Jornal O Académico nº2

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Diretor: Filipe Resende | Diretores-Adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade Nº 2 - Edição de novembro de 2012 Jornal Mensal www.oacademicogeral.wordpress.com A CRISE TEM 10 MILHÕES DE SOLUÇÕES Lara Duarte no Question à Trois Question à Trois pp. 9 Memórias Universitárias de Ana Paula Rias Opinião pp. 3 Literatura de Fabio Geda e cinema de Stanley Kubrick Culturismo pp. 10 DESTAQUE PÁGINA 6

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Caros Colegas, Aqui está a segunda edição d'O Académico! Boas Leituras Saudações Académicas A direção editorial d'O Académico

Transcript of Jornal O Académico nº2

Diretor: Filipe Resende | Diretores-Adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade Nº 2 - Edição de novembro de 2012 – Jornal Mensal

www.oacademicogeral.wordpress.com

A CRISE TEM 10 MILHÕES DE SOLUÇÕES

Lara Duarte no

Question à Trois

Question à Trois – pp. 9

Memórias

Universitárias de

Ana Paula Rias

Opinião – pp. 3

Literatura de Fabio

Geda e cinema de

Stanley Kubrick

Culturismo – pp. 10

DESTAQUE – PÁGINA 6

Edição de novembro

Editorial | 2

O impacto da primeira edição d’O Académico foi

razoavelmente bom. Muitos foram os parabéns

recebidos. A direção sentiu-se orgulhosa pelo

feedback tão positivo que recebeu. Mas a anterior

edição foi apenas a primeira! Por isso mesmo,

temos a plena noção que há muito a melhorar.

Ainda não existe uma estrutura fixa e esta

demora algum tempo a formar-se num jovem

jornal como O Académico.

Ficámos também satisfeitos por termos

recebido críticas construtivas, e aceitámos as

mesmas, para podermos melhorar.

Sentimos que muitos leram o jornal com

uma posição de um público leitor crítico, o que

para nós é excelente, porque “consideramos que a

existência de uma opinião pública informada,

ativa e interveniente é uma condição fundamental

da democracia e da dinâmica de uma sociedade

aberta.” (Livro de Estilo do Público)

Uma situação que nos causou algum

desconforto, foi dizerem-nos que achavam que

este jornal era “um grupo de amigos”. Queremos

esclarecer esse mal-entendido, porque o Jornal O

Académico não é grupo de amigos, é sim um

grupo de jovens universitários que está aberto a

toda a comunidade académica desta faculdade. O

jornal é de todos! Somos um médium totalmente

plural e largo para os tantos alunos da FCH.

Fazemos apelo a todos os alunos

interessados a escreverem para o jornal, a

juntarem-se a nós e a virem trabalhar connosco!

Outro aspeto que foi desenvolvido para esta

segunda edição foi a aposta no papel. No editorial

anterior dissemos que “consideramos que não faz

sentido nos dias de hoje um meio de

comunicação social ser um suporte em papel”,

mas perante o pedido de muitos alunos decidimos

fazer-lhes a vontade. Ouvimos o nosso público e

fizemos um esforço para termos nesta e nas

próximas edições termos um suporte impresso.

Falando agora em objetivos mais claros,

queremos apostar fortemente no site que foi

ativo, após a saída da primeira edição.

Consideramos que é um desperdício não

estarmos aproveitar um espaço com imenso

potencial. Queremos trabalhar num suporte

digital em constante atualização, de forma a

mantermos um público leitor fiel, que visse o

nosso site diariamente. Os artigos serão

publicitados no nosso Facebook e que serão

encaminhados para o site.

Apelamos mais uma vez a juntarem-se a

nós, a enviarem textos, sugestões, críticas, porque

entendemos que “as novas possibilidades técnicas

de informação implicam um jornalismo eficaz,

atrativo e imaginativo na sua permanente

comunicação com os leitores” (Livro de Estilo do

Público).

“A maior desgraça que pode acontecer a qualquer escrito que se publica, não é muitas pessoas

dizerem mal, é ninguém dizer nada."

Nicolas Boileau

Jornal O Académico – Edição de novembro

Diretor: Filipe Resende Diretores-Adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade

Redação: Dário Alexandre, José Paiva, Inês Correia, Susana Soares, Gonçalo Fonseca Opinião: Professora Ana Paula Rias

Este jornal cumpre as regras do novo acordo ortográfico

Contatos:

[email protected]

Jornal O Académico

3 | Opinião

Memórias Universitárias

Professora Ana Paula Rias

Eis um pedido irrecusável que me leva até

ao ano de 1973 e a um tempo agitado e tenso

em que a universidade era um dos espaços de

maior e mais visível contestação ao

marcelismo. Para um grupo escasso de pessoas,

a passagem do liceu para a faculdade suscitava

sentimentos contraditórios. Especialmente para

as raparigas.

Por um lado, funcionava como uma espécie

de ritual de entrada na fase adulta, por outro o

desconhecido e a sensação de que iríamos

franquear um universo novo, e sobre o qual

apenas tínhamos informações escassas e

dispersas, era algo assustador.

A primeira imagem que me ocorre da

Faculdade de Letras é material. Um edifício

gigantesco, anfiteatros e salas com dimensões

inimagináveis, com designações estranhas e

difíceis de interpretar e localizar. Caras

desconhecidas, professores distantes, um bar

onde os alunos se dirigiam com algum

acanhamento não fossem ser confrontados com

alguma prática desconhecida. As desilusões

eram muitas, porque vivíamos num ambiente

em que a ficção e a construção criativa se

sobrepunham à realidade. Os heróis não eram

atores de cinema, cantores da moda

ou estrelas pop. Prevalecia um

rígido código de conduta, não

explícito, mas que fora interiorizado

e que impunha regras de

comportamento que iam desde a

forma como nos vestíamos aos

gostos que devíamos perfilhar.

