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1 Jornal X América Latina teve 'mudanças modestas' com esquerda no poder Especialistas do renomado Instituto de Estudos Políticos (IEP) de Paris, que acabam de publicar o livro A Esquerda na América Latina, 1998-2012 - Primeiro Balanço, afirmam que a América Latina teve apenas reformas modestas com a esquerda no poder. O livro, escrito por mais de uma dezena de autores, analisa as ações dos diferentes governos da região a partir da primeira eleição do presidente Hugo Chávez, da Venezuela. Esta eleição marca, segundo os autores, "o início de uma impressionante série de 24 vitórias da esquerda em 13 países diferentes". Apenas o México, a Costa Rica, o Panamá e a Colômbia, e também Belize, República Dominicana, Suriname e a Guiana, não tiveram governos de esquerda no período analisado. "Entre as grandes reformas realizadas na América Latina em pouco mais de uma década, constatamos que poucas podem ser atribuídas exclusivamente à esquerda", disse à BBC Brasil o professor Olivier Dabène, coordenador da publicação e presidente do Observatório Político da América Latina e do Caribe do IEP. No caso do Brasil, dizem os autores, o Partido do Trabalhadores (PT), que chegou ao poder com a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, acentuou e ampliou políticas econômicas e sociais que já haviam sido iniciadas no governo anterior, do ex- presidente Fernando Henrique Cardoso. "Cardoso iniciou várias reformas e lutou contra a inflação, que é uma importante política social", afirmou Dabène. "A estabilidade econômica tem um grande impacto social." Na opinião do coordenador do livro, a "ruptura" entre o governo anterior e o de Lula também "não é tão evidente" em outras áreas, como a educação. "No Brasil, os atores de direita ou de esquerda não estão claramente identificados. O PT sempre foi um partido de esquerda antes de chegar ao poder, mas as gestões de Cardoso e Lula não foram tão diferentes", afirmou Laurence Whitehead, professor da Universidade de Oxford. "Cardoso iniciou programas de aumento da renda, no estilo do Bolsa Família, que foram depois ampliados no governo de Lula", disse Whitehead. "A pobreza está diminuindo em toda a América Latina e não apenas nos países com governos de esquerda", acrescentou Dabène. Para os autores do livro, muitos partidos de esquerda que chegaram ao poder na região renunciaram à ideia de reformar as políticas neoliberais dos anos 1990, que eles tanto haviam criticado. A esquerda, em muitos países, incluindo o Brasil, também passou a privilegiar o controle das contas públicas e a impor medidas de rigor quando necessárias.Mas apesar das políticas neoliberais dos anos 80 e 90 passarem a ser vistas como um fato consumado, os governos de esquerda da região "souberam reabilitar o papel político dos Estados na promoção do desenvolvimento e da luta contra a probreza", avaliam os especialistas. "A esquerda na América Latina não provocou uma ruptura brutal com o período neoliberal. Mas ela também não renunciou às suas ambições reformadoras", afirma a publicação. O livro também analisa se a esquerda poderia receber os "méritos" do forte crescimento econômico da América Latina na última década. Para Dabène, o crescimento da região no período pode ser atribuído ao aumento das exportações, principalmente de matérias-primas, provocado pela maior demanda de países como a China. Segundo os autores, a reeleição de governos de esquerda na América Latina a partir de 2006 (caso de países como o Brasil, Argentina e Equador) correspondem a "votos de reconhecimento em um contexto econômico muito favorável".

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Jornal X América Latina teve 'mudanças modestas' com

esquerda no poder Especialistas do renomado Instituto de Estudos Políticos

(IEP) de Paris, que acabam de publicar o livro A

Esquerda na América Latina, 1998-2012 - Primeiro

Balanço, afirmam que a América Latina teve apenas

reformas modestas com a esquerda no poder. O livro,

escrito por mais de uma dezena de autores, analisa as

ações dos diferentes governos da região a partir da

primeira eleição do presidente Hugo Chávez, da

Venezuela. Esta eleição marca, segundo os autores, "o

início de uma impressionante série de 24 vitórias da

esquerda em 13 países diferentes".

Apenas o México, a Costa Rica, o Panamá e a

Colômbia, e também Belize, República Dominicana,

Suriname e a Guiana, não

tiveram governos de

esquerda no período

analisado. "Entre as grandes

reformas realizadas na

América Latina em pouco

mais de uma década,

constatamos que poucas

podem ser atribuídas

exclusivamente à esquerda",

disse à BBC Brasil o

professor Olivier Dabène, coordenador da publicação e

presidente do Observatório Político da América Latina e

do Caribe do IEP.

