Jornal O Globo/editoria Rio

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Matéria publicada na editoria Rio, do Jornal O Globo.

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l Para muitos amigos, a notícia do esta-do de saúde do ator Guilherme Karan foiuma surpresa. Apesar de apresentar in-dícios da Síndrome de Machado-Joseph— uma doença degenerativa que deixa opaciente sem coordenação motora eequilíbrio —, desde 2005, durante asgravações da novela “América”, exibidapela TV Globo, ninguém imaginava queo problema de Karan, de 55 anos, fossetão grave. Desde o folhetim assinadopor Gloria Perez, o ator, que está em ca-deira de rodas, não assumiu nenhumoutro trabalho e se isolou.

Diogo Vilela não se conforma com aatual situação de Karan:

— Eu fico muito sentido. Sou aquele tipode pessoa que acredita que o amor melho-ra, que o afeto verdadeiro faz milagres eque é importante a gente saber que as pes-soas nos querem bem e nos têm afeto. Oamor dá força. Encontrei a Cláudia (Raia) efalamos sobre isso: “Como assim ele nãoquer receber os amigos, o nosso carinho?”.

Diogo e Cláudia querem provar aKaran a importância de se sentir que-rido nas horas difíceis. A dupla pre-tende gravar um vídeo caseiro, decla-rando o carinho que sente pelo ami-go, e fazer chegar até ele.

— Vou encontrar com ela neste fim desemana e vamos tentar gravar essa men-sagem para o nosso amigo querido.Quem sabe ele não se comove e entendeo quanto o queremos bem e o quanto é

nar com Karan em “América”, confirmaque a doença se manifestava àquela época.

— A gente sabia que tinha alguma coisaestranha. Nas gravações, ele estava sem-pre apoiado em alguma coisa, com dificul-dade em ficar de pé. E, na hora de ir embo-ra, saía apoiado a algum colega, como fezcomigo muitas vezes. Mas tudo com muitadiscrição, sem contar a ninguém o que es-tava acontecendo — lembra Eri.

Bastou acabarem as gravações da no-vela para Karan se recolher da vida soci-al e não receber ninguém. Ney Latorracadisse compreender a escolha do amigo:

— Respeito a decisão dele. Tem horasque as pessoas têm que se retirar de cena.

A síndrome de Machado-Joseph, ape-sar de não ser fatal, não tem cura e aca-ba comprometendo a vida do pacientedevido às complicações que aparecemcom o tempo. Após o diagnóstico, a ex-pectativa de vida é de 20 a 25 anos, se-gundo o neurologista da Academia Bra-sileira de Neurologia, André Sobierajski.

A síndrome, rara no Brasil, é uma doen-ça genética que estimula a produção deuma proteína tóxica para o organismodos pacientes. Esta substância prejudicaos neurônios da região do cerebelo, res-ponsável pela coordenação e pela fun-ção da marcha. A síndrome costuma apa-recer na faixa dos 40 anos. Quando umindivíduo sofre da doença, seu filho tem50% de chances de também ter. A mãe doator tinha a síndrome, assim como um ir-mão dele, que já morreu.

— A doença não mata, mas debilita tantoo paciente que ele morre por dificuldadesrespiratórias e de deglutição, e infecçãourinária, por exemplo — diz Sobierajski.

importante que ele saiba disso.Recentemente, enquanto gravava “Toma

lá, dá cá”, Miguel Falabella chamou Diogopara visitar o colega. Mas o esforço foi emvão. Karan estava inacessível.

— Tenho muita saudade. Ele era muitocompanheiro. O que posso fazer é rezar.Respeito a decisão dele porque pensoque poderia ser a minha também, em umcaso como esse — diz Falabella.

Eri Johnson, um dos últimos a contrace-

A doença que isolou Guilherme KaranDeprimido, ator evita amigos desde o diagnóstico de síndrome que afeta movimentos

Arquivo

O ATOR em gravação da novela América

Juliana Câ[email protected]

Renata [email protected]