Nos grupos de esquerda, um dos

maiores anátemas era cair numa

dessas armadilhas que suscitava a

acusação de «pequeno-burgueses» o

que obrigava a uma disciplina

interior e a um autocontrole

permanentes. Em caso de dúvida, o melhor era

não arriscar. A autoridade no seio destas

comunidades impunha-se de uma forma natural,

ou seja, o líder era aquele que se destacava pela

superioridade intelectual, pelo acesso

privilegiado aos meios secretos e sigilosos

nunca claramente identificados, porque os

perigos eram múltiplos. Imaginavam-se

reuniões em caves ou locais improváveis onde

se tomavam decisões transcendentes para o

futuro e das quais os estudantes universitários

seriam veículo ou instrumento de divulgação.

Discutia-se a revolução mundial, o fim do

capitalismo, gizavam-se estratégias

completamente irrealistas, acrescente-se, e

depositavam-se as maiores esperanças no povo,

na classe trabalhadora, essa entidade mítica que

nenhum jovem conhecia ou fazia a mais

pequena ideia de quais eram as verdadeiras

aspirações. Mas esse pormenor era de somenos

importância, a realidade adaptava-se aos sonhos

de mudança e as pessoas só existiam enquanto

instrumento dos desejos traçados e na medida

em que os consubstanciavam. Questionavam-se

atitudes, havia dúvidas, partilhavam-se essas

dúvidas?

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Opinião | 4

Edição de novembro

Marcello Caetano com jovens

Normalmente não. Calavam-se as

interrogações, silenciavam-se as perguntas

porque eram atribuídas à ignorância ou à

impreparação. Quem não se ligava de forma

mais orgânica às estruturas partidárias

clandestinas acabava por olhar à sua volta com

um olhar crítico mas, a maior parte das vezes,

não interferia. Na universidade, os colegas que

entravam pelas salas de aula distribuindo

panfletos, perante a passividade dos

professores, eram olhados com um misto de

incredulidade ou de indiferença. De uma forma

mais ou menos intensa, tínhamos consciência

de que fazíamos parte de um sistema em que

éramos apenas números, meros instrumentos,

quer para os colegas mais ativos e organizados

que queriam o nosso apoio para confrontar o

poder académico, quer para o lado do poder a

quem interessava a nossa adesão. A maioria

como se comportava neste microcosmos tão

peculiar?

A memória prega muitas partidas e não raro

tendemos a reconstruí-la, mas a ideia mais

nítida que persiste é a de que não havia grande

reação ou pelo menos ela estava longe de ser

expressiva e representativa, em termos

numéricos.

A verdade, ou pelo menos aquela verdade de

que me lembro, diz-me que a população

estudantil não se manifestava em relação à

reforma Veiga Simão e a mobilização quando

acontecia era resultado de situações objetivas: o

regime de frequências, os exames, os

calendários das avaliações ou as atitudes de

prepotência de determinados docentes.

Posso sistematizar algumas hipóteses

explicativas. A maioria dos estudantes, porque

pertencia às classes altas ou médias-altas,

adotava uma de duas atitudes, ou integrava o

núcleo das minorias ativas e buliçosas ou

optava pela atitude mais simples, a de não

interferir, a de não se questionar, enfim a de

continuar o status quo, sem ter que tomar

posição.

Outro grupo, o das classes médias ou até

médias-baixas, que tinha acedido à faculdade

com enorme esforço por parte das suas famílias

e que estava habituado a acatar a autoridade

sem a contestar ou, pior, sem sequer admitir

essa possibilidade também não se espera que

intervenha. O clima criado também estava

longe de favorecer uma aproximação ou uma

identificação com uma causa, com uma

ideologia, com uma política. De facto, a

faculdade com o aparato policial, com o clima

de medo anunciado e experimentado, com os

boatos a circularem, com os estudantes das

associações a moverem-se de forma que podia

tornar-se quase intimidante não constituía

propriamente um meio em que as pessoas se

sentissem integradas. Como é que

se reage? Por certo engrossando a

maioria silenciosa.

Marcello Caetano e os jovens

Jornal O Académico

5 | Opinião

Haja calma

Afonso Sousa

Sim, o mundo continua atarefado como

de costume. Barack Obama foi reeleito, na

China há novo presidente e na Síria ainda

ninguém bateu com a mão na mesa. Por mais

que acreditemos nas tremendas capacidades do

efeito borboleta, cá entre nós, nada mudou: a

Eurest ainda serve pêssego em calda para as

massas e no Facebook, o grupo das beldades

FCH ainda existe. Enquanto o mundo se

entretém a tomar decisões importantes, as

verdadeiras decisões continuam por resolver.

Falta já pouco para darmos por concluída

aquela que antevíamos, há uns anos atrás, como

a última das etapas. Isto porque, se calhar

convém relembrar, daqui a uns meses alguns de

nós serão já senhores doutores. Estamos afinal

naquela fase da vida onde já nos imaginávamos

de bigode, camisa e mocassim calçado. Para o

bem e para o mal, não é bem isso que vemos.

Para o bem, isto significa que somos

ainda muito novos. 20 anos de idade não é

nada. Ainda há dez nem sabíamos quem

éramos. Aliás, será que hoje sabemos? Tudo

bem que queremos ser alguém, ganhar algum

do nosso para poder fazer o que se quer, ter

casa, carro, filhos e netos. Poupemos uns trocos

e embarquemos antes numa epopeia camoniana.

Tipo ir um mês para uma tenda nos Himalaias.

Ou então, fiquemo-nos pelo mestrado. Como

fazia o Jardel, um passo atrás antes do

cabeceamento certeiro.

Para o mal, apesar de há tanto

esperarmos este momento de emancipação e de

até acharmos que estamos prontos para o

enfrentar, o tal mundo ocupou-se de nos

desenhar um futuro que não existe para além de

um palmo à nossa frente.

