Jornal Nosso Tempo

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www.jornalnossotempo.com.br Ano VI :: Número 45 :: Outubro :: 2012 JOVENS Editoras cristãs investem em livros para meninas e conquistam este segmento Página 8 Veículo ainda é o preferido de muitos comunicadores para a difusão do Evangelho Página 20 MARCOS BONTEMPO Diretor Editorial da revis- ta Ultimato fala sobre o mercado literário cristão e o futuro da mídia im- pressa com o boom das mídias digitais Páginas 12 e 13 TELEVANGELISMO Lideranças evangélicas e especialistas discutem decreto governamental que visa à proibição de aluguel de horários nas rádios e TVs para exibição de programas religiosos Página 14 VITRINE Entre as novidades do mês das crianças está o DVD As Aventuras da Doce Turminha, da Comev Página 28 2,00 Promoção 90 ANOS DO RÁDIO Conheça a trajetória de Durvalina Bezerra e uma paixão singular por missões Página 6 MULHER Cresce o número de jovens descompromissados com a igreja local Página 8 SEM-IGREJA O termo “avivamento” soa tão familiar que é difícil ver alguém se questionar sobre o que ele, de fato, significa. Mas o que é avivamento na prática e por que se faz necessário na vida cristã? Será que sabemos o que pedimos e as consequências de um mover do Espírito Santo na igreja brasileira e na sociedade? Páginas 18 e 19 "AVIVA-NOS!": A IGREJA ENTENDE O QUE CLAMA?

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Entrevista com Marcos Bontempo para o Jornal Nosso Tempo

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Page 1: Jornal Nosso Tempo

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JovensEditoras cristãs investem em livros para meninas e conquistam este segmento

Página 8

Veículo ainda é o preferido de muitos comunicadores para a difusão do Evangelho

Página 20

Marcos BonteMPo

Diretor Editorial da revis-ta Ultimato fala sobre o mercado literário cristão e o futuro da mídia im-pressa com o boom das mídias digitais

Páginas 12 e 13

televangelisMo Lideranças evangélicas e especialistas discutem decreto governamental que visa à proibição de aluguel de horários nas rádios e TVs para exibição de programas religiosos

Página 14

vitrineEntre as novidades do mês das crianças está o DVD As Aventuras da Doce Turminha, da Comev

Página 28

2,00Promoção

90 anos do rádio

Conheça a trajetória de Durvalina Bezerra e uma paixão singular por missões

Página 6

MUlHerCresce o número de jovens descompromissados com a igreja local

Página 8

seM-igreJa

o termo “avivamento” soa tão familiar que é difícil ver alguém se questionar

sobre o que ele, de fato, significa. Mas o que é avivamento na prática e por que se faz necessário na vida cristã? será que sabemos o que pedimos e as consequências de um mover do espírito santo

na igreja brasileira e na sociedade?

Páginas 18 e 19

"aviva-nos!": a igreJa entende

o qUe claMa?

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feita em computador, em seguida o que era preto e branco ganha cores, enfim o primeiro livro (até 1992 pu-blicávamos apenas a revista). Nos úl-timos doze anos, a comemoração da primeira venda na internet em 2001, depois a ampliação do portal e por último o lançamento dos primeiros e-books. Pouco mais de 25 anos que passaram voando. Não sem dor, mas com muita misericórdia e Graça.

JNT: Em sua visão, qual é o futuro da mídia impressa e do con-vívio desta com a mídia eletrônica?

MB: Vou correr o risco de simplifi-car. Se a referência é à grande indús-tria editorial, “eu vejo grana, eu vejo dor”, como diria Cazuza. E isso não diz respeito apenas ao futuro. A compra e venda de editoras, o fechamento de jornais e revistas e o desaparecimento de livrarias não me deixam mentir. Mas também existem boas notícias e, uma delas, é a adaptação e a criação de conteúdos específicos para cada mídia. Aliás, Ultimato acaba de lançar o primeiro devocionário digital do país. São 365 meditações diárias (nos-so lançamento para 2013), agora em formato digital (e-book). Bem, talvez o problema maior seja a convivência entre os velhos e novos usuários. Aí, não sou tão otimista. Enfim, não faço distinção entre o futuro do livro e o livro do futuro. O nosso negócio não é papel, mas conteúdo. E, para o leitor, é isso que importa. Ao mesmo tempo, é preciso não cair na tentação de imaginar uma multiplicação de leitores com a chegada dos tablets, smartphones e outros penduricalhos.

