Jornal Opcão [Redesign]

7
Oque atrapalha Goiás a crescer Falta de condições de tráfego nas rodovias e estagnação no setor energéco dificutam in- vesmento no Estado. Pág. 2 Foto Meramente ilustrativa Médicos da rede municipal de saúde resolve paralizar avi- dades mesmo com negociação em andamento. Decisao leva a refler sobre as intenções re- ais do movimento grevista, que acaba por usar o povo pobre como bucha de canhão. Pág.4 > Médicos A greve inoportuna Na primeira visita oficial após retornar ao governo do estado, Marconi Perilo mostra aos em- presários europeus que Goiás esta aberto para receber inves- mentos. E com um governo que quer trabalhar para este po de vocação. Pág. 8 > Marconi Semeando para colher Documentário recupera a tra- jetória dos Novos Baianos, gru- po ícone da música brasileira nos anos 70. Pág. 15 > Contracultura cadê os novos baianos? Em nome de Deus, da liberda- de e do povo foram comedas as maiores atrocidades que o homem já viu. Pág. 5 > Idéias Nunca é tarde Com a queda de Kadafi, a Líbia vi- verá tempos de anarquia. Quem vai ficar para ajudar? Pág. 9 > Direto do Oriente Médio Guerra de Nervos

description

Projeto acadêmico de redesign do jornal de goiânia Jornasl de politica e economia

Transcript of Jornal Opcão [Redesign]

Oque atrapalha Goiás a crescerFalta de condições de tráfego

nas rodovias e estagnação no setor energético dificutam in-vestimento no Estado. Pág. 2

Foto Meramente ilustrativa

Médicos da rede municipal de saúde resolve paralizar ativi-dades mesmo com negociação em andamento. Decisao leva a refletir sobre as intenções re-ais do movimento grevista, que acaba por usar o povo pobre como bucha de canhão. Pág.4

> Médicos

A greve inoportuna

Na primeira visita oficial após retornar ao governo do estado, Marconi Perilo mostra aos em-presários europeus que Goiás esta aberto para receber inves-timentos. E com um governo que quer trabalhar para este tipo de vocação. Pág. 8

> Marconi

Semeando para colher

Documentário recupera a tra-jetória dos Novos Baianos, gru-po ícone da música brasileira nos anos 70. Pág. 15

> Contracultura

cadê os novos baianos?

Em nome de Deus, da liberda-de e do povo foram cometidas as maiores atrocidades que o homem já viu. Pág. 5

> Idéias

Nunca é tarde

Com a queda de Kadafi, a Líbia vi-verá tempos de anarquia. Quem vai ficar para ajudar? Pág. 9

> Direto do Oriente MédioGuerra de Nervos

3JORNALOPÇÃOJORNALOPÇÃO2 26 de agosto a 3 de setembro de 2011 26 de agosto a 3 de setembro de 2011 ECONOMIA

Desenvolvimento

Onde está o gargalo?

ECONOMIA

Estado tem condições geográficas e climáticas excepcionais, mas deficiências na infraestrutura — principalmente de transporte e energia — tornam mais lento o crescimento da economia

FERNANDO LEITE/JORNAL OPÇÃO

As riquezas goianas circulam por 22 mil quilômetros de estradas. São 3,6 mil km de rodovias fede-rais (BRs), dos quais 3,4 mil km pavimentados e 206 km não pa-vimentados (há mais 600 km pla-nejados). Já a malha sob jurisdição estadual (cujo valor estimado é de R$ 10 bilhões), com 219 estradas, não chega a 18 mil quilômetros de rodovias, sendo 9,3 mil km as-faltados e 8,6 mil km não asfalta-dos. Há de se considerar, também, centenas de estradas municipais e particulares. De qualquer forma, é uma malha viária modesta, tendo em vista as dimensões do Estado.

Goiás tem mais de 340 mil qui-lômetros quadrados de área, com terras férteis, muita água, clima ameno com duas estações bem definidas (chuvosa, de outubro a abril, e seca, de maio a setembro). Somos quase 6 milhões de habi-tantes. O Estado de Goiás se lo-caliza no coração do Brasil, é a 9ª economia do País e cresce acima da média nacional.

O Estado tem condições geográ-ficas excelentes, o que contribui para que empresas se instalem aqui, o que de fato tem aconteci-do principalmente nos últimos 15 anos. Mas é fato também que in-vestidores não buscam uma região apenas por localização ou condi-ções climáticas. Há uma palavro-na que traduz o que se constitui o principal chamariz para as empre-sas: infraestrutura.

O termo tem significado próprio nos vários campos, mas, como seus dois termos separados in-dicam (“infra” = embaixo, sob; e “estrutura” = suporte, base), é o que sustenta algo. Como se pode verificar em enciclopédias (como a Wikipédia, na internet), na eco-nomia infraestrutura é todo apara-to de condições que permite que haja a produção de bens e servi-ços, como ainda o seu fluxo ente vendedor e comprador, tais como as comunicações, os transportes (vias, veículos, tráfego etc.), a ele-tricidade e combustíveis (produ-ção, distribuição, manutenção de rede etc.), o saneamento básico (fornecimento de água potável,

rede de esgotos etc.), entre ou-tros. Resumindo, infraestrutura é tudo aquilo que facilita a produção e a distribuição de bens e serviços e aí há quem inclua a mão de obra necessária para essa produção.

Boa infraestrutura é solução, é mola-mestra para o crescimento econômico, é o motor do desen-volvimento. E quando se fala em infraestrutura está se referindo, antes de tudo, à logística de trans-porte (que significa, de forma muito simples, os meios de arma-zenamento e transporte de maté-rias-primas e produtos acabados). Como se disse, para um Estado com as dimensões de Goiás, uma malha viária de apenas 22 mil km é acanhada.

O governo estadual tem se mostrado preocupado com a questão. A Agência Goiana de Transportes e Obras (Age-top) retomou as obras de pavimen-tação de dez trechos rodoviários que totalizam 348 quilômetros (quadro à esquerda). Máquinas e equipamentos estão nos trechos executando os servi-ços de terraplenagem e pavimentação. O financiamento é do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e So-cial (BNDES).

Para a conclusão dos 198 quilôme-tros restantes serão gastos R$ 99 mi-lhões. O presidente da Agetop, Jayme Rincón, diz que as obras serão cons-truídas com investimentos de cerca de 12% a menos do valor contratual, de-vido ao resultado de negociações com as empreiteiras. “Conseguimos uma redução no valor da obra, assegurando a mesma qualidade e prazo de conclu-são.”

O governo de Goiás criou o Fun-do de Transportes (FT) que garan-tirá recursos anuais da ordem de cerca de R$ 300 milhões a serem aplicados na manutenção, con-servação e melhoria das rodovias estaduais. O FT é de natureza orça-mentária e dotado de autonomia administrativa, financeira e contá-

bil. Ao lançar o Fundo de Transpor-tes, o governador Marconi Perillo lançou também o Programa de Re-construção de Rodovias Estaduais, que prevê inicialmente a recons-trução de 2.081,4 quilômetros em 42 trechos rodoviários de 28 rodovias pavimentadas estaduais espalhadas pelo Estado (quadro à direita).

As obras são mais estrutu-radas, consistindo na retirada do pavimento antigo, deterio-rado, e na construção de uma nova capa asfáltica, com poste-rior sinalização horizontal (fai-xas) e vertical (placas). Com a conclusão da primeira etapa do programa, a Agetop prevê o início da segunda fase, que ocorrerá em 2012. Nesse gru-po estão elencados 55 trechos em 41 rodovias estaduais, num total de 2 mil quilômetros.

Somados os dois grupos iniciais, a Agetop reconstruirá em dois

anos cerca de 42% da malha viá-ria pavimentada do Estado, com a renovação do pavimento de ro-dovias importantes para o escoa-mento da produção agropecuária e para a movimentação de cargas responsáveis pelo abastecimento de produtos diversos.