Mais do que qualquer uma das decisões

mais importantes que o mundo anda a tomar,

outra decisão importa ainda mais. Os próximos

debates serão decisivos e mais ou menos por

instinto lá iremos tentando ver o que chove para

o nosso lado. Nunca ninguém nos disse que

seria fácil, mas pode ser que não seja assim tão

difícil que um dia alguém decida oferecer-nos

um bom emprego. Até lá, haja calma.

© Medford Taylor/National Geographic

Society/Corbis

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Destaque | 6

Edição de novembro

A crise tem 10 milhões de soluções

Raquel Trindade com a ajuda de António Diniz Lucas

O desemprego aumentou no passado

trimestre para um pico histórico. A greve

geral da passada semana contou com

confrontos violentos e vandalismo,

afirmando o tom de descontentamento e

desagrado vivido pelos portugueses. Na

iminência de obtermos a licenciatura, o que

nos rege perante o panorama negro que os

media ecoam?

O número de desempregados, em

Portugal, ultrapassou os 870 mil no último

trimestre, deslocando a taxa de desemprego

para uns gritantes 15,8%, segundo dados

divulgados pelo INE no passado dia 14 de

Novembro. Os números observados atingem

níveis absolutamente históricos, num

contexto de subidas da taxa de desemprego

em Portugal desde 2008, altura em que se

situava nos 7,3 por cento, o equivalente a

cerca de 410 mil desempregados.

Solução #1

Ao contrário das gerações anteriores,

João César das Neves, economista e

professor catedrático na Universidade

Católica Portuguesa, confirma que os jovens

estão muito bem preparados. “Uma geração

que começa uma carreira a pensar que vai

ser tudo fácil não está preparada”, conta‐nos

acerca da geração anterior que diz ter sido

enganada.

Desde 1999 que o processo de Bolonha

decorre oficialmente, com a Declaração de

Bolonha em Junho desse ano. Esta

revolução no ensino europeu promoveu um

reconhecimento académico entre os países

membros e mobilidade, entre outras

vantagens. Mas com o sistema assente em

ciclos, assistimos a um primeiro ciclo curto

e pouco eficaz na construção de pilares e

estruturas de ação de uma dada área ou

profissão. Criaram‐se mais especificidades,

oportunidades mais vastas, mas como

consequência observa‐se uma saturação

geral.

A par da saturação geral, do desemprego,

vive-se uma situação económica frágil. “O

presente é instável e vai‐se manter instável.

A solução passa por esquecer o problema

global em que toda a gente está projetado

e olhar para o problema real. Fechem o

jornal e abram o correio. Fechem a

televisão e abram a janela, quero dizer,

olhem para a realidade”, explica César das

Neves. A crise criou uma consciência da

necessidade de se estar envolvido nos

assuntos de Estado, conhecer as políticas e

os políticos que nos guiam. E essa maior

consciência, ou vontade dela, começa a

trazer à luz do dia uma verdade

inconveniente. E perante a dificuldade

adjacente a essa verdade reage‐se. ”Há duas

reações: a reação de protestar, irritar,

destruir, rebentar ou a de esforçar‐se,

ajustar, emigrar – mudar. Estou convencido

que a maior parte da geração está a fazer

o que deve fazer. Estamos a ter sinais de

7 | Destaque

Jornal O Académico

mudança. Dentro de uns meses espero que

comecem as notícias a inverter”, continua.

João César das Neves

Portugal começa a dar os primeiros

passos para uma mudança, nem que seja

pela vontade de mudar. César das Neves

reconhece que temos algo diferente

correr‐nos nas veias. Talvez irreverência,

inconformismo. “Portugal mostrou nos

últimos meses que tem uma atitude

diferente de outros casos. É muito mais

difícil ser‐se otimista na Grécia”, confirma.

E é de atitude que Portugal precisa.

.

Solução #2

A mesma mensagem de esperança é

defendida por Miguel Gonçalves. Este jovem

tem vindo a fazer ecoar o seu discurso positivo

e empreendedor através dos media. As

conferências globais TED deram-no a conhecer,

“é um criativo com imaginação infantil que ao

longo dos últimos anos tem vindo a transformar

ideias em projetos fora-do-cubo”, como se pode

ler na página da organização que fundou.

Pretende revolucionar o canal de

comunicação entre quem procura e quem

oferece emprego. Afirma que as empresas já

não são sensíveis a licenciaturas mas sim ao

produto que cada um representa. “CV é spam”,

diz em tom provocador durante a sua palestra

para a conferência TED. Explica que quem

detém uma empresa não quer ler páginas de

currículos no seu smartphone ou ler as centenas

de e-mails que recebe com esse anexo, e por

isso currículos são vistos como spam. É preciso

destaque, diferença, originalidade. No fundo,

saber vender o nosso produto. As empresas não

oferecem emprego, compram trabalho. E para

isso é necessário conhecermos que produto

somos e como o vamos vender.

Apregoa a psicologia positiva, defende que a

garra e a energia devem ser os motores da

sociedade. Para os licenciados à procura de

emprego, dá o conselho de venderem o seu

produto, conhecerem-se. As empresas, explica,

não querem licenciaturas, querem quem faça,

quem cumpra, quem resolva problemas. E isso

não se garante apenas com uma licenciatura.

Quanto à espera de uma resposta positiva

por empregadores, diz que se não há resposta

depois de algumas semanas de tentativas, é

porque não está a resultar. Conta ter ouvido

numa manifestação, coberta por um canal

televisivo, uma rapariga nos seus trinta anos a

queixar-se do mercado de trabalho por sete anos

de insistência na procura de emprego na sua

área. Miguel Gonçalves brinca “sete anos? E

ainda não percebeu?”, mostrando que a área de

cada um é “o que me aquece o coração, o que

me dá energia, o que nasci para fazer. Não se

define por uma licenciatura”.

Esperança versus Otimismo

“Esperança é exatamente o que nos vai

fazer mudar. E esperança não é otimismo.