No caso do Brasil, dizem os autores, o Partido

do Trabalhadores (PT), que chegou ao poder com a

primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002,

acentuou e ampliou políticas econômicas e sociais que já

haviam sido iniciadas no governo anterior, do ex-

presidente Fernando Henrique Cardoso. "Cardoso iniciou

várias reformas e lutou contra a inflação, que é uma

importante política social", afirmou Dabène. "A

estabilidade econômica tem um grande impacto social."

Na opinião do coordenador do livro, a

"ruptura" entre o governo anterior e o de Lula também

"não é tão evidente" em outras áreas, como a educação.

"No Brasil, os atores de direita ou de esquerda não estão

claramente identificados. O PT sempre foi um partido de

esquerda antes de chegar ao poder, mas as gestões de

Cardoso e Lula não foram tão diferentes", afirmou

Laurence Whitehead, professor da Universidade de

Oxford. "Cardoso iniciou programas de aumento da

renda, no estilo do Bolsa Família, que foram depois

ampliados no governo de Lula", disse Whitehead. "A

pobreza está diminuindo em toda a América Latina e não

apenas nos países com governos de esquerda",

acrescentou Dabène. Para os autores do livro, muitos

partidos de esquerda que chegaram ao poder na região

renunciaram à ideia de reformar as políticas neoliberais

dos anos 1990, que eles tanto haviam criticado.

A esquerda, em muitos países, incluindo o

Brasil, também passou a privilegiar o controle das contas

públicas e a impor medidas de rigor quando

necessárias.Mas apesar

das políticas neoliberais

dos anos 80 e 90

passarem a ser vistas

como um fato

consumado, os governos

de esquerda da região

"souberam reabilitar o

papel político dos

Estados na promoção do

desenvolvimento e da

luta contra a probreza", avaliam os especialistas.

"A esquerda na América Latina não provocou

uma ruptura brutal com o período neoliberal. Mas ela

também não renunciou às suas ambições reformadoras",

afirma a publicação.

O livro também analisa se a esquerda poderia

receber os "méritos" do forte crescimento econômico da

América Latina na última década.

Para Dabène, o crescimento da região no

período pode ser atribuído ao aumento das exportações,

principalmente de matérias-primas, provocado pela

maior demanda de países como a China.

Segundo os autores, a reeleição de governos de

esquerda na América Latina a partir de 2006 (caso de

países como o Brasil, Argentina e Equador)

correspondem a "votos de reconhecimento em um

contexto econômico muito favorável".

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Estados Unidos é país com mais pobres do 'clube

dos ricos'

Em um salão bem-iluminado e de tijolos aparentes, com

fotos ilustrando as paredes e um quadro a óleo de Martin

Luther King sobre um piano recostado a um canto, um

voluntário dispõe pratos de sobremesa com fatias de

tortas de abóbora e batata-doce sobre mesas

comunitárias. Guardanapos coloridos e arranjos de

cartolina imitando abóboras marcam os assentos para a

última leva de comensais que vieram para o almoço

especial de Dia de Ação de Graças oferecido

gratuitamente pela organização SOME (So Others Might

Eat – "Para que outras possam se alimentar", em

tradução livre), em Washington.

Em geral ausente do debate público – até,

surpreendentemente, em ano de campanha eleitoral –, a

situação dos mais necessitados reaparece, sazonalmente,

no feriado que comemora a primeira refeição comum dos

peregrinos e povos nativos que fizeram a história deste

país. Mas para organizações como esta, a preocupação

nunca sai do radar. Este refeitório que servia, antes da

crise econômica, em torno de 200 mil refeições por ano –

café da manhã e almoço –, hoje serve quase 250 mil. A

demanda subiu proporcionalmente à crise do emprego,

que empurrou milhões de americanos para a pobreza.

Segundo os números do censo, os Estados

Unidos tinham 46,2 milhões de pobres em 2011, o

equivalente a 15% da sua população. Em 2009, o nível

era de 13,2%. De acordo com a Organização para a

Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o

país mais rico do mundo é também, dentro do clube dos

ricos, o que conta com a maior proporção de pobres.

