Jornal Peregrino - Abril - 2011

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JORNAL DA ASSOCIAÇÃO PACHAMAMA – ANO V / NÚMERO 13 / OUTONO 2011 MELUSINA IRIARTE/ ROSÂNGELA MARIA DA SILVA O momento planetário convida a um senso de pertinência mais simples e real. Os recursos naturais do planeta, resultantes da interdependência dos seres de todos os reinos em profunda conexão com os grandes arquitetos e orquestradores dévicos, não são nossos. A humanidade não detém o planeta, os 80 ou 800 metros quadrados do terreno onde moro, onde está a minha casa e jardim não são meus. Nem a casa, nem o jardim, nem os móveis, eletrônicos e plantinhas que comprei e cultivo. Meu. Teu. Posse. Eu tenho. Nada disso. Vivemos o tempo de aprofundar a percepção da realidade para compreender quem somos e o que estamos fazendo aqui. É fazer isso, ou aguentar e ranger os dentes presos nas gaiolas do racional limitado e limitante. O planeta e seus seres, aos quais ignorantemente chamamos “recursos”, não estão para serem extraídos, usados e abusados pelos humanos. E sim, os humanos é que pertencem ao planeta, a esse ser imenso que chamamos Mãe Terra, Pachamama. A humanidade é uma ínma parte deste ser, que deveria estar em harmonia dentro da grande teia de relações de interdependência que mantém a vida neste plano de consciência e existência. A casa me tem. O jardim me possui. O carro e o celular são meus donos. A quem me entrego? À consciência viva do grande ser que me abriga e sustenta, respeitando seus ritmos e ciclos? Ou, aos brinquedinhos eletrônicos, jogos sociais de status, poder e brilho efêmeros do dito sucesso? “Mano ocupada, mano perdida”, canta Facundo Cabral. Mente iludida, mente gaiola. Mesmo que seja de ouro é uma prisão para a essência natural do nosso ser que faz parte dos sagrados ritmos de Pachamama, pois lha dela, parte dela. Que possamos voar baixo como pequenos pardais, simples e reais. Simplicidade na vida material, simplicidade em nossas escolhas a respeito de onde passar nosso tempo, cultivando relações de amizade e carinho mútuos baseados na profunda compreensão da Vida Una. JARDINEIROS DE PACHAMAMA – O alerta das colmeias - Página 6 EDITORIAL Nos ritmos da Mãe Terra KUICHI DÉDALOS/IVONE DE ALMEIDA LOPES Peregrino_Abril_2011.indd 1 Peregrino_Abril_2011.indd 1 18/04/2011 12:28:13 18/04/2011 12:28:13

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o jornal da ong pachamama

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JORNAL DA ASSOCIAÇÃO PACHAMAMA – ANO V / NÚMERO 13 / OUTONO 2011

MELUSINA IRIARTE/ROSÂNGELA MARIA DA SILVA

O momento planetário convida a um senso de pertinência mais simples e real. Os recursos naturais do planeta, resultantes da interdependência dos seres de todos

os reinos em profunda conexão com os grandes arquitetos e orquestradores dévicos, não são nossos. A humanidade não detém o planeta, os 80 ou 800 metros quadrados do terreno onde moro, onde está a minha casa e jardim não são meus. Nem a casa, nem o jardim, nem os móveis, eletrônicos e plantinhas que comprei e cultivo. Meu. Teu. Posse. Eu tenho. Nada disso.

Vivemos o tempo de aprofundar a percepção da realidade para compreender quem somos e o que estamos fazendo aqui. É fazer isso, ou aguentar e ranger os dentes presos nas gaiolas do racional limitado e limitante.

O planeta e seus seres, aos quais ignorantemente chamamos “recursos”, não estão para serem extraídos, usados e abusados pelos humanos. E sim, os humanos é que pertencem ao planeta, a esse ser imenso que chamamos Mãe Terra, Pachamama. A humanidade é uma ínfi ma parte deste ser, que deveria estar em harmonia dentro da grande teia de relações de interdependência que mantém a vida neste plano de consciência e existência. A casa me tem. O jardim me possui. O carro e o celular são meus donos.

A quem me entrego? À consciência viva do grande ser que me abriga e sustenta, respeitando seus ritmos e ciclos? Ou, aos brinquedinhos eletrônicos, jogos sociais de status, poder e brilho efêmeros do dito sucesso?

“Mano ocupada, mano perdida”, canta Facundo Cabral.