Otimismo é achar que as coisas correm

bem. E isso ninguém pode garantir. A

esperança é: mesmo que as coisas

corram mal elas têm sentido. Mesmo que

corram mal eu consigo viver e ser eu.

Mesmo que corram mal eu posso-me

afirmar com a minha dignidade. E isso é

que é esperança. Ter a certeza que por

cima dos acontecimentos bons ou maus

da vida há uma coisa maior, há um valor

superior que me guia”, resume João

César das Neves.

Destaque | 8

Edição de novembro

Este discurso é uma crítica à inércia. A

realidade alterou o panorama das qualificações

académicas, sendo preciso algo mais. Outra

capacidade de diferenciação, saber “procurar

gatos pretos em quartos pretos, onde não há

gatos pretos… E encontrá-los!” (conta Miguel

Gonçalves, no início da sua palestra em Braga).

Solução #3

Manuel Santos (nome fictício) é padre. Tem

61 anos, mas é padre apenas há quatro. Foi

administrador de empresas e trabalhava mais de

doze horas por dia. Tinha motorista e três a

quatro salários extra, para além dos catorze

contratuais. “Procurava sucesso empresarial,

vida feita de acordo com os "apetites" de cada

dia; dinheiro, carros de luxo, viagens, sucesso e

reconhecimento social”. Mas “quanto mais

tinha e conseguia mais faltava para a paz

interior”. Teve crises cíclicas de ansiedade. O

sintoma era “querer sempre mais e ser sempre

pouco”. Vivia insatisfeito.

No topo da sua carreira, e com todas as

recompensas que o seu trabalho lhe dava,

deixou tudo. Foi para padre. Foi um processo

difícil, “até ao dia que deixei de negar e de me

negar; até ao dia em que identifiquei o que me

faltava, o que tinha andado a negar, que tinha

recebido e aceite por modelo e caminho: a

imagem de S. José com o "menino" [Jesus]

pela mão”.

Reconhece hoje uma gratificação que o

preenche por inteiro. “A alegria de poder

participar na e da vida do outro, de me dar sem

limites ao outro”. Algo que não reconhece na

maioria dos jovens de hoje. “Alguns [jovens

não procuram] nada; outros pouco; muito

poucos [procuram] encontrar um compromisso

verdadeiro para a vida. Para alguns não há

valores, para outros há os seus valores, para

muito poucos os seus valores são os do bem

comum”. Manuel Santos concorda com a crise

de valores apontada à sociedade de hoje, mais

visível nos jovens que vêem no presente o

momento de escolhas mais definidoras.

Quanto ao futuro dos jovens, diz que esta

crise económica “causa [traumas] porque se

deixam absorver pelos valores da sociedade

atual em vez de admitirem os seus valores”.

Falta um “encontro consigo mesmos e com o

outro, ainda que seja um TU que na liberdade

os torne dependentes, porque esse TU é amor, é

o encontro com o tal S. José que os leve pela

mão”, referenciado o momento em que

encontrou o seu caminho. Perante uma vida de

sucesso financeiro, reconhecimento social,

Manuel Santos deixou tudo por uma entrega ao

próximo. Mas não reconhece nos jovens a

mesma vontade de encontrarem o seu próprio

caminho, tal como Miguel Gonçalves.

Solução #4

A última, e primeira solução, és tu.“A crise

não tem uma solução, a crise tem 10 milhões de

soluções, cada uma a tentar melhorar a sua”,

João César das Neves.

Miguel Gonçalves na sua palestra em Braga

Miguel Gonçalves na sua palestra em Braga

9 | Question à Trois

Jornal O Académico

Quem a “teve” não a esquece. Quem a conhece não lhe é

indiferente. Já foi vossa professora? Minha já foi. E gostei

muito. Falo-vos da Professora Lara Duarte.

Diogo Lopes Com uma bagagem cheia de doutoramentos,

mestrados, licenciaturas entre outros (em áreas

como a Tradução (ISLA), Literatura Norte

Americana (FLUL), Estudos Anglísticos (FLUL),

por exemplo) a professora Lara não se cansa de

mostrar a todos os alunos que já lhe “passaram

pelas mãos”, de Comunicação Social ou LEA, o

mundo diferente que tantas vezes nos passa

despercebido por entre as teias do mundo de hoje.

Mas não se fica por aí: ao mesmo tempo que nos

aperfeiçoa o Inglês, é uma intérprete de renome.

Cobre todo o género de eventos mediáticos (de

cimeiras de G20 a plenários da Comissão

Europeia), sempre com a humildade e perspicácia

de quem nada teme. Da Suazilândia (país onde

nasceu) para o mundo, vamos ouvir a professora.

Prometemos que a lição é mais que interessante.

1. Qual a história mais caricata que já lhe

aconteceu no mundo da tradução?

Não me aconteceu a mim, mas a um colega em

Bruxelas. Um orador decidiu contar, muito

rapidamente, uma anedota intraduzível. O colega

teria tido, primeiro, que explicar todas as

referências culturais contidas na anedota para

poder transmitir a mensagem e não dispunha de

tempo suficiente para o fazer. Optou por outra

solução. O orador começou a contar a anedota e o

intérprete esperou que chegasse ao fim. Depois

disse: “The speaker has just told a joke. It is

impossible to translate. Please laugh”. Não há

nada pior do que um orador contar uma anedota e

a sala não reagir. Se todos falarem a mesma

língua, a culpa é do orador; se não, a culpa é

sempre do intérprete.

2. Quem foram as pessoas que mais e menos

gostou de conhecer nas vários ocasiões em que

serviu de intérprete? Porquê? É difícil escolher.