Há várias faixas de renda para a definição de quem é ou

não pobre nos EUA. Para um indivíduo e um casal com

dois filhos, por exemplo, o nível de pobreza é definido

por ganhos anuais de até US$ 11.702 e US$ 22.811,

respectivamente.

Rendas inferiores a 50% destas faixas

configuram pobreza aguda ("deep poverty"), dentro da

qual estão 6,6% da população – o equivalente a 20,4

milhões de pessoas – contra 6,3% em 2009. Um estudo

recente da organização National Poverty Center

identificou inclusive um contingente de 1,46 milhão de

famílias – com 2,8 milhões de crianças – vivendo em

pobreza extrema segundo as definições do Banco

Mundial, ou seja, com menos de US$ 2 por pessoa por

dia em um determinado mês. Especialistas ressalvam que

parte desses efeitos negativos é compensada por

assistência que não entra nas estatíticas de renda, tais

como a distribuição de vale refeições, moradia e

deduções fiscais Austin Nichols, do instituto de pesquisa

Urban Institute, em Washington, estima que se os vale-

refeições e isenções fiscais fossem contabilizados, os

EUA teriam 9,6 milhões de pobres a menos. "De certa

forma, isso faz com que os pobres nos EUA estejam em

uma situação melhor que em outros países", disse

Nichols à BBC Brasil, falando por telefone de Roma,

onde participava de uma conferência da ONU sobre a

fome. "A razão para isso é que nosso sistema de

benefícios se afastou das transferências de renda, nas

quais os países europeus se apoiam mais que os EUA."

Mas infelizmente, escreve Nichols em sua análise, muitas

medidas deste tipo, erguidas para conter os efeitos da

crise econômica no seu início, estão expirando.

E ao longo deste ano, enquanto muito se falou dos

incentivos para a classe média e o corte ou não de

impostos para os mais ricos, poucas vezes foi

mencionada a carência das pessoas que mais dependem

delas.

Algumas horas visitando entidades como a SOME

indicam o tamanho do desafio. Além do refeitório, a

organização oferece uma miríade de serviços para os

mais pobres, incluindo duchas gratuitas, doações de

roupas, sapatos e comidas, serviços de saúde primária,

dental e mental, e assistência com a busca de moradias e

serviços sociais. James Haskins, que faz parte de uma

igreja Batista em Maryland e esteve entre os voluntários

no Dia de Ação de Graças, diz que as necessidades dos

mais pobres não são apenas materiais.

"Não é apenas uma questão de falta de comida,

ou de moradia, ou de ter o que comer", disse Haskins, ao

lado de uma foto que mostra o presidente Barack Obama

servindo almoço naquele mesmo refeitório, em 2010.

"Para eles, é uma questão de tentar fazer parte de alguma

coisa, saber que podem contar com alguém". A porta-voz

da entidade, Nechama Masliansky, disse à BBC Brasil

que a organização atende anualmente a 10 mil indivíduos

diferentes, que utilizam seus serviços em muitos casos

inúmeras vezes na semana.

A pobreza persistente ainda é um problema

relativamente pequeno nos EUA, e muitos acabam se

encontrando nesta situação após perder o emprego ou a

capacidade de trabalhar. A falta de moradias acessíveis

em cidades como a capital federal empurram famílias

inteiras para as ruas.

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Aos 48 anos, o ex-pedreiro Edward Fischer, hoje com 60,

teve um ombro deslocado em um acidente. Passou quatro

anos vivendo na casa da mãe e não conseguia retornar ao

trabalho – até processar o antigo empregador e conseguir

verba suficiente para pagar as contas e conseguir viver no

seu próprio lar. "Já cheguei a vir neste refeitório várias

vezes por semana", disse Fischer, em meio a garfadas.

"Hoje, ainda venho de vez em quando."

Nichols escreve que em 2009 e 2010, apenas

4,8% dos pobres permaneceram nesta situação por todos

os 24 meses. Mas uma das características da mais recente

crise econômica são os longos períodos em que os

trabalhadores passam desempregados.

Em agosto último, 40% dos desempregados

passavam mais de seis meses sem trabalho – o tempo do

recebimento do seguro-desemprego regular. Nunca,

desde os anos 1960, o percentual superou muito mais que

25%.

Para os especialistas, uma das consequências

mais perversas desta pobreza persistente é o efeito que

terá sobre as gerações futuras."Crianças criadas sob o

espectro da pobreza são mais suscetíveis a continuar

pobres, abandonar a escola, ter gravidez indesejada na

adolescência e viver instabilidades no mercado de

trabalho", diz outro estudo do Urban Institute.

