Manuel de Souza Ferreira.

De acordo com a pesqui-

sa, o santista costuma prestar concursos. O setor público tem grandes índices no município e vem em terceiro lugar na lista dos que mais empregam, com quase 13% de representativida-de.

Apesar do boom imobiliário que invadiu a cidade e toda a região, a construção civil não emprega tantos munícipes quanto deveria, ou poderia. Os índices, aliás, vêm diminuindo nos últimos anos, e na última pesquisa mostrou apenas 2,6% dos trabalhadores santistas.

O salário do santista é maior que a média do Brasil, afir-mou Ferreira. O valor médio é de R$ 2 mil, enquanto a média nacional fica em torno dos R$ 1.500,00. “Lembrando que mais de 60% da população brasileira

vive com menos de dois salários mínimos”.

Quanto ao futuro, o coorde-nador do Nese é otimista, mas diz que ainda há muito o que se fazer na Cidade. Ele afirma que as perspectivas são boas, mas que dependem de uma série de fatores, entre eles, o inves-timento em turismo. “A cidade tem um potencial imenso a ser explorado e desenvolvido neste setor”.

Há motivos para acreditar também que a expansão da área portuária, assim como a vinda dos escritórios da Petro-bras para a cidade, possa au-mentar a oferta de empregos em diversas áreas da economia, como o de serviços e comércio, por serem geradores de novos negócios.

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Tábata Tuany Edson Nunes de Oliveira, 30

anos, trabalha há 11 anos na Lan-chonete Sevilha, na Rodoviária de Santos. É sábado de manhã, logo cedo. Amanhece. E Oliveira também está começando o dia de trabalho, atendendo a quem chega com fome. Com a pausa de quem pensa no que vai res-ponder, ele fala: “Trabalho aqui todos os dias e isto é bem movi-mentado. Acho que precisa de uma reforma urgente, pois quan-do chove molha tudo. Fora os pombos que incomodam”.

Segundo a CET, são 32 as em-

Um dia na RodoviáriaUsuários reclamam do mau atendimento nos guichês, do preço da passagem,

da insegurança nas ruas próximas e da falta de respeito dos taxistas

presas que colaboram para o funcionamento da Rodoviária e cerca de 4.500 pessoas passam diariamente por lá. Reginaldo Vieira de Souza, 25 anos, morador no Morro do Pacheco, é um desses usuários. Ele está com o sobrinho perto de uma das escadarias de acesso à Rodoviária.

Tranquilo, ele arruma o que seria a sua única bagagem, uma caixa de papelão, com aparên-cia de estar bem cheia e pesada. Sousa terá que subir as escadas de acesso para comprar a pas-sagem e embarcar rumo a São Paulo. Com um sorriso, ele conta que não enfrenta o caos do trân-

sito diário da cidade de Santos porque trabalha perto de onde mora. É agente de segurança. “Uma vez por mês, vou a São Paulo para visitar a minha famí-lia e, às vezes, pego um trânsito lotado. Mas, geralmente, a via-gem não é demorada, pois o ôni-bus leva aproximadamente 1h30 para chegar”.

Sousa considera cara a passa-gem (R$ 17,00), mas não reclama muito do ambiente na Rodoviá-ria. Só ressalta fatores importan-tes para que as coisas possam fluir melhor, como o atendimento nos guichês: “Às vezes, não atendem muito bem, o que não é correto,

pois quem está pagando tem o direito de ser bem atendido”.

Maria Sakugawa, de 76 anos, aposentada, desce as escadas e pára na calçada e dá adeus à irmã que está indo para o Rio de Janeiro. Maria conta que sempre está na Rodoviária, três vezes por semana, pois é avó e precisa cui-dar de um neto que mora em São Paulo. “Ajudo o meu neto, por-que ele trabalha muito e mora sozinho e é solteiro; por isso, pego qualquer ônibus que tiver na hora para o Jabaquara. Os ônibus para lá são bons”.

Para dona Maria, duas coisas importantes estão em falta: segu-rança e respeito ao usuário. “Já fui assaltada, pois aqui em torno da Rodoviária não há segurança e os ladrões atacam a qualquer hora do dia”. O que deixa dona Maria bastante chateada é a fal-ta de respeito de alguns taxistas. “Uma vez, em dia de chuva, pe-guei um táxi para ir para casa e o taxista não fez o mesmo caminho de sempre, dando uma grande volta pela praia sem necessida-de”, reclama.

Dona Maria conta que cada membro de sua família tem car-ro, no total são cinco e quatro motos. “Todo mundo trabalha e tem o seu próprio automóvel. Na garagem do nosso prédio só fica um, que é o da minha filha; os de-mais ficam em um estacionamen-to perto de casa. Ainda assim, o trânsito de Santos não é pareci-do com o de São Paulo, mas está chegando perto”.

José Albertino Cardoso, 75 anos, segurança de edifício, espera o ônibus nos bancos da Rodoviária com a sua maletinha, ao lado a filha que vai viajar com o marido para Fortaleza. Cardoso é do tipo que adora viajar, mas não gosta de falar o destino.

Conversador, ressalta alguns pontos que acha importante: “A Rodoviária precisa de uma refor-ma total, de uma ampliação ou, se possível, mudar até de lugar, porque já é antiga. Até o termi-nal é maior do que ela”. Segun-do ele, a Rodoviária precisaria de um bom espaço para abri-gar um batalhão de gente. E dá um conselho: “Até porque hoje é mais barato ir de avião do que de ônibus”.

Adriele RamosO percurso entre alguns muni-

cípios da Baixada Santista e São Paulo dura em torno de 50 a 60 minutos. Mas a realidade de mui-tos trabalhadores que dependem de ônibus fretados para chegar à capital é bem mais complexa.

O desenhista industrial Ro-drigo Donadio faz o trajeto de São Vicente à Zona Leste de São Paulo cinco vezes por semana e o trânsito não é o seu principal pro-blema.

Donadio inicia seu percurso pegando o ônibus fretado que o deixa na estação de metrô San-tos-Imigrantes. Chegando lá, em-barca no metrô no sentido Vila Prudente. Na estação, o desenhis-ta se dirige a um ônibus circular para chegar ao escritório em que trabalha.

A trajetória de chegada ao trabalho demora em torno de duas horas. Já o percurso de vol-ta deveria ser o mesmo, mas, em

Restrição a fretados atrapalha usuáriosvirtude do trânsi-to, ele leva quatro horas para chegar em casa. O dese-nhista trabalha oito horas por dia e o percurso de chegada e saída de seu trabalho leva em média seis horas.

Esta é uma realidade vivida por milhares de passageiros que se deslocam diariamente a São Paulo. Muitos deles necessitam de outros meios de transporte para chegar ao destino em virtude da lei de zo-neamento que restringe o tráfe-go dos ônibus fretados nos princi-pais pontos da cidade.

Quase dois anos após a lei, quem precisa de ônibus fretado necessita também de paciência para se deslocar em transportes públicos lotados. Segundo Do-nadio, o transtorno da troca de transportes o desgasta mais do

que o percurso. “O ônibus fre-

tado nos oferece conforto. Com certeza, eu me cansaria menos se não precisasse de tantos meios de transporte para chegar ao serviço”.

Além dos pas-

Entre os usuários, as conversas são sempre as mesmas:

falta de segurança e respeito com os passageiros de coletivos

Cerca de 100 mil pessoas deixaram

de viajar em ônibus fretados em

São Paulo

Comunicado da Associação das Micro, Pequenas e Médias

Empresas de Fretamento

sageiros, as empresas de fretados também precisaram se adaptar a essa realidade. Segundo a As-sociação das Micro, Pequenas e Médias Empresas de Fretamento e Turismo do Estado de São Pau-lo, desde a implementação da lei, houve uma queda de 50% no número de passageiros dos ônibus fretados.

“Aproximadamente 100 mil pessoas deixaram de viajar em fretados em São Paulo e as em-presas tiveram que reverter o impacto financeiro para os pas-sageiros”, informa a entidade em

comunicado enviado à redação do Primeira Impressão.

A associação garante ainda que restringir o tráfego dos freta-dos não diminui o trânsito nas re-giões abrangidas pela lei. “Cada ônibus fretado tirava em média 20 veículos das ruas e os passa-geiros eram usuários de automó-vel, que, com certeza, voltaram a utilizar seus veículos após o início da lei”, acrescenta a associação.

Multa PeSada Em 25 de agosto de 2009, a

lei 14.971/09 foi regulamentada. A partir dessa lei, o tráfego de ônibus, micro-ônibus e veículos mistos em caráter de fretamento se torna proibido nos perímetros delimitados pela lei entre as 5 e 21 horas, de segunda a sexta-feira.

Além da retenção ou remo-ção do veículo, a multa para os fretados legalizados que des-cumprem a lei pode chegar a R$ 2.500. Em caso de reincidência, dobra para R$ 5.000.

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Luiz Felipe Implantar corredores de ônibus,

investir em transportes de média ve-locidade e abaixar tarifas de trans-portes coletivos são as saídas mais eficazes, segundo o professor José Marques Carriço, doutor em Plane-jamento Urbano pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) e professor de Planejamento Urbano e Regional da Faculdade de Arqui-tetura da Unisanta.

A cidade de Santos, nos últimos anos, enfrenta um trânsito que pode se igualar ao da maior me-trópole do Brasil, São Paulo. O nú-mero de carros na região é, em mé-dia, de 1,6 veículo por habitante. O município está entre os maiores do País na frota de veículos. Isto ocorre pelo fato de a economia crescer e também pela elevação da oferta de crédito ao cidadão brasileiro.

Implantar corredores para o transporte coletivo, ampliar a frota de veículos de média velocidade e abaixar as tarifas de ônibus de San-tos e região são algumas das prin-cipais soluções para acabar com o trânsito nos horários de “pico” (maior movimentação de veículos), segundo Carriço.

Segundo o professor, o Bus Ra-pid Transport (BRT) ajudaria tam-bém a diminuir o engarrafamento, pois apenas um BRT carrega mais de 100 passageiros por viagem e iria reduzir a quantidade de ônibus menores neste horário quando a demanda de pessoas que embar-cam é maior. O BRT é um ônibus articulado do tipo “sanfona” e é possível dentro dele transportar 100 pessoas.

“Para circular aqui na região, o BRT necessitaria de um estudo mais aprofundado, pois algumas avenidas como a Ana Costa e Con-selheiro Nébias precisariam ficar mais largas pelo fato de o veículo ser grande. Os locais ideais para im-plantar o BRT em Santos seriam as avenidas Francisco Glicério e Afon-so Pena por terem uma estrutura adequada”, diz Carriço.

Para o arquiteto, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) também pode ser uma possível solução para este problema porque trans-

Mariana BedaCom 144.075 carros circulando

diariamente pelas ruas da Cida-de, o trânsito santista está cada vez mais estrangulado, implican-do no maior tempo de desloca-mento das pessoas. Não bastas-se, os carros dividem espaço com mais 66.115 motos e 652 ônibus. São muitos veículos para pouco espaço.

Se depender de alguns, o ro-dízio de veículos – a exemplo do que ocorre na Capital – deveria entrar em vigor como uma possí-vel solução para o trânsito da Ci-dade. Mas não é unanimidade.

Enquete realizada pelo Pri-

Soluções para desafogar o trânsito em Santos

Rodízio de veículos divide opiniões

portaria cerca de 400 passageiros por viagem. Uma proposta para a implantação do VLT existe desde 1999, mas até hoje não foi colocada em prática. “O local para funcionar seria na Avenida Francisco Glicério onde havia a ciclovia que foi trans-ferida de local. Mas, se o município não consegue manter e colocar em ordem uma faixa exclusiva, é difí-cil imaginar que possa implantar o VLT”, explica o planejador urbano.

