Jornal Voz da Leste

24

description

Primeira edição do Jornal Voz da Leste, idealizado e produzido por um coletivo de pessoas que vivem na região e querem dar voz aos acontecimentos, sob a própria ótica!

Transcript of Jornal Voz da Leste

  • O QUEROLAEMSP

    FBRICAS DE CULTURA Programao dos Cursos de Frias - 02 a 31 de Julho de 2013Nessas frias as Fbricas de Culturas esto com vrias oficinas tcnicas circenses, teatro, dana, artes visuais, artesanato, multimeos, arte urbana. Consulte a programao de cada lugar.

    Fbrica de Cultura Vila CuruaEndereo: Rua Pedra Dourada, 65. Prximo a Avenida Nordestina (altura do n 5800).Telefone para contato: (11) 2016-3316

    Fbrica de Cultura Itaim PaulistaEndereo: Avenida Estudantes da China, n 500. Telefone para contato: (11) 2025-1991

    BIBLIOTECAS DOS CEUS NA ZONA LESTEa rede de bibliotecas dos Cus cidade de So Paulo possui algumas bibliotecas temti-cas. Consulte as atraes de cada espao. Os Cus ainda possuem atividades esportivas e culturais para todas as idades.

    Biblioteca CEU gua AzulAvenida dos Metalrgicos, 1300 - COHAB Cidade Tiradentes - 08471-000Telefones: 11 2285-0335 , 2282-7157 e 2016-4476 [email protected]

    Biblioteca CEU Alto AlegreRua Bento Guelfi, s/nJardim Laranjeira - Iguatemi - 08381-001Telefones: 11 2075-1018 e 2075-1019Diretoria Regional de Educao So [email protected]

    Biblioteca CEU Aricanduva Mario QuintanaRua Olga Fadel Abarca, s/nJardim Santa Terezinha 03572-020Telefones: 11 2723-7513, 2723-7519 e [email protected]

    Biblioteca CEU Azul da Cor do MarRua Ernesto de Souza Cruz, 2171Cidade Antonio Estevo de Carvalho - 08225-380Telefone: 11 [email protected]

    Biblioteca CEU FormosaRua Sargento Claudiner Evaristo Dias, s/nParque Santo Antnio - Vila Formosa - 03385-150 Telefone: 11 2216-4622 Diretoria Regional de Educao [email protected]

    Biblioteca CEU Incio Mon-teiro Adelaide de Castro Alves GuimaresRua Baro Barroso do Amazonas, s/nCohab Prestes Maia - 08472-720Telefone: 11 [email protected]

    Biblioteca CEU Jambeiro Eugnia Alvaro MoreyraAv. Jos Pinheiro Borges, 60Guaianases - Telefone: 11 2960-2017 [email protected]

    Biblioteca CEU LajeadoRua Manuel da Mota Coutinho, 293Lajeado - 08451-420Telefones: 11 2153-9930 e [email protected]

    Biblioteca CEU Parque So Carlos Barbosa Lima Sobri-nhoRua Clarear, 141Vila Jacu - Jardim So Carlos - 08062-590Telefone: 11 [email protected]

    Biblioteca CEU Parque Vere-das Paulo LeminskiRua Daniel Muller, 347Itaim Paulista - 08141-290Telefone: 11 [email protected]

    Biblioteca CEU Quinta do SolAvenida Luiz Imparato, 564Cangaba - 03819-160Telefone: 11 [email protected]

    Biblioteca CEU Rosa da Chi-na Ju BananreRua Clara Petrela, 113Jd. So Roberto - 03978-500Telefones: 11 2701-2318 e [email protected]

    Biblioteca CEU So Mateus Camilo Pedro dos ReisRua Curumatim, 221Pq. Boa Esperana - 08341-240Telefone: 11 2732-8117 [email protected]

    Biblioteca CEU So Rafael Mrio PalmrioAv. Ragueb Chofhi, 1.400So Rafael - 08395-320Telefone: 11 [email protected] Biblioteca CEU SapopembaRua Manuel Quirino de Mattos, s/nJardim Sapopemba - 03969-000Telefones: 11 2075-9117 e [email protected]

    Biblioteca CEU TiquatiraAvenida Condessa Elizabeth Robiano com a Rua Kampala, 270Penha - 03704-015Telefone: 11 2227-0516 (CEU)Diretoria Regional de Educao [email protected]

    Biblioteca CEU Trs PontesRua Capachs, s/nJardim Clia - 08191-330Telefone: 11 3678-5383 / [email protected]

    Biblioteca CEU Vila Curu Joo Cabral de Mello NetoAv. Marechal Tito, 3452Jd. Miragaia- 08115-000Telefone: 11 [email protected]

    CASAS DE CULTURA Casa de Cultura do Itaim PaulistaProgramaoCapoeira - tera e quinta-feira das 19h as 21h 1Hip Hop quarta e sexta das 19h as 21h 1 Teatro Vocacional quarta das 18h as 21h 1 Teatro Vocacional das 14h as 17h Do-mingo 1 Dana Contempornea Vocacional das 14h as 17h Quarta e Quinta 1 ARTES VISUAIS ESGOTADO 1 Artesanato das 14h as 17h Tera e quinta-feira 11 Todo ltimo sbado de cada ms ocorrere a ocupao cultural O que Dizem os Umbigos. Dia 27 o Sarau recebe a partir das 19h a Banda Florandu Acorde.

    Casa de Cultura da PenhaProgramao a CoNsultarCentro Cultural da Penha(Teatro Martins Penna|Biblioteca Jos Paulo Paes)Largo do Rosrio, 20, Penha. Prximo do Shopping Penha. Zona Leste. tel.2295-0401Atendimento: 3 a dom., das 10h s 22h.

    Centro de Formao Cultu-ral de Cidade TiradentesProgramao a CoNsultarRua Incio Monteiro, altura do n 6.900, esq. com Rua Alexandre Davidenko, Cidade Tiradentes. Zona Leste.

    MUSEUSMuseu da Imigrao do Esta-do de So PauloAntiga hospedaria dos imigrantes que chegavam ao pas, atualmente em reforma o museu abriga documentos e acervos relativos imigrao de estrangeiros. Atualmente o Museu conta com exposio virtual sobre a Revoluo de 1932 . Tradicionalmente o es-paco realiza a festa das Naes com comidas, danas e cultura em geral de vrios pases que vieram pra So Paulo.Rua Visconde de Parnaba, 1316 - So Paulo /SP - CEP: 03164-300|Tel.: (11) 3311-7700| 2692-1866| 2692-9218E-mail: [email protected]

    Casa do TatuapO lugar uma das preciosidades histricas da cidade, e fica bem no corao da zona leste. A casa foi construda em 1698, segundo consta o registro que comprova a construo do imvel. No incio do sculo XIX o terreno abrigava uma olaria que produzia exclusiva-mente telhas. Com o desenvolvimento econ-mico resultante da imigrao italiana, o lugar tambm passou a produzir tijolos. Hoje abriga um Museu dedicado a exposies de arte, artesanato, histria colonial e da Zona Leste. Seu acervo composto por bens fotogrficos, arqueolgicos, mveis e de memorial oral.ZONA LESTE: UM NOVO OLHARMostra lana olhar sobre a regio leste da cidade, resgatando aspectos materiais e huma-nos da ocupao da regio mais populosa da cidade. Abertura no domingo, dia 9 de dezem-bro, s 11 horas. Entrada gratuita e livre. Servio: Rua Guabiju, 49, Tatuap, zona Leste So Paulo| Tel.: (11) 2296-4330 www.museudacidade.sp.gov.br/casadotatuape

    Dia 28 (domingo), das 15h s 19h. CEU gua Azul Av. dos Metalrgicos, 1.262. Cidade Tiradentes, Zona Leste. Entrada franca. (11) 97997-8433. [email protected]

    Samba do amliaAcontece desde maio de 2011 realizado todo terceiro sbado do ms com o melhor do samba de raiz e apresentao de com-posies originais. A comunidade pesquisa as letras e musicalidade das Velhas Guardas, dos compositores e dos sambistas consagrados e de outras comunidades de samba.Dia 20 (sbado), das 17h s 22 h. Rua Juve-nal Moreira,28. Travessa da Avenida Laranja da China. Vila Jacu. Jardim das Camlias. Zona Leste. Entrada franca (11) 9789.6269 (Sidney Medeiros)/ 9140.0207 (Ricardo de Macedo). http://csdocamelia.blogspot.com.br/

    Comunidade Maria CursiFoi fundada por um grupo de amigos e realiza suas apresentaes de samba todos os sbados. O pblico tem a chance de conferir samba de raiz e de terreiro. Conta com consagrados nomes da msica brasileira, assim como o de compositores da prpria comunidade da Maria Cursi. Todos os sbados, das 20h s 00h. Avenida Maria Cursi, 799 - So Mateus (altura do n 2680 da Av. MateoBei). Zona Leste. Entrada franca. 9188-9186 c/ Reinan.

    Samba Da TendaRoda de samba formada em 2001 por msicos e compositores de So Miguel Paulista com o objetivo de resgatar o samba popular e apresentar composies da comunidade. Acontece no ltimo sbado do ms. Dia 27 (sbado), das 17h s 21h. CDC Tide Setbal Rua Mrio Dallari, 170. Jardim So Vicente. So Miguel Paulista, Zona Leste. Entrada franca. (11) 2297-5969/8419-0665 c/ Ney.

    Samba Do OlariaIniciou em 2004 com uma reunio de amigos e instrumentistas num bate-papo sobre a autenticidade do ritmo, sem a inteno de prosseguir regularmente. Em formato de Samba de Mesa, o encontro acontece sem hora para acabar. Todos os msicos so da comunidade da Vila Alpina. Todos os sbados, a partir das 18h. Rua Gaspar Barreto, 387. Vila Alpina. Zona Leste. Entrada franca. (11) 2917- 5974 c/ Ricardo Romano.

    Pagode Do SobradoTeve incio em janeiro de 2007 quando o Sr. Alisson e sua famlia resolveram abrir as portas da sua casa para enaltecer o Samba Raiz e o Partido Alto. Todos os domingos, das 18h s 22h. Av. Stio Novo, 11B - Jd. Lenize (em frente escola Cyro Barreiros) Guarulhos. Entrada R$ 3,00 ou 1 kg de alimento no perecvel. (11) 97080- 4607/96753-6865.

    Terreiro De CompositoresEncontro de sambistas e compositores na Zona Leste, que se renem para apresentar suas msicas e evidenciar as composies de samba que so reunidas em um caderno para que todos possam acompanhar a letra e seguir a melodia. Todas as quintas-feiras, das 20h s 23h. Qua-dra da Escola de Samba Unidos de So Lucas Rua Carminha,264. Parque So Lucas, Zona leste. Entrada franca. (11) 7228-5080/9866-7270. [email protected].

    PONTO DE CULTURACapela de So Miguel ArcanjoRaro monumento da histria do Brasil, a ca-pela abriga exposies de arqueologia, murais, entalhes e moveis que permitem entender um pouco do passado colonial da cidade. A Capela hoje um Ponto de Cultura e Mu-seu. Atualmente abriga a exposio fotogrfica Punctum e Studium no Patrimnio, fruto dos alunos do curso de Fotografia e Patrimnio oferecida pela espao.SERVIO: Quintas e sextas das 10h. s 12h. e das 13h. s 16h. (fechada das 12h. s 13h. para almoo). Somente visitas agendadas pelo telefone 2032 - 3921 ou [email protected], (sujeito a disponibilidade de agenda.) Sbados das 10h s 12h. e das 13h. s 16h. (fechada das 12h. s 13h. para almoo). Somente pblico espontneo.Segunda quarta, domingos e feriados, fecha-da. Ingresso R$ 4,00 (inteira) R$ 2,00 (meia) estudantes com identificao escolar.Isentos Crianas at 7 anos idosos a partir de 60 anos professores e estudantes da rede pblica portadores de necessidades especiais.Endereo: Praa Padre Aleixo Mafra (Praa do Forr) s/nhttp://capeladesaomiguelarcanjo.blogspot.com.br

    MUSICA Batidas & RimasO grupo de rap D Quebrada com o apoio do Programa VAI/ 2013 realiza o Projeto Batidas & Rimas misturando Hip Hop com gneros musicais da Black Music como o Jazz , Funk, Soul, Rock, Samba Rock, entre outros.O grupo D Quebrada foi formado em 2005 pelos MCs: Doidera, Dan e Duin, oriundos Cidade Tiradentes, na Zona Leste. A primeira edio do projeto acontecer no CEU gua Azul, o grupo se apresentar com a Banda e os convidados: Crew MB2O, James Bantu, Viegas, Joo Carllos & Os Coraes Partidos.

