Jornal Parabelo nº 0 (jun. 2007)
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PAR
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nº zero ano 1
PAR
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EL
O
nº zero ano 1
PARABELO. Arma. Jogo de armar. Preparar-se para a guerra. Par e Elo. Palavra: modo de inserção no mundo; mundo de palavra; aqui larvas, lavas e lavras.Safra de vinho bom: anos contemporâneos. Literatura: mundo de simultâneos.Imagem há. Ar imagem. Nascente. Não admite – admire – olhos descansados.Permite descanso de Onan. Há quem goste...
Antigos (não tão) e novos (se são, se sabe?); todos recentes sempre, que encontrados, comungam. Resmungos? Alguns.
Homenagem de tempo ido, mas ainda nosso presente próximo: da Lira a Gula... nossos dentes:Fernando Fábio Fiorese Furtado, André Monteiro, Anderson Pires, Fred Spada, Thiago Berzoini, Jorge Adeodato, Carolina Barreto, Maiara Zortéa, Pedro Teixeira, Francisco Franco, Carlos Magno Létes, Giuliano César Kid, Hierro Castaño, Daniel Albergaria. Klavdjo-Ferlinghetti: tradução.
Universo da imagem oferecido as nossas lentes:Thiago Macedo, Tainá Novellino, Thalia Fersi, Romiti Drugo e Ave-Google.Estudo do Íntimo Específico: Alex Badaró, grata caneta.
Performando o pacote:TrêsCorpos: Paulo Motta, Raíssa Ralôla e André de Freitas Sobrinho.
Não é movimento.Não é fratria.Não é confraria. Não é manifesto. Somos nós, entrelaçados.
Agradecidos,até a próxima.
Os Editores
A todos os colabores; a Direção da Faculdade de Letras (FALE) da UFJF; ao DCE, Sempre em Frente; a Gilvan Procópio pelo apoio e estímulo; a Fernando Fábio Fiorese Furtado, (decassílabo de tempos heróicos) pelas primeiras orientações; ao AnfiteArte pelo convite ao TrêsCorpos; ao C.A. de Letras, A Hora e a Vez... chegamos; ao Pedro Ivo, por ter posto todo mundo no contato; a Paulo Motta, que sem os TrêsCorpos não faria possível o PARABELO; Patrícia e Safira, nossas mátrias, sem elas não haveria nem convite.
Agradecimentos
Editores:André de Freitas Sobrinho
Tainá Novellino
Seleção de Textos:André de Freitas Sobrinho
Curadoria de Imagens:Tainá Novellino
Diagramação:Tainá Novellino
André de Freitas Sobrinho
Layout, Design Gráfico:Tainá Novellino
Ilustrações:Tiago Macedo (páginas 4 e 5)
Tainá Novellino (páginas 3 e 6)Ben Shahn (páginas 12 e 14)
Alex Badaró (página 13)
Fotografias:Romiti Drugo (páginas 10 e 11)
Capa por: Tainá Novellino4ª Capa: Thalia Fersi
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JUNHO 07parabelorosto
Colaborações, distribuição, contato com os colaboradores, sugestões e crí[email protected]
Produção, Criação de Áudio e Estúdio de Ensaio
Rua Coronel Barros, 40São Mateus(32) 3232 8215 3083 [email protected]
Apoio
JUNHO 07parabelo jabá 15
Amor de neto
O casal ferve a poucos metros dali, próximos a um poste, nove horas da noite. Ela tem o biótipo meio traveco e o cara, um maracujá velho de calças de prega. Sim, transam de roupa na rua – que ainda apresenta alguns transeuntes em segundo plano. São nove horas e George vibra com o que vê através do visor LCD.
Trepem sem roupa, era o que queria, mas foi interrompido pela avó que veio dizer para não ir para a cama tarde. Comer pastel de milho com a vovó pela manhã; há dias não diz nada com nada, apenas arrasta pantufas no piso de sinteco. Não parecia melhor que uma madrugada de emoções. Sacrificaria o pastel. Foda-se.
O maracujá estava de braguilha aberta quando retornou com o zoom. O aparente travesti colocava as unhas postiças sobre a silhueta que se formou a contra-luz. Mete nela. Mete. A falta de coito atormenta George. Faltava posição ao casal na esquina de frente a sua janela. [PAUSE].
George levanta-se atordoado, abre a janela e sussurra pra fora: – Ei! seu velho, não vai meter na puta? – as unhas saem rapidamente da caverna do velhusco. Cai a ficha da ansiedade de George. O casal dá as mãos e sai à procura de um lugar sem voyeur.