Carriço lembra que o último investimento feito em transporte coletivo na região foi em 1992 com a construção do Terminal Valongo. Com ele, muitas pessoas foram be-neficiadas, pois muitos moradores da Zona Noroeste que precisam ir para o outro lado da Cidade uti-lizam o terminal e economizam usando apenas um bilhete para embarcar em dois ônibus.

Segundo Carriço, duas ideias para diminuir o fluxo de carros estão acontecendo na Cidade em pouco tempo: a primeira é o investimen-to feito pela Prefeitura em ciclovias

que favoreceram pessoas de classe baixa e não vem atrapalhando o trânsito. E a segunda ideia foi ado-tar na faixa exclusiva da Avenida Conselheiro Nébias a diminuição no número de pontos de ônibus. Para ele, esta é uma idéia ótima, pois aumenta a velocidade na hora do percurso que o ônibus faz.

O planejador urbano disse que o número de pessoas que hoje an-dam a pé é maior do que o núme-ro de carros e que a quantidade das pessoas que andam de bicicle-ta é maior ou quase igual às que utilizam o transporte coletivo. Um desafio para acabar com o alto número de veículos em horários de maior movimentação é simples-mente fazer com que a pessoa te-nha um desestímulo do transporte individual e criar cada vez mais di-ficuldade para o sujeito que usa o automóvel, disse professor.

Uma questão também levan-tada é se a construção de viadutos seria cabível para encerrar o con-gestionamento. “Como viaduto só

funciona em locais de pouca densi-dade demográfica, em regiões pe-riféricas pode ser construído, pois, se for construído onde a demanda de veículos é maior na cidade, o que ocorrerá é que vai transferir o trân-sito apenas de lugar, além de des-valorizar imóveis. Sem contar que serve como abrigo para moradores de rua e favorece a ocorrência de atos de vandalismo”.

Para o professor, a construção de um túnel seria também um dos recursos que ajudariam a evitar o caos que a Cidade está sofrendo diante do número de carros por ci-dadão. “Um lugar ideal para a im-plantação do túnel seria na região próxima à Zona Noroeste, ligan-do São Vicente a Santos”, sugeriu. “Hoje, quem mora em São Vicente e precisa ir a Santos possui apenas duas rotas onde há uma concen-tração enorme de veículos: um ca-minho é feito pela praia no sentido José Menino e o outro é pela Ave-nida Martins Fontes, próximo ao bairro do Saboó”, concluiu.

CARINA SELES

meira Impressão com pessoas que enfrentam esse problema todos os dias, a maioria acredita que seria, com certeza, uma solução, e outros dizem que o problema não está somente na quantidade de veículos.

O bancário Eduardo Simas, 45 anos, falou que para o rodízio dar certo, deve existir um sistema de transporte coletivo mais eficien-te. “Além do transporte ser mais organizado, as pessoas precisam usar mais a ciclovia, além de ter um programa de educação no trânsito, pois falta nessa Cidade”, destaca.

Já o taxista Roberto Márcio, 37 anos, é a favor do revezamen-

to. “A Cidade precisa do rodízio, mas não sei se funcionaria, pois a maioria das pessoas possuem dois carros, e poderiam alternar”.

Questionado se haverá a me-lhoria no sistema de trabalho dos taxistas, caso o rodízio fosse aprovado, Roberto acredita que não.

O comerciante Edson Bezerra, 30 anos, fez a escolha de meios de transportes econômicos e ágeis para seu comércio

“Pela fragilidade das frutas, tive que decidir por um trans-porte mais rápido. Uso motos ou bicicletas para fazer as entregas, ainda mais na alta temporada”, explica.

Com frota de veículos cada vez mais crescente, o trânsito da Cidade só

tende a piorar necessitando de alternativas para atender a demanda

Edição e diagramação: Joana RibeiroPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 11

MARIANA BEdA

Bezerra: bicicletas ajudam na agilidade do atendimento

Doutor em planejamento urbano aponta alternativas para melhorar o sistema

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Edição e diagramação: Ivan De StefanoPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 12

Thaís CardimPróximo às seis da tarde é possível observar

a maior parte dos ônibus abarrotados de pas-sageiros. No comando, os motoristas nem sem-pre são gentis com quem enfrenta uma verda-deira batalha para manter-se em pé no meio de tanta gente.

A reportagem do Primeira Impressão en-carou o desafio e embarcou em duas linhas diferentes, para observar como os condutores levam os coletivos durante o horário de rush.

O circular 77 mal encosta na guia da calça-da em frente ao campus Dom Idílio, da Uni-Santos, e a fila se forma. A partir deste ponto, encontrar um assento torna-se complicado, ainda mais em dias chuvosos. A linha circula pelas avenidas Conselheiro Nébias, da orla, Pi-nheiro Machado e vias do Marapé, seguindo

Na hora do rush...Primeira Impressão mostra a realidade enfrentada

pelos passageiros de duas linhas municipais

até o ponto final, na praça Barão do Rio Bran-co, no Centro de Santos. Para piorar a situação dos passageiros, alguns circulares da linha são microônibus, com capacidade reduzida.

Ao invés de facilitar para os passageiros, o motorista arranca e freia bruscamente em to-das as paradas realizadas durante parte do trajeto que a reportagem acompanhou. Muitos usuários se irritam com o fato e, uma senhora comenta que vai descer na praia para pegar outro coletivo, por conta da superlotação e da atitude do motorista. Irritada com as reclama-ções da mulher, outra usuária sugere, irônica-mente, que esta “pegue um táxi”, criando uma situação constrangedora. A chuva e os vidros fechados tornam o ambiente ainda mais irri-tante.

Ao parar no ponto em frente à Fundação Lusíada, onde descem muitos universitários e

idosos, o motorista estaciona longe do meio fio. Além de dificultar a descida, essa atitu-de traz outro incômodo: é preciso molhar os pés para alcançar a calçada, já que a guia está cheia de água. Porém, para a sorte dos santistas, nem todos os motoristas são como o apressadinho do 77.

Boa praça

Por outro lado, a reportagem encontrou na própria Conselheiro Nébias, onde passa a linha 17, no mesmo horário de pico, às 18 horas, um motorista que faz o tipo boa praça, encosta próximo à guia sempre que possível, facilitan-do o acesso dos idosos, e que não reclama de, como diz, “embarcar deficientes”.

A cada parada no ponto, todos que sobem são presenteados com desejos de boa tarde e boa noite, bem diferente do motorista da linha anterior. Os passageiros mais próximos são chamados pelo nome e esticam conversas bem pessoais, com perguntas sobre a famí-lia, etc. A simpatia do baixinho motorista, a primeira vista, contrasta com sua aparência. A cara fechada engana quem estica o braço para pegar o 17.

Há quatro anos na Viação Piracicabana, ele não vê nenhum problema em cobrar a passa-gem, liberar a catraca e dirigir, tudo ao mesmo tempo. “Tenho colegas que reclamam, mas é questão de costume. Quando entrei aqui, o es-quema já era esse, então não tenho como com-parar”, explica.

O trânsito e a impaciência de quem está dentro e fora do coletivo não abalam o mo-torista que segue a viagem no mesmo ritmo, sem frear e acelerar bruscamente e respeitan-do, sempre que possível, a faixa destinada ao trânsito dos ônibus, evitando ziguezaguear pela pista.

A viagem segue com poucas paradas e o ônibus praticamente esvazia após passar pelo Gonzaga, já que, aqueles que o tomaram no Centro da Cidade, chegaram ao seu destino, restando apenas os alunos das universidades que se valem da linha.

Peruas vans atendem à população dos morros

Lucas MeloOs morros do São Bento, José Menino e

Nova Cintra são locais que os ônibus da Viação Piracicabana, responsável pelo transporte coletivo em Santos, não conseguem acessar. Quem faz o transporte da população que mora nessas áreas são as peruas vans autorizadas pela Prefeitura.

Há oito anos trabalhando com van, Robson Andrade conta que muita gente prefere esse tipo de serviço: “Mas a verdade é que o usuário quer chegar rápido. Então, o que passar primeiro, ônibus ou van, ele pega”.

Para a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), as vans são consideradas transporte coletivo.

Em uma viagem até o morro do São Bento, a reportagem do Primeira Impressão conferiu a estrutura oferecida por esse tipo de transporte. Bancos confortáveis, clima interno arejado e até mesmo uma conversa descontraída com o motorista.

Este é o cenário constatado dentro do veículo. “Moro no Morro da Nova Cintra e sempre preferi pegar a van, pois é mais confortável e chego mais rápido ao trabalho”, diz o comissário de despacho aduaneiro, Robson Santos Ribeiro, de 24 anos.

Durante a viagem, o motorista Wyndsor

Andrey Chaves, de 36 anos, conhecido como Cory, enquanto dirige, acena para amigos do lado de fora, fala sobre futebol com algum conhecido na frente de um bar e conversa com passageiros que já viraram clientes fiéis. “Trabalho há 16 anos com van e gosto muito. Claro que existem alguns problemas, mas é normal em qualquer profissão”, conta o motorista.

Ao todo, são seis linhas que fazem o transporte dos passageiros e cada uma conta com oito a nove veículos, distribuídos em quatro pontos de Santos: Praça dos Andradas; ruas Dom Pedro com Amador Bueno; Dom Pedro com João Pessoa e Praça José Bonifácio.

Para poder dirigir van com passageiros, o motorista precisa ter a Carteira Nacional de Habilitação, categoria A/D, e também ser formado em um curso de transporte coletivo. O trabalho começa às 6 da manhã e, em alguns casos, os motoristas trabalham até 14 horas por dia.

O horário de pico é durante a entrada e saída do trabalho e também na hora do almoço. Cada profissional fica dois dias em cada linha e quatro linhas funcionam até a meia-noite. As vans que contam com adesivos padrões têm capacidade de transportar até 15 passageiros. A CET, sempre em agosto, realiza uma revisão geral para verificar se o veículo

tem condição de transportar passageiros. Cada uma das 51 vans licenciadas que transitam pela Cidade contam com o sistema de cartão transporte da Viação Piracicabana. Por causa disso, 15% do valor total recebido pelo motorista são descontados.

“A empresa diz que é por causa da manutenção, mas nunca mexeram essa máquina. Quando eu vou até a Piracicabana para receber, demora muito. Ela fica duas semanas para fazer a conta de quanto me deve e mais duas semanas para me dar o dinheiro”, reclamou Chaves.

Durante o trajeto até o morro do São Bento, ele falou um pouco sobre a profissão e as dificuldades do transporte. “Aqui no morro é mais seguro do que lá embaixo. Ninguém mexe com ninguém”.

No morro, a maioria das ruas é subida ou descida. Fica impossível para um deficiente, por exemplo, entrar no veículo, ainda mais sem a rampa de acesso. Além disso, em alguns locais não existe calçada, guia e sarjeta.

Na Praça dos Andradas, a entrada nos carros é feita pelo lado em que os veículos transitam. Dá para perceber que já é perigoso para quem não tem deficiência, imagine para pessoas deficientes. O preço da passagem nas vans é de R$ 2,65, sempre reajustada de acordo com a tarifa dos ônibus.

Os motoristas têm que lidar com a cobrança, a direção

e o trânsito cada vez mais intenso nas ruas

TÁBATA TUANY

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Edição e diagramação: Ivan De StefanoPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 13

Arucha FernandesO trânsito em Santos e nas cidades

vizinhas tem sido alvo de frequentes reclamações. Motoristas insatisfeitos com os congestionamentos, não mais exclusivos da hora do rush, pedem uma atenção especial para as vias da Cidade. Essa situação pode piorar nos próximos anos, pois, segundo dados da Fundação Seade, a frota total de veículos na Baixada Santista aumentou, em média, 47% em oito anos. O estado de São Paulo, no mesmo período, registrou um aumento de, em média, 41,5%.