Outra preocupação com a ma-lha estadual é que muitos trechos estão em condições sofríveis. Explica-se: no governo passado, a manutenção das rodovias foi pra-ticamente esquecida. Com isso, as chuvas, a idade das rodovias e o uso pioraram as condições de tra-fegabilidade, ao ponto de uma im-portantíssima rodovia como a GO-164 — a chamada Rodovia do Boi —, no trecho próximo a Mozarlân-

dia, estar praticamente intransitá-vel. Um usuário que esteve na re-gião na semana passada contou ao editor que pistas de terra ao lado da rodovia oferecem melhores condições de trafegabilidade.

De novo, se mostra a preocu-pação do governo estadual com o problema, consciente de que, com estradas ruins do que jeito que estão, Marconi Perillo pode dar adeus ao sonho de fazer o me-lhor governo da vida dos goianos, como prometeu em campanha. Há algumas semanas o governador lançou um programa de conserva-ção rodoviária, o Rodovida. A ideia é implementar um novo conceito de manutenção de rodovias, rea-lizando as atividades de conserva-ção rotineira e periódica, de obras emergenciais, reparos e execução de pontes e bueiros, sinalização e adequação de rodovias não pavi-mentadas.

A manutenção integrada atuará

na malha pavimentada e não pa-vimentada. Será direcionada ain-da para outros tipos de serviços rodoviários como a sinalização, na implantação, renovação e reparos de placas e sinalização horizontal — com a pintura de faixas no pavi-mento — e também na implanta-ção e reparos em defensas metáli-cas e de concreto.

Nas rodovias pavimentadas o Programa Rodovida atuará com serviços na faixa de domínio, com roçagem manual e mecânica, lim-peza e pintura de elementos de drenagem, de pontes e bueiros tu-bulares e celulares, na reconstru-ção de taludes de aterro e de corte e na execução de elementos de canalização de água e de combate

a erosões.

Na pista de rolamento serão executados serviços de tapa-burac selagem de trincas e recomposição de elementos de drenagem super-ficial e a manutenção preventiva com selagem asfáltica (aplicação de lama asfáltica e microrrevesti-mento) e ainda na reconstrução de taludes e de corte.

A conservação nas rodovias não pavimentadas executará os ser-viços de reconformação de pla-taforma, abertura e limpeza de valetas laterais e limpeza de buei-ros, eliminação de pontos críticos, suavização de taludes e aterros de pequena altura e de execução de valetas. Está prevista também a conservação e reconstrução de pontes de concreto e de madeira.

Nas rodovias pavimentadas o Programa Rodovida atuará com serviços na faixa de domínio, com roçagem manual e mecânica, lim-peza e pintura de elementos de drenagem, de pontes e bueiros tu-bulares e celulares, na reconstru-ção de taludes de aterro e de corte e na execução de elementos de canalização de água e de combate a erosões.

Na pista de rolamento serão exe-cutados serviços de tapa-buracos, remendos profundos, selagem de trincas e recomposição de ele-mentos de drenagem superficial e a manutenção preventiva com se-lagem asfáltica (aplicação de lama asfáltica e microrrevestimento) e ainda na reconstrução de taludes e de corte.

A conservação nas rodovias não pavimentadas executará os ser-viços de reconformação de pla-taforma, abertura e limpeza de valetas laterais e limpeza de buei-ros, eliminação de pontos críticos, suavização de taludes e aterros de pequena altura e de execução de valetas. Está prevista também

RODOVIA GO 0-60 DUPLICAÇÃO PARA MAIOR SEGURANÇA

a conservação e reconstrução de pontes de concreto e de madeira.

Aeroportos

Outro modal de grante e im-portante relevância para o cresci-mento do Estado é o aeroviário. Cinquenta e dois municípios goia-nos têm aeroportos ou pistas de pouso. Há 20 pistas não homolo-gadas, ou seja, sem autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar, mas que fun-cionam de forma clandestina. A maioria só opera sob a luz do dia. Como no caso das rodovias, o go-verno anterior abandonou os ae-roportos. Sabe-se que o governo Marconi Perillo está retomando os trabalhos de balizamento, reforma e construção de pistas de pouso.

Energia é problema, mas já se vê luz no túnel

Goiás vem atraindo empresas nos últimos anos, graças a uma agressiva política de incentivos fiscais a partir da década de 1980, primeiramente com o Programa Fomentar e depois com o Produ-zir. Com isso, a economia goiana vem dando saltos de crescimento, quase sempre acima da média na-cional. Mas é evidente que há pro-blemas na logística de transporte, configurado numa malha acanha-da e com conservação deficiente nos últimos anos. Outro problema sério é a oferta de energia.

A Celg está enredada há anos em problemas financeiros e teve sua capacidade de investimentos drasticamente reduzida. Com isso, a expansão da rede elétrica tem sido muito tímida nos últimos, aquém mesmo do que seria ne-cessário para fazer frente ao cres-cimento econômico previsto nos próximos anos. Certamente, se a oferta de energia fosse estável, mais empresas poderiam vir para Goiás. Felizmente — e que o leitor perdoe o trocadilho —, já se vê uma luz no túnel da Celg. A partir de 2015 a empresa deve começar a operar no azul. A previsão é do presidente da empresa, José Eliton de Figuerêdo Júnior, otimista com a finalização, ainda neste ano, da primeira etapa do plano de rees-truturação da Celg, que trata da parte interna juntamente com o acordo final do ponto de vista eco-nômico-financeiro.

Há dez dias, José Eliton divul-gou balanço da empresa referente ao primeiro semestre deste ano, apontando aumento na arrecada-ção, diminuição da inadimplência, eliminação do risco de apagão em Goiás e a retomada do programa Luz Para Todos. Segundo ele, pro-jeções econômicas mostram a gra-dativa reestruturação da empresa. “A partir de 2015 ela começa a operar no azul. Em curto espaço de tempo, de cinco a dez anos, a empresa se tornará novamente

uma das mais importantes do se-tor elétrico nacional. Não existe mágica para a salvação da empre-sa, é um processo continuado.”

O principal desafio do governo em relação à Celg é a conclusão do processo de reestruturação. O plano apresentado no início do ano pela direção da empresa ao governador envolve três módulos: o planejamento do ponto de vista do equilíbrio econômico-financei-ro; o plano de investimentos que compreende o período de 2011 a 2020; e o planejamento estratégi-co da empresa que compreende o período de 2011 a 2015.

Eliton disse que o planejamento será seguido à risca, lembrando que as ações internas de ajuste da Celg estão sendo feitas desde o iní-cio do ano. “Retomamos o diálogo com a Eletrobrás, com o governo federal e estamos em conversa com outras empresas do setor elétrico seja de controle público ou privado, no objetivo de alienar até 49% das ações da empresa de modo a capitalizá-la para que ela consiga exercer sua atividade fim. São ações que estão sendo feitas, mas que só podem ser enxergadas no sentido de garantir a reestru-turação da empresa no conjunto”, disse o presidente.

José Eliton não doura a pílula em relação aos problemas que a em-presa pode representar ao desen-volvimento de Goiás, quando fa-lou que só o aporte financeiro não resolverá as dificuldades da em-presa. “Temos de ter uma mudan-ça nos padrões de gestão e gover-nança, ter um objetivo claro, fazer com que a empresa tenha sua ati-vidade voltada para o seu deside-rato, que é fornecer energia com eficiência atendendo a demanda existente e a demanda crescente no Estado para, inclusive, propi-ciar o desenvolvimento de Goiás.” Ele lembrou que a oferta de ener-gia pela Celg é o que pode limitar ou estimular o crescimento do Estado. “As empresas, indústrias ou fábricas não têm condições de se instalar se não tiverem energia disponível para tocar seus equipa-mentos e suas máquinas.”

Em que pese os problemas, a Celg é uma empresa absolutamen-te viável e ao longo de sua história tem contribuído decisivamente para o desenvol-

vimento de Goiás. A companhia tem hoje 57.552 km de rede urba-na, 139.335 km de rede rural, 191 km de rede subterrânea, e 5.462 de km de linhas de transmissão, totalizando 202.540 km de rede em todo o Estado. São mais de 203 mil transformadores instala-dos e 332 subestações (138 kV e 34,5/13,8kV).