Nos EUA, a pobreza atinge 22% das crianças – sendo que

entre as crianças negras o percentual chegava a 37,4% em

2011. De certa forma, é um reflexo da pobreza entre

mães solteiras chefes de família, que superava 31%.

Nichols vê nesses dados um risco à possibilidade de

mobilidade social que deu início ao sonho americano.

Ele diz que, enquanto a classe média ou mesmo uma

parte dos pobres ainda pode almejar a subir na pirâmide

da sociedade, os 10% no chão da linha da pobreza já

nascem, virtualmente, com o futuro selado de continuar

sendo pobre.

Conheça o pai da 'invenção' mais letal da história

Ele parece pequeno e inofensivo – branco e com apenas oito centímetros de tamanho. Mas o cigarro é visto como um dos grandes males da saúde pública e repudiado como poucos produtos. Mas quem o inventou e como essa pessoa pode ser responsabilizada pelas

inúmeras mortes provocadas pelo cigarro? O cirurgião americano Alton Ochsner lembra

que, quando ainda era estudante de medicina em 1919, sua turma foi chamada para assistir a uma autópsia de uma vítima de câncer de pulmão. Na época, a doença era tão rara que os estudantes acharam que não teriam outra chance de testemunhar algo parecido. Quase um século depois, estima-se que 1,1 milhão de pessoas morram por

ano da doença. Cerca de 85% dos casos são relacionados a apenas um fator: tabaco."O cigarro é o artefato mais mortal da história da civilização humana", diz Robert Proctor, da Universidade de Stanford. "Ele matou cerca de 100 milhões de pessoas no século 20."

Jordan Goodman, autor do livro Tabaco na História disse que, como historiador, ele teve o cuidado de não apontar o dedo a nenhum indivíduo, "mas na

história do tabaco eu me sinto confiante em dizer que James Buchanan Duke – conhecido como Buck Duke – foi responsável pelo fenômeno do século 20 conhecido como cigarro". Em 1880, aos 24 anos, Duke entrou em um nicho da indústria do tabaco – os cigarros já enrolados. Uma equipe pequena de Durham, no Estado da Carolina do Norte, enrolava a mão os cigarros Duke of Durham. Dois anos depois, Duke percebeu uma chance

de ganhar dinheiro. Ele começou a trabalhar com um jovem mecânico chamado James Bonsack, que disse que poderia construir uma máquina para fabricar cigarros. Duke estava convencido que as pessoas estariam dispostas a fumar os cigarros perfeitamente simétricos produzidos pela máquina. O equipamento revolucionou a indústria do tabaco.

"Trata-se, essencialmente, de um cigarro de tamanho enorme, cortado em comprimentos apropriados, por lâminas rotativas", diz Robert Proctor. Mas, como as pontas ficavam abertas, o tabaco precisava ser umedecido, para ficar rígido, e não cair do cigarro.

Isso era feito com ajuda de aditivos químicos, como glicerina, açúcar e melaço. Mas esse não era o único desafio. Antigamente, as funcionárias enrolavam cerca de 200 cigarros por turno. A nova máquina produzia 120 mil cigarros por dia – um quinto do consumo de todos os Estados Unidos, na época. "O problema é que ele era capaz de produzir muito mais cigarros do que conseguia vender", diz

Goodman. "Ele precisava entender como conquistar esse mercado."

A resposta estava na publicidade e no marketing. Duke patrocinou corridas, distribuiu cigarros gratuitamente em concursos de beleza e colocou anúncios nas revistas da época. Ele também percebeu que a inclusão de figurinhas colecionáveis nas carteiras de cigarro era tão importantes quanto trabalhar na qualidade

do produto. Em 1889, ele gastou US$ 800 mil em marketing (ou US$ 25 milhões, em valores de hoje em dia).