Poucas luzes do prédio em frente estão acesas. Uma mulher de meia idade fuma um cigarro na varanda. George sorri maliciosamente. [MODE>CAM] A mulher está no foco enquanto contempla a noite e os insetos que voam em torno da luz do poste. Uma criança chega e agarra sua perna. O cigarro voa até o asfalto e a mulher levanta a criança beijando suas bochechas. [PAUSE]. Que porra é essa? George não havia despertado para o incesto e a pedofilia.
[OFF]. George vai à cozinha. Um vidro de palmito está aberto sobre a toalha de renda azul que agora forra as estantes da geladeira nova. Furioso, o ato de abrir o vidro, torna-se uma tarefa complicada. O vidro abre quando a manga do pijama entra em ação. Os palmitos agora estão no chão e a manga do pijama está ensopada. George desiste. Os palmitos ficam para as formigas. Foda-se.
A porta está entreaberta, uma meia-luz invade o corredor. A velha está dormindo com o abajur ligado e o novo romance de Barbara Delinsky está sob seu colo. A aparência é serena, George adentra. Parado olha fixamente para os móveis antigos e a grande cama com colchão de molas. [MODE ON]. A câmera agora está sob um tripé logo na entrada do quarto. Os pés estão encobertos pela calça que desceu até o chão.
Um lenço salmão ao lado da cabeceira é usado de mordaça. Não há pressa. Enquanto sodomiza a avó, olha para os lados procurando possíveis amigos para que tudo termine em um bukkake. Foda-se.
TALES, O MOLE
"Não dura o duro", dizia a namoradadiante de um caralho já quase morto,tanto o usou, a direito e a torto,a agora inconsolável e ingrata.
E, sem o saber, repetia o que Talesdisse aos pés das pirâmides do Egito,decerto com diversa razão e fito,pois tratava de outros, menores males.
Talvez se soubesse a lição do sábio,não encontraria para desmenti-loum modo tão rápido, destro e fácil:
prepara a língua, umedece os lábiose, sem mais delongas, inicia aquiloque Tales não conhecia por felatio.
IMPROVISO PARA EUGÉNIO DE ANDRADE
RUBRO NO BRANCOAlvo alvo, antes nada, à espera da seta. A não ser pelo rumor da mãoindestra, a distância de branco a branco era o deserto. Escrever nãoencontra, sequer as rosas murchas na moldura. Entanto, o rubor do menino deixa impressa uma gota de sangue em cada poema.SOL NO SIGNOComo setembros para debruçar-se, como janelas onde a cal queima, alheia à chama por que arde. Eis a rosa, de palavras gasta - mas pronunciá-la basta para ser atravessado pelo mar. E é tamanha a música que só resta aprumar o corpo - para a mãe ou para a festa?NU NA PRONÚNCIADesconcerta o metro com ostinato rigore: régua de água a medir a sílaba pela sibila, pelo silêncio, pelo cílio da sombra. Descalça a voz para dizer ao mínimo, para mudar a neve em cal. Pode ser página, muro, barco, contanto que o sol saiba o homem e sua hora.
Fernando FábioFiorese Furtado
FranciscoFranco
parabeloJUNHO 07parabelo
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Projeto de Extensão Cultura no CampusCiclo de Cinema
Cinema: Visão e PrevisãoQuartas-feiras, às 16 hAnfiteatro da Faculdade de Letras – UFJF
30/05AlphavilleJean-Luc Godard, 1965, França/Itália, 99 min.Apresentação: William Salgado
06/06A Laranja MecânicaStanley Kubrick, 1971, Inglaterra, 138 min.Apresentação: Rafael Leite
13/06MatrixAndy Wachowski e Larry Wachowski, 1999, EUA, 136 min.Apresentação: Paulo Roberto Figueira
20/06SolarisAndrei Tarkovsky, 1972, Rússia, 166 min.Apresentação: Nilson Alvarenga
27/06Blade Runner – O Caçador de AndróidesRidley Scott, 1982, EUA, 118 min.Apresentação: Luciano Mesquita
Performance:
TrêsCorposEncontro de Linguagens
Música Eletro-Acústica, Dança e PoesiaPaulo Motta, Raíssa Ralôla e André de Freitas Sobrinho
1 de Junho (única apresentação)Anfiteatro da Faculdade de Letras – UFJF
18:30 horas
Entrada Franca
Teatro:
"Meshschane - Os pequenos burgueses"Inspirada na obra homônima de Máximo Gorki
Direção: Thiago BerzoiniElenco: Cia. Teatral Caravela das Artes
Casa de Cultura da UFJFAv. Rio Branco, 3372 (em frente a Santa Casa)
1 de Junho até 1 de Julho19 horas
Somente aos sábados e domingosIngressos: 5 reais (preço único)
Festival:
Mulheres no VolanteExpressões do Feminino: debates, oficinas e shows
23 de JunhoCCBM – Centro Cultural Bernardo Mascarenhas
(entrada pela Praça Antônio Carlos)Shows a partir das 15 horas.