Esse aumento na frota causou também uma diminuição na proporção de habitantes por veículo. Em 2010, a frota que circulava na Baixada atingiu 621.824 mil, o que significava 2,67 habitantes por veículo. Em 2009, a proporção era de 2,88 habitantes por veículo, em uma frota de 569.211 mil.

Só em Santos, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a frota de veículos que circulam na Cidade atingiu os 272.139 mil, no ano passado.

Para observar essa realidade mais de perto, acompanhei o funcionário público, Ricardo Barros, em uma viagem de carro de Santos, onde reside, até São Vicente, onde trabalha.

O começo do trajeto foi tranquilo, pois às 7h30 o trânsito fluia bem na Avenida Pinheiro Machado (canal 1). As paradas aconteciam apenas nos cruzamentos, e não se ouviam tantas buzinas. Quando chegamos na orla, porém, a troca de marchas diminuiu, e a primeira foi a mais utilizada.

Através da janela do carro foi possível observar que a situação de quem estava nos ônibus era desconfortável. Lotados e transportando centenas de pessoas, todos os dias, estão longe de ser uma alternativa para aqueles que já estão acostumados com as vantagens e o conforto dos automóveis. “Embora tenha consciência de que estaria colaborando para a melhora do trânsito na Cidade, e até mesmo

Paciência é o melhor remédio Para encarar o trânsito diariamente é preciso muita calma.

Motoristas de Santos e região pedem soluções para congestionamentos

A difícil disputa por uma vagaMariana AyumiVocê quer ir ao supermercado

somente para comprar meia dúzia de pão francês. Imagina que vai gastar, no máximo, 10 minutos para realizar a tarefa. Você pega seu carro e... leva mais de 20 minutos só para achar uma vaga para estacionar. Esse é o drama que muitos santistas enfrentam atualmente, visto que estacionar nas principais vias da Cidade tem sido uma tarefa complicada, principalmente em horário comercial.

De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), contabilizados até março deste ano, Santos conta com uma frota de 137.413 automóveis. Com uma população aproximada de 433.502 habitantes, a projeção seria de um carro para cada grupo de três pessoas.

As reclamações são inúmeras e o ato de estacionar em Santos já se tornou uma dor de

o meio ambiente, não vejo o transporte público como opção. Além da superlotação em certos horários, no fim do mês sai mais barato ir de carro”, afirmou Barros.

O estresse da rotina no trânsito foi evidenciado quando presenciamos um “quase” acidente. Um motorista apressado acabou “cortando” outro veículo, que conseguiu frear a tempo evitando uma batida. “Essa cena é comum, e na maioria das vezes o motivo nem é a pressa, e sim a imprudência. Com tempo aprendi a ter paciência e não me incomodar com certos condutores mais exaltados”, disse. O ponto mais crítico da Avenida Presidente Wilson é antes da divisa dos dois municípios. Nesse trecho foi possível perceber que o problema se resume a um só: a quantidade de veículos.

“Outro trecho complicado é o do emissário. Em dias de chuva, parece que tudo fica mais lento”, acrescentou Barros. Além disso, mudanças na sinalização também dificultam o percurso. “Faço este mesmo caminho há dois anos. Antes, o trânsito era melhor na orla da praia, mas agora falta sincronização dos semáforos, o que cria engarrafamentos” complementou.

AlternAtivAsUma rota alternativa seria

o morro da Nova Cintra, mas a recente instalação de semáforos em um dos cruzamentos da Avenida Francisco Ferreira Canto, que une o acesso dos morros a Avenida Nossa Senhora de Fátima, prolongou o tempo no trajeto logo pela manhã. “A impressão é que estamos sem opções. As vias da Cidade estão saturadas, e devido às construções não existe possibilidade de alargamento das vias para a passagem de mais veículos. É preciso começar um novo planejamento da malha viária”, afirmou o funcionário público.

No final do trajeto, rumo ao centro de São Vicente, outro desafio: desviar dos buracos. Lá, o asfalto apresenta muitas falhas. “Isso (buracos) contribui para acidentes e lentidão do trânsito”, observou.

Uma solução apontada para amenizar o problema do excesso de veículos nas ruas é implantar o rodízio, a exemplo da capital. Para Barros essa medida seria uma boa solução para evitar os congestionamentos nas cidades. “A região daqui a muito pouco tempo vai virar um caos, não haverá

condições de todos os veículos circularem pelas vias públicas. O rodízio pode ser uma alternativa”, destacou.

O relógio marcava 7h58, quando estacionamos ao lado do Paço Municipal de São Vicente. O percurso demorou meia hora. Em horários de pouco movimento como, por exemplo, de madrugada pode ser realizado em apenas 10 ou 15 minutos.

retornoJá para a estudante Arielle

Gonzalez que faz todos os dias o caminho inverso, da Cidade Náutica (São Vicente), onde mora, até á Avenida Conselheiro Nébias (Santos), onde estuda, o sistema de rodízio não é o mais indicado para a região.

Para ela, o investimento no transporte coletivo é a solução apropriada. “O investimento em mais linhas de ônibus para abranger mais localidades e a diminuição na tarifa cobrada iria incentivar motoristas a aderirem a esse meio de transporte. Dessa forma será possível aliviar os congestionamentos”, observou.

Para diminuir o tempo do trajeto até a faculdade, Arielle investiu na compra de uma motocicleta. Um dos benefícios de São Vicente são as vias exclusivas para a circulação de motos e também faixas em frente aos semáforos. “Essa separação ajuda muito na fluidez do trânsito, além de prevenir acidentes”, comentou.

Em comparação com a capital, por exemplo, esse tempo gasto no trânsito parece pouco. Mas o problema da região, em geral, está na facilidade que essa rotina é, cada vez mais, alterada.

Qualquer tipo de obra costumeira, mudança na sincronização de semáforos ou até uma chuva mais forte, pode dobrar o tempo e transformar as vias em verdadeiro caos.

Essa fragilidade da malha viária precisa ser corrigida. O desenvolvimento das cidades passa também pelas ruas.

O tráfego pode melhorar se motoristas buscarem rotas alternativas

CARINA SELES

cabeça para algumas pessoas. O publicitário Rafael Souza trabalha na Encruzilhada e não teve alternativa a não ser pagar pelo estacionamento todos os dias, tornando-se o chamado mensalista. “Pago R$ 150,00 por mês. É muito difícil encontrar uma vaga na rua, principalmente por atravessar uma das principais avenidas de Santos, a Ana Costa. Isso é um problema que todas as cidades que estão em constante desenvolvimento têm e, claro, pelo número cada vez maior de carros nas ruas”, afirma.

Porém, o publicitário não enxerga solução para o problema. “Não sei nem se existe uma saída a não ser pagar pelo serviço de estacionamento ou ficar mais de 20 minutos para procurar uma vaga na rua, sem contar ainda com o risco de roubo ou de alguém bater no seu carro”, lamenta Souza.

O preço médio de uma hora de estacionamento fica em torno de R$ 6,00, caindo para R$ 2,00 a partir

da segunda hora. Os valores para mensalistas variam de acordo com a localização do estacionamento, indo de R$ 150,00 a R$ 175,00 por mês.

O funcionário de um estacionamento do Centro, Marcos Fernando Veiga do Rosário, acredita que a situação do trânsito na Cidade só tende a piorar. “Até eu que ando de moto já estou percebendo que está difícil. Em horário de pico, Santos parece São Paulo e, quando chove, aí fica impossível”, diz.

Ele acredita que uma alternativa para desafogar o movimento de automóveis e ter mais vagas para estacionar seria investir no transporte público. “Se melhorassem as condições do transporte coletivo e diminuíssem as tarifas, as pessoas deixariam de usar um pouco os carros. O jeito vai ser construir estacionamentos verticais. Aqui mesmo no estacionamento, já não temos mais vagas para mensalista. Outra coisa

que também está ficando só no projeto é o VLT, que, se fosse feito, ajudaria muito”, opina Rosário.

As áreas ao redor das universidades do município também sofrem com a mesma dificuldade. Muitos estudantes são obrigados a colocar seus veículos em locais longe da universidade e escuros, propícios ao perigo de roubos.

Porém, os estacionamentos nas proximidades das instituições são os mais beneficiados. O funcionário de um estacionamento no Boqueirão, Anderson Barbosa, avalia que a infraestrutura do bairro contribui para que não haja vagas para estacionar. “Aqui vive cheio, são quase 300 pessoas por dia, principalmente nesta área, onde as ruas são pequenas e as vagas poucas”. O fluxo intenso de estudantes fez até com que o estabelecimento criasse uma tabela de preços especiais para estudantes de universidades.

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Ciclovia da praia serve tanto para os trabalhadores como para o lazer dos ciclistas

Pistas apresentam problemas de infraestrutura,

mas têm seus pontos positivos

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Ciclovias ainda precisam melhorar

Vanessa SimõesEm uma cidade litorânea e qua-

se totalmente plana como Santos, bicicletas para lá e para cá não po-diam mesmo faltar. Todos os dias, as bikes trefegam pelas ruas da Cida-de, cada uma com um destino, mui-tas vezes incerto. Andar por aí sem pensar em nada, com uma brisa no rosto e uma linda paisagem, é sem-pre bom. Mas, há quem ande de bicicleta com objetivo de chegar ao trabalho ou à escola, principalmen-te por ser um transporte barato, saudável e ecologicamente correto.

Hoje, costumo andar de bicicle-ta sem preocupações, sem horário. Diferente de anos atrás, quando eu utilizava o transporte para ir para o trabalho e faculdade. Escolhi do-mingo no meio da tarde para fazer meu trajeto. Um dia tranqüilo para andar nas vias, justamente para analisar melhor os trechos que me incomodam e que também preocu-pam, ou não, outros ciclistas.

No final de 2003, a primeira ci-clovia foi implantada, na orla da praia. No decorrer dos anos, outros pontos do município também ga-nharam pistas. Servem, principal-mente, para dar mais fluidez ao trânsito e, ao mesmo tempo, pre-servar a vida dos ciclistas, mas elas ainda têm muito que melhorar. Be-néfico para a saúde e bom para o bolso, também é um transporte sus-tentável e nesse dia a dia corrido e trânsito caótico conseguimos chegar mais rápido aonde queremos, além de fazer um ótimo exercício físico.

Percorri de bicicleta cinco ciclo-vias das principais vias de Santos. Iniciei o percurso na Avenida Afonso Pena, pedalando sentido Ponta da Praia. Por ali o que mais me cha-mou a atenção foram as árvores. Muitas vezes, era necessário abaixar a cabeça para passar ileso.

Próximo ao número 306 da Ave-nida, no entorno da Escola Municipal Olívia Fernandes, existe um buraco assustador: o ciclista precisa invadir a pista da contramão para conseguir passar. Estes foram os principais pon-tos que me chamaram a atenção na

ciclovia da via. Em compensação, ela ganha ponto por ter trechos de ultrapassagem, coisa que é mui-to importante, pois assim como os motoristas de carros, existem muitos apressadinhos de bicicleta.

Mas, além dos apressadinhos de bicicletas, há os pedestres que sim-plesmente invadem a pista. Quan-do estava no Canal 5, ainda na Avenida Afonso Pena, uma mulher estava passeando calmamente com seu cachorro na pista. Ciclista tam-bém sofre com as pessoas que deci-dem entrar em sua frente.