Bonsack ficou com a patente da máquina, mas, em gratidão ao apoio de Duke, deu 30% de desconto no seu aluguel ao industrial. A vantagem competitiva – aliada à promoção vigorosa – foi fundamental para o

sucesso de Duke. Como suspeitava, as pessoas gostavam dos cigarros feitos pela máquina. Eles tinham aparência mais moderna e higiênica. Uma das campanhas enfatizava o fato de que cigarros manuais eram feitos com contato da mão e da saliva de outras pessoas. Mas, apesar de o número de fumantes ter quadruplicado nos 15 anos até 1900, o mercado ainda era um nicho, já que a

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maioria das pessoas mascava tabaco ou fumava usando cachimbos ou charutos. Duke – que também era fumante – viu o potencial competitivo dos cigarros em relação aos

demais produtos. Uma das vantagens era a facilidade para acendê-los, ao contrário dos cachimbos. "O cigarro, realmente, era usado de forma diferente", diz Proctor. "E uma das grandes ironias é que os cigarros eram considerados

mais seguros do que os charutos porque eram vistos como apenas 'pequenos charutinhos'." Mas um elo direto com câncer de pulmão não foi encontrado até 1957 na Grã-Bretanha e 1964 nos Estados Unidos.

Os cigarros chegaram a ser promovidos como

benéficos à saúde. Eles eram listados nas enciclopédias farmacêuticas até 1906 e indicados por médicos para casos de tosse, resfriado e tuberculose – uma doença que é agravada pelo fumo. No começo dos anos 1900, houve um movimento antitabagismo, mas ele estava mais relacionado à moralidade do que à saúde. O crescimento no número de crianças e mulheres fumantes era parte de um debate sobre o declínio moral da sociedade. Os cigarros foram proibidos em 16 Estados americanos entre

1890 e 1927. A atenção de Duke voltou-se para o exterior. Em 1902, ele formou a empresa britânica British American Tobacco. As embalagens e o marketing foram ajustados para mercados consumidores diferentes, mas o produto era basicamente o mesmo.

"Para ele, todos os cigarros eram iguais. Toda a globalização que hoje nos é familiar, com marcas como McDonalds e Starbucks – tudo isso foi antecipado por

Duke e seus cigarros." A indústria do cigarro continua em expansão até hoje. Apesar de ela estar em queda em determinados países desenvolvidos, no mundo emergente, a demanda por cigarros cresce 3,4% por ano.

Em números globais, a indústria ainda está crescendo. A Organização Mundial da Saúde alerta que, caso não sejam adotadas medidas preventivas, 100 milhões de

pessoas morrerão de doenças relacionadas ao tabaco nos próximos 30 anos – um número superior à soma de vítimas da Aids, tuberculose, acidentes de carros e suicídios. Mas Buck Duke pode ser responsabilizado por isso?

Afinal de contas, ninguém é obrigado a fumar.

Em um ensaio recente para a revista Tobacco Control, Robert Proctor argumenta que todos na indústria tabagista têm sua parcela de culpa."Nós temos que perceber que anúncios podem ser cancerígenos, junto com as lojas de conveniência e até farmácias que vendem cigarros. Os

executivos que trabalham na indústria tabagista causam câncer, assim como os artistas que desenham as carteiras e as empresas de relações públicas e marketing que lidam com essas contas", diz Proctor. Buck Duke morreu em 1925, antes da era dos grandes processos e da responsabilização do tabaco por doenças como câncer de pulmão. "Eu não o culparia pelo [crescimento do] consumo de cigarros", diz Bob Durden, que é biógrafo do industrial. Ele aponta que Duke também foi responsável

por ações positivas, como doações de mais de US$ 100 milhões para o Trinity College, na Carolina do Norte, que foi rebatizado de Duke University, em sua homenagem. "Ele foi tanto um herói quanto um vilão ", diz Goodman. "Buck Duke é um herói em termos de sua compreensão do mercado e da psicologia humana, da formação de preço, da publicidade. Nesse sentido, ele não é vilão. Mas ele fez o mundo fumar cigarros. E os cigarros são o

grande problema do século 20."

Astrônomos detectam planeta órfão 100 anos-luz

Astrônomos baseados no Havaí e no Chile descobriram um planeta "órfão" vagando pelo espaço

sem estar ligado à órbita de um astro, a cem anos-luz de distância da Terra. Os cientistas dizem que pesquisas recentes têm demonstrado que esse tipo de planeta pode existir com muito mais frequência no cosmos do que se pensava. Eles também são conhecidos como planetas "interestelares" ou planetas "nômades" e têm sido definidos como objetos de massa planetária que foram

expulsos dos seus sistemas ou nunca estiveram gravitacionalmente ligados a nenhuma estrela. Embora haja cada vez mais interesse dos astrônomos no assunto, exemplos de planetas "órfãos" são difíceis de serem encontrados, o que torna a recente descoberta mais importante.