Mente iludida, mente gaiola. Mesmo que seja de ouro é uma prisão para a essência natural do nosso ser que faz parte dos sagrados ritmos de Pachamama, pois fi lha dela, parte dela.

Que possamos voar baixo como pequenos pardais, simples e reais. Simplicidade na vida material, simplicidade em nossas escolhas a respeito de onde passar nosso tempo, cultivando relações de amizade e carinho mútuos baseados na profunda compreensão da Vida Una.

JARDINEIROS DE PACHAMAMA – O alerta das colmeias - Página 6

EDITORIAL

Nos ritmosda Mãe Terra

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AÇÕES EM ANDAMENTO2 - Peregrino - Outono 2011

Aqui acreditamosnos sonhos

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Centro Cultural Pachamama foi inaugurado

em fevereiro em Pelotas

CARIDAD ROMERO MENDIZABAL/ANA LUIZA PATELLA

No domingo, dia 20 de fevereiro, a Associação Pachamama inaugurou em Pelotas/RS, o Centro Cultural Pa-chamama, localizado à rua XV de no-vembro, 1026.

Este sonho começou faz algum tempo, quando sentimos a necessida-de de termos um local onde pudésse-mos realizar palestras, reuniões, me-ditações diárias, yoga andino, ofi cinas de artesanato, exibições de fi lmes com debates a respeito dos mesmos, exposições e recitais.

Por muito tempo sentíamos que precisávamos concretizar o sonho de ter este espaço grupal, nosso “Ashram urbano”, como o chamamos. Assim, um de nossos associados Arthur Dé-dalos/Renato Goulart, um guerreiro querido, teve a iniciativa de agir e não fi car só sonhando e saiu atrás de uma casa que pudesse abrigar nos-sos sonhos. Quando esta casa surgiu, ele foi nos chamar para que fosse um sim grupal. O espaço era muito mais especial do que havíamos sonhado: tem um lindo jardim com estátuas de anões, vários quartos para abrigar os “hermanitos” peregrinos de nossa senda, uma cozinha que nos chama a fazer jantares de confraternização e as janelas da casa, tem corações em seus postigos. E assim, no espaço de uma semana, a casa foi alugada e ini-ciamos as reformas necessárias, para torná-la acolhedora.

Naquele domingo, quando che-guei lá, só estava a presidente da As-sociação Pachamama – Aradia Iriarte/Ana Rita Bretanha Souza –, que desde cedo arrumava nosso Centro Cultural, para que estivesse impecável quan-do chegassem nossos convidados. Aos poucos as cadeiras foram sendo ocupadas, as almofadas do chão e o tapete também... E quando as primei-ras notas musicais do som do violão de Dom Victor Mendizabal/Maurício Mendonça soaram, havia gente em pé até na rua, casa lotada! Fomos condu-zidos às montanhas andinas, ao som de El Condor Pasa e após ouvimos uma música intitulada Pachamama, linda demais.

Após o recital, ouviu-se a palestra do Mestre Lucidor Flores. Este grande inspirador do Movimento da Mística Andina falou sobre a sabedoria sagra-da dos Andes, sua simplicidade, suas raízes e também sobre as nossas raí-zes as quais jamais devemos esquecer. Falou do bom que é em morarmos em cidades como Pelotas, ainda uma pequena cidade, onde conhecemos os vizinhos, as árvores de nosso quar-teirão, o dono da fruteira. Falou sobre as escolhas que fazemos a cada dia e falou sobre nossa senda. Uma senda que respeita e segue a voz do nosso coração, a voz do Mestre Interno, uma voz que só conseguimos escutar quan-do nosso instrumento está afi nado e que é para afi nar nosso instrumento que fazemos em março e setembro, uma prática que dura 21 dias, onde purifi camos nosso corpo físico, emo-cional e espiritual e convidou aos pre-sentes a se juntarem a todos nós que já fazemos essa prática há vários anos. Ao fi nal, falou sobre nosso Centro Cul-tural Pachamama, e concluiu dizendo que onde há cultura, há luz.

Foi servido um coquetel e todos

nós entre sanduíches gostosos, pre-parados por várias mãos de fadas in-tegrantes do Movimento da Mística Andina, pudemos apreciar as belíssi-mas fotografi as de João Luiz Zani e Emmanuel Cruz/Rafael Grigoletti (de São Lourenço do Sul/RS).