No final da Avenida Afonso Pena, já existe um trecho da ciclovia da Avenida Governador Mário Covas Ju-nior (Portuária). A meu ver, é a pior da Cidade, por sua pista ser irregular. Lá, falta muita manutenção, princi-palmente em sinalização de solo.

Os semáforos, na maioria, estão quebrados, fazendo com que o ci-clista precise ter uma atenção re-dobrada. A única coisa boa desse trecho é a largura da pista: você se sente tranquilo para andar, mas só por isso. Eu particularmente evito aquele trecho, pois muitos cami-nhões trafegam pelo local.

NO FERRY BOAT, UM SUSTONo Ferry Boat, início da Aveni-

da Almirante Saldanha da Gama, onde o Mercado de Peixe termina, levo até um susto. O ciclista preci-sa parar para atravessar a avenida que vem da Rua Rei Alberto I, mas se depara com um problema, bura-co com água. O buraco é estreito, mas profundo e pode danificar a

bike. Esse problema é diário, pois os peixeiros lavam todo dia o local e a água acaba acumulando-se na-quele pedaço.

A Avenida Bartolomeu de Gus-mão, continuação da Avenida Sal-danha da Gama, na orla da praia, é a mais bem sinalizada, mas pre-cisa de um reforço. O grande pro-blema são os pedestres que não respeitam a sinalização, fazendo os ciclistas frearem em cima.

Alguns pedaços apresentam problemas na pista, mas nada de grave. A iluminação é boa, apesar de algumas luzes muitas vezes não acenderem. Além de tudo isso, ofe-rece uma vista linda: um pôr de sol maravilhoso que se pode curtir pe-dalando. Mas, no Canal 4, existem trechos que alagam nos dias de chu-va, o que atrapalha, e muito, a vida do ciclista.

Na ciclovia da avenida da orla, até que dá para trafegar, mas a me-lhor mesmo, em todos os quesitos, é a da Avenida Francisco Glicério. Ela é a mais recente, toda sua sinalização de solo está fresquinha e bem visível. A pista é uma delícia de andar, talvez o que falte é uma sinalização mais bem feita nos cruzamentos, princi-palmente entre o Mendes Conven-tion Center e o Hipermercado Extra.

No final dela, antes de chegar à Avenida Afonso Pena, o maior pro-blema é quando chove, pois toda a pista fica alagada, tornando impos-sível, ou quase, trafegar. As ciclovias têm lá os seus problemas, mas vie-ram com a intenção de melhorar a qualidade de vida dos munícipes,

além de dar mais segurança nas ruas e preservar o ambiente. Afinal, andar de bike queima calorias e não gasta gasolina, que está muito cara, por sinal.

AMPLIAÇÃODe acordo com a Prefeitura, a

Cidade continua ampliando sua malha de ciclovias. Com a inaugu-ração do trecho de pistas exclusivas para bicicletas no Parque Municipal Roberto Mário Santini (Praia do José Menino), a Cidade alcançou a marca de 20,9 km de ciclovias.

A malha cicloviária santista inter-liga as zonas Noroeste e Leste e tam-bém a divisa com São Vicente na orla até a área portuária. Ao longo da praia, da divisa com São Vicen-te até a Avenida Mário Covas Júnior (Portuária), na Ponta da Praia, são 7.874 metros. Nas avenidas Francisco Glicério e Afonso Pena, mais 6.250 metros; na Mário Covas, 3.050 me-tros; na Avenida Rangel Pestana, 476 metros; na Avenida Martins Fon-tes, 1.680 metros; e da Praça Dutra Vaz (em frente à Santa Casa) até a Praça dos Andradas, passando pelo túnel, são 1.600 metros.

A Prefeitura está construindo mais um trecho de 680 metros, en-tre as praças dos Andradas e Lions, ligando a ciclovia da entrada da Cidade ao Centro. Também estão sendo executados mais sete quilô-metros de ciclovia: 3,5 km na Ave-nida Pinheiro Machado (Canal 1), e 3,5 km na Avenida Ana Costa. Ambas interligarão a orla ao Cen-tro, percorrendo inúmeros bairros da Zona Leste da cidade.

• Ciclovia da Orla - Total: 7.874 metros construídos

(do Emissário/José Menino até Avenida Mário Covas Jr.):

Emissário/Divisa com São Vicente - 600 metros

Emissário/Canal 1 - 554 metrosCanal 1/Canal 2 - 668 metrosCanal 2/Canal 3 - 1.035 metrosCanal 3/Canal 4 - 890 metrosCanal 4/Canal 5 - 720 metrosCanal 5/Canal 6 - 896 metrosCanal 6/Rua Carlos de Campos

- 651 metrosRua Carlos de Campos/ Ferry

Boat - 1.600 metros Ferry Boat/Mário Covas - 260

metros

• Ciclovia Francisco Glicério/Afonso Pena - Total: 6.250 metros construídos

(Avenida Senador Pinheiro Ma-chado até Avenida Mário Covas Jr.):

Canal 1/Avenida Conselheiro Né-bias - 2.450 metros

Avenida Conselheiro Nébias / Avenida Mário Covas Jr. - 3.800 metros

• Ciclovia Avenida Mário Covas Jr. - Total: 3.050 metros construídos

(Praça Almirante Gago Couti-nho até Avenida Siqueira Campos/Canal 4):

A antiga ciclofaixa passou por obras

de revitalização, com pista segregada das faixas de rolamento de veículos. Construção de calçadas, linhas-guias de concreto e asfaltamento da pista de bicicletas.

• Ciclofaixa Avenida Rangel Pes-tana - Total: 476 metros construídos

Avenida Ana Costa / Rua Brás Cubas

• Ciclovia Avenida Martins Fontes - Total: 1.680 metros construídos

Praça Lions / Rua São Sebastião

• Ciclovia Santa Casa/Túnel/Pra-ça dos Andradas - Total: 1.600 me-tros

Praça Dutra Vaz; Avenida Cláudio Luiz da Costa; Avenida Waldemar Leão; Túnel; Praça dos Andradas

Malha Cicloviária de Santos: 20.930 metros construídos

Em construção: • Praça dos Andradas até Pra-

ça Lions – aproximadamente 680 metros

• Ciclovia Canal 1/Orla - aproxi-madamente 3.500 metros (Praça Espaço Cidades Irmãs; Ruas Newton Prado; Rio Grande do Sul; Guilher-me Álvaro; Alfredo Ximenez; Canal 1; Praça Dutra Vaz).

• Avenida Ana Costa - aproxi-madamente 3.500 metros

Conheça os locais e extensão das ciclovias

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Edição e diagramação: Mariana AquilaPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 15

carina seles

Ciclovia na orla: pouco espaço e muita confusãoFalta de respeito entre ciclistas e também aos

pedestres provoca acidentes e riscos aos usuários

Joana RibeiroJovens praticando atividade fí-

sica, crianças acompanhadas de seus pais usufruindo momentos de lazer e centenas de trabalhadores apressados para chegar em casa ou ao serviço. Todos tentando pas-sar por um espaço de dois metros e meio de largura. Muita confusão na certa. este cenário é formado por milhares de pessoas que utili-zam os 7.874 metros da ciclovia, que contorna a orla da praia de san-tos. O percurso vai da divisa com são Vicente até a avenida Mário covas Júnior, na Ponta da Praia.

inaugurada há sete anos para diminuir acidentes entre carros e bicicletas nas vias da cidade, ou entre bicicletas e pedestres nas cal-çadas, a ciclovia ainda apresenta alguns riscos aos munícipes ou tra-balhadores, como acontece com a administradora de empresas, Patrí-cia Ribas. Seu hobby é levar o filho alexandre para passear de bicicle-ta desde são Vicente, onde mora, até a Praça das Bandeiras, junto à avenida ana costa, em santos.

com paradas obrigatórias no emissário e na estátua do leão, o passeio de Patrícia e de seu marido, carlos Pascoal, enfrenta a falta de paciência de outros ciclistas. “Quem quer passear, no sábado à tarde, por exemplo, quase não consegue. Há falta de respeito daqueles que estão com pressa para chegar em casa, na volta do trabalho”, conta a adminis-tradora sobre os trabalhadores que trafegam em alta velocidade e que representam cerca de 80% dos usu-ários da ciclovia nos horários de pico, conforme estimativa de seu marido.

DESENTENDIMENTOScenas de desentendimento são

sempre presenciadas por quem a utiliza ou mesmo trabalha próxi-mo à ciclovia. “Às vezes, dá briga”, revela a comerciante Palmira Go-mes. Proprietária da barraca de coco verde no canal 3, ela conta que há poucos meses um ciclista foi agredido, após derrubar uma mu-lher. O rapaz que ia em direção a são Vicente bateu na traseira da bicicleta que seguia em sua fren-te. ambos caíram. “Quando o ra-

paz levantou, o marido da moça começou a espancá-lo”, relatou, sem dar mais detalhes da agressão.

a comerciante acredita que os acidentes aconteciam com mais freqüência quando a via foi inau-gurada. “Hoje ainda acontecem, pois a ciclovia é muito estreita”, diz Palmira, que trabalha no local há 25 anos. ela ressalta que há dois horários em que o movimento é mais intenso, das 6 às 7 horas, quan-do os trabalhadores vêm de Praia Grande, são Vicente e bairros pró-ximos à divisa e trafegam em dire-ção ao serviço, e das 17 às 19 horas, quando eles retornam para casa.

Há casos também de aciden-tes entre ciclistas e pedestres. nes-te caso, são causados tanto pelos pedestres que atravessam sem a devida atenção quanto pelos ci-clistas que saem para a avenida da praia e pedalam pela calçada. Há trechos em que falta manu-

tenção na sinalização horizontal, como a pintura da faixa de pedes-tre no percurso entre os canais 2 e 3. Porém, 30 placas com o alerta “atenção: Travessia de pedestres!” orientam os ciclistas sobre a aproxi-mação das faixas de travessia, en-tre a calçada e o jardim. Quando a sinalização não é respeitada pelos pedestres, geralmente, crianças ou turistas que caminham distraídos, logo vem o grito de um ciclista ir-ritado: “a ciclovia é só de enfeite”!

as pessoas envolvidas nestes tipos de acidente não costumam registrar boletim de ocorrência. segundo po-liciais militares, quando ocorre uma lesão corporal – queda de um ciclis-ta ou atropelamento de um pedes-tre – tudo se resolve na conversa, na maioria das vezes. caso a vítima queira registrar ocorrência, é enca-minhada ao 7º DP, que se localiza à rua assis corrêa, no Gonzaga.

Para garantir a segurança na

orla, a Polícia Militar mantêm via-turas em quatro pontos permanen-tes: emissário submarino, no José Menino; igreja do embaré, Fonte do sapo, na aparecida; e Ferry Boat, na Ponta da Praia. O policiamen-to conta ainda com equipes que atuam em bicicletas e quadriciclos durante o dia. Nos finais de sema-na, essas equipes ganham reforço com as tendas localizadas na fai-xa de areia em frente aos canais.

CONTRA A MARÉa rotina do pedreiro João rai-

mundo de Jesus começa poucos mi-nutos antes das 4h30, horário em que sai de casa para trabalhar. são 25 minutos de pedaladas do bair-ro Morrinhos, em Guarujá, onde mora, até a travessia da balsa. seu percurso pela ciclovia santista co-meça no Ferry Boat. Para chegar a são Vicente — onde trabalha em uma construção há um ano —, são mais 40 minutos. O pedreiro é um entre centenas de trabalhadores que passam pela via todos os dias.