JUNHO 07parabelocader neta
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AUTO DE FÉ IIISolo sagrado,a cama era seu espaçode acolhimento – e o gozo libertorezava a cartilhado Velho Testamento. IVRoçar a pele,os pêlos,orifícios – os arrepiossão ossos do ofício. V"E eu deitado contigo":a poesia permanece aqui,com o futuro que espreitamos.
Cruento à Lá Cocteau²³
A orgia dos sátiros,oculta pelas paredes intangíveisde teus cristais de fita isolante, escuta-se ao longe,atráves das curvasdos seus vendavais uivantes.E pelos meus olhosde esmeralda cintilantes,que na verdade nada mais sãodo que chamas oscilantesde uma vingança acalentada,antiquada e esquecida,eu vi meninos, de pernas tortasem cima de pernas certas, de pau,erguidos do meiode um cataclisma socialpelas ruas de pedra pomes,com estátuas de chouriço, cruasde onde derretia e escorria, aquela baba grossaa qual escorregou ela queinsana corria nuae assustada, me abraçou,não era medo, era astúcia!Então num quarto vazio nos deitamos,ela adormeceu em sete anos.Sete horas, eu acordei e abandonei o que por sete séculos eu procurei,em sete meses achei, em sete minutos venerei,e segui meu caminho,fosse como servo,embora rei.e procurei...procurei?Eu caminhava dia após dia e noite após noite,mas nunca achei novamente,aqueles olhos dormentes,e coração pulsante.Minha pústula era ungüento,que escorría de meu peitofrio e suadoe lavei minha face triste com o sangueque expeliste, coração meu, tu não mais existe!À minha fome insaciávelme guardei enquanto pude,então veio aquele seio tão amávelque suguei com sede interminável,mas era amargo o veneno que saíade teus mamilos, noite e dia, minha bílis corría meu esofago.Eu sofria!Fechei minha boca encalacrada de prazer,refugiei me sozinho, não havia mais nada a se fazer.Repousei em tão doce praça,que acordei banhado na poçade lama ressecada, que a chuva ácida de tuas lágrimasespirraram em minha cangalhaQue soltou-se ali mesmo,caiu ao chão, e fiquei mais levesem ter o que carregar, só o relógio no pulso,e as unhas nas mãos,largas e afiadas, me protegiam do que mais pudessevir a ser ameaça.Lembrei de teu ventre, tu querias ser ressecada.Mas para teu nobre sofrimento,a minha prole foi gerada.E mesmo mortos, são de pratae te acompanham nessa estrada. Para sempre seus, minha amada.
O menino e o tempo
O menino tem pensando muito no tempo, e naquele vai-e-vém tenebroso, do pêndulo de um relógio antigo, que lanceta o que era, e transforma no que é. Sempre impiedoso. Te transforma no homem, que correu quando criança e hoje, não corre mais, só espera. Só, espera. Espera.
MARGINAL IRéu confesso,roubo apenas versos.Os corações, eu seqüestro. IImadrugada é toque:a mão enxerga melhor à meia luz.
FredSpada
JUNHO 07parabelo 4
Dores, dores profundas estasDe quem se abdica, se consternaa ter a sagrada certeza do indizível.Dito, pro entre a falta de seus atos.
Do indizível, faz ouvir-se pelo não dito,Pelo não feito, pelo não percebido do irrealizável que poderia ter sido.
Sofrer, sofrer como forma de dizer; do não fazer indizível.
Ser fazer o indizível em forma de dor.Pois quando tiveres acumulado todo este não dito,Este não feito, Este irrealizável do que poderia ter sido.
restará uma profunda capacidade de sofrer o que ainda se poderia fazer.
Sendo resistir-se ao que se faz para na dor, legitimar-se como ato
Tentativa-se
Devaneios loucos de sonho de bacante,alma morta de desejos alucinantes,construções sombrias de visões ofuscantes,imagens constantes em noites inebriantes.
De quem seguiu o rumo com altivez.De construir o mundo, como uma tez,colhendo dos lírios que se fez,visões profundas de sua palidez.
Sonhos peremptórios de situações construídas.Noites mal dormidas no silêncio das matinas.Situação forjada no seio da alma destruída.