A empresa tem custo médio de R$ 174 milhões por ano para ma-

nutenção de seu sistema. A Celg atende 237 municípios goianos, em 2,3 milhões de unidades con-sumidoras. A taxa de atendimento urbano chega a 97,94% e atendi-mento rural de 94,38%, ou seja, quase a totalidade da população goiana. É bom lembrara que o cliente pode comprar energia de outras fornecedoras, o que ocor-re principalmente com empresas, que às vezes, inclusive, geram sua própria energia.

Na parte técnica, a principal dificuldade que a Celg enfrenta são problemas de carregamento nas instalações que alimentam a malha (subestações Xavantes, Anhanguera, Morrinhos e Palmei-ras).

Mesmo com as dificuldades de ordem financeira, a empresa já aprovou seu Programa de Investi-mento no Sistema para os próxi-mos anos, prevendo investimen-tos na média de R$ 220 milhões por ano.

Outro setor estratégico para o desenvolvimento do Estado é o de saneamento básico. A Saneamen-to de Goiás S/A (Saneago) tam-

bém tem problemas financeiros, o que limita sua capacidade de investimento, mas é reconhecida-mente uma das melhores empre-sas do País no setor. Ela atua em todo o território goiano, respon-sável pelo saneamento da capital e em mais 224 dos 246 municípios goianos, além de 92 localidades (distritos). É uma empresa pública do governo do Estado de Goiás. A Saneago tem 21,7 mil km de redes de água e 6,9 mil km de redes de esgoto.

A empresa atende com água a 4,71 milhões de pessoas no Esta-do, sendo 1,31 milhão em Goiânia. O atendimento em esgoto chega a 2,1 milhões de pessoas no Esta-do — 1 milhão na capital. A Sa-neago gasta R$ 48,9 milhões/ano em manutenção de suas redes. Existem em Goiás 182 estações de tratamento de água (ETAs) e 68 estações de tratamento de esgoto (ETEs).

No aspecto técnico, a maior de-ficiência da Saneago, conforme levantamento iniciado em janeiro deste ano, é a de que há 52 pon-tos (várias cidades, algumas com dois ou mais pontos) em que há

falta d’água no período de estia-gem. Em março foi iniciado traba-lho de ampliação de redes, perfu-ração de poços etc., que eliminou o problema em 12 pontos. Até dezembro, a direção da empresa espera ter solucionado a escassez em 15 outros pontos.

Os pontos restantes serão eli-minados daí em diante. O plane-jamento indica que quando vier o próximo período de seca não haverá mais nenhum ponto com falta d’água no Estado.

O plano de obras tem como foco a universalização dos serviços de água tratada no Estado. As princi-pais obras são o Sistema Produtor do João Leite e o Sistema Corum-bá, no Entorno do DF e em parce-ria com a Caesb. Para o futuro — de 2013 a 2015 —, estão previstos investimentos superiores a R$ 3 bilhões para aplicação em todos os municípios, de acordo com os serviços necessários.

As fontes de financiamento são recursos próprios, Tesouro do Estado, Orçamento Federal da União, BNDES, Caixa Econômica Federal/FGTS, PAC-1 e PAC-2. (Ce-zar Santos)

Diagnóstico e soluções.Quem tem um mínimo de in-

formações básicas sobre o tema não titubeia: logística de transpor-te abaixo do ideal — aí compre-endendo estradas ruins, poucas ferrovias, deficiência no forneci-mento de energia. Se não fossem as deficiências da nossa infraes-trutura, Goiás poderia estar ainda melhor na fita, por exemplo, tal-

vez em 7º ou 6º lugar no ranking da economia nacional. E não se trata, como se poderia objetar, de simples questão de vaidade. Estar mais perto do 1º lugar tem signi

ficados importantes como po-pulação com renda maior, mais consumo de bens e serviços, mais escolas, escolaridade mais alta,

mais saúde, mais água tratada,

etc.. Então, não fosse a tal da in-fraestrutura deficiente, Goiás se-ria mais rico, com todas as boas consequências que isso implica.Em seguida, quatro economistas que se debruçam sobre a questão da infraestrutura goiana. Eles dis-correm sobre o tema, abordando tópicos variados, reafirmando o diagnóstico e sugerindo soluções.

MUITO TRÁFEGO EM RODOVIAS DESGASTADAS

“CONSEGUIMOS UMA REDUÇÃO NO VALOR DA OBRA, ASSE-GURANDO A MESMA QUALIDADE E PRAZO DE CONCLUSÃO.”

5JORNALOPÇÃOJORNALOPÇÃO4 26 de agosto a 3 de setembro de 2011 26 de agosto a 3 de setembro de 2011CONEXÃO

Médicos de Goiânia Idéias

A greve inoportuna

Nunca é tarde para praticar utopias

Trabalhadores tem direito de paralisar o trabalho coletivamente para forçar a negociação, mas e quando está se negociando?

É fina a linha que separa o utópico do possível

Durante duas décadas, entre os anos 1960 e 1980, o Brasil viveu sob um regime que tratava as gre-ves dos trabalhadores como um ato de contestação e não como um justo argumento de negocia-ção entre patrões e empregados. Período ruim da história do País.

Depois, com a reabertura de-mocrática do regime, pulou-se de um extremo ao outro, e, aí sim, surgiram as greves políticas sob

o argumento de negociação. Também é uma coisa muito ruim.

A luta permanente entre patrões e empregados é inerente ao siste-ma capitalista. Quem paga sempre vai querer pagar menos.

Seja salário ou na compra de um produto qualquer. Quem recebe fica do outro lado dessa trinchei-ra e é natural que queira receber mais. É aqui, nesse conflito de in-teresses, que entra a greve como opção de força de quem recebe.

Pelo menos, deveria ser assim. No Brasil, infelizmente, não é. Os movimentos e organizações dos trabalhadores muitas vezes se veem sob influência direta da polí-tica e de alguns políticos. Daí para transformar a greve num movi-mento de natureza política

é um passo curto.Isso não signi-fica que todas as greves são essen-cialmente políticas. Longe disso. É até possível identificar as que tra-zem as nuances políticas das gre-ves meramente reivindicatórias. A grande questão é que, fora os movimentos paredistas declarada-mente políticos, todos os demais utilizam bandeiras de reivindica-ção como fundo de justificativa.

Portanto, não se pode dizer que a greve dos médicos de Goiânia seja somente política, sem interes-ses reivindicatórios.

Nem se pode dizer que os médi-

cos estão completamente equivo-cados ao desencadear o movimen-to. Eles realmente recebem pouco

pelo muito que representam e, na maioria das vezes, trabalham sob pressão desumana, em locais inadequados e superados pela

demanda. A profissão tem um certo glamour. Sempre teve. Mas no serviço público esses profissio-nais estão mais para operários

do que para membros da elite trabalhadora.

A rede de saúde pública no Brasil é um caos diário. Dia e noite, sem parar nem nos feriados e madru-gadas. Há doentes demais

para instalações de menos. E profissionais de menos para do-enças demais. O resultado disso é o conflito entre pacientes e médi-cos e demais servidores do setor. Os pacientes chegam doentes aos postos de atendimento, sejam eles hospitais ou simples postos de saúde, e muita vezes ficam em fi-las demoradas sem direito a algu-ma atenção. Não costumam rece-ber nem uma cibalena pra aliviar suas dores. Quando, finalmente, são atendidos, são recebidos por médicos cansados e apressados.

De quem é a culpa por essa si-tuação? Certamente, não é nem do paciente e nem do médico. O que se tem no Brasil é o acesso universal e gratuito de atendimen-to na rede de saúde. Não há nada parecido com isso no mundo todo. Antes, havia uma clara separação entre aqueles que pagavam o pla-no de saúde oficial, o antigo INPS, e aqueles que dependiam da rede completamente gratuita. Hoje, com o SUS, todo mundo tem tra-tamento igual.