Sempre contra o fluxo — tan-to no sentido que percorre quan-to no comportamento —, João prefere recorrer à cordialidade, mesmo compartilhando a pressa com outros usuários. “Quase todo dia, saio da ciclovia para não bater de frente com as bicicletas que estão na contramão”, diz o trabalhador. segundo ele, após esperar o semáforo abrir, os ciclis-tas avançam rapidamente sem respeitar as duas mãos da via. isso acontece também constante-mente na hora da ultrapassagem.

Para evitar acidentes, João precisa subir na calçada. segun-do ele, essa cena acontece com mais freqüência na divisa entre santos e são Vicente, e também, no semáforo próximo à Balsa.

na volta para casa, geralmen-te às 16h30, o morador de Gua-rujá divide a faixa da via com as pessoas que praticam atividade física ou que estão curtindo seus momentos de lazer, mas, apesar de achar que eles atrapalham seu trajeto, João é compreensivo. “nin-guém tem razão. a pista é estreita. Mas os ciclistas apressados preci-sam respeitar quem quer passear”.

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Pressa para chegar ao trabalho e falta de sinalização adequada

dificultam o transporte dos ciclistas

Falta de proteção aos ciclistas ajudam a agravar os acidentes

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Longe do destino e das mudanças

Transporte intermunicipal que liga Praia Grande a Santos é o principal responsável pelo estresse e atraso de muitos passageiros, que utilizam o sistema com frequência

Aline PorfírioLevantar cedo para trabalhar

talvez nem fosse um grande de-safio, a não ser quando isso inclui o transporte coletivo. Na Baixa-da Santista, os grandes centros de empregos ainda estão afastados do Litoral Sul, fazendo com que os trabalhadores que residem nestas cidades transitem diaria-mente para Santos, São Vicente e Cubatão. Para isso, eles preci-sam, além de mais tempo dispo-nível para o serviço, de paciência para o percurso.

Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econô-mica Aplicada (Ipea), os bra-si leiros não estão contentes com o transporte público. Os resultados apontam que mais da metade dos usuários de co-letivos do País (55%) conside-ram o serviço “ruim”, “muito ruim” ou “regular”.

E esses números representam, com certeza, boa parte das pessoas que utilizam o serviço de intermunicipais na Baixada Santista. Por exemplo, quem mora em Solemar, divisa com a cidade de Mongaguá, enfrenta um longo percurso para chegar a Santos ou São Vicente.

A rota é a seguinte: pr i-meiro, é necessário uti l izar o colet ivo de Praia Grande que vai até o meio do caminho, no Terminal Tático, na Vi la Mi-r im. Lá, é preciso embarcar no intermunicipal com dest i-no a Santos . Essa baldeação é necessária devido ao horário irregular da l inha 905 – São Vicente, que real iza o percur-so direto até a c idade. Todo esse trajeto leva cerca de uma hora e meia, contando que não haja eventos inespera-dos, como acidentes , trânsito ou quebra de outros veículos . Esse mesmo percurso feito de carro demora aproximada-

mente 40 minutos. A situação matutina não

é diferente do final da tar-de. Em horário de pico, seguir para Praia Grande é uma si-tuação que pode ser consi-derada um desafio. Segundo a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), a média mensal de transporta-dos é de 1 .232.941 passageiros nas l inhas regulares que l igam Praia Grande a Santos. Se for dividido esse número por 30, considerando os dias do mês, é como se 41.098 passagei-ros uti l izassem diariamente o transporte intermunicipal e, segundo a EMTU, a frota é de 90 carros por dia.

Por vezes, a lotação dos veí-culos é tão grande que é neces-sário esperar por mais de uma hora no ponto de ônibus para conseguir adentrar um carro. Esmagados na porta, apertados entre a catraca e o corredor, sentados no chão da escada ou espremidos entre um, dois, três outros passageiros. Essa é a re-alidade diária de quem vem de Santos a Praia Grande a partir das 18 horas. E, segundo a em-presa que administra o serviço, nos horários de pico, o intervalo entre partidas é reduzido e toda a frota disponível cadastrada é utilizada para operação. Du-rante todo o dia, um trabalha-dor totaliza quase quatros ho-ras dentro de coletivos.

Todos os acontecimentos dessa jornada são comuns para trabalhadores como José Cân-dido. Aos 60 anos, ele passa por esse processo todos os dias, até chegar ao seu destino, um prédio na Avenida Presidente Wilson, em São Vicente, onde trabalha como encanador. Se-gundo Cândido, a rotina des-gasta o funcionário que, mui-tas vezes, já chega exausto ao local de serviço. “Quando en-

tro no ônibus querendo voltar para casa, ele já está lotado. E como moramos em uma região onde há bastante aposentados e idosos como eu, as chances de achar um assento reservado vago são poucas. Viajo em pé durante duas horas quase todos os dias”, explica.

Para sair do sufoco dos co-letivos, há quem prefira pagar mais caro, o total de R$ 5,80, para viajar mais confortavel-mente, em um ônibus da Breda, que realiza o percurso até Peru-íbe pela Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, Via Expressa Sul e Avenida Marginal. Porém, mais uma vez, a demanda de passa-geiros não permite tal prática. Mesmo sendo um ônibus de via-gem, e cobrando um preço bem acima da tarifa do coletivo circular, o Breda muitas vezes vem lotado. É um carro que cir-cula em rodovias, que realiza o percurso em tempo mais hábil, aproximadamente 50 minutos, e também carrega pessoas em pé. No corredor, não há braços para que os passageiros possam se segurar; portanto, o apoio é feito de forma improvisada, no bagageiro superior do carro.

O site da Agência Regula-dora de Serviços Públicos Dele-gados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) esclarece várias dúvidas aos usuários de coletivos. Ainda que a Artesp não administre os serviços in-termunicipais da Baixada San-tista, no site é possível encon-trar as respostas sobre a viagem de pé no ônibus da Breda.

O portal explica que é per-mitida a viagem em pé exclu-sivamente nas linhas intermu-nicipais suburbanas (ônibus com duas portas, iguais aos que circulam na cidade e atendem aos municípios circunvizinhos), porém dentro do limite espe-cificado em cada veículo. Nas

linhas consideradas rodoviárias (ônibus com uma única porta), é proibida tal prática. O mes-mo está relatado no Decreto nº 29.912, de 12/05/89, alte-rado pelos Decretos nº 31.105, de 27/12/89, e nº 32.550, de 07/11/90.

A Breda informou que não tinha conhecimento destas queixas. A ouvidoria da em-presa explicou que o ocorri-do pode ser fruto da quebra de outros carros, fazendo com que haja uma superlotação no próximo veículo. E aproveitou para ressaltar que a demanda de passageiros no transporte cresceu representativamente, acrescentado que, hoje, a em-presa já atua com um carro-extra na linha.

Já sobre o serviço intermuni-cipal coletivo, a EMTU se defen-de das reclamações. Segundo a assessoria de imprensa, a em-presa explica que estuda, em conjunto com outras permissio-nárias que operam o transpor-te intermunicipal na Baixada Santista, a utilização de veícu-los com maior capacidade de transporte de passageiros.

Sobre os atrasos nos itinerá-rios das linhas 934 EX Termi-nal Tático (Conselheiro Nébias sentido Praia Grande) e 905 Peruíbe/ São Vicente, a asses-soria de imprensa informa que as linhas foram alvo de diver-sas ações de fiscalização desde o início de 2011, tendo a em-presa operadora recebido au-tuações quando verificadas ir-regularidades na operação. Em algumas ocasiões, os itinerários estão sujeitos a interferências do trânsito nas áreas urbanas por onde trafegam. Enquanto a empresa averigua as possibi-lidades de mudanças, a rotina segue, assim como os proble-mas e a paciência dos usuários do transporte.

Viajar em pé durante horas virou rotina para usuários do

sistema de transporte intermunicipal

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Edição e diagramação: Mariana AquilaPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 17

As estudantes fazem rodízio no uso dos carros

para sair de Praia Grande rumo à universidade

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IOCarona solidária

É a melhor opção para quem quiser guardar um bom dinheiro no fim do mês

Nathalia PioSão 15 para as seis da tarde

quando a jornada começa. O Peu-geot 206 sai da Praia Grande le-vando a motorista e a sua primeira passageira. O caminho as conduz quase que automaticamente até São Vicente, passagem obrigatória para quem tem como destino final Santos. Depois de 20 minutos, 15 se o trânsito estiver bom o Peugeot en-costa na Avenida Presidente Wilson para embarcar as duas últimas pas-sageiras no caminho de ida para a faculdade.

Ao chegar à Avenida Presidente Wil-son na hora do rush caiçara é que se des-cobre o que é paciência. Infinitas filas de pontos vermelhos nos faróis dos carros e também nos semáforos só se desalinham quando interrompidos por vans e ônibus que formam um paredão praticamente impenetrável na pista da esquerda. Di-rigir com vista para o mar, só mesmo se for entre as frestas deixadas entre os veí-culos maiores. Música ambiente vem dos sons das buzinas das motos que passam entre os retrovisores dos carros.

Uma rápida olhada para os vidros vizinhos e fica claro o contraste entre co-letivos e carros de passeio. Os ônibus se-guem apinhados, às vezes com os vidros embaçados. Já os carros, em sua maio-ria, carregam no máximo duas pessoas. Caso contrário das amigas que estão sempre em quarteto.

De segunda à quinta-feira o per-curso é no Peugeot, na terça em um Gol Geração 4 e às quartas e sextas-feiras em um Celta. Elas revezam na direção e não é questão de precisar haver uma motorista da rodada. “Eu gosto das minhas amigas, de dar risada, mas o que vale a pena mesmo é a economia no meu bol-so”, conta a estudante de Medicina Bruna Klaus. A carona solidária é uma opção para muitos estudantes e trabalhadores que querem evitar o transporte público. Isabella Nunes Neves, psicóloga, acredita que esse tipo de camaradagem faz bem não

“ Nos dias atuais, observamos uma cres-cente valorização do individualismo e das relações virtuais. O que essas meni-nas fazem serve como uma terapia, um relaxamento

ISABELLA NUNES NEVES, PSICÓLOGA

só para o bolso. “Nos dias atuais, observamos uma crescente valori-zação do individualismo e das re-lações virtuais. O que essas meninas fazem serve como uma terapia, um relaxamento. É um momento que elas têm para esquecer um pouco dos problemas cotidianos. Conviver é uma coisa rara e, muitas vezes, difícil para muitas pessoas. Nas con-versas diárias, elas possivelmente dividem alegrias e problemas ou dificuldades que estão enfrentando. Quando uma pessoa expõe aquilo que a aflige, ela é capaz de lidar com ele de uma maneira melhor e, às vezes, até evita complicações de saúde que poderiam ser causadas por esse encasulamento”.

A contar pelas amigas, a psicó-loga deve mesmo ter razão. Para Gabriela Torres, estudante de En-genharia Alimentícia, as idas e vindas da faculdade são mais efi-

cazes do que uma sessão de ioga. “Normalmente, quando é época de provas, todo mundo fica ten-so, mas, como ninguém aqui faz o mesmo curso, não dá para fi-car falando só da matéria. Então, quando chegamos à sala para fa-zer a prova, já estamos mais rela-xadas”, comenta.

O hábito de revesar a direção já vem de família. As quatro se conhecem desde os doze anos de idade. “Quando éramos adolescentes, as nossas mães faziam esse esquema de carona soli-dária para nos levar às aulas de Inglês. E como eram quatro mães, cada uma levava uma vez por semana. Semana sim, semana não. Para a gente, era só diversão”, relembra Rafaelli Menezes, estudante de Pedagogia.

Para a estudante de Moda Lu-ana dos Santos, o que vale mais a pena é contar com a ajuda das amigas na hora da baliza. “Eu sou

péssima para estacionar. Sempre aquela que está no banco da frente tem que descer e bancar a flanelinha, mas já estou até me-lhorando o meu tempo. No come-ço, eu demorava uns 15 minutos para conseguir colocar o carro na vaga. Agora, só levo uns cinco”, se diverte.