Desconstrução primordial do ser que se canta,com lenços plácidos para sensações que se alevantam.De mórbida e lânguida frustrações que me acalantam.
saudade da Elis
Dia feliz. Feliz de compras pela tevê. Querem que os consumamos consumados e consumidos pelos assentos carcomidos soltando pêlos de gato. Pêlos em todos os cantos desse lugar apertado.
Maldição os maldizeres daqueles malditos de baixo naipe que rabiscam as paredes desses corredores imundos. Corredores bons só os da São Silvestre.
Adoro morangos, creme de leite e crime! Como vão sem castigo esses que andam aí. Pensa como penso? Penso, penso logo, logo pouco resolvo. Patologia: decartesianismo!
Estorvado arrasto esse corpo pelas beiradas, haja parede pra suportar, haja cera líquida. Vivo sem mulher mas não sem abandono.
Mais um gomo da mexerica: mexeriqueiros de plantão esse povo a cata do lixo. A menina da limpeza chega amanhã. Ainda não separei os cuecões. Nem poderia: há uma semana não troco.
O gato ainda ronrona, perambulo sentado de banda à outra. Viva o mundo terremoto remoto. Remoto o tempo que me adiaram o legista. Existe lá legista pra vivo? Minha irmã disse que eu deveria procurar um.
Queria um copo de água. Porra de gato que não serve pra nada, nem pra me servir, nem de companhia, nem de nada. Faz uma gracinha aí ô bichano...bicho preguiçoso, a cara do dono! Minha outra irmã que deu. Sabia que eu era asmático...ela adora sadismo, só não esperava que eu fosse masô.
Interfone, tá um pouco longe. Também o puto do porteiro não serve de nada mesmo. Acho que me rouba alguns centavos quando peço pães. Diz que agora é vendido por peso. Vá saber? Qual a moeda corrente mesmo?
Me sinto útil colaborando na condução do infeliz. Preferia conduzi-lo à beirada de um precipício.Não agüento mais minhas costas nesse assento, acho que vou me levantar. Não faço isso desde a última vez que dirigi. Sinto
saudade da Elis...pó no whisky!Ai!
Sempre dá em chão quando tento isso...sai daí gato, não gosto que me lamba a boca!
DanielAlbergaria
HierroCastaño
JUNHO 07parabelo coda 13
HOMO OBLIQUUS
I. CERTEZA
O que nos restaalémdos ossos?
A pálida escrita (-tura)ou a carcaça flutuante?
Somente odes frustradascravadas na portaentre-abertados nossos desejos
II. CORAGEM
Enfrentaro tédiocomo quem colecionainsetosé catalogar oeterno zumbido donadasoando cruelmenteatrás das orelhas
III. VONTADE
Lutamos como silêncioe jogamos os dadoscom esmero
Mas acabamospor lamber asíncope doslábios e
reverberaro cinza daspaixões humanas
no simples atode umafala
IV. INSISTÊNCIA
Corpoque tange apedraque tinge oocasoque acordao cernee que debruçano teto avaga ânsiade tornar-sedoisparadepoisvoltar a si próprio
(mais só do que nunca.)
V. DESEJO
Somosárbitros livresem nossolivre arbítrio
Olhar e ver pedrasé galgar osdegraus de rostono espaço de umacentelha
para, depois...
numa nuvem depólvoranos conscientizarmosde que aescolha existe
(sempre existiu.)
da Lira a Gula2 pulinhos para fora do útero
Itenho em ti a chaga do meu corpo entorpecidoe isso ainda não é romantismo.
IItenho feito barbaridades oficiais em nome do meu grande amor. ontem, por exemplo, cortei todos os pulsos do meu corpo. eles devem estar chegando por aí e eu espero que você se dê bem com eles. não era isso que você queria? e não se preocupe: a embalagem é segura e nada será desperdiçado na travessia. pelo menos, foi isso que os homens da transportadora me disseram. vieram buscar aqui em casa antes do jantar com toda delicadeza do mundo. trabalho fino, sem nojo do sangue derramado e sem a menor necessidade da tradicional gorjeta. não me perguntaram nada sobre o meu grande amor. melhor assim, porque eu não saberia dizer palavra e o meu silêncio certamente não diria tudo. hoje, como conseqüência lógica e cínica, devo receber visitas mortas, inoportunas e familiares, devidamente acompanhadas por um espanto de ocasião. só peço a deus que ainda me sobre algum tempo para ir ao bar. de preferência, desconhecido. assim que o material chegar em suas mãos, não se esqueça de aguçar a curiosidade de seu espírito. para concluir, não bastaria dizer que nem sempre o amor é um lugar solitário e triste, ou seja: se você quiser falar comigo, é melhor e é possível que você me ressuscite. ânimo com os meus pulsos. agora eles são seus. com amor, adeus.