O planeta, chamado de CFBDSIR2149-0403, é tema de um artigo que deve ser publicado no periódico científico Astronomia e Astrofísica.Mas até agora sabe-

se muito pouco sobre a intrigante descoberta. Além de estimar sua distância da Terra, considerada muito pequena, os cientistas acreditam que o "órfão" seja

relativamente "jovem", tendo entre 50 e 120 milhões de anos. Estima-se que ele tenha temperatura de 400ºC e

massa entre quatro a sete vezes a de Júpiter. Ainda que os astrônomos acreditem que os

planetas "órfãos" sejam mais comuns do que se pensava, as teorias em torno da origem deste tipo de massa planetária que "vaga" pelo espaço ainda são intrigantes. Acredita-se que eles possam se formar de duas maneiras: de forma semelhante aos planetas que estão conectados a astros, surgindo a partir de um disco de

poeira cósmica e restos de massa, mas que, em vez de serem integrados a um sistema (assim como a Terra é parte do Sistema Solar, gravitando em torno do Sol), são expulsos da órbita de uma estrela.A segunda explicação aponta que eles podem se formar como se fossem um astro, mas nunca chegam a atingir a massa total de um astro normal. De qualquer forma, eles acabam livres da atração gravitacional a uma estrela, vagando livremente pelo cosmos, o que torna sua identificação muito difícil.

Uma equipe internacional organizou uma verdadeira "caçada" por esse tipo de planeta usando o Telescópio Canadá-França no Havaí e o Very Large

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Telescope (VLT), ou Telescópio Muito Grande, em tradução livre, localizado no Chile. Encontraram apenas este exemplar. "Esse objeto foi descoberto durante uma

varredura que cobriu uma área equivalente a mil vezes uma lua cheia", disse Etienne Artigau, da Universidade de Montreal. "Nós observamos centenas de milhões de estrelas e planetas, mas só conseguimos encontrar um planeta 'órfão' em nossa vizinhança", acrescenta.

Mas algo que pode ser crucial é o fato de que o CFBDSIR2149-0403 parece estar se movendo ao lado de um grupo de objetos celestiais itinerantes muito

semelhantes a ele, já classificado pelos cientistas como "Grupo itinerante AB Doradus". São cerca de 30 estrelas basicamente da mesma composição que podem

ter se formado na mesma época. Este dado pode ajudar a esclarecer mais

detalhes, mas a origem do CFBDSIR2149-0403 continua intrigando as duas equipes: ele teria se formado a partir do que seria uma estrela ou foi um

planeta expulso de casa? Philippe Delorme, do Instituto de Planetologia e Astrofísica de Grenoble, na França, diz que caso a segunda

teoria seja verídica, isso implicaria na existência de muitos outros planetas semelhantes ao recém-descoberto. "Se este pequeno objeto é um planeta que foi expulso de seu sistema nativo, ele sugere a ideia surpreendente de mundos órfãos, vagando pela imensidão do espaço".

Em maio de 2011, em descoberta

publicada na revista Nature, outro grupo de astrônomos encontrou dez planetas de característica semelhante, que não se

conectavam a nenhum sistema solar, o que fez o grupo também acreditar que pode se tratar de um fenômeno relativamente comum.

Embrapa busca clonagem inédita de animais

ameaçados de extinção no Brasil

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa) planeja trabalhar na clonagem

de espécies ameaçadas de extinção no Brasil, de animais como lobo-guará, onça pintada e veado catingueiro. O projeto ainda depende da aprovação do departamento jurídico da Embrapa e não tem prazo de conclusão. Mas, se bem-sucedido, pode resultar na primeira clonagem de um animal silvestre no país. A iniciativa é feita em parceria com o

Jardim Zoológico de Brasília, que será o destino final dos animais clonados.

"Há dois anos, coletamos material genético de animais mortos (na região do Cerrado), por exemplo, em acidentes rodoviários ou em zoológico", explicou à BBC Brasil o pesquisador do Embrapa Carlos Frederico Martins. "Agora, surgiu a ideia de uma nova parceria, ainda não pronta, de coletar material não apenas do

Cerrado, mas também de animais vivos de outros biomas e faunas exóticas para inseminação artificial e clonagem."