O tempo foi passando, as pesso-as conversando, as estrelas surgiram no céu e o violão de Maurício voltou a tocar e encantar a todos, desta vez no

alpendre de nosso centro Cultural Pa-chamama e assim encerramos a noite, enquanto as notas musicais soavam e se perdiam no céu escuro.

Iniciamos uma nova etapa para a Associação Pachamama, esta ONG que nasceu em 2006, na intenção de servir e tratar carinhosamente à mãe terra, este planeta tão especial, no qual moramos e que nos abriga amo-rosamente.

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TRABALHO NA LUZPeregrino - Outono 2011 - 3

ANNABELLA AGUILAR/ADRIANA ANGELITA DA CONCEIÇÃO

O que dirias se te perguntassem: o que é se entregar? E, mais: o que é amar? Tais questões ca-minham juntas, pois amar e se entregar é, antes de tudo, ACEITAR.

Aceitar o outro e a vida com o coração vazio de julgamentos e de críticas. Pois só podemos dizer “eu te amo” se puramente somos capazes de aceitar o outro como ele é. Assim, só AMO se aceito. Mas, aceitar o quê? Aceitar no outro a pre-sença da luz e de Pachamama. Portanto, o amor é entregar-se e entregar-se é aceitar...

Por exemplo, viver o movimento da Mística Andina tem nos convidado a olhar o feminino sa-grado com devoção e gratidão. Hoje vejo em mi-nha amada mãe a ação do tempo, mas também a beleza de quem um dia abriu mão de muitas coi-sas para cuidar de mim e de meus irmãos e ainda nos aceita e se entrega ao nosso modo de ser. As-sim, as mães são o maior exemplo de aceitação. Elas amam os fi lhotes como são: com suas feiúras e suas belezas, elas amam, porque aceitam.

No mar, a fêmea polvo coloca os ovos em lugar seguro, uma “caverna”, e fi ca sem se loco-mover do local, cuidando dos ovos para que não cresça algas e estes não virem alimentos. Ali ela fi ca até que o primeiro “polvinho” se entregue à vastidão do mar. Neste momento, a fêmea mor-re, após passar seis meses sem se alimentar e se entregando ao amor de oferecer a vida.

Com o exemplo da fêmea polvo vamos nos propor algo? Dizer “eu te amo” de coração e alma àqueles que conseguimos olhar nos olhos e ver-balizar: EU TE ACEITO E ME ENTREGO. Fácil? Talvez não! Mas, é um lindo desafi o, pois o cabe-ção criticador oferecerá vários palpites. Ele dirá: como aceitas se ele/ela faz isso ou te fez aquilo? Não importa o que passou, só o hoje existe.

Assim, iremos ao encontro da aceitação e da entrega. E quando chegarmos lá! Ah, que festa! Pois neste lugar habita um deva cheiroso e lumi-noso que nos envolve com sua dança. E se nos entregamos, desfrutaremos do deleite de uma dança perfumada, exalando alegria, entrega e clareza, portanto, amor.

* Annabella Aguilar é o nome espiritual de Adriana Angelita da Conceição, discípula da Mística Andina, residente em São Paulo/SP,

onde faz doutorado em História.

O alegre perfume da entrega

O serviço irradiatório exala alegria devota e só aparece na entrega sincera

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CELINA IRIARTE/ANELISE DE CARLI

A vida é um movimento cíclico, e o mundo físico é uma consequência - e não a causa - de nossas emo-ções, de nosso estado mental e de nossa espiritualidade. Através des-ses sentidos entramos em contato com o viver. Reprogramar a vida a partir do sentir: essa é a proposta do curso Liberdade Financeira, uma ini-ciativa de Aaron Molina, um projeto da ONG Pachamama. Através desse pequeno curso-vivência, pretende-mos mostrar que mudando nosso comportamento podemos mudar o signifi cado dos acontecimentos em nossas vidas.

Quais são suas habilidades? E quais os seus so-nhos? No curso, percebe-se que, para fazer a roda girar, é somente necessário organizar certos aspectos da vida, que nos é presenteada como uma oportuni-dade de aprendizado, uma oferta de carinho, um mar infi nito de possibilidades. Muitas vezes, por medo e falta de confi ança, restringimos nossos potenciais e, assim, impedimos a concretização de sonhos.