Já a futura administradora Ca-mila Fontes considera a economia feita com a gasolina um investi-mento. “Se eu fosse todo dia sozinha para a faculdade, gastaria, no mí-nimo, 400 reais por mês, já que eu moro na Praia Grande. Nessa orga-nização que nós temos, eu gasto cem reais e olhe lá! Essa graninha que sobra eu vou guardando na poupança, para fazer uma espe-cialização fora do País”, revela.

Não existem estudos que esta-beleçam qual seria a diferença de carros nas ruas se as pessoas usassem mais a carona solidária. Mas tam-bém não é difícil imaginar. Se consi-derarmos que cada carro, que leva em média duas pessoas, passasse a levar quatro, cairia pela metade o número de veículos nas ruas. Então, fica a dica para quem quer guardar um dinheiro a mais no final do mês e economizar também nas sessões de terapia: adira à carona solidária.

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Rafael CicconiAcordar às 5h50 da manhã,

sair de casa às 6h20, enfrentar uma viagem de mais de uma hora dentro do ônibus cheio; descer na Ponta da Praia, em Santos; pegar a barca; tomar outro ônibus em Guarujá até chegar às 8 horas no trabalho.

Esta é a rotina enfrentada pela funcionária pública Patrícia Oliveira de Araújo, moradora de São Vicente, que há 20 anos trabalha na Prefeitura de Guarujá.

O caminho de 20 quilômetros de distância de sua casa, na Cidade Náutica, em São Vicente, até a Prefeitura de Guarujá, no bairro Santo Antônio, em Guarujá, é feito, atualmente, de ônibus, pois ir de carro tem sido um problema para quem enfrenta a balsa entre Santos e Guarujá.

“Não compensa ir de carro. Prefiro até ir de ônibus porque, às vezes, se torna mais rápido do que atravessar”, relata Patrícia, que diz que só usa o carro para ir até a balsa e o deixa nas proximidades da Avenida dos Bancários, próximo ao local.

“Hoje, fica até difícil deixar o carro em Santos, pois não há vaga para estacionar. Creio eu que o pessoal também prefere deixar o carro em Santos e atravessar de barca (transporte para pedestres) para Guarujá”, explica.

Patrícia conta que só tira o carro da garagem para ir ao trabalho quando ocorre algum imprevisto. “Eu vou de carro quando me atraso ou quando está chovendo muito. Mesmo assim, é uma tarefa difícil, pois mais pessoas também deixam o carro na Ponta da Praia por causa da chuva”, conclui a funcionária pública.

ESTUDAR E TRABALHARMorar em Santos, trabalhar em

Guarujá e fazer faculdade à noite em Santos. Uma tarefa nada fácil enfrentada pela estudante de Relações Públicas, Kamila Assis. Moradora do Marapé, em Santos, Kamila acorda todo dia às 6h30 para entrar no trabalho às 8h30, em Guarujá, como assessora de

Fila da balsa: rotina, cansaço e estresseEstudar e trabalhar em cidades diferentes é um transtorno para

quem enfrenta a fila da balsa entre Santos e Guarujá todos os dias

mídias sociais da Prefeitura. A dura viagem do Canal 1, em

Santos, até o Santo Antônio, em Guarujá, segundo a estudante, é cheia de imprevistos. “É como viver uma aventura diária, pois eu nunca sei o que vou encontrar. Existem dias em que a maré está alta, em outros, está baixa. Às vezes, há ressaca, e em outros dias, uma balsa está em manutenção. Houve um dia em que três balsas estavam em manutenção. Já aconteceu também de a balsa parar no meio da travessia, de passarem dez navios enquanto as balsas estavam paradas no atracadouro esperando uma chance de passar”, relata.

Porém, o período da manhã não é o único tormento da estudante. Quando acaba seu expediente, começa mais uma jornada rumo à faculdade, na Avenida Conselheiro

Nébias, na Vila Mathias, onde entra às 19 horas.

“Saio do trabalho às 17h30 e chego na faculdade às 20 horas. Sempre perco as primeiras aulas e dependo da compreensão dos professores”, relata a estudante. “A volta é a pior parte! Além de ser perigoso, por causa da fila gigantesca que não é monitorada, não há segurança nem boa iluminação”, diz. Outro problema apontado por Kamila são os ciclistas. “Eles não respeitam a sinalização de trânsito, passam pela frente do carro.

Além, é claro, das pessoas que furam fila e não são retiradas, transformando em palhaço o usuário da balsa que segue as normas de uso, já que, mesmo apontando quem furou a fila, as pessoas não são punidas”, conta, indignada.

Kamila explica que o stress dos

usuários e funcionários do serviço de balsa, às vezes, gera fatos inusitados. “O maior absurdo foi quando todos já estavam na balsa e eles liberaram a entrada dos motociclistas.

O último deles estava entrando na balsa e a plataforma que fecha o atracadouro foi suspensa, deixando o motociclista pendurado pela roda. Graças a Deus, ele não caiu, mas provocou uma briga absurda entre os funcionários”, relata a estudante.

Além disso, a assessora de mídias sociais relata fatos que já aconteceram com ela. “Um dia, eu quase fui assaltada. Estava parada, de manhã, no lado de Santos, e um rapaz colocou a cabeça dentro do meu carro para ver o que tinha dentro. Eu gritei muito e ele saiu correndo. É perigoso, mesmo pela manhã”,destaca Kamila.

Carina Selles

Na cidade de Praia Grande, nos finais de semana e temporada, um tipo diferente de transporte circula na orla da praia. O Dindinhos é um ônibus turístico sob a forma de jardineira que recebe cerca de 15 mil passageiros por ano.

Tudo começou em 1987, quando a proprietária Leila de Castro, que na época morava em Santo André, comprou um trenzinho que circulava na cidade e em Jacareí. Em 1989, ela e seu marido perceberam uma oportunidade de vir para Praia Grande e abrir um negócio no ramo.

Em 1994, Leila vendeu o trenzinho e comprou um ônibus tipo jardineira, panorâmico, sem janelas e com proteção de vidro na parte inferior.

Para realizar a divulgação,

Jardineira recebe 15 mil passageiros por anoLeila fez uma parceria com o comércio e sindicatos. Coloquei uma mesinha com guarda-sol na Avenida dos Sindicatos, no bairro Mirim, e um cartaz de divulgação dos passeios, conta. Com o tempo, os grupos de familiares e amigos que ficavam hospedados em Praia Grande começaram a conhecer o Dindinhos, diz.

PADRINHONo Dicionário Michaelis a

palavra dindinho refere-se a padrinho. O nome do ônibus não está ligado a isso. Leila conta que o nome, inicialmente, foi uma divulgação de outro produto. Em Jacareí, o cartunista Walter Miragaia Gonçalves desenhava a revista em quadrinhos da época, o Dindinhos, que era a cidade onde moravam os personagens da história: frutas e legumes. “E

no local, eles se locomoviam com um trenzinho que os levava da ilha para a cidade. Ela conta que o cartunista desejava que suas ilustrações ficassem conhecidas na cidade e, então, cedeu o nome ao trenzinho. Hoje, é sinônimo de transporte turístico, acrescenta.

PASSEIODurante os 17 anos de

funcionamento, o Dindinhos começou a expandir. As viagens saíram da cidade e foram também para São Vicente e Santos. Muitos pedem para conhecer o Aquário de Santos e até o Poço das Antas, em Mongaguá, relata.

A frota de três ônibus circula na Baixada nos finais de semana e períodos de temporada, quando os passageiros conhecem a história de Praia Grande, desde a pré-emancipação até os dias de hoje.

O trajeto dentro da cidade começa na orla da praia em frente à Avenida dos Sindicatos e segue até o Boqueirão, passando pelos bairros Mirim, Ocian, Vila Tupi, Aviação, Guilhermina e Canto do Forte, com parada para fotos em pontos turísticos como a Praça da Paz, shopping da cidade e Complexo Cultural Palácio das Artes.

O city tour, segundo Leila, dura uma hora e meia.Caso a viagem siga para Santos, pode durar até quatro horas. O passeio na cidade custa R$ 6,00 por pessoa e a jardineira para em todos os pontos de ônibus da orla. Já a viagem para Santos, dependendo dos locais pedidos, gira em torno de R$ 15,00 por pessoa, porém é necessário fechar um grupo com, no mínimo, 30 passageiros. O Dindinhos tem capacidade para 40 usuários.

Tempo e dinheiro com combustível são gastos, diariamente, na fila da balsa

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Vivi Ramos

Prestes a completar onze anos de existência, o passeio turístico de bonde pelo Centro Histórico de Santos comemorou a marca de um milhão de passageiros no início de maio. Na ocasião, o prefeito João Paulo Tavares Papa anunciou a implantação de bondes temáticos. “O primeiro será o Bonde do Café que contará com serviço de bordo e vai liberar o aroma de café por onde passar”, disse durante discurso na Praça Mauá.

De acordo com dados da Secretaria de Turismo de Santos, só em 2010, o equipamento recebeu 92.072 visitantes. Em 2004, bateu a maior marca até o momento, com 112.326 passageiros. Durante esses anos, os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer a bordo do bondinho as antigas terras de José Bonifácio, as características de uma Santos abolicionista e o maior porto em extensão da América do Sul, além dos monumentos importantes para a história de Santos e do mundo.

“No passado, o bonde marcava a modernização. Por onde ele passava, simbolizava que o progresso passava junto. Atualmente, ele é um dos carros-chefes do programa Alegra Centro. É uma das principais atrações turísticas de Santos e por onde passa simboliza a revitalização”, conta a guia de turismo Daniela de Barros.

Para a passageira de primeira viagem, Rosa Alvarez Vasquez, de 74 anos, o bonde é parte de um saudoso passado. “Fico emocionada ao lembrar. Eu morei na Rua Visconde do Rio Branco, onde está o Outeiro de Santa Catarina. Minha filha nasceu lá”. Rosa atuava no comércio e atendia aos trabalhadores do café. “Eu tinha um bar e restaurante durante a década de 50. Às nove horas, eles chegavam para tomar o café”. Para ela, a passagem do bonde era sempre uma alegria. Usava-o para se deslocar para a escola e, desde

Bondes valorizam revitalização do Centro Histórico

Bonde turístico de Santos alcança a marca de 1 milhão de passageiros e o prefeito anuncia bondes temáticos

a desativação, não entrou mais no veículo. Seu primeiro passeio pela linha turística aconteceu na comemoração de 1 milhão de passageiros.

Embalados pelo som do atrito do veículo com os trilhos, os passageiros partem da Praça Mauá. Passam pela Praça Rui Barbosa, em seguida pela Igreja Nossa Senhora do Rosário, Rua Amador Bueno, Palácio Saturnino de Brito – atual prédio da Sabesp –, Monte Serrat, Fonte do Itororó, Castelinho – onde será a nova sede da Câmara dos Vereadores –, Sociedade Humanitária, Monumento do Soldado Constitucionalista, Palácio da Justiça, Catedral, Teatro Coliseu, Rua General Câmara, Casa do Trem Bélico, Outeiro de Santa Catarina, Monumento Bartolomeu de Gusmão, antigo edifício dos Correios, Casa da Frontaria Azulejada, Santuário do Valongo, Estação Ferroviária, ruínas dos casarões do Valongo, Armazéns de 1 a 4, Bolsa Oficial de Café,

Associação Comercial, Edifício dos Imigrantes, Monumento a Gaffrée Guinle, Alfândega e Monumento a Brás Cubas.