    Julho de 2013AGENDA CULTURAL

  • Julho de 2013EDITORIAL

    EXPEDIENTE Editores: Elaine Mineiro e Marcel Cabral Couto Arte e Diagramao: Lese Pierre, Paloma Valria dos Santos, Patrcia Portugal e Patrcia Mayumi Ishirara Ilustraes: Cadu, Ebbios e Normal Jornalistas: Aurlia Cavalcante, Lvia Lima e Maurcio de Moraes Noronha (Muro) Reviso: Marlia Magalhes Cunha Colaboradores: Adailton Alves Teixeira, Antonio Miotto, Dimitry Uziel, Escobar Franelas, Dbora Freitas, Daniel Marques da Silva, Danilo Morcelli, Ligia Costa, Marcela Cristina dos Santos, Nina Cappello, Queila Rodrigues, Ruana Negri e Sandra Frietha Parceiros: ANEL-SP, Casa de Cultura do Itaim Paulista, Centro de Formao Cultural Cidade Tiradentes, Coletivo DAR, GRCS Escola de Samba Unidos de Santa Brbara, Jornal Brasil de Fato e Sarau o Que Dizem os Umbigos, Vander Ramos Administrao: Adriano Borges, Elaine Mineiro, Marcel Cabral Couto e Simone Estrela Contatos: e-mail: [email protected]; facebook: https://www.facebook.com/VozDaLeste; Blog: vozdaleste.blogspot.com; Anncios: [email protected]; Cel: 963811073 (Marcel) Grfica: Taiga Grfica e Editora Ltda. Tiragem: 3.000 exemplares.

    2

    ALVORECER

    Realizao:

    A regio leste a mais povoada de So Paulo, antiga morada de tribos indgenas, lugar do incio da colonizao portuguesa na cidade, morada de imigrantes de muitos paises e regies do pas, um mundo inteiro tempera aqui. na borda dessa regio que temos a honra de lan-ar um jornal novo para mostrar as delcias desse cantinho da cidade, lugar que sofre tanto preconceito pelo imaginrio paulistano fortemente influenciado por uma mdia que mostra a periferia apenas pela tica da precariedade, esquecendo que aqui a vida pulsa. E esta vida pulsante que queremos pincelar com o Voz da Leste, aqui se respira muita cultura e arte, gente atuando em busca de uma outra cidade, de uma nova forma de existir nesse mundo onde querem transformar tudo em mercadoria, mas na periferia temos certeza, sob nosso ponto de vista, a vida, a felicidade, a arte, a cultura, o sorriso e a luta no esto venda.

    Um coletivo de pessoas resolveu se juntar e criar um meio de comunicao que mostre uma outra zona leste que no apenas aquela do sangue mostrado no Datena e SPTV, mas tambm a do colorido que vai do Brs Cidade Tirantes, o tempero que anda da Mooca ao Itaim Paulista, as estrias da Penha, de So Miguel, de Ermelino Matarazzo, as lu-tas nossas em Itaquera ou no Belm. No importam tanto os bairros em si, mas as pessoas que os habitam e costuram suas vidas entre o sol nascente e o resto da cidade, valorizando os artistas locais, os coletivos culturais, as bandeiras de luta, as memrias de moradores e moradoras que construram e constroem essa parte da cidade.

    Nessa primeira edio apresentamos os impasses e lutas da copa para a zona leste, as manifestaes que tomaram as ruas da cidade. Tambm temperamos com textos apresentando coletivos culturais da regio e dicas de msicos que j trilham um ca-minho em sua arte. Tudo recheado com belas ilustraes feitas exclusivamente pra o jornal. Visite tambm nossa pgina no facebook e nosso blog: vozdaleste.blogspot.com.

    Gostaramos de agradecer a todos que contriburam de alguma forma para que este proje-to sasse no papel, nossos parceiros, colaboradores e a Equipe do VAI, sem os quais este jornal no seria possvel.

    O Voz da Leste seu, nosso, participe, colabore, envie-nos crticas, sugestes, pautas, textos, imagens e boa leitura.

    Elaine Mineiro e Marcel C. Couto - Editores So Paulo, Julho de 2013.

    Pssaro no dia - Lese Pierre

  • Julho de 2013

    REDUO DA MAIORIDADE

    PEnAl:

    CONTRA

    Estamos diante de uma res-posta rpida assumida por mui-tas pessoas, numa articulao entre a sensao de inseguran-a, a espetacularizao da vida e o oportunismo poltico. A base para a soluo apresenta-da se contrape a alguns dados, como a informao divulgada pela Fundao Casa (So Pau-lo) neste ano, que significativa-mente apontam que, dos apro-ximadamente 9.016 internos, apenas 0,6% esto encarcera-dos por motivo de assassinato.

    A medida de reduo da maioridade penal no deseja a ressocializao de adolescen-tes, mas o encarceramento violento, marcado por distin-tas violaes de direitos hu-manos. Alm do mais, seguin-do os passos do atual estado, a reduo da maioridade penal ampliar cada vez mais a cri-minalizao de uma classe, de uma cor e etnia, e de um ter-ritrio nas cidades: a popula-o pobre, negra e perifrica.

    Eduardo Brasileiro, 22 anos, coordenador de projeto social.

    Contra ou a favor? Texto: Lvia Lima Ilustraes: Cadu

    Aps a comoo pblica diante do assassinato de Victor Hugo Deppman, de 19 anos, durante uma tentativa de assal-to feita por um jovem de 17 anos, muito se discutiu sobre as propostas que esto em votao na Comisso de Constituio e Justia (CCJ) do Senado, sobre a possvel reduo da maio-ridade penal.

    Apesar de pesquisas indicarem que a maioria da populao aprova, as opinies de especialistas so contrrias reduo. Dentre esses especialistas esto desde defensores de direitos humanos, at juristas (que alegam que a reduo invivel, pois altera uma clusula ptrea da Constituio).

    A seguir, uma opinio a favor e outra contra a reduo da maioridade penal:

    A FAVOR

    Nosso pas tem vivido dias em que a vida se tornou algo to banal, que menores infra-tores esto cometendo cri-mes hediondos sem qualquer tipo de receio ou pudor. A partir do momento que estes jovens tiverem a certeza que seus crimes no ficaro impu-nes, eles devero pensar duas vezes antes de sair matando a torto e a direito.

    Nossos governos deve-riam investir na construo de prises isoladas em regies no habitadas, onde os presos tenham que trabalhar para se sustentar e para indenizar to-dos que foram prejudicados por seus atos. E em educao, a melhor ferramenta para im-pedir que estes jovens entrem no mundo da criminalidade.

    Mnia Gentilim, 28 anos, analista administrativa.

    3 DEBATE

  • 4O BRASIL uM PAS RACISTA

    Em nosso pas, a reali-dade do povo negro mostra que estamos muito longe de viver no Brasil da Igualdade Ra-cial. As senzalas modernas so o trabalho terceirizado, a violncia policial, a precarie-dade dos servios pblicos, a poltica de criminalizao da pobreza e a higienizao t-nico-racial da populao afro-descendente.

    O movimento negro j teve importantes conquistas, a comear pela criminaliza-o do racismo, que, apesar de raramente sair do papel, uma ferramenta de amparo, pois inibe e cobe a prtica do preconceito. Contudo, com-bater o racismo muito mais do que simplesmente punir as prticas preconceituosas. Passa, tambm, por exigirmos do Estado e dos governos que os crimes histricos contra o povo negro sejam reparados.

    Por isso mesmo, nas lti-mas dcadas, as lutas do mo-vimento negro tm se voltado fundamentalmente para as aes afirmativas e as repara-es, que amenizem as marcas deixadas por uma histria de um povo que foi escravizado, humilhado e teve seus direitos pisoteados e sonegados.

    As cotas raciais so aes afirmativas, ou seja, polticas e medidas que podem mini-mizar os efeitos da discrimi-nao, marginalizao e se-gregao. Por isso, estas aes tambm so conhecidas como discriminao positiva.

    COTAS RACIAIS: uMA MEdIdA NECESSRIA

    Sabemos que as cotas ra-ciais no vo acabar com o racismo. No entanto, essa rei-vindicao parte da luta ne-

    Do Portal da ANEL Assemblia Nacional dos Estudantes - Livre.

    Em 23/04/13

    DIREI-TOSHU-MA-NOS

    A juventude negra tem direito ao futuro!

    PROJETO DE COTAS

    RACIAIS DA ANEL SP

    cessria para que o povo negro conquiste, de fato, a igualdade e tenha a devida reparao pelos sculos de escravido, marginalizao e excluso.

    Infelizmente, a educa-o em nosso pas est longe de emancipar a populao e produzir conhecimento para atender s necessidades so-ciais. Sempre esteve aliada aos antigos interesses de uma elite conservadora, em sua grande maioria branca e herdeira do pensamento escravocrata.

    Essa elite forjou uma edu-cao com o objetivo de cons-truir valores ticos e morais que reafirmassem a suposta democracia racial existen-te no Brasil e escondessem a herana dos negros na hist-ria do pas. Tratou, assim, de homogeneizar, higienizar e padronizar culturalmente as prticas e os saberes, preva-lecendo sempre um padro esttico e histrico vinculado sociedade europeia.

    Alguns dados do IBGE (2010) comprovam o abismo social e racial existente na educao. Apenas 5,9% dos jovens brancos, com 15 anos de idade ou mais, so analfa-betos. Essa proporo aumen-ta para 13% nos jovens pardos e para 14,4% nos jovens pre-tos da mesma idade. Se olhar-mos para o ensino superior, veremos que apenas 8,3% dos estudantes das universidades pblicas so negros.

    Por isso, a luta pelas co-tas raciais , em primeiro lu-gar e acima de tudo, uma luta contra o racismo e no pela democratizao do acesso ao ensino superior. Infelizmente, ainda hoje, so reservados aos negros os bancos nas escolas pblicas sucateadas, no me-lhor dos casos, nas universi-dades particulares. As univer-sidades pblicas ainda so um sonho distante. A obrigatorie-dade das cotas um avano, mas a ampliao do acesso universidade atravessa neces-sariamente a luta pelo fim do funil do vestibular, a estatiza-o das universidades privadas e por mais investimentos na educao pblica, sendo, por-tanto, indissocivel da luta por outro projeto de educao.

    Por outro lado, a adoo de cotas sociais para estudan-tes da rede pblica de ensino no atende diretamente ju-ventude negra. Aplicar apenas as cotas sociais refora a ideia de que no existem meca-nismos de excluso racial no Brasil e, por conseguinte, no necessria uma poltica de reparao histrica especfica ao povo negro. E os nmeros demonstram o contrrio: h enormes diferenas nos nveis de alfabetizao e condies de vida, de brancos e negros, mesmo entre aqueles que fre-qentam a escola pblica.

    Mesmo que os negros se-jam a maioria dos estudantes

    de baixa renda, eles, alm de sofrerem com a pobreza, so-frem tambm com a opresso racial. Por isso, os negros so a maioria entre os jovens analfa-betos e abandonam os estudos mais cedo. Alm da compre-enso implcita, na sociedade, de que a universidade no o lugar dos negros.

    Dessa forma, apenas com as cotas sociais, assistiramos a uma maior incluso dos bran-cos e, ainda, estaramos contri-buindo ao no-reconhecimento das profundas marcas do racis-mo em nossa sociedade. Por-tanto, defendemos as cotas ra-ciais, desvinculadas das sociais, visando promover a reparao histrica ao povo negro, que ainda sofre com as consequn-cias de sculos de escravido e racismo em nosso pas.