Em época de industrialização febril em que os produtos comercializados têm obsolescência progra-mada, enfrentamos o desejo do consumo constante. Criamos frustrações pelos impedimentos materiais e perdemos o valor da simplicidade na vida. A resposta

mais uma vez está na natureza que vive dentro e fora, que transforma o simples, que tudo vive com amor e felicidade: gratidão.

Em quéchua, uma importante língua falada nos Andes, a palavra ayni descreve a aju-da mútua praticada pelas comunida-des. Quando uma pessoa necessita de ajuda, alguém doa o que pode e, por sua vez, em reciprocidade, é au-xiliado quando precisar. Esse é um conceito-chave do curso e do nosso movimento, a Mística Andina. Assim como o tempo e o esforço, o dinheiro é uma energia e nos ajuda a concre-

tizar sonhos, conquistas, faz parte da nossa vida nesse tempo. E, portanto, não deve ser tratado impensada-mente, seu poder deve ser utilizado para a promoção do bem e pertence a essa lei do universo, o ayni, que movimenta a energia e é um símbolo de gratidão.

Somos convidados a pensar em nossa situação atual, nossas capacidades e planejar a prosperidade nesse aspecto através de simplifi cação do consumo, noções de economia e contabilidade e bons hábitos de administração. E, é claro, celebrarmos cada con-quista!

* Celina Iriarte é o nome espiritual de Anelise De Carli, discípula da Mística Andina residente em

Porto Alegre/RS, onde cursa Jornalismo.

LIBERDADE FINANCEIRA RELATO4 - Peregrino - Outono 2011

Disciplina para concretizar sonhos

Mais informações sobre o curso

Liberdade Financeira em www.ongpachamama.org

Valores vivosDOM FELIPE OBELAR/FÁBIO LUIZ DE MELLO MARTINS

Recebi uma mensagem de uma ex--aluna dizendo que eu a havia ensinado a confi ar em si, a aprender sobre si mesma para depois conhecer o mundo, dizendo que mais do que um professor de sala, era um professor da vida.

O que faz um adolescente acreditar em si, a partir da troca de experiências com um professor? Não sei. Não há recei-ta, não há livros que ensinem isso, eu vivi a situação e não sei dar uma fórmula. Va-lores não são conceitos. Devem ser viven-ciados e apreendidos.

Devemos, já, despertar o viver de ou-tra maneira. Fala-se muito em uma nova geração, em crianças índigo, cristal, mas mal fl orescem e as matamos com a ener-gia do consumo!

Só mudaremos com muito trabalho e esforço. Trabalhar com valores é um desafi o, pois signifi ca mexer em gavetas há muito arrumadas, determinadas e pro-curar acordar pessoas há muito dormidas. Sei que é possível, acredito!

Vamos unir nossas forças e crenças, ver o que nos une e não o que nos separa!

Pachamama é abundante, não nos dá escassez, nós que introduzimos a escas-sez nos sistemas e precisamos orientar nossas crianças, adolescentes e adultos a sair dessa rotina, através de valores e sentimentos, não conceitos. Sentir não é conceituar. Saber a defi nição de solida-riedade e respeito de nada serve se não os praticamos. Acredito que a Escola de Valores da Mística Andina deve ter como princípio o experienciar, pois não se con-ceitua confi ança, amor e felicidade, mas se confi a, se ama, se é feliz.

Sou apaixonado pela educação em valores. Há dez anos tive uma vivência com Kaká Werá Jecupé, um índio sábio, que me ensinou a arte de lembrar dos so-nhos e de dançar com o coração, mas ele não me ensinou conceituando, nem com palavras, mas com o coração... E é com o coração que venho aprendendo com Luci-dor Flores a vivenciar valores, ensinando e aprendendo a partir da consciência da Vida Una. Dentro e fora do Movimento da Mística Andina, vamos vivenciar valores, refl etindo sobre como estamos e assim nos transformarmos para transformar-mos o mundo, com as bênçãos de Pacha-mama em parceria com devas e mestres.

* Fábio Luiz de Mello Martins é o nome civil de Dom Felipe "Pipe" Obelar,

educador-aprendiz, poeta e sonhador.

O que é o real? O que você vê, toca, mensura?

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Nestes tempos preciosos, como um puma luta contra as correntes mecânicas do sono da consciência, a cada hora, a cada quinze minutos, pergunta-te, estou acordado? Estou consciente, aberto, relaxado e alerta como um puma?

Faz-te um homem, faz-te uma mulher consciente, com a atenção acordada ao que estás fazendo, e a ti mesma, não te esqueças de teu Mes-tre do Coração que está ali, em cada agora... Sente e consagra-te como um puma acordado!