É uma ousadia brasileira esse tipo de atenção com todos os seus cidadãos. Nos Estados Unidos, a

maior potência econômica do planeta, o presidente Barack

Obama luta para implantar um sis-tema parecido, embora pago. Lá, quem não tem seguro saúde

fica praticamente condenado a morrer sem assistência médica. Por aqui, muitas vezes isso tam-bém acontece, mas invariavel-mente ocorre dentro de unidades de atendimento gratuito e inade-quadas pela enorme demanda. E quando alguém morre numa fila antes de ser atendido, são os mé-dicos que levam a culpa.

Na semana passada, em Goi-ânia, uma cena do noticiário da TV chocou. Uma senhora estava desde as primeiras horas da ma-nhã esperando atendimento. O marido, ao lado, sem poder aju-dar, apenas tentava lhe dar apoio e carinho. Ela passou parte do dia deitada em um banco, quase sem se mexer.

A cena chocou por ser individu-alizada dentro da tela da TV. Mas quem trabalha nos postos de aten-dimento de saúde pública sabe

que ela é parte de uma infeliz rotina. Isso acontece toda hora, o dia inteiro. É óbvio que são poucos médicos para tantos pacientes. O problema na semana passada, po-rém, não foi por falta de médico, mas por uma greve da categoria.

Greve justa? Ninguém em sã consciência diria que não é um movimento justo. Por tudo aquilo

que se falou aqui até agora, e que constrói ainda que superficial-

mente a realidade do trabalho dos médicos na rede pública, não há o que discutir nesse aspecto: esses profissionais trabalham muito, sob enorme pressão e não recebem salários equivalentes ao serviço prestado. Aliás, esse argumento que aí está nem é original. Trata--se de um reconhecimento públi-co feito por ninguém menos que o próprio secretário de Saúde da Prefeitura, Elias Rassi Neto.

A questão vai além das inten-ções reivindicatórias. O problema da greve dos médicos da rede mu-nicipal está diretamente relacio-nado com a sua intempestivida-de, por ser inoportuna enquanto movimento da categoria. Por quê? Simplesmente porque a Prefeitu-ra, através de seu secretário de Saúde, jamais abandonou a mesa de negociações com os represen-tantes dos médicos.

Preto no branco, tudo estava sendo negociado até que se ape-lou para o movimento paredista.A greve é a última arma para se usar num caso desses, e geralmente é usada como instrumento de for-ça pela negociação e não durante uma negociação. Há uma

claríssima divisão entre essas situações. Uma coisa é cruzar os braços para que a outra parte acei-te discutir termos para um acordo. Outra coisa bem diferente é parar

de trabalhar em pleno processo de busca de entendimento. Aí po-deria até se inserir questões que vão além do conjunto de reivindi-cações da categoria, caindo fatal-mente no bojo da política.

De todos lados que se possa ver, a greve dos médicos foi mui-to ruim. Principalmente se a visão atingir o maior interessado em todo esse processo, que é a popu-lação que precisa do serviço médi-co gratuito. Foi exatamente essa gente, a mais carente de recursos financeiros, quem mais sofreu. Que sofreu ainda mais do que já sofre, diga-se.

E o que os médicos têm a ganhar com isso? Pouco ou quase nada. E o que é pior: sem a greve, eles iriam obter exatamente o mesmo que irão ganhar na negociação atual. Portanto, é difícil entender as motivações que levaram o co-mando dos médicos a

partir para essa greve. Mas é muito simples sentir que o maior prejudicado não foi o prefeito, o secretário da Saúde ou a Prefeitu-ra. Quem mais uma vez foi a bu-cha de um canhão aparentemente político foi o povo pobre. O movi-mento é insustentável, e fica como um exemplo a ser evitado no fu-turo. Reivindicar, sim. Sempre. Parar, só quando não restar mais nenhum argumento.

Fora isso, que a política seja dis-putada apenas nas urnas.

FILAS QUILOMÉTRICAS E COMO SEMPRE, O POVO É QUEM SOFRE

FOTO ILUSTRATIVA

CONEXÃO

Em nome de Deus, da liberda-de e do povo foram cometidas as maiores atrocidades que o ho-mem já viu. No século 20, já não em nome de Deus, mas em nome do povo (seja este o povo superior ou o inferior) como provam os re-gimes nazista, stalinista e maoís-ta. Não posso deixar de lembrar a alegria que senti ao ver a queda dos governos fantoches da antiga Europa socialista e a debacle da União Soviética. Mas não deixou de me surpreender o luxo em que viviam os “servidores” do povo, os ditadores marionetes desses países. Lembro-me de ter visto, estupefato, imagens do interior do palácio de Nicolae Ceausescu, o genocida ditador que governou a Romênia de 1965 até sua execu-ção em 1989. Em nome do povo, também, se instaurou uma dinas-tia comunista na Coreia do Norte em cujo exemplo se inspirou o tirano Ceausescu. O fato é que, nos países em que se governa em nome dos pobres, o povo vive mal e seus servidores, muito bem.

O que aconteceu desde o início deste ano — na Tunísia, no Egito, no Iêmen e agora na Líbia — não pode deixar de ter o apoio de to-dos aqueles que querem um mun-do mais justo, menos indigno. Por coincidência, tenho relido nestas últimas semanas “O Príncipe”, de Maquiavel, e “Utopia”, de Tomás More. Das duas leituras, “Utopia” me fez refletir no que está aconte-cendo atualmente em alguns paí-ses árabes. É a questão do poder e da riqueza concentrada em poucas mãos — ou mesmo nas mãos dos

“servidores do povo”, especial-mente o tirano, seus familiares e sequazes.

Quando comecei a ler autores e obras anteriores às do socialis-mo moderno, fiquei surpreso ao constatar como eram antigas as advertências sobre os perigos da concentração de riqueza em uns e a existência de uma massa muito

grande de miseráveis. Platão e Aristóteles, de formas

distintas e até opostas, fazem essa advertência. Maquiavel, na Renascença, insiste também na necessidade de um príncipe esti-mular a prosperidade dos súditos. E More não deixa de ver o perigo de o soberano governar em seu proveito e esquecer a felicidade do povo. Pois a pobreza extrema, como já sabia Aristóteles, estimula as revoluções e pode levar ao fim das cidades. Diz More: “Quanto a crer [o príncipe, o rei] que a misé-ria do povo seja uma garantia de segurança e de paz, a experiência prova suficientemente que esse é o maior dos erros. [...] Quem é o mais apressado em subverter o es-tado de coisas existente, senão o que está descontente com sua sor-te? Quem se lança mais temeraria-mente no caminho da revolução senão o que nada tem a perder e espera ganhar com a mudança?” (“Utopia”, L & PM, 1997, p. 54)

Durante minha vida, tive a opor-tunidade de ver mudanças drásti-cas que muitos, e eu mesmo, con-siderávamos impensáveis.

Vi governos aparecerem e de-saparecerem, vi ditaduras se con-solidarem e serem derrocadas. Observei governos uma vez revo-lucionários se transformarem em ditaduras de família, como a dos Castro. Mas os tiranos têm ten-dência a se aferrar ao poder. A queda dos Ceausescu, dos Saddam Hussein, dos Mubarak, dos Kada-fi, me levam rapidamente ao que disseram os Platão, os Aristóteles, os Maquiavel e os More sobre acú-mulo de riqueza e poder, ambição, miséria, revolução. Lem bram-me que o que um dia se concebe como impossível, inatingível, irrealizável, não está tão longe assim do pos-sível, do efetivo e do praticável. Lembram-me que não podemos viver sem sonhos, sem utopias. Mostram que é tênue a linha que separa o impossível do real.