    PIMESP: ELITIzAO, PRECONCEITO E PRECA-RIzAO NO ENSINO SuPERIOR PAuLISTA!

    O governo Alckmin apre-sentou, no fim de 2012, seu projeto de democratizao do ensino superior paulista, o Programa de Incluso com Mrito do Ensino Superior Paulista (PIMESP). O progra-ma prev, em linhas gerais, uma meta de que 50% das vagas das trs universidades estaduais paulistas e da FA-TEC correspondam a alunos da rede pblica e negros com uma prazo de 10 anos para que se reavalie o programa. Os alunos sero selecionados pelo ENEM e pelo Saresp.

    Entretanto, os cotistas se-ro integrados ao Instituto Co-munitrio do Ensino Superior (ICESP), um tipo de college semipresencial de dois anos, em parceria com a UNIVESP, no qual os alunos tero aulas de reforo (nivelamento) de exa-tas, humanas e biolgicas. Aps um ano do college, s os co-tistas com aprovao integral podero ingressar na FATEC. Depois do segundo ano, ape-nas os cotistas com rendimento superior a 70%, alm de rece-berem um diploma de ensino superior sequencial, podero ingressar na universidade.

    A ordem de preenchimen-to das vagas e a escolha dos cursos sero determinadas segundo o ranking dos alunos no college. Todos os cotistas ganharo uma bolsa nfima de meio salrio mnimo. O pro-jeto deve ser ainda aprovado pelos Conselhos Universit-rios para ser implementado a partir de 2014.

    Esse projeto pressupe que os negros cotistas no podero ter o mesmo desem-penho que os brancos e que, portanto, vo piorar a qualida-de de ensino das universidades pblicas. Por isso, precisam de uma antessala antes do acesso universidade, dois anos de curso preparatrio.

    O PIMESP s aumenta o

    carter meritocrtico do aces-so ao ensino superior pblico no estado, cobrando altos n-dices de aprovao dos alunos. A exigncia de mais de 70% de rendimento aos cotistas mais um obstculo para os jo-vens negros, que, na prtica, vai provocar uma alta taxa de evaso do college.

    O projeto do governo es-tadual tambm reserva aos cotistas uma educao de ps-sima qualidade, com ensino distncia, ampliando as fun-es da UNIVESP (Universi-dade Virtual do Estado de So Paulo). Alm disso, instaura o ensino superior sequencial, de dois anos, os famosos esco-les de 3 grau, com o intuito de formar rapidamente mo de obra semiespecializada.

    O PROJETO dE COTAS RACIAIS dA ANEL SP

    A Executiva Estadual da ANEL SP quer elaborar uma proposta de cotas raciais do movimento estudantil inde-pendente, com o objetivo de proporcionar aos estudantes do estado de So Paulo um programa voltado a contem-plar as necessidades da juven-tude negra.

    Essa iniciativa muito im-portante neste momento, pois o conjunto do movimento es-tudantil e negro paulista, que se encontra em luta contra o PIMESP, est polarizado por outros projetos de cotas de parlamentares da ALESP. A se-guir, as linhas gerais de nosso projeto de cotas raciais:

    Texto extrado de: h t t p : / / ane l on l i n e s p . b l og spo t . c om .br/2013/04/em-defesa-da-juventude-negra-anel-sp.html.

    NOSSOS DIREITOS

    INICIATIVAS:

    1) Intensificar a campanha contra o PIMESP e pela defesa das cotas raciais, apresentando o nosso projeto nas escolas e universidades com debates, passagens em sala, etc.2) Material online sntese da proposta e publicao do texto no blog da executiva.3) Prximo boletim da ANEL apresentando o nosso projeto indicado para o inicio do ms de maio.4) Setorial de opresses na executiva estadual, aberto para a participao de todos, com o objetivo de aprofundar e divulgar o tema.5) Nota exigindo a aplicao do projeto de lei que prev o ensino sobre a histria da frica e do povo negro.6) Indicar para a executiva estadual redigir uma moo de apoio luta dos estudantes da UNESP por permanncia estudantil.

    1) Reservar uma porcen-tagem das vagas das trs uni-versidades estaduais paulistas (USP, UNESP e UNICAMP) e do Centro Paula Souza (FA-TEC e ETEC) s cotas raciais, para todos os cursos e pero-dos. Essa porcentagem ser idntica porcentagem de ne-gros na populao do estado de So Paulo, segundo a pes-quisa mais recente do IBGE.

    2) Os alunos devero esco-lher entre o processo seletivo tradicional e as cotas raciais na hora da inscrio ao Exame de Vestibular. O direito dos alu-nos s cotas raciais ser deter-minado por meio do mtodo da autodeclarao coletiva.

    3) As instituies pblicas de ensino tcnico e superior do estado USP, UNESP, UNICAMP e o Centro Paula Souza devero destinar ver-bas especficas s polticas de Permanncia Estudantil vol-tadas a todos os(as) estudan-tes cotistas, que sero geridas por uma comisso de estu-dantes, funcionrios e profes-sores autnoma. Polticas de Permanncia Estudantil so as medidas institucionais que visam assegurar moradia es-tudantil, alimentao, trans-porte, bolsas sem contrapar-tida, creches, entre outros direitos dos estudantes.

    Julho de 2013

  • Julho de 2013

    TOMA AS

    RUAS

    O Brasil acordou uma das fra-ses mais ouvi-das nas ltimas semanas, seja nas redes sociais, seja nas faixas das ruas e na boca do povo. Nunca se falou tanto sobre poltica, e isso na mesma semana da Copa das Confede-raes que, bem sabemos, se trata da maior paixo nacional, ao menos para uma maioria da populao. Como explicar esse fenmeno de despertar brasi-leiro, bem na poca de uma pai-xo nacional, o futebol?

    So muitas as respostas para essas manifestaes pelo Brasil, alguns dizem que o pais acordou, outros que setores deste pas sul-americano nun-ca dormiram, como o caso dos movimentos sociais, das periferias, dos partidos de es-querda e da mdia alternativa (aquela que no est ligada aos grandes grupos Folha, Abril, Globo, Estado, Re-cord, Band, SBT) que h anos denunciam as barbries que ocorrem em nosso pas de Norte ao Sul.

    Mas o estopim foi o au-mento das passagens de me-tr, trem e nibus, denun-ciando no apenas os lucros excessivos das empresas de transporte, mas tambm um sistema de locomoo que no verdadeiramente pblico e no garante o DIREITO DE IR E VIR, garantido pela Consti-

    tuio de 1988. Foi nesse ce-nrio que o Movimento Passe Livre (MPL) ganhou fama ao levar s ruas no apenas essas denuncias mas o debate sobre o Direito Cidade e sua cons-truo coletiva (leia sobre o MPL abaixo).

    H dcadas os movimen-tos sociais ocupam as ruas para exigir seus direitos e a mudana radical do sistema poltico brasileiro (poltico, econmico, social, cultural, ambiental) que se funda numa falsa democracia onde pou-cos mandam e tem direitos de fato enquanto o resto da populao vive mngua . Os motivos so muitos: o abusivo dinheiro pblico gasto com as obras da Copa, Olimpadas, e agora com a vinda do Papa, se somaram aos pssimos servi-os pblicos oferecidos pelos governos federal, estadual, e municipal; a represso dos movimentos sociais, estudan-tis e da sociedade civil organi-zada; as violaes de Direitos Humanos que a Polcia Militar cotidiana e sistematicamente praticam pelo Brasil profundo, entre outras mazelas que esta-vam presas na garganta.

    CONquISTAS E CAMI-NhOS dO MOVIMENTO

    As conquistas do MPL nas cidades com as redues das passagens e o enterro da PEC 37 (PEC da impunidade) pelo

    Congresso so algumas das conquistas das ruas, mais uma prova de que apenas a socieda-de organizada em torno de ob-jetivos comuns podem mudar o cenrio de uma democracia burguesa excludente para uma democracia socialmente jus-ta. Contudo, temos que ficar alertas, os setores conserva-dores da direita brasileira, ca-pitaneados pela mdia burgue-sa de planto (j mencionadas acima) podem desviar os mo-vimentos populares para um estado ainda mais autoritrio, privatista e elitista. Vide os ataques s pessoas que hastea-vam as bandeiras vermelhas de seus partidos ou movimentos sociais, bandeiras que h d-cadas j estavam acordadas nas ruas exigindo um outro pas, pessoas que h muito apanham da PM e so taxadas pela im-prensa como vagabundos, ba-derneiros, que atrapalham o trnsito, e que agora se vem obrigados a baixar suas ban-deiras porque o resto do Brasil despertou. Dois exemplos marcantes so a Uneafro e o Coletivo de teatro Dolores Boca Aberta Mecatrnica de Artes. A primeira entidade reconhecida pela lutas pelo direito da populao negra, historicamente excluda e marginalizada, e a segunda um premiado coletivo de teatro da zona leste, que foram hos-tilizados por estarem com ca-

    misetas vermelhas, tendo que abandonar as manifestaes sob o risco de agresso fsica. Isso nos leva pergunta: afinal para onde vo as manifesta-es? As organizaes popu-lares precisam se reunir, criar comits, formando uma ampla rede para frear os desvios di-reita das manifestaes, tais como esto sendo feitas nas periferias de So Paulo.

    Ano que vem a Copa, em 2016 as Olimpadas, per-odo ideal para mostrar para o mundo que a nossa Primavera de lutas est apenas come-ando em direo ao pas que queremos, e que no esse vendido em comerciais de TV.

    A PERIFERIA NuNCA dORMIu, A zONA LESTE E REFLExO SOBRE AS MANIFESTAES.

    Diversos grupos da Zona leste se articularam para pensar os rumos das ltimas manifestaes que eclodiram em toda cidade e no pas. Na quarta-feira, 03 de julho a Rede Livre Leste promoveu o Debate Livre Leste, ativi-dade que reuniu cerca de 50 pessoas na passarela sul do metr Itaquera.

    Superando o frio, o vento, e com viso privilegiada do Itaquero, diversas pessoas, a grande maioria moradora da Zona Leste, opinaram sobre os rumos da ao poltica e quais

    as principais metas dos grupos organizados e militantes.

    Vrias pautas foram levan-tadas mas a maioria convergiu para a ampliao da comunica-o e colaborao entre os di-versos movimentos que atuam na regio. Uma sistematizao sobre o encontro est sendo escrita e logo ser divulgada.

    A Sexta Socialista de ju-lho tambm se dedicou ao mesmo tema. A atividade, que acontece h dois anos em Guaianases toda primeira sexta-feira do ms, rene mo-radores, estudantes e trabalha-dores da regio para discutir temas relevantes para a socie-dade, como poltica, cultura, educao entre outros.

    O convidado dessa ativida-de, ontem realizada no Institu-to Paulista da Juventude, foi o integrante do Movimento Pas-se Livre, Marcelo, que falou da experincia do movimento, da luta pelo passe livre e prin-cipalmente dos rumos que as manifestaes tomaram com o crescimento da participao de uma classe mdia no orga-nizada nas passeatas.

    O militante do MPL j se prontificou a voltar ao espa-o para uma discusso mais aprofundada sobre Mobilida-de Urbana.

    Outros debates manifesta-es e atividades da Zona Les-te continuam acontecendo... fique ligado.

    Desde as Diretas J em

    1984 no se via manifestaes to grandiosas

    no BrasilTexto: Elaine Mineiro e Marcel C. Couto

    Foto: Elaine Mineiro

    POLTICA

    Rede Livre Leste organizou um debate na sada do metr Itaquera para discutir os rumos das manifestaes nas periferias de so Paulo

    5

    O POVO

  • Julho de 2013

    COPA PRA QUEM?

    privada. O que aconteceu, po-rm, foi a intensa utilizao de recursos pblicos nas obras.

    De acordo com a Matriz de Responsabilidades da Copa, a soma dos gastos com obras nos estdios sedes dos jogos ser de mais de 7 bilhes de reais, cerca de 30% a mais do inicial-mente planejado.