Índios amados! Tudo é nosso, e tudo o que é nosso é de Pachama-ma. Cuidar do todo é nosso dharma, nosso dever sagrado, para isso acor-da tua atenção. Une-te aos velhos caciques, aos antigos amautas, aos ancestrais kurakas, aos velhos pa-jés... Une-te aos acordados fi lhos da Pachamama e não abandones teus fi lhos vivos, as árvores, os gatinhos, os cachorros, os mares, os morros, os rios, pois tudo é teu. Tudo é de todos!

Ay ay ay ayiaieeee... canta nossa Pachamama, indianidade sagrada. Acordem!

Chega de sonhar dormidos. Va-mos sonhar acordados, conscientes. Não abandones ao seres vivos da pa-cha, da amada terra. São todos bons; são pobres de voz, mas são nobres... Todos os rios, todos os animais, to-dos os ecossistemas te precisam, para isso acorda tua consciência, sê corajoso. És um puma, um jaguaretê, um índio bravo e indomável. Une-te a tribo dos irmãos da vida e vamos cuidar e fazer novamente um jardim desta vida.

*Lucidor Flores é o nome espiritual de Gerardo Bastos, guia do movimento da Mística Andina e autor do livro Andanças de um puma desperto. Para adquirir o livro ou saber mais acesse: www.misticaandina.com.br

Peregrino - Outono 2011 - 5

PELAS SENDAS DA PACHAMAMA

LUCIDOR FLORES/GERARDO BASTOS

A vida nos presenteou com uma luz consciente, que chamamos aten-ção. Andamos pelos caminhos da vida, com ela apagada. Passamos muito tempo sem saber consciente-mente onde estamos, o que fi zemos e esquecidos de nós mesmos.

Quando encontrares o teu Mes-tre no plano físico, ele te dirá muitas vezes, mas muitas mesmo: ACORDA! Pois te asseguro que dormes fascina-do pela identifi cação: com as coisas, com as conversas, com as pessoas. E reagindo mecanicamente, desde o inconsciente, onde tudo está pré--programado, emoções já prontas, respostas intelectuais já recebidas e armazenadas na memória. Observa o que te ensina este mestre.

Para acercar-te da sabedoria mais alta, que se guarda em teu cardíaco,

tens que estar acordado, sensível, aberto, humilde, pequeno, como um índio americano. Assim, sentirás os fl uxos do coração e serás novamente um índio sagrado.

Mas, para isso, não adianta ves-tir-te como... ou cantar como... Tens que assumir teu puma interior, e viver felinamente alerta. Já viste os gati-nhos, eles não dormem, não põem os pés em lugar errado, e ainda quando estão super relaxados, seu estado de alerta é total... como os velhos xamãs andinos, estão super acordados, e re-laxados ao mesmo tempo.

Índios todos! Não abandonem o estar conscientes. Não abandonem a vida, morando na inconsciência! É tão precioso o presente do agora... que a Alma se retrai quando tu segues e segues identifi cado com os objetos e seres de fora, ou com os pensamen-tos e as emoções de dentro. Acorda, e assume que erguido és um índio

destes pampas ameríndios, um puma sagrado, viajando pelas sendas da Pachamama, acordado, gentil, aler-ta, alegre, sábio e compassivo.

Não é possível elevar a frequência vibratória estando dormido, se esgo-ta o ser com tanta inconsciência, te esvazias de poder luminoso, perde-o todo na fascinação do sono... Ama-dos peregrinitos! Façam neste tem-po de batalha, contra a ignorância e o sono da consciência, um esforço de puma andino, para não perder a consciência, para não falecer todos os dias na inconsciência e hipnose.

Fazemos tanto dano a Pachama-ma, por inconsciência, pelos manda-tos do mundo mecânico, dominado pelos senhores do sono e consumo. Acorda terno peregrino! Sente o cha-mado da selva, dos jaguaretês, dos condores, das lhamas, dos peixes to-dos, o pranto de Pachamama é agu-do... Não sentes?!

Como um puma alerta... vou pelo caminho!