Uma das técnicas a serem usadas é a semelhante à da ovelha Dolly. "Trata-se da técnica de transferência de núcleos. Retiramos o núcleo do ovócito (célula que dá origem ao óvulo) e o substituímos pela célula do indivíduo a ser clonado, do qual temos material

genético", diz o pesquisador, que é médico veterinário com mestrado em reprodução animal. A Embrapa tem um banco de 420 amostras de oito espécies de animais. Concluída a aprovação em seu departamento jurídico, ainda buscará o aval do Ibama para usá-las. Martins não arrisca estabelecer um prazo para concluir a primeira clonagem, mas prevê anos de pesquisa.

"Já temos a tecnologia para fazer a clonagem

de bovinos. Agora, queremos transferi-la para a clonagem de animais silvestres, estudando-a em animais

nas quais ela nunca foi usada", prossegue. "Mas, mesmo em bovinos, é uma técnica ainda ineficiente às vezes, então, temos que ir devagar. Conhecemos pouco (da

aplicação desses métodos) em espécies selvagens, então, isso pode demorar um pouco." Serão estudadas espécies que não necessariamente correm risco

iminente de extinção, mas cuja população tem diminuído. Futuros animais clonados seriam mantidos

no zoo, onde seriam estudados e usados para a reposição natural de animais que morram. Segundo o pesquisador, os animais clonados não estariam aptos para viver na natureza selvagem, e a Embrapa não teria como monitorá-los. O Jardim Zoológico de Brasília, por sua vez, criará um laboratório para dar prosseguimento aos

estudos da Embrapa. Ambas as instituições captarão recursos para o projeto, mas Martins ainda não sabe estimar quanto custará a clonagem.

"A clonagem de um bovino pode custar de R$ 30 mil a 50 mil, mas não sabemos se esses valores serão os mesmos para animais silvestres."O projeto brasileiro despertou a atenção internacional. A versão online da revista especializada New Scientist noticiou a iniciativa e

citou a primeira clonagem da Embrapa, em 2001 - uma vaca batizada de Vitória, que morreu no ano passado -, e os cem animais clonados desde então, principalmente bovinos e equinos.

O jornal britânico The Guardian destacou que muitos conservacionistas veem com reservas a iniciativa de clonar animais ameaçados, temendo que isso desvie o foco da preocupação principal: proteger o habitat desses

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animais. Segundo Martins, o projeto da Embrapa não pretende se tornar a principal ferramenta de conservação dessas espécies e lembra que a clonagem diminui a

variedade genética do reino animal. "É algo complementar (a esforços de conservação) de matas, rios e reservas. Nosso objetivo principal é estudar a técnica,

ver como ela se comporta e ver se é possível produzir animais do nosso bioma, para quando precisarmos."

Desaparecimento de ilha intriga cientistas

Um sonho comum à maioria dos exploradores

e desbravadores ao longo da História tem sido encontrar territórios desconhecidos, mas na Austrália, uma equipe de cientistas fez exatamente o contrário: eles identificaram uma ilha que não existe.

Conhecida como Sandy Island, a massa de terra é listada por cartógrafos em atlas, mapas e até no Google Maps e no Google

Earth, onde está localizada entre a Austrália e a Nova Caledônia (governada pela França), no sul do Pacífico. Mas, quando o grupo de cientistas decidiu navegar para chegar até ela, simplesmente não a

encontraram. Para o Serviço Hidrográfico da Marinha da Austrália, responsável pelas cartas náuticas do país, uma das possibilidades é que tenha ocorrido falha humana e que esse tipo de dado deveria ser tratado "com cautela" ao redor do mundo, já que alguns detalhes são antigos ou simplesmente errados.

De acordo com Maria Seton, uma das cientistas que integra a equipe, a ilha aparece como Sable Island no Times Atlas of the World e o Southern Surveyor, um

navio de pesquisa marítima australiano, também afirma que ela existe. Mas, quando decidiu navegar rumo ao local, a embarcação também não avistou nada. "Nós queríamos checar, porque as cartas de navegação à bordo do navio mostravam uma profundidade de 1.400 metros naquela área, algo muito profundo", diz Seton, da Universidade de Sidney, após a viagem de 25 dias. "Ela

está no Google Earth e em outros mapas e por isso fomos

checar, mas não havia ilha alguma. Estamos realmente intrigados. É bem bizarro. Como ela apareceu nos mapas? Nós simplesmente não sabemos, mas estamos planejando ir a fundo e descobrir", acrescentou.