    Apenas para o futuro es-tdio do Corinthians, em Ita-quera, local programado para receber a abertura do evento no dia 12 de junho de 2014, o governo concedeu R$820 mi-lhes, entre emprstimos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social) e ttulos de iseno fiscal da prefeitura.

    Se para a construo dos estdios, a concluso dos pro-jetos est em ritmo acelerado, os investimentos em mobili-dade urbana e transporte p-blico no atingiram a expecta-tiva da populao.

    Em Itaquera, alm da Arena Corinthians, est pre-vista a construo do Parque Linear do Rio Verde, a am-pliao de avenidas e vias de acesso s estaes de Metr e trens da CPTM.

    O plano de mobilidade urbana para o torneio pre-v que mais de 80% desse pblico chegue ao local por meio do sistema metroferro-virio, que fica a 800 metros do estdio. Segundo a FIFA, recomendado que esse sis-tema transporte cerca de 50 mil passageiros/hora/sentido. So Paulo j tem o dobro dessa capacidade. At 2014, a oferta de acesso direto Arena Co-rinthians pelas linhas 3-Ver-melha do Metr e 11-Coral da CPTM ser de 110 mil passageiros/hora/sentido, afirma Andr Cintra, da asses-soria de comunicao do SP-COPA - Comit Especial para a Copa do Mundo de 2014.

    Segundo reportagem da agncia A Pblica, verbas que deveriam ser destinadas para 16 obras de melhorias de todo o sistema virio da zona leste, como, por exemplo, na ligao de Guaianases Radial Leste, s esto sendo utilizadas no entorno da Arena Corinthians.

    Para todos os projetos de infraestrutura, a Prefeitura e o Governo do Estado estima-ram gastos de R$478 milhes. Porm, at agora tem-se inves-tido apenas nas vias prximas ao estdio, enquanto tantas outras reas que dependem do dinheiro pblico, gerado pelos impostos da populao, no so realizados.

    QUEM VAI ASSISTIR?A populao que vive em

    comunidades na regio tam-bm tem se sentido ameaada com a proximidade do evento. Segundo o projeto urbanstico do complexo que engloba o

    Desde as leis que favorecem grandes corporaes, at os valores dos ingressos para os jogos, a Copa do Mundo no pas do futebol est cada vez mais se tornando um evento para poucos

    Texto: Lvia Lima Fotos: [1] Dbora Freitas e [2] Escobar Franelas

    Canteiro de obras do estdio do Corinthians, em Itaquera

    Parque Linear e o Polo Tecno-lgico, cerca de 1600 famlias de seis comunidades da regio tero que sair de suas casas.

    De acordo com o SPCO-PA, apenas 13 famlias tero suas casas realocadas devido s obras do sistema virio para a Copa do Mundo.

    Mais prxima do estdio, a 1 km de distncia, a Comuni-dade da Paz, que possui cerca de 300 famlias, ter que ser removida devido construo do Parque Linear do Rio Ver-de, e por ter sua localizao considerada em rea de risco.

    Com mandado j expe-dido com data para a reinte-grao de posse do terreno, que pertence, ironicamente, Companhia Metropolitana de Habitao Cohab, as famlias ainda no sabem para onde vo e as informaes no so transmitidas claramente.

    Alm das remoes das comunidades, as pessoas mais

    POLTICA

    CerCA De 1600 fAMliAs De seis

    CoMuniDADes DA regio tero que

    sAir De suAs CAsAs

    Quando em 30 de outubro de 2007 a FIFA anunciou que o Brasil sedia-ria pela segunda vez o evento esportivo mais importante do mundo, os amantes do futebol ficaram eufricos.

    Desde ento, a preparao para a Copa do Mundo em 2014 tem mobilizado o pas. Entretanto, a pouco mais de um ano para o incio do tor-neio, um clima de incerteza e insatisfao tem permeado a conversa das pessoas.

    Do preo dos ingressos, com valores inacessveis para a grande maioria dos brasileiros, falta de investimentos em in-fraestrutura, turismo, educa-o, a populao se pergunta: Afinal, a Copa para quem?.

    QUEM PAGA A CONTA?Inicialmente, a CBF afir-

    mou que os investimentos para os estdios viriam da iniciativa

    6

    [1]

  • Julho de 2013 7

    5 PERGUNTAS PARA O COMIT POPULAR DA COPA-SP

    1) At o momento, quais foram as melhorias para a populao da zona leste com a realizao da Copa do Mundo em 2014?

    Itaquera e toda a zona leste hoje uma regio estrat-gica para a expanso urbana de So Paulo. Cortada pela Av. Jacu Pessego, ela liga a Marginal Tiet e as rodovias Dutra e Ayrton Senna ao norte (aeroporto internacional e Rio de Janeiro) Rodovia dos Imigrantes e Anchieta ao sul (Plo Industrial do ABC e Porto de Santos). Nesse sentido, com a chegada da Copa do Mundo, a construo do estdio e uma srie de obras virias e de infraestrutura esto em execuo em ritmo acelerado e intenso, promovendo o chamado de-senvolvimento da regio, o que no ponto de vista do Comit Popular da Copa significa a transformao urbana de padro segregador, beneficiando os setores da construo civil e imobilirio, gerando especulao a partir da terra e grandes lucros para esses setores - como a megaempresa Odebrecht. Por outro lado, evidente a substituio da populao da-quele bairro, tradicionalmente operria e de classe baixa, por outra com maior poder aquisitivo. Dentro desse contexto, para a populao de Itaquera fica mais evidente os prejuzos em relao aos benefcios.

    2) dos projetos previstos de infraestrutura para a re-gio, quais esto efetivamente acontecendo?

    Alguns projetos benficos para a regio, como o caso do Plo Institucional de Itaquera j esto em fase de acaba-mento, porm at o final da Copa do Mundo eles sero uti-lizados nica e exclusivamente pela FIFA, e aps o trmino desse prazo no h projetos e nem licitaes em andamento para a continuidade dos servios nesse equipamento urbano de tamanho importncia. Esse o mesmo caso da FATEC, no h informaes sobre a realizao de concurso para contratao de professores, o que far com que esses espa-os fiquem ociosos e subutilizados, mesmo com o tamanho investimento que foi feito ali. As nicas obras que de fato iro ocorrer, mas que se mantm com um carter duvidoso em relao ao quo benficas sero para a populao de Ita-quera, so as obras virias.

    3) O que o Comit espera e reivindica com a Copa do Mundo na cidade e na zona leste?

    Ns no somos contra a Copa, gostamos de futebol e tam-bm queremos ver o Brasil campo, assim como todos os brasi-leiros, porm somos contra a maneira que essa preparao vem ocorrendo, passando por cima dos direitos do brasileiros, con-quistados com muita luta, passando por cima de inmeras comu-nidades sem que seja apresentado um projeto ou uma alternativa digna de moradia, escondendo-se informaes importantes para que todos ns possamos nos preparar. O Comit contra a mer-cantilizao do futebol, a transformao do futebol e dos espor-tes em geral utilizado como justificativa para o aceleramento ou no realizao do processo de licenciamento dos projetos que, na maioria das vezes favorecem os direitos privados em detrimento dos direitos pblicos, assim como a especulao imobiliria.

    4) Sobre a economia e os negcios da regio, de que forma ela pode ser estimulada com a Copa do Mundo?

    Especificamente os negcios da regio dificilmente sero estimulados pois apenas a FIFA e seus patrocinadores podero exercer os servios de comercializao no entorno do estdio, a chamada zona de excluso, nos dias de evento, e em outros mo-mentos no haver muita procura por esses servios.

    5) qual o legado que a Copa do Mundo pode trazer para a zona leste?

    Aps a Copa a perspectiva do Comit Popular uma profun-da transformao naquela regio que hoje alvo da especulao imobiliria, acompanhando um processo mais amplo que se per-cebe em todas as regies da cidade de expulso dos mais pobres e explorao da terra urbana como ativo financeiro. Tambm temos como perspectiva a permanncia de certas tecnologias de contro-le e monitoramento que sero experimentadas durante a Copa e devem permanecer para o controle e represso/criminalizao de trabalhadores e movimentos sociais. Alm disso, vislumbramos uma enorme dvida pblica decorrente de investimentos pblicos bilionrios em um evento privado, alm da iseno de impostos para a FIFA e parceiros. Por fim, acreditamos que a forma autori-tria nas decises sobre obras e projetos de transformao urbana deve permanecer como regra, inviabilizando a participao popu-lar e o acesso informao, direitos constitucionais.

    pobres esto sendo cada vez mais afastadas da regio, que sofre com a especulao imo-biliria. Desde o anncio de que a abertura da Copa seria em Itaquera, a valorizao dos imveis subiu cerca de 40%. O bairro parece estar se tor-nando um lugar melhor para viver, mas no para aqueles que j esto nele.

    QUEM VAI LUCRAR? Segundo o estudo Brasil

    Sustentvel impactos so-cioeconmicos da Copa do Mundo de 2012, realizado pela Ernsrt & Young e FGV, o evento produzir, de 2010 at 2014, R$142 bilhes adicio-nais na economia, movimen-tando o mercado interno.

    O Ministrio do Esporte afirma que sero gerados 330 mil empregos permanentes e 380 mil temporrios em reas de hospedagem, alimentao, segurana, dentre outras.

    Porm, ainda so muito t-midos os investimentos do go-verno em outros setores alm das obras de infraestrutura,

    sobretudo em empreendedo-rismo, educao e capacitao para receber e atender os cerca de 600 mil turistas esperados durante os jogos em 2014.

    Assim como aconteceu na frica do Sul, a maioria dos empregos at agora foram ge-rados na rea da construo civil, que com a concluso das obras, deixar os trabalhado-res sem ocupao.

    Alm disso, de acordo com a Lei Geral da Copa, o comr-cio local, principalmente o in-formal, ser prejudicado, pois a legislao garante FIFA ex-clusividade de venda e propa-ganda dos produtos e servios das empresas patrocinadoras do evento.

    Desde as leis de exceo que favorecem grandes cor-poraes, at os valores dos ingressos para os jogos, com pacotes que j esto venda por valores entre US$ 590 (R$ 1.189) e US$ 4.543 (R$ 9.086), a Copa do Mundo no pas do futebol est cada vez mais se tornando um evento para poucos.

    Prefeitura e Estado investem dinheiro pblico, que nosso, para beneficio de quem? Depois de 2014 que vai pagar essa conta?

    *O Comit da Copa um espao de de-nncias e proposies sobre a Copa de 2014, que acontece em todas as cidades que sediaro o evento. www.comitepopularsp.wordpress.com

    Caso haja mais dvidas s nos contatar.Forte abrao,Comit Popular da Copa - SP

    POLTICA

    DesDe o AnnCio De que A ABerturA DA CopA seriA eM

    itAquerA, A vAlori-zAo Dos iMveis suBiu CerCA De 40%.

    o BAirro pAreCe estAr se tornAnDo uM lugAr Melhor

    pArA viver, MAs no pArA Aqueles que J

    esto nele.

    [2]

  • Julho de 2013POLTICA 8

    MOVI-MENTOSSO-CIAIS

    O Movimento Passe Livre (MPL) um movimento social autnomo, apar-tidrio, horizontal e indepen-dente, que luta por um trans-porte pblico de verdade, gratuito para o conjunto da populao, fora da iniciativa privada e decidido de acordo com a vontade de quem mais entende como ele deve fun-cionar: os prprios usurios.

    O Movimento existe desde 2005, e surge em um contexto em que cidades como Salva-dor, atravs daquilo que ficou conhecido como a Revolta do Buzu, e Florianpolis, com a Revolta da Catraca, levam mi-lhares de pessoas s ruas para protestar contra o aumento das passagens. Desde ento, a luta tem sido vitoriosa em di-versas cidades, como foi em Florianpolis por duas vezes, em Vitria, Natal, Teresina, Aracaju, Taboo da Serra, e

    O QUE O MOVIMENTO PASSE LIVRE (MPL)por uma vida sem catracas!Texto: Nina Cappello, integrante do Movimento Passe Livre Foto: Antonio Miotto

    mais recentemente em Porto Alegre. Nestas cidades, a po-pulao se organizou e foi para a rua mostrar que estava insa-tisfeita com a forma como o transporte pblico funciona e com mais um aumento de ta-rifa, e conseguindo, atravs da presso popular fazer com que as Prefeituras fossem obrigadas a voltar atrs em suas decises. Cada aumento de tarifa signi-fica excluir ainda mais pessoas do acesso cidade. No Brasil, em 2010, eram mais de 37 mi-lhes de pessoas que no po-diam usar o transporte pblico simplesmente por no ter di-nheiro para pagar a tarifa.