7JORNALOPÇÃOJORNALOPÇÃO6 26 de agosto a 3 de setembro de 2011 26 de agosto a 3 de setembro de 2011POLÍTICA POLÍTICA

Polítca do Brasil

Tucanos querem o impeachment de Agnelo

PSD nasce com quatro candidatos

PTB não reconhece candidatura de Joaquim Roriz

A proposta do ex-deputado distri-tal Raimundo Ribeiro (PSDB) de pe-dir o impeachment do governador Agnelo Queiroz (PT) ganhou corpo dentro e fora da legenda. O presi-dente do PSDB, Márcio Machado, já encaminhou ao departamento jurí-dico do partido uma consulta sobre a possibilidade de se pedir o impedi-mento do governador com base na ação de improbidade administrativa proposta pelo Ministério Público Federal (MPF). O governador é acu-sado de suposto superfaturamento no contrato de aluguel de imóveis para a Vila dos Jogos Panamericanos de 2007. “Depen dendo do parecer jurídico, vamos analisar o caso po-liticamente”, afirma o tucano, que, caso decida pelo impeachment do governador, pretende encaminhar o pedido também ao Ministério Públi-co do DF.

Um eventual pedido de impea-chment contra Agnelo Queiroz pas-sa, obrigatoriamente, pela Câmara Legislativa, que conta com apenas cinco deputados de oposição. Mas mesmo que não seja aprovado – o que é mais provável — o pedido tende a desgastar ainda mais o go-

Quem está de malas prontas para o PSD é a deputada distri-tal Liliane Roriz (PRTB). Ela não admite; disse que foi sondada pela senadora Kátia Abreu – que trocou o DEM pelo PSD — e que está considerando seriamente a possibilidade de mudar de parti-do, apesar de ainda não ter tido nenhuma conversa formal com o coordenador do PSD no DF, o ex-governador Rogério Rosso.Li-liane Roriz é unha e carne com a mulher de Rogério, Karine Rosso, e a ida dela para o PSD faz parte de uma estratégia de fortaleci-mento do grupo de Joaquim Ro-riz (PSC) no DF, que corre o risco de acabar ou ser forçado a aderir ao governo de Agnelo Queiroz.

verno petista. De acordo com pes-quisa realizada pelo instituto O&P Brasil e divulgada semana passada, a gestão de Agnelo Queiroz é conside-rada ótima e boa por apenas 17,2% dos entrevistados, enquanto 45,2% a avaliam como ruim e péssima. Na última pesquisa do instituto, há três meses, o governo era aprovado por 31,5% e desaprovado por 36,5%. A piora nos índices de aprovação refle-te a paralisia do governo. Para 63,8% dos entrevistados, os resultados do governo estão atrasados ou muito atrasados e, de acordo com a pes-quisa realizada entre os dias 13 e 17 de agosto, 58,6% dos entrevistados acham que Agnelo não está cum-prindo as promessas de campanha. Até então o Palácio do Buriti vinha desqualificando as críticas feitas ao governo, argumentando que eram manobra política da imprensa opo-sicionista. Agora, são os moradores do DF que avaliam negativamente a gestão do petista e não dá para igno-rar a voz do povo. Ou Agnelo age ou o pedido de impeachment do PSDB corre o risco de ganhar a adesão da população. É o fantasma dos caras pintadas assombrando o petista.

O PSDB de Luziânia tem auto-nomia para decidir sobre uma eventual filiação de Joaquim Roriz (PSC), afirma o presidente regional da legenda, Paulo Silva de Jesus, o Paulinho. “O diretório municipal vê com bons olhos a fi-liação de Roriz, que sempre fez muito por Luziânia no passado, mas ele precisa resolver sua situ-ação em relação ao Ficha Limpa.” O PSDB defende a aplicação da regra nas próximas eleições mu-nicipais e Joaquim Roriz questio-na se a regra pode ou não retro-agir. O PSDB do Distrito Federal, que é contra a filiação de Roriz ao partido, também não pode

interferir no processo, que é lo-cal, explica Paulinho de Jesus. Mas ele mesmo não acredita em uma candidatura de Roriz em Lu-ziânia. “Não vai ser fácil para ele devido aos problemas de saúde.”

O PSDB não é o único partido na mira de Roriz, que pode mi-grar para o PMDB, que é aliado do PSDB em Luziânia, ir para o PTB ou ainda permanecer no PSC.

No PTB Roriz não é muito bem--vindo. O deputado Valcenôr Braz (PTB) diz desconhecer qual-quer outra candidatura para pre-feito de Luziânia que não seja a do vice Eliseu Melo (PMDB), que

deve se filiar ao PSDB. “Já confir-mamos a candidatura de Eliseu e qualquer outra candidatura avul-sa não tem nosso apoio”, afirma o deputado do PTB. Ele argumen-ta que o apoio à candidatura de Eliseu Melo foi acordado ainda na campanha de 2008,ou seja, é anterior à candidatura de Roriz e do deputado Cristovão Tormin, que já trocou o PTB pelo PSD para sair candidato a prefeito na cidade. Uma eventual candida-tura de Roriz pode, ao invés de unira coligação do prefeito Célio Silveira (PSDB), criar desavença no grupo e aumentar as chances da oposição em Luziânia. Valcenor Braz,Deputado Ja confirmarao a canditatura de Eliseu Melo.

O PSD nasce com quatro can-didatos a prefeito no Entorno, afirma o coordenador da le-genda em Goiás e secretário da Casa Civil, Vilmar Rocha. O partido vai lançar as candida-turas dos deputados Cristovão Tormin, em Luziânia, e, Itamar Barreto, em Formosa, e tentar reeleger os prefeitos Luiz Car-los Attié, em Cristalina, e Alex Batista, em Cidade Ocidental. “Desejamos lançar candidatu-ras que sejam política e elei-toralmente viáveis onde for possível”, afirma Rocha. Em muitos municípios o PSDB pro-

vavelmente terá candi-dato, como é o caso de Formosa. O ação passa-da, espera a recíproca do governador. Mas isso não será problema, afir-ma Vilmar Rocha. “Va-mos tentar fazer acordo e, se não for possível, o PSDB terá seu candidato e o PSD o seu”, pacifica. Vilmar acredita que o governador Marconi Perillo vai ser mais cauteloso nas interven-ções municipais em 2012. “Vou conversar com Marconi e propor que, onde houver dois candida-tos fortes da base, que ele fique

de fora da campanha”, anteci-pa o secretário. Ele afirma que o foco do PSD, no momento, é a identificação de candidatu-ras fortes nos municípios es-tratégicos e a preparação das filiações, que só podem ser oficializadas após o registro da legenda no TSE.

Solução para o transporte público

Os prefeitos do Entorno querem uma reunião com os governadores de Goiás, Mar-coni Perillo (PSDB), e do Dis-trito Federal, Agnelo Quei roz (PT), para discutir a conces-são do sistema de transporte público da região a uma das duas unidades federativas com a concordância da ou-tra, o que deve ser feito por intermédio da Agência Nacio-nal de Trans portes Terrestres (ANTT). Há várias décadas

todas as linhas que ligam Brasí-lia a as cidades do Entorno são operadas pela empresa Viação Anapolina (Vian), sem qualquer concorrência, o que levou o Mi-nistério Público Federal do DF a ajuizar uma ação civil pública contra a União, a ANTT e Vian. O MPF acusa a empresa de super-lotação de passageiros, má con-servação de veículos, ausência de tabela de horários, falta de cintos de segurança, assentos de bancos soltos, extintores de

incêndio vencidos e pneus lisos. Situação que já levou a popu-lação da região a promover di-versos protestos, mas que até agora não foi resolvida.

Além de tratar do problema crônico do transporte, os pre-feitos querem que os dois go-vernadores apresentem proje-tos conjuntos para as áreas de saúde e segurança, duas áreas consideradas caóticas e que não podem ser vistas de forma unilateral.

Brasília & Entorno do DF

Liliane Roriz vai para o PSD para fortalecer grupo político do pai

PSDB vai criar o fórum do Entorno

PT quer que Didi Viana seja candidato

É fina a linha que separa o utópico do possível

O PSC, que hoje abriga o ex-go-vernador, “é uma quimera”, ava-lia um político. A legenda nanica não permite o fortalecimento do grupo políticode Roriz, que inclui Rogério Rosso, coordenador do PSD no DF. Rosso esteve em cam-po oposto ao do vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) na eleição passada.