O percurso que antes durava 15 minutos foi ampliado para 40. Três bondes se revezam para atender aos turistas: o escocês, o italiano e o português. A cidade acaba de ganhar mais um veículo que passará pelo processo de restauração e integrará o acervo do Museu Vivo dos Bondes. O veículo da década de 50 pertencia a empresa Votorantim e era utilizado no transporte dos funcionários.

Além de ser o carro-chefe para a revitalização do Centro Histórico de Santos, o bonde tem importante papel na valorização do idoso. O projeto Vovô Sabe Tudo é desenvolvido pela Secretaria de Assistência Social de Santos e tem o objetivo de preparar os vovôs para atuarem em escolas municipais, oferecendo informações, contando histórias e confeccionando brinquedos. O vovô José Soares Fontes tem 84 anos e trabalha

fornecendo informações no bonde. “Eu fui motorneiro em Santos de 1959 a 1978. Quando o bonde saiu de circulação, continuei trabalhando na companhia como motorista até me aposentar em 1983. Em 2000, foi criada a linha turística e fui convidado a participar do projeto”, conta o vovô Fontes que reforça a pontualidade do veículo. “As pessoas usavam o bondinho para ir a todos os lugares, principalmente trabalhar. Ele atendia a todas as regiões da Cidade e tinha seus horários e pontos de paradas rigorosamente respeitados”.

O vovô contador de histórias Petrônio Trigoso de Lima, de 82 anos, se orgulha de fazer parte da equipe. “O projeto é vida. Ele nos rejuvenesce. A nossa missão é transmitir aquilo que nós temos de conhecimento para as crianças. Não tem nada mais gratificante do que ouvir delas: posso te chamar de vovô? ”, diz.

Com um sorriso largo e olhos de criança, Luiz Brambilla, 77 anos, conta as traquinagens no bonde. “Não dá para esquecer os namoricos, a malandragem de subir e descer para não pagar para o cobrador. Sou uma eterna criança, tanto que nasci no dia 12 de outubro e resolveram colocar o dia da criança no meu aniversário”.

A primeira linha de bondes puxada por burros começou a circular em 1871 e ia do Centro até a Praia do Boqueirão. Em 1909, foi inaugurado o serviço eletrificado de bonde na Cidade. O sistema foi desativado em 1971, devido às dificuldades de manutenção, o baixo custo do petróleo e a pressão das empresas de ônibus, além da construção das rodovias. A linha turística foi inaugurada em 23 de setembro de 2000.

SERVIÇO O ponto de partida do passeio é

a Praça Mauá, no Centro Histórico. O equipamento funciona de terça a domingo, das 11h00 às 17h00. O bilhete custa cinco reais. Menores de cinco anos não pagam e estudantes e maiores de 60 anos têm 50% de desconto.

Mariana Benjamim

A combinação dos bondes elétricos de Santos com o Centro Histórico já trouxe para a Cidade até gravações de minisséries e novelas da TV Globo, ambientadas nas décadas de 20. O charme antigo faz a diferença tornando-se, inclusive, um dos principais atrativos turísticos. Mas para manter a frota com 12 bondes funcionando com qualidade são necessárias a manutenção e a zeladoria. Responsabilidade da Oficina de Bondes, mantida pela Companhia de Engenharia do Tráfego, em parceria com Prefeitura.

Todos os dias, oito funcionários são encarregados de verificar a pintura, checar óleo e freios e verificar a necessidade de manutenção elétrica para que os bondes possam proporcionar viagens seguras aos usuários. Segundo o engenheiro

elétrico da CET, Marcos Rogério Gonçalves Nascimento, este é apenas um dos trabalhos que o pessoal da oficina é encarregado de fazer. “Além da manutenção diária, também somos os responsáveis pelas reformas dos carros. O processo é feito artesanalmente e vai desde a recolocação de uma madeira até reconstrução de um motor”.

Nascimento está à frente da oficina há 12 anos, desde quando o projeto dos bondes era apenas um embrião, em 1999. “Participei de todos os processos, desde a ideia até a execução”, diz. Quem acha que ter a segunda maior frota de bondes do País e a única em versão original foi fácil está enganado. O engenheiro diz que o começo foi difícil: “Não tínhamos fornecedores de peças. Algumas restaurações são mais difíceis que outras. Para você ter uma ideia, nosso bonde italiano demorou sete

meses para terminar e o português, quatro meses. O mais difícil ainda não terminou, que é o centenário bonde de 1911. Já vamos completar um ano de restauração e ainda não conseguimos concluí-la”.

Se antes o problema eram as peças, hoje não é mais. Conforme a frota foi crescendo, a demanda por peças também aumentou, o que fez com que os fornecedores aparecessem. “Alguns procuramos, outros vieram até nós. O importante é que atualmente temos um bom leque de fornecedores. Devemos muito também ao setor ferroviário que está em expansão no nosso País e é capaz de fornecer peças para os bondes”, explica.

A atual frota santista possui cinco veículos que circulavam em Santos, dois italianos, três portugueses, um americano e outro do interior do Estado. Mesmo com veículos importados, isso não gera problema

na hora de comprar as peças. “Sempre conseguimos um similar nacional”, diz Nascimento.

Assim como o tempo de duração, os gastos para a reforma de um bonde também variam. “Sempre precisamos desmontar o carro para avaliar o investimento. Algumas reformas podem custar R$ 5 mil e, em outras, o valor pode chegar a R$ 160 mil só o motor. É muito relativo”, explica o engenheiro. O dinheiro empregado, muitas vezes, vem de parcerias da Prefeitura com o governo estadual.

Atualmente, não é possível que turistas ou moradores acompanhem o processo de restauração dos bondes por não haver um local adequado para esse tipo de visita. Segundo Nascimento, a criação do Museu do Bonde possibilitará o processo de interação da comunidade com a restauração.

Conserto pode custar até R$ 160 mil

Ex-funcionários do antigo sistema de bonde voltaram a

trabalhar na linha do Centro Histórico de Santos

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CET aposta em pontualidade,

conforto e agilidadeLuciane Beck é diretora de planejamento e projetos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Foi presidente da empresa nos anos de

fevereiro de 2003 a outubro de 2004.

Lucas ShiomiPedestres, transporte público,

excesso de veículos e projetos para melhorar o trânsito. Estes são alguns dos temas abordados pela diretora de planejamen-to e projetos da Companhia de Engenharia de Tráfego, Luciane Beck. Confira nesta entrevista, algumas ações a serem desen-volvidas pela CET para minimi-zar os impactos no sistema viário da Cidade.

Como você avalia o trân-sito em Santos?

Nós temos uma condição hoje em que as vias estão cada vez mais saturadas, não há para onde crescer, não tem como alargar ruas, não há es-paço. Além disso, há a facilida-de que hoje existe na compra de automóveis. Então, temos vias sempre iguais, o que tinha para se alargar já foi alargado, e automóveis em quantidade cada vez maior. É necessário, então, planejamento, princi-palmente no horário de pico, das 17 às 20 horas. Santos tem um problema nesse horário. Pare-ce que todos os veículos estão nas ruas. Nesse horário é preciso pro-vidências mais específicas, como proibição de estacionamento em alguns locais, reprogramação se-mafórica...

Qual o perfil do condutor de Santos?

O condutor é muito desatento às regras de trânsito e à sinaliza-ção. Várias ocorrências acontecem porque o condutor não respeita, por exemplo, ao aviso de “Pare” no chão.

Quais medidas a CET tem adotado para amenizar esse problema do excesso de veícu-los na Cidade?

Temos feito a proibição de es-tacionamento em alguns locais durante o dia inteiro, em outros no horário de pico. Temos feito reprogramações semafóricas ao longo do dia, facilitando a circu-lação e a fluidez. Mas, principal-mente, o incentivo ao transporte coletivo, que não só em Santos, mas em todas as cidades, enten-de-se como o descongestiona-mento de vias. Além disso, a am-pliação de ciclofaixas e ciclovias, que também se entende como tirar veículos das ruas.

Medidas como o corredor de ônibus podem ser consideradas soluções provisórias? Daqui a 10 anos vão funcionar?

Hoje nós temos o corredor de ônibus que funciona no sentido Praia-Centro das 6 às 9 horas, e no sentido Centro-Praia das 17 às 20 horas. Não sei dizer se daqui a 10 anos, mas daqui um tempo talvez seja preciso colocar o cor-redor em horário integral, e em ambos os sentidos. Acho que essa

seria a alternativa para o trans-porte coletivo.

Vocês cogitam implantar o rodízio como em São Paulo?

Hoje não se faz necessário o rodízio em Santos. Mas, soluções adotadas por órgãos de trânsito de outras cidades e que dão resul-tado nunca são descartadas. Exis-te em alguns lugares o transporte solidário, que proíbe que carros com menos de três passageiros circule em determinadas vias. Mas são soluções que, no momento, não são pensadas aqui em Santos, mas não são descartadas, pois não sa-bemos como estará a situação da-qui um tempo.

O presidente da CET, Rogé-rio Crantschaninov, tem falado da importância do incentivo ao uso do ônibus. Que trabalho a CET desenvolve nesse sentido?

Além de contarmos com uma frota de veículos considerada su-per nova, estamos em fase de im-plantação de um sistema de mo-nitoramento via satélite. Com esse sistema, poderemos verificar o cum-primento de todas as viagens, bem como atrasos ou adiantamentos por parte dos ônibus – porque o adian-tar do veículo também é um fator prejudicial no que diz respeito ao transporte coletivo. Outra iniciativa importante seria o corredor de ôni-bus. As maiores queixas que se têm do transporte coletivo hoje são nas questões da pontualidade, do con-forto e da agilidade. Garantimos o conforto com a frota nova, a pontu-alidade com o sistema de monitora-mento e a agilidade com o corredor de ônibus.

É possível fazer alguém tro-car o carro pelo ônibus? Qual dos dois meios oferece a me-

lhor relação custo x benefício, levando em conta esses três fa-tores (conforto, pontualidade e agilidade)?

A princípio, quando se compra um carro, pode parecer maravi-lhoso, pode parecer que compen-sa. Mas não é bem assim. Há gas-tos que encarecem bastante, como combustível, seguro, IPVA, revisões e manutenções... A partir do mo-mento que conseguimos garantir conforto, pontualidade e agilida-de aos usuários do transporte cole-tivo, muita gente vai abrir mão do uso do carro ao perceber que suas queixas estão sendo sanadas. Esses três fatores são os atrativos para que haja essa transição.

O secretário de Estado de Tu-rismo, deputado federal Márcio França, disse em entrevista ao Primeira Impressão que o VLT não vai sair do papel. Segun-do ele, para que uma empresa consiga geri-lo, a tarifa cobra-da teria que ser de, no mínimo, R$ 8,00, um valor inviável para as pessoas que utilizam o trans-porte coletivo. Essa informação procede? Quais os grandes im-passes encontrados no projeto de implantação do VLT?

Essa questão da tarifa não é verdadeira, pelo menos não é compatível com a proposta que foi apresentada à Prefeitura de Santos e à CET. Na proposta, a tarifa não ultrapassaria a que já é praticada hoje dentro do Mu-nicípio, no caso, R$2,65. O valor dessa tarifa só aumentaria caso o usuário fosse sair do Município de Santos, sofrendo um acrés-cimo que não seria superior ao valor da tarifa intermunicipal já praticada. A grande van-tagem seria a interligação, ou seja, pagando um único valor o

usuário poderia pegar uma linha de ônibus e, em seguida, o VLT, ou vice-versa. Talvez, tal qual foi licitado pela primeira vez, o projeto do VLT não fosse muito atrativo, já que o trecho limita-va-se de São Vicente a Santos, parando na Avenida Conselheiro Nébias. Por isso, o novo edital de licitação contempla outras áreas de abrangência, envolvendo um número muito maior de pessoas e aproximando-se muito mais da ideia original do VLT de cobrir a Região Metropolitana.