Lula da Silva? O jornalista Dexter Filkins? Há

pessoas mais conhecidas e outras menos

conhecidas… Por outro lado, não se chega

realmente a “conhecê-las”. No fundo, conhece-se

a persona, a máscara. Das primeiras, talvez

Barack Obama. Foi na cimeira do G20 em

Londres. Na noite anterior à plenária, pediram-me

que fosse para Nº 10 Downing Street interpretar

para Lula da Silva. Um privilégio. Quando o

Obama entra numa sala, percebe-se logo o enorme

respeito que todos sentem por ele. Ouve

atentamente e não procura o protagonismo. Trata

todos por igual: ao contrário de muitos, para ele,

todos têm direito a um sorriso e a uma palavra de

apreço. Interessa-se mesmo pelas pessoas e

procura sempre a via do diálogo. A experiência

foi muito engraçada desde o início. Cruzei-me

com Jamie Oliver num dos corredores, a caminho

da cozinha (foi ele que preparou o jantar dos

chefes de estado e de governo) e ele parou para

me cumprimentar, o que me deu logo vontade de

rir. Tratou-me como se já me conhecesse. Quando

penso por onde já passei, nas pessoas que conheci,

quase nem parece verdade… Quanto aos menos

conhecidos do grande público: Marina da Silva,

sem dúvida, e Mukhtaran Bibi. Ambas têm

histórias de vida extraordinárias. Como, aliás,

muitas outras pessoas que terão de permanecer

anónimas, para quem trabalhei em inquéritos

judicias, em audiências ou em missões ligadas à

temática dos direitos humanos.

3. Vê-se a algum dia regressar de vez à

Suazilândia, à sua África natal?

Never say never, no? (risos). Volto sempre que

posso. Eu costumo dizer que tenho os bolsos a

transbordar de pérolas, pequenas memórias que

transporto comigo para todo o lado, e que me

fazem sorrir quando não me apetece muito.

Nessas alturas, em vez de andar macambúzia,

sorumbática, cabisbaixa, tiro uma pérola do bolso

e recordo o que representa: as muitas razões que

tenho para sorrir.

Culturismo | 10

Edição de novembro

LITERATURA

No Mar há crocodilos de Fabio Geda

Susana Gil Soares

No mar há crocodilos é um dos últimos

livros de Fábio Geda, escritor italiano, que

decide contar a história verdadeira de

Enaiatollah Akbari. Enaiat, como é assim

chamado pela família e amigos, é um rapaz

afegão com cerca de dez anos – “e digo dez só

por dizer, pois não sei ao certo quando nasci,

não existe registo civil nem nada que se pareça

na província de Ghazni”.

Uma criança, Enaiat, vê-se confrontado

com a morte do pai num acidente automóvel

enquanto trabalhava e, como dever, logo que

tenha altura suficiente deverá substituir o pai,

como motorista de camiões. Assim saldará a

dívida da família pelos estragos provocados

pela morte do progenitor. A mãe, de etnia

hazara é considerada inferior no Afeganistão,

principalmente pelos taliban, e durante meses

decide esconde-lo.

“Durante todo aquele tempo passado em

Quetta a mamã conservou o rosto e o corpo

embrulhados numa burka; a burka que ela, na

nossa casa nunca usava. Eu nem sequer sabia

que ela tinha uma. Na fronteira, da primeira vez

a vi a envergá-la, perguntei-lhe porquê e ela

disse com um sorriso: é um jogo, Enaiat, mete-

te aqui debaixo.”

Mas Enaiat cresce e a mãe decide enviá-lo

para longe do seu Afeganistão natal. E aqui

começa a odisseia do jovem-criança. Com um

traficante de armas consegue que Enaiat fuja

para o Paquistão. No entanto, a mãe, dá-lhe três

conselhos que servirão de mote para toda a sua

vida: não roubar; não usar armas e não usar

drogas.

Inicia assim a fuga do jovem protagonista

que, através de vários países (Afeganistão,

Paquistão, Irão, Turquia e Grécia) o levará por

fim a Turim, Itália.

A história de Enaiatollah é uma história de

perseverança, de escravidão mas acima de tudo

de luta pela sobrevivência: trabalha como

criado no Paquistão, como vendedor ambulante

de doces, de operário no Irão e na Grécia – para

as construções dos Jogos Olímpicos.

Constrói amizades e deixa ao leitor uma

história emocionante de luta e empatia para

com este jovem que acolhe e se deixa acolher,

que trabalha e se deixa escravizar.

Edição Objectiva, tradução do italiano de

Vasco Gato, 15,90 €

11 | Culturismo

Jornal O Académico

CINEMA

Stanley Kubrick, poeta do grande ecrã

Inês Correia

Se há uma palavra para descrever as

obras-primas que são os filmes de Stanley

Kubrick, seria ela “perfeição”. Este fantástico

cineasta obcecado com os mais ínfimos

pormenores dos seus filmes deixou um legado

inigualável que ainda hoje continua a inspirar

realizadores e apreciadores de cinema por todo

o mundo. Provavelmente nenhum outro

realizador fez até à data filmes tão memoráveis

em tantos géneros diferentes, desde a ficção

científica de 2001: A Space Odyssey até à

comédia de Dr. Strangelove or: How I Learned

to Stop Worrying and Love the Bomb.

Forças opostas - era este o fio condutor

dos seus filmes e das suas personagens dotadas

de dualidade. Ódio e paixão. O bem e o mal.

Era com estes conflitos interiores que as suas

personagens lidavam com esta visão que

Kubrick possuía da própria vida: vivemos numa

constante disputa entre o bem e o mal que há

dentro de nós e do próprio universo pelo

controlo.

Ver um filme de Kubrick, é uma

experiência suprema. Envolvidos pela música

clássica tão propositadamente escolhida,

entramos convidados, nos seus planos

simétricos e cuidadosamente iluminados, rastos

do fotógrafo que Kubrick foi desde a sua

juventude. Levados pela realização imaculável,

chegamos ao fim e pensamos: Isto foi mais que

um filme- há sempre uma lição ou uma crítica

intrínseca. Kubrick sabia chocar e ter impacto.

E mais que isso, sabia apelar ao nosso lado

emocional e levar a uma reflexão.