AndréMonteiro
Pra que se preocuparCom a sintaxe qualitativa
Com a excreção das formigasCom os quadrados dos catetos
Com os Bourbon e os Capuleto?Saber eu nunca quis
Sobre a Revolução de AvisPorque é azul o anis
De onde vem a palavra “bis”Tem gente que não vai aprender
Sobre as guerras no IrãA conversão de dólar pra realPorque com o sol sai a manhã
Que o mercúrio é um metalNem todo mundo sabe
Quem foi Constantino e TeodósioOu o que significa simpósio
Como funciona a bolsaPorque árabe quebra a louça
E nem por issoEles são piores que eu
Talvez até mais felizes...(e menos inoportunos).
ufesuft
ufa!
MaiaraZortéa
CarolinaBarreto
JUNHO 07parabelo 5
Estou Esperando
Estou esperando que o meu caso cheguee estou esperandoum renascimento do encantoe estou esperando que alguémrealmente descubra a Américae lamentee estou esperandoa descobertade uma nova fronteira ocidental simbólicae estou esperandoque a Águia Americanarealmente abra as asase se aprume e voe direitoe estou esperandoque a Era da Ansiedadecaia mortae estou esperandoque a guerra se concretize(o que vai deixar o mundo seguropara a anarquia)e estou esperandoa decomposição definitivade todos os governose eu estou perpetuamente esperandoum renascimento do encanto
I AM WAITING1º fragmento I am waiting for my case to come up and I am waiting for a rebirth of wonder and I am waiting for someone to really discover America and wail and I am waiting for the discovery of a new symbolic western frontier and I am waiting for the American Eagle to really spread its wings and straighten up and fly right and I am waiting for the Age of Anxiety to drop dead and I am waiting for the war to be fought which will make the world safe for anarchy and I am waiting for the final withering away of all governments and I am perpetually awaiting a rebirth of wonder
Into Darkness, in Granada O if I were not so unhappyI could write great poetry!Dusk falls through the olive treesFederico Garcia LorcaLeaps about among themDodging the dark as it falls upon himO if only I could leap like himAnd make great songsInstead I swing about wildlyas in a children'sjungle gymin a vacant lot by Ben Shahnjump up suddenlyupon the back of a running horsein the face of a plains' twisterAnd paddle away slowlyinto total darknessin a Dove boat.
Rumo à escuridão, em Granada
Ah! se eu não fosse tão infelizPoderia escrever boa poesia!A noite cai sobre as oliveirasFederico Garcia LorcaSalta entre elasEsquivando-se das trevas que lhe vão caindoAh! se eu ao menos saltasse como eleE fizesse grandes cançõesAo invés disso me lanço ao altocomo num balançode um parque infantilnum terreno baldio de Ben Shahnde repente pulosobre o dorso de um cavalo a galopediante de um furacão das planíciesE saio remando devagarrumo à escuridão total
LawrenceFerlinghetti
CláudioCalabria
transcriação
Ben Shahn. Paterson [New Jersey]. serigraph in black, 1953
JUNHO 07parabelotranslato
12
LÉTES,Carlos MagnoChuva
Respeito, o fio progride em açoite e comunica na surra a necessidade de praça e jornal para exibir: respeito. Com meticulosa classificação se entornavam sobre o chinelo sujeira, e sobre elas os pés em caminhada. O que não fosse chinelo ganhava meias recheadas de virtude em marcha. Veneno, escorrendo por venosas ruas vazias de sangue, lavando o que há de comum na soberba volúpia dos espinhos que lhes sobressaem. O que foi emprestado ao homem sob a forma de pedra trincada em mãos abertas lhe desce aquecendo as pernas a confirmar o desespero por trás de suas metálicas risadas. Parado, exibia com orgulho as fronteiras que lhe separavam de toda animalidade, e se esquecia do afável torpor a que se sucumbia experimentando a carne ritmada contra si. Por isso sua destreza significava em sombras sua sonoridade oblíqua, resumindo-se sob o escudo do ritmo e da potencialidade castradora daquilo que se arrasta.
AndersonPires
the stooges- funhouse!