Acordar o puma interno é adentrar o campo da maestria: acordado,

consciente, atento, alerta, relaxado e sutil

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CONCURSO DE POESIAS6 - Peregrino - Outono 2011

MELUSINA IRIARTE/ROSÂNGELA MARIA DA SILVA

Em junho, teremos mais um Inti Raymi, onde os que se reconhecem como fi lhos sagrados do amor de Tayta Inti, o Pai Sol, e Pachamama, a Mãe Terra, se encontram para cele-brar solarmente os aprendizados da caminhada e se unir aos ritmos sábios e amorosos do pulsar da Vida reconhe-cendo cada vez mais nossa missão de humanizar a divindade.

O tema do próximo Inti Raymi será o grito de chamamento ao retorno às raízes sagradas: Taki Ongoy. Também denominação de um movimento dos povos andinos em revolta ao jugo dos

invasores espanhóis por volta de 1560, o qual buscava além da libertação, a criação das condições que possibilita-riam essa resistência aos colonizado-res pelo estabelecimento da solidarie-dade dentro do mundo andino. Taki Ongoy convocava a uma consciência de unidade panandina que signifi cava uma revolução no pensamento e iden-tifi cação tradicionais.

A poesia abaixo foi selecionada em concurso promovido pela ONG Pacha-mama em março passado a respeito dessa temática. Sagrou-se vencedora a poesia América Latina, de autoria de Dom Arthur Molina (Edmar Ximenes). Nossos agradecimentos a todos os participantes e parabéns ao vencedor!

Um grito de liberdade

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E CRISTIAN

O AG

UILAR

/ PAULO

VICTOR

BEZER

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E LIMA

América Latina Sou fi lha exuberante e nobre de Pachamama, mãe terraSou rica, com meu berço verde, dourado e prata,Sou fi lha do amor que o coração encerraSou água, vento, fogo, terra e mata

Sou chão adolescente cheio de riquezasSou torrão que acolhe um povo puro e forteSou nascente de luz, de vida cheia de belezasSou fi lha amada terra verde, céu azul por sorte

Sou mãe de fi lhos guerreiros que em minhas tetas comemSou fonte de amor, ninho que aconchega, fui abrigo de terror,Sou semente que pariu fi lhos que pela mãe nada tememSou útero fértil da vida, sangue e leite para o fi lho lutadorSou guardiã do coração de PachamamaSou fl or que desabrocha em aroma que não terminaSou mãe que cuida, nutre, alimenta e amaSou terra fi rme solo fértil sou América Latina

EVITA SANDOVAL

O Taki Ongoy virou canção, afi rmando pela força do canto o sagrado para o povo ameríndio. Conheça a versão de Mercedes Sosa, uma união de duas músicas do também argentino Victor Heredia: Taki Ongoy II e Encuentro en Cajamarca. É possível admirar ainda mais a música conhecendo o signifi cado de algumas das palavras em quéchua que aparecem na letra da canção. Confi ra abaixo.

TAKI ONGOY

Creo en mis dioses, creo en mis huacas creo en la vida y en la bondad de Viracocha creo en Inti y Pachacamac. Como mi charqui tomo mi chicha tengo mi Coya, mi cumbi. lloro mis mallquis hago mi chuño y en esta pacha quiero vivir

* Evita Sandoval é o nome espiritual de Isadora Motoyama, discípula e

estudante em Pelotas/RS.

Para cantar e compreender GLOSSÁRIO

Huacas (waqa)Huacas (waqa): “sagrado”, pode ser tanto uma divindade como o lugar onde uma divindade é cultuada.PachacámacPachacámac (do quéchua Pacha Kamaq) “Que dá Vida ao Mundo”, foi o nome dado pelos incas à divindade suprema da cultura Ichma ou Ichimay, que ocupou os vales de Rímac e Lurín na costa central peruana. CharquiCharqui: (do quéchua chárki) o mesmo charque dos gaúchos; os antigos incas faziam a o charque com carne de guanaco. ChichaChicha: é a bebida feita a partir da fermentação do milho.CoyaCoya: era o título nobre utilizado para distinguir as mulheres membros da família imperial, como a esposa do Imperador, a senhora soberana ou as princesas.CumbiCumbi: é um tipo de tecido especial feito de lã de “alpaca baby”.MallquisMallquis: são os antepassados, as múmias ou suas representações.ChuñoChuño: é uma batata desidratada tradicionalmente feita pelos povos Quechua e Aymara, do Peru, Bolívia, Argentina e Chile.

Associação Pachamama

a serviço da [email protected]

Seja você também um jardineiro da Mãe Terra

Para anunciar e colaborar:[email protected]

Arthur Molina é o nome espiritual de Edmar Ximenes, discípulo, amauta e kuraca dentro do Ayllu Mística Andina; atua como Geólogo em Fortaleza/CE.