Um dos grandes dilemas da comunicação contemporânea diz respeito à sobrevivência ou não da mídia impressa frente à mídia eletrônica. Sobre esse e outros as-suntos relacionados ao mercado editorial cristão e ao perfil da igreja evangélica brasileira, o diretor edi-torial da revista Ultimato, Marcos Bontempo, falou com profundida-de e bom-humor ao Jornal Nosso Tempo. Como de praxe, esse espa-ço é reservado para a apresentação do nosso entrevistado. Mas deixe-mos que ele mesmo se apresente, explicando como um engenheiro agrônomo foi se aventurar no mundo dos livros e se apaixonar pelo que faz.

Sou casado com Gínia César Bontempo, pai do André (19) e da Clara (17). Minha formação: enge-nheiro agrônomo, com mestrado em economia. Aos 17 anos queria muito fazer a vontade de Deus e, naquela época, “servir a Deus” sig-nificava “ir para o seminário”. Mas, eu não queria ser pastor. E, por isso, fui para a universidade. O primeiro livro que comprei na universidade foi um dicionário Aurélio, de quase 5 quilos, em 1981. Depois disso descobri que gostava de livros, não necessariamente do meu curso. E, pode parecer estranho, foi na universidade, lendo C. S. Lewis, John Stott e, especialmente, Francis Schaeffer, que aprendi que Deus chama pessoas e não exatamente “pastores”, “engenheiros”, “médi-cos” etc. Daí para a Ultimato foi um pulo, passando pelo namoro, noivado e casamento. Bem, a hu-manidade não perdeu um grande engenheiro...

JNT: Como foi o início da sua carreira como editor e a trajetória percorrida até assumir a direção editorial da Ultimato?

MB: Bem, eu diria que fiz uma carreira ligeiramente diferente do que se costuma ouvir. Comecei na posição mais alta da empresa, como genro do dono... E, depois disso, como a própria gravidade se impõe, não havia outra opção a não ser uma trajetória descendente (risos). Uma rápida “linha do tem-po” começa com o past up, depois, a publicação da primeira revista

giuliana azevedo e orli [email protected]

A mídia eletrônica não faz milagres. Ela não transforma não leitores em leitores — especialmente no Brasil, onde o sonho do primeiro tablet não está ligado, necessariamente, à leitura de um livro. Na minha opi-nião, a “briga” não é entre impresso e eletrônico, mas entre eletrônico e eletrônico, ou seja, entre livro digital e videogame, jogos, entretenimento, entre otras cositas.

JNT: Qual é a situação da im-prensa evangélica hoje em termos de relevância para a comunidade cristã e, talvez, até para o meio não cristão?

MB: Não sei exatamente o que seria a “imprensa evangélica”. Muito do que tenho visto não é nem uma coisa, nem outra (nem “imprensa”, nem “evangélica”). No entanto, exis-tem muitos exemplos interessantes de jornais e revistas, confessionais ou não (tanto impressos como na

entrevista

A “briga” não é entre impresso e eletrônico, mas

entre eletrônico e eletrônico, ou seja, entre livro digital e videogame, jogos, entretenimento

Marcos Bontempo: “trabalhar para que o ‘livro vendido’ seja também ‘livro lido’ é um desafio enorme”

Para Bontempo, mais importante do que o formato do livro é o conteúdo oferecido

internet), que alcançam pequenos ni-chos e fazem um trabalho relevante, de qualidade. Fora disso, é panfleto.

JNT: Como o senhor avalia a produção editorial evangélica de 10 ou 20 anos atrás e a de hoje?

MB: Tanto no passado como hoje há muita coisa boa e muita coisa ruim. A diferença é que agora é mais difícil separar uma coisa da outra. Quando as tendências, a pressão pela novidade e a data de validade do livro passam a ser regras, a qua-lidade se torna um detalhe pouco importante. Nos anos 80, Samuel Escobar, um dos principais teólogos protestantes latino-americanos do século 20, dizia que, no passado, quando você queria um bom livro de teologia, bastava procurar uma livraria evangélica. Se o interesse era por badulaques “religiosos”, era fácil encontrar na livraria católica mais próxima. “Hoje” — dizia Escobar —

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As editoras têm sua parcela de culpa, segundo Bontempo, no processo encabeçado por algumas igrejas em distorcer a verdadeira proposta das Escolas Dominicais

as coisas se inverteram. Talvez a frase faça pouco sentido nos nossos dias, mas não porque trocamos de lugar com os católicos, mas porque estamos todos muito parecidos e eventualmente perdemos a mensa-gem, a identidade. É verdade que a produção aumentou muito — o que é ótimo —, mas falta o que se pode chamar de “curadores” de conteúdo. Quando isso acontece, o mercado, o Google, a lista de mais vendidos regem as nossas escolhas, tanto as dos leitores como as dos editores.