Precisava de algo mais forte urgentemente, porque acabava de perder todos os parâmetrosMais vodka, porque o que chamava de inspiração talvez não passasse de loucura Não existe nenhuma torre de marfim ou um bar aberto depois do apocalipseMais cocaína, porque o que era amor agora é pura obsessãoMais cerveja e um carro com motor potenteAlgo mais forte, alma inquieta, que se alimentou de tudo … e nada bastou
Todos precisam de um abraço de perdãoOu um tiro de misericórdia
Um pensamento no sol, outro na noiteO que ela chama de “consciência” é uma câmara de tortura
O seu amor só gerou tristezaE sua beleza se cobriu com o véu do tempoQue tudo desgastaTudo enfraquece
GiulianoCésar Kid
O telefone tocou. Resolvi não atender, tenho que terminar de
escrever um monte de frases que jogadas em páginas servirão de
inspiração a algum louco por narcóticos e vadiagem encontrar
sentido em suas divagações etílicas em ouvidos alheios. O barulho
desse aparelho de merda me incomoda, mas não o suficiente para
me fazer atendê-lo. Continuo a escrever. Linhas torpes e sem graça
se enfileiram na página que vai deixando de ser branca sem ao
menos conter algo que merece ser lido. O ruído continua firme.
Parece querer a todo custo minha atenção. Sou mais forte. Outras
letras flutuam no papel... e o maldito aparelho continua a gritar
para mim. Queria escrever uma tragédia, mas os deuses me deixam
louco: Que barulho infernal! Começo a gritar com o papel para
abafar o tilintar deste Titã incansável que continua a me torturar.
Mas ele continua a testar meus nervos e eu a postos: de frente para
a máquina, papel no acerto, dedos preparados... as idéias dançam
com a campainha... Sol, sal, mar... triiiimmm... bela, lábios, baton...
triiiimmm... sangue, areia, lagrimas... triiiimmm... barulho,
telefone, janela... triiimmm... cabeça da véia lá em baixo... parou de
chamar!
JUNHO 07parabelo6
Poesia demais pra pouco riso:início de uma provocação emulada
i)Filho do primeiro atobarro anteriormonumento de palavrapresa.Sendo começomarca de um dia idoo começo é passado:não sigo.
ii)Pássaro-cenárionato mudomundo mardurogesso ermoparede calsob olhosescuros.
iii)A gris cordo olho acidentalcapta lavrade trivial toqueque não veme mata(ainda verde)comovimento de opalasseparadasno plano vaziodo belo inútil.
iv)A câmera oferecidaà vaidade do ofícioo excesso que faltaparca ponta do meu freioqueda caiada do risco.
v)O garoto acordouvidro em formapermuta do entreno vão do versocortado de brancoe rentea mão só sabedas coisas simples.
vi)Máscara do entre-atouma metáfora durafeita só de unhasdelírio essencial da pedra gastana nulidade do cumea palavra do poetaé uma arma sem disparo... não zumbe.
A Poética Componente de TrêsCorpos
Quando me foi proposto participar do TrêsCorpos eu começava a respirar na saída de um conceito afunilado, na saída de um corpus em que havia começo, meio e quase fim: projeto de um livro construído para existir teleologicamente. A empreitada oferecida por Paulo Motta era diversa da anterior: texto de afetividades, mas efetivamente relação com linguagens. Um conceito aberto, em que texto, música, imagem em dança agiriam com autonomia, encontrando sentido em quem especta.
Pensando na proposta, coloquei em curso o que encontro como sentido: o vão do verso. Espaço lacunar: espera de complementariedade, embora não-passiva; criação do assistente ator-autor; platéia que não se amoldura; leitor-eleitor co-partícipe, co-motor. Espera-se. O corpo: aceno cênico e polissêmico; o som: acento no espaço.
No terreno das dúvidas: suporte. Os cavaletes que amparam e suportam os textos de hoje, seja em modo eletrônico ou enlivrado, talvez tenham limitado o universo fônico da poesia. Não é problema recente; é desde império impresso. Nasce então oportunidade de remeter a performance ao estado primeiro da poesia, voltar ao lírico... mais dançarina colírica; mais timbres de colagem.
Música, não canção. Palavra em forma, restituída ao direito de ser voz. Voz qual acontecimento reverberada em alteridade.
André de FreitasSobrinho
Solo Sem Som Para Raíssa Ralôla
Houvesse visto antescalava a folha.
Nu no cru da pelelanguidedos mudos tateiaminvisível de cordas rebatidas... como quem fere
A MiraeA Derrubada.
Em meus sentidos frouxossento pra te ouvir movimentostriscando mostarda o vento da salamobilizando mobílias e zodíacos
Daquela seca símica glossáriapendulando-lá no entre-trovão teclarengritei o grito...