Quais projetos a CET tem de-senvolvido pensando no pe-destre?

Nós temos o projeto Faixa Viva, uma campanha bastan-te recente que implantamos e que incentiva a prioridade da travessia do pedestre na faixa. Outra campanha que temos se chama Vovô Mostra Sua Maturidade no Trânsito e é direcionada ao pedestre idoso. Inclusive, o tempo dos semáforos de pedestres aqui em Santos é o maior do Esta-do de São Paulo, justamente levando em consideração o fato de que a cidade possui muitos pedestres idosos. Além disso, temos feito a repintura de muitas faixas.

Qual é o perfil do pedes-tre de Santos?

O pedestre não é tão desa-tento quanto o condutor, em-bora muita gente seja pedes-tre e condutor. O que eu vejo é que muitos pedestres têm preguiça, não querem ter o trabalho de se deslocar dez metros a mais para atraves-

sar na faixa. Quando pegamos nosso relatório de acidentes, ve-mos que muitos aconteceram a menos de dez metros de uma faixa de pedestre, algumas até semaforizadas. Não são 300 me-tros como acontece em algumas cidades; são dez, vinte metros!

O secretário de Assuntos Por-tuários de Santos, Sérgio Aqui-no, disse em entrevista ao Pri-meira Impressão que o excesso de caminhões no Porto em de-terminados dias e horários, transtorno que acontece por-que as empresas enviam seus caminhões na mesma hora, sem qualquer agendamento, acaba afetando bastante o trânsito na Cidade. Há algum projeto da CET para melhorar essa situação?

Santos é uma cidade portuá-ria, por isso é importante ser pen-sada essa questão do caminhão no nosso Município. É preciso tra-çar um planejamento de forma que o trânsito de caminhões não passe na parte urbana, além de providenciar um pátio adequado onde os caminhoneiros possam esperar para descarregar, extin-guindo as filas que se criam na malha viária. Há uma propos-ta que restringe o acesso à área urbana de caminhões acima de dois eixos. Outra proposta trata da informatização das empresas do Porto, no que se refere ao agendamento dos caminhões. Mas, por enquanto, são apenas propostas, que dependem in-clusive de verba do Estado para serem concretizadas. No entanto, segundo o Código de Trânsito, se a CET identifica alguma empre-sa causando transtornos nas vias, ela tem o poder de intervir e au-tuar essa empresa.

LuCAS SHIOMI

Luciane: “ Alguns pedestres têm preguiça, não querem ter o trabalho de se

deslocar dez metros a mais para atravessar na faixa”

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Edição e diagramação: Manuella Tavares PRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 21

Multas mais aplicadas: excesso de velocidade e sinal vermelho

Willian Guerra Provavelmente o leitor co-

nhece alguém que já recebeu alguma multa de trânsito. Não importa qual a infração, ao recebê-la a reação do mo-torista é tentar verificar se re-almente cometeu a infração que acaba de chegar à sua casa. Daí em diante, o infrator pode tomar vários caminhos, mas na maioria das vezes não vai obter êxito.

No ano passado, apenas no estado de São Paulo, foram feitas 744 mil autuações, um aumento de 8% em relação a 2009. Entre os órgãos que po-dem multar o veículo estão o Comando de Policiamento de Trânsito (CPTRAN). Em 2010, das infrações cometidas, 100 mil partiram deste segmento. Os demais policiais são os res-ponsáveis pelas multas diá-rias.

Embriaguez e mau estado dos equipamentos que com-põem o veículo são algumas das multas aplicadas pela CP-TRAN. Outro órgão que pune os motoristas é a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Por meio de suas câme-ras de vigilância, pune moto-ristas que passam no sinal ver-melho, ultrapassam o limite de velocidade, entre outras infra-ções.

Segundo a CET, as multas mais aplicadas no trânsito são por excesso de velocidade e ul-

Motoristas tentam recorrer usando muitas vezes argumentos forjados

trapassar o sinal vermelho. Difi-cilmente o motorista que sofrer essas penalidades conseguirá reverter a situação. O Primeira Impressão saiu às ruas de San-tos e de São Vicente para per-guntar aos motoristas como eles já foram multados.

O dono de um Toyota Co-rolla, prata, que não quis se identificar, contou o que acon-teceu com ele e como conseguiu se livrar da multa. “Eu estava no motel quando, dias depois, recebi uma multa em casa por excesso de velocidade.” Nesse caso, ele levou o comprovante do motel até ao posto da Polí-cia Militar e conseguiu anular a infração.

Luciana Santos, de 43 anos, não teve a mesma sorte. A fun-cionária pública já foi pega quatro vezes pelo indevido uso de celular no trânsito. “Eu sou distraída. Sei que estou errada e por isso nem recorri da multa. Agora tenho que me prevenir, pois mais uma multa eu terei minha carta cassada”, conta.

Distração é o perigo de to-dos os motoristas. Marcio Silva, jornalista de 36 anos, foi multa-do por estacionar em lugar im-próprio. Ele parou o carro em um lugar onde o cartão de es-tacionamento estava vencido. A CET mandou guinchar o seu veículo.

O cinegrafista Rômulo Mello, de 28 anos, também já sofreu multas no trânsito. A primeira foi porque o passageiro que ele

transportava na moto estava sem capacete, o que resultou em sete pontos a menos na car-teira de habilitação. A outra foi por excesso de velocidade na Avenida Presidente Wilson, em São Vicente. “Era de madruga-da e pensei que os radares já estavam desligados, foi aí que me pegaram.”

Mello conta ainda que sofreu outra multa. Ele estava diri-gindo uma motocicleta. Nesse caso, porém, ele conseguiu re-passar a infração para um co-lega: “Um amigo meu assumiu a multa. Fomos ao Ciretran de São Vicente e consegui repassar os pontos perdidos para cartei-ra de habilitação dele”.

Já o caso do condutor de es-cuna Wilson Roberto Rodriguez Gonzales Júnior está em anda-mento. Ele mora em Ubatuba e veio até Santos para conhe-cer a filha que acabara de nas-cer. Sofreu duas multas em três dias. O motivo da primeira foi por ter estacionado sua moto em local impróprio. “Eu não ti-nha visto a sinalização e quan-do cheguei vi que minha moto tinha sido multada”, diz.

Dois dias depois, em visita ao consultório do pai, no Gonzaga, estacionou a moto no corredor exclusivo para ônibus. “Eu estou fora da cidade há anos. Não sa-bia que tinha esse corredor ex-clusivo. Até tinha a sinalização, mas não a vi”, argumenta.

Segundo a Circunscrição Re-gional de Trânsito (Ciretran)

de Santos e São Vicente, as multas que mais chegam são: viseira do capacete levanta-da; falar ao telefone celular enquanto dirige; não fazer uso do cinto de segurança. A repor-tagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da CET para descobrir quais são as mul-tas mais distribuídas em Santos. Até o fechamento dessa edição não houve resposta.

Desculpas esfarrapaDasA Reportagem conversou

com os funcionários do Ciretran de Santos e de São Vicente, a fim de saber as justificativas que os infratores usam para recorrer das multas. Uma fun-cionária do Ciretran de São Vi-cente, que trabalha no local há mais de oito anos e não se iden-tificou, contou alguns casos.

Um desses casos foi uma multa pela falta do cinto de segurança. Mas ao recorrer a imagem o órgão verificou que o motorista estava com a ca-misa do clube Vasco da Gama. Para quem não sabe, o unifor-me do Vasco possui uma faixa transversal no peito.

Outro caso descoberto no Ci-retran de São Vicente foi de um problema envolvendo fone de ouvido. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, é proibido dirigir com esse acessório. Po-rém, que tal substituir o cordão do fone de ouvido pela corda de um óculos? Essa foi a ideia de um motorista que tentou re-correr, em vão, de sua multa.

BafômetroA lei seca foi criada com o

objetivo de diminuir o número de pessoas que bebem e, em seguida, dirigem algum tipo de veículo. O instrumento usado para tal, o bafômetro, mede o nível de álcool presente no corpo. Dessa maneira, o agen-te que aplica o teste detecta se você consumiu ou não alguma bebida alcoólica.

Mas para quem não sabe, não é só a cerveja, ou outra be-bida que aponta o alto índice de álcool no sangue. O refres-cante bucal também pode ser pego no bafômetro. “Eu tenho um amigo que foi pego porque usou Cepacol antes de dirigir. Ele tentou recorrer, mas não re-verteu a situação”, disse o jor-nalista Marcio Silva.

L.G. Rodrigues

As dificuldades enfrentadas pela

população da Baixada Santista

com o transporte pode resultar em

aumento da inflação na região, de

acordo com o professor e diretor

da Faculdade de Administração e

Ciências Contábeis da Universidade

Santa Cecília, Julio Simões Junior.Além de causar dor de cabeça,

estresse e poluir o ar da região, os engarrafamentos podem acabar dando prejuízos aos cofres públicos caso se agravem ainda mais. O professor chama a atenção para

Trânsito pode influenciar inflação na Baixadaos problemas de locomoção, que podem levar, por exemplo, empresas transportadoras a aumentar seus gastos com combustíveis e também a uma demora maior na execução das entregas, o que poderia ocasionar uma estagnação das mesmas e uma série de problemas que também afetaria outras empresas, causando um efeito dominó.

Além de questões inflacionárias, o trânsito pode ser grande inimigo da região caso venha a prejudicar a imagem das cidades da região devido à difícil mobilidade. “Poderemos atingir um nível perigoso de saturação, fazendo

com que as grandes empresas passem a procurar outros nichos em que seja possível expandir seus negócios”, diz Simões Junior.

A origem do problema, de acordo com o professor, está na crescente migração de habitantes que as cidades da região recebem anualmente. “Hoje, os prédios de apartamentos possuem mais de 20 andares e diversos apartamentos. Esse número é muito maior do que quando os prédios não ultrapassavam dez andares. Isso implicará mais pessoas morando na região, consumindo mais produtos, exigindo, portanto,

maior circulação de mercadorias. Sem falar no aumento da frota de automóveis particulares circulando ou estacionando em locais impróprios, prejudicando o fluxo em grandes avenidas”.

Quando perguntado sobre possíveis soluções, Simões Junior não se demonstra muito otimista e diz que é difícil frear tal situação, mas que é possível tirar proveito até mesmo desse tipo de problema. “A situação tem o seu lado positivo, um deles é a possibilidade de aumento no nível de empregabilidade de sua população”, finalizou.

Andar acima do limite da velocidade permitida

implica em multa e pontos na CNH

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Page 22: JORNAL-LABORATÓRIO DO QUARTO ANO DE JORNALISMO … · O trânsito e o transporte público na região só tendem a piorar. ... para que, dessa forma, haja uma tarifa justa a ser cobrada.

Edição e diagramação: Ivan De StefanoPRIMEIRA IMPRESSÃO • Maio de 2011 22

No caos diário do trânsito, alguns detalhes passam, muitas vezes, despercebidos aos olhos de motoristas, motociclistas e pedestres.Detalhes que se apresentam em placas de orientação; em motos que estacionam junto aos parachoques; em sinalizações e travessias para transeuntes.Tudo isso é básico para uma convivência civilizada no complicado trânsito santista, que não pode se transformar em uma guerra, como sugere a última foto deste ensaio.

CARINA SELES

IVAN DE STEFANOMARIANA BEDA

IVAN DE STEFANO

CARINA SELES

MARIANA BEDAMARIANA BEDA CARINA SELES