    O Movimento Passe Livre entende que o transporte p-blico deveria ser tratado como um direito, assim como a sade pblica e a educao pblica, por exemplo. Se no temos que passar por uma catraca quando entramos em um posto de sade da prefeitura, porque

    aceitamos com tanta naturali-dade girar uma catraca quando entramos em um nibus pbli-co? por isso que defendemos a tarifa zero para o transporte pblico municipal.

    Entendemos que a co-brana de tarifa uma opo poltica, e no tcnica, como sempre se argumenta. Isso se evidenciou recentemente, por exemplo, com a notcia de que Haddad estudava um aumento nos impostos da gasolina para possibilitar uma reduo nas tarifas de nibus. Em So Pau-lo, h diversos exemplos de projetos que perpetuam uma lgica na qual se investe mais em transporte privado do que em transporte pblico. a cha-mada Ponte Estaiada, na Mar-ginal Pinheiros (e outras que vieram depois seguindo a mes-ma lgica) que custou mais de 250 milhes de reais e sequer prev a passagem de pedestres ou de transporte pblico. por

    isso que defendemos uma in-verso de prioridades. Um es-tudo interessante do IPEA rea-lizado em 2011 mostra que os automveis recebem at 90% dos subsdios dados ao trans-porte de passageiros no pas, o que significa que hoje se gasta 12 vezes mais com transporte privado do que com o pblico. Em algumas cidades que ado-taram a Tarifa Zero, alm de outras repercusses positivas, deixou-se de gastar parte do oramento que era direciona-do a esses investimentos, como a construo de vias, pontes, recapeamento de ruas, e hou-ve at uma reduo nos gastos com a sade pblica.

    Para ns, ir para a rua se manifestar contra o aumento das tarifas, tambm se mani-festar pelo direito de participar da gesto do transporte pbli-co na cidade. Se hoje a Prefei-tura prioriza mais os carros do que os nibus, porque no h

    qualquer discusso sobre quais deveriam ser as prioridades com a populao. H um de-bate muito interessante para se realizar agora, por exemplo, com o Bilhete Mensal que est sendo implementado pela Pre-feitura. Sero no mnimo 400 milhes de reais a mais no sub-sdio para o transporte pbli-co, valor bastante significativo, uma vez que hoje apenas 660 milhes do oramento so des-tinados para tal finalidade. Mas ser que esse aumento em mais de 50% no quanto se subsidia o transporte pblico represen-ta uma inverso de fato? Ser que um bilhete que custar no mnimo 140 reais, apenas para quem s anda de nibus, repre-senta de fato uma melhoria no acesso ao transporte pblico?

    S com muita luta vamos conquistar um transporte p-blico voltado para os nossos in-teresses, sem catraca e sem ta-rifa, com nibus de madrugada e aos finais de semana, e com linhas que sirvam para atender as necessidades dos que usam o transporte diariamente. Lutar por um transporte verdadeira-mente pblico, lutar por uma cidade que possa ser desfrutada e pensada por todos os cida-dos. Por isso estamos desde maio chamando a todos para se organizarem contra mais um aumento injusto, decidido por poucos, que dificulta ainda mais o acesso a uma cidade j to excludente como So Pau-lo. Enquanto existir tarifa, ha-ver resistncia popular!

    Ato na praa da S pediu o reajuste nas tarifas de trm, metr e nibus que ha-viam subido 20 centavos

    no BrAsil, eM 2010, erAM MAis

    De 37 Milhes De pessoAs que no

    poDiAM usAr o trAnsporte

    pBliCo siMples-Mente por no

    ter Dinheiro pArA pAgAr A tArifA

  • Julho de 2013 POLTICA9

    As substncias altera-doras de conscincia tm uma histria pa-ralela prpria hist-ria da humanidade. Em prati-camente todas as sociedades h indcios de consumo de drogas, grupo no qual podemos incluir modernamente, entre as mais consumidas e acessveis: o taba-co, acar, chocolate e lcool. No h um critrio claro que defina por que algumas subs-tncias so consideradas lcitas enquanto outras, ilcitas, como o caso do pio, LSD, cocana, maconha, slvia.

    Desde que Richard Nixon declarou Guerra s Drogas, h 40 anos, estima-se que s os EUA tenham gasto cerca de 1 trilho de dlares com essa po-ltica, que comprovadamente no foi efetiva. Entre 1998 e 2008 o nmero de usurios de opiceos aumentou 34,5%, os de cocana 27% e os de canna-bis 8,5%. A ONU estima em cerca de 160 milhes o nme-ro de usurios de maconha no mundo e em 250 milhes o nmero de usurios de drogas ilcitas, sendo que desse mon-tante, menos de 10% apresen-ta uso problemtico.

    A proibio prejudica a rea da pesquisa, no nos permitin-do ter conhecimento sobre os reais efeitos benficos ou ma-lficos que as substncias tem

    em reao com nossos corpos. Em alguns estados dos EUA, por exemplo, a maconha de uso medicinal j permiti-da, comprovando os efeitos positivos que a erva pode ter no auxlio do tratamento de doenas como o cncer. A proibio no nos permite ter controle sobre que substncias estamos ingerindo, pois sabe-mos que com a venda ilegal, no h armazenamento ade-quado das drogas e clareza sobre que substncias esto sendo misturadas a elas no processo produtivo.

    Alm disso, h um aumen-to substancial das margens de lucro atravs da manuteno do mercado ilegal de drogas (a ONU estima que o trfico de drogas movimente 500 bilhes de dlares por ano, extrao-ficialmente fala-se em at 1 trilho); gerando lucro s ins-tituies que reinserem esses montantes na economia mun-dial, mantendo a populao na linha de fogo da guerra entre a polcia e os poderes paralelos que trabalham nesse mercado (PCC/ Comando Vermelho) e justificando a criminalizao da pobreza atravs da militari-zao das favelas e periferias, como vimos nos ltimos anos com a insero das UPPs nas favelas do Rio.

    A ltima reforma da Lei de

    Drogas no pas data de 2006, e determinou que os usurios no seriam mais presos por porte de drogas. Embora no haja uma quantidade definida que determine como distinguir traficantes de usurios, ao mes-mo tempo que este ltimo teve abrandamento na pena, foi de-terminado que a pena para tra-ficantes seria de 3 a 5 anos, sem direito a liberdade provisria.

    De 2006 a 2012, a popula-o carcerria subiu 142%. O Brasil tem hoje 513 802 pes-soas presas (69% a mais que o nmero de vagas oferecido pelo sistema penitencirio) das quais 42,5% no foram condenadas e aguardam julga-mento presas.

    Entre 2006 e 2010 houve um aumento de 118% no n-mero de presos por trfico de drogas no Brasil, que foi de 39 700 para 86 591 pessoas. Des-ses, apenas 7% portavam mais de 100 gramas de maconha, 57% dos acusados no apre-sentavam antecedentes e 61% no tinham dinheiro para pa-gar um advogado.

    A maioria das mulheres presas hoje no Brasil, que j so 5% da populao carcer-ria do pas, me solteira, po-bre e afrodescendente. Segun-do o DEPEN, cerca de 28 mil o contingente de presas no no pas, das quais 40% foram

    presas por conta do trfico de drogas. As mulheres cumprem um papel inferior na hierar-quia do trfico, sendo mulas; geralmente so ex-trabalha-doras de setores de servios informais e pouco reconhe-cidos, como empregadas do-msticas, que veem no trfico uma fonte de renda.

    Em ltima instncia, a le-galizao das drogas tem pau-ta paralela a outras demandas sociais, como a legalizao do aborto. Como sabido, pos-svel abortar de forma segura, desde se pague pelo acesso a clnicas clandestinas. Em contrapartida, s mulheres pobres resta recorrer a m-todos dolorosos e arriscados, como substncias abortivas que provocam contraes e hemorragias. A reivindica-o de que todas as mulheres possam fazer abortos segu-ros, assistidos pelo SUS, sem

    ARTI-GO

    o risco de serem criminali-zadas similar que todas as pessoas possam optar sobre o que usar de substncias alte-radoras de conscincia. E no caso dos usurios problem-ticos de crack em situao de rua, se desejarem assistncia, que sejam atendidos pela rede pblica de forma voluntria e multi-setorial, que proponha tratamentos efetivos, com acompanhamento de equipes capacitadas, levando em con-siderao que o maior proble-ma desses usurios a prpria situao de abandono a qual esto submetidos.

    A Marcha da Maconha aconteceu em 41 cidades no ano de 2013, e tem como objetivo levantar o debate de drogas e reivindicar que o Es-tado tenha outra politica de drogas, que no a criminaliza-o da pobreza, dos usurios e dos movimentos sociais.

    A PROIBI-o mATA:

    LEGALIZE A VIDA

    Texto: Ligia Costa

    RESQUCIOS DA DITADURA NA MDIA BRASILEIRATexto: Maurcio de Moraes Noronha (Muro)

    Sob ordens da Casa Bran-ca iniciou-se em pri-meiro de abril de 1964 o golpe de estado mi-litar brasileiro. Todo aparato montado para enfraquecer uma insurgncia comunista na Amrica Latina teve origem in USA. O principal canal de TV (Rede Globo) foi finan-ciado por verba norte-ameri-cana; s lembrarmo-nos do grupo time life no mesmo doutor Marinho?

    No foi surpresa nenhuma quando este mesmo senhor veio, por meio de um editorial no jornal O Globo, declarar seu total apoio aos militares golpistas. Participamos da Revo-luo de 1964, identificados com os anseios nacionais de preserva-o das lnstituies democrticas, ameaadas pela radicalizao ideolgica, greves, desordem social e corrupo generalizada. Quan-do a nossa redao foi invadida por tropas anti-revolucionrias,

    * Trecho retirado do site Carta Maior** Lei n 12.528, de 18 de novembro de 2011

    mantivemo-nos firmes em nossa posio. Prosseguimos apoiando o movimento vitorioso desde os primeiros momentos de correo de rumos at o atual processo de abertura, que se dever consolidar com a posse do novo presiden-te. Como um co de guarda dos yankes ele cumpriu fielmente seu papel. Temos permanecidos fiis aos seus objetivos, embora confli-tando em vrias oportunidades com aqueles que pretenderam as-sumir o controle do processo revo-lucionrio, esquecendo-se de que os acontecimentos se iniciaram, como reconheceu o Marechal Cos-ta e Silva, por exigncia inelut-vel do povo brasileiro. Declarou na poca o dono da Globo.*

    E por mais injusto que pa-rea ser, as organizaes da famlia Marinho usufruem de uma concesso pblica para transmisso de rdio e TV. E sempre que se cogita a hip-tese de se discutir tais con-cesses, dito em alto e bom tom, com chamada no Jornal

    Nacional e tudo mais, que a li-berdade de imprensa est sen-do cerceada.

    Quarenta anos depois do golpe a ditadura continua em curso. Mesmo com a recm- criado Comisso da Verdade** os abusos de poder, desres-peito aos direitos humanos, tortura de presos polticos, morte de militantes, entre tantas outras atrocidades co-metidas pelo regime militar continuam acontecendo nos dias atuais. O negro, o pobre, o favelado so os perseguidos de hoje. A diferena que com a chegada da democracia estes atos foram sendo encobertos pela mdia. Quem viu alguma nota imparcial da imprensa burguesa sobre as atrocidades cometidas em Pinheirinho? A mesma mdia que foi criada pelos golpistas continua reali-zando seu trabalho.