Dentro do rouge rubi rugidocri co-movido então do ente: Só as penas do corpo são contemporâneas e Bailarinas não vestem alfaiate.
www.artnet.com.br/pmotta/trescorpos.htm
JUNHO 07JUNHO 07
JUNHO 07parabeloTrêsCorpos
11
Imagem
Reflexo no espelho: imagem. A minha imagem.Confiro-a todo dia, de noite e de dia, por acaso.
Fotogramas, desenhos, retratos, indiscretas digitalizadas, tudo existindo para ser imagem, e enfim, encantar espelhos...
Espelhos existem imagens
Começaram cedo descobrindo que o céu não era tão tranqüilo quanto imaginavam.
Poderiam cerrar estrelas, encantar baleias num gozo eterno, cínico e eterno. Insuportável, coisa pra anjo, pra santo ou pra dromedário.
Meu telegrama em 1976quase nada, a mais alta nota
quase nada, seu olhar não se importasenhorita, de tão criança que quase se mata
de tão Romena, de tão pequenaum novo amor, um panorama
meu telegrama em 1976
Porto Alegre até parece ok, após um oitava olhada. Sinto pela biblioteca, pelas garotas bonitas, pela beleza urbana e o ar de pouco metropolitana de Curitiba. Mas não há nada que você não se acostume, certo?
O Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia e pá.
Segue o baile.
.FueSe te queres ficar, fica; se te vais, vai que eu entendo, não há muito o que fazer nesses casos. As pessoas mais admiráveis são desprendidas por saberem que não pertencem ao aqui, é seu dever apenas passar, para exemplificar a engenhosa transitoriedade traquina de toda a existência. No máximo, aferram-se às mentes de alguns, vivendo em memórias – por sorte, também:algo passageiro.
.PrenúncioComo li e pus de lado, será mais ou menos como: os rapazes planejavam pegar juntos um veleiro que demorava três meses para chegar, carga e escalas e total a seiscentos ou algo parecido. "Claro que vamos, Monito, mas antes é necessário juntar os seiscentos mangos e não é fácil, o ordenado vai embora em cigarros e uma mulherzinha". Um dia não se viram mais, já não se falava do veleiro: "É preciso pensar no amanhã, Shepp, meu velho". E isso é dito mas, conforme lido e acreditado, é assim:
.Anúncio"Al fin y al cabo, no hay persona que no se encuentre consigo misma"
Muito, bastante, deveras desagradável ouvir "lógicos" e "óbvios" por parte do alheio no pós-posto. Particularmente, prefiro um "mas é claro" humilde. "Claro" é palavrinha mais acessível, educada, destituída de toda a carga presunçosa dessas outras. Sem contar que a clareza está ao alcance de qualquer um enquanto, dizem, apenas sábios conseguem enxergar o óbvio.
Coisas aqui: mesa, cadeira, banco, cinco polegadas de tv, quadros para disfarçar o branco e um sistema de aquecimento ineficiente em seus disparos regulares. Um lugar, a cama -- agora nada, embora.Embora tudo tenha que seguir, às vezes volta. Volta. Fico.Diga a todos.
Micro-Narrativas sem Cotidiano
JorgeAdeodato
PedroTeixeira
JUNHO 07parabelo7
Descrição
O evento multimídia TrêsCorpos é um trabalho processual desenvolvido em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, por Raissa Ralôla (dança), André de Freitas Sobrinho (poesia) e Paulo Motta (música eletroacústica). TrêsCorpos foi desenvolvido a partir do convite de Paulo Motta a Raissa e André para participarem de uma apresentação (que inicialmente seria individual) integrada ao projeto Anfitearte – projeto criado e desenvolvido pelos alunos Rafael Roque Leite e Rafael Miranda Meireles do Curso de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Posteriormente, a Faculdade de Letras (FALE) e o CA do Curso de Letras sugeriram que o evento fosse realizado no Anfiteatro dessa faculdade.
Este trabalho solo de Paulo Motta progrediu, então, para um trabalho conjunto – posteriormente denominado TrêsCorpos –, no qual cada participante se responsabiliza por sua área artística específica. O desenvolvimento do trabalho se dá, assim, pela colaboração mútua entre seus participantes, sem que algum deles delibere definitivamente os desenvolvimentos individuais dos demais integrantes. Tal característica qualifica o trabalho como sendo colaborativo e interdisciplinar, no qual cada gênero artístico se deixa perpassar pelos demais, criando uma atmosfera propícia à integração estética.