Mas um filme sem falhas não é fácil de

obter e estes filmes demoravam anos de

exaustivas pesquisas e documentações a

preparar. Depois, Kubrick aplicava o mesmo

rigor no cenário e temos nisso o exemplo da

cena com mais takes da história do cinema, em

que Tom Cruise entra 90 vezes por uma porta

nas gravações de Eyes Wide Shut. Outro

exemplo seria o seu filme Barry Lyndon. Drama

de época do século 18 - altura em que não havia

electricidade - como tal, Kubrick recusava

filmar com luz artificial. A solução? Pedir

emprestada uma lente à NASA para conseguir

filmar com baixas condições de luminosidade,

mas sempre com luz natural. Com apenas 10

cópias, a Zeiss 50mm f/0.7 ficaria conhecida

como uma das maiores lentes da história da

fotografia.

Um visionário com um toque de

obsessão cuja melhor maneira de conhecer será

mesmo visualizando os seus fantásticos filmes.

Sugiro então para começar A Clockwork

Orange, Full Metal Jacket e The Shining.

Filmes que marcaram a história do cinema

dentro do seu género e que não vos vão deixar

indiferentes.

.

Crónica | 12

Edição de novembro

Diogo Lopes

Uma voz funda, rouca fala connosco. O

medo tenta rasgar as cortinas da superação que

baixamos por cada dia que passa. Precisamos de

nos encontrar com o silêncio da segurança que

nos embalará até aonde precisamos chegar. A

conclusão. Ao virar a página.

A vida segue em frente e nós sempre

presos ao que fica lá para trás... Mas há luz, lá

ao fundo. Cada vez mais forte. Cada vez mais

brilhante, quente. Sente-se o brilho dos seus

raios a abençoar o caminho que há por

percorrer. A voz vai-se calando. O passado. E o

dia começa a nascer.

O barulho de fundo da vida entra num

crescendo e acorda-te. Aos poucos. Os

pesadelos que estavas a ter são rasgados pelo

movimento das tuas pálpebras que se abrem.

Observas. Ouves. O quentinho da cama é a

sensação do começar de novo, da segunda

chance. E o dia está lindo lá fora. O céu abre- se

com a linha do teu olhar ainda ensonado, é

luminoso.

E, de repente, apercebes-te de que não

estás sozinho. Ao teu lado, na cama, escondida

entre os lençóis que te faziam sentir seguro, está

a tua vida. A versão pura da tua vida. A versão

boa. Sentes-te parvo por saber que enquanto te

deixavas submergir num mundo de ilusões

dolorosas, num sonho mau, algures na tua cama

estava aquilo que realmente te faz falta. Aquilo

que te assusta de tão colossal que é. Está o

amor.

Ele tem a forma de uma mulher, mas para

ti é uma estrela. Um pôr-do-sol. Ainda dorme o

sono dos justos, tranquilamente, sorrindo, como

que se estivesse a ver na sua cabeça as

felicidades que viram.

E os teus olhos ganham cor. Já não são

baços. As tuas pálpebras fazem ágeis

esparregatas para que nada do que estejas a ver

se perca. E sorris também. Tudo ganha um novo

sabor. Tudo parece melhor, mais definido, mais

vibrante. Há um paraíso para além daquilo a

que te tinhas habituado.

Depois de te aperceberes de tudo isto, de

te aperceberes que há realidades melhores que

qualquer sonho, vais à cozinha, preparas o

pequeno-almoço e dizes um sonoro bom dia à

vida que ainda está a começar.

© Tom Grill/Corbis

13 | (Des)focado

Jornal O Académico

13 | (Des)focado

"Darkness cannot drive out darkness; only light can do that. Hate cannot drive out hate; only love can do

that. Hate multiplies hate, violence multiplies violence"

Martin Luther King Jr.

Fotografia Por: Gonçalo Fonseca (500px.com/goncalofonseca)

Correio FCH | 14

Edição de novembro

Um lado menos mau

Crise. Crise é a palava de ordem nos dias

que correm. Todos os dias se ouve falar do

mesmo, de uma fase que assombra o nosso país,

que assusta os mais velhos e os mais novos que

não sabem como e quando é que vão conseguir

entrar num mercado de trabalho que, de dia

para dia, tende a diminuir. Mercearias,

restaurantes, lojas prontos a vestir fecham

todos os dias e o número de desempregados

cresce exponencialmente.

Contudo, não é sobre este lado obscuro que

vou falar. Pelo contrário. Considero que nos

dias que correm é fulcral conseguir manter um

pensamento positivo e ter a capacidade de

abstração do mau e um olhar mais atento para o

bom, ou então, "menos mau".

Acho que, apesar de tudo, ainda temos

coisas boas das quais tirar partido.

Primeiro, lembrem-se de um dia bonito,

lembrem-se do nosso céu. Lembrem-se daquele

azul limpo. Esse nem a crise nos rouba. Esse é

claro, fixo, nosso.

Reparem nas iniciativas que surgem a favor

de todos os que sofrem com os tempos difíceis.

Há uns domingos atrás estive numa feira em

Alcântara, o LX market. Esta feira compõe-se

apenas de artigos em segunda mão com marcas

conhecidas e preços acessíveis. O LX Factory

cede este espaço com um custo mínimo para dar

a oportunidade a toda a gente, mais velhos e

mais novos, de vender pertences aos quais já

não dão utilidade e importância. Roupa,

calçado, malas, artesanato, e afins. Artigos em

segunda mão para os pequenos e graúdos,

rapazes e raparigas.

Este é um dos muitos exemplos de

iniciativas que surgem com a crise. Como esta

há inúmeras mais. Ainda estamos por descobrir

o que é que vem ai. Entretanto é preciso viver.

Um dia de cada vez.

Naquele domingo o céu estava azul e eu

pensei "Nem tudo é mau".