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As abelhas visitam entre 10 e 15 fl ores por minuto, coletando

néctar e pólen. Fazem em torno de quarenta voos diários, tocando em 40 mil fl ores.

33 dias é o tempo médio de vida de uma abelha operária! A

rainha vive em torno de 5 anos!

As abelhas põem 3 mil ovos por dia!

Uma abelha produz cinco gramas de mel por ano. Para produzir

um quilo de mel, elas precisam visitar 5 milhões de fl ores e consomem cerca de 6 a 7 gramas de mel para produzirem 1 grama de cera.

Uma colmeia abriga de 60 a 80 mil abelhas. Uma rainha

tem cerca de 400 zangões e milhares de operárias.

JAZMIN LUZ OBELAR/CAROLINA ALLY RAFFAELLI

“Se as abelhas desaparecerem da

face da Terra, a humanidade terá ape-nas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da fl ora, sem fl ora não há animais, sem animais, não have-rá raça humana.” A frase é divulgada como sendo de Albert Einstein. Tal como a preservação das baleias, das tartarugas, a preservação das abelhas é algo urgente e alarmante, pois elas estão desaparecendo de forma enig-mática.

O sumiço das abelhas vem acon-tecendo de quatro anos para cá e é um fenômeno mundial (há relatos na Europa, Canadá e nos Estados Uni-dos, onde é conhecido como Colony Collapse Disorder). As abelhas melí-feras (Apis Mellifera) estão desapa-recendo das colmeias, deixando tudo para trás: comida, fi lhos e a própria rainha. E, curiosamente, ao redor das colmeias não foi encontrada nenhuma abelha morta.

O fenômeno também está ocor-rendo no Brasil. Em Santa Catarina, a Federação das Associações de Apicul-

tores e Meliponicultores (FAASC) re-ceberam tantas reclamações que cria-ram uma comissão técnico-científi ca para pesquisar sobre o assunto.

O professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Afonso Inácio Orth declarou que as queixas maiores foram de apicultores do Litoral Sul e da Grande Florianópolis. A média de perda de colmeias relatada está em torno de 30%, índice muito alto.

Ninguém sabe ao certo os mo-tivos, mas algumas causas já foram levantadas: o mal uso de inseticidas, aparição de vírus, falta de alimentos adequados, fungicidas que afetam a alimentação das abelhas e a intensi-dade no manejo das colmeias, que são transportadas e alugadas para a poli-nização de lavouras em todo o País.

O prejuízo atinge tanto aos que vivem diretamente dos produtos de origem apiária, quanto aos agriculto-res, que dependem das abelhas na po-linização das lavouras. Santa Catarina é o maior produtor de maçãs do Brasil. A polinização desses pomares é feita por milhões de abelhas. Hoje, 100 mil colmeias são usadas nessa tarefa. No-venta por cento da produção de maçã

no Estado depende diretamente da polinização pelas abelhas domésticas, segundo afi rma o professor.

Conforme reportagem do jornal O Estado de São Paulo de janeiro deste ano, Leodete Rohling Pfl eger, apicul-tor de Santa Catarina, perdeu metade da produção de mel. Ele contou que tinha 65 colmeias e as abelhas aban-donaram 33, o que para ele é um mis-tério. A investigação sobre o mistério das abelhas está só começando.

As abelhas têm importante papel no equilíbrio do ecossistema e da bio-diversidade de toda vida, tal como aler-tado pelo físico Albert Einstein.Vamos nos conscientizar utilizando os pro-dutos oriundos das abelhas de forma moderada e medicinal? Vamos pedir a libertação das abelhas dos cativeiros? Façamos nossa parte com a conscien-tização da Preservação das Abelhas, para o bem de toda Pachamama!

* Jazmin Luz Obelar é o nome espiritual de Carolina Ally Raffaelli,

discípula e comadre do Clã Obelar do Ayllu Mística Andina. É mãe do

Francisco, psicóloga que reside em Florianópolis/SC, onde atua como

arte-terapeuta.