Multi-Impressões Meta-Premonitivas
O movimento do corpo da dançarina movimenta o silêncio do espaço à sua volta. Impregna o movimento dos sons dos instrumentos musicais e se amálgama com a espacialização dos sons eletrônicos pré-gravados. O instrumentista se movimenta no palco e no auditório, entre os freqüentadores. Os sons se movimentam pelo espaço cênico, agora não mais restrito a área do palco. O corpo do instrumentista se movimenta pelo espaço cênico ampliado. O corpo do instrumentista se movimenta e amplia o espaço cênico. O corpo do poeta se movimenta estaticamente em sua fala e sua poesia caminha por entre os freqüentadores. O movimento do corpo da dançarina afeta os corpos do poeta e do instrumetista. Os movimentos dos corpos se afetam mutuamente. Dança, poesia e música não são "coadjuvantes".
A música acontece não como "música de fundo" para "ilustrar" a poesia e a dança. Dança e poesia compreendem-se como sendo autônomas, assim como a música: eventos que acontecem simultaneamente, corpos que se afetam nos sons da palavra, nos sons da música, no silêncio volitivo do corpo da dançarina. Modulações. Em suas autonomias, poesia, música e dança afetam-se. Intertextualidade.
A poesia, já escrita, é modulada e alterada na leitura, sempre com novas e inéditas inflexões (f)vocais. De frente para o público: a platéia se transforma, assim, em seu palco. Determinação e indeterminação. Modulações. Inversões. O músico dialoga com os sons pré-gravados em suporte fixo e com a poesia e a dança.
Triplo direcionamento. Três corpos físicos: dançarina, poeta, músico. Três corpos estéticos: poesia, dança, música. Seis corpos. Imanência transcendente. Transcendência imanente. Os três corpos físicos transcendem-se continuamente a si mesmos e se metamorfoseiam na construção permanente dos três corpos estéticos. O sentido silente dos corpos. O sentido silente e invisível da dança. O sentido silente e invisível da poesia. O sentido silente e invisível da música. A invisibilidade do sentido aparece no corpo-dança silente, no corpo-música silente, no corpo-poesia silente. O aparecer do sentido, no entanto, não o torna visível, não o torna audível: o sentido aparece, mas não obstante, permanece invisível, silente; o sentido é sentido na percepção, pois percepção requer o envolvimento dos sentidos com o que se percebe.
Os pés da dançarina tocam o solo, produzem sons e rompem o silêncio da dança movimento. Som sem som. Audição, escuta, movimento, visão: sentir com os sentidos. Volição. A poesia rasga a pele: "lã de zinco". Sangramento de sons-movimentos. Os sentidos sentem com a escuta, com a visão, com o olhar, com o tato. Alternâncias. Metamorfose.
A integração entre música, dança e poesia em TrêsCorpos é a queda inusitada de um pássaro. Os TrêsCorpos acolhem a sucessão dos momentos e dos movimentos sempre com perplexidades individuais compartilhadas. Sabe-se da urgência de se otimizar cada movimento, cada gesto, cada palavra, cada silêncio. Chances poucas de que se consiga reproduzir movimentos e sons e palavras e sons e movimentos e palavras. Em cada um que assiste, uma nova chave. Traga as suas.
Chão de Eletro-Acústica Para Paulo MottaSó faz;torta a via entendetímpanos conclusosda nota de uma xícara fraturada
aialasalaia – Sus! Tendes vocalize
Intervalos emSeqüências finismundo do silêncio
Dedos gestos de luzardemde agudas nervurase grávidas cordas graves
pesode não-contero ventoa fibraimastigávelnas muradas do verbo
mar vem...sim vem...vem agoravem, mas de frente... que verso só me aborrece.
PauloMotta
JUNHO 07
JUNHO 07parabeloTrêsCorpos
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Alex Badaró,
nasceu em Leopoldina, radicado em Juiz de Fora, bacharelando em Artes Plásticas pela UFJF e pai.
Participou das Exposições:
HQ e Literatura - CCBM, 2005 (quadrinhos)
Inspiração - Espaço Cultural Reitoria e Galeria Azul, 2006 (collage e desenho)
e agora aqui, no PARABELO.
JUNHO 07parabeloGale ria
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AlexBadaró
estudodo íntimoespecífico
O corpo e a vontade do corpo. Traços de expressão do particular.
A indiscreta lupa. Olhos de vão.
“O ventre é um convite
e a vírgula é o vão do inteiro”.
Estudo de carvão e esfera, marca no indiscutível da curva-mulher: casa da palavra que mora na moldura.
Risco dissolvido na boca. Desenho e risco.
Arisco risco. Árido a risco.
Arrisco. Arrisque.
Espie o íntimo possível, o íntimo específico,
íntima origem... desenho originário, o risco da costela.
Evoquemos Eva, primeva...
risquemos Adão.
JUNHO 07parabeloGale ria
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