Ana Bernardino, aluna de 3ºano de Comunicação Social

Apreciação d’O Académico

Por nenhuma razão em especial, e não

descurando a equipa, estava à espera de ler o

jornal e não passar da segunda página. Tinha a

ideia de que um jornal de faculdade não tinha

grande interesse e que era suposto ser assim,

porque era apenas algo amador. Afinal de

contas, o jornal da faculdade podia ter imenso

potencial a ser explorado, e houve quem

pusesse isso em prática. Há coisas que devem

ser faladas e dar que falar, porque o jornal é

para os alunos e, também, dos alunos - o que é

algo que às vezes uma pessoa tende a esquecer-

se. Ainda bem que se juntaram boas cabeças. A

equipa está de parabéns pelo resultado final e

pelo trabalho de divulgação. De resto, vai daqui

uma força para que o jornal cresça e para que

continuem sem papas na língua.

Catarina Maia, aluna de 3ºano de Comunicação

Social

Correio FCH

Envia também a tua carta (sobre o que quiseres) para [email protected] e vê-a publicada

15 | Edição Limitada

Jornal O Académico

Tame Impala

Afonso Sousa

Quando em 1966 os Beatles

editam Revolver e decidem desbravar pela

primeira vez a inaudita floresta da psicadelia,

longe estava o mundo de perceber que iria ser

aquele o habitat natural de tantos seres que no

futuro foram aparecendo. De uns The Cure,

passando por Flaming Lips, até a uns Animal

Collective, a mesma visão distorcida e

alucinada do mundo está toda lá.

Em muitas destas viagens revivalistas,

acontece um pouco como com a coca-cola:

depois de aberta a primeira vez, perde o gás e a

piada toda. No caso dos Tame Impala e

de Lonerism em concreto, o dito refrigerante

não só ainda tem gás, como também gelo e

limão, fazendo deste regresso ao passado uma

casa segura para toda a vida.

Se já seria fácil concordar com a afirmação

depois de Innerspeaker – rock psicadélico com

muita cor, muito trabalhado esculpido à mão, ao

detalhe, que brincava com guitarras e vozes

torcidas e distorcidas –, Lonerism consegue, no

meio de tanta brincadeira, parecer um irmão

mais velho que ainda gosta de brincar mas que

já ganhou algum juízo.

É definitivamente com Apocalypse

Dream que vemos a banda acordar na dimensão

que melhor define Lonerism. Tendo em si um

assumido espírito DIY, sem regra aparente,

vemos cada tema funcionar como uma caixinha

de surpresas, onde as canções perdem muito da

sua estrutura habitual. Tanto que, se estas

fossem uma peça de pintura, o resultado final

talvez acabasse numa coisa meio abstracta.

Em Mind Mischief, vemos o seu riff

sensualão de caminhar até ao refrão tardio e

com Parker a bradar aos céus “she remembers

my name!”. Todo este um sentido de liberdade

muito trabalhada, permite que Lonerism não se

perca e seja muito mais eficaz.

Elephant será o exemplo mais certeiro pela

forma como impõe algum respeito e lei, não em

nome do pai, do filho e do espírito santo mas

daquilo que mais se quer: em nome do groovy,

do punchy e do super catchy. Já Feels Like We

Only Go Backwardsbem como Sun’s Coming

Up, são apenas mais dois exemplos que nos

deixam a pensar se não haverá um John Lennon

escondido por todos os recantos de Lonerism.

Sabemos hoje que o trisavô Revolver iria

olhar para este descendente com a felicidade de

quem percebe que a sua mensagem ficou muito

bem entregue. Ainda assim, sabemos dizer com

clareza que o chão de Lonerism não é nem só

feito de Strawberry Fields, nem de Abbey

Road ou de Penny Lane. Felizmente, os Tame

Impala caminham numa estrada que é sua. E

isso é o mais importante.

Artigo escrito para Arte-Factos (arte-

factos.net)

Parte Para Rasgar| 16

Edição de novembro

Desarmonias

destes Últimos

Dias

João Tavares

Beleza é fundamental

A autoestima dos alunos da FCH andava

nas lonas, como se podia denotar pelos

reduzidos índices de pitas convencidas da nossa

praça (de acordo com um estudo estatístico de

Verónica Policarpo). Mas durante este mês, as

coisas mudaram, pois o tema dominante no

facebook relativamente à faculdade tem sido a

exaltação das beldades que nela existem. Tudo

começou com a polémica, o choque e o grande

"sururu" à volta duma página em que alguém

decidiu por fotos de miúdas giras. O centro da

controvérsia incidia sobre a identidade do autor

de tal obra, que segundo alguns, só podia ser

um tarado maníaco com instintos

sadomasoquistas!

Mas os rumores não inquietaram a

população por aí além, pois a procissão ainda ia

no adro. Com olho na gala que se irá realizar no

próximo dia 29, a AEFCH levou a cabo os

concursos de miss e mister bond católica (e

outros dois iguais, para caloiros). Estes

acirraram a competição entre os concorrentes,

despoletando autênticas campanhas eleitorais

com direito a arranjinhos tácticos, irritantes

ações de propaganda pelo chat do “face” e até a

um trailer que promovia uma candidata com

autêntica pompa hollywoodesca!

E daqui a muitos anos, quando tivermos

filhos numa faculdade, será ao recordar

momentos como este, que vamos querer que

eles antes estejam metidos na droga do que num

concurso de miss e mister.

O Terrorismo não é Todo Igual

Estava uma inocente mesa de mistura

sozinha na AE e quando foram ver dela, tinha

sido roubada! O aparelho pertencia a um colega

nosso e não era propriedade da Associação, mas

a Direção da AEFCH lá transmitiu o seu

comunicado dizendo que “Uma situação de

roubo num espaço que queremos considerar

uma "segunda casa" não só é vergonhoso como

intolerável”. E com razão, porque apesar de o

espaço pertencente a este órgão ser para alguns

uma segunda casa, as sucessivas administrações

do mesmo têm deixado bem claro que ele não é

a "casa do povo"!