O PSD, com a filiação das de-putadas Eliana Pedrosa e Liliana Roriz, se torna a terceira força política do Distrito Federal, atrás apenas do PT e do PMDB, e a prin-cipal bancada de oposição a Ag-nelo Queiroz na Câmara. Por ou-tro lado, como o PSD vai compor com o governo de Dilma Rousseff (PT), a presença de Liliane Roriz

no partido neutraliza as críticas dos petistas a Joaquim Roriz, que, se a saúde deixar, pode ser can-didato em 2014 no DF ou indicar alguém do seu grupo.

O ex-governador está atirando para todos os lados para sobre-viver politicamente depois de ter renunciado, em 2007, ao manda-to de senador para escapar de um

processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética e, no ano passado, à candidatura a governador para escapar da Lei da Ficha Limpa. A maior parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) defende que a Lei da Ficha Limpa seja julgada antes das eleições municipais. Atinge Roriz o artigo que define a inele-

gibilidade para casos de renúncia e a retroatividade da norma. Qua-tro ministros do Supremo consi-deram que Roriz está inelegível e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também entende que Roriz continua enquadrado na Lei da Ficha Limpa e que, se as eleições fossem hoje, a regra va-leria em sua integridade.

deputada distrital Liliane Roriz (PRTB)

Os 19 municípios do Entorno não vão ser tratados isolada-mente pelo PSDB na eleição de 2012. Assim como ocorreu na região metropolitana da capi-tal, o partido vai criar um fórum para discutir os problemas dos municípios — que são seme-lhantes — e buscar soluções in-tegradas. “O Fó rum do PSDB do

Entorno vai orientar as decisões sobre candidaturas, pensamen-tos e ações na região”, informa o presidente da le genda, Paulo da Silva de Jesus. O fórum não foi instalado ainda porque não foi possível conciliar as agendas do prefeito Célio Silveira e da de-putada Sônia Chaves, expoentes tucanos do Entorno.

Os deputados Valcenôr Braz (PTB), Hildo do Can dango (PTB) e Sô-nia Chaves (PSDB) querem que os projetos de qualificação de mão de obra que vão ser implantados nas cidades que irão sediar a Copa do Mundo de 2014 sejam estendidos à região do En torno. “Maioria dos moradores do Entorno trabalha em Brasília”, justifica Valcenôr Braz. Cerca de 500 mil dos 800 mil moradores do Entorno que vivem em Brasília e seriam essas pessoas que teriam acesso aos cursos de línguas, artesanato, gastronomia, guias turísticos e treinamentos em hotéis que serão patrocinados pelo governo federal.Passada a Copa, ficaria o benefício: milhares de pessoas melhor qualificadas para o trabalho.

Copa pode beneficiar Entorno

O PT trabalha para aumen-tar sua expressão no Entor-no, mas esbarra nas legendas com maior tradição na região, como PMDB e PSDB. O parti-do já decidiu que vai lançar candidatura própria em ape-nas uma cidade: Valparaíso. A professora Lucimar Conceição do Nascimento vai enfrentar a prefeita Lêda Borges (PSDB) em uma disputa que promete ser bastante equilibrada. Em Novo Gama, o PT vai decidir entre três pré-candidatos dos seis partidos que devem caminhar juntos: PT, PMDB, PP, PC do B, PDT e PSC. Alberto dos Santos

Barros, o Arapiraca, é o nome do PT e a disputa deve se dar com a deputada Sônia Chaves (PSDB), que deve retornar a Novo Gama para participar da eleição municipal. A adminis-tração do prefeito José de As-sis, o Doca, não é bem avaliada.

Em Luziânia, o PT se aliou ao PMDB e PTB e a pré-candidata petista é a vereadora Cassiana Tormin, mas quem tem maior chance de representar o grupo é o deputado Cristovão Tormin (PTB).

O PT quer que Didi Viana en-frente Joaquim Roriz, caso o ex--governador seja candidato em Didi Viana

Luziânia. Em Águas Lindas, o PT se esforça para indicar o vice na chapa do deputado Hildo do Candango, que está trocando o PTB pelo PSD. O empresário Elis Reis de Freitas acaba de se filiar ao PT de Planaltina e tem a pretensão de sair can-didato pela legenda. Em Cida-de Ocidental, o PT vai apoiar a reeleição de Alex Batista, que também está indo para o PSD e, em Formosa, a sigla apoia a reeleição de Pedro Ivo (PP). Em Santo Antônio do Descoberto, o PT está com o prefeito David Leite (PR) e, em Cristalina, não tem candidato.

Paulo da Silva de Jesus. ”Um espaco para buscar soluções integradas para a região”.

Agnelo Queiroz (PT)

9JORNALOPÇÃOJORNALOPÇÃO8 26 de agosto a 3 de setembro de 2011 26 de agosto a 3 de setembro de 2011REPORTAGENS

Reportagens Direto do Oriente Médio

Haja fôlego Guerra de nervosGovernador mantém agenda intensa em sua primeira viagem no atual mandato

Com a queda de Kadafi, a Líbia viverá tempos de anarquia. Quem vai ficar para ajudar?

AFONSO LOPES

HERBERT MORAES

Encontro com o embaixador do Brasil em Londres, reuniões com empresários na Rússia e na Inglaterra, até teleconferên-cia em Dublin. Essa tem sido a rotina do governador Marconi Perillo em sua primeira viagem internacional após seu retorno ao comando do Palácio das Es-meraldas. Mas qual será o saldo dessa peregrinação? Inicialmen-te, sabe-se que surgirá em Quiri-nópolis a maior usina de etanol do planeta. Daí em diante é mais ou menos como faz um produtor rural, que prepara a terra, joga a semente e cuida da plantação até a hora da colheita. Ou seja, os resultados de ações dessa natureza não surgem imediata-mente, mas ao longo do tempo.

É o caso de parcerias que po-derão ser confirmadas no futu-ro. Duas delas são extremamen-te interessantes para o Estado: a dos presídios e a que pretende implantar o sistema de VLT, veí-culo leve sobre trilhos, na Ave-nida Anhanguera. Há alguma chance de essas ações irem em frente? Há, sim, mas não é coisa de varinha de condão com fada madrinha. Empresários só me-tem a mão no bolso depois de avaliarem os mínimos detalhes, e isso não é feito durante uma viagem. O que Marconi tem de-monstrado aos empresários eu-ropeus é que existe um Estado no Brasil que está aberto para

receber investimentos, e que tem um governo com esse tipo de vocação.

O embaixador do Brasil em Londres se impressionou com a disposição do governador goiano. Roberto Jaguaribe, em entrevista a jornalistas que acompanham a comitiva do go-vernador, disse que gostou da animação de Marconi quando ele falou sobre as potencialida-des de Goiás. E teria prometido que o Estado vai participar de uma feira sobre etanol. Ou seja, abriu-se uma clareira para negó-cios futuros.

Viagens

Os dois mandatos anteriores do governador Marconi Perillo foram pontuados por viagens à Europa, América, Ásia e África. Nesse período, Goiás viu suas vendas a países estrangeiros crescer dez vezes. Ao mesmo tempo, e apenas para ficar em um exemplo, um dos maiores grupos fabricantes de automó-vel do mundo, o coreano Hyun-dai, instalou sua primeira fábrica no Brasil na cidade de Anápolis.

Coincidência? Obviamente, não. O mundo globalizado até pode gerar a sensação de vi-sibilidade, mas o que ocorre é exatamente o contrário. Como existem milhões de opções, é necessário realizar alguma coi-

sa a mais para ser lembrado. Mais ou menos como ocorre dentro do vastíssimo território da internet. Teoricamente, bas-ta colocar alguma página no ar para que ela possa ser vista por milhões de usuários no mundo todo. Na prática, a coisa sim-plesmente não funciona dessa forma, e é imensa a possibilida-de de o autor de um blog ou coi-sa do gênero ser visto por meia dúzia de amigos próximos. O mundo o ignora por nem saber que ele existe e por ter à mão zilhões de outros blogs.