O tema também ganhou as redes sociais. No Twitter, o usuário Charlie Loyd disse que no Yahoo Maps e no Bing Maps a ilha

também consta como Sandy Island, mas que ao fechar o zoom, o território desaparece. Teorias conspiratórias entre os internautas apontam para um possível "truque" de cartógrafos, que incluiriam

territórios falsos em seus mapas para saber quando alguém está tentando roubar seus dados.

Outros dizem que o serviço de hidrografia da França já havia identificado que a ilha não existia e tinha solicitado que ela fosse apagada de mapas e cartas náuticas ainda em 1979. Em resposta à polêmica, o Google disse que recebia com bons olhos o feedback dos cientistas a respeito do mapa."Nós trabalhamos com uma ampla gama de fontes de dados comerciais e de pessoas

respeitadas para levar aos nossos usuários os mapas mais atualizados e ricos em detalhes. Uma das coisas mais empolgantes sobre mapas e geografia é que o mundo é um lugar em constante transformação, e manter-se por dentro dessas mudanças é um esforço sem fim", disse um porta-voz da empresa.

Estudo liga resultados de futebol a aumento de

violência doméstica

Um estudo britânico concluiu que os índices de violência doméstica subiram em média 30% na Inglaterra cada vez que o time inglês ganhou ou perdeu um jogo durante a Copa do Mundo de 2010. O trabalho, realizado pelo estatístico Allan Brimicombe, do Centre for Geo-Information Studies da University of East London e pela jornalista da BBC Rebecca Cafe, foi publicado na edição de outubro da revista Significance, da Royal Statistical Society e American Statistical

Association. Segundo a pesquisa, empates nos jogos não

tiveram influência expressiva sobre os índices de violência. As conclusões do estudo baseiam-se em estatísticas fornecidas por 33 forças policiais inglesas (de um total de 39 existentes no país). Juntas, elas respondem por 77% da população da Inglaterra. Os dados utilizados são referentes ao período de duração da

Copa do Mundo em 2010 e, para efeito de comparação,

ao mesmo período em 2009. Eles revelam que, quando a Inglaterra

empatou por 1 a 1 contra os Estados Unidos, índices de violência caíram 1,9%. Quando a seleção inglesa empatou por 0 a 0 contra a Argélia, os índices subiram em 0,1%. Entretanto, quando a Inglaterra ganhou por 1 a 0 contra a Eslovênia, incidentes de violência doméstica subiram 27,7 %. Já quando o time perdeu da Alemanha por 4 a 1, sendo eliminado do campeonato, os

índices de violência doméstica subiram 31,5%. Com base neste e em outros estudos feitos

anteriormente sobre o assunto, Brimicombe defende a ideia de que escolas eduquem alunos sobre violência doméstica, organizadores de eventos promovam iniciativas de combate ao problema e que a polícia se prepare para picos em casos de violência doméstica durante grandes campeonatos esportivos.

30% das mulheres e 17% dos homens ingleses

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já foram ou serão vítimas de violência doméstica "A violência doméstica existe por toda a parte, respondendo por 15% de todos os crimes violentos e

35% dos assassinatos na Grã-Bretanha", disse Brimicombe. O especialista disse que, segundo as estatísticas, 30% das mulheres e 17% dos homens britânicos são vítimas de violência doméstica em algum momento de suas vidas.Brimicombe decidiu conduzir o estudo para testar a validez de uma análise feita pelo Ministério da Fazenda britânico segundo a qual índices de violência doméstica haviam subido durante a Copa

do Mundo de 2006. "Grandes eventos

esportivos não causam violência doméstica, os criminosos são responsáveis por suas ações", revela a pesquisa. "Mas os níveis de consumo de álcool, associados

à natureza desses eventos, carregados de fortes emoções, parece aumentar a ocorrência desses incidentes", acrescenta.

Brimicombe concluiu que a análise feita pelo Ministério da Fazenda britânico foi correta em alguns aspectos e falhou em outros. "Nossa pesquisa mostra

que níveis maiores de violência doméstica estão associados a eventos nacionais de futebol, mas apenas se existe um resultado definitivo de vitória ou derrota. A falha da análise anterior feita pelo Ministério da Fazenda foi ignorar o resultado do jogo - o que, como vimos, é crucial". "As diferenças percentuais que encontramos são tão grandes que acreditamos ter estabelecido uma razão forte para vincularmos vitórias e

perdas - mas não derrotas - a aumentos nos índices de violência".

A equipe da University of East London também pretende investigar índices de violência doméstica durante os Jogos Olímpicos de Londres. As conclusões podem ser

compartilhadas com os organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.