    Recentemente foi san-cionado pelo prefeito Fer-nando Haddad o projeto de

    lei 380/10 dos vereadores Jamil Murad e Orlando Sil-va que permite a substituio de nomes de logradouros que homenageiam carrascos da di-tadura. Andando por ai fcil de percebermos algumas bem conhecidas: Avenida Presiden-te Castelo Branco (marginal Tiet); Rua Doutor Srgio Fleury, Via elevada Presiden-te Arthur da Costa e Silva (minhoco), Rua Joo Batista Figueiredo, Praa Augusto Ra-demaker Grunewald...entre outras vias. Ah temos tambm a antiga avenida das guas Espraiadas, mais conhecida como Avenida Jornalista Ro-berto Marinho. Ser que essa tambm sofrer alteraes no registro? Se for o caso fica a dica de homenagear um jorna-lista de verdade, Vladmir Her-zog um timo nome!

    OLHO NAMDIA

  • Julho de 2013

    FICA ADICA

    THE CONCEPTTexto: Dimitry Uziel

    The Concept, banda fincada no Itaim Paulista, comemora seus 20 anos de estrada em novembro prximo aps tocar por inmeras cidades, em casas noturnas, festivais e centros culturais pelo Brasil. Em 2012 abriram a turn brasileira da banda esta-dunidense Ringo Deathstarr e, h menos de 2 meses, abriram para o show de Stephen Malkmus, vocalista da consagrada ban-da norte-americana Pavement, em So Paulo. Por ora, se prepa-ram para lanar mais um lbum, previsto para outubro de 2013.

    BANZO PERIFRICOTexto: Elaine Mineiro

    As experincias de vida de Tita Reis e sua militncia artsti-ca ditam o ritmo e a sonoridade do seu primeiro CD, Sujeito Perifrico, o nome do trabalho j adianta que o cotidiano da periferia exaltado, analisado, denunciado e celebrado.

    Na mesma sintonia a banda Nhocun Soul lana o disco Banzo, em que se ouve a ancestralidade negra recheada de uma mistura altamente contagiante de samba, soul, rap... assim o terceiro lbum da banda.

    Os dois CDs expressam a crnica do cotidiano das quebradas de So Paulo, a zona leste est no nome da Banda, na letra das msicas, nas parcerias...

    ROBSONGSTexto: Dimitry Uziel

    Robsongs o recente pro-jeto solo do vocalista e guitar-rista da banda paulistana The Concept. Este projeto parale-lo surge na melancolia do quar-to do artista, onde tudo cria-do, mixado e masterizado pelo prprio, em um bairro do ex-tremo leste de So Paulo, Itaim Paulista, para ser mais preciso. Robson Gomes, ou Robsongs, paira sobre uma atmosfera psi-codlica, flutuando entre os es-tilos ps punk e shoegaze. Em 2013 lanou seus trs primeiros EPs: Essa Grande Falta de Voc, Chuva de Tijolos e Tudo Preto e Branco, l-buns que podem ser conferidos nos links ao lado:

    https://myspace.com/the.concept/bloghttp://tnb.art.br/rede/theconcept

    https://www.facebook.com/NhocuneSoulhttp://bandanhocunesoul.blogspot.com.br

    https://www.facebook.com/tita.reishttp://titareis.bandcamp.com

    ENTRETENIMENTO

    www.facebook.com/TheRobsongswww.theblogthatcelebratesitselfrecords.com

    10

    Ebb

    ios

    2

    013

    TRA-A-DOS

  • Julho de 2013

    1) quem z Carlos Batalhafam?ZCB - A pergunta interessante, milenar, de difcil resposta e,

    sempre reducionista.Vivo na zona leste de So Paulo mas sou natural de Jales, uma

    cidadezinha agradvel do interior paulista. Por vocao, treino e natureza, sou escritor, um poeta. Na verdade, o que sou mesmo, um aprendiz; um operrio da vida e das letras.

    2) Como a poesia ou a literatura iniciou-se em sua vida?

    ZCB - O mergulho no mundo da literatura foi prosaico, deu-se, ainda na infncia; a partir da leitura de gibis e os livros de Mon-teiro Lobato. A poesia tambm veio na idade escolar; a partir dos poemas de Ceclia Meireles e Manuel Bandeira. S mais tarde, na adolescncia, fui descobrindo os clssicos russos, Gorki, Tostoi... os ingleses, Byron, Shelley e Wordsworth... e na idade adulta, os lusfonos, Ea de Queiroz, Pessoa, Florbela Espanca, Drummond, Machado de Assis...

    3) quando voc comeou a praticar seus escritos? Foi - como a maioria de nossos confrades - na adolescncia?

    ZCB - Sim, na adolescncia. O primeiro conto nasceu da pro-vocao de uma professora de portugus que pediu classe para que escrevesse uma redao diferente, que deixasse a mente fluir; saiu um conto futurista. J o primeiro poemeto foi escrito para uma platnica namoradinha; somente 30 anos depois ela soube que foi musa e amada.

    4) E quando foi que voc enveredou mais profissio-nalmente pelo caminho das letras?

    ZCB - Em 1987 publiquei meu primeiro livro, Verdades & Mentiras. Desempregado e cursando o Tcnico de Publicidade, me vi obrigado a sobreviver do livro. Isso durou dois anos. Noite aps noite, vendia os livros na porta de cinemas, bares e restauran-tes de So Paulo. Em diversos momentos, me encontrei com Pl-nio Marcos que tambm vendia seus livros da mesma maneira. Foi uma fase difcil mas muito interessante, pois a cidade e as pessoas eram mais generosas, abertas s experimentaes da poca. Hoje aproveito bem as janelas daquela experincia.

    5) quando o vi pela primeira vez, foi durante o Prima-vera nos dentes, em Itaquera, mais ou menos em 1989, 90. O que foi aquilo?

    ZCB - Naquele perodo, de 89 a 93, fui assessor de Comu-nicao, Imprensa e Cultura na subprefeitura de Itaquera. Para juntar os grupos e artistas da regio, juntamente com os poetas Erorci Santana, Talmo Pedrosa e Dilson Botto, em 1990 elabora-mos e executamos o projeto Primavera nos Dentes. O objetivo foi abrir espao e dar visibilidade produo cultural local. Reunimos diversos grupos de dana, teatro e poetas; publicamos uma cole-tnea de poesia e estabelecemos um circuito cultural com apre-sentaes de dana, teatro e leitura de poemas nas escolas pblicas do territrio. Foram mais de trs meses de agito e milhares de jovens e adolescentes contemplados pelo projeto. Itaquera virou um caldeiro cultural.

    A partir do Primavera nos Dentes, o bairro ganhou trs timos espaos para a arte, a cultura e o lazer: a Praa da Cultural, no

    Texto e Foto: Escobar FranelasENTRE-VISTA

    centro; a Praa Brasil (hoje Me Menininha do Gantois) e o Par-que Raul Seixas e sua Casa da Cultura, no conjunto Jos Bonifcio (Cohab II). Alm disso, otimizamos outros espaos, como a Praa Dilva Gomes, na Cohab I. Com o Primavera nos Dentes, Itaquera passou por uma efervescncia cultural fantstica. Deixou razes.

    6) [...] no h rima, amigo, amiga / s h o perigo, que no rima com a vida. / uma rima que no atina com nada. [...] (Religare, in Trilogia das Palavras). Sua poesia nos explicita uma solido diante da vida. Estamos condenados a viver ss, na arte? Ou estamos condenados a sermos ss, enquanto artistas?

    ZCB - O Religare um poema social, poltico, mas interessan-te a leitura que voc faz. De fato, penso que a solido seja um esta-do (e condio) importante para a criao mas no usaria o termo condenados, pois no penso que ela (a solido) seja ruim. Alm do qu, a arte, por mais coletiva que seja, sua elaborao se d, sem-pre, no plano individual. Claro que os fatores coletivos influenciam a criao, mas ela sempre individual e, quando compartilhada, recriada, reproduzida. Na arte; na criao, a solido nosso fado, e nesse sentido, at em funo do ego, sim, estamos condenados.

    7) z Carlos Batalhafam, o que voc est tramando no momento?

    ZCB - Com outros comparsas, entre os quais incluo-o, estou desenvolvendo aes culturais (Sarau do Nhocun) para acmulo de foras e, a partir de outubro prximo, pretendo atacar o go-verno federal, e outras instncias governamentais, para for-los a implantar um Plo de Cultura na regio de Vila Nhocun. Pen-so que esse seja um dos papis dos produtores culturais: lutar na trincheira da cultura, forar o provimento de espaos culturais na cidade.

    8) Batalha, voc um otimista, realista, reformista ou idealista?

    ZCB - Reparou como essa pergunta nos remete primeira?!. Penso que, nada e ningum, seja apenas isso ou aquilo. A depender do momento, da conjuntura, da situao, agimos e reagimos, sem-pre de forma diferente. Sou um poeta; faz um tempo que rompi com alguns dogmas e no penso, exclusivamente, de forma linear; mas, no geral, me considero um otimista. Voc j ouviu Maria Bethnia?! : Eu sou a chuva que lana a areia do Saara sobre os automveis de Roma. Eu sou a sereia que dana, destemida Iara...

    9) Mas, afinal, o que a poesia? Ou, melhor ainda, o que arte?

    ZCB - A definio do que seja poesia e arte, passa sempre pe-los valores relativos. Muitos j tentaram definir o que seja poesia, e variado o entendimento. No geral, poesia definida como: a forma pela qual a linguagem humana utilizada para transmitir ou expres-sar a beleza (e aqui vale lembrar que, o que belo para uns, pode no ser para outros). Porm, todo texto que toque a sensibilidade, que emocione, seguramente potico, possui poesia; sobretudo, quando sua linguagem alegrica, sugira imagens e fuja do lugar comum. A arte, tambm depende dos valores relativos para ser conceituada. E dentre esses valores, o elemento esttico, o que melhor a define. Cada poca e cada comunidade cultural, tm seus valores.

    Z CARLOS BATALHAFAM

    z Carlos Batalhafam, autor de obras seminais como Ver-dades e Mentiras (poesia) Trilogia das Palavras (poesia) e Vila Nhocun Memrias da Tapera da Finada Ignz & Outras Me-mrias (histria), um incansvel batalhador da palavra enquan-to arte e da cultura enquanto expresso cidad. L se vo vinte e poucos anos como um dos articuladores do Primavera nos Dentes, primeiro movimento literrio organizado na regio de Itaquera. Agora responde pela direo e curadoria do Sarau do Nhocun, onde mensalmente rene um panteo de poetas (da regio e de outras pasrgadas), para declamar, trocar idias e saberes dentro de um bar na Vila Nhocun.

    H muito que queria trocar um dedo de prosa com ele, saber de sua vida, sua poesia, o que pensa sobre diversos assuntos, coisas assim... e essa oportunidade nunca surgia. Ento apelei para a tec-nologia que temos em mos hoje. Comecei a mandar as perguntas via e-mail e ele respondia quando podia.

    So estas respostas que esto a, comprovando a sapincia e experincia de um batalhador incansvel e um homem com uma vertiginosa apropriao da palavra.

    Mais sobre ele:http://saraudonhocune.blogspot.com.br/ http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=74021http://textolivre.com.br/component/comprofiler/userprofile/Batalhafam

    NEGRITudE

    depois da me fricaTeu bero PalmaresTua danaTua gingaTeus deuses natura.E antes de tudo,Teu bero culturaTua graaTua raaAfricandura.

    (in, Palavras Cruzadas, folheto, impresso. SP: maio de 92, ano 1, n 4)

    FACE A FACE

    Escrever como fazer espelhos;deixar refletiro rosto de quem l.

    (in, Trilogia das palavras. SP: RG, 2007)

    11 MEMRIA ZL

  • Julho de 2013

    As lutas por um espao de memria na Zona Leste de So Paulo figuravam em pauta desde a dcada de 1990, com diversos grupos e espaos de discusso, acentuadas com os movimentos pela educao e pela implementao da USP-Leste na regio.

    Data do ano de 2003 uma das principais reivindicaes da regio que tomou voz na figura do Padre Tico lder comu-nitrio que o Memorial da zona Leste. As reivindi-caes por um espao de me-mria colocaram a questo em debate, iniciando os primeiros encontros e discusses, que fo-ram de certa forma amornan-do-se na comunidade ao longo do tempo, no concretizando o memorial em si.