Mas às tantas nem é razão para alarme,

senão vejam esta teoria: O ladrão pode apenas

tratar-se de um benfeitor que, tendo ouvido a

música que a malta da AE passa no bar, soube

também que eles agora iam ter uma mesa de

mistura pronta a usar e que podiam bem ir

passar Hard Techno feito por eles próprios nas

colunas da cantina, pelo que decidiu salvar-nos

a todos desse mal.

No fundo ele seria como um terrorista que

consegue entrar no território de uma grande

potência e desmantelar os seus planos de

desencadeamento do holocausto nuclear.

Os vencedores dos concursos terão a bezana paga

O ladrão gostava de ter roubado

esta... Mas não foi a que encontrou.

17 | Edição Limitada

Jornal O Académico

17 | Parte Para Rasgar

P’ra Compensar da Boleia

Exemplar a ação da PSP no passado dia 14,

ao garantir a segurança dos cidadãos em frente

à assembleia da república, numa excelente

exibição a fazer lembrar os tempos da "velha

senhora". Depois de partirem umas cabeças a

velhos e crianças (só para garantir a ordem e a

estabilidade), houve agentes que tiveram de ir

deixar alguns colegas ao Cais do Sodré, para

que estes voltassem a casa apanhando o ferry

para a Margem Sul. Acontece que os levaram

nos carros de serviço, e para justificar a

gasolina gasta (não fossem os superiores

controlar e não achar piada a tanta boleia)

detiveram mais uns 20 putos que para ali

andavam, e nem tinham estado no protesto.

Com um pouco de sorte, eles até tinham

acabado de comprar ganza e os senhores

polícias talvez tenham podido apreendê-la,

apanhando assim uma valente moca para

comemorar mais um dia glorioso de serviço à

nação!

Nota da Palma de Cima - José Paiva Esta semana como estou num estado (não

facebook) mais ou menos intelecto-espiritual

resolvi falar-vos de um dos lugares mais

culturais mas também mais secretamente

temíveis de qualquer país: as bibliotecas.

Tendo a nossa faculdade uma das maiores

que eu já vi, a Biblioteca João Paulo II, o que

significa que sou extremamente ignorante,

entendi que devia contar-vos a minha

experiência sobrenatural que tive na mesma,

sem incluir Aliens ou o sonho que tive em que o

José Castelo Branco era candidato a Câmara de

Sintra.

Esta semana entrei na gruta do Pai Natal, é

assim que eu lhe chamo (devido ao senhor que

está à porta se parecer com ele, e por possuir

um umbigo gigante de fora), e segui

determinado em encontrar alguns livros de que

precisava. Subi as escadas, e cheguei ao andar

onde eles estavam, pensava eu. Descobri, que

como não querem ficar para trás, as bibliotecas

agora possuem sistemas eletrónicos para

encontrar os livros, onde podemos ver a estante,

se já estão alugados, etc. Com tudo isto, fiquei

esperançado que iria sair dali passados 20

minutos, mas ao percorrer as primeiras

prateleiras, comecei a suar, a ficar nervoso e a

sentir uma ligeira vontade de gritar, coisa que

não podia fazer devido aos morcegos,

desculpem, alunos que estudam por ali e que

olham, com desdém, a quem executa manobras

que destabilizem a sua concentração.

Para azedar o rumo dos acontecimentos,

tive uma vontade súbita de ir ao WC, à qual não

pude corresponder, devido à missão impossível

de obter os livros. Cerca de 30 minutos após a

minha entrada naquele lugar, tiveram de chamar

o INEM, porque eu tinha desmaiado por stress

pós-bibliotecário.

Gostava, de na altura, ter convidado

Fernando Pessoa e Eça de Queirós para fazerem

uma maratona literária à procura das obras de

cada um. Fartavam-se logo e aposto que se

arrependiam de se terem tornado escritores. Eu

cá também estou farto de literatura, acho que

vou desanuviar para o WC, visto que no

hospital não tinham papel higiénico, e ainda não

fiz o que queria desde aquele acontecimento

traumático a que eu chamei "uma ida a

biblioteca”.

Biblioteca João Paulo II, a gruta do Pai Natal

Parte Para Rasgar| 18

Edição de novembro

FCH ilustrada

Jornal O Académico | Edição Nº 2 – Edição de Novembro

"Quando somos jovens, temos manhãs triunfantes."

Victor Hugo

Pesos e contrapesos

José Miguel Sardica

O professor José Miguel Sardica

será o novo diretor da FCH. Com a

saída de Isabel Capeloa Gil da

Direção para a Reitoria, o Professor

de História da Faculdade deverá

sucede-la após ter sido seu adjunto

no seu mandato enquanto diretora.

FCH GAG

A página no Facebook do FCH GAG

voltou em peso com bastantes

“memes” sarcásticos e irónicos. Já

se sentia falta desta página entre os

alunos da FCH.

Eurest

As filas no bar são cada vez

maiores, e a culpa disso mesmo é

da Eurest. A falta de funcionários no

Bar é o fator determinante para que

as filas durem uma eternidade.

Beldades da FCH

O misterioso amigo no Facebook,

que tem adicionado inúmeros

alunos da FCH, tem dado nas vistas

pela ridícula criação de tal página.

Então, avô?

Olá obrigado por leres isto. Inicialmente ia

escrever sobre a minha primeira ida a um bar de

alterne e das duas mil impressões digitais que observei

num varão, mas vou antes falar sobre o meu avô.

Estava prestes a sair de casa quando ele me

chama e diz: “Dário, estava a tentar ouvir este CD

com músicas que cantavas quando eras pequeno, mas

o DVD diz que não tem áudio”. Pois bem, ele mostra-

me o CD e reparo que é o de instalação da impressora.

Digo-lhe exatamente isso, mas responde: “Então só dá

pra ouvir na impressora?”. Abro a porta, e sigo

caminho...

Dário Alexandre

Edição Limitada Tame Impala – Lonerism

Página 15

Comunicado da Parte Para Rasgar:

O Académico deseja boa sorte aos nomeados do Mister e Miss Bond Católica!