No campo dos negócios mun-diais há um pouco disso tam-bém. Uma visita de um governa-dor à sede de uma multinacional que tenha interesse de investi-mento é muito mais importante do que espalhar panfletos mun-do afora. Ficar dentro de palá-cios esperando que novos em-preendimentos batam às portas do Estado é confiar em milagres. E não há milagre na economia.

Por outro lado, ao conhecer

algumas soluções adotadas por outros países é sempre uma ex-periência importante. O VLT ins-talado em Dublin, por exemplo, pode ser visto na internet. Há si-tes que mostram fotos do siste-ma. Mas uma coisa é ver a foto. Outra, muito diferente, é con-versar com aqueles que mon-taram e que operam as linhas. Mais do que isso, pode ser fun-damental numa conversa dessas mostrar que em Goiânia exis-te um ramal, provavelmente o mais importante do centro-oes-te brasileiro, o eixo Anhanguera, praticamente pronto para rece-ber trilhos e trens. E que há dis-posição do governo local de ter um transporte como esse. Sem a viagem e a visita, como é que um empresário europeu desco-briria o eixo Anhanguera como possibilidade de investimento? Provavelmente, nunca.

O mesmo ocorre com a peni-tenciária que poderá ser cons-truída em Aparecida de Goiânia. Para Goiás, que não tem um úni-

co presídio com gestão privada, é uma baita novidade. Moder-nidade? Sem dúvida nenhuma. Esse sistema existe há anos em vários países e se destacou pela eficiência e custos relativamen-te mais baixos do que o modelo estatal. Em relação ao Estado de Goiás, será um salto de qualida-de.

O que o governador Marconi Perillo tem procurado fazer em Londres ou em Moscou é ven-der uma boa imagem de Goiás lá fora. Não que isso possa mu-dar a realidade por aqui de um ano para o outro. É um trabalho de prazo mais longo, com alguns resultados imediatos e com inú-meras possibilidades no futuro. É bom que seja assim. Significa que há esperança de que Goiás continue crescendo acima da média nacional, e talvez consi-ga, um dia, permitir que os em-pregos sejam quase todos eles gerados na iniciativa privada, aliviando o peso que o Estado ainda tem.

Governador Marconi Perillo com autoridade estrangeira na Europa: viagem produtiva

MUNDO

A Líbia ainda deve mergulhar num período de anarquia tribal e guerra civil, como ocorreu no Iraque e no Afeganistão. Mas no domingo, 21, com a entrada dos rebeldes em Trípoli, todos os que estiveram envolvidos na revolu-ção, especialmente os líderes eu-ropeus — como o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o pri-meiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, sentiram certa satisfação com o resultado de mais de cinco meses, desde que começaram a ajudar os rebeldes. Ainda no começo da insurreição, a Otan (Aliança Militar do Atlân-tico Norte) foi criticada; muitos duvidavam que Muammar Kada-fi seria derrubado somente com os ataque aéreos. Alegavam que muitos civis estavam morrendo vítimas de fogo “amigo” e que

era um desperdício de equipa-mentos militares.

Há dois meses parecia que a Europa tinha perdido a paciên-cia. Os rebeldes combatiam sem muita perspectiva e a comuni-dade internacional pensou em encerrar a missão. Mas, na con-tramão e na insistência, a Otan continuou silenciosamente reali-zando o “trabalho” sobre o céu de Kadafi.

A relação com os rebeldes tornou-se tática. A oposição re-cebeu armas, equipamentos, treinamento e conselhos. Em cada unidade havia um ou mais agentes que falavam inglês e árabe. Eram eles que avisavam quando e onde um ataque aéreo iria ocorrer, a fim de evitar mor-

tes entre os civis e os próprios rebeldes. E eram eles também os encarregados na identificação de alvos inimigos. As informações eram repassadas para os caças, que podiam precisamente atingir o alvo com mísseis teleguiados.

Só mês de agosto, os aviões da Otan sobrevoaram a Líbia 20 mil vezes. Foram conduzidos 7,5 mil ataques aéreos, que quebraram a resistência do regime. Veloci-dade era a palavra-chave.

Mas a questão agora é: quem vai ficar na Líbia para ajudar o governo de transição a impor a ordem? A Aliança Militar já dis-se que não haverá operações em terra. A Liga Árabe também tirou o corpo fora. Nem mesmo os eu-ropeus estão interessados.

Oficialmente, a vitória é dos rebeldes, mas a conquista é da Otan. Dois países participantes terão problemas para receber os créditos pela queda de Kadafi: a Alemanha, que inicialmente se opôs a uma intervenção militar na Líbia, mas voltou atrás e en-viou aeronaves para o norte da África; e os Estados Unidos, que tiveram uma participação funda-mental nesses cinco meses, mas não quiseram fazer alarde sobre o tamanho da missão e muito menos quanto isso iria custar ao bolso do contribuinte america-no. Obama preferiu a discrição.

Desde que começou a onda re-volucionária no Oriente Médio, o presidente americano reage quase que estaticamente ao de-senrolar dos fatos. Prefere não

se meter muito. Na semana pas-sada, resolveu quebrar o silên-cio e exigiu que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, deixe o poder imediatamente. No caso da Síria, ele sabe que o princi-pal jogador está em Teerã e que vai fazer de tudo para apoiar o regime alauíta. Do outro lado, uma oposição estratégica. A Tur-quia, que era parceira da Síria, rompeu os laços de um lado e amarrou-se ainda mais aos ira-nianos, que, como bons jogado-res de xadrez, fizeram uma joga-da de mestre no que concerne a influência regional. Os turcos abriram as portas para a opo-sição síria se organizar e tomar o poder no país logo depois da queda (e ela virá) de Assad. Eles sabem de quem é a vez no jogo. E não é de Washington.

Quem está ajudando a derrubar Muammar Kadafi tem o dever de ajudar a reorganizar e recuperar o país. O dado curioso é que os Estados Unidos têm agido com discrição

11JORNALOPÇÃOJORNALOPÇÃO10 26 de agosto a 3 de setembro de 2011 26 de agosto a 3 de setembro de 2011CULTURA CULTURA

Opção Cultural

A essência da contraculturaDocumentário recupera a trajetória dos Novos Baianos, grupo ícone da música brasileira

Quando era pequeno Hen-rique Dantas escutava com o pai músicas interpretadas por Moraes Moreira (vocal), Baby Consuelo (vocal), Pepeu Gomes (guitarra) e Paulinho Boca de Cantor (vocal), e se apaixonou. Há uns 13 anos, o então estu-dante universitário viu uma en-trevista de Paulo Boca de Cantor dizendo que os Novos Baianos iriam fazer 30 anos. Aí pensou em fazer um documentário em curta-metragem sobre a paixão pela música passada de pai para filho. A ideia original acabou sendo deixada de lado e Dantas transformou o curta em longa. O resultado é “Filhos de João, O Admirável Mundo Novo Baia-no”, que narra a história do gru-po Novos Baianos e apresenta o retrato de uma geração, que viu nascer um dos momentos mais férteis da música brasileira.

Com a pegada clássica dos documentários, alternando de-poimentos dos próprios inte-grantes, pessoas que participa-ram da trajetória do grupo e da efervescência musical da época, o filme conta de forma concisa e bastante divertida a trajetó-ria desse coletivo de músicos desde a sua criação, em 69, até seu inevitável término, dez anos depois.

O João do título se refere ao cantor e compositor João Gil-berto, considerado o principal mentor e pai dos Novos Baia-nos. Ele foi o responsável pela introdução de ritmos brasileiros ao som do grupo. Infelizmente, porém, João Gilberto não conta sua versão da história. O encar-regado em contar essa história é Tom Zé. O irreverente artista garante momentos hilários a cada nova aparição em cena,

com seus devaneios irresistíveis e conceitos que, definitivamen-te, não são deste mundo.