    No ano de 2012 houve no-vas reivindicaes e negocia-es por parte do Padre Tico com a USP-Leste para a implan-tao do Memorial da zona Leste e tudo indicaria que ele seria de fato implementado sobretudo com as perspec-tivas de expanso da unidade, em virtude das comemoraes dos dez anos de lanamento de sua pedra fundamental com a concepo das reunies ocor-ridas anos antes. Esse um momento importante pois a comunidade volta a se reunir para debater suas memrias, e a construo deste espao. No nego meu papel em fazer as sugestes crticas de maneira contribuir com esse projeto;

    desde as proposies iniciais a comunidade j no era a mes-ma, o embasamento e o conhe-cimento da comunidade j era outro, muito havia se avanado na questo.

    O Padre Tico, que estava frente das proposies me convidou para o debate e so-licitou que organizssemos to-dos os interessados na mem-ria, e reavivssemos o debate sobre o Memorial. A proposta era que as reivindicaes e os debates da comunidade emba-sassem e contribussem com o projeto, e que ela participasse ativamente da construo des-se, j que ela que est sen-do ali retratada. Ainda mais, queramos unir na discusso a pluralidade de memrias e de entes que a reivindicam.

    Assim, realizamos um en-contro dia 31 de Maro de 2012. Os interessados foram convidados pelos mais di-versos meios, inclusive pelo jornal comunitrio. Nesse encontro debatemos diversos pontos, como a importncia da memria, as diferenas en-tre histria e memria, entre museu, memorial, centros de memria... A questo do pa-trimnio na regio, e o pr-prio projeto do at ento Me-morial. Participaram deste encontro pessoas das mais va-riadas origens e vivncias. Nas discusses cada um carregava sua bagagem, sua experincia pessoal e todos foram ouvidos.

    Essa reunio foi o estopim para criao do Grupo de

    Memria da zona Leste que tem se encontrado des-de ento. Grupo surgido da reivindicao da comunidade por um espao em que suas memrias fossem expressas, articulando suas aes pela memria e pelo patrimnio da zona leste em sua forma mais ampla.

    Durante os encontros do grupo, o projeto do Me-morial da zona Leste foi aprovado, com recursos da Fundao Tide Setbal para o projeto do edifcio, que foi projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake, ser instalado como anexo da USP-Leste (em sua expanso), at o ano de 2014, em um terreno em que atualmente existe uma curiosa chamin de uma indstria da qual no restam memrias na comunidade. O projeto diver-sas vezes apresentado para a comunidade, poucas vezes ab-sorvendo as numerosas crticas e pontuaes feitas.

    Residem a dicotomias: um projeto que teve sua concepo na comunidade, quando passou para o mbito da institucio-nalizao, intensas discusses foram ignoradas assim como de certa forma a comunidade que o idealizou. Em resposta s reivindicaes da comunidade, a Universidade de So Paulo destacou uma equipe formada por professores de outros pa-ses com realidades totalmente diferentes, e que na discusso com a comunidade, declara-ram desconhecer totalmente a

    regio em questo. Os envolvi-dos no projeto mostraram um perigoso desconhecimento da realidade diversa da regio, e uma perigosa idealizao nor-teadora, no condizente com essa realidade diversa.

    Nessa institucionalizao, o projeto do memorial foi se transformando e se adaptan-do; o que era de inicio Me-morial da zona Leste virou um Centro de Me-mria e Convenes.

    Seria essa uma vitria da comunidade que conquistou um espao de memria ou uma derrota, pois ela no ao mnimo capaz de tomar suas prprias decises e de-cidir sobre o seu prprio destino? Se esse um me-morial da comunidade para a comunidade, porque ela restringida dos aspectos mais bsicos de decises? No es-tamos ns aptos para lidar com uma maior participao comunitria nas diversas es-feras de poder e nos meios institucionais, e que interfe-rem na comunidade?

    A memria importante pois parte da histria da regio se encontra naqueles que a vi-venciaram, ou possuram algum contato com quem a vivenciou.

    Por dcadas essa memria foi manipulada criando uma identidade negativa grande parte dos que habitam essa regio. O Memorial s uma parte de uma histria de mui-ta luta, muitas relaes e mui-ta gente envolvida...

    AS LUTAS PELA MEMRIA E UM MEMORIAL NA ZL DE SO PAULO

    Se voc se interessar pelo Grupo de Me-mria da Zona Leste de So Paulo ou sobre outros aspectos da memria e do patrimnio da regio, contate o autor des-te texto: Danilo Morcelli, no e-mail pessoal [email protected].

    Texto: Danilo Morcelli

    12

    RE-COR-DA-O grupo de Memria da zona leste de so paulo convida a comunidade a pensar qual passado ser resgatado e transmitido pelo Memorial que ser construdo na regio

    MEMRIA ZL

    por DCADAs essA MeMriA foi MAnipulADA CriAnDo uMA iDentiDADe negAtivA grAnDe pArte Dos que hABitAM essA regio. o MeMoriAl s uMA pArte De uMA histriA De MuitA lutA, MuitAs relAes e MuitA gente envolviDA...

  • Julho de 2013 MEMRIA ZL

    CHCARA DO SEU ANTNIO

    O comeo da coloniza-o no Itaim Paulista foi atravs dos por-tugueses no sculo XVII, que por meio das sesma-rias, (concesses de cultivo agr-cola modelo este trazido de Portugal) os senhores da poca vieram para o lado leste cultivar e plantar. Passados os tempos, novas pessoas foram adquirindo posses de terras e passaram a ter a regio como lugar de vera-neio. A chcara do Seu Antnio um exemplo disso.

    Nela h vrias espcies na-tivas da mata atlntica, algumas j so at mesmo tombadas como patrimnio ambiental pela prefeitura, e sua derruba-da proibida e acarreta priso por crime ambiental. Uma curiosidade: foi nesta chcara onde houve a construo da primeira piscina da regio, ex-plica Marcel Cabral, editor do Jornal Voz da Leste.

    Por possuir vrios ps de ja-buticabas, era comum nos meses de outubro a dezembro, passar em frente ao local e ver na cala-da os frutos cados. Era utilizada como medida, para a venda das frutas, uma lata de leo. Tenho saudades desse tempo...

    Nos anos 90, a chcara teve seu auge com uma das festas mais badaladas da regio A Festa do Cachorro Louco , onde passaram por ela no s mora-dores do Itaim e adjacncias, mas tambm de outras regies, como nos conta Sandro Garcia baixista da banda Continen-tal Combo. Ele proprietrio do estdio Quadrophenia e nos anos 90 tocava com a banda The Charts (que teve grande reper-cusso no cenrio underground de So Paulo) e anos mais tarde tocou com a banda Violeta de Outono; com Kid Vinil (ex integrante da banda Magazi-ne conhecida pelo sucesso nos anos 80 Eu sou boy) e tocou tambm com Cado Volpado (ex-integrante da banda Fellini e ex-apresentador do programa

    Metrpolis da TV Cultura). Na poca, Sandro residia na zona norte e veio prestigiar seus ami-gos e vizinhos. Lembro muito, mas muito vagamente da fes-ta, sei que foi bem bacana, fui assistir a banda The ultima-tes, e guardo na memria um show muito divertido com al-gumas figuras pedindo sons. Estavamos com os amigos de sempre por l, e depois de al-gumas cervejas, virando a noite no evento, voltamos de conduo relembra o baixista.

    Bem bacana esse intercm-bio e troca de experincias, no acham?

    Mas em 2006 a chcara teve o risco de ser loteada para cons-truo de um condomnio de alto luxo, segundo apuraram ativistas da causa ambiental no bairro, como os livreiros Jorge Lins dos Santos e Jonilson Mon-talvo. Atravs dessa iniciativa, apresentaram ao vereador Joo Antnio a necessidade de pre-servar o parque. O vereador, a

    partir dai, apresentou cmara municipal, para votao, o Pro-jeto de Lei 593/2006, onde pe-dia a desapropriao de uma das chcaras mais antigas do Itaim Paulista, para transform-la em um parque pblico.

    Depois de quatro anos da primeira reunio do Frum de Meio Ambiente do Itaim Pau-lista, a chcara finalmente en-trou em obras para abrigar o Parque Ecolgico Central do Itaim Paulista, nosso pa-trimnio. Tenho a informao de que em breve, o local ser a nova sede do Centro Cultural Itaim Paulista, conhecida hoje como Casa de Cultura do Itaim Paulista, esta ser deslocada de seu ento endere-o de fundao (Rua Baro de Alagoas, inaugurada em 1984).

    Em 2013, a casa de Cultura completou 28 anos de existn-cia e prestao de servios a co-munidade. Nos anos 90, teve o fomento cultural na regio com diversos programas culturais, e

    zONA LESTE MINhA VIdA, TERRA ESquECIdA

    Passa desapercebida mesmo para quem vive numa regio que para muitos somente dormitrioSe atentar na riqueza que temos e dos acontecimentos vivenciados aqui. das memrias que o tempo e a falta de conservao, ou da falta de informao, no lembramos mais. Ou, porque o poder pblico ou uma instituio privada achou melhor renovar, pondo a baixo trabalho exaustivo de muitas vidas.

    Sandra Frietha

    Texto: Sandra Frietha Fotos: [1] Karol Max/CLN e [2] Marcel Cabral Couto

    PATRI-MNIOHIS-TRI-CO

    tombada, agora parque ecolgico, uma conquista dos moradores pela preservao

    tambm com a vinda de artistas de gabarito, como a atriz Ester Goes, a banda punk Inocentes, entre outros.

    Uma pena, que, com sua mudana para o novo endere-o, certamente o prdio ser mais uma histria que a se tor-nar ruina.

    Imaginem se no tivessem pessoas preocupadas, engaja-das e sem medo de brigar pelo direito que reconhecem ter, perderamos mais esse paraso ambiental pelo motivo da tal demolio, com um detalhe, para benefcio de poucos.

    13

    [1]

    Saiba mais informaes sobre a progra-mao e histria da Casa de Cultura do

    Itaim Paulista no endereo:http://centroculturalitaimpaulista.blogspot.com.br/

    [1] Vista area do futuro Parque Eco-lgico Central do Itaim Paulista, que abrange uma rea de 33 mil m2, est localizada entre as ruas Antnio Joo de Medeiros e Alfredo Moreira Pinto, parale-las Avenida Tibrcio de Souza

    [2] Casaro da antiga chcara abrigar sede administrativa do parque

    [2]

  • Julho de 2013CULTURA

    O que escrever para esse jornal? Que nasce assim, meio sem jeito, meio tmido, mas sem pedir licen-a, porque foi planejado, foi esperado e, agora, parido... Como uma criana, escuta-se o primeiro choro que a princpio no tem formato nenhum, no dor, nem desconforto emo-cional, nem medo. apenas um choro, mas que diz muito: a primeira manifestao da existncia! Passa-se do no ser, no existir ao existir. O nenm est no mundo e, a partir de agora, participar dele! Esse pequeno ser Voz da Leste que est em suas mos em for-mato de jornal o mais recente membro da famlia.

    O que esperar dele? O que nos revelar? O que trar de novo, fantstico, maravilho-so, vulgar e espantoso? Bem, ainda no se sabe. Ainda no se quer saber. Porque estamos

    SEJAM BEM-VINDOS!

    encantados com essa nova vida que tem rostinho de joelho e hipnotiza a todos, os quais aguardavam a gestao e o parto. Alguns diro: os olhos so do pai, a boquinha da me, as sobrancelhas so da tia, da irm mais velha... Com quem se parecer? Qual trejei-to ter? Andar, logo? Enfim, perguntas enigmticas que s podero ser desvendadas com o tempo.

    O que podemos ousar pensar , talvez, sobre a pri-meira sensao experimenta-da pela existncia, o espan-tar-se. Emoo sentida por todos aqueles que nascem. Aps rasgar o ventre da me, passando quase que imediata-mente ao seu colo. Segundo depois de brotar do nada, de uma flor, de tnel, de um bu-raco para o viver... Rompe, no apenas com a parte da sua matriz, mas de si mesmo. Duas metamorfoses- da me

    O VALOR DE UMA LEMBRANA

    Imagens, momentos, experincias...Vem uma recorda-o: fotografias.Antigamente uma mqui-

    na fotogrfica era artigo para poucos: hoje voc adquire uma mquina digital at em forma de parcelamento.