JNT: A Ultimato integra a Asso-ciação de Editores Cristãos (Asec), que reúne mais de 70 editoras em todo o Brasil. Quais são os maiores desafios do mercado editorial no Brasil, que vem crescendo, apesar da pouca tradição literária da sua população?

MB: Os desafios não são os mes-mos entre as diferentes editoras. Tal-vez, uma tarefa comum a todos nós não está ligada, necessariamente, a números. Bem, não tenho problemas com a quantidade ou com os núme-ros crescentes do meio evangélico, embora eles não me impressionem. Mas, trabalhar para que o “livro ven-dido” seja também “livro lido” é um desafio enorme, com implicações muito maiores do que as estatísticas mostram. Aliás, acho equivocada a afirmação de que o brasileiro lê

pouco. Prefiro dizer que poucos brasileiros leem, e isso torna o nosso papel mais relevante, não importa se uma editora vende 10 e outra, mil exemplares.

JNT: Como está o segmento de rede de livrarias e em que a Associação Nacional de Livrarias Evangélicas (Anle) tem contribuído para o soerguimento de um setor tão afetado pelas vendas diretas, das editoras, ao consumidor final?

MB: As livrarias têm feito um tra-balho quase heroico e os editores são meio devedores dos livreiros. Claro, temos dificuldades específicas e as brigas por preço e por espaço nas prateleiras são intermináveis. A Anle faz um trabalho importante na educa-ção e na sustentação do negócio dos livreiros. No entanto, é fácil perceber como muitas livrarias desapareceram ou se transformaram em papelaria, bazar ou loja nos quais o livro é só um detalhe. O que é uma boa notícia, em alguns casos e, em outros, nem tanto. Outra questão com a qual livreiros e editoras lidam diariamente é a compra direta. Trata-se de uma escolha do leitor e, muitas vezes, a única saída para as editoras. Enfim, se não há limites para a publicação de livros, como lemos em Eclesiastes, os metros quadrados das livrarias são limitados e, na maioria das vezes, não conseguem absorver tantos ca-

tálogos diferentes, especialmente de livros com pouco apelo popular.

JNT: Em sua visão como gestor, o que mudou no cenário comercial, com o surgimento das Feiras Lite-rárias Evangélicas?

MB: Depende da “feira”, depen-de da “literatura” e depende dos “evangélicos”. Pode parecer, mas não sou pessimista quanto às feiras. Os números da última Bienal Inter-nacional do Livro de São Paulo, em agosto, e da recente Expocristã 2012 são incontestáveis. Mas quero evitar generalização. Dou um exemplo: não faz muito tempo, participamos de uma feira evangélica em uma das principais cidades turísticas do país. Foram três ou quatro dias de lançamentos, palestras, entre outras coisas comuns às feiras. Durante o dia era possível ouvir uma ou outra mosca desavisada vagando entre os estandes pelo pavilhão de exposição. À noite, numa praça ao lado da feira, a multidão se contava aos milhares e “ia à loucura” com a celebridade gospel da hora. Ou seja, a feira, a lite-ratura e os evangélicos nem sempre combinam...

JNT: Em um período de prolife-ração de teologias e doutrinas das mais diversas, qual é a importância

da valorização do ensino sistemá-tico em nossas igrejas, por meio, por exemplo, das Escolas Bíblicas Dominicais?

MB: As igrejas têm um papel importantíssimo. Infelizmente, em muitas comunidades os cultos, a escola dominical (às vezes inexisten-te) e até os estudos bíblicos foram transformados em repetição de pa-lavras de ordem — bastante comuns nas igrejas neopentecostais — ou em leitura de receitas — comuns nas igrejas mais “modernas”, inclusive as históricas. E, nos dois casos, as editoras são cúmplices e até ali-mentam esse círculo nada virtuoso. No primeiro, as palavras “mágicas”, ou palavras de ordem, substituem o diálogo, a escuta, a reflexão. No segundo, a experiência (receita) de algum autor se torna uma espécie de mantra, de autoajuda para aque-la comunidade. O pastor ou profes-sor se torna quase um vendedor, daqueles que não sabem sobre o que estão falando. A igreja precisa romper (e é possível fazer isso) com o culto e o estudo sem a mediação bíblica. Parece um absurdo dizer isso, mas não é preciso andar muito para encontrar igrejas assim, sem consideração alguma com a tradi-ção bereana. É preciso recuperar o espaço para perguntas e respostas, para a exposição bíblica. Livros e revistas não faltam.

É verdade que a produção

aumentou muito... mas falta

o que se pode chamar de

“curadores” de conteúdo

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