JARDINEIROS DE PACHAMAMA

SAIBA MAIS

Peregrino - Outono 2011 - 7

Preservação das abelhas

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Page 8: Jornal Peregrino - Abril - 2011

EXPEDIENTE O PEREGRINO é um informativo do Movimento Mística Andina e um projeto de expansão de consciência da ONG Pachamama. Circula onde o vento o levar, sem constituir sociedade, seita, nem instituição. É organizado por voluntários. Os textos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.CONSELHO EDITORIAL: Isolda Molina (Marissol Iglesias Bastos), Lucidor Flores (Gerardo Bastos), Radha Dédalos (Maria Cristina Marques), Susana Sandoval (Sonia Motoyama) e Violeta Molina (Germana de Oliveira Moraes)EDITORA-CHEFE: Melusina Iriarte (Rosângela Maria da Silva)DIRETOR DE PROJETOS DA ONG PACHAMAMA: Israel Mendizabal (Gustavo Almeida)COLABORADORES: Amankay Sandoval (Michele Berneira da Silva), Arthur Molina (Edmar Ximenes), Celina Iriarte (Anelise De Carli), Caridad Romero Mendizabal (Ana Luiza Patella), Evita Sandoval (Isadora Motoyama), Felipe Obelar (Fábio Luiz de Mello Martins), Lucidor Flores (Gerardo Bastos), Jazmin Luz Obelar (Carolina Ally Raffaelli)FOTOGRAFIAS: Caridad Romero Mendizabal (Ana Luiza Patella), Cristiano Aguilar/ Paulo Victor Bezerra de Lima, Esmeralda Molina (Mariana Franco), Leandro Bierhals Bezerra (Hals), Kuichi Dédalos (Ivone de Almeida Lopes), Isolda Molina (Marissol Iglesias Bastos)JORNALISTA RESPONSÁVEL: Caroline da Silva (DRT/RS: 12.752)PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Aluísio Pinheiro CIRCULAÇÃO: Aletheia Iriarte (Luisa Pilau) - FOTOLITOS E IMPRESSÃO: Gráfica Editora Pallotti - Santa Maria/RSENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected]: 3.000 exemplares

PeregrininhoVII Edição

8 - Peregrino - Outono 2011

Querido Peregrininho, nesta edição queremos chamar a sua atenção para um movimento chamado Taki Ongoy.Os homens nas mais variadas épocas da História fizeram mudanças importantes querendo progredir, às vezes, dominando lugares e povos. Nem todas as transformações foram pacíficas (tranquilas), algumas foram bastante violentas, principalmente as que envolveram os povos indígenas. Os “brancos” chegavam às suas terras e queriam transformar tudo, mudar seus costumes, sua alimentação, sua maneira de rezar, desrespeitando seu jeito de viver e, principalmente a forma como cuidavam e respeitavam PACHAMAMA, a mãe terra.Taki Ongoy foi um movimento de defesa do povo inca contra a domínio dos espanhóis.Os espanhóis queriam suas terras, roubar ouro e prata que eram considerados metais sagrados para os incas (povo que mora no Peru).

E sabem de que forma nossos irmãos incas se defenderam e protestaram?

Com muita dança e cantos, estas foram suas armas.

E por que estamos lembrando disso agora? Porque estamos aprendendo, Peregrininho, a respeitar e defender PACHAMAMA, e também queremos usar como armas nosso canto, dança e muito amor a todos os seres vivos (animais, pessoas, vegetais e minerais).

S E R I L F E F J GD R E C I C L A R EU E A A X O A M I NO D P M O N O O R TR U R A O S O R U IJ Z O A K U Y O A LF I V M M M O S E EV R E A T O G I X ZE D I M R C N D S AQ F T A E O O A Z XW S A H D N I D L MT I R C H S K E K JW A E A E C A O H IR E S P E I T O B YB F R D S E G T U RV H E C O N O M I AV C S W Q T A A S EB N Y R U E L Ç P P

REDUZIR - REAPROVEITAR - RECICLAR - CONSUMO CONSCIENTE - LIXO - ECONOMIA - AMOROSIDADE - RESPEITO -

GENTILEZA - TAKI ONGOY - PACHAMAMAUm abraço e até a próxima edição!

COLABORAÇÃO: Amankay SandovalILUSTRAÇÕES: Leandro Bierhals Bezerra (Hals)

* Amankay Sandoval é o nome espiritual de Michele Berneira da Silva, discípula da senda da Mística Andina, reside em

Porto Alegre/RS, onde atua como pedagoga e Practitioner em PNL (Programação Neurolinguística).

Já aprendemos muitas formas de cuidar de PACHAMAMA, ache- as no caça-palavras:

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