    E, melhor que isso: j dis-para o flash e logo em seguida, descarrega todo contedo em seu computador. Prtico!

    Mas, e aqueles lbuns de fo-tografia da famlia, de uma boda importante ou at aquele regis-tro dos primeiros passos daque-la criana linda?

    Bom, quem quiser ver, que acesse o Instagram, Face-book ou qualquer outro site de redes sociais do momento. Poucas pessoas iro imprimir e guardar. Existem DVDs, CDs e tantos pen drives com memria suficiente para guar-dar tudo isso.

    Ah, e a espontaneidade das fotos? Esquea! Ningum mais quer sair feio, com a boca aber-ta ou olhando distradamente para outro canto, que no seja o do clique: no caso de erro,

    s acionar o boto apagar e voc ter apenas fotos com po-ses bem planejadas e sempre bem focadas.

    Contudo, se tem uma coi-sa que a tecnologia jamais ir apagar so as lembranas da-queles momentos: os sorrisos de satisfao daquele almoo de domingo, aquele pessoal do colgio que cresceu e tomou seu rumo, do seu cachorro fa-zendo arte ou at mesmo da-quele namorado que voc ti-nha uma paixo enorme, mas, que infelizmente ou felizmen-te (na maioria dos casos) no deu certo...

    Mas, existe o lado bom da mordernidade: um celular pode fazer o papel de uma mquina, e, naquela hora de aperto seus olhos podem cap-tar o que pode se transformar numa foto: o metr que que-brou pela quarta vez na sema-na; aquele buraco que nunca tapado na estrada; eternizar um sorriso banguela daquele seu sobrinho danado ou at o cochilo despretensioso de seu namorado cansado.

    Claro que tambm exis-tem os sem noo que re-gistram cada barbaridade... mas, estes eu nem vou de-dicar espao nesta crnica. Cabe a todos ns, achar o equilbrio entre os avanos tecnolgicos e o viver o coti-diano, entre fotos que podem s pontuar um momento ou ser uma eterna lembrana marcante e nostlgica.

    Texto: Aurlia Cavalcante

    CR-NI-CASe do filho. A fissura doloro-sa do parto to, igualmen-te, dolorosa para aquele que parido... J que tambm atravessado pelo existir.

    O choro a fala inicial dessa criatura que vem des-provida, entre tantas coisas, da prpria voz. Ainda no tem ferramentas para verbali-zar o que sente, mas essa fala meio misteriosa, barulhenta, desesperadora, sonora no primitiva, pois cumpre com excelncia o que deseja ex-pressar- Estou no mundo!. Porm aquele que o recebe, aquele que tanto o aguardava, esse entende seu significado. A expresso sem formato, sem funo aparente, mas carrega em si o desespero, o espantar e o experimentar de novas vidas.

    Quer o Existir causar tanto desconforto para os seres que se deparam com a existncia de si e do outro? Quer ele

    causar tanto horror, angustia e medo? Essa pequenina vida no vem para confort-los, no! Ela desempenhar o seu papel: incomodar, transtornar, frustrar, indagar, desarticular, criticar, pensar, desestruturar etc. A morte traz o conforto, o viver no. Serenidade, paz de esprito, silncio, calmaria, falta de desejo, h na morte... Pois l que encontramos a ausncia de tudo...

    O que queremos e dese-jamos vida... Muita vida... E para ela... Muitas frustraes, turbulncia, caos, desordem... Barulho... Choro... Ento, pre-parem-se para essa criana que vem faminta de existncia... De existir... Que quer experimen-tar infinitamente os espantos do parto j vivido... E, ns que aqui estamos j paridos h muitos anos, tenhamos a sorte de com-partilhar generosamente com esses estalos dirios de fascina-o que s o viver possibilita.

    Que sejamos flagrados, como uma pequena criana, encantados com as banalida-des do cotidiano e que fique-mos frustrados com a morte de uma pequena formiga, porque ela, embora frgil e imperceptvel, carrega em si muita vida... Que sejamos tocados... Que essa transfor-mao venha em formato de vislumbre, contemplao in-gnua, olhar aguado, adubo para novas ideias, fertilizantes para florescimentos intelectu-ais, reflexivos e crticos. Que rejuvenesa a alma. Seja bem-vindo, filho novo!

    Texto: Marcela Santos

    1414

  • Julho de 2013

    TEATRO, A GENTE HACE

    POR AQUI!

    De 22 28 de abril de 2013, o I FIIT de Mogi das Cruzes recebeu os grupos: Mamulengo da Folia;Teatro El Bal (Colmbia); Clara Trupi de Ovos y Assovios (Mogi das Cruzes); Teatro de Rabia (Chile); Myashiro Teatro de Bonecos (Curitiba);Teatro Hugo e Ines (Peru); Cia. do Escndalo (Mogi das Cruzes); The Bag Lady Theater (Espanha); Pombas Urbanas (SP); Contadores de Mentira (Suzano); e Contraelviento Teatro (Equador).

    No ms de Abril, deste ano, tive a oportuni-dade de acompanhar o FIIT - I Festival Internacional de Itine-rncias Teatrais de Mogi das Cruzes, promovido pelo Galpo Arthur Netto e pela Clara Trupi de Ovos y Asso-vios. Alm de artistas do Alto Tiet e de So Paulo, o festival recebeu tambm grupos da Eu-ropa e Amrica Latina.

    Aproveitando-me desta ex-perincia, retomo a discusso anterior sobre pluralidade, po-tncia e qualidade da cena teatral latino-americana, evidentes, por exemplo, nas diversas propostas estticas compartilhadas pelos grupos que compuseram a pro-gramao deste Festival. Impos-sibilitada, pelo limite de tempo e espao, me atenho a falar apenas de trs, das treze apresenta-es realizadas durante o festi-val, a primeira delas, Divino Pastor Gngora, monlogo do ator e diretor Jorge Romero Mora, que integrou o Teatro El Bal (Bogot/Colmbia) e o Workcenter de Jerzy Gro-towisk. Criado a partir de um texto, tambm monlogo, do mexicano Jaime Chabaud, este expetculo trouxe cena apenas um ator e adereos simples, po-rm sua proposta cnica, pauta-da, sobretudo no trabalho do ator, nos colocou prisioneiros na mesma cela em que ele se encontrava, atentos sua narra-

    Durante a universi-dade, me interes-sei em pesquisar a dramaturgia latino-americana como documento histrico. Apesar do pleno incentivo da maioria dos meus professores, embarquei numa pesquisa precariamente e par-cialmente realizada, em par-te por limitaes pessoais e tambm por conta do nfimo apoio de uma Universidade privada, cujo ncleo de pes-quisa era mais pra ingls ver, do que de fato para o que ele deveria servir. Enfim...

    Comeo fazendo refern-cia a esta experincia e a este tempo, justamente porque foi o momento em que despertei meu olhar para produo tea-tral latino-americana e me dei conta da disparidade entre o que se produz e que se conhe-ce. Muitos so os textos, os grupos, os espetculos, mas o acesso pequeno, se comparado a outras referncias, sobretudo

    europeias. Mesmo ns ar-tistas, a no ser que haja um interesse especfico e pontual, conhecemos e acessamos pouco ou nada de uma produo artsti-co-cultural imensa e que muito nos diz respeito.

    Na poca em que esco-lhi pesquisar o teatro latino-americano, lembro ter ouvido de alguns colegas artistas que deveria aproveitar a temtica (dramaturgia como documen-to histrico), mas utilizar ou-tras referncias, pois o que se produzia na Amrica Latina, em termos de Artes Cnicas, ainda era inferior perante ou-tras pesquisas estticas e bl, bl, bl. Porm, como no fui convencida por essa prosa, que entendo ser mera reproduo de um discurso cultural hege-mnico, acabei por fazer v-rias descobertas pelo meio do caminho. dentre elas, que h pluralidade, potncia e muita qualidade no teatro produzido por nosotros!

    se queres ser universAl, CoMeA por pintAr suA AlDeiA

    Liev Tolsti

    15

    em Mogi das Cruzes festival de teatro trouxe

    grupos da Amrica latinaTexto e Fotos: Queila Rodrigues

    CULTURA

  • Julho de 2013

    EN-SAIO

    Jorge Romero Mora (Colmbia) e Manoel Lucena Mesquita Junior (Galpo Arthur Netto)

    Cena de O Sequestro do Secretrio de Cultura da Cia. do Escndalo

    de (Mogi das Cruzes)

    NO PULO DO COELHOTexto e Foto: Ruana Negri

    amos um esforo, e sem des-considerar as demais experin-cias tambm relevantes para o teatro como um todo, deseu-ropeizemos nosso olhar, nos-sas referncias e sejamos parte tambm da construo de ou-tra tica para quem somos ns ou para o que nos convence-ram de que somos.

    Alhures!

    tiva de como fora parar ali, num contexto em que se viu cercado pelo poder inquisidor da Igreja (Sc. XVII) e pelos desdobra-mentos da Revoluo. Do Brasil, e mais especificamente de Mogi das Cruzes, cito a Cia. do Es-cndalo (Galpo Arthur Netto), com o espetculo O Sequestro do Secretrio de Cultura, diri-gido por Manoel Lucena Mes-quita Jr. Como o prprio nome j diz, trata-se de um sequestro da figura que responde (ou de-veria), como poder pblico, pelos interesses e necessidades dos trabalhadores de cultura. Num jogo cnico, em que um grupo de teatro interpreta um grupo de teatro nestas condi-es, a Cia. questiona os limites do poder e autonomia de quem ocupa este cargo, assim como a prpria organizao e clareza de quem, por direito e militncia, exerce seu papel de cidado-ar-

    tista na luta por mais acesso e democratizao dos recur-sos pblicos para/entre os produtores de cultura, os artistas. Trata-se de uma crtica e tambm de uma auto-crtica, um olhar distanciado para o ou-tro e para si prprio. De Quito/Equador, a terceira referncia que escolhi mencionar. O espe-tculo Al final de la Noche, proposta cnica do grupo Con-traelviento Teatro. Pessoal-mente, este coletivo me chamou ateno, no s pela presena marcante da atriz Vernica Fal-con, mas tambm pela identifi-cao com seu processo criativo e posicionamento poltico. Se-gundo Falcon, este espetculo possui duas verses, a primeira com cinco atores e a segunda, que assistimos, apenas com ela em cena, apresentando-nos uma mulher num dilogo inquietante consigo mesma. Como se re-visitasse a prpria memria, a mulher ou as mulheres em que ela se transforma com as expe-rincias vividas, se (re)v em situaes diversas e adversas, em que se inclui um constan-te embate e enfrentamento da moral e das imposies sociais, graas sua condio de jovem e mulher, num tempo em que no h espao para uma e nem para as duas coisas juntas. No debate que sucedeu a apresen-tao, Vernica falou a respeito do processo de criao do grupo, cuja premissa o ator-criador: ...no sou uma intrprete! Sou uma criadora que se junta com outro criador..., caracterstica pontual do chama-do Teatro de Grupo. Patricio Vallejo Aristizabl, diretor do espetculo e tambm do grupo Contraelviento, acrescenta a fala da atriz e define essa forma de organizao como uma ptria secreta, onde todos os cidados tem os mesmos direitos; um teatro de rebelio/rebeldia

    em que se tenta inventar o mundo em cena.

    Vallejo tambm diz que cada um faz teatro porque necessita faz-lo, ponto de vista que se encontra com o de Jorge Romero Mora. Duran-te a entrevista que me conce-deu, assim como na oficina que ministrou no Galpo Arthur Netto, pautando-se na sua ex-perincia com grupo El Bal e com Workcenter, Mora fala da necessidade de construir uma poesia que possa dizer o que se quer dizer, o que neces-sita que seja dito, sem esquecer a base, as razes, para que as folhas no caiam e a arte co