Outra ausência sentida no do-cumentário de Dantas é de Baby Consuelo, única mulher do gru-po. Baby do Brasil até deu de-poimento a Dantas, mas acabou não autorizando o uso de sua imagem. No Festival de Brasília de 2009 — no qual o filme ven-ceu o Prêmio do Júri e do Júri Popular do Festival —, Dantas disse aos jornalistas que os de-poimentos da Baby foram sen-sacionais. “Ela tem uma grande memória, terminei a entrevis-ta querendo casar com a Baby. Mas ela não aceitou liberar os depoimentos para o filme. Ela falava assim no final, termi-nando o filme: “Cadê você que nos anos 70 queria reconstruir o mundo?” Mas tivemos que remontar o documentário”, la-

mentou o cineasta.A versão de Baby do Brasil é

outra. “Quando ele [Henrique Dantas] me convidou para fazer a entrevista, era um trabalho de faculdade. Alguns anos depois ele estava sendo exibido em um festival de Brasília já com vários apoios culturais financeiros. Ele não quis fazer o contrato comi-go e depois apareceu na mídia como se eu tivesse vetado. O trabalho é bacana, mas ainda precisa acertar contas com a Baby do Brasil Produções”, dis-se Baby em uma entrevista ao portal UOL.

Outros integrantes foram bem mais generosos, caso de Mo-raes Moreira, Pepeu Gomes, Galvão, Gato Félix, Bola Mora-es, Paulinho Boca de Cantor e Charles Negrita, todos dando depoimentos longos e saboro-sos, permitindo reconstituir a

trajetória da banda.É certo que as presenças de

Baby do Brasil e João Gilberto enriqueceriam o filme de Dan-tas. Mas os depoimentos fazem falta? O longa traz histórias di-vertidas e curiosas, esclarecen-do toda a trajetória, desde o iní-cio com forte influência do Rock Progressivo britânico e da gui-tarra de Hendrix, até a mistura de ritmos brasileiros, funda-mental na originalidade do som da banda. Tudo é contado em depoimentos de ex-integrantes do grupo como Moraes Morei-ra, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, costu-rados com valiosas cenas de ar-quivo e de filmes caseiros feitos pelos músicos — que moravam juntos em comunidade nos anos 1970.

Ao longo da exibição, ao ouvir as histórias de seus integrantes,

é possível perceber que o gru-po só deu certo porque todos viviam juntos. Durante quase toda a sua trajetória, eles mora-ram — junto com seus parceiros e filhos — em um sítio, em Jaca-repaguá, no Rio, no melhor es-tilo hippie de ser. No sítio nada era de ninguém, tudo era de todo mundo. Baseados, LSD e outros ácidos eram consumidos sem economia. Os integrantes passavam o dia jogando fute-bol e tocando, dividindo tudo, e guardando todo dinheiro que ganhavam num saco atrás da porta. Quem precisava, ia lá, pegava um pouco e devolvia o troco (ou não). O filme conta outras histórias interessantes, como o nascimento da primei-ra criança da comunidade. Ela ficou dois anos sem nome. Nin-guém conseguia pensar em um que realmente valesse a pena. Por tudo isso, o grupo Novos

Baianos talvez tenha sido uma das mais emblemáticas bandas da MPB a representar e verda-deiramente viver a contracultu-ra dos anos 70.

É claro que a harmonia não durou para sempre. Os próprios músicos admitem que a vida dentro do sítio acabou virando uma religião. Com regras, como não poder comer carne ou fu-mar cigarro e a obrigatoriedade de viverem todos juntos. Quan-do Moraes Moreira decidiu morar em outro lugar, o grupo não resistiu. Os Novos Baianos acabaram em 1979 e muitos de seus ex-integrantes seguiram carreira solo — de lá para cá, o grupo reuniu-se parcialmente algumas vezes, para gravações e apresentações eventuais.

Apesar de sua ausência, João Gilberto é o foco central do fil-me e isso explica o título da pro-dução. Todos fazem questão de

ressaltar a influência do artista no desenvolvimento musical e mesmo existencial dos Novos Baianos. O apadrinhamento pelo ícone é citado por todos como fundamental na definição da identidade musical da ban-da. Depois de um flerte inicial com o rock, visível em seu pri-meiro disco, “É Ferro na Bone-ca” (1970), o grupo viveu uma guinada fundamental a partir do encontro com o compositor João Gilberto, então voltando de uma temporada nos Estados Unidos. Por conta própria e de surpresa, João foi visitar o apar-tamento em Ipanema onde os músicos moravam. Foi ele quem estimulou e sugeriu que mergu-lhassem em suas raízes, e trou-xessem a música, o ritmo e os instrumentos brasileiros ao som dos Novos Baianos. O resulta-do foi o antológico LP “Acabou Chorare”. No filme Galvão lem-

bra que foi ele quem apresen-tou Pepeu e Paulinho para João Gilberto.

O maior acerto de “Filhos de João, O Admirável Mundo Novo Baiano” é entremear muito bem as curiosas entrevistas dos ve-teranos Novos Baianos com as sempre performáticas interven-ções e observações certeiras de Tom Zé. O compositor foi o responsável por unir a dupla de compositores Moraes Moreira e Luiz Galvão, autores da maioria dos clássicos da banda.

O diretor ouviu ainda membros flutuantes da formação, como o bailarino Gato Félix — agregado que relembra o espírito comu-nitário que os unia ao contar da vez que foram presos no co-meço da década de 1970. Com todos no camburão, menos ele, Gato Félix insistiu em ser pre-so, contando aos policiais que também era membro do grupo.

Já Dadi, outro ex-integrante do grupo provoca risos com o hilá-rio depoimento em que conta que foi atender a campainha e achou que aquele senhor (João Gilberto) de terno fosse um po-licial. Compreensível. Afinal, os Novos Baianos estavam viven-do a época da ditadura militar. Henrique Dantas costura toda a trajetória do grupo retratando paralelamente a realidade da época que, apesar da censura, foi um dos períodos mais férteis da produção musical brasileira.

Além de fazer justiça a uma das bandas mais importantes do Brasil, a película diverte muito o espectador, seja pelas histórias engraçadas contadas ou pela forma descompromissada com que os Novos Baianos exerciam a sua arte, revolucionando a for-ma de fazer música e de encarar a vida, numa utopia real que du-rou quase uma década.

Baby Consuelo - Bernadete Di-norah de Carvalho, Baby do Bra-sil (nome atual) começou no No-vos Baianos com apenas 17 anos, quando fugiu para Salvador e co-nheceu Moraes Moreira, Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes, que viria a ser seu marido e pai de seus seis filhos. Atualmen-te Baby está terminando a grava-ção de um álbum gospel e um do-cumentário sobre sua carreira.

Pepeu Gomes - Apelido de Pedro Anibal de Oliveira Gomes, Pepeu começou a tocar violão “de ouvi-do” e hoje é considerado um dos dez maiores guitarristas do mun-do pela revista americana “Guitar World”. Pepeu comemora 40 anos de carreira este ano.

Moraes Moreira - Antônio Carlos Moreira Pires conheceu Tom Zé quando se mudou de Calculé para Salvador, onde teve contato com os outros integrantes do grupo. Atualmente se apresenta com re-pertório eclético, que vai do rock

e baião ao frevo e comanda trios elétricos no Carnaval.

Paulinho Boca de Cantor - Ini-ciou a carreira musical aos 16 anos como crooner de Carlito e sua Or-questra (que mais tarde virou a orquestra Avanço). Hoje ele segue carreiro solo.

Luiz Galvão - O compositor é o “filho” mais próximo de João Gil-berto. Conheceu o músico quan-do morava em Juazeiro, na Bahia. Galvão tem álbuns solos gravados e também é poeta.

Dadi - Eduardo Magalhães de Carvalho foi o baixista da banda em sua formação original. Já to-cou com as bandas A Cor do Som, Barão Vermelho e Caetano Veloso.

Jorginho Gomes - Irmão do gui-tarrista Pepeu, Jorginho foi o bate-rista dos Novos Baianos. Além da Cor do Som, integrou bandas de artistas como Ana Carolina, Gilber-to Gil e Marisa Monte.

Onde estão os Novos Baianos?

Formado em 1969, o grupo Novos Baianos.

Galvão, Baby, Morais e Paulinho

JORNALOPÇÃO12 26 de agosto a 3 de setembro de